Um Coração Perdido No Espaço
Escrita por Gaby Mdrs | Revisada por Feer
Prólogo – ano 2.037 d.C.
Her Pov
“Às vezes na vida temos que tomar decisões difíceis, mesmo que elas nos machuquem depois.”
Olhando-o se afastar através da janela do meu quarto, eu não conseguia acreditar no que tinha acabado de acontecer. Fechei meus olhos por um instante e deixei que as lágrimas corressem livres por meu rosto, enquanto tentava assimilar que meu noivo havia terminado nosso relacionamento, para que pudesse servir na missão que defenderia a Terra dos invasores extraterrestres, que haviam declarado guerra no espaço.
Eu sabia que Josh sempre sonhara em fazer algo memorável pelo mundo, da mesma forma que sabia que ele me amava – afinal de contas, estávamos juntos desde a adolescência – só o que não esperava era que, se ele tivesse que escolher entre os dois, optasse por me deixar para trás para seguir seu sonho. Isso doía mais do que um dia conseguiria admitir em voz alta, mas eu superaria, ou pelo menos torcia para que isso acontecesse. Entretanto, eu não desejava que ele se arrependesse da decisão que tomou, depois de tudo, pois talvez eu nunca o perdoasse.
Capítulo 01 – ano 2.042 d.C.
His Pov
“Estar em dúvida é um perigo, pois as escolhas que fazemos decidem nossa vida.”
O céu visto do espaço era uma visão que não me cansava nunca, não importava há quanto tempo convivesse com ela. Eu sabia bem disso, pois vivia em uma base lunar há exatos cinco anos. Era incrível como o tempo passara rápido e eu mal tinha percebido, mas também com toda a agitação decorrente da guerra intergaláctica, não era de se estranhar que o tempo houvesse passado despercebido.
Desde o dia em que decidira fazer parte desta missão, minha vida havia se tornado combater as espaçonaves que queriam a todo custo invadir o planeta Terra, com o propósito de destruí-lo. Confesso que não foi uma incumbência fácil de ser realizada, mas tinha valido à pena cada minuto, pois enfim havíamos conseguido vencer essa guerra.
Mesmo com todo esse tempo em que estava aqui, eu ainda conseguia me lembrar com clareza do dia em que resolvi me alistar.
Era tarde da noite, mas eu não estava com sono, pressentia que devia ficar acordado, mesmo não imaginando porque, por isso liguei a televisão e fiquei mudando de canal até encontrar algo que fosse bom o suficiente para me entreter. Quando parei em um canal de notícias, foi como se o destino estivesse me chamando, pois o noticiário anunciava o que todos temiam que acontecesse; a Terra estava sendo ameaçada de invasão por um exército de seres intergalácticos.
Em uma tentativa de conter a situação, vários homens estavam sendo enviados para o espaço para operarem as naves contra os invasores. A partir daquele momento eu sabia que não poderia ficar parado. E foi por isso que decidi que no dia seguinte iria me candidatar para ser enviado no próximo foguete que partisse.
Entretanto, eu havia me esquecido de um detalhe, e que por sinal era muito importante em minha vida, minha noiva . Nós estávamos noivos há dois anos – sendo que namorávamos há mais de oito –, e planejávamos nos casar dentro de alguns meses. Mas com tudo o que estava acontecendo, isto seria impossível, pois eu não podia ignorar a chance de servir pelo bem da humanidade. Ela teria que entender.
Fechei os olhos com força ao lembrar-me dela, as coisas não haviam sido nada amigáveis quando eu lhe contara o que pretendia fazer. podia ser o amor da minha vida, mas eu não podia colocá-la em primeiro lugar daquela vez, não quando o futuro do mundo estava em jogo; seria egoísmo de minha parte pensar primeiro na minha felicidade quando o planeta precisava de toda a ajuda possível, e eu estava disposto a ajudar.
Coloquei o capacete e resolvi sair um pouco, caminhar em meio às rochas lunares me faria bem, depois de ter relembrado sobre ela. Eu tentava ao máximo não pensar no que havia deixado para trás, porque tinha medo de ser corroído pelo remorso, uma vez que percebesse o que eu havia abdicado para poder estar ali.
Saí para o ar rarefeito, e pus-me a perambular sem rumo, apenas apreciando o silêncio que a paz pós-guerra trazia, e o ritmo plácido de meus pensamentos. No entanto, minha mente não me deixou em paz por muito tempo, e logo me vi pensando novamente nela.
Não consegui dormir depois que tomei minha decisão, e passei o resto da noite imaginando formas de contar para , de um modo que ela conseguisse compreender a importância do meu ato.
Quando o dia amanheceu, me preparei para enfrentar sua reação, mas esperava que apesar de tudo, nosso amor fosse forte o suficiente para resistir a esse percalço, já que eu não tinha ideia de quando iria voltar para casa, uma vez que partisse.
Estacionei meu carro na vaga de sempre em sua garagem e após tocar a campainha, esperei que a porta fosse aberta.
- BOM DIA, SR. MONROE – Saudou-me MS-505 – o robô que era como uma governanta naquela casa – após fazer meu reconhecimento facial.
- A Srta. se encontra?
- SIM – e conferindo em sua programação, passou-me a localização de minha noiva, que se encontrava em seu quarto.
Antes de entrar em seu quarto, porém, foi preciso fazer a leitura da minha digital, para que eu tivesse acesso ao cômodo. A tecnologia havia avançado muito na época em que estávamos vivendo, pois nossos pais diziam a todo o momento como as coisas no tempo deles eram menos complicadas; já que eu não havia vivido em outro período, se não este, não podia opinar se estavam certos ou errados.
- amor estou entrando no seu quarto, portanto não se assuste – avisei antes que a pegasse trocando de roupa, como da última vez, o que me rendeu um belo sermão por não anunciar minha chegada.
- JOSH! – ela praticamente atirou-se em meus braços, e por pouco não caímos os dois no chão, já que havia sido pego de surpresa.
- Vejo que estava com saudades, hein? – falei enquanto a colocava no chão.
Esse comentário a fez corar e ficar envergonhada instantaneamente. Apesar de todo o tempo em que estávamos juntos, e de tudo que havíamos passado, eu ainda era capaz de fazê-la ficar envergonhada com um simples comentário. Isso era tão ilógico, que a tornava ainda mais especial para mim.
- Exagerei na recepção, não é? Prometo me controlar mais da próxima vez.
- Por mim você pode me recepcionar do jeito que quiser, sempre irei adorar. Mas o motivo que me trouxe aqui hoje é algo sério, que tenho que tratar com você.
Isso a fez ficar em alerta instantemente.
- E sobre o que é? É algo relacionado ao nosso casamento?
Suspirando, peguei-a pela mão e a fiz sentar-se na cama ao meu lado. Seria melhor para ela ouvir a notícia estando sentada.
- De certo modo, sim, pois isso mudará todos os nossos planos.
- Como assim? – ela olhou-me assustada. Eu odiava que ficasse assim, e eu não pudesse fazer nada para acalmá-la.
- você já viu algum noticiário hoje?
Ela negou veemente.
- Pois bem, deixe-me informá-la da situação atual de nosso planeta. Uma guerra espacial foi iniciada, e as naves extraterrestres querem ultrapassar nossa barreira e adentrar a Terra, mas o pior é que eles vêm a com missão de destruir nosso planeta.
- O QUÊ?! – gritou ela aterrorizada.
- E para contê-los, estão enviando homens para o espaço para operar as espaçonaves.
- E o que isso exatamente tem a ver conosco?
Isso iria ser mais difícil do que eu pensava, mas era necessário, portanto, busquei forças dentro de mim e tentei explicar minha, ou nesse caso, nossa situação.
- Estou querendo lhe dizer que eu vou me alistar para essa missão.
- Você não pode estar falando sério?! – ela disse, já começando a se exaltar. Eu conhecia bem o gênio da minha noiva, e quando isso acontecia, todos que estavam por perto eram atingidos pela sua explosão.
- É claro que estou falando sério. Você sabe que sempre quis fazer algo memorável pelo mundo; algo para saber que fui útil, de algum modo, para o planeta; e essa é a oportunidade que eu estava esperando para fazer meu sonho tornar-se realidade.
- E como nós ficamos nessa história?
- Bem, sobre isso...
- Deixe-me ver se entendi direito – falou enquanto levantava-se da cama. Isto não era um bom sinal; significava que eu já a havia irritado a um ponto irremediável. – Você veio aqui hoje para terminar comigo? É isso mesmo?!
- não é bem assim… – Agora que eu estava ali, olhando-a, vi que não poderia pedir para que esperasse meu retorno; eu poderia demorar anos para voltar, ou talvez nunca regressasse, se algo me acontecesse enquanto estivesse lá. – Eu posso demorar anos para voltar, dependendo de quanto tempo isso irá se estender. E pelo modo como eles parecem estar preparados, isto certamente demorará. Seria injusto pedir-lhe para me esperar. Não sabemos o que pode acontecer enquanto estivermos separados…
- Não diga mais nem UMA palavra! Eu quero você fora da minha casa AGORA! – ela disse apontando para a porta, sem me encarar, mas eu sabia que seus olhos estavam marejados, porque os meus próprios estavam.
- Eu não queria que as coisas terminassem desse modo, não queria mesmo.
- SAIA!
Dirigindo-lhe ainda um último olhar, saí do daquele quarto, deixando o amor da minha vida para trás. Aquela era uma imagem que permaneceria em minha memória para sempre. Eu só esperava não me arrepender desta decisão depois.
Meu coração apertou-se com as imagens vívidas, que minha mente acabara de me fazer reviver. Cinco anos haviam se passado, e mesmo que houvesse me desligado disso enquanto a guerra reinava, os sentimentos haviam retornado com força total, agora que não existia outra coisa com que ocupar minha cabeça. Eu ainda amava ; com a mesma intensidade, se não mais do que antes.
Capítulo 02
His Pov
“Só encontramos o amor de verdade uma vez na vida; portanto, não o deixe escapar, se um dia você encontrá-lo.”
Após a guerra ter sido finalizada não havia mais o que fazer nesse lugar, por isso o governo estava mandando foguetes para buscar os “soldados” que haviam servido a seu propósito. Eu, no entanto, não estava muito entusiasmado com isso, pois voltar significava ter que enfrentar tudo aquilo que tinha deixado para trás.
Só de imaginar com o que poderia me deparar, eu começava a suar frio. Como estariam meus pais? Estariam eles vivos, ou alguma coisa poderia ter-lhes acontecido? Pensar nessa hipótese me angustiava, já que nossos últimos momentos juntos não haviam sido dos melhores, uma vez que eles também não concordavam com minha vinda para o espaço. Porém, algo dentro de mim, dizia-me que eles estavam bem e aguardavam ansiosamente meu regresso.
Outra coisa que passou a me inquietar foram os pensamentos sobre . Teria ela me esquecido e iniciado algo com outra pessoa? Essa questão estava roubando todos os meus pensamentos, e era o motivo principal de eu querer adiar meu retorno para casa, pois não sabia como iria reagir ao constatar que ela realmente havia seguido em frente e refeito sua vida.
Deitei-me em minha “cama” – se é que podia se chamar aquele bloco feito de metal que nem com todos os cobertores ficava confortável, de cama – e tentei abrandar a mente para conseguir dormir. Entretanto, aquilo parecia algo difícil para mim, pois não conseguia parar de refletir sobre como as coisas deveriam estar na Terra. O medo de ter sido esquecido enquanto estava fora começou a se abater sobre mim e a tirar o pouco de paz que eu tinha.
Apesar de todas as consternações, eu não me arrependia da minha decisão, de modo algum, pois isso havia sido a realização de um dos meus maiores sonhos; mesmo que infelizmente tenha tido que abdicar do outro para poder concretizá-lo.
- Preparado para voltar para casa, Monroe? – Se existia algo de que eu não gostava em tudo isso, eram as amizades que havíamos sidos forçados a fazer com pessoas que nem conhecíamos direito, apenas porque estávamos todos juntos em uma mesma missão. Agora Frederick Olwen, um dos homens com quem dividia o espaço destinado para nosso descanso, olhava-me incisivamente a espera de uma resposta que eu não queria dar.
- Na medida do possível, Olwen – respondi encarando o teto.
- O que isso quer dizer? – Eu odiava quando alguém era invasivo. Não estávamos ali para sermos melhores amigos e eu não devia explicações da minha vida a ninguém.
- Quer dizer que muito tempo se passou. Tenha um bom descanso. – Virei-me para o outro lado, como uma forma de evitá-lo, e se ele fosse inteligente o bastante, entenderia o recado.
Ouvi o farfalhar daqueles lençóis metálicos, com os quais tínhamos que nos cobrir, e soube que ele finalmente havia ido se deitar e iria deixar-me em paz. Fechei os olhos e torci para que o sono me alcançasse, mas isso não parecia que iria acontecer tão cedo, e em meio aos pensamentos aleatórios que transitavam por minha mente, fui inundado pela lembrança de meu primeiro dia aqui na base espacial.
Após uma longa viagem realizada em um dos foguetes da NASA – com o aperfeiçoamento das tecnologias, uma viagem para a lua já conseguia ser feita com o mínimo de tempo possível – eu finalmente pisei em solo lunar, e dirigi-me para a nova base espacial em órbita ali, construída especialmente para nos abrigar enquanto estivéssemos realizando aquela missão.
Descrever em palavras como me senti ao olhar para a imensidão do espaço pela primeira vez, era uma tarefa difícil de ser realizada, pois não havia nada no mundo que conseguisse expressar este sentimento. Fiquei tão impressionado assim desci na plataforma da estação, que a única coisa que conseguia fazer era olhar ao redor para ter certeza de que aquilo era real e não apenas um sonho.
No entanto, logo tive mudar meu foco para o real motivo de estar ali, já que tivemos que entrar apressados para não sermos atingidos pelos de raios de laser disparados pelas naves que rondavam o local.
- Vocês já devem ter percebido com o que terão que lidar enquanto estiverem aqui – disse o oficial pela missão, Richard O'Shea – Devem ter notado também que eles não estão de brincadeira, e que possuem uma tecnologia muito mais avançada que a nossa, apesar de já termos nos aperfeiçoado bastante nos últimos trinta anos. Portanto o que tenho a dizer-lhes antes que possam seguir para seus respectivos aposentos, é que terão que esforçar-se ao máximo para vencê-los. – Ele olhou atentamente para cada um de nós antes de pronunciar sua frase final - Utilizem toda inteligência e agilidade que possuem, uma vez que estes foram os atributos que os levaram a serem selecionados para estarem aqui. Agora estão dispensados.
Assim que ele terminou de falar todos se espalharam em direção às câmaras que iriam ser como nossas casas, até que pudéssemos ir embora. Quando vi do que se tratavam nossos “aposentos”, eu quis rir, porque aquilo não se parecia em nada com um quarto. Havia seis blocos de metal, do tamanho de camas, dispostos horizontalmente, com uma almofada sobre cada um, e um armário onde estavam guardadas algumas roupas de astronautas e lençóis metálicos para nos cobrir quando fôssemos descansar. Essa parte, não era realmente do jeito que imaginei, mas isso não era a questão importante que estava em jogo.
Não sei em que momento adormeci, mas quando acordei era o único que ainda estava deitado. Escutei o som de passos andando de um lado para o outro, e repentinamente fez sentido que os outros já tivessem acordado e me deixado dormindo. Eles estariam voltando para casa hoje, e o foguete que viria buscá-los deveria estar próximo de chegar.
Centenas de homens haviam sido convocados para esta incumbência, mas apenas 20 permaneciam na base. Éramos o último grupo a voltar para casa, e ainda poderíamos ser divididos em dois, se permitissem que mais familiares viessem para cá. Eu sinceramente esperava que isto acontecesse, pois não estava pronto para enfrentar o passado.
Após fazer minha higiene e comer alguma coisa para preencher o estômago, já que fome eu não sentia, saí para mais uma caminhada sem rumo. Isso já estava se tornando um hábito meu, mas sinceramente não estava preocupado, pois em breve iria embora e isso não seria algo que me afetaria quando voltasse para casa.
Segui andando sem rumo em meio às rochas e meus pensamentos voltaram-se para a primeira vez que participei do combate.
Respirei fundo antes de entrar na nave espacial e concentrei-me no que teria que fazer. Bastava acionar a alavanca e direcioná-la para o lugar certo quando avistasse as naves invasoras e disparar os raios elétricos.
Eu poderia fazer isso, já havia treinado antes de chegar aqui. Além disso, não poderia ser tão difícil, não era? Naquele momento eu senti falta de mais do que nunca, pois era sempre ela que não me deixava desanimar em meio às dificuldades, e dava-me forças para seguir com o que estivesse fazendo.
Balancei a cabeça tentando me livrar da imagem dela. Não podia me lamentar, e muito menos agora. Eu tinha que manter o foco na missão à minha frente.
- Tudo pronto Monroe? – perguntou-me Kelvin McCoy, um dos oficiais, e a pessoa que supervisionaria meu primeiro voo.
- Sim senhor!
- Ótimo! Eu quero aqueles seres insignificantes destruídos, e que não sobre nem uma peça sequer daquelas navezinhas medíocres! – O modo como ele falou assustou-me um pouco, mas ignorei. Eu iria lidar com coisas piores daqui pra frente, então teria que me acostumar. Mortes e destruições me aguardavam nessa jornada.
Essa viagem já havia me proporcionado diversas experiências, muitas das quais jamais esqueceria, não importando quanto tempo passasse. Olhei ao redor e vi uma espécie de formação rochosa que não notara antes em minhas andanças, talvez tivesse me afastado da base espacial mais do que pretendia. Dei de ombros e caminhei até lá, sentando-me em seguida. Se eu iria fazer uma visita às minhas lembranças, preferia estar sentado.
Haviam disparos de laser por todos os lados, e eu tentava atingir a maior quantidade de naves que apareciam no meu caminho.
- Vamos Monroe, acabe com esses malditos! – McCoy gritou de onde estava sentado, no banco ao meu lado.
Vi a oportunidade de aniquilar vários invasores de uma vez, após avistar um meteorito que vinha ao meu encontro. Seria arriscado o que pretendia fazer, mas eu tinha que tentar. Girei a nave bruscamente e ativei uma grande carga de raios que atingiram o centro do meteorito, porém, antes que este se espalhasse em milhares de partes e atingisse meu objetivo, me desloquei do caminho, fazendo a nave chocalhar.
- Ficou maluco?! – Esbravejou o oficial – O que pensou que estava fazendo, ao realizar tal manobra?!
- Eu tinha tudo sob controle. Além do mais, temos que fazer de tudo para vencer essa guerra.
- Sim, sim. Isso é verdade. Só não esperava um movimento assim de um novato.
Sem sombra de dúvidas aquela havia sido a melhor parte do meu dia.
Sorri com a memória e voltei a caminhar, avistando ao longe depois de alguns passos, uma silhueta bastante conhecida por mim, mesmo com todas aquelas camadas de roupas especiais. Entretanto, aquilo não poderia ser real, em hipótese alguma, pois não fazia sentido. Contudo, mesmo que eu fosse me desiludir depois, por ser apenas uma alucinação, eu corri em direção àquela imagem que fazia com que eu pensasse que era .
Capítulo 03
Her Pov
“Não há decisão mais sábia do que aquela que é tomada com o coração.”
Olhei ao redor mais uma vez antes de embarcar e tentei achar uma solução que me impedisse de fazer essa loucura, mas não havia nenhuma, pois eu já havia tentado de tudo e esta era minha última opção, mesmo que a contra gosto. Eu estava fazendo isto pelo , e somente por ele.
Passei as intermináveis horas da viagem tentando ignorar o mal estar que havia se apoderado de mim, no entanto, isto não parecia ser algo possível, pois os intensos e constantes abalos não queriam nos abandonar por um segundo. Fechei meus olhos e imaginei estar em casa com , tendo mais um de nossos momentos felizes, que eram raros, mas que não diminuíam em nada meu amor por ele. Toda a angústia e sofrimento valiam à pena se eu o tivesse ao meu lado.
Em algum momento eu havia conseguido cochilar – embora não soubesse dizer por quanto tempo – e quando dei por mim, o foguete já estava pousando na plataforma da estação. Desci um pouco desorientada e demorou um pouco para que me acostumasse com a perda da gravidade. Vi quando os familiares começaram a abraçar seus parentes que estavam na missão, mas não avistei Josh em lugar nenhum. Eu já imaginava que isso fosse acontecer, pois o conhecia muito bem e sabia que ele estava com medo de voltar para casa; fora por causa disso que resolvi vir busca-lo, uma vez que não podia demorar, e se deixasse por sua conta, ele só retornaria no último foguete que visse à lua.
Depois de perguntar a alguns de seus companheiros se o tinham visto e obter respostas negativas, resolvi sair em busca dele. Foi uma atitude totalmente irresponsável da minha parte, mas naquele momento não me importei; tudo o que estava fazendo era em nome de uma causa muito maior e por esse motivo não mediria os riscos e as consequências de meus atos.
Enquanto andava pelo solo lunar, não pude deixar de apreciar a beleza de tudo aquilo que me rodeava; não fosse pelas circunstâncias, estar no espaço seria como o paraíso. adoraria estar aqui. ... !
Eu não podia me desviar do meu objetivo principal, e precisava encontrar Josh o mais rápido possível. Continuei andando sem rumo, até que vi um homem com trajes espaciais, sentado sozinho em uma rocha. Tentei não animar-me muito, cultivando falsas esperanças, mas só podia ser ele, pois era o único que não estava na base.
Após algum tempo caminhando, ele olhou em minha direção e não sei como, mas senti que Josh havia me reconhecido, até porque logo em seguida começou a correr até onde eu estava.
- Não é um sonho – disse ele assim que me alcançou – Você está mesmo aqui.
Josh aproximou-se de mim e tomou minhas mãos nas suas. Por um momento me deixei levar pela sensação reconfortante de tê-lo junto a mim após tanto tempo, mas logo a realidade se abateu sobre mim e eu me afastei.
- Josh não sei o que deve estar pensando, mas o fato de eu estar aqui não se refere a nós dois.
- Como assim? – disse ele com confusão estampando seu rosto – Que outra razão existiria para você estar aqui?
Evoquei forças dentro de mim e preparei-me para lhe contar a verdade.
- Precisamos conversar seriamente sobre um assunto bastante delicado, Josh; é sobre nosso filho.
Choque dominou sua expressão, e ele ficou paralisado encarando-me, enquanto processava a informação.
His Pov
Filho?
havia dito mesmo isso?
Por um momento fiquei apenas encarando-a, totalmente atônito para dizer qualquer coisa, enquanto tentava assimilar a notícia.
- O quê? – consegui pronunciar após um tempo, em meio à minha confusão. – Como isso pode ser possível?
Ela respirou fundo e pude perceber que aos poucos começava a ficar agitada.
- Acho que não preciso lhe explicar os mecanismos de concepção. Por mais absurdo que possa ser nós temos um filho sim, o nome dele é e é a razão para eu ter vindo até aqui.
Lágrimas haviam se formado em seus olhos, no entanto, não deixei aquilo me comover, pois durante todo esse tempo ela havia escondido o fato de que tínhamos um filho.
- Responda-me com sinceridade , pois saberei se estiver mentindo. Você já sabia que estava grávida quando fui até sua casa informar da minha viagem?
- Não Josh, eu não sabia. Só descobri a gravidez duas semanas após sua partida.
Não fiquei totalmente convencido com sua resposta, uma vez que eu sabia que as mulheres sempre suspeitavam quando estavam grávidas. Não era possível que ela não desconfiasse disso na época.
- E antes disso você não desconfiou de nada?
- Desculpe-me Josh se irei abster-me de falar sobre isso com você. Se não se lembra, sempre fui muito irregular, então considerei aquele atraso normal. Só quando apresentei outros sintomas resolvi fazer um exame para saber. Agora será que posso explicar minha situação? – não falei nada, apenas assenti e ela continuou – apesar de ter nascido um bebê lindo, foi diagnosticado logo em suas primeiras semanas de vida com leucemia linfoide aguda, e ao longo desses anos venho cuidando do seu tratamento. Entretanto, nos últimos tempos ele piorou muito, e a última esperança de cura é um transplante de medula óssea. Infelizmente Josh, ele tem o mesmo tipo sanguíneo que o seu, que é muito raro, e por isso você é o único que pode ser seu doador. Essa é a única razão para eu estar aqui.
Lágrimas desciam por seus olhos enquanto ela falava, e sua tristeza apoderou-se de mim também. Eu tinha um filho com a mulher que amo, mas que corria risco de vida e dependia de mim para sobreviver.
- Não vou julgar você . Existem coisas mais importantes agora. Precisamos sair o mais rápido possível; não quero deixar meu filho esperando mais nem um segundo.
[...]
Apesar da trégua que havíamos declarado antes da viagem, foi inevitável que trocássemos farpas no decorrer do longo período em que tivemos ficar próximos. O ressentimento de comigo era extremamente aparente, pois ela fazia questão de não escondê-lo, e isso me lembrou da época de nossa adolescência, quando vivíamos brigando antes de iniciar nosso namoro. Era bem parecido com o que estava acontecendo agora, e foi por isso que não me contive e disse:
- Tem certeza de que nosso filho foi a única razão para você ter ido me buscar no espaço? Talvez você apenas seja orgulhosa demais para admitir que ainda me ama.
Raiva pulsou em seus olhos quando ela me encarou.
- Se você não houvesse sido tão egoísta, a ponto de ficar adiando seu retorno, talvez eu nem tivesse precisado realizar tal loucura. Mas como você estava demorando demais e era minha última esperança para a cura do meu filho, tive que vir atrás de você.
Não falei mais nada depois disso, e passamos o restante da viagem em um silêncio nada amistoso.
Após pousarmos em terra firme, mal tive tempo de trocar aquela roupa por uma normal, e logo estávamos sobrevoando a cidade até o hospital onde meu filho estava internado.
Assinei muitos documentos de autorização para a cirurgia antes que pudesse, enfim, falar com meu filho.
Uma enfermeira-robô conduziu-me até seu quarto e meus olhos encheram-se de lágrimas ao olhar para ele pela primeira vez. parecia tão frágil deitado naquela cama especial do hospital, mas ainda assim era lindo. Ele remexeu-se um pouco e eu me aproximei mais do vidro que nos separava, para ter uma visão melhor dele.
- Filho... – sussurrei e continuei a observá-lo, até que a mesma enfermeira-robô de antes apareceu e deu-me instruções para vestir a roupa apropriada para que pudesse entrar no quarto dele.
Assim que me sentei na poltrona ao lado de sua cama, fui recompensado com a visão mais bela do mundo: os olhos do meu filho me observando. Não pude deixar de ficar feliz ao constatar que eram azuis como os meus.
- Papai... – ele balbuciou e sorriu.
- Sou eu mesmo, filho. Queria ter estado aqui antes.
- Não importa – seu sorriso afracou um pouco e ele fechou os olhos. havia me dito que sua saúde estava muito debilitada, no entanto, eu não imaginava o quanto – Como é no espaço? Mamãe disse que você estava lá – com certo esforço conseguiu abrir seus olhos novamente.
- É muito legal, tenho certeza que você iria adorar – respondi enquanto acariciava sua testa, tirando os cachos escuros do caminho – Quem sabe eu não te levo até lá quando você sair daqui?
- Eu quero, mas mamãe não vai deixar. Ela não me deixa sair de casa – exibia um semblante triste agora, e não era isso que eu queria.
- E se nós a levarmos?
- Assim talvez ela deixe – ele respondeu e cedeu ao sono novamente.
Saí do quarto e respirei fundo me preparando para a cirurgia que aconteceria em poucos minutos. Tudo tinha que dar certo, caso contrário, eu tinha certeza de que desmoronaria; esse menino era sua vida e a partir de agora seria a minha também.
Her Pov
Minutos viraram horas enquanto eu aguardava o fim da cirurgia, e a cada instante, mais nervosa eu ficava. Se estava demorando tanto era porque as coisas haviam se complicado; o médico já tinha me alertado sobre os riscos que correria para que esse procedimento fosse realizado, mas eu precisava tentar, já que essa era a última chance dele de se curar.
Lágrimas começaram a descer por meus olhos e eu iniciei mais uma oração pedindo que tudo desse certo.
Após algum tempo a mais esperando, Dr. Robinson apareceu no corredor e eu corri em sua direção, querendo saber informações.
- Peço que se acalme senhorita – disse ele segurando minhas mãos.
- Doutor entenda, eu preciso saber se correu tudo bem. Por favor, diga-me!
- Sinto muito Srta. , mas seu filho não resistiu à cirurgia.
- NÃO! – gritei desesperadamente. Isso não podia ter acontecido. Não com o meu filho. O que seria de mim agora sem ele?
Epílogo
Her Pov
“Nem sempre o fim significa que algo acabou; fins são necessários para que existam novos começos.”
Assisti sepultarem a pessoa mais importante da minha vida com uma forte dor no coração. era tudo o que eu tinha depois que meus pais morreram, e agora eu ficaria sozinha. Talvez fosse melhor se eu também tivesse morrido, pois a dor que estava sentindo era demais para suportar.
Olhei para Josh do outro lado e me perguntei como ele deveria estar se sentindo, afinal também era seu filho, mesmo que não tivesse convivido muito tempo com ele. Mais lágrimas deslizaram por meus olhos ao pensar que meu filho não havia tido a chance de ter um pai presente em sua vida.
- O que eu vou fazer sem você, ? – sussurrei para mim mesma, enquanto encarava a lápide que haviam acabado de colocar.
Uma brisa fria fez as folhas das árvores balançarem e minha pele se arrepiar. Vi que Josh continuava encarando a sepultura de nosso filho do lado oposto ao que eu estava, e agradeci silenciosamente que ele tivesse respeitado minha decisão e me deixado sofrer em paz. Isso havia sido um tópico de discussão mais cedo, enquanto preparavam a cerimônia fúnebre, e eu não tinha forças para brigar de novo.
Minha mente foi repentinamente tomada pela imagem do dia em que resolvi que recorreria Josh, que era a última esperança para o tratamento de , - sem que eu houvesse pensado sobre isso. Achei um pouco estranho relembrar justo esse dia, mas não pensei muito, pois queria desfrutar da visão daquele momento com meu filho.
Após ter comunicado o que havia decidido, me fez várias perguntas sobre quando o pai estaria de volta e se gostaria dele. Tratei de tranquiliza-lo, dizendo que o pai iria amá-lo assim como eu o amava, e que ele deveria lembrar-se de tudo o que já tínhamos conversado sobre ele – apesar de toda a mágoa que senti por Josh ter me deixado para viajar para o espaço, jamais menti para meu filho sobre sua origem. Procurei sempre ser sincera ao responder o que me perguntava, e até mesmo mostrei as recordações de meu tempo de namoro. Eu queria mais do que tudo que ele compreendesse que apesar de eu não estar com seu pai, ele era fruto de muito amor.
Porém o que inquietou-me e me deixou desconcertada ao mesmo tempo, foi ele ter perguntado se eu iria voltar a namorar com o pai dele. Isso me pegou totalmente despreparada para responder, mas o que eu não estava esperando era ele ainda me desse um conselho com relação a isso.
- Você deveria dar mais uma chance ao papai, mãe. Vocês não tiveram a oportunidade de serem felizes.
Realmente aquilo era verdade, mas como é que um garotinho poderia ser tão sábio para dizer algo assim?! E por que essa lembrança tinha-me voltado à mente justo agora? Seria isso algum sinal para a pergunta que eu havia feito?
Quando olhei novamente na direção em que Josh estava, percebi que ele havia saído, e foi naquele momento que tomei minha decisão.
His Pov
A perda de um filho é algo muito difícil de suportar, e mesmo que eu tenha passado pouco tempo com , estava sofrendo muito. Analisando a situação, não conseguia nem imaginar como estava se sentindo, ela havia dado a vida por aquele menino, e agora ele se foi. Se pelo menos ela tivesse me deixado consolá-la, mas não, isso havia sido um motivo de briga, e eu preferi manter-me afastado.
Olhei mais uma vez para a sepultura do meu filho, e para a mãe dele que continuava ajoelhada ao seu lado. Virei-me em direção a saída e comecei a caminhar, até ser parado pelo chamado do meu nome.
- Josh espere! – gritou correndo em minha direção.
- O que você quer? – Perguntei receoso. Eu estava muito cansado para aguentar mais uma discussão, uma vez que aquele havia sido um dos dias mais exaustivos da minha vida.
- Você estava certo. Todo esse tempo eu estava sendo orgulhosa demais para admitir que ainda amo você. Eu não quero ficar sozinha, se posso estar ao seu lado.
- ... – eu disse sem conseguir esboçar uma reação concreta. Ela havia conseguido pegar-me totalmente desprevenido, pois em nenhum momento desde que cheguei pensei que isso fosse acontecer.
- Se você não puder me perdoar por tudo o que eu lhe disse e fiz, irei compreender, mas eu tinha que tentar. Acho que nós merecemos mais uma chance, e iria querer que eu batalhasse por isso.
Lágrimas brilharam em meus olhos à menção de nosso filho. Eu podia ter convivido pouco tempo com ele, mas foi o suficiente para que o amor de pai surgisse em meu peito. Jamais me esqueceria dele, e apesar de breve, sua passagem pela Terra havia deixado bons frutos, pois tenho certeza de que se não fosse por ele eu não teria a oportunidade de reatar com .
- Não precisa dizer mais nada, meu amor. Tudo o que eu mais quero na vida é reiniciar nosso relacionamento de onde paramos. – Aproximei-me dela e envolvi seu rosto com minhas mãos, lhe acariciando a face e enxugando as lágrimas que haviam deslizado silenciosamente por seu rosto. – E isso quer dizer que quero me casar com você o mais rápido possível, não iremos esperar uma eternidade como da outra vez.
- Eu te amo tanto Josh – ela disse abraçando-me e encostando a cabeça em meu peito.
- Eu te amo muito, – falei e inclinei seu rosto para o meu, iniciando um beijo que apesar de calmo, traduzia tudo o que não havíamos expressado em palavras. Todo o amor, carinho e saudades que sentíamos um pelo outro.
Separei nossos lábios e encostei minha testa na sua. Olhei para o céu e sorri para as estrelas, grato por não possuir mais um coração perdido no espaço, pois agora estava de novo com o amor da minha vida, e juntos iríamos lutar pela nossa felicidade.
Fim...