Tudo para conquistar
Escrita por Maraíza Santos | Revisada por Songfics
I
É de comum pensamento que os homens são, em grande maioria, burros. Embora não seja cientificamente comprovado, diante das experiências vividas, é fácil cair nas graças da informação um tanto desconcertante de que as mulheres são mais inteligentes do que os homens.
Por que você está me dizendo isso? Pergunta o caro leitor. Bem, estou dizendo isso porque irei contar a história de como eu, um dos cupidos da agência Trago Seu Amor Em Alguns Dias, contarei a história de e , meu último caso.
Está vendo a mulher sentada em um escritório chiquérrimo? A de blazer preto, cabelo sedoso e pernas incríveis? Com uma vista linda de São Paulo atrás? Parecendo algo como dos filmes?
Essa é . Ela é herdeira do Grupo , uma empresa famosa por vender alguma coisa que eu nunca decorei.
Mas, bem, o que você precisa saber é que ela é rica e bem-sucedida.
nunca teve problema com homens, não. Teve muitos namorados, a maioria bonitos. Os que eram feios eram estilo o Adam Driver. Nunca se apaixonou de verdade por eles. Eles eram… digamos… Burros.
É o mau do gênero.
Shh, alguém está ligando para ela.
— na escuta. — Diz formalmente no telefone.
— Senhora, tem um buquê de flores aqui fora com o seu nome. Devo colocar na sua sala? — a voz masculina do outro lado soa hesitante.
— Jogue fora. — Replica sem delongas. — E só me ligue se for algo importante.
— Sim, senhora.
Veja a força que ela desligou o telefone. Deus me livre brigar com essa mulher algum dia.
Então, já conhecemos os dois protagonistas e… Oh, não. Desculpe. Que cabeça a minha! Esqueci de apresentar o .
Está vendo esse moço sentado na mesa do corredor da sala da ? Sim, esse daí que tem uma plaquinha indicando que é secretário. O de óculos.
Esse é , secretário da . Era quem estava no telefone. Ele não é nenhum modelo da Calvin Klein, mas tem seus encantos. Até vai pra academia uma ou duas vezes por semana. Pena que se empanturra de comida industrializada. Aposto que vai desenvolver pressão alta em algum momento da vida.
vira-se para o buquê e coça a cabeça.
— Isso deve ter custado uma grana, hein? Coitado do cara que mandou… — diz antes de pegar um cartãozinho. Tinha lá escrito em inglês “with Love, Charlie”. fez uma careta. — Ah, esse daí merece que as flores sejam queimadas. Gringo babaca.
E jogou sem pensar duas vezes na lixeira mais perto.
Certo, acho que já perdi bastante tempo com apresentações. Vamos para a parte em que originou minha conclusão de que homens são burros.
É noite desse mesmo dia. No prédio só havia quatro pessoas, sendo duas delas os vigias noturnos. Os outros dois você pode deduzir, não é?
O escritório de está iluminado apenas pelo abajur. Inclinada na mesa, a mulher lê e relê números que estavam no notebook. Sabe Deus lá o que aquilo significava.
— Senhora, precisa de mais alguma coisa? — indaga ao entrar no escritório.
Ele está com o cabelo meio bagunçado. É uma gracinha, não é?
também acha. Ela lambe os lábios e fita o notebook. Um dos dedos dela escorrega no F10 e rapidamente ela clica na opção estender.
— Preciso sim. Parece que o notebook travou e não sei como resolver.
Solícito e doido para voltar para casa, anda até ficar ao lado da chefe. Ao se inclinar para perto, o homem sente o cheiro bom de perfume caro e doce dela. , por outro lado, está olhando para ele como se o secretário fosse uma sobremesa muito aguardada. As auras deles cintilam em vermelho, veja.
— Acho que a senhora clicou no botão de estender sem querer…
— Foi? — fala ela com um sorriso constrangido. — Devo estar muito distraída…
Percebe que as vozes deles estão quase sussurrantes? Que eles estão absurdamente próximos?
— Talvez seja melhor deixar o resto para amanhã. A senhora trabalha demais…
— Você acha? — pergunta antes de colocar uma mecha do cabelo para trás da orelha.
Nossa Senhora do Papinho, você deve estar pensando. Se não, foi exatamente isso que pensei.
— Pronto, senhora. — Diz afastando-se de . — Agora posso ir?
bufa frustrada.
— Sim, sim. Vá logo e não se atrase amanhã para pegar o voo.
Ele mexe a cabeça concordando e sai com passos apressados.
Lembra que eu falei que homens são burros? Pois bem, essa cena se repetiu muitas vezes. O clima que rolava entre e era notável em até um raio de 30 quilômetros. As noites que os dois ficavam sozinhos eram as mais divertidas… e frustrantes. Coitada da , com certeza era a que mais queria.
Tadinha, está até se abanando agora.
— Meu cupido só pode estar bêbado — reclama ela.
E aí eu entro. Porque, na realidade, eu estava só nos Danones mesmo.
II
Certo, foi mais ou menos aí que meu supervisor descobriu que eu estava bêbado em algum lugar ao invés de trabalhar. Minha justificativa é que nunca precisou de ajuda. Na última vez que lancei uma flecha, teve um trabalho do cacete para se livrar do namorado chato.
Então, depois de escutar um sermão de quase quarenta minutos e ser ameaçado a tratar de casos amorosos de adolescentes (um pesadelo), fui impedido de usar flechas por dois meses e teria que juntar o casal.
Agora, voltemos para eles dois.
Observe pelo vidro da janela esse sol de matar, o céu sem nuvens e o cheiro de mar. Adivinhou onde estamos?
Praia. Porto de Galinhas em Pernambuco para ser mais exato.
Estamos, porém, dentro de um hotel em uma reunião cheia de pessoas chatas sobre temas mais chatos ainda. Ainda assim, veja quão incrível parece falando desses números complicados. Ela está linda, não é?
É isso que eu sussurrei no ouvido de que observava a conversadeira com a mesma animação que eu. Dá para ver o quanto essa fala mudou o seu rosto: de um olhar entediado, a face iluminou-se com um pequeno sorriso.
Então, o rosto virou-se uma carranca.
— Ele tem medo de ser mal compreendido. — Diz Liz, a cupido responsável por ele.
— Ele não será, ué? Nós dois sabemos que os dois se gostam — aponto para as flechas que ela carrega — Por que você não atira uma flecha nos dois?
Liz olha para mim com um sorriso dissimulado.
— Fui proibida de ajudar você, neném. Só tô aqui para ver o circo pegar fogo. — Ela aponta para com um movimento do queixo. — Ela deveria deixar mais óbvio.
— Mais óbvio.
Ela dá de ombros.
— Tudo para conquistar o boymagia, neném.
Cerro os olhos com uma expressão irritada para Liz antes dela desaparecer de novo.
Tudo para conquistar…
É, foi aqui que tive a ideia.
III
Mas decidiu não cooperar comigo.
— Você tem que ir para fora! Ver a praia! — exclamo no ouvido dela, mas a mulher continua resoluta.
— Estou tão cansada — fala sozinha. — Queria andar, mas prefiro ficar deitada vendo Ragnarok. — Ela se deita na cama — Já conheço Porto mesmo…
Bufo de frustração.
Está vendo que estou tentando, leitor? Ela que é teimosa! Só me atrapalha!
— Se o estivesse aqui… Queria ver um filminho agarradinha…
— Mas ele está em um bar paquerando outra mulher, sua tonta. — Replico irritado.
Ela fica triste e se enrola no lençol chique do quarto. Jura que isso foi um dos seus pensamentos, não eu manipulando-os.
Então, fui para . Ele estava bebendo cerveja enquanto observava o mar. Está bem agitado por aqui, não é? Olha esse tanto de casal em dia de semana! Ninguém aqui trabalha não?
Bem, observe como está bonito. Bem praieiro de bermuda e uma camisa genérica da Renner. Está conversando com uma morena gatíssima.
Felizmente ele não presta atenção no que ela diz. Parece estar com a cabeça nas nuvens.
Sento ao lado dele.
— Será que está bem? — indago. — Ela não saiu do quarto e você sabe o quanto sua chefe ama sair.
Ele despede-se da mulher e vai atrás da chefe. Esfrego as mãos feliz.
Vocês sabem o que vai acontecer, né?
Estamos no corredor do hotel. Faz cinco minutos contados que ele está encarando a porta sem coragem para bater. Tentei convencê-lo, mas estava resiliente hoje.
— Você está bebendo — argumento por último. — Diga a ela o que pensa e…
abre a porta e toma um susto ao encará-lo. Os dois ficam se olhando igual a um par de imbecis, sem dizer nada e nem fazer nada.
— Er… Boa noite, senhora. — Diz ele. — Queria saber se a senhora está bem.
— Estou sim, — ela dá um sorriso tímido. — Obrigada por perguntar.
— Diga a ele que está bonito — eu falo.
olha para ele dos pés à cabeça. Morde o lábio, a safada, incapaz de conter-se.
— Estava em algum lugar?
— Estava andando por aí… — ele diz coçando a nuca.
Se peguem logo, pelo amor de Deus.
— Chame ele para entrar. — Incentivo.
engole em seco. Ela também sabe que não é uma boa envolver-se com alguém do trabalho, sobretudo o seu secretário.
— Vamos, querida — sussurro. — Se ele disser não diga para esquecer essa noite. Amanhã dar a desculpa que tomou algum remédio, sei lá.
Isso a encoraja.
— Você quer entrar, ?
A voz dela soa sedutora. Não sei como tem tanta resistência, viu? É um santo.
— Bora, . Nós dois sabemos o que você quer — eu digo.
O secretário olha para os lados, conferindo que não há ninguém. Ele abaixa cabeça e pede licença para entrar.
Está escutando esse grito de felicidade? Sou eu.
Mas é claro que não seria tão fácil.
Dentro do quarto, os dois ainda se olham com hesitação. No entanto, é possível sentir toda essa aura vermelha invadindo por todos os cantos do quarto.
— Estou assistindo Ragnarok. Já viu?
Ele nega com a cabeça e continua em pé que nem um babaca.
Oh, homem difícil.
— Não sabia que a senhora…
— Pare de me chamar de senhora — ela revira os olhos impacientes. — Que droga, ! O que eu preciso fazer pra você perceber que gosto de você? Que eu quero te beijar?
Ele arregala os olhos e mais uma vez parece um adolescente. Meu pai amado, o que viu nele?
— Quer saber? Se não quer nada, vai embora — ela balançou a mão em direção a porta. — Vou esquecer o que aconteceu aqui.
— Esquecer o quê? — ele finalmente diz. — Ainda não fizemos nada acontecer, senhora.
A voz dele não parece mais do secretário banana que é bonitinho. O sorriso que se alarga não é de quem está tentando ser simpático, mas de quem quer seduzir.
Aê, meu garoto!
Tan-dan.
Quando o casal começa a se beijar como duas bestas cheio de fogo, o barulho de meta cumprida domina o recinto. É algo parecido como aquela entrada da Netflix.
Não prestei muita atenção, estava mais preocupado em como o casal se beijava. Pareciam dois animais, dermilivre. Tanto tempo para os fins não os fez muito bem.
— Usem proteção — dou o último aviso.
E minhas flechas e arco aparecem em minhas mãos.
— Obrigado — digo cheio de sarcasmo para os céus.
Apenas para me prevenir, atirei uma flecha em cada um dos pombinhos, garantindo ao menos alguns anos de amor. Como eles lidariam com isso? Aí não é comigo, amigo. Cada um é cada um.
Só espero que não entrar full Tudo Pra Te Conquistar de novo pela nem tão cedo.