Um Bebê na Nossa Porta



Escrito por Nara Souza | |
Revisado por Natashia Kitamura

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Capítulo 1

  Eu tinha acabado de colocar os pés em casa, quando a assistente da me ligou avisando que a minha esposa havia passado mal e estavam a levando para o hospital mais próximo. Então, mesmo sabendo que a minha presença não faria diferença, fui até lá, porque agora eu era a única família que ela tinha, gostasse ou não.
  Nada demais aconteceu, foi apenas um desmaio causado pelo fato de que se recusava a dormir e comer mais que uma maçã há semanas, tudo que a mulher fazia era trabalhar e trabalhar o tempo inteiro, sua saúde e nossa relação ficaram em segundo e terceiro plano, assim que as visitas foram liberadas, depois de conversar com o médico, fui ver como ela estava.
  — O que você está tentando fazer? Desse jeito vai acabar doente, ! A empresa permanece de pé com ou sem você, lembre-se disso.
  — Não banque o meu pai, ! Foi só um desmaio. – faz uma careta.
  — Você acha que seu pai gostaria de te ver desse jeito?
  — Você não tem como saber o que meu pai gostaria ou não. Ele está morto, ! — Sua voz embargou e os olhos escuros marejaram.
  — E eu prometi pra ele que cuidaria de você, incluindo te fazer descansar de vez em quando! – Me aproximei, deixando um beijo casto em sua testa.
  — Não preciso de seus cuidados, , sei me cuidar muito bem sozinha.
  Nos últimos meses, vinha fazendo de tudo para me afastar e eu sequer sabia o que tinha feito de errado. Com a morte de e a mudança da irmã para Itália, minha esposa se fechou dentro da própria mente.
  — Vou continuar do seu lado mesmo, está bem?
  Depois de algumas horas, recebeu alta e eu a levei para casa, ficamos em completo silêncio durante o trajeto.
  Já em casa, preparei uma salada de frutas numa tentativa de fazê-la comer pelo menos um pouquinho. Coloquei as frutas no pote e enfeitei a bandeja pequena com uma rosa chá, sua favorita e levei para ela no quarto.
  — , eu não quero comer, me deixa em paz — Ela cruza os braços, um bico infantil se formou em seus lábios.
  — Só um pouquinho e eu te deixo em paz, pode ser? Abre a boca – levei a colher até sua boca.
  — iih, para de me tratar feito criança – Reclamou.
  — Pare de se comportar feito uma, então – Com os olhos semicerrados, tirou o pote das minhas mãos e comeu todas as frutas com três garfadas.
  — Agora tome água – Entreguei para ela uma garrafa de água.
   bebeu metade da água e depois tomou um remédio para dormir e apagou completamente.
  Peguei o celular dela que quase caiu no chão e aí estava o meu erro, as notificações mostravam duas mensagens:

  Camile: melhoras, irmã! Eu e seus sobrinhos iremos te visitar em breve.

  E outra do sócio dela, os dois pareciam mais íntimos do que meros colegas de trabalho. Eu não gostava disso.

   Beauchamp: Minha linda, esse é o preço que se paga por ser workaholic, descanse um pouquinho, eu cuido de tudo por aqui, quando você melhorar vamos jantar juntos pra comemorar! 🤞

  Mas que droga, por que eu li isso? Será que eles estão juntos? Será que o afastamento dela tem a ver com isso? Está se preparando para pedir o divórcio e ainda não sabe como me contar? Devo contestá-la sobre isso? É um péssimo momento para começar uma discussão, ela estava exausta e eu preciso manter minha promessa.

Capítulo 2


Dezembro de 2016

  Eu e costumávamos sentar na varanda do apartamento todas as noites para admirar a lua e as estrelas tomando uma taça de vinho.
  Meu namorado estava com um sorriso travesso estampado nos lábios, os olhos brilhantes como se estivesse prestes a aprontar alguma coisa, sentei de frente para ele e levei a taça à boca, ao mesmo tempo que proferiu três palavras que eu achei que nunca ia escutar saírem da sua boca:
  — Quer casar comigo?
  Eu engasguei com o vinho, deixou a caixinha com as alianças de lado e veio me socorrer.
  — Meu Deus, você está bem? Consegue respirar? Quer água? Um não já era suficiente, amor! — Neguei, abrindo o maior sorriso.
  Meus olhos estavam cheios de lágrimas, não sei se de emoção ou pelo engasgo.
  — Repete, eu só quero ter certeza que eu escutei direito! Quero me recordar dessa noite com mínimos detalhes no futuro.
  — Então eu preciso melhorar esse pedido! Eu nunca pensei que fosse querer me casar e passar o resto da minha vida com alguém, mas desde que você chegou, quando ainda éramos adolescentes bobos e apaixonados, como você adora dizer, começou a mudar tudo aqui dentro de mim, eu quero continuar conhecendo o mundo, eu quero colocar uma aliança com meu nome no seu dedo, quero contar pros nossos filhos como você ficou perfeita vestida de noiva, quero me apaixonar por você de novo todos dias e quando as coisas ficarem difíceis vou segurar sua mão e te trazer um buquê de rosas chá até você sorrir. Eu prometo até correr todas as manhãs com você sem reclamar, ler romances de época pra você antes de dormir quase todas as noites. Quero envelhecer com você e encher o restinho de paciência que ainda tiver até morrermos e sermos enterrados juntos. O que me diz? Você aceita passar o resto da sua vida comigo?
  — É claro que eu aceito, nessa e em quantas outras vidas que for viver, eu vou te escolher, você é minha casa, ! Eu te amo de todo meu coração e não existe outra resposta que não seja sim para tudo isso. — Ele colocou o anel solitário no meu dedo.
  Enchi seu rosto de beijos até alcançar a boca.
  Aquela noite foi memorável de todas as formas.

Presente - janeiro de 2023

  Despertei da lembrança que apareceu em meu sonho com coração acelerado e lágrimas escorrendo pelo rosto. tentou mesmo de todas as maneiras cumprir cada uma das promessas que fez no dia em que pediu minha mão, mas desde que aquilo aconteceu, tudo que eu fazia era estragar tudo entre nós. A partida do meu pai também parecia ter arrancado um pedaço de mim e eu não sabia como consertar.
  Olhei para o relógio na cabeceira e já passava das 11h30, a casa estava silenciosa, saí do quarto indo direto para cozinha, eu precisava me esforçar para comer pelo menos um pouquinho, não posso ficar doente agora.
  Tinha mais uma bandeja colorida na bancada com um prato de panquecas com frutas vermelhas formando uma carinha feliz, o café na minha xícara de raposa fofinha, que eu nem lembrava mais que tinha e uma costumeira rosa chá do lado. O bilhete em post it amarelo quase passou despercebido:

  Bom dia,
  Espero que você coma ou a carinha de mirtilos vai ficar triste! Tive que ir até o estúdio com o Pedro, mas volto antes do meio-dia. Não vá para o escritório ou vou ser obrigado a te buscar e te amarrar na cama de um jeito que você não vai gostar.
  Te amo
  .

  Guardei o bilhete e comecei a comer, eu queria só ver ele tentar me amarrar, não que fosse desobedecer às recomendações médicas e pular o repouso, mas é engraçado pensar que tem a capacidade de me segurar caso eu quisesse ir. Fiquei pensando no que eu poderia fazer para ocupar meu tempo ocioso nessa casa silenciosa. Peguei meus livros de colorir antiestresse, os lápis coloridos, sentei-me na mesinha da piscina e fiquei pintando por longos minutos.

  Resolvi subir para o quarto e trocar meu pijama por um biquíni. Nesse minuto, meu celular tocou e estranhei o fato de estar na mesinha de cabeceira do lado esquerdo, o lado de , será que ele mexeu aqui? A mensagem de estava visualizada, ele com certeza tinha lido e estava imaginando um milhão de besteiras! O ciúme bobo dele pela amizade que tenho com o meu sócio é uma das coisas que estragou nossa relação, se ele já ficava insuportável com isso, não gosto de imaginar o que meu marido faria se soubesse aquele segredo que nada tem haver com meu amigo.
  Retorno a ligação.
  — Eu estou bem, , de verdade! Não precisa se preocupar tanto, não tem possibilidade daquilo acontecer de novo, as coisas estão meio frias nesse quesito, eu quero o divórcio, vou aproveitar esses dias de folga para conversar com . Acabou.
  — Eu ainda acho que você deveria contar a ele o que aconteceu enquanto ele viajava. Eu não sou o maior fã do Campos, mas ele merecia saber – bronqueou, ele e minha irmã eram os únicos que sabiam do meu segredo.
  — Pra quê? Já faz três anos! Eu não quero dividir essa culpa com ninguém, era o sonho dele, , ele vai ficar arrasado!
  — E por que você se importa? – Rebateu.
  Andei de um lado para o outro no quarto e suspirei:
  — Porque eu o amo e não quero que sofra mais por minha causa, é por isso que eu preciso sair da vida dele sem revelar nada.
  — Você escuta os paradoxos que fala? Você ama aquele idiota então por isso vai largá-lo sem mais e nem menos? Quem te impede de sofrer? Você está se martirizando guardando isso há anos. Eu te amo, mas não vou te apoiar dessa vez.
  — Cuidar da editora enquanto eu estiver fora que é o seu trabalho, da minha vida eu cuido sozinha, sem qualquer apoio seu. — Desligo irritada.
  As palavras de ecoam na minha cabeça durante a tarde inteira, porque, no final das contas, ele estava certo, merecia saber e eu não aguentava mais esconder isso dele.
  Já estava anoitecendo quando ele retornou para casa. estava com uma expressão cansada e entristecida no rosto, quase desisti de contar.
  — Você está melhor? – Ele se aproxima.
  — Sim. Nós precisamos… — começo, mas ele me interrompe:
  — Conversar. Quando pretendia me contar que você e estão juntos? — Cruzou os braços, eu fiquei séria.
  — Não tenho nada com que não seja amizade e trabalho. Muito trabalho! Quem te deu o direito de mexer no meu telefone e criar histórias fantasiosas dentro da própria cabeça!
  — Você age como se eu não existisse, não fala comigo e vive grudada com ele, o quer que eu pense?
  — Eu esperava que você, talvez, CONFIASSE EM MIM! Não está mais dando certo, eu acho que nós dois sabemos que acabou. — Meus olhos se enchem de lágrimas, os dele também não era diferente.
  Vamos sofrer de todo jeito. pode me rotular como uma "maldita traidora"; me soa melhor do que ele saber que fui responsável por destruir nossos sonhos. Eu não estou pronta para contar. Talvez nunca esteja.
  — Grite, xingue, me ignore, faça o que quiser. Só não me peça para sair da sua vida assim, por favor, , não desista de nós. Não faz isso comigo. – Ele se aproxima mais, um raio cruza o céu através da janela, e com o susto, eu apertei os dedos dele contra os meus com força.
  — Eu só estou te pedindo isso, porque eu quero que você seja feliz e sabemos que não vai ser, se continuar comigo. — As lágrimas escorrem pelas minhas bochechas e eu odeio chorar na frente das pessoas, até quem me conhece do avesso.
  — , eu escolhi permanecer mesmo quando as coisas estiverem difíceis e segurar você, mas pra isso, eu preciso que seja sincera comigo e não esconda o que sente. Eu te amo e não quero seguir sem você, é a minha felicidade — Ele soltou minha mão e segurou meu rosto entre as mãos.
  — Eu não consigo, eu não posso. Só vai embora, por favor. — Sussurrei, sem conseguir me afastar.
  — É isso mesmo que você quer? Vou te deixar sozinha por essa noite, quando se sentir pronta, você me liga e volto. — Ele beijou minha testa e saiu.
  Chovia lá fora, quando me soltou, eu caí no sofá, me sentindo fraca de tanto chorar.

Capítulo 3


Maio de 2017

  Estávamos há uma semana do nosso casamento. Eu quase não conseguia ver minha noiva, que estava ocupada demais com os preparativos da cerimônia e da festa. Por sorte, morávamos juntos. Um dia, no início da tarde, ela chegou no apartamento reclamando do cansaço. Soltei o violão que eu estava tocando e compondo uma música surpresa para ela e a puxei para se sentar no meu colo, enchia seu rosto de beijinhos:
  — Aí, amor, eu não aguento mais, se eu ver mais um convite com uma lista infinita de pessoas que eu não gosto com letras douradas, um cardápio, um tipo tecido, um salão de festas, eu juro que vou desmaiar, eu odeio organizar festas. — Desci os beijos para o seu pescoço, inspirando o perfume doce, enquanto ela reclama.
  — Quer fazer uma loucura, minha vida? — Ela virou o rosto para mim com um sorriso lindo, aproveitei para beijar seus lábios vermelhos.
  — Com você? Qualquer coisa e em qualquer lugar, ! — suas unhas arranhavam de leve minha nuca.
  — Vou me lembrar disso depois, mas o que você acha de ligarmos pra uns amigos pra servir de testemunha e irmos para o cartório agora? Assim pulamos todo esse estresse e vamos logo para nossa viagem de lua de mel, só nós dois, muito sol, bebidas, você nua em cima de mim por horas, juro, estou sonhando com isso há meses. — Ela gargalhou arrepiada.
  — Você tá falando sério? Fico pronta em 5 minutos! Ligue para a Camile e o , vou me trocar! — Ela se levanta do meu colo e corre para buscar o vestido no armário.
  Não foi difícil encontrar um juiz que aceitasse nos casar às pressas, com o sobrenome da minha família, eu conseguia qualquer coisa. Ficou combinado que e Camile nos encontrariam na porta do cartório. saiu do quarto com um vestido branco simples, mas não podia estar mais linda aos meus olhos. Pegamos o carro, fomos ao cartório e passado uns vintes minutos, tínhamos assinado os papéis, ostentava uma linda aliança com pequenos diamantes na mão esquerda com meu nome gravado nele. Era oficialmente minha esposa.
  Entramos no carro e encontrei minha câmera jogada no banco de trás, peguei e a apontei para ela:
  — Vou precisar dessa foto para mostrar aos nossos filhos como você estava perfeita no nosso dia. Essa parte da promessa, eu não posso descumprir.
   abriu mais um de seus lindos sorrisos, os olhos fechados, ergueu a mão para mostrar a aliança para as lentes. A câmera cospe a foto e eu espero alguns segundos para guardá-la na carreteira.
  De volta ao nosso prédio, entramos no elevador e não conseguimos manter nossas mãos longe um do outro, me beija feroz e me aperta contra o cubículo prateado, tenho certeza que os vigilantes das câmeras de segurança estão adorando nosso showzinho…
  — Eu quero você, tanto, tanto… — ela diz no meu ouvido e eu sinto suas palavras diretamente no meu pau.
  — Eu sou todo seu, pra sempre — Digo porque é verdade. volta me beijar com fome, somos salvos porque finalmente o elevador parou no nosso andar, ou eu a tomaria ali mesmo pra todos assistirem.
  Chegando no apartamento não tenho muito tempo para pensar em mais preliminares. Ao fechar a porta, temos segundos para abrir o fecho da minha calça e subir seu vestido… Rasgando sua calcinha e abaixando minha cueca, e tão rápido como respirar, com um único movimento, estou dentro dela.
  — Meu. — diz, infiltrando suas mãos dentro da minha camiseta, gemendo e me arranhando.
  — E você é minha, amor, pra sempre — A respondo, com mais uma estocada de meu corpo contra o dela

Janeiro de 2023 – Presente

  Entro no meu carro, abrindo a carteira, percebendo que a foto que tirei no dia do nosso casamento ainda estava lá, não consigo entender quando e por que eu a perdi assim. Passo os dedos pela foto enquanto lágrimas escorrem pelo meu rosto. Não sei se consigo viver sem ela, meu coração estava em pedaços só de imaginar assinar a droga do divórcio e nunca mais vê-la, mas, se ficar longe de mim era o que precisava pra ter um pouco de paz, então eu daria isso a ela.
  Um choro agudo e desesperado me desperta dos meus pensamentos. Parecia ser um animal, algum carro tinha dado defeito na rua? Desci do carro para verificar. O som do choro e dos gritos fica mais intenso, chego perto do portão da garagem, a chuva estava forte demais, tenho dificuldade para enxergar, mas vejo um pequeno cesto no chão e agacho e vejo que se tratava de um bebê. Meu Deus, quem teve coragem de abandonar uma criança sozinha na rua nesse temporal? Olhei em volta e não vi ninguém por perto.
  Carreguei o bebê no colo, a pequena menininha estava envolvida em uma manta fina branca, vestia um body rosinha, estava com uma touquinha de ursinho e estava sem sapatos. Tremendo de frio e chorando forte. Fiz a única coisa que poderia fazer, voltei para dentro de casa, se sobressaltou com o desespero do bebê vindo em direção a porta de entrada.
  — ? Mas que porra é essa? — Seus olhos se arregalam na direção do bebê.
  — Deixaram esse bebê aqui na nossa porta. Eu não podia deixá-la lá fora sozinha. — Expliquei, ainda tentando fazê-la parar de chorar.
  — ? Um bebê não é um cachorrinho que você encontra na rua e traz pra dentro de casa. Você viu alguma coisa? Tinha alguém lá fora? Não tinha um bilhete ou algo assim na cesta? — Ela praticamente berrou, vasculhando a cesta, encontrou um envelope, pegou as chaves do carro e correu para a porta.
  — Aonde você vai? – Pergunto, percebendo que a bebê se acalmou um pouquinho, o choro havia parado, mas ainda soluçava baixinho.
  — Se o bebê vai ficar por aqui um dia ou uma noite vai precisar de fraldas, roupas, leite, vou sair pra comprar. Acha que consegue dar banho nela? – Sua voz estava trêmula, ela gesticulava parecendo muito nervosa. — Não vai demorar mais que vinte minutos.
  — Acho que sim. — Ela nem espera eu terminar de falar para passar pela porta.
  Levei a neném para o quarto, enchi a banheira que usamos e a coloquei dentro, a limpando.
  Como ainda não tinha roupas para vesti-la, a enrolei em duas toalhas felpudas até que voltasse.
  Ela demorou demais, fico conversando com o bebê:
  — Quem deixou você aqui? Quer saber? Não importa, vamos cuidar de você, ok? Nada de ruim vai te acontecer. — prometi.
   voltou depois de meia hora, cheia de sacolas, o rosto estava vermelho e inchado. O bebê já estava dormindo.
  — Eu trouxe tudo que ela pode precisar.
  — Shii, ela já dormiu — aviso.
  — Tadinha, ! Você deixou a bebê dormir sem comer e sem se vestir. Vai lá fazer a mamadeira dela enquanto eu tento vestir uma roupinha sem acordá-la. Ela deve acordar em algumas horas — Pegou a bebê com cuidado e levou de volta para o quarto. — Quando eu voltar, tenho uma coisa muito importante pra te dizer. – avisou, eu apenas concordei.
  Sabendo que talvez ela só quisesse dizer que não ficaríamos com a bebê, mudou de ideia completamente sobre termos filhos e odiava tocar no assunto.

Capítulo 4


Março de 2020

  Eu vinha me sentindo muito enjoada e sonolenta nos últimos dias, deixei no aeroporto para visitar a mãe que acabou de dar a luz ao irmãozinho do meu marido e fui encontrar minha irmã para tomar café da manhã na sua cafeteria favorita. Contei à Camile sobre esses mal estares, ela logo começou a berrar:
  — Meu Deus, eu vou ser tia! Você não acha que pode estar grávida? Depois daqui vamos passar numa farmácia e comprar uns testes! Eu tô tão empolgada, já falou com sobre isso?!
  — Conversamos sempre, por ele já teríamos um time de futebol. Quero fazer o teste, ter certeza de que o possível bebê está seguro e aí sim contar pra ele. Você conhece seu cunhado, é todo ansioso! – Eu sorrio com a sua empolgação.
  — Eu sei, se ele já mima você de todo jeito, esse bebezinho vai ser o mais sortudo do mundo com o Tomy como pai e seu como avô — Rimos juntas.
  — E você de titia, essa criança vai muito mimada, Deus me dê forças e paciência.
  Continuamos comendo e falando sobre o futuro, Camile queria viajar para Itália, fazer um curso de fotografia e aplicar os de marketing que fazia há um tempo, também falou sobre a decepção com a antiga namorada e ter ficado bêbada e beijado , nosso amigo de infância:
  — E o pior que é que gostei, me deu vontade de sentar! – Confessou e eu ri mais.
  — Então senta, eu tenho certeza que ele vai adorar. Eu adoraria tê-lo como cunhado, viu?
  — Iih sai pra lá, quem gosta de ter família de comercial de margarina é você. Eu não vou me casar nunca. — Ela fez uma careta, enrugando o nariz.
  Terminamos o café e fomos na farmácia, uma hora depois eu já tinha feito três testes e todos com o mesmo resultado, estávamos esperando os minutos para saber o resultado do quarto teste:

Positivo
Gravidez 1-2

  — PARABÉNS, MAMÃE!!! — Camile gritou no meu ouvido e só então minha ficha caiu.
  Tinha uma mini pessoa crescendo dentro de mim. O filho que eu e passamos noites fantasiando como e quando viria estava enfim chegando, um misto de ansiedade com alegria tomou conta do meu peito. Estamos prontos pra isso? Sermos responsáveis por alguém pelo resto da vida? Eu serei uma boa mãe mesmo sem nenhuma referência? Acho que consigo se eu me esforçar muito ou simplesmente deixar as coisas acontecerem naturalmente, tudo dará certo. Não estou sozinha nisso, afinal.
  — Uau, eu tô grávida mesmo, né? É real, eu acho que estou com medo.
  — Ah, , você vai ser uma ótima mamãe, deixe pra se preocupar com isso quando o bebê chegar na adolescência. Agora, eu vou ter que deixar vocês sozinhos porque estou atrasada pra comprar uma roupa para participar de um evento de caridade. — deu um beijinho na minha testa e saiu.

  Ainda fiquei alguns minutos parada, olhando o teste em minhas mãos. Um exame de sangue já estava marcado para dali meia hora. Foi só o tempo de trocar de roupa. Fiz todos os procedimentos e o resultado saiu em uma hora. Eu estava mesmo grávida. Saí do consultório direto para o shopping, tinha uma ideia de como contar para de uma forma mais especial, mesmo que tivesse que esperar que ele voltasse de viagem dali um mês. Comprei um sapatinho de bebê amarelo, uma caixinha colorida e papéis de carta com pequenas nuvens desenhadas. Chegando em casa, eu escrevi neles:

  Oi, papai,
  Faz um tempinho que eu cheguei na barriguinha da minha mamãe. É legal crescer aqui, mas eu não vejo a hora de sair daqui e te conhecer. Quando eu nascer, sei que você vai cantar todas as noites para eu dormir, me ensinar tocar guitarra, baixo, violão, bateria e vamos fazer muita bagunça. Acho que vou ser tagarela como você é, mas vou ter a carinha da minha mãe, dizem que é muito mais bonita, hahaha. Você vai me levar ao balé, a escolinha, pra viajar, me proteger e me cuidar até eu ser adulto.
  Vou te contar todos os meus segredos porque você vai ser meu melhor amigo pra sempre, assim como é o da minha mamãe.
  Te amo.
  Assinado: bebê.

  Guardei a cartinha em um envelope de nuvens, coloquei dentro da caixinha colorida junto com o sapatinho amarelo, um dos testes que eu tinha feito mais cedo e enfeitei com um laço azul.
  Na manhã seguinte, recebi uma ligação do meu pai, , dizendo que queria conversar sobre um assunto de extrema urgência. Fiquei preocupada e resolvi ir logo para a casa dele assim que desliguei a ligação.
  Chegando lá, encontrei meu pai lendo um livro em seu escritório. Ao perceber minha presença ali, ele levanta a cabeça e sorri. Seus cabelos grisalhos caem sob a testa, os olhos pequenos quase desaparecem quando ele sorri, mas algo em sua expressão denuncia o cansaço, eu me aproximo para abraçá-lo.
  — Que bom te ver, minha filhinha, como você está? Sente-se, por favor. — Ele pede, logo depois de beijar minha testa.
  Fico pensando se aquela é uma boa hora para contar que ele será avô, mas espero que diga o que era tão urgente primeiro para depois contar.
  — Eu estou ótima, acho que nunca estive melhor.
  — Bem, eu receio então que eu não tenha boas notícias para lhe dar. — Ele segurou minha mão. — Minha filha, você sabe que depois de você e da sua irmã, a nossa editora é o maior orgulho da minha vida, não sabe? Eu detestaria deixar nas mãos de qualquer um e… Bom, eu amo sua irmã mais velha, entretanto, é uma cabeça de vento! Então por isso eu te incentivei a estudar administração e produção editorial, porque a Literaverso será sua quando eu me for.
  — Pai? Eu não estou entendendo porque o senhor está dizendo agora… — Sussurrei confusa.
  — Ora, , é muito simples, eu estou doente, não devo ter mais que 2 meses de vida, a editora será herdada por você e , mas o pior de toda essa situação é que estamos falindo. Se não encontrarmos novos autores e parceiros, perderemos tudo. O trabalho de uma vida inteira perdido, por favor, minha filha, é o meu último desejo, prometa que dará tudo de si para salvar a Literaverso.
   falava como se fosse apenas se aposentar e passar a empresa da família para mim e não morrendo, desaparecendo para sempre das nossas vidas. Minha garganta se fecha, minha mão entrelaçada com a sua tremia. Lágrimas ameaçavam escorrer pelo meu rosto.
  — O que o senhor tem? Não existe nada que possamos fazer?
  — Não importa, minha filha, só prometa que vai fazer atender o meu desejo! E não chore mais, não te criei para ser uma menina chorona. — Pediu, secando as lágrimas dos meus olhos com o dedão.
  — Eu prometo, pai.
  A partir desse dia, eu comecei a trabalhar sem descanso para reconstruir a imagem da editora, abrir editais para novos e antigos escritores, conseguir parceiros e patrocinadores 24 horas por dia, com as tentativas de salvar a empresa e aproveitar os últimos momentos com meu pai, sem que soubesse de nada. Acabei esquecendo de cuidar de mim e do meu filho. Só percebi isso tarde demais.

  Era uma sexta-feira, 5h30 da manhã, eu e estávamos verificando os livros recebidos, quando eu comecei a sentir muita dor, uma cólica intensa, era cedo demais pra ter contrações, eu tinha menos que dois meses de gestação. Comecei a tremer, empalideci, me contorcendo na cadeira. estranhou minha inquietação e veio para perto de mim:
  — , você está suando e branca feito um papel, acho que está na hora de fazermos uma pausa — Tentei levantar da cadeira, mas perdi o equilíbrio, veio me carregar.
  — Eu não sei o que está acontecendo comigo. — Minha voz saiu em um fiapo pela fraqueza.
  — É… Eu não quero te assustar, mas sua cadeira está cheia de sangue! — avisou depois de olhar para trás.
  Lágrimas grossas escorreram pelo meu rosto e a dor física se misturou ao desespero.
  — Eu acho que eu estou perdendo meu filho, ! — digo entre soluços.
  Meu amigo me levou para o hospital o mais rápido que pôde, mas chegando lá, eu já estava inconsciente e era tarde demais. Meu bebezinho tinha partido sem ao menos ter a chance de viver. Um pedaço meu se foi junto com ele.
  — Eu ainda não consegui entrar em contato com , mas sua irmã está vindo pra cá — avisou.
  Eu que só não estava mais chorando por causa do calmante injetado nas minhas veias, reuni forças para falar.
  — não sabe que eu estava grávida e também não vai saber que eu perdi.
  — Como você quiser, seu segredo estará guardado comigo, eu sinto muito…

Presente - janeiro de 2023

  Quando terminei de contar tudo que tinha ocorrido três anos atrás, eu esperei que gritasse comigo, fosse embora e nunca mais olhasse na minha cara, porém sua reação foi totalmente oposta a qualquer coisa que passou pela minha imaginação, ele apenas me abraçou muito forte como se tentasse remover toda dor que eu estava sentindo, não recuei, as lágrimas delas se misturaram às minhas, não sei quanto tempo ficamos fundidos naquele abraço.
  — Você não precisava passar por tudo isso sozinha, amor. — Ele sussurrou enquanto acariciava meu cabelo.
  — Eu fiquei me sentindo culpada. Era o nosso sonho e eu…
  — Nada disso foi culpa sua, infelizmente essas coisas acontecem, você estava sendo muito pressionada e com essa mania chata de achar que pode carregar o mundo nas costas, você me escondeu isso por três anos, e eu sei bem que fez isso para que eu não sofresse, assim como aceitou cumprir a droga de promessa que fez ao , porque não suporta decepcionar quem você ama.
  — Eu achei que você me odiaria se soubesse da verdade, por isso, tentei te afastar todo esse tempo. — Confessei, sem ao menos perceber.
  — Eu te amo e nada que você faça vai mudar isso, seja bom ou ruim.
  Abri a boca pra dizer que também o amava, mas o choro fino do bebê que dormia na nossa cama me interrompeu.
  — O que vamos fazer com ela?
  — , eu estive pensando e se você estiver preparada e quiser, nós deveríamos adotá-la. Nós temos tudo que ela pode precisar aqui: uma boa casa, ótimos empregos e toda atenção que ela precisar. Eu acho um erro deixá-la ir pra uma casa de acolhimento à própria sorte.
  Eu vivi os três primeiros anos da minha vida em um abrigo até que me adotou, não foram anos terríveis, mas completamente sem qualquer demonstração de afeto ou cuidados. Aquela bebê não merecia passar por isso.
  — Eu acho que antes de tomar qualquer decisão deveríamos ler a carta que estava na cesta. Se a pessoa que deixou aqui colocou essa carta lá, é porque era importante.
  — Tem razão. Você não leu?
  — Não tive coragem. — Segurei o envelope nas mãos.
  Enquanto ele ia buscar a bebê para alimentá-la, já era a segunda mamadeira dela em um intervalo de duas ou três horas.

  Olá, casal do 704,
  Me chamo Gina, venho observando vocês desde a minha gravidez, acho que serão bons pais para minha filha. Eu a amo e gostaria muito de poder ficar com ela e criá-la, mas eu não posso; tenho apenas 16 anos, minha família me expulsou de casa e meu namorado, Ricky, pai da minha filha, acabou falecendo antes que pudéssemos conhecer nosso bebê.
  Minha filha se chama Mabel — significa amável, amorosa, de origem francesa e eu o escolhi para que ela soubesse o quanto eu a amei, peço que não mudem. Mabel nasceu no dia 17 de dezembro de 2022, mês passado. Perdão por deixá-la aqui no meio da noite sem avisar, mas eu não tinha mais onde ficar com ela. Estou indo embora com o coração apertado, mas certa de que darão todo amor que Mabel precisa, faço um último pedido, quando ela tiver idade o suficiente, contem sobre mim para ela e deixem que ela saiba o quanto a amei e só a deixei para trás porque era o melhor que poderia fazer.
  Gina Portter

  Ler aquela carta foi como levar um soco no estômago, a garota não rejeitou a filha, ela só não teve escolha entre ficar e partir, mas teve o cuidado de pensar em alguém confiável para se responsabilizar pela bebê, não sei o que exatamente ela conseguiu enxergar em nós sem ao menos se aproximar. Eu entendia completamente a sensação de ter um filho arrancado de mim antes mesmo que pudesse crescer e também conhecia a solidão de pensar " onde está minha mãe, por que ela me deixou aqui? " e não desejo que Mabel sinta o mesmo.
  — Não faz nem 24 horas que ela deixou a menina aqui, talvez ainda esteja por perto, podemos ajudá-la a se manter com a filha, . Sei lá, podemos achá-la antes de…
  — Você não leu a carta? Ela queria que ficássemos com a criança.
  — Só porque não tinha outra opção, mas se podemos dar opção a ela, por que não tentar? Essa garota já perdeu tanta coisa, ela merece ter a chance de ver a filha crescer pelo menos.
  — Você não pode estar falando sério, .
  — Estou sim!
  — Se você não quer adotá-la é só dizer.
  — Você está sendo egoísta, .
  — Segure a menina, vou ligar para nossa advogada. Any Gabrielly deve saber o que fazer para dar início ao processo de adoção. — Ele me entregou Mabel nos braços e saiu para o escritório com o celular em mãos.
  Mabel dormia serena, alheia a qualquer confusão ao redor dela, seu corpinho pequeno e frágil aconchegado nos meus braços. Sua pele branquinha parecia um algodão, a boquinha pequena, o nariz arrebitado. Muito lindinha.
  — Vou tentar achar sua mãezinha pra você, tá bom? – Prometi.

  Mas infelizmente, passado dois dias, não consegui encontrar Gina em lugar algum, ela já deveria estar longe.
  Any Soares conseguiu que o processo de destituição familiar fosse rápido, para o alívio de , aquela documentação garantiria que Mabel não tivesse nenhum vínculo legal com a genitora, caso ela aparecesse e quisesse levar a bebê embora. Logo após isso, iniciamos o processo de adoção e em 20 dias a bebê se tornou Mabel Ferrer Campos, legalmente nossa filha.

Capítulo 5

  Três anos atrás, minha mãe decidiu, aos 57 anos, que queria ter um bebê. Eu não apoiei isso e passei meses sem falar com ela, mas quando Luke, meu irmão, nasceu, eu saí daqui sem pensar em mais nada; se não tivesse ficado mais de um mês por lá, meu filho estaria vivo, nunca teria se afastado de mim. O universo parecia querer nos compensar quando deixou Mabel na nossa porta. Desde o momento em que a segurei pela primeira vez, senti que ela era minha filha.
  Tive que mudar toda a minha rotina para estar presente o máximo de tempo pra ela: compus algumas músicas novas, vendi os direitos delas e outras antigas, montei um estúdio no quintal de casa e passei a fazer as produções lá, além de decorar o quarto dela, ao lado do nosso, com tema de safari, cheio de bichinhos, tons de verde nas paredes e amadeirados para os móveis, livrinhos, etc. Ao contrário do que eu pensava, Mabel se adaptou bem ao cantinho e dormia praticamente a noite toda, sem nenhum de nós por perto, embora eu viesse vê-la de hora em hora, só por precaução.

  O sol nasceu bonito no dia 17 de fevereiro quando Mabel completou seu segundo mês de vida, acordei e fui ver como ela estava.
  — Bom dia, princesinha, sabe o que vamos fazer hoje? Apresentar você para a sua família. Sua titia maluca Camile, o chato do seu tio e a sua vovó Leila. — Mabel piscava os olhos azuis e esboçava sorrisos como se prestasse atenção quando falamos com ela. — Não, bebê, eu não vou deixar sua mamãe se atrasar e nem faltar, tá? – Prometi sem muita convicção.
  Porque apesar de ter aceitado adotar Mabel, mal chegava perto da bebê, como se não quisesse criar qualquer tipo de conexão com a menina. Ainda não tivemos tempo de conversar sobre isso e eu não queria pressioná-la, não depois de tudo.
   — , tô indo, tá? E não precisa reclamar, eu não vou chegar tarde. — Como se lesse meus pensamentos, apareceu na porta do quarto.
  — E nem trazer trabalho pra casa? – Fiz um bico e ela riu, vindo me beijar.
  — Sem homeoffice. — Afirma, depois de afastar um pouquinho — Tchau, neném — beijou a testa de Bebel, que sorriu pra ela.

  Mais tarde, depois do banho de Mabel, umas 4 mamadeiras e 10 trocas de fraldas, fomos buscar minha mãe no aeroporto e a primeira coisa que meu irmãozinho perguntou foi:
  — Ela é de brinquedo, imão? — pergunta com curiosidade, encarando Mabel na cadeirinha ao lado da sua.
  — Não, maninho, ela é um bebê de verdade, você já foi desse tamanho, sabia? – ri.
  — Aham, a tá em casa? Eu quero ver ela!! – Luke choramingou.
  Meu irmãozinho era doidinho por , sempre que ele vinha pra casa, ficava grudado nela, parecia gostar mais da minha esposa do que de mim.
  — Não, ela está trabalhando, mas não vai demorar pra chegar, tá?
  — Não, imão, ligaaa! — Luke apontou pro meu celular. Coloquei a ligação pra rodar no carro.
  — , aconteceu alguma coisa?
  — Não, é que tem um rapazinho no meu carro querendo falar com você.
  — , você vem pra casa me ver? Eu quero livrinho de pintá, eu quero te ablaçá! — Luke falou.
  — Claro, meu amor! Eu vou levar pra você, tá? Daqui a pouquinho a gente se vê. – Prometeu.
  — faz todas as vontades desse menino! Ela deve estar louca pela bebê de vocês, não é?
  — Não, mãe, não está. — Respondi, atento ao trânsito.
  — Mas por quê? — Dona Leila estranhou.
  — Depois eu te conto tudo, prometo.
  Quando chegamos em casa, Mabel tinha adormecido em seu bebê conforto, então minha mãe se ofereceu para colocá-la no berço enquanto eu tentava distrair Luke, que estava inquieto esperando pela chegada de .
  — Imão, me empurra no balanço?
  E foi assim que eu passei os próximos 20 minutos empurrando Luke no balanço do quintal enquanto sua gargalhada infantil preenchia o ambiente.
  — !!! — Ele praticamente pulou pra fora do balanço quando viu chegar, ela teve que ser ágil para carregá-lo no colo e evitar que ele caísse no chão.
  — Luke, meu amor! Como você cresceu!! Tá lindo, meu bebê! — Ela encheu o rosto dele de beijinho enquanto abraçava forte.
  — Agola que eu sou um menino grande, você já pode ser minha namorada, não é?
  — E o seu irmão vai ficar sozinho? – riu.
  — A gente arruma outla pra ele. Eu sou bem mais bonito, né?
  — É, você é sim! Mas eu acho que você ainda precisa crescer mais e até lá, vou estar muito velhinha.
  — Você espela o Luke crescer! Você trouxe meu livro de colorir? Você me ajuda a balançar?
  — Claro que sim, vamos lá!
  Fiquei parado meio abobalhado vendo os dois brincarem juntos, eu queria que Mabel pudesse receber esse carinho da mãe dela também. Subi para o quarto e minha mãe estava me esperando. Me vi narrando tudo que tinha acontecido nos últimos tempos e a perda do bebê que eu não sabia da existência.
  — Eu não sei o que fazer, mãe!
  — Dê tempo a elas, filho, sempre adorou crianças, sempre quis ser mãe, perder esse bebê deve ter sido um baque e tanto. Adoção também é um ponto sensível para ela, Mabel pode num primeiro momento estar servindo como um reflexo de tudo que ela perdeu. Mas não acho que as duas vão demorar a se vincular, só deixe as coisas acontecerem naturalmente e converse com sua esposa! Não tem como saber o que ela está pensando sem dialogar! E você não quer ser um homem divorciado agora — Mamãe me deu um tapinha no braço e eu estremeci com a menção da palavra " divórcio".
  — Não mesmo.
  Só então eu percebi o quanto estávamos perdidos e quanto eu estava cansado disso.

🕑🕑🕑

  Quando no meio da tarde recebi a ligação de para que Luke pudesse falar comigo meu coração se encheu de alegria, meu mini cunhado era a criança mais doce do mundo, amava brincar com ele ou simplesmente ouvir sua tagarelices. Só espero conseguir amar Mabel da mesma forma, um dia! Enquanto meu marido já sentia pai da bebê desde o primeiro segundo, senti apenas compaixão e acho que pode demorar muito até que eu me torne mãe dessa garotinha, talvez nunca aconteça. Separei o livrinho de colorir pedido por Luke, juntamente com chocalho dourado no formato de laço para a bebezinha, chegando em casa, o garotinho tomou toda minha atenção para si.
  — Sabia que eu entrei na escolinha e nem chorei com saudade da mamá?
  — Que legal, Lukezinho, e você aprendeu muitas coisas novas lá?
  — Eu aprendi a contar até 100, a prof me ajudou a plantar uma árvore e ela vai ficar bem grandona. Vou pedir pra minha mamãe tirar uma foto pra te mostrar, ! Quando a Mabel não for mais bebê, eu vou ensinar a ela a plantar também, o que acha?
  — Eu acho uma ótima ideia! Agora vou subir agora e me arrumar, quer ver um desenho na TV?
  — SIIIM, POCOYO!!! — Luke gritou animado, eu o carreguei no colo, liguei a TV e o deixei sozinho na sala.
  Quando passei pelo corredor, percebi que conversava com Leila. Eu poderia seguir meu caminho, mas a curiosidade foi bem maior e o que eu escutei não me agradou muito, depois de dizer que me amava independente de qualquer coisa, estava pensando em divórcio só porque não criei laços com a criança que adotamos? Isso não é problema dele, é um pouquinho, mas eu resolvo sozinha e quando eu quiser e se eu não quiser, isso não afeta nossa relação ou afeta? É, acho que tá na hora de conversarmos de novo. Dou mais um passo na direção da porta, seguro a maçaneta, porém desisto, não quero estragar a noite. Vou para meu quarto, tomo meu banho, escolho um vestido violeta floral fresquinho, passei um perfume de jasmim que me presenteou há uns meses, resolvi usar também o colar com a junção dos nossos nomes. Prendi as mechas da frente do meu cabelo. Dei uma última olhada no espelho antes de sair do quarto, de longe eu já podia escutar Camile e competindo pra ver quem tinha comprado o melhor presente para a bebê, Luke chorando porque ninguém estava dando tanta atenção pra ele.
  Decido sair e chegando na sala, tenho uma surpresa, o conjuntinho de calça, moletom e touquinha de Mabel tem a mesma cor que o meu vestido.
  — E olha só, combinou! — ergueu a criança pra mim. Mabel me ofereceu mais um de seus sorrisos desdentados.
  — A é breguinha mesmo, né? Mal virou mãe e já tá usando roupinha combinando. — Camile zombou de mim, achando que eu tinha feito de propósito.
  — Esse tipo de coisa é a cara dela. — concordou rindo.
  — Me deixem, eu e minha bebê somos estilosas. Fim. – Ri, observando o brilho nos olhos de quando falei.
  O jantar foi super animado, aquela casa não escutava tantas risadas há um bom tempo, todo mundo divido entre paparicar Mabel e rir de histórias de infância. O relógio marcava 22h30 quando e Camile foram embora e minha sogra decidiu que Luke já tinha passado da hora de dormir. Restava apenas eu, Mabel distraída com o mobile em seu carrinho de passeio e um parecendo um zumbi de tão cansado.
  — Amor, por mais que eu adore ver essa sua versão de pai super cuidadoso, eu acho que você precisa descansar um pouquinho, pode ir se preparando pra dormir. Eu coloco essa mocinha no berço hoje.
  — Mas….— Ele ainda tentou resistir.
  — Mas nada, vai logo, cê tá caindo de sono, menino.
  — Tá bom, boa noite. — ele se levantou, me deu um selinho e um beijinho na testa de Mabel dentro do carrinho e saiu tropeçando nos próprios pés.
  Tirei a pequena do carrinho e a levei para o quartinho de safari, substituí sua roupinha por um pijaminha estampado com bichinhos e uma nova fralda, já que ela usava estava cheia de xixi. Mabel é um bebê muito tranquilo e não chorou enquanto fazíamos isso. Sentei na cadeirinha de amamentação e lhe entreguei sua mamadeira, ela ficou piscando os olhinhos verdes e brilhantes pra mim enquanto sugava o bico de borracha.
  — Eu não tenho sido muito presente pra você, não é? Eu sei, vou me esforçar para melhorar, está bem? Vai ser bem difícil, mas vou tentar ao máximo, vamos começar sendo boas amigas, eu te trago presentes e em troca, você não vomita em mim, o que acha? — comecei a conversar com ela. Que só piscava em resposta, com os olhinhos atentos em mim. — E aí, aos pouquinhos, vou ser uma boa mãe pra você ou pelo menos tentar. — Suspirei.
  A coloquei pra arrotar e depois fiquei balançando ela nos braços por cinco minutos e botei no berço quando percebi que adormeceu.

  No dia seguinte, eu não fui trabalhar pela manhã, precisava conversar com o quanto antes, eu não aguentava mais o barulho das coisas que não dizemos dentro da minha cabeça. O relógio marcava 10h30 quando meu marido acordou e veio até a sala.
  — Ué, vai chover com você em casa a essa hora — Ele riu, se aproximou, me deu um selinho. — a propósito, belo colar.
  — É o mesmo colar, o mesmo perfume, o batom, eu sou a mesma pessoa e você também, mesmo que um pouquinho mais forte, os mesmos cabelos bagunçados de sempre, o humor duvidoso. Mas ainda sinto como se fossemos fantasmas de nós mesmos e detesto isso.
  — E o que você quer fazer? Separar?
  — Não, claro que não! Desde que eu tirei o peso daquele segredo dos ombros, isso nem passa pela minha cabeça. — O segurei pelos ombros, para que ele me olhasse — Eu quero recomeçar a nossa vida juntos. Continuar construindo nossa família. Eu, você, Mabel e um gatinho, o que acha?
  — Você está dizendo o que eu acho que tá dizendo? — um sorrisinho bobo cresce na sua boca.
  — Sim, eu te amo e quero passar toda minha vida com você. — O beijo bem devagarinho, aproveitando cada segundo. Sua língua invade minha boca ao mesmo tempo que suas mãos estão por dentro dos meus cabelos, minhas unhas arranham seus ombros bem de leve.
  Eu ficaria assim pra sempre, mas o choro fino de Mabel vindo do quarto nos assusta me obrigando a soltá-lo.
  — Vamos lá ver o que a bebê quer, mas fique você sabendo que essa conversa ainda não terminou. — Não consigo evitar rir da careta que ele faz ao falar.
  — Eu acho bom estar só começando mesmo!

Capítulo 6


Março de 2023

  Mabel completou seu terceiro mês de vida e parecia estar adorando descobrir as próprias mãos e pés, colocando-os na boca. E foi assim que a encontrei no berço quando fui ao seu quarto assim que cheguei em casa. Eu acabei esquecendo de entregar o chocalho comprado no mês passado, da mesma forma que comprei uma coelhinha feita de crochê e um ursinho de pelúcia cantor de músicas de ninar. A peguei no colo e Mabel sorriu pra mim, agarrando meu dedo.
  — Oi pequenininha, como foi seu dia? Papai cuidou bem de você? Eu te trouxe presentes. Vou mostrar. — a coloquei de volta no berço.
  — Essa é a Bunny, a coelhinha mais legal de todas, ela pode ser sua melhor amiga e te fazer companhia pra dormir. — Coloquei o bichinho de crochê ao seu lado e ela tentou passar as mãozinhas nele.
  — Esse é o Sunny, o ursinho cantor, apertamos a barriguinha dele, olha — mostrei perto do seu rostinho para que ela pudesse enxergar melhor. Apertei a barriga do ursinho e "Se essa rua fosse minha" preencheu o cômodo fazendo com que a menininha fizesse uma careta.
  — Tem esse chocalho também! – balancei e fez um barulhinho de “Xii”, que chamou atenção da bebezinha.
  — Ih já chegou? Não me deu nem oi, não veio tomar banho comigo. É... minha vó está certa, já não se fazem mais esposas como antigamente. — me abraçou pela cintura.
  — Você é muito bobo! Eu vim dar os presentes da sua filha, viu? — Eu ri.
  — Adoro te ver assim mimando nossa filha, sabia? — Deu um cheirinho no meu pescoço e beijou.
  — Essa neném merece tudo de bom. – Sorri a observando.
  Demos a mamadeira pra ela e a colocamos pra dormir, em seguida fui tomar banho, disse que me esperaria para observarmos as estrelas na varanda do quarto como sempre fazíamos. Escolhi um pijama mais fresco com um shortinho e uma blusinha, prendi o cabelo e fui para a varanda. me puxou para me sentar em seu colo e me apertou em seus braços.
  — Eu senti saudade desses momentos com você — Passei os dedos pela sua barba.
  — Eu tive medo de nunca mais termos isso. De acabarmos nos separando, você seguir com sua vida, se apaixonar por outro enquanto eu morria de tanto pensar onde errei com você — Ele confessou, dramático como só ele consegue ser.
  — Não tem espaço para nenhum outro homem no meu coração, seu espaço é apenas seu. — o beijei com toda paixão que martelava meu peito para que não restasse dúvida.

Abril de 2023

   precisou viajar para produzir um álbum em outro estado durante uma semana e meia, então Mabel e eu ficamos sozinhas, embora fosse uma bebê muitíssimo tranquila, ela ainda precisava da minha atenção 24 horas por dia, então passei todos os meus compromissos para e criei uma rotina para seguir com a bebê.
  Como já estava conseguindo ficar sentada por mais tempo no carrinho, todas as manhãs eu a levava para passear e tomar sol no parquinho perto de casa, voltávamos para casa e eu lia uma historinha para ela enquanto tomava sua mamadeira, depois era a hora do banho. Enchi sua banheira com água quentinha e seus bichinhos de borracha que Mabel insistia em pegar e colocar na boca, acho que as cores vibrantes chamam a atenção dela. Vesti um pijama de vaquinha nela.
  A hora de dormir, de dia ou de noite, era difícil. A pequena sempre chorava, poderia ser saudades do pai ou porque seus dentinhos começavam a dar sinais de que iam nascer, mesmo aos 4 meses.
  Decidi cantar numa tentativa de acalmá-la, faz anos que não canto para outras pessoas, então seria um privilégio apenas para a garotinha, depois de muito pensar, escolhi Cigarra da dupla Anavitória para cantar.
  — Eu quero tanto, mas tanto, quero te ver...
  Eu quero muito saber do teu mar...
  Fala da dor que eu te cuido, fala do amor, diga tudo...
  Que eu viro o peito do avesso pra lhe entregar
— Cantei sussurrado, enquanto a balançava nos braços, aos poucos Mabel foi piscando os olhinhos cansados e cedendo ao sono.

Maio de 2023

  Olhei o calendário e percebi que dali uns dias completamos 6 anos de casamento, fora os mais de 12 anos de relacionamento como um todo. Fazia tempo que não comemoramos esta data. Depois de muito insistir, consegui convencer de contratar uma babá para cuidar de Mabel enquanto viajamos por 3 dias. Estávamos prontos para sair quando apareceu na nossa porta com uma careta triste no rosto e falando sem parar.
  — Detesto estragar os planos de vocês, mas precisamos visitar a casa do papai hoje, os empregados cuidam da manutenção da casa, entretanto, já faz três anos que ninguém vai lá e prometemos mantê-la. — minha irmã soava tão responsável que eu até me assustei.
  — Precisa ser agora? Eu passei uma semana planejando essa viagem, foi horrível convencer a ir, você não faz ideia das coisas que tive que prometer pra conseguir contratar essa bendita babá.
  — Maninha, você pode dar seu cu depois, vamos lá! — gargalhou e eu belisquei o braço dela.
  — , relaxa, nós vamos até lá, abrimos os portões pra essa mala sem alças e seguimos viagem. — sugeriu a solução.
  A verdade é que eu não sabia se estava pronta para entrar naquela casa. Tudo nela me lembrava e suas cobranças para que eu fosse nada mais do que a filha perfeita, era doloroso pensar nisso. Durante todo o trajeto manteve seus dedos entrelaçados aos meus. Quando o carro parou na garagem do casarão, ele praticamente me carregou para dentro. Me levou para biblioteca do meu pai, o lugar que eu mais gostava, fiquei encantada e nostálgica ao perceber que as edições especiais de “O Pequeno Príncipe” continuavam conservadas ali, teria de lembrar de levar um deles para presentear Mabel.
  Em seguida, fomos para meu quarto. Ele estava idêntico ao que deixei quando fui embora daqui para estudar no internato, onde, por acaso, conheci meu marido. Os finais de semana em que eu voltava para casa eram sempre difíceis, mas sempre dava um jeito de vir me ver, ele sempre entrava de madrugada pela janela e saía com o sol raiando.
  O olhei pelo reflexo do espelho atrás de mim e sorri, ele parecia estar pensando o mesmo que eu.
  — Funcionou muitas vezes até a bocuda da Camile nos dedurar pro Luiz, ele ficou uma fera. — Ele riu.
  — Lógico, como foi que ele disse mesmo? Você estava tirando a inocência da filhinha dele bem debaixo do nariz dele, eu acho que seria demais para qualquer pai. — Eu falei rindo, porém ficou sério, com uma careta meio esquisita, como se estivesse apavorado.
  Provavelmente tendo visões do futuro aonde ele mesmo precisava expulsar os afetos da Mabel do quarto dela. Que homem maluco!
  — , volte pra terra, sua filha só tem 5 meses, seu doido! Você vai ter muito tempo de terapia até esse dia chegar. — Me virei de frente pra ele, passando os braços ao redor do seu pescoço.
  — É tem razão, mas…. — Calo sua boca colando meus lábios nos seus, em selinho demorado. Em um segundo, sou empurrada contra o espelho, prende seu corpo ao meu e retribui o beijo com certa brutalidade, sua língua explora minha boca sem nenhuma delicadeza. Suas mãos revezavam entre apertar minha cintura e bunda.
  Quando nos falta fôlego, paramos o beijo, mas, em momento algum, os lábios de deixaram minha pele. Ele devora minha garganta, lambendo e mordendo, me marcando como sua, e eu sou um caso perdido. Me permito ficar a sua mercê, totalmente dominada pelo desejo.
  — Quando te vi mais cedo com esse vestido, imaginei mil maneiras de tirá-lo de você, ficou lindo, mas eu acho que ainda prefiro seu corpo sem nada. — Ele diz, segurando a barra do vestido de crochê verde, em seguida tirando do meu corpo.
   me olha de cima a baixo, parando nos meus seios expostos, porque eu não usava sutiã por debaixo do vestido. Ele me toca, acaricia e belisca meus mamilos e eu sou um amontoado de gemidos.
  — Eu senti falta disso — Ele diz, deixando a mão espalmada no centro do meu peito, sentindo meus batimentos cardíacos acelerados — Senti falta de você, de nós… Todos os dias.
  Então ele deixa um beijo no centro do meu peito, para logo depois tomar um dos meus seios em sua boca. Me chupando, lambendo, arrancando gritos de prazer da minha garganta… Eu já estou tão pronta pra ele e esperei por isso por tanto tempo que qualquer movimento se torna três vezes mais prazeroso.
  Suas mãos descem pelo meu corpo tocando a barra da minha lingerie preta, a puxando com força. A sensação do tecido flexionando minha pele é deliciosa, ele rasga minha calcinha e joga no chão, como se não fosse nada, me deixando em expectativa de mais.
  — Você tem certeza de que quer fazer isso aqui? — Ele diz, já ajoelhando e apoiando uma das minhas pernas nos seus ombros.
  — Não me faça esperar mais.
  Ele gosta do que ouve e segundos depois sua boca está na minha boceta, me chupando forte, sua língua me fazendo gritar, saciando desejos por muito tempo escondidos.
  — Havia noites que era insuportável te ver sem camisa pela casa — Confesso entre gemidos, pressionando seu rosto ainda mais forte entre minhas pernas, recebendo um gemido dele como resposta — Então eu me trancava no escritório e me masturbava olhando nossa tatuagem.
   beija o símbolo do infinito com nossas iniciais desenhada em meu quadril e eu puxo para cima, tomando sua boca na minha sentindo meu próprio gosto em sua língua.
  Retiro sua camiseta apressada, jogando aos nossos pés, desafivelo seu cinto, puxando sua calça e cuecas de uma só vez, consigo ver sua tatuagem igual a minha desenhada no mesmo lugar. Cheguei a pensar que ele tivesse apagado.
  — A lembrança de nós tatuada em mim me dava esperança de voltarmos — Ele diz baixinho.
  Seguro seu pau na minha mão, o masturbando devagar, ele suspira. Quando minha língua toca todo seu comprimento, treme um pouco, quase perdendo o equilíbrio; quando está completamente na minha boca, ele geme alto, fodendo a minha garganta.
  Tão rápido quanto começo, me levanta do chão e me prende na parede ao lado do espelho, segurando uma das minhas pernas, me deixando aberta para ele. Sinto sua ereção me tocar, mas não me penetra, fica me torturando aos poucos, me fazendo sentir seu pau duro deslizar pra dentro na minha boceta.
  — Amor, por favor, não me faça suplicar — Sussurro na sua orelha deixando uma mordida fraca ali.
   me silencia com sua língua invadindo minha boca e entrando em mim com um único movimento de seu quadril. A sensação é quase delirante, esmagadora… Essa reconexão de nossos corpos é mil vezes mais prazerosa e ardente.
  Não escutamos nada além dos nossos gemidos e o som dos nossos corpos se fundindo, invade meu corpo repetidas vezes, prendendo minhas duas pernas ao redor do seu quadril. É delicioso sentir seu pau tocando todos os lugares certos dentro de mim, sua respiração falha no meu pescoço, sua boca no meu peito, me sinto facilmente a beira de um orgasmo e posso dizer o mesmo dele.
   leva uma das mãos entre nossos corpos e toca meu clitóris e já sinto os tremores se espalharem por todo meu corpo.
  — Goza pra mim, amor — e eu sou um caso perdido, gozando forte por todo seu pau.
  Ele continua se movendo dentro de mim, intensificando meu prazer e buscando sua própria libertação. Não demora muito pra acontecer.
   sai de mim ao mesmo tempo que um vento forte bate na janela a fechando com forte nos causando um grande justo.
  — Por que não usamos a cama? — Me sinto cansada.
  — Porque eu prefiro aqui. — eu nunca ia entender o fetiche do meu marido com portas e espelhos. Desisto.
  Ele me carregou até a cama e dormimos pelo resto da tarde.

Epílogo

5 anos depois

  Eu não estava esperando por isso, mas aconteceu em um dia que foi levar Mabel para escolinha de futebol e aula de ginástica. Não estávamos planejando nada, e além disso, nossa família estava completa com Mabel. Mas eu vinha me sentindo muito cansada e sonolenta e irritada facilmente, mesmo que tivesse se passado muito tempo, eu reconhecia aqueles sintomas. Mesmo que pudesse ser só a ansiedade me atacando fisicamente, eu pressentia que estava grávida. Então liguei para farmácia perto de casa e pedi alguns testes.
  Todos com o mesmo resultado: Positivo / Grávida 1-2.
  Fico parada e estática com o teste em mãos por longos minutos até que a voz de Mabel me desperta.
  — MAMÃE!!! CHEGAMOS!! Você não vai acreditar, eu fiz um gol de cabeça no treino de hoje, o treinador ficou orgulhoso, papai gravou pra você ver — Gritou, e já podia ouvir o barulho da sua chuteira se aproximando da porta do quarto.
  Guardo o teste na nova caixinha que comprei ao mesmo tempo que ela entrou.
  — Mamãe, você escutou?
  — Escutei, meu amor! Parabéns e ó, prometo ir no seu próximo jogo!
  — Ebaaa! Você pode desenhar meu número no seu rosto? É o 10! — A peguei no colo e beijei sua bochecha suada.
  — Combinado, meu amor! Agora vai lá no seu quarto contar sobre seu dia para a Bunny e depois tomar banho enquanto a mamãe conversa com o papai rapidinho e vamos jantar. — Coloquei-a no chão, assim que vi entrando.
  — Hoje é sexta, podemos comer pizza? — Mabel pediu sorridente, com seus dentes da frente faltando e seus olhinhos verdes pidões, o cabelo escuro grudado na testa.
  — Tudo bem, filha, só vai tomar banho e se arrumar direitinho logo, já, já vou lá te ajudar, tá bom? — ela saiu saltitante em direção ao quarto sem reclamar.
   trancou a porta, veio em minha direção, envolveu minha cintura e capturou meus lábios com urgência, passei o braço ao redor do seu pescoço. Ele suga minha língua e meu corpo inteiro se arrepia, passo minhas unhas levemente pela sua pele. Quando nos faltou ar, ele desceu os beijos para o meu pescoço, revezando entre mordidas e chupadas, marcando minha pele.
  — Amor, eu preciso te contar uma coisa muito importante! — Me afastei para que ele prestasse atenção no que eu tinha para dizer.
  — , eu tô com saudades, vem cá. — Ele tenta voltar a me beijar, mas eu desvio.
  — Amorzinho, me deixa falar primeiro e depois prometo que damos um jeitinho nessa saudade, ok? — Dei um selinho nele e sorri.
  — Tá bom, mas você me deve muitos beijinhos.
  — Não se empolgue demais, eu só vou ter certeza quando os resultados dos meus exames saírem, mas eu fiz alguns testes de gravidez agora pouquinho e todos deram positivo. Eu estou te contando agora, porque não quero esconder nada de você, nunca mais. — Comecei a falar rápido demais, me calou com um beijo, me ergueu e girou no ar.
  — Minha vida, essa é a melhor notícia que você poderia me dar hoje e não me peça para não para não me empolgar, é impossível.

  O resultado dos exames saiu alguns dias depois, então nos preparamos para contar para Mabel. Desde que começou a andar, nossa filha se incluiu na nossa tradição de olhar a lua e as estrelas na varanda do quarto, tivemos que trocar o vinho por suco de laranja, mas era sempre nesse horário que ela contava sobre seu dia e nós sobre o nosso na ausência dela.
  — Você sabe como chegou aqui, não sabe? — começou.
  — Eu sei, você e a minha mãe queriam muito ter uma filha e aí, um anjinho me deixou na porta de casa e vocês me adotaram.
  — Você nasceu e cresceu no coração da mamãe, mas, agora, você vai ganhar uma irmãzinha ou irmãozinho, ele está crescendo aqui na minha barriga, depois de um tempinho ele vai estar formado e forte o suficiente, ele vai nascer e vamos cuidar dele como cuidamos de você. — Acrescentei, colocando a mãozinha de Mabel sob meu ventre, a garotinha ficou me olhando séria, até que abriu a boca pra dizer:
  — Eu sabia, mamãe! Eu vi no meu sonho, é uma menina e vocês vão colocar o nome de Angelina.
  Olhamos chocados para Mabel, que apenas sorriu e nos abraçou. Nove meses depois, dei à luz a uma menina, a quem chamamos de Angelina, Mabel não se desgrudava da irmã o tempo inteiro. Não podíamos estar mais felizes.

FIM



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