The Talk

Escrito por Mariana Nascimento | Revisado por Beezus

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  Ontem foi a gota d'água.
  Eu achei que finalmente havíamos nos acertado, que tínhamos voltado a ser aquele casal lindo que éramos! Mas agora... Eu não sei mais.
  Tudo começou depois de nos casarmos.
  Fato que qualquer casal precisa saber: Quando se assina aqueles documentos, ou o padre fala "Pode beijar a noiva", ou qualquer maneira que você arranje para se casar, isso muda as coisas de uma maneira que ninguém pode evitar.
  Nos primeiros meses, tudo continuava da mesma maneira. Morando juntos, ele com a mania de deixar a pasta de dente destampada, eu sempre esquecendo as chaves quando saía de casa. Aqueles pequenos defeitos que acabamos nos acostumando.
  Até que começou.
  Se ainda não havia mencionado, meu marido se chama . trabalha como professor de literatura americana na Universidade de Columbia. Éramos um casal perfeito, até que ele começou a chegar mais tarde em casa.
  Eu sei que pode parecer paranoia, mas eu sabia que havia algo errado.
  Peter quase não conversava mais comigo. Às vezes, nem "bom dia" ele me dava. Ele estava mais afastado de mim, como se estivesse me escondendo algo.
  A briga começou no dia seguinte.
  Fazia uma semana que eu estava realmente a me incomodar com o comportamento de Peter. Eu cheguei em casa animada, pois naquele dia era nosso aniversario. Havíamos começado a sair há quatro anos. Isso era algo para se comemorar.
  Preparei um jantar. Nada grande, só um spaguetti com molho putanesca, seu preferido. Arrumei a mesa com uma toalha vermelha. Acendi algumas velas, coloquei um CD para tocar. Vesti um vestido azul (cor preferida do ) lindo e procurei o dia todo pelo vinho da safra preferida dele. Eram sete da noite, e geralmente chega as oito.
  Lembro que fiquei acordada até às onze horas. Dormi no sofá, depois de uma taça do vinho. Acordei com o barulho da porta abrindo. Olhei o relógio e eram três da manhã.
  O jantar estava frio, o vinho quente, as velas completamente derretidas! Um fracasso. Eu já comecei perguntando por onde ele andava até que eu vi a prova de que eu precisava para acreditar que não era só paranoia minha.
  Um chupão no pescoço de .
  - O... Que... É... Isso? - disse, lentamente, apontando para o imenso chupão no pescoço do meu marido.
  - Amor, eu posso me explicar...
  - COMO SE EXPLICA O FATO DE VOCÊ TER O CHUPÃO DE OUTRA MULHER NO SEU PESCOÇO? - eu gritei, sem me preocupar com o Sr. Shebosky, um velho rabugento que é nosso vizinho de cima, com a Sra. Duncan e seus 10 gatos no apartamento da frente ou com Padre Vincent do apartamento ao lado. Estava irritada, humilhada, frustrada e triste. Ninguém tem o direito de me fazer sentir assim, muito menos meu marido, que deveria me amar e me apoiar.
  - Fique calma, , sabe como o Sr. Shebosky fica quando fazemos barulho... - ele apelou, achando que isso iria minimizar minha raiva. Não mesmo.
  - ESTOU POUCO ME FUDENDO. NÃO ME IMPORTA SE OS OUTROS ME CHAMAM DE LOUCA, PSICOPATA OU O RAIO QUE O PARTA. O QUE IMPORTA É QUE VOCÊ VEM MENTINDO PARA MIM E TREPANDO COM UMA QUALQUER! ACHAVA QUE A RETARDADA AQUI NÃO IA DESCOBRIR? - eu gritava e gesticulava, lágrimas caiam dos meus olhos - OU, SE EU DESCOBRISSE, EU IRIA TE PERDOAR? POIS BEM, EU NÃO SOU IDIOTA, E MUITO MENOS CORNA MANSA. VOCÊ NEM SE DEU CONTA QUE HOJE FAZ QUATRO ANOS QUE COMEÇAMOS A SAIR! MAS VOCÊ NÃO SE IMPORTA, NÃO É? SE VOCÊ MINIMAMENTE SE IMPORTASSE, NÃO TERIA TREPADO COM ESSA VADIA!
  - ME DEIXA EXPLICAR, PORRA! É SEMPRE ASSIM, VOCÊ TIRA CONCLUSÕES PRECIPITADAS E ACHA QUE ESTÁ CERTA, JÁ QUE VOCÊ SEMPRE TEM RAZÃO, NÃO É? - ele respondeu, seu rosto cada vez mais vermelho.
  - QUER SABER? EU TE ODEIO. EU TE ODEIO POR TER ME FEITO ME APAIXONAR POR VOCÊ PARA SIMPLESMENTE ME TROCAR POR UMA QUALQUER! EU TE ODEIO! - eu gritava e tentava dar tapas nele, em um ataque histérico. Essa briga continuou por um bom tempo, até que simplesmente eu decidi que não perderia meu tempo. Eu entrei no quarto e tranquei a porta. Peter dormiu no sofá naquele dia.
  No dia seguinte, nos fizemos as pazes. Ele me fez um café da manhã romântico, me explicou que foi uma aluna mais atirada que fez o chupão. Nos entendemos e voltamos aquela fase de lua-de-mel. Ficamos assim por um mês, até que ele voltou a ficar cada vez mais distante. Brigávamos, voltávamos e o ciclo se repetia infinitamente.
  Não mais.
  Eu não aguento mais chorar por , e no dia seguinte tudo ficar bem. Uma vez me peguei ansiosa para nossa briga, assim nossa fase romântica recomeçaria. Isso é doentio.
  Ontem a briga foi mais ou menos pelo mesmo motivo. Ciúmes. Eu já estava cansada desse ciclo estúpido, por isso fui a uma boate com uma amiga minha para nos divertimos. Quando cheguei em casa era meia noite, e deu um escândalo dizendo que minha roupa é muito curta, que eu sou sua mulher e não devia estar andando por aí desse jeito a essa hora.
  Não posso descrever o quanto isso me irritou. Ele podia fazer o que quisesse, mas eu não, porque "eu sou sua mulher"? Hipócrita.
  Respirei fundo e saí do quarto. E lá estava , no sofá, lendo o jornal e tomando um café.
  - - eu chamei, e minha voz soou fraca - Precisamos conversar.
  - Olha, se for por ontem a noite, me desculpa, eu estava errado e fui muito machis...
  - Não é sobre isso. - interrompi-o, antes que desistisse - Precisamos conversar. Sem desculpas, promessas sem fundo ou garantias. Só uma conversa.
   só assentiu, esperando que eu começasse. Ele provavelmente não sabe como agir, já que nunca tivemos uma conversa de verdade desde que nos casamos.
  (Ponham a música para tocar).
  - Lembra quando nos conhecemos? Foi um encontra as cegas, que Brian e Janna armaram para a gente. - eu disse, um sorriso fraco em meu rosto, um sorriso nostálgico.
  - Claro que lembro. Nós fomos para aquela lanchonete onde vende um cachorro-quente de vinte centímetros. - ele disse, acompanhando minha linha de pensamento.
  - E você ficou tão bêbado que, quando encontramos um policial, no caminho para casa, você se virou e pediu para ele te prender. Ele perguntou o porquê, aí você apontou para mim e disse...
  - "Porque eu pretendo roubar o coração dela." - ele disse, sorrindo. Eu me lembrava daquele dia como se fosse ontem. Meus pais haviam morrido há alguns meses, e só foi capaz de fazer eu me recuperar da perda.

  Right from the start
  You were a thief, you stole my heart
  And I, your willing victim
  I let you see the parts of me
  That weren't all that pretty
  And with every touch
  You fixed them

  - Lembra-se daquele casal? Que não brigava, que ria, falava sobre tudo?
  - Ainda somos aquele casal. - disse, segurando minha mão. Havíamos nos sentado no tapete da sala, sem nenhum motivo aparente.
  - É mesmo? Você por acaso sabe qual foi o último caso que eu trabalhei? - perguntei, e ele fez uma cara pensativa. Há alguns anos atrás, ele teria a resposta na ponta da língua. Eu trabalho como advogada de casos familiares.
  - Viu? Não conversamos mais! As únicas vezes que eu te vejo falando é quando você dorme! - eu disse, com frustração.

  Now you've been talking in your sleep oh oh
  Things you never say to me oh oh
  Tell me that you've had enough
  Of our love
  Our Love

  - Eu não sei como chegamos a isso, . Eu te amo, mas está cada vez mais difícil continuar com isso.
  - "Isso"? Você está falando do nosso casamento? - ele disse, olhando para mim, surpreso. Acho que ele não achava que a conversa iria nessa direção.
  - Eu não sei. Mas uma coisa eu sei: Não podemos continuar assim!
  - Assim como, ? Nos amando? Eu te amo e você me ama. Não tem nada de complicado nisso!

  Just give me a reason
  Just a little bit's enough
  Just a second we're not broken just bent
  And we can learn to love again
  It's in the stars
  It's been written in the scars on our hearts
  We're not broken just bent
  And we can learn to love again

  - Mas é! Eu não aguento mais chorar por alguma briga nossa! Quando você começa a se afastar, eu começo a ficar paranoica! Eu odeio isso. Odeio não ter controle dos meus sentimentos e permitir que meu coração seja destruído! É claro que você o concerta, mas só para ele ser destruído de novo! Isso deixa marcas, , marcas que as vezes nunca curam! - não conseguia controlar minhas palavras, só conseguia falar tudo o que me vinha à cabeça, sem pausa, sem filtros. Só a verdade.
  - Não entendo por que só agora você só me falou sobre isso agora? Estamos casados há quatro anos, ! Quatro anos! E se agora você me fala sobre isso!
  - Claro que eu não falava, mal falávamos direito um com outro!

  I'm sorry I don't understand
  Where all of this is coming from
  I thought that we were fine (oh we had everything)
  Your head is running wild again
  My dear we still have everythin'
  And it's all in your mind (Yeah, but this is happenin')

  - Não falávamos porque você não vinha me contar, ! Eu sempre te apoio, por que agora não confia mais em mim?
  - Porque meu coração já foi partido demais por você. Tem noites que eu tenho pesadelos, , com nossas brigas. Eu não consigo dormir sem pensar se os pesadelos não vão parar!- eu chorava. Ele não entendia como eu me sentia.

  You've been havin' real bad dreams oh oh
  You used to lie so close to me oh oh
  There's nothing more than empty sheets
  Between our love, our love
  Oh, our love, our love...

  - Me diga pra que me esconder essas coisas? Não deveríamos compartilhar tudo, “na alegria e na tristeza”?
  - Eu não sei tá legal! Não sei! - eu gritei, enquanto chorava.
  - Só me dê uma razão, . Uma razão.
  - Eu acho... Nos não nos amamos mais como nos amávamos antes.

  Just give me a reason
  Just a little bit's enough
  Just a second we're not broken just bent
  And we can learn to love again
  I never stopped
  You're still written in the scars on my heart
  You're not broken just bent
  And we can learn to love again

  - Eu te amo como sempre amei. Você é meu destino. Lembra de um dos nossos encontros? No parque de diversões? Com aquela cartomante?
  Eu assenti, enterrando meu rosto entre meus joelhos, tentando esconder as lágrimas que ainda caiam. Ele se aproximou e me abraçou. E continuou.
  - Ela disse que nós somos almas gêmeas. E que... - eu solucei, as lágrimas caindo livremente.
  - Estávamos escritos nas estrelas. Eu vou concertar nosso relacionamento. Por você, o faço qualquer coisa. Qualquer coisa que te faça feliz.

  Oh tear ducts and rust
  I'll fix it for us
  We're collecting dust
  But our love's enough
  You're holding it in
  You're pouring a drink
  No nothing is as bad as it seems
  We'll come clean

  - Só me dê uma razão para continuar com isso, . Uma razão para concertar algo que eu não tenho certeza se pode mudar. Para arriscar mais lágrimas em algo que eu não sei se me fará feliz. Responda -me, , só isso! Diga-me por que você tem tanta certeza de que iremos conseguir?

  Just give me a reason
  Just a little bit's enough
  Just a second we're not broken just bent
  And we can learn to love again
  It's in the stars
  It's been written in the scars on our hearts
  We're not broken just bent
  And we can learn to love again

  - Nós vamos consertar, . Vamos conseguir, porque nos amamos. Quando alguém ama outro alguém como eu te amo, nada é impossível. Eu vou tentar de tudo para fazer com que esse casamento volte a funcionar. Eu vou voltar a te amar como você merece ser amada. - ele se levantou e eu também. Estávamos-nos segurando as mãos um do outro, e eu não conseguia parar de olhar para aqueles olhos.
  Foi quando eu percebi. Eu o amo. Não conseguiria viver sem ele ao meu lado. Não conseguiria amar ninguém como eu amo . Nunca.

  Just give me a reason
  Just a little bit's enough
  Just a second we're not broken just bent
  And we can learn to love again
  It's in the stars
  It's been written in the scars on our hearts
  We're not broken just bent
  And we can learn to love again

  - Eu sei que vamos conseguir. Porque... Eu te amo demais para viver sem você. - ele me beijou, selando um compromisso entre nós. Nós sempre nos amaríamos, não importa o que acontecesse. E isso não é fácil de conseguir.

  Oh, we can learn to love again
  Oh, we can learn to love again
  Oh, that we're not broken just bent
  And we can learn to love again

FIM



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