Uma Criança Com Seu Olhar
Escrito por Gabi Salles | Revisado por Natashia Kitamura
Não importava a festa que fosse; se era em Los Angeles, lá eu estaria.
E naquela sexta não era diferente. Terminava de ajeitar minha roupa quando Alex me ligou avisando que estava na porta do meu prédio. Calcei o scarpin preto, botei algum dinheiro no sutiã, saí do meu apartamento, coloquei a chave embaixo do tapete e desci. Vi o garoto no carro com Brian e Lexy no banco de trás, quase uma saída de casais. Claro, se Lexy não fosse lésbica e Alex não fosse meu melhor amigo.
Entrei no banco de carona e dei um beijo na bochecha do motorista, batendo um hi-five com Brian e depois com Lexy. Alex deu partida e seguimos para a festa. Olhei para trás para ver como a outra garota se vestia. Saia de couro preta, corpete creme e bota até a coxa. Minha saia era igual, só que vermelha, um corpete branco, uma blusa social preta jogada por cima e o scarpin.
Brian usava uma camisa xadrez vermelha, calça jeans clara e All Star preto. Alex usava uma blusa social preta igual à minha, jeans escuro e tênis preto. Arrumei brevemente seu cabelo antes de chegarmos e ele quase mordeu minha mão.
Quando chegamos na mansão, ela já transbordava de gente. Lexy colocou um chapéu preto quando saímos do carro.
- Você vai perder esse chapéu - a avisei, mas ela deu de ombros. Lembrei da sua coleção de chapéus.
Entramos e já ficamos surdos com a barulheira. A música podia ser ouvida desde a rua de trás, mas ali dentro era quase insuportável. Já haviam diversas pessoas bêbadas, fumando e se agarrando pelos cantos. Lexy me puxou pela mão para a cozinha e pegamos duas cervejas, passando por todos depois com dificuldade até o jardim. Sentamos num banco de mármore, que por milagre estava vazio, e rapidamente as garrafas já tinham acabado, mas nenhuma de nós estava com vontade de voltar para a muvuca, então continuamos ali, avaliando as pessoas.
Eu reconheci os meninos do Cobra Starship, rodeados de garotas, do outro lado do jardim alguém que parecia Christofer Drew fumava um baseado junto com uma garota qualquer e no andar de cima na varanda eu vi Garrett Nickelsen e Kennedy Brock conversando.
- Por que tem tantos famosos? - perguntei para Lexy.
- Acho que é a festa de comemoração de um CD novo de alguma banda. Talvez do Cobra, não sei.
- Como você soube dessa festa?
- Brian que me falou - ela respondeu dando de ombros.
- Me pergunto como Brian descobre essas coisas.
- É o Brian.
Vimos quando Gabe Saporta e Nate Novarro se afastaram das groupies e vieram até nós duas. O segundo tropeçava de tão bêbado e o primeiro parecia ter os olhos avermelhados. Ri da aparência deles.
- Que honra ter duas senhoritas tão bonitas na nossa humilde festa - Gabe falou numa voz um tanto quanto enrolada.
- Eu sou lésbica - Lexy falou logo.
- O quê? Como você pode achar que queríamos algo...? Ok, você nos pegou - Nate respondeu.
- Você também é lésbica? - Gabe me perguntou praticamente desesperado.
- Não - segurei o riso.
- Vou pegar algo pra beber - Lexy disse e se levantou. Nate a seguiu como um cachorrinho.
Mas a verdade é que o único garoto com quem Lexy ficava era Brian. E isso apenas quando estava muito desesperada ou muito bêbada e é claro que o garoto a recebia de braços abertos.
- Então, está gostando da festa?
- Muito cheia pro meu gosto, mas ta boa.
- Fico feliz que tenha gostado. Quer conhecer lá em cima?
- Claro - sorri e deixei que segurasse minha mão e me guiasse pela sala e escada acima.
Entramos num quarto e vimos uma pessoa deitada na cama. Acendi a luz e me deparei com Kennedy ali roncando e ao prestar atenção, Garrett estava na varanda.
- Po, esse é o meu quarto - Gabe falou e Nickelsen virou-se.
- Relaxe, Gabe, não aconteceu nada. Kennedy só bebeu demais e acabou dormindo aí. Querem um cigarro?
- Odeio cigarros - Saporta se deitou na cama e antes que eu percebesse também dormia.
Fui para a varanda e sentei na cadeira vaga. O moreno me estendeu um maço e peguei um, me inclinando para que ele pudesse acendê-lo. Dei um longo trago e soltei a fumaça bem devagar. Eu sentia o olhar do garoto em mim, mas apenas o ignorei e continuei fumando calmamente.
- O que você faz aqui? - ele finalmente perguntou.
- Estou me divertindo? - ri daquela pergunta.
- , fala sério, você nunca gostou desse tipo de festa e nem do tipo de cara que o Saporta é.
- Ah, cala a boca, Garrett - dei um último trago e joguei no chão, pisando com a ponta do sapato.
- Agora me diga a verdade, o que você faz aqui? Lexy, Brian e Alex te convenceram?
- Eu vim por livre e espontânea vontade.
- Então por que não me convence?
- E você, não deveria estar com aquela Cristal?
- Cristal está em New York numa campanha, por isso Kennedy me obrigou a vir.
- Pelo visto, você continua honesto.
- E você continua guardando tudo para você.
Ficamos calados por alguns minutos, apenas encarando o céu e ouvindo os sons da festa.
- Por que você foi embora?
- Garrett, não vamos recomeçar com isso.
- Uma hora teremos que falar sobre! Você sumiu numa noite, sem deixar bilhete nem nada.
- Eu tinha que fazer isso, tinha 21 anos e...
- Ainda uma criança.
- Não me chame de criança! - aumentei a voz.
- Você é minha irmã mais nova, sempre será uma criança para mim - ele acendeu outro cigarro.
Levantei e dei um tapa na sua cara, fazendo o tubinho que ele tentava acender caísse no chão. Ele me olhou estupefato.
- Você sumiu da minha vida há três anos, não sou mais Nickelsen, sou apenas Rooseveld. Suma de novo, não preciso de você.
Dei-lhe as costas, mas ele me puxou pelo pulso.
- Eu nunca vou desistir de você, mas que merda! Você é minha irmã, querendo ou não, eu vou tomar conta de você.
- Sou maior de idade, você não tem mais essa obrigação.
- Nunca foi uma obrigação.
- Me deixe ir - murmurei.
Ele me soltou e voltou a virar-se para a parte da frente da varanda. Bufei e saí do quarto batendo a porta e deixando Saporta adormecido com Kennedy. Desci as escadas e passei os olhos pela multidão à procura do cabelo platinado de Lexy.
Localizei-a conversando com uma menina de cabelo rosa e fui até lá. A puxei pelo braço, e antes que ela pudesse reclamar viu minha expressão e se afastou me puxando pela mão. Fomos novamente até o jardim, mas sentamos no lugar mais afastado possível, direto na grama.
- O que aconteceu?
- Encontrei com Garrett e obviamente...
- Vocês discutiram.
Assenti.
- Não posso negar que sinto falta do meu irmão, mas eu não cederei, ele fez a merda.
- Eu sei, mas ele é seu irmão e é tão cabeça dura quanto você. Se continuarem a pensar assim ninguém cederá nunca.
- Quer saber, que se foda ele, eu quero apenas aproveitar a festa.
- Isso aí, garota.
Levantamos e de algum modo conseguimos chegar na cozinha. Pegamos duas garrafas de cerveja e as esvaziamos rapidamente. Reviramos o aposento e achamos uma garrafa de vodka fechada. A abrimos e enchemos as de cerveja com o líquido incolor. A guardamos de volta, praticamente vazia e voltamos para o jardim.
Quando as garrafas se esvaziaram as estrelas giravam e todo mundo era bonito. Não vi Alex e Brian chegando, apenas senti quando o primeiro me pegou no colo e o outro pegou Lexy.
Alex
Dei um chute na porta de madeira meio escondida e saí para a rua seguido por Brian. Ele colocou Lexy no carona enquanto eu entrava no banco traseiro com e a deixava encostar a cabeça no meu ombro e fazia um leve cafuné. Brian entrou no banco do motorista e dirigiu até o prédio da ruiva onde saí com ela e a levei até seu apartamento. A coloquei no chão enquanto abria a porta e depois a levei até o sofá. Tirei os meus sapatos e o resto da roupa, ficando apenas de boxer e depois despi também , deixando-a de calcinha.
A carreguei até o banheiro e abri a água fria, colocando-a ali embaixo e deixando a água acordá-la. Quando começou a tremer fortemente abri a água quente e entrei debaixo do jato com ela, a abraçando fortemente. Peguei o sabão e esfreguei em seu corpo, passei shampoo em seus cabelos e depois condicionador. Tirei-a do box e a coloquei sentada na privada enrolada na toalha. Me ensaboei rapidamente e lavei meu cabelo. Fechei a água e saí, também me enrolando numa toalha. A levei para o quarto, tirei sua calcinha, coloquei uma seca e em seguida enfiei sua camisola com certa dificuldade e finalmente a coloquei para dormir. Tirei minha roupa de baixo e coloquei uma reserva que tinha ali, deitando em seguida ao seu lado e a abraçando fortemente. Puxei o lençol e nos cobri.
- Obrigada - ela murmurou e eu sorri, antes de adormecer sentindo seu cheiro de sabonete.