The Weasley Twins
Escrito por Naya R. | Instagram
Revisado por Natashia Kitamura
Prólogo
Hogwarts – 02 de maio de 1998 – Momentos antes da batalha.
viu os cabelos flamejantes dos seus dois melhores amigos e aproximou-se incerta, já que não queria atrapalhar um momento íntimo dos dois. Por sorte, Fred a viu e seu sorriso denunciou que ela poderia ir até eles.
A garota não conseguiu conter um sorriso, nunca conseguia quando estava perto deles, era como se as áureas daqueles dois transmitissem uma alegria que contagiava seu peito.
– Como estão as coisas lá dentro? – A voz de George ressonou, quando ela estava próxima o bastante, era nítido em sua voz que ele estava nervoso. Todos naquele ambiente estavam.
havia sido designada pela professora McGonagall a ajudar os demais professores com os alunos mais novos que haviam ficado. Fred e George foram designados para cuidar das entradas não oficiais do castelo, entradas estas que conheciam melhor do que ninguém.
– Agitadas. Tive que sair um pouco, e no caminho pensei: Que tal uma cerveja amanteigada quando tudo acabar? – Perguntou a garota, unindo as mãos atrás das costas e mordendo o lábio inferior. Os gêmeos deram uma risada nasalar sincronizada.
– Só se você pagar, baixinha – George disse, aproximando-se dela e a abraçou. A garota com certeza foi pega de surpresa, mas retribuiu o abraço com entusiasmo.
– Por favor, se cuida Forge. – Ela disse, usando o apelido que havia inventado e ele a apertou com mais força quando o ouviu. – Não queremos você sem as duas orelhas, vai ficar mais feio do que nunca!
– Há há há! – George respondeu irônico, soltando-a do abraço e apertando o nariz da garota com os dedos dobrados. – Mesmo sem a orelha continuo sendo o gêmeo mais bonito.
– Você bem que queria – Fred defendeu-se rindo, descruzou os braços sob o peito e empurrou o irmão, para que ele entendesse que agora era o momento dele com a sua namorada.
– Tá bom, se cuida . Vou cobrar aquela cerveja amanteigada depois – Piscou para a amiga e se afastou para dar privacidade ao casal.
– Hey – Fred disse com um meio sorriso, pousou suas mãos na cintura da garota, que deslizou suas mãos até seus ombros.
– Como você está? – Perguntou ela, olhando nos olhos do homem que fazia as borboletas do seu estômago revirarem. Fred amava os olhos de , eram sua parte preferida do corpo dela, ele podia mergulhar naquele oceano castanho durante horas e quando via as ramificações de suas írises, aquela cor lhe lembrava do chocolate quente que sua mãe fazia, doce, aconchegante e delicioso, os olhos dela eram um lar.
– Estou bem nervoso, na verdade. Não vou mentir. Estou nervoso de saber que minha família inteira está aqui, que você está aqui, e que não estaremos todos juntos para nos proteger – Fred nunca havia sido tão honesto, e não havia motivos para mentir para ela.
– Ei, vai ficar tudo bem. Você vai ver, logo estaremos todos juntos n’A Toca, comendo tortinhas de abóbora comemorando a morte de Você-Sabe-Quem.
Fred sorriu incerto com a fala da garota.
– Ou você está sabendo de algo que eu não sei? – Emendou ela, unindo as sobrancelhas enquanto Fred deslizava suas mãos da cintura dela para as costas, puxando-a para um abraço que logo foi retribuído.
– Gred? – A voz da garota chegou baixa em seu ouvido, ele afundou o nariz em seu pescoço, sentindo o aroma doce de baunilha que sempre exalava dela, aroma este que ele sempre sentia quando estava produzindo poções do amor para a sua loja de artigos e logros. – Aconteceu alguma coisa?
– Não, eu só estou com um pressentimento ruim... – Suspirou. – Professora Trelawney passou por mim agora pouco e me deu um abraço esquisito. Muito longo e muito esquisito. Desde então não consigo tirar da cabeça que talvez ela tenha visto algo. Algo de verdade, para variar – Ele admitiu afastando o rosto para olhá-la nos olhos mais uma vez.
A garota riu, uma risada gostosa que o fez sorrir junto.
– Passou pela sua cabeça que ela pode ter te abraçado apenas porque é meio doida? Ou porque fazia tempo que não te via?
– É, você está certa. Estou ficando maluco – Suspirou ele, ligeiramente aliviado. – Ah, quero te dar algo.
soltou-se do abraço para olhar para ele com curiosidade, as sobrancelhas arqueadas em tom de dúvida. Ela conhecia o namorado o suficiente para saber que, às vezes, os presentes dele explodiam, gritavam ou soltavam fumaças estranhas. Ao invés disso, Fred levou a mão até o pescoço e retirou uma corrente de prata muito fina, com um pingente na frente e outro atrás, como um escapulário. Os pingentes eram redondos, e em um deles tinha a letra F e no outro a letra G.
– Mãe nos deu isso faz alguns anos. Não gosto muito, mas uso por baixo da roupa quase sempre. – Disse o ruivo, passando a corrente por cima da cabeça da garota, deixando a letra F virada para frente. O ato fez com que ela segurasse o queixo dele com uma mão e colasse suas bocas.
O garoto não perdeu tempo em puxar o corpo dela mais para perto, as mãos na altura das costelas dela, enquanto a garota corria os dedos para os seus cabelos. O beijo não durou muito, o momento não era propício e Fred ainda tinha mais uma coisa para falar com ela.
– Eu preciso te pedir uma coisa – A voz dele saiu rouca e ligeiramente ofegante, quase inaudível.
– Claro.
– Caso algo aconteça hoje, me promete que vai cuidar do George?
– Gred, não fala isso – A garota uniu as sobrancelhas novamente, algo recorrente quando se tratava de Fred Weasley.
– Eu estou falando sério, ele não vai aguentar sozinho, ele é o mais mole de nós dois. Me promete? Promete que vai cuidar dele? – Perguntou ele, pondo as mãos nos ombros dela, e abaixando um pouco para que seus olhos ficassem da mesma altura.
– Tá, tá, eu prometo, seu chato – A garota deu a língua para ele, que sorriu aliviado. – Vou te dar um presente também. Não quero que se sinta sozinho – Ela retirou um anel dourado do seu dedão, o anel era aberto, de modo que era regulável, e tinha o desenho de uma lua e um sol em cada ponta. O ruivo riu com o ato, e entregou seu dedo mindinho para que ela colocasse o anel.
– Obrigado, te devolvo quando estivermos tomando as cervejas amanteigadas que você prometeu – Ele disse, esticando a mão para ver o anel de longe e ela riu. Ela sempre ria, era outra coisa que ele amava nela.
– Tá bem. Vou voltar lá para dentro ou a McGonagall vai vir me buscar pela orelha pessoalmente – Brincou a garota, abraçando-o mais uma vez. Fred tinha um cheiro amadeirado que ela adorava, mas junto sempre vinha bem ao fundo, um cheiro de fumaça de tantas explosões e fogos de artifício que ele e o irmão sempre soltavam. Era o cheiro que ela mais gostava.
Selaram os lábios mais uma vez.
– Eu te amo, – Ele sussurrou ao ouvido dela, fazendo todos os pelos do corpo dela se arrepiarem.
– Também te amo, Gred – Ela disse sorrindo. – Até mais.
Capítulo 1
Condado de Cornwall – 09 de maio de 1998 – Residência dos .
Ponto de vista:
Uma semana da minha última conversa com Fred.
O sentimento em meu peito dizia que poderia ter acontecido ontem ou há dois anos, é impossível conseguir quantificar exatamente o que era real e o que não era. Ainda parecia mentira, eu ainda sentia o seu cheiro em minhas roupas e ainda ouvia sua risada em minha cabeça com tanta clareza que era realmente impossível dizer que já havia passado uma semana.
Perdi a noção do tempo encarando a foto ao lado da minha cama que tiramos em Hogwarts três anos antes: Lee carregava Angelina nas costas fingindo que a deixaria cair, Fred e George me seguravam no colo, cada um agarrado em uma perna minha, eu dava uma risada genuína levando a cabeça para trás enquanto fazia chifrinho na cabeça dos dois. Aquele momento brotou em minha cabeça, apenas cinco estudantes se divertindo antes de sair para um passeio em Hogsmeade; ir ao povoado com os gêmeos e Lee era tão difícil quanto uma prova de Transfiguração, absolutamente tudo virava uma arma em suas mãos, qualquer piar de um passarinho era motivo para eles darem sustos em nós e qualquer olhar torto era motivo para mais piadas e brincadeiras. Angelina e eu sempre voltávamos com a barriga doendo de tanto rir.
Agora eu estava ali, há uma semana deitada em minha cama. O rosto inchado e o corpo dolorido, exausto e sem forças para fazer qualquer coisa.
Minha avó não entendia a gravidade da situação, afinal, eu não quis preocupá-la com a realidade: Como eu iria dizer à uma senhora de oitenta anos que meu namorado havia morrido na maior batalha entre bruxos já vista na humanidade? Como eu diria a ela que ele faleceu defendendo uma causa nobre que era questão de vida ou morte? Como eu diria que também estava lá?
Apenas a poupei de detalhes mais sórdidos e disse que nós terminamos o namoro.
Vez ou outra ela entrava em meu quarto, me trazia sopa, acariciava meu cabelo e me trazia cartas que alguma coruja deixava na entrada do correio em sua porta da frente.
As cartas estavam empilhadas ao lado da nossa foto que mexia-se calorosamente, minha risada ecoando pela eternidade.
– Querida, você precisa sair desta cama em algum momento... – Ela disse certa vez, acariciando meu pé que estava para fora da coberta. – A vida tem que seguir.
E se eu não quisesse?
– Você vai ficar bem, meu amor, têm pessoas que estão preocupadas com você. – Ela disse, abanando mais uma carta e colocou sob a pilha de cartas que já estavam na cômoda.
– Talvez você pudesse pelo menos responder seus colegas? – Insistiu.
A morte já era uma velha conhecida minha. Quando eu havia recém feito dois anos, meus pais foram assassinados por dois homens de capa preta que nunca foram identificados pela polícia, porém um andarilho, a única testemunha ocular presente no momento, deu seu testemunho dizendo que os dois homens estavam com gravetos nas mãos e um raio verde saiu de um deles depois de algumas palavras irreconhecíveis serem ditas. Na época o homem foi dado como louco, porém minha avó nunca esqueceu desta história, e depois que recebemos minha carta para Hogwarts, recebemos também uma visita do próprio Dumbledore, que explicou tudo à minha avó. Conseguimos finalmente entender o que realmente havia acontecido e qual o motivo de meus pais terem sido assassinados. Estavam no lugar errado e na hora errada, Comensais da Morte acharam que seria divertido tirar a vida de dois nascidos trouxas e eu acabei sendo criada por minha avó paterna.
Depois que minha avó saiu do quarto, sentei-me na cama sentindo minha cabeça pesar uma tonelada, e comecei a ver as cartas que havia recebido.
“Querida ,
Faz tempo que não recebo notícias suas, estou preocupado com você.
Se quiser me fazer uma visita para conversar um pouco, estou na casa de minha avó como sempre.
Não me arrisco a ir até você pois você sabe que reprovei na prova prática de aparatar.
Estou com saudades,
Neville Longbottom.”
“,
Não tive notícias suas e muito menos de George, estou realmente preocupado.
Se você não me responder até sábado, irei aparecer aí.
Lee Jordan”
“,
Por favor, me responde. É a terceira carta que eu te mando.
George também não me responde e não sei mais o que fazer!
Lee está muito preocupado também.
Com carinho,
Angelina Johnson"
“Prezada Srta. ,
Gostaria muito de conversar com você pessoalmente sobre uma possível oferta de emprego na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.
Sei que os momentos são difíceis, e que muita coisa aconteceu, então me mande uma coruja quando sentir que está mais disposta.
Estarei aguardando.
Cordialmente,
Minerva McGonagall”
Quando estava prestes a abrir a próxima carta, ouvi batidas leves em minha porta.
– , querida. Um amigo seu está aqui – Minha avó disse sem abrir a porta. Já era sábado?
– Tudo bem, vó, pode deixar ele entrar.
Lee era íntimo o suficiente para me ver naquela situação deplorável.
– É a primeira vez que ouço a voz dela em uma semana – Ouvi minha avó dizer a ele antes dele abrir a porta.
– Oi – Ele apenas disse, quando estava na minha frente. Eu encarava as cartas abertas em meu colo. Abaixou-se de modo que seu rosto entrasse em meu campo de visão. – , eu sinto muito.
E me abraçou, fazendo as malditas lágrimas brotarem de novo em meus olhos. Agarrei suas vestes com força e soltei todos os soluços que estavam presos em minha garganta, enquanto ele alisava minhas costas tentando me dar algum tipo de suporte. Chorei alto sem conseguir segurar tudo o que meu peito sentia, e chorei sabendo que ele também sentia aquilo, por mais que conseguisse segurar as lágrimas, ou pelo menos os soluços. Senti seu pulso se mexer um pouco atrás de mim e ouvi a porta do meu quarto fechar lentamente.
Ficamos abraçados até eu conseguir controlar meu corpo.
– Não estou sentindo minhas pernas – Ele quebrou o silêncio, fazendo-me soltá-lo do abraço dando uma risadinha sem graça entre as lágrimas, só agora notei que ele ainda estava de cócoras.
Ele sentou-se ao meu lado na cama, e segurou minhas mãos.
– , eu sei que está difícil. Acredite, eu sei. Também perdi meu melhor amigo – Disse ele, olhando em meus olhos. – Mas você não pode deixar que isto leve a sua vida junto.
– Eu não consigo, Lee.
– Consegue sim. Eu te ajudo – Apertou minhas mãos com mais força. – Espera aqui um pouquinho.
Ele se levantou e rodeou meu quarto, como se fosse íntimo daquele lugar, abriu a porta do banheiro e entrou lá. Meio segundo depois ouvi o barulho de água e Lee voltou até mim, puxando-me pelos braços. Levantei sentindo minhas costas clamarem por misericórdia.
– Vem, coloquei um energizante na água. Toma um banho e eu te espero aqui – Ele disse com um sorriso doce.
Lee era uma das pessoas mais alegres e empolgadas que eu conhecia, vê-lo tão calmo e compreensivo comigo era tão estranho quanto ver um centauro que não gostasse de astrologia.
Fiz o que ele pediu, tomei um banho que realmente parecia ter ativos que me deixaram com um sentimento melhor dentro de meu peito. Saí do banheiro e o encontrei com a foto que eu encarava poucos minutos atrás nas mãos.
Ele levantou os olhos até onde eu estava e secou a lágrima que escorregou por sua bochecha rapidamente com a mão, apontou para o seu lado na cama.
– , eu preciso conversar com você.
Sentei-me ao seu lado, virada de frente para ele.
– George precisa da sua ajuda – Ele simplesmente disse, como se eu fosse a resposta de todos os seus problemas. É claro que George precisava da minha ajuda, Fred havia me informado aquilo antes da sua morte, e eu fui egoísta o suficiente para não conseguir cumprir a promessa que havia feito. Aquilo me atingiu com uma força que eu não esperava. Meus olhos encheram-se de lágrimas novamente.
– Eu sei – Disse com a voz embargada. – Me desculpe Lee, eu não quis me fechar desse jeito, eu só... Não tive forças. É o Fred, o meu Fred.
– Não precisa se desculpar, . Cada pessoa tem um processo de cura com o luto. É normal. – Ele novamente segurou em minhas mãos, atencioso como um melhor amigo deveria ser. Atencioso como eu deveria estar sendo com George.
Ficamos em silêncio por um instante.
– Ele não quer sair do quarto, não deixa ninguém entrar. Nem Sra. Weasley, nem eu, nem Angelina... Todos estão preocupa-
– Eu vou tentar falar com ele. – Interrompi, ouvindo a voz de Fred em minha cabeça.
Promete que vai cuidar dele?
***
Aparatei no terreno d’A Toca sozinha, caminhei por alguns metros dentro de um mato alto antes de encontrar a clareira em que a casa se encontrava. Respirei fundo encarando a casa alta e torta que só podia estar em pé por causa de magia, e senti meu coração apertar quando bati os nós de meus dedos na porta grossa de carvalho.
Aquele lugar representava tantas coisas, foram tantas as vezes em que passei minhas férias ali, aprendi a jogar quadribol, ajudei senhora Weasley a retirar gnomos do seu jardim, ensinei o senhor Weasley a usar vários artefatos trouxas em sua garagem, ajudei Percy a escrever cartas românticas à Penélope (só para depois contar à Fred e George aos risos) e convenci Rony a colocar uma gota da versão de testes do “baba de trasgo” no suco de abóbora de Harry, que ficou pingando uma saliva espessa durante a tarde inteira e compartilhei segredos com Gina.
A senhora Weasley abriu a porta.
– ! – Ela soltou animada e me agarrou pelo pescoço, puxando-me para um abraço aconchegante que apenas uma mãe poderia dar. Me aninhei em seu colo, sentindo o amor que ela transmitia aquecer meu corpo como um bom gole de whisky de fogo.
Novamente senti meus olhos arderem.
– Entre, meu bem. Vou fazer um chá para você – Entrei pela porta, vendo a casa estranhamente vazia. Aquilo fez meu peito doer novamente. A Toca nunca esteve tão silenciosa. – Como você está? Sente, sente.
Eu sabia que Molly estava destruída por dentro, que ela estava tão devastada e quebrada quanto qualquer outro naquela casa, mas sua casca era dura e resistente como uma mãe de sete filhos deveria ser.
– Eu… Estou bem. – Menti, não queria que ela se preocupasse comigo, já tinha tantas preocupações, tantos desafios a serem enfrentados, a última coisa que eu queria era que perdesse um espacinho que fosse pensando em como eu estava ou deveria estar.
– Não precisa mentir para mim, querida. – Seu sexto sentido materno de sempre funcionou muito bem comigo. Mesmo assim, decidi ficar em silêncio enquanto ela acendia o fogão com sua varinha.
– Onde estão todos? – Perguntei mudando de assunto.
– Ahh, Arthur e Percy estão no Ministério. Ron, Hermione, Gina e Harry estão em Hogwarts, ajudando com os reparos do castelo. E George… – Ela suspirou, olhando para o nada. – George está no quarto. Ele não sai mais de lá.
A senhora Weasley sentou-se na cadeira em frente à minha, o semblante exausto denunciava as noites mal dormidas.
– Senhora Weasley, eu quero que você me desculpe.
– Pelo quê, minha filha?
– Por eu não ter vindo antes, eu… Eu também estava em um lugar horrível e precisei de um empurrãozinho para conseguir sair. Me desculpe por largar vocês aqui assim. É só que… Eu amava demais o seu filho, acho que ainda não consegui entender muito bem como é que vai ser a minha vida a partir de agora. – Admiti insegura, olhando minhas mãos sobre a mesa ao invés de encará-la.
– , você não precisa se desculpar por nada! Eu sou grata em saber que meu Fred se foi sendo amado pela pessoa que ele também amava – Ela foi a segunda pessoa que segurou em minhas mãos hoje. – Você é da família, querida, você sempre foi.
– Eu… – E lá estavam as lágrimas traiçoeiras novamente. – Obrigada, senhora Weasley, isso significa muito para mim.
Molly acariciou meu rosto e secou a lágrima teimosa que insistiu em descer. Levantou-se com calma quando a chaleira começou a chiar e preparou duas xícaras de chá fumegante para nós.
– Você acha que George vai querer falar comigo? – Perguntei incerta, bebendo o chá delicioso que ela havia preparado.
– Eu espero que sim, querida. Você é minha última esperança, Angelina esteve aqui duas vezes e ele não quis desbloquear a porta. Lee também tentou, mas sem sucesso. – A senhora Weasley suspirou fechando os olhos. – Não sei mais o que fazer…
– Eu vou dar um jeito nisso, eu prometo.
Se eu soubesse que sair de casa e falar com senhora Weasley iria me fazer tão bem, teria vindo antes. Tudo naquela casa me lembrava Fred. Eu nunca tinha ido ali sem que ele estivesse junto e saber que George estava lá também, e provavelmente em uma situação pior do que a que eu estava era de partir o coração. Nesse momento lembrei de Lee me falando que cada um tem um processo de cura do luto diferente, e sendo filha única, eu nunca entenderia o que é perder um irmão. Nunca.
Não é porque a senhora Weasley está sendo simpática e doce comigo, que ela não está sentindo a dor da perda de um filho. Eu perdi um melhor amigo e um namorado. George perdeu o melhor amigo e um irmão. Nada nunca iria suprir aquela perda.
Terminei meu chá e olhei cúmplice a ela enquanto me encaminhava para a escada que dava aos quartos. Subi os degraus lentamente, sentindo meu coração pulsar em minha garganta e náuseas que enchiam minha boca de saliva e deixavam minhas mãos suando frio. O nervosismo era gritante. Tinha medo que George também não quisesse falar comigo, e principalmente, tinha medo de falhar na única promessa que fiz à Fred.
Cheguei na porta do quarto dos gêmeos com o coração na mão. Eu tinha que estar preparada psicologicamente para muitas coisas: a primeira e mais importante era de saber lidar com George, acolher e amparar qualquer uma de suas angústias; a segunda era conseguir entrar no quarto de Fred sem deixar aquilo me abalar de forma que eu não conseguisse dar a devida atenção a George; e a terceira era que eu não estava preparada psicologicamente para nenhuma dessas opções. E mesmo assim bati na porta.
– Forge? – Falei para a porta ainda fechada. – É a . Posso entrar?
O silêncio ensurdecedor manteve minhas pernas firmes onde estavam. Bati mais uma vez.
Nada.
Peguei minha varinha contrariada. Eu não queria usar magia para entrar no quarto, era uma falta de ética tremenda, pela invasão de privacidade, pela completa falta de noção e pelo fato de que outras pessoas provavelmente já haviam tentado fazer aquilo e falharam. George provavelmente trancou a porta com um feitiço mais poderoso do que um simples:
– Alohomora – Sussurrei para a porta que destravou com um clique.
Empurrei a porta devagar até o final. George encontrava-se deitado na cama de Fred, encolhido como um filhotinho, os joelhos apertados contra o peito e as mãos abraçando as pernas.
Senti meu corpo fraquejar por um segundo, vendo-o daquele jeito. Em meu peito uma sensação triste de traição, por não conseguir ter ido antes até ele, dar o apoio que ele precisava.
Ao contrário do que eu imaginei, o quarto estava com as janelas abertas e bem arejado, o cheiro de fumaça era forte ali dentro, e um misto do cheiro de Fred e George me abraçou como o cheiro de torta recém assada. Minhas pernas amoleceram e me vi obrigada a me apoiar no batente da porta antes de entrar completamente no quarto. Tranquei a porta.
– Hey, grandão – Me agachei em sua frente e pude finalmente ver seu rosto contra a luz do sol que entrava pela janela.
George estava péssimo. Os olhos fundos rodeados de olheiras arroxeadas, as bochechas antes bonitas e coradas, agora tinha sulcos abaixo das maçãs do rosto, seus cabelos estavam opacos e sem o brilho vermelho habitual, seu olhar era vazio, como se nem percebesse que eu estava realmente ali.
– Georgie – Minha voz saiu afetada pelo nó que se fechava em minha garganta; enquanto as lágrimas brotavam em meus olhos vendo a situação em que eu deixei meu melhor amigo chegar.
– Georgie, eu estou aqui e não vou a lugar algum.
Dei a volta na cama, enfiando-me entre ele e a parede e o abracei por trás, encaixei meu braço por baixo do seu, enlacei sua cintura com minha perna, beijei o topo de sua cabeça e apenas fiquei ali, ouvindo sua respiração, sentindo a pulsação do seu coração e tentando sugar de qualquer maneira, um pouco da sua dor para mim.
Perdi a noção de quanto tempo fiquei assim até que George se desse por vencido e se movesse na cama, virando-se de frente para mim. Ele não disse nada e muito menos eu, ao invés disso, passou os braços em volta do meu tronco, puxando-me mais para perto, agarrou a malha da minha blusa como se sua vida dependesse daquilo, enterrou seu rosto em meu pescoço e chorou.
Chorou do mesmo jeito que eu havia chorado com Lee, um choro alto e descontrolado, com soluços que o deixavam sem ar por alguns segundos até ele conseguir respirar.
Acariciei seus cabelos, enquanto deixava as lágrimas lavar meu rosto novamente, não sei como era possível que meu corpo ainda tivesse capacidade de criar novas lágrimas, mas ali estavam elas.
Fiquei ali até ele parar de chorar e pegar no sono, já era escuro lá fora quando isso aconteceu, mas eu não fazia ideia de que horas eram. Fechei a janela do quarto, peguei uma manta dentro do guarda-roupas e coloquei por cima dele, dei um beijinho em sua têmpora e saí do quarto.
A família Weasley estava reunida na mesa de jantar, Hermione e Harry estavam também. Todos me olharam com expectativa quando desci o último degrau da escada e Gina correu para me abraçar quando me viu. Respirei fundo para não chorar mais uma vez.
– Ele está bem – Falei por fim, um suspiro cansado acompanhou a minha voz.
Todos respiraram aliviados, Gina me puxou para sentar ao seu lado na cadeira que normalmente era minha quando eu ia passar as férias lá.
– E você, como está? – Hermione perguntou, acariciando meu antebraço. O olhar de todos recaiu sobre mim mais uma vez.
– Eu estou... – Eu iria mentir novamente, não precisava berrar aos sete cantos que estava despedaçada por dentro, todos ali sabiam disso e todos ali sentiam-se do mesmo modo. Seria redundante ficar repetindo esses passos toda vez. Antes de eu conseguir terminar minha frase, vi o olhar de Molly para mim, sua cabeça balançou negativamente como se dissesse “Não precisa mentir para a sua família”. – Na verdade, não sei como eu estou.
– Coma um pouco, meu bem – Sra. Weasley disse do outro lado da mesa.
O clima da mesa era denso, silencioso e preocupado. Ninguém se atrevia a falar mais do que uma frase e depois do jantar, pedi a Sr. Weasley para usar o seu telefone (pouquíssimo utilizado naquela residência) para eu avisar minha avó que passaria alguns dias ali.
Pedi a Molly que fizesse uma sopa e deixasse sob o fogão, que mais tarde eu tentaria convencer George a descer e comer um pouco. Ela me agradeceu com o olhar, e eu não precisava de nada mais do que aquilo.
Voltei às escadas e subi até o último quarto antes de voltar ao quarto dos gêmeos. Cumprimentei cada um devidamente, os quatro estavam sentados no chão, Rony e Mione estavam abraçados, Harry e Gina também, não havia muita conversa envolvida no momento, eles estavam apenas curtindo a presença um do outro, e dando o suporte necessário, afinal, Rony e Gina também haviam perdido o irmão. Todos nós perdemos muitas pessoas, amigos, colegas, parentes, professores... Conversamos coisas banais, perguntei como estava em Hogwarts e eles me contaram em poucas palavras.
Quando saí do quarto de Rony para deixá-los mais à vontade, ouvi a voz dele me chamar.
– Obrigado por estar fazendo isso.
– Isso o quê?
– Cuidando de George, você sabe.
– Não estou fazendo nada que nenhum de vocês não fariam um pelo outro – Falei apontando para cada um.
Voltei ao quarto dos gêmeos, a porta agora estava destrancada e tenho certeza de que senhora e senhor Weasley vieram espiar o filho antes de irem ao seu quarto. Roubei um par de meias grossas no guarda-roupas e deitei-me junto com George mais uma vez. Seus braços me envolveram quase que imediatamente e peguei no sono ouvindo sua respiração regular e calma de quem estava em sono profundo.
O sono foi leve e cada vez que George se mexia, eu abria os olhos para me certificar de que ele estava bem. Me peguei fazendo carinho em seu cabelo vez ou outra, como eu fazia em Fred quando sentávamos na beira do lago para conversar sobre qualquer coisa. Levantei, mesmo estando exausta, para tomar um copo de água e respirar um pouco.
Sentei na cadeira que normalmente Fred usava, ao lado da minha, e perdi a noção de quanto tempo fiquei ali com meu copo de água nas mãos, intocado.
Era impossível não me pegar pensando nele.
Seu cheiro agora estava impregnado em minha roupa e por um segundo me senti abraçada novamente, respirei fundo tentando controlar as emoções em meu coração. O vazio que eu sentia dentro de meu peito parecia que nunca mais seria preenchido, era a dor mais íntegra que jamais pensei em um dia sentir. Me peguei chorando silenciosa quando ouvi passos descendo as escadas.
– ? – Era a voz de Potter.
– Ah, oi, Harry – Minha voz saiu mais chorosa do que eu esperava.
Ele veio até mim e sentou-se ao meu lado.
– Não está sendo fácil, não é? – Perguntou ele, sem realmente esperar uma resposta. Ele também havia perdido algumas pessoas, e sabia exatamente pelo que eu estava passando, sabia também que a amizade era indispensável nesse momento. Ele estava ali por Gina e Rony.
– Não. Não achei que fosse ser tão difícil – Admiti suspirando. Eu sempre tive uma intimidade com Harry que nunca tive com Rony e Hermione. Gosto de pensar que o fato de sermos órfãos ajudou nesse processo de aproximação, mas é claro que termos melhores amigos da mesma família ajudou também.
– Você vai conseguir, tá bem? Vai passar, eu te prometo. Às vezes demora mais do que a gente quer. Mas passa – Ele acariciou meu antebraço. Pus minha mão sobre a dele.
– Obrigada Harry, sei que não está sendo fácil para você também – Suspirei.
– Não está, é verdade. Mas vou te admitir algo que está preso dentro de mim e não tive coragem de falar para ninguém: estou tão aliviado que tudo isso finalmente acabou, que não consegui digerir as perdas ainda. Estou com a mente tão ocupada lá na escola, que não tive tempo de parar e chorar, sabe? Isso é muita insensibilidade?
– Cada um lida com a perda de um jeito – Parafraseei Lee. – Não se martirize por isto, Potter, se você não chorou ou não perdeu o apetite, não quer dizer que você é uma má pessoa. Você é só humano. – Tentei ser a mais sensata que eu pude, e o garoto se abalou um pouco.
– Eu só não consigo tirar da cabeça que todas essas pessoas morreram por minha causa – Sua voz saiu esganiçada, presa por uma angústia palpável.
– Não. Não foi sua causa, todos que estavam lá queriam lutar contra Você-sabe-quem. Todos sabiam das consequências, todos decidiram ir. Harry, você tem que parar de se culpar pelas coisas que ele fez, só por que você era o Escolhido.
– Eu entendo o que você diz. Só não consigo visualizar dessa maneira.
– É a maneira certa. Logo você vai conseguir compreender isso. Não foi culpa sua, nada disso. Nada teria sido diferente se outra pessoa fosse a escolhida. Teríamos lutado do mesmo jeito – Continuei defendendo-o de seus próprios demônios. – Com certeza ser seu amigo ajudou muito nesse processo, mas não considere como culpa. Porque não é.
– É, você está certa.
– É claro que estou – Brinquei e ele sorriu fraco.
– Eu sinto muito pelo Fred – Harry disse depois de alguns minutos de silêncio.
Apenas suspirei, finalmente tomando um gole da minha água.
– Dói muito, sabia? Eu não perdi um namorado, eu sinto que perdi minha família. E eu sei que você é um dos poucos que entende esse sentimento.
– Sim, eu sei exatamente o tipo de dor que você está sentindo – Harry aproximou sua cadeira da minha e me abraçou de lado, deitando sua cabeça em meu ombro. – Mas vai passar, estamos todos aqui para isso, para curarmos uns aos outros.
Ficamos abraçados por alguns minutos, em silêncio.
– Estou preocupada com George.
– Ele vai sair dessa, mas ele precisa de você, – Harry soltou nosso abraço. – Ele tem uma conexão contigo, não tem com Lee e nem com a Angelina. É você. Estamos a semana inteira tentando abrir a porta do seu quarto. Ele pôs algum feitiço que nem mesmo Hermione soube dizer qual era, só você conseguiu abrir.
– Acho que sei o que pode ter sido. – Falei, levando minhas mãos até meu pescoço e retirando a correntinha prateada que Fred me deu antes da batalha de dentro de minha blusa – Fred me deu no dia da batalha.
– Brilhante! – Harry exclamou, costume que pegou de Rony. – Ele devia te amar bastante, para te confiar essa tarefa.
– Eu só tenho medo que eu não esteja preparada para essa tarefa.
– Está sim, George confia em você. E Fred também confiava, se não ele não te daria isto – Indicou a corrente que provavelmente tinha algum tipo de magia que abriu a porta do quarto deles e guardei-a por dentro da blusa.
– Você tem razão.
– É claro que tenho. – Ele brincou e empurrei seu ombro antes de me levantar.
Ele me acompanhou até a porta do quarto dos gêmeos e me abraçou mais uma vez antes de seguir ao quarto de Rony.
Entrei no quarto e me aconcheguei ao lado de George, segurei minha correntinha na mão antes de pegar no sono, confiante de que se Fred havia me pedido para ajudar George, era porque ele depositava em mim uma confiança extraordinária.
Flashback – 01 de setembro de 1989 – Estação King’s Cross.
– Com licença – Minha avó abordou um homem de pele negra que estava com o filho que parecia ter a minha idade. O homem parou e nos deu atenção, e segurou a mão do garoto que guiava um carrinho com uma bagagem um tanto excêntrica, assim como a minha, não haviam dúvidas de que eles eram bruxos a caminho de Hogwarts assim como eu. – O senhor também está indo até o Expresso de Hogwarts? – Vovó sussurrou a última parte, olhando para os lados com medo que o homem a achasse uma lunática. Segurei um risinho enquanto notei os olhos do garoto em mim, ele tinha os cabelos despojados com dread locks curtos, usava vestes compridas que eu só tinha visto igual quando fomos comprar meu material escolar no Beco Diagonal.
Eu usava roupas comuns, calça jeans e um suéter fino azul claro que minha avó me obrigou a usar com medo que eu passasse frio durante a viagem.
– Ah sim, estou. Você nunca foi até lá? Deixe-me adivinhar, são trouxas? – Perguntou o homem em um tom divertido. Minha avó suspirou aliviada por ter encontrado de primeira, alguém que fosse capaz de nos ajudar.
– Sim, eu sou, mas minha neta, , não. E é por isso que estou um pouco perdida com essa passagem de trem – Falou ela, abanando a passagem no ar.
– É bem confuso para os principiantes mesmo. Mas se vocês quiserem me acompanhar, eu mostro como funciona.
– Seria de grande ajuda! Obrigada – Ela disse e acompanhamos o homem e o garoto.
– Bom, sou Eddard Jordan – O homem esticou a mão até minha avó que a apertou com simpatia. – E este é meu filho Lee.
– É um prazer, sou Lucille . E esta é minha neta .
Estiquei minha mão com certa cordialidade desnecessária até o garoto que apertou meio sem graça.
Seguimos até parede de tijolos que compunha o arco entre as plataformas nove e dez, e Eddard explicou como funcionava a entrada. Ainda com um pouco de receio, nós duas fizemos o que o homem explicou, logo atrás deles.
Ainda era difícil de acreditar que tudo aquilo ali era real, a passagem pela parede de tijolos, o trem gigantesco que nos aguardava já ligado, ou a quantidade de pessoas andando para um lado e para o outro, crianças e adultos se misturando em grande quantidade, tudo parecia realmente mágico. Me despedi de minha avó quando vi que Lee estava abraçando seu pai, entregamos nossas bagagens juntos em um vagão específico para isto e seguimos para dentro do trem à vapor.
Por mais que fosse um bruxo nascido em uma família de linhagem bruxa, Lee mostrava bastante nervosismo em deixar o pai e subir no trem. Fingi não notar como ele ficou abalado quando entrou, e o acompanhei pelo corredor, tentando o distrair, comentei:
– É melhor quando tem alguém junto, não acha? É menos assustador.
Andamos alguns vagões cheios de alunos mais velhos, até encontrarmos uma cabine vaga e corremos para a janela para darmos um último adeus à nossa família. Minha avó acenou docemente, enxugando uma lágrima que desceu por sua bochecha. Eu sorri tentando deixar ela mais calma.
– Você acha que é muito longe? – Lee perguntou ansioso, olhando pela janela que agora mostravam um lindo campo verde, o dia era ensolarado e fresco.
– Não faço ideia! Eu sou a nascida trouxa aqui – Dei uma risada, e ele riu junto dando um tapa na testa.
– Verdade, esqueci de fazer este tipo de pergunta ao meu pai – Ele refletiu. – Você acha que vamos ser selecionados para a mesma casa?
– Casa? Do que você está falando?
– Ah, por Merlin, esqueço que você não sabe nada sobre Hogwarts!
Lee entrou em uma conversa animada sobre as casas da escola, explicou as características de cada uma e disse que seu pai era da Corvinal e sua mãe da Lufa-lufa.
Enquanto a gente conversava animados sobre nosso futuro na escola, dois garotos entraram na cabine: Ambos tinham cabelos ruivos e eram idênticos.
– Estamos fazendo um teste – O ruivo da esquerda disse, ele era pouca coisa mais alto do que o seu gêmeo.
– Um teste oficial da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts – O outro completou animado, uni as sobrancelhas em desconfiança enquanto eles ficavam mais à vontade na cabine.
– Que tipo de teste? – Lee perguntou, olhando de soslaio para mim, sua expressão era tão desconfiada quanto a minha.
– É bem simples. – O ruivo da esquerda falou enquanto pegava em suas vestes um pacote de tirinhas de jujubas já aberto.
– Cada um de vocês têm que pegar uma jujuba e comer. O sabor da jujuba dirá se vocês estarão aptos a fazer o teste das casas quando chegarem em Hogwarts. – O ruivo da direita disse, sentando-se ao meu lado como se me conhecesse há bastante tempo, enquanto o outro fazia o mesmo sentando ao lado de Lee.
– Isso não me parece nem um pouco verdadeiro – Deixei escapar, unindo as sobrancelhas, encarando o pacote aberto de jujubas e depois olhando para o gêmeo que estava ao lado de Lee.
– Não precisa acreditar, apenas lembre-se de mais tarde ir falar com o Diretor Dumbledore sobre como você se negou a fazer um simples teste de triagem para a seleção das casas. – O gêmeo ao meu lado disse, dando de ombros.
Pensei por um segundo. Tinha certeza de que era uma pegadinha, não existia a menor chance de que aqueles dois garotos, tão jovens quanto eu, terem sido encarregados de algo tão importante. Mesmo assim, poderia ser divertido fazer algumas amizades a mais do que Lee. Afinal, e se não fossemos para a mesma casa? E o que poderia ter de tão ruim naquela jujuba?
Sem falar nada, arranquei uma jujuba do pacote e no exato instante em que meus dentes deram a primeira mordida, a jujuba explodiu com um estalo seco, sumindo de minha mão e da minha boca, deixando um gosto de fumaça no lugar. Quando abri os olhos ainda pude ver a fumaça se dissipando. Engoli seco por conta do susto, e a cabine ficou em silêncio por um segundo, todos esperando a minha reação. Decidi que não ficaria brava, afinal, quem pegou a jujuba fui eu, e sem mais nem menos, dei uma gargalhada alta, desatando a rir descontroladamente vendo o rosto dos garotos que ainda estavam em choque pela minha reação. Poucos segundos depois, os três meninos caíram na gargalhada.
– Eu amei! Quero fazer com alguém! – Eu disse ainda entre risos. – Já fizeram em alguma outra cabine?
– Não, vocês foram os primeiros – O gêmeo ao meu lado disse, enxugando a lágrima que escorria por seus olhos de tanto rir.
– Por quê? – Lee perguntou curioso, o sorriso ainda estampado no rosto.
– Era a cabine mais vaga, queríamos lugares para nos sentar durante a viagem.
– Queriam lugar para sentar e fizeram isso?! – Perguntei indignada, porém de maneira leve.
– Ah, era para quebrar o gelo. – O gêmeo ao meu lado esbarrou o ombro no meu, sorrindo ladino.
– Tudo bem, vocês conseguiram. – Me dei por vencida, ainda dando risos escassos que fugiam de minha boca sem controle.
– Sou Fred. E esse é o George. – O gêmeo ao lado de Lee disse.
Nos cumprimentamos de verdade dessa vez, e os três me ajudaram a limpar o rosto esfumaçado para colocarmos o plano de enganar mais cabines com as jujubas em ação.
A viagem quase inteira nós quatro ficamos enganando outros alunos nas cabines, sempre variando a dupla para que ninguém desconfiasse. As jujubas surpresa que os gêmeos levaram variavam entre explodir, gritar, soltar fumaças com cheiro de pum, entre outros. Não demorou muito para ficarmos conhecidos dentro do vagão.
E demorou menos tempo ainda para percebermos que aquela amizade seria duradoura.
Fim do Flashback
Nota da autora: Eu SEMPRE quis escrever uma fic de Harry Potter, mas sempre tive muito medo de entrar nesse mundo que amo tanto pois tenho medo de estragar. Decidi que minha primeira aventura tinha que ser depois dos acontecimentos principais para que eu não tivesse que alterar muitas coisas da história original. E aqui estou eu, sofrendo calada a morte de Fred que sempre foi algo que me tocou muito.
Algumas informações importantes: Todo capítulo terá um flashback da vida deles antes do acontecido, vou sempre tentar não alterar muito as informações durante os anos de Harry na escola, mas achei que seria importante mostrar o desenvolvimento da amizade desse Trio de Ouro tão diferente do Trio de Ouro original.
Espero muito que vocês gostem e abram o coração de vocês para esse momento tão delicado na vida dos Weasley’s. Um beijão, e deixem aquele comentário gostoso <3
Capítulo 2
A Toca - 06 de junho de 1998
Ponto de vista: George
Um mês havia se passado desde a morte de Fred.
Um mês sem a porra da minha alma gêmea.
Um mês que estou sem sair de casa ou receber visitas.
Um mês que está dormindo comigo.
Um mês que não falo com Angelina ou Lee.
Meu peito ainda ardia, ferido e completamente vazio, meus dias se limitavam em ficar no quarto e ir até a cozinha comer com a minha família. Ninguém dirigia muitas palavras a mim, depois de algumas semanas trancado no quarto isolado, eles perceberam que eu não queria conversa. Aos poucos fui soltando a linha imaginária que me prendia, abracei minha mãe, pisquei para meu pai, acariciei o braço de Gina alguns dias atrás e joguei uma partida de xadrez de bruxo silenciosa com Rony, nenhum deles fazia movimentos bruscos quando eu fazia algo assim, como se eu fosse um gato maltratado na rua que estava devagarinho se habituando ao novo lar.
Harry tentou trocar algumas palavras comigo ontem, mas o dispensei tentando ser o menos rude possível. se encarregava de explicar a situação a todos.
Eu só conseguia falar com ela.
Talvez fosse o fato de Fred simplesmente confiar a sua vida a ela, se fosse possível, ou o fato de eu conhecê-la tão bem... Eu apenas sentia que podia falar qualquer coisa e ela entenderia. me entendia, porque ela também perdeu a alma gêmea naquele dia.
– Você está bem? – Ouvi minha voz dizer antes mesmo que eu percebesse, estava amanhecendo lá fora e entrava no quarto sorrateira, assustando-se com minha voz.
– Estou sim, só precisava de um ar. – Ela disse sentando em minha cama. – E você?
– O mesmo de sempre. – Dei de ombros debaixo das cobertas e ela sorriu com a boca fechada, mas os olhos eram tristes.
– Vem. – Ela disse, esticando o braço para mim, fazendo um sinal de “vem” com os dedos. Eu confiava nela o suficiente para apenas esticar minha mão até ela e deixar que me guiasse.
– Segura a coberta. – Avisou, e fechei minha mão livre na manta de retalhos que minha mãe havia feito há alguns anos, antes de sentir meu umbigo ser puxado para dentro, como se um gancho estivesse em meu intestino, meu corpo ficou fluido e viajei para onde quer que estivesse me levando. Aparatamos.
Senti meu corpo rígido quando meus pés pousaram no telhado da garagem de papai.
O nascer do sol estava lindo.
O céu tinha tons rosa forte e laranja misturando-se em uma harmonia perfeita, não havia nuvens e não fazia frio, mas uma brisa gelada batia em nossas costas, deixando o verão mais gostoso do que de costume, o tempo estava úmido como se tivesse chovido algumas horas antes e o sol surgia à nossa frente, o campo de mato amarelado cobria toda a nossa vista, até as colinas que agora estavam se iluminando com os raios solares. À nossa esquerda havia um lago coberto de vitórias-régias e alguns pomares e hortas que minha mãe cultivava, à nossa direita estava A Toca, a residência fixa dos Weasley’s, a casa mais desengonçada já vista no mundo bruxo, porém, o lar mais aconchegante que qualquer um poderia conhecer.
cobriu nossas costas com a manta, mesmo que o calor já estivesse querendo dar as caras, e ali ficamos observando o sol subir com uma lentidão gostosa de acompanhar, abraçados às nossas pernas, curtindo a presença um do outro.
– Quando você pretende falar com Angelina, Georgie? – Ela quebrou o silêncio depois de algum tempo.
Angelina e eu estávamos engatados em um relacionamento desde que saí de Hogwarts. Eu gosto dela, gosto de sua companhia e por fim, gosto de como nosso relacionamento estava. O problema ali era eu, eu não estava em um momento em que me via em um relacionamento sério que fosse saudável ao mesmo tempo. Esse mês foi prova disso, não troquei uma só carta com ela e sempre que ela ia me visitar, eu preferia ficar trancado no quarto ao invés de ter sua presença. Não consigo pensar em um motivo definido, mas eu não conseguia mais pensar em Angelina como minha namorada. Eu precisava dizer isso a ela, mas não sabia como. Eu precisava do meu tempo e do meu espaço para me recuperar. Não podia ficar pensando em relacionamentos agora, não podia e não queria.
– Eu realmente preciso falar com ela?
– Bom, ela é sua namorada. Eu gostaria que você tivesse a decência de conversar com ela. – Explicou ela, a voz ligeiramente incisiva, do jeito que ela falava conosco quando queria nos dar uma bronca. Fred adorava quando ela fazia aquilo, eu particularmente achava irritante, principalmente quando era para me dar uma bronca.
– Não sei se estou pronto para ter esse tipo de conversa com ela. – Respondi com sinceridade.
– Eu sei que não é fácil, mas ela precisa saber como você está, o que você sente em relação a ela e se vocês estão realmente namorando, afinal, faz um mês que você não fala com ela.
– Eu sei, eu sei.
– O que você sente em relação a ela, George? Você precisa colocar estes sentimentos em ordem.
– Eu acho que não estou pronto para um relacionamento agora. – Suspirei, arrancando os fiapinhos soltos da colcha de retalhos, distraído.
– Então você precisa dizer isto a ela. Ela merece. – disse acariciando meu ombro como se aquilo fosse me acalentar de alguma maneira.
– O que eu digo?
– Diz a verdade. Ela é, acima de tudo, sua amiga. Ela vai entender. – Ela parou de acariciar meu ombro e enganchou o braço no meu, deitando a cabeça em meu ombro olhando para frente.
– Você acha que ela vai entender? Eu fui um péssimo namorado nas últimas semanas.
– Eu tenho mantido ela e Lee bem informados, é claro que ela vai entender. Georgie, eles também perderam um amigo.
– Eu sei, mas... Não é a mesma coisa. Você sabe. – Olhei sua cabeleira castanha sob meu ombro.
– Não devemos desmerecer alguém por conta disso. - Sua voz era calma e lenta, como se não quisesse me ofender de alguma maneira.
– Você está certa.
– É claro que estou, e continuo achando que Angelina merece muito mais do que isso. Não estou querendo dizer que você está sendo ruim para ela, mas ela precisa de atenção. Qualquer relacionamento precisa de suporte e cuidado. - sempre tinha as palavras certas. Sempre. Às vezes era surpreendentemente irritante, pois a deixava convencida, mas a convencida acabava sendo tão amável quanto qualquer outra versão dela. E eu adorava todas as suas versões, inclusive a versão que esteve até agora comigo, sofrendo este luto terrível que nos consome de maneira inexplicável. E o pior de tudo: ela estava novamente certa.
– Vou falar com ela. Prometo. Só preciso pensar em como faço isso.
– Eu posso ir contigo, se você se sentir mais confortável.
– Não precisa. Posso fazer isso. – Respirei fundo. Seria a primeira vez que sairia realmente de casa.
– Tudo bem. Mas se você precisar de algo, estarei aqui. - aconchegou-se mais, agarrada em meu braço.
– Na verdade, eu preciso. – Falei fechando os olhos, sabendo que ela iria me encarar com os olhos castanhos preocupados, aquela ruguinha de preocupação no meio das sobrancelhas.
Conforme previ, senti ela soltar meu braço e quando abri os olhos a garota me olhava atentamente.
– Eu gostaria de trocar a cor dos meus cabelos. – Falei nervoso, enquanto olhava o céu ficar mais claro e menos rosado a cada minuto que se passava.
– Como assim?
– Ah, . Não me faça ter que explicar isso. – Respondi encabulado. – Eu só não quero mais ter que me olhar no espelho e ver... ele. É doloroso demais.
Os olhos dela se arregalaram, como se tudo fizesse sentido. Ela provavelmente estava tendo uma epifania de todos os momentos em que eu entrava no banheiro e acabava chorando sem motivos aparentes, ou de todas as vezes em que ela entrou no banheiro e viu o espelho tampado com uma toalha.
– Georgie... – Seus olhos agora brilhavam de uma maneira que eu, infelizmente, conhecia bem. – Você tem certeza?
– Tenho. Você acha que um castanho como o seu ficaria bom? Não gosto de loiro. – Respondi tentando distraí-la. Seus cabelos eram castanhos, do mesmo tom dos sapos de chocolate que comíamos no Expresso de Hogwarts todo dia 1º de setembro.
Ela fungou tentando se recompor.
– Acho que pode ser um pouco mais escuro. Se for muito claro, pode ficar avermelhado ainda.
Ela ainda me olhava desacreditada, como se eu estivesse brincando com ela ou algo do tipo, mas estávamos em um patamar onde eu nem conseguia brincar direito ainda.
– Entendi. E você sabe alguma poção que faça isso? Ou um feitiço. – Perguntei novamente caçando fiapinhos na manta, tentando não manter contato visual com ela naquele momento. Eu já sentia minha garganta embolada apenas de ver seus olhos marejados.
não merecia aquilo.
– Não sei. – Fungou. – Mas sei pintar o cabelo no estilo trouxa. Minha avó pedia para que eu pintasse seu cabelo em todas as minhas férias e feriados que eu passava com ela.
– Você acha que funciona?
– Claro! Só tem que retocar uma vez a cada um mês ou dois, depende do crescimento do seu cabelo.
– Isso parece cansativo. – Exclamei espiando-a, e notei que ela fazia trancinhas na franja da manta.
– Posso falar com a Hermione, tenho certeza de que ela sabe algum feitiço que...
– Não, vamos fazer no método trouxa. Do que precisamos?
– Precisamos ir à uma farmácia, ou um supermercado e comprar um kit para pintura de cabelo.
– Entendi. – Fingi que sabia o que eram estas coisas, não queria ficar importunando. – E você tem dinheiro de trouxa?
– Claro. Sou nascida trouxa, G.
Eu sabia daquela informação, mas gostava de compartilhá-la sempre que possível. Ela tinha um entusiasmo intrínseco de mostrar suas origens e como conhecia tão bem os dois mundos. Eu entendo perfeitamente, pois adorava enganá-la quando era mais novo, inventando qualquer coisa sobre o mundo bruxo apenas para que ela achasse que era verdade e acabasse passando por algum aperto. Fred costumava fazer isto com mais frequência do que eu, e sempre caía como uma patinha e sempre levava na esportiva. Era o que a gente mais gostava nela: sua inocência trouxa, sua curiosidade acima da média e sua risada frouxa quando descobria que havia sido enganada por nós. Às vezes eu desconfiava de que ela sabia que seria alguma pegadinha, mas fazia do mesmo jeito para conseguir nos conhecer melhor, e ela conheceu. Conheceu ao ponto de conseguir prever nossas ações antes de fazermos, era uma das garotas mais brilhantes que já conheci.
–Ficou combinado que eu iria na casa de Angelina sozinho, teria aquela conversa com ela e depois eu voltaria para irmos até a tal farmácia comprar o produto que tingiria meus cabelos permanentemente.
– Você está bem? – A voz de me despertou de um nervosismo acima da média. Respirei fundo.
– Não.
– Você não precisa fazer isso agora, Weasley. – Eu não gostava quando ela me chamava assim. Não era íntimo o suficiente.
– Eu sei. Mas tenho que fazer. Preciso sair da minha concha, encarar a realidade um pouco.
Seus olhos estavam marejados novamente, mas dessa vez era de uma felicidade genuinamente orgulhosa.
– Tem certeza? – Perguntou tentando esconder um sorrisinho, falhou.
– Sim, , eu sei que você está orgulhosa de mim. Pode sorrir. – Falei virando os olhos para cima, segurando suas mãos que estavam esticadas na minha direção, para que eu me levantasse da cama. Enquanto eu fazia isso, ela sorria feito uma bobalhona.
– Estou orgulhosa de você.
– Eu sei, mãe.
Eu gostava de como minha personalidade estava voltando aos poucos ao meu corpo, como se eu tivesse tomado um banho quente e revigorante, removendo um pouco da sujeira que me mantinha recluso.
– George? – A voz de Angelina me retirou do transe e antes mesmo de eu virar de frente para ela, a garota agarrou meu pescoço.
Envolvi seu corpo com meus braços compridos e ficamos assim por um tempo, apenas sentindo um ao outro.
Ela me fazia me sentir menos babaca, mesmo quando eu estava sendo um babaca com ela. Que tipo de namorado ficava sem dar notícias por um mês? Eu sei que tinha um motivo, que até poderia ser considerado plausível por alguns, mas depois de alguns dias pensando, não era de maneira alguma aceitável, ainda mais quando a sua namorada era uma amiga de longa data que conseguiria entender o que você está passando.
Por algum motivo por mim desconhecido, o seu abraço não me despertou aquela vontade repentina de chorar, mesmo quando ouvi seu fungar tristonho ao pé de meu ouvido.
– Como você está? – Ela perguntou quando nosso abraço se desfez e ela limpou as lágrimas com a mão.
Ela me chamou para sentar em um banco branco que havia na varanda.
– Estou bem. – Menti, era mais fácil assim. – E você?
– Estava preocupada com você. Meu Deus, George, você tem noção de como nós ficamos?
– Na verdade, não. Me desculpe por isso, Angel, eu só... Não consegui pensar em nada.
– Você não precisa se desculpar, George. – Ela disse acariciando minhas mãos, um sorriso doce nos lábios.
– Eu preciso sim. Me desculpe por ter sido tão... babaca. Não consigo pensar em outra palavra que descreva isso. Fui um babaca contigo. – Respondi correspondendo seu carinho.
– Você realmente não preci-
– Angel, eu acho que vai ser melhor para nós dois se terminarmos. – Não consegui deixá-la terminar, não quando aquilo estava entalado na minha garganta.
– O quê? – Era nítido que ela foi pega completamente de surpresa, isso era o que mais me doía, pois se ela estivesse brava por meu afastamento, esse término seria mais fácil.
– Eu não estou em um momento muito bom da minha vida. – Tentei explicar, entretanto, não saiu exatamente do jeito que eu havia planejado. – Sinto que preciso de um momento para conseguir recuperar completamente o rumo da minha vida.
– George, eu estou aqui. Sou a Angelina, lembra? Posso te ajudar a passar por isso.
– Eu sei que você pode, sei que você é tão maravilhosa a esse ponto, Angel. – Respondi olhando em seus olhos, que voltavam a ficar marejados. Por Merlin, quantos olhos marejados eu iria encarar esta semana? – Mas eu não posso mais fazer isso contigo, você não merece. Você é especial demais para isso, e no momento eu não sou o cara que vai conseguir te fazer sentir especial, não do jeito que você deve se sentir.
– Você está sendo imaturo. Eu entendo tudo que você está passando e estou disposta a encarar isso, juntos. – Vê-la daquele jeito me partia o coração. Logo eu, o cara que estava com o coração despedaçado.
– Desculpe, Angel. Mas eu já me decidi, e penso que nesse momento é a melhor escolha. Não quero te afundar nesse poço de miséria em que minha vida está agora.
– George, por favor, pensa bem. – Seus olhos agora escorriam lágrimas livremente, mas seu semblante não era triste ou bravo, era um rosto decepcionado que eu via me encarando.
– Eu já pensei, não posso mais fazer isso.
– Você tem razão. – Ela disse me encarando com o rosto franzido, tentando segurar o choro. – Você é um babaca.
Aquilo me doeu mais do que eu esperava.
– Angel, eu espero do fundo do meu coração que você entenda que isso vai ser o melhor para nós dois. Eu não posso ser a âncora que te arrasta para o fundo do poço.
– Tudo bem, George. Se você não quer ser ajudado, não tenho como mudar a sua cabeça. – Ela disse irritada, nunca havíamos brigado depois do início do namoro e eu tinha medo da Angelina brava.
– Eu espero que nossa amizade não acabe aqui. – Ainda tive a cara de pau de dizer, fazendo-a me fuzilar com os olhos ainda molhados. Ela levantou indo na direção da porta.
– Não vai acabar, sabe por quê? Porque eu sou uma ótima amiga. Mas não me procure quando se arrepender disso. Nós nunca mais vamos namorar, espero que você entenda isso.
– Eu entendo, Angel. – Falei levantando também.
– Tenha uma ótima vida, George. – Ela disse abrindo a porta.
– Me desculpe por isso. – Respondi imediatamente, antes que ela fechasse a porta na minha cara.
***
pediu para eu trocar de roupas para ir com ela ao “mundo trouxa”, alegando que meu blazer alaranjado não seria bem visto lá. Coloquei uma gola polo listrada colorida (todas as minhas roupas são coloridas demais) e ela me olhou de cima abaixo aprovando meio contrariada.
Aparatamos em um beco sem saída úmido com cheiro de mofo, saímos de lá e pegamos a avenida principal onde as pessoas andavam apressadas pela calçada.
– Estamos aonde?
– Condado de Cornwall, minha avó mora aqui.
Ela me guiou até uma loja grande de esquina, branca e clara demais em minha opinião, entramos e ela seguiu até um corredor como se conhecesse o local com bastante maestria.
O ambiente tinha tantos itens nas prateleiras que fiquei confuso, e ela tinha razão em não me deixar usar minhas roupas usuais, eu já chamava atenção o suficiente por estar com a cara abatida de quem acabou de dar um beijo em um dementador, não ter uma orelha bem definida e ter quase dois metros de altura. Não precisava de roupas coloridas espalhafatosas para completar o look de esquisitão do mundo trouxa.
, por outro lado, se misturava como um deles usando uma calça jeans e uma blusa preta básica, tinha a altura de uma mulher normal, e por mais que tivesse o rosto abatido, não era nada comparado a mim.
Ela selecionou algumas caixas em suas mãos, havia uma mulher em cada caixa, cada uma delas com uma cor diferente nos cabelos, todas eram castanhas em suas mãos, na prateleira ainda haviam algumas cores diferentes, preto, louro e até vermelho.
– Qual dessas? – Me mostrou as opções que segurava. A diferença era mínima, eu não saberia dizer qual seria a melhor opção.
– É tudo marrom. – Eu disse arqueando as sobrancelhas.
– Eu sei. – Ela deu uma risadinha pelo nariz. Analisou a caixa, colocou ao lado do meu rosto. Pensou. E por fim escolheu uma.
– Qual o veredito? – Perguntei.
– Essa. – Disse me mostrando a caixa do meio. – Não é muito escuro. Seu cabelo é claro, a cor pode pigmentar demais e ficar parecendo preto.
– Não tenho problemas com preto.
– Eu sei que não. Mas você tem olhos bonitos, o preto pode escurecer demais o seu contraste. – Ela explicou séria, e eu a olhei em tom de dúvida. – Seus olhos podem mudar de cor, e não quero que isto aconteça.
– Entendi. – Eu ainda não tinha conseguido ler o suficiente para saber se ela estava feliz com minha decisão de mudança ou não, por um lado penso que faria sentido ela gostar, pois com certeza ela via Fred em mim também. Por outro lado, tenho medo de que ela perca sua lembrança de Fred, porque eu estou sendo egoísta em mudar meu visual apenas para não ver meu irmão morto no espelho.
– Essa é muito clara. – Ela continuou. – Tenho medo que depois de pegar um pouco de sol, volte a ficar ruivo. – Devolveu as duas caixas na prateleira.
– Então sobra essa. – Falei pegando a caixa da sua mão. – Castanho médio.
– Acho que vai servir. – Ela disse por fim, esperando minha reação. Fiz um formato de sorriso nos lábios e concordei com a cabeça.
Ela pegou mais alguns itens enquanto passávamos pelos corredores e seguimos para a fila do caixa.
– ! – O moço do caixa disse empolgado o suficiente para se engasgar com a própria saliva, ele devia ter a nossa idade e usava um jaleco branco, como se já não houvesse branco o suficiente naquela loja.
– Oi, Pete. – disse não tão entusiasmada, mas ele não pareceu se abalar.
– Nunca mais te vi por aqui. Voltou ao internato? – Perguntou ele, enquanto separava os itens que ela havia colocado sobre o balcão.
– Não, na verdade estou aqui com um amigo. - Ela disse, segurando a manga da minha camisa. Ele me olhou de cima a baixo, analisando minhas feições cansadas antes de continuar:
– Amigo, é? Sua avó comentou que você terminou o namoro faz um mês. Ela esteve aqui ontem. Aquilo era ciúmes que eu via em Pete? nunca havia mencionado algum Pete para mim antes, tenho certeza de que se ele fosse realmente importante, eu reconheceria o nome.
A inconveniência de Pete me deu nos nervos. Mesmo que tivesse realmente terminado o namoro ou não, o que importava para ele? O respeito passou voando pela janela em uma porra de Firebolt.
– Sim, George é um grande amigo meu, e está me ajudando com toda essa coisa chata de término. - continuava com a mão agarrada na manga da minha camisa, como se aquela conversa fosse completamente inconveniente para ela também. É claro que era, tenho certeza que até quem estava atrás de nós na fila também estava sentindo a situação esquisita em que Pete nos colocou.
– George, huh? Vejo que superou o término com facilidade. - Disse Pete, e eu estiquei a mão até ele, que apertou sem vontade alguma.
– É um prazer te conhecer, Pete. - Falei falsamente simpático. - Escuta só, de onde você vem é comum ficar se intrometendo em assuntos pessoais dos seus clientes?
A garota atrás de mim na fila segurou uma risada. O único som além desse era o apito que a máquina em sua frente fazia cada vez que ele colocava um produto sobre um feixe de luz vermelho. Pete desviou o olhar de nós sem graça, terminou de embalar os produtos em uma sacola de papel e esticou para que pegasse, mas o fiz antes que ela apenas para irritá-lo.
Quando estávamos na calçada, ouvimos passos apressados e Pete veio até nós.
– Olha sou, , me desculpa. Não quis ser indelicado com toda essa situação chata. Você está afim de tomar um café comigo qualquer dia desses?
– Eu fico lisonjeada pelo convite, Pete, mas vou ter que recusar. - foi direta.
– Por quê? - Não havia nada no mundo que pudesse abalar a autoestima desse garoto, não era possível.
– Porque não tenho cabeça para isso agora. - Ela disse sem cerimônias.
– Ah, sim... Entendi. – Pete levantou o olhar para mim. – Já está namorando com ele, não é?
– Pete. Eu literalmente acabei de perder alguém importante na minha vida e não estou com cabeça para sair com ninguém. Eu só quero ir para o meu quarto e chorar a noite inteira, entende? – Ela disse, cada uma de suas palavras carregava um traço nítido de exaustão. – E George não é meu namorado, e se ele fosse, o que isso iria impactar na sua vida?
Minha amiga sabia se defender sozinha, tanto de praticantes de bullying, quanto de inimigos mortais e a prova disso foi ela ter sobrevivido a batalha de Hogwarts e ainda proteger vários alunos menores de idade, mas o principal era que sabia escolher as palavras certas a qualquer momento, inclusive quando queria se livrar de um cara escroto.
Vi o semblante de Pete murchar diante de meus olhos, me olhou de cima a baixo novamente, ele era consideravelmente mais baixo do que eu, e se deu por vencido dizendo:
– Tudo bem, deixa para a próxima. – Não haveria próxima, tenho certeza disso.
Seguimos para o beco com cheiro de mofo novamente e aparatamos de volta à Toca.
– Então, tem algo que eu precise saber desse Pete? – Perguntei sentado em uma cadeira velha que trouxemos ao meu quarto, enquanto ela arrumava tudo para iniciar o processo de tingimento do meu cabelo.
pegou um pente de madeira com dentes muito largos e passou por meus cabelos, fazendo-me fechar os olhos relaxado, o pente era seu, já havia visto ela pentear os cabelos molhados com ele.
– Fiquei com ele em um verão. – admitiu. – Foram só uns beijinhos bobos, eu devia ter uns 15 anos na época.
– Aaaaah, está explicado! Você enfeitiçou o pobre garoto. – Dei uma risadinha marota e ela deu um tapinha no meu ombro.
– Não foi nada demais para mim, mas depois daquilo ele não pode me ver que age assim, como se tivesse algum tipo de propriedade sobre mim. Como se eu tivesse que me explicar cada vez que estou namorando alguém.
– Fred chegou a conhecê-lo? – Perguntei ainda de olhos fechados, com a cabeça apoiada no encosto da cadeira. Fred havia ido conhecer a avó de durante nosso primeiro ano da inauguração da loja, imaginei que talvez ele pudesse ter tido a péssima experiência de ter conhecido Pete. Na verdade, já conhecíamos a avó de , nos encontramos algumas vezes na Estação King’s Cross e nas vezes que vínhamos buscá-la com papai para passar as férias conosco, porém, nessa ocasião, ele a “conheceu” como um namorado e não como amigo pentelho.
– Não. Ainda bem, provavelmente ele tiraria sarro de mim pelo ano seguinte inteiro. – Ela disse, dando uma risadinha. – G, se ajeite na cadeira, vou começar.
Abri os olhos, sentei ereto e ela passou um plástico em volta do meu pescoço, que parecia ser para proteger minha roupa de possíveis respingos. Abaixou-se levemente em minha frente.
– Tem certeza disso, George? Depois que eu começar, não tem volta.
– Tenho. – Respondi e logo continuei nosso assunto sobre Pete: - Bom, não dá para negar que ele gosta de você, afinal, ele deve ter perguntado de ti para sua avó.
– Ah, ainda estamos falando dele? – Perguntou ela divertida.
– É claro, como vou poder zoar você mais tarde?
Ela iniciou o processo de colocar a tinta com uma bisnaga em meu cabelo e espalhar com um pincel, a tinta tinha um odor terrível de alguma poção que deu muito errado, mas como ela não fez observações, eu apenas confiei em seu processo.
Ficamos em silêncio a maioria do tempo, apenas o barulho do pincel molhando meu cabelo e da luva de plástico em sua mão participando da nossa trilha sonora.
– Se importa se eu ligar o rádio? – Ela perguntou em certo ponto do nosso silêncio e eu dei de ombros. Ela foi até o rádio que tínhamos no quarto para ouvir os anúncios dados em códigos durante a guerra silenciosa. Ela obviamente colocou em uma estação trouxa, sempre preferiu as músicas trouxas, que falavam sobre amor, desilusão, sexo e drogas, dizia que lembravam o seu pai, por mais que não tivesse memórias vívidas dele.
Uma música baixinha adentrou o ambiente e eu notei seu semblante mudar quando voltou até mim, ela começou a cantarolar baixinho junto com a mulher que cantava a música que eu não conhecia:
– And so I cry sometimes, when I'm lying in bed just to get it all out, what's in my head. And I, I am feeling, a little peculiar. (E eu choro algumas vezes, quando estou deitada na cama apenas para tirar tudo que está em minha cabeça. E eu, eu estou me sentindo um pouco peculiar).
Aquilo me pegou desprevenido, não esperava aquelas palavras saindo de uma música que estava ali com a sua única função de distrair nossas mentes enquanto ela colocava um produto fedorento em meus cabelos vermelhos. Me vi imediatamente caindo em um poço sem um fundo aparente: eu sabia que estava triste com a morte de Fred, sabia que ela o amava e que eles estavam em um estágio feliz do relacionamento deles. Fred nunca mencionou um possível casamento (eu era um grande entusiasta desta ideia), até porque estávamos em um momento muito importante de nossas carreiras profissionais, e eu não falava apenas de mim ou dele, e sim de também. Ela havia comentado conosco um interesse particular de Professora McGonagall em querer contratá-la como professora de Poções quando Slughorn se aposentasse. Lembro que achamos aquilo incrível quando ela nos contou pela primeira vez, sabíamos da sua capacidade em reproduzir poções com maestria na escola, onde, mesmo com um professor altamente duvidoso como Snape, e principalmente o fato dela ser da Grifinória e ser nossa amiga e cúmplice, Snape odiava todas estas opções, ela sempre se saía bem nas aulas, e foi ela quem fez a nossa primeira leva de Amortencia para nossa loja até então portátil. seria uma ótima professora. Eu tinha uma certeza absoluta sobre aquilo. Porém, para que isso acontecesse, ela precisava desgarrar-se de mim, eu sabia que estávamos ambos em um momento em que precisávamos um do outro, sei que não teria conseguido fazer nada do que fiz hoje sem sua ajuda durante este mês inteiro... Mas vê-la aqui, desperdiçando o início dos seus 20 anos comigo trancada em um quarto me machucava mais do que eu queria admitir.
– And so I wake in the morning and I step outside and I take deep breath, and I get real high and I scream from the top of my lungs: What's going on? (E então eu acordo pela manhã e vou lá para fora e eu respiro fundo e eu fico muito chapada, e grito o mais alto possível: O que está acontecendo?). – Cantarolou ela, me retirando do transe. – Prontinho, Georgie.
Ela veio para a minha frente com um paninho molhado e retirou o excesso de tinta que havia escorrido em minha testa e em minha orelha debilitada, seus olhos correram pelo meu rosto e ela riu abertamente.
– O que foi?
– Vamos ter que pintar suas sobrancelhas, vai ficar muito esquisito se suas sobrancelhas continuarem ruivas. – Ela disse dando outra risada gostosa, acabei rindo junto, era a primeira vez que eu ria de verdade e sem motivo aparente, a música embalando nossa esquisitice enquanto ela passava o restinho de tinta em minhas sobrancelhas. tinha o costume estranho de simplesmente olhar em nossa cara e dar risada, era como se fôssemos cômicos aos seus olhos a todo momento, não posso contar nos dedos quantas vezes ela fez isso comigo: me encarar por minutos consecutivos e no fim dar uma risada gostosa e frouxa. E foi apenas uma vez em que perguntei o motivo dela fazer isso e a resposta ser “Você e seu irmão têm uma áurea engraçada, é um timing cômico perfeito”, lembro que no dia respondi “E você tem certeza que não acha a nossa cara engraçada?”, e ela respondeu ainda com uma risadinha nos lábios “Não, a cara de vocês é bonita”.
Nunca vou esquecer esse diálogo, já que foi a primeira vez que uma garota disse que eu era bonito; eu tinha 14 anos e ainda não tinha experimentado a minha popularidade como um cara bonito, apenas sendo o “cara engraçado”, e aquilo foi importante em minha cabeça de pré-adolescente na época. E, tão importante quanto isso, foi saber que confiava em mim o suficiente para falar aquilo e ter certeza absoluta de que eu não usaria contra ela em nenhum momento, eu nunca usei simplesmente porque gostei de saber que ela me achava bonito, e aquilo se concretizou quando ela e Fred iniciaram um relacionamento, afinal, se ela me achava bonito, ela tinha que automaticamente achá-lo também.
30 minutos depois, saí do banho e me olhei pela primeira vez no espelho.
Meu coração deu um baque descompassado e meus olhos encheram-se de lágrimas, não eram lágrimas de arrependimento, pois um cara completamente diferente me olhava pelo reflexo. Não era meu irmão gêmeo morto.
Suspirei aliviado notando que havia sido incrível com sua habilidade em pintar cabelos no método trouxa e, novamente, estava certa quanto à cor dos meus olhos que antes tinham um tom verde no centro próximo das írises que iam aos poucos ramificando para um castanho muito claro, agora estavam completamente castanhos, o verde sendo extinguido pelo meu semblante mais escuro. Toquei meus cabelos, uma, duas, três vezes, ainda desacreditado que havia demorado tanto tempo para pedir aquilo a ela. Sentia-me aliviado, como se um peso absurdamente doloroso tivesse saído de meus ombros, um ponto de autoestima subiu dentro de mim e eu sabia que iria querer continuar com aquele cabelo por um bom tempo.
Uma página havia sido virada.
Esgueirei-me pelos corredores até meu quarto, não queria que ninguém me visse daquele jeito, não sem junto para me dar o suporte que eu precisava.
– Então, o que achou? – Perguntei abrindo os braços em expectativa. Vi os seus olhos brilharem molhados novamente, e em seguida o seu sorriso abriu-se com uma alegria contagiante.
– Nossa, ficou ótimo! – Ela correu em minha direção e me abraçou com força, foi nesse momento que eu percebi que ela estava aliviada de não ter que ver Fred em mim também.
– Eu percebi esse tom de surpresa. Tinha alguma porcentagem de você que não acreditava que ficaria bom? – Retribuí seu abraço.
– Ah, só uns setenta e cinco por cento – Ela soltou uma de suas risadas divertidas. – Mas os vinte e cinco por cento restantes estavam bem confiantes!
– Você não vale nada. – Não consegui resistir e dei uma risada também.
Retribuí seu abraço sabendo que aquela garota em meus braços, com seu sorriso contagiante e seu cheiro particular de baunilha, era a melhor coisa que já havia acontecido em minha vida e na do meu irmão também.
– Vai ser uma situação delicada. Minha família tem cabelos ruivos há tantas gerações que não sei como vão reagir. – Eu disse incerto sobre descermos para o jantar.
– Eles vão entender. – disse com calma, ela finalizava uma carta em nossa escrivaninha, sua coruja com o rosto em formato de coração a aguardava sob o batente da janela.
– Eu sei que vão entender, são a minha família, mas isso não me deixa menos nervoso.
– George, você é maior de idade, pode raspar os cabelos, fazer tatuagens ou pintar os cabelos sem levar um cascudo de sua mãe. Deixa de ser bobo.
– Eu sei, eu sei.
– E outra coisa, cabelos ruivos há gerações? – Ela repetiu. – Nenhum Weasley casou com alguém com outra cor de cabelo?
– Bom, sim, mas o gene ruivo deve ser bem forte. Não sei explicar, acho que é o caso da Gina com o Harry, ele tem cabelo escuro, mas se não me engano a sua mãe era ruiva... Se eles tiverem um filho, tem muita chance de vir alguns ruivinhos.
– Isso é bizarro. – Ela disse, em um tom divertido. – Será que se eu tivesse um filho com Fred, ou você com Angelina, o gene seria tão forte assim?
Ela se referia ao fato das duas serem negras.
Eu nunca nem havia pensado nesse assunto, nunca me importou a cor da pele ou de cabelo de nenhuma delas, Angelina era linda, alta, uma ótima atacante no quadribol e uma pessoa incrível, acho que foi por isso que me apaixonei por ela, nunca me preocupei com os genes ruivos dos Weasley, era até um absurdo pensar naquilo. E , bom, ela era a , eu não precisava explicar os motivos dela ser minha melhor amiga, ela simplesmente era, e não era a cor dos seus cabelos ou da sua pele que faziam aquilo acontecer. E por um momento aquilo me acendeu uma luz de alerta por dentro:
– ... – Chamei sua atenção e ela tirou os olhos de sua carta para me olhar. – Tem algum motivo para você estar preocupada com os genes dos Weasley’s?
O silêncio se instalou entre nós por um segundo que pareceu uma eternidade.
– . Olha pra mim. – Pedi quando a vi desviar os olhos, seus olhos voltaram a me encarar brilhando marejados. Me aproximei dela, sentindo meu coração apertar e minha garganta embolar novamente. – Porra, , você ia esconder isso de mim?
– Eu não tenho certeza nenhuma, não queria te preocupar com isso também. – Ela disse voltando toda a sua atenção para a pena em suas mãos. – Comprei um teste na farmácia, pensei em fazer de madrugada.
– Você só pode estar de brincadeira comigo! – Respondi tão exasperado que o nó em minha garganta pareceu apertar. – , você não precisa passar por isso sozinha. Por Merlin, não depois de tudo que você fez por mim.
– Eu sei que não, eu só não queria que você se incomodasse com algo que não é certo.
– E desde quando algo que você faça é um incomodo para mim? Geralmente é ao contrário e eu nunca vi você reclamar!
Eu estava agachado em sua frente, retirei a pena de suas mãos antes que a tinta fizesse sujeira e apertei suas mãos do mesmo jeito que ela havia feito comigo tantas vezes.
– Eu estou aqui e não vou a lugar nenhum.
Ela sorriu, suas bochechas apertaram seus olhos e as lágrimas correram por elas.
– Eu estou aqui, igual um idiota, reclamando do que meus pais vão achar da merda do meu cabelo e você tá tendo uma crise existencial por uma possível gravidez do meu falecido irmão! Se isso não é egoísmo, eu não sei o que é.
– Nós dois estamos fodidos Georgie, um não anula o outro. – Ela disse fungando.
– Eu sei que não, mas não faça mais isso comigo. Estamos na mesma merda de barco. Você não precisa velejar sozinha. – Eu disse e ela me encarou durante alguns segundos e caiu na risada.
– Que bosta de metáfora! – Exclamou ela sem ar, ainda dando risadas altas.
– Você é uma idiota. – Respondi me juntando a ela nas risadas.
Durante o jantar, ninguém ousou falar uma palavra, mas eu sentia os olhares queimando sobre mim, posso jurar que até ouvi um soluço assustado de minha mãe quando ela me viu pela primeira vez, e os pratos só não caíram no chão porque Harry foi rápido o suficiente com sua varinha.
Todos jantaram incomodados, e eu até senti a mão de acariciando minhas costas em um certo momento, enquanto eu terminava meu prato e ela já havia terminado o seu.
– Ficou bom, George. – Ouvi a voz de Gina dizer, tão incerta e trêmula que achei que ela nem iria conseguir dizer meu nome inteiro.
Eu a encarei por um segundo, com o garfo no meio do caminho até a boca.
– Obrigado. – Falei e enfiei a comida em minha boca. Senti apertar minhas costelas, como quem dizia “fala mais alguma coisa”. Terminei de mastigar e engoli o bolo de comida com dificuldade. – Eu... Precisava fazer isso.
– Ficou lindo, meu amor. – Minha mãe disse, dando-me um sorriso que era difícil ela dar à nós. Normalmente eram caras zangadas, e com razão.
– Obrigado, mãe. – Era perceptível que aquela era a conversa mais longa que eu havia tido com todos eles depois do incidente, todos estavam orgulhosos. Não havia nenhum olhar de julgamento, apenas olhares caridosos de uma compaixão que eu achava um pouco irritante, mas não queria demonstrar isso. A mão de continuava em minhas costas, me aquecendo mesmo que ela não percebesse.
– Estava me incomodando um pouco o fato de eu me olhar no espelho e... – Não precisei terminar a frase. Todo mundo automaticamente ficou inquieto e eu percebi que não tinha necessidade de falar aquilo. Então finalizei com: - Não se preocupe, Ron, você continua sendo o irmão mais feio.
As risadas quebraram o gelo, e Rony ficou com as orelhas vermelhas, mesmo que estivesse sorrindo.
– Estamos felizes por você, Georgie. – finalizou aquele assunto piscando para mim e bagunçando meus cabelos. Todos concordaram com a cabeça.
Mais tarde naquela noite, enquanto eu e esperávamos minutos infinitos pelo seu teste de gravidez mostrar a resposta definitiva, eu a abraçava pelos ombros sobre a minha cama enquanto ela encarava o teste com as pernas cruzadas.
– Foi por isso que o seu ex ficou me encarando estranho! – Exclamei do nada, enquanto minha cabeça voava pelo momento em que estávamos na loja comprando os utensílios necessários para pintar meus cabelos. – Você simplesmente jogou um teste de gravidez trouxa na cara dele!
– Sim. – Ela riu sem muita graça. – Ele não é meu ex. – Replicou irritada.
– É claro que é. – Tentei brincar, tentando de alguma maneira tirar todo aquele peso de seus ombros. Eu nem conseguia digerir de verdade o fato de que podia estar realmente grávida de Fred, aquilo não entrava em minha cabeça, não agora que ele não estava aqui conosco, sem que eu pudesse tirar sarro do fato dele virar pai. Pai! Porra, aquele era o pior momento do mundo para tentar fazer piada. Me arrependi imediatamente de ter insistido naquela brincadeira sem graça sobre Pete, porém senti o cotovelo dela batendo em minhas costelas, e uma risada nasalar vindo logo em seguida.
– Eu nunca devia ter te contado sobre isso. – Ela suspirou divertida e percebi que minha piadinha infame havia tido o efeito que eu queria que tivesse.
– Não mesmo. – Falei ao mesmo tempo em que o despertador tocou em minha mão. Eu o segurava com tanta força que os nós do meu dedo haviam perdido a cor, apertei o botão entre os dois sinos e a garota ao meu lado suspirou audivelmente antes de virar o rosto para mim.
– Eu tô aqui. – Falei, apertando seus ombros em meu braço com força.
Ela virou o teste, de modo que o lado com o resultado fosse visto por ambos. Eu não fazia ideia de como se lia o resultado, então esperei por sua reação. Na verdade, eu não sabia se queria aquela gravidez, como uma pequena lembrança permanente de meu irmão, ou se ela não queria aquilo por conta da sua idade, a falta de um pai ou de simplesmente não desejar uma gravidez. Eu não a conhecia como ela me conhecia, e aquilo me doía um pouco, eu não conseguia prever suas reações do mesmo jeito que ela conseguia prever a maioria das minhas.
– Deu negativo. – Ela disse sem emoção. Seu rosto virou-se para mim e não consegui ler sua expressão. – Deu negativo. – Repetiu e dessa vez eu senti a pontada de tristeza em sua voz.
queria a gravidez.
Porra, aquilo me machucou demais.
Tirei o teste de suas mãos e joguei em algum canto, e puxei-a para meu colo. Dessa vez eu tinha que ser o elo forte da nossa amizade, ela contornou seus braços em meu pescoço e chorou.
Eu sentia seu peito tremer sobre o meu com a força de seus soluços, meus braços estavam em volta do seu tronco e minha mão estava pousada na parte de trás da sua cabeça. Eu tentava com todas as minhas forças não chorar com ela, e me concentrava em manter minha respiração calma para que ela se acalmasse junto. A sensação de impotência era tão grande que eu não conseguia pensar em mais nada a não ser: Ela está triste porque queria ter o filho de um pai morto apenas para conseguir se sentir conectada ao Fred de alguma maneira, ela agarrou-se com tanta força nesse fio invisível de esperança que quando o fio foi cortado, havia despencado em um abismo de tristeza que eu não fazia ideia de como tirá-la agora, pensei durante vários minutos, tentando encontrar as palavras certas para dizer naquele momento, para ela era tão fácil juntar um monte de palavras que resultavam em algo bom para mim, que quando eu tinha que fazer o mesmo, me sentia uma bola gigante de bosta.
– . – Falei, e pigarreei. – Eu sei que não parece, mas... Essa foi a melhor opção.
Senti seu peito parar de tremer por um segundo e ela fungou.
– Você sempre vai estar conectada ao Fred. Sempre. Não importa quanto tempo passe. – Continuei, acariciei suas costas com minha mão livre.
– Eu... Só queria... Não sei, pensei que... – Ela não sabia como explicar aquilo, mas eu sabia exatamente o que ela sentia.
– Não precisa se explicar para mim. Eu sei.
provavelmente estava pensando naquilo há pelo menos uma semana. Sua cabeça provavelmente havia dado voltas e mais voltas diante daquela situação, era óbvio que ela havia imaginado mil e um cenários e tinha se agarrado com mais força no cenário em que tinha um bebê dele. Sua decepção era aceitável e completamente compreensível, eu, em seu lugar, teria me agarrado na mesma opção, mesmo que aquilo dificultasse minha vida em maneiras inimagináveis.
E foi assim que terminamos aquele dia, agarrados um no outro, com tantos sentimentos misturados e tantas lágrimas derramadas que era fácil dizer que estávamos realmente quebrados.
Tantas coisas aconteceram naquele mesmo dia que o meu término com Angelina parecia, pelo menos, há uma semana de distância, e aparentava ser tão pequeno e insignificante enquanto eu abraçava aquela criatura chorosa em meu colo que nada no mundo me faria largá-la.
Fim do ponto de vista
Flashback – 05 de março de 1990 – Sala Comunal da Grifinória
– O que vocês dois estão mexendo aí com tanto segredo? – Me aproximei de Fred e George, que estavam em um canto realmente afastado, debatendo com um velho pergaminho em mãos. Mal terminei a pergunta e vi Fred retirando o pergaminho das mãos do irmão e escondendo sob as vestes.
– Infelizmente não é da sua conta, . – Ele retrucou, grosseiro como sempre. Por sorte eu já sabia como eles eram e apenas dei de ombros virando os olhos para cima.
– Vê se cresce, Weasley. – Respondi sentando na frente deles, deixando bem claro que não ia me afastar por conta de uma grosseria do ruivo. Há esta altura, eles já deviam ter entendido que eu não largaria do pé deles.
–George suspirou e olhou para o irmão, levantando as sobrancelhas, e os dois conversaram com os olhos por alguns segundos, cogitando se iriam me incluir no assunto ou não, enquanto eu os observava pensando o quão era estranho o fato deles se entenderem sem ao menos abrirem a boca.
– Ok. – Fred suspirou vencido. – Encontramos este pergaminho na sala do Filtch.
– Ainda não temos certeza do que é, mas definitivamente é algo interessante. Estava bem guardado e identificado como “Confiscado e altamente perigoso”. – George concluiu, e esticou a mão ao irmão para que lhe entregar o pergaminho.
Interceptei o pergaminho no meio do caminho entre as mãos dos dois.
– E vocês não sabem o que faz, é isso? – Perguntei analisando o papel surrado com as dobras finas de tanto ser aberto e fechado.
– É. – Os dois falaram juntos e explodi em risadas, por tamanha burrice dos dois.
– O que, em nome de Merlin, vocês estão fazendo com um pedaço de pergaminho sujo e surrado nas mãos se nem sabem o que faz? E ainda estavam de segredinhos para mim! – Eu ria alto, trazendo um pouco de atenção à nós e eles pediram para que eu fizesse menos barulho, virei os olhos novamente teimosa.
Retirei a varinha de corniso de minhas vestes e apontei para o pergaminho sussurrando:
– Revele-me seus segredos. – Me lembrava de ler algo na biblioteca sobre pergaminhos encantados, eu passava mais tempo na biblioteca do que gostaria de admitir, era apavorante ser uma nascida trouxa no meio de tantos bruxos e bruxas puros-sangues, e ir à biblioteca fazia parte do meu dever semanal, de minha meta mental, para me manter atualizada sobre assuntos bruxos que havia perdido durante seus onze anos de vida como uma nascida trouxa. Também para evitar de cair em qualquer pegadinha infame que os gêmeos ou Lee gostavam de pregar em mim, por ser tão ingênua e não conhecer o suficiente sobre o mundo deles.
O pergaminho em minha mão mostrou uma frase que li em voz baixa.
– O Sr. Aluado pede para que pessoas que não tenham habilidade para tamanho esplendor não tentem fuxicar onde não são chamadas.
– O quê?! – George exclamou e pulou para o meu lado, e continuei lendo:
– O Sr. Pontas gostaria de acrescentar que este pergaminho não deve ser lido por pessoas de boa índole.
Minha cabeça girou por um momento, tentando lembrar de tudo que já tinha lido sobre o assunto e lembrei de um livro bem específico chamado “Pequenos objetos e encantamentos”, levantei em um salto, assustando os gêmeos que me seguiram. Pus a varinha e o pergaminho entre as vestes e corri até a porta do retrato da Mulher-Gorda. Eu tinha certeza que li algo parecido com aquilo, lembrava até a sessão onde o livro se encontrava.
– Ei, onde você está indo? – Um dos gêmeos perguntou, eu não soube distinguir qual, ainda não tinha convivência o suficiente com eles para diferenciá-los sem olhar, mas era outra meta que já tinha colocado em minha cabeça.
– Biblioteca, acho que li algo sobre isso semana passada enquanto estudava.
Já na biblioteca, recuperando o fôlego, cada um de nós procurava em um andar na seção de livros que indiquei. George encontrou o livro correto e folheei por alguns minutos.
– Aqui! – Falei mais alto do que devia e recebi um olhar de Madame Pince, e cada um dos gêmeos pôs a cabeça ao lado da minha, lendo o parágrafo que eu apontava. – Pergaminhos, penas e livros encantados: Comumente utilizado por adolescentes como forma de pregar peças, um pergaminho pode ser enfeitiçado para que apenas pessoas com as palavras secretas possam ler, as palavras podem ser das mais variadas e usualmente utiliza-se um juramento solene sendo que ao ser quebrado, o objeto enfeitiçado possa ser novamente apagado impossibilitando o bruxo de continuar a ler.
– Um juramento? – Fred perguntou confuso.
Continuei lendo concentrada, enquanto Fred e George murmuravam mais afastados coisas que só eles entendiam.
– Só temos que descobrir como mostrar o que ele esconde... – George murmurou.
– Depois talvez os próprios criadores consigam responder como apagar, talvez dê para perguntar... – Fred pensou alto.
Enquanto eles debatiam, tirei o pergaminho das vestes e olhei as respostas que os Srs. Aluado, Pontas, Rabicho e Almofadinhas haviam me dado quando pedi que revelassem seus segredos. Talvez cada resposta que eles dessem fosse um insulto e uma dica. Era divertido, quase como se eu estivesse tentando desvendar alguma brincadeira idiota dos gêmeos e Lee.
– Eu juro solenemente que não vou mostrar a ninguém. – Sussurrei ao pergaminho, tocando levemente a ponta da varinha no mesmo, que devolveu mais respostas de seus criadores, as ofensas eram divertidas a ponto de me fazer segurar a risada.
– Eu juro solenemente que não pretendo ajudar ninguém. – Disse novamente esperançosa, e isso chamou a atenção dos gêmeos que se aproximaram.
– Eu juro solenemente que tenho más intenções. – Tentei novamente, lembrando que Sr. Pontas disse que o pergaminho não devia ser lido por pessoas de boa índole, as respostas continuavam me divertindo, era quase como um livrinho de piadas que minha avó tinha guardado na gaveta do criado-mudo.
– Eu juro solenemente que não vou fazer nada de bom. – Senti minha varinha praticamente dar o toque sozinha no pergaminho que começou a se colorir sozinho, formando desenhos de corredores e paredes lentamente.
Lembrei imediatamente de Sr. Olivaras dizendo que uma varinha de corniso é excêntrica e travessa, adora brincadeiras e gosta de parceiros que procurem diversão. Aquilo me abraçou por inteiro, pois eu sabia que se aquela varinha com núcleo de pelo de unicórnio havia me escolhido, estava aí o motivo, ela queria diversão e eu sabia que podia proporcionar aquilo.
– Por Merlin, ! Você conseguiu! – Fred disse abrindo um sorriso sincero, os olhos arregalados enquanto o pergaminho mostrava a frase:
“Os Srs. Aluado, Rabicho, Almofadinha e Pontas,
fornecedores de recursos para feiticeiros malfeitores, têm a honra de apresentar:
MAPA DO MAROTO”
Nós comemoramos tanto, mas tanto, que nós três recebemos detenção e menos cinco pontos (cada) para a Grifinória pela bagunça que fizemos na biblioteca.
Voltamos para a Sala Comunal analisando o mapa, olhando cada dobra e abrindo cada espacinho para entender como ele funcionava. Em menos de cinco minutos, descobrimos como o apagava, que era com a frase “Malfeito, feito”, e depois desse dia, percebi que nada naquela amizade podia separar o que havíamos construído, exploramos cada saída não oficial do castelo, descobrimos o que cada professor fazia após o horário das aulas, e nem mesmo o Diretor Dumbledore podia se escapar de tamanha façanha, já que sabíamos que ele ficava quase o dia inteiro andando de um lado para o outro em seu escritório.
Não era exagero dizer que eu, Fred e George nos tornamos inigualáveis após nos apoderarmos do Mapa do Maroto e durante todas as vezes em que saímos juntos para explorar o castelo, mais certeza eu tinha de que aquela amizade duraria mais do que apenas na escola.
Fim do flashback
Nota da Autora: Trauma emocional atualizado com sucesso. Essa fic está me deixando doida, me pego pensando nela mais do que gostaria e as vezes me pergunto o motivo de ter demorado tanto para escrevê-la. Espero do fundo do meu coração que vocês estejam gostando tanto quanto eu estou gostando de escrever! E se tiverem um tempinho, deixem um comentário, adoraria saber o que estão achando desse surto nostálgico.
Capítulo 3
Hogwarts - 16 de outubro de 1998
Ponto de vista:
Após alguns meses da batalha mais sangrenta que Hogwarts já viu, as coisas estavam finalmente andando para frente. Professora McGonagall virara oficialmente diretora da escola, tivemos uma conversa muito franca sobre meu futuro lá dentro: neste primeiro ano letivo eu seria assistente do Professor Slughorn, o ajudaria com o planejamento das aulas, com a correção das atividades escritas e conferências de poções durante provas práticas. E, se tudo ocorresse dentro do planejamento, no fim do ano letivo, Slughorn estaria se aposentando e o cargo de Professora de Poções seria meu, definitivamente.
McGonagall depositou uma fé cega em mim, que me fazia tremer na base com medo de não alcançar suas expectativas, mas eu tinha certeza de que ela me ajudaria no que fosse preciso.
Outra professora que estava com a sua aposentadoria em andamento era Sra. Sprout de Herbologia. Confesso que Herbologia sempre foi o meu forte, sempre foi algo do qual me identifiquei de primeira e gostava de fato assim que pus meus pés em Hogwarts, o primeiro motivo era que a matéria me lembrava meus pais, e tenho certeza de que herdei essa boa convivência com plantas deles, minha mãe era florista e tinha uma floricultura no centro do condado onde morávamos e meu pai era botânico, trabalhava em um pátio de agricultura experimental, fazendo cruzamento de plantas e estudando novas espécies. A Herbologia estava no meu sangue, e minha boa inclinação com Poções também estava relacionada isto.
Quem ficaria este ano ajudando Professora Sprout era Neville Longbottom, por este motivo não fiquei com a vaga de Herbologia; a Diretora McGonagall sabia que eu tinha noção, experiência e competência para dar aulas de Poções e Herbologia, porém Longbotton só tinha experiência com a segunda opção.
Neville e eu viramos grandes amigos durante nossos anos como alunos em Hogwarts, eu me sentia responsável por aquele garoto desastrado e esquecido que vivia levando bronca de qualquer pessoa que fosse um pouco mais ligeira do que ele, e por isso, acabei tendo uma relação fraternal por ele, um ímpeto de irmã mais velha gritando dentro de mim a todo instante. Eu o protegia sempre que podia, fosse de uma bomba de bosta de Fred e George ou de um xingamento de Draco Malfoy, Nev sempre teve um lugarzinho especial dentro de meu coração. Creio que o fato de termos a criação por parte de nossas avós possa ter feito com que eu me apegasse mais a ele do que eu realmente gostaria de admitir.
Eu gostava de trabalhar em Hogwarts, todo canto me fazia lembrar de alguma situação boa, de início, achei que seria como visitar um cemitério, com uma áurea pesada e densa de memórias póstumas, mas me enganei redondamente, eu vivia rodeada de alunos divertidos e barulhentos que me desligavam completamente de minha memória traiçoeira que queria me derrubar a todo custo, eu via ex-companheiros de Casa como Gina, Colin e até Hermione (que volta e meia estava lá para finalizar seus estudos), conversava com professores que eram sempre muito atenciosos comigo, visitava a cabana de Hagrid com frequência e continuava importunando Argo Filtch que, por incrível que pareça, agora adorava me ver pelos corredores como uma assistente ao invés de aluna, mesmo que ele tenha perdido a conta de quantas vezes teve que arrastar seu carrinho de limpeza para arrumar alguma bagunça que eu e meus amigos fazíamos.
Após uma semana cansativa de provas, o Professor Slughorn me liberou mais cedo no fim de semana, como eu ainda era apenas uma assistente, não precisava dormir nos fins de semana em Hogwarts, então saí das imediações do castelo para conseguir aparatar, nunca gostei da sensação de sujeira que o Pó de Flu proporcionava, só usava em momentos de extrema necessidade.
Visitei minha avó, conferindo tudo que ela precisasse e ela me espantou dali.
“Vá logo visitar seus amigos, sei que estão loucos para te ver”.
Eu estava igualmente louca para vê-los.
Aparatei n’A Toca ao entardecer de sexta-feira, havia virado um ritual passar o fim de semana ali; eu, Hermione e Harry sempre estávamos lá. Molly adorava nossa presença, sempre dizia que casa cheia era sinônimo de felicidade, e eu não podia concordar mais. Aquela ali era a minha família, não importa quantos anos passassem, eu sempre me sentiria como uma filha adotada dos Weasley’s, mesmo que um dos motivos de eu ter entrado para aquela família não estivesse mais ali. Avistei a casa que eu tanto amava e suspirei fundo engolindo um nó que sempre se formava quando eu me aproximava daquele lar.
Encontrei Sr. Weasley na garagem, mexendo em uma televisão.
- Boa tarde, Sr. Weasley. – Falei calma para não o assustar, mesmo assim ele acabou dando um pulo.
- , boa tarde, que bom que você veio... – Ele me abraçou de lado rapidamente e beijou o topo de minha cabeça. – Estou precisando de uma ajudinha sua.
Eu sorri amigável, me aproximando da TV.
- Você sabe o que é isto?
- Sim, é uma televisão. – Falei observando a mesma. Era preta, tinha a tela de vidro arredondada e muito parecida com o modelo que minha avó tinha em casa, porém o Sr. Weasley já tinha retirado a parte preta de plástico que cobria a parte de trás da mesma.
- Para que serve exatamente?
- Para assistir programas, filmes, novelas, jornais...
- Então esta tela reproduz imagens? Fascinante! – Perguntou ele interessado, esticando seu pescoço para olhar a parte de trás.
- Isso mesmo. É como um rádio, só que com imagens. É muito bom para passar o tempo, só tem que tomar cuidado para não perder tempo demais na sua frente.
- Entendo. E como eu faço para funcionar?
- Bom, no mundo trouxa nós temos eletricidade, lembra que já te expliquei como funciona? A TV é ligada nessa eletricidade e assim ela funciona. Precisa também de uma antena para captar o sinal.
- TV?
- Isso, é um apelido carinhoso para televisão. – Eu sorri.
- É muito engenhoso, esses trouxas... Sempre me surpreendendo! – Ele riu sozinho, entusiasmado. – E você sabe o que é isso aqui?
Ele me entregou um novíssimo modelo de PlayStation com dois controles remotos com os fios enrolados em si.
- Uau, Sr. Weasley, esse sim é um espécime interessante. – Falei animada. Mesmo estando fora do mundo trouxa quase que completamente, eu conhecia o videogame pois minha avó tinha outros netos além de mim, e todas as vezes que eles a visitavam em suas férias, eles levavam o brinquedo para brincar lá.
Os olhos de Sr. Weasley brilharam quando viu meu entusiasmo.
- Isto é um videogame. É um aparelho que a gente conecta na TV e consegue jogar jogos de todos os tipos.
- Jogos?!
- Isso, tem jogos de luta, de corrida, com história e você controla o personagem com isso. – Falei indicando os controles.
- Isso sim é muito interessante... – Comentou ele, desenrolando o fio do controle para olhar melhor.
- Sim, cada botão desse faz o seu personagem fazer algo, como pular, correr, dar um soco... É bem divertido. – Expliquei e ele ficou eufórico. – Mas para isso, precisamos comprar um jogo, ou talvez... – Apertei o botão “Open” do videogame e notei que tinha um CD dentro intitulado “CTR – Crash Team Racing”. – Sr. Weasley, você está com sorte.
Ele deu um pulo animado.
Expliquei como o CD funcionava e todo o processo que ele precisava ter para fazer o jogo funcionar, eu disse que o ajudaria amanhã e ele prometeu procurar todos os cabos, fontes, baterias e antenas que ele tinha guardado na garagem para tentarmos fazer tudo aquilo funcionar.
Segui para a casa, deixando um Sr. Weasley muito animado para trás. Bati na porta e fui atendida por Rony.
- ! – Ele exclamou dando um sorriso sincero e já abrindo espaço para eu entrar. - Entra, entra! Eu, Mione e Harry estamos investigando algumas coisas na sala, se quiser ir lá nos ajudar!
O abracei quando entrei na casa.
- Já vou lá, Rony. – O informei e ele voltou para sala apressado.
- , minha querida. – Molly veio até mim de braços abertos, ela cheirava a noz-moscada.
- Oi, Sra. Weasley. – A abracei com força. Seus abraços deviam estar em alguma instituição de reabilitação, eu sempre me sentia mil vezes melhor com seus braços em volta de mim. Me sentia bem-vinda. – Como estão as coisas por aqui?
- Estão bem, minha filha, caminhando... Você está tão linda. – Ela disse quando partiu o abraço e olhou meu rosto, alisou minha bochecha e apertou meu queixo antes de me puxar mais para dentro de casa. – Está com fome? O jantar sai daqui a pouco, as crianças estão na sala. George está no quarto dele. GEORGE! – Ela gritou o nome dele me dando um susto. Eu ri, as coisas estavam indo aos poucos ao seu lugar. Nunca seria o mesmo. Mas eu gostava de sentir a família voltando ao seu eixo, barulho, bagunça, os berros de Sra. Weasley, vapor saindo das panelas e um calor amistoso que nos abraçava por completo, era aconchegante demais.
George aparatou a poucos centímetros da mãe a dando um susto, e eu sorri vendo-a sair reclamando em direção à cozinha.
- Achei que você só vinha amanhã. – George disse, envolvendo-me com seus braços.
- É bom te ver também, grandão. – Falei correspondendo seu abraço. De início, achei que George fosse enjoar de minha presença em sua casa, pensei que em algum momento ele fosse me chamar em um canto e dizer “, acho que é hora de você me deixar um pouco em paz”, mas essa conversa nunca veio, estávamos criando um laço mais forte do que nunca, era um laço de dependência emocional, não era a melhor opção, não era saudável para nenhum de nós, porém eu sentia que haviam dias em que eu só pensava “Puxa, faltam apenas dois dias para eu ver ele”, e eu podia sentir que com ele era a mesma coisa, talvez até um pouco pior, já que George ainda não estava saindo de casa. Vim este fim de semana decidida a tirá-lo daqui.
Quando Fred e George decidiram largar o nosso último ano em Hogwarts, pouco antes da formatura, para irem abrir sua loja de Gemialidades, eles haviam alugado um apartamento acima da loja para morarem juntos e finalmente se desgarrarem d’A Toca. Eu vivia indo para lá depois da formatura. A diretora Minerva, até então professora, já havia me feito a proposta para ser substituta de Slughorn e eu tirei aquele ano para estudar todos os tipos de Poções; graças ao seguro de vida dos meus pais, eu conseguia me manter e ajudar minha avó sem precisar trabalhar, então fiz toda a minha preparação naquele ano, para no ano seguinte ingressar na escola como assistente de Poções. Com todo o acontecido, os ataques agressivos aos nascidos trouxas e perseguições de comensais da morte, a Ordem da Fênix achou melhor eu me esconder n’A Toca, onde podiam me proteger até tudo passar, e foi o que eu fiz. Pouco tempo depois disso, Fred e George também fecharam a loja e vieram se acolher n’A Toca.
Então bem antes da Batalha de Hogwarts, eu já estava habituada a ficar lá com eles, não era seguro eu ficar indo até a casa de minha avó, então apenas enviei uma carta a ela dizendo que eu estava bem e ficaria um tempo sem dar notícias.
- Slughorn fez vista grossa? – Perguntou ele me guiando para a sala, onde encontrei Rony, Harry e Mione sentados no chão em volta da mesinha de centro que estava cheia de papéis e recortes de jornais.
- Uhum, ele está exausto, não sei se vai aguentar até o final do ano letivo. Oi, pessoal. – Falei acenando, Mione e Harry acenaram de volta, concentrados demais para me dar atenção.
Harry, Rony e Hermione estavam trabalhando como Aurores no Ministério da Magia, com o fim da batalha, muitos Comensais acabaram fugindo e agora eram procurados, uma passagem só de ida para Azkaban os aguardava, e meus amigos estavam focados nisso nesse momento.
Hermione já havia me dito em uma conversa particular que não queria ser Auror por muito tempo, tinha outro cargo em vista, mas no momento era o que ela queria fazer, até como forma de ajudar outros nascidos trouxa que ainda podiam estar em perigo.
- Não cheguei a ter aulas com ele, mas pelo que ouvi, até que não era um professor tão ruim. – George comentou sentando-se no braço da poltrona que havia ali.
- Não precisava de muito para ser melhor do que Snape... – Comentei dando de ombros, jogando-me na poltrona que George havia se apoiado, apenas mencionar o nome dele fez Harry, Mione e Rony me olharem de sobrancelhas franzidas. – Me desculpem, sei que ele foi muito importante para a nossa vitória, mas não vamos esquecer de como ele nos tratou durante sete anos.
Rony maneou a cabeça concordando, e Mione também cedeu.
- Qual é, Harry. O cara tratava a gente igual um monte de bosta. – George tentou me ajudar.
- Eu sei, eu sei, é só que... Perdi algumas noites de sono pensando nisso. – Harry disse suspirando.
- Estou realmente grata por tudo que ele fez. Tenho certeza de que ele tinha seus motivos, mas perdoar não é esquecer. – Continuei e vi Rony e Mione concordando comigo. – Ah, Harry, Gina te mandou isso. – Falei abrindo a lateral da bolsa que estava com a alça ainda cruzada em meu peito, e lhe entregando uma carta dobrada de sua amada.
- Ah, o amor jovial. – George suspirou.
Harry pegou a carta encabulado e se afastou para ler.
- , será que você pode me ajudar com uma coisinha? – Mione aproveitou que Harry havia saído, para me chamar, tocando meu joelho.
- Precisa de alguma coisa?! – Rony endireitou-se preocupado e ela sorriu envergonhada para ele, suas bochechas ganhando a cor avermelhada rapidamente.
- É coisa de menina, Ron. Obrigada. – A garota disse, levantando-se e eu fiz o mesmo, deixamos os irmãos nos olhando desconfiados enquanto subíamos as escadas em direção ao quarto de Rony.
Hermione fechou a porta do quarto do namorado, sussurrou “Abaffiato” e andou de um lado para o outro nervosa, a unha do indicador na boca.
- Mione? – Perguntei apreensiva. – Você está me deixando preocupada.
- Desculpa, é que estou um pouco nervosa de te perguntar isso... Mas não tenho com quem falar; Harry é menino, George então, nem se fala, e Gina... Gina é irmã dele. – Ela falou suspirando. Sentei-me na cama, tirando a bolsa de meu ombro para ficar mais à vontade.
Tinha alguma coisa a ver com Rony, engoli seco, estaria Hermione me pedindo conselhos amorosos? Era a única coisa que ela não conseguiria em livros. Talvez em algumas revistas de fofoca adolescente, mas ela não fazia o tipo que consumia esse conteúdo.
Ela parou de caminhar e me encarou com seus olhos castanhos preocupados.
- , me desculpa te fazer passar por isso... – Suspirou novamente. – Mas, como é fazer sexo com seu melhor amigo?
Aquela pergunta me pegou desprevenida, finalmente entendi sua angústia. Não era apenas pela vergonha de querer perguntar algo tão íntimo para mim, já havíamos conversado sobre coisas de menina antes, era também o fato de não querer me fazer pensar em Fred. Ela estava com medo da minha reação, porém, pensando no seu bem-estar, eu sorri. Um sorriso confiante que a fez relaxar, e não um sorriso que a fizesse se arrepender de perguntar.
- É algo natural, Mione. Se não for natural, não está certo. – Respondi com sinceridade.
- Como assim? – Eu adorava sua inocência para coisas tão simples, Hermione era recheada de conteúdo, lembrava-se de todos os ensinamentos que podia aprender com seus estudos, mas não estava preparada para algo tão simplório quanto um relacionamento, creio que ter crescido no meio de dois meninos possa ter a afetado nesse sentido.
- Você não pode se sentir pressionada, tudo tem que ocorrer com naturalidade e simplicidade, você vai saber quando tudo estiver indo na direção certa, sabe? Você está se sentindo pressionada? Ou sente que se acontecesse, sei lá, hoje, você estaria bem com isso?
- Acho que está indo tudo bem, ele não está me pressionando a nada, mas...
- Está vendo? Se tem um “mas”, significa que talvez ainda não esteja na hora. Olha, vocês são feitos um para o outro, vão ter todo o tempo do mundo para isso.
Ela sentou-se do meu lado, ainda nervosa.
- Tá bom, você tem razão. E não foi estranho? Você não sentiu como se estivesse algo errado?
- Não. – Não consegui segurar um sorriso, ela sorriu junto. – Eu sentia que era certo, que era exatamente aquilo que eu devia estar fazendo naquele momento. Você sente, sabe? Eu fiquei na mesma posição que você está agora por um bom tempo, pensando “E se estragar a amizade? Um beijo dá pra relevar, mas será que vai dar para relevar isso?”.
- É exatamente isso que está me incomodando. – Ela afirmou com a cabeça, mordendo o lábio inferior.
- Então para de se incomodar, para de pensar com isso. – Toquei meu dedo indicador em sua têmpora. – E começa a pensar com isso. – Toquei o tecido de sua camisa em seu peito, indicando seu coração. – Vocês dois formam um casal incrível, são completamente apaixonados um pelo outro, não tem o que dar errado nessa fórmula. Tá bom? Fica tranquila, não vai ser estranho nem estragar a amizade, a não ser que você esteja pensando que esse relacionamento não vai ser duradouro... Você pretende terminar com ele ou algo assim?
- Não! É claro que não. – Ela disse estufando o peito, ligeiramente ofendida.
- Então, Mione, deixa acontecer com naturalidade. É a dica que eu te dou. Não fica pensando muito nisso, nem planejando nada, e tu vai ver que vai haver um dia em que vai acontecer e vai ser incrível.
- Mas... Não devia ser especial?
- Vai ser. O primeiro beijo de vocês foi planejado?
- Não. – Ela disse sem graça, entendendo o que eu quis dizer com aquilo.
- E você não acha que foi único? Que talvez, se você tivesse se preparado para aquilo, não teria sido tão bom?
Ela ponderou por um momento e por fim concordou.
- É, acho que foi perfeito do jeito que foi. – Seus olhos não mentiam, um brilho invejável tomou conta deles e eu sorri novamente.
- É isso. A primeira vez de vocês também vai ser assim, essa é a vantagem de namorar o seu melhor amigo. Vai ser incrível e especial, Mione. Não se preocupa, tá bom?
- Você tem certeza? Como você conseguiu olhar na cara dele depois que aconteceu?
- Bom, você conheceu o Fred... Ele era palhaço, brincalhão, mas ele sabia se portar como uma pessoa normal em determinados momentos. Ele era um doce comigo, exatamente o mesmo tipo de doçura que Rony tem com você, talvez seja algo no sangue dos Weasley.
Ela riu pelo nariz, um sorriso bobo tomou conta de seus lábios.
- Levando em consideração o jeito como o Sr. e a Sra. Weasley são, acho que pode ser sim algo genético. – Ela disse rindo, o semblante muito mais tranquilo.
- Verdade. – Eu sorri junto com ela. – Amiga, relaxa, só leva com naturalidade, e se você ver que tem algo te pressionando, chama ele para uma conversa, afinal, vocês são amigos acima de tudo.
- É, mas acho que não vou precisar chegar nesse nível. Ele está sendo um fofo comigo, eu só estou nervosa mesmo, não tenho com quem conversar.
- Ei! Assim você me ofende! – Brinquei e ela sorriu. – Olha, nós nunca fomos as pessoas mais próximas do mundo, mas ainda temos chance de fazer isso acontecer. E convenhamos que tem alguns assuntos que vai ser difícil você ter com quem conversar, Gina é maravilhosa, mas vai ser difícil ter esse tipo de conversa com ela, eu tinha Angelina. E você tem a mim, ok? Não fica com vergonha de me chamar.
- Obrigada , eu estava precisando colocar isso para fora. – Seu sorriso foi sincero e me senti grata por poder ajudar aqueles dois cabeças-duras.
Após o jantar, ajudamos a Sra. Weasley a arrumar as coisas e acompanhei George até seu quarto. Ele ainda não tinha perdido o costume de ficar lá trancado, se sentia confortável lá e eu não tinha o direito de tentar roubar esse costume dele.
Conforme o tempo passava, eu tinha a impressão de que o quarto estava perdendo as características de Fred; o seu cheiro, antes impregnado em cada centímetro, agora era só uma lembrança rasa em minha mente, a sua bagunça característica agora era limitada à sua cama feita e seus pertences guardados no guarda-roupas, com exceção de uma foto nossa em pé no criado mudo. Era uma foto minha e dele, assim como antes havia uma foto de George e Angelina do mesmo dia que foi guardada por ele em algum lugar. Ambas foram tiradas no dia da inauguração da loja, onde nós dois sorríamos para a câmera, e eu virava meu rosto para dar um beijo em sua bochecha. Era uma foto adorável que George tinha pena de guardar, eu imagino que por minha causa.
- Como foi sua semana? – Perguntei colocando minha bolsa em um cantinho que eu já considerava “meu” no quarto.
- Foi mais produtiva do que eu esperava, acabei tendo umas ideias legais para a loja, depois te mostro. – George disse, jogando-se na cama.
- Georgie. – O chamei, sentando-me na beirada de sua cama. – Você não acha que está na hora de voltar?
Aquela pergunta havia rondado minha cabeça a semana inteira, pensei em mil formas de o abordar sem parecer rude ou insensível, mas percebi depois de um tempo que George e eu tínhamos uma intimidade onde nenhum podia ficar ofendido com o outro sem uma explicação realmente plausível.
Ele suspirou alto, entrelaçando as mãos sobre a barriga esticado em sua cama que quase era pequena demais para sua altura.
- Não sei, ... Você acha que eu estou pronto?
Ponderei por um segundo.
- Acho que podíamos dar um pulinho lá esse fim de semana, o que acha? Ver como estão as coisas, ajeitar a loja... Só se você quiser, não quero te forçar a nada.
- Acho que podemos tentar sim. – Ele disse olhando para o teto. Era perceptível que ele estava desconfortável.
- Você sabe que não precisa fazer nada que esteja te incomodando, não é? – Perguntei levando minha mão até sua perna.
- Sei sim, você está certa. Eu preciso voltar para a minha vida normal, não posso ficar me escondendo embaixo da asa dos meus pais para o resto da minha vida.
- Só que não precisa ser agora. Tudo tem o seu tempo.
- Já se passaram quatro meses, ...
- Eu sei disso, G. – Suspirei, puxando minhas pernas para cima da cama, onde ele começou a mexer em meus dedinhos do pé distraído. – Mas isso não justifica o teu tempo de cura.
- Eu nunca vou me curar, você sabe disso. Sempre vai ter uma ferida aberta em meu peito.
Aquilo me atingiu com mais força do que eu achei que aquela conversa pudesse me atingir. Saber que George nunca mais seria o mesmo me machucava muito, eu sentia falta do seu sorriso espontâneo e fácil, da sua áurea leve e do seu humor ácido, mas precisava entender que talvez ele nunca mais fosse ser aquela pessoa novamente e acima de tudo, eu precisava aceitar aquele novo George do mesmo jeito que eu aceitava o outro. Não era uma tarefa difícil, eu o amava independente de qualquer circunstância.
- Essa ferida pode não se curar, mas com certeza não vai doer tanto.
- É... – Ele ficou em silêncio por alguns segundos, ainda distraído com meu pé. – Acho que vou chamar o Lee, o que acha?
- Acho uma ótima ideia.
Fazia tempo que eu não falava com Lee, trocávamos correspondências semanais, mas apenas conversas banais para não perder completamente o contato. Seria bom tê-lo junto.
No dia seguinte, fiquei a manhã inteira empenhada com Sr. Weasley, a televisão e o videogame, George trabalhou conosco como se fosse um ajudante de mecânico, procurando os utensílios necessários que Arthur havia separado na noite passada.
Perto do meio dia conseguimos ligar a televisão e o PlayStation, utilizando magia atrelada à uma bateria de carro antiga, eu conectei os cabos do videogame na TV e comemoramos animados antes de Sra. Weasley nos chamar para almoçar.
De tarde todos fomos até a garagem para ver se o jogo funcionaria e deu certo. Praticamente perdemos a tarde inteira jogando o jogo de corrida de Crash, onde eu e Harry acabamos ganhando quase todas as partidas por termos um conhecimento prévio de como lidar com um videogame, Harry disse que quando seu primo ganhou um, ficou dois anos sem poder jogar, apenas observando-o jogar durante as férias de verão. Rony, Hermione e George jogaram bastante conosco, sempre alternávamos as duplas e fiquei feliz de ver algumas risadas fugindo do semblante sério de George, ele adorava ganhar de Rony que, por sua vez, era extremamente competitivo.
À noite, Rony, Harry e Hermione nos mostraram como estava a sua investigação à procura dos Comensais que fugiram durante a queda de Você-Sabe-Quem. Conversamos sobre o assunto, Hermione tomando nota de tudo que sugeríamos como uma possibilidade a ser estudada. George escreveu uma carta para Lee, o convidando para nos acompanhar amanhã em nossa primeira ida à Gemialidades Weasley e continuamos fazendo companhia ao trio de ouro até a hora em que minhas pálpebras não conseguiam mais se manter abertas.
Estávamos parados em frente à loja Nº 93 do Beco Diagonal, a loja era uma grande sala de esquina, a fachada ainda estava impecável tirando a poeira que vinha da rua.
George deu um passo na direção da porta de entrada e eu encarei Lee por um segundo, ele me dando de ombros, como se dissesse “Ele consegue”.
Entramos na loja, tudo parecia estar em seu devido lugar, uma poeira fina característica de algo que estava fechado a muito tempo estava em cima de todas as prateleiras e itens distribuídos sobre os estandes. Peguei um frasquinho rosa sobre uma bancada, o vidro em forma de coração me fez sorrir, me lembrando do dia em que fiz minha primeira leva da Poção do Amor.
Lee soltou um espirro ao meu lado e devolvi o frasco ao lugar, fui com ele até George e segurei a mão de meu melhor amigo, tentando ler o que se passava em seu peito.
- Está exatamente do jeito que deixamos. – Ele disse, com a voz fraca.
- Isso é bom, não é? – Perguntou Lee, pondo a mão em seu ombro.
George não respondeu, pegou sua varinha gasta e com um aceno na direção do balcão de pagamento, a loja inteira tomou vida: as luzes se acenderam, brinquedos começaram a se mexer, contas coloridas voavam por nossas cabeças, prateleiras giravam e aquilo aqueceu meu coração por um momento. Peguei minha varinha e sussurrei “Tergeo”, fazendo um pequeno redemoinho varrer a loja com sutileza, retirando o pó de todas as superfícies e seguindo para a porta em que entramos.
George andou pela loja distraído, eu e Lee nos entreolhávamos a todo momento, com medo do que ele podia vir a fazer, mas ele apenas encarava as coisas com o olhar triste, sem reação aparente, com seus ombros caídos de maneira melancólica.
Eu gostaria de poder sugar toda aquela tristeza para mim como um Dementador inverso, deixando-o novinho em folha, com uma autoestima acima da média, como ele sempre teve e uma malandragem digna de um prêmio importante.
Eu também olhava a loja de maneira distraída, memórias me abraçando como uma brisa quente, porém ao contrário de me fazer ficar triste, aquelas memórias me aqueciam, me peguei sorrindo algumas vezes, lembrando de como alguns produtos foram testados e de como aquilo deixava meus amigos felizes. Espiei Lee algumas vezes e percebi que ele tinha a mesma reação que eu, olhava alguns frascos e sorria, sua memória o confortando da maneira que podia.
- Ei, está tudo bem? – Perguntei em certo momento, vendo George olhar fixamente para os Cristais do Cupido.
- Está sim. – Ele sorriu fraco para mim. – É só que são tantas memórias.
- São mesmo, não é? Mas são uma coisa boa. – Falei alisando suas costas, tentando de alguma forma lhe demonstrar conforto.
- As memórias são a melhor parte. – Lee afirmou se aproximando de nós. – G, ele está eternizado aqui. Essa é a marca que ele vai deixar para o mundo.
- Sim, que a alegria sempre vai prevalecer, mesmo nos momentos mais sombrios. – Eu disse, apoiando.
George deixou um sorrisinho escapar por seus lábios novamente, e nesse momento ouvimos o sino da porta tocar. Duas crianças por volta dos seus dez anos entraram na loja.
- A loja está aberta? – A menina perguntou, os olhos brilhando de animação.
- Ainda não. – Lee respondeu. Era nítido o desapontamento que as crianças ficaram.
- Ah, que pena! Sempre viemos aqui e ficamos querendo entrar! – O garotinho respondeu cabisbaixo.
- Logo reabrirá. – Ouvi a voz de George dizer e o olhei não conseguindo segurar um sorriso. – Estamos organizando as coisas para que isso aconteça o mais breve possível, está bem?
As crianças concordaram com a cabeça, ainda desanimadas por não poder comprar nada, mas esperançosas para logo poder voltar. Saíram de lá correndo para contar a novidade aos pais.
George soltou o ar quando as crianças deixaram o estabelecimento.
- Vou precisar de ajuda. – Ele admitiu incerto.
- Eu te ajudo agora no começo, tenho certeza de que o Ministério pode esperar. – Lee disse sorrindo abertamente, foi só quando eu vi seu sorriso que notei quanto tempo fazia que eu não o via com um sorriso daqueles no rosto.
- Eu venho todos os fins de semana. – Me ofereci também. – Podemos começar dando uma olhada nos estoques hoje. Assim você consegue ir produzindo o que estiver com baixa durante a semana, o que acha?
George concordou, seu semblante ligeiramente mais confiante e fiquei extremamente feliz por isso.
Passamos o dia inteiro conferindo tudo ao som do pequeno rádio que ressonava em vários reprodutores de som espalhados pela loja, olhamos cada prateleira, cada embalagem, e cada sicle deixado na caixa registradora. Ao final do dia, eu tinha um rolo grande de pergaminho flutuando ao meu lado que já estava encostando no chão com uma pena de repetição rápida anotando tudo o que eu ia dizendo, George e Lee estavam dentro do estoque me informando tudo o que tinha lá.
Quando já anoitecia, Lee se despediu de nós indo para sua casa. Ficou combinado que George ficaria responsável por produzir o que estava com o estoque mais baixo e informaria Lee quando estivesse terminando para que eles, juntos, combinassem o melhor dia para reabrir a loja. George o agradeceu tanto que Lee foi embora dizendo que se ele agradecesse mais uma vez, ele iria desistir da ideia pois não aguentava mais ouvir aquela palavra.
Ficamos sozinhos na loja, George jogou-se na cadeira que estava atrás do caixa tão exausto quanto eu.
- . – Me chamou depois de um tempo, eu estava olhando os produtos distraída, com as mãos no bolso de trás da minha calça.
- Sim? – Perguntei me aproximando do balcão do caixa.
- Obrigado por fazer isso. – Seus olhos estavam cansados, mas um sorriso sincero estava em seus lábios.
- Você não precisa me agradecer.
- Preciso sim. Se não fosse você, eu não sei o que seria de mim.
- Se não fosse eu, você seria um panaca desde o primeiro ano em Hogwarts. Você tinha que vir me agradecendo desde lá. – Brinquei e ele riu fraco cruzando os braços sob o peito.
- Você só entrou para o time de Quadribol por nossa causa. – Ergueu as sobrancelhas me desafiando.
- E vocês nunca teriam descoberto como ler o Mapa do Maroto.
- E você nunca teria dado uma vomitilha ao Malfoy.
- E vocês não teriam Poções do Amor decentes para vender nessa loja.
Por fim estávamos rindo, um pegando no pé do outro como fazíamos antigamente, aquela era uma cena que eu teria que guardar dentro do meu peito para sempre: George sorrindo abertamente depois de tudo.
Ouvi algumas notas de violão tocar no reprodutor de som que ainda estava conectado ao rádio, e pulei de onde eu estava, fui até ele e estendi as mãos. Ele entendeu a deixa e segurou minhas mãos contrariado. (Ouça a música)
O puxei para o centro da loja, olhei em seus olhos tristes antes de passar meus braços por suas costas e nos embalamos lentamente ao som daquela música que eu conhecia tão bem.
So, so you think you can tell
(Então, então você acha que consegue distinguir)
Heaven from hell?
(O paraíso do inferno?)
Blue skies from pain?
(Céus azuis da dor?)
Can you tell a green field
(Você consegue distinguir um campo verde)
From a cold steel rail?
(De um trilho de aço frio?)
A smile from a veil?
(Um sorriso de uma máscara?)
Do you think you can tell?
(Você acha que consegue distinguir?)
Aquela letra se encaixava em tantas maneiras conosco que eu o abracei mais forte, deitando minha cabeça em seu peito, ouvindo seu coração bater alto junto com o meu um tanto disparado, deixando a melodia me inundar por completo. George tinha seus dois braços em volta do meu corpo, me guiando para um lado e para o outro com uma calma surpreendente, ao contrário do que imaginei, ele estava confortável ali comigo.
Did they get you to trade
(Eles conseguiram que você trocasse)
Your heroes for ghosts?
(Os seus heróis por fantasmas?)
Hot ashes for trees?
(Cinzas quentes por árvores?)
Hot air for a cool breeze?
(O ar quente por uma brisa fresca?)
Cold comfort for change?
(O bom conforto por mudanças?)
Did you exchange
(Será que você trocou)
A walk-on part in the war
(Um papel de figurante na guerra)
For a lead role in a cage?
(Por um papel principal numa cela?)
Tenho certeza absoluta de que George se identificou, pois senti seu peito tremer sobre minha cabeça, e o ouvi fungar o nariz. Nós havíamos trocado heróis por fantasmas, o conforto por mudanças e um papel de figurante na guerra pelo papel principal em uma cela em nossas próprias mentes. O abracei ainda mais forte, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas, ele acariciou minhas costas, ainda me embalando devagar, e continuamos ouvindo aquela música que tinha tantos significados que doía em minha alma.
How I wish
(Como eu queria)
How I wish you were here
(Como eu queria que você estivesse aqui)
We're just two lost souls
(Nós somos apenas duas almas perdidas)
Swimming in a fish bowl year after year
(Nadando em um aquário ano após ano)
Running over the same old ground
(Correndo sobre o mesmo velho chão)
What have we found?
(O que nós descobrimos?)
The same old fears
(Os mesmos velhos medos)
Wish you were here
(Queria que você estivesse aqui)
Eu já não continha mais minhas lágrimas, deixando que elas lavassem meu rosto depois de um dia tão produtivo como aquele. George não estava diferente de mim, choramos juntos ainda nos embalando no ritmo final da música. Sua mão estava atrás da minha cabeça, acariciando meus cabelos e me senti uma idiota por tê-lo feito ouvir aquela música mas junto disso, eu me sentia feliz.
Talvez fosse o momento, talvez fosse a boa vibração que eu sentia dentro de George, e talvez fosse Fred nos acompanhando naquele momento tão difícil, só sei que quando a música parou e nos separamos, olhei nos olhos de meu melhor amigo, limpei meu rosto com as costas da mão e sorri, agradecendo mentalmente por ter uma pessoa tão incrível para me acompanhar naquela maratona de turbulências que parecia não ter mais fim.
E ele correspondeu o sorriso, me puxando de volta para um abraço junto de um beijo no topo de minha cabeça.
- Eu queria que ele estivesse aqui. – Disse ele suspirando, citando a música.
- Eu também, Forge. Eu também.
Flashback – 30 de setembro de 1990 – Campo de Quadribol
Corri até a arquibancada da Grifinória e sentei ao lado de Lee que também veio ver os testes.
Vejo o pequeno tumulto lá embaixo, avisto os cabelos flamejantes de Fred e George e consigo distinguir os cabelos negros de Angelina, o olhar dela sobe até mim e abano com a mão sorrindo. Ela corresponde.
Os três fariam o teste para entrar para o time de Quadribol, Angelina queria ser atacante e os gêmeos batedores, enquanto todos voavam e mostravam o seu melhor, eu e Lee conversávamos rindo dos desastres de alguns e da habilidade de outros.
- Acho que a Angelina consegue entrar para o time, ela é ótima! – Falei animada para Lee e ele concordou fervorosamente.
Angelina havia acertado todos os gols que foram designados a ela, e os gêmeos eram outro show espetacular de ver, era como se as vassouras fizessem parte do corpo deles, assim como os bastões. Eles voavam tão entrelaçados que pareciam ler as próprias mentes (coisa que eu ainda desconfiava que realmente acontecia), faziam manobras arriscadas e derrubavam todo e qualquer obstáculo que colocavam em sua frente.
Eu e Lee comemorávamos na arquibancada junto com outros companheiros de outros anos que vieram prestigiar os colegas.
- Vocês estavam ótimos, vou falar com os outros integrantes, mas acho que é bem provável que a vaga seja de vocês. – Ouvi Oliver Wood dizer para os gêmeos quando nos aproximamos. Abracei Angelina a levantando um pouco do chão, dando risada.
- Você foi incrível! – Falei quase gritando de animação, eu realmente estava eufórica com tudo aquilo. – Não errou nenhuma vez, foi emocionante de ver!
- Eu nem sei explicar como foi! – Ela disse rindo, ainda desacreditada que havia se saído tão bem nos testes.
- Você foi ótima, Angelina. – Lee disse a abraçando também, e aproveitei o momento para abraçar cada um dos gêmeos.
- Vocês também foram demais! Parece que estavam lendo a mente um do outro. – Falei fazendo movimentos com a mão, simulando os dois voando. Os dois riram da minha animação.
- A gente treinou durante as férias, Charlie ajudou bastante. – George disse, ainda suspirando alto pela empolgação. Eles já haviam mencionado seu irmão mais velho algumas vezes, eu já começava a sentir que Charlie era o irmão mais chegado neles.
- É, bem, nosso irmão ajudou, mas o mérito é nosso pelo incrível poder de ler mentes. – Fred brincou sorrindo e Oliver virou os olhos para cima rindo junto.
- E você, ? Não quis fazer o teste? – Oliver perguntou simpático, eu o achava um gato e senti minhas bochechas queimarem por um segundo. – Estamos realmente precisando de um apanhador decente. – Sussurrou a segunda parte, com medo que o atual apanhador o ouvisse.
- Ah, eu sou péssima com a vassoura. – Falei sem graça, aquele era um assunto que me incomodava um pouco, mas eu nunca tive coragem de admitir para ninguém.
- E por que os dois aqui não te ajudam com isso? – Oliver era pouco mais alto do que os gêmeos, eu sorri sem graça sem saber o que dizer, estava nervosa demais com a sua proximidade.
- Porque ela nunca pediu! – Fred se defendeu e recebeu um cutucão de cotovelo de George.
- Você quer que eu te ajude a praticar? Posso pensar em algum momento vago entre os estudos e os treinos do time para te ajudar...
- Wood, está tudo bem. – Falei sem graça, não queria que ele achasse que meus amigos estavam fazendo pouco caso sobre aquilo, sendo que eu nunca havia admitido que gostaria de aprender a voar bem de vassoura para assim ter alguma possibilidade de fazer testes para entrar no time de Quadribol.
- Por que você não vai lá em casa durante as férias? – Fred perguntou rápido, como se quisesse cortar o assunto de Oliver.
- Ah, não... Não quero incomodar. – Falei imediatamente, mesmo que em meu interior, meu coração batesse rápido demais, apenas com a possibilidade de poder fazer coisas de bruxo durante as férias e não simplesmente fingir ser quem eu não sou na casa de minha avó.
- Deixa de ser besta, , é uma ótima ideia. – George disse, com um sorriso sincero no rosto.
- A gente te ensina a voar definitivamente e ano que vem você faz um teste para o time. – Fred diz empolgado e eu suspiro, enquanto todos me olham apreensivos.
- É, acho que pode ser.
Continuamos conversando sobre como eles foram bem, os resultados oficiais sairiam na próxima semana, mas a fofoca na sala comunal já era certa de que Angelina e os gêmeos seriam os escolhidos para entrar no time. Lee sempre mostrou uma indisposição saudável com esportes então sempre fazia parte do comitê de narração e eu o acompanhei neste ano enquanto não aprendia muito bem a voar. Comecei a me dedicar mais nas aulas de Madame Hook para não ser uma completa perda de tempo quando os gêmeos fossem me ensinar durante as férias.
***
13 de julho de 1991 – Residência dos
Convenci minha avó a limpar a lareira naquele dia, ela fez questão de fazer um bolo de chocolate para recepcionar meus amigos e seu pai que viriam me buscar para passar algumas semanas em sua casa.
Na cabeça de minha avó parecia uma completa loucura que eu fosse passar algumas semanas na casa de estranhos, ela era uma grande entusiasta do “não”, mas consegui a convencer de pelo menos aceitar uma ligação por telefone de Sra. Weasley, que se mostrou uma mulher muito simpática que conseguiu convencer minha avó, mesmo aos berros do outro lado da linha.
- Vó, calma. Está parecendo até que vamos participar de uma entrevista na televisão. A casa está ótima, você também. – Falei soltando uma risada, vendo-a arrumar o vaso de petúnias em cima do piano de meu pai três vezes seguidas.
- Só estou nervosa com seus amigos bruxos, e se o pai dele nos achar antiquadas? E se ele achar que você não deve ir para lá? – Assim que ela se entendeu com Sra. Weasley, o jogo virou e ela queria impressionar o máximo que pudesse.
- Tenho certeza de que o Sr. Weasley não vai achar isso... – Falei, e ouvimos algumas vozes vindo da lareira. Logo depois das vozes, uma pequena nuvem de fumaça de fuligem adentrou a sala, como se alguém tivesse dado um pulo lá dentro.
Um homem adulto, alto com roupas manchadas de fuligem e cabelos vermelhos ligeiramente grisalhos saiu de dentro da lareira com certa dificuldade.
- Uau, que lareira apertada, Sra. ! – Ele disse de maneira divertida. Minha avó estava aturdida demais para falar qualquer coisa. – Me chamo Arthur Weasley.
- Vovó. – Sussurrei para ela, tentando acordá-la do susto de ver um homem daquele tamanho sair de sua lareira.
Ela apertou sua mão de supetão, ainda meio assustada. Apertei sua mão também, dando meu melhor sorriso.
Ouvi mais vozes vindo da lareira e logo depois Fred saiu de lá com muito mais facilidade do que seu pai, seguido de George e depois ainda surgiu um garotinho que eu não conhecia, mas que tinha cabelos tão vermelhos quanto os três que saíram de lá antes dele.
Fui abraçar meus amigos sem conseguir segurar um sorriso no rosto, eles corresponderam.
- E então, está pronta para usar Pó de Flu? – Perguntou George, puxando levemente a ponta de minha trança, penteado que minha avó fez para fingir que sou uma pessoa certinha e comportada para os pais dos gêmeos.
- Dói bastante, mas como você pode ver, com o tempo você se acostuma. A primeira vez é sempre a pior. – Fred disse, indicando o pequeno atrás deles, que estava encantado demais com a decoração da casa para dar ouvidos para o que eles falavam. Eu estava fielmente desconfiada de que aquilo era mentira, mas gostava da cara de cumplicidade que eles faziam quando eu acreditava em qualquer coisa que eles falassem.
Minha avó e Sr. Weasley entraram em uma conversa profunda sobre cuidados com filhos, enquanto eu mostrava a casa para os meninos.
- E você, quem é? – Perguntei ao pequenino que nos acompanhava.
- Rony. – Ele respondeu, suas orelhas imediatamente ficando vermelhas.
- E então, Rony, como é ter esses dois idiotas como irmãos mais velhos? – Perguntei dando uma risada alta, vendo os dois amarrarem a cara para mim.
- É bem difícil. – O menino bufou alto, não querendo falar muito para não se comprometer mais tarde.
- Meninos, ajudem com as malas. – Ouvimos a voz de Sr. Weasley dizer da sala, e indiquei meu quarto com a cabeça.
- Eu imagino, Rony. Passo por isso o ano letivo inteiro. – Falei, bagunçando seus cabelos lisos e ele sorriu cumplice para mim.
- Você não vive sem a gente, . – Fred disse convencido.
Entramos em meu quarto, os três com olhos atentos a qualquer detalhe que pudesse virar um alvo de piadas ou ser usado contra mim em algum momento. Meu quarto tinha as paredes amarelas com móveis de madeira envernizada, nada muito especial. Minha cama estava arrumada e em cima da cama meu patinho de pelúcia, que combinava com a cor das paredes, repousava sobre o travesseiro.
George jogou-se na cama e agarrou o pato enquanto Fred olhava minhas coisas minuciosamente sobre a escrivaninha com espelho, abria minhas caixinhas de joias e olhava atentamente cada fotografia. Rony observava tudo com as mãos atrás do corpo, como se estivesse com medo e vergonha de estar ali. Fui até a janela, e abri a gaiola de Judith, minha coruja.
- Judith, estou indo para a casa deles. – Apontei para Fred e George. – É A Toca, você consegue encontrar?
Ela piou carinhosamente e eu sabia que conseguiria, bebeu um pouco de água e saiu voando pela janela, Rony se debruçou para vê-la voar na rua.
Ficamos falando sobre qualquer besteira, enquanto eles me perguntavam sobre meu telefone de hambúrguer, minhas revistas de adolescentes e minha coleção de mini brinquedos da Kinder.
Minha avó nos chamou para comer bolo antes de irmos, e descemos com minhas malas.
Rony e os gêmeos adoraram o bolo de chocolate de minha avó, só não comeram tudo pois Sr. Weasley pigarreou alto quando Rony foi pegar o terceiro pedaço. Sr. Weasley finalizou o chá que minha avó havia oferecido e nos guiou novamente até a sala.
Me explicou como funcionava o Pó de Flu e em nenhum momento comentou que doía, mesmo assim fiz questão de perguntar, apenas para ver o sorriso bobo no rosto de meus amigos.
- É claro que não dói, faz muita sujeira, isso faz, mas não se preocupe! – Sr. Weasley garantiu, e confirmei minhas suspeitas, vendo-os dar risadinhas bobas tapando as bocas com a mão. Até Rony fez parte do coro de chacota às minhas custas. Traidor.
Vi minha avó por trás das chamar verdes que lamberam meu corpo inteiro, me transporei por um caminho de poeira e cheiro de lenha molhada até sentir meus pés firmes e meus amigos empoeirados me puxarem para fora da lareira batendo suas mãos em meu ombro e cabelo, tentando me “limpar”.
- Oh, querida, seja bem-vinda! – Uma senhora baixinha, gordinha, de cabelos ruivos e com o rosto mais doce do mundo me puxou para um abraço forte e aconchegante.
- Muito obrigada por me receber, Sra. Weasley. – Fiz questão de recitar a frase que minha avó insistiu em me fazer decorar.
- Não seja boba, é um prazer receber uma garota aqui para variar! – Ela disse me soltando do abraço. Passou a mão por meu rosto, analisando melhor as minhas feições. – Tenho que dizer, de todos os meus filhos, Fred e George eram os últimos da lista que eu diria que trariam uma garota para cá.
- Tudo bem! – Fred disse me puxando pelo ombro, guiando-me para fora da sala.
- Deixe a garota respirar, mulher! – George exclamou, fazendo a mulher soltar uma bufada indignada.
- Foi um prazer te conhecer, Sra. Weasley! – Consegui dizer, espichando a cabeça para dentro da casa enquanto os garotos me empurravam para fora. A mulher soltou uma risada por fim.
Passamos quase todo o período em que fiquei lá, em cima de vassouras. Eu usava qualquer uma que estivesse vaga no momento, de Charlie, de Rony, de Percy... Os gêmeos me ensinaram as regras do jogo e Rony sempre nos acompanhava nos treinos. Gina era a irmã mais nova deles e ainda não tinha permissão para voar, então ficava sentada no banco de madeira que ficava do lado de fora da casa, com as perninhas balançando rindo quando fazíamos alguma besteira para lhe alegrar.
Acabei pegando a prática no terceiro dia de treino, os gêmeos disseram que eu devia treinar para ser a apanhadora do time, mas em apenas uma visita em um fim de semana, Charlie bateu os olhos em mim em um treino e disse que eu tinha a agilidade e agressividade de uma artilheira.
Desde este dia, mudamos a estratégia e treinamos minha pontaria para acertar os aros, fiquei boa a ponto de Rony não conseguir me defender mais, e chamamos Percy para ajudar. Percy não gostava de se misturar conosco, mas fazia o favor, pois a Sra. Weasley o obrigava, no ano seguinte ele seria monitor e estava “especialmente bobalhão e pomposo”, como os gêmeos gostavam de lembrar.
Foram as melhores férias de verão da minha vida. Eu finalmente podia ser quem eu era sem precisar me esconder, e aquela foi a primeira de muitas férias que eu passaria lá, todos os anos seguintes eu marquei presença nas férias de verão na casa dos Weasley’s, não demorou muito para eu ser convidada a passar os feriados lá também, e aquele ano foi o primeiro em que ganhei um suéter de lã amarelo queimado com minha inicial no meio, da Sra. Weasley no natal. Nunca, em toda a minha vida, me senti tão em casa quanto eu me sentia naquele lugar com meus melhores amigos.
Fim do flashback
Nota da autora: Eu amo esse capítulo. Amo a interação de Vee com Sr. Weasley, sempre achei Harry e Hermione ligeiramente negligentes quanto à curiosidade que Sr. Weasley tem do mundo trouxa, nunca dando a devida atenção às suas perguntas peculiares, quando criei a personagem, esse foi uma característica que eu quis muito dar para ela: que ela fosse realmente “parte da família”.
Outra coisa que amo nesse capítulo é a conversa extremamente íntima que Hermione tem com Vee, foi por falta de opção? Foi, mas tinha alguém no ciclo de amigos de Hermione que seria mais capaz de conversar com ela sobre aquilo? Não!
E como não amar os dois dançando ao som de Pink Floyd?! Obrigada PP, pelos costumes de ouvir músicas trouxas, ou nunca teríamos a possibilidade de George conhecer a genialidade de Wish You Were Here.
Isso tudo, sem falar o quanto amei esse flashback adorável, com a primeira visita de Vee n’A Toca... Não tenho o que dizer, só sentir.
Por fim, muito obrigada por ter chego até aqui, espero que tenha gostado do capítulo tanto quanto eu. Aproveita e deixa aquele comentário gostoso. <3
Capítulo 4
Beco Diagonal – 05 de dezembro de 1998 – Loja das Gemialidades Weasley
Ponto de vista: George
Respirei fundo sabendo que aquele era o momento, me olhei no espelho jogando água no rosto e fechei os olhos tentando colocar minha mente no lugar.
- G, você está bem? – Ouvi a voz de Lee do outro lado da porta.
- Estou, só um minuto. – Menti secando o rosto e dando uma última olhada no reflexo no espelho, vendo as olheiras ainda visíveis abaixo de meus olhos.
Não havia energizante no mundo que me transformasse em uma pessoa normal de novo.
- Cadê a ? – Perguntei assim que saí do banheiro, vendo Lee levantar os ombros em dúvida. – Ela disse que viria, não é?
- É claro que disse, G. Logo ela está aqui, tenha calma.
O nervosismo e o arrependimento tomavam conta de mim, subindo em meu peito e trancando minha garganta. Eu não estava pronto para a inauguração da loja, e a falta que fazia só piorava as coisas.
Com o fim de ano chegando perto, ela estava mais ocupada em Hogwarts por conta do feriado de inverno e mal conseguia me enviar cartas durante a semana, mas tinha me prometido que viria me ajudar na inauguração e nos finais de semana, minha cabeça havia se acostumado tanto com a ideia de tê-la por perto, que agora que ela não estava ali, eu estava entrando em colapso.
Afrouxei o nó da minha gravata roxa e retirei meu paletó marrom de camurça sentindo-me sufocado com toda aquela situação angustiante, tudo na loja estava pronto, o estoque estava cheio, as prateleiras organizadas, o caixa tinha bastante troco e Lee estava lá para me ajudar, usando um avental azul marinho que minha mãe havia bordado o nome da loja e o nome de Lee em letras alaranjadas. Então por que eu tinha essa sensação de estar apressando as coisas? Uma sensação de incompetência misturada com desgosto, como se nada ali dentro fizesse sentido sem ele.
Lee segurou meus ombros, imagino que a vontade dele era de me dar um tapa no rosto para me fazer voltar à realidade.
- Cara, calma. Está tudo certo, tudo organizado e tudo dentro da programação. já deve estar chegando, ela nunca iria te deixar num momento como esse, então só respira fundo e relaxa. Ainda falta meia hora para abrirmos. – Lee disse com a voz agitada que ele sempre teve.
Respirei fundo novamente, estava hiperventilando.
Olhei na direção da porta, vendo as pessoas encasacadas pelo vidro da vitrine e mesmo com o frio de dezembro eu suava feito um grande trasgo.
Andei de um lado para o outro, tentando esquecer um pouco o fato de que eu parecia estar traindo meu falecido irmão, tentei de várias formas me distrair, abri a caixa registradora três vezes seguidas troquei utensílios de lugar nas prateleiras. Por fim, eu estava dentro do estoque olhando tudo sem saber realmente o que fazer, as mãos na cintura, pensando em tudo.
- Georgie? – Ouvi a voz de atrás de mim. Me virei de supetão e senti seus braços envolvendo meu pescoço. – Como você está, grandão?
- Estou bem. – Tentei disfarçar, engolindo seco enquanto retribuía seu abraço.
- Por que você ainda se dá ao trabalho de tentar me enganar?
- Porque eu gosto de tentar te enganar.
Dei uma risadinha fraca com minha tentativa de brincadeira e ela retribuiu.
- Olha só, eu sei que você deve estar pirando. – Ela disse, soltando os braços de meu pescoço e encostando no batente da porta. – Mas está tudo bem, Georgie.
Lee provavelmente havia avisado que eu estava endoidando.
- Não está tudo bem, . – Passei a mão pelo meu cabelo, ainda nervoso.
- Você sabe que é o que ele ia querer. – Eu sempre era pego desprevenido, não pensei que ela fosse tocar nesse assunto tão diretamente. - Você não está traindo a memória dele, está homenageando, está trazendo de volta tudo que ele sempre quis.
- Eu queria que fosse assim fácil.
- Não estou dizendo que é fácil, G. – Sua mão acariciou meu braço. – Eu só quero você entenda que está fazendo a coisa certa, essa loja aqui é tudo pelo que vocês trabalharam. Vocês criaram isso juntos, é aqui que ele queria estar, é aqui que ele quer que você esteja.
Ela deslizou a mão do meu braço para o meu peito, acima do meu coração, e eu senti lágrimas brotando em meus olhos quando vi os seus brilharem de maneira diferente.
- É tão doloroso, . – Admiti por fim, vendo-a vir me abraçar de novo, dessa vez sua mão foi parar em minha nuca e ela afagou meus cabelos.
- Eu sei, mas vai passar, tá bem? Eu prometo. – Disse ela, enterrei meu rosto em seu pescoço e respirei fundo pela milésima vez naquele dia. Seu cheiro me lembrava infância e fazia eu me sentir em casa.
- Eu só queria que essa angústia passasse. Só isso.
- Quando você menos esperar, vai perceber que já passou. Olha só, eu ouvi Fred falar sobre essa loja durante anos, diariamente, incansavelmente e incessantemente. Era o sonho dele, é tudo que vocês batalharam... Não existe motivo plausível para você não reabrir essa loja, Georgie.
Ela ainda acariciava minha nuca quando Lee interrompeu nosso momento:
- Gente, está na hora.
- Você consegue. – Ela sussurrou para mim dando uma piscadela, apertou minha gravata, arrumou a gola de minha camisa e virou-se para Lee. – Eu ganho um avental maneiro assim?
- Sim, vem comigo. – Lee chamou-a indicando com a cabeça o caminho e eu respirei fundo criando coragem para sair dali.
A loja encheu com facilidade, a maioria dos clientes eram crianças e adolescentes. O Kit Mata-Aula foi o grande sucesso da vez, todo mundo se preparando para burlar as provas de final de semestre.
Durante o processo de responder perguntas, atender clientes, ajudar no caixa, arrumar objetos fora do lugar, retirar produtos do estoque para reabastecer as prateleiras, responder mais perguntas e ser simpático, percebi que não pensei em Fred quase o dia inteiro... Não da maneira melancólica que a perda me fez vê-lo, mas sim de maneira saudosa, lembrei da nossa primeira inauguração, de como andávamos juntos em todos os lugares e respondíamos perguntas juntos de maneira tão espontânea que era razoável o boato de que líamos a mente um do outro.
Me peguei sorrindo de verdade lembrando de alguns momentos, e também sorri de verdade vendo Lee e tão animados com o caos em que a loja se encontrava.
O local não ficou vazio em absolutamente nenhum momento.
passava por mim como um furacão, repondo objetos do estoque utilizando sua varinha para trazer vários frascos e caixas de uma só vez. Me mostrava a língua cada vez que me via.
Lee estava cuidando mais do caixa, me chamava quando algum cliente pedia descontos por estar levando mais de três itens ou quando algum reclamava do preço das coisas.
Alguns rostos conhecidos passaram por lá, meus pais vieram para dar um olá, e me desejar boa sorte, minha mãe ficou conversando alguns bons minutos com .
Hermione apareceu com Neville Longbottom, explicou que Ron e Harry estavam em Roma fazendo algumas pesquisas e não poderiam vir, mas que mandaram lembranças.
Neville comprou um par de Orelhas Extensíveis, e ficou longe do Creme de Canário alegando que ainda lembrava do sabor das penas em sua garganta, aquilo arrancou risadas de mim e de .
- Me desculpe por aquilo, Nev! – disse ainda rindo, pondo sua mão no ombro do garoto, fazendo-o dar de ombros rindo também. – Foi um mal necessário, e quero deixar bem claro que eu fui contra! Não fui, Georgie?
- Foi sim, foi tão contra que está se desculpando até hoje, mais de três anos depois. – Denunciei ainda rindo, percebendo que a mão dela ainda estava sobre o braço dele, sutil, leve e despretensiosa.
- Não dê ouvidos a ele, Nev, eu sempre te defendi das trambicagens dos três malfeitores. – Os três malfeitores era como Angelina e ela se dirigiam a mim, Fred e Lee durante os nossos tempos de escola.
- Isso é verdade. Não posso negar que as vezes seu nome surgia como sugestão na hora de testarmos algum produto novo. – Falei sem graça, coçando a nuca e ele sorriu.
- Está tudo bem, eu sei que não era o aluno mais atento da Grifinória mesmo... – Ele disse e sorriu.
- Não seja bobo, Nev. Finnigan vivia explodindo tudo que via pela frente... – o defendeu.
- É verdade, não sei como McGonagall nunca tirou pontos dele por isso. – Hermione interviu dando risadinhas também.
- Enfim, vou voltar ao trabalho antes que meu chefe brigue comigo. – disse, olhando de lado para mim, como se estivesse tentando disfarçar que falava sobre mim, nos arrancando algumas risadas. – Foi bom ver vocês dois.
Ela abraçou Hermione e Neville, indicando um “até segunda-feira” para ele.
Vários outros ex alunos de Hogwarts deram as caras na loja, todos sempre muito simpáticos comigo. No fim da tarde, quando estávamos lentamente começando a colocar as coisas em ordem pois o movimento havia caído drasticamente -o ápice foi depois do almoço-, mais uma pessoa entrou na loja, tive um pequeno descompasso quando a vi, mas mantive a compostura.
foi cumprimenta-la primeiro.
- Angel! – a abraçou com vontade, levantando-a do chão como costumava fazer na escola.
Era a primeira vez que eu via Angelina depois do término. Eu não sabia exatamente como reagir, e nem como ela reagiria.
Aproveitei que a distraía e fui até Lee.
- Angelina está aqui. – Indiquei a entrada da loja com a cabeça, e Lee disfarçou olhando as duas conversando animadamente.
- E agora? – Sussurrou ele para mim. E eu ergui os ombros em dúvida. – Espera para ver se ela vem conversar contigo, ela sabe que a loja é sua.
Ver Angelina ali aqueceu meu coração por saber que se ela havia reservado um tempinho do seu dia para ir até lá, talvez ela não estivesse tão brava comigo afinal. Eu não queria ter um relacionamento com ela, mas não significava que eu não queria tê-la por perto. Ela era uma amiga incrível.
Eu não conseguia ouvir o que as duas cochichavam entre elas por conta de minha orelha, e nem precisei, pois em menos de um minuto, senti dedos cutucando meu ombro enquanto Lee fingia que contava todas as possíveis moedinhas do caixa.
Virei-me meio contrariado e vi sorrindo abertamente, com o peito estufado, o orgulho de sua melhor amiga brotando em toda a sua aura.
- Oi Weasley. – Angelina disse ligeiramente sem graça, pondo uma de suas mechas para trás da orelha.
- Angelina, nossa, que legal te ver por aqui! – Eu estava tão atrapalhado que não sabia se a abraçava, apertava sua mão ou beijava seu rosto.
Por sorte ela foi menos estúpida e rodeou meu pescoço com seus braços e beijou meu rosto no meio do processo.
- Como você está? – Perguntou ela dando uma risadinha sem graça.
- Hum, Lee? – Ouvi o chamar. – Vamos lá... No estoque... Preciso te mostrar...
- Vamos, vem. – Ele disse tão ligeiro que nem vi a sua silhueta sumir atrás do caixa.
- Eu estou bem, eu acho... – Falei enquanto a soltava do abraço, que acabou não sendo esquisito como eu esperei que fosse. – E você?
- Eu estou arrependida. – Ela disse suspirando. – G, eu fui bem insensível com você na última vez que nos vimos. Me desculpa, tá bem?
- Não, Angel, eu fui bem imaturo também. Eu podia ter conversado melhor com você antes de soltar uma bomba como aquela.
- Você está em um momento completamente vulnerável e avassalador da sua vida, eu não tinha o direito de ser tão dura com você, como eu fui naquele dia. – Ela disse com a voz sufocada, como se tivesse treinado aquela conversa algumas vezes antes de vir.
- Eu não fui um bom namorado para você. Você também perdeu o Fred, e eu não tinha direito de te tratar daquele jeito. – Eu, por outro lado, estava falando o que me vinha na cabeça, sem direito a filtros pré-definidos.
- Você foi um namorado ótimo. Só que aquele não era o momento. Eu entendo. Demorou um pouco para entrar em minha cabeça, mas eu finalmente entendi que foi o melhor para nós dois, Weasley. Vamos nos perdoar? – Perguntou ela, unindo as mãos e erguendo os olhos, seu sorriso era lindo e seus olhos amigáveis .
- Vamos. Me desculpe, Angelina.
- Amigos? – Perguntou ela, erguendo o dedo mindinho e eu enrosquei meu dedo no dela, puxando-a para mais um abraço.
- Amigos.
Angelina ficou conosco até a hora de fechar a loja.
Arrumamos tudo, colocando cada frasco em seu devido lugar, retirando cada resquício de poeira e seguimos até o Caldeirão Furado para conversarmos um pouco como um grupo de amigos que não se via há muito tempo devia fazer.
Pedi uma cerveja amanteigada, Angelina me acompanhou, pediu uma taça de vinho de nabos e Lee pediu uma dose de hidromel.
Conversamos durante muito tempo, Angelina pediu à um relatório extenso de como estavam as coisas em Hogwarts, Lee contou sobre a vaga do ministério que seu pai havia conseguido para ele, e Angelina ajudava seus pais com o negócio da família, algo sobre ajudar na parte burocrática de terrenos e áreas trouxas e bruxas, sendo uma empresa que oscilava entre os dois mundos.
Algumas garrafas depois, já estávamos falando alto e lembrando dos nossos tempos de adolescentes em Hogwarts, como eu sentia falta de rir com meus amigos e falar bobagens da época em que nossa única preocupação era tirar notas razoáveis, não levar sermão da Professora McGonagall e não perder tantos pontos assim para a Grifinória.
O nome de Fred era citado em quase todas as recordações e, surpreendentemente, meu peito não ardia quando me lembrava dele, assim como a sensação que tive durante o movimento da inauguração, meu peito aquecia de maneira agradável, contente em saber que meu irmão curtiu tudo o que pode durante nossos anos na escola.
- E aquela vez em que colocamos a bomba de bosta na porta da masmorra da Sonserina? – Lee perguntou rindo animado e nós todos demos uma risada sincronizada.
- Fred tropeçou nas vestes e... – Não consegui terminar pois meus olhos encham-se de lágrimas de tantas risadas.
- Caiu três lances da escada! – continuou, rindo tanto quanto nós.
Angelina não estava conosco nesse evento, não, Angelina era certinha demais e tinha o time de Quadribol para se preocupar, mas ela sempre sabia das histórias já que sempre a mantinha por dentro das fofocas.
- Foi muito engraçado, quando conseguimos chegar até ele, o nariz estava sangrando... – Lee contou para Angelina como se ela não soubesse da história. – E a única coisa que ele perguntou foi...
- E a bosta, bosteou?! – Eu e dissemos juntos e explodimos em risadas de novo.
Continuamos relembrando de algumas pérolas, como da vez em que transformou o nariz de Lee em uma tromba de elefante na aula de transfiguração, da vez em que Fred perdeu o Mapa do Maroto para o gato de Hermione, e até da vez em que eu enfeiticei a escarradeira para cuspir de volta em quem cuspisse nela. Neste último, achamos que Filch teria um ataque do coração quando o primeiro cuspe voou em sua testa.
O sentimento de conversar com meus amigos de volta era inexplicavelmente aconchegante, Angelina estava tão tranquila e normal, que nem parecia que tivemos algum relacionamento que acabou há pouco tempo. Eu sentia falta da risada de cada um deles, cada uma delas de abraçando de um jeito diferente, até o momento em que o silêncio predominou, cada um perdido em suas próprias memórias.
- Vocês acham que eu ainda consigo realizar um Patrono? – Perguntei depois de alguns minutos em silêncio, pensando em todos aqueles sorrisos a minha volta.
- É claro que sim, G. Olha a quantidade de memórias felizes que nós temos. – Lee respondeu sem pestanejar. Angelina concordava com a cabeça. desviou o olhar por um segundo, eu sabia o que ela pensava e era exatamente a mesma coisa que eu: Será que apenas uma memória é forte o suficiente para me fazer esquecer que a tristeza da perda ainda é real?
- Concordo com Lee, Weasley, acho que você consegue. Não acha, ? – Angelina foi gentil, ela sempre era.
- É... Eu acho que... Sim. – não era o tipo de pessoa que tinha dúvidas, do tipo indecisa, pelo menos não era assim que eu via ela. Porém, nesse momento percebi que era algo que estava incomodando ela.
- ? – Angelina pescou a incerteza da amiga antes de Lee.
- Ah, vocês sabem, não tenho como ter certeza de algo assim. Foi um evento... Intenso. – Ela amenizou o uso da palavra traumático.
- Por que não tentamos?! – Lee disse animado levantando-se de supetão, Angelina sorriu e levantou-se também, esticando as mãos, uma para mim e a outra para . Eu e ela seguramos e nos levantamos meio contrariados. Olhei de soslaio para minha melhor amiga, seus olhos cruzaram os meus de modo furtivo, com uma pequena mexida de sobrancelha, entendi o que ela quis dizer: Nós vamos mesmo nos humilhar na frente dos nossos amigos soltando fiapos prateados miseráveis do que um dia foi um bichinho fofo?
Ergui minhas sobrancelhas de modo dramático querendo dizer: É, pelo que parece sim.
Ela entendeu, maneando a cabeça de maneira negativa e sorrindo meio sem graça.
Pagamos a conta e seguimos para fora do estabelecimento, demos as mãos e Angelina nos guiou, aparatamos em um campo aberto e escuro que parecia ser os fundos da sua casa, mas eu não conseguia confirmar com certeza.
Fazia frio e uma fumaça densa saía de nossas bocas, todos estavam vestidos para o frio que fazia, mas os corpos ainda estavam acostumados com o calor aconchegante que fazia dentro do Caldeirão Furado.
Angelina conjurou uma pequena fogueira, banquinhos e cobertores, ela e Lee dividiram um e eu e dividimos o outro.
- G, você quer tentar primeiro? – Perguntou ela demonstrando um certo encorajamento na voz.
- Por que Lee não vai primeiro, já que isto foi ideia dele? – perguntou de maneira leve, para não soar rude. Era nítido que ela não queria aquele tipo de pressão, assim como eu, mas não era algo do qual precisasse causar um desentendimento bobo.
- Tudo bem. – Ele disse levantando-se. Endireitou a postura e fechou os olhos por alguns segundos.
- Expecto Patronum. – Sua voz soou mais grave do que o normal, como se ele tivesse ciência da seriedade e da dificuldade do feitiço. De início, apenas uma fumaça prateada leve e flutuante saiu da ponta de sua varinha, depois de alguns segundos, da fumaça que havia se acumulado em sua frente surgiu a ponta da nadadeira de uma tartaruga, que foi cada vez mais saindo da pequena névoa nadando lentamente no ar em volta de Lee, era um Patrono majestoso e grande como uma tartaruga verdadeira deveria ser. e Angelina comemoraram e eu bati palmas para acompanhá-las.
Angelina levantou-se quando Lee parou de se concentrar e sua tartaruga se dissipou com a névoa do seu feitiço, ela já havia percebido que aquele era um assunto delicado quando a mim e e se prontificou a ir primeiro para dar o nosso tempo.
Eu lembrava do Patrono de Angelina das nossas aulas da Armada de Dumbledore: Uma coruja. Na época, eu disse que combinava com ela, já que era um animal inteligente, bonito e assustador. Lembro também que ela riu e empurrou meu ombro flertando.
Ela empunhou a varinha com imponência e ditou com clareza:
- Expecto Patronum. – Ela nem precisou se concentrar muito para a coruja brotar em sua frente, voando em sua volta como a tartaruga de Lee. Era um Patrono bonito que me deixava com um pouco de medo, do mesmo jeito que a verdadeira Angelina me deixava durante o ano em que foi capitã do Time de Quadribol.
Aplaudimos e comemoramos a coruja de Angelina e ela voltou ao seu banquinho saltitante e sorrindo, aquilo me deixou inexplicavelmente feliz. Saber que Angel estava bem depois do que eu havia feito com ela, me deixava realmente satisfeito.
levantou-se sem falar nada e foi para o mesmo lugar onde Lee e Angel haviam ido para tentar conjurar o feitiço. Ela estava determinada a não me deixar fazer aquilo se eu não estivesse pronto, o problema é que eu não queria que ela fizesse aquilo também, se ela achasse que não estava pronta. Mas eu sabia que era teimosa o suficiente para não admitir aquilo.
O Patrono de era um pinguim, também lembrava dele durante nossos treinos da Armada de Dumbledore. Lembro que eu e Fred caímos na gargalhada pois o seu pinguim não “nadava” no ar como a maioria dos Patronos que eram nadadores ou voadores, ele andava em pé no chão, olhando ao redor com um tom de dúvida, e isso me refletia uma característica de : a sua curiosidade. Não era um animal imponente ou majestoso, era um pinguim desajeitado e divertido, a imagem dela rindo abertamente quando viu o seu Patrono Corpóreo pela primeira vez vagou em minha mente, enquanto eu a via segurar sua varinha com força.
- Expecto Patronum. – A voz dela não saiu com a certeza ou a alegria que devia sair e, como consequência, nem fiapo, nem névoa, nem qualquer outra coisa apareceu.
- Está tudo bem, . Esquece isso. – Falei imediatamente, erguendo meu braço com o cobertor, indicando que ela devia voltar para o espaço vazio ao meu lado.
- Não, eu não... Me concentrei direito. – Respondeu ela, fechando os olhos e inspirando uma quantidade grande de ar, soltando-o depois com calma.
Empunhou a varinha novamente.
- Expecto Patronum. – Dessa vez, sua voz saiu com mais energia e a ponta de sua varinha acendeu-se tão fraquinha que só dava para perceber porque era de noite. Não era o Patrono Corpóreo que estávamos aguardando, significava que a sua lembrança não estava sendo feliz o suficiente.
- ... – Angelina interviu. – Isso foi uma péssima ideia, está tudo bem.
- Eu consigo. – era orgulhosa demais para admitir que não conseguia. – Só preciso escolher a lembrança melhor...
Fechou os olhos novamente, o semblante frustrado tomando conta do seu rosto, ficou durante alguns minutos escolhendo a lembrança perfeita.
Eu conseguia entende-la melhor do que ninguém.
Não era fácil olhar para trás e simplesmente escolher uma lembrança feliz. Tivemos sim vários momentos felizes ao ponto de mijar na calça de tanto rir, porém aquela lembrança podia se tornar um memorial de funeral em meio segundo em nossa cabeça. Lembrar de Fred podia ser feliz e triste ao mesmo tempo, não tinha meio termo em nosso peito. Lee e Angelina lembravam-se dele como o cara divertido, o cara das folias, o cara que fazia todos rirem, por isso era fácil lembrar de um momento feliz e se encher de alegria. Para mim e , lembrar de algum desses momentos, era lembrar que ele não estava mais ali, lembrar que nunca mais daríamos uma risada tão genuína quanto demos ao seu lado, nunca mais nos divertiríamos tanto, e nunca mais amaríamos alguém como o amamos.
E mesmo assim, ouvi a sua voz mais uma vez:
- Expecto Patronum!
Algumas fagulhas brilhantes saíram da ponta de sua varinha, e o seu Patrono começou a se formar no ar e não no chão como eu esperava.
Num primeiro momento, achei que fosse ver seu pinguim nadando à sua volta, como um triunfo feliz da sua conquista, mas ao invés disso, vimos um pássaro com peito branco brilhante voando em volta dela. Um patrono igual o meu. Uma pega. O mesmo patrono de Fred.
deu um gritinho assustado, isso fez com que ela se desconcentrasse e o patrono sumiu. Ela tapou a boca com as mãos e olhou diretamente para nós.
- Vocês viram isso?!
- Por Merlin, amiga, o seu Patrono tomou a forma do Patrono do Fred. – Angelina parecia tão estarrecida quanto todos nós.
- Puxa vida, eu já tinha ouvido falar disso, mas nunca tinha visto pessoalmente. – Lee disse.
Minha cabeça girava, eu sabia o quando aquela garota amava meu irmão, mas nada te prepara para o fato de que ela foi tão marcada por ele, fosse por sua vida ou por sua morte, a ponto de seu Patrono mudar de forma...
ainda estava aturdida quando me levantei e a abracei, enrolando nossos corpos com o cobertor, a garota desabou quando seus braços enrolaram minha cintura. Risos e choros saíam juntos, ela fungava e gargalhava, o peito cheio de emoções tanto quanto o meu.
- Você é muito esquisita, sabia? – Sussurrei para ela, fazendo-a rir mais ainda.
- Você que é, quem é que tem a porcaria de um pássaro como patrono? – Perguntou ela fungando e deitando a cabeça em meu peito.
- Bom, aparentemente, você tem.
Caímos na gargalhada juntos e logo depois sentimos os braços de Lee e Angelina se juntando a nós em um abraço em grupo.
- Vocês são dois esquisitões. – Lee disse, sua voz era divertida.
- Mas nós amamos vocês mesmo assim. – Angelina completou, e a nossa noite terminou assim. Ninguém tocou no assunto de que eu devia tentar produzir o meu Patrono, apenas ficamos ali, colecionando lembranças, enrolados em cobertores, curtindo a companhia um do outro.
Fim do ponto de vista de George.
Flashback – Estufa de Herbologia – 01 de outubro de 1991.
- e Diggory, por favor fiquem um pouco. Quero conversar com vocês. - Professora Sprout disse assim que todos os alunos se levantaram para sair da sala de aula. Angelina me olhou de sobrancelhas erguidas e dei de ombro sem entender muito bem.
- Podem ir indo, alcanço vocês lá. - Sussurrei para meus amigos que me esperavam. Peguei meu livro de Herbologia e o abracei sob o peito enquanto via Fred saindo por último na porta, e dando uma espiadinha de volta por cima do ombro.
Teríamos o nosso primeiro treino de Quadribol com o time completo e Oliver estava animado com a vinda de Harry Potter como o mais novo apanhador do século. Eu era oficialmente uma artilheira do time, junto com Angelina e Alicia.
O lufano Cedric Diggory me olhou de cima a baixo quando nos aproximamos da mesa da professora, suas bochechas rosadas ficando mais vermelhas do que o habitual.
- Escutem, eu preciso de ajuda para manter a estufa em ordem. De tempos em tempos eu seleciono alguns alunos que se destacam na matéria para me ajudarem aqui com envasamentos, replantio… Meus pupilos do ano passado se formaram e agora preciso de novos. – Sra. Sprout disse simpática. Seu chapéu era surrado e manchado de terra escura, ela tinha um semblante tranquilo nos olhos. Senti uma animação tomar conta de meu peito quando entendi o que ela estava dizendo. Continuou: - E gostaria de saber se vocês dois estão dispostos a me ajudar com as plantas que temos aqui, estou falando de rega, poda, troca de vasos e até alguns cuidados extras com as plantas mais perigosas. Preciso de dois alunos sérios e comprometidos, não posso me dar ao luxo de perder algumas plantas daqui, são bem importantes e Madame Pomfrey precisa delas para dar aos estudantes que vão para a enfermaria.
Engoli seco sabendo que aquela era uma grande responsabilidade, mas estava realmente animada em receber certo crédito por minha boa conduta nas aulas. Eu nunca tinha dado muita atenção ao Cedric (era meio difícil quando se tem George e Fred falando besteiras ao seu lado durante a aula inteira), não sabia dizer se ele era realmente um bom aluno assim como eu, mas se Sra. Sprout estava nos recrutando... Imagino que ele tenha algum diferencial.
- O que vocês acham? - Ela terminou seu discurso e eu respirei fundo antes de responder, dando a chance para que o lufano falasse algo. Ele não o fez.
- Professora, estou lisonjeada! Sempre tive muita ligação com plantas por conta dos meus pais trouxas e fico muito feliz de ter herdado essa aptidão. Com certeza aceito o desafio, só gostaria de saber se isso ficaria de alguma maneira em meu currículo? Seria ótimo para o meu futuro! - Soei mais séria do que eu queria, mas Sra. Sprout pareceu gostar, Cedric já não tenho tanta certeza.
- Mas é claro, querida. Será como um estudo complementar. E você, Diggory, o que acha?
- É claro Professora, acho muito interessante.
- Ótimo! Acho bom vocês se conhecerem melhor, pois irão passar bastante tempo livre juntos a partir de agora. Conversaremos melhor na próxima aula. Está bem?
- Sim, senhora.
- Uau, dá para acreditar? – Perguntei assim que saímos da estufa, não conseguindo conter minha animação.
- Isso foi bem inesperado. – Respondeu Cedric, ele usava seu cachecol apenas pendurado em seu pescoço, sem dar realmente uma volta. – Ainda mais para uma Grifinória.
- O que você quer insinuar com isso? – Perguntei unindo as sobrancelhas, em uma falsa irritação.
- Ah, desculpe. – Suas bochechas coraram. – Eu não quis soar dessa maneira. É que a Sra. Sprout sempre dá preferência para alunos lufanos, já que ela é diretora da casa, entende? Eu não quis...
- Relaxa, Diggory, só estou zoando com você. – Falei rindo, empurrando seu ombro com o meu. – Você é sério demais.
- Não sou sério demais.
- Ah, não? Eu nunca vi você dando um sorriso. – Joguei um verde, afinal não tinha como eu vê-lo sorrindo sendo que nem notava sua presença na sala de aula, mas queria saber o que ele diria sobre aquilo.
- E como veria? Você só tem olhos para o “gêmeos Weasley”. – Ele disse ligeiramente convencido, erguendo os ombros.
- O “gêmeos Weasley”? No singular? – Perguntei unindo as sobrancelhas, engolindo seco. Será que ele havia notado algo que eu nunca havia notado antes?
- Não, eu me refiro aos dois, mas falo desse jeito porque não sei diferenciá-los, eles são a mesma pessoa para mim. Acabou virando uma piadinha entre meus amigos. – Ele disse, unindo as sobrancelhas mostrando um semblante realmente confuso.
Dei uma risada alta. Para mim era tão fácil diferenciá-los que eu conseguia saber quem estava falando apenas pela entonação da voz.
- Adorei esse apelido, acho que vai pegar. – Falei de um jeito que pareceu meio irônico, de modo que ele uniu a sobrancelha tentando decifrar se eu falava a verdade ou não, mas rapidamente voltei ao assunto, para deixa-lo ainda mais confuso: - É claro que só tenho olhos para eles, são meus amigos! E como você sabe que eu só tenho olhos para eles? Por acaso você está me espionando, Diggory?
Eu dava passadas largas, quase correndo, não queria me atrasar para o treino, ele acompanhava meu ritmo. Cedric gaguejou antes de prosseguir.
- Não tem como não os notar, são espalhafatosos e barulhentos. Automaticamente noto você também, já que está sempre com eles. - Ele conseguiu dizer depois de respirar visivelmente nervoso.
- Vou fingir que acredito nisso. – Respondi sem delongas sorrindo, enquanto via suas bochechas corarem de novo.
- Por que você está correndo? – Perguntou ele, ainda lutando para me acompanhar.
- Tenho treino de quadribol.
- Por Merlin, você está no time de quadribol também? – Sua voz já saía ofegante por acompanhar meu ritmo frenético por entre os corredores do castelo.
- Como assim, também? – Perguntei unindo as sobrancelhas.
- Eu sou apanhador. – Ele conseguiu encher um pouco o peito enquanto dizia aquilo.
- Céus, você vai me perseguir em todas as aulas e ainda vai conseguir me incomodar no campeonato de quadribol?
- Parece que finalmente encontrei uma concorrente à altura. – Brincou ele sorrindo.
- Olha só, você sabe sorrir!
- Esse é o efeito . – Ele disse e parou de me acompanhar, virando em uma esquina seguindo para outro caminho enquanto minha mente martelava o que ele havia acabado de dizer. Efeito ? O que ele queria dizer com aquilo? Que eu tinha algum tipo de efeito sobre ele?
- Até que enfim ! Achei que teria que ir resgatá-la da boca de alguma planta carnívora. – Oliver disse em um tom tenso, não em um tom engraçado.
- Desculpe. – Apenas me limitei a dizer e ele ergueu as sobrancelhas surpreso pois geralmente recebe um “não enche” em troca.
- O que a professora queria? – Angelina sussurrou para mim.
Fui explicando devagar, na medida que a conversa não sobressaísse a voz de Wood, que estava nos apresentando Harry e em como ele ajudaria no time.
Eu já estava sobre minha Shooting Star treinando alguns movimentos que Wood havia direcionado quando ouvi a voz de Fred atrás de mim:
- Então quer dizer que agora você é uma puxa-saco lufana? – Perguntou ele, com seu sorrisinho sacana.
- Eu sempre te achei meio doidinha mesmo... – George complementou, se aproximando pelo outro lado.
- Eu devo ser bem doidinha mesmo para ser amiga de vocês. – Respondi rindo e Fred deu a volta por cima de mim com a vassoura.
- Você não vai aceitar essa oferta, não é?
- Você vai perder muito tempo de qualidade sendo que nós estaremos com o Mapa do Maroto explorando o castelo... – George listou, tentando me deixar dividida.
- Qual é meninos, vocês estão mesmo com ciúmes disso? – Perguntei sorrindo marota.
- Ciúmes não, só estamos preocupados que você seja uma lufana enrustida que possa entregar nosso jogo ao bonitinho Diggory. – Fred retrucou ligeiro.
- Pode ficar tranquilo Fred, não vou trocar vocês por ele, tá bom? – Pisquei mostrando a língua.
Ele rolou os olhos e George riu.
- Balaço. – Avisei e saí de perto, deixando os dois resmungando alguma resposta enquanto me aproximava de Potter.
- Como estão as coisas por aqui, Potter?
- Estão tudo... Sei lá, ainda estou tentando entender as regras.
- ! – Ouvi a voz de Alicia me chamar e agarrei a goles que voava em minha direção.
- Fica de olho no pomo que vai dar tudo certo. – Falei sorrindo para ele, tentando tranquilizar aquele garotinho que parecia tão perdido quanto eu no meu primeiro dia de treino n’A Toca.
O treino foi bom para entrosar o time. Analisando do ponto de vista de quem só havia assistido jogos até então, Harry era um bom apanhador e tinha potencial para ser excelente com o treino e a motivação certa. Eu, Angelina e Alicia tínhamos uma química incrível, e Wood estava realmente empolgado com o desempenho do time e citou várias vezes que finalmente tínhamos um time que podia concorrer de verdade no campeonato este ano.
Fred e George fingiram estar incomodados com minha “troca de casa” e ficaram me chamando de puxa-saco lufana durante a semana inteira.
Cedric e eu viramos oficialmente os monitores da estufa de Sra. Sprout, vivíamos lá em horários vagos, cuidando das plantas, colhendo adubos, podando folhas, entregando algumas para professor Snape e outras para Madame Pomfrey. Eu sempre pedia para Ced fazer a entrega ao Snape, pois não gostava do jeito que ele tratava os grifinórios.
Nós viramos amigos com facilidade e ele era do jeito que eu desconfiava: quieto, envergonhado e metido a sabichão, em contrapartida, ele tentava se acostumar com meu jeito desbocado e ligeiro. Fizemos uma boa dupla. Angelina vivia insistindo que ele era afim de mim, mas eu não me deixava levar, já que não queria que ela soubesse que eu também tinha uma quedinha por ele.
Fim do flashback.
Capítulo 5
25 de dezembro de 1998 – A Toca
Ponto de vista:
Estacionei o carro em frente à garagem de Sr. Weasley, e assim que tirei a chave da ignição pude ver Molly sair pela porta sorrindo de braços abertos. Minha avó, que estava no banco do carona, ainda estava de boca aberta olhando a altura da casa pelo para-brisa.
Lucille foi convidada para o jantar de Natal dos Weasley’s. Tudo começou quando em um determinado fim de semana pedi a ajuda de Sra. Weasley para contar a verdade à minha avó. Ela merecia saber da verdade, e eu tinha medo que se contasse sozinha, talvez ela não fosse realmente acreditar, ou talvez eu não fosse capaz de me fazer entender para ela. Então Molly fez a sugestão de que ela, Arthur e George fossemos juntos. Foi um momento extremamente delicado, um assunto difícil de tocar, a ferida aberta ainda era muito dolorida e fiquei muito agradecida por ter esse apoio. Acontece que minha avó também conhecia a morte de perto, ela também teve um filho assassinado por Comensais da Morte e soube lidar muito bem com a situação, de modo que ela não só aceitou o que aconteceu, mas também nos recebeu de braços abertos e ainda nos disse verdades duras de serem ouvidas que pareciam ter saído da boca do próprio Dumbledore, como: A morte, quando vinda sem espera, é o maior teste de força que uma pessoa pode receber.
E como era verdade! O elo que mantinha eu e George juntos nunca foi tão forte quanto agora, assim como o meu elo com a família Weasley inteira. Eu passava os dias pensando em como ele estava conseguindo lidar com tudo sozinho, ficava orgulhosa de cada passo que ele dava e me sentia cada vez mais confortável em sua presença.
- Ah, Sra. ! – Molly exclamou sorridente.
Arthur saiu logo atrás, seguido de Bill, Fleur e George. Descemos do carro e enquanto cruzávamos o jardim, mais e mais cabeleiras ruivas apareciam à porta. Percy, Charlie, Ron, Ginny, depois Hermione e Harry, que segurava um bebê gorducho no colo.
Nos cumprimentamos todos, apresentei minha avó e os meninos ofereceram ajuda com tudo que estava no carro, minha avó trouxe tantos presentes que fiquei com medo que tivesse que usar um feitiço indetectável de extensão no porta-malas.
- Me chamem de Lucille, por favor. – Minha avó foi simpática, ainda meio duvidosa quanto à casa meio torta, ela se aproximou de todos dando um beijo no rosto de cada um.
- Venham, venham! Montamos uma mesa festiva lá atrás – Arthur disse e seguimos caminho.
Eu ainda estava cumprimentando todos quando seguimos viagem em torno da casa para chegarmos lá.
- Esse bebê lindinho é de vocês? – Minha avó puxou assunto indicando Harry e Gina, segurando a mãozinha do bebê.
- Ah, não – Harry disse ligeiramente nervoso. – É meu afilhado.
- É o filho da Tonks e do Lupin – Gina explicou para mim, já que minha avó não fazia ideia de quem eram.
Aquela informação gelou minha alma, fez todos os pelos do meu corpo se arrepiarem e meus olhos imediatamente marejaram, lembrando-me da alegria contagiante de Tonks e da calmaria sábia de Lupin.
- Posso pegá-lo um pouco? – perguntei com a voz embargada, tentando disfarçar um pouco dando um sorriso.
- É claro – Harry disse entregando-me o bebê que imediatamente agarrou meus cabelos com suas mãozinhas ligeiras. Segurei-o pelo tronco, de modo que pudesse ver bem o seu rostinho. Era um bebê lindo, com olhos castanhos muito claros, os cabelos eram cor de palha como os de Lupin, mas o rosto inteiro me lembrava Tonks.
- Hey, Theodore.
Assim que ouviu seu nome, ele abriu um sorriso que revelava alguns dentinhos, eu sorri de volta o movimento em meu rosto fez algumas lágrimas escaparem. O abracei e ele deitou a cabecinha em meu ombro.
- Ele é lindo – falei para Harry e Gina e eles concordaram com a cabeça.
- Sim, e ele é como Tonks. Às vezes muda a cor do cabelo sem querer, ainda não sabe fazer mais do que isso – Gina disse.
Minha avó conversava com Molly e Arthur. George voltava de dentro da casa com Bill e Charlie, eles haviam levado as coisas de minha avó para dentro. Hermione, Rony e Percy conversavam um pouco mais afastados.
- E como vocês estão? – perguntei a eles, ainda segurando Ted no colo embalando-o de um lado para outro lentamente.
- Estamos bem, está tudo bem por aqui – Harry respondeu acariciando meu braço. – Fazia tempo que eu não te via, .
- É verdade, como está o curso de Auror? - perguntei. Harry já era um Auror de qualquer maneira, mas para que tudo ficasse correto nos papéis, ele precisava fazer um curso e depois passar em uma prova, Rony estava fazendo o curso também.
- Está indo, é bem puxado, mas...
- Nada que o nosso Escolhido não consiga fazer – George brincou, bagunçando os cabelos de Harry e o abraçando pelo pescoço.
Conversamos um pouco, Bill, Fleur e Charlie nos acompanharam e durante todo este tempo o pequeno Ted ficou em meu colo.
- , acho que ele dormiu – Gina disse em certo momento e eu realmente tinha percebido que as mãozinhas dele haviam parado de mexer em meu cabelo. Harry o tomou de meus braços e levou para dentro de casa, onde provavelmente o acomodou em alguma cama.
George aproveitou que eu estava “livre” e me puxou um pouco nos afastando de todos. O clima de festa era aconchegante, vozes diversas se sobressaíam sobre os mais diversos assuntos, e de longe observei minha avó muito bem acompanhada de Sr. e Sra. Weasley que lhe serviam uma taça de alguma bebida que eu não sabia dizer o que era.
- Como você está, baixinha? – Ele usava uma touca de lã na cabeça, um suéter Weasley com um G no peito e calça marrom, seus cabelos estavam crescendo um pouco e a pontinha deles parecia por baixo da touca.
- Estou bem, G. E você? – perguntei enlaçando meus braços em seu tronco, finalmente o abraçando de verdade desde que cheguei. O abraço era nosso cumprimento oficial agora, era algo que nos dava força para continuar, nosso calor se misturava emanando uma onda de calmaria em ambos.
- É, estou indo. – A gente não precisava mais conversar sobre Fred sempre que surgia uma oportunidade, nós dois sabíamos que era algo que pairava entre nós, mas que não precisava ser mencionado a todo instante. Aquele fantasma perambulava entre nós, entre nossas conversas e entre nossos momentos, sabíamos que estava ali presente e que nunca iria nos abandonar, tocar no assunto só faria nosso coração murchar de saudades e dor.
Soltamos do abraço e ele tocou meu nariz com o dedo, sorrindo.
- Que bom, eu... Eu queria te dar meu presente de Natal antes, se não se importar.
- Nossa, isso é uma ótima ideia – falei pensando no presente que havia trazido para ele que estava no bolso interno do meu sobretudo. Meu presente era simples, mas nunca se sabe.
Fui até minha avó informar que estava indo lá dentro e já estava voltando, ela concordou tranquilamente já que agora ouvia histórias divertidas dos anos em Hogwarts; conhecendo minha avó como eu conhecia, ela com certeza estava perguntando a todos os casais como eles se conheceram. Quem estava falando quando me aproximei era Rony, com Hermione argumentando a cada frase que ele dizia, fazendo todos rirem da dinâmica do casal.
Fomos até o quarto de George, o quarto agora tinha um ar vazio, já que não havia mais a presença dele ali com tanta frequência. Parecia mais um quarto de hóspedes do que um quarto de um dos gêmeos.
Em cima da cama havia um embrulho feito de papel com um cordão de algodão cruzado fechando o laço.
- Desculpa não te dar algo melhor, eu só quis... Ah, você sabe – ele disse, pegando o embrulho e me entregando. Peguei o pacote e puxei o cordão, retirando o papel e o que tinha dentro fez meu coração palpitar irregular, olhei do presente para George.
- Georgie, você não precisa... – Minha voz já estava falhada. Abri o suéter de lã igual ao que George vestia, só que com um F na frente e levei até o rosto, cheirando-o com vontade. O cheiro de Fred me inundou como um abraço quentinho, um cheiro amadeirado, levemente cítrico com aquele fundinho de fumaça que eu amava. Que saudade, meu Deus.
Senti lágrimas descerem por minhas bochechas sem ao menos perceber que meus olhos estavam marejados.
- Eu não posso aceitar – falei, a voz tão embargada que mal deu para entender.
- É claro que pode, . É seu, sempre foi – ele disse se mantendo firme, seus olhos apenas brilhavam sem lágrimas. George havia se preparado para aquele momento, enquanto eu parecia uma criança chorona.
Olhei o suéter, sentindo a textura dos fios em meus dedos e fui automaticamente transportada para o pátio em frente ao lago em Hogwarts, a neve de janeiro ainda não havia caído e Fred estava sentado ao meu lado, com a manga do suéter levantada até os cotovelos, rindo de qualquer besteira que conversávamos enquanto jogávamos grama no cabelo de George que estava deitado à nossa frente com as pernas cruzadas e os braços dobrados atrás da cabeça. Os gêmeos estavam com o cabelo comprido, então presumo que fosse uma lembrança do nosso quinto ano.
- Você tem certeza? – Finalmente cedi, lembrando também das vezes em que eles trocavam de suéter para confundir as pessoas.
- Sim.
- Puxa, obrigada, George. Isso é incrível, eu amei! – falei, sentindo uma ou duas lágrimas escorrerem por minha bochecha. Ele sorriu, um sorriso genuíno de felicidade, daqueles que era realmente difícil ver ele dar nos dias atuais. – Eu prometo que vou guardar com todo o meu coração para quando você tiver um filho.
Ele soltou uma risada afetada que se transformou lentamente em um rosto triste, percebi que toquei em um ponto sensível e me arrependi imediatamente. Ele puxou meu sobretudo me abraçando com urgência, fui pega de surpresa quando ouvi ele chorando. Os soluços esganiçados vieram logo depois, junto de um farfalhar angustiante de quem havia segurado a respiração por muito tempo.
Contornei meus braços em seu pescoço, ficando na ponta dos pés para este feito, eu ainda segurava o suéter em uma das mãos e a outra mantive em sua nuca. George chorou descontrolado por alguns segundos e depois respirou fundo, tentando voltar ao normal.
- Merda, . O que vai ser de mim? – perguntou ele quando conseguiu manter a voz firme.
Era a minha vez de segurar as pontas, a nossa gangorra de emoções sempre tinha que estar estável, quando um quebrava o outro segurava, e assim a gente ia se balançando sem deixar o outro cair.
- Você vai ser o cara incrível que eu conheço. Vai ter uma vida maravilhosa, porque é isso que ele iria querer. Vai ter um casamento lindo, com uma mulher perfeita e vai ter um filho que vai se chamar de Fred Weasley e vai me chamar para ser a madrinha dele. E eu vou dar esse suéter para ele quando ele tiver idade para saber quem foi o verdadeiro Fred Weasley.
Soltei nosso abraço e segurei seu queixo, fazendo-o olhar para mim.
- George, você é o cara mais incrível que eu conheço, você é a merda do meu porto seguro, e você está indo bem. Nós dois estamos, está bem?
Ele concordou com a cabeça, fungando e limpando as lágrimas com as costas da mão. Soltei seu rosto.
- Eu tentei me preparar para esse momento. – Ele se referiu à entrega do presente.
- Eu percebi, fiquei muito orgulhosa.
- Mas aí você vem mencionar a porcaria de um filho, ? – Ele soltou uma risada ainda meio chorosa.
- Não fiz por mal, achei que seria um momento bonitinho entre nós – falei acompanhando sua risada.
- Foi bonitinho. – Ele fez uma careta, me fazendo rir novamente. – Nessa sua previsão, como você fica?
Seu sorriso denunciou que ele havia gostado do que eu disse sobre sua vida.
- Ah, eu vou estar muito bem casada também! Talvez um primo francês da Fleur? – perguntei rindo. – Vou ter uma filha, Roxanne, e ela será o porto seguro de Fred Weasley assim como o pai dele foi para mim – falei espiando seu rosto e vi suas bochechas corarem por um instante.
- Roxanne, huh? – perguntou ele pigarreando. – Roxanne Delacour – pronunciou com um sotaque carregado francês me fazendo cair na risada.
- Bem charmoso, não acha? – brinquei e ele sorriu.
- Charmoso demais, não vou deixar ninguém chegar perto dessa pirralha, como padrinho, vou tomar as devidas providências.
- Combinado então.
Soltamos uma risada sincronizada e lembrei-me do meu presente.
- Ah, quase me esqueci – falei retirando um saquinho de veludo do bolso. – Feliz Natal, Forge.
Ele abriu o pacotinho incerto e puxou o fio dourado.
- Uau, é bonito! O que é?
- É um relógio de bolso. Você precisa ter um agora que é um homem de negócios.
Fui ao seu lado para ensiná-lo a manusear, era um relógio com desenhos ornamentais de proteção, feito à mão, com o seu nome gravado na parte de trás. Abri-o, na parte de dentro tinha um relógio trouxa comum e mais um botão extra que fazia o objeto se transformar em um relógio bruxo como o que havia na cozinha. Na parte interna da tampa, eu havia colocado uma pequena foto dos dois juntos, onde eles faziam pose na frente da loja, primeiro ficavam de costas um para o outro de braços cruzados e depois viravam de frente e caíam na risada. A foto só aparecia quando ele clicava no botão que transformava em um relógio mágico. Quando ele estava no método tradicional, não havia foto.
- Nessa parte interna da frente, é bem comum colocar uma foto de algum ente querido. Pensei em colocar algo, mas achei melhor você mesmo decidir a foto que quer colocar, ou deixar o espaço reservado para algo futuro – expliquei e ele concordou com a cabeça.
Mesmo explicando o espaço vazio na tampa, George ficou encarando a versão mágica, onde a pequena foto dos dois ficava se repetindo pela eternidade. Ele não chorava, apenas olhava com certo saudosismo.
- Obrigado, , é perfeito! Com certeza vai ser bem útil – disse, passando o braço pelo meu pescoço e beijando o topo de minha cabeça, não perdi tempo em enlaçar sua cintura novamente.
Nesse momento, ouvimos a porta abrir e Charlie pôs a cabeça para dentro.
- Mamãe pediu para chamar vocês, vamos abrir os presentes.
- Estamos indo – George disse prendendo o fio do relógio no cós da calça colocando-o no bolso como eu havia lhe explicado.
Estavam todos reunidos na sala que parecia estranhamente maior do que de costume, tenho certeza de que algum feitiço foi lançado ali, havia uma árvore enorme ao lado da lareira e no canto oposto havia um chiqueirinho onde Ted dormia tranquilo.
A família estava espalhada pelo ambiente, alguns sentados, outros em pé, vovó estava sentada na poltrona ao lado da árvore. Fui até ela e perguntei se estava tudo bem, ela apenas concordou com a cabeça sorrindo.
Alguns já trocavam presentes, vi Gina entregando um presente a Harry e Bill passando uma correte dourada pelo pescoço de Fleur; Rony abria uma caixa, entusiasmado enquanto Mione o observava com um sorriso no rosto; a Sra. Weasley vinha na minha direção, me entregando um pacote de papel pardo como o presente que George me deu. Era um par de meias grossas feitas por ela mesma, ela sabia que eu adorava suas meias quentinhas para dormir.
Iniciei minha distribuição de lembrancinhas, tudo ali era muito simples e de coração, dei jujubas azedinhas para Rony e Hermione (Ron ia abrir na hora para comer e Molly brigou com ele para comer apenas depois do jantar), dei snap’s explosivos para Gina e Harry, penas novas para Percy, e assim por diante. Depois que todos estavam devidamente presenteados, minha avó se levantou:
- Bom, eu nunca havia participado de um Natal bruxo antes, então vim meio despreparada... – Ela tentou fingir que ninguém havia visto a sua pilha de presentes que eu insisti que não precisava comprar.
- Vovó, a senhora literalmente trouxe presentes para todo mundo – falei baixinho, fazendo todos soltarem risadas.
- Eu sei, mas não são presentes bruxos, são presentes trouxas! – ela respondeu argumentando com as mãos.
- Está tudo bem, tenho certeza que todos vão adorar – respondi fazendo carinho em seu ombro. Ela fez sinal para que eu pegasse o primeiro presente.
Todas as suas caixas estavam embaladas com um papel de presente bonito com desenhos de flores e varinhas de alcaçuz, todos eles tinham etiquetas com a sua letra cursiva elegante identificando de quem era o presente.
- Sr. Weasley. – Ela recitou quando leu o primeiro presente que eu lhe entreguei. Arthur se levantou comovido, um sorriso enorme no rosto, pegou a caixa, abraçou minha avó e abriu o presente empolgado.
- Sra. , realmente não precisava... – Era nítido que ele estava empolgado para saber o que era, principalmente sabendo que era algum item trouxa. Eram canetas esferográficas e post-it’s coloridos. Hermione explicou o que era quando ele voltou ao seu lugar. Ele adorou.
Para Sra. Weasley, minha avó deu sabonetes glicerinados caseiros que ela mesma havia feito; para Harry um isqueiro, pois podia ser útil como auror; para Gina um cronômetro, para ela treinar seus ataques e tempos nas partidas de quadribol; para Bill e Fleur uma calculadora para cada, já que eles trabalhavam no banco; para Charlie uma bússola, caso ele se perdesse em alguma expedição cuidando de dragões; para Percy um grampeador, para usar com as papeladas no ministério; para Ron um cantil, pois poderia ser útil como auror também; para Hermione, um livro de receitas caseiras, que ensinavam a fazer pomadas, remédios, produtos de limpeza e etc.; e para George ela deu sua máquina Polaroid antiga, para ele registrar todos os seus momentos felizes.
Absolutamente todos ficaram contentes com seus presentes, pude notar em cada um que minha avó havia tocado alguma parte dentro deles e fiquei secretamente feliz por ela ter ouvido todas as minhas dicas e explicações sobre cada membro da família.
Cada um olhava seu presente com orgulho quando Bill se pronunciou:
- Muito obrigado, Sra. Aplebby, acho que digo por todos que foi muito atencioso da sua parte.
- Sim, ficamos realmente encantados com tanta delicadeza em escolher um por um – Molly disse, encantada com os sabonetes, cheirando um deles.
- Já dá para saber de onde a herdou tanto carisma – Charlie brincou e minha avó sorriu contente.
- Eu adoraria ter dado algo melhor, mas era muita gente para lembrar! Já estou feliz de não ter esquecido de ninguém. – Ela sorriu olhando para todos e por fim olhou para mim: - E não, eu não esqueci de você, patinha.
Minha avó retirou um embrulho da bolsa que ela sempre carregava e me entregou, era uma caixinha de joias de veludo, abri com entusiasmo e dentro havia um colar bonito que combinava com o anel que eu entreguei a Fred no dia da batalha. O pingente de ouro tinha o desenho de uma lua e um sol.
- É lindo, vovó, muito obrigada!
- Era da sua mãe.
Aquilo me tocou, acariciei o pingente sorrindo e o retirei da caixinha. George prontamente estendeu a mão, oferecendo-se para colocá-lo em mim. Ergui meus cabelos e ele se pôs atrás de mim para engatar a corrente. Todos nos olhavam com sorrisos nos olhos.
- Ficou lindo, querida – minha avó disse quando ele terminou, e eu sorri agradecida a abraçando.
- . – Ouvi a voz de George e o olhei, senti o flash da câmera em meu rosto e dei um tapinha em seu ombro por ter me pegado desprevenida. A câmera soou alta e cuspiu a foto logo depois.
- Não mexe? – Ouvi Ron sussurrar para Mione e ela negou segurando um sorrisinho.
Depois da troca de presentes, fomos para a mesa jantar. A mesa estava farta, Fleur havia trazido cassoulet, um prato francês, Sra. Weasley havia feito lombo de cordeiro com molho de figos, e minha avó tinha levado torta de frango com amendoins e um salmão assado, havia também farofa, molhos e saladas. Tudo estava perfeito, o pequeno Ted nos acompanhou, comemos com calma, conversando e rindo, nos divertindo na medida certa. Vovó estava muito confortável com todos, Charlie estava sentado ao lado dela e vivia fazendo piadas e brincadeira fazendo-a dar boas gargalhadas.
De noite, depois da sobremesa e de Molly e Arthur mostrarem toda a casa por dentro e mostrarem os pomares, a horta e conversarem bastante com minha avó enquanto eu curtia um tempo com os membros Weasley que eu não tinha tanto contato, chamei minha avó para irmos embora.
- Gente... obrigada pela... noite, foi... tudo incrível – falei, enquanto me despedia de cada um.
Eu e minha avó estávamos com os braços cheios de presentes e lembrancinhas.
- Eu nem sei por onde começar, obrigada a todos pela hospitalidade, mas acho que tenho muito mais a agradecer... – Minha avó iniciou. – Quando entrou em Hogwarts, eu tive muito medo de que ela pudesse não se encaixar, por ser... vocês sabem, nascida trouxa. Eu não sabia como era nada disso, a escola, o mundo bruxo, e até receber a primeira coruja com uma carta de quase dois metros explicando tudo, fiquei muito preocupada. E nunca, em toda a minha vida, eu achei que ela fosse encontrar uma família naquele lugar! tem a sua família de sangue, tem primos, tios e tias, mas nada, absolutamente nada, se compara ao amor que eu sinto que vocês têm por ela aqui nesse lugar e eu sei que ela também sente. Muito obrigada, pessoal, por tratarem e cuidarem tão bem da minha neta, ela é tudo para mim e significa muito saber que ela é tão amada. É reconfortante saber que ela terá um lar quando eu me for...
Senti minhas bochechas queimarem, mas de modo algum tentei vetar minha avó, ela estava falando com o coração e eu tinha orgulho de quando ela fazia isso.
O falatório começou todo junto, George veio até minha avó de braços abertos e a abraçou com força, enquanto Charlie vinha até mim e me dava um cascudo, arranhando os nós dos dedos em minha cabeça. Gina agarrou meu pescoço e beijou meu rosto. E tudo que eu ouvia era “nós amamos essa pentelha”, “ é da família”, “só ela para aturar Fred e George”, “a garota é uma Weasley”, “ela salvou nossa vida”.
E, depois de mais uma onda de abraços e risadas, fomos embora. Minha avó estava muito feliz e satisfeita de finalmente ter conhecido minha segunda família, minha família de verdade e nos afastamos de carro pela trilha recém feita para que eu conseguisse chegar ao local de maneira segura com uma idosa de 80 anos. Fomos o caminho inteiro conversando sobre como foi a nossa noite e o caminho nem pareceu tão longo.
Fim do ponto de vista.
Flashback – 7 de novembro de 1992 – Cozinha de Hogwarts.
Ponto de Vista: Fred.
Estávamos na cozinha roubando comida após passarmos boa parte da noite analisando algumas saídas que ainda não havíamos usado no Mapa do Maroto. enchia a boca com tortinhas de limão e George escolhia os muffins mais bonitos para enfiar nos bolsos das vestes, eu quebrava cookies pela metade para comer.
- Muito obrigada, Mitsy! - quebrou nosso silêncio agradecendo a elfa doméstica que lhe entregou um cálice grande de ouro extremamente polido e reluzente. - Quer um pouco?
- Não, minha senhora. Srta. tem coração bom - Mitsy respondeu baixando a cabeça em uma pequena reverência e sorriu para ela, fez um carinho em sua cabeça agradecendo novamente e se virou para nós:
- Já vou indo, tenho que inventar algumas predições de morte para a aula de adivinhação de segunda-feira. Vocês já fizeram?
- Já - eu e George respondemos juntos.
- Quando? – Uniu as sobrancelhas, provavelmente se perguntando se era verdade.
- Você subestima a nossa inteligência, - respondi dando uma piscadela a ela.
- Quantas vezes vamos ter que te dizer que temos nosso método? É impossível nos acompanhar - George disse sorrindo com um falso desdém.
A garota virou os olhos para cima dramaticamente me fazendo sorrir.
- Por que você não faz amanhã? Vai ter o dia inteiro – perguntou George de boca cheia, ele estava se referindo ao fato de amanhã ser domingo.
- Não, amanhã Angie e eu vamos a Hogmeade – explicou ela bebendo o suco da taça que voltou a se encher sozinha.
- Aproveita e traz umas bombas de bosta para nós – falei, colocando a outra metade do cookie na boca.
- E por que você mesmo não vai lá comprar? – perguntou ela me desafiando, ela sabia o porquê. Filch sempre revistava George e eu. Sempre.
- Aproveite a presença de Angelina, Filch nunca desconfia dela – apenas falei dando de ombros.
Ela pareceu ponderar o assunto.
- Deixa eu ver o mapa para ver se a barra está limpa. - Estendeu a mão para mim, colocando o cálice de suco sobre o balcão.
Entreguei o mapa fingindo-me de contrariado e ela arrancou da minha mão, impaciente.
- Harry precisa parar de ficar perambulando pelos corredores essa hora da noite, o Filch vai acabar pegando ele logo, logo - resmungou ela dando de ombros e me devolvendo o mapa. - Até mais, otários.
Ela pegou seu suco e saiu, abanando a mão livre aos elfos que se despediram dela felizes.
Dei uma olhadinha no mapa aberto em minha mão e vi o pontinho escrito “ ” avançar pelo corredor vazio, ela tinha razão: Harry estava no corredor um pouco mais a frente e eles iriam cruzar caminho em algum ponto perto do banheiro da Murta se continuassem na mesma velocidade.
- Você não fez o dever de adivinhação, não é? - George me perguntou rindo.
- Não - eu respondi cúmplice e desatamos a rir terminando de comer e encher os bolsos de besteiras. Quando nos demos por satisfeitos, agradecemos os elfos e saímos sorrateiros enquanto eu espiava o mapa para ver se nosso caminho estava livre.
Harry estava junto de , mas estavam parados no lugar.
- Aconteceu alguma coisa. - Segurei o braço de George e ele parou, levando os olhos ao mapa imediatamente. Iniciamos uma corrida silenciosa, eu olhava o mapa a todo instante, o pontinho de Harry ia de um lado para o outro, mas ele não saía do corredor.
Chegamos neles em menos de cinco minutos.
- Potter, o que houve? – perguntou George baixinho.
Meus olhos foram até e pararam. Meus pés travaram no chão quando entendi o que havia acontecido.
- Eu encontrei ela assim! Não sei o que faço – Harry disse, a voz estava trêmula de nervosismo.
estava petrificada, uma mão estava travada na altura do seu peito com o cálice reluzente, a outra mão estava a caminho do seu bolso direito, lugar onde ela guardava sua varinha. Seu rosto estava com os olhos fortemente fechados. Sua pele parecia ser feita de cerâmica, fria e opaca. Com o coração saindo pela boca, e um pouco de suor surgindo em minha testa, levei minha mão até seu cabelo que sempre cheirava a algo doce e engoli seco quando percebi que estava tão duro quanto o resto do seu corpo. Merda. Merda. Merda.
- Fred? – George veio até mim. – O que faremos?
Olhei meu irmão e notei que seus olhos estavam molhados. Eu tinha que tomar as rédeas da situação. Respirei fundo.
- Harry, vá chamar Dumbledore ou a McGonagall. Ficaremos aqui. – Harry assentiu e começou a correr na direção da sala de Dumbledore. – Na verdade qualquer professor serve, menos o Snape ou aquele paspalho do Lockhart – falei mais alto para que ele ouvisse.
Menos de dois minutos depois McGonagall chegava a nosso encontro, os cabelos soltos, enrolada em um roupão.
Ela avaliou a situação lentamente. Depois seus olhos correram até George e eu.
- O que vocês faziam fora da cama nesse horário?! Quanta irresponsabilidade!
Não dava para mentir sobre a cozinha. estava segurando o cálice de suco, e se fossem nos revistar achariam cookies e muffins em nossos bolsos que não tive a ideia de me livrar enquanto estávamos sozinhos. Estava embasbacado demais vendo daquele jeito e George pirando não me ajudou em nada.
- Estávamos fazendo um lanche, Sra. McGonagall, ficamos até tarde fazendo os deveres de adivinhação porque queria ir a Hogsmeade amanhã.
- E vocês simplesmente acharam que seria seguro perambular tarde da noite pelos corredores apenas para comer um lanchinho?
- Não pensamos que fosse trazer tantos problemas... – George disse com a voz falha. Ele realmente estava abatido, e acho que foi isso que fez McGonagall amolecer um pouco.
- Menos dez pontos cada pela tamanha falta de senso, vão para os seus dormitórios, sem paradas extra desta vez!
- Ela vai ficar bem? – perguntei dando uma última olhada em , ainda descrente de que em menos de 20 minutos ela estava conosco na cozinha, gargalhando sobre qualquer besteira que eu ou George tivéssemos dito.
- Sim, só precisamos que as mandrágoras estejam maduras para que Sra. Sprout providencie o tônico – ela disse, e virou-se para Harry. – Potter, vou ter que chamar o diretor, não é a primeira vez que o vejo nesta situação.
No dia seguinte, eu, George, Lee e Angelina fomos para a enfermaria logo depois de tomar café da manhã. Na ala dos petrificados havia três pacientes: Colin Creevey, Justin Fletchley e . Quando chegamos lá, notei que já havia alguém ao lado dela, era o engomadinho Diggory.
Bufei irritado quando nos aproximamos, Angelina começou a chorar quando viu a amiga naquele estado e Lee cumprimentou Diggory.
Passei a noite inteira em claro, pensando em como deixamos ela sair sozinha sendo que já haviam tido dois ataques. George contrapôs dizendo que não havia nada no mapa que pudesse nos dar alguma dica de que ela corria perigo, mesmo assim não consegui descansar sabendo que podia ter sido evitado. Aquilo estava me corroendo por dentro.
Outra coisa que me corroía por dentro era a presença de Cedric ali. Eu sabia que ele e eram amigos, por causa daquela baboseira de Cheiradores de Estrume da Sra. Sprout (como eu e George costumávamos chamar), mas não sabia que eram tão íntimos a ponto de ele vir visita-la antes de qualquer um em um domingo. O cara nem tomou café da manhã?!
- Oi, Ced – Angelina disse, dando nele um abraço forte. Ced? Que intimidade era essa? Olhei para George franzindo as sobrancelhas e ele ergueu os ombros querendo dizer “estou entendendo tanto quanto você”. George não ficou tão incomodado com Diggory, apertou sua mão rapidamente e sentou-se ao lado de , analisando suas feições com tristeza.
Apertei a mão que o bonitinho Diggory esticou para mim com certo desdém. Não me orgulho disso.
- Desculpe soar tão rude, mas... Por que você está aqui, Diggory? – perguntei sem delongas, Lee arqueou as sobrancelhas e segurou uma risada, Angelina abriu a boca, horrorizada.
- Por Merlin, Fred! – ela disse, se colocando ao lado do garoto cabisbaixo.
- Ué! Eu só estou perguntando.
- Eu só vim visitar minha amiga. Passamos bastante tempo juntos, sei que não sou tão amigo quanto vocês, mas ainda assim, é importante para mim – Cedric respondeu ligeiramente impaciente, dava para ver em seus olhos que ele havia chorado.
Angelina revirou os olhos, irritada com minha inconveniência.
- Entendi... Tudo bem, só quis saber – falei erguendo as mãos em sinal de paz.
- Vocês estavam com ela quando aconteceu? – ele perguntou, e eu respirei fundo para não falar alguma merda. Antes que eu abrisse a boca, George respondeu:
- Sim... Na verdade não, ela saiu antes.
- E vocês deixaram ela sair sozinha no meio da noite pelos corredores? Mesmo sabendo que os ataques estão acontecendo aos nascidos trouxa? – Ele cutucou novamente.
- Está querendo dizer alguma coisa, Diggory? – Arrumei a postura, ficando claramente mais alto do que ele. – Porque se estiver, acho bom falar logo.
- Fred... – Angelina tentou apaziguar.
- Estou querendo dizer que vocês se dizem tão amigos dela, mas não estavam lá quando ela precisou.
- E onde é que você estava, Príncipe Encantado? Quem você pensa que é para estar com o peito tão estufado assim? – Minha língua sempre foi maior do que a boca, era o que minha mãe dizia.
- Fred! – Angelina mudou o tom, me chamando. Desviei o olhar de Cedric e olhei para ela. – Cedric é o namorado de . Ele tem todo o direito de saber o que aconteceu.
Namorado? Como assim namorado? Desde quando namorava? Não podíamos estar falando da mesma pessoa, vivia conosco!
E então lembrei de todos os momentos em que ela fugia dizendo que tinha alguma tarefa para fazer, buscar livros na biblioteca ou ir à estufa checar as plantas. Ela era inteligente o suficiente para sempre usar desculpas envolvendo estudos, assim eu e George nunca queríamos acompanha-la.
Respirei fundo engolindo tudo que eu queria falar ou jogar na cara daquela engomadinho idiota, e apenas respondi indo na direção da saída:
- Ele pode saber tudo o que aconteceu, só não precisa ficar insinuando coisas, principalmente quando ele sabia muito bem que estava indo ao encontro dele.
Dei uma última olhada para trás, só para ver seu sorrisinho idiota se desmanchando e saí.
Fim do flashback.
Nota da Autora: Esse capítulo me deu um quentinho gostoso dentro do coração, o Natal dos Weasley, o pequeno Ted, o presente de George, o discurso da avó, é tudo muito fofo!
Espero que tenham gostado do capítulo, e, principalmente do Flashback que foi finalmente narrado pelo gêmeo preferido das fanfiqueiras.
Deixem aquele comentário maravilhoso <3
Capítulo 6
Beco diagonal - 31 de março de 1999. – Gemialidades Weasley.
Judith, a coruja com o rosto em forma de coração, entrou na loja dando um rasante sobre todas as prateleiras e pousou graciosamente ao meu lado sobre o balcão. Peguei a carta que ela trazia, acariciei sua cabeça com o dedo dobrado e ela fechou os olhos agradecida.
- Tem água no seu bebedouro. – Informei-a, ela abriu as asas e seguiu voo loja adentro. Senti a necessidade de manter um espacinho confortável para Judith levando em consideração que ela vivia indo ali quase que diariamente levando cartas minhas para e vice-versa.
Abri a carta que ela trouxe, sabendo que era de minha melhor amiga.
“G,
Estou a pelo menos meia hora dando gargalhadas altas e soltando arrotos mais altos ainda! A calda de arroto é incrivelmente efetiva, por sorte já te conheço o suficiente para testar os produtos em meu quarto. Roubei um chocolate quente do banquete de jantar para beber no quarto e coloquei um pinguinho da calda antes. É sério, soltei um arroto tão alto que os quadros do corredor ficaram assustados achando que uma tempestade estava se aproximando.
Amanhã vou levar para Hagrid, acho que ele vai gostar de se distrair um pouco. Logo te digo como foi.
Sobre o kit festas, além da calda de arroto e da bala de risadas, eu adoraria que você adicionasse algo um pouco mais feminino, sabe? Um gloss para ajudar a dar o beijo dos sonhos, ou uma sombra que mude a cor dos olhos... Sei que parece uma ideia que saiu de uma matéria tosca da revista “Jovem Bruxa”, mas acho que seria ótimo você ter alguns produtos que ajudassem as meninas a serem um pouco mais confiantes.
Beijos,
.”
Soltei o papel com um sorriso no rosto, imaginando a cena que ela descreveu.
- O que é que você está sorrindo feito um bobalhão? – Lee se aproximou, apoiando os cotovelos no balcão. Lee estava sendo imprescindível na loja, me ajudando com absolutamente tudo, desde o atendimento ao público, quanto a reposição de estoques ou ideias de novos produtos, estávamos nos dando muito bem. Não era atoa que ele era meu melhor amigo na época de escola, tínhamos o mesmo cérebro engenhoso na hora criar confusão, mas Lee era mais parecido com Fred, mais extrovertido, falador e cara de pau. Nesses momentos eu gostava de me comparar com , ela acabava sendo uma pessoa que pensa um pouco mais na hora de agir, não era tão inconsequente. E era por esse motivo que eu acabava me perdendo na sombra de Fred, nunca foi um problema, eu sempre gostei de um pouco mais de sossego e gostava do fato dele acabar se sobressaindo em alguns momentos.
Todo mundo em Hogwarts sabia quem eram os Gêmeos Weasley, mas havia um motivo para sermos Fred e George e não George e Fred. E eu acabava bem com isso, não era um problema, mas as vezes eu tinha a impressão de que as pessoas não me conheciam completamente, não sabiam quem era o verdadeiro George, agiam como se eu e Fred fôssemos a mesma pessoa.
A primeira pessoa que conheceu George Weasley foi , antes mesmo de Lee. Ela sabia quem éramos apenas pela voz já no final do primeiro ano. Ela sabia nos diferenciar apenas pelas atitudes, ela sabia que Fred era inconsequente e eu era racional, ela sabia que eu não gosto de nada com sabor de abacaxi e que meu número da sorte era vinte e dois, também sabia que eu já tinha quebrado o nariz e que eu sou... que eu era mais alto do que Fred.
Lee não sabia da maioria dessas coisas, mas não culpo o fato de não saber, ele não vai ser menos amigo meu por me oferecer uma Piña Colada em uma festa trouxa.
- testou a calda de arroto, ela adorou. – Falei dobrando a sua carta e colocando na terceira gaveta do caixa, como eu fazia com todas as outras que já havia recebido ali.
- Eu sabia que ela ia adorar. – Ele disse sorrindo também.
Hoje era o aniversário de . Depois de fechar a loja, eu iria fazer uma surpresa à ela, indo até Hogwarts. Seu presente seria uma entrada ao cinema, eu sabia que ela adorava aquele lugar e ia com pouca frequência, tinha certeza absoluta de que ela não ia há pelo menos uns dois anos. Fui sozinho ao estabelecimento e comprei dois ingressos para um filme que a atendente disse que lançaria no dia do aniversário de . Na verdade, haviam dois filmes que lançariam naquele dia, mas decidi escolher o que ela provavelmente iria gostar mais.
Quando tranquei a porta de entrada da loja e me despedi de Lee, avistei a lojinha de sorvetes e lembrei que sempre pedia uma casquinha de limão quando íamos ao Beco Diagonal quando éramos estudantes e decidi comprar uma e manter inteira com um feitiço simples de congelamento.
Tomei banho, e escolhi uma roupa tentando entrar na mente de que sempre me pedia para trocar algo para me mover menos chamativo entre os trouxas. Escolhi uma calça jeans tradicional, uma camisa de botões esverdeada com mangas longas e um colete de lã por cima. Me olhei no espelho uma última vez, antes de ir para a lareira e viajar para Hogwarts.
Encontrei alguns conhecidos durante o percurso, Ginny veio me abraçar junto com Luna Lovegood, vi Neville com um vaso enorme de alguma planta com tentáculos nos braços, Hagrid me abraçou tão forte que me tirou do chão e até Pirraça veio me cumprimentar, voando tão rápido por mim que fez meus cabelos esvoaçarem.
Cheguei à sala de poções e vi concentrada na correção de alguns pergaminhos, sua mão estava suja de tinta e seus cabelos estavam presos em uma trança única que descia por seu ombro direito.
Chamei sua atenção pigarreando.
- É por aqui que temos uma aniversariante? – Fingi olhar para os lados, vendo ela abrir aquele sorriso, aquele que eu não conseguia não sorrir junto.
- Achei que ia te ver só no fim de semana! – Ela disse animada levantando-se e vindo na minha direção. Nos abraçamos, seus braços contornando minha cintura, beijei o topo da sua cabeça, sentindo o cheiro doce do seu cabelo e quando nos afastamos, lhe entreguei o sorvete que ainda estava intacto, dentro de uma embalagem plástica que coloquei antes de fazer a viagem com Flu, que iria sujar o sorvete inteiro.
Estava meio frio para sorvete, mas ela adorou mesmo assim. Retirou o sorvete da embalagem, retirou o feitiço de congelamento que o deixava com o aspecto muito duro e provou.
- Eu ia vir só no fim de semana, mas quis vir ver se você estava mesmo trabalhando ou se só está enrolando a Professora McGonagall.
- Não precisava G, sua vida já está corrida o suficiente. – Ela disse, mas seus olhos diziam outra coisa, ela estava feliz de eu estar ali.
- Corrida é o que nós vamos fazer agora, anda, temos um compromisso às oito e meia. – Falei, empurrando-a pelos ombros para fora da sala.
- Compromisso? Onde? – Perguntou ela, abanando sua varinha na direção da sua mesa antes de passarmos pela porta. Os pergaminhos se arrumaram sozinhos, o tinteiro fechou e a pena voou para o porta-penas.
Aparatamos em um beco úmido, longe de qualquer trouxa. me acompanhou enquanto eu a guiava pela calçada da rua pouco movimentada do condado onde sua avó morava, era o lugar trouxa que eu mais conhecia, então era bem óbvio que seria lá que eu compraria os ingressos do cinema.
- Como está o trabalho? – Perguntou andando ao meu lado, dando passos rápidos para acompanhar minhas pernas compridas. usava um vestido vermelho com pequenas flores, uma blusa branca de manga comprida por baixo, uma jaqueta jeans amarrada na cintura, meia calça e tênis brancos que combinavam com a blusa.
- Está indo muito bem, Lee tem me ajudado muito! Mas estou começando a desconfiar que seu pai está o pressionando para que ele vá para o ministério logo...
- Bom, ele realmente comentou que seria algo temporário, não é?
- Sim, sim, mas eu realmente preciso de ajuda, vou ter que contratar alguém logo para começar a ir treinando. – Respondi pondo as mãos no bolso. Não estava um tempo muito frio, estava agradável para andar na rua, mas frio o suficiente para usar roupas de manga comprida.
- Sabe quem eu acho que aceitaria um pedido seu de ajuda e largaria tudo para te ajudar aqui?
- Quem?
- Rony. Ele sempre te idolatrou, sempre quis ter a oportunidade de se sentir por dentro dos produtos, das novidades... Acho que ele, com certeza, deixaria de ser Auror para vir trabalhar com você.
Ela tinha um ponto, Ron sempre foi um grande fã das Gemialidades e vivia atrás de nós para saber o que estávamos inventando. Acho que posso deixar essa opção guardada na manga para amadurecer a ideia e conversar com ele caso seja realmente algo que eu vá fazer.
- Você está certa.
- Eu adoro ouvir essa frase. – Ela sorriu convencida e empurrei seu ombro fazendo-a desequilibrar e voltar batendo seu ombro no meu.
- Eu sei disso, como sei. – Falei virando os olhos para cima.
- Você adora.
- Há controvérsias.
- Weasley, você odeia que eu seja inteligente, uma mulher cheia de boas ideias, uma grandiosa bruxa criativa e atenciosa?
Soltei uma gargalhada e ela riu junto.
- Eu adoro, adoro principalmente seu ego infladíssimo cada vez que eu digo que você está certa.
- Não posso fazer nada se eu estou sempre coberta de razão.
- Ah, pelas barbas de Merlin! O que eu fiz para merecer isso? – Ergui minhas mãos para o céu dramático, ela ria abertamente.
- Você me deu uma jujuba que explodia! Desde aquele dia, você está pagando por seus pecados. - Não fui eu! – Me defendi.
- Não importa quem estava segurando o pacote de jujuba e sim a maldade por trás da coisa.
- Eu te dei um sorvete de limão! Isso anula a jujuba, com certeza.
Ela pareceu ponderar por um segundo.
- Talvez anule, ainda tenho que pensar... Os traumas da jujuba explosiva foram muito grandes. – Ela gesticulou fazendo um sinal de bomba com as mãos.
- Que traumas?! – Falei dando uma gargalhada alta, chamando a atenção de alguns trouxas que passavam por nós.
- O trauma de virar sua amiga, você não sabe como é difícil se manter alerta a todo momento, com medo de ter uma bomba de bosta debaixo do travesseiro ou comer um quitute batizado.
- Ah, , corta essa! Aquilo era o auge do seu dia! Ou vai dizer que você se divertia daquele jeito com a Angelina e o Cedric certinho? Quem sabe remexendo titica de galinha com Neville?
- Eu me divertia sim! – Ela disse abrindo a boca, fingindo-se de ofendida.
- É sério?
- Olha só quem está com o ego inflado agora! – Ela disse sorrindo maliciosamente. – Eu tinha uma vida sem os gêmeos Weasley, tá bem? – Disse convencida, erguendo as sobrancelhas em desafio.
- Tenho certeza disso. – Concordei com ela. – Mas tenho mais certeza de que era muito mais divertida com a gente.
sorriu, deu alguns passos com as mãos atrás das costas e notei seu sorriso mudar. Em um segundo, percebi que sua felicidade havia se tornado lembrança.
- Era sim, era muito mais divertida. – Seu sorriso não sumiu, então me peguei pensando no que dizer. O que se dizia para uma pessoa naquelas condições? Uma pessoa que perdeu tudo e tinha que seguir em frente. Uma pessoa que tinha tudo e em um piscar de olhos ficou com nada.
- Lembra da vez em que quase fomos mortos pelos centauros?
Seus olhos brilhantes sorriram junto com seus lábios.
- Acho que nunca tinha visto Fred tão preocupado! – Ela disse rindo. – Ele disse que tinha ouro para dar em troca das nossas vidas.
Nós rimos, ainda andando pelas calçadas da rua principal.
- É, eu já tinha visto ele daquele jeito.
- Sério? Quando? – Perguntou ela me olhando curiosa.
- Quando você foi petrificada.
Ela engoliu seco por um instante.
- Eu não sabia disso.
- Ele pediu para não falar. – Baixei a cabeça, chutando uma pedrinha que estava em meu caminho. – Ele morria de ciúmes do Cedric, me admira Angelina nunca ter falado nada.
- Ela comentou algumas vezes, mas nunca dei muita bola, achava que era coisa da cabeça dela. Sei lá, a gente tinha quinze anos, né?
- É... Parece que faz tanto tempo.
- A gente passou por muita coisa. – Ela disse séria e eu concordei com a cabeça.
Continuamos andando em silêncio, até ele ser quebrado por ela.
- Lembra da vez em que ficamos presos no armário de vassouras por duas horas por causa da gata do Filtch?
Dei uma risada.
- Aquele dia eu achei que iria ter que lançar um feitiço para fechar a sua boca, a sua sorte foi que eu não sabia nenhum.
Ela gargalhou alto.
- Eu fiquei nervosa!
- Nervosa? você estava suando tanto que queria tirar a roupa na nossa frente.
- Essa é a definição de nervosismo.
- Eu não quero ficar pelado quando estou nervoso. – Uni as sobrancelhas e ela deu mais uma risada gostosa.
- Estava calor! E eu não queria ficar pelada, eu só afrouxei a gravata e abri alguns botões da blusa, assim como vocês.
- Nem vem, mulher, você queria seduzir a gente. – Falei rindo e ela riu mais ainda.
- George! – Ela me empurrou meu ombro rindo. – Você é um babaca.
- Eu sou. Mas eu ainda sou o babaca que você mais gosta, não sou?
- É sim. Meu babaca favorito.
Chegamos ao cinema e juro que nunca vi tão feliz desde o dia de natal. Seus olhos brilhavam em expectativa de saber qual seria o filme, ela batia palmas dando pulinhos enquanto comprávamos a pipoca e quando fomos nos sentar, ela beijou meu rosto três vezes antes de detonar o balde de pipoca antes do filme iniciar.
O filme escolhido foi “10 coisas que eu odeio em você” e foi muito divertido. Era engraçado e leve, exatamente o tipo de coisa que eu queria que ela assistisse para desligar um pouco da vida real.
- Uau! – Ela exclamou animada quando saímos da sala de cinema. – Que filme incrível! Você gostou?
Seu sorriso me fez sorrir também.
- Gostei sim, foi engraçado.
Ali fora estava um pouco mais frio, e ela começou a gesticular sobre suas partes favoritas enquanto vestia sua jaqueta. Ela checou o seu pequeno relógio de pulso e disse:
- Está afim de comer algo antes de irmos?
- Claro.
me guiou por uma quadra e atravessamos a rua indo na direção de uma cafeteria. Lá dentro era aconchegante e tinha o cheiro forte de café. As luzes eram amarelas, deixando o ambiente acolhedor, no canto superior atrás do balcão, reconheci uma televisão pequena que mostrava um apresentador com a foto de um homem ao fundo o letreiro embaixo dizia “procurado e perigoso”, sentamos em uma mesa para dois e um atendente veio até nós.
- Boa noite, o que vão querer?
- Um cappuccino e uma fatia de torta de limão. – disse automaticamente, como se conhecesse bem o lugar.
- Vou querer o mesmo. – Falei automaticamente.
- Não, desculpe Georgie, para ele traz uma fatia de bolo de chocolate meio amargo e um café preto.
O garçom assentiu e saiu. Voltamos a conversar sobre o filme, afirmando que havia adorado a protagonista fodona e segura de si, e eu defendendo o garoto que só queria sair com a irmã dela que foi inteligente o suficiente para usar o vilão burro como bode expiatório. Rimos lembrando da cena em que o protagonista canta na arquibancada e da cena em que o amigo do mocinho cai de motocicleta saindo da escola.
- ?
Ouvimos uma voz atrás dela e ela virou-se lentamente enquanto eu pendia meu corpo para o lado para espiar quem era.
Era o Pete, aquele maldito cada da loja que compramos a tinta para tingir meus cabelos. Fechei o rosto no mesmo instante.
- Oi Pete. – A voz de mudou drasticamente.
- Oi , que coincidência. – Ele disse sorrindo, eu não tinha tanta certeza de que era coincidência mesmo, mas tudo bem. Ele se aproximou e me olhou de cima a baixo.
- Oi, Paul, certo? – Estendeu a mão até mim.
- George. – Corrigi apertando-a.
- Ah, sim, eu lembrava que era um dos Beatles... – Ele disse, mas não entendi a referência e também não fiz questão de perguntar.
- Então, o que vocês estão fazendo por aqui? Achei que você estava dando aulas... – Pete disse sorrindo para .
O sorriso dele era estranho, ele não estava feliz, era um sorriso automático como o de um manequim.
- Eu estou, só tirei uma noite de folga para sair com meu amigo. – Ela respondeu mexendo nos pacotinhos que eu imaginava ser açúcar ou sal. Ergui minha postura quando ela falou de mim, por puro orgulho de não querer ser rebaixado por um cara como ele.
- Ah sim, seu amigo. – Seu tom não era por não acreditar que eu era só amigo dela, e sim por eu ser taxado de amigo como se aquilo fosse uma ofensa.
- Sim, amigo. Você tem algum problema com isso, Pete? – Perguntei impaciente fechando as mãos sobre a mesa.
- É claro que não. Por que eu teria um problema? – Ele deu um passo involuntário para traz.
- É que é a segunda vez que eu te vejo, e é a segunda vez em que você fica incomodado com a minha presença, por eu ser amigo dela.
- G, deixa pra lá. – disse, levando uma mão até a minha, para chamar minha atenção.
- Não tenho problema nenhum com você, cara. Só acho estranho essa amizade entre vocês dois... – Sua voz foi morrendo quando seus olhos pousaram na mão de sobre a minha.
- Nossa amizade não é estranha, estranho é você vir forçar um assunto com sempre que vê ela, sendo que fica bem claro o desconforto dela quando te vê. – Por Merlin, eu odiava esse cara.
- Meninos, por favor. – disse em um tom ligeiramente agressivo. – Pete, George está certo. Até hoje não entendi essa sua necessidade de vir falar comigo sempre que me vê, um breve aceno de cabeça para manter a educação é o suficiente.
O garçom interrompeu a conversa, trazendo nossos pedidos. Ele pôs tudo sobre a mesa enquanto o silêncio reinou entre nós três e quando ele saiu, continuou:
- Eu e George somos amigos e isso não lhe convém. – Ela respirou fundo. – Hoje é meu aniversário e eu só quero curtir esse momento com a pessoa que eu vim curtir. Então se você puder parar de tentar puxar um assunto que não existe, eu ficaria incrivelmente grata.
Pete suspirou e eu quase fiquei com pena dele.
- Me desculpa, não sabia que era seu aniversário. É só que... Eu te vi aqui, e lembrei de como a gente se divertiu naquela noite, sempre penso nisso e adoraria saber se você não estaria afim de repetir a dose, sabe? Sair comigo de novo, quem sabe?
Olhei para e ela olhou para mim, num pedido claro de socorro, ergui minhas sobrancelhas querendo dizer “Vai que essa é sua, já me meti demais” e ela assentiu.
- Pete, desculpa, a verdade é que eu e George realmente estamos namorando.
Olhei para ela arregalado, sua mão apertou a minha como se dissesse “agora aguenta essa comigo”.
- Estamos mantendo em segredo por enquanto, porque trabalhamos juntos e... Na verdade, a gente não pode namorar lá na escola.
Pete olhou para ela e depois para mim, que acenei com a cabeça em concordância.
- Me desculpe, não vou mais incomodar vocês. – Pete deu uma última olhada para nossas mãos juntas e ainda teve a audácia de adicionar: - Sabe, , acho que você merecia coisa melhor.
- Sabe, Pete, acho melhor você ir embora antes que eu tatue as minhas digitais no seu rosto. – Falei de modo impassível, sério e com as sobrancelhas unidas. Ele se assustou e deu as costas para nós, saindo pela entrada sem nem fazer o pedido.
Eu e ela nos entreolhamos e caímos na risada. Rimos tão alto que as poucas pessoas que estavam ao redor olhavam para nós de maneira estranha.
- Caramba, George! Você foi incrível, eu até fiquei um pouco com medo!
- Ah, cara, eu já estava de saco cheio desse idiota. Agora a gente só tem que fingir que estamos namorando cada vez que viermos para cá, já que ele sente tua presença num raio de cem milhas. – Falei e ela caiu na risada de novo. – Me diz, , por favor, como você teve coragem de ficar com um babaca desses?
- Foi no verão que Cedric e eu terminamos, depois dos acontecimentos da Copa Mundial de Quadribol, eu voltei para a casa de minha avó na última semana antes das aulas e acabei indo em uma festinha com a vizinha que tem a minha idade. Eu estava sensível e triste pelo término.
- Ok, está perdoada só por causa disso.
Tomamos nossos cafés, provei um gole do seu cappuccino e uma garfada da sua torta e ela estava certa, era doce demais para o meu paladar. Às vezes, o fato de ela me conhecer tão bem me assustava um pouco.
Chegamos em Hogwarts em silêncio, o castelo estava escuro e apenas os professores que vigiavam os corredores estavam de pé. Encontramos Neville pelo caminho até o dormitório de e ele a abraçou sorrindo.
- Como foi a noite? – Perguntou ele sussurrando. Neville era um bom amigo para , na época de escola, ela havia adotado ele como seu pupilo o defendia com unhas e dentes, eles viviam nas estufas desde que o nome de Cedric foi tirado do cálice de fogo e a Sra. Sprout teve que encontrar alguém para substituí-lo. Lembro que ficou extremamente aliviada por não ter mais que dividir o tempo extra com o ex-namorado, e o seu vínculo com Longbottom só se fortaleceu.
- Foi incrível! – disse animada. – Amanhã te conto tudo.
- Tá bem, vai lá descansar. Deixei uma lembrancinha para você na sua cama.
- Não precisava, Nev! E obrigada por cobrir meu turno.
Seguimos para seu quarto, onde queria pegar algo antes de eu ir embora.
O quarto era pequeno, mas tinha se esforçado para deixar com a sua cara. O pato de pelúcia estava sobre a cama, na pequena escrivaninha havia algumas fotos penduradas por cordõezinhos mágicos brilhantes que não se fixavam em nada, apenas ficavam ali se movendo como se uma brisa leve batesse sobre eles. Nas fotos, reconheci seus pais, sua avó, o time de quadribol do nosso quinto ano, Angelina, Lee, Fred e eu. Ao lado da escrivaninha uma estante mostrava seus livros de poções, de Herbologia e alguns sobre quadribol. Na parte de cima da estante haviam algumas plantinhas e em cima da sua cama, assim como Neville havia mencionado, havia um presente que na verdade era outra plantinha com um lacinho enrolado no vaso. sorriu ao ver a planta e acariciou as folhas gorduchas e delicadas antes de coloca-la sobre a estante junto com as outras.
- Tenho algo para você. – Ela disse mordendo o lábio inferior sorrindo.
- Para mim? – Perguntei enquanto ela abria uma gaveta em sua escrivaninha e pegava um pacote prateado grande, parecia um livro enorme. Por Merlin, que não seja um livro.
- Feliz aniversário, Georgie. – Ela disse sorridente, me entregando o embrulho pesado, eu não havia olhado o relógio mas imagino que havia esperado dar meia noite para me dar o presente, já que ela pensava em todos os detalhes.
- Puxa, obrigado! – Eu disse surpreso, pegando o presente de suas mãos e retirando o embrulho prateado. Era um livro artesanal e o título era “As aventuras dos Gêmeos Weasley”, a capa era marrom e tinha alguns detalhes que lembravam faíscas e bombinhas. Me acomodei em sua cama para conseguir analisar melhor o resultado. me olhava ansiosa, os olhos brilhando em expectativa. Virei a capa e não pude deixar de sorrir. Era um álbum de fotos, cada página havia uma foto minha e de Fred, desde pequenos. Ao lado de cada foto havia uma anotação feita à mão, na primeira foto éramos bebês e estávamos deitados na cama pelados com as bundinhas para cima, Fred enviava o dedo em meu nariz e eu chorava. Ao lado desta foto havia uma anotação escrito “Fred e George em seu primeiro Halloween em 1978, já dava para ver quem ia mandar a relação”. Algumas páginas havia colagens, uma mechinha de nossos cabelos, em outra um par de meias furadas, alguns dentinhos de leite... Tudo aquilo fazia o livro ser grosso e com as páginas irregulares, mas era exatamente o que o deixava especial. A última foto era de nós dois em frente à loja, no dia da inauguração, não havia comentários extra mas havia uma matéria d’O Pasquim sobre a loja e os artigos que eram vendidos lá. Quando terminei de folear, me surpreendi ao ver que eu não estava chorando. Eu estava feliz de ter todas aquelas informações reunidas, eu nem sabia que minha mãe havia guardado tanta coisa!
Voltei algumas páginas, vendo uma foto em que eu e Fred voávamos sobre o campo de quadribol, cada um com seu bastão em mãos, jogando o bastão para o outro em uma sincronia digna dos gêmeos Weasley.
- , isso é incrível, realmente brilhante, não sei nem como agradecer. – Falei olhando em seus olhos castanhos. Ela os desviou por um segundo e eu sabia que quando eles voltassem a me encarar, estariam marejados.
- Tive bastante ajuda. – Ela disse sorrindo, e assim como previ, seus olhos cintilavam com lágrimas que não chegaram a escorrer.
- Eu amei, de verdade.
- Que bom, pois deu bastante trabalho. – Ela disse divertida, esbarrando seu ombro no meu e eu aproveitei a proximidade para passar meu braço por seu ombro e beijar sua têmpora.
- Você é incrível, . Obrigado por tudo.
E naquele momento eu percebi que nunca encontraria alguém tão incrível quanto ela, alguém que conhecesse a minha alma, o meu ser e quem eu realmente era.
Fim do Ponto de Vista.
Flashback – 15 de novembro de 1993 – Partida de Quadribol, Grifinória vs. Lufa-lufa.
Ponto de vista da .
Não era nossa melhor partida, admito.
Angelina havia feito dois gols com minha assistência, Oliver berrava a todos pulmões instruções que não conseguíamos ouvir por conta da chuva e dos trovões. Meus cabelos, meu uniforme e minha Cleansweep Seven pingavam água. Vez ou outra eu ouvia o zumbido de um balaço voando próximo de meus ouvidos, mesmo eu sabendo que os batedores da Lufa-lufa haviam feito um acordo para não me acertar, com medo que Cedric se distraísse do seu dever com o pomo de ouro. Angelina, Alicia e eu fazíamos a nossa trinca combinada, alternando a goles entre nós três, fazendo os artilheiros do time adversário ficarem perdidos ziguezagueando entre nós. Era divertido fazer esse movimento, mas não conseguiríamos fazê-lo mais uma vez, então tínhamos que aproveitar. Quando nos aproximamos o suficiente do gol, fiquei com a goles em mãos para enganar o goleiro e no último segundo, joguei-a para Alicia que marcou nosso terceiro gol.
No momento em que fiquei com as mãos livres e curvei o corpo para a esquerda para iniciar uma nova rodada após o gol, senti o baque de um balaço em meu rosto. Ouvi o craque em meu nariz e imediatamente senti o calor do sague escorrer, o gosto metálico invadindo minha boca e minha cabeça rodopiando por um momento, me agarrei com força na vassoura para não ser derrubada.
Xinguei alto, berrando em plenos pulmões. O zumbido em meu ouvido me deixou surda e atordoada por alguns segundos, mas juro que ouvi algo sobre Potter e Diggory irem atrás do pomo, e até ouvi meu próprio acidente ser narrado, com a voz de Lee subitamente preocupada e alterada por conta do zumbido que ainda era forte.
- ?! – Ouvi a voz de um dos gêmeos, mas não consegui distinguir porque minha cabeça ainda estava em câmera lenta. – Mas que merda! – Só percebi que era Fred quando ele estava perto o suficiente.
- Está muito ruim? – Perguntei sentindo meus sentidos voltarem ao jogo, a partida estava rolando e eu ainda estava parada próxima ao gol da Lufa-lufa. George vinha na minha direção também.
- Está péssimo, você tem que sair. – Fred disse com o semblante realmente preocupado.
- Eu não vou sair! – Os respingos de chuva batiam no nosso rosto. Eu ainda sentia o sangue morno escorrendo por meu queixo.
- Você vai sim! Tem que ir para a enfermaria. – Fred insistiu, segurando meu braço.
- Eu não vou sair. Harry já deve estar pegando o pomo de ouro nesse momento, ele é muito mais rápido do que Cedric.
- Por Merlin, você só deve estar com alguma concussão, você nunca admitiria isso em voz alta. – George disse parando a vassoura do meu outro lado.
- Vamos, . – Fred disse, indicando com a cabeça para fora do campo. – Vamos fazer uma substituição.
- Não-vou-sair. – Falei pausadamente. – George me dá esse taco.
George olhou para Fred arregalado e ele fez que não com a cabeça. A partida ainda rolava, mas Alicia e Angelina não conseguiram fazer mais gols sem a minha ajuda e sem as defesas de Fred e George.
- APPLEBY, O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? – Ouvi Oliver gritar desesperado do outro lado do campo. Ele devia estar puto, já que ouvimos a sua voz mesmo com toda aquela chuva. Percebi um balaço vindo na nossa direção, os batedores do time adversário estavam aproveitando nossa pausa momentânea.
- George, o taco. – Ordenei com a voz brava e ele me entregou sem pestanejar. Fred soltou meu braço e, estando livre, com a fúria de um nariz quebrado rebati o balaço com toda a força que eu tinha, gritando com todo o ódio acumulado da dor que eu ainda sentia. O balaço bateu tão forte no ombro de Gustav O’Malley, batedor da Lufa-lufa, que ele caiu da vassoura.
Devolvi o taco para George que estava boquiaberto. Voei para perto das minhas companheiras de artilharia e Angelina prontamente retirou a varinha das vestes e com um aceno de pulso murmurou “Episkey”, meu nariz esquentou e logo esfriou estalando de volta no lugar. Senti meus olhos marejarem, respirei fundo e voltei a me concentrar no jogo.
Fizemos mais uma jogada incrível, revezando os lados, distraindo o goleiro, desviando de balaços e Alicia jogou a goles para mim que dei uma volta pelos aros do goleiro retirando ele do local de guarda e acertei o aro do meio. Ouvindo um rugir alto da plateia.
- Nossa artilheira acidentada mostrou que um nariz quebrado não impede a qualidade de jogo! – Lee narrou, me arrancando uma risada. Notei que Fred e George estavam atrás de mim feito dois guarda costas.
- Pelo amor de Deus, saiam de trás de mim! Vocês estão me distraindo. – Falei quando eles se aproximaram. – Eu estou bem!
- , a sua roupa está coberta de sangue. – George disse, o tom de voz extremamente preocupado.
- Harry vai pegar o pomo a qualquer momento! – Fui fiel ao meu apanhador, não podia deixar que meu namoro com Cedric me impedisse de ganhar a taça do campeonato. – Só façam o dever de vocês e nos protejam dos balaços.
Fred não disse nada, mas eu podia notar em seu olhar pelas minhas vestes que ele não estava feliz com aquela situação. Aumentei minha velocidade indicando que queria distância e eles me deixaram em paz.
Meio minuto depois, quando Alicia estava prestes a marcar mais um gol, notamos que alguém caía em queda livre, sem vassoura, no centro do campo, meu coração gelou preocupado quando percebi que eram Harry pelas vestes vermelhas, e enquanto as vozes iniciavam gritos apavorados, Dumbledore interviu e segurou o corpo antes que ele virasse geleia de tomate.
- Gente, ela acordou. – Ouvi a voz de Cedric quando abri os olhos. Ele estava ao meu lado, com o sorriso encantador, segurando minha mão.
- Como você está, batedora? – Perguntou ele divertido.
- Eu desmaiei? – Me ajeitei no leito da enfermaria sentindo uma atadura em meu nariz.
- Quando o jogo terminou e a adrenalina baixou, sim. – Ele explicou enquanto Fred, George, Neville, Angelina, Hermione, Rony e Gina se aproximaram.
- , aquilo foi brilhante! – Rony exclamou animado.
- Nunca vi um artilheiro bater daquele jeito! – Nev adicionou animado.
- E eu nunca tinha visto tanto sangue jorrar de um nariz. – Fred adicionou divertido.
- Parecia uma cachoeira. – George finalizou.
- Você está bem, amiga? – Angelina perguntou e eu concordei com a cabeça.
- Como está o Harry? – Perguntei lembrando da sua queda livre.
- Ele está bem, está descansando, ainda não acordou. – Ced me respondeu virando o rosto para o leito ao lado, onde Harry descansava desacordado.
- Oliver está muito bravo? – Perguntei lembrando do seu rosto raivoso quando desci da vassoura.
- Está possesso. Está lá com Lee e McGonagall para tentar anular o jogo. Não era para os dementadores estarem lá. – Hermione respondeu essa.
- Os dementadores fizeram ele cair?!
- Sim, estavam sobrevoando a partida. – Ced respondeu unindo as sobrancelhas. – Na verdade, acho que vou lá me unir ao Oliver, não me sinto confortável ganhando uma partida desse jeito. Você vai ficar bem? – Perguntou ele, levantando-se, mas ainda segurando minha mão. Senti minhas bochechas esquentarem e sorri concordando com a cabeça. Ele selou nossos lábios rapidamente e saiu, vi Hermione e Gina virando o rosto para olhá-lo sair, ambas olharam para mim depois e suspiraram apaixonadas, não consegui conter um sorriso.
- Isso é muito legal da parte dele. – Neville fez questão de notar.
- É, Ced é legal. – Angelina completou e eu concordei com a cabeça.
Vi Fred virando os olhos disfarçadamente.
- Algum problema, Weasley? – Perguntei e todos os Weasley’s presentes viraram o rosto para ele, sabendo exatamente de quem eu me referia.
- É claro que não, Ced, o perfeitinho, vai salvar o dia. – Respondeu ele ácido. – Aposto que falou isso só para pagar de bom moço e está indo para o jantar.
- Fred... – George o chamou baixinho e balançou a cabeça, repreendendo o irmão.
- Eu vou fingir que não ouvi isso, Fred. Sua amiga está aqui na ala hospitalar por um erro seu, Cedric fez a parte dele no jogo. – Angelina disse brava. Os mais novos apenas olhavam de um lado para o outro, sem falar nada.
- Erro meu?!
- Até onde eu sei, é dever os batedores proteger os artilheiros dos balaços.
- É, e também é dever deles jogar os balaços nos artilheiros do time adversário. – Ele disse indignado. – E foi o que os batedores da Lufa-lufa fizeram.
- Ei, ei, ei, eu estou bem, ok? – Falei erguendo as mãos em sinal de paz. – Será que dá para todo mundo ficar tranquilo? Quero curtir o momento com meus amigos.
- Me desculpa , sabemos que foi erro nosso. – Fred disse baixando os ombros em derrota.
- Não vai se repetir. – George prometeu, sentando-se ao pé da cama colocando a mão sobre meu pé que estava coberto por um lençol branco.
- Está tudo bem, meninos. Acho que foi válido para saber que se algum dia um de vocês se machucar, eu consigo cobrir. – Brinquei e todos riram.
- Acho que a daria uma surra em vocês, se fosse batedora! – Rony disse empolgado.
E uma conversa tranquila surgiu, Angelina baixou a guarda e Fred também. Os mais novos comentaram sobre a partida, já que eles assistiram o que deu por conta da chuva e nos contavam os momentos mais emocionantes. O resto de nós ríamos e comentavam como era o momento estando dentro do campo.
Mesmo com a derrota no jogo de estreia, naquele ano, fomos campeões da Taça de Quadribol, e eu nunca vou me esquecer da sensação de erguer a taça sendo ovacionada por meus colegas de casa.
Fim do Flashback.
Nota da autora: Mais um capítulo para deixar o coração quentinho. Essa história me deixa muito bobinha com um sorrisinho no rosto sempre que eu termino um capítulo novo. Eu AMO a interação a PP e do George, fico igual uma criancinha vendo essa amizade tão verdadeira e simples, no auge do companheirismo.
Deixem aquele comentário gostoso para eu saber o que vocês estão achando desses dois. <3
Capítulo 7
Flashback - Expresso de Hogwarts – 01 de setembro de 1994.
Ponto de vista:
Angelina fechou a cabine com calma, sentou no banco de frente para mim, uniu as mãos sobre o colo e aguardou.
– Me conta tudo.
Eu nem sabia direito por onde começar, muita coisa aconteceu comigo nessas férias, porém eu sabia exatamente do que ela estava falando.
Ela queria saber sobre o término com Cedric.
Suspirei dramática, olhando pela janela onde milhas e mais milhas de campos verdes passavam.
– Eu estava n’A Toca há uns dias, estávamos nos preparativos para a Copa Mundial de Quadribol. Ced aparecia lá vez ou outra para me ver, Sra. Weasley adorava suas visitas. Foi uma semana bem tranquila e normal, Cedric não me dava nenhum vestígio de que queria ou pretendia terminar comigo. De qualquer maneira, uma semana antes da Copa, ele veio até mim, me chamou para um lugar um pouco mais recluso e disse que queria terminar. Eu perguntei o motivo e ele disse que não conseguia ter que me dividir com os gêmeos. – Fiz uma pausa, me recompondo pois o assunto ainda era meio recente para mim.
– Te dividir?? O que ele quis dizer com isso?! – Angelina estava indignada, ouvia a história inteira com as sobrancelhas enrugadas.
– É, ele disse que entende que somos amigos, que somos bem próximos, mas que não consegue aceitar que eu deixe de passar as férias com ele para ficar n’A Toca, por exemplo.
– Isso é ridículo!
– Sim... Eu disse que entendia o que ele queria dizer, mas expliquei que os Weasley eram a minha família e que eu não deixaria de passar minhas férias na casa deles por causa de um ciúme bobo.
– Aposto que ele disse que não era ciúmes. – Angelina rolou os olhos para cima, me fazendo rir.
– Foi exatamente o que ele disse! E eu fui firme, e disse que não iria trocar meus amigos por um namoro adolescente.
– Maravilhosa! – Angelina bateu palmas. – Amiga, esquece ele. Estamos no nosso sexto ano, vamos aproveitar tudo que tivermos que aproveitar, esse vai ser o nosso ano!
– Tá bom, já esqueci. – Falei brincando, balançando as mãos.
– Eu sei que não vai ser fácil, afinal vocês vão ficar se vendo quase todos os dias lá na estufa, mas pensa pelo lado positivo, agora Fred e George vão xingar ele e você não vai precisar defender! – Ela disse animada, e parou para pensar por um segundo: – Por Merlin, você já contou para eles?
– Ainda não. – Falei sem graça. A verdade era que eu nem sabia como comentar aquilo com eles, e estava preocupada com a reação que eles podiam vir a ter.
Conhecendo eles como eu conhecia, no mínimo eles iriam colocar vomitilhas no suco de abóbora dele todas as manhãs durante uma semana.
***
Durante a cerimônia de iniciação, ouvimos o diretor Dumbledore nos explicar sobre um evento que iria acontecer durante este ano em Hogwarts. O torneio tribruxo.
Fred e George ficaram encantados, e por mais que o prêmio me enchesse os olhos de expectativa, eu nunca fui muito fã de ser o centro das atenções e era outro ótimo motivo de ser amiga dos gêmeos, eu nunca era o destaque e nos primeiros anos em Hogwarts, conseguia sair ilesa da maioria das detenções por parecer uma garotinha indefesa que estava apenas acompanhando os malfeitores Weasley, levou algumas vezes até Filch perceber que eu era da mesma laia que eles.
– Talvez só uma gota de poção de envelhecimento? – Perguntou George em um tom mais baixo.
– É, talvez funcione, só precisamos envelhecer alguns meses, afinal. – Fred disse confiante.
Estávamos voltando ao dormitório depois do jantar, quando passamos pelo retrato da mulher gorda, chamei eles para o sofá em frente a lareira.
– Meninos, acho que eu tenho que contar algo para vocês. – Falei apreensiva, estalando os dedos das mãos, sentei-me ao chão de pernas cruzadas estilo borboleta e ambos sentaram no sofá com um semblante mais sério. Meus amigos sabiam a hora de brincar e de falar sério, às vezes.
– Eu... Eu e Cedric terminamos. – Assim que terminei a frase, percebi o semblante deles mudando. O de Fred saiu de sério para irritado. O de George saiu de sério para caridoso. – Uma semana antes da Copa, desculpa por não ter contado antes, é só que foi algo que eu não estava esperando e não queria estragar nossas férias.
– Puxa, ! – George exclamou. – Você está bem?
Ele desceu do sofá, sentou-se ao meu lado e passou o braço pelo meu ombro, me abraçando de lado. Não tínhamos o habito de nos abraçar muito, mas naquele momento não pareceu algo estranho.
– Estou sim, ainda parece meio surreal. – Falei olhando para as mãos.
– Ele te fez alguma coisa? – Fred perguntou, sua voz estava ligeiramente irritada.
– Não, Fred. Foi tudo bem tranquilo.
– E você quer que a gente faça algo em relação a isto? – Fred queria vingança, seus olhos cintilavam com a luz do fogo na lareira.
– É claro que não! – Deixei uma risadinha escapar. – Meninos, eu estou bem, ok? Eu só queria que vocês soubessem disso por mim, antes que a fofoca chegasse em vocês por outros meios.
– Você sabe que se você quiser, a gente faz ele ficar com diarreia uma quinzena inteira né? – Fred perguntou sério.
– Ou que o cabelo dele caia inteirinho. – George apontou para Fred como se aquela fosse uma ideia plausível.
– Ou que ele fique com furúnculos na bunda. – Fred adicionou deixando um sorrisinho escapar por seus lábios.
– Ou que as sobrancelhas dele virem uma só. – George continuou.
– Ou que os dedos dele virem salsichas.
– Ou que os sapatos dele sapateiem cada vez que você estiver por perto.
– Ou que...
– Eu já entendi! – Soltei uma risada, fazendo eles rirem comigo. – Vocês odeiam Cedric, eu já tinha percebido, só não achava que era tanto.
– A gente não odeia ele, só não gostamos tanto assim. – George disse sorrindo e retirando o braço do meu ombro quando Lee se aproximou de nós.
– O que eu perdi? – Perguntou ele, nos olhando com curiosidade.
– Você está olhando para a mais nova solteira de Hogwarts. – Fred disse piscando para Lee que me olhou boquiaberto. Ergui meus ombros sorrindo sentindo minhas bochechas esquentarem.
– Finalmente meu momento chegou! – Lee brincou se ajoelhando na minha frente, arrancando gargalhadas dos gêmeos. – , você aceita, pelo amor de Merlin, se casar comigo?
Explodimos em risadas, chamando a atenção dos outros alunos que ainda colocavam o papo em dia na sala comunal.
***
Nos primeiros dias em que eu estava na estufa ajudando professora Sprout com as plantas que mal haviam sido cuidadas durante as férias, arrancando ervas daninhas e fazendo replantio, Cedric tentava de alguma forma puxar assunto comigo.
Eu percebi que ele fazia brincadeiras e até algumas piadinhas sem graça apenas para arrancar alguma reação minha. Eu não seria o tipo de pessoa que cortaria qualquer tipo de interação, mas também não queria ficar falando todo dia com ele como se nada tivesse acontecido.
Além disso, Fred e George andavam atrás de mim por todos os corredores fazendo alarde e berrando “cuidado, não se aproximem muito da nova solteira da escola”, “a mais nova solteira da escola está passando, com licença”. Por Merlin, eu podia esganar alguém.
– Eu coloquei meu nome no cálice de fogo, achei que talvez você quisesse saber disso. – Cedric disse certa vez em meados de outubro, e além de não me importar muito com a informação eu não estava muito afim de conversar.
– É? Que legal. Boa sorte. – Falei sem muito entusiasmo.
– Vi que seus amigos também tentaram colocar o nome no cálice, mas não deu muito certo... – Não posso dizer que ele não estava tentando, até assunto sobre os gêmeos ele estava puxando.
– Eu comentei que não iria funcionar, mas nem sempre eles me dão ouvidos. – Comentei dando de ombros.
– , nós estamos bem, certo?
– Estamos sim, por que? – Sim, eu me fiz de sonsa.
– Não sei, estou sentindo uma sensação meio estranha aqui entre nós.
– Olha, Cedric, eu só estou me mantendo afastada o suficiente para não me machucar de novo. A última vez que dei ouvidos às suas gracinhas nós namoramos por quase três anos. – Falei séria, enquanto cortava as folhas grandes de tuberlula grandinosia.
– Me desculpe , é só que eu estou tão acostumado a conversar com você que esses momentos em que ficamos aqui em silêncio parecem um castigo horrível – Suas bochechas coraram mas não deixei isso me abalar.
– Tudo bem, Cedric. Estamos bem, só não ache que vai ser como era antes.
Me surpreendendo um pouco, ele sorriu, aquela merda de sorriso encantador.
– Eu gosto dessa durona. – Aquilo me desarmou um pouco e eu girei os olhos para cima contendo um sorriso.
Era impossível ficar brava com ele.
***
– Harry, você está bem? – Consegui alcança-lo na manhã seguinte ao sorteio do torneio, eu queria muito mostrar a ele que estava ao seu lado.
– Ah, sim, está tudo indo às mil maravilhas. – Ele foi irônico, mas depois relaxou o ombro suspirando. – Desculpe, . É só que... Não está sendo fácil, todos estão falando pelas minhas costas, ninguém vem me perguntar a verdade e os poucos que perguntam não acreditam em mim.
– Eu entendo. Olha só, eu acredito em você, ok? E a minha torcida vai para você. – Falei sincera, acariciando seu ombro. – Não esquenta, logo as coisas se ajeitam. E se você precisar de alguma ajuda, me dá um toque! Vou adorar te ajudar com alguma tarefa.
– Obrigado , com certeza vou precisar sim. – Ele sorriu de boca fechada, aliviado.
Alicia e Angie passaram por mim e me roubaram como dois furacões e mal tive tempo de me despedir de Harry.
– Agora que você está solteira, temos algo para te contar. – Angelina disse unindo seu braço ao meu, enquanto Alicia engatava o outro.
– O que? – Perguntei enquanto andávamos engatadas pelos corredores na direção da aula de Poções.
– Estamos com bastante certeza de que um dos gêmeos gosta de você. – Alicia sussurrou sorrindo ladina.
– O QUÊ?!
– Shhhh! – Angie disse dando risadinhas. – É verdade, ouvimos os dois conversando ano passado no vestiário masculino depois do treino de quadribol, mas não soubemos distinguir quem era quem pela conversa.
– Decidimos não falar nada na época porque você estava com o Cedric. – Alicia confessou.
Eu não sabia o que pensar. Era tão absurdo que eu não tinha motivos nem para acreditar.
– Isso é uma besteira, meninas. Tenho certeza de que vocês ouviram errado.
– É verdade , e temos quase cem por cento de certeza de que é o Fred.
– Mas... Não faz sentido, não pode ser verdade. O que eles estavam conversando?
– Eles falavam sobre como Ced era possessivo com você, e um deles deixou escapar algo como “ela nunca sofreria com isso se estivesse comigo” e foi meio que uma confissão, sabe? Porque o outro ficou chocado e ele admitiu que gostava de você. – Angelina disse, parando na frente da porta da masmorra onde a aula de Snape iniciaria a qualquer instante.
– O que você acha? – Alicia perguntou animada.
– Eu nem sei o que pensar. – Falei tão chocada que ambas riram de mim.
Minha cabeça girava tanto com aquela notícia que errei minha poção Wiggenweld, e recebi um comentário maldoso de Snape sem necessidade. Depois da aula de Snape, Alicia foi para a turma de Adivinhação enquanto eu e Angie fomos para Estudos dos Trouxas.
– Está tudo bem, ? – Johnson percebeu que eu estava meio avoada.
– Está sim, é só que não consigo parar de pensar no que vocês disseram antes.
– Sobre os gêmeos?
– É.
– É uma notícia e tanto, mas não é de se espantar, sabe? vocês vivem juntos, são unha e carne, é normal que aconteça alguma fagulha a mais, sabe? Eu mesma já tive um crush em George, e olha que a gente nem é tão próximo assim... – Angie assumiu, sorrindo meio boba. – Vai dizer que você nunca teve um crush em nenhum deles?
Tenho certeza de que ela viu minhas bochechas corarem antes que eu pudesse disfarçar.
– Acho que eu já... Acho que eu já tive algo parecido com o Fred. Mas não conta para Alicia. – Admiti sem graça.
– Eu sabia que seria o Fred! – Angelina sorriu cúmplice.
– Eu gosto muito dos dois, sempre gostei, e acho que nossa amizade virou amizade antes que a gente pudesse pensar em outra coisa. E Fred, bom... Eu sempre gostei de como ele tinha um certo ciúmes de Cedric. Me deixava meio... Poderosa, sabe?
– O Fred sempre morreu de ciúmes dele, isso é verdade. Você acha que é ele que gosta de você?
– Olha, se eu pudesse apostar, diria que sim.
– E o que você vai fazer com essa informação? – Seus olhos brilhavam de animação perante a um possível romance.
– Nada, ué. – Dei de ombros.
– Ah, ! Você é uma chata! – Ela riu, empurrando meu ombro. Jonah Fergurson, um sonserino com quem Angelina estava ficando, se aproximou de nós sorrindo e imediatamente mudamos de assunto.
***
Uma onda de risadinhas pairava o ambiente quando professora McGonagall deu a notícia no final de sua aula de que haveria um baile de inverno no natal. Eu e Angelina corremos para colocar os nomes na lista de presença na escola durante esta data.
– Por Merlin, eu preciso arranjar um par antes que o Jonah me convide! – Angelina disse dramática enquanto íamos em direção às nossas respectivas tarefas: ela estava indo para a biblioteca e eu para a estufa.
– Mas você não está ficando com ele? – Perguntei confusa soltando uma risada.
– Eu estou, mas ele é muito pegajoso! Aliás, eu não disse que esse ia ser o nosso ano? Não quero namorar ninguém, quero curtir com minha amiga solteira! – Todo mundo tratava a minha solteirice como um evento, já que comecei a namorar muito nova. Eu já tinha me acostumado com aquilo, Fred e George faziam questão de me lembrar a todo instante.
– Então termina as coisas de uma vez, ao invés de ficar se escondendo pelos corredores!
– Eu sei, eu sei! Mas é que ele beija tão bem! – Angelina soltou uma risada que me fez rir também.
– Ai, Angelina, sério, o que seria de mim sem os teus dramas?
Seguimos nossos caminhos separados, entrei na estufa silenciosamente já que a professora Sprout ainda terminava sua aula com os alunos do quarto ano, acenei para Harry, Rony e Mione e fui direto deixar meus pertences para pegar minha luva de raspa para colher os frutos espinhentos da mamona flutuante.
Agora que Cedric estava oficialmente ocupado com as tarefas do torneio tribruxo, professora Sprout havia chamado Neville Longbottom para me ajudar com a estufa de maneira provisória.
Quando Sra. Sprout liberou a turma alguns minutos mais cedo, ouvi alguém se aproximando de mim e poderia jurar que era Neville vindo me perguntar alguma coisa aleatória sobre alguma planta esquisita, mas me surpreendi quando vi Cedric sorrindo para mim.
– Oi. – Ele apenas disse e eu uni as sobrancelhas meio desconfiada, dei uma olhadinha para trás e vi Lavender e Parvati conversando algo com a professora antes de saírem.
– Oi. – Falei pondo as mamonas flutuantes nas gaiolas para que não escapassem.
– , eu... Me desculpe perguntar assim do nada, mas eu não consegui pensar em mais ninguém para isso e... – Levantei os olhos, vendo as bochechas dele tão rosadas quanto da vez em que demos nosso primeiro beijo. – Você gostaria de ir ao baile de inverno comigo?
Aquilo me pegou desprevenida e fiquei tão chocada que acabei deixando duas mamonas flutuantes escaparem. Nem por um segundo havia passado em minha cabeça que Cedric fosse me chamar para ir ao baile com ele. Não estava em meus planos, já que desde aquela conversa com Angelina, a única pessoa que embalava meus pensamentos era Fred Weasley.
O maldito Weasley, não importa o quanto eu negasse, ou fingisse que era mentira, aquela informação havia aberto algo minha mente que eu não conseguia desfazer de modo algum, era como um vírus que havia se espalhado.
E por esse motivo, sem se quer pensar direito me vi dizendo:
– Nossa, Ced, isso é muito gentil, mas... Eu já fui convidada. – A mentira saiu tão naturalmente da minha boca que eu percebi que até Lavender e Parvati ficaram boquiabertas quando passaram por nós e ouviram parte da conversa.
– Uau, que rápido, é, na verdade eu devia ter imaginado. – Ele disse meio perdido, suas bochechas ficaram mais coradas, se é que isso é possível. Eu apenas fiquei com meu sorriso amarelo, sem saber exatamente o que dizer. Mesmo que Fred não estivesse em meus pensamentos, eu não sei se aceitaria ir com Cedric. Aquele convite me soava meio ofensivo levando em consideração que ele havia terminado comigo há alguns meses.
– Tudo bem, ahm, acho que vou nessa. – Ele disse completamente sem graça e eu assenti muda, estática, perplexa.
Observei Cedric sair da estufa, e consegui soltar o ar que estava preso em meus pulmões, deixando a ficha cair lentamente.
Eu havia realmente mentido que já tinha um par para o baile?
Pelas barbas de Merlin, eu iria precisar de ajuda.
***
Os dias se passaram rápido, rápido o suficiente para eu começar a achar que a tarefa dos dragões do torneio tribruxo era mais fácil do que arranjar um par para o baile. Minhas preocupações acabaram se confirmando: A fofoca da minha conversa com Cedric se espalhou feito pólvora e agora todo mundo achava que eu realmente tinha um par.
Angelina me tranquilizava afirmando que algum desavisado das escolas convidadas uma hora ou outra ia nos convidar e enquanto isso não acontecia, ela vivia fugindo de Jonah como o diabo foge da cruz.
Certa noite estávamos fazendo nossas lições de casa sobre a mesinha da lareira, conversando e fofocando quando Fred berrou lá do outro lado do salão:
– Oi! Angelina!
– Que foi? – Ela respondeu na mesma altura que ele. Basicamente todos na sala pararam de fazer o que estavam fazendo para olhar.
– Quer ir ao baile comigo?
Bum. Meu peito pareceu cair em queda livre, o mundo parou de girar e tudo que eu ouvi foi aquela frase repetidamente em minha cabeça.
Eu não percebia o quanto eu queria ouvir aquelas palavras direcionadas a mim até ouvi-las para outra pessoa. Aquilo me magoou de verdade, mesmo sabendo que eu mesma tinha me colocado naquela posição. Angelina sabia de tudo aquilo, mesmo que não precisássemos falar sobre aquele assunto a todo instante. Ela me olhou por meio segundo, e eu assenti discretamente.
– Tudo bem. – Ela respondeu simplesmente.
Fred voltou a conversar com George, Rony e Harry. E Angelina virou-se para mim apreensiva.
– Está tudo bem, amiga. Prefiro, com toda a certeza, que seja você. – Já iniciei a conversa evitando que ela pedisse desculpas por algo que nem tinha feito.
– Como assim? – Alicia perguntou avoada.
– Ai, Alicia, às vezes sua lerdeza me surpreende. – Angie disse, nos arrancando risadas. – está afim do Fred.
– MENTIRA! E como eu não fiquei sabendo disso?!
– Como eu disse, sua lerdeza te impede de saber de algumas coisas importantes! – Angelina rebateu e Alicia empurrou seu ombro rindo.
– Não é nada de mais, Ali. Eu só... Talvez, não sei... Esteja olhando ele com outros olhos. – Expliquei baixinho e ela abriu a boca animada.
– E ele gosta dela, e os dois estão fingindo que não sabem por orgulho. – Angelina cutucou.
– E por que ele não te convidou para o baile?! – Alicia perguntou indignada.
– Porque ele acha que ela já tem um par!
– Ou talvez ele não goste de mim e você está levantando falsas hipóteses. – Falei séria, erguendo as sobrancelhas sugestiva.
– Essa questão não está nem sendo cogitada, eu me recuso a acreditar nisso. – Angie disse indignada.
– Bom... Ele te convidou não foi? – Ali ergueu os ombros em dúvida.
– Não falem besteiras. , vou cuidar dele nessa festa para você. Vou ser a empata foda, ele não vai chegar perto de nenhuma garota. – Angelina esfregou as mãos maliciosa, me dando um sorriso tão cúmplice que foi impossível não rir junto.
– Tá bem, obrigada... Eu acho. – Falei rindo. – Agora que você conseguiu se livrar do Jonah, eu preciso oficialmente e urgentemente de um par.
– Ok. Essa é a nossa tarefa da semana, vamos caçar os garotos livres para , até sexta temos que ter alguns pretendentes.
A tarefa continuou praticamente impossível, descobri que os boatos eram de que eu tinha sido convidada por Krum, pois ninguém sabia quem era meu par misterioso e o fato de eu ter negado o convite de Cedric parecia algo que apenas uma pessoa louca faria, afinal, além de já termos um passado, Cedric era lindo e um competidor do torneio tribruxo, quem em sã consciência negaria um pedido daquele?!
Percebi que Harry e Rony estavam custando a encontrar um par também, e fiquei realmente tentada a convidar Harry, porém todos ao nosso redor sabiam que ele estava passando trabalho para encontrar um par, sendo assim todos saberiam que Harry não teria me convidado antes de Cedric.
A semana passou voando, eu me vi desesperada e tentada a não ir nesse baile idiota.
***
– Então você pode colher as ameixas irritadas e colocá-las em um recipiente com água morna, isso vai deixa-las mais calmas e o seu sabor não será amargo. – Expliquei a Neville que assentiu nervoso. – Elas mordem, mas não dói pois não têm dentes.
Sua feição suavizou com esta informação e ele se afastou um pouco para pegar a chaleira que fervia água no balcão.
– Você vai ao baile, Nev? – Perguntei apenas para puxar assunto, Neville era um garoto tímido que gaguejava quando era pressionado. Eu gostava de conversar com ele para que me conhecesse o suficiente para não gaguejar em minha presença.
– E-eu acho que sim.
Confesso que ele não era a pessoa mais fácil de manter uma conversa.
– Que legal, com quem?
– Eu pensei a convidar Ginny, mas ela vai com Dean Thomas. Então eu acho que vou sozinho...
Meu coração disparou, esse tempo todo eu estava ali com ele e nem passou pela minha cabeça.
– Neville?
– Sim?
– Você não tem um par para o baile?
– Ahm, não. – Ele olhou desconfiado para mim, como se perguntasse “você não prestou atenção no que eu disse?”.
– Você quer ir ao baile comigo?
Sua boca abriu e ele ficou paralisado por um instante.
– Como amigos, sabe? Sem pressão. – Eu falei sorrindo sem graça.
– Mas... -você não tinha um par? Não negou o convite de Cedric? Achei que você iria com Krum!
– Na verdade não, eu só neguei o convite de Cedric porque não queria ir com ele.
– Bom, i-isso faz um pouco de sentido.
– E então?
– E então o q-que? – Neville não era conhecido pela sua atenção.
– Você quer ir ao baile comigo? – Perguntei esperançosa, eu não tinha problemas em ir com ele, Neville era gentil e divertido, um pouco envergonhado, mas não seria realmente um problema.
– Ah sim, é claro. Seria legal não ir sozinho. – Ele disse finalmente sorrindo.
– Concordo plenamente.
Entramos em uma conversa tranquila sobre o que esperávamos que tivesse nesse baile e na hora de voltarmos, seguimos caminho juntos até a sala comunal da grifinória.
***
O dia do baile finalmente chegou e um cheiro de natal pairava no ar, era um cheiro de cookies com papel de presente, pelo menos era assim que o natal cheirava para mim.
Não se ouvia falar em outra coisa que não fosse o baile de inverno a ansiedade estava estampada nos olhos de todos os alunos, até os mais durões. Harry estava nervoso por ter que dançar a música de abertura do baile junto com os outros campeões, eu e os gêmeos estávamos pegando no seu pé quando Neville veio falar comigo durante o café da manhã. Levantei e nos afastamos um pouco da mesa.
– , você tem certeza de que quer ir comigo? – Perguntou ele baixinho olhando para os pés envergonhado.
– É claro que sim, Neville. Por que eu não iria querer? – Perguntei unindo as sobrancelhas, estranhando a pergunta.
– Não sei, você é a , sabe? É popular, bonita e joga no time de quadribol, isso sem contar que namorou com um campeão do torneio tribruxo e ainda é dois anos mais velha do que eu! – A cada coisa que ele enumerava, mais nervoso ele ficava.
Tentei segurar uma risada, mas não consegui.
– Longbottom, deixe de ser besta.
– É-é sério, eu não quero ser o motivo de você perder a sua popularidade, ou algo assim, eu...
– Neville, por favor, só... Pare de falar. – Falei tentando ser gentil. – Não me coloque em um pedestal, eu sou só a garota que cuida da estufa com você, tá bem? Estou muito confortável em ir contigo, por que eu sei que vamos nos divertir.
Ele respirou, ainda me olhando com seus olhos claros.
– Tudo bem. D-desculpe, estou pirando um pouco.
– Eu percebi. – Falei de maneira leve, dando uma risadinha. – Nev, pode ficar tranquilo, tá bem?
– Ok. Te espero na sala comunal, às sete? – Ele deu um sorrisinho de lado e eu assenti.
Voltei à mesa para finalizar meu café e Neville seguiu até seus amigos quartanistas.
Durante a tarde inteira, todos estavam com os ânimos acima do normal. Eu, Angie e Alicia nos trancamos no dormitório feminino e ficamos nos arrumando por horas.
Angelina usava um vestido roxo escuro bonito na altura dos joelhos, onde os tecidos leves iam descendo em camadas sobre as pernas, a parte de cima era de veludo e o decote deixava seus peitos bonitos.
Alicia usava um vestido azul claro de seda que vestia o seu corpo super bem, era acima dos joelhos e ela tinha uma echarpe que combinava.
Meu vestido era amarelo, a parte de cima era um corset onde meus ombros ficavam de fora e uma manga bufante cobria meus braços até acima dos cotovelos, a parte de baixo era longa e soltinha, fluída. O corset não era muito decotado ou de mau gosto, era bonito e elegante. Meus cabelos estavam mais domados do que o normal, Ali o penteou com um pente enfeitiçado que o deixou com ondas suaves e leves, diferentes dos cachos mais rebeldes que me acompanhavam no dia a dia. No rosto, Angie fez uma maquiagem simples pois era o que a gente sabia fazer, eu fiz uma trança lateral no cabelo de Alicia e Angelina usou um prendedor bonito também na lateral.
Descemos as escadas juntas, cada uma com um sorriso bobo no rosto.
– Quero ver a cara de Fred quando te ver com Neville. – Angelina sussurrou para mim, dando um sorriso cúmplice e eu apenas ergui os ombros sem saber exatamente o que dizer.
– Ele não tem que fazer cara nenhuma. – Respondi baixinho quando chegamos na sala comunal.
Harry, Ron e Neville estavam sentados juntos perto da lareira conversando, Fred estava de costas para nós, apoiado na mesa de braços cruzados. Mais alguns meninos estavam por lá aguardando suas acompanhantes. George não estava.
Mesmo que não fosse a nossa intenção, todos pararam de falar quando chegamos ao último degrau. Meu coração descompassou quando Fred virou para nós, notei sua boca abrindo enquanto eu sentia minhas bochechas esquentarem, ele engoliu seco enquanto seus olhos seguiam dos meus pés até a minha cabeça, balançou o rosto e seus olhos seguiram para Angelina, seu par para o baile. Ele ainda estava meio desnorteado quando se aproximou. Usava um terno preto por cima de um colete marrom claro.
– Garotas. – Ele fez uma reverência exagerada quando pareceu realmente voltar ao corpo, levando sua mão até Angelina que a aceitou rindo. Ele beijou sua mão de maneira dramática nos arrancando mais risos. – Vamos, milady.
O par de Alicia era da Corvinal e disse que a esperaria do lado de fora da nossa sala comunal.
Neville me aguardava ligeiramente afastado, não querendo se intrometer no nosso momento de descontração. Me aproximei dele sorrindo, e suas bochechas pareciam que iam explodir a qualquer momento. Notei que Harry e Ron nos olhavam de boca aberta.
- Vamos, Longbottom? – Perguntei sorrindo, tentando de alguma maneira amenizar seu nervosismo e sua vergonha. Ele acenou positivamente com a cabeça.
Mesmo sendo dois anos mais novo, Neville havia espichado no último verão e agora estava mais alto do que eu, seus cabelos haviam crescido bastante também... Na verdade, quase todos os garotos estavam com os cabelos grandes nesse ano, parecia até algo estranhamente combinado. Ele me deu seu braço de maneira cortês e eu enganchei o meu, e me virei para meus amigos.
– Todos prontos? – Perguntei, conseguindo notar o olhar desacreditado de Fred, seus lábios formavam uma linha fina e uma ruguinha de estranhamento surgiu entre suas sobrancelhas, mas ele balançou a cabeça retirando algum pensamento intrusivo e seguiu conosco segurando o braço de Angie do mesmo jeito que Nev segurava o meu.
Me despedi de Harry e Ron que acenaram ainda de boca aberta para nós, provavelmente aguardando as suas acompanhantes. Brian Rice nos esperava no lado de fora assim como ele havia combinado com Alicia e seguimos os seis para o baile.
– Onde está George? – Perguntei a Fred, que demorou a responder ainda olhando para o lado distraído.
– Foi buscar a sua acompanhante. É uma lufana.
Encontramos George já no salão que estava lindo, completamente decorado como se estivéssemos em um local com muito gelo, o teto nevava, e o chão parecia um lago congelado.
George estava acompanhado de Savannah Yellowstone, uma lufana quartanista que eu não conhecia muito bem, mas que se enturmou conosco com bastante facilidade.
Nos sentamos em uma das mesas redondas, esperando o início do baile. Enquanto isso, ficamos reparando em todos que chegavam, vimos Finnigan com Lavender, Dean com Gina, Lee com uma garota de Beauxbatons e Cedric com a quintanista Cho Chang.
Os olhos de Cedric me encontraram depois de alguns minutos de pescoço espichado, conforme Angelina havia me informado, e quando ele viu meu par, ele abriu um sorriso gentil e acenou com a cabeça.
Os campeões entraram no salão para fazerem a dança inicial e Hermione Granger surpreendeu absolutamente todos com o seu par, ninguém mais ninguém menos do que Krum!
– Caramba! – Angelina expressou de boca aberta quando a valsa iniciou. – Granger e Krum, quem diria?
– Eu realmente achei que o Krum tivesse te convidado, ! – Savannah comentou conosco sem graça. – Mas confesso que agora consigo entender melhor o motivo de Krum estar tanto na biblioteca!
Demos risadinhas enquanto víamos Harry dançar desastrosamente com Parvati, continuamos fofocando e cochichando enquanto a valsa rolava. Quando os demais convidados foram liberados para acompanhar a valsa também, Neville me surpreendeu me convidando para dançar. É claro que eu aceitei, fui naquele baile para aproveitar cada momento.
– Longbottom, de onde você tirou essas habilidades dançarinas? – Perguntei rindo e ele, por incrível que pareça, riu junto sem ficar com as bochechas vermelhas.
– Minha avó sempre disse que um cavalheiro que não sabe dançar é só um menino. – Ele disse me erguendo de acordo com a coreografia da música.
– Isso é surpreendente.
Dançamos até a valsa acabar e voltamos ao nosso grupo de amigos. Savannah se afastou de nós alegando que ia fofocar um pouco com suas amigas e se despediu de George com um beijinho no rosto que gerou um olhar meio demorado de Angelina que não passou despercebido por mim.
– G, de onde você conhece a Savannah? – Perguntei realmente interessada, já que não conhecia a garota a não ser por passar pelos corredores.
– Fizemos uma amizade esquisita e meio improvável em um dia em Hogsmeade e há algumas semanas ela me convidou para o baile por que queria fazer ciúmes em alguém, e como eu gosto de uma boa briga, aceitei.
– Ela te convidou?! – Angelina perguntou se engasgando com a bebida batizada por nossos amigos.
– Sim. – George disse erguendo os ombros com simplicidade. – Ela é bonita e engraçada, não vi problema nisso.
– Ela é muito legal mesmo. – Alicia concordou.
– E em quem ela queria fazer ciúmes? – Perguntei querendo saber a fofoca inteira.
– Eu prometi que não contaria, mas foi um dos motivos de eu ter aceitado. – Ele disse esfregando as mãos maliciosamente.
Jantamos mantendo uma conversa gostosa, Neville estava bem mais tranquilo agora que o susto inicial de me trazer ao baile já tinha passado. Lee vez ou outra vinha até a nossa mesa para conversar um pouco, já que ele estava na mesa da sua parceira, assim como Savannah também ia e vinha e às vezes até Neville nos deixava para ir conversar com seus amigos quartanistas.
Depois do jantar, as mesas foram afastadas e um palco foi trazido. A surpresa foi geral quando As Esquisitonas começaram a tocar, não era uma banda que eu costumava acompanhar, já que sempre tive minha preferência por bandas trouxas, mas a música era muito boa e com a bebida batizada que os gêmeos nos traziam, era difícil não ficar feliz com qualquer coisa.
Dancei com minhas amigas, com meus amigos e com meu par para o baile, estava divertido demais.
– Oi, Longbottom, será que posso dançar uma música com o seu par para o baile? – Ouvi a voz de Cedric dizer atrás de mim, enquanto eu estava conversando distraidamente com as meninas.
Diggory deu a volta na mesa, chegando até mim e me estendeu a sua mão.
– Me concede esta dança, senhorita? – Perguntou ele com um sorrisinho cômico nos lábios.
A música era lenta e alguns casais dançavam abraçados na pista de dança.
Olhei minhas amigas incerta e vi que todas faziam o mesmo gesto de “vai logo” com os olhos disfarçados.
Aceitei sua mão sem dizer nada.
Ele me levou até a pista de dança, pôs a mão em minhas costas e me guiou sem muita pretensão de dar algum espetáculo dançante, graças à Deus, pois eu já estava começando a ficar alegrinha com a bebida alcoólica que os gêmeos estavam pondo escondidos no nosso ponche.
– Me desculpe. – Ele disse em meu ouvido, seu rosto estava bem perto do meu, mas eu olhava para fora, para todos os pescoços espichados até nós, atentos, curiosos. Um par de olhos castanho-esverdeados me pegou desprevenida e errei o passo pisando no pé de Cedric, ele fingiu não sentir.
– Pelo quê?
– Não sei direito. – Ele soltou uma risadinha pelo nariz. – Pelo término sem explicação, pelo convite ao baile mais sem explicação ainda, não sei onde eu estava com a cabeça.
– Está tudo bem, Diggory. – Falei, ainda com o rosto virado, por Merlin, eu não queria dar motivo para falarem que eu estava dando em cima de alguém que havia ido com outra pessoa ao baile. Porém, estava curiosa o suficiente para querer saber o que ele queria conversar comigo.
– Não está, . Eu sei que foi errado. – Senti seu hálito em minha orelha, sinal de que seu rosto estava virado para mim, mas fiz questão de não virar o rosto e encarar seus olhos claros. – Então me desculpe por terminar com você por ciúmes dos “gêmeo”. – Ele brincou, fazendo menção à piadinha interna dele mesmo. – Eu sei que era ciúmes, eu só não quis admitir, eu confiava em você, sei que nunca faria nada, foi apenas orgulho ferido.
– Eu entendo, mas preciso que você entenda que eu já era amiga deles antes de te conhecer e eu vou continuar sendo, porque aqueles dois idiotas são a minha família.
– É claro, eu entendo perfeitamente, eu só quis ser sincero com você, já que você estava certa.
Eu sorri convencida, eu até tentava não ser tão orgulhosa de sempre estar certa, mas confesso que era difícil, logo mais Angelina daria boas gargalhadas dessa história.
– Como eu disse, está tudo bem, Diggory.
– Tá bem, e me desculpe pelo convite para o baile também, foi bem imprudente. Não pensei direito, quando vi, já estava lá na sua frente te convidando.
Foi a minha vez de soltar uma risadinha, notei de longe Fred com o rosto franzido enquanto discutia com Angelina.
– Foi ligeiramente assustador. – Admiti rindo.
– É, eu sei, erro meu, me desculpe. – Ele disse ainda me guiando lentamente pelo salão.
– E o que a Cho Chang acha disso? – Perguntei realmente curiosa, afinal, a garota provavelmente sabia que ele havia me convidado antes de convidá-la, a fofoca tomou conta do castelo inteiro!
– Ela entendeu o motivo de eu ter te convidado antes, mas ela é bem madura em relação a isso. Fez questão de me fazer vir aqui e colocar tudo dentro do conforme. Estou aqui conversando contigo por causa dela.
– Isso é legal, ela é uma garota legal Ced, cuide bem dela. – Falei sendo completamente honesta, eu queria Cedric bem e com alguém que realmente gostasse dele, não havia mais nenhuma célula em mim que quisesse Cedric de volta, não quando um determinado ruivo rondava meus pensamentos dia e noite.
E então parou a dança abruptamente.
– Então estamos bem? - Ele segurava meus ombros e olhava em meus olhos. Eu estava bem, estava feliz por ter tido aquela conversa com ele.
Sorri, tendo a impressão de que todos os olhares de Hogwarts estavam sobre nós, minhas bochechas queimando de vergonha.
– Estamos bem, Cedric, sempre estivemos.
– Que bom, se cuida . – Me abraçou com sinceridade e eu retribuí.
– Você também, Ced. – Eu disse, depois disso virou-se e foi até o seu par do baile, que o aguardava com um sorriso. Cho Chang era uma menina legal, e aparentemente compreensiva.
Em um certo ponto da noite, George sumiu com Savannah, Alicia sumiu com Brian e eu e Angelina ficamos dançando sozinhas enquanto Fred conversava com Lee e Neville.
– Amiga, pelo amor de Merlin, vai conversar com Fred. – Angelina disse rindo.
– Conversar o que com Fred? – Perguntei verdadeiramente curiosa. – Não tenho o que conversar com ele.
– Vocês dois precisam se entender, ele está a noite inteira te olhando igual o Hagrid olha para aqueles explosivins. – Ela disse fazendo careta.
– Você está me comparando a um Explosivin? – Perguntei e ela soltou uma gargalhada.
– Não muda de assunto. Vocês precisam se entender.
– Eu não... Eu não sei o que precisa ser resolvido amiga, somos amigos. – Não sei porquê eu continuava mentindo para mim mesma e para minha melhor amiga.
– , para de ser teimosa, você sabe muito bem o que eu estou falando.
– Eu sei, mas... Não estou preparada para essa conversa, acho que não é o momento, sabe?
– Deixa de ser besta, você precisa colocar os pensamentos no lugar e conversar sobre o que você realmente sente.
– Desde quando você virou uma conselheira amorosa? – Perguntei rindo vendo Jonah se aproximar.
– Oi meninas, oi .
– Oi Jonah, tudo certo? – Perguntei simpática e ele assentiu com a cabeça.
– Angelina, podemos conversar?
– Claro. – Angie respondeu o acompanhando, me deixando ali sozinha.
– , será que posso conversar contigo rapidinho? – Era Fred. Seu semblante estava tão sério quanto em uma partida de quadribol contra a sonserina.
Olhei para Neville ao meu lado, sem seu paletó e comendo um quitute.
– Nev, já volto, tá bem?
– Claro . – Ele disse, indo na direção de Harry e Rony que estavam jogados em duas cadeiras com suas parceiras desanimadas.
Fred ficou olhando Neville se afastar e andou até a porta de entrada do salão, eu o acompanhei com meu coração saltando em minha garganta. Quando estávamos em um local realmente mais reservado, Fred se virou para mim.
– Neville Longbottom... Isso é sério? – Seu tom era de desaprovação. Uni as sobrancelhas indignada.
– Qual o problema, Weasley? – Eu sempre o chamava pelo sobrenome quando estávamos em um momento mais sério.
– O problema é que é a porcaria do Longbottom.
– Não estou te entendendo, você está aqui com a Angelina, qual é o real problema?
Fred estava com... cíumes?
– O problema é que Angelina é nossa amiga.
– Neville é meu amigo. – Defendi ligeiramente ofendida.
– É diferente. – Ele respondeu rápido.
– Diferente como, Weasley?
– Não sei, , só é diferente!
– Eu sou sua amiga, por que não me convidou?
Fred balançou a cabeça confuso.
– Porque você já tinha sido convidada.
– Isso é ridículo, eu nunca seria a sua primeira opção.
– Porque diz isso? – Seu rosto era indecifrável.
– Por que eu te conheço o suficiente para saber que você não deixaria de ir com alguma garota popular para ir com o “rejeito de Cedric Diggory”. – Fiz aspas com os dedos e ele virou os olhos para cima.
– Você está sendo idiota. – Reclamou do mesmo jeito que fazia quando eu estava certa.
– E por que não veio me perguntar se era verdade? – Perguntei irritada.
– Se o que era verdade? – Ele estava confuso e me senti vingada.
– Que eu já tinha sido convidada.
– Porque... Espera, você não tinha sido convidada?!
– Não, eu disse a Cedric que tinha sido convidada porque não queria ir com ele. – Minha resposta fez Fred erguer as sobrancelhas surpreso, ele pensou um pouco, passou as mãos pelos cabelos sedosos e parou com as suas mãos na nuca.
– Eu teria te convidado se soubesse disso. – Sua voz saiu baixa e lenta, como se ele estivesse falando mais para ele do que para mim, suas bochechas receberam um tom rosado. Saber que ele teria me convidado me fez ficar um pouco zonza de um jeito que nunca fiquei com Cedric. Ninguém nunca tinha me deixado zonza só com palavras.
– Talvez se você viesse me perguntar, ao invés de ficar ouvindo fofocas pela metade! – Eu continuava irritada, mesmo que meu coração quisesse sair voando pela minha boca.
Fred abriu a boca e fechou, sem saber o que dizer. Eu finalmente havia deixado ele sem palavras!
Notei de soslaio que Savannah, o par de George, passou correndo por nós e subiu a escadaria com velocidade. Logo atrás veio Draco Malfoy.
– Yellowstone, espera! – Disse ele exasperado, subindo a escadaria rapidamente, mas ela já estava mais longe, ele desistiu na metade, suspirou alto, baixou a cabeça e voltou para a festa com as mãos no bolso. Passou por nós, franziu o cenho nos olhando de cima a baixo e se afastou.
Balancei a cabeça, afastando o que eu havia acabado de ver e voltei meu rosto para o ruivo em minha frente:
– Você ficou sabendo que Cedric tinha vindo me convidar para ir ao baile e não foi capaz de vir me perguntar como eu estava.
– E por que você não nos contou? Era só ter vindo nos contar! – Ele rebateu depois de um tempo me encarando com seus olhos castanho-esverdeados.
– Minha vida não é um espetáculo como a de vocês, eu não tenho a necessidade de ficar chamando a atenção o tempo inteiro. – Falei mostrando que havia ficado ofendida com aquela pergunta. Ele suspirou fundo.
– O que você quer dizer com isso?
– Que as vezes você pode sair um pouco dessa bolha de Weasley fodão e vir conversar comigo como uma pessoa normal. – Expliquei devagar, vendo-o ficar mais indignado ainda. – Eu ainda sou a sua melhor amiga, sabe?
– Pelas barbas, ! Você fala como se eu fosse um monstro, o pior amigo do mundo! – Ele disse, a voz ligeiramente magoada.
– Bom, foi você que me chamou aqui para reclamar que eu vim com o Neville. – Ergui as sobrancelhas em desafio, sem baixar a guarda para ele.
Fred murmurou algo que eu não entendi, passou as mãos pelo rosto e suspirou.
– O que você disse? – Perguntei com minha voz mandona.
– Nada.
Respirei fundo fechando os olhos, tentando controlar todos os sentimentos que estavam dentro de mim naquele momento. Uma parte de mim estava sim satisfeita por Fred ter ficado com ciúmes de Neville. Outra parte estava puta da cara por ele não ter vindo falar comigo quando ouviu a fofoca do convite de Cedric. Outra parte estava confusa com tudo aquilo que estava acontecendo, principalmente com a proximidade de Fred Weasley, sendo que ele estava torturantemente bonito com aquela roupa de gala.
– Você tem mais alguma coisa para falar, Weasley? Ou eu posso voltar para... – Não consegui finalizar a frase e muito menos a linha de pensamento, pois a única coisa que eu prestava a atenção era que Fred havia segurado meu rosto com as duas mãos e colado nossas bocas. Dei dois passos para trás pelo susto e ele deu dois passos para frente me acompanhando. Seus lábios se moveram ágeis aprofundando o beijo e não perdi tempo em abrir passagem para a sua língua, sentindo meu peito voar quando sua língua tocou na minha. Suas mãos escorregaram do meu rosto para minha nuca, enquanto nossas bocas brigavam por controle.
Fred me empurrou até a parede e levou suas mãos para minha cintura, minha cabeça ainda tentava entender exatamente o que estava acontecendo, seus lábios colados nos meus me faziam ficar tonta e eu não estava preparada para o seu cheiro, que eu conhecia tão bem, me envolver como um abraço quentinho. Não consegui conter minhas mãos que se guiaram até sua nuca sozinhas e guiaram o beijo com mais vontade.
Caramba, Fred Weasley beijava bem.
Separei nossas bocas em busca de ar. Ainda perdida, zonza.
– O que... O que foi isso? – Perguntei com a respiração ofegante, Fred sorriu.
– Isso foi eu calando a sua boca.
– Mas o que... – Tentei perguntar e novamente fui interrompida pelos lábios de Fred, enquanto suas mãos apertavam minha cintura com domínio, eu não sabia o que pensar, minha cabeça não racionava direito, eu só conseguia discernir que eu tinha que ficar na ponta dos pés para beijá-lo, que seus cabelos eram tão macios quanto a sua boca e que os meus olhos estavam fechados com força. Ele separou nossas bocas devagar, fiquei feliz em notar que ele também estava sem ar e ligeiramente aéreo como eu.
– ... – Seu nariz roçou minha bochecha e sua boca depositou um beijo em meu maxilar. Seu corpo me prensava contra a parede, suas mãos ainda estavam em minha cintura. Não consegui responder, não quando seus lábios desceram por meu pescoço, minha mão agarrava os cabelos de sua nuca com firmeza. – , eu...
Fomos interrompidos por alguém, Fred afastou o corpo de mim, mas sem tirar uma de suas mãos da minha cintura.
– Por acaso vocês viram a Savannah? – Era George, seus olhos correram pelo meu rosto, pelo rosto de Fred e seguiu para a sua mão em minha cintura e um sorrisinho se formou no canto dos seus lábios.
Finalmente meu consciente pareceu entender o que havia acabado de acontecer, merda, Fred Weasley havia me beijado e eu correspondi! Por Deus... O que aconteceria agora? O que diabos Fred ia me dizer antes de George nos interromper?
Num salto, me afastei da parede, passando a mão pelo rosto, ainda um pouco aérea.
– Eu... Ela... Ela subiu a escadaria. – Falei apontando para as escadas. – Acho... Acho que foi para o dormitório da sonserina, digo... Lufa-lufa. – Tropiquei em meus próprios pés e olhei para os dois. O sorriso sacana de George aumentava a cada passo que eu dava, e Fred ainda estava me olhando com a boca aberta e a respiração acelerada, sua boca tinha leves vestígios de meu batom cor de cereja e seus cabelos estavam bagunçados.
Comecei a subir a escadaria de costas, ainda encarando os dois, Céus, eu estava enrascada.
– , você está bem? – George perguntou segurando o riso.
– Eu? É claro! Só... Tenho que voltar, já está tarde e... Neville! Vocês podem avisar Neville de que eu estou indo para o dormitório?
Dei as costas para meus melhores amigos, ergui a barra do meu vestido e subi a escadaria com pressa. E ainda assim consegui ouvir George ovacionar lá embaixo:
– Até que enfim, maninho! – Não consegui conter um sorrisinho que insistia em surgir em meus lábios.
Fim do ponto de vista.
Fim do Flashback.
Nota da autora: Vocês não tem noção do quanto eu estava louca para escrever esse capítuloooooooooooooo! O primeiro beijo da PP e do Fred veio aí e eu não estou sabendo lidar... Eu queria muito escrever esse capítulo porque queria desenvolver a relação de amizade entre Vee e Angelina também, por mais que Fred e George sejam os melhores amigos dela, a Angelina tem um peso importante na hora do girltalk, coisa que a gente sabe que não daria para conversar com os gêmeos. Enfim, muito feliz com esse capítulo! Esse final com o George rindo dos dois???? EU AMOOOO KKKKKKKKKKKKK Deixem seus comentários e surtos, por favor! Beijinhos xx
Capítulo 8
Hogwarts – 10 de junho de 1999 – Salão principal.
Ponto de Vista:
Retirei a carta amarrada no pé de Judith e acariciei suas penas macias do pescoço enquanto ela fechava os olhos agradecida.
“Querida ,
Vamos sair no fim de semana? Preciso fazer alguma coisa diferente, conhecer gente nova!
Você está livre nesse fim de semana? Sei que tem horários de turno nos fins de semana...
Não aguento mais falar com gente velha do trabalho, temos 21 anos, precisamos aproveitar a vida um pouco.
Vou esperar a sua resposta, caso não possa nesse fim de semana, já veja em qual você pode, assim a gente combina.
Beijinhos,
Angelina”
Dei um sorriso ao ler a carta, estávamos na segunda semana de junho e faltavam apenas alguns dias para o final do ano letivo e por fim as férias.
– Algum motivo especial para esse sorriso todo? – Neville perguntou baixinho enquanto mordiscava uma tortinha de pêssego. Estávamos na mesa dos professores, sempre sentávamos lado a lado. Alguns alunos já insistiam em dizer que éramos um casal, mas nunca fomos nada além de bons amigos. Eu tinha minhas dúvidas na época da escola e tinha quase certeza de que Nev criou algum tipo de afeição por mim depois do baile do Torneio Tribruxo, mas sempre foi muito educado e nunca me falou nada sobre isso.
– Angelina está me convidando para sair. Faz tempo que não fazemos nada juntas, acho que pode ser divertido. – Falei animada, batendo palminhas. Ele sorriu.
– Nossa, faz muito tempo que não vejo ela, como ela está?
– Está bem, na verdade, eu teria que sair com ela primeiro antes de te responder, fazem alguns meses que não nos vimos.
– Entendi, então saia com ela e me conte depois das férias como foi.
– Combinado. Nossa, você tem noção de que quando voltarmos, vamos ser professores?
– Me pego pensando nisso mais do que você imagina. – Ele admitiu ficando com as bochechas coradas. – Você imaginou algo assim? Neville Longbottom sendo professor?
– Não imaginei, mas tenho certeza de que você vai ser um ótimo professor, Nev.
– Por incrível que pareça, eu também acho. – Ele disse sorrindo e eu o acompanhei, continuamos nossa conversa despretensiosa e depois fui até meu quarto escrever uma resposta para Angie.
“Querida Angie,
Vamos sair sim! Vou estar de férias e seria ótimo sair para comemorar contigo.
Aonde você pretende ir?
Estou precisando conhecer pessoas novas também, eu não saio com ninguém desde...
Bom, você sabe.
Vou ficar no aguardo da sua resposta, ok?
Beijos,
”
No fim de semana, havíamos combinado de nos encontrar no Beco Diagonal com Lee e George.
Angelina disse que estava tudo bem se George participasse e inclusive foi ela quem convidou; ela me explicou que já tinha conversado algumas vezes com George e que tudo estava mais do que bem entre eles. Disse que não ia deixar aquela situação separar nosso grupo de amigos, e estavam sendo os mais adultos que conseguiam. Eu não podia estar mais feliz.
– Vocês já foram ao Cabeça de Dragão? – Perguntou Angelina quando nós quatro estávamos reunidos em frente à loja de George.
Angelina estava linda, seus cabelos estavam naturais e um grande blackpower se formava, eu nunca a tinha visto daquele jeito, estava radiante. Me peguei olhando de soslaio para George para ver se ele também tinha ficado encantado como eu fiquei, e acabei percebendo que ele não a olhava de forma apaixonada ou ciumenta. Ele simplesmente a olhava.
– Não, é legal?
– Uma prima minha disse que é incrível. O que vocês acham?
– Por mim é uma boa, para começar as férias com tudo. – Respondi animada e recebi sorrisos em troca.
– Claro, vamos lá! – Lee respondeu animado e George apenas sorriu.
Aparatamos na porta da boate, a fila do lado de fora era grande, fiquei com Angelina na fila de entrada enquanto os meninos foram comprar os ingressos para entrar. Angelina se apoiou na parede da boate, ao lado de um papel de procurado escrito “Gilbert Cuthbert, procurado vivo ou morto” e lembrei que o último cartaz que eu tinha visto daquele jeito era de Sirius Black.
– Você está bem mesmo? – Perguntei a Angie e ela sorriu sincera.
– Amiga, acho que aquele relacionamento já estava fadado ao fracasso de qualquer jeito, eu amo George, do fundo do meu coração, mas acho que não era para ser... – Ela disse dando de ombros. – E eu sempre tive a impressão de que ele estava comigo por... comodidade. Como se ele nunca quisesse realmente algo sério, mas as circunstâncias foram o levando para frente, sabe?
– Puxa, Angie, eu sinto muito.
– Está tudo bem, sabe? Já passou faz bastante tempo. No começo foi meio difícil, mas depois de um tempo as coisas vão passando e você começa a enxergar com mais clareza.
– Fico feliz que tenha sido para o bem, então.
– E você?
– Eu o quê?
– Como você está? Já saiu com alguém? Já conheceu alguém? – Angelina me perguntou com os olhos brilhando de ansiedade.
– Quem, Angelina, me diz? A única pessoa que tem idade para eu sair lá em Hogwarts é o Neville!
– Pois bem? Por que não poderia ser ele? – Perguntou ela séria.
– Porque não, somos amigos. – Expliquei erguendo as sobrancelhas.
Ela soltou uma gargalhada alta.
– É, o Fred também era... – Ela disse ainda rindo, Angelina via o limite e fingia que não o fazia, passando por cima dele. Dei uma risada junto com ela, porque eu não tinha como rebater aquilo.
– Qual é, ! Neville está gatinho pra caramba agora! E ele sempre teve uma quedinha por você. – Ela insistiu sorrindo ladina.
– Eu gosto do Nev apenas como amiga e colega de trabalho, sem contar que ele é dois anos mais novo do que eu!
– Estou falando de dar uns beijinhos, não de casar. – Ela disse empurrando meu ombro, virando os olhos para cima.
– Não, não, não, Neville está fora de cogitação, vamos encontrar alguém por aqui hoje.
Angelina suspirou alto, fazendo mais drama do que era necessário.
– Vai ser meu objetivo hoje, nem que eu tenha que te fazer beijar o Lee.
– Será que é tão difícil encontrar alguém para me beijar que não seja meu amigo? – Perguntei fazendo drama como ela, pondo as mãos para o céu.
– Eu não sou seu amigo. – Uma voz atrás de nós disse, e ambas viramos.
O homem que estava atrás de nós na fila estava ouvindo toda a nossa conversa, e esticou o braço até nós sorrindo.
– Angus O’Donnell, e esse é meu amigo Sebastian Greene.
– É um prazer, eu sou e essa é minha amiga, Angelina Johnson.
Nos cumprimentamos, e Angelina já se apressou em dizer:
– Desculpe, mas não podemos conversar muito com vocês, ou vamos virar amigos e toda essa discussão será em vão.
Eles riram.
– Tudo bem, nos procurem lá dentro e a gente dá um jeito nesse problemão que vocês estão enfrentando. – Angus brincou, nos fazendo rir.
Angus era bonito, tinha cabelos claros e um corpo forte, seu sotaque parecia irlandês.
– Faremos isso.
O lugar estava cheio de pessoas, mas era grande o suficiente para não ser sufocante.
Quando finalmente encontramos uma mesinha para ficarmos acomodados, eu e George fomos atrás de bebidas. Tinha fila no bar também.
– Como você está? – George perguntou em meu ouvido, já que a música estava meio alta.
– Bem e você? – Perguntei ficando na ponta dos pés para alcançar sua orelha.
– Também, estou feliz que estamos fazendo isso, sabia? – Ele sorriu e senti meu corpo esquentar com aquilo.
– Eu também Georgie, a gente conseguiu! – Ergui a mão para ele me dar um high-five. Eu gostava daquela interação porque ela significava muitas coisas, eu estava realmente feliz por estarmos ali porque significava principalmente que estávamos curtindo a vida que devíamos curtir. Estávamos no início dos vinte anos, eu e George merecíamos aquilo.
– Estou muito orgulhoso de você, finalmente vai conseguir tirar as teias de aranha de dentro da boca. – Ele deu uma risada com o rosto ainda próximo do meu, dei um tapa em seu braço, mas não consegui segurar a risada.
– Seu palhaço! Eu realmente achei que estávamos tendo um momento fofinho aqui. – Respondi em seu ouvido e ele riu mais ainda.
Mesmo assim, eu estava feliz demais em ver aquela personalidade de George ali presente, caramba, aquilo me iluminou, ver meu amigo dando uma risada genuína às minhas custas.
Eu nunca reclamaria daquilo.
– E estamos! Eu só preciso garantir que você beije alguém hoje. – Ele disse com um sorriso ladino nos lábios, fingindo que olhava em volta a procura do pretendente perfeito.
– Não se preocupe, a Angelina já está providenciando isso. – Falei sorrindo, nossa vez no bar chegou e ele fez o pedido da bebida.
– A Angelina tem que se preocupar com ela, é outra que não beija ninguém. – Ele respondeu pegando a garrafa de Whisky de fogo, alguns copos e um baldinho de gelo.
– Você está muito preocupado conosco, fico me perguntando quantas mulheres você já beijou depois que terminou com a Angelina, pelo jeito foram muitas, hein?
– Não precisa se preocupar comigo, , eu sei me cuidar. – Respondeu ele me dando um sorriso convencido.
Chegamos à mesa, servimos nossos amigos e brindamos.
A noite passou voando, vi Angelina se agarrando com vários garotos diferentes, Lee sumiu em um determinado ponto da noite e eu o via com uma garota ou garoto diferente cada vez que ia ao banheiro. George não estava muito longe disso, a diferença era que ele trazia as garotas até ali para não sair de perto e nos deixar sozinhas e eu, bom, posso dizer que tirei as teias de aranha da boca, com toda certeza.
Em algum certo momento, avisei a George que iria mais uma vez ao banheiro e segui meu caminho quando ele acenou com a cabeça.
Usei o banheiro, retoquei meu batom e chequei meus cabelos, na porta do banheiro, dei de cara com Angus.
– . – Ele disse abrindo um sorriso para mim.
– Angus O’Donnell. – O imitei abrindo um sorriso para ele também.
– Já conseguiu encontrar uma boca para beijar? – Perguntou ele, dando um passo em minha direção.
– Na verdade, já. – Dei um sorriso meio convencido e ele riu.
– Poxa, não acredito que perdi essa oportunidade. – Ele disse charmoso.
– É realmente uma pena... – Entrei na brincadeira dele.
– Talvez eu ainda tenha uma chance? – Perguntou ele.
– Talvez...
– Então eu vou no banheiro, e quando eu voltar... Você vai me dar uma chance de te ajudar de vez com esse problema, combinado?
– Combinado. Vou para a minha mesa para os meus amigos não ficarem preocupados. Estamos no lado esquerdo do palco. – Respondi trocando de lugar com ele, de modo que ele ficou mais perto da porta dos banheiros e eu do lado da festa.
– Perfeito, .
– Até logo, Angus O’Donnell.
Ele sorriu abertamente e seguiu para o banheiro.
Voltei para a nossa mesa ainda sorrindo, George estava com a mesma garota de quando eu fui ao banheiro, algo que achei realmente impressionante. Angelina se aproximou de nós, não deu bola que George estivesse se agarrando com uma garota logo ali, me abraçou pelo pescoço e disse:
– Olha quem eu encontrei!
E apontou para Sebastian, o amigo de Angus que encontramos na fila de entrada.
– Uau, amiga! Que ótimo, na verdade, eu encontrei Angus agorinha. – Falei e ela concordou apontando para trás de mim. Virei-me e vi Angus se aproximando com um sorriso.
Angus cumprimentou Angelina com um beijo no rosto, brincou com seu amigo e eu fiz questão de apresentar George, que nos olhava com as sobrancelhas franzidas enquanto tinha seu braço passado pelo ombro da garota loira que o acompanhava.
– Esse é George, meu amigo. – Falei aproximando meu rosto de Angus, ele não era tão alto quanto George, mas não era baixinho como Lee.
– Georgie, esse é Angus, nos conhecemos na fila de entrada.
George o cumprimentou sem muito entusiasmo e eu não o culpava, já que mal dava para nos ouvir, estávamos muito próximos do palco onde um DJ tocava as músicas mais badaladas do momento, variando entre artistas bruxos e artistas trouxas.
– E então... – Angus deu atenção a mim depois que estavam todos estavam apresentados. – Você vai me dar aquela chance de retirar seu problema de uma vez por todas?
– Vou, mas só se você prometer não rir da minha pouca habilidade. – Brinquei, fazendo-o rir.
– Ah, eu prometo , mas tenho que admitir que acho pouco provável que o que você está insinuando seja verdade.
– Só tem um jeito de descobrir.
Angus levou sua mão até a minha nuca e uniu nossas bocas sem muita enrolação. Aquele foi, de longe, o melhor beijo que dei naquela noite, sua boca tinha um gosto alcoólico convidativo e eu gostava do fato dele não ficar se esfregando em mim, ou levar suas mãos até onde não devia. Nossas línguas se misturaram com uma facilidade que apenas o álcool podia reproduzir, e nos beijamos durante alguns minutos antes dele separar nossas bocas.
– Eu sabia que você não iria me decepcionar. – Ele disse sorrindo, com a testa encostada na minha.
– É só porque você é um ótimo condutor. – Brinquei e ele sorriu, me roubando um selinho e me puxando mais para perto.
– ? – Lee veio até mim, eu nem tinha notado que ele estava ali por perto.
– Sim? – Falei ainda abraçada a Angus, que segurava minha cintura.
– Você viu o George?
– Ele estava aqui agora mesmo! – Me afastei ligeiramente de Angus olhando em volta, ao meu lado, Angelina se agarrava com Sebastian e percebi que aquele poderia ser o motivo do sumiço de George. Afinal, ninguém quer ver a ex-namorada se pegando com um cara qualquer em uma festa. Lee me deu uma olhada significativa, indicando Angelina, o que mostrava que ele estava pensando o mesmo que eu.
Que merda.
Fiquei tão entretida com Angelina superando George que não levei em consideração que George também podia estar mal, não era porque ele tinha terminado a relação, que ele não estava sentindo nada.
– Vou atrás dele, só para garantir. – Lee me avisou.
– Espera, eu também vou. – Falei me afastando de Angus.
– Tá bem, você vai para lá e eu vou por aqui. – Lee explicou e eu assenti. Voltei para Angus. – Desculpa, é que George é ex da Angelina, achei que ele estava bem, mas... – Indiquei Angelina que ainda beijava Sebastian com voracidade.
– Está tudo bem, não estamos casados, . – Ele disse sorrindo e erguendo as mãos em sinal de paz. – Mas saiba que se eu esbarrar novamente contigo... Eu vou te beijar de novo.
– Combinado. – Falei sorrindo, e ele me puxou para mais um selinho antes de eu sair na direção que havia acordado com Lee.
Encontrei George sentado em uma poltrona próxima dos banheiros. Ele estava com a cabeça baixa, apoiada nas mãos.
– Hey. – Me agachei na sua frente. – Está tudo bem?
– Hey. – Ele levantou a cabeça lentamente, dando um sorriso sem vontade.
– Está tudo bem? – Repeti a pergunta.
– Sim, sim... Acho que só estou cansado. – Tentou me convencer.
– Quando que você vai aprender? – Perguntei dando um pequeno sorriso.
– Aprender o quê?
– Que você não me engana mais. – Expliquei e ele levantou o tronco, se recostando sobre a poltrona. – É por causa da Angelina?
– Não, é claro que não. Está tudo bem entre eu e ela, pelo menos eu acho... – Ele disse tentando sorrir para mim, mas seu sorriso não saía de maneira alguma.
– Então qual é o problema, G? – Perguntei sentando no braço da poltrona, pondo minhas pernas sobre ele.
– Acho que talvez eu não estivesse preparado para isso, não ainda.
– Você estava bem há vinte minutos, beijou várias garotas e... – Tentei argumentar.
– Eu sei, eu estava curtindo, mas... Acho que passou, passou o momento, não sei explicar. – Era nítido que ele não queria conversar sobre aquilo. Ele pôs suas mãos sobre minhas pernas, sem carinho, sem malícia, apenas jogou as mãos ali em sinal de exaustão.
– Quer ir embora?
– Não. Não quero estragar a noite de ninguém. Vai aproveitar mais um pouco.
– Estou cansada também. – Menti e ele levantou os olhos para mim desconfiado. Nossa conexão era algo absurdo. George me conhecia a ponto de saber que eu estava mentindo mesmo com todo aquele barulho em volta, mesmo com todas aquelas pessoas passando por nós.
– Você não está. – Rebateu.
– Vou ficar aqui te fazendo companhia. – Falei mexendo seu ombro.
– Não, . Aproveita a noite, é seu primeiro dia de férias praticamente. – Insistiu ele, com as sobrancelhas unidas.
– Por isso mesmo, posso aproveitar uma balada qualquer em outro momento! Agora, ficar com você não é algo recorrente. – Falei apertando suas bochechas, fazendo com que ele soltasse um sorriso.
– Você vai lá em casa praticamente toda semana. – Ele disse dando uma risadinha.
– É... Bom, isso vai acabar ano no próximo ano letivo, então tenho que aproveitar tudo o que posso de você.
Ele sorriu, dessa vez o sorriso completo e me senti vitoriosa por isso, sorrindo junto.
– E o pobre Angus? – Ele frisou o nome do rapaz, e eu o olhei desconfiada.
– Isso é ciúmes, George Weasley? – Perguntei bagunçando seus cabelos, fazendo-o ficar sem graça.
– É claro que não! Só estou preocupado com o moço. – Respondeu ele jogando os cabelos para trás.
– Ele é bem grandinho, não precisa se preocupar com ele. – Comentei fazendo ele erguer os ombros despretensiosamente. – Por que você ficou interessado no Angus, George? – Perguntei o olhando, ele disfarçou olhando para as pessoas que passavam por nós.
– Porque eu acho que você consegue coisa melhor. – Ele disse ainda olhando para frente.
George já havia flertado comigo antes, éramos amigos a tempo o suficiente para sabermos brincar com determinadas coisas. Sempre foi assim. Ele falava quando eu estava linda. Ele brincava que se eu não tivesse ficado com Fred, ele ficaria comigo. Ele jogava seu charme sobre mim, piscando, jogando o cabelo e eu sempre ri, às vezes devolvia na mesma moeda, mas nunca passou de brincadeiras.
Aquilo ali era diferente.
Espera, aquilo ali era diferente?
Não, era só George com seu senso de humor afiado de sempre. Ele havia brincado há algumas horas dizendo que ia achar alguém para me beijar, certo? Não tinha motivos para agora estar me dizendo quem era certo para mim, ou não. Principalmente considerando que há alguns meses Peter disse a mesma frase à ele e George não gostou nem um pouco.
– Consigo coisa melhor? – Foi a única coisa que consegui pensar em falar.
– É claro que sim, . Você é a garota mais bonita da festa. – Ele me olhou rolando os olhos, como se aquilo fosse óbvio.
Por que aquilo estava me deixando tão nervosa? George vivia me falando aquelas coisas! Nunca foi algo que me fez repensar, ou duvidar, ou calcular se era uma afirmação verdadeira ou não.
– Infelizmente vou ter que discordar. Aquela garota que você estava era linda! E a Angelina então, nem se fala.
– Nenhuma delas chegam aos seus pés, . – George disse sério, a voz não tremeu nem uma vez e não havia sinal de gracinha em lugar nenhum.
– Para com isso, você está me deixando sem graça. – Admiti, fazendo ele quebrar seu semblante sério dando uma risada.
– É só a verdade, se você não aguenta, não posso fazer nada.
George não estava flertando, estava sendo sincero. Ele não flertava comigo desde a morte de Fred, ele adorava flertar comigo na frente de Fred, fazendo perguntas do tipo “Estou bonito, ? Estou né, se Fred está, eu sou obrigado a estar também”. E agora, com aquele brilho extra de fora, eu achava que nunca veria aquele tipo de flerte de volta. Apenas a sinceridade de meu melhor amigo, nua e crua. E aquilo não era ruim, mas George sabia me deixar sem graça quando queria. Mesmo que eu soubesse que não significava nada.
Fiquei com George até Lee e Angelina virem até nós, exaustos.
– Vamos embora? – Lee perguntou bocejando.
– É claro. – Falei levantando-me da poltrona que George tinha aberto espaço para eu sentar ao seu lado.
Seguimos para fora da boate junto com mais algumas pessoas cansadas e derrotadas depois de uma noite regada à muito Whisky de fogo, que sempre acabava sendo a opção com mais custo benefício nessas saídas.
Eu tinha ficado ligeiramente bêbada, mas há essa altura do campeonato o álcool já estava bem longe.
– Você vai ficar na sua avó? – Angelina perguntou enquanto caminhávamos pela calçada.
– Sim, vou ficar lá durante as minhas férias.
– Isso é legal, ela vai adorar a companhia. – Angelina foi gentil, mas minha avó era uma senhora de idade cheia de manias de gente mais velha. Ela odiava sair a rotina e por mais que eu sabia que ela me ama e ama que eu esteja com ela... Ela adorava ficar sozinha e fazer as coisas no seu tempo.
– Ela vai te expulsar em uma semana. – George disse rindo com as mãos para trás.
Caí na risada, sabendo que poderia ser verdade.
– Ela provavelmente vai. – Concordei com ele.
– Você pode ir ficar comigo quando isso acontecer, eu fico na loja basicamente o dia inteiro. – George disse erguendo os ombros.
– Georgie, isso seria ótimo! Você tem certeza?
– É claro.
Nos despedimos de Angelina e Lee que aparataram para suas residências, George me acompanhou, aparatamos na parte de trás da casa de minha avó.
– Obrigada por me acompanhar, você sabe que não precisava, não é? – Perguntei sorrindo e ele sorriu junto.
– Você também não precisava largar o Angus para ficar comigo o resto da festa, mas você fez mesmo assim. – Ele disse de maneira fofa.
– É isso que os amigos fazem.
– É... – George olhou para o chão por um segundo.
– Está tudo bem?
– Sim, é que... Você sentiu algo? Sentiu algo quando beijou um desconhecido? – Perguntou ele apoiando o ombro na parede da casa, fiz o mesmo, a porta de entrada na casa estava no nosso meio.
– Como assim?
– Eu queria sentir algo, sabe? Antigamente eu sentia aquele friozinho na barriga, uma sensação boa, a sensação de você convencer uma desconhecida de te beijar pela primeira vez... Sei lá, dessa vez eu não senti nada.
– Eu... – Parei para pensar por um segundo. Eu não senti nada também, nada como beijar Cedric ou Fred pela primeira vez, talvez porque não tinha sentimento envolvido e eu era uma pessoa que precisava de um pouquinho de sentimento para conseguir sentir algo decente. – Eu também não senti nada.
– Será que tem algo de errado com a gente? – George lambeu os lábios, apoiando a cabeça na parede também, mas sem tirar os olhos de mim.
– Acho que não, Georgie. Acho que só estamos amadurecendo, talvez percebendo que não faz mais tanto sentido sair por aí beijando gente desconhecida.
– Você acha? Será que essa vai ser a nossa vida a partir de agora? Se relacionar só com pessoas que temos, pelo menos, o mínimo de aproximação?
– Bom, não necessariamente. Podemos ter relacionamentos com pessoas que acabamos de conhecer, mas não precisamos necessariamente beijar ou ir para a cama no primeiro dia. – Falei dando de ombros. – Você sabia que dá para fazer isso? Conhecer uma pessoa antes de enfiar a língua na garganta dela? – Fui irônica e ele deu uma risadinha fraca.
– Que merda, eu só queria enfiar a língua na garganta de alguém sem precisar disso tudo. – Ele brincou.
– Você pode fazer isso, mas não vai preencher o vazio existencial dentro de você. Hoje foi a prova disso.
– Outch. – Ele disse, como se eu tivesse batido nele. – Não precisava me machucar.
Eu soltei uma risada, me aproximei dele, levei uma mão ao seu rosto e ele fechou os olhos, aproveitando o carinho.
– Nós vamos ficar bem, G. Não precisamos de pressa, as coisas vão acontecer no tempo certo.
George pousou suas mãos em minha cintura e me puxou para perto de si, o movimento fez meu coração errar uma batida.
– Obrigado, . – Ele disse abrindo os olhos, por algum motivo, meu coração estava disparado. Seus olhos, aqueles que eu amava tanto, tinham um tom castanho claro quase verde, e eles miravam os meus com uma intensidade que me deixavam tonta. Ele levou a sua boca até a minha testa, depositando um beijinho ali. – Obrigado por me fazer companhia hoje, por largar o seu peguete e por me dar uma lição de moral que acabou com todo o meu psicológico.
Soltei uma risada, jogando a cabeça para trás, empurrei seu peito com as duas mãos, me afastando dele. Aquela proximidade estava me deixando esquisita.
– De nada, Georgie. Precisando, você sabe onde me encontrar.
Falei pondo minha chave na fechadura e abrindo a porta.
– Boa noite, .
– Boa noite, Weasley.
Fechei a porta, encostando minhas costas na porta fechada e esperei meu coração se acalmar antes de seguir caminho até o banheiro.
Flashback
Hogwarts - 2 de janeiro de 1995.
– , posso falar com você?
Gelei arregalando os olhos reconhecendo a voz de Fred, eu vinha o evitando há dias, desde o baile de natal, para ser bem exata. Meu coração disparou e ergui a cabeça sem olhá-lo.
Consegui fugir da virada de ano nos Weasley’s, consegui fugir durante a volta do fim de ano no Expresso de Hogwarts, mas não conseguiria fugir estando em Hogwarts. Em algum momento Fred ia me encontrar. Ele sabia todos os meus esconderijos preferidos e podia pedir o Mapa do Maroto emprestado a Harry em qualquer momento.
Eu estava sentada em uma abóbora gigante da plantação de Hagrid, a maioria foi usada no Halloween, mas algumas continuavam crescendo mesmo com a neve as cobrindo, de costas para a cabana, de frente para a floresta. Eu não gostava de ficar de costas para a floresta.
Gostava de ir lá quando Hagrid não estava em casa, gostava do silêncio e do farfalhar dos corvos, gostava de ir quando queria pensar.
Fred estava afastado, e eu não conseguia vê-lo por estar atrás de mim.
Respirei fundo tentando acalmar todo o enrosco que estava em meu peito, eu sabia que essa hora ia chegar, tentei evitar o máximo que pude.
Mexi a cabeça positivamente e ouvi seus passos na grama congelada que fazia “crac” a cada passo seu.
– Minha mãe sentiu sua falta. – Ele disse encostando-se na mesma abóbora que eu estava sentada. Suas mãos estavam nos bolsos da calça.
– Eu também senti falta de vocês. Todos. – Comentei.
Ficamos em silêncio.
Meus olhos acompanhavam um passarinho que catava minhocas do chão, quando ele levantou voo e meu foco de distração voou com ele, ouvi minha boca dizer:
– Era isso que você tinha para falar comigo? Que a sua mãe sentiu a minha falta?
– Sim. Não. Não, eu vim para te pedir desculpas. Não sou muito bom com isso, mas George disse que é o certo.
– E você quer pedir desculpas? Ou só está pedindo porque George disse que é certo? – Cocei meu nariz gelado ainda olhando para frente, mas eu podia sentir seus olhos sobre mim.
Fred ponderou sua resposta.
– Eu não me arrependo do que eu fiz, se é isso que você quer saber, mas pelo bem da nossa amizade, sei que é a opção certa. – Aquilo fez eu engolir em seco.
Ele não se arrependia de ter me beijado, mas estava com medo de estragar nossa amizade... E a quem eu estava enganando? Eu estava com o mesmo medo, eu queria beijar Fred tanto quanto ele queria me beijar, mas... Como fica o depois? Como eu iria para a casa dele nas férias e olharia nos olhos de Molly, sabendo que eu havia beijado o seu filho? Como seria o nosso trio?
– Você sabe que não tem mais volta, não sabe?
– Sim, eu sei. Mas... – Fred deixou a voz ir morrendo aos poucos.
– Mas o que, Gred? – Pulei da abóbora querendo fugir dali, querendo correr para longe dos meus problemas, um lugar onde Fred Weasley nunca tivesse me beijado e eu pudesse esquecer aquele maldito beijo, as suas malditas mãos apertando minha cintura e seus malditos cabelos sedosos sob meus dedos.
– Mas eu não quero voltar atrás, . Eu não quero esquecer ou fingir que não aconteceu.
Engoli em seco o encarando.
Assim como eu, Fred usava uma touca de lã na cabeça, seus cabelos compridos escapavam por baixo, seus olhos eram tristes e ansiosos e ele mordia os lábios. Suas mãos continuavam nos bolsos, fugindo do frio.
– Mesmo que quisesse, não tem como voltar atrás. – Ergui os ombros sem saber o que dizer.
– Me desculpe, de verdade, eu não estava pensando... – Ele desencostou da abóbora, vindo na minha direção. – Eu agi por impulso, fui um babaca.
– Você sempre é babaca.
– É, eu sei. – Ele olhou para baixo tentando esconder o sorriso que escapou pelo canto dos lábios.
Tê-lo tão perto de mim me deixava nervosa. – Então estamos bem?
– É, acho que sim.
– Você vai parar de se esconder de nós? De mim? – Ele levantou o rosto, seus olhos correram em meus olhos, desceram para minha boca por um milésimo de segundos e voltaram para meus olhos.
– Não estou me escondendo...
– Qual é, . – Ele tirou uma mão do bolso e empurrou meu ombro, fazendo eu me desequilibrar e dar um passo para trás, sorrindo.
– Eu estou te evitando, é diferente. – Respondi erguendo os ombros.
– Você está me evitando, e automaticamente está evitando George junto, ele está me enchendo o saco.
– A culpa não é minha que vocês vivem juntos!
George tinha vindo falar comigo sozinho logo depois do baile, ele riu da minha cara por dez minutos a fio. Quando se recuperou, perguntou o que eu achava, se eu estava bem, e disse que eu não tinha que decidir nada, Fred tinha que assumir a responsabilidade do que tinha feito e tinha que vir falar comigo, mas que infelizmente seu gêmeo não tinha a cabeça pensante como ele e que eu tinha que dar-lhe o tempo necessário para que ele caísse na real de que tinha que vir pedir desculpas, ou resolver as coisas.
Então eu o avisei que ia me afastar um pouco, porque também tinha que pensar e ele disse que ia me dar o meu espaço, mas que quando quisesse conversar, sabia onde encontra-lo.
É claro que eu sabia, era só encontrar as duas cabeças flamejantes que estavam sempre vários centímetros mais altas que qualquer cabeça daquele colégio.
Fred sorriu erguendo as sobrancelhas.
– Vou pedir para meu irmão gêmeo não ficar mais perto de mim, para que você consiga me evitar com mais tranquilidade.
– Isso seria realmente ótimo. – Falei sorrindo também, pondo minhas mãos para trás.
– , eu não quis te deixar desconfortável, muito menos estragar nossa amizade, eu só... – Ele retirou a touca da cabeça, apertando-a para ter um apoio de ansiedade, geralmente eram seus cabelos. – Droga, você estava tão linda e... Naquele momento fazia sentido na minha cabeça.
Eu normalmente recebia um elogio ou outro de George, ele ficava mais confortável comigo nesse sentido, desde que eu falei que achava seu rosto bonito há uns dois anos.
Mas ouvir aquilo de Fred tinha um efeito diferente em meu cérebro, e eu tenho certeza que pisquei errado quando ele disse aquilo, tentando absorver o que significava.
– Agora não faz mais sentido? – Perguntei inclinando a cabeça para o lado.
Ele demorou um pouco para assimilar a pergunta, suas mãos estavam tão apertadas segurando a touca que seus dedos estavam brancos.
– Eu... Não... Não faz sentido se for estragar o que a gente tem.
Iria estragar o que a gente tem? Se não desse certo, como ficaria nossa amizade? Eu teria que parar de ir à Toca. No mínimo. Teria que me afastar de George? E de Rony? De Ginny???
Era muita coisa para perder, tendo em vista que minha vida em Hogwarts e até fora dela praticamente girava em torno deles. Eles eram a minha família. Todos.
Fred continuaria com todos eles, para sempre.
Eu praticamente troquei o namoro de Cedric por eles, será que valia a pena fazer isso por Fred também?
Mas era Fred... Eu nunca havia beijado alguém daquele jeito, nunca tinha ficado tão zonza, tão feliz, tão... Leve.
– Fred, eu...
– Por favor, , não faz a besteira de me dizer que aquilo pareceu certo.
Abri a boca, fechei, abri de novo sem ter o que dizer. Eu tinha muito a perder, muito. Mas...
– Ah, foda-se. – Fred disse jogando a touca para trás e dando dois passos até mim. Levei minhas duas mãos em seu rosto ao mesmo tempo em que ele terminava com o espaço entre nós puxando minha cintura. Unimos nossas bocas ao mesmo tempo, não teve aquilo de Fred me beijou ou eu o beijei. Nós dois nos beijamos. Sem álcool, sem roupas de gala e sem brigas.
Foi um beijo calmo, perfeitamente encaixado e indescritivelmente bom, nossas línguas se acariciavam, meus dedos penetravam seus cabelos embaraçados por conta da touca enquanto suas mãos se aqueciam por dentro da minha capa, por cima do meu suéter da Grifinória, explorando meu corpo com força. Mordi seu lábio inferior fazendo-o soltar um suspiro quente, fazendo com que eu desse um sorriso antes de voltarmos a nos beijar.
Sem meu salto, apenas ficar na ponta dos pés não era suficiente, ele tinha que se arquear para baixo para me beijar, Fred me empurrou lentamente de volta até a abóbora que estávamos apoiados minutos atrás e me ergueu com facilidade, me deixando sentada e se acomodando entre minhas pernas sem separar nossas bocas. Trocamos as posições das mãos, onde eu agarrei seu moletom e ele agarrou minha nuca, guiando o beijo de forma ligeiramente agressiva, faminta. Porém, algo o fez separar nossas bocas.
– Eu não acho que tenha jeito fácil de dizer isso, mas a nossa amizade nunca mais vai ser a mesma. – Ele soltou um sorriso ladino ainda segurando meu rosto com as mãos quentes. Seus lábios estavam vermelhos e ligeiramente inchados.
– Eu nem gostava muito da sua amizade mesmo. Sempre preferi o George. – Brinquei fazendo-o jogar a cabeça para trás e dar uma gargalhada.
– Não fale isso para ele, por favor. – Fred me deu um selinho. – Ele ficaria insuportável.
– George nunca é insuportável, você é. – Ele adorava quando eu pegava no seu pé.
– E você é irritante.
– Eu sei.
Fred sorriu antes de unir nossas bocas novamente em um beijo que tirou completamente meu fôlego. Aquele era o nosso período vago de Adivinhação que havíamos combinado de retirar da grade principal de aulas junto com George, já que podíamos fazer isso no quinto ano.
– Hu-hum. – O pigarreio foi tão alto e profundo que me assustei.
Olhamos para mesma direção devagar e vimos Hagrid nos olhando com as sobrancelhas unidas e os braços cruzados da janela da sua cozinha.
– Eu esperava isso do Sr. Weasley, reconheci o cabelo vermelho de longe... Mas você, mocinha? – Seu tom era sério com uma pitada brincalhona. – Espero que não estejam faltando aula para... isso.
Pulei da abóbora com rapidez, meu rosto queimava de vergonha.
– Não, não, Hagrid. – Arrumei a touca em minha cabeça que estava quase pulando para fora. – Temos um período vago.
Olhei Fred com os lábios tão vermelhos quanto antes, ele não estava tão sem graça quanto eu. Provavelmente era acostumado a ser pego beijando garotas pelos cantos. Eles eram famosos por isso, os gêmeos. Eu não.
– E resolveram vir dar uma olhada na minha plantação, não foi?
– Hagrid, pelo amor de Merlin, tenha dó. – Fred abanou a mão para ele, juntando sua touca do chão. – Tá matando a garota de vergonha.
Hagrid deu uma risada gostosa, me deixando menos aflita.
– Fred ou George? – Perguntou ele ainda com um sorriso no rosto.
– George. – Fred respondeu.
– FRED! – Eu o corrigi brava, fazendo Hagrid soltar mais um risinho.
– Bom, , espero que você saiba o que está fazendo. – E virou o rosto para Fred. – E você, Fred Weasley, cuide bem dessa garota, hein?
Fred enrubesceu, fazendo com que eu desse um sorriso vitorioso.
– Obrigada Hagrid, isso não vai se repetir... – Falei um pouco mais confiante. – Você se importa de não contar isso para ninguém?
Hagrid pareceu surpreso pela pergunta, mas concordou meio pensativo. Acenei para ele e puxei Fred pela manga do moletom.
– Não vai se repetir? – Fred perguntou baixinho enquanto fazíamos o caminho de volta.
– Bom, não lá, né? – Falei sentindo meu rosto esquentar novamente. Fred riu.
– E quanto ao “não contar para ninguém”? – Fred repetiu o fim da minha frase quando estávamos mais afastados.
– Será que podemos entender o que isso é antes de qualquer coisa? – Perguntei quando chegamos ao castelo.
– Claro, você está certa. Você contou para alguém sobre o baile?
Neguei com a cabeça.
– Nem para Angelina?
– Não, ela ia ficar me importunando.
– Então só George sabe?
– É.
– Oh, merda. Ele vai nos chantagear, você sabe disso, não sabe?
– Sei. Infelizmente sei. – Andamos lado a lado pelo corredor largo, estávamos sozinhos já que a maioria dos alunos estavam em aula.
– ?
– Sim?
– Posso te beijar de novo?
Fim do flashback.
CONTINUA...
Nota da autora: Por sorte a PP é muito mais forte do que eu, porque se George Weasley segura a minha cintura daquele jeito, eu não responderia por mim KKKKKKKKKKKKK Mas a bichinha ficou descompassada, será que os sentimentos estão começando a aparecer? Muito obrigada para quem está acompanhando essa fic, e se chegou até aqui, deixe um comentário! <3