The One Thing

Escrito por Mare-ana | Revisado por Mariana

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  O corredor era excessivamente branco. As portas, cinzas. O cheiro de água sanitária incomodava meu nariz. O barulho de meu coturno contra o piso tão perfeitamente limpo machucava meus ouvidos. A Taurus em meu bolso parecia alguns quilos mais pesada.
  Adentrei o cômodo e vi sentado sozinho, comendo o que quer que haviam preparado para ele. Sentei-me de frente a ele, e coloquei meu revólver e meu distintivo em cima da mesa. largou a colher, encarando a arma e o distintivo, para apenas então olhar-me nos olhos.
  Assim que seus olhos tão encontraram-se com os meus, abriu um sorriso tímido, porém doce. Soltei um suspiro pesado. Seria mais difícil do que eu havia imaginado.
  - Fico feliz que tenha vindo passar meus últimos minutos comigo.
  - Ainda não sei se fiz certo. – desviei o olhar.
   abaixou a cabeça e voltou a comer. Ficamos em silêncio por alguns dos poucos minutos que teríamos a sós. Quando se é sentenciado à morte, tem-se apenas sessenta minutos para se despedir da família e amigos. Qualquer conhecido que afeiçoe-se a você de alguma maneira pode ir se despedir. E assistir à execução.
  Eu seria a única presente na de .
  - Como você está se sentindo? – fiz a pergunta mais idiota possível.
  - Eu estou prestes a ser executado. – ele levantou as sobrancelhas.
  - Eu sei... É só que... – olhei para a sala totalmente vazia.
  - Você sempre foi a única que se importou comigo. – ele disse após analisar meu gesto. Sabia que eu me referia à falta de pessoas no local. – Pelo menos durante um tempo.
  - Eu não iria aguentar suas drogas e bebedeiras pelo resto da minha vida, .
  - Ainda mais sendo policial. Devo ter sido um peso em sua vida durante anos.
  - Foi. – eu disse simplesmente. – Mas eu não sabia do que você era capaz.
   soltou um riso sem humor.
  - Ninguém sabia. Nem mesmo eu.
  - Por que, ? Por que você fez aquilo?
  - Acho que aquela garota apenas estava no lugar errado na hora errada.
  Revirei os olhos em reprovação. Aquela era a pior desculpa que alguém poderia usar para um crime. Porém já não fazia mais diferença. Nenhuma desculpa, nenhum álibi, nada poderia salvar . Não mais. Ele já havia feito a escolha dele, e eu a minha. Eu iria apenas assistir.
  - Foi difícil. – quebrou o silêncio de repente. O relógio na parede mostravam que faltavam apenas trinta minutos para sua execução.
  - O quê?
  - Depois que você se foi.
  - Ah. – disse sem humor. Aquela conversa já havia acontecido algumas vezes. – É, você já me disse isso. Era mais difícil estar com você.
  O sorriso de aumentou enquanto ele colocava o prato de comida, ainda pela metade, de lado. Apoiou a cabeça nas mãos e deixou que seus olhos penetrassem os meus. Estendeu o braço na mesa, deixando a palma da mão voltada para cima. Pude ver as marcas de agulha se destacarem em sua pele tão branca.
  - Certamente. Mas você me controlava.
  - É o que você pensa? – falei encarando seu braço, cada marca de agulha nele presente, imaginando perto de qual delas ficaria a que tiraria sua vida.
  - É o que tenho certeza. Você sempre foi a única capaz de domar o monstro em mim.
  - Não tente fazer com que eu me sinta culpada. Não irá funcionar.
  - Não quero que se sinta, . Só acho que tenho o direito de falar o que penso. Não é como se fosse trazer alguma consequência futura.
  Ri sem nenhum humor e estendi meu braço, pousando minha mão sobre a dele. Seus dedos fecharam ao redor dos meus, emitindo um calor que eu não gostava de admitir sentir tanta saudade.
  - Você foi quem escreveu esse futuro, . Todas as escolhas foram suas.
  - Eu nunca tentei culpar ninguém. Sei cada um de meus erros... Mas não me arrependo de nada do que fiz.
  Encarei-o apenas para comprovar que ele falava a verdade. Não existia uma única gota de arrependimento naquele ser. Ele sabia que havia feito tudo errado, mas, se lhe fosse dada uma segunda chance, ele faria tudo de novo.
  - É uma pena. Terá sua vida tirada cedo demais.
  - Acho que vivi o bastante. – ele deu de ombros. – Tudo o que vivi valeu a pena. Principalmente você, mesmo que eu seja seu maior arrependimento.
  - Eu não em arrependo de nós. No máximo me arrependo de não ter tentado fazer mais por você. – apertei sua mão com um pouco mais de força, e senti uma súbita vontade de puxá-lo para mim.
  - Você fez tudo o que podia. Não se conserta o que já nasce com defeito, sabia? – ele soltou uma risada alta e mordeu os lábios. – A pior parte de saber que vou morrer... É a certeza de que nunca mais vou poder te tocar. Beijar seus lábios, tocar seu corpo... Nada.
   soltou minha mão e se levantou da cadeira, dando a volta na mesa e se ajoelhando de frente a mim. Uma de suas mãos veio em direção à minha coxa e a outra apertou minha cintura.
  - Se realmente existir vida após a morte, você será minha maior saudade.
  Olhei o relógio novamente. Quinze minutos. Tirei as mãos de de mim e caminhei em direção à parede, encostando-me a ela. caminhou em minha direção e parou exatamente de frente a mim. Levantei minha mão e toquei seu rosto, fazendo com que ele fechasse os olhos que eu tanto amava.
  - Eu queria que tudo tivesse sido diferente. – sussurrei tão baixo que por um segundo duvidei que ele pudesse ouvir.
  - Não sei. Eu gostei de como tudo aconteceu. – ele sussurrou de volta.
  Seus braços entrelaçaram minha cintura, me puxando para um abraço apertado, de despedida. Levei meus lábios aos dele, querendo provar de seu gosto pela última vez. Deixei que as mãos de explorassem cada parte de meu corpo, que seus lábios percorressem meu pescoço, assim como deixou que minha mão tocasse cada parte de seu corpo, sem restrições, sem pudor. Era nosso último momento juntos, últimas carícias antes que sua sentença de morte fosse concretizada.
  Uma batida na porta nos separou, e então o executor disse que estava na hora. Juntos, nós três caminhamos todo aquele corredor novamente. Minha bota ainda fazia o mesmo barulho irritante, e o cheiro ainda incomodava meu nariz. mantinha a cabeça erguida, observando cada detalhe do local pelo que seria a última vez.
  O executor abriu a porta da sala em que perderia sua vida. No centro, uma maca com suporte para os braços e algumas amarras.
  - Algum último pedido? – o executor olhou para .
   negou com a cabeça enquanto deitava na maca e se deixava ser amarrado. Alguns tubos foram inseridos em sua veia, onde a solução salina começou a ser gotejada. Os olhos de se prenderam aos meus, e eu senti vontade de sair dali. Não sentia de vontade de chorar, gritar, nada. Apenas sair dali.
  - Últimas palavras?
   sorriu e me encarou.
  - Eu ainda te amo.
  O êmbolo da seringa abaixou, e foi a última vez que vi os olhos pelos quais havia me apaixonado.

FIM



Comentários da autora


Oi menines!
Decidi participar do sorteio surpresa porque pareceu divertido, e o que veio? Sentença de Morte. E se você acessar o meu história de pesquisas vai ter que eu sou uma psicopata uahuuahauaua
Enfim, eu gostei um pouco disso, apesar de achar um pouco pesado pro meu estilo. Mas é sempre bom inovar, não é?
Enfim, espero que tenham gostado. Nos vemos no próximo? Uahauhahau
Beijinhos ;*

Outras fics:
Diga Que Não Quer – Outros/Andamento
Olá, Sr Estranho – Outros/Finalizadas
Do You Want To Build a Snowman? – Outros/Finalizadas
Porquê Eu Não Me Apaixonei Por Você – Outros/Finalizadas