Um Dia

Escrito por Amanda Silva | Revisado por Lelen

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  Ela estava linda. Naquele 8 de maio, com seu vestido vermelho, cabelos presos e uma sapatilha branca. Uma brisa suave tomava conta da noite, as estrelas assistiam nosso pequeno passeio, a lua se escondia entre as nuvens, nos observando atentamente.

  A cada minuto que passava, meu nervosismo crescia dentro de mim, minhas mãos suavam, minhas bochechas ficavam mais rosadas e um sorriso bobo nascia em meus lábios.

  Podia ver em seus olhos como ela se sentia, parecia feliz por estar ao meu lado, com seu jeito meigo e tímido, dando seus pulinhos de alegria, segurando a barra do vestido e o balançando, uma das suas manias mais fofas.

  - Se lembra do dia em que nos conhecemos?
  - Claro que me lembro! Ainda acho que a Júlia deveria ter entrado primeiro! – Ela deu uma risada, colocando as mãos na cintura.
  - Como assim? Meu irmão estava morrendo de dor – Disse, envolvendo-a com meus braços, beijando sua testa.
  - A Júlia também estava gritando de dor, você deveria ter sido um cavalheiro e a deixado ir antes – Ela estava começando a ficar brava comigo novamente.
  - Deveria, ainda bem que não fui. Não teríamos conversado depois, não estaríamos aqui, juntos – Seus olhos encontraram os meus. Ela ficou sem palavras, encarando-me por um momento como se decidisse o que faria dali em diante. Lembro-me perfeitamente do modo como ela disse aquelas três palavras tão doces.
  - Eu te amo – Sussurrando no meu ouvido.
  - Para sempre – jurei entre seus braços.

  Caminhávamos tranquilamente em direção ao velho carvalho do parque quando começou a garoar.

  - Vamos nos abrigar em algum lugar – Disse puxando-a para um velho coreto.
  - Não – Com seu sorriso moleca – Vamos dançar – Ela sabia como me ter nas mãos.
  - Será que vossa senhorita concede-me a honra de uma dança? – Fiz uma reverencia, encarnando um lorde inglês. Ela riu, mas colocou sua mão na minha.
  - Mas eu não sei dançar – Resmunga, corando.
  - Pegue a minha mão, eu vou te ensinar a dançar – sussurrei no seu ouvido – Eu vou te fazer girar, não vou deixar você cair – A girei – Quer me deixar guiar? – disse com um olhar meigo – Você pode subir nos meus pés – a convidei – Tente, vai ficar tudo bem. – Ela sorriu, subindo nos meus pés.

  O ambiente estava em silêncio, era o nosso momento.

  - De repente, eu me sinto corajosa – Disse timidamente – Não sei o que deu em mim – Deu uma risada nervosa – Podemos dançar devagar? – sussurra olhando pros próprios pés.
  - Posso te segurar pertinho de mim? – Tomei coragem. Ela concordou com a cabeça, depositando-a em meu peito. Dei-lhe um beijo na ponta do nariz, enquanto nossos corpos dançavam ao som da chuva.

  Nossas roupas estavam pesadas de tão encharcadas. Os cabelos caiam-lhe nos olhos, mas ainda tínhamos sorrisos nos lábios. Eu temia que ela escutasse a batida acelerada do meu coração, que a esse ponto já parecia querer sair do meu peito. Era uma sensação que eu nunca tinha sentido: Não sentia mais medo. Respirei fundo. Olhei em seus olhos. E disse:

  

- , você quer namorar comigo? – Me ajoelhei diante dela.
  Vi um sorriso iluminar seu rosto
  - Para sempre – Segurou minhas mãos entre as dela.
  - Me parece muito tempo – Disse vendo-a abaixar a cabeça. Levanto-a pelo queixo, olhando em seus olhos – Mas não me importo de passar ao seu lado – Juntei nossos lábios, passando meus braços em sua cintura e sentindo seus braços entrelaçar-me pelo pescoço.

  Aquela noite mudou completamente o rumo da minha vida, finalmente eu estava completo.

  Na manhã seguinte, levantei-me antes do sol. Não conseguia dormir com meus pensamente em . Éramos vizinhos frontais. Assim que notei uma pequena movimentação em sua casa, vesti meu moletom azul e caminhei até seu jardim. Duas pedras bastaram para que surgisse na janela com um sorriso sonolento, coçando o olho direito infantilmente.
Iluminou-se e acenou para que eu a esperasse.

  - O que vamos fazer hoje ? – Disse carinhosamente me dando um beijo.
  - Surpresa – Falei baixinho, enquanto beijava seu pescoço.

  De mãos dadas andamos tranquilamente pelas ruas vazias de Londres. Ela esfregava os braços demonstrando estar com frio, passei meu braço direito sobre seus ombros, fazendo-a se aproximar de mim para se aquecer.
  Pude observar manias da durando nossa caminhada, manias fofas que talvez nem ela mesma saiba que tem. Quando está com vergonha, minha pequena sempre olha para o chão, quando morde o canto da boca, é porque está tentando encontrar as palavras certas a dizer. Mas acima de tudo, quando tem vontade de me abraçar ou beijar, ela vidra seus olhos nos meus com um sorriso tímido, fazendo-me quer o mesmo.

  - Chegamos – Disse dando passagem para que entrasse no café. – Em qual mesa você quer ficar? – falei enquanto caminhávamos até a mesa ao lado da janela ao fundo da confeitaria. O garçom se aproximou.
  - Bom dia, o que desejam? – Júlia nos perguntou sorridente.
  - Bom dia – Respondemos juntos - Prato especial – Eu disse satisfeito. Júlia sumiu por trás do balcão, entrando na cozinha.
  - O que está aprontando? – Ela me encarou com um sorriso e um olhar confuso.
  - Nada, só posso mais levar minha namorada para tomar café da manhã comigo?- Disse dando-lhe um beijo. Vendo Júlia se aproximar com um carrinho, onde estava nosso café da manhã.   - Bom apetite - disse enquanto levava um pedaço do bolo de chocolate à boca.

  Quando acabamos de comer, fomos até o parque. Nos deitamos na grama, olhando o céu. Estava lindo, sem uma nuvem se quer.

  - , isso é pra você – Entreguei-lhe um envelope aveludado – Escrevi noite passada, não conseguia dormir pensando em você – Ela o pegou e se sentou a minha frente sorrindo.
  - Quero ouvir sua voz – Ela tirou a carta, e a encarando com um semblante meigo, entregou-me a cuidadosamente - Pode ler pra mim? – sorriu mordendo o canto da boca.
  - Claro amor - Tomei a carta em minhas mãos, desdobrei-a. Estava ofegante e sorridente – Fiz essa música para você, espero que gosto. – Ela concordou com a cabeça.

“Momentos
Feche a porta, apague a luz.
Eu quero estar com você.
Eu quero sentir o seu amor.
Eu quero estar do seu lado.
Eu não posso esconder isso mesmo que eu tente.

Coração bate mais forte,
O tempo foge de mim.
Mãos trêmulas tocam a pele,
Isto torna isso difícil.
E as lágrimas escorrem pelo meu rosto.

Se nós apenas pudéssemos ter essa
Vida por mais um dia.
Se nós apenas pudéssemos voltar no tempo.

Você sabe que eu serei,
Seu vida, sua voz,
Sua razão para ser meu amor.
Meu coração está respirando por isso.
Momentos no tempo,
Eu acharei as palavras pra dizer.
Antes que você me deixe hoje.

  P.S.: Eu te amo, minha pequena.”

  Lágrimas rolavam pelos seus olhos, porém, seu sorriso continuava vivo. Ela não conseguia dizer uma palavra, as lágrimas aumentavam cada vez mais. Abracei-a carinhosamente.

  - Não gostou? – Arrisquei.
  - Eu adorei – Disse entre soluços, secando os olhos me encarando.
  - Prometa-me uma coisa? – Perguntei fazendo-a me encarar. E concordando com a cabeça. – Nunca se esqueça de que a amo mais do que tudo – Vejo um sorriso iluminar seu rosto – Minha pequena – dou-lhe um beijo na testa – Minha princesa – nossos lábios se encontram.
  - Pra sempre – sussurrou olhando em meus olhos.

  Acordo com o sol entrando pela janela do quarto são sete e treze da manhã. Olho para o lado e lá está ela. Linda, como sempre. Dormindo tranquilamente sobre meu peito.

  - Amor – A chamei baixinho, enquanto acaricio-a observando um sorriso nascer em seu rosto.
  - Bom dia amor – Ela disse ainda com os olhos fechados.
  - Me diga todos os dias que eu acordarei para esse sorriso. – Disse beijando-a os lábios.



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