Trust

Escrita porPams
Revisada por Lelen

1 • One Time

Tempo estimado de leitura: 18 minutos

Stratford / Canadá - ano de 2004

  Eu havia acabado de completar 10 anos e tinha mudado de cidade, não seria fácil me adaptar à nova realidade, mas não poderia fazer nada, afinal, o divórcio dos meus pais não estava em minhas mãos. Muita novidade para a cabeça de uma criança, mas, segundo minha mãe, uma psicóloga maravilhosa, eu teria muito apoio e conseguiria superar aquilo, mas no fundo eu sabia que ela era a pessoa que estava sofrendo mais com toda aquela mudança.
0
Comente!x

  O lado negativo de mudar era a escola, não teria amigos e estávamos na metade do ano escolar; eu tentei não demonstrar tanto minha frustração para minha mãe e, respirando fundo, fui encarar meu primeiro dia de aula na Downey Public School. Segundo minha mãe, era a melhor de Stratford e, querendo ou não, eu teria que me acostumar, pois não tinha mais volta e não atravessaríamos o país novamente só para retornar para Vancouver.
0
Comente!x

  Assim que cheguei em frente à escola, peguei minha mochila e saí do carro da minha mãe, ela não estava animada, mas forçava um sorriso no rosto, para ela, poderia ser um incentivo para mim.
0
Comente!x

  — Quer que eu te busque na volta?! — gritou ela.
0
Comente!x

  — Não. — Olhei para trás por um momento. — Eu consigo achar o caminho de volta.
0
Comente!x

  Ela assentiu e deu a partida, seguindo com o carro. Me voltei para a fachada da escola e fiquei alguns minutos parada, olhando, os alunos já estavam espalhados pela grama, alguns sentados na grama conversando, outros, correndo. Os grupos eram fáceis de se identificar, principalmente os jogadores do time da escola e as líderes de torcida. Ajeitei a mochila nas costas e tentei caminhar da forma mais rápida e menos chamativa.
0
Comente!x

  Assim que entrei no prédio fui diretamente para a secretaria, mas me perdi no caminho descendo as escadas erradas, até que parei em um corredor aparentemente vazio. Comecei a escutar um barulho ao longe que foi se transformando em melodia de música a cada passo que eu dava mais perto. Quando parei na frente da sala, a porta estava aberta e tinha um garoto tocando o piano que tinha no lugar, estava de costas para a porta. As notas estavam saindo de forma suave e ele parecia tocar com tanta precisão que eu poderia até dizer que fazia há muito tempo. Eu dei alguns passos para dentro da sala, estava curiosa para ver seu rosto, mas no caminho tinha uma lixeira que me fez tropeçar.
0
Comente!x

  — Ai — disse colocando a mão na boca.
0
Comente!x

  — Hum?! — O garoto parou de tocar e olhou para trás, estava mais confuso do que eu. — Está tudo bem?
0
Comente!x

  — Sim. Não. Talvez. — Eu abaixei e olhei se estava tudo bem com minha perna.
0
Comente!x

  — Tem certeza? — O garoto se levantou e deu alguns passos até mim. — Se quiser posso te levar até a enfermaria.
0
Comente!x

  — Não — disse olhando para ele, dando um sorriso disfarçado. — Eu estou bem, não é a primeira vez que tropeço em algo.
0
Comente!x

  — Você está perdida? — perguntou ele desviando seu olhar para minha lista de horários que estava na minha mão.
0
Comente!x

  — É tão óbvio assim?
0
Comente!x

  — Bem, a menos que seja do time da escola ou líder de torcida. — Ele riu. — Geralmente esta parte fica vazia antes das aulas, aqui no subsolo só tem salas especiais para os clubes da escola.
0
Comente!x

  — E esse é o clube de música? — perguntei.
0
Comente!x

  — Sim, mas as reuniões são quarta e sexta — respondeu ele.
0
Comente!x

  — E o que você está fazendo aqui? É segunda.
0
Comente!x

  — Estava praticando, um piano é muito caro para se ter em casa — explicou ele.
0
Comente!x

  — Bem, você sabe onde é a diretoria? — perguntei.
0
Comente!x

  — Claro, fica perto da biblioteca. — Ele se virou e pegou alguns papeis que estavam em cima do piano e se voltou para mim. — Se quiser, posso te levar lá.
0
Comente!x

  — Agradeço, estou com medo de me perder novamente e acabar encontrando alguma sala de tortura — disse brincando, ele riu um pouco.
0
Comente!x

  — Hum, à propósito, meu nome é Justin Bieber, mas pode me chamar só de Justin.
0
Comente!x

  — Ok, o meu é %Amelia% Moree, mas pode me chamar de %Mia%.
0
Comente!x

  Como prometido, ele me levou até a diretoria, eu entreguei os documentos que faltavam e finalmente minha transferência estava completa. Quando saí da diretoria, Justin ainda estava do lado de fora, foi muito legal da parte dele me esperar e, sem que eu precisasse pedir, ele me levou a todos os lugares da escola. Não foi difícil perceber que ele também não tinha muitos amigos, acho que tudo se devia ao fato de estar sempre na sala de músicas praticando, ele tinha um talento incomum. Checamos nossos horários de aula e descobrimos que em cinco matérias estávamos na mesma sala, seria divertido ter alguém conhecido em uma mesma sala que eu.
0
Comente!x

  Ao longo dos meses nossa amizade foi se construindo de uma forma sólida e se estendendo, tanto que até nossas mães se conheceram e se tornaram mais próximas; a proximidade foi tanta que fomos convidadas para passar o dia de Ação de Graças com eles. Para minha surpresa ele tinha um padrasto chamado Bruce, Justin nunca tinha falado sobre isso comigo, acho que eu nunca tinha perguntado também.
0
Comente!x

  — Toc, toc… — disse batendo na porta do seu quarto.
0
Comente!x

  — Chegaram — disse ele vindo me abraçar. — Pensei que demoraria mais.
0
Comente!x

  — Você sabe como minha mãe é pontual. — Eu ri retribuindo o abraço. — O que estava fazendo?
0
Comente!x

  — Compondo — respondeu ele com naturalidade se sentando na cama novamente.
0
Comente!x

  — Nossa, diz assim como se fosse algo normal. — Eu me sentei ao seu lado. — Tipo, nossa, hoje vou acordar e compor quatro músicas e cinco melodias.
0
Comente!x

  — Isso é um desafio? — Ele riu.
0
Comente!x

  — Seu bobo. — Bati de leve no seu ombro. — O que está compondo?
0
Comente!x

  — Nada muito completo ainda — respondeu ele. — Não consigo fazer muita coisa além de algumas frases ou estrofes soltas.
0
Comente!x

  — Deixe-me ver. — Peguei um papel cheio de linhas, que ele insistia em me dizer que era partitura e comecei a ler. — Se eu acredito no amor e você acredita no amor, então podemos estar apaixonados, de alguma forma. — Eu o olhei. — O que você quer dizer com isso?
0
Comente!x

  — Ainda não sei, escrevi pensando em você. — Ele sorriu de forma tímida e desviou seu olhar para o violão.
0
Comente!x

  — Hum. — Eu desviei meu olhar para a janela, meio com vergonha. — Quem sabe um dia você descobre.
0
Comente!x

  — Bem, eu não estou conseguindo encaixar todas essas frases que escrevo, é como se cada uma pertencesse a uma melodia diferente.
0
Comente!x

  — Hum, então apenas trabalhe nelas de forma separada — dei uma sugestão sem saber se conseguiria ajudar, não sabia nada de música. — Já que elas não se encaixam, talvez cada uma seja a parte de uma própria história.
0
Comente!x

  — Até que não é uma má ideia. — Ele pegou seu violão e começou a dedilhar. — É assim que você faz quando está no laboratório de ciências?
0
Comente!x

  — Acredite ou não, é muito mais complicado dissecar um sapo, montar e desmontar ele, do que compor música — brinquei.
0
Comente!x

  — Cada um com sua dificuldade. — Ele riu. — Mas estou feliz que tenho uma amiga que me ajude em biologia.
0
Comente!x

  — Sim, biologia, química, física. — Eu ri junto.
0
Comente!x

  — Mas eu te ajudo em literatura — retrucou ele.
0
Comente!x

  — Não se pode ser perfeito em tudo — concordei. — Hum, quando vai compor uma música para sua amiga?
0
Comente!x

  — Quando minha amiga vai se tornar minha namorada? — Ele foi direto com um sorriso fofo, uma pergunta que eu queria levar como uma brincadeira.
0
Comente!x

  — Quem sabe um dia. — Eu sorri de leve para ele.
0
Comente!x

"Seu mundo é meu mundo,
  E minha luta é sua luta,
  Minha respiração é sua respiração,
  E seu coração,
  (Agora eu tenho pra mim)."
  - One Time / Justin Bieber

  Não sei como começou, desde quando ele começou a me ver mais do que como amiga. Já tinha mais de seis meses que eu o conhecia; além das aulas juntos, eu sempre ficava na sala de música o acompanhando, ele tocando e eu lendo meus livros sobre medicina moderna; acho que éramos o quase casal mais esquisito da escola, porém nossa amizade era forte e ao mesmo tempo divertida.
0
Comente!x

  Justin fixou seu olhar em mim e começou a dedilhar seu violão formando uma melodia, no início eu não estava reconhecendo, mas era mais uma música de um dos seus artistas preferido. Like I Love You do Justin Timberlake, ele sempre cantava música assim como uma indireta para mim, e eu sempre fingia que não entendia nada. Quando ele terminou, seu olhar, que estava fixo em mim, foi direto para a porta. Era sua mãe nos chamando para comer, ele não queria, mas como sempre eu retirei o violão do seu colo e coloquei ao lado da cama; aquela era uma característica de Justin: quando começava a tocar não queria parar mais.
0
Comente!x

  Dois anos se passaram, e mesmo tendo algumas mudanças no nosso currículo acadêmico, mudando de escola, eu e Justin estávamos mais próximos ainda, curiosamente já tínhamos decidido nosso futuro, eu iria cursar medicina e ele queria ser um cantor, mas ainda não tinha contado para sua mãe. Essa sua decisão me fez lembrar de um anúncio que tinha visto no mural da escola: um concurso de música que rolaria na cidade. Seria o início para ele talvez.
0
Comente!x

  Por mais que Justin não fosse acostumado a cantar em público e não tivesse participado de nenhum festival da escola ainda, eu consegui convencer ele a participar do Stratford Idol, assim ele poderia ter a experiência de cantar para um grande público e saber se realmente era isso que ele queria para sua vida. Acho que apoiar ele nesse concurso foi uma forma de agradecer a ele por ter me ajudado a entender que eu realmente queria ser médica quando crescesse, mesmo que talvez passasse mais de dez anos estudando para isso.
0
Comente!x

  — Jin, eu ainda acho que você deveria contar para sua mãe — disse o chamando pelo apelido que tinha criado para ele —, assim ela estaria mais preparada — continuei, encostando na janela do seu quarto, olhando para a rua.
0
Comente!x

  — Se eu contar agora, talvez ela fique com medo e não me deixe ir, melhor falar no dia, assim não teria chance de não acontecer.
0
Comente!x

  — Sua mãe não gosta mesmo de você cantando por aí? — perguntei.
0
Comente!x

  — Não sei, ela até concordou que eu tocasse na igreja, mas ela acha que cantar vai me expor muito.
0
Comente!x

  — Se é isso que você quer fazer, talvez possa conversar com ela sobre. — Eu desviei meu olhar da rua para ele. — Conselho de uma filha de psicóloga.
0
Comente!x

  — Eu vou, depois do concurso. — Assentiu ele, tinha uma certa segurança no olhar.
0
Comente!x

  — Sabe que sempre vai ter meu apoio — confirmei, sorrindo para ela.
0
Comente!x

  — Obrigado, você é a melhor amiga do mundo.
0
Comente!x

  Eu tentava ser a melhor amiga do mundo, só queria que ele conseguisse seguir seu sonho assim como eu estava tentando seguir o meu.
0
Comente!x

  Como presumiu, a senhora Pattie não tinha ficado muito confortável com a participação dele no concurso, mas consentiu, já que faltava um dia para acontecer. E foi neste concurso que ela conseguiu de fato ver que aquele era realmente o talento de Justin e que ele tinha nascido para ser cantor. Depois disso não foi difícil convencer ela a me ajudar a divulga-lo, inicialmente eu disse que colocar os vídeos dele no youtube seria uma forma de seus familiares verem como ele tinha talento para música, mas meu plano original era compartilhar os vídeos o máximo que eu pudesse para que ele fosse visto por algum produtor ou algum cantor norte-americano.
0
Comente!x

  Felizmente meu plano havia dado certo e, de alguma forma, um dos vídeos de Justin tinha chegado até Scooter Braun, um executivo do ramo musical que vasculhou a internet até encontrar a senhora Pattie e Justin. Mas a parte chata de tudo isso é que Jin teria que se mudar para dar início à sua carreira musical, uma notícia que havia me tirado o sono e trazido vários pensamentos impróprios.
0
Comente!x

  — Nossa, Jin, como você é bagunceiro — brinquei ao aparecer na porta do seu quarto, olhando as roupas espalhadas pelos cantos e na cama.
0
Comente!x

  — O que você veio fazer aqui, %Mia%!? — perguntou ele ao olhar para mim.
0
Comente!x

  — Eu vim te ajudar a fazer as malas — respondi, entrando e indo até ele. — Que bom que cheguei a tempo porque parece que você não leva jeito para isso.
0
Comente!x

  — Boa amiga você. — Ele riu, brincando. — Veio me ajudar com as malas pra eu ir embora mais rápido?!
0
Comente!x

  — Acredite, sentirei sua falta também. — Sorri de leve, pegando uma blusa de moletom dele, começando a dobrar. — Você é a única pessoa que passa quatro horas na biblioteca comigo e, além do mais, é meu único amigo.
0
Comente!x

  — Tenho que concordar, você também é minha única amiga. — Ele me olhou. — Pensando bem, acho que nossa amizade é cheia de troca de favores.
0
Comente!x

  — Verdade — concordei rindo junto com ele, coloquei a blusa dobrada em sua mala. — Mas você já sabe que escola vai estudar em Atlanta?
0
Comente!x

  — Ainda não e não estou muito preocupado com isso. — Ele se sentou na cama, olhando para a mala. — Para ser sincero, estou ansioso com tudo que está acontecendo.
0
Comente!x

  — De qualquer forma, não tem como voltar atrás, vocês já assinaram um contrato com o senhor Braun.
0
Comente!x

  — Sim, mas eu não quero mesmo voltar atrás. — Ele se levantou da cama e me abraçou de surpresa. — Eu só queria poder te levar junto.
0
Comente!x

  — Bem — eu fiquei um pouco estática, mas retribuí o abraço —, eu também queria ir, mas eu só iria atrapalhar.
0
Comente!x

  — Eu não acho, você é minha inspiração — brincou ele, se afastando de mim.
0
Comente!x

  — Hum. — Eu sorri de leve. — Quero que você me escreva contando sobre tudo.
0
Comente!x

  — Por quê?
0
Comente!x

  — Porque quando você tiver muitas fãs eu vou contar pra elas muitas coisas sobre você — expliquei, rindo. — E serei conhecida como a amiga médica do Justin Bieber.
0
Comente!x

  — Ah, quer ficar famosa às minhas custas? — Ele se fez de ofendido.
0
Comente!x

  — Não — neguei, balançando a cabeça. — Mas se eu ficar conhecida, prometo não cobrar consultas de você.
0
Comente!x

  — Mercenária — brincou ele.
0
Comente!x

  — Não sou. — Eu ri, pegando uma calça e jogando nele.
0
Comente!x

  Nós mais brincamos do que realmente arrumamos as malas dele, eu só tinha um dia para me despedir dele e o ver partir para longe. Eu não sabia o que seria de nossas vidas depois do sucesso dele nem que ele realmente se lembraria de mim, afinal, nossa amizade só tinha quatro anos de existência e uma longa distância para enfrentar. Justin teve uma inusitada ideia de me levar até a sala de música da escola, ele já tinha combinado de encontrar a sua mãe em frente à igreja. Quando chegamos na sala, tinha uma caixa em cima do piano, caminhei até lá e peguei a caixa, abrindo: eram algumas de suas partituras com as estrofes que ele compunha.
0
Comente!x

  — Por que está me dando isso? — Eu me virei e o olhei. — É você que está indo embora, eu que deveria te dar algum presente.
0
Comente!x

  — Quero que fique pra que nunca se esqueça de mim caso eu não consiga ser famoso — explicou ele.
0
Comente!x

  — É mais fácil você se esquecer de mim quando ficar famoso — retruquei, fechando a caixa. — Mas vou guardar com muito carinho, quem sabe no futuro eu venda para algum colecionador fã seu.
0
Comente!x

  — Depois não quer que eu te chame de mercenária — disse ele, demonstrando um pouco de frustração. — É meu coração que está nessa caixa.
0
Comente!x

  — E você acha mesmo que eu venderia seu coração? — O olhei de forma séria. — Hum, eu não trouxe nada para te dar.
0
Comente!x

  — Só tem uma coisa que eu quero.
0
Comente!x

  — O quê? — perguntei.
0
Comente!x

  — Isso. — Justin se aproximou de mim, e, sem que eu pudesse reagir, me beijou.
0
Comente!x

  Eu não sabia muito bem o que fazer, já que era nosso primeiro beijo, mas me lembrava daqueles movimentos dele de algum filme que vimos. Senti meu coração acelerar tanto quanto o dele, seus braços em volta da minha cintura, posicionados de uma forma estranha, acho que ele estava com medo de tocar em outro lugar que não fosse minhas costas. Contudo, tirando toda a nossa inexperiência, aquele beijo tinha um gosto doce e amargo ao mesmo tempo, era o primeiro e poderia representar o último.
0
Comente!x

  Mas, no fundo, nos fazia ter esperança para um futuro reencontro.
0
Comente!x

"E eu serei seu único garoto,
  Você será minha garota número um,
  Sempre arrumarei tempo para você."
  - One Time / Justin Bieber

0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Todos os comentários (2)
×

Comentários

Você não pode copiar o conteúdo desta página

0
Adoraria saber sua opinião, comente.x