There's Nothing Like Us
Escrito por Danielle Aquino | Revisado por Mariana
[Coloque para tocar Nothing Like Us, por Justin Bieber]
Era um dia comum, como todos os outros. Tive que brigar com minha vontade absurda de ficar na cama quando meu despertador me acordou às sete da manhã. Precisei beber duas xícaras de café antes de sair de casa para conseguir dirigir até a universidade. E lá, me encontrei com as minhas amigas que já estavam traçando planos para o fim de semana – estávamos na quarta-feira, então até que era compreensível.
As aulas da manhã foram monótonas, como sempre, mas me esforcei para tomar notas e fazer comentários quando os professores lançavam algum assunto para discutirmos. Não me entendam mal, eu adorava a faculdade que fazia. Além do mais, eu havia me esforçado muito para conseguir uma vaga em medicina na Universidade de Chicago. O fato é que Sociologia e Ética não são exatamente as matérias que você espera estudar quando vai para a área das biológicas. Necessário estudar isso, eu sei, mas eu estaria mentindo se disse que gostava dessas disciplinas.
Meu dia continuou normal até a hora do almoço, quando minhas aulas do dia terminaram – quarta era um dos raros dias que eu tinha a tarde livre – e resolvi passar em casa para ver o que estava precisando comprar para abastecer a geladeira. Minha colega de apartamento e melhor amiga estava em intercâmbio, em Madrid há dois meses e ainda ficaria por mais oito. Portanto, eu estava morando sozinha, e se não vigiasse a geladeira sempre, nem água entraria nela.
E foi quando contornei o prédio, tendo deixado meu carro na minha vaga de garagem, que o avistei. Estreitei os olhos imaginando que estava tendo alucinações de novo ou pensando que minhas lentes de contato não estavam prestando mais, de repente. Mas lá continuava ele: o celular em uma das mãos, as chaves do carro na outra. Por reflexo, procurei meu celular dentro da bolsa, e lá estava o objeto, vibrando como um louco com o número e o nome de na tela.
Precisei reunir toda a minha concentração para deslizar o ícone verde na tela. Depois de quatro tentativas, consegui:
- Alô.
- ?
- Oi, . Está tudo bem? – falei enquanto o via ao telefone, falando comigo do lado de fora do meu prédio.
- Sim... Eu acho que estou do lado de fora do seu prédio.
- O quê? – respondi automaticamente. Sim, você está mesmo do lado de fora do meu prédio, querido. E agora eu estou feliz por ter certeza de que não estou ficando maluca.
- Eu estou em Chicago.
- Você... Você não deveria estar em alguma aula de cálculo, física ou não sei o quê a essa hora?
- Deveria. Mas eu precisava te ver.
- E aí você simplesmente pegou um avião até aqui? – bufei.
- Na verdade, eu peguei meu carro e dirigi até aqui. – ele riu. – Eu precisava pensar, sabe como é.
Tentei ficar brava com ele, odiá-lo por me submeter a uma situação daquelas quase dois anos depois de termos terminado, porque ele ficaria estudando engenharia na Flórida e eu faria medicina em Chicago, um estado quase do lado oposto do país em relação ao outro. Mas não fui capaz, é claro. Aquilo era fofo demais para meu coração que ainda pertencia muito a ele. E a minha saudade de abraçá-lo não me deixou outra alternativa. Esqueci as compras por completo e fui até a entrada do prédio colocar meu ex-namorado para dentro da minha casa.
- Eu te odeio, sabia? – falei enquanto ainda destrancava a porta do meu apartamento.
- Eu dirigi 18 horas até aqui pra te ver e você me odeia? – riu.
- Exatamente por isso. – joguei minha bolsa sobre o sofá da sala e o puxei para um abraço empurrando a porta com o pé. – Nós moramos a 18 horas de distância um do outro, . São quase mil e quinhentos quilômetros. Nós terminamos por causa disso há quase dois anos. Por que você tinha que vir até aqui agora?
- , não é como se não tivéssemos nos visto dentro de dois anos. Sua mãe ainda mora em Orlando. – respondeu. Sua respiração contra o meu pescoço fazia com que minha vontade de beijá-lo ficasse cada vez maior. Mas eu não podia fazer aquilo. Uma recaída naquele momento me jogaria para o fundo do poço de depressão novamente e eu havia demorado muito tempo para conseguir sequer falar com sem me debulhar em lágrimas.
A última vez que havíamos nos visto fora quando fui visitar minha mãe no Natal, três meses atrás. Os pais de moravam na mesma rua que a minha mãe e minha irmã de dez anos de idade, a única família que eu tinha no mundo – pelo menos a única que me importava. Nós começamos a namorar exatamente por causa disso: estudávamos na mesma escola, tínhamos os mesmos amigos... foi meu primeiro beijo aos treze anos, meu primeiro namorado dos quinze aos 18, minha primeira vez aos 16. Tínhamos um namoro perfeito, com brigas ocasionais que sempre terminavam bem porque nós nos gostávamos demais e de muitas formas nós éramos feitos um para o outro. Eu tinha certeza de que seria o pai dos meus filhos e o marido com o qual já havia sonhado em ter. Eu estava cem por cento convencida disso até que nossas cartas de admissões chegaram. E com elas vieram algumas brigas sobre como eu seria capaz de ir para o outro lado do país e como ele podia ser tão egoísta a ponto de me pedir para desistir do meu sonho de carreira. Nosso namoro de três anos terminou no instante que coloquei os pés dentro avião.
- Bom, se é assim, - falei me afastando do abraço - o aniversário da é no fim do mês. Daqui duas semanas eu estou indo para Orlando. – ficou me encarando pelos próximos segundos sem sequer abrir a boca para falar alguma coisa. – Você não podia esperar até lá? – completei.
- Não, eu não podia. Eu estou esperando para ter essa conversa com você há muito tempo. Dois anos para ser mais específico.
- Se você vai falar sobre a gente voltar, acabou de mentir feio. Já conversamos sobre esse assunto milhares de vezes.
- E vamos continuar conversando até você disser que sim.
Suspirei alto.
- , nós somos perfeitos um para o outro. Não existe nada como... como o que nós tivemos. Nada como a gente. – ele sorriu para mim e pegou uma das minhas mãos. – Não faz sentido nós terminarmos por causa de mil e quinhentos quilômetros.
- Você escutou a última coisa que disse? – eu ri sem humor algum. – São mil e quinhentos quilômetros, . Você não vai poder dirigir 18 horas até aqui todos os fins de semana. Ou mesmo uma vez no mês. Vamos nos encontrar três vezes por ano e isso só vai desgastar o que nós ainda temos.
O sorriso que ele tinha no rosto se desmanchou aos poucos até que tudo o que restou foi uma expressão triste.
- Eu me sinto a pior pessoa do mundo por te falar essas coisas, mas nós precisamos ser realistas. Não se faz um relacionamento só de amor. – recolhi minha mão e cruzei os braços sobre o peito.
Eu queria muito chorar. Queria abraçá-lo e arruinar sua camisa com as minhas lágrimas. Não era justo que as coisas entre nós terminassem daquela forma, mas que escolha que nós tínhamos? Ele estava tentando uma transferência para Chicago e eu para a Flórida desde que começamos a estudar. Infelizmente as coisas não estavam exatamente ao nosso favor.
- Sabe o que me magoa? – ele disse, de repente parecendo com um pouco de raiva.
- O quê?
- Você não está disposta nem a tentar. Parece que não vale a pena o esforço.
- Não é que não vale a pena o esforço. Eu não quero tentar porque tenho medo que a gente vire uma merda. É exatamente porque eu valorizo o que nós tínhamos que eu não quero fazer nada que acabe com isso. Prefiro ter terminado porque cada um seguiu um caminho e está tudo bem do que transformar nossa história em uma coisa horrível. Eu não quero arruinar a gente.
abriu a boca três vezes para me responder, mas a fechou novamente sem emitir um ruído.
- Vou fazer um café. Você quer? – perguntei já andando até a cozinha. O café era uma desculpa para ter o que fazer e resistir ao desejo quase incontrolável de agarrá-lo ou de chorar. Se eu não me distraísse com algo, acabaria fazendo uma das duas coisas.
- Tenho certeza que se você sofrer um corte, vai jorrar café da ferida, não sangue. – ele comentou com um sorriso na voz, o tom que usava para criticar as minhas manias que ele julgava nocivas, mas que, no fundo, gostava.
- E de você sairia refrigerante.
riu do que eu disse e pela próxima hora não falamos do nosso término, não falamos de nada que fosse doloroso. Conversamos como dois amigos sobre nossas vidas pessoais simplesmente, ignorando completamente o motivo da viagem exaustiva dele e deixando de lado tudo o que nos assombrava já havia tanto tempo.
O café manteve acordado por duas horas depois que ele bebeu uma xícara da bebida. Então, ele adormeceu com a cabeça no meu colo sobre o sofá da minha pequena sala. Deixei que ele ficasse apagado naquela posição horrível por pouco mais que uma hora e então fiz com que ele acordasse disposta a convencê-lo a ir para a cama.
- Eu quero ficar perto de você. – ele reclamou e bocejou.
- Você nem vai perceber se eu estou perto ou não porque estará adormecido.
- Não vou sair daqui então. – decidiu e voltou a fechar os olhos.
- ... – suspirei. – Tudo bem. Eu durmo com você.
- Jura? – ele abriu os olhos e um sorriso iluminou seu rosto.
- É claro. – sorri de volta.
Nos deitamos de conchinha na minha cama, e no instante que os lábios dele tocaram o meu ombro em um beijo aparentemente muito inocente eu vi que aquilo realmente não era uma boa ideia. pressionou seu corpo contra o meu, como se estivesse com medo que eu fugisse, e isso fez com que o resto do meu juízo virasse pó.
- Você pode me proibir de ficar perto de você, mas não pode me impedir de continuar te amando, . E eu te amo. Mais do que ontem, menos que amanhã. Vou acreditar em nós até o meu último suspiro.
Essas palavras sussurradas por ele foram o que me fizeram parar de me controlar e me virar sobre a cama para ficar de frente para ele e beijá-lo sem me preocupar pelas próximas horas com as consequências que aquilo nos traria.
- Pode dormir. Você está cansado. – falei acariciando os cabelos do meu ex-namorado enquanto ele fazia desenhos com o indicador na minha barriga. Eu podia sentir os olhos dele me encarando enquanto eu olhava para o teto me detestando por ser tão fraca, mas feliz por termos ficado de novo.
- Estou com medo que você evapore. – ele disse e eu ri alto.
- Isso não vai acontecer, seu bobo.
Ficamos em silêncio pelos próximos minutos e eu já estava convencida de que havia adormecido quando a voz dele preencheu o espaço novamente:
- Nós não vamos voltar. – não era uma pergunta. Mas mesmo assim ele esperou que eu respondesse.
- Vai dormir, . Quando você acordar, nós conversamos sobre isso de novo. – falei e depositei um beijo no seu rosto.
Ele suspirou alto, mas me obedeceu. Depois de um momento sem falar mais nada, sua respiração alta se tornou o único barulho dentro do quarto. Tentei dormir um pouco também, mas não consegui.
Eu precisava de ar fresco, precisava pensar sem que o cheiro dele atrapalhasse meu julgamento.
Andei por trinta minutos e depois fui em casa buscar meu carro para ir ao supermercado. Comprei tudo o que precisava dentro de duas horas e dirigi de volta para o meu apartamento me sentindo bem melhor.
apareceu na cozinha esfregando os olhos de sono e vestindo apenas sua cueca preta enquanto eu guardava os frios na geladeira.
- Eu dormi muito tempo? – ele perguntou escorando-se à porta da cozinha.
- Não... Quatro horas no máximo.
- Isso é muito tempo. – reclamou.
- Dezoito horas que é muito tempo, .
- , eu não sei mais o que fazer! – ele disse desesperado. Continuei guardando as compras mesmo assim porque se eu olhasse para a cara dele, não aguentaria mais me fazer de forte. - Já pensei em tudo. Desde trancar a minha faculdade e fazer algo por aqui, até pular de um penhasco.
- Você nunca disse tanta merda junta em uma mesma frase! – falei nervosa parando o que estava fazendo para encará-lo.
Eu sempre fui a mais racional entre nós dois. Sempre a que pensava nas consequências, a calculista incapaz de crer em milagres. Se não fosse por mim, com certeza teríamos tentado o tal relacionamento à distância e sabe-se lá Deus se teríamos qualquer contato que fosse agora.
- Eu não suporto mais ficar longe de você sabendo que você também quer ficar comigo.
- Eu entendo isso, . Você pensa que é fácil pra mim? – disse com os olhos cheios de lágrimas. – Mas entenda de uma vez por todas: nós não vamos funcionar desse jeito. Não quero te machucar mais do que já estou. Além disso, já se passaram dois anos. Logo você estará livre da faculdade e poderá vir pra cá. Quem sabe a transferência não sai antes disso?
- Tá, mas e se você conhecer alguém melhor até lá? E se você não quiser mais daqui esse tempo? – agora ele estava chorando também.
- Então é porque não era pra ser.
fitou meus olhos por alguns instantes até que sua expressão se tornou a de uma pessoa cansada.
- Acho que vou me vestir então. Tenho 18 horas de viagem pela frente. – concluiu e deu as costas para mim.
- ! – chamei; ele se virou para me atender no mesmo instante. – Fique o máximo de tempo que você puder? Se é tudo o que temos agora, vamos pelo menos nos despedir? – pedi e sorri da forma mais feliz que pude. Ele pensou por um segundo e sorriu de volta, caminhando até mim para me abraçar e me beijar com a mais saudade que havia feito mais cedo naquele mesmo dia.
Então, nós fingimos ser o casal perfeito que éramos pelo resto do dia e até as oito da manhã do dia seguinte, quando teve que ir embora. É claro que as coisas acabaram no instante que ele entrou no carro para voltar para a Flórida. Mas, de algum modo, naquele dia, eu tive certeza de que não seria a última vez que ficaríamos juntos.
FIM