The Mutants

Escrito por Marie | Revisada por Luh

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Capítulo 1

  δ

  Flashback On
  - Venha cá , me deixe ver seus dentes! – Chamou o pai da garota (num tom forte, porem doce) que estava deitado despojadamente no sofá vermelho da sala que recentemente fora trocado. Estampava um sorriso no rosto e o brilho no olho enunciava o bom humor que sempre teve. A garota parou imediatamente sua brincadeira de boneca com a irmã, e saiu correndo ao seu encontro.
  - Oi, papai, dessa vez eles estão limpinhos! – Disse a garotinha consertando o vestido meio amassado e passando a mão sobre os fios de seus cabelos que estavam frente aos seus olhos, atrapalhando sua visão. Assim que terminou deu um sorriso satisfeito para o pai que encarava indiferentemente suas órbitas verdes tom de mar.
  - Hum, vamos ver se você está falando a verdade. – Ele tratou de olhar cada centímetro da boca dela, tudo lhe parecia totalmente impecável. O que era uma novidade, já que sua filha era bastante levada, e digamos... descuidada nesse ponto.
  - Viu papai, eu não estava mentindo! A Megan me ensinou tudinho, ela me contou a história, e disse o que acontece com pessoas que não escovam os dentes. – Sua boca estava entreaberta, os olhos cheios e arregalados, como se nunca mais fosse deixar de escovar seus benditos dentes.
  - Então, , me diga o que realmente acontece com quem não escova os dentes. – Ele se endireitou no sofá e levou sua menininha até si, deixando-a em posição confortável. Logo depois,virou-a para sua frente e esperou atentamente para ouvir o que parecia uma história e tanto.
  - Certo, papai, eu contarei. Mas você tem que prometer que não sairá espalhando por ai, ok? – O olhar dela era assanhado e ansioso.
  - Eu prometo. – Levantou sua mão em juramento, e assim a criança buscou ar para dar inicio a história.
  - Eu e a Meg estávamos no quarto desenhando, à noite, então a mamãe foi lá e nos mandou escovar os dentes – tomou mais um pouco de ar e continuou – Só que eu queria muito terminar meu desenho e não fui... Mas a Megan foi e logo estava de volta. Ela sentou ao meu lado e perguntou se eu não queria ouvir uma história. Eu aceitei, e ela disse que eu não iria aguentar ouvir e que era mocinha demais pra essas coisas. Eu não gostei! Eu sou muito forte, não ia deixar que falasse assim comigo.Eu implorei tanto que ela aceitou, mas pediu segredo. Então começou a...
  - Por que parou ? – O pai pareceu interessado, então tratou de encorajá-la. – Vamos, mocinha, continue! – Seu sorriso convidativo a fez querer continuar, então inspirou e continuou.
  - Ela disse que se eu não escovasse os dentes todos os dias e todas as vezes que a mamãe mandasse, meus dentes ficariam ruins, apodreceriam e assim que isto acontecesse eles começariam a cair, e quando o primeiro caísse, eu viraria um deles. Que eles viriam aqui à noite, me buscariam, e me levariam. E eu nunca mais veria nem você, nem a mamãe, nem ninguém que eu amo. Disse também que eles me trancariam num lugar escuro e triste, me esperariam crescer e fariam trabalhar pra eles. E o pior papai, que meus dentes NUNCA, NUNCA mais cresceriam! – terminou, buscando o ar perdido nas suas poucas mais assustadoras palavras. O pai ficou lá parado, pensando no quanto a sua primogênita poderia ser má. Havia possibilidade daquilo ser verdade, mas ele não contaria para sua pequena joia. Ainda não era hora. Mas o que faria quando a hora chegasse? Como explicaria que não há controle nisso tudo, que havia probabilidades de tudo que ela disse se tornar real? Não conseguiu pensar na hipótese, apenas lhe deu um abraço quente e apertado. Funcionou, por hora.
  Flashback off

   tivera uma infância feliz e confortável, vivendo ao lado de sua mãe, pai e a irmã Megan quatro anos mais velha, num bairro de classe média na cidade de Leeds, Inglaterra.
  Passara por algumas coisas antes de chegar a onde está hoje.
  Há 7 anos atrás seu país estava em pé de guerra, pois pessoas em diferentes lugares estavam apresentando diferentes tipos de mutação, sem razão nenhuma. O assunto logo foi abafado por todo governo e organizações sociais ao máximo possível, não adiantou porque ele veio à tona e assim que explodiu na imprensa o desespero tomou conta da população. O governo tratou de ‘’acalmar’’ a todos dizendo que tudo não passava de uma epidemia de nível médio e que logo haveriam vacinas que curariam toda a população atingida. Uma mentira descarada que não teve muito sucesso, mas teve de ser engolida por todos. O tempo foi passando e os problemas ficaram cada vez mais sérios. Mais pessoas foram se transformando, e consequentemente se rebelando e matando.
  Assim que as vitimas da mutação começaram a atacar, os humanos sentiram a necessidade de se proteger, então se rebelaram contra eles. A guerra foi acontecendo, os números de humanos mortos foram aumentando cada vez mais, mas não era uma luta justa, mutantes sempre ganhavam. O governo criou uma lei decretando que qualquer pessoa que apresentasse sequer um traço de mutação em qualquer família, idadee lugar, teria que ser imediatamente morto, lei essa que nunca deveria ser questionada. Cientistas de outros países como EUA, Ásia, Brasil foram recrutados para ajudar a encontrar a cura para a anomalia, mas nada resolveu.
  Foi nesse tempo que descobriu sua mutação.
  Era noite fria, ela tinha acabado de terminar de ler o segundo livro de uma trilogia de lendas (estava tentando se especializar e descobrir mais sobre aquele fenômeno estranho).Levantou-se de sua cama, trocou seu vestido por uma camisola e seguiu para o banheiro como fazia toda noite sem exceção. Ela nunca se esquecera do medo que sua irmã Megan a colocou quando era menor, “antes prevenir que remediar não é mesmo?!”
  Chegando lá, olhou-se para o espelho em sua frente e permaneceu ali, parada por alguns minutos pensando. sempre pensou demais, no momento se sentia culpada por não poder fazer nada para mudar a situação que de cárcere que vivia.
   nunca gostou de suas bochechas, desde aquele tempo, as achava grandes demais para o seu tamanho. Também não gostava que ninguém olhasse diretamente em seu rosto, sempre achava defeito em si mesma e era extremamente tímida, daquelas que responde baixo e só olha para os pés. Ninguém podia culpa-la, na verdade ela nunca passou muito tempo convivendo com outras crianças, só aos domingos na frente de sua casa pelo final da tarde. Só estudou até a quarta série, depois desse tempo os mutantes começaram a aparecer e tudo ficara mais difícil. Seu pai trabalhava menos, todos trabalhavam menos, por medo de ser atacado por um daqueles monstros que estavam começando a conseguir dominar todo o país, tudo ia se esvaindo por entre seus dedos. Estava triste, cansada. Tão jovem e tão desperdiçada, não era justo, não era!
  Então aconteceu.
  Lágrimas saíram de seus olhinhos verdes sofridos e caminharam por seu rosto fino e macio. Lágrimas de dor, sofrimento e frustação por ter que viver em meio a toda aquela porcaria, por não ser livre. Ela tinha raiva. De todos os mutantes, todos aqueles que a privaram de ter uma vida normal. Sentiu ódio, ódio que tomava todo seu coração e o deixava tão quente como um chama, mantendo-a quente por dentro. O ódio lhe trazia esperança.
  Num movimento puramente costumeiro de sua parte, levou seus dedos ao rosto para limpar o vestígio das lagrimas que ainda habitavam ali, então seus pensamentos, que estavam tão longes e tão perto ao mesmo tempo voltaram, entrando e invadindo sua mente sem pedir licença. voltou seus olhos ao espelho e viu. Quer dizer, NÃO VIU. Seus dedos haviam sumido. Não era possível, era?? ERA! Ela limpou rapidamente seus olhos e colocou sua mão a frente do corpo, checando se aquilo que vira a um segundo atrás havia sido uma breve ilusão da sua pequena mente triste e cansada, mas bom, não era. Uma tremedeira instantânea lhe invadiu tomando cada parte de seu pequeno e delicado corpo. Quis gritar, mas a voz parecia-lhe ter sido cortada por uma arma afiada, quis sair correndo e contar para sua mãe, mas ela sabia qual seria seu destino se a contasse. Depois daqueles breves segundos de desespero suas mãos voltaram ao normal, então respirou fundo se apegou a pouca força que tinha e continuou o que fora fazer. Com extrema calma saiu do cômodo apertado e foi direto para cama, lá permaneceu chorando baixinho pra ninguém ouvir e pensou no futuro sombrio que a aguardara. A garotinha agora era um monstro, tornou-se algo que ninguém queria por perto, que deveria ser exterminado e aniquilado. Tinha perdido qualquer direito de felicidade ou algo bom que a vida viesse lhe proporcionar.
  Desde então havia conseguido com muita dificuldade esconder sua mutação, apesar de ter sido muitas as vezes que ela se pegou em alguma situação com partes do seu corpo “desaparecendo”. Aquilo tudo estava a matando, então decidiu que para seu próprio bem iria ficar isolada de tudo e de todos. E assim fez, na esperança que talvez, se começasse a se castigar pudesse haver volta, talvez se sofresse poderia ter de volta aos dias bons que foram lhe tirados sem ao menos serem vividos. A garota passou dias, meses sem sair de seu quarto, a única coisa que lhe a lembrava que havia sim vida lá fora era o sol, que todas as tardes adentrava a sua janela e lhe fazia sorrir, sorrir era algo que ela não costumava fazer no tempo. Seus pais começaram a ficar preocupados, perguntavam-se se ela estava doente, se estava elesqueriam que alguém os desse a cura pelo amor de Deus! Deus, se ele realmente existisse que os ajudassem! Mas nada aconteceu. Passou-se seis meses até ela finalmente ser descoberta.
  Naquele dia o sol não havia aparecido e adentrado a janela como costumava fazer. Ao contrário, nuvens escuras cobriam todo o céu e o vento batia forte nas árvores que balançavam pra lá e pra cá num movimento ritmado pela natureza, mas ainda simHayley permanecia intacta, do mesmo jeito que estava a meses atrás: Sempre vestida num pijama que cobrisse todo o seu corpo lendo algum livro. Passara tanto tempo ali que já tinha relido várias e várias vezes a mesma coisa, mas não se importava, só queria encher sua mente com algo que não fosse nojo e culpa de si mesma.
  Seus pais estavam na cozinha conversando sobre o que fariam para ajuda-la a sair daquela tristeza profunda, e sua irmã Megan, que estava assistindo TV foi para o quarto que dividia com .

  - Você não cansa de ler não?! – Megan entrou no quarto e sentou-se ao lado da garota, pegando-a de surpresa tirou o livro da vez de suas mãos.
  - E você, não cansa de me irritar não? – falou, levantando seus olhos verdes para olhar a irmã. – Me devolve, por favor!
  - Olha só, ela sabe falar! Pensei que tinha desaprendido. – jogou o livro de volta, levantou-se da cama e pôs-se a caminhar lentamente pelo quarto. acompanhou seus passos pequenos um tanto curiosa. – Sabe, , eu não te culpo de ficar desse jeito, isolada e perdida no nada, no começo eu também fiquei. Não como você, claro, você é bem mais dramática, na verdade acho que estaria assim se não tivesse me apegado a um fio quase invisível de felicidade... – Megan prendeu seu olhar numa pequena bonequinha de porcelana que estava em cima da velha cômoda branca frente à cama. Na boca tinha um sorriso vazio e sem graça – Mas agora, , nada mais importa, NADA! Está tudo perdido, não tem mais volta. Minha vida não tem mais sentido! – pode sentir a dor na sua voz, que saia fraquinha, quase um sussurro, e lagrimas passaram a cair de seus olhos verdes escuros, mas ainda assim continuou seu discurso. – Você não entenderia. Não, nem você nem ninguém, foi tudo tão rápido...
  - Megan, do que você tá falando?
  - , eu falo de amor, algo que talvez você talvez nunca encontre.
  Megan se encostou à parede e foi caindo aos poucos. Ela olhava para a janela fechada tentando disfarçar o choro. Já estava começando a doer em , ver todo aquele sofrimento e não poder fazer nada.
  – Nós nos conhecemos antes desse desastre acontecer, me lembro quando descobri que estava apaixonada por ele... Eu estava com ciúmes porque uma garota estava flertando com ele, e eu... Eu me senti queimando por dentro, ele não podia conversar com outra garota, porque EU gostava dele! Mas o que eu ia fazer, ? O que? Eu só... Sai correndo, morrendo de raiva – Seus olhos que estavam tão tristes a um segundo atrás se encheram de vida. – Só que ele veio atrás de mim, . Ele veio atrás de mim! Ele gostava de mim, ali eu soube disso. E melhor, ele me beijou, um beijo doce! Tinha gosto de amora, amora agora é o meu gosto favorito! – fez careta.
  - Ande, Megan, me conte o que aconteceu! – Agachou-se e a olhou firme, incentivando que falasse, como seu pai sempre fazia.
  - Nós começamos a namorar, tudo parecia tão perfeito, - A onda de tristeza voltou, fazendo se arrepender na hora de ter perguntado. Ela era tão nova, não sabia como ajudar a irmã com qualquer coisa que fosse aquilo, mas pelo menos estava tentando. – mas então a praga começou, a guerra iniciou-se e ficou cada vez mais difícil de nos encontrar. Um dia ele me mandou um recado, para nos encontrarmos na floresta. Eu não pensei duas vezes, apenas fui! Como eu fui idiota.
  - Você tá me deixando assustada, fala logo! – No fundo ela já sabia o que a sua irmã queria dizer, mas não queria acreditar.
  - Então, eu... eu fui, e ele estava lá, triste e assustado. No principio eu não entendi, mas quando ele me disse que queria mostrar algo e pediu pra eu prometer que ainda iria amá-lo depois do que ele iria fazer, uma luz acendeu na minha cabeça, me avisando.
  - Oh meu Deus Megan, ela era... – tinha se autoconvencido de que ele, assim como ela, era uma abominação da natureza.
  - Sim, , ele era. – Megan desabou.
  - Megan, eu sinto muito. O que ele era?
  - Ele, ele... Ele dava choques, eu não sei explicar. – Ela parecia perdida, queria abraça-la, ajuda-la de alguma forma, qualquer que fosse. Megan continuou. - Depois que ele me mostrou eu sai correndo desesperada, eu estava morrendo de medo, tudo tinha acabado. Mas ainda tinha esperança, , eu só tive uma noite de esperança, foi só. – Megan parou e respirou, pegou todo ar que podia, buscou forças de dentro do seu ser para tornar seus pensamentos em palavras solidas. – Porque depois, pela manhã... – se aproximava dela a cada palavra dita. –Eu soube que ele tinha morrido! Ou melhor, que sua família o havia matado. E meu mundo acabou. – se jogou da cama para os braços da irmã, que só conseguiu receber o abraço de bom grado e chorar em seu ombro.
  - Eu sinto muito, Megan, sinto muito! – Ela quebrou seu abraço, a raiva estava estampada em seu rosto. se perguntou como uma pessoa podia mudar de humor tão rápido! Megan estava numa montanha russa e ela tinha embarcado junto na primeira fila.
  - Não sinta. – Piscou uma par de vezes os seus olhos cheios de raiva e limpou as lagrimas – Eu não quero pena, , eu só quero justiça. Eu quero viver, eu quero ser livre, eu quero que cada um daqueles monstros sejam mortos e aniquilados pra sempre. Quero minha vida de volta!
   estava assustada com todo o ódio instantâneo que viera da irmã, porque ela era um deles. Porque além de ter perdido sua vida ela destruiria a de outras sem nem ao menos querer. Aquela garota se sentia suja, um verdadeiro monstro. E todo aquele sentimento foi pulsando e crescendo dentro do seu corpo, saindo sem aviso ou permissão alguma. Então sua mão sumiu. Deixou Megan em choque, paralisada. olhou pra irmã que estava com o rosto inchado de chorar, seguido pra a mão, em extinto sacudiu-a para voltar ao normal, não funcionou. A garota não conseguia ler o que estava estampado nos olhos de sua irmã, um misto de emoções indecifráveis. Havia surpresa, confusão, dor, desespero, incredulidade, repulsa, nojo, raiva, desgosto, isso só a machucava. A cada segundo seu coraçãozinho era quebrado. O olhar incrédulo da irmã, e mesmo que não tenha sido entoada uma só palavra à pequena sabia que havia chegado a hora. Durante os meses que passara sentada vendo a vida passar, já havia planejado sua fuga. Cada mínimo detalhe, como o horário de troca de guardas do bairro, e mochila pronta com coisas básicas, o essencial para fugir até a cidade mais próxima. Depois disso se arranjaria, afinal era invisível. Sabia que não morreria, não ainda, mas que teria que deixa sua seu lar. A princesinha agora teria que se virar sozinha. Essa era sua sina, não era? Então que fosse.
  - PAI! PAI!
  Megan chamou-o com um grito fino. Enquanto isso, saiu do transe que estava, deu dois passos rápidos até debaixo da cama, pegou sua bagagem e desceu as escadas correndo em passos largos. Passou por seus pais na cozinha e deu-lhes uma última olhada, cravou seus olhos neles, para que nunca pudesse esquecer, então saiu porta afora, pulou o muro, cruzou a rua e correu em direção à floresta escura. Continuou correndo até seus pés calejarem, até estar no coração da mata. Lá, ninguém a encontraria, não naquela a noite. Subiu numa árvore alta para não ser atacada por algum animal feroz e pôs-se a chorar. Agora ela era do mundo, havia perdido sua família no instante que sua irmã a viu.
  Passou alguns minutos lá, parada chorando, ouvindo o som da natureza, sentindo o vento forte batendo em suas costas, aquilo a acalmava, aquilo era bom. O intenso vento anunciava a chuva forte que estava por vir, achou bom, assim seria mais difícil de descobri-la. Abriu sua mochila para pegar a lanterna que havia guardado há alguns dias atrás e achou rapidamente o que procurava. Achou também um papel. Ela não colocou papel nenhum na mochila a não ser seu pouco dinheiro, alguém havia o colocado ali. precisava saber de que se tratava, então pegou a lanterna, colocou na boca (tentando se equilibrar) e abriu o papel. Ficou surpresa ao ver que se tratava da caligrafia da mãe no papel, não imaginava do que se tratava, então pois se a ler:

  Filha,
  Estaria mentindo se dissesse que não sei sobre a sua mutação, descobri sobre ela meses atrás e isto me dói muito, creio que lhe doa também.
  Eu não poderia saber disso e não lhe ajudar, te amo demais para deixá-la morrer na mão de um guarda qualquer, ou pior, do seu próprio pai.
  Se você está lendo essa carta é porque o pior aconteceu. Não importa aonde você esteja, eu te exijo que tome cuidado. Sobreviva, e se salve, isso é uma ordem!
  Dentro da mochila você irá encontrar um passaporte e passagem para San Francisco, roupas decentes e dinheiro. Só faça algo errado quando for realmente preciso. Aprenda a usar bem o seu poder.
  Viva, meu bem! Seja feliz e não se esqueça de que te amo. Isto não é um adeus, é um até logo. Irei te encontrar daqui uns anos e sei que você será a moça linda e talentosa que sempre sonhei, isto é uma promessa.
  Com amor, Mamãe!

Capítulo 2 - Ao redor do mundo

   passou a noite em meio à chuva. Assim que amanheceu desceu da árvore, trocou de roupa e saiu com facilidade do coração da floresta. Pegou o primeiro taxi que passou e foi direto para o aeroporto, só tinha sua mochila em mãos e não foi notada em meio a tanta gente. Passou despercebida pela guarda forte – porém, nada atenciosa - na portaria e fez seu embarque, sem olhar pra trás ou pensar em sua família. Seria difícil para uma garota de quatorze anos ter que amadurecer tão rápido, mas ela faria. Na noite passada depois de ler a carta de sua mãe, prometera a si mesma que iria honrá-la, não importa o que tivesse que fazer.
   não sabia o que faria nem aonde iria em definitivo, passou a viagem toda pensando como iria se virar, assim que sobrevoou a cidade sua mente deu um estalo. “Eu sou uma turista, não sou?” – fugida, na realidade – Onde turistas ficavam? Em hotéis. E o que eles faziam? Curtiam a vida, certo? Certo! faria isso.
  Assim que desembarcou sentiu o toque de realidade entre suas veias. Lá tudo era grande, havia muita gente. Era louco pensar que cada uma delas iria para lugares diferentes. Crianças chorando, carregadores de um lado para o outro, pilhas e pilhas de mala, gente brigando com atendentes e falando alto ao telefone, outros quietos sentados lendo. se perguntou como eles conseguiam, ela nunca conseguiria ler num barulho daqueles, ela precisava de silêncio, ela venerava o silêncio. A jovem se deu conta que ali havia guardas um tanto suspeitos, como no seu país. O número de pessoas era grande, mas melhor prevenir que remediar. Ela só precisava de um mapa em mãos e sairia dali o mais rápido possível. Perguntou a uma mulher que estava sentada lendo onde vendiam mapas naquele lugar, a mulher lhe respondeu bem, ela agradeceu com um sorrisinho meio forçado e partiu em direção ao local indicado. Era bem perto da onde ela estava, porém num canto escondido. “Lojinhas de informações deviam ser melhores situadas, ainda mais num lugar tão grande como este” Pensou , enquanto caminhava para dentro do estabelecimento. O lugar poderia ser chamado por qualquer ser humano de banca de revista, pois lá havia visivelmente mais revistas que mapas, porém na frente dele estava escrito “Apenas Mapas”. Irônico.
  Pegou o maior número de mapas de conseguiu e dirigiu-se ao caixa. A mulher que a atendera era nova, aparentava ter seus vinte anos, e também ser vaidosa. Sobrancelhas bem feitas e alinhadas, sombra clara nos olhos, blush nas maçãs da bochecha e batom pêssego à boca. Vestia um uniforme limpo e formidável nas cores verde cana e branco, seus cabelos estavam amarrados num rabo de cavalo em altura média, ela parecia uma comissária de bordo experiente preste a voar, talvez ela quisesse ser. Ver aquela moça tão bonita e arrumada em sua frente lembrou de como ela deveria estar feia e desajeitada. O olhar torto da garota em cima dela confirmou sua duvida. Não deu outra, catou o dinheiro na sua mochila, pagou seus mapas e partiu em direção ao banheiro. Botou os pés no lugar e logo tratou de dar meia volta, o local parecia um formigueiro feminino, sem falar que ela poderia ser vista por alguém. Ela não ia ficar ali de jeito nenhum, estar naquele ambiente poucos segundos já a incomodara, imagine passar o tempo necessário para trocar de roupa e se limpar? De jeito nenhum! saiu imediatamente de lá. Enquanto saia do grande aeroporto olhou algumas opções de hotéis no guia, todos eram luxuosos e bem localizados, mas ela não precisava disso, não queria chamar atenção. No terceiro guia que olhou, achou justamente o que estava procurando. Um grande hotel, não muito luxuoso, com uma ótima vista, do lado norte da cidade, era lá que ficaria! Não pensou duas vezes, pegou um taxi, tratando de informar a onde queria ser levada assim que entrou, selando sua independência. O motorista passou o caminho todo calado, o trajeto demorou mais ou menos 40 minutos. gostou do tempo que levou para chegar ao lugar, ela pôde respirar, botar os pensamentos em ordem, observar a linda cidade e tudo mais, estava gostando de San Francisco.
  Na fachada grande e chamativa estava escrito “HILTON WALDORF PALACE HOTEL” em letras vermelhas engarrafadas, era bastante bonito. Ao descer do carro e ver tudo àquilo tão perto ao alcance da sua mão, não acreditou, não parecia real. Ela temia não conseguir viver sozinha, mas não tinha opção, teria que viver daquele jeito querendo ou não. sentiu pequenos choques pelo corpo e um frenesi no pé da barriga, era meio difícil de acreditar, que um dia atrás, ela estava em casa sentada na sua cama lendo alguma saga sobre lendas urbanas ou algo do tipo. Tudo era muito surreal. Mas não podia se deixar levar por todos aqueles sentimentos, se não já sabia o que aconteceria, ficaria invisível e tudo acabaria num piscar de olhos. Então respirou, inspirou e relaxou, estava pronta.
  Entrou no Hilton com pé direito, sua pele se arrepiava, mas ignorou o fato. O saguão era grande e bem afetuoso, o piso de porcelanato cinza contrastava com as paredes e pilastras brancas. No meio do salão havia poltronas pretas e acolchoadas, no chão um tapete aparentemente persa dava um toque rustico. Um grande lustre branco e luxuoso ostentava-se no teto, e no lado esquerdo do salão se encontrava a recepção. Só tinha uma mulher atrás do balcão, ela lembrava a moça que a atendera mais cedo no aeroporto, deduziu que aquele deveria ser o padrão das moças de San Francisco. Ela não se importava. O movimento era calmo, nada parecido com o formigueiro em que estava há uma hora atrás. apreciava isso. A recepcionista loira foi muito rápida e profissional em seu atendimento, sem perguntas desnecessárias, apenas uma olhada curiosa para sua roupa suja e sua cara visivelmente cansada, nada além disso. não ligava para olhadas desconfiadas e caretas em sua direção, era livre e estava feliz por isso, e só pensava em poder finalmente descansar.
  Pagou uma semana de hospedagem com metade do dinheiro que tinha. A recepcionista nem se admirou. Assim que lhe foi dada as chaves pegou o elevador e subiu para o seu quarto no 17º andar, recebeu mais alguns olhares feios no elevador, mas não deu a mínima novamente, só queria tomar um banho, trocar suas roupas imundas, comer e dormir. Admirou-se quando olhou no relógio do corredor e viu que já estava sem comer a mais de 24 horas, não tinha ideia como tinha conseguido, mas estava agradecida a qualquer ser ou força mística que lhe ajudou a passar todo aquele tempo em pé sem se transformar nenhuma vez. Caminhou em passos pequenos e cansados ao quarto 22 no final do corredor, pegou a chave no bolso, deu outra longa respirada e entrou. O cômodo era médio e aconchegante estava pintado na cor amarelo bebe. No meio havia uma cama de casal cheia de almofadas. - agradeceu mentalmente pelo mimo – Havia também um abajur em cima do criado mudo do lado direito e do lado esquerdo um armário branco e moderno, ao seu lado havia um frigobar. Um sofá cinza claro de dois lugares ocupava-se em frente à cama, quem sentasse ali teria uma ótima vista. Logo do seu lado havia a porta do banheiro, o banheiro era bom, o suficiente pra uma pessoa.
  Lembrou-se mais uma vez que era só. Seria bom se só tivesse se lembrado disto. Depois de tudo que passou seria difícil não se lembrar de sua família, do medo e do peso que carregaria a partir dali, tudo a afligia. se dirigiu a janela, abriu a cortina e foi se despindo lentamente, olhando para vista espetacular que estava sendo-lhe proporcionada. A cada peça tirada uma lagrima descia, estava quebrada, aos pedaços e ninguém poderia lhe consertar. Ela era uma piscina de sentimentos, e quando seus sentimentos ficavam tão expostos seu lado mutante vinha. E lá estava , nua e quebrada a frente do espelho, mas não conseguia se ver, pela primeira vez ficou totalmente invisível. Talvez ela não odiasse tanto assim ser daquele jeito
  E foi assim, deitada no sofá cinza e confortável do Hilton, apreciando as luzes noturnas dos outros prédios que passou seu primeiro dia na cidade de San Francisco.

× × ×

   ficou seis meses em San Francisco, trabalhando, conhecendo a cidade e guardando dinheiro. Sempre cautelosa com a guarda, tudo bem que lá era grande e seria mais difícil de encontrar qualquer um mutante, mas não iria dar mole e ser pega. decidiu que não iria estudar, tudo que iria fazer era viver, aprenderia tudo o que tinha pra aprender vivendo. Depois desse tempo decidiu que iria viajar pelo mundo e que aprenderia a controlar seus poderes. Conseguiu passaporte e documentos falsos num gueto da cidade, tudo muito bem feito. O primeiro país escolhido por foi à Noruega, havia ouvido falar sobre dominadores de mutação por aquele lado, não pensou duas vezes ao pegar sua mochila e partir pra lá. Desembarcou na cidade de Hamar, era bastante calma e arborizada. Depois de muito procurar e insistir conseguiu que uma senhora que morava no campo, escondido de tudo e todos a ajudasse. A velha Ada lhe ensinou tudo que deveria saber, se sentiu profundamente agradecida. E seis meses depois já tinha aprendido realmente tudo, incluindo controlar seus sentimentos e deixar roupas e objetos invisíveis ao seu toque. Após ter aprendido a controlar essa parte, partiu para a Austrália, decidida a aprender alguma arte marcial diferente, e lá foi , agora um ano mais velha. O fim do ano chegou rápido. nunca deixou de pensar em sua família, a todo lugar que viajava mandava um cartão postal para sua mãe. Mandava dinheiro também, numa boa quantidade, mas nunca houve resposta da parte dela. Ela ficava com o coração na mão, pois não podia fazer nem uma visita breve a sua família. Tinha medo de não ser aceita por eles. O numero de mutantes foi aumentando durante o tempo, o país estava entrando em guerra novamente, ela temia que eles não estivessem seguros, não sabia nem se eles realmente ainda moravam em Leeds. Não adiantava, ficaria assim subintendido, ela não os procuraria mais.
   estava perdendo boa parte da sua adolescência, mas isso pra ela não era nada. Não podia reclamar da vida. Qual adolescente não iria gostar de viajar pelo mundo inteiro sem os pais, estar cheio de dinheiro, fazendo o que quer, e de quebra ser invisível? Se nenhuma pessoa em sã consciência rejeitaria isso, porque ela iria?
  Aos 16, decidiu que iria viajar por países com idiomas diferentes, pra aprender a fala-los fluentemente. Então refez sua mala e partiu para o México. O que seria mais sexy que falar espanhol?! Só falar em português. Ela prometeu que aprenderia a falar português também, só que em outro momento da sua vida, com certeza. No México tudo tinha um toque rustico. As comidas eram excêntricas e apimentadas, amou. No começo foi meio difícil de aprender a falar, se perdia no que as pessoas diziam e não entendia nada, mas depois de dois meses vivendo lá pegou o jeito.
  Seu primeiro beijo foi com um garoto mexicano, num show de Alejandro Sanz, ao som de Corazon Partio, dançando e bebendo, tudo mais. Rolou uma troca de olhares e o rapaz se aproximou, soltou um papo meio bobo e manjado no ouvido dela – que por sinal nem se importou de estar sendo conquistada por uma cantada tão barata – e a beijou. Ela podia estar um pouco bêbada, mas pode sentir o gosto delicioso do beijo. Perguntou-se imediatamente como não tinha feito isso antes, era uma sensação tão boa, tão gostosa... Estava tão ocupada com seus poderes que se esqueceu de viver pelo menos essa fase. Não pensou duas vezes antes de repetir e repetir a dose de beijos naquele mexicano moreno, gostoso e caliente, não se esquecendo de tomar cuidado para não desaparecer do nada logo naquele momento tão especial. Depois desse acontecimento passou a frequentar festas com mais frequência. Adorava a animação dos mexicanos. Ficou lá por mais ou menos mais cinco meses trabalhando como guia turística, ela gostava de mostrar a beleza do lugar para outras pessoas.
  Entre seus 17 e 18 foi para Hollywood, trabalhou como figurante em várias peças, e teve até uma fala numa comédia romântica de sucesso, ela amou. tinha curiosidade em saber como era estar numa festa de gala, como o Oscar ou Globo de Ouro, então foi em uma. A festa não foi nenhum Oscar, mas estava de bom tamanho. Assim que foi anunciado o MTV Music Awards nas rádios e TV’s ela não pensou duas vezes, colocou um vestido preto, salto alto, câmera na mão e tratou de pôr seu lado tiete de fora. Entrou invisível e tirou fotos com todos que pôde: de Adam Levine a Madonna, foi um dos dias mais felizes da sua vida. Outra vez também seguiu o ator Matt Bonner, por quem ela tinha uma paixão platônica. Paixão essa que acabou no segundo que ela entrou em seu quarto e viu ele se pegando com outro cara. Sim, ela foi a primeira pessoa a descobrir que ele é gay, e lamenta até hoje por não poder tirar uma casquinha. Teve muitas aventuras em Hollywood, mas nunca encontrou um amigo. Sempre que fazia uma amizade, ou a pessoa acabava descobrindo sua mutação, ou ela ia embora por algum motivo aleatório, não gostava de se apegar a ninguém, pois sabia que mais cedo ou mais tarde ela teria que ir embora, ninguém podia culpa-la. Aos 19 foi à Índia, mas não passou nem um mês, não gostou de lá, tudo lhe parecia desorganizado demais, muito ativo, muita gente. Seria um ótimo lugar para se esconder caso alguém a cassasse, mas ficar lá sem necessidade não estava em seus planos. Ela precisava de um local calmo, algo onde pudesse pensar melhor, e pra quê lugar mais calmo que Paris? Pode até existir, mas com certeza esse lugar não tem a beleza e o romantismo de lá. então partiu para Paris com a intenção de aprender a língua local e apreciar tudo de bom que a terra poderia lhe proporcionar. A cada dia que passava lá, mas encantada ficava. A luz, a comida, as pessoas, a natureza, os pontos turísticos, tudo era perfeitamente perfeito.
   demorou muito mais tempo pra aprender francês a aprender o espanhol, o sotaque era muito difícil de aprender, e a sua descendência britânica não ajudava muito. Depois de oito meses lá ela aprendeu a falar fluentemente a língua. No seu 5º mês na cidade do amor, encontrou uma pessoa realmente legal em um barzinho, viraram amigos, e quinze dias depois peguetes. Sua primeira relação sexual foi com o Cara, e depois que fez uma vez não quis mais parar (como o beijo). O parisiense alto e magro a ensinou a falar corretamente o idioma.
  No começo do oitavo mês se deu conta não queria ficar ali por mais tempo, já tinha aprendido o que precisava e claramente não o amava. Cara era amoroso demais, carinhoso demais, apegado demais, tudo de mais, ainda bem que era lerdo demais e nunca descobriu sobre sua mutação! Aquilo começou a incomoda-la, a cidade do amor agora lhe parecia amorosa demais, e tudo por causa do infeliz que tirou sua virgindade! Não deu outra, já tinha passado tempo demais ali, ela não era de ficar muito tempo no mesmo lugar, ela era uma mobile. Então refez sua mala – que estava ficando cada vez maior – e partiu. No final das contas percebeu que não tinha aversão ao Cara, só não tinha amor, o que sentia por ele era na verdade carinho. Ele havia lhe ensinado coisas novas e tinha estado com ela por mais tempo que as outras pessoas costumavam ficar e isto a fez criar uma espécie de afeto pela sua pessoa.
   saiu da cidade mais emocionalmente abalada do que chegara, todo aquele tempo que teve, toda aquela calmaria só a fazia pensar em sua família. Ela se questionava aonde eles estavam, como estavam, e se ainda estavam vivos. Ela precisava saber! Não aguentava mais não ter noticias. Sua mãe nunca respondeu seus inúmeros cartões postais e nem suas cartas, ela não sabia se seus presentes voltavam, porque nunca ficara num lugar tempo o suficiente para checar, isso só a quebrava mais ainda. não assistia TV nem ouvia rádio, muito menos lia jornal. Qualquer coisa que tivesse alguma fonte de informação sobre o seu país era descartada, para evitar problemas que ela sabia que viriam depois caso lesse, visse ou ouvisse-as. precisava se animar, se jogar em qualquer perdição que fosse, precisava desligar a merda do seu botão de pensar, e qual o melhor lugar pra fazer isso?
  Vegas Baby, apenas Vegas!
  Ela sabia que tudo aquilo era muito arriscado, mas não dava à mínima, era pra lá que iria, e foi. Assim que chegou a capital roubou uma joalheria – só roubava joalherias, era muito mais prático – alugou uma boate a noite inteira, convidou de 100 a 200 desconhecidos e encheu a cara, dançou, ficou louca, tentou botar tudo que sentia pra fora, na esperança de não ter que sentir mais nada de ruim na sua vida. E bem, não funcionou. Ela também não se importou. Passou dias e meses naquela vida despreocupada, jogava em cassinos, vezes ganhava, vezes perdia, mas pra era ela bom, era extasiante. só queria mais, queria estar mais cheia, cheia do que ela nem sabia que na verdade não era nada. Aquilo que estava vivendo era só uma mentira, algo que ela estava usando pra encobrir a dor, ela se enganava pra sentir melhor, pensava que a cada dia em claro fazendo besteira, bebendo e transando com estranhos estava finalmente se enchendo, mas mal sabia que a cada um de seus atos hipócritas só estava a dissipava e a fazia cada vez mais vazia.
  Era dezembro, estava finalmente perto de fazer os seus 21 anos. Lá estava ela em mais uma de suas festas, dessa vez não estava bêbada como ultimamente, estava quieta, intacta, assim como ficara nos tempos que descobrira sua mutação. Aquela garotinha parecia estar voltando, parecia saber que estava no lugar errado, tomando atitudes erradas, sua mãe com toda certeza não estaria aprovando de maneira alguma se tivesse conhecimento. Parecia estar sabendo, que toda aquela curtição estava perto de se acabar.

  In another mind...
  Dezesseis
  - Senhor, o alvo está à vista. – Avisou o policial que vigiava do outro lado da boate. – Permissão para avançar? – Podia sentir pelo tom de sua voz que esperava claramente por uma resposta positiva.
  - Permissão concedida! – A voz do outro lado da linha autorizou, e foi o suficiente para ele. Cinco segundos depois o alto, loiro e musculoso policial já se encontrava ao lado da garota, que estava sentada e bebia um drink colorido.
  - Olá, senhorita . – Sua abordagem lhe pareceu estranha de inicio, mas não se importou, havia andado em tantas festas ultimamente que todo mundo já sabia seu nome. Um furo de sua parte, para ser sincera.
  - Não, eu não quero beber com você, e também não quero dançar nem fazer nada. Ok?! – A garota nem se deu o trabalho de virar, já estava acostumada a desencorajar os idiotas de cara.
  - Receio que eu não queria fazer nenhuma dessas com você. – O policial sorria, tinha plena certeza que havia pegado a garota de jeito. então se virou para ver quem era aquela pessoa que aparentemente não queria nada dela, não pôde negar que tomou um breve susto. Nunca havia sido pega, nunca tinha deixado nenhuma situação chegar a aquele ponto. - Poderia se levantar?
  - Pra quê? Ou melhor, por quê? – estava abalada, mas não mostraria, continuaria audaciosa e petulante, assim como aprendeu ao longo da sua pequena - mas prazerosa - vida.
  - Você está presa, mocinha. – O policial agora tinha um sorriso maior ainda no rosto e uma algema na mão. Todos a sua volta a olhavam em sua direção, sentiu-se envergonhada por um segundo.
  - Pelo quê, posso saber? – levantou e ficou cara a cara com o loiro e musculoso policial.   - Por roubar três joalherias e três cassinos em cinco meses.
  - Pensei que a policia daqui fosse mais rápida, é uma vergonha pra vocês, um corpo policial tão renomado só conseguir pegar uma ladra simples como eu depois de CINCO MESES. E olha que eu nem fugi, imagina se eu tivesse. – Suas poucas palavras serviram para tirar o sorriso vencedor do policial, deixando-o sério. Ele mereceu.
  - Antes tarde do que nunca, não é mesmo? Queria estender suas mãos.
  - Claro, seu guarda. – Alfinetou. Ela e resto da boate inteira bêbada sabiam que se tratava de um policial, não um guarda. E além do mais estava escrito em sua farda "Policial Winston". Estendeu sua mão e lhe foi colocada à algema. não pareceu assustada ou surpresa. Ela estava tranquila, sabia muito bem que o policial Winston não sabia que ela era uma mutante, ela iria canalizar toda a sua frustação e raiva naquele cara.
  Winston a empurrou boate a fora, sem nenhuma delicadeza. Com a sua saída, tudo voltou ao normal, todos continuaram dançando e bebendo como antes. brevemente se perguntou por que o policial não estava acompanhado, queria que seu show fosse apreciado por mais pessoas. Ao chegar ao lado de fora descobriu que ele seria. Havia duas viaturas policiais em frente a boate, estavam todos alertas, armas estavam apontadas diretamente para ela. Toda aquela emoção só a fez se sentir melhor. iria começar o seu show.
  - Mais que emocionante... Tantas armas viradas em minha direção. Pena que nenhum de vocês conseguirá me acertar. – deu um sorriso meia boca animada.
  - Silêncio! – Alertou Winston que já estava bastante irritado pra ter de aguentar qualquer que fosse a ladainha de .
  - Você que vai ficar em silêncio quando ver o que eu vou fazer. Ou melhor, não ver. – foi se transformando lentamente, sem nenhum medo, pois sabia que os homens parados ali iriam ficar assustados demais para tomar qualquer uma atitude. O policial gelou, parecia que tinha visto um fantasma. Toda a sua marra tinha ido embora, assim como sua visão na garota. Limpou os olhos duas vezes para checar se o que estava acontecendo era mesmo verdade. Bem, era. foi até o bolso dele, pegou a chaves abriu as algemas e guardou-as. Todos os policiais e soldados estavam olhando uns para os outros incrédulos, como se tivessem acabado de ver o diabo. Ela gostava de causar essa reação nos outros, e achou extremamente engraçado.
   chegou ao ouvido do policial e perguntou:
  - Quem está em silêncio agora, seu guardinha? – tinha um tom brincalhão e o sotaque britânico estava eminente em sua voz. Desde que voltara de Paris, ele havia voltado. Agradeceu por isso. – Eu avisei! Cuidado para não borrar as calças. – Foi a sua frente e deu-lhe um tapa na cara, bem forte. O idiota do Winston ainda tentou pega-la, mas não obteve sucesso, só ganhou mais um tapa. – Espero que você e seus amiguinhos não venham atrás de mim, certo?!
  - Certo. – Winston assentiu. já tinha o humilhado demais, não era o tipo de pessoa má, só estava tentando descontar sua frustação em alguém, e ele foi o infeliz. Ela decidiu sair dali antes que algo realmente ruim acontecesse. Caminhou invisível por três quadras para espairecer, e logo depois pegou um taxi e foi para o hotel onde estava hospedada. finalmente iria sair daquela cidade.

Capítulo 3 - De volta a San Francisco

  San Francisco estava mais bonita do que nunca. O clima não era o mesmo, o calor eminente da primeira vez que viera não estava lá, mas não dava a mínima. Se sentia em casa novamente. O episódio com os policiais tinha sido a gota d’agua para ela, a sua sanidade havia voltado e ela iria tratar de deixa-la, quieta e segura para que pudesse usar por bastante tempo. roubou um carro e passou a noite dirigindo. Não iria de avião, seria mais que plausível que a policia estivesse lá pronta para pega-la a qualquer momento, não iria arriscar. gostava de dirigir, além do mais estava só. Depois de tanto tempo só passou apreciar todo aquele silêncio que a solidão trazia, silêncio esse que a deixava pensar, fazer planos detalhados sobre onde seria o seu novo destino, e o que iria fazer e aprender. A Polícia Federal e os guardas do pedágio não estavam aparentemente avisados sobre ela estar à solta. Das duas uma: ou o Winston e sua turma tinham fechado a boca, ou eles eram realmente incompetentes, não quis ficar pra descobrir a resposta certa.
  Assim que chegou á cidade largou o carro roubado em uma esquina menos movimentada e tomou um taxi. Já tinha destino certo: o seu querido e amado HILTON WALDORF PALACE HOTEL. Aquele que lhe acolheu tão bem e confortavelmente em seu momento mais frágil, sentia-se como se estivesse voltando para casa, foi bom.
  A fachada do Hilton permanecia a mesma em letras vermelhas garrafais, só havia sido acrescentada uma mão de tinta, deixando-a mais sofisticada, adorou. O saguão estava cheio. O lugar que antes era branco, agora estava cor de gelo, o lustre do meio havia sido mudado, estava mais claro e impetuoso. Luzes auxiliares e poltronas foram adicionadas em todas as partes, TVs de plasma foram colocadas em dois cantos do saguão, a única coisa que não havia sido mudada foi a recepção e a recepcionista. A moça que lhe atendera anos atrás agora era uma mulher, a ela permanecia formidável e profissional como sempre. poderia até dizer que tinha sentido sua falta.
  - Boa Tarde! – retirou seu óculos para olha-la.
  - Boa Tarde... oh, senhorita Wendie, como você cresceu! É um prazer revê-la em nosso hotel! – A recepcionista não pode esconder sua surpresa ao vê-la.
  - Abigail, que bom que ainda se lembra de mim, não posso negar que senti falta daqui – olhou em volta e suspirou - É muito bom estar de volta! – abriu seu sorriso mais sincero que podia dar, tinha encontrado um pouco de alegria ali. Fazia-lhe bem.
  - Se o cliente está satisfeito, nós estamos também, mocinha. – Abigail retribuiu o sorriso de , em seguida pediu seus documentos para registrar a hospedagem. cedeu-os de bom grado. A recepcionista super bem arrumada estranhou o sobrenome diferente do que ela estava acostumada, mas não se pronunciou, sabia ser discreta. – Tenha uma boa estadia no Hilton Senhorita !
  - Eu terei.
  Abigail teve o cuidado de por no mesmo quarto que esteve em sua ultima estadia. 17º andar, final do corredor.
  Quando adentrou-se ao corredor, uma nostalgia entrou em seu peito e a fez querer chorar. Lembrou-se de como estava abalada na primeira vez que esteve ali, de como sentia triste e sozinha. Do tempo em que achava que a sua mutação era uma coisa ruim. Hoje em dia ela não conseguia pensar em sua vida sem ser invisível, estava fora de cogitação.
  O quarto era o mesmo. Pouquíssimas coisas haviam mudado. Apenas o frigobar e a cor da parede, que era azul claro com um papel de parede simples no lado da janela. Uma TV de plasma foi acrescentada também. O seu amado sofá continuava lá, como se estivesse lhe esperando. A espera tinha acabado. abriu a janela e olhou para todos os prédios a sua volta. Se perguntou por que se sentia tão bem em está lá, talvez nunca soubesse. Passou um tempo olhando a chuva cair, forte e imponente, uma gota atrás da outra, num movimento lindo e ritmado. Depois repetiu o que tinha feito na primeira vez que estivera ali. Dessa vez não tinha medo, só um vazio no peito.
  Já havia se passado dois meses desde a sua chegada em San Francisco, passou dias e dias trancada sem fazer nada de produtivo, até que resolveu que iria mudar seu visual. Seus cabelos que estavam pintados de castanho claro a pouco mais de um ano voltaram a cor natural. Além de ter voltado aos seus cabelos negros, mudou o corte. Seus grandes fios que eram cortados retos tinham ganhado “forma, volume e movimento” palavras da cabelereira. Também tinha saído para comprar roupas e calcados novos, sempre teve um ótimo senso de moda, depois de ter ido a tantos lugares diferentes tinha adquirido o seu próprio estilo. Adorava roupas escuras e coturnos, o delineador era seu amigo desde sempre. - apesar de nunca deixar de lado os seu óculos escuros - no começo da sua adolescência odiava usar vestidos ou coisas femininas, e era mais desleixada, mas ao passar dos anos aderiu a algumas peças, sem perder sua originalidade, é claro. precisava de mais livros, a série de filmes que viu não foi o suficiente para ocupar a sua mente. Precisava ler, precisava de livros novos. Já tinha o que fazer naquela tarde, compra-los.
  Vestiu um jeans escuro e regata branca, por cima da regata um casaco jeans surrado, e nos pés seu coturno preto. Seu visual contrastava extremamente com seu cabelo preto e seus olhos verdes. Não usou maquiagem nenhuma, apesar de presar o bom visual ela sairia e voltaria rápido, não tinha razão de se arrumar tanto. desceu para garagem, pegou seu novo Kia Cerato preto e partiu para o Shopping mais perto possível, assim que chegou foi direto para livraria. Procurou livros de terror, de preferência grossos, que precisassem de muito tempo para ser lidos. Não costumava ler outros gêneros como ficção cientifica, só servia pra dar risada. Sua realidade era bem diferente do que tinha escrito na maioria deles, mas ela não se importava. saiu com a sacola cheia e um sorriso no rosto, sua coleção de livros aumentava cada dia mais.
  COMER.
   passou o dia todo à base de suco de maçã e salgadinhos. Precisava comer alguma coisa. Sabia de um pequeno restaurante mexicano ali mesmo no shopping, decidiu ir lá para comer um burrito, assim mataria a fome que estava sentindo e um pouco da saudade do México. O El Sabor estava bastante cheio e tumultuado. Depois de muita dificuldade conseguiu pedir para a viagem. Pensou em ir embora, odiava esperar, mas o cheiro agradável e convidativo à fez ficar. Depois de finalmente conseguir receber seu pedido, conseguiu sair do lugar. Quer dizer, quase conseguiu. Dois idiotas que já tinham pegado seus pedidos passaram rápido por ela e a derrubaram, um de cada lado. caiu de bunda no chão, seu burrito tão gostoso foi direto na sua blusa branca e seus livros lindos e novíssimos caídoram longe.
  - Merda!
  Pensou em usar todos os xingamentos, em todas as línguas que conhecia para humilhar aqueles dois idiotas que a derrubaram, mas talvez não aguentasse e desaparecesse ali mesmo no meio do shopping inteiro, então fechou os olhos, respirou forte duas vezes e retomou sua paciência. As pessoas ao redor correram para ajuda-la e perguntar se estava tudo bem, pelo menos tinham consciência. Eles pegaram seus livros juntaram numa sacola e a devolveram, o gerente do local fez questão de lhe oferecer qualquer prato do cardápio totalmente de graça, mas ela não aceitou, comeria em casa pra evitar mais vexame.
   passou numa loja de departamento qualquer e comprou outra regata. Pegou o caminho mais perto para o estacionamento, mesmo assim não conseguiu evitar alguns olhares curiosos para sua roupa suja. Queria desaparecer, porem não podia. Entrou em seu Kia e saiu o mais rápido que pôde, porem do lado de fora do estabelecimento havia um engarrafamento e a chuva só aumentava, culpou os deuses e as estrelas por ter saído de casa! Passou alguns minutos esperando o congestionamento passar, e quando finalmente estava saindo o inesperado aconteceu.
  - Que merda é essa?! – Foi retirada da sua hipnose de raiva por aquele alto, musculoso e lindo rapaz de olhos azuis que entrara em seu carro sem nem pedir licença. Ele passou a mão nos cabelos molhados e começou a tentar se explicar.
  - Ok. Olha tá chovendo e... – sentiu um arrepio frio no braço ao ouvir aquela voz tão ríspida e impactante, mas decidiu ignorar. Analisou-o sem ao menos perceber, passou o olho em cada parte de seu corpo grande e molhado que se encontrava sentado no seu banco carona, até chegar aos seus olhos, que a fitavam aparentemente da mesma maneira. VOLTA HAYLEY, VOLTA! Seu subconsciente gritou, e ela atendeu ao pedido.
  - E... O que eu tenho a ver com isso? Isso é lá motivo pra você sair entrando sem permissão no carro dos outros? – Rolou os olhos em desaprovação. O congestionamento estava acabando e ela tinha que resolver essa situação logo. Tinha que manda-lo embora, mas algo estava a tentando a não faze-lo.
  - Olha, tá chovendo e meu carro quebrou, eu fiquei no estacionamento por mais de meia hora, e acredite ou não você foi a primeira pessoa sozinha que apareceu, eu tive que pedir ajuda. – olhava para ele sem acreditar se aquilo era mentira ou verdade, e ainda processava o fato que era a única pessoa sozinha naquele estacionamento. Merda! Estava olhando pra os seus músculos de novo. Levou a vista a estrada e guiou o carro á frente.
  - Existe algo chamado celular, sabia?
  - Sabia, e o meu descarregou. – Levantou as mãos em sinal de paz, seus músculos pularam para fora de sua camisa cinza molhada.
  - Hum... E porque eu deveria te ajudar? Eu nem te conheço! – Retrucou.
  - Você parece uma pessoa boa, apesar de mal humorada.
  - E você parece um... Um idiota que não sabe consertar seu próprio carro. – Ele arregalou um pouco os olhos, espantado com a sua autodefesa tão rápida.
  - E você sabe? –Desdenhou.
  - Não subestime uma mulher, sei mais do que você pensa e deveria ficar calado, afinal você que tá precisando de carona.
  - Tá ok então, eu só quero a carona e fim, não custa nada. – Se acomodou um pouco no banco e terminou em tom irônico – POR FAVOR.
  - Que seja, mas fica ai na sua. – estavam quase chegando a um sinal vermelho. – POR FAVOR. –Um minuto de silêncio se passou até que chegaram a outro sinal vermelho.
  - Hey, - Sentiu o arrepio de novo e se martirizou internamente – o que foi isso? – Ele apontou.
  - Isso o que? Ahh, isto?! – Olhou pra camiseta suja – Isso aqui foi obra de dois idiotas num restaurante lá dentro. – tinha certo desprezo na voz – Se eu pudesse tinha quebrado as caras deles lá mesmo! Merda, eu odeio ficar suja, odeio!
  - Gosto de seu sotaque. – Falou como se tivesse pedido pra alguém trocar sua nota de vinte. olhou para o lado de fora de sua janela, não iria deixá-lo ver que tinha corado. Ninguém lhe fazia elogios, ainda mais elogios que tinham haver com o que realmente ela é. Seu sotaque foi algo que nunca se separou dela, ela presava isso.
  - Olha, não precisa blefar comigo pra conseguir terminar de ter sua carona, funcionaria mais se você trocasse de lugar, eu preciso tirar essa camisa, esse cheiro tá me matando. – Ele a encarava com seus olhos azuis, e ela alternava o olhar ente ele e o transito, ele lhe parecia tão grande, seu cabelo molhado lhe caia tão bem. Por um momento se perguntou se ele estava lhe causando algum daqueles efeitos, seu senso de ridículo lhe respondeu com um “NÃO!” bem grande. Ok, tinha compreendido.
  - Eu não estou blefando com você, só estou falando a verdade. Gostei do sotaque, falei do sotaque. – Esfregou sua mão uma na outra, devia estar com frio... Ele que se danasse. – Vamos!
  - Vamos pra onde? – No seu rosto se formou um ponto de interrogação. Juntou as sobrancelhas demonstrando ainda mais sua confusão.
  - Trocar de lugar, você não disse que quer trocar a roupa? Eu adoraria ver você trocando de roupa. – Sorriu sorrateiro. se perguntou o que era isso, parecia que o sorriso dele tinha o poder de abrir as nuvens de chuva e mostrar o sol brilhante e impetuoso... “Mas não , não tem! Você só está carente, nada a mais, só isso!” Seu subconsciente lhe dava tapas de desaprovação nas costas.
  - Eu mal te conheci e você já tá saído assim? Mais uma dessa e eu jogo todo o meu senso de caridade pra fora desse carro junto com você! Então quieto, ok?
  - Ok, mas não vai querer trocar? – Aquela coisa estava lhe incomodando demais, não ia conseguir, teria que trocar.
  - Eu vou. Mas só porque não aguento mais esse cheiro bem embaixo de mim, que fique claro! E sem gracinhas, ok? – Olhou pra ele esperando uma resposta decente pelo menos.
  - Anda logo. – E foi essa a resposta que recebeu. Mal educado. – Você só tem um minuto até o sinal abrir.
   parou o carro e se preparou pra trocar de lugar, não teria outro jeito de fazê-lo sem ter que “subir” em cima dele. Ele já tinha entendido o que aconteceria e parecia mais arisco e maroto do que antes, parecia achar a situação engraçada. não achava. A garota teve que dar uma última olhada para ele antes de se movimentar, como se fosse um aviso para não tentar nada. Então começou a sair de seu lugar, ele fez o mesmo movimento só que em direção contrária. Não deu certo.
  - Isso não vai dar certo desse jeito. – reclamou.
  - Eu sei, não vai dar certo nunca se você ficar tentando não encostar em mim! – Reclamou também.
  - Eu não tô fazendo isso. – Mentira, estava.
  - Você tá, sim. – Ele sorriu. Safado. – Pode tocar, eu deixo. – Além de safado é convencido.
  - Dane-se.
   nem pensou direito, já que ele estava se achando tanto não iria se importar se ela mostrasse as garras também. Tirou a perna direita do acelerador e passou por cima da marcha invadindo o seu espaço, tirou o sinto de segurança bem devagar numa provocação. Arrancou um olhar curioso dele sem nem mesmo começar. Percebendo que tinha ganhado atenção que queria continuou, colocando de leve a mão direita em seu ombro molhado. Apesar de a camisa ter impedido o seu toque inteiramente ela sentiu a vibração dele ao fazê-lo. Continuou como se tudo ali estivesse sendo uma situação normal, sem se abalar. Colocou a mão esquerda o mais devagar possível em seu ombro direito e arqueou-se para frente, tirando metade do seu corpo do lugar, então seus olhos estavam frente a frente se fitando, seus verdes mar nos azul do céu dele. Ver seu rosto tão de perto há deixou um pouco desnorteada, vê-lo aparentemente abalado – nem que fosse um pouco – havia lhe deixado um pouco mais tranquila, ela não era a única ali. Eles só se olhavam, sem dizer nada. Uma camada invisível de eletricidade estava se formando em torno dos dois, eles podiam começar a senti-la cada vez mais forte. daria um diamante para saber qual era o pensamento do rapaz naquele momento tão único. não se permitia nem ao menos respirar, ele fazia o mesmo. Então o rapaz fez algo que a deixou um tanto surpresa, suas mãos que estavam em algum lugar que não importava, foi habitar em sua cintura. Ainda que estivesse em cima da camiseta ela conseguia sentir como suas mãos estavam quentes e como eram grandes, conseguiria levanta-la com um braço sem esforço nenhum. abaixou seu olhar para constatar o que ele estava fazendo, deveria estar ficando corada. Nem conseguia se dar conta no que estava se passando dentro daquele carro.
  Ele segurou sua cintura mais forte e arqueou-se pra frente, se afastava para trás conforme ele se inclinava, esperando ele tomar uma atitude ou fazer qualquer coisa, contanto permaneceu quieta, calada e curiosa. O que ele estava tentando fazer? Matá-la do coração? Deveria ser pecado um homem tão bonito e charmoso daqueles seduzir uma mulher tão desprevenida como ela estava. Talvez ele não estivesse realmente tentando, talvez ela só estivesse um pouco desesperada. Não ficava com ninguém desde que saiu de Vegas, isso não era, digamos... Justo!
  Depois de arqueá-la para frente, ele inclinou-a para o lado e se moveu para rapidamente para o banco do motorista, e tudo acabou tão rápido quanto tinha começado. Ele havia quebrado a conexão, tinha conseguido acordar mais rápido que ela. Talvez ele nem tivesse realmente entrado naquela, ela era idiota ali, ela estava deixando se levar por aquele monte de músculos ambulantes. Ok, ela havia perdido. Pelo menos ela sabia perder com dignidade.
  - Na hora certa... – Ele disse. tinha os olhos fixos na estrada, não precisava encara-lo.
  - É. – O mau cheiro de sua camiseta a fez lembrar o motivo de ter trocado de lugar – Eu preciso trocar... – Apontou para o lugar sujo – Você pode virar? Não que você tenha algum interesse em me ver, é claro. Só que, você sabe, eu acabei de te conhecer e não pega bem ficar trocando de roupa na frente de um estranho que tá dirigindo seu carro. – Ele ainda tinha conseguido deixa-la com vergonha. Ela olhava para baixo como fazia quando era criança. Droga!
  - Tudo bem, eu não vou te olhar. – Ele não olhou pra ela, devia ser para não deixá-la com mais vergonha do que já estava... OU não estava interessado mesmo.
  - Ok. – pegou a sacola no chão do carro e tomou em mãos uma camiseta exatamente igual a que vestia. Em seguida tirou o casaco jeans e jogou no banco de trás, queria espiar se estava sendo observada, mas não teve coragem. Inspirou um pouco mais demorada do que as outras vezes, e expirou o mais devagar que pode, para não ser notada. Pronto, poderia continuar. Ficou em duvida se tirava devagar ou rápido. Decidiu optar pelo rápido, não estava tão desesperada assim. Virou mais para o lado da porta e tirou a camiseta e jogou-a no banco de trás, deixando sua lingerie preta e rendada a mostra. Não poderia estar mais envergonhada, tinha que se controlar para não ficar invisível ali mesmo. Ficaria se soubesse que o cara ao lado ao lado não tinha conseguido cumprir sua promessa. Ele olhava pra ela como se fosse um diamante grande e brilhante, alternava seu olhar entre a estrada, seu sutiã e seus cabelos longos e negros que caiam impiedosamente por suas costas. Estava fazendo bastante esforço para não agarra-la ali mesmo. Nem ele mesmo estava se entendendo, seus hormônios poderiam muito bem esperar, ele não estava ali para aquele tipo de coisa, não podia se distrair, não agora.
  - Pronto! – Sentiu alivio ao finalmente ouvir aquelas palavras, agora poderia olha-la. Tinha necessidade de olha-la, não sabia o porquê.
  - Ótimo! – Ele precisava manter a calma e entretê-la com alguma coisa - Você ainda não disse pra onde a gente vai. – Boa, , boa!
  - Hum... – Ela olhou pra o lado de fora, como se estivesse pensando se responderia qual seria o lugar. – Olha pra mim. – Ele não fez, continuou olhando pra frente.
  - Por quê? – Por que ? Qual a razão de eu ter que olhar pra você mesmo? Já não basta você ser mais bonita que nas fotos, mais bonita ao vivo. Precisava ter todas essas curvas e ser tão atraente? Ainda mais depois desse novo cabelo, ficar morena de novo só te melhorou. E se não bastasse você me encara, e ainda tira a camisa perto de mim, você merece ir pra prisão, isso sim. Eu preciso fazer isso logo, antes que eu te agarre e perca a razão.
  - Porque sim. – Ele a olhou sorrateiro, soltou um sorriso forçado. O ar mudou novamente, ao olha-lo ficou incerta: queria lhe dizer o endereço, mas algo a impedia... Um pressentimento. Outro minuto se passou até que ele lhe tirou dos devaneios.
  - Você não me disse o lugar...
  - O Hilton. – não lhe respondeu nada, apenas acenou com a cabeça e dirigiu o resto do caminho calado. A chuva ainda caia forte quando eles chegaram, não demorou muito e já estavam na garagem do local. Assim que estacionou, o silêncio que antes era ruim, tinha ficado insuportável, alguém precisava falar. começou.
  - Então... Chegamos! – Deveria estar um pouco vermelha, se perguntava por que aquela situação era tão estranha.
  - É, chegamos! – desligou o carro e tirou o sinto de segurança, catou suas roupas e livros por entre os bancos de trás. Ele não dizia nada, apenas acompanhava seu movimento com os olhos. Quando ela terminou de pegar as coisas, eles se olharam, como se procurassem alguma coisa, como se tivessem que se fazer uma pergunta... Como se quisessem alguma resposta.
  Dessa vez tratou de quebrar o contato visual, abrindo a porta e saindo do carro, essa era sua resposta, não poderia se deixar levar por aquele cara tão lindo. Ele fez o mesmo, saiu do carro rápido, para acompanha-la.
  - Hey, calma! – Ele a chamou, e ela só parou, não se virou, não ainda. – O que foi isso?
  - Isso foi eu te dando carona, só! – Ela permaneceu lá, parada. Ele caminhou até ela e parou a dois palmos de distância. Ela podia sentir toda a tensão dele, o cheiro, a energia. Tinha que acalmar-se, ou ficaria invisível ali mesmo na frente dele, e isso não seria uma boa ideia. virou-se. estava perto demais, era grande demais, nem se fechasse os olhos iria conseguir tira-lo da cabeça, sua presença era muito forte. Merda! Deu um passo pra trás, pra se sentir um pouco mais segura com si mesma. – Você... – Respirou fundo. Porque merda ele estava lhe olhando desse jeito? Era uma mistura de ruim com bom, aarh!! Ela estava gostando! – Você... Só tem que me pedir obrigada, é bem simples e as pessoas costumam fazer isso quando alguém faz um favor, mas como você é bem mal educado não precisa!
  - Hey, eu sei muito bem agradecer... Talvez não seja do jeito que você esteja pensando, mas eu sei. – disse dando um passo a frente.
  - Êêê... – deu um passo pra trás, a essa altura não conseguia mais desviar o seu olhar dos dele. Qualquer que fosse a coisa que ele quisesse fazer, ele estava conseguindo. – Você nem me conhece, nem meu nome sabe, você é um idiota. Vai embora e me deixe em paz!
  - Eu te conheço mais do que você imagina... – Como pode a voz de uma pessoa ser fria, assustadora e sexy ao mesmo tempo? não sabia. chegou mais perto, dessa vez não recuou, ela estava ocupada demais analisando a sua última frase. – Sabe, , eu já ti vi algumas vezes bem de longe, por precaução, porque recebo ordens... Mas eu sempre quis te ver de perto, pra saber se você era mesmo isso tudo que os outros falam. – ainda não tinha compreendido onde ele queria chegar – “A garota mutante que fugiu de casa jovenzinha e indefesa e passou resto dos seus dias só, viajando de um lado do mundo para o outro!”- sorria irônico - Mas você me surpreendeu, parece ser bem mais do que as pessoas falam, bem mais bonita por exemplo. Você é bastante atraente, . Eu tenho que admitir que estou me segurando pra não te beijar, mas sabe como é, período de trabalho... – Ele tinha conseguido, mexeu com o emocional dela, tudo que ela queria no momento era massacrar lhe até a morte, mas se segurou.
  - Parece que eu estou em desvantagem aqui. – soltou as sacolas no chão e deu o passo que distanciava os dois. Ela parecia uma formiga perto dele, mas não se importou, naquela altura já estava cega de raiva. – Você quer brincar não é? Falando de algo que desconhece, julgando... Sua mãe não te ensinou que isso é feio não? – Agora, talvez ninguém pudesse realmente segura-la, ela usaria qualquer arma que tivesse para que pudesse trucidar aquele canalha – porem lindo – idiota. – Vamos lá man... O que você quer comigo, me diga... Quem sabe eu não posso te ajudar! – agora estrava frente a frente com , penetrando seus olhos com a maior quantidade de doce e fúria que podia.
  - Estaria mentindo se dissesse que eu não quero “nada” da você, mas meu lance aqui é extremamente profissional. – respirou um pouco mais forte, e não pode deixar de notar. Ver a fraqueza do adversário só a deixava mais forte.
  - Não é o que está parecendo... – se atreveu a tocar sua camiseta agora úmida, e passou a mão por seu peitoral que ela tinha certeza que era definidíssimo sem ao menos vê-lo. Seus olhos não tinham saído dos deles nem por um segundo. Já tentava se controlar, mas não podia negar que sentia a mesma coisa que ela, talvez até mais. Ele se sentia excitado por saber que ela estava blefando, mas mesmo assim queria continuar naquela brincadeira. Seu subconsciente lhe avisara “, faça o que veio fazer logo!”, mas seu corpo lhe dizia outra coisa. Então juntou um mais um num instante e teve a brilhante ideia de “pegar” seduzindo-a, do mesmo jeito que ela estava fazendo com ele. Segundos depois suas mãos já estavam na cintura de , puxando-a pra perto, forte e imponente. estava se deixando levar, afinal esse era o plano. Esse cheiro tão masculino, esses cabelos... Teve vontade de passar a mão por entre cada fio e bagunça-lo. “O PLANO, HAYLEY!!!” seu interior gritava. Isso o plano! Ela voltou. – Viu, exatamente isso. Acho que você não é muito de cumprir ordens, não é mesmo? - Apertou suas costas com força, o arrepio foi sentido na pele de . A tensão sexual que habitava ali ficava cada vez maior, e nenhum dos dois desistia do seu respectivo plano. Aquilo não acabaria bem!
  - Eu acho que sou, sim. – Colocou uma mão no meio das suas costas e roçou sua perna na dela, que arfou por um segundo. E tudo ficava mais excitante a cada segundo, o perigo de serem pegos, de estarem num lugar público, a sedução, a aposta interna para ver quem ganharia, tudo ali era demais. Já estava começando a sair faíscas.
  - Se acha o máximo, uhn, big boy?
  - Pare de falar. Esse seu sotaque... Eu, eu não posso ouvir.
  - Temos um ponto fraco aqui não é, mi amigo. – ficou na ponta dos pés, para conseguir alcançar seu pescoço. Ele a ajudou, segurando sua cintura com uma mão só e levantando-a facilmente. – Mas você ainda não me disse o que quer comigo, não foi?! Eu mal posso esperar pra começar a ouvir! – depositou suas mãos pequenas por entre seus cabelos, sentiu lá em baixo. – Vamos rapaz, diga!
  - Não hoje, minha linda, quem sabe outro dia... – Assim que as palavras dele entraram pelo ouvido dela, ela sabia que era hora de agir. Retirou seu rosto do pescoço dele e colocou-o frente a frente, enquanto isso ia se transformando lentamente de baixo para cima, para que ele não percebesse. Seus olhos fincaram-se ao dele, prendendo sua atenção, quer dizer, tentando. Daria certo se ele já não tivesse uma injeção com alguma espécie de mata leão nas mãos. Ela não teve conhecimento sobre isso então terminou sua transformação. Seu plano era desaparecer, dar uma finalizada bem dada nele e sumir dali o mais rápido possível. Mas nem tudo foi como o planejado e ela foi sorrateiramente atingida. A que a um segundo atrás estava invisível em seus braços agora estava totalmente visível, e desmaiada. se sentiu mal e culpado por ter que fazer isso, mas era seu trabalho.

Capítulo 4 - Tortura e confusão

  , pelos céus, acorde! isso tudo é uma ilusão, não os deixe entrar em sua cabeça. Você não poderá ver sua família de novo. ! TROUBLE, por favor, acorde antes do pior...
HAYLEY!

  Ela voltou, voltou buscando o máximo de ar que pudesse pegar. Sua respiração fraca quase não dava pra sentir, mas o pior não aconteceu, escapara.
  - Senhor , a garota acordou. – Avisou um dos guardas, batendo á porta e interrompendo a conversa do grupo na sala.
  - Ok, daqui a pouco eu vou dar uma olhada nela. – Disse , voltando a conversar com o velho alto de cabelos brancos e a linda loira de batom e vestido vermelho.
  - Senhor, a garota está muito alterada... – Avisou de novo o guarda, dessa vez fazendo uma careta.
  - Ela pode esperar! – Aumentou uma oitava o seu tom, olhou com raiva para o coitado do guarda e continuou conversando. – Então, como eu estava dizen...
  - Senhor... Ela desapareceu e disse que não volta por nada! – Agora ele tinha conseguido a atenção de , que se levantou da cadeira num pulo. Rolou os olhos em desaprovação.
  - Por favor, a maioria deles faz isso, eles se rebelam, gritam, esperneiam, mas depois aceitam. Isso não é novidade, resolva isto e não me incomode mais, eu estou resolvendo assuntos importantes aqui. – Sua voz voltou ao tom calmo e frio de sempre.
  - Ok, senhor. – O guarda deu as costas em passos largos e saiu. Tudo estaria em perfeita ordem se ele não tivesse voltado. – Senhor? – O guarda bateu na porta duas vezes. Batidas rápidas e desritmadas.
  - O que? – abriu a porta com raiva.
  - Senhor, a garota quebrou as correntes! – O guarda já estava ficando nervoso.
  - O QUE? Como assim quebrou as correntes? Meu amigo, são CORRENTES! – Ele estava nervoso, já era noite e estava exausto, tinha passando os últimos dias caçando mutantes. Tinha conseguido prender vários, como de praxe, mas precisava descansar. Era forte, mas não era de ferro. O guarda nem precisou explicar para ele saber que só ia entender mesmo vendo. Passou à mão na testa – ele sempre fazia isso quando estava tentando buscar calma – e respirou. – Vamos, vamos! – Pediu licença a loira e o velho e caminhou em passos largos pelo corredor. O guarda o seguiu.
  - Se a sala que ela está fosse uma sala normal ela teria escapado... – Comentou o guarda.
  - Muito petulante essa , eu vou mostrar a ela que as coisas aqui não são como ela pensa. – Pegaram o elevador e subiram para o 20º andar. Saíram direto em outro corredor, dessa vez pequeno. Suas paredes eram escuras, poderia se dizer que chegava a ser um pouco assustador. Não havia nada nele, a não ser uma porta da mesma cor no final. e o guarda caminharam em passos largos até ela, que foi aberta depois de digitar uma serie de números, que não pode ser vista pelo outro. A porta se abriu, liberando uma visão extremamente diferente do que poderia ser vista por qualquer pessoa normal no prédio. Tudo era de encher os olhos, bem iluminado, com bastante tecnologia.
  Na primeira sala ficava os responsáveis pela segurança daquele departamento e de todo o andar. A uns passos á frente dois grandes guardas faziam vigia, alternando passos largos de um lado a outro. Tinham no lado esquerdo do bolso armas de choques e de fogo, seus uniformes eram na cor azul escuro, assim como o do que estava atrás de . Andando mais um pouco, na próxima porta, havia uma sala de tamanho médio, bem mais equipada que as outras, as paredes eram pintadas em cores vermelho vinho e preto, – o que não tinha nada a ver com o resto do ambiente - era a sala da Betty. Betty é a assistente de , peculiar, e não usa fardamento nenhum, se veste da maneira que bem entende. Diferente do resto dos funcionários que sempre estão limpinhos, arrumados e engomados. por sua vez não liga, ela é uma ótima pessoa e trabalha de uma forma excelente, ela é sua mão direita lá dentro, isto para ele é o de menos.
  - Betty! – Chamou em tom calmo porem irritado. Recebendo a visão da ruiva de cabelos médios e cheia de curvas frente à porta.
  - Oi , me deixa adivinhar o porquê dessa cara... – Tirou seus óculos e olhou para ele, tentando esconder a sua cara de deboche - Tá aqui por causa da nova mutante ? A barraqueira? A mais louca de todas? – Deu uma gargalhada que comprovou que estava mesmo de deboche. – Sabe que eu a adorei? Amo quando um deles não aceita ficar aqui, ou não tem conhecimento sobre o assunto, é ótimo, impagável!
  - Muito lindo né? Você poderia ter ido acalmar os ânimos dela pra mim. – Passou a mão sobre a testa, estava preocupado.
  - Haha, isso é trabalho seu, meu trabalho é lhe ajudar com outros assuntos, assuntos esses que você faz questão de aumentar todo santo dia, então me deixe em paz! – Recolocou seus óculos, pegou sua maquina super desenvolvida e cheia de tecnologia á mesa, fechou a porta e saiu andando em direção ao final do corredor, a seguiu. O guarda que acompanhava já havia o deixado e voltado para seu posto junto aos outros. Ao chegar à outra porta similar a da entrada ele abriu-se sem precisar de números nem digitais. Muito bom ser o chefe. A segunda ala era composta pelos mutantes que apreendia, lá havia várias e várias celas, quer dizer ‘’quartos’’ como eram chamados. Quem chegava ficava numa outra ala depois dessa, depois de alguns procedimentos eram levados de volta á primeira. Os quartos tinham portas de ferro maciço, ninguém entrava ninguém saia mulheres de um lado e homens de outro, mulheres do esquerdo e homens do direito, todos estavam ali excepcionalmente para servi-los, para prestar serviços e ajudar na batalha que iria acontecer. Quem se prontificasse a ajuda-los, lutasse e fosse realmente digno tinha direito a algumas regalias, assim como passeios fora dos horários de aulas, armas e um quarto mais decente em outro andar.
  Ao passar pelo segundo corredor, alguns dos mutantes presos se manifestaram, gritando o nome da Betty e xingando com nomes mais sujos que a língua do diabo. Ele não se importou, cruzou o corredor como se não tivesse ouvindo nada, estava focado demais em resolver seu problema com e descansar. Betty abriu a porta para a 2º e ultima ala, caminhava ao seu lado agora. Esse corredor era diferente, não tinha prisioneiros mutantes nem portas de ferro, ao contrário, tudo era de vidro e o mais transparente possível. Pessoas de jaleco branco passavam de uma sala pra outra, segurando pranchetas, apressados e concentrados. Cada divisória era um departamento, havia departamento de pesquisa, de ciências, outro de segurança e o maior que era usado para pesquisar sobre os poderes dos novos mutantes e como eles poderiam ser usados. Betty entrou em uma sala de pesquisa e seguiu seu caminho, agora em passos mais rápidos. Então chegou a esperada sala que estava presa, a porta se abriu num estalo.
  A sala estava mais cheia do que ele imaginava, lá estavam um medico um cientista e três guardas, todos do lado de fora do espaço que prendia .
  - , essa garota está muito alterada, nós já tivemos casos de alteração, mas não algo tão grave como esse. – Disse o medico com cara preocupada. - Eu cogitei dar alguma outra droga a ela, mas não deixaram. – O velho terminou sua fala apontando para o aspirante a cientista ao lado.
  - Cara, essa garota é fogo! Quer dizer... – O jovem e baixo rapaz riu sem graça e continuou. – Ela é muito agitada... Eu imagino o quanto foi difícil pra você conseguir captura-la.
  - Na verdade não meus caros! Ela foi uma das mais fácies de pegar, eu não sei por que merda vocês estão tão impressionados com ela, é igual a qualquer um, nada de mais! – Talvez não achasse isso, mas a raiva lhe fez mentir.
  - , ela tem a força de um homem! – Argumentou o cientista. –Talvez o seu poder nem seja ser invisível, e sim ter o domínio da força, que nem você! – Abaixou a cabeça e anotou alguma coisa na sua prancheta.
  - Vocês são um bando de maricas, tirem as novas correntes dela que eu vou entrar. – Os três guardas entraram na sala que ela estava e desprendeu-a, ela como de praxe cobriu-os de xingamentos baixos e sujos.
  - Pronto senhor! – Anunciou um dos guardas. não respondeu, apenas colocou seu ponto de escuta, acenou com a cabeça e passou a mão sobre os cabelos. Talvez esse não tivesse sido um ato de preocupação como sempre, quem sabe ele estava se arrumando para pelo menos parecer apresentável a . Mal sabia ele que não teria um mínimo de milésimos de chances com ela. Não naquela situação.

  A porta se abriu. A visão de a agora era diferente, ele não estava flertando, brincando ou exprimindo qualquer uma expressão, ele estava realmente cumprindo seu trabalho, e ela, ela estava louca, insana, e o mataria assim que pudesse, sem pensar duas vezes. Destruiria todo e qualquer traço daqueles lindos olhos azuis e corpo musculoso da terra. Depois que acordou naquela sala branca, presa por correntes sem razão nenhuma aparentemente, ficara desnorteada e terrivelmente abalada. gritou, berrou e ameaçou todos que tentaram chegar perto dela para falar qualquer coisa que fosse, no pico do nível de sua raiva conseguiu quebrar suas malditas correntes e se soltar ato que não levou a nada. Apenas serviu para assusta-los. Perguntou-se por que cacetes ela tinha sido pega tão facilmente sem ao menos lutar. Isso não fazia sentido, não em sua cabeça! Anos e anos de luta e treinamento não serviram pra nada? Como pode se deixar levar apenas por um jogo de sedução fácil? Foi tão burra a esse ponto, quando, poderia ter corrido o mais rápido que podia e escapado facilmente? Porque , por quê?! Culpou-se, jogou mil pragas em si mesma. Como pôde? Será que tinha perdido todo seu jeito e toda a sua essência? Isto não poderia estar mesmo acontecendo! Em sete anos, SETE anos ela não foi pega por se quer um infeliz. Mas como tudo no mundo, tudo tem sua primeira vez.
  - Vejo que a mocinha está fazendo bastante sucesso por aqui... – disse, dando dois pequenos passos que serviram para deixa-lo vê-la melhor. estava no outro canto da pequena sala, seus cabelos soltos cobriam seu rosto, sua cabeça estava baixa, ela parecia fraca e cansada. – Porque você não se acalma um pouquinho para podermos conversar? – estava tentando chamar sua atenção com palavras. não se movia, só o bastante para respirar. Seu coração batia forte a cada segundo, só de ouvir aquela voz novamente sentia um mix de emoções, uma parte dela não podia negar que a voz era sexy e feroz, mas a outra parte só pensava em morte. Ele estava tão fácil e vulnerável, assim como ela, mas se ela usasse a força que tinha talvez pudesse golpeá-lo da forma certa e então conseguir sair dali, se não conseguisse não teria problemas, se ele realmente morresse ela morreria feliz com sua vingança.
  - Vamos lá, , que tal trocarmos uma palavrinha... Irei ser rápido, eu prometo! – Deu mais um passo. Ficava mais arisco a cada passo.
  - Desde quando, uhn? Desde quando você promete coisas aos outros, e desde quando você cumpre o prometido? Sabe... – Respirou fundo e buscou calma, mas dentro dela só havia raiva. Tomou pra si essa raiva, com a pequena esperança que pudesse descontar tudo daqui a alguns minutos. – Eu nem sei por que eu tô aqui, e você não é da policia então não tem motivos pra me prender. Ok, você sabe que eu sou mutante, mas eu nunca fiz nada pra machucar ninguém e você sabe disso, então porque merda eu tô aqui? – ficou extremamente feliz com o seu progresso, e em ouvir a sua voz delicada, - que nunca diz nada de delicado – mas seu estado estava horrível, ela precisava comer, descansar, dormir, precisava de conforto, coisa que ela aparentemente não estava tendo a algumas horas. Porem ele não poderia tirar sua mascara profissional, teria que lidar com essa situação.
  - É uma longa historia, ... Talvez você goste de ouvir. – Deu outro passo. Como iria ler o que suas palavras queriam dizer se elas não demonstravam nada, nem ao menos um sentimento, só indiferença?
  - Ótimo que seja uma grande história, pena que você não vai estar aqui pra contá-la, senhor não sei seu nome – Como ele ousa chamá-la de , assim, na intimidade, como se conhecesse há muito tempo? Seu nome agora parecia um tanto mais sujo, ele não tinha o mínimo de direito de fazer aquela merda toda. Pra ela já tinha bastado, ela daria seu golpe agora.
  - Meu nome é... – No segundo depois já tinha se levantado numa rapidez absurda e jogado seu pé direito em com toda a força que tinha. não chegou a cair no chão, só deu uns passos pra traz. não parou, se aproximou, segurou seu pescoço com força e deu-lhe dois socos bem dados na barriga, mas pra sua surpresa ele não se abalara mais com o segundo golpe. não conseguia pensar direito, tudo que ela via era um borrão preto passando em sua mente, mas mesmo assim não poderia desperdiçar sua chance, então continuou firme e forte em seus golpes, porem eles já estavam ficando fracos e sem ritmo, ela não queria parar, não podia. Mas era só o que o seu corpo pedia, pedia que parasse, pedia que morresse e que queimasse, pedia que acabasse. Em meio a sua serie de golpes a segurou e virou-a de costas a seu peito, agora ela não tinha como fugir, estava presa naquele perfume de novo. “Perto de mais, hun run” avisava seu cérebro, e aceitaria obedece-lo se tivesse força física o suficiente.
  - . – Chegou mais perto e entoou seu nome, num sussurro quente ao seu ouvido. calada estava calada ficou. Achou o nome muito bonito, mas isso não vinha ao caso nesta situação. Ela só queria o distrair e tirar sua atenção para que pudesse o golpear novamente.
  - Grande merda. – falou alto e claro.
  - Haha, foi você que perguntou não foi? Pensei que você quisesse alguma informação. – Continuou segurando-a.
  - Uma informação que me interessasse e me ajudasse a descobrir porque eu tô nessa situação, e você como o incompetente que é não me disse nada aproveitável. – e sua língua afiada. – Me solta!
  - Língua afiada a sua, mas isso não me abala, eu até gosto... – Mexeu o braço que a envolvia pra cima e pra baixo, numa caricia delicada que a daria calafrios se não estivesse sendo consumida por um desejo de vingança. – É excitante... – ficou pasma, como ele podia fazer toda aquela merda sendo que ela estava ali presa sem ter si quer a opção de ir e vir? Mas lhe parecia tão sexy e másculo, e seu corpo estava tão junto do dele novamente, aquilo era tão bom... “De novo não , de novo não!” Isto, de novo não! voltou a si, e se deparou olhando para o outro lado da sala, mais necessariamente para uma câmera, ela não tinha se dado conta, mas era claro que devia estar sendo vista e ouvida, todo aquele contato com agora lhe parecia intimo demais, sexual demais, agora estava com vergonha, merda! Mas teve uma ideia muito boa, na verdade a mesma ideia que tivera quando tentou escapar de pela primeira vez, rezou para que funcionasse e agiu.
  - É... Muito excitante. – Encostou todo seu corpo ao forte de que lhe recebeu muito bem, parecia-lhe um grande, cheiroso e macio travesseiro, mas não admitiria. – E atraente.
  - Olha só quem está se revelando! – Pareceu surpreso com a atitude de .
  - Não pude resistir. – Enfatizou cada palavra com seu sotaque britânico, algum efeito iria ter, não custava nada arriscar. não fez nada, apenas continuou a passar sua mão na barriga de , e abaixou a guarda aos poucos. Homens! É só a mulher dar uma brecha que eles já ficam de quatro. Erro dele, não esperou nem um segundo para segurar o braço que a segurava e dar uma cotovelada em sua cara, foi pego de surpresa.
  - ! – Gritou, colocando a mão na cara checando se estava tudo bem.
  - Meio burro você, ein? O que te levou a pensar que eu iria te querer? Tão ridículo e sujo, uh, ainda mais nessas circunstâncias. Você é patético! – Humilhar ele era o máximo que ela podia fazer, estava em desvantagem, mas isso não a impedia de abrir sua boca.
  - A burra da história aqui é você, que se deixou levar por mim um cara tão “ridículo e sujo” e agora tá aqui presa, idiota! – revidou na mesma moeda. sentiu o peso de suas palavras, mas ignorou para conseguir continuar firme e forte de cabeça erguida. –E olha que você nem sabe onde tá! Depois de presa e acorrentada ainda tenta me bater, como se fosse funcionar! Me poupe , você não é de nada, seus conhecimentos em lutas são bastante limitados, eu só deixei você fazer esse showzinho todo pra ver até a onde você iria. – Balançou a cabeça de um lado para o outro, num sinal de ponderação. Olhava firme pra , que o encarava com firmeza e frieza maior ainda. Ela lhe parecia mais devastada que antes, mas nada disso tirava sua beleza, apenas a deixava mais linda. Toda aquela bravura que vinha daquele ser tão pequeno só o cativava. A coragem que ela teve ao golpeá-lo, a astucia que teve em tentar lhe seduzir... Tudo isso só pra conseguir se soltar! Foi um golpe baixo, porem inteligente, ele não podia negar. – Foi até longe... Bom, você poderia ter pelo menos usado seu poder, mais nem deve estar pensando direito. – Fez uma pequena pausa e passou a mão sobre os cabelos – Você está um lixo , mas pelo menos pode dizer que lutou.
  - Seu... – queria gritar, esmurra-lo, mata-lo. Ele estava fazendo-a parecer tão idiota, tão burra e tão fraca, ele não tinha esse direito. Não. Estupido.
  - A-ah-ah-ah-aaah, shiu. Sem xingamentos , isso só vai piorar sua situação. Eu acho melhor você calar essa sua boca – gostosa – e me ouvir. – que agora estava do outro lado da pequena sala, se deu por vencida outra vez. Encostou-se na parede branca e deixou-se cair sobre ela. Seu corpo não se sustentava mais, não adiantava lutar. Seu cérebro estava esgotado e morrendo de fome, se não tivesse acesso a comida já, já desmaiaria.
  - Hey, vamos com calma! Cadê a garota que estava me esmurrando agora a pouco? – Num segundo já estava segurando-a e colocando-a sentada no chão, com o maior cuidado possível. não disse nada, mas também não recusou o cuidado.
  - Você é um puto de um bipolar. – Resmungou.
  - Por mim você morria, mas eu ainda vou precisar de você – Sentou de seu lado, perto o bastante para ajuda-la caso algo acontecesse.
  - Sentimento mutuo, mas por mim você só morria! Acho que não preciso de merda como você no meu caminho, e se afasta. – agora olhava pra baixo, não queria que ele a visse tão derrotada, era humilhante demais.
  - Não. – Continuou em seu lugar. se afastou o quanto podia.
  - Ok, eu não sei se você é cego ou se eu tô invisível, mas eu não vou aguentar muito tempo nesse chão, então fala logo o que é essa merda toda.
  - Tá... Vou começar com meu poder. Não sei se você notou, mas eu sou forte. – Colocou um pouco de ênfase na parte do forte.
  - Oh, meu Deus, eu mereço! – interrompeu-o e revirou os seus olhos verdes.
  - Eu falei pra calar a boca, não falei? Se você me interromper a cada frase eu nunca vou terminar, e você não vai aguentar. Olha pra sua mão, ela já está tendo frenesis, ela tá praticamente piscando.
  - Te importa? Não, então cala a boca. – Escondeu a mão entre as pernas.
  - Não, você tem razão. Vou te contar a história, só não vai ser aqui. – levantou-se num movimento rápido e estendeu a mão para .
  - O que? Agora você quer dançar? Nossa, porque você não falou antes, eu teria trazido um vestido e uma rosa pra dançarmos o tango. Me poupe. – Sua paciência estava a um fio.
  - Deixa de ser ridícula e levanta... Anda. – levantou, fazendo muito esforço, só pra não precisar pegar em sua mão. , trouble, complicada como sempre.
  - O que? – Sua cara de interrogação estava de volta.
  - Você não pode ficar aqui nessas condições, e eu tenho que te contar o que tá acontecendo. Não temos muito tempo, você vai vir comigo e ponto.
  - Ir com você pra onde? Já tá ficando chato você me levando a lugares que eu não quero ir. – Eles mantinham uma conversa, mas não olhava em seus olhos, talvez estivesse com vergonha de seu estado.
  - Você não tá numa situação que tem muita escolha. – True Story.
  - Tô percebendo.
  - Vem. – Estendeu a mão novamente. – Deixa eu te levar.
  - Então... Sabe a dignidade? Pois é, a minha tá no CHÃO, mas isso não me impede de usar o resto que sobrou. Nunca que eu deixaria você me levar. – Deu um pequeno passo a frente e levantou a cabeça - seu nome né? Então , desde que eu te encontrei minha vida é só merda, então não, você não vai encostar um dedo em mim, eu acho que minhas pernas aguentam uma caminhada, seja lá onde for dessa vez.
  - Então tudo bem, mas você tem que ficar invisível. – Avisou.
  - Vergonha de mim, big man?
  - Não, digamos que o lugar que você vai é meio – Olhou pra indiferente e continuou – proibido.
  - Uhum, sei. Tanto faz. Agora vira se não quiser ver o meu show. – Esticou-se um pouquinho, buscando a força que precisava para a transformação. Não sabia como estava conseguindo responder tão rápido e coerente, sendo que sua cabeça só dava voltas e voltas e parava no mesmo lugar.
  - Esse show eu quero ver sim. – Pelo menos não mentira dessa vez.
  - Ok então. – estava tão fraca que dava pena, nem conseguia se manter ereta. Sua voz sair tão alta e clara era quase um milagre. Ela faria aquilo o mais rápido que pudesse. Ter os olhos de em cima dela quase a fazia se sentir pelada. Pelada na frente de e de uma câmera, sendo vigiada por sei lá quem, pra fazer sei lá o que. Ela não podia confiar em ninguém, muito menos se deixar levar. Antes de se transformar pegou uma algema em seu bolso e prendeu sua mão a dele, ela fez uma careta, mas ele não ligou. Sua transformação durou no máximo 15 segundos, ficou extasiado com a visão, foi tudo muito rápido, mas perfeito a seus olhos, achara uma obra prima.
  - Cuidado com a baba! – tirou sarro de sua cara, provavelmente as pessoas da cabine estavam do mesmo jeito, surpreendidos com tamanha habilidade e rapidez de sua transformação. Pelo menos estava sendo apreciada.
  - Como você é desagradável. – Balançou a cabeça em negação. – Vamos. – não disse nada, apenas o acompanhou porta a fora. Ao passar pela porta pode observar tudo o que não pode na sua entrada. Correu seus olhos grandes e verdes pela sala pintada em cor metálica. A cor e a iluminação chamaram sua atenção por ser diferente da sala anterior, a mesa de controle também. Havia computadores sensíveis ao toque e tecnologia de ponta, tudo muito bem estruturado, não achou que a dimensão do lugar era tão grande, também não achou que estava sendo observada por tantas pessoas, ainda mais homens. Agradeceu por estar invisível.
  - , você não pode fazer isso, de jeito nenhum, em hipótese alguma! – Disse o medico levantando da cadeira assombrado com a atitude de .
  - Sinto muito , mas ele tá certo, você não pode levar daqui uma mutante recém-chegada sem ao menos fazer um exame, ainda mais ela – Pontou para o lugar que supostamente deveria estar. – que até agora só deu trabalho. E como ela mesma disse lá dentro, está exausta, ela não aguentaria nem fazer os exames hoje. E outra, não é confiável sair por ai com ela, você sabe o porque.
  - Do que ele tá falando? – Perguntou .
  - Ele não tá falando de nada. – falava naquele tom de “porque merda você abriu essa boca”, tentado consertar o erro do Cientista.
  - Você tá mentindo, anda, me fala! – Pronto, o jovem cientista tinha conseguido ascender de novo a raiva de , não é nada. – Mentiu .
  - Eu vou te mostrar o não é nada! – No outro instante já estava tentando se livrar de – numa tentativa idiota – e atingir o jovem.
  - , NÃO. – Alertou , auto e claro, num tom tão frio que a fez parar assim que as palavras saíram de sua boca. O espanto das pessoas na sala era eminente, os olhos do jovem –que agora se arrependera do comentário- estavam arregalados, tentando se proteger de algo que ele ao menos via. – Eu vou levar ela, PRA CONTAR tudo, – talvez não tudo – eu a ajudo, depois mando pra cela.
  - CELA? Ah, tá ficando cada vez melhor! – sendo mais sarcástica que nunca. – Quando eu sair daqui eu vou te MATAR, TE MATAR!
  - ! Assim não dá, essa louca tá me assustando, ela não é normal, ela precisa fazer testes. – Argumentou o magro cientista.
  - Eu nunca disse que era normal, seu marica. Aproveita enquanto você tá vivo, porque você também vai morrer. – Falou alto na direção do jovem para indicar que o alvo da ameaça era ele, ação sem necessidade, porque o coitado entenderia a mensagem mesmo que ela sussurrasse. – Todos vocês vão morrer, e você ‘’BRIAN’’ vai ser o primeiro.
  - Cala a boca, , você nunca matou nem uma mosca, que dirá uma pessoa.
  - Eu acho que você não se classifica nesse setor, todos vocês são uns vermes. – ignorou a sua falta de educação, pediu paciência, desculpa e licença e retirou-se da sala com . Antes de sua saída combinou com as pessoas da sala que a alimentaria, contaria e a traria de volta a cela em no máximo 45:00 minutos. Sua equipe não gostou, mas concordou.
  - Ninguém pode te ver muito menos perceber que você tá aqui, eu sei que você tá cansada, mas você tem que desviar deles, nem respira se for possível. – Alertou .
  - Anda logo. – Apressou-o.
  Ao passar pela ala dois se perguntou o que merda era aquilo, todos pareciam estar super empenhados em trabalhar e fazer o melhor de si, no mundo normal aquilo não seria possível. Todos que passavam cumprimentavam com um sorriso de uma ponta a outra, ato que a deixou intrigada, afinal desde que o conhecera ele estava sendo um parasita em sua vida, lhe tratando mal e lhe colocando na pior situação possível. Perguntou o que fez para merecer tudo isso! Após passar da segunda ala para primeira teve um susto maior, foi aí que não entendeu nada, todas aquelas celas com pessoas como ela dentro a tiraram do serio – again – tinha que pelo menos se manifestar.
  - Que merda é essa?! - Perguntou num sussurro tão baixo que só poderia ser ouvido por alguma espécie de mutante que ouvia a longa distância. Ela nem sabia se esse poder existia mesmo.
  - É a merda em que você vai ficar. – Respondeu como se fosse algo simples.
  - E é assim, nessa despreocupação que você me diz isso? Eu vou te matar seu infeliz.
  - Nossa você vai me matar, “uuuh que medinho”. – Não dava pra medir quem era mais sarcástico.
  - Quer saber, eu não me importo, eu já fiquei em lugar pior. Eu passaria minha vida toda aqui se a minha recompensa fosse tirar sua vida.
  - Xiu! Cala a boca. – urfou de raiva, mas se calou.
  Passaram pela segunda e terceira porta, depois da terceira toda aquela realidade havia desaparecido, era como se aquilo nunca tivesse acontecido, como se ela nunca estivesse ido ali.
  Os passos de era maiores e não conseguia mais acompanhar, será que ele não estava percebendo a sua dificuldade em caminhar? Sim estava, e fizera isso de proposito para testar até onde ela iria. De novo.
  O elevador não demorou de chegar. Estava vazio. agradecera internamente, também, já estava cansada de desviar de um e outro. Cada movimento brusco só a acabava mais. Entraram no bendito elevador assim que as portas se abriram. E lá estava o silencio novamente. Não por muito tempo.
  - ! , você tá com frenesis de novo, , fala alguma coisa! – virou-se para frente de , esperando uma resposta. tinha chegado ao seu limite, ela precisava de comida, de agua, de remédios, sua mente era só um borrão preto, ela não conseguiria manter o equilíbrio. Não conseguiu. – Merda, merda! – O silencio da parte de só comprovava que ela não duraria muito tempo, só que não percebeu, e agora estava lá, caída em seus braços – fortes - novamente, dessa vez ela estava pior, encontrava-se níveis abaixo da que conheceu no estacionamento. Aquela que apesar do vazio nos olhos tinha alegria, agora estava triste e apagada em suas mãos, ele era seu responsável agora, teria que cuida-la e ajuda-la em tudo que precisasse. começara a pertencer a , e a ele.

Capítulo 5 - A explicação

  - Obrigada, Betty. – Disse , abraçando-a e logo após fechando a porta.
  - EU VOU QUEBRAR TODOS OS SEUS OSSOS, ! – Ameaçou , que estava deitada no sofá azul escuro da sala de . Acordou ali, um pouco desnorteada. Demorou um pouco para entender onde estava, até que uma ruiva de óculos apareceu na sala falando pelos cotovelos e ela pode enfim entender – algo lhe dizia para não ficar com ciúmes, que aquela não tinha perigo... Pera, ciúmes de quê? Era só o que faltava. Ela reclamou com por tê-la trazido ali, e por estar num estado tão deplorável, mas mesmo assim o ajudou. Deu um comprimido a , que ela se negou a tomar de inicio, mas sabia que precisava então jogou garganta adentro, e comida – um x-tudo, para ser mais especifica – que ela quase voou em cima ao ver, comeu tudo e ainda reclamou por não ter sido dois. Depois disso foi embora, como uma ótima secretária que era.
  - Nem se você quisesse, ainda está fraca demais, não aguenta nem se levantar, que dirá quebrar meus ossos. – Dirigiu-se a o outro lado da sala, passando por e seguindo reto para sua mesa, chegando lá, sentou despojado sobre ela. Seu jeans haviam se apertado um pouco mais, ação essa que sutilmente observou.
  - Eu ainda estou com fome! – reclamou.
  - Daqui a pouco a vitamina que a Betty te deu vai fazer efeito, ai sua fome passa. – Ele olhava diretamente para janela, como se quisesse evitar uma troca de olhares com , o que os dois sabiam que logo aconteceria.
  - Eu tô com fome de comida. – fez um esforço e se abaixou para tirar seu coturno, ele tinha aliviado bastante ela, a aquecido, mas agora já lhe incomodava. lhe olhou curioso, sem reação por um momento, então seu cérebro deu um estalo, e antes de tirar o primeiro sapato ele estava lá, do lado dela.
  - O que foi? – Ela não pode evitar olhar em seus olhos, ele estava perto de mais. De novo.
  - Eu tiro pra você. – Disse, abaixando-se e tirando o primeiro coturno.
  - Por quê? – É. Por quê?
  - Digamos que você não é muito confiável, e um canivete seja bem fácil de esconder. – Disse tirando sua meia branca com estampa de caveira. Riu dela.
  - Você acha mesmo que eu iria esconder um canivete no meu sapato? – rolou os olhos – É, eu iria, na verdade eu escondo sempre, só que dessa vez eu não estava planejando ser atacada por um maníaco brutamonte sem nenhum motivo! – Desfez o contato visual depois de suas palavras, mas continuava a lhe olhar. Ela não poderia estar com mais vergonha. Nossa, ele é realmente grande, pensou .
  - Maníaco Brutamonte? – Falou em tom ofendido, puxando sem educação nenhuma o zíper do maldito coturno. Será que tinha se sentido tão ofendido assim? Tanto faz, quanto mais ofendido melhor.
  - Sim, burro e lento, porque qualquer pessoa nesse planeta, incluindo os cegos, já teria tirado essa merda de sapato, mas você tá ai fazendo doce e me olhando com essa cara de idiota. E eu não faria isso, não fugiria, eu sei que se fizesse não passaria nem daquela porta. Talvez eu até fizesse pra morrer logo, mas eu não vou morrer, não. Não vou te dar esse gosto. Eu vou esperar mais um pouquinho, fugir e te matar. – Finalizou com um sorriso debochado. adorou o sorriso, ele estava com raiva do que tinha ouvido, pois era verdade, mas não podia negar que estava ficando excitado com a situação. De novo. Fingiu que nada estava acontecendo, terminou o que estava fazendo, deu uma ultima olhada pra e voltou ao seu lugar, lento e gracioso. não entendeu, mas também não se manifestou.
  - , eu vou te contar o porquê da sua estadia aqui. – Voltou a olhar para janela, que dava vista a outros grandes prédios, respirou um segundo como se tivesse buscando fatos, tentando lembrar de algo, no caso a história.
  - Nossa, ele vai me contar. Melhor eu me preparar para o pior! Oh! – Debochou dele.
  - Depois de toda essa situação, depois de ser presa e cair desmaiada em meus braços duas vezes em 24 horas, você ainda debocha de mim? Audaciosa você. – Levantou-se e foi para trás da mesa, procurou algo em algumas gavetas, depois de um pequeno espaço de tempo achou o que procurava. , que antes estava sentada, agora estava em pé parada a alguns metros do alto e musculoso . - Eu não disse que você iria se recuperar rápido! – Disse passando as poucas folhas da pasta que acabara de achar.
  - Não, você disse que minha fome passaria. – passou a mão sobre seus cabelos e colocou-os de lado, para não atrapalhar sua visão.
  - Tanto faz. – caminhou lentamente a frente de sua mesa, dessa vez não sentou, ficou de pé o mais ereto possível, pigarreou um pouco e respirou fundo. Começou a ler o que tinha na bendita pasta. Ela mal sabia que ele iria bagunçar mais um pouquinho o seu mundo. – , conhecida como pelos amigos e parentes. Posso te chamar de , não é?
  - O que é isso? – Perguntou um pouco confusa.
  - Calma você vai entender daqui a pouco, eu vou ser rápido. – Levou seus olhos aos dela, que o encarava buscando uma resposta, e continuou. – Nascida e criada em Leeds, carrega consigo um lindo sotaque britânico. – Enfatizou a parte do lindo. – Não se sabe ao certo como descobriu sua mutação. Huunn...
  - Hey, você investigou minha vida? Ah, é claro. – Fechou os olhos e respirou fundo, se embrulhou num manto de calma e lutou para não soltá-la. sequer olhou pra ela.
  - Continuando... Fugiu de casa aos 14, deixando pai, mãe e irmã na pequena cidade.
  - Cala a boca. CALA A BOCA. – nem piscava de tanta raiva. – Não toca no nome da minha família. – Arriscou dar um passo a frente, mas não conseguia. Preferia congelar ali e ouvir o que ele tinha a dizer, do que botar os pés pelas mãos e colocar tudo a perder.
  - Relaxa, . – Pirraçou. – Me deixa falar! – Rolou o pescoço, dando sinal de cansaço, mas continuou com um entusiasmo inexplicável. - Então, se mudou pra San Francisco por um tempo e depois saiu pelo mundo, sem rumo, eu devo observar. Nunca foi minha praia ficar que nem uma barata tonta de um lado pro outro, acho chato, sabe? Coisa de gente medrosa, burra. – Puto bipolar.
  - Anda, fala logo, seu ogro, continua. – Já estava ouvindo, que ouvisse tudo logo de uma vez.
  - Ainda bem que você tá aceitando numa boa. – Deu um passo pra frente, aproximando-se um pouco da garota. – É melhor pra você assim, sabe?!
  - Aaah, agora um pouco de ameaças pra dar uma apimentada, pra dar um medo na garota né? Já não basta o tamanho, tem que colocar umas palavras duras também, senão não serve. – Disse em tom irônico, jogando sua manta de calma para os ares sem pensar duas vezes. Adeus razão, adeus. caminhou lentamente até , deixando-os a pouquíssimos metros de distancia. tirou seus olhos azuis da pasta em suas mãos e olhou curioso para a pequena – mas destemida – . Ela não se abalou, continuou seu discurso. – Tem que assustar a garota, pra ela fazer o que você quer, pra ela obedecer. Tem que fazer ela se sentir mal e pequena, tem que humilhar, não é? Mas você tá vendo essa idiota, essa burra aqui? Então, ela não tem medo, ela passa por qualquer coisa, qualquer barreira que a vida lhe colocar, aos trancos e barrancos, morrendo, mas ela passa. Porque a vida dela não foi fácil! Eu não vou ser que nem você, te julgar sem saber, eu não sei se você sabe o que é passar a vida inteira só, sem amigos, sem família, sem ninguém! EU SEI, porque cada momento que eu passei foi marcado em minha pele, todo lugar que eu fugia, tudo que eu aprendia, eu ficava pra mim, sozinha, pra não machucar ninguém, pra proteger qualquer pessoa que eu começasse a gostar, eu ia embora. Eu desaparecia, saia correndo com medo. Hunr, coisa de idiota não é? É! Mas eu não me importo, algo de bom tem que acontecer comigo, não é possível! – levantou suas mãos aos cabelos e caminhou de um lado para o outro, estava uma pilha, anos e anos de solidão, sem ter um colo, um ombro amigo pra chorar, era tão triste. E agora ela estava na frente daquele cara – lindo -, que só falou o nome de seus parentes e ela já estava quase desabando, tudo é tão difícil, mas ela teria que se segurar, teria.
  - ... – virou-se, jogou a bendita pasta na mesa, passou a mão sobre os cabelos – estava preocupado. – e voltou a olhar pra ela. – Não foi minha intenção! Ok? Não foi! Esse é o meu trabalho, eu tenho que fazer isso, é minha obrigação, eu não posso faltar com isso.
  - Claro que você não pode! Você tá aqui pra me destruir não é? Então. – A voz de dava pequenos agudos, seu tom elevara um pouco mais do que o habitual.
  - Não, não! NÃO! Eu não quero te destruir, por que eu iria querer isso? Eu só quero te ajudar! – agora andava de um lado pro outro, como .
  - Não parece, seu idiota!- agora gritava de raiva, de decepção com a vida, de tudo!
  - Você tá descontando sua raiva em mim? EM MIM?
  - Você estava fazendo a MESMA COISA há uns segundos atrás, lembra? – Virou de costas e começou a contar.
  - Você tá contando? Por que você tá contando? – não entendeu nada.
  - PORQUE EU TO NERVOSA! MERDA!
  - Mas eu nem te disse nada! E por que você tá gritando?
  - PORQUE VOCÊ ME IRRITA, IDIOTA! EU ESTOU COM RAIVA DE VOCÊ E NÃO POSSO FAZER NADA, VOCÊ SABE O QUÃO AGONIANTE ISSO É? – Reclamou .
  - VOCÊ TAMBEM ME IRRITA, VOCÊ É CHATA. IDIOTA, EXTREMAMENTE IRRITANTE, MAS NEM POR ISSO EU TO GRITANDO COM VOCE!
  - VOCÊ TÁ GRITANDO COMIGO, SEU ESTÚPIDO! – adoraria quebrar alguma coisa, adoraria. Também adoraria transformar toda aquela raiva em bons e quentes amassos. Como podia estar pensando nisso numa hora daquelas? Mal sabia que também adoraria fazer aquela conversão de sentimentos com ela. Porem nenhum se pronunciara.
  - E DAI? VOCÊ TÁ GRITANDO COMIGO, EU SÓ TÔ DEVOLVENDO! – Parou de caminhar, e ficou em silencio por alguns segundos. Tinha que dar um jeito naquela bagunça que estava. - Você vai sentar nesse sofá agora. – Disse calma e pausadamente.
  - O que? No way! Eu não quero, eu sempre ouvi com os ouvidos, não preciso sentar pra fazer isso, então... NÃO! – Parou de trilhar seu caminho vai e vem e cruzou os braços na frente de .
  - Uhn, você é muito mandona sabe, mesmo sem ter o controle de nada você ainda tem o nariz em pé - dava passos à frente a cada palavra dita, não percebia, pois estava começando a se hipnotizar naqueles olhos. – Mas eu gosto disso. Você vai precisar ser assim pra fazer o que eu tenho em mente... – também deu passos - pequenos, mas deu - em sua direção. Logo estavam frente a frente, a um palmo de distância. – Não vai sentar? – se atreveu a passar a mão sobre os cabelos negros de ; ela, com muita força de vontade, só demonstrou indiferença.
  - Não. – Disse com cara de desfeita. Fazendo um biquinho com seus lábios rosados. Aquilo matara , mas ele fingiu que o fato nunca acontecera, estava focado em algo maior. Contar o que ela estava fazendo ali.
  - Então eu vou ter que tomar algumas providências. – Avisou , que não desgrudava um segundo dos olhos de .
  - Só tenho que lhe avisar algo primeiro. – Lhe jogou um sorriso maroto – Você não pode pegar o que não pode ver! – E no segundo seguinte ela tinha desaparecido de sua frente.
  - Querida , eu tenho você e você nem sabe... – Ela não notou, mas ele estava segurando sua mão desde que chagara perto. a puxou rápido e forte contra seu corpo quente. Pode senti-la. Não podia ver, mas podia sentir. E o toque lhe levaria a visão. Assim como um cego consegue ver, por apenas um simples toque. Também pode ouvir a respiração de acelerada. – Vejo que eu tenho lá os meus efeitos... Seu coração até descompassou.
  - Descompassou de medo. – Men-ti-ra.
  - Haah, medo. Ok. Medo de gostar é?
  - Gostar de que? Você é idiota mesmo, ein, se toca. Você não é de nada. – Pisou nele, sem necessidade, pois até os passarinhos que voavam no céu sabiam da sua mentira sem cabimento.
  - Eu odeio isso em você – Reclamou .
  - Isso quê?
  - Essa sua necessidade de se esconder de mim, e me deixar falando só, sem te ver. Tá certo que isso é a sua arma, mas é estranho. – Parou de falar por um instante, segundos depois continuou - E você se fazendo de idiota, dizendo que eu não sou de nada, mas tá ai louca por mim, doida pra eu te apertar mais forte. Você deve estar bem desesperada, afinal, só veio parar aqui porque me deu mole.
  - Estranho mesmo é você se esfregando em mim.
  - Eu não tô me esfregando em você, apenas estou me certificando que você não fuja. Se você quiser que eu te solte é só voltar ao normal. – continuou segurando sua cintura, até que ela voltasse.
  - Pronto! – Agora ele poderia ver o lindo e escultural rosto de novamente.
  - Pronto! – Ele repetiu a frase de . Era pra tê-la soltado, mas não fez.
  - Eu não preciso fazer nada, absolutamente nada, pra provar que você que tá me querendo. Olha sua cara, eu não encostei um dedo em você, mas você faz questão de me segurar o mais perto de possível pra tirar proveito, eu já disse que não vou fugir. Eu já disse. – não estava mais de graça. Continuaria grossa como sempre.
  - Ok, eu vou te deixar achando que te quero pra você se sentir melhor, sabe?! – fuzilava com os olhos – Mas você precisa saber que tem tanta mulher melhor que você, mais bonita, mais gostosa, com muito mais educação e classe... E todas elas estão aos meus pés, na hora que eu bem entender - a segurava com força e intensidade, tinha um olhar superior. , por sua vez, só o olhava-o, tentando entender onde ele queria chegar. – Então, você pra mim não é nada. Eu só quero bagunçar você mais um pouquinho, só isso.
  - Ótimo! Você não faz diferença na minha vida e eu não faço na sua. –Olhou-o com o maior desprezo que conseguiu – Agora me solte, por favor. – ficou sem ação pela primeira vez, esperava outra atitude dela. Como ele sequer se mexeu, ela colocou suas mãos nas dele e tirou-as da sua cintura, deu um passo para traz, virou-se e foi direto para o sofá. Chegando lá, sentou-se com as pernas cruzadas e colocou a mão suavemente na cocha, agindo como se nada tivesse acontecido. – Estou esperando.
  - Ótimo. Agora que está calma vamos continuar. – Deu uma ultima olhada para , que o olhava com uma expressão “estou esperando, idiota”. Olhou para sua mesa, e caminhou alguns passos para buscar a pasta que fora jogada lá anteriormente, mas no meio do caminho desistiu, voltou-se para e se deparou com ela olhando para seu bumbum, sem nem disfarçar. Quando ela percebeu que ele tinha a pegado no flagra suas bochechas ferveram e ficaram da cor de vermelho tomate. Ela deveria ter se segurado, mas não aguentou, precisava dar uma olhada. Ele ainda tentou dizer alguma coisa, mas desistiu - outra vez. Ficou um pouco lisonjeado, e um pouco com vergonha, mas continuou seu caminho até o sofá, e sentou ao lado de .
  - Eu vou direto ao assunto antes que você me interrompa e estrague tudo. Eu quero que você me ouça até o final sem perguntar nada, ok? – se endireitou no sofá para ficar em sua frente, e acenou que sim com a cabeça, então ele continuou. – Em primeiro lugar, eu sou , tenho 25. Nada muito importante, pra falar a verdade... – prestava atenção em cada palavra, guardava cada uma em sua mente para não esquecer. – Hhmm. Nasci em Berlim, na Alemanha, sou um dos poucos casos reconhecidos de mutação fora da Inglaterra. Descobri meu poder aos 12, e não consegui esconder dos meus pais, mas isso não foi problema, eles me apoiaram. Não adiantou muito, na minha adolescência eu não tinha controle dos meus poderes, era muito estressado, bruto e sem noção. Comecei a tomar decisões erradas, a machucar os outros sem motivos, comecei a ser mal, deixei de me importar. E tudo isso afetou todos a minha volta... Digamos que eu não era discreto, ninguém podia falar comigo que eu respondia mal, mas eu precisava disso pra viver, precisava maltratar os outros para me sentir melhor, era como se fosse tirado um peso das minhas costas ao maltratar alguém que era importante pra mim. Eu me sentia culpado por ser quem eu era. Quem eu sou.
  - Olha... Não precisa me contar se você não quiser. – avisou. As palavras dele estavam lhe cortando o coração, porque ela sabe exatamente o que ele passou, com ela foi de uma forma diferente, mas o conceito era igual. Ela só sabia olhá-lo com pena, sentiu vontade de abraçá-lo, mas conteve-se.
  - Não, eu tô bem, só... – limpou a garganta. – Só me deixa continuar. – A voz de que anteriormente soava fria e ameaçadora, agora estava calma e leve. Talvez o seu passado fosse um ponto fraco, assim como o de era. – Bem, eles me acharam, e a minha família.
  - Eles quem? – A voz de saiu um pouco mais aguda do que esperava. Pigarreou um pouco, e arregalou seus olhos para esperando uma resposta.
  - É essa a parte que eu quero chegar. Eles, os humanos, esses seres medíocres, hipócritas e podres. Eles destruíram a parte boa que existia em minha vida. Eles tiraram a parte boa que ainda me restava. O amor, a compaixão, tudo se foi e só ficou esse vazio que eu sou hoje. Um nada. Eles me investigaram e me descobriram, deve ter sido fácil, porque eu só andava em festas, baladas, em lugares sujos, que qualquer um acharia. A culpa foi toda minha, . Toda minha. – olhava o chão, estava confuso, triste e amargurado. Podia sentir de longe a angustia em sua voz, como ele não tivesse contado em voz alta aquela história há muito tempo. não sabia o que fazer. Não sabia se falava ou se calava, se ficava parada ou se o abraçava. Por fim decidiu se calar e ficar assim. Foi o melhor a se fazer, por hora. – Assim que me acharam, tentaram me matar, mas não foi fácil assim, eu não deixaria eles me derrubarem sendo que tenho um poder tão promissor como esse, ah não. – Ele passava a mão na cabeça, em sinal de nervosismo, mas não parou de falar um segundo sequer. – Eles vieram, tentaram me derrubar, mas não conseguiram. Um atrás do outro, e eu matei todos, sem dó nenhuma. Aah, a sensação de matar... Você se sente tão superior e maior. Seu copo se enche de algo que você pensa que é bom, que nunca vai acabar. Seu ego vai lá em cima e fica. É algo tão errado, e ao mesmo tempo tão cativante. – não se conteve sentado, levantou-se num segundo e começou a andar, impacientemente, de um lado para o outro. – E quantos mais vinham, mas eu matava, e mais me sentia bem. E esquecia os meus amigos e família, estava ocupado demais me livrando deles. Até que um dia eu cheguei em casa e estavam todos lá... Mortos. MORTOS, . POR MINHA CAUSA. E MEU MUNDO DESMORONOU. – Quando as palavras terminaram de sair de sua boca, só conseguiu lembrar-se de sua irmã, de toda a dor que ela demonstrou ao perder o seu amor. Exatamente no dia de sua fuga. E não conseguiu mais se segurar. As lagrimas vieram como um rio, sem aviso nem prévias. Ela não queria aquilo, não agora. Ela não precisava, não podia não.
  - Não, não! NÃO! – deu pequeninos gritos de negação que quase não poderiam ser ouvidos. Não queria que ele a visse assim nesse estado, não queria que NINGUÉM a visse naquele estado, chorando como uma criança pequena, querendo colo e proteção. Mas passara tanto tempo guardando magoas e sentimentos que foi inevitável não chorar. Levantou-se – também – e foi direto a uma parede do lado esquerdo da sala, virou pra frente, encostando sua cabeça nela, e desabou a chorar. Não se importava mais se ele estava lá, tanto faz! Foda-se. Ela só queria se livrar de todo aquele peso. A seguinte atitude de lhe deixou levemente confusa.
  - ... – E lá estava ele, atrás dela, querendo algo que ela não sabia o que era outra vez. Ele tem sido tão bipolar. Ela também, talvez. Não se pode negar. – Vem. – Colocou as mãos sobre seus ombros e a virou lenta e delicadamente. olhava para o chão, como fazia em sua infância, seu rosto estava levemente inchado, suas bochechas mais vermelhas, os seus lábios estavam mais grossos e seus olhos brilhavam por causa das lagrimas. Estavam frente a frente. – Olha pra mim – pediu. negou com a cabeça. – Vamos lá, eu sei que é difícil... – Passou a mão sobre seus cabelos, colocando-os atrás da orelha e levantou seu rosto com as mãos, fazendo-a olhar diretamente em seus olhos azuis. – Mas isso vai mudar. Vai passar, vai melhorar. Você vai ver! – Por que a sua voz parecia tão reconfortante e angelical? Era como se ele dissesse a mais pura verdade, como se tudo fosse realmente ficar bem. – Pode levar algum tempo, mas essas feridas aqui – Pegou sua mão juntando a dela e colocou no coração. – vão sarar. Elas cicatrizam, daí a gente começa a viver algo novo e melhor, e só ficam as lembranças. Vai passar, eu prometo. – olhava dentro dos olhos de , o que deixava o que ele falava parecer mais verdadeiro ainda.
  - Se contar isso pra alguém eu te mato! – Foi o que disse antes de se enroscar em seu pescoço e abraçá-lo, um abraço fraco, mas sincero, cheio de lagrimas. não esperava que ela fosse o abraçar, mas assim que entendeu o que estava acontecendo, tratou de abraçá-la de volta, forte e reconfortante. Assim que ele retribuiu o abraço, o apertou mais forte, e seu choro aumentou. Mas ele estava lá para segurá-la, como se lá sempre tivesse sido o seu lugar.
  - Vai ficar tudo bem... – Enroscou seu braço em sua cintura e levantou-a, se assustou um pouco, mas não disse nada. Queria chorar o quanto pudesse, se fosse ali que ela teria que chorar, seria ali que choraria. colocou a outra mão sobre seus cabelos e levou-a novamente ao sofá, dessa vez recostada, quase deitada. – Você quer alguma coisa?
  - Hun-hun. – limpou as lágrimas que teimavam em sair sem a sua permissão.
  - Eu sinto muito... – Começou a falar, mas foi interrompido.
  - Não se desculpe. Isso nunca aconteceu! Ok? – Perguntou.
  - Isso o quê? – Perguntou, dando um sorrisinho bobo.
  - Essa tragédia. – Respirou. –Desculpa.
  - Não foi nada... Você deve ter passado por muitas coisas.
  - NÃO. Por favor, não fala sobre mim de novo. Só... Só me conta o que aconteceu. – Pediu.
  - Tem certeza? – a olhava com um olhar preocupado, como se quisesse cuidar dela.
  - Hunrum, antes que eu mude de ideia e saia correndo daqui.
  - Nem se você quisesse. – arqueou a sobrancelha direita e deu um sorriso. Tão encantador e cativante. A fez querer rir também.
  - Ande logo, seu inútil, conte logo. Eu não vou chorar em seus braços outra vez, não precisa se preocupar. – avisou.
  - Você pode chorar em meu ombro a hora que quiser. – Sua resposta inusitada e instantânea fez ficar envergonhada, e se questionar se realmente poderia chorar em seu ombro. – É bom saber que você tem suas fraquezas.
  - Quê? – Olhou incrédula.
  - Você... Como posso dizer? Hunn... Seu ponto fraco é a sua família, seu lado pessoal, você é muito pra dentro, fechada. Sempre foi sozinha, talvez tenha lhe amargado, ou não, não sei. Mas você também tem essa coisa, essa coisa que a faz parecer imbatível, já fez grandes coisas. Você pode até não achar, mas passar tanto tempo fugindo sem ser pega sequer uma vez é de se admirar. – Confessou. sentiu suas bochechas queimarem. Desviou seu olhar para outro ponto da sala, onde seus olhos não pudessem encontrar os dele.
  - Você vai ou não vai contar essa porra de história? – Reclamou.
  - Tá, eu vou ser breve.
  - Bom. – As lagrimas ainda teimavam em escorrer em seu rosto, só que sem tanta intensidade. Ela limpou-as novamente, respirou forte e focou-se totalmente no que iria dizer.
  - Então, quando isso aconteceu, eu fiquei louco, com sede de vingança. Eu estava só no mundo pela primeira vez, nunca me senti tão mal em minha vida. Só pensava em matar. Eu fui lá e os cacei e matei parte deles, uma grande parte, só que para cada humano que eu matava um mutante vinha atrás de mim a mando de alguém, alguém com poder, que tinha domínio sobre algo muito grande, só que eu não sabia quem. Um dia, enquanto caçava-os, eu fui cercado, caí numa grande emboscada. Primeiro vieram humanos, como se fosse peões, eles vieram com intuito de me cansar, como se fosse uma pequena previa do que viria pela frente, mas não foi trabalho derrubá-los. Logo após a caída do primeiro grupo, outro grupo médio, de mutantes dessa vez, me encurralou e eu não tive como fugir. Naquele momento eu estava certo da morte, que ela viria e me tranquilizaria me faria deixar de me sentir um lixo ambulante como eu me sentia. Mas não aconteceu. – parou um instante, respirou fundo, e olhou quase que instantaneamente para uma porta retrato que se localizava em cima da sua mesa de trabalho. percebeu seu olhar para o objeto, se perguntou mentalmente quem era aquela mulher que estampava um sorriso grande e irradiante junto a ele na foto com efeito preto e branco. Não podia ser sua mãe, já que ele já estava rapaz na foto, parentes ele não tinha. Seria uma amiga? Se fosse, ele deveria gostar muito dela para colocar essa foto em sua mesa. Será que era uma namorada? Ele tinha namorada? UMA NAMORADA MAIS VELHA? Por que aquilo a incomodara assim de imediato? Pera aí, ela estava incomodada? Merda. Não , foco. Foco na história.
  - É... O que aconteceu? – Perguntou , deixando sua posição despojada e sentando-se ereto ao lado dele, precisava do contato visual, tinha que olhar em seus olhos. Pensou em perguntar quem era a pessoa do maldito porta retrato, mas se conteve.
  - Hurun – pigarreou, e levou seu olhar ao de , que lhe olhava curiosa, então continuou. – Eles me atacaram, eu resisti por um tempo, mas estava em desvantagem e não consegui passar muito tempo lutando. Logo estava em suas mãos, sendo espancado, de forma fria e covarde. Não podia chamar de injustiça, afinal, eu já tinha feito isso inúmera vezes. Sentia-me no dever de apanhar, de morrer. Eu deixaria aquilo acontecer se não tivesse sido salvo. – Foi interrompido por .
  - Como assim salvo? Depois de tudo isso você tem a sorte de achar uma alma caridosa pra te salvar? Cara, você não pode reclamar de muita coisa.
  - Calma, eu vou explicar. – Cresceu suas pupilas e juntou as sobrancelhas, num movimento único que expressava desaprovação e impaciência. não deu a mínima.
  - Então explica logo, merda! – Reclamou, como sempre.
  - Você é muito bocuda. – Rolou os olhos.
  - E você é muito lento, acho que já disse isso. – Observou.
  - Merda, você é muito idiota, tem sorte que eu não posso fazer nada contra você.
  - Você poderia me bater, me torturar, me matar e ainda assim eu não deixaria de ser assim nem no ultimo minuto. Porque isso é o que eu sou, o que eu aprendi a ser, e não vou mudar.
  - Ok, mas isso vai ter que mudar.
  - Vai ter que mudar uma...
  - Xiu! – Quanta teimosia numa sala só, estava ficando sufocante.
  - QUE MERDA CARA, CONTA LOGO ESSA DROGA DE HISTÓRIA, PARA DE ENROLAR, EU NÃO AGUENTO MAIS, EU TÔ CANSADA! ANDA!
  - A princesa se irritou, hhhmn, que peninha. – Fez biquinho, um biquinho super irônico – e sexy também – que a fez se segurar para não tomar atitudes mais serias naquele momento. - TÁ, TÁ!! Então fica quieta logo, para de escândalo, pra tudo você faz um escândalo. Você adora chamar atenção. – levantou e caminhou em frente, até chegar num frigobar instalado no final da parede – que ainda não tinha visto –, pegou uma bebida qualquer e voltou ao seu lugar, sentando-se despojadamente no sofá. , não pode evitar acompanhar seu caminhar com os olhos.
  - Educação com você é algo que não existe né? - Segurou sua língua pra não completar com um "Não achou quem te desse" mas calada estava, calada ficou.
  - Aah, me fugiu da mente que você poderia querer. Quer do meu? – Opa, volte um segundo. Ele estava se insinuando?
  - Eu quero morrer! Quero saber o que eu fiz pra estar aqui sozinha com alguém como você pela 10º vez ou mais! – Reclamou , batendo seus pés no chão num movimento freneticamente descompassado.
  - Outras garotas morreriam por dois minutinhos sozinhas comigo. Pra ir ao céu comigo. – E a modéstia, fica onde? Pensou .
  - Olha pra mim – Pediu – Eu tenho cara de “OUTRAS GAROTAS”? Isso aqui tem cara de paraíso? Eu acho que não.
  - Porque eu não quero. – Disse olhando pra garrafa.
  - Haha. – tinha os cotovelos apoiados sobre suas coxas que ainda balançavam. Perguntou-se o que ele fez pra mudar tão rápido, tinha ego naquela bebida? - Meu bem – parou de balançar seus pés, virou-se pra e terminou – Quando um não quer dois não brigam.
  - Ok. Você não quer nada, eu também não te quero, você é muito chata, mandona, fala demais e várias outras coisas, não gosto de mulher assim. Então vamos continuar minha história que tem muito mais futuro. – Entornou a garrafa e virou-se pra . – Podemos?
  - Claro. – Ela respondeu com um sorriso no rosto, mas por dentro estava queimando de raiva. Como assim “Não gosto de mulher assim?” Assim como? Linda e maravilhosa como ela? Não a queria? Sério? Um murro na cara dele seria tão doce. Mas não daria o braço a torcer nem por um milhão de libras.
  - Bem, foi tudo muito rápido. Num segundo eu estava no chão, à beira da morte, no outro estava largado naquele lugar. Outro grupo de mutantes chegou eles mataram facilmente os que me atacaram. E eu não vi mais nada, só uma mulher, ela era um pouco mais velha, loira e alta e branca, não consegui ver mais detalhes porque apaguei.
  - Eeee... – Incentivou .
  - E, quando acordei estava aqui, no mesmo lugar que você estava hoje. Eu vi você em mim hoje, . Foi assim que eu agi, com raiva e desespero, mas a Emma me ajudou.
  - Emma?
  - Sim, foi ela que me resgatou na noite e me ajudou, ela que deu um novo rumo à minha vida. – queria sumir, por que ele estava falando dela com tanto amor e compaixão, mas era tão grosso e hipócrita com ela? Quem era essa mulher? O que ela tinha? Não. Não perguntaria nada, de jeito nenhum.
  - Bem vaga essa sua descrição...
  - É, eu sei, vaga que nem ela. – Passou novamente as mãos aos cabelos, já tinha percebido sua mania.
  - Não gosto de coisas vagas, são muito... Vagas.
  - Tem o direito.
  - Sim, eu tenho. Pode continuar? – Cortou-o.
  - Claro. Ela fez comigo o que eu farei com você agora. –Levantou-se num segundo e dirigiu-se para trás de sua mesa, levantou-se no segundo seguinte, precisava ficar atenta a tudo, ele não era confiável.
  - QUE PORRA É ESSA? – reclamou, ele riu dela. – Qual a graça?
  - Você. Eu. Todos. Sempre a mesma coisa. E desde que aprendi eu não me canso de fazer. – Continuava rindo de canto. Abriu uma gaveta do lado esquerdo e tirou uma pasta azul de dentro dela, em seguida abriu-a. Despreocupadamente, procurou um pouco por algo e retirou de lá uma um papel escrito à mão na cor azul claro e lhe estendeu-o. ficou perplexa. – Senhorita , você foi recrutada e escolhida para entrar na FCH. Parabéns.
  - O quê? Escolhida? FCH? Parabéns? O QUE? Eu acho bom você explicar logo isso. – Disse, caminhando lentamente para sua frente. A irritação era eminente em sua voz.
  - Hunr – rolou os olhos. – Você, como sempre, mal informada... Vou explicar. Você foi escolhida para “servir” a nossa fundação, a Fundação Contra Humanos. Pouquíssimos são escolhidos para participar dessa Fundação, você foi uma delas, por isso os parabéns. – andou mais um pouco e pegou papel que ele lhe oferecia. Precisava digerir. Deu uma passada, não ajudou muito. - Não te obrigaríamos a ficar, mas você não tem opção, se você não ficar eu não te dou nem dois dias viva. – tinha uma expressão seria, estava falando serio. também estava, para sua alegria.
  - Então eu seria morta pelo simples fato de você ter me capturado? – Ele assentiu. - Ok, quem me mataria? – Ela continuava a olhar o documento.
  - As mesmas pessoas que queriam me matar aquela noite. – a olhava, procurando uma reação que não vinha. Ao ouvir quem teoricamente a mataria, ela apenas fez sinal de “ponderação” balançando a cabeça de um lado ao outro.
  - Ok. Por quê? – Deu mais alguns passos, puxou a cadeira em frente à mesa e sentou-se despojada. não esperava toda aquela tranquilidade, mas já que ela estava assim, ele a deixaria. Sentou-se também e começou sua explicação.
  - Porque é por isso que a fundação existe, para destruir, matar e aniquilar todos os humanos que tentam, diariamente, nos matar. Para acabar com todos os humanos que destruíram nossa vida, família e amigos. Eles nunca entenderam que nós somos diferentes, mas continuamos normais. Nunca entenderam que podemos sentir e que sofremos; por esse motivo, . Não podemos vacilar, eles são fortes, estão em maior quantidade que nós, eles sabem quem temos no corpo de luta, apesar de fazemos de tudo pra deixar tudo em sigilo, e além da tecnologia que eles possuem, eles ainda tem os Dirtors, os traidores. – Fez cara e voz de nojo - Aqueles que são da mesma espécie que nós, mas se sujaram e foram para o lado oposto. Eles recebem ordens. São tratados como animais. São fieis até a morte, tudo que seus instrutores mandarem, eles tem a obrigação de fazer, pois são controlados por chips cerebrais que são controlados direto da sua fortaleza. - Nojo, desgosto e repúdio poderiam ser palavras que serviriam para descrever a cara que ele fazia ao falar dessas pessoas. - Você não teria como fugir, eles já sabem quem você é e onde você está. Na verdade, a intenção deles era te capturar e lhe fazer uma Dirtor, mas eu fui mais rápido. Se não fosse eu agora, sua vida provavelmente teria acabado. Não precisa agradecer.
  - E o que te faz pensar que eu não quero ir para o lado deles? – terminava de ler a segunda folha do bendito documento.
  - Eu sei. Apenas sei.
  - Pelo visto você não sabe de muita coisa, não coisas sobre mim pelo menos... Tem informação aqui que estão erradas.
  - Tipo o quê? – não gostou do desinteresse de sobre o que era a sua vida, o seu destino. Por que ela não ligara?
  - Eu não tenho 1,65 tenho 1,67. Nunca fui à China como diz aqui, apesar de ter pensado em ir fazer umas comprinhas. Nunca tive cabelo curto, muito menos ruivo – Riu da falta de informação dos documentos – Sua equipe é bem desatualizada. – Terminou, jogando o papel sobre a mesa.
  - Nada que não possa ser resolvido. – olhava para fora, centralizando seu olho em um prédio que estava em sua direção. Fazia todo descaso que podia a . Parecia estar irritado.
  - Verdade... O que eu ganho ao participar dessa parada? – Assim que percebeu o descaso do seu quase parceiro de aventuras, passou a tratá-lo da mesma forma.
  - Você ganha de acordo com o que você faz. Se lutar bem, ganha comida melhor. Se seguir as regras, roupas melhores. Se conseguir matar um deles, ganha o direito de sair. E assim por diante, até subir de “cargo”, até conseguirmos acabar com todos eles. – O vento que vinha da janela aberta, batia em seus cabelos e o deixava ainda mais bonito, parecia um deus sentado ali em sua frente. lutou para manter sua atenção.
  - E se eu quiser sair? – Tentou não olhar diretamente em seu rosto.
  - Dependendo das circunstancias, você pode sair.
  - Eu vou fazer isso só? - perguntaria o que precisasse.
  - Não, vai fazer parte de uma equipe.
  - Estamos negociando, não estamos? Então faça o favor de olhar pra mim. – Vê-lo olhando pro nada era irritante. tirou seus lindos olhos azuis do nada e voltou a olhar para .
  - Cansaço. Não exija muito de mim, eu passei as ultimas 24 horas só cuidando de lhe prender, e foi um pouco cansativo. Você não é a única, , eu faço isso diariamente, desde capturar até essa ultima parte, sozinho. Eu estou sem dormir há dias, e você me cansa mais ainda. – soava frio. Não se importava. Mas não se sentiu culpada, ela só estava tentando entender aquela bagunça, e resolver se faria parte dela.
  - Ok, mas eu tenho que perguntar, ou você acha que eu vou fazer parte de algo sem saber nem as coisas menos importantes? – Não soou tão fria como planejara, talvez um pouco irritada.
  - Não tenho muito tempo, então pergunte.
  - Não quero.
  - Agora você vai pirraçar?
  - Não. Eu estou dentro. Não sei se reparou, mas eu não tenho vida, , não tenho ninguém, não tenho nada. – Pegou uma caneta qualquer em cima da mesa e foi assinando folha por folha do documento. - Eu farei isso por mim, por nunca ter tido nada. Esse será meu presente, ou pesadelo, eu não sei. – Assim que acabou de assinar levantou-se. seguiu-a com o mesmo movimento. - Não precisarei me esconder, não precisarei fugir. Eu estou cheia de fazer isso, foi assim por toda a minha merda de vida, então sim, eu topo. – Uma carrada de sentimentos embriagava seu rosto e tomavam cada parte, misturando-se, não podiam ser descritos numa só frase. tinha se decidido.
  - Boa escolha, . – não gostou da sua “intimidade”, mas também não contestou. Seus olhos se entrelaçaram mais uma vez. E o silencio invadiu a sala sem pedir licença, fazendo com que os dois esquecessem onde e o que estavam fazendo. Isso não deveria acontecer. aceitou a proposta, mas não queria se envolver com . Na verdade, pensou que não o veria mais; uma vez ou outra num corredor qualquer, quem sabe, mas nada demais. Achou que não precisaria conviver com outro ser frio como ela. Ela queria distância. Não, ela não queria, mas precisava. MANTER DISTÂNCIA DE BRIAN. DISTÂNCIA DO QUE ELE ERA, DISTÂNCIA DO SEU CORPO E ESSÊNCIA. E seus olhares desentrelaçaram.
  - É... - tinha certeza que a parte coberta do seu corpo estava fora de seu controle, invisível. Precisava sair dali, logo. – Pode me levar.
  - Claro. – pegou seu celular e teclou alguma coisa que não foi visível aos olhos de . Segundos depois guardas adentravam pela porta, e naquele momento entendeu: era hora de ir. Dirigiu-se ao sofá e pegou seus sapatos, amarrou um cadarço a outro e colocou-os sobre seu pescoço. Logo depois foi ao encontro dos guardas com as mãos juntas. Para que lhe fosse colocada às algemas. observava cada movimento, ela podia sentir. Já saia pela porta, quando lançou o ultimo olhar a ele, tratou de gravar cada traço de seu rosto para tatuá-lo em sua lembrança.
  - Boa sorte, . – Foi a ultima coisa que disse. não respondeu, apenas sorriu de lado e seguiu seu caminho.

Capítulo 6 - Você? Outra vez?

  Lá estava , afogada em seus pensamentos, deitada na cama dura e estreita que fora lhe concedida. Seu cérebro trabalhava como uma engenhoca girando e intermediando os fatos, tentando liga-los e entende-los. Foi assim que passou noite inteira, pensando no misterioso e nas poucas informações que lhe foram dadas. No que faria dali pra frente, e se conseguiria conviver com outras pessoas, pela primeira vez sem se esconder. Não sabia se seria capaz, se aguentaria o desafio. Tudo aquilo lhe dava medo. Medo... Depois de muito tempo ela voltou a senti-lo, tudo isso por causa do bosta do que lhe capturou sem nenhum aviso prévio e ainda teve a audácia de dizer que tinha salvado sua vida, até parece. Seus olhos percorriam as paredes sujas e cinzas de sua cela. Ela tinha a iluminação precária e era desprovida de qualquer luxo ou móvel extra. Apenas uma porta a direita que dava para um apertado cômodo que deveria ser chamado de banheiro, estava um pouco sujo por sinal, alguém muito porca deveria ter passado por ali. odiava sujeira, pegou esse ódio de sua mãe e apesar da distância e falta de convivência não mudou a o hábito de odiar. Teve vontade de mudar de opinião e sair de lá correndo quando se viu trancada naquela porcaria de cela. Onde estava com a cabeça pra aceitar uma bobalheira daquela? O que iria ganhar? Ela não já tinha tudo? Tinha? Tinha!
  - Burra! – Murmurou para si mesma.
  Burra. Burra. Onde estava quando aceitou aquilo? Merda.
  Sua mente borbulhava, mas permanecia intacta sobre o colchão velho. Queria usar o banheiro, mas não teve coragem o suficiente pra enfrentar aquela porcaria. Com certeza reclamaria sobre aquilo assim que pudesse.
  Minutos depois de mais uma vez trabalhar incansavelmente para tentar descobrir porque ficara resolveu deixar aquilo de lado e descansar em paz pelo menos o resto da noite. Se daria aquela folga, afinal estava segura. Num chiqueiro, mas segura. Decidiu se camuflar por vias das duvidas, mas quando estava finalmente dormindo foi interrompida. Outra vez, agora não mais pela voz em sua cabeça.
  - Oh, merda, quem você pensa que é? Eu disse que vim aqui porque quis, não foi? E ainda fui colocada nessa celinha lixo. – Um barulho forte veio da cela. Parecia que alguém tinha tentado a atacar. não entendeu de inicio. - Como é burro, você acha mesmo que me segura com essa arminha frouxa ai? Vocês precisam de guardas mais preparados! – Gritou a mulher com voz fina, que parecia vir da cela vizinha que antes se encontrava em pleno silencio. –Tira essa lentezinha que eu te mostro o que é bom, tira e eu te faço sentir a pior dor do mundo bem no meio de suas pernas, bem nos seus ovos. – Soava arrogante. continuou em seu posto de descanso, mas resolvera ouvir a conversa - discussão – que acontecia na cela ao lado.
  - Se você não se acalmar, eu terei que sedá-la. – Avisou o guarda – Amanhã, quando você for escolhida, poderá reclamar de qualquer coisa que esteja lhe incomodando. Amanhã. Não complique as coisas pra mim, um simples guarda, por favor. – não soube como, mas ouvia a conversa com extrema facilidade, a boa audição nunca fez parte das suas qualidades, seria bom obtê-la como parte delas. – Não quero me complicar nem ficar taxado. Ainda mais com uma moça bonita como você. – Depois do comentário assanhado do guarda, teve uma pontinha de curiosidade pra ver quem era a valentona que ele estava cantando. Continuava imóvel.
  - Você tá me cantando? É isso? – Bufou em desaprovação - Anda, sai daqui agora, desinfeta! – Chutou o guarda com a ponta dos pés e foi novamente trancada em sua cela. riu da situação, se fosse ela com certeza teria feito pior.
  Depois disso, não ouviu mais nada, tudo voltou ao silencio de minutos antes. Silêncio esse que não era tão silencioso assim, pois o lado masculino hora ou outra fazia uma reclamação, uns se rebelavam e batiam por entre as grossas paredes de suas celas, mas nada tão ruim que lhe impedisse de tirar o seu precioso e necessitado sono. Logo, se camuflou e dormiu.

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  Já era dia quando o barulho delicado do salto alto sobre o piso amadeirado ecoou pela grande e espaçosa sala de . Assim que ela entrou no cômodo, seu cheiro se espalhou e impregnou todo o ambiente. Andou até o outro lado da sala e deixou sua bolsa e casaco em cima da mesa, pôs-se a observar , que dormia como um anjo cansado em seu sofá. Ele não tivera tempo de ir para sua casa no outro lado da cidade. Tirou o sapato preto devagar para não fazer barulho, e caminhou lentamente até o sofá que o grande e angelical homem dormia sem camisa. Sentou ao seu lado e pôs-se a observa-lo, fitava cada detalhe de seu corpo e face. Então ele acordou.
  - Chloe... – Chamou preguiçoso ainda sem abrir os olhos.
  - Quê? – Riu tímida e colocou alguns fios de seu cabelo loiro, quase branco, atrás da orelha.
  - Você. – finalmente abriu seus olhos.
  - Eu o que? - Ria travessa, buscou o olhar dele aos seus.
  - Você vem aqui, mesmo sabendo do perigo. Eu já disse que não quero você fazendo isso. – Se ajeitou no sofá, e entrelaçou a mão ao seu cabelo negro despenteado, arrumando-o.
  - Se eu venho é porque eu tenho meus motivos. Você nunca tá em casa, e eu sinto saudades... E além do mais, nós temos assuntos pra resolver. – Sorriu safada.
  - Eu sei que estou falhando com você... Me desculpa, eu prometo que melhorarei. – Ignorou a insinuação da namorada e olhou ao redor procurando sua camisa.
  - Pode começar melhorando isso agora, né?! – Chegou mais perto de seu definido tórax e começou a beija-lo de baixo para cima, sujando sua barriga com o seu batom rosa avermelhado.
  - Chloe... Eu acabei de acordar... – Reclamou, e continuou a procurar sua bendita camisa.
  - Eu não ligo. – Continuou com sua sessão de beijos, dando pequenas mordiscadas em sua pele definida.
  - Eu sei. – Desistiu de procurar sua roupa, e puxou-a para perto, a fazendo parar quando já estava no seu peito. Olhou em seus olhos, que o fitavam com firmeza e ansiedade por um beijo e disse: - Mas aqui não. – Depositou um beijo em sua bochecha e saiu do sofá, deixando ela no mínimo desapontada.
  - Idiota. – Resmungou, deitando-se no sofá. – Se aqui não pode, então porque você não voltou pra casa ontem? , eu tenho minhas necessidades, não sei se você se deu conta, mas eu tenho! – Rolou os olhos.
  - Eu sei, meu amor, eu sei... Eu cuidarei disso. – Disse, pegando e vestindo sua camiseta, que estava jogada no canto do outro lado da sala.
  - Ok, mas você não me disse por que dormiu aqui hoje. – Questionou-o e esperou uma resposta convincente. Que não veio.
  - Porque sim! – Respondeu o que uma criança responderia. Não queria mentir para Chloe.
  - Desde quando você responde esse tipo de pergunta com esse tipo de resposta? Você já deu respostas melhores e mais convincentes, . – A forma que estava deitada deixava seu vestido roxo despojado mais curto do que já era, o que chamou a atenção de , que parou para admirar a linda visão de sua namorada. – ! Acorda! – Rolou seus olhos castanhos azulados mais uma vez.
  - Não tenho culpa de você ser tão linda e gostosa... – Desconversou. Chloe lhe olhou enfezada. Ele teria que responder, já sabia. Então buscou um pouco de ar e foi a sua mesa arrumar os muitos papéis que se encontravam espalhados por toda ela e começou a explicar. – Eu tive que assinar alguns papéis... Fazer algumas anotações e avaliações pra ver quem vai fazer parte do meu time. Quando eu terminei já estava muito tarde, então eu decidi ficar aqui. Por sua causa – enfatizou a parte do sua – eu não fui. Só iria te acordar e te atrapalhar se tivesse ido. Preferi deixar você lá, linda, maravilhosa, quietinha e a salvo. Foi isso, meu bem.
  Claro que ele não falaria em hipótese nenhuma que tinha passado quase o resto da noite toda pensando em . Nunca admitiria que havia pensado em seus picos de emoções, sua beleza e personalidade forte. Não ele.
  - Nem pense que me comprou com essa historinha de que queria me proteger. Como se você não soubesse que eu adoraria sua presença lá, perto de mim. – Em um movimento devagar e preguiçoso sentou no sofá que a apenas horas atrás também tinha sido habitado por . – Eu quero você agora, . Agora. Vamos pra casa, você precisa descansar. – Levantou decidida, foi até onde tinha deixado os seus sapatos e calçou-os. ainda arrumava os papeis, mas automaticamente lembrou-se de ao ver aquela cena, afinal, ela tinha calçado seus sapatos lá também. – Vamos! - Puxou-o pelo braço, fazendo-o virar, deixando os papeis de lado. – Vamos, amor! – Os dois estavam próximos, numa distancia quase perfeita. Então puxou-a forte contra seu corpo, desceu sua mão até a sua bunda e apertou-a. Depositou um beijo em seu pescoço e subiu devagar até o rosto, onde continuou a beijar, até chegar à pequena boca de Chloe e dar-lhe um beijo molhado e fervoroso que lhe fez faltar o ar. Beijou-a com a melhor das intenções que pode, mas no fundo, pela primeira vez, sentiu por trás da intenção e empenho daquele beijo apaixonado. Não era Chloe, sua linda namorada que desejava, e sim . Com ela até uma troca de olhar tinha faísca, sua química com Chloe não era mais a mesma, porem se negava a aceitar o acontecido.
  - Ok, é isso que você quer né? – Perguntou ainda a segurando contra seu corpo.
  - Hunrum. Isso e muito mais. Você sabe o que fazer... – Sim, Chloe era bastante fogosa. não se conteve. Ele poderia não estar tão na dela quanto antigamente, mas ela ainda era um pedaço de bom caminho, não tinha porque desperdiçá-la. Foi com esse pensamento que agarrou-a mais uma vez, apertando-lhe e colocando-a entre suas pernas. Já era possível ver o volume no meio da calça.
  - Não. – Parou, depois de levar uma mordiscada na ponta dos lábios. – Aqui não, meu bem. – Alertou-a e a soltou no mesmo instante. Partiu para o outro lado da sala novamente para buscar seu par de sapatos que foram jogados ali em alguma hora da noite.
  - , você me enlouquece! – Reclamou a loira.
  - Eu sei disso! – Respondeu risonho enquanto calçava o ultimo par do sapato. – Vamos lá? – Voltou ao seu lugar de inicio, catou alguns papeis que tinha arrumado sobre a mesa e pegou a mão da sua namorada.
  - Vamos. – Ela respondeu, dando um beijo leve em seu pescoço. Então saíram abraçados porta a fora.
  - Meu bem, eu vou ter que passar no departamento de pesquisa pra entregar os papeis a Betty. – avisou.
  - Eu realmente quero algo muito especial hoje, você nunca furou tanto comigo. – Chloe respondeu irritada.
  - Eu sei, eu sei. A culpa é toda minha, eu sou um merda de namorado, me desculpe, meu bem. Vou te recompensar, eu prometo. – disse, apertando-a um pouco mais contra seu corpo. Continuaram andando até o elevador.
  - Certo, mais uma vez! Eu não sei por que me deixo levar por você tão fácil, deve ser porque é lindo. – Desculpou-o e logo em seguida riu, fitava-o como se ele fosse uma obra de arte.
  - Quer dizer que você só gosta do meu corpo, senhorita Chloe? – Respondeu num fingido tom de ofensa, enquanto ambos entravam no elevador. apertou o botão do 20º andar, segurando sua parceira pela cintura e deixando-a frente a frente com ele. – Não é esse tipo de coisa que uma namorada diz ao seu parceiro. Deveria se envergonhar de falar uma coisa dessas. – Por um segundo ele estava lá, lindo e singelo, um normal e sem preocupações, um homem feliz. Nem que só fosse aparentemente.
  - Seu corpo é o de menos, amor. – Respondeu dando uma rápida olhada para seu físico. Aproximou-se alguns centímetros, pegou suas mãos, que junto a dela pareciam gigantes – elas eram – e disse: O importante é o que você tem aqui, – entrelaçou suas mãos, levando a sua direita ao coração dele e a esquerda dele ao seu. – e o que você tem ai é o que fez eu me apaixonar por você, mesmo passando por tudo que você passa, mesmo diante de tanto perigo, você cuida de mim, você me acalma e me protege. Então não gosto só o seu corpo, eu gosto de você. – Fitava-o com o sorriso mais acolhedor e verdadeiro de todos, era isso que o fazia ter mais raiva de si mesmo, como podia ter uma mulher perfeita daquela lhe dizendo coisas tão bonitas quanto aquela e ainda conseguir pensar em ? Martirizava-se internamente por estar pensando em naquele momento. Não era hora de pensar nela, e sim em Chloe, era hora de agradecer e retribuir todo carinho que ela estava lhe dando. Não para . Então ela se foi do seu pensamento, pelo menos por hora. Ou minutos.
  - O quão perfeita você pode ser? – Puxou-a pra perto num súbito relâmpago de força, que a fez estranhar um pouco acelerando seus batimentos cardíacos – nada demais - e lhe beijou. Empenhado como sempre, fazendo sua parceira perder o folego. Então o elevador parou. Deram uma ultima olhada e saíram porta a fora. cumprimentou os guardas ao passar, Chloe apenas acenou com a cabeça. Chegaram ao 2º departamento, próximo à sala de Betty.
  - Você me espera aqui, meu bem? – Sorriu sincero. Ainda segurava sua mão.
  - Claro, amor. – Retribuiu o sorriso. Típico de um casal apaixonado. Quer dizer, era pra ser... Certo? Certo.
   adentrou a sala de Betty, e lá ficou... Partiria pra casa, se algo não tivesse acontecido.

  Minutos antes...

  O barulho que veio das grades da cela foi estridente, e lhe fez lembrar que não estava no que chamava de casa. ainda dormia em sua cama desconfortável. Não mais. Num segundo estava ela lá, descamuflada e atenta a qualquer coisa, pronta pra acabar com qualquer um que tentasse lhe atacar.
  - Numero 1027, você tem 2 minutos pra se trocar. Hora de fazer os testes. – Disse o guarda abrindo uma pequena brecha da grade e jogando um uniforme preto. Tinha voz grossa, deduziu que fosse velho. Apesar de breve, foi educado. Quando percebeu estar fora de perigo, abaixou a guarda.
  - Ah, quer dizer que até numero eu tenho agora? Não curti esse negócio, vamos tratar de mudar isso, e logo. – Foi até as grades, pegou a sacola do uniforme e abriu. Fez careta em seguida. – É esse lixo que você quer que eu use?- Perguntou.
  - Ou isso ou vai pelada, 1027. – Brincou.
  - Vou pelada, aposto que chamarei mais atenção. – Brincou de volta. – Pensei que esse lugar fosse mais chique, sabe? O serviço de quarto é uma droga, os vizinhos são uma merda e a comida? A comida seria deplorável, se aqui tivesse, não é? Quase não me alimentei direito. Já sinto falta da minha liberdade. Vou reclamar disso e não vai demorar. – Disse tirando a roupa. Claro que não faria isso se não tivesse fora de vista do guarda. Guarda esse que ela ainda só tinha ouvido a voz. – Com quem eu falo sobre? – Terminava de vestir a camiseta preta regata de lhe foi dada. Era feia, mas lhe caiu extremamente bem, regatas sempre são boas para moldar o corpo, e seu corpo era belo, com certeza merecia ser moldado por uma roupa melhor. A calça que lhe foi dada era colada e também colava em seu corpo, deixando suas emolduradas curvas à mostra. Os sapatos não foram dados. Pensou em ir com o seu, porem desistiu. O que fossem fazer com ela, seria feito com ela daquele jeito.
  - Olha, 1027, não que seja da minha conta, mas você pode falar ou com a dona Betty, ou com o senhor . – Respondeu o velho guarda. terminava de prender seu cabelo num rabo de cavalo alto quando ouviu o nome da praga. Sim, . Lá estava ele lhe afrontando de novo, entrando em sua cabeça, lhe fazendo ter arrepios outra vez. Infeliz. E ainda era chefe, chefe de departamento? Chefe de tudo? Não sabia, mas queria. Talvez nem precisasse vê-lo outra vez, poderia tentar conversar com a Betty. Apegou-se a esse pensamento, deu uma breve respirada. Estava pronta pra ir.
  - Ok. Podemos ir, man. – Avisou . Em seguida o guarda abriu a cela, trazendo com ele luz e um sorriso no rosto. A luz incomodara um pouco, nada demais. gostou do guarda, deve ser por que ele lembrava seu pai. Os poucos cabelos brancos em sua cabeça denunciavam sua idade, ela deduziu que fosse um pai de família. Talvez pela sua calma e paciência. Mesmo sem o conhecer, sorriu para ele, recebeu um sorriso tímido de volta. Desde que entrou, esse guarda foi o único que lhe tratou bem – mesmo que tenha sido um tanto indiferente – naquela joça.
  - Mãos, 1027. – Pediu que as juntasse para que fossem devidamente presas, assim poderia evitar um confronto. as estendeu, mesmo que meio contra vontade. Achou desnecessário, mas se tinha se subordinado a isso, iria até o fim. Saíram porta afora, indo direto para sala de laboratórios.
  Ao caminhar pelo corredor entre as alas 2 e 3, chamou a atenção de alguns médicos e guardas. Era a primeira vez que a maioria lhe via, pareciam estar um pouco deslumbrados. Ela gostou, não curtia chamar a atenção, mas de vez em quando era bom. Sorriu de lado e continuou andando, de cabeça erguida. Algumas mulheres também soltaram olhares para ela, o que ela poderia fazer se chamava a atenção? Fosse pelo que fosse ela sempre chamava, estava em sua alma.
  Agradeceu mentalmente ao chegar à sala de testes e ser finalmente desalgemada, aquela merda incomodava demais e estava quase sendo comida com os olhos pelas pessoas de fora. Se fosse pra ser “comida”, que fosse de um jeito mais proveitoso, pensou. Todos os testes demoraram de 20 a 30 minutos, nada muito longo. A doutora que lhe atendeu era uma mal educada como todo o resto das pessoas do prédio, pra variar. Ela e seu assistente tiraram algumas gramas do seu sangue, alguns fios de cabelo, um pedacinho de sua pele, salivas e outras coisas. teve que tirar uma foto daquelas que se tiram na prisão, riu da ironia do destino. Tirar uma foto que se tira quando é presa sendo que não está presa. Mas se parasse pra pensar, ela teoricamente estava presa. Riu de novo. Porem não proferiu uma palavra durante todo o teste, só respondia sim ou não com a cabeça quando algo lhe era perguntado. Depois das perguntas, foi liberada. A doutora e seu assistente lhe levaram até a porta, não por educação, é claro, deve ter sido pra matar tempo de trabalho; povo preguiçoso, eca. O guarda permanecia lá, a acompanhando. A porta da sala de testes dava direto para o centro do corredor. Lembrou-se que já havia passado ali uma vez. Os três funcionários – lerdos, por sinal – a deixaram solta, esqueceram-se de prendê-la, deveriam estar falando de algo mais interessante, como o ultimo paciente que havia passado por ali, segundo eles o cara não era flor que se cheire... Ambos se gabaram por conseguirem endireita-lo tão rápido. Enquanto isso, tratou de varrer o ambiente e olhar cada detalhe do lugar e guardar em sua memória, seria útil em algum momento. Avistou no final do corredor a sala que ficou assim que chegou. Pessoas passavam de um lado para o outro, como formigas. Todos permaneciam bem arrumados e acordados, ao contrário dela, mas aquilo era, de praste, um padrão ridículo a ser seguido naquele lugar. Rodando o olhar mais pra esquerda via uma sala sem identificação, não ligou muito pra ela. Depois dessa sala havia uma grande e transparente parede de vidro, entendeu que era uma divisão de departamento, nesse caso, o de pesquisa. Nessa grande sala aberta havia uma série de mesas enfileiradas uma atrás da outras, todas iguais. Computador, mesa, jaleco e cadeira, todos brancos. Isso incomodou, mas não deu muita importância. Nenhum registro pessoal, nada. Todos lá pareciam ratos de laboratórios ocupados com si mesmos, faziam tabelas, planilhas, e muitas outras coisas. Achou relevante o fato de serem todos iguais. Ela e o guarda eram as únicas pessoas de roupas escuras até o momento. A luz que vinha das grandes janelas chamava sua atenção. Quis chegar pra perto, quis sentir a vibração do sol, que desde que fora presa não sentia. O sol era bom pra o seu poder, bom pra sua pele, sol lhe lembrava de coisas boas. Se sentiu tentada a chegar mais perto, não pode resistir, quando se deu conta já estava dando passos para chegar mais perto da luz solar.
  - Hey, hey. Sem gracinhas, 1027, sem gracinhas! – Advertiu o guarda, segurando e colocando as mãos de pra trás. arfou de desaprovação, mas o obedeceu. – Doutora, assistente, já que acabaram com essa aqui, eu vou levá-la para cela, ok? – Perguntou o senhor, que ainda não tinha prendido as mãos de .
  - Certo, senhor. Essa dai já vai tarde. – Mais deseducada impossível. fez questão de virar e lhe fazer uma bela careta.
  - Vamos, 1027. – Disse dando junto com os primeiros passos. Então e Betty adentraram a porta, conversando. Assim que a porta se abriu, percebeu a presença do (lindo, porem) irritante , então parou, fazendo o guarda parar também. Seus pés permaneceram lá, fincados no chão, como se estivesse esperando ele notar a sua presença. Não demorou muito para acontecer. sentiu quando sua postura mudou, pode ouvir sua respiração um pouquinho mais forte, não sabia como conseguiu em meio a aquela sala cheia e super movimentada, mas podia. Ainda assim não ousou olhar para ela. Primeiramente não soube se queria ir embora ou gostaria de confrontá-lo, por incrível que pareça o guarda a ajudou a tomar sua decisão, e incentivou-a a ficar. Sim, o GUARDA.
  – 1027, eu sei que você tá doida pra fazer alguma coisa com esse cara, suponho que queira reivindicar os seus direitos, certo?! – Disse o mais perto que pode, não seria burro ao ponto de não tomar esse mínimo cuidado.
  - Man, gostei de você! – Exclamou animada em certeza.
  - Ok, a única coisa que eu posso fazer é lhe soltar, o resto é com você. Faça parecer que foi um acidente. – e foi o bastante.
  Ainda com elas atrás das costas, virou suas mãos num movimento 360° alongando-as para se preparar para o seu pequeno ataque. Varreu a sala mais uma vez e avistou algo redondo e aparentemente pesado em cima de uma mesa, não teve duvidas, se o bonitão era grande, aquilo ali não seria de nada. A questão era se ELA conseguiria pegar um objeto tão pesado. Resolveu apostar e confiar em si mesma, arranjaria forças de qualquer lugar que fosse não queria saber, a raiva e o ódio eram o seu combustível de inicio. Traçou um pequeno plano em sua cabeça e se camuflou. Num segundo estava do lado do guarda camarada, no outro estava frente a mesa que se encontrava o objeto incrivelmente pesado, ao toca-lo desaparecera imediatamente. Poderia ter sido rápido demais pra ela. Mas não dessa vez.
  - Hey, cadê a garota que estava aqui agora? – Perguntou ao guarda, num tom elevado, jogando os papeis que tinham em mãos em uma mesa e se dirigindo ao mesmo.
  - Eu... Eu não sei senhor, ela estava aqui agora e num segundo desapareceu. – Disse o velho num fingido tom de preocupado.
  - Não acredito! Não acredito! – Reclamou . Já sabia com que tipo de perigo estava lidando. Providências, tinha que tomar providências. era muito boa pra ser perdida tão facilmente. – Atenção. Código 904. Código 904! Mutante fugida, provavelmente ainda dessa sala. Todo cuidado é pouco. – Chamou a atenção de todos na sala aderindo rapidamente seu tom alto e claro. Todos se encontravam alertas, procurando suas armas. A sirene tocou e as portas se fecharam. Não poderiam abrir para mais guardas passaram, pois abrindo as portas dariam a a oportunidade de passar. Tudo parecia um formigueiro, todos assustados correndo de um lado para o outro, o velho guarda tratou de sumir também, ninguém podia culpa-lo. tratou de passar de pessoa a pessoa, nenhum deles notou sua presença, também, ela estava invisível. A bola de material mais pesado que mármore - porem desconhecido por ela - não pesava mais, o ódio era tanto que não sentia o peso. Em meio a toda aquela confusão era o único parado no meio da sala, como se esperasse por alguma coisa. Ela não sabia o que, e nem quis. Não pode deixar de notar que seus cabelos negros eram ainda mais bonitos despenteados. Porra, isso não era hora. Não.
  Todos tinham uma arma em mãos, só não sabiam para onde apontavam, achou engraçado toda aquela desorganização de um grupo que instantes atrás lhe parecia tão inteligente, forte e perspicaz. Bem, as aparências enganam. Sabia que chamaria a atenção de todos ali, mas não tinha problemas com isso. Estava pronta, e colocaria seu plano em pratica.
  - É isso aqui que vocês procuram? – Disse apontando a grande bola para si mesma fazendo menção que ela era a pessoa – ou coisa – procurada. Todas as armas e atenções foram voltadas para ela, que estava em cima da mesa mais próxima da janela, segurando a bola escura com a mão esquerda e estampando um sorriso frio no rosto. olhou diretamente para que estava em sua frente, agia como se não estivesse correndo o mínimo de perigo. Pode sentir o seu corpo endurecer ao vê-la. Parece que não era a única com ódio encubado naquela sala.
  - Senhor, aos seus comandos. – Disse um dos guardas, que tinha uma arma aparentemente potente em suas mãos. Provavelmente queria muito apertar o gatilho.
  - N... Não. Nada de armas. – respondeu. Seu tom denunciava a raiva e desgosto que aparentemente estava sentindo.
  - Mas... Senhor, ela está com a pedra! A PEDRA, SENHOR! – O mesmo jovem cientista que afrontara assim que chegara retrucou do outro lado da sala. assistia tudo de tiracolo. Agora tinha uma boa informação. A pedra era importante, bom saber... Seria uma pena, se alguém a destruísse. Pensou nas mais sujas intenções. Seu sorriso brincou em seu rosto, tomando forma alongada.
  - Não importa. Eu disse que não, então é não! – Respondeu irritado, sem tirar seus olhos dela nem um segundo. Apesar da confusão ele ainda permanecia lá parado, mas sabia que ele estaria pronto para qualquer ataque. Apesar das ordens de , o grupo não baixou a guarda. Belo patrão aquele, nem seus empregados lhe obedeciam, que dirá .
  - Oh, que cena bonita... Matar ou não matar a garota? Eis a questão. Acho melhor se decidirem de uma vez, porque essa droga aqui é pesada! – Sua voz transbordava cinismo e raiva. A frieza era intensa e estava estampada em seus olhos.
  - Sua burra, por que você está fazendo isso? Quão patética você pode ser? Será que você não entendeu ainda que não sai daqui sem ser pega? – se dirigia a pela primeira vez desde o dia anterior, mas soava bem diferente desde essa. Lembrou-se da pergunta que fez a sua namorada anteriormente, o sentimento por não era o mesmo.
  - Não me desafie, acredite no que eu digo, honey. Porque olhando assim, sabe, por cima, eu sairia daqui numa facilidade extrema, tem que treinar melhor seus funcionários, senhor. – Bom inicio de discurso. Chamou logo de cara à atenção das outras pessoas, essa tinha audácia. – Eu posso ser muito patética também, mas posso ser outras coisas, coisas bem piores... Então cuidado com o que fala – Deu um passo a frente na grande mesa. – E por ultimo, eu estou fazendo isso por... – Parou um segundo, colocando a perna direita na frente e a outra atrás, posição inicial de luta – por meus direitos. Vai dizer que não gosta de protestos? – Respondeu todas as suas perguntas de traz pra frente, terminou arqueando as sobrancelhas e abrindo um sorriso frio e satisfeito. a olhou como se ainda tivesse tentando entender o porquê da sua audácia e petulância. Não entendeu nada. Depois do sorriso, estava pronta pra jogar. Elevou todo o seu corpo pra frente e depois foi rápido pra trás e lançou a bendita pedra o mais forte que pode em direção a . Ele não era o forte, o bonitão, o pode tudo? Então... Ele que segurasse a sua preciosa pedra do sei lá o que. A sala tumultuada agora estava em silencio, foi como se tivesse feito a coisa mais errada do mundo. A tensão percorreu toda a sala em segundos, aquilo deveria estar pra explodir. Mas uma parte da tensão se foi quando segurou com facilidade a esfera jogada. Ninguém ousou se mover, aquilo tinha virado pessoal, melhor, aquilo foi decretado pessoal para todos, porque os dois já sabiam que realmente era.
  - Vadia. – Xingou, soltando a bola pesada no chão, cuspiu a palavra pra fora. Não sabia do que tinha mais raiva, de estar tendo aquela discussão em meio a tanta gente ou de estar gostando de tê-la.
  - Por que tão baixo querido?! – Retrucou cinicamente.
  - Porque é isso que você merece. – Uuuh, essa foi dura.
  - Ok, mas sabe o que eu e metade dos prisioneiros aqui não merece? Celas frias e sujas, e comida tão ruim que nem deveria sequer ser chamada de comida. Acho que você precisa mais de mim que eu de você. Você precisa de muita gente aqui! Então trate de sair do seu mundinho de super herói e nos dar pelo menos boas condições, seu patético idiota.
  - Como ousa?! – Não acreditou na audácia dela, como ela ousou mesmo? Vadia. Mas ele sabia que era verdade, porque todos eles estavam ali para ajuda-lo, sem nada em troca. É , a verdade dói.
  - Ousando. – Ok... Não foi a resposta mais inteligente, mas quem liga? Ela estava ganhando, e sua indiferença só o deixava mais atordoado, tão atordoado que passou a mão sobre os cabelos e andou de um lado a outro. Ele estava sendo observado, acuado, seria obrigado a brigar com ela. Só assim para recuperar o seu orgulho e respeito diante todos. Mas não queria faze-lo. Como lidar?
  - Você sabe que pode morrer a qualquer momento, certo? – Perguntou, olhando para ela cima da mesa.
  - Se eu morrer, quem é que perde? – Perguntou, olhando para cima fingindo que estava pensando. Acuado novamente. 10 x 0.
  - . – Respirou. – Eu. Vou. Te. Matar. – Será que aquilo em cima de sua cabeça era fumaça? adoraria que fosse.
  - Não se eu fizer isso primeiro. E essa frase é minha, meu bem. – Não pensou duas vezes antes de pular da mesa e sair correndo em direção a ele, fazendo todos na sala abrirem espaço para luta que sabiam que ia acontecer – que estava pronto para o ataque. Ele só não esperava que ao chegar perto dele, ela cairia e deslizaria de joelhos diante seus olhos. Ninguém naquela sala esperava que o primeiro bom movimento viesse dela. sempre sendo subestimada. Pelo menos conseguiu fazer ficar com cara de bobo. Seu movimento seguinte foi bem mais ousado, pegou a pedra que estava atrás dele e num movimento super rápido, jogou sobre suas costas. Sim, aquilo havia doido, doido tanto que lhe fez dar passos tortos para frente, ele não estava preparado.
  - Que merda, . – Disse ainda de costas pra ela. Tinha uma expressão irritadíssima no rosto. – Por que você não joga limpo? Não seria capaz de ganhar se lutasse. – Desafiou-a. Recebeu um girar de olhos em resposta. – Eu proponho uma aposta! – Continuou em tom elevado – Eu aposto que você perde uma luta honesta comigo. Se você ganhar, eu lhe dou condições melhores, se eu ganhar você segue minhas ordens. E aí, aceita? – não sabia se poderia vencer essa luta honestamente, mas já que tinha cutucado a onça, teria que doma-la. Certo? Certo.
  - Você ainda pergunta? Se prepara pra dar comida pra todo mundo naquelas celas, seu trouxa metido a super herói. – Pra que esperar se podia dar seu golpe ali mesmo? Foi o que pensou e o que colocou em prática, seus pés se fincaram nas costas de , mais rápido que um piscar de olhos. Quanta energia.
  - Hoje não, hoje não. – Virou-se e deu um soco na barriga da atrevida . Ok, que deselegante. Deu passos para trás tentando aguentar a dor. As pessoas ao redor faziam caretas, podia constatar que ela tinha alguns torcedores ali. Legal.
  - Como você é deselegante. – Parou para recuperar o folego. – Sabe o que não é deselegante? – Perguntou, chegando um pouco mais perto.
  - O que? – O burro ainda respondeu. Ingenuidade? Talvez.
  - Isso. – Golpe forte no meio do seu saco, que o fez dar um gemido baixo de dor. Foi baixo? Foi, mas era limpo. Não tinha regras, não é mesmo?! Uns olhavam pros outros preocupados com o chefe, mas dava pra ver em seu rosto que estavam gostando sim da briga. – Então galera, alguém ai tem duvidas de quem vai ganhar essa merda aqui?! Nunca foi tão fácil... – Disse rodeando que ainda morria de dor, aparentemente. – Vocês deveriam fazer um bolão, uhn, mas apostem em mim, claro. Porque apostando nesse fracote aqui vocês não ganharam muita coisa. - O sorriso maléfico continuava lá, estampado em sua boca. Não por muito tempo, até porque – já recuperado - lhe deu uma chave de pescoço por trás e elevou o seu corpo fazendo-a ficar quase sem respiração. Dessa não dava pra escapar.
  - Não se dá as costas para um oponente, , ninguém nunca lhe ensinou? – Sussurrou em seu ouvido.
  - Você tá mais pra inimigo. – Mesmo quase sem ar ainda respondia, que ousadia. já se dava por vencido, mas não perderia tão fácil assim, usaria seu poder também, já que ele estava usando e abusando do dele enquanto podia. Tentou lhe dar uma cotovelada na barriga, não teve muito sucesso. Algumas pessoas até riram de sua atitude. Ok, ela disse que ganharia certo? Então ganharia aquela merda. Ter pessoas caçoando dela era melhor impossível, lhe dava raiva, despertava o ódio, o seu melhor combustível.   “Pensa , pensa!” Implorou seu cérebro internamente, então lhe veio um estalo em sua cabeça. Ada! Isto, Ada! Comemorou internamente por lembrar-se da velha mulher que lhe ensinara vários truques de luta. Podia ouvir se vã gloriando para as pessoas do salão, mas não deu ouvidos, tudo o que precisava era de concentração para lembrar-se de algum golpe crucial que o derrubasse, que o deixasse de joelhos frente a ela. Seu cérebro fervilhou por alguns segundos, buscando o lugar exato do cérebro onde ficava a lembrança do golpe perfeito. Quase não respirava. A luta já se dava por encerrada quando lembrou de um golpe que se bem executado poderia levar a morte de qualquer ser humano, como não estava lidando com um deduziu que este pelo menos o derrubaria. Imediatamente deixou os dois braços invisíveis – o que fez as pessoas ficarem se perguntando o que droga era aquilo. Não ligou. - e levou um ao topo da testa de e outro ao meio de sua garganta com dificuldade. O golpe não funcionaria se ele a soltasse, mas mesmo sentindo suas mãos em seu corpo ele não ligou, subestimou-a mais uma vez, esse foi o seu erro. Sem pensar duas vezes, ela apertou os dois pontos ao mesmo tempo com o máximo de força que pode, fazendo uma pressão entre os principais pontos de seu corpo, pressão essa que fez imediatamente ele cair no chão e lhe soltar. Foi assim que ganhou.
  - 100, 0. Que placar lindo não é?! – Disse feliz rodeando o olhar sobre todos na sala. Só não imaginava que seria rodeada por guardas, cientistas, médicos e até faxineiros armados. Talvez a vingança não fosse tão doce. Um círculo foi feito ao redor dela e , não teria como escapar. Seu corpo gelou. Como iria sair de lá? Decidiu apelar. – Hey, hey, todo mundo abaixando essas armas ok? O trato foi que se eu ganhasse estaria tudo bem, e eu ganhei então não podem fazer nada. Não tenho culpa se o chefe de vocês é fraco e caiu logo de cara. – Ok, talvez ela estivesse um pouco nervosa e com medo. As pessoas que a encurralaram pareciam não ligar pra isso, elas iam se aproximando mais e mais, e ela só ia acuando-se, dando passos pra trás, até que caiu em cima de que já estava caído. Ironia não?
  - Oh, merda! Você não é quem manda nessa porra? Resolve isso, eu ganhei! EU GANHEI, ME DEIXEM EM PAZ, MERDA! – Seria normal ela observar que gostou de sentir a pele dele mais perto de novo? É, ela gostou. Mas nada que não fosse tolerável. Não teve ação a não ser olhar pra ele com cara de “faz alguma coisa idiota”, ele não correspondeu do jeito que ela queria, pois ainda estava tonto-abalado com o golpe que levara. Porra, não deveria ter o golpeado tão forte, mas também que espécie de homem forte é esse que cai tão fácil?
  - Game-over pra você, idiota. – Disse a médica que lhe atendera mais cedo, apontando-lhe uma arma maior que seu braço. Aquilo estava parecendo um filme de terror mal produzido, pensou. A médica atiraria sem piedade nenhuma se não tivesse num movimento rápido se jogado em cima de , fazendo-a parar imediatamente antes de apegar o gatilho. Como conseguiu não se sabe, parecia estar sedado por alguma coisa... Uma droga talvez. Todos entenderam o que ele queria pela sua atitude, atitude essa que quase fez morrer de remorso. Todos abaixaram as armas, finalmente. Não imaginou que ele ficaria tão mal quando fez a bendita aposta, precisava se redimir. Não parecia, mas tinha coração. Pegou o tanto de força que ainda lhe restava e retirou de cima dela, apoiou-se em seu lado e concertou o seu rosto e corpo. Todos olhavam pra ela estagnados e curiosos, alguns ainda deram o passo inicial para impedi-la, mas desistiram quando ela lhes lançou um olhar frio e desaprovador. “Não mecha no meu negócio ou eu te mato, ok?!” foi mais ou menos isso. Chegou mais perto de seu rosto, ele tinha os olhos entre abertos, apesar disso as suas duas bolas azuis ainda brilhavam. Aquilo era um oásis, sim. Era, não podia negar. Sua beleza era ainda mais bonita de perto, não admitiria pra ninguém, mas podia compartilhar esse sentimento consigo mesma, certo? Certo.
  - Ok... Isso, isso foi errado, eu sei. – Chegou perto dele e sussurrou em seu ouvido, mesmo naquele estado ele ainda cheirava bem, observou. Passou a mão sobre os cabelos - para não ficar em sua face - e continuou – É... Eu não sei... Eu não sou muito boa com isso... – Não podia ser mais constrangedor, estar tendo aquela conversa com tanta gente os observando. Pigarreou. – Ok, é... Desc... – Respirou um pouco, rolando os olhos. Martirizava-se internamente por sua idiotice. Esse não era o plano, o plano era sair por cima, não daquele jeito. Merda. Respirou novamente. – Desculpa ok? Eu não tinha alternativa a não ser ganhar, isso é sobre sobrevivência, sobre mérito, não é? Você disse isso. Acho que eu tenho bastante mérito agora, talvez mérito suficiente pra uma comida decente... É isso, nem sei se quero isso aí, agora eu tô me sentindo suja, eu não fiz nada de errado, mas essas pessoas, elas me olham agora como se... Se eu fosse um monstro! E a culpa é sua. Você que começou com isso! Eu não precisava ficar sentindo essa culpa. Eu pensei que você era mais forte, mas você mentiu pra mim. Dê-me por vencida mais uma vez, porque mais uma vez você ganhou, idiota. – Estava tremendo? Talvez. não lhe respondeu, apenas buscou seus olhos quando ela retirava o rosto de seu ouvido, seu olhar podia estar dizendo muita coisa, mas não via mais nada. Tudo se embaçou mais uma vez.

Capítulo 7 - Estranha na sala ao lado

  - 1027, vem comigo. Você não está nada bem. – Disse o velho guarda, segurando pela cintura num milésimo de segundo. Da onde veio, não se sabe, só estava lá. Na hora certa.
  Levantou-a e segurou-a com a maior delicadeza que pode, assim como um pai faria. Pediu passagem, e a mesma lhe foi aberta sem nenhuma manifestação ou rebuliço. Ao contrário de todos ali na sala, ele não estava com furor e raiva nos olhos, ele realmente queria ajudá-la. Saiu andando porta afora com em seus braços, metade da sala acompanhava a cena - um pouco intrigados - e a outra metade olhava , que continuava lá, derrotado, caído no chão. Chegando perto da cela, pediu ajuda a outro guarda que patrulhava no corredor para abrí-la. Ele fez sem o questionar. Abriu a porta de material pesado, deixando passagem para e o seu novo “amigo” passarem. O velho guarda logo o dispensou.
  – Você, garota. Você... – Tirou-a de seus braços e a depositou cuidadosamente na cama dura. – Você é demais, garota. Eu não consigo acreditar que você fez aquilo. Eu não acredito que fez aquilo com o . Você sabe o quão é difícil conseguir dar um golpe certeiro naquele rapaz? É como se ele fosse imbatível. Mas você o deixou no chão, no chão. – Estava extasiado. – Você consegue me ouvir? Está ciente? – Perguntou.
  - Hunrum... – respondeu baixinho.
  - Ok... – Começou a caminhar de um lado pro outro, mostrando impaciência. acompanhava seus passos se perguntando por que ele estava tão inquieto. Ele parou por um segundo e sentou ao seu lado. – Você tem alguma coisa a mais. Algo diferente, 1027, qualquer um naquela sala pode sentir. Eu gosto de você, e vou tentar te ajudar ao máximo, mas só onde estiver ao meu alcance – avisou. só ouvia. A coitada estava encolhida sobre a cama. Mil coisas passavam, corriam, ficavam e estacionavam em sua mente. O guarda estava lhe oferecendo ajuda, pela segunda vez, mas por que isso? Quis saber.
  - Por quê? – Sussurrou.
  - Porque eu sei que vai precisar de mim aqui dentro. Em algum momento. – Respondeu seguindo pra outra pergunta. – Você tomou alguma coisa? Eu não sei... Algo que te fizesse mais forte? Não deveria ter sido algo tão fácil, 1027, e você sabe disso.
  - Não, eu não fiz nada! – Exclamou. – Merda, eu... Eu não sei o que aconteceu, foi muito rápido. Num segundo eu estava com aquela coisa estúpida na mão e no outro ele tava lá, caído. Tem alguma coisa errada... – Desafixou seu olhar do nada e voltou para o guarda. – Eu não sei seu nome – Observou.
  - Carlos. Prazer, senhorita . – Virou-se e segurou sua mão num cumprimento fraco.
  - Prazer, Carlos. Por que você nunca me chama pelo meu nome? – Voltou a olhar para o nada, quer dizer, teto.
  - Porque essa é a sua identificação aqui dentro, sempre lhe chamarei assim. Um dia, caso você me encontre lá fora, aí sim eu te chamei pelo seu nome. – Falou.
  - Eu não acho que o realmente estivesse em sua perfeita ordem.
  - Eu também não acho. – Carlos olhou para a porta que dava para o banheiro e fez careta. Sim, o cheiro era dos piores. – Mas não temos certeza de nada, temos que descobrir. – Arqueou suas sobrancelhas, fazendo menção que sabia o trabalho que teria, e levantou-se. – Você. Tome isso. – Retirou do bolso direito uma pílula e estendeu em sua direção. Era do mesmo tipo que a Betty tinha lhe dado há um dia atrás? Era. segurou-a e a levou até ficar de frente ao seu rosto.
  - Eu já to cansada de tomar essa droga. Merda, eu quero comida! – Reclamou outra vez, jogando o remédio goela abaixo.
  - Eu acho que você tem que calar a boca e agradecer de ter conseguido esse comprimido. Depois do que fez, eu não sei se verá comida tão cedo. – Informou Carlos.
  - Merda, merda, merda! Maldita hora que eu vim me meter nesse chiqueiro. Eu me odeio! – Jogou-se sobre o colchão fino, arfando em raiva.
  - Não adianta chorar pelo sangue derramado, 1027, você já veio e já fez, então aguente as consequências. – Caminhou até a porta.
  - Ok, que seja. Já aguentei coisa pior nessa droga de vida.
  - Deve ter passado sim, todos nós passamos, querida. – De que ele acabou de lhe chamar? QUERIDA? Ok, estranho. franziu o cenho.
  - É... Você acha que eu vou ser punida ou, não sei, algo assim? – Fechou os olhos e suspirou.
  - Não sei... Não temos esse hábito aqui, mas você nocauteou o nosso chefe, pode ser que alguma coisa aconteça. – Pegou as chaves no bolso e levou a fechadura – Mas fique tranquila, estarei aqui pra te ajudar quando mais precisar, não se esqueça. – Disse passando pela porta, dando uma ultima olhada em . – Se cuida.
  - Obrigada. – Sorriu leve de lado, em agradecimento, ele sorriu de volta e fechou a porta. Lá estava ela de novo, presa e notavelmente mais confusa que antes.

  Tudo girava em sua cabeça a 100 km/h, sem direito a paradas nem descansos. A única coisa que conseguia pensar era: por quê? Por que ela estava ali, por que ela era sozinha, por que só se metia em furada e por que conseguiu acabar com o patético do tão fácil. Obteve respostas? Não, nenhuma. Isso a deixou mais frustrada do que nunca. Permaneceu imóvel novamente, caso se mexesse, explodiria na hora. Não, não sabia se conseguiria explodir, pois seus membros; as pernas, braços e costas, começaram a doer. Ela ganhou a porra da luta, mas isso não quer dizer que não teve que se machucar pra conseguir tal faceta. Estava física e emocionalmente cansada. Quis chorar, mas não conseguiu. Só sabia se lamentar. Queria sair dali. Logo.
  Respirou. Desapareceu. Dormiu.

  O barulho estridente da cela se abrindo foi outra vez foi o culpado por acordar . Ela abriu os olhos de leve por conta da quantidade de luz que entrara. Não via luz há dias, mas não sabia dessa informação.
  - 1027, preciso que se levante. – não reconheceu a voz grossa, mas mesmo se sentindo um pouco fraca, pôs-se de pé, atendendo o seu pedido. Não conseguia ver muita coisa, tudo lhe parecia embaçado.
  - O que? – Perguntou em tom frio. Não estava se aguentando em pé, já estava virando rotina.
  - Preciso que receba uma encomenda mandada pelo senhor . – O que? Não entendeu.
  - Desde quando eu tenho a encomendas? E desde quando aquele imbecil me manda uma? – Passou as mãos nos olhos para conseguir enxergar o lugar que estava e a pessoa com quem falava de melhor forma. Não adiantou muito.
  - Desde hoje, 1027. – pode o ouvir atravessando a porta.
  - Quem é você? – Já estava ficando desconfiada. Cada dia uma pessoa diferente ia falar com ela, era um saco.
  - O braço direito dele. – Sua voz grossa não era das melhores de se ouvir. Soava ríspida demais para os ouvidos de .
  - Eu pensei que ele já tinha um, fraco por sinal, afinal, até eu consegui derrubar – Seus olhos começaram a voltar ao normal, aos poucos ela pode ver que não estava de fato em sua cela. Percorreu o lugar com os olhos pode ver que o lugar novo não parecia uma cela e sim um quarto. Não entendeu. Como trocou de cômodo? Oi? Fez uma careta. Ok, estava confusa. – Ahh, merda! Por quanto tempo eu dormi? – Ligou os pontos, só poderia ter dormido. Caramba. – Fala! QUANTO TEMPO EU DORMI? – O nervosismo foi tanto que fez sua visão ficar mais limpa que água e ver o homem grande, forte e careca do outro lado do cômodo. Ele era cor de jambo, tinha olhos escuros e fundos, vestia um terno cinza de segunda, aparentava ter seus 30 anos. Seu olhar era notavelmente intimidador, mas isso não foi o suficiente pra . Ela caminhou até o outro lado do quarto em passos largos, em segundos ela e sua irritação estavam batendo de frente com aquela montanha com codinome homem. – EU NÃO VOU PERGUNTAR OUTRA VEZ! QUANTO. TEMPO. EU. DORMI? – Ok. Agora até o careca deveria estar com medo dela. Se suas palavras tivessem uma temperatura, seria abaixo de -100° graus ou acima de 100°. Acho que deu pra entender o tamanho do estresse da garota.
  - E ee.. Eu – Como ela conseguia, mesmo estando quebrada em cacos, reprimir um homem daquele, não sabia.
  - Anda, deixa de ser frouxo, não perguntei nada demais.
  - Cinco dias. – Não a olhou quando disse.
  - O QUE? QUE MERDA? DROGA! – Adeus paciência. De novo. Respirou e fechou os punhos. – Olha, eu vou me encostar naquela porra de parede ali e você vai rezar pra que eu não me irrite o suficiente pra quebrar sua cara. Você sabe muito bem do que sou capaz. Então desembucha. – O cor de jambo nem precisou responder, com certeza obedeceria. metia medo em qualquer um, mas aqueles funcionários estavam se saindo mais frouxos que calcinha de velha. Virou-se e foi direto para a parede, se segurando pra não tacar um objeto pontudo na direção do grandão. – Acho que não precisa nem dizer que se mentir pra mim vai ter sérias consequências, certo? – Ele acenou com a cabeça. – Por que eu dormi CINCO DIAS?! – Soava indignada.
  - Hrun... – Pigarreou e olhou diretamente para ela, pela primeira vez. Menos mal, pelo menos não era tão marica. – Você foi dopada. – Respondeu. socou a parede com força.
  - Por quê? – Engoliu á seco.
  - Porque o precisava de você desacordada.
  - Por quê? Ou melhor, pra quê? – Arfou.
  - Pra evitar confusão, inicialmente. Depois ele decidiu te mudar pra cá. – Desviou o olhar dela colocando em algum outro lugar aleatório.
  - Por quê? – Tá ficando cansativo isso.
  - Ok, eu vou falar tudo de uma vez pra você não precisar ficar me perguntando o porquê de tudo. Então me escuta. – Pelo o visto, o Senhor careca achou cansativo também.
  - Ok. – concordou, mas não antes de rolar os olhos. Típico.
  - Você dormiu por um dia inteiro, achamos que você tinha algum problema, não sei. Examinamos você, mas mesmo assim não acordou, então falamos com . Ele estava se “recuperando” do acontecido. Nada físico, é claro, o que o afetou foi algo cerebral... – Parou por um segundo.
  - Sim, eu não ligo. Continue essa droga de história. – O careca tirou um pequeno peso de suas costas ao dizer que tinha ficado bem fisicamente. De alguma forma, ele tinha melhorado, e ficou aliviada por isso, mas ele não precisava saber, não é mesmo?!
  - Hãn... Ele foi te ver. – Ok, esse golpe foi baixo, mesmo que não tenha sido feito de propósito, foi. teve de desviar o olhar para o rapaz não perceber que se importava.
  - E... – Disfarçou, fingindo desinteresse.
  - E... Que ele foi te ver e decidiu te trazer pra cá. Ele não queria, mas decidimos que era melhor te dopar, pra não haver algum desentendimento como da ultima vez.
  - Aquele crápula encostou em mim? Meu Deus, eu quero morrer! – Levantou as mãos até a cabeça e bateu sobre a parede novamente, não podia ser.
  - Éé... Eu acho que foi ele quem lhe trouxe, sim... – A confirmação deixou-a ainda mais indignada.
  - A morte. É A MORTE! Cara... – Sua voz começou a falhar de raiva. Bateu outra vez contra parede, estava se segurando pra não fazer nada contra o careca cor de jambo, mas não aguentou. – Eu acho melhor você sair daqui, porque eu to começando a ficar fora do meu limite. – Avisou.
  - Não posso, apesar de querer muito sair daqui, desse ambiente pesado que você faz questão de criar! Eu sigo ordens, garota. – Desafiou-a. Ela achou engraçado, só poderia estar brincando.
  - Não pode por quê? – Virou-se de costas e colocou as mãos no bolso de sua calça folgada branca. Pelo menos a coitada estava tentando, não é?!
  - Porque ele me pediu pra que te trouxesse isso. – O som da porta do quarto se abrindo a fez querer virar, se castigou para não fazê-lo. Bateu a cabeça na parede por alguns segundos e não pode suportar, teve que se virar. Ao virar deu de cara com uma mulher uniformizada carregando consigo uma mesinha cheia de comidas.
  - Tá, mas que porra é essa? – Não pode deixar de passar a mão sobre os cabelos e bater seu pé, sem ritmo, no chão. Logo que colocou a mesa no lugar, a mulher se retirou.
  - Ele mandou lhe dizer que era uma parte dos seus “direitos”. E o resto está naquele papel ali em cima. – Respondeu calmamente a garota.
  - HÁ HÁ! Só pode ser piada! Meus direitos uma ova, onde é que estavam meus direitos quando ele mandou me dopar e me deixar nessa droga de lugar cinco dias desacordada? Onde? – Fúria. Talvez essa palavra se encaixasse de maneira correta ao sentimento de naquele momento. Ela só queria descontar em algo, ou alguém. Estava sendo manipulada desde que pisou naquele lugar. Não conseguia pensar. Ainda tentou se conter, socando a parede novamente. Não deu muito certo.
  - Rhnrun – Chamou sua atenção, com um pigarrear proposital. – Eu sei que você está provavelmente a segundos de me socar inteiro. Talvez você consiga, mas antes eu quero dizer que seu braço sumiu. – Sua voz quase não podia ser ouvida, é, ele estava com medo. Ótimo braço direito .
  - Droga... – Reclamou, sacudindo seu membro até que ficasse visível novamente. O careca lhe observava astuto. Aquilo parecia ser algo tão pessoal. Por um segundo ela pareceu mais calma. Por um segundo. Até se lembrar de algo importante. – Pera ai seu crápula, se eu to aqui há cinco dias fodidos, quem me trocou? QUEM? PORQUE EU NÃO ESTAVA COM ESSA ROUPA AQUELE DIA! – Não esperou a resposta do coitado, só conseguia ver imagens passando pela sua cabeça, lhe vendo nua e lhe trocando. Era um tipo de violação, ela não admitiria isso. Não mesmo. – AAH! CANSEI! – Não foi nem milésimos, já estava com um abajur quebrado na mão com uma ponta super aguda virada pra frente. Aquilo com certeza faria um estrago. Ela foi pra cima do cara sem nenhum medo, ele não atacou em nenhum momento, apenas desviou. Isso a enfureceu mais ainda. – Que merda de braço direito é você? Não sabe nem lutar? Preferira estar vivendo no inferno! - Lhe golpeou na coxa, deve ter doido. – Como seu chefe ousa? – Segurou a estaca numa mão pôs-se a dar murros no sujeito. Não devem ter doido, mas sua arma lhe ajudou muito. Tanto que conseguiu o prender frente à porta com a estaca quase em seu pescoço lhe deixando sem saída.
  - Eu não... Ele não fez isso, Srtª . – Soou desesperado, e verdadeiro. queria ouvir a razão, mas não conseguia. Então teve que ouvir outra pessoa.
  - EU FIZ - Uma voz feminina adentrou a porta, chamando a atenção dos dois brigões dentro do cômodo.
  - Ótimo, mais uma! – ainda tinha o cor de jambo sob seus comandos.
  - A bela adormecida acordou, finalmente. – Quem era aquela? se perguntou. Mais uma pra atrapalhar seus planos, não merecia. A voz da garota era firme, assim como a de . Era de altura média e morena, seus cabelos eram curtos e ondulados, o corte combinava simetricamente com o formato do seu rosto. Seus cílios brincavam como se fossem asas a cada piscar. Seu nariz era tão fino que poderia chegar a ser difícil respirar, seus olhos eram castanhos claros e sua boca carnuda. Sua magreza era de se admirar, qualquer modelo sentiria inveja. Vestia uma t-shirt azul super ajustada, por cima um casaco simples na cor preta lhe aquecia. Em baixo usava um short jeans escuro em condições não tão boas. Nos pés o par de sandálias rasteiras bege finalizava o “look” despojado. só a olhou uma vez e conseguiu detectar tudo, memória fotográfica, será? Não sabia se gostava ou não do que via, sentiu uma pontada de inveja das roupas da dita cuja, ela não tinha direito a nenhuma coisa daquela, estava comendo o pão amassado do jogado no chão. Merda. A frustação foi logo descontada no careça, que levou um forte golpe na barriga. Com ele ela podia lutar, afinal não era mutante, não é mesmo?! Olhar fixo nele. – Larga ele, ! – Mandou como se já conhecesse-a de longa data. Estranho. Caminhou para dentro do cômodo.
  - Há Há, quer mandar em mim, entra na fila querida. – continuou em seu posto. O careça não disse nada, apenas lhe olhava desconfiado.
  - Oba, comida! – A garota foi direto à mesa de comidas. Pegou uma maçã e deu uma mordida.
  - Hey, isso não é se... – O grande homem foi interrompido por outra vez. Coitado.
  - Pode comer tudo se quiser, não faço questão dessa droga! – Retrucou . – Quem é você, hunr? – Fitou-a mais uma vez.
  - . Prazer. Apesar de já te conhecer faz cinco dias fodidos... Quer dizer, não tão fodidos, não é? Eu ganhei roupas e uma cama mais adequada. – Continuou onde estava sem transparecer um mínimo de preocupação.
  - E o que você tá fazendo aqui? – perguntou em aberto, não queria saber quem responderia, só queria a merda da resposta.
  - Ééé...- O careca se atreveu a começar a falar. Deu uma olhada rápida para e voltou-se para . – Ela foi a única pessoa que o achou adequada pra lhe fazer companhia. – Ele estava com dor até de falar.
  - Isso piora a cada segundo. – Negou com a cabeça - Adequada? Vocês deviam começar a fazer piada, ganhariam muito dinheiro, idiotas. Por que ela é adequada? – Perguntou indignada revirando os olhos.
  - Você aprendeu a se virar sozinha tão cedo, não deveria subestimar as pessoas desse jeito, . - Disse , mordendo outra vez a maçã.
  - Obrigada pela lição de moral, desconhecida. – Arfou, qualquer ser normal não aguentaria aquela tortura.
  - De nada por agradecer a pessoa que cuidou de você todos esses dias, senhorita mal agradecida. – revirou os olhos.
  - Aaah, claro... O que uma fashionista tão atualizada como você fez pra me ajudar? – Um pouquinho de sarcasmo nunca é demais.
  - Por que não dá uma olhada? – soltou a fruta que segurava em cima da mesa e foi em direção aos brigões na porta do quarto. O careca fez menção e se afastar, mas o segurou fazendo com que ficasse exatamente onde estava. Não tirou os olhos da sua parceira de quarto nenhum segundo. Em um piscar ela estava em sua frente. – Eu acho que você devia soltar o Jhon. – Falou.
  - Então Jhon, você tem nome?! Por que não me disse antes, querido?! – fuzilou-o com o olhar.
  - Porque... – Era suor escorrendo do seu rosto? Era. Que homem frouxo. Não terminou de falar.
  - Solta ele, . – mandou outra vez.
  - Ou o que? – enfiou a estaca barriga adentro, de propósito. Jhon gemeu de dor. Não desviou o olhar nenhuma vez dos de , aquilo era um desafio. adorava desafios.
  - Ou isso. – As pupilas de dilataram, seus cílios cresceram alguns milímetros. A que agora a pouco estava normal descontraída tinha um sorriso irônico brincando em sua boca. reconhecia aquele olhar superior, porque ela fazia a mesma coisa. Odiou-se naquele momento, pois não conseguia desprender seu olhar do de , era um tipo de hipnose? Não sabia. Só conseguia sentir uma força tomando conta do seu corpo, mas ainda assim continuou paralisada. – Tira as mãos dele! – Ordenou a moça. E assim ela fez. Oi? Isso era possível? Claro! Maldita mutação. Merda! Pensou . – Você – Olhou para Jhon. – Vaza daqui agora, e não volte tão cedo. – Assim ele fez, apesar de não estar de fato hipnotizado como .
  - Mas que... – deixou-a com as mãos para cima.
  - Eu fiz você se trocar todos os dias antes de tomar as drogas. – Estava séria, assim como . – , quero que tire sua blusa. – Ordenou, e assim fez. Aquilo á assustou um pouco, queria parar de olhar para , mas continuava servindo de fantoche em suas mãos. lhe fitava indiferente. – Bata em seu rosto. – E assim ela fez. – Ria. – E lá estava , abrindo sua boca pequena e gargalhando como se nunca fosse parar. – Pare. – lhe rodeou, analisando-a. – Você é uma gracinha, . – Observou. – Mas tá uma droga. – Riu. Voltou-se a sua frente novamente. permaneceu calada, vontade de falar não lhe faltou, mas não conseguia. – Eu quero que cante a sua musica preferida. – Disse. O que tinha de errado com as pessoas daquele lugar? Por que era tão odiada?, pensou antes de começar a cantarolar.
  - Oh, if you're hearing this must have made it through – Nunca cantou sua musica preferida com tanta raiva - Oh, when the clouds are burned, open up my window i see the sky's still blue… - Arfou de raiva, queria parar de olhar. – Quantos anos você tem, 10? – Finalmente conseguiu falar algo por conta própria. estranhou sua independência, sendo que ela ainda estava a controlando.
  - 18 – Sorriu. – Eu gostei de você, é bem forte. – não entendeu. – Você, , conseguiu sair. – Disse rindo baixo. olhou pra si mesma e percebeu que não estava mais sendo controlada por . Deu-se conta que tinha falado por espontânea vontade. – E olha que eu nem abaixei a guarda. – Virou-se e foi direto pra mesa de comidas pegar sua maçã novamente, como se nada tivesse acontecido. ficou sem palavras por alguns segundos. Então saiu do transe.
  - Aaah, sua pirralha... Eu vou – Foi em direção de , que virou novamente.
  - Para com isso, garota! Eu te ajudei, poderia pelo menos agradecer? Relaxa, eu não te odeio nem sou sua inimiga, se quisesse ter feito algo com você ou te prejudicado, eu faria não acha? Eu tive cinco dias pra fazer isso. – Respirou – Mas não fiz. – viu que estava sendo sincera e parou, deu uma arfada. Estava impaciente. largou novamente sua fruta e foi em direção, dessa vez sem intenção de machuca-la. não recuou. – Eu acho que você quer respostas, não é? – Perguntou.
  - Sim! Claro que eu quero, é o que eu mais quero. – Ainda havia um tom enraivado e desconfiado em sua voz.
  - Então, - segurou sua mão. estranhou o toque, porem não recuou. dificilmente recuava. – Senta aqui, vamos conversar. Eu to na mesma situação que você, eu posso te ajudar e você pode me ajudar também... – Como ela conseguia ser tão calma de uma hora pra outra quando continuava borbulhando em estresse e raiva? Uma água pra essa moça, por favor. Caminharam dois passos e sentaram na cama , bem mais aconchegante que a da cela, por sinal, de . estava meio paralisada, meio lerda. Depois de cinco, quase seis dias inativa e com tantas coisas acontecendo não estava nas melhores das condições.
  - Tá, pode falar! – cruzou os braços.
  - Ok... Meu nome é , tenho 18 anos. Eu saí de casa por livre espontânea vontade, sabe? Meus pais sabem da minha mutação, mas não estão nem ai, então eu simplesmente saí. – Disse sorrindo, continuava como se não estivesse na mesma situação que .
  - Ok... Mas como veio parar aqui? – Perguntou , desconfiada.
  - Eu sou daqui, sempre soube dessa fundação, mas nunca pude participar por causa da minha idade. Eu já bati com o algumas vezes durante os anos, uma vez tivemos uma conversa e eu pedi pra entrar, ele me respondeu que não, que eu era muito nova e blá blá.. – Rolou os olhos, e esticou-se para pegar um salgadinho na mesa. acompanhou seu movimento. – Desde que ele disse que talvez sim, eu comecei a treinar e a me preparar pra entrar, afinal, aqui é dureza. – sorriu de lado. permaneceu indiferente, olhando-a com cara de nada. – E aqui estou eu, junto com você, te protegendo de si mesma. Irônico, não?
  - Por que ele mandou você fazer isso?! – não queria, mas soou extremamente confusa.
  - Aanh... Talvez, não sei. Talvez ele se importe. – cresceu os olhos para como se aquilo fosse o maior dos absurdos. Não, não era. Chegou a se sentir ofendida. – Ou... Ele só queira você na equipe dele.
  - Isso! Qual é, ele só quer me usar. – Ok, estava começando a abaixar a guarda. – Éé.. Quer dizer – Pigarreou – NOS usar! Você me confunde, Katharine, e eu nem te conheço. – Reclamou.
  - Você é um amor de pessoa. Opa, acho que não – Riu. Dessa vez, a acompanhou.
  - Não me faça sentir mal, poxa, eu só estava me protegendo. – Disse em defesa. – E você me atacou, com esse seu poder aberrativo.
  - Aberrativo foi a sua cara de assustada! Foi bem engraçado, vai, eu não queria fazer, mas não me deu outra opção. – Rebateu.
  - Ok, eu não estou acostumada com pessoas que nem eu do meu lado, sempre fui só.
  - Eu acho que teremos bastante tempo pra falar sobre isso não é?! - Perguntou .
  - Acho, não sei... sim. – permitiu-se relaxar, sua parceira não iria lhe atacar, e se fosse ela saberia como revidar.
  - Seu poder é divino, se eu não gostasse tanto do meu, com certeza preferiria o seu. – levantou-se e dessa vez e foi à mesa, pegou o máximo de comida e bebida que pode e voltou, jogou tudo em cima da cama. – Comida? – Disse abrindo a embalagem de batata frita. – Deve estar faminta, depois de todos esses dias.
   pegou o controle e ligou a tv, que ficava na frente da parede instalada na cabeceira da sua cama. pegou outro saco de batatas e passou a comer. Seu cérebro estalou, não tinha reparado no quarto ainda, já que tudo aconteceu muito rápido. Ele era pintado na cor lilás e bem melhor que uma cela, claro. Era grande também, a sua cama ficava do lado da janela, a vista não era das melhores. Quem abrisse a porta daria de cara com a cama, não teria privacidade. Do lado da sua cama, ela reparou num guarda roupa branco, teria que dividir, é claro. Uma cômoda simples separava sua cama a de , a dela era virada em direção à TV, que era instalada na parede do banheiro, que, respectivamente, também tinha a porta em direção à cama da mesma. Havia um tapete grande e bege no piso amadeirado do cômodo, e isso era tudo. Bem melhor do que antes, pensou .
  - Hey, ! Terra chamando... Lenta. – alertou enquanto zapeava os canais na tv de tamanho médio.
  - Ah... Desculpa, eu não to muito bem ainda, sabe como é né, cinco dias fora de mim, não é tão fácil. – Disse, soando um pouco pensativa. parou num canal que passava Project Runaway, devia ser.
  - Tudo bem... Por que não toma um banho? – Perguntou, olhando atenciosamente o vestido que o estilista produzia no programa de tv.
  - É, eu acho que vou sim... Onde tem roupas e, não sei, essa coisa toda? – Perguntou levantando-se e dirigindo-se diretamente ao guarda roupas, deduziu que estariam lá.
   continuava vidrada na tv, parece que a pessoa que estava ganhando não estava lhe agradando, comia e mastigava mais rápido, ansiosa. abriu o móvel, lá tinha uma quantidade pequena/média de roupas em condições não tão boas, mas era o que tinha, não é? Não perguntou nada a novamente, já tinha sido ignorada uma vez. Achou roupas intimas em duas gavetas, uma em cima da outra, ela reconheceu as dela. Deduziu também que alguém tinha entrado em seu quarto de hotel. Fez careta, que pessoas intrometidas! pegou suas roupas intimas, um short folgado preto e um casaco grande e vermelho que achou por entre outras roupas, seria o suficiente. Ao fazer o caminho de volta para o banheiro observou pela janela que não era cedo, umas onze horas, deduziu pelo horário do programa na tv. continuava impaciente quando ela entrou no banho, aquela garota não era certa, não podia ser, observou. O banheiro não era dos melhores, mas estava obviamente níveis acima ao da cela. Seu banho foi um pouco mais demorado que o normal, fez sua higiene pessoal e escovou os dentes, isso serviu pra levar metade da tensão que estava lhe consumindo. Vestiu suas roupas lá mesmo, agora se sentia bem mais confortável que antes. Ao sair do banheiro, deu de cara com uma cena inusitada, totalmente vidrada naquela merda de programa. percebeu que seu favorito tinha perdido, dava pra ver em seu olhar que não estava feliz, decidiu se manifestar.
  - ? Tudo bem? – Perguntou, aproximando-se da companheira, que parecia não lhe ouvir. Seus olhos estavam novamente do mesmo jeito quando ela lhe controlou anteriormente, ela continuava vidrada. sabia o que aconteceria a seguir se não a impedisse. Partiu direto para sua cama e lhe balançou, sacudiu, mas nada resolveu. estava paralisada no tempo, então desistiu e virou-se para maldita TV. Seu cérebro alertou “Desligue essa merda!” e ela obedeceu imediatamente, jogando-se na cama para alcançar o controle remoto. Não foi rápida o suficiente, antes de apertar o botão, já tinha deixado o aparelho em pedaços. Um estrondo estagnou seus ouvidos, ela só conseguiu proteger-se. – ! Garota! O que foi essa merda? – despertou de seu transe louco, dando uma arfada e buscando ar com necessidade. Olhou assustada para , que lhe fitava de volta, querendo uma explicação, provavelmente.
  - Shit! Holy shit! O que aconteceu? – paralisou. perguntou outra vez, olhando os pedaços da TV espalhados pelo quarto. – O que aconteceu? Eu não consigo me lembrar, , fala! – Aumentou seu tom de voz.
  - Eu não sei, merda! Eu fui tomar banho, sai e quando olhei pra você, estava vidrada nessa porra de TV, eu tentei te parar... Mas você parecia hipnotizada, e... eu não consegui te parar, num segundo você explodiu... – Parou e respirou, lembrou que ia ter que se explicar pra alguém. Não demoraria. – Merda, , vadia! Como iremos explicar isso? Eu já estou muito encrencada, mais um pra minha lista e eu não sei o que pode acontecer! Se eles me doparem de novo você vai se ver comigo.
  - Falou a protegida do , se toca! Você não sai daqui tão cedo. Não sei se você sabe, mas ele veio aqui todo santo dia ver como você estava! Não vai ser uma droga de TV que você nem quebrou que irá te prejudicar! – Disse em tom grosso. relutou, o que ia dizer? Se aquele desgraçado foi lá mesmo depois de tudo? Não podia fazer nada a não ser se calar, por que merda ele fez isso ela não soube, se sentiu estranhamente estranha em relação a isso, uma mistura de ruim com bom, não quis pensar nisso. Só precisava de uma desculpa boa pra responder a vaca da...
  - O que aconteceu aqui?! – O guarda tinha acabado de entrar, sem nenhum tipo de delicadeza, devo relatar. olhou rápido pra sua parceira e pulou pra fora da cama.
  - Nada... – Soou incerta. Pigarreou. – Quer dizer, nós estávamos com a TV ligada e fomos zapear os canais... – Soava melhor agora, foi interrompida.
  - Zapeamos os canais, ela deu um problema e explodiu do nada, puft! Simples assim! Louco, né? Ficamos perplexas. Como um lugar desses, cheio de tecnologias e apetrechos, acontece isso? Vocês deveriam ter vergonha, situação deplorável! – Quem via de fora, dizia que ela estava falando a verdade, ao contrario de , soava confiante em suas palavras.
  - Você quer que eu caia em seu papo de merda? – Retrucou o guarda, olhando os destroços pelo cômodo.
  - Acho que sim, quero sim! Acho que sabe com quem tá se metendo, certo? – estava se saindo muito segura pra o gosto de . Ela cruzou os braços. O guarda a olhou de volta desconfiado, e pigarreou.
  - Talvez eu saiba... – Respondeu, já sem a metade da confiança da primeira vez, percorreu pelo quarto e voltou ao seu lugar inicial.
  - Eu acho melhor você procurar se informar logo, em outro lugar... – tomou a posição de frente na conversa outra vez. – Te garanto que se ficar aqui, não vai ser a melhor das formas, digamos que pode ser um tanto... Perigoso. – Ok, colocava medo em qualquer, só seu arquear de sobrancelhas já intimidava. – Não venha aqui outra vez, estamos entendidos? – Perguntou, virando-se para dando lhe um olhar de “pode terminar o trabalho” e voltou-se a ele, que concordou vilmente com a cabeça. tomou a fala.
  - Pode falar pra o seu querido chefe que nós queremos outra TV, e dessa vez uma que preste! Não esse lixo que colocaram aqui! – Ele olhou torto para as duas, concordou outra vez com a cabeça e foi continuar sua vigilância no corredor.
  - Haha, bitch! – Disse animada. – Bate aqui, dude! Você é das minhas! Melhor parceira impossível! – Disse saltitando, partindo para o banheiro. ficou meio perplexa com a facilidade que a garota teve ao mentir. Quando virou para olhá-la, avistou um papel fechado em cima da mesa de comidas. O papel era bege, estava dobrado, em sua parte frontal estava escrito em letras médias e cursivas “”. Seus olhos cresceram e seu coração palpitou forte uma única vez, ela não tinha observado o papel anteriormente, tinha se esquecido de quando Jhon falou sobre. Não pode se segurar, deu um passo pra trás e pegou sutilmente o papel e guardou no bolso do casaco vermelho.
  - O que você quer fazer agora, saiu do banheiro no instante seguinte, foi por pouco.
  - Eu... Eu vou... – Pegou um pequeno cacho de uva pra disfarçar. – Vou dormir. – Disse soando indiferente.
  - Mas já? Eu passei cinco dias de merda te ajudando, esperando você acordar pra me contar sobre sua vida e agora você decide voltar a dormir? Que merda! – franziu o cenho, pra quê tanta irritação em relação a isso?!
  - Calma, eu ainda não me sinto muito bem, melhorei depois do banho, mas não estou totalmente “curada”. – Parte disso era verdade, mas ela queria mesmo era ler o bilhete. – Nós teremos muito tempo pra isso, eu acredito. Eu estou começando a me sentir... Estranha. – Outra verdade. – Você não está sentindo nada de diferente? Ou isso que aconteceu aqui é normal pra você? – Questionou-a.
  - É, pensando por esse lado isso que aconteceu foi bem estranho, eu tenho total controle sobre meus poderes, nunca aconteceu esse tipo de pane louco. – Sentou sobre sua cama pensativa. – Será que isso é normal?
  - Eu não sei! Também nunca me senti assim, é uma dor diferente, na verdade nem é uma dor... É como se dentro de mim estivesse tudo fora de ordem. – Arfou, seu corpo estava cansado, sua mente mais ainda. – Estou tentando lidar com isso, você deveria fazer o mesmo e dormir, amanhã conversamos o quanto quiser, ok?
  - Ok, é o certo a se fazer agora. – Ficaram em silencio se olhando por alguns segundos. não sabia como agir com , afinal, elas tinham se conhecido há o que? Uma hora? Mais ou menos isso. se levantou, estranhou. – Pode vir aqui? – Oi?
  - Que? Por quê? – Foi dando passos sem medo, só estava curiosa.
  - Quero que me abrace – Levantou-se. não pode evitar o riso, não esperava que fosse desse tipo, fofa.
  - Mas por qu... – Foi interrompida pelo abraço apertado de . Paralisou, não sabia se abraçava de volta ou não. Qual foi a ultima pessoa que tinha abraçado? Sem contar , é claro. Fugia de sua mente a data do acontecido tal fato.
  - Xiiu, apenas sinta. – disse. riu, aquilo foi engraçado, pareceu cena de filme. O que podia fazer? Deu de ombros e abraçou-a de volta, afinal, não custava nada. Talvez elas pudessem ser amigas, não tinha nada de errado nisso. quebrou o abraço.
  - Ook, tá bom por hoje, hun. – Sorriu de lado. – Você é legal, Senhorita... – Parou esperando a resposta, ela não tinha dito antes.
  - , senhorita . – sorriu de lado. – Ok. Melhor irmos dormir. – Sorriu mais uma vez e pulou de vez em sua cama. foi direto pra sua também. – Boa noite, vadia! – disse gargalhando, ela não era certa, definitivamente. respondeu.
  - Boa noite, dude! – Deitou-se de lado, e fechou os olhos.
  A lua brilhava forte sob a grade de sua janela aberta. não conseguiu dormir, depois que deu boa noite para , rolou de um lado pro outro no seu colchão novo, que já estava quase moldado a seu corpo, tentou, mas não conseguiu. Olhava a lua cintilando forte no céu totalmente limpo e cheio de estrelas, sentia o vento bater sobre seu rosto e gelar a extremidade do seu nariz, que provavelmente devia estar vermelho. Piscava repetida e freneticamente a cada pensamento novo, eles vinham como ondas. O seu silencio não denunciava sua paranoia e curiosidade, mas seus olhos quebrados como vidros e sua mão dentro do bolso de seu casaco vermelho sim. O motivo da sua insônia era o bilhete deixado por Jhon, o bilhete mandado por . Pareceu-lhe vago, vago o suficiente para fazê-la querer abri-lo desesperadamente, mas se segurava. Ficou em torno de 40 minutos passando a mão delicadamente sob o papel, em um movimento vai e vem dentro de sua camisa. Não queria dar o braço a torcer pra si mesma, mas o que seria do ser humano – Não tão humano assim – sem um pouco de curiosidade e teimosia? não era muita coisa em relação a isto. Deparou-se sentada na cama, chegou um pouco mais perto da janela, o barulho da cidade não podia ser ouvido, afinal, já era tarde. Finalmente o tirou do bolso e colocou em sua frente, então começou uma batalha interna sobre abrir ou não abrir. O que ganharia lendo? O que ganharia jogando fora? nunca ganhava nada, essa não seria a primeira vez. Em um colapso de opinião, colocou a mão pra fora da janela junto com o papel fazendo menção que ia jogá-lo fora, soou idiota até pra si mesma, quem ela estava enganando? Queria ler logo aquela merda, as letras, ainda sim no escuro do quarto gritavam chamando sua atenção: “”, só de olhar suas mãos coçavam de curiosidade. Não aguentou, puxou-a de volta num segundo e abriu quase que desesperadamente o papel que dizia:
  “A bela vadia acordou! Você sabe o que eu passei depois do que você fez? Não, estava ocupada demais dormindo, mas eu farei questão de te ensinar a não mexer comigo outra vez. Aguarde!”
  Arrependeu-se amargamente por ter aberto o papel, não entendeu, como ele tinha colocado ela lá e ainda sim estava com raiva? Era um tipo de um jogo inteligente? Cafajeste, ela não deixaria aquilo barato, nem que fosse preciso acabar com sua raça de novo! Ridículo, idiota, sem noção. E dai que ele ficou com fama? Se ele ficou com a fama foi porque mereceu, marica. A raiva percorreu entre sua pele, não poderia estar com mais ódio. Nada fazia sentido, comida e quarto bom com direito a uma companheira de legal numa hora e ódio – que agora era mutuo – de outro. Ele que iria pagar. amassou o papel e jogou-o janela afora. Arfou e cruzou os braços com raiva, ela respirava raiva e inspirava desprezo. A guerra interna de e só estava no começo.

Capítulo 8 - Drink perigoso

  - Então quer dizer que era você atrapalhando meu sono do outro lado da cela no outro dia? – perguntou de sua cama, enquanto arrumava seu cabelo frente ao espelho do banheiro. “Hunrum”, ela respondeu despreocupada.
  Foi assim todo o final de semana, uma conhecendo a outra, fazendo perguntas e rindo de situações engraçadas e constrangedoras que tinham passado ao longo de suas jornadas. ficou muito triste quando ouviu a história de vida de , quase chorou no termino da história e se acalentou por não tê-la conhecido antes. Disse que adoraria ter roubado alguns rapazes de suas garras e que seria o máximo se elas pudessem ter feito compras em Paris. falava bastante, de um jeito legal e que nunca deixava cansada de ouvir; gostava muito de perguntar, diferente de . só falava quando era preciso, nem demais nem de menos, apenas o necessário e com quem realmente merecesse ter uma conversa decente com ela. Na segunda – como todos os dias anteriores – o “serviço de quarto”, ou melhor, “serviço de mutante” - como renomeou, ela disse que o motivo desse nome era porque a comida era de outro mundo, achou graça - trouxe suas refeições nos três horários. Todas boas, quentes e fartas, mas não havia nenhum bilhete sob nenhuma delas. Depois que ela acordara, não deu nenhuma notícia. Devia estar ocupado demais pagando de herói por ai, pensou. ficou curiosa pra saber se o tratamento dos outros mutantes também havia mudado. Seria ótimo se tivesse, afinal, ela não fez o que fez só por ela, queria que valesse pra todos. estava extremamente puto com ela, mas isso não era problema porque o ódio era mútuo.
  - Hey , será que é proibido beber por aqui? – perguntou ainda do banheiro, enquanto olhava pra o céu que já amarelava pela janela. Sentia falta de seus livros e de seu sofá no Hilton, precisava levantar o humor.
  - Hãn? – Despertou de seus pensamentos.
  - Eu disse: “, eu quero beber, faz muito tempo que não bebo, eu preciso disso.” Minha garganta tá implorando por algo, talvez até por um cigarro. – Confessou.
  - Não me lembre de bebidas, por favor. Eu estou sentindo muita falta de meus drinks coloridos, você não quer me ver enraivada, muito menos por causa de um drink. – Respondeu rolando os olhos, lembrou do Wilson, aquele da boate.
  - Foda-se você, eu preciso urgentemente de algo pra rasgar minha garganta, pelo menos. Você que não quer me ver enraivada, sabe muito bem do que eu sou capaz. – Revidou. Elas se olharam com cara de nada por mais ou menos 30 segundos. Pierce quebrou o silêncio. –, você é a inteligente aqui, anda, dá um jeito, eu quero muito beber! – Foi até a mesinha e depositou a escova que tinha acabado de usar.
   continuou em seu lugar, pensativa, então despertou novamente. virou-se assim que ouviu o som cauteloso do corpo de se movendo, ela estava em cima da cama, olhando pro lado de fora da janela. Sua blusa branca do Nirvana se esvoaçou levemente com a brisa, seu rosto cintilava. Alegrava-se mais quando estava em contato com a luz solar. Mesmo fazendo careta, fazia questão de olhar diretamente para a luz solar, que já se despedia sobre os altos prédios vizinhos. Pierce observou o quanto sua nova colega era bonita, uma beleza diferente, algo frio e duro, rústico, mas ao mesmo tempo doce. Essa doçura estava pra dentro, talvez ela tivesse que cavar bastante pra chegar lá, estava disposta a faze-lo por essa amizade. Despertou também.
  – , que merda voc.. – Terminaria, se a mesma não tivesse lhe interrompido.
  - Cala a boca, Pierce, ou não te arrumo a bebida. – tratou de fechar o bico, afinal, ela estava aparentemente matando por uma bebida, não é mesmo?! parou um pouco, olhou para um lado e pro outro, a brisa continuava a balançar seus cabelos negros. – Você tá ouvindo? – Perguntou.
  - Ouvindo o que? – chegou mais perto.
  - Ainda nesse andar, homens conversando. Três, pra ser precisa. – Parou novamente, Pierce subiu na cama também, quem visse de fora provavelmente pensariam que elas estavam espiando outra pessoa em outro prédio qualquer; elas pareciam idiotas naquela situação.
  - Mas, eu pensei que nã... – lhe empurrou levemente, pra calar a boca.
  - Eles podem nos ouvir. –Sussurrou em seu ouvindo e inclinou-se um pouco mais pra frente, num segundo Pierce não podia mais lhe ver, então desceu da cama e esperou ela terminar sua coisa sozinha. não gostava quando ela fazia isso sem avisar, apesar dos mínimos dias de convivência. reapareceu, fechou a janela e sentou de vez na cama. – Noticia boa pra você, querida alcoólatra. – não queria, mas olhou-a curiosa sem nem disfarçar, “foda-se” pensou.
  - Fala logo. – Chegou mais perto e sentou na cama.
  - Eles têm bebida, trouxeram escondido. – Disse indiferente, mas havia uma pontada de curiosidade em seus olhos.
  - Como você sabe? Eles são homens, não deveriam estar no mesmo lugar que nós. – Retrucou, não tinha gostado dos caras, eles possuíam o que ela queria.
  - Porque eles não vieram que nem a gente, quer dizer, que nem eu, a idiota que dá bobeira e se deixa ser dopada. – Revirou os olhos, insatisfeita. – Eu não sei o que eles estão fazendo no mesmo lugar que nós, mas uma coisa me intrigou: só um dos três parecia saber que estava sendo ouvido. Os outros continuavam fazendo o que estavam fazendo, ele não, parou quando sentiu algo diferente, depois fingiu que não era nada, estranho.
  - Estranho é você ouvir o que tá acontecendo a seis cômodos de distância, e ainda sentir que outra pessoa te sentiu, isso é estranho. –Começou a bater o pé no chão, estava nervosa.
  - É... Um pouco estranho, eu nunca ouvi nada a distância, e agora me aparece essa. Eu não sabia que podia fazer, mas quando quero apenas acontece, é confuso. – Voltou a deitar-se onde estava, fitando o pôr-do-sol amarelado. lhe olhou mais uma vez, cansou e sentou em sua cama, deitou, pegou algum resto de batata frita e ligou a nova tv que fora instalada no domingo. Estava passando justamente um programa culinário, o chefe era italiano, usava e abusava de vinhos e outras iguarias. Pierce colocou naquele canal para se torturar; já que não podia ter a bebida e tira-gostos deliciosos e gordurosos, se torturaria até o sono chegar e finalmente esquecer-se daquela sua vontade desenfreada.
   permaneceu assistindo e comendo as besteiras que achou até o entardecer, já deitou-se em sua cama e tornou-se a pensar e se fazer perguntas. Porque merda ela estava ali ainda? Algo lhe prendia, teve receio que mesmo que surgisse uma oportunidade para fugir, ela não quisesse de fato fazer, soava-lhe como uma pendência, uma praga, um carma. Ela teria que ficar e resolver seu negócio seja lá qual fosse. Seus pensamentos se acarretavam de forma que não era possível resolver nenhuma de suas perguntas, como na luta com , ela não se controlou, apenas foi lá e fez. O seu interior pedia isso, e a única forma de cala-lo era dando-o o que necessitava. , outra pedra em seu caminho, será que nunca mais o veria? Deveria ser, pensou. Depois do que ela fez, de como o humilhou publicamente deveria ser o mínimo que ele iria fazer, o mesmo que provavelmente ela faria em seu lugar. Mas o que realmente lhe incomodava era o fato de estar incomodada com seu silencio e sua ausência. Seria estranho dizer que ela o queria perto mesmo que fosse para brigar, pra o machucar? Não sabia, só sabia que não iria mudar em nada o fato de que podia demorar o seu encontro com ele, mas quando fosse a hora algo grande aconteceria, como todas as outras vezes desde que estiveram juntos pela primeira vez. . . Olhos azuis cintilantes. Força. Tamanho. Presença e eletricidade. Podia vê-lo em sua frente sorrindo convencido por alguma de suas conquistas idiotas, entre elas conseguir pegar uma pedra de merda. Convencido. Irritante. Esnobe. Persuadido. Idiota. Ridículo! “Seu fodido idiota, saia da minha cabeça, me deixe em paz! Chegue perto de mim de novo e eu quebro sua cara” gritou, esgoelou-se internamente, ele não merecia ser o centro de suas atenções nem por um minuto, era perca de tempo. A não ser, claro, se a intenção fosse o prejudica-lo.
  - Idiota! – Protestou baixinho pela ultima vez, arrancou a coberta abafada de seu corpo, e ergueu-se procurando Pierce. Ela dormia. A tevê continuava ligada e o mesmo programa continuava passando apesar de já ter se passado horas desde que fora ligada. Devia ser uma maratona, pensou. Levantou-se e foi direto pra o banheiro, tomou um banho demorado e vestiu um short cinza e uma camiseta simples na cor preta. Olhou-se no espelho do banheiro, nenhuma maquiagem se quer um batom, mas na verdade estava pouco se fodendo em não está bonita, não veria ninguém, não faria diferença. Sentia falta de suas roupas diferentes e estilosas, falta da ação. Não que fosse muito ligada em ação, mas nos últimos dias ela usou bastante de coisas sinônimas a isso. Ficou mais alguns minutos se olhando no espelho e fazendo aquelas caretas que todo mundo faz, até fazer uma tão escrota que desistiu e saiu. Olhou um pouco a tevê, zapeou os canais até a metade porem nenhum lhe agradou, então a desligou assim como a luz, deixando o quarto só com a luz do abajur de . Voltou pra sua cama, já estava cansada de não fazer nada. Sob a luz do abajur conseguia ver suas mãos aparecendo e sumindo ao seu controle, usar seu poder as vezes a distraia, era bom. Tocava uma mão levemente sobre a outra como costumava fazer, por um momento esqueceu-se de toda bagunça que estava, até que a ouviu o som de batidas na porta.
  - Oi. – saldou a senhora num tom amigável, estranhou esse tom vindo de sua boca.
  - Olá, 1027, vim trazer a terceira refeição para você e sua colega de quarto, posso entrar? – notou de cara a diferença dessa mulher para outra, não no biótipo, pois eram iguais, mas pelo simples fato dela falar, a outra apenas entrava, olhava pra ela por dois segundos e saia, estranha.
  - É... Claro, claro. – analisou bem a mulher, ela não tinha cara de burra, mas poderia ser que conseguisse algo dela, se agisse com cuidado, é claro.
  - Me desculpe por ter atrasado com sua refeição, peço que não conte a ninguém sobre essa falha... Recebi algumas ordens... – Disse caminhando em passos pequenos até o centro do cômodo.
  - Está tudo bem, a minha parceira tá dormindo e eu não estou com fome. – Sorriu de lado, tomou o tom “moça integra e doce”. – Mas que ordens foram essas? Claro, se puder dizer... –Tentou ao máximo soar desinteressada, pois assim ela acharia que não era nada demais falar e soltaria.
  - Hun... – Disse arrumando os alimentos, frutas, bebidas, cereais, industriais e massas. notou que a quantidade de comida havia aumentado, perguntou-se quem foi o idiota que fez aquilo. – Nada demais, senhorita, só pediu pra ter certo cuidado com você, algo sobre você ser especial. – Isso lhe soou tão... VAGO. Não podia estar mais claro que essas palavras foram dele. Um sinal de vida! Ela juntou um mais um, se essa mulher era nova, ele deve ter lhe dado essa ordem há pouco tempo. Porra, não dava pra decifrar se especial era algo grande ou pequeno. Merda, não podia focar nisso agora, tinha algo mais importante, por hora.
  - Aah, entendo... Acho que é porque eu fiz umas coisas que não agradaram muitas pessoas. – Deu de ombros.
  - A pessoa que falou isso não parecia chateada, na verdade, essa tal pessoa até pediu pra saber como você estava depois... – Terminou de organizar os alimentos e voltou-se para que saiu de trás dela desconfiada.
  - Você não vai me contar quem é essa pessoa, não é?! –Perguntou.
  - Ela pediu sigilo. – Respondeu, dando uma ultima olhada pra verificar se estava tudo em ordem na mesa, viu-se com as mãos desaparecendo, colocou-as imediatamente pra trás.
  - Hunrun... Você não foi muito boa em sua missão. – Sorriu. podia sim ser simpática, mas só quando bem queria, não era algo que viesse de dentro da sua personalidade. - Pode me fazer um favor um favor? – Perguntou desconfiada para a mulher, que já se arrumava para partir, então voltou-se, um pouco desconfiada.
  - Fale...
  - Você tem um papel e caneta pra me emprestar? – Questionou novamente, a mulher lhe olhou curiosa por alguns segundos e finalmente puxou um bloco de notas amarelo e uma caneta preta e lhe entregou.
  - Obrigada, obrigada! – se animou, foi até a mesinha e escreveu no pequeno bloco “Essa vadia diz obrigada, e vá pro inferno” olhou o papel tempo suficiente para duas piscadas, não teve certeza do que estava fazendo, mas foda-se, não tinha muito a perder. Dobrou o papel umas quatro vezes e na frente colocou “” em letras grandes e cursivas. Voltou até a mulher, que ainda não estava muito certa do que se passava.
  - Aqui. – Entregou-lhe o papel, ela olhou pra ele com cara de “what the fuck”, sorriu de lado, um pouco envergonhada. – Ok, eu quero que você entregue isso a pessoa que lhe pediu para tomar cuidado comigo, pode ser?! – Olhou-a ansiosa esperando um sim como resposta. O sim não veio, apenas um balançar discreto de cabeça. O sorriso de não pode deixar de se abrir, estava se saindo bem. Finalizaria com um limão fresco no copo do “drink”. Não se conteve e abraçou com tudo a mulher, que recebeu o abraço sem jeito, e permaneceu assim até o final. Terminou o abraço lhe olhando estranha, acabou que ficou com vergonha de novo, porém, dessa vez teve um motivo.
  A senhora pegou seu carrinho e foi embora, trancando a porta novamente. arfou forte assim que ela saiu, estava cheia de tensão, nervosa e seu braço tinha sumido quase que era perceptível, mas disfarçou bem. A notícia boa era que tinha conseguido pegar o cartão de passe do bolso da mulher na hora do abraço, não podia estar mais feliz! Tentou uma vez quando ela contava a história do idiota do , - supostamente, pelo menos – mas não conseguiu, se deixou levar pelo o que ela dizia, mas assim que ela terminou a ideia veio em sua cabeça, não pensou duas vezes antes de faze-lo, porem não entendeu seu descontrole de sentimentos e poderes, não quis pensar nisso agora, tinha que chamar .
  - ! ... ! – Chamou em tom baixo duas vezes, mas ela continuou dura que nem pedra, merda de sono pesado. – Pierce, se você não acordar agora perderá a ultima oportunidade de beber seu drink em eu não sei, meses, anos talvez! Falou um pouco mais alto a sacudiu-a então ela despertou.
  - Mas que merda você está fazendo? –Perguntou zonza e toda descabelada.
  - Te dando a oportunidade de tomar a porra da sua bebida! Você tem no máximo um minuto pra trocar essa roupa, anda, não podemos perder tempo! – Sussurrou.
  - Por que está sussurrando?! – saiu avoada da cama, correu em passos rápidos e leves até o guarda roupa do outro lado do cômodo, tirou a saia longa e blusa cavada que usava, catou um vestido e colocou, ali na frente de mesmo, estava pouco se fodendo que ela visse.
  - Porque tem a possibilidade de algum deles estar nos ouvindo não é, idiota?! Não sabemos com quem estamos lidando! – terminava de colocar seu coturno, ele combinava muito com o resto da roupa, e finalmente poderia voltar a usa-lo. Foi até a mesa e procurou uma faca, porem não achou. Talheres descartáveis de merda! Tinha que haver outra coisa que pudesse ser usada caso precisasse.
  - O que você tá procurando? –Pierce acabava de se arrumar.
  - Uma arma, Pierce, uma arma! Ou você acha que eu vou correr riscos À toa? Já não basta essa loucura toda por causa de uma bebida?! – Soou irritada.
  - Nossa , você deveria ser mais doce com os outros, se é uma arma que precisa, eu posso te ajudar! – lhe olhou surpresa, enquanto ela abaixava-se do lado do guarda roupa. Passou a mão em baixo dele, depois de papear um pouco conseguiu achar o que procurava. Levantou-se num pulo.
  - Um canivete? Sério? Como conseguiu isso? – perguntou curiosa.
  - Sim, por que ao contrário de você eu não vim desmaiada, muito menos ataquei o macho alfa da fundação, então consegui esconder esse pequeno brinquedinho pra horas como essas. – Disse sorrindo esperta. rolou os olhos.
  - Bom, agora vamos! Anda, agora ou nunca! – Caminhou rápido até a porta, não podia negar, amava aquela adrenalina!
  - Espera! – Gritou antes de abrir a porta.
  - Merda, o que é dessa vez?! – Voltou irritada.
  - Será que dá tempo de eu passar um batom, ou não sei... algo que core minhas bochechas? ! Vai que os caras são legais! – não sabia se ria ou ficava com raiva, aquilo foi patetiçado [n/a: uma mistura de patético com engraçado, chupa essa manga que eu invento até palavras].
  - Sabe o que vai deixar sua cara bem corada? O tapa que eu vou te dar se não passar nessa merda de porta agora! – Foi o bastante pra Pierce passar enfezada em sua frente. pegou o cartão e passou-o, rezando pra ser o certo, pra sua sorte foi. Finalmente estavam livres. estranhou o corredor, pois nunca tinha o visto. Ele era pintado na cor bege cintilante, largo e bem iluminado. no chão o piso era de porcelanato aparentemente fino e caro. Tapetes grandes e vermelhos com estampas étnicas espalhavam-se diante todo o espaço, ela achou tudo muito primoroso, julgando que o quarto não condizia ter o mesmo nível do corredor. Reparou que sempre que era levada de um lugar a outro estava desmaiada e não conseguia ver porra nenhuma, era carma, só podia! Pierce já devia estar acostumada com tudo aquilo, não se vislumbrou muito com o que aparentemente já tinha visto muitas vezes. Seu pensamento foi interrompido.
  - Fala, , como você conseguiu o cartão? – perguntou passando uma mão ás outras, a temperatura estava mais fria.
  - Longa história, depois eu conto! Vamos! – Passaram facilmente de um lado do corredor a outro, e então lembrou-se.
  - , ! Desaparece! Câmeras! Tem câmeras em todo lado, eles não podem ver você quebrando regras de novo, anda! – Quando virou-se, ela já tinha desaparecido.
  - Obrigada! – Agradeceu.
  - Chega de educação, eu quero outra coisa! Qual o plano? – Perguntou olhando pra baixo, pra não ser percebida.
  - Então, agora do lado de fora eu posso saber onde eles estão... – Parou por um segundo e fechou os olhos, então voltou. – 6 quartos á direita. A mulher que entrega mudou, ela é um pouco mais lenta que a outra, então se corrermos chegamos lá antes dela, e assim que ela abrir a porta eu entro e pego a bebida, que deve tá escondida em alguma merda de lugar, e saio do quarto, voltamos imediatamente pra o nosso quarto e isso nunca aconteceu, ok? – Perguntou.
  - Ok, mas você esqueceu de uma coisa, em cada corredor tem um guarda, ele não dá tanta bobeira quanto a mulher. – Lembrou.
  - Certo, eu vou primeiro até onde ele tá e te digo na hora que ele se virar, então você passa, ok? – Combinou com , que franziu um pouco o cenho.
  - ... – Chamou antes dela ir.
  - Oi, Pierce! – Não pode se negar que ela esperava algo bem mais profundo do que o que veio.
  - E ai, eu to bonita? Dá pra seduzir alguém, tipo, mesmo nesse estado? –Perguntou, e o pior é que ela não estava brincando.
  - Eu não sei, merda! Você tem que parar com isso! –Reclamou.
  - Qual é, garota, não custa tentar! – Sorriu, então correu na direção do quarto, passando pela mulher da comida. Pierce se escondia atrás de uma parede ainda no começo do corredor. Não deu tempo de procurar o guarda, pois assim que apontou no final do corredor, ele vinha de outra entrada que ela não tinha percebido, foi por pouco, mas não se impactaram. Arfou, fechou os olhos e buscou ar puro. Merda, furtar bebida dava trabalho. Tinha que fazer algo pra sua colega passar, mas o que? Lembrou-se! Seu sapato, isso! Tirou um pé de seu sapato e jogou com toda força que pode no mesmo lugar que ele tinha saído. O que fez vira-lo institivamente para olhar o que era. Tudo acontecia ao mesmo tempo, o guarda virando-se curioso, correndo para conseguir se livrar da visão do mesmo, apreensiva e a mulher que já saia do 5º quarto e ia a passos pequenos até os 6º.
   correu o mais rápido que pode, mas não seria tão fácil assim, não é mesmo? No momento que ela passava o maldito corredor, o imprestável do guarda estava prestes a virar-se outra vez a procura de uma resposta pra aquele sapato voador que caiu em sua frente. Tudo sairia em perfeita ordem se Pierce não tivesse se embaraçado e caído no corredor que ele estava por causa de um tapete instalado lá, o que era totalmente desnecessário. Os olhos de pularam pra fora e seu coração palpitou, não queria que sua companheira fosse pega, mas ela também tinha seus poderes. Antes dele se virar lançou sua mão pra frente e ele tropeçou do nada. Ela não pode ver, mas sentiu a energia de seu poder palpitando e escorrendo, enchendo a atmosfera, naquele momento Pierce não poderia estar mais presente. Levantou-se e finalmente passou do desnecessário corredor. Foi exatamente o tempo de a mulher bater sobre a porta do quarto. correu rápido ficando atrás dela encostada à parede, não conseguiria ver de primeira a pessoa que abriu a porta. Já Pierce ficou atrás de uma viga de frente pra porta obteria uma visão perfeita de tudo o que acontecia no quarto caso a porta fosse aberta. estava mais nervosa do que o normal, mais elétrica, queria muito ver quem estava atrás da porta. respirava descompassadamente esperando sua deixa, então a porta abriu.
  - Hey, pode entrar! – Assim que a porta se abriu tentou ao máximo ouvir e sentir quem estava lá dentro, não teve muito tempo, pois assim que lhe foi convidado à mulher e seu carrinho adentrou o quarto. Foi por milésimos segundos que não ficou do lado de fora, conseguiu entrar deixando do lado de fora uma louca de curiosidade e medo. Medo, o que lhe assustou não foi o fato de ver sua amiga entrando num lugar desconhecido por um motivo estúpido por SUA causa, e sim pelo o que acabara de ver dentro do cômodo, seus pés falharam, não deveria ter olhado nem ter sido tão curiosa; “mas que merda, , pensou. Não, quem fez seus pés vacilarem não foi uma arma super poderosa ou alguém pelado do lado de dentro, apesar de que a pessoa que teve sua primeira olhada parecer mais ser uma visão, com um nível de perfeição elevado. Ele estava apenas de toalha, era branco e musculoso, daqueles que não tem muito pelos sabe? Seus cabelos eram loiros acastanhados, os olhos tinham uma cor puxada pra o castanho só que esverdeado, qualquer mulher poderia totalmente passar muito tempo olhando pra aquela obra de arte, mas não foi isso que invocou, pediu e implorou a atenção de naquele momento. No momento em que a mulher e seu carrinho passaram – provavelmente também – e a porta se abriu mais um pouco pra dar passagem, pode ver em um ângulo simetricamente perfeito alguém dispersado em uma cama lendo um livro- que não conseguiu reparar o titulo - suas pupilas cresceram, e ela sentiu necessidade de controla-lo, mesmo de tão longe ela o fez, só queria ver seus olhos olhando os dela, elevou rápido suas mãos e o fez levantar a face fazendo conseguir agora visualizar pela primeira vez um cara jovem, com sua barba por fazer e um fitar confuso nos seus olhos azuis, então a porta se fechou.

   POV’S
  - Ok, pode colocar tudo do lado entre a as camas. – O cara alto que abriu a porta falou pra aquela mulher - que eu chamaria de estupida se ocasionalmente ela não estivesse me fazendo um favor – e passou por mim, acho que foi pra o banheiro, ainda bem que não me notou. Eu sim notei, ele seu tamanho, perfume forte e peitoral excelente, não sou de ferro. Pude sentir meu coração dar leves palpitados fortes sem minha permissão, não dei muito valor, era só nervosismo pré-roubo, apesar de eu achar que não tenho essa droga, já roubei tanta coisa, uma bebida idiota era um nada perto do que eu já fiz. Sinto-me estupida fazendo isso por alguém que eu nem conheço, mas é por um bom motivo, bebida.
  - Daleven, o estúpido do Handcheen continua lendo aquele livro idiota sobre psico alguma coisa que o lhe deu, que babaca! Por que você não manda seu amigo sair dessa vida? – O cara que falou isso zapeava os canais de uma tevê bem maior e melhor que a do nosso quarto, filho de uma biscate, não serviu nem pra colocar uma merda de uma tevê boa naquele quarto, mais uma na conta dele. Ele era moreno café com leite, é assim que eu chamo quando a cor é uma mistura, o que em minha opinião é super bonito. Sua altura era um pouco menor que a de Daleven (e sim, eu vou chama-lo pelo nome mesmo sem ter permissão). Seu rosto parecia que foi desenhado, e quando eu digo “desenhado” não estou exagerando. O tamanho de um lado era exatamente compatível com o outro, seu nariz era retíssimo, o que era muito estranho, eu einh. Sua boca era grande, típico de um afrodescendente. Ele usava uma camisa polo preta e bermuda cor de musgo, estava descalça sentado despojadamente na cama ainda zapeando os canais. Eu continuei parada, o Daleven no banho, a mulher fazendo seu serviço, o Handcheen lendo e a , a deveria está à beira da morte com o seu canivete do lado de fora.
  - Porque ele é grande o bastante pra fazer o que bem entender Jiorg! – Ouvi o som dele jogando seu corpo pra fora ao responder. Aliás, esse negócio de super audição ou sei lá que porra é, é meio estranho... Não sei como adquiri essa parada, mas é muito útil às vezes. Eu não saí do lugar onde estava desde que cheguei, parecia uma criança idiota observando o movimento de todos no cômodo. Finalmente esse garoto estranho tirou esse livro da cara, tô a fim de ver como ele é, queria poder falar agora, eu realmente queria. Seu cabelo era meio escuro, e a cor de sua pele era extremamente branca. Não, pensando bem seu cabelo não era um pouco escuro, era um puta de um preto, eu queria ter aquela cor naturalmente! Handcheen, seu livro e óculos estúpidos! Ele fitou curiosamente a mulher por um tempo, enquanto eu fazia o mesmo com ele, o mesmo voltou-se rápido em minha direção. Quer dizer, na direção que eu supostamente deveria estar, então me assustei. Minhas mãos tremeram e o ar que eu respirava começou a ficar pesado, senti imediatamente a desconfiança do Handcheen, que mesmo olhando pro nada sabia que alguém estava ali. Pensei que tinha me recuperado, mas senti outra palpitação forte no coração, dessa vez não fui à única, o que foi totalmente estranho. Ouvir Daleven arfar forte mesmo do banheiro e sem razão, ver a careta de dor que fez os olhos do Handcheen fecharem e ter um pressentimento de que não estava bem também me incomodou muito. Tudo se foi quando pisquei os olhos pela segunda vez, não só pra mim, Handcheen voltou, mesmo que ainda desconfiado, e Daleven saiu de sua ducha. Os únicos que permaneciam visivelmente bem era a mulher, que já terminava sua arrumação e o preguiça do Jiorg, eu acho que é esse o nome...
  - Esse lugar tá saindo melhor que a encomenda, Daleven! – Jiorg balbuciou tirando sei lá o que do bolso de suas calças. Todos continuaram suas ações normalmente, menos eu, que estava terrivelmente curiosa pra ver o que o dito cujo faria. Ele finalmente deixou visíveis as três pequenas bolas cinza que aparentemente eram de zinco sobre a palma de sua mão esquerda e sem olha-las nenhuma vez as fez flutuarem sem qualquer dificuldade, não vou negar que tomei um susto. Poderes aberrativos naquele lugar eram o que não estava me faltando, puta que pariu, acho que respirei pra dentro umas duas vezes quando vi, me encontrei num estado vidrado naquela porra, merda! Merda! As bolinhas flutuavam em círculos de acordo com seus comandos, e eu observava tudo como um gato, só faltava cair a baba. Idiota, como eu sou patética. Pensei que o poder só funcionava a certa distância da sua mão, mas quando ele levou as bolinhas girando e girando até a mesa de comidas eu fiquei estonteada, era tipo um poder pra pessoas preguiçosas. As bolinhas foram direto numa coxa de galeto assado em cima da mesa. Pisquei mais uma vez e a comida já estava flutuando em cima das três bolinhas que continuavam seu curso perfeito. Indaguei uma, duas vezes, até minha atenção ser chamada pra o Daleven, que também usava uma bermuda folgada, só que preta e camisa branca polo folgada. Seus cabelos estavam bagunçados por conta do banho. Muito bonito, muito! Puta que pariu, muito atraente, reparei mesmo, e dai?
  - Sim, o foi bem solidário conosco, mas acho que é porque ele precisa de nós mais que precisamos dele... – Finalmente alguém me entendia, finalmente! A diferença que eu só me dei mal até aqui né, como a estupida que sou. Ele ficou encostado numa parede perto de mim, eu, idiota, não consegui me mexer, nem quis também, ele provavelmente não notaria minha presença. Finalmente Handcheen tirou definitivamente o livro da cara e colocou-o sobre a mesinha ao lado da cama. Levantou-se me deixando ver o quão bonito ele era também. Só ele estava usando calca e estava sem camisa, milagre eu não ter reparado... Sua altura era média e ao contrário do demais ele era magro. Magro, alto, topete, cabelos escuros, gleek e aparentemente mais novo que os outros, exatamente do tipo da Pierce, se fosse me basear no que ela me disse dias atrás. Espreguiçou-se rapidamente e caminhou para o banheiro, passando primeiramente pela mulher, que aquela altura parecia mais invisível que eu, e logo depois em passos mais lentos até ficar de pareia com Daleven e eu. Nessa hora eu arfei, não vou mentir. Quase derrubava um vaso que estava em cima de um armário do meu lado. O seu olhar desconfiado bateu forte no Dalev que rebateu com a mesma intensidade procurando saber o porquê daquilo tudo. Deparei com ele olhando diretamente pra mim, procurando ver alguma coisa ou ouvir algum barulho. Eu fiquei espantada, garoto estranho! Não tinha necessidade de ele ter boa audição que nem a minha. Handcheen moveu-se pra frente e eu dei um passo pra trás, com a respiração presa e os olhos praticamente pulando pra fora dos meus glóbulos oculares, não podia ser mais tenso. E Deus abençoe do Dalev, pois ele que o chamou de volta para o mundo normal! –Andrey, para com isso, não tem ninguém aqui, deixa de ser estúpido! – Ele não tinha muito sotaque de lugar nenhum ao contrário de mim, sua forma de falar era bem formal, gostei.
  - Vincent, tem algo de errado aqui, eu posso sentir! – Exclamou. Ouvi sua voz pela primeira vez, e para minha surpresa ela tinha um sotaque, sotaque muito conhecido por mim. Eu deveria saber que ele era britânico. Nós temos certa forma de olhar que denuncia, arrogância e frieza, eu admito. Ele tinha certeza que eu estava ali e eu tinha certeza que se não saísse dali logo algo daria terrivelmente errado.
  - AAAAHHHH! – Vicent e Andrey gritaram desesperadamente em uníssono, o que me segurou para que não fizesse o mesmo também eu não sei. Mas a dor que eu senti foi intensa, forte, eu chegaria a chamar de devastadora. Eu só queria gritar e por pra fora de mim àquela merda que começava em meu coração e ia direto pra minha costela direita. Curvei meu corpo pra evitar que o barulho do meu corpo no chão denunciasse minha presença naquele lugar, dei alguns passos atrás e encostei na porta tentando não fazer barulho. Eles por sua vez fizeram uma careta e se olharam por um segundo e contorceram-se, sentindo o efeito daquela dor aguda igual a mim. Vicent amparou institivamente seu braço esquerdo indo direto pra cama dando um grito forte pelo caminho, o que chamou a atenção da mulher que já tinha terminado seu trabalho e do Jiorg, que deixou sua posição a lá despojada, levantando-se no mesmo momento com cara de cu. O único que não teve dor pra dentro foi o Andrey, não consegui ver direito, mas ele não gritou.. Apenas colocou todo seu corpo pra fora, como se estivesse sendo puxado por alguma força do sei lá o que. Acho que vou cair, eu não posso cair, eu não sou disso! Eu vim pegar essa droga de bebida, então eu vou pegar essa droga de bebida!
  - Ahhh! - . Pierce. Droga, o que ela tá fazendo, o que tá acontecendo com ela? Eu preciso ajudá-la! AHH! AHH! MERDA! Essa merda é forte, meus ossos, eles vão quebrar, eu preciso gritar... Eu preciso...
  - Mas que merda é isso! – Jiorg perguntou olhando assustado pra os dois caras que faziam caretas de dor. Percebi que os gritos abafados da Pierce tinham parado! Será que eu tenho que cuidar de tudo? Acho que to meio pasma com essa parad... Parou. Como assim parou do nada? O que... Meus pés ainda vacilam, mas eu preciso acabar logo com isso.
  - Vincent, o que foi isso? – Andrey perguntou pra o seu colega do outro lado, ele ainda estava se recuperando, eu já me levantava. A mulher já devia ter feito alguma coisa, aquilo não era normal, ela permaneceu como se estivesse esperando alguma coisa.
  - Eu não sei, cara, veio forte, como se tivesse quebrando meus ossos em uma temperatura alta pra caramba, levando tudo que eu tenho pra cá e no outro instante foi embora. – Vincent respondeu varrendo seu olhar por todos na sala, então levantou-se rápido, como se nada tivesse acontecido. Handcheen fez o mesmo apesar de ainda está com cara desconfiada. Foi direto para o banheiro.
  - Rapaz, você está mesmo bem? – Eu ia tomar uma providencia e procurar logo o que vim procurar, mas fui interrompida, dessa vez pela mulher. Parei pra observar a conversa, Jiorg sentou-se outra vez.
  - Eu estou sim... Só não entendi o que foi isso. Tenho que falar com sobre isso, não estávamos sentindo nada disso antes de entrar aqui, se ele tiver algo a ver com isso, com certeza pagará. – Soou um pouco mais frio que das outras vezes. Dei uns dois passos pra frente sem nem mesmo perceber, queria ouvir aquilo de perto.
  - Eu... Erh... Preciso do meu pagamento – Disse a mulher, sem jeito. Não pude deixar de sorrir de lado, que ironia essa, pagamento pelo quê?
  - Claro Jenna, pode vir aqui? Eu não estou me sentindo muito bem. – Vicent respondeu então ela, que já estava quase perto da porta voltou sem jeito. Passou por mim sem notar, perfeito. Enquanto ela recebia o pagamento estúpido dela eu procuraria minha merda de bebida.
  - Vire de costas, como da ultima vez. – Ele ordenou. Eu quase fui puxada pelo bichinho da curiosidade pra olhar, mas me conformei só em ouvir o que se passava. Jiorg não estava nem ai pra o que se passava no lugar. – Onde dói dessa vez? – Aquilo estava ficando melhor que a encomenda, seu poder era fazer curativos? Me poupe!
  - Nas minhas costas, e pernas... – Ela respondeu sem jeito, ouvi seu coração bombear um pouco mais forte, percebendo seu esforço pra prender sua respiração. Devia ser pra não passar de idiota na frente daquele cara lindo. Nem preciso admitir, até um cego concordaria comigo. Fui até a mesinha que ela tinha deixado entre as camas, aproveitando a distração dos três, comecei a procurar cuidadosamente para que não reparassem minha presença. Deitei no chão e procurei no compartimento de baixo, mas não achei, tinha que estar ali aquela merda, tinha!
  - Preciso que faça que nem da outra vez, desculpe. – Soou desconfortável, assim como ela ficou apreensiva ao ouvi-lo. Parei de procurar e me dei conta que não havia nem sinal de vida da , merda.
  - Ok, se importa que eu me vire para o lado da janela? – Perguntou baixo e receosa, Daleven respondeu que não com a cabeça, de um jeito gentil, tão gentil que talvez até eu me abalasse em seu lugar. Afinal, os homens de hoje em dia agem de modo ridículo que nem o . Jenna então se virou com um pouco de vergonha e Daleven cobriu-a com o seu corpo para diminuir sua vergonha e Jiorg não lhe visse, mas como eu estava no chão vi tudo de tira colo, morta de curiosidade, não nego.
  A mulher ao que parecia ter seus trinta anos, estava com seu corpo em forma. Daleven bom moço fingiu não estar olhando, mas ele fez que eu vi. Terminando de abaixar seu vestido até abaixo do umbigo deixando toda suas costas toda a mostra Vincent e eu pudemos ver algumas pequenas cicatrizes sobre ela, eram estranhas e estavam todas em vertical, sob sua coluna. Cresci meus olhos em confusão mais uma vez, o que ele iria fazer? Faça logo, eu tenho o que fazer também! Daleven estendeu sua mão a um palmo de distância das costas de Jenna, então pude ver umas das coisas mais incríveis, inéditas e inacreditável de toda minha vida! Ondas magnéticas saíram de suas mãos, só consigo comparar a raios. É, pequenos raios magnéticos com algum poder que eu ainda não sei. Foi esplendido, lindo, todo mundo tinha um poder melhor que eu? Todos? Eu sou uma fodida mesmo! Ele aumentou a intensidade e força sobre as costas da mulher e ela gemeu de dor, teve que recostar suas mãos sobre o vidro fechado da grande ampla janela fechada.
  - Tudo bem ai? – Perguntou incerto, preocupado e fofo. Puta merda, isso saiu do meu pensamento? E fofo? Sério ?! Tem algo me afetando, só pode! – Posso aumentar mais um pouco?
  - Sim, não muito, por favor. Eu trabalhei muito hoje, não é bom abusar. – O que eu vim fazer aqui mesmo? Ah, bebida! Estúpida bebida, se eu não achar essa porcaria eu vou dar o fora, não preciso disso.
  - Ok. – Assentiu, e a ultima coisa que eu vi antes de procurar outra vez por debaixo do carrinho e lugares próximos foi uma corrente atravessar a pele de Jenna, fazendo com que ela gritasse alto de dor dessa vez. Eu, particularmente achei aquela parada muito legal, o que será que dava pra fazer com aquele poder? Não sei, mas pelo menos se faltasse luz ele resolveria. Procurei novamente em baixo da mesa cheia de comidas, talheres e panos para limpeza, na parte interna e não achei N-A-D-A! FODA-SE, CANSEI! FODA-SE A BEBIDA E QUEM QUER PROVAR DELA! Estou farta! Fui tão imbecil que ao me virar fiz cair adivinhem o que? Isso mesmo, a bebida, que estava debaixo da cama bem na minha cara! Podia me odiar mais? Claro. Pra acabar de exterminar minha festa todos ouviram o barulho da garrafa de absinto se quebrando no chão. Que tipo de garrafa quebra tão fácil sendo que já estava no chão? Vou me matar depois dessa!
  - Vincent, eu te disse seu palerma, tem alguém aqui! – Ouvi os passos largos de Andrey vindo em minha direção, Jiorg tirar sua atenção da tv e levantar-se num segundo e Vincent parar de fazer seu trabalho deixando a mulher no mínimo desnorteada. Era hora da festa! Rolei pra fora da cama ,para o lado oposto ao que Andrey Palerma desnecessário Handcheen vinha com a intenção de ganhar algum tempo. Levantei-me num piscar de olhos, com um pedaço da garrafa quebrada sobre a mão direita ainda invisível. Tratei de por a cara mais corajosa, irônica e sacana que pude. Isso iria assustar um pouco, então estava pronta.
  - Oi rapazes, e moça. – Eclodi de uma vez para todos eles que ficaram com cara de cu assim me vissem pela primeira vez. Um sorriso pré-vitorioso escorreu sobre meus lábios, fazendo-os ficarem perplexos e sem ação. – Desculpem atrapalhar sua rotina interessante e movimentada, mas sabe como é né, tinha uma coisinha pra fazer por aqui. – Fitei todos na sala, começando por Jiorg e parando em Jenna, que estava assustada e desleixada, caída sobre a janela, com cara de “O que faz aqui garota?”. Vincent parecia estar atônito sobre eu estar ali, totalmente sem ação, já Handcheen me olhava com um tipo de fúria desenfreada, coitado, não sabe com quem tá se metendo.
  - O que você quer? – Daleven me perguntou formal, pacificamente. Handcheen me olhava com repulsa. Jenna se vestia novamente com cara de assustada, e Jiorg.. Jiorg era só uma incógnita naquilo tudo.
  - Eu queria isso. – Levantei a garrafa quebrada que estava em minha mão. – Mas, você sabe, nem tudo dá certo quando a gente quer... – Balancei a cabeça como quem não se importa.
  - Jiorg, Jenna, procurem alguém e digam o que se passa aqui, andem! Vão! – Handcheen gritou autoritário, como se eles tivessem que correr de um monstro, no caso eu. – Nós cuidaremos disso! – Terminou sua fala, então Jenna e Jiorg correram rápidos pra fora do cômodo. Eu não liguei, não queria nada com eles mesmo. Também não queria brigar, mas já que eles me fizeram o convite, eu não ia recusar.
  - Me assusta chamarem uma moça tão linda como eu disso, qualquer garota normal ficaria irritadíssima com tal ato... – Fiz cara de ofendida. – Mas como todos sabem, eu não sou normal. – Foi o bastante pra eu começar aquela luta, que eu já sabia que seria injusta.
  Eles estavam a numa certa distância de mim, então deu tempo de quebrar o pedaço da garrafa que eu segurava em dois. Com agilidade coloquei uma em cada palma da mão e fui de encontro a eles que correram ao meu encontro também. Desapareci quando estava perto e estendi meu braço firme dos dois lados, rasgando a camisa de Vincent e fazendo um ferimento médio na barriga de Andrey. Primeiro golpe certeiro.
  Vicent ainda parecia controlado, enquanto o outro já arfava de raiva, não olhei em seus olhos, não sabia o seu poder ainda.
  - Garota estupida e idiota, não vê que não tem chance contra nós dois? Será um estalo de dedos para eu controlar sua mente, e se eu fizer isso irei tomar o cuidado fazer você se arrepender de ter pisado aqui. – Cuspiu as palavras da forma mais fria, ele só não sabe que eu não tenho medo de ameaças.
  - Então, vai ficar me ameaçando ou vai me deixar acabar com sua raça primeiro? – Rolei os olhos, entediada. Aquele povinho não entende porra nenhuma da arte de irritar alguém. – Quem vem primeiro? Ou... Melhor, pode vir os dois, é melhor que levo menos tempo! – Sabe a arte de irritar totalmente outra pessoa? Essa eu domino! Domino tanto que só minhas poucas palavras fizeram Andrey correr sem preparo nenhum em direção até a mim, que o recebi com um golpe de lado em suas costelas fazendo-o abaixar de dor, então bati as duas palmas da mão com força contra o seu ouvido. Ele gritou que nem bebê! Se o seu poder não tem nada a ver com o corpo ele deveria saber usa-lo de uma boa forma, não deixar a raiva subir em sua cabeça e faze-lo cometer coisas estupidas. Acho que pelo olhar que recebi de Daleven Vicent ele achava o mesmo, na boa, o garoto mereceu. Segurei-o de força e joguei-o de lado, menos um.
  - Fácil, mais fácil do que eu imaginava... Fácil até demais, não vou reclamar. Hurn! – Andrey não estava nem perto de se recuperar, não tive pena. – Próximo. – Chamei desfazendo de qualquer força que Vicent tivesse. Se ele quisesse respeito ele teria que conquistar.
  - Enfim, eu não queria fazer isso com uma moça tão bonita como você, mas já que insiste... – Ele me lançou um raio idiota logo depois de sua frase não tão idiota, mas eu deveria ter imaginado, ele usaria aquela merda a seu favor. O raio veio em minha direção e tomou todo o meu corpo, me fazendo parar de pensar por um segundo. Quando vi eu já estava no chão caída. Maldito! Pisquei outra vez e ele estava ao meu lado, aquela praga estava bonito mesmo olhando-o de baixo. Não consigo ver mais nada, tudo não pode se embaçar, de novo não!
  - OOOOH! FILHO DA PUTA! – Gritei quase que sedada pela dor forte e aguda que me consumia por inteira, eu não estava conseguindo pensar...
  - Não fale assim comigo, little lover – Puta que pariu você, crápula! Eu tenho que sair daqui... Juntei todas minhas forças e fiquei invisível por inteiro, rolei para o lado oposto de Andrey, parando debaixo da cama do meio. Faltou-me folego, o cheio de mofo e de absinto embrenhando-se ao meu olfato não ajudou em nada, NADA! Beleza nenhuma estava contando mais, ele me irritou muito!
  - Pode se esconder o quanto quiser, quando tiver pronta eu acabo com sua cara de pré-vencedora. – Abaixou-se para ver se estava tudo bem com seu amiguinho, melhor, assim eu teria tempo!
  - Há, você é uma gracinha, pena que eu vou ter que enfiar um canivete sob todo o seu peito, Jiorg. – Ouvi a voz de ecoar dentro do quarto, vinha do corredor. A mulher deve ter conseguido fugir, isso não importa! O importante era que ela estava se virando sozinha, eu tinha que fazer o mesmo. Respirei forte, peguei o resto do pedaço da garrafa no chão. Respirei de novo. Eu só tinha que prender suas mãos e nocauteá-lo, era fácil, era muito fácil. Me apegar a esse pensamento positivo que foi difícil. Sai debaixo daquela cama fedorenta, ainda invisível, e fui direto em cima de Vincent que ainda estava de costas ajudando seu colega. Finquei o pedaço de vidro em suas costas o mais fundo que pude e arrastei comigo até o final dela. Mas o controle sobre a minha invisibilidade se foi totalmente quando fitei Andrey caído sobre o chão. Ele olhou em meus olhos e eu parei imediatamente o que estava fazendo, só conseguia ouvir o grito forte de Vincent, ainda assim longe. Parar. Eu tinha que parar. Era tudo que eu precisava. Tudo que eu...
  - Eu disse pra não olhar pra mim, vagabunda! – Então não tinha controle sobre mim, meus olhos queriam fechar, eu não aguentava mais. Senti algo me segurar por traz, provavelmente Daleven com raiva fresca e sede de vingança. Logo em seguida senti algo quente e doloroso passar rasgando entre minha costela esquerda. Rosnei, gritei, gemi inconformada em está sentindo aquela dor aguda, o sangue quente começou escorrer sobre meu corpo, seu cheiro entrou em contato comigo e me deixou enjoada. Pisquei uma vez e ouvi apesar do zumbido a voz de Handcheen, ele estava em minha frente, cambaleando, consegui ver o seu vulto. – Essa é a parte que você se arrepende, sweetheart! – Eu não tive duvidas que teria no mínimo sérios danos depois de qualquer coisa que ele fizesse comigo, abri meus olhos com dificuldade para ver o que receberia, qualquer que fosse ela.
  - Hoje não, idiota! – apareceu triunfante na porta, toda desleixada, mas triunfante. Eu tremi em ouvi sua voz, nunca a quis tão perto! Meus olhos reluziram de esperança, Vicent me apertou mais um pouco, fazendo meu sangue jorrar mais forte e consequentemente o dele também, então Handcheen se virou.
  Meus olhos estavam bem abertos quando vi o que aconteceu depois, não chamou só a minha atenção, mas a de Daleven que me segurava ainda com raiva também. Uma massa, uma bolha, sabe lá o que foi aquela merda acontecia entre e Andrey, mas que vadia, não dava pra se apaixonar depois? Eu to morrendo, idiota!
  Ela arfou, seu olhar me pareceu túrbido e confuso entre fazer e não fazer o que era visivelmente necessário. Então seu olhar se quebrou, eu tenho que admitir, já tinha visto isso antes, mas não preciso ficar lembrando disso numa hora dessas.
  - ! – Gritei em tom apreensivo pra ela, que piscou duas vezes tomando uma cara de fúria total, eu não sei o que foi, mas até eu tive medo. Ela grunhiu em tom fino e jogou certeiro o seu canivete já cheio de sangue na coxa de Handcheen, foi direto no alvo. Boa, garota! Ele caiu gemendo de dor, eu tentei ridiculamente me soltar, mas não consegui. Os cabelos curtos de Pierce se embrenharam em sua face enquanto ela passava por Andrey com um ar totalmente primoroso.
  - Agora você, SOLTA A MINHA AMIGA AGORA! – Mais autoritária que ela, só eu.
  - Depois do que você fez com o meu? Tem certeza que eu vou solta-la? – Vincent cuspiu as palavras atrás de mim.
  - , eu nunca mais vou beber na minha vida! – Olhou pra mim com numa mistura de ódio e desaprovação no olhar, eu fitei o chão de volta, já sabia o que estava por vir. As mãos de Vincent abriram de uma vez obedecendo aos comandos de deixando-me livre, eu desabei de joelhos sobre o chão já impregnando pelo cheiro metálico de nosso sangue. proferia comandos duros e sadomasoquistas para Daleven, como automutilação ou coisa do tipo, ele obedecia sem pestanejar, até que uma voz ecoou sobre meus ouvidos, me acalentando e me enchendo de alguma coisa que eu realmente não sei explicar.
  - O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? VOCÊS ESTÃO LOUCOS?! – perguntou no tom mais grosso e pecaminoso que eu já ouvi desde que nos conhecemos, eu tremi. Eu era a pior ali, a mais fodida a mais idiota e a mais machucada. Todos estavam de pé, menos quem? Menos eu, que cheirava aquele chão fedorento. Ele não me notou de inicio, mas eu senti longe seu olhar pousando-se sobre mim. Fechei meus olhos, sem aguentar mais, eu ficaria ali mesmo, eles que me matassem se quisessem. Não me importava.
  - ! Seus fodidos, o que fizeram com ela? – Seu perfume que eu já conhecia chegou acalentando-me antes de seu corpo.
  - Eu nã... – Vincent tentou dizer alguma coisa, eu acho. Finalmente senti o que estava esperando. Seus braços circundaram sobre minhas costas e cintura, tomando certo cuidado quando viu o corte, não o olhei diretamente de primeira, mas depois resolvi faze-lo. Eu deveria estar um lixo, porque o olhar que recebi de volta foi um misto de pena, receio, alivio, não sei, só me senti segura naquele momento. Ele me abraçou mais forte então finalizei nosso contato visual, procurando pelo lugar. Ela estava entre os dois, todos nos olhavam invadindo tudo que tínhamos sem pudor, totalmente curiosos. Parem de olhar, otários! Gritar internamente não era o suficiente, mas deixaria passar.
  Um silêncio mórbido ecoou pelo cômodo e todos nós nos entreolhamos por algum tempo, desconfiados. Um clima maçante, estranho e diferente de uma forma totalmente estupida se instalou lá. Olhei de novo para o quarto, não parecia o mesmo de minutos atrás... E aliás, como eu ainda estava pensando? O sangue ainda jorrava sob minha lateral esquerda que estava totalmente aberta, fazendo uma trilha média sobre a minha coxa. estava esgotada, não quanto eu, mas olhando-a rápido ela parecia se sentir culpada, será? Andrey Handcheen tinha receio e raiva no olhar, fitava todos nós por baixo, o canivete já havia sido tirado de sua coxa. Daleven Vincent só parecia confuso, e ... Ele apenas me segurava forte, para que eu não caísse.
  De repente um vento forte entrou, deixando a porta ainda mais escancarada. Era só o que me faltava, eu já não estava fodida o bastante?
  - Mais uma? – Perguntou Andrey, numa frieza extrema. queimou-o com os olhos, pronta pra dizer algo que ele lembraria pra sempre, provavelmente.
  - Seu filho de uma p... – Levantei rápido meu olhar e quase vi os olhos de Pierce saltarem pra fora, meu coração gelou-se nesse momento. Suas mãos abriram e ela direcionou-as para Andrey em seu lado direito. Um grito sem som rasgou dentro de sua garganta e uma luz saiu direto de sua mão direto para o coração de Handcheen, que foi atingido sem nenhum aviso, tomando a mesma expressão louca que Pierce. colocou-me pra trás de seu corpo, protegendo-me sem nem pensar. Meu coração palpitou forte quando vi o que se passava e um calafrio louco cortou minha espinha fazendo-me tremer. O vento veio mais forte e impiedoso sobre a porta, Vicent deu passos pra frente em vez de se afastar, como se estivesse pronto pra ser usado por aquela porra de força, onde ele estava com a cabeça?! Andrey elevou sua mão para ele, que finalmente foi possuído por aquela luz forte que praticamente estava cegando meus olhos. O vento era maçante, mas meus pés não se desvincaram do chão. soltou meu corpo, foi aí que o medo me possuiu, tomou conta de mim. Eu olhei apreensiva, quase implorando que me segurasse de novo, e ele me olhou de volta, Tive medo de essa ser a última vez que poderia contemplar os seus olhos; meu coração se quebrou só de pensar nessa hipótese.
  - O QUE A GENTE FAZ?! – Perguntei, gritando com dificuldade. Choraria, se tivesse de onde tirar as lágrimas.
  - EU NÃO SEI! EU SEMPRE CUIDAREI DE VOCE, HAYLEY! – Eu não o olhei, até porque não conseguia. Os vidros da janela estilhaçaram para fora do quarto, me fazendo gritar e consequentemente o vento entrar mais forte e impiedoso. A força elevou os corpos de , Andrey e Daleven. segurou forte a minha mão, e então a luz nos possuiu como fez com todos os outros.

Capítulo 9 - O novo começo

  - Não, eu já disse que ninguém vai vê-los agora, ok? Queiram se retirar e se organizar para que possa ser pensada a possibilidade de fazerem um estudo sobre o que aconteceu, estamos entendidos? – Emma balbuciou para todos os profissionais acarretados no saguão da parte hospitalar da fundação. Não queria que ninguém incomodasse e seus novos companheiros, ainda mais naquelas circunstancias.
  - Sim, senhora . – Responderam todos para Emma, que se virou sem pestanejar, deixando o barulho do seu salto agulha ecoar pelo local e deixando-os apenas com a visão de seus cabelos loiros medianos de costas.
  Emma , uma mulher forte e adorável, que em meio ao ápice de seu vigor jovial e vida difícil, trouxe para morar consigo. No tempo ele era apenas um jovem sem noção e irritante, mas Emma o tornou homem de verdade, algo que desde então foi apreciado por todos, inclusive o time feminino. Se controlar, ter presença, golpear alguém sem piedade, tudo foi ela que o ensinara. Depois de tudo que aprendeu, nunca mais se atreveu a fazer algo que pusesse em perigo a única coisa que ele tinha. Emma.
  - Jhon, querido, onde está Frederick para nos explicar tudo que se passa? – Entrou no quarto onde estavam – já acordado, sentado na cama olhando para o teto – , Deleven, e Handcheen, todos que foram afetados pelo ray cosmic ainda não identificado.
  - Sim chefa, o Fred está a caminho, ele teve que voltar para buscar alguns equipamentos, ele disse que volta o mais rápido possível. Afinal, a ultima vez que isso aconteceu foi há mais de mil anos atrás. – Jhon entoou, animado, fitando as costas de com fascinação pela milésima vez. Ele foi o único que já tinha acordado, o baque depois da força ainda estranha - denominada por eles apenas como ray cosmic - foi grande, esse era o segundo dia deles de cama. A decisão de por todos juntos para não espalhar qualquer tipo de vírus ou coisa parecida foi de Betty, ela estava no quarto também e não usava mais máscara. Quando finalmente acordou, o medo se esvaiu e só restou a curiosidade para descobrir as facetas que vinham junto com o seu novo perfil.
  Ao contrário do que muitos imaginavam, a força que os consumira não era ruim, e sim uma espécie de atualização dos mutantes (se isso pudesse vir a existir). Ao longo dos dois dias, naquele quarto verde claro da sessão hospitalar, foram balbuciadas muitas opções sobre como era o estado de todo o grupo. Eles, que permaneciam imóveis, todos com roupa hospitalar e ainda machucados, um do lado do outro, sendo separados apenas por finas cortinas. O lugar era vasto e bem iluminado. Todos permaneciam olhando para eles, inquietos, esperando acontecer alguma coisa diferente. Quando acordou horas antes, um suspiro geral pode ser ouvido, todos ficaram aliviados por ele ter finalmente ter acordado.
  Horas atrás...
  - , filho de uma vadia, como faz isso conosco?! – Emma correu rápido até sua cama assim que ouviu sua respiração ficar mais forte, sinalizando que tinha acordado. Seu corpo, agora totalmente forte e sem nenhum arranhão levantou-se sobre a cama. Ele não abriu os olhos, como se esperasse por algo. Emma sentou ao seu lado, com uma expressão feliz, mas ao mesmo tempo assustada, pairando sobre sua face. Atrás dela, também visualizando de forma curiosa o novo , estavam Betty e Jhon. Devo observar que durante todos esses dias Betty se pegou olhando sorrateiramente para Vincent, ficou curiosa sobre aquele atrativo rapaz deitado perto dela, de forma tão bonita.
  - Mãe, onde eu to? O que aconteceu? – sentou-se num movimento rápido demais, até pra ele, aquilo com certeza era novidade. Sabia exatamente quem estava no quarto e seus lugares naquele cômodo.
  - ! Oh, ! – O tom apreensivo estava ali, não adiantava negar. Ela pegou em suas mãos um pouco gélidas e as apertou. Jhon passou a mãos sobre sua careca e os olhos de Betty quase saiam de orbita esperando ansiosamente ver os olhos de . – Você está na sessão hospitalar da fundação. Não sabemos o que aconteceu, mas afetou a todos os outros quanto a você, não sabemos de nada! Mas não se preocupe, sweetheart, o Frederick está a caminho daqui, ele resolver tudo para nós, ok? Não se preocupe! Não abra seus olhos ainda, me responda... – Hesitou um pouco, mas continuou - Você se sente bem? Por favor, não minta, eu sei muito bem quando você mente, então nem tente! – Ela alertou, apertando suas mãos apenas por habito, já que não teria nenhum efeito sobre ele, ainda mais agora melhorado.
  - Ok mãe! Jhon, Betty, parem de me olhar assim como idiotas, eu posso sentir tudo, então parem! – Ele alertou.
  - Você é um bundão mesmo, não é, ? Nós aqui preocupados com você e a única coisa que faz é nos jogar pra fora! – Jhon reclamou, saindo enfezado e indo direto para a poltrona onde Betty estava. A mesma continuou lá, por pura falta de vergonha na cara.
  - Foda-se você, Jhon, você não faz nada direito! – Apertou forte a mão de Emma, mas ela já estava acostumada com aquilo, até sorriu com o gesto.
  - Controle, ! Controle! O Jhon esteve aqui nos ajudando durante todo esse tempo, não tem por que trata-lo tão mal. – Emma acalmou-o em tom amigável, sorrindo de lado, então ele finalmente abriu os olhos.
  - Uh! – Betty e Emma suspiraram pra fora totalmente assustadas, deslumbradas e extasiadas com a linda e louca visão. ficou indiferente, sem entender o que se passava. Piscar duas vezes não foi necessário para se acostumar com o alto nível de claridade do local, fazendo suas pupilas se contrair naturalmente. A cara de cu das duas não passava, ele não disse também, apenas fitou-as curioso.
  - Jhon! Jhon, corra aqui, venha ver que louco! – Betty gritou, fazendo o cor de jambo se levantar num pulo da confortável poltrona cor de gelo e ir direto pra cama de .
  - Filho da puta! – Olhou de novo, respirou e colocou as mãos nos quadris tomando agora a mesma cara indecifrável que as outras.
  - O que tá acontecendo aqui? – perguntou enfezado, levantando-se sorrateiramente, deixando todos meios confusos.
  - Eu não sei també...
  - Oooh!! – Ele ouviu o suspiro de surpresa outra vez, parecia que fora ensaiado todos os dias desde que ele dormia. Aquela roupa de hospital não era das melhores, mas ainda sim ele continuava belo, numa ótima forma, isso não podia nem ser questionado. Procurava por um espelho, andou de um lado pro outro, sem achar nada, seu vestido hospitalar remexia-se de um lado a outro, dando uma visão aos outros (ainda boquiabertos) ainda melhor.
  - Caralho, o que tanto vocês veem em mim de diferente, eu quero saber! – Parou de protestar e virou-se para frente deles.
  - Eu aposto 50 dólares que você não sabe que possui em seus olhos uma espécie de anatomia brilhante, (n/a: quando eu digo brilhante, é realmente brilhante) e que uma tatuagem estranha toma TODA suas costas neste exato momento, não sabe, certo? – Perguntou ainda fascinado.
  - Merda! UM ESPELHO, EU QUERO A PORRA DE UM ESPELHO! – Gritou nervoso batendo seus punhos numa mesa ao seu lado, fazendo-a tremer. Seu olhar por baixo totalmente irritado deixou Betty um pouco tremida, agora a coisa brilhava ainda mais. Isso era muito, MUITO estranho!
  - Eu... Eu tenho um espelho! – Lembrou-se Emma, levantando-se da cama indo direto até sua bolsa do outro lado do quarto, passando pelos outros ainda desacordados sem dar o mínimo de atenção. olhou-a esperançoso. – Aqui! – Levou-o correndo até , colocando a maquiagem ainda fechada sobre a palma da sua mão larga. Ele olhou-a de volta, ela piscou ansiosa e voltou-se ao encontro de Betty.
   andou pra longe, precisava ver aquilo só, não queria ser vigiado naquele momento intimo. Foi até uma parte escondida do quarto com a maquiagem ainda fechada, então respirou forte, certamente com medo e curiosidade inequívoca pairando sobre todo seu corpo. Deu de costa e respirou mais uma vez, então abriu o espelho, mas ainda não olhou sobre ele. Como se tivesse sentindo o que estava por vir avisou a Jhon.
  - Jhon, pode, por favor, me trazer uma calça? Agora, urgente... Sei que irei precisar de uma. – Pediu.
  - Claro, já volto! – Ouviu-se a porta bater e o som do monteado de pessoas lá fora entrar e logo em seguida se esvair.
  “Ok, , você não deve estar tão mal assim.. Eu não me sinto mal, certo? Não deve ser nada demais... Vamos seu palerma, olhe logo como está sua cara, inútil!” pensou ainda temendo não gostar do que veria, então tomou coragem e finalmente olhou-se o espelho.
  - Ooh, porra! – Piscou uma, duas, três vezes antes de olhar de novo. Tinha mesmo um círculo fino e brilhante no meio de suas íris? – Eu... ISSO ESTÁ ACONTECENDO MESMO? – Perguntou totalmente bobo e maravilhado com seu novo visual ocular, ainda sem acreditar. – Mãe, meus olhos, o que é isso? Éé.. ÉÉ.. – Ele não tinha palavras pra descrever aquela loucura.
  - É! Você está vendo o mesmo que eu sim, nós não sabemos o que é, só que é muito lindo! Eu rezo para que não seja algo que possa lhe prejudicar, meu filho! – Emma disse, indo ao seu encontro, ainda embasbacada. caminhou metade do caminho, ficando em frente aos outros, que ainda dormiam tranquilamente.
  - Você já viu isso alguma vez na sua vida? – Perguntou, segurando as mãos da mulher, Betty observava a cena mãe e filho.
  - Não, mas se isso veio para você é porque é bom, não tem o que se preocupar. Me dê um abraço, seu idiota, eu pensei que estava morrendo! – Uma lágrima quase caiu do seu rosto, então ele abraçou-a fraternamente, dando um suspiro de alivio. Ele estava abraçando alguém que realmente amava. O barulho da porta se abrindo retirou a atenção de todos eles. Eram Jhon e Frederick.
  - Emma, é melhor dar um jeito na pequena multidão agrupada no saguão, eles não sairão tão cedo se não for lá. – Jhon abriu a mochila, tirando a calça e jogando-a pra , que só conseguiu ver a cara de Fred primeiramente assustada, depois risonha. rolou os olhos e foi vestir sua calça no banheiro.

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  Todos puderam ouvir o som da porta se abrindo novamente, dessa vez era Frederick que voltava com sua mochila cheia de eletrônicos, livros e aparelhos loucos e sem sentido. O tempo que ele levou para buscar as coisas foi mediano, serviu para se trocar e, consequentemente, ver sua nova tatuagem que tomava toda suas costas. A linda árvore cheia de galhos começava no final de sua coluna e subia sobre toda suas costas, como se estivesse ali desde sempre, como se pertencesse a ele. A mesma estava exposta, já que ele estava sentado em cima da sua cama sem camisa. Vincent tinha acordado há horas, um pouco confuso e assustado, devo observar. Betty quem o explicou tudo o que se passava, lhe deu uma roupa e descobriu onde estava sua tatuagem exatamente quando trocou o olhar que antes estavam fixados em seus olhos castanhos esverdeados para seu tórax. Ela nunca tinha o visto, achou sexy logo de primeira, mas não deu muita bola. Acho que o motivo de Vincent não ter visto sua própria tatuagem, mesmo já estando com o jeans e totalmente nu na parte de cima, foi por que ele se pegou olhando descaradamente para os olhos de Betty, também lhe analisando. A dele era exatamente igual à de , só que ia do começo de seu quadril até acima do umbigo.
  A terceira a acordar foi , e o mesmo procedimento foi tomado, só que por Jhon. Ela hesitou um pouco sobre seu novo poder e seu novo olhar brilhante/cintilante, seja lá o que fosse. Parecia muito angustiada, triste e abatida, não que ela não estivesse fisicamente em ordem, porque estava, assim como os outros. A força tinha curado todos, deixando-os sem nenhum arranhão, mas sentiu que ela era a culpada por tudo o que tinha se passado. A culpa tomou ainda mais seu coração quando, já vestida, avistou ainda deitada na cama e totalmente indefesa. Ela tinha feito se arriscar daquela maneira, por um motivo estúpido e idiota, e consequentemente todos tinham pagado por isso. Ela mal sabia que isso era apenas o destino, tudo já estava premeditado e nada no mundo poderia fazer mudar esse acontecimento. O círculo tinha que se fechar, era uma sentença.
  Dez minutos e doze segundos antes, foi exatamente o tempo que Handcheen tinha despertado. O mais conturbado de todos, perguntando o que era aquilo e querendo respostas rápidas. Ele mal trocou de roupa e conseguiu irritar todos na sala, gerando uma grande discussão idiota.
  - Por que eu tenho uma merda de tatuagem no meu peito?! – Perguntou Handcheen, subindo o zíper e fechando o botão da calça que lhe fora dada enquanto caminhava pra fora do banheiro.
  - Não sabemos ainda! – Jhon respondeu ríspido.
  - Eu sei que tenho dias aqui, como não descobriram? Eu deveria saber que vocês são um bando de incompetentes! – Criticou novamente.
  - Idiota! Você não vê que todos nós estamos sem nenhuma informação sobre o que aconteceu? Cala a boca, inútil. – retrucou, do outro lado da sala. Era só o que faltava, Andrey encher seu saco dando uma de diva.
  - Por que você não vem aqui calar minha boca, cadela? – Andrey praticamente cuspiu as palavras pra .
  - Porque eu não me contamino com pessoas lixo como você! Aliás, sua boca parece um chiqueiro toda vez que a abre. Seria bom deixá-la calada, afinal, você só fala merda! - Ela revirou seus olhos brilhantes sentindo-se totalmente vitoriosa, sem tentar focar em Handcheen e seu peitoral desenhado pela nova tatuagem. Todos apenas olhavam sem pronunciar nada, a distância deles ainda era grande, só por um tempo.
  - Vadia, repete! Repete. – Soltou enfezado, deixando o ar ainda mais tenso.
  - Quer dizer que além de porco sem noção você também é surdo? Toma aqui seu selo de retardado! –Disse andando em sua direção. Sem nenhum medo Handcheen foi pra cima dela, que o paralisou em um segundo usando as mãos, deixando-o no chão sem emanar nenhum esforço.
  - Háá... você pensa que é alguém, não é ?! – Ainda estava caído.
  - Sou melhor que você, que não sabe nem usar seu poder. Desnecessária a sua presença aqui, quem chamou esse idiota? – Handcheen levantou, então todos começaram a falar um por cima do outro, não dava pra entender porra nenhuma. Todos com ideais e reclamações, querendo saber o que se passava, acarretando perguntas a Frederick. Ninguém percebeu, mas havia acordado desde o inicio da conversa desorganizada deles.
   foi o único que percebeu que ela tinha acordado, largou sua conversa idiota, indo até a cama dela, mas ela não estava lá. Ele sabia que ela ainda estava lá por isso não chamou ninguém, olhou a redor e percebeu que a mochila que Jhon tinha trazido havia sumido. Claro que tinha sido ela, deveria ter ouvido todos e estar por dentro do que acontecia. Deduziu que ela estava no banheiro, mas certeiro impossível. Caminhou até lá como quem não quer nada, entrou rápido e trancou a porta.
  - Como se sente, ? – disse, se encostando à porta e esperando sua resposta. Demorou uns segundos pra ela se manifestar.
  - Não é da sua conta, rhun. – O uso dos seus poderes não o deixava vê-la.
  - Na hora de se segurar em mim, era da sua conta. – Protestou.
  - Na hora que disse que sempre cuidaria de mim e que eu era um sweetheart pareceu não se importar desse detalhe. – Soltou as palavras sem remorso algum.
  - Momentos de fraqueza... todo mundo tem, não pode me culpar. – Levantou os braços até o lado da porta, fazendo seus músculos praticamente pularem pra fora, ainda mais ele tendo ao seu favor o fato de estar sem camisa e totalmente melhorado pela tal força. Ele não devia saber que ela estava apenas de roupas intimas na frente dele, santa invisibilidade. – Você é bem audaciosa, não é...
  - E você é bem idiota, não é?! – Colocou a bolsa de cabeça pra baixo, jogando todo conteúdo com sem o mínimo de cuidado. De lá caíram um vestido curto colado na cor azul, deveria ser para a , pensou, mas já estava vestida, não deve ter gostado dele. lhe vigiava ainda de uma distancia média.
  - Pode ser, mas não tão idiota a ponto de ficar de roupas intimas na sua frente, como você tá fazendo agora. Sabe, eu posso sentir . – se contraiu por um segundo, mas logo decidiu fingir que isso não importava, voltando a procurar outra roupa descente pra vestir.
  - Isso não faz diferença pra você, certo?! Como é mesmo que disse... Ah, lembrei! Eu não sou do seu tipo. – Revirou os olhos verde-mar agora reluzentes, voltando a procurar a roupa. Enfim achou um macacão preto e um top com estampas escuras, iria servir. Levantou-se novamente, se pegou olhando aquela escultura por alguns segundos. Revirou os olhos em repressão.
  - Orgulho ferido, sweetheart? – Sorriu de lado, só não enchia todo o lugar com seu ego enorme por que o de não ficava atrás.
  - Háhá, não, até por que você não é de nada... Na verdade, eu poderia te ver pelado o dia e a noite toda... – Okay, tinha conseguido chamar a atenção dele, que até arqueou as sobrancelhas surpreso. Continuou a vestir seu macacão sobre suas roupas intimas na cor roxa. – E ainda assim eu não sentiria nada. – Terminou, subindo a parte de baixo do macacão, ele fechou o cenho por um segundo, mas logo abriu um sorriso largo e relaxou, ela não entendeu. Virou-se de costas e tirou o sutiã, não ficaria com duas coisas tão apertadas. “Foda-se o , ele não pode me ver!” Pensou.
  - Sabe o que eu queria mesmo ver? – Perguntou indiferente, como se soubesse que ganharia o jogo.
  - Não, eu sou invisível, não médium! E você é um lerdo que não deveria estar aqui agora. – percebeu que estava sozinha no banheiro com , e ninguém do outro lado do quarto tinha se dado conta disso. SOZINHA NO BANHEIRO COM BRIAN DONNEVAN, o cara mais sexy que conhecera. Sexy sem precisar mover uma palha, por que ela estava com raiva dele mesmo? Perguntou-se, martirizando-se para lembrar que o motivo era simplesmente por que ele estava puto com ela, com razão, devo observar. Ela tentou focar-se nas explicações que queria, mas não deu muito certo.
  - Eu queria ver você dizer que eu não sou de nada olhando na minha cara, bem na minha frente... encostando-se a mim e sentindo meu cheiro! Não tenho tanta certeza se consegue. – Era até maldade falar uma coisa dessas pra uma mulher que está semi nua em sua frente e totalmente necessitada de uns amassos sendo uma criatura tão convidativa e apetitosa como ele. Ele sabia que tinha pegado num ponto muito crucial, com certeza ela ficaria balançada entre aceitar o desafio ou aceitar o desafio. E adivinhe... Ela aceitou.
  Jogou o sutiã pra fora do corpo, deixando que o top cropped se alojasse perfeito à suas mamas, apesar da rapidez que teve. Virou-se pra ele, que lhe recebia como se já soubesse qual seria sua atitude.
  - Você gosta de ser humilhado, não é?! – ficou apenas com a parte de baixo do macacão, sem colocar as alças, deixando à mostra sua tatuagem, que ficava em sua costela esquerda. O tamanho era médio, exatamente como todas as outras, mas ela não teve tempo de reparar nela direito.
  - Não, eu gosto de desafios... e se eu fosse você, não ficaria tão convencida como sua voz condena. – Ele cruzou os braços, esperando-a.
  Ela bagunçou um pouco o cabelo e deu uma breve olhada para si mesma, checando se tudo permanecia em ordem. Assim que teve a confirmação, constatou que estava pronta para aparecer. Sem delongas, ela eclodiu, linda, simples e radiante para , fazendo-o desencostar da porta em surpresa. Sim, apesar dos dias dormidos e tudo mais, ela estava perfeita. O corte havia se fechado, seus cabelos continuavam brilhosos e seu corpo ainda belo, a única coisa diferente era a tatuagem, nada demais. Numa única olhada, observou tudo isso, mas continuou com seu rosto cerrado e sem expressão. Um clima estranho tomou conta do lugar, uma mistura de arrependimento, curiosidade, dúvida e desejo, talvez. Tudo isso se misturava com o perfume deles dois, que ia e vinha, embrenhando-se por entre suas narinas e continuaria assim pelo simples fato de não ter uma janelinha sequer no ambiente. Eles teriam que permanecer ali, um sentindo o perfume do outro, embriagando um ao outro automaticamente, dando força àquela conexão maluca que se iniciava sem pedir permissão. Merda, não podiam se deixar levar! Nenhum dos dois, lembra? “É um desafio, é sua obrigação ganhá-lo” o cérebro de ambos alertava. deu um passo largo à frente, sem quebrar o olhar, ficando de perfil para o espelho, mas sem olhar para . O olhar que vinha dele era invasivo e estava começando a lhe tomar, então abaixou o seu e fitou seus pés, habito de infância. ainda a observava, esperando pacientemente o tempo necessário para que ficasse pronta. Cerrou os punhos, respirou fraco e cortante duas vezes, então se mirou espelho e sorriu sorrateira, olá auto estima e segurança!
  - Ainda dá tempo de desistir, big man. – avisou, correndo suas mãos sobre os cabelos.
  - Estou bem desse jeito, sweetheart! – Lembra daqueles arrepios que costumavam descer em sua espinha quando eles tinham momentos assim? Tinham voltado com tudo. Dessa vez nele também, que a esperava seguro de si, como se pra ele, ela não fosse novidade, mesmo nenhum contato anterior. Ela pisou forte e decidido pra frente, seus seios subiam e desciam freneticamente num frequência sem ritmo por conta dos movimentos respiratórios, chamando a atenção dele para os seus atributos. Já podia sentir de longe o desejo no olhar, na forma que fitava todo o seu corpo, se martirizando internamente por estar numa disputa estúpida e não poder apenas colocá-la na parede e beijá-la. também se segurou o quanto pode, não queria dar o braço a torcer. Será que a sensação de encostar-se à sua pele faiscante era tão boa quanto imaginava? Esse pensamento a fez dar os dois últimos passos que os distanciava, não tinha mais volta.
  Eles se fitaram de perto, o que fez a linha acrescentada a suas íris ocular brilhar ainda mais intensamente, mas isso não os incomodava, parecia natural também. Não se tocaram, por falta de coragem, receio, temor talvez, não sei. Apenas se olharam. sentiu certa necessidade de sorrir diante de tanta beleza, mas se repreendeu ao lembrar o que tinha que fazer. Foi necessário quebrar o olhar para começar o que queria. Ela olhou o chão e respirou sem ritmo. Ele não parou de olhá-la, ao contrario, tomou um olhar confuso e ficou curioso quanto ao que ela iria fazer. olhou-o mais olha vez sem temor, esforçando-se para encostá-lo sem um pingo de educação na porta. Mais uma surpresa para ele, que ameaçou dizer alguma coisa, mas desistiu assim que ela tomou sua mão esquerda e subiu o olhar de um modo extremamente safado.
  - Ok, o que é isso? – perguntou num sussurro falho, sem entender o que ela pretendia fazer. A verdade é que naquele jogo ele estava começando a virar vitima.
  - Shiiu, você pediu, não foi? Agora tá dando pra trás? – Não o deixou responder.
  Levou a mão dele até a sua barriga - que se arrepiou sem autorização. Fato ignorado. – deixando-o mais surpreso ainda. riu da cara idiota que ele fez, mas continuou focada na maneira como sua mão na dele passeava pelo seu tórax, descaradamente. A pele de estava quente, quase queimava sob a palma da mão de . Ela fitou seus músculos ainda lutando com a vontade desenfreada de tocá-lo, o máximo que pode fazer foi segurar a mão dele mais forte sobre sua barriga lisa e em forma. O fato de ele colocar quase que automaticamente a outra mão em sua barriga, agora as mexendo de um jeito gostoso porém delicado a fez arfar de raiva, e quase soltar um grunhido de fúria por ter que parar na hora.
  - Você é manipulável, . – Parou de segurar suas mãos, mas elas continuaram em sua barriga. Levantou o olhar devagar para aproveitar a visão de seu peitoral nu, sorriu de lado, sentindo-se vitoriosa e sorrateira. – Você não consegue se segurar, se fascina muito rápido. - Ele rolou os olhos, já deveria saber o que ela estava tentando fazer. Fazê-lo sentir retardado, um cachorrinho. Podia ser muito fácil, mas ela não tinha que ganhar todas. Ele olhou para o teto e gargalhou, fazendo-a olhar sem hesitar procurando resposta.
  - Tem certeza que eu sou manipulável? Você tá se aproveitando de mim pra o seu próprio prazer e eu sou manipulável? – Aumentou uma oitava no seu tom, ela tinha conseguido o estressar. E estressá-la também, a ponto de fazê-la cair na real. “O que você está fazendo ? Brincando com a fera? Sério? Ele te salvou, idiota! Tenha decência!”.
  Abriu a boca pra reivindicar sobre o que ele disse, mas assim como ela fez, ele a interrompeu, segurando sua cintura mais forte, fazendo seu olho brilhar intensamente, e quase piscar numa mistura de raiva e fervor. Puxou-a contra seu peito, abusando de seu poder, sem se importar se ela estava ou não confortável. Ela quase deu um gritinho por causa da surpresa, mas se conteve. E lá estavam eles de novo, um perto do outro, praticamente se comendo com os olhos. Quer dizer, ele cheirava seu cabelo, como se fosse para não se esquecer de como era a sensação, mas ela não. Não conseguiu olhá-lo de frente, seria muita informação para uma só.
  – Olhe pra mim, . – Ele pediu, passando a mão sobre suas costas seminuas, fazendo-a quase que cair na tentação de fincar as unhas em seu braço, mas se conteve. Ela disse que poderia vê-lo pelado sem sentir nada por um dia inteiro, e quando ele chega mais perto e toma uma atitude ela fica lá, toda abalada? Sério? – Olhe pra mim, sweetheart. – Sussurrou em seu ouvido, fazendo-a sentir um embrulho no estomago e institivamente jogar seu pescoço lentamente para o lado direito. Levando consigo parte dos cabelos soltos que se pousaram de forma sexy sobre os ombros, deixando uma bela passagem para . O desgosto estava presente em sua face, não estava gostando de cair tão fácil. – Vamos consertar isso... – Tirou as mãos de sua barriga quente ainda tremida e pousou-as em seu queixo, levantando seu olhar ao dele, numa intimidade extrema, fazendo seus olhos cintilarem numa mistura louca de sentimentos. – Você não está cumprindo sua promessa direito se não olhar em meus olhos, como fazia há segundos atrás. – Seria inevitável pra ela permanecer sem focar-se em sua boca de contorno marcante, sem deixar-se entorpecer pelo hálito fresco que vinha de sua boca direto para seu nariz, já que ela não era de sua altura. Ficaram lá, naquele momento que parecia ser infinito por alguns segundos. Ambos focalizando e fotografando a face do outro, pra pensar à noite, talvez, não se sabe.
  - Você. É. Um. Fodido. – Ela disse, tentando expressar sua repúdia por ele, para acabar de vez com aquele momento.
  - Oi? Eu não consegui te ouvir. – Ele disse, dando uma gargalhada quente e abafada sobre seu pescoço.
  - Hunr, fodido, idiota, estúpido – Soltou as palavras num emaranhado de raiva, dor, ódio por se sentir tão abalada quando estava perto dele, esses sentimentos cresceram ainda mais quando continuou a rir sem parar sob seu pescoço. finalmente se libertou de sua raiva, afastando-se dele e dando contínuos tapas e arranhões em seus braços estupidamente forte, sem parar de xinga-lo por nenhum momento. – Sem noção, burro, desnecessário, maricas, retardado, filho de uma p..
  - Sabia que você fica uma gracinha com raiva? – Disse segurando novamente sua cintura, fazendo-a parar na hora. – Mas eu acho que não fica tão bom com você aí... – Puxou-a pra perto com um pouco de delicadeza dessa vez, a fez colocar as mãos sobre cada um de seus braços e elevou-a, deixando passagem para que a mesma transpassasse suas pernas a seu quadril. Trocou as posições, deixando-a agora encostada severamente à porta. Isso não levou segundos para acontecer, era como se fosse natural ter com as mãos em seus ombros, se segurando firme e incerta, era realmente quase que natural. O que não deixava tão natural era o fato dela está toda descabelada e desnorteada com toda aquela rapidez e posições não tão favoráveis para zelar seus direitos. Ele realmente estava se divertindo. – Aqui. Aqui está bem melhor. Assim você pode olhar em meus olhos quando tiver negando pela milésima vez que eu não sou de nada. - O rancor estava lá, mas foda-se isso! Era apenas excitação encubada, nada que ela também não estivesse sentindo desesperadamente.
  - Sabe, ... – Ela abriu a boca e ele a fitou, fazendo-a começar uma batalha interna, tentando-se decidir entre cair em seus encantos ou ter pelo menos a decência de tentar sair dali de uma forma boa, sem dar o braço a torcer. O olhar alternava sem parar para sua boca, olhos e peitoral. Dali de cima, com seus corpos tão próximos, sentindo seu cheiro como em nenhuma outra vez, não era fácil - muito menos justo - para ajudá-la a decidir. Ele continuava a observa-la, mostrando-se interessado em sua batalha interna, sua feição deixava claro que a mesma acontecia.
  - Huun... – Donnvan soltou, debochado, esperando pacientemente a resposta que provavelmente já sabia qual era.
  - Que se dane! - grunhiu apertando suas pernas e coxas ainda mais contra ele e finalmente deixou suas mãos passearem pelos cabelos negros e despenteados de .
  - Era só isso que eu queria ouvir. – Disse pela última vez antes segurá-la forte pela bunda e deixar seus corpos em distancia nula.
  - Idiota!
   tirou as mãos da bunda de , passando à segura-la apenas com o apoio da perna direita que colocou à frente, mas não tinha porque se preocupar, ela estava fazendo excelentemente bem o papel de segurar-se a ele como um gancho. Suas mãos foram parar uma em sua cintura e outra em seu pescoço, deixando os cabelos dela ainda mais bagunçado. Ela bagunçou seus cabelos como se fosse uma necessidade, fazer aquilo a deixava bem, porém era algo muito intimo. pegou uma das mãos e rasgou cortante sobre sua costa, quase lhe fazendo sangrar. Ele grunhiu, ela mordeu os lábios, então se olharam. Fazendo o máximo para não acabar o contado visual puxou-a pra perto até chegar ao seu pescoço e mordê-lo forte sem piedade sua resposta foi ganho, outro arranhão e um rolar de olhos entorpecido. Depois de morder o local, ele chupou-o como se ali tivesse a fruta mais deliciosa do mundo e finalizou com um beijo. Ele tinha encontrado sua droga e ela tinha arrepiando-se de uma ponta a outra. E sim, só o seu toque era mil vezes melhor do que pudera ser capaz de imaginar todos aqueles dias, e sim, ela, assim como ele imaginou isso, não precisava negar numa situação dessas.
  - Essa parte não estava no acordo... - protestou falha ainda arranhando suas costas.
  - Que acordo? – Gargalhou baixo, puxando-a mais pra cima e trocando o lado do pescoço para fazer a mesma coisa que faz com o outro. Assim que terminou o feito, foi beijando levemente e numa lerdeza boa e indescritível, traçando o caminho pescoço-bochecha e, certamente, boca. não fez nada além de apertá-lo mais e aproveitar cada segundo daquelas ondas magnéticas e prazerosas que ele trazia consigo.
  - Uhn! – grunhiu estressada com a demora proposital dele para chegar logo em sua boca, isso só a excitava mais. Principalmente o fato de ele deixar a mão que sobrou passear sobre suas costas. Não aguentou, parou-o colocando as duas mãos em seu rosto e fincou o olhar desesperado no dele. – Seu desgraçado. Me. Beija! – Mandou, provavelmente nunca quis um beijo como queria agora.
   olhou pra ela com uma cara mais ou menos de “Cara, você só me surpreende!” e então finalmente colou seus lábios no dela pela primeira vez. Quente, empenhado e desesperado por mais daquele fervor. Tomou cada espaço de sua boca, chupando-a e mordiscando sem pudor algum. A cabeça de girava e girava, se deixando ser tomada por aquela sensação única e forte, dura. Crua. Totalmente deles. No momento com certeza não era a vitima, de jeito algum. Ele quem comandou tudo, ele foi o responsável pela mistura de sentimentos indescritíveis que estava tendo agora. Era como soltar fogos de artificio na via láctea, um acontecimento de deveria ser aproveitado, sentido e repetido. Ela passaria o dia, o resto das vinte e quatro horas pensando naquilo, se já não estivesse faltando-lhe o ar. Uma mordiscada em seus lábios certamente deliciosos foi o bastante pra pará-lo.
  - Então... Continuo sendo de nada? – Perguntou ele rindo satisfeito ao olhar pra cara confusa e certamente satisfeita. Mas na opinião dele era assim que ela ficava mais bonita, perto dele, ao alcance de sua mão logo depois de um beijo.
  - Você c.. – Respirou forte, colocando as duas mãos descansando em seus ombros, fazendo-o rir como bobo novamente. recuperou seu folego. – Continua um fodido! – Rolou os olhos, afastando seu corpo do dele, deixando suas mãos pousarem sobre o peitoral dele apesar de não ter nenhuma necessidade. Fazia tempo que ela queria tocar ali, afinal era escultural, lindo, sexy, chamati... ! Volte para sua vida, garota! – Você... Me solta! – Pediu deseducada.
  - Eu nunca te prendi, minha linda. – Ele disse vitorioso. Continuava o mesmo , o mesmo puto ordinário e sarcástico. Cair na ilusão que ele poderia talvez ser tachado uma única vez de legal era uma loucura, e o pior é que ela tinha acabado de ceder e contradizer a suas palavras de repudia e apatia. Ela desvincou dele e ele colocou-a no chão. Agora, como se nada daquilo tivesse acontecido o clima tenso pairava no ar e grudava-se a parede. Como uma coisa daquelas podia acontecer? Onde estava a magica e química de segundos atrás? Tinha saído e deixado lugar para o orgulho? Sim. Exatamente.
  - Você sabe que isso nunca mais vai acontecer, certo? – perguntou, saindo de perto dele para evitar que aquilo acontecesse de novo indo colocar as coisas jogadas de volta na mochila.
  - Não podemos falar sobre o futuro, não que isso me importe... Afinal, você não é de nada. – Disse sem sentimento nenhum, deixando as palavras dançarem opressivamente no ouvido de , fazendo-a sentir raiva daquele desgraçado. Como pode? “Instantes atrás eu parecia sim ser de alguma coisa!” pensou . Mas chumbo trocado não dói, ele não disse nada que ela já não tivesse dito a ele antes. Só que ela não sabia que incomodava tanto ficar com aquilo alojado do peito, aquele rancor mórbido por saber que o que ele tinha dito não era verdade nem lá nem em qualquer lugar existente na face do universo. Ela não iria brigar com ele, teria classe dessa vez, demonstrar mais fraqueza ainda não iria ajudar em nada, então apenas se levantou e olhou em seus olhos, um olhar vazio, que não dizia absolutamente nada. Esse era com toda certeza o pior dos olhares, ele não pareceu ligar. Foda-se, pensaram os dois.
  - Você abre a porta, eu saio, você os distrai e depois eu apareço, dizendo que troquei de roupa invisível mesmo. Deve funcionar. – Tentou soar seca e conseguiu, pelo simples fato de estar sendo verdadeira quanto a seus sentimentos. Não poderia estar mais puta de raiva como agora. Colocou a mochila nas costas
  - Certo. – Foi só. Fizeram o combinado, quando saiu junto com eles ainda continuavam discutindo. andou normalmente até a roda de pessoas, sem chamar a atenção de ninguém. foi direto para a sua cama, e ficou lá por algum pouco tempo, o suficiente pra respirar e tomar uma linha de pensamento segura, suas pernas ainda estavam bambas. Então saiu de trás da cortina.
  - Hey. – Interrompeu a conversa num tom seco desinteressado.
  - Oh meu Deus, ! – gritou do outro lado da sala, correndo de encontro a ela que lhe recebeu com um abraço meio que necessitado. – Está tudo bem? Sente algo diferente? – Checou todo o seu corpo, lhe olhava sem muita reação. – , por favor, eu te imploro, me desculpa! Eu juro que se soubesse, se eu sonhasse que isso iria acontecer eu nunca teria feito! Me desculpe! – Implorou, porque para conseguir desfazer-se daquela culpa que carregava só passaria assim.
  - Tudo bem. Não, tudo em ordem, inclusive o machucado que aquele estúpido ali fez em mim. – Apontou pra Vincent. – Não precisa se desculpar, eu não fiz nada que eu não quisesse, já sou grande o suficiente pra tomar minhas decisões! Se pudesse, faria de novo. – Percebeu a presença de Jhon na sala. – Hey, Jhon, tudo bem com você, querido?! – Perguntou ironicamente, deixando-o sem jeito.
  - Sim, senhorita . Obrigada por perguntar! – Disse meio que baixo. Então viu Betty, Fred, e, por último, Handcheen.
  - Betty. Senhor que eu não sei o nome. Burrice ambulante. – Cumprimentou todos respectivamente em ordem.
  - Oi, . – Betty disse. – Você está ótima! – Sorriu simpática.
  - Obrigada, mas eu poderia estar muito melhor. Poderíamos começar tirando esses três vermes dessa sala.
  - Estar se referindo a mim, ? – Handcheen idiota perguntou.
  - Oh, meu Deus! Além de estúpido e ruim de briga você ainda é surdo? – Levantou as sobrancelhas, sua expressão dizia mais ou menos “Tem mesmo certeza de que quer vir até aqui?” Lá ele estava, lá ele ficou.
  - Frederick, senhorita ! Meu nome é Frederick. – Cumprimentou-a cordialmente.
  - Prazer, Frederick. – Resposta curta, melhor impossível. não se deu o trabalho nem de olhar sua cara, era como se ela nem estivesse ali. O engraçado é que ninguém percebeu.
  - , querido! Que bom que está aqui, eu fui lhe procurar! Não pode sumir assim do nada, querido. Acho que tem algumas chamadas perdidas em seu celular, melhor checar. E use uma camisa, há moças nessa sala! Elas não são obrigadas a lhe verem assim, onde está a educação que lhe dei? – Emma tinha acabado de encher a sala novamente. Isso sim deixou surpresa, era a mesma mulher do porta retrato. Então era isso? Ela era a mãe adotiva dele? Estava claro, só que ela não imaginou isso quando a viu primeiramente. Um peso saiu de suas costas, menos um mistério para desvendar. Por acaso, ela era muito, muito muito bonita! Entregou o telefone a e que passou a meche-lo concentrado e veio direto falar com .
  - Oi . – Emma disse apertando sua mão. ainda estava meio besta, mas tentou não demonstrar.
  - Oi senhora... rita, não sei. – Apertou sua mão de volta, sem deixar de prestar atenção ao resto das pessoas da sala. continuava ao seu lado, lhe abraçando.
  - Senhora, apesar de estar solteira há algum tempo. – Sorriu de lado, lhe pareceu tão doce.
  - Ah, tudo bem! Imagino que seja a dona disso tudo, certo? – perguntou.
  - Certo. – Ela assentiu, com um pouco de duvida.
  - Antes que me fale qualquer coisa, eu tenho uma reclamação a fazer, e nada melhor que reclamar com a dona do negócio, se é que me permite.
  - Claro, claro! Estou curiosa pra saber o que deseja! Pode falar. – Realmente estava.
  - Eu acho que os mutantes recém chegados deveriam ser tratados de uma forma melhor, já que muitos estão aqui por vontade própria. Não é certo prender alguém que só quer ajudar. – Vincent observou a conversa interessado. Betty também estava interessada... no peitoral dele.
  - Claro, também acho que isso deveria ser mudado, mas não podemos deixar todos em condições melhores que essa, pois nem todos são confiáveis. Entende minha situação? – Perguntou interessada.
  - Claro, era só uma dica, senhora. Não irei me meter nesse tipo de assunto, já tive bastante problema com isso. – assentiu num sorriso forçado. Ainda bem que estava de seu lado.
  - Mas não vim dizer isso, só vim para não deixá-la preocupada, faremos o possível para descobrir o que aconteceu naquele quarto o mais rápido possível! –Disse confiante.
  - Okay, não estou com nenhum tipo de medo disso, já que me sinto totalmente bem! Eu posso esperar! Obrigada. – Disse cortando o assunto com ela, que achou estranho, mas não questionou, apenas saiu. O silêncio tomou conta do lugar outra vez, afinal, ninguém ali se conhecia. Tudo parecia programado, desconfortável, como se eles apenas estivessem sendo obrigados a estar lá, era estranho sentir aquilo. Frederick terminava de ajeitar o painel para então finalmente explicar a todos o que foi aquela merda de raio.
  - Terminei! – Fred disse alto e animado, chamando atenção de todos na sala, exceto de e Jhon, que estavam conversando em um lugar mais reservado. Claro que chamou a atenção de , que não pensou duas vezes antes de respirar fundo e começar a ouvir a conversa deles descaradamente.
  - Você ficou com meu celular, certo? – perguntou sério para Jhon, que aparentava estar bastante cansado.
  - Certo , eu já sei o que quer me perguntar... – Chamou-o para mais perto e colocou sua mão em seu ombro, como um amigo faria. A posição escondida deles poderia deixar com um pouco de dificuldade anteriormente, mas agora ela podia ouvir perfeitamente sem fazer esforço. Sorriu astuta e continuou seu trabalho. – Não vale a pena, rapaz. O que ela te fez não foi certo, parceiro! Não fique assim preocupado por causa da Chloe, ela mentiu pra você... – Os músculos de enrijeceram completamente, quem era essa filha de uma puta? E por que ele estava sofrendo por ela? Controle-se ! CONTROLE-SE! Continuou. – Não , pior, ela te traiu e isso é inaceitável! – levantou a cabeça e olhou pra ele, pensando em dizer alguma coisa, mas desistiu. – Você é um ótimo homem, ok? Vai superar isso com alguém melhor que ela.
  - Ela não sabe o que aconteceu, Jhon, ela irá se arrepender do dia que me largou pra ficar com aquele fazedor de ar ridículo! – Furia, dor, ódio outra vez. Ele era uma montanha russa, nunca se sabia ao certo como estava. Olhou para o celular e o amassou sem um pingo de dificuldade, fazendo os olhos de pular pra fora, mordendo o lábio inferior em surpresa à sua raiva instantânea. Percebeu que também era vigiada por Handcheen. Ele olhava para e voltava-se pra dupla, riu da cara patética que ela fez. rolou os olhos, claro que o intrometido do Andrey estava ouvindo a conversa também, ele tinha a mesma habilidade, por que não usar?! Idiota. Eles continuaram.
  - Tome isso aqui, faça o favor de me arrumar outro. – Deu de costas, mas foi parado.
  - Claro, , mas faça o favor de não machucar ninguém. E quando eu digo machucar não estou me referindo a nada físico. – Jhon colocou a carcaça do celular no terno e tomou o rumo da porta. foi ao encontro de sua mãe, passou por fingindo que ela era invisível. Bom, ela era.
  - Olá, caros e caras. – Frederick foi até a frente do painel que preparou e chamou todos eles, que se espalham mantendo certa distância, nada era muito seguro, já tinham quase se matado antes. – Eu estou aqui para explicar a vocês tudo que aconteceu duas noites atrás. Peço que não me interrompam com perguntas idiotas e sem sentido, só se realmente for necessário! Estamos entendidos? – Perguntou, levantando sua calça social, tirando os olhos da cara. Era mais velho que Emma. Deveria ser sozinho, explicaria sua aparência tão destrambelhada... Mas olhando assim de longe, até que tinha jeito. Ninguém respondeu a sua pergunta, todos de cenho fechado, irritados ou atentos a alguma outra coisa. – Enfim, vamos ver isso aqui... Hunn... - Ligou o projetor, um pouco atrapalhado. Depois de passar algumas imagens macabras, chegou à foto de uma replica exata da tatuagem que estavam no corpo de cada um que foi atingido pelo raio/força no quarto. – Então, como podem ver esta aqui é a tatuagem que cada um tem em uma parte do corpo... Nenhum mutante a tem em seu corpo a mais de mil anos, quando tudo começou... – Riu incerto, aquilo era louco até pra ele. Todos se entreolharam confusos. – Ehm, já sei! Venham todos aqui! Eu preciso ver de perto a marca de cada um de vocês. – olhou pra , deu um suspiro cansado e foi. Todos a seguiram, mostrando a tatuagem uma por uma, ele não se atreveu a tocar em nenhuma, até chegar a .
  - Pode tocar, não vai morrer não. – Disse, tirando as alças do macacão, ainda de cara fechada. É claro que não aconteceria nada, afinal, ela já havia sido tocada lá e não aconteceu nada. Bom, aconteceu... Mas não nesse sentido.
  - Wow, é magnifico. Não tem nada a ver com o material usado para tatuar humanos... É como se já tivessem nascido com isso. - Digitou algo no computador, e mandou-os sentar novamente. Voltando-se a sua história. – O registro mais sólido do inicio da mutação, como eu disse, foi há mil anos. Os primeiros deles foram agraciados com seus poderes melhorados. A lenda e informações que tenho aqui dizem que certa noite, depois de brigarem arduamente com humanos, eles, já cansados e quase derrotados, entraram em transição. Essa transição levou o resto da noite, lá haviam corpos e corpos caídos sob o chão gélido de Veneza. A transição fez com que seis deles se rebelassem contra o resto do seu próprio bando de mutantes e lhe atacassem sem temor algum, restando apenas eles, no tempo os únicos geneticamente modificados na face da terra. Quando o sol nasceu, e eles, já acabados, fugiram, a força eclodiu sobre eles na mesma ou até maior intensidade que fez com vocês... – Todos escutavam astutos, ainda bem que ele explicava de forma clara. – Um deles não aguentou. – Contou, tinha um toque fúnebre em suas palavras.
  - Quer dizer que um de nós poderia ter morrido naquela merda? – Handcheen perguntou enfezado, olhou na hora fazendo uma cara de nojo.
  - Talvez, mas não era algo que pudessem fugir, meu caro. Isso aconteceria onde quer que estivessem. Seria apenas mais difícil de achá-los, mas o destino fez o favor de juntar vocês.. Não da maneira mais amigável, pelo que soube, mas não podemos reclamar desses detalhes. – Handcheen se aquietou. – Então jovens, continuando... – Passou o slide que foi para uma foto de um casal vestido com roupas antigas, ambos aparentavam ter no máximo 25 anos. Eles estavam abraçados, e apesar da roupa cobrir boa parte dos corpos, deu pra ver as tatuagens em cada uma de suas mãos entrelaçadas. Faziam parte do círculo. – Esses são Jennety e Muriel Scudovisk, eles foram escolhidos e faziam parte do círculo. É a ultima fotos deles juntos, não se sabe o que aconteceu com o resto do grupo, muito menos se estão vivos... Nada especifico. O mais estranho é o fato de que essa foto foi tirada quase 200 anos depois do círculo se fechar pra eles. O que me faz questionar se esse círculo interfere ou não no envelhecimento, mas agora eu terei a oportunidade de descobrir! – Disse animado.
  - Hey hey, menos ai cara, primeiro explica por que ai essa coisa de círculo e depois o que é essa merda brilhante no meu olho, porque, sinceramente, eu não to gostando nada. – Vincent fez sua voz ser ouvida pela primeira vez. Ele era do tipo caladão, mas tinha uma cara fofa, o santo de batia com o dele, pelo menos isso.
  - Isso ai! – falou um pouco mais alto, chamando a atenção de todos. - Essa coisa não incomoda, mas as outras pessoas podem ver, certo? Lentes resolverão isso? Eu não quero usar lentes, e também não quero ser atacada no meio da rua por que pareço uma aberração. Quer dizer né, se um dia eu sair dessa merda de prédio. – Revirou os olhos, cheia de raiva.
  - Acalme-se, senhorita , eu não sei ainda, mas segundo minhas pesquisas, as poucas que fiz, eles não conseguem ver o Oculi adamas. Eles se ocultam quando estão perto de humanos, os únicos dos que não podem esconder são de vocês mesmos. Ele brilha com muito mais intensidade quando estão juntos ou sentem algo forte, sentimentalmente falando. Para ocultar de outros mutantes tem que haver treinamento, mas nada que não possamos resolver.
  - Certo. – Ela respondeu.
  - Vocês conseguiram passar vivos pelo Claudit Circuli, eu não posso descrever como estou feliz em participar disso! – Passou o slide outra vez. – O círculo se fechou e vocês agora dependem um do outro. Devo informar que seus poderes melhoraram, e muito, então tomem cuidado com o que fazem! Quando estiverem juntos, ele virá ainda mais forte, como numa dança grupal, um ajudando o outro, querendo vocês ou não. E isso é o bastante por hora. – Frederick desligou o projetou e foi ajeitar suas coisas na mesa. Todos se levantaram olhando-se desconfiados, meio sem saber o que fazer o que fazer. ainda irradiando raiva, confusa e estática por descobrir que ele tinha uma namorada. Handcheen não lhe parecia tão idiota agora, ele se calou, e ela podia jurar que ele fitava . Vincent era o único normal, o único perto de poder ser chamado disso. Seus pensamentos foram interrompidos.
  - Hey, antes de irem eu tenho que dizer que troquei todos vocês de quarto, pois uma boa parte do andar foi destruída com o impacto. O conserto será rápido, mas por enquanto quero que fiquem no andar de cima, o mais reservado possível. Inclusive você, meu filho. – Emma informou, todos consentiram veementes. Não tinham estrutura emocional para questioná-la. Tomaram o rumo da porta, nem olharam para trás, por medo de estar sendo observada por Andrey, e pelo simples fato de estar ocupada demais com o seu turbilhão de pensamentos para olhar para .

Capítulo 10 - Vamos conversar

  - AH! Eu não sei se vou conseguir! – Gritei, quase que derrotada, atrás de uma proteção de madeira que achei. Estava treinando minha pontaria com o Vincent, meu novo amigo.
  - Cala essa droga de boca, , atira logo! Quando você tiver morrendo e ninguém tiver lá pra te ajudar não vai ter essa de não vou conseguir. – Ele gritou
  Fazia um mês e um dia que começamos a ter contato diretamente, nos conhecemos melhor e percebi que Vincent poderia ser um ótimo amigo. Os dias anteriores têm sido legais... Treinos, treinos e mais treinos, tirando o fato de que toda porra de vez que eu encontrava com o (devo dizer que não foram poucas, já que, apesar da resistência, ele vinha treinar conosco de vez em quando) ele desviava de mim, me evitava ou algo do tipo, preferia olhar pra um palito no chão que pra mim. E, sinceramente, depois de dois dias eu parei de ligar pra esse idiota! Mas não foi tão fácil assim, porque, inevitavelmente, toda vez que ficávamos a certa distância eu simplesmente tremia por dentro. O fato de ele me ignorar totalmente, mas falar com todos à minha volta como se nada tivesse acontecendo, me dava nos nervos, me deixava puta de raiva! Estúpido desejo carnal que me fazia pensar naquele beijo também estúpido quase que a toda hora! Voltamos para o nosso quarto depois de uma semana, e por incrível que pareça, eu prefiro ficar lá. Há, agora podemos entrar e sair de lá quando quisermos, o que é ótimo. O Vincent me contou um pouco sobre sua vida, a parou de implicar com o Handcheen, depois dele muito insistir. O Frederick decidiu nos ensinar, ele nos ensina só sobre os benefícios do Claudit Circuli – que, pelo o que eu entendi, é a ligação entre eu e os outros -, a parte de lutar é com a gente. É meio estranho estar ligada a alguém que você odeia. Quando digo alguém que odeio, eu digo .
  - Okay Vicent! Saia do seu recinto e atire em mim sem dó, eu vou saber me proteg... – Seu tiro passou de raspão pelo meu refugio fino de madeira. – Eu não disse já, Vincent! – Reclamei, atirando na direção norte, onde ele estava.   - Você não disse que ia! – Pude ouvi-lo pulando sobre um empecilho que fora colocado propositalmente lá, e vindo em minha direção.
  - Ugh! – Urrei em animação, pulando rápido de onde estava para detrás de uma mesa jogada, rindo de mim mesma por estar ali, me divertindo de verdade.
  - Por que tá rindo, ? Vai ser golpeada por um cara lindo e sensual como eu daqui a segundos! – Pude ouvi-lo se movendo novamente, dessa vez pra mais perto de mim. Vincent era extremamente engraçado, podia não parecer, mas quando passávamos a conhecê-lo tudo mudava. Ele fazia uma piadinha idiota de tudo, me agrada.
  - Porque você é engraçado, cara! E não vai ganhar dessa vez. – Peguei a arma em minha coxa, sim, na coxa - Eu ganhei um equipamento à lá do estranho que ficava preso em minha coxa esquerda, facilitando o uso. – e percebi que só tinha uma bala. Bem, eu iria usa-la, certo? Certo. Fico invisível, desligo-me, corro, e atiro. Pensei, logo fiz. Tudo saiu como planejei, o tiro pegou de raspão, eu não iria machuca-lo. Voltei ao normal e fui até a mesa de equipamentos, retira-los.
  - Não foi justo! – Ele veio atrás de mim, retirando suas armas também. Sorri de lado, ainda de costas.
  - Ninguém disse que seria. – Guardei a arma e retirei o equipamento das coxas. Ficando apenas de legging preta e blusa preta também, mais sem graça impossível. Isso por que eu não tenho nenhum interesse sexual em Vincent, ele não faz o meu tipo, acho que ele é legal demais pra mim. Pelo que eu vi ele estava de olho na Betty, por que toda vez que ela aparecia pra falar com o Frederick ele a cantava descaradamente, ela não dava muita corda, não sei por que se ele é bonito pra caralho. –E você me atingiu cinco vezes seguidas, eu tinha que fazer alguma coisa. Eu chamo te atingir sorrateiramente de “coisa”. – Disse, indo em direção à porta que dava direto no corredor do 19º andar, Daleven me seguiu.
  - Ok, você tá um lixo . –Me alcançou.
  - Acho que tô acostumada a ouvir dessas coisas. – Disse me arrastando, praticamente. Estavamos treinando a 4 horas seguidas, no meio dessas 4 horas saiu, depois Handcheen e foram pegar não sei o que não sei a onde e não voltaram mais. Resumindo, ficamos eu e Vincent. – Você poderia pegar mais leve da próxima vez, sabe.. Eu tô cansada de levar choques gratuitamente. – Disse me recostando dando um empurrãozinho em seus bíceps, que eram super grandes, mas por mais que eu quisesse loucamente ele não me enchia os olhos, mais frustação.
  - Vem, eu te levo! Você merece um descanso dos meus choques excitantes. – O engraçado era que eu estava caindo de cansaço em plena três da tarde e ele estava intacto. Ótima a vida.
  - Excitantes sua bunda! – Parei de andar, ele fez o mesmo. – Volta aqui, porque se eu tiver que ir até ai pra você me levar eu prefiro morrer aqui mesmo. – Drama mode on.
  - Você é um mar de amor e simpatia, . – Voltou. Apesar de também estar todo fodido continuava em perfeita ordem. Parou em minha frente e virou-se novamente pra eu pular em suas costas. Eu não o fiz. – Oi? ? – Outra virada.
  - Oi... – Disse meio grogue. – Vincent, a gente não vai se apaixonar, né? – Perguntei sem ter certeza de metade do que dizia.
  - Hmm... – Ele chegou mais perto, e respirou, pegou minha mão. Nossos olhos brilharam, bom, uma nova conexão. – Não, , nós não fazemos o nosso tipo, se é que me entende. – Ele disse rindo, eu também ri, aberto, mas diminui a intensidade do riso assim que percebi está sendo espionada. Ou... isso era só coisa da minha cabeça? É, acho que sim... Não contaria nem meus dedos agora... Ele virou e eu me joguei como uma mala velha - devo admitir -, em suas costas. – Por que perguntou isso?
  - Porque eu não quero que isso aconteça... Não que seu corpo não seja desejável e que você não seja legal, mas cara... – Eu falava tudo numa lerdeza que chegava a ser idiota. Chegamos ao elevador, entramos e partimos para nosso andar. A sensação de ser espiada só parou quando a porta se fechou. – Eu... Eu quero te contar uma coisa... Porque, você sabe, somos amigos há muitos anos... – Eu devia estar dopada.
  - , está tudo bem? Você ficou grogue de uma hora pra outra - Riu. – Não somos amigos há anos. - Ele ainda me carregava.
  - Que seja, deixe-me continuar... Eu não vou enrolar, é simples, só queria te dizer que beijei o . – Enfiei minha cara em sua camisa bege meio solta. – Acho que ele ficou surpreso.
  - O que? Eu já devia suspeitar... O jeito que ele ficou quando você tava lá toda machucada... Hunn, , arrasando o coração do ! Quer dizer, se você conseguir achar algum coração ali.
  - Cala a boca, eu odeio ele, odeio ele como eu odeio sentir falta da minha família. Ele é idiota, repugnante, ele tinha uma namorada, ou tem, não sei... – Respirei pensativa. – Também não quero saber! - Disse finalmente, e a porta se abriu, então saímos. Vincent me levou até meu quarto e me deixou lá, perguntei o que ele faria a noite e ele me disse que a Betty finalmente tinha aceitado seu convite pra tomar um café no refeitório da Organização, ele não perderia essa. Dei tchau e lhe desejei boa sorte.

  Doze horas e vinte e um minutos da madrugada, agora já é quinta. Assim que cheguei tomei banho, vesti um pijama listrado que eu comprei em alguma lojinha em LA, ele veio junto com todas as minhas roupas que estavam no Hilton. Depois eu dormi, dormi até agora a pouco, estava precisando de descanso. Essa é a parte boa de participar do círculo, o tratamento melhora, a única coisa que eu não consegui foi sair, não que eu não tenha tentado, é claro, mas nunca dava certo. Depois da segunda vez eu desisti, não ia ficar aqui pra sempre, certo? Certo. Eu realmente não sei onde a sem vergonha da se meteu, só sei que ela com certeza estava com o Handcheen, eles deviam estar se pegando, isso sim! O Daleven devia ter estendido sua noite com a Betty, e eu estou aqui, sozinha e acordada. Na minha falta de companhia comecei a pensar. Primeiro pensei em minha família, na falta que eles me faziam, respirei fundo pra não chorar e abri a janela. O som da brisa forte esvaiu sobre mim me fazendo instantaneamente lembrar e sentir falta de musica. Fazia tempo que eu não ouvia musica, não cantava e pulava sozinha por algum cômodo qualquer que eu estivesse. Pensei também nos meus livros, a ultima vez que li um livro foi no dia que fui capturada por .. Foi o bastante pra meus pensamentos irem direto em linha fina para aquele infeliz. Carro, sala com câmeras, sala dele, abraço, briga, bilhete, sweetheart, banheiro e por fim beijo sedutor seguido por um mar de ignorância. Ele não é sólido, toda vez que me lembro de algo bom, algo ruim acompanha. Isso me faz ter raiva de mim, raiva dele e raiva de mim de novo por talvez quere-lo. Mas eu não o quero de novo! Não, eu não quero! Imagina se eu vou querer alguém que só me ignora, alguém que me odeia! Só por que esta pessoa beija maravilhosamente bem. Bem não, perfeito.. Eu diria mais que isso, porem não conheço outra palavra pra descrever. Tenho que admitir que quando ele entrou naquela droga de banheiro eu tremi, com medo de mim mesma e de qualquer coisa que eu pudesse vir a fazer, e eu fiz com a maior cara de pau. Eu pedi, eu queria sentir aquilo o tempo todo sem parar, como uma criança quando vai ao parque, ela quer ir em todos os brinquedos. Ele podia parecer o brinquedo eu a criança, mas não foi bem assim, eu era o brinquedo. Eu fui o brinquedo quando disse que sim, quando minhas mãos se dissipavam sobre seus cabelos assanhando-os ainda mais, eu o puxei pra mais perto e só de pensar em como aquilo era bom eu sentia vontade de fazê-lo de novo pelo resto da minha vida. Uma retardada com sotaque britânico idiota, isso que eu sou. Pelo menos eu consegui parar. Estaria arrependida agora, se não soubesse que ele tinha ou tem uma namorada, foda-se ele.
  - Foda-se ele... – Balbuciei consciente de minhas palavras. – Foda-se ele! – Disse mais alto e com mais raiva. – Foda-se aquele fodido, eu não preciso dele! Eu preciso treinar, eu preciso matar ou destruir alguma coisa! – Gritei, sabendo que ninguém me ouviria.
  Fui até o guarda roupa e peguei um short jeans claro e folgado, num dos bolsos tinha desenhado a bandeira do meu país, só comprei por isso. Catei uma camisa azul só pra combinar com o keeds também da mesma cor. Tá okay que eu não ia encontrar ninguém, e mesmo que encontrasse ninguém me veria por motivos óbvios, ultimamente eu andava tão largada... uma combinação de roupa não me mataria. Fui ao banheiro, lavei meu rosto pra acordar um pouco mais então parti pelas escadas, não queria que ninguém da segurança percebesse. Chegando no 19º andar fui direto pra sala de treinamento, lá só tinha duas salas, a que eu ia que era gigante e a outra que eu não faço ideia do que tem dentro. A sala não estava trancada, pra minha alegria. Entrei, e o frio tomou conta de mim, tentei não pensar nisso. Estava tudo escuro, acendi só duas das oito luzes que haviam lá. Abri o compartimento de armas e estava faltando justamente a que eu queria, alguém deve ter pego pra caçar outros mutantes em algum lugar, ou mata-los, então deixei pra lá. Peguei um revolver, não faria muito estrago, mas dava pra descarregar minha raiva. Fui direto pra o tiro ao alvo, dispensando qualquer tipo de proteção ocular ou auditiva, queria ver a bala saindo e ouvi-la sendo instalada direta e imponente no meu alvo. Comecei a atirar, primeira vez quase certeira. Segunda vez mais perto do crânio. Hesitei na terceira, porque a sensação de estar sendo observada tinha acabado de voltar. Abaixei a arma e pensei em quem poderia estar ali atrás de mim. Fechei o cenho e cheguei à conclusão de que naquele andar quase que abandonado não havia ninguém, exceto eu , que sempre estava sozinha. Continuei a atirar, dessa vez certeira em todas as quatro vezes, duas no peito uma no pescoço e outra no cérebro, ótimo ! Soltei um sorriso vitorioso, e me preparei pra atirar outra vez, mas infelizmente um estrondo de bala passou a centímetros de mim, fazendo-me paralisar totalmente.
  - Porra! O que merda é essa? – Perguntei, ainda de costas.
  - Eu só estou fazendo o mesmo que você, . – A voz dele saiu cortante e fria pra mim, a distancia era significativa, mas o ângulo não me deixaria errar. Eu não hesitei em virar e atirar nele. Passou de raspão, como eu desejava. Obrigada, Daleven, pelas aulas.
  - Não, agora nós estamos fazendo o mesmo. – Disse, tentando soar grossa, consegui. Ele riu de lado e olhou pra camisa verde musgo intacta, eu não entendi. Não sorria perto de mim, não preciso me sentir tentada a todo segundo! Peguei-me fitando como ele estava atraente com a camisa verde musgo e jeans azul escuro, conseguia ver com facilidade no escuro também, coisa do círculo. Fui chamada de volta pelo meu subconsciente astuto. – Quer dizer, não mais. – Virei e descarreguei a arma atirando no alvo. Não ia ficar ali, não mesmo. Ele me odiava, não sei nem por que ele estava ali. Seja lá o que fosse eu não ia ficar pra descobrir. Fui em linha reta sem olha-lo para evitar recaídas, mas tive que parar quando ele falou.
  - Vejo que seu humor não é dos melhores. – Eu revirei os olhos, sério que você vai começar a falar? Você não tem o direito de abrir a boca!- Acho que está sentindo falta de mim. – Será que eu estava ouvindo direito? Observação do dia, comprar cotonetes. Não me abalei.
  - Quer dizer que agora você resolveu me dar à honra de uma conversa. – Soei seca e sarcástica, bom. Cruzei os braços com a arma ainda em mãos.
  - Não que você mereça, é claro. – Passou a mão sobre seus cabelos ridiculamente bonitos. Continuei intacta.
  - Claro que eu não mereço, eu não mereço nada. Nada mais justo pra alguém que não é de nada. – Olha a raiva subindo sobre meu ser, por que mesmo eu descarreguei a porra da arma? Ah, por que não queria tomar decisões precipitadas, certo. Respirei, fechei os olhos e me acalmei. Ia tomar outra posição sobre aquilo. – Okay, você já reparou que nós dois nunca conversamos? Quer dizer, quando eu digo conversar não ponho na lista, se engalfinhar na frente de todo mundo, mandar bilhetes estúpidos, e se atracar como loucos num banheiro. –Falei com a cara mais lavada do mundo, ele riu e arqueou as sobrancelhas, um tanto surpreso um pouco conformado, acho que concordou.
  - É verdade, nunca conversamos sério mesmo. – Olhou pra cima pensando em algo, eu continuei lá esperando. – Vamos conversar, então. – Pegou sua arma (a que eu procurei anteriormente, sinal de que ele já estava lá quando eu entrei) e colocou na mesa. Encostou-se despojado sobre a mesma. – Então, sobre o que vamos conversar? – Por favor, não cruze os braços, ver isso não é bom pra mim! Rolei meus olhos, acho que fiz um biquinho, não sei, só sei que ele viu. – Mas por favor, não fique tentando me seduzir, segure-se garota! – What? Eu não estava... Pensei em protestar, mas só rolei os olhos como faço sempre.
  - Por que você tá aqui? – Perguntei.
  - Porque eu cansei de ficar só, a solidão nos faz pensar demais, às vezes pensar não é tão bom quando parece, então vim fazer o que eu faço de melhor. – Falou como se não desse a mínima.
  - Encher meu saco?
  - Não, matar. – Soou tão ríspido de que me deixou um pouco incerta, um pouco assustada. – Quer dizer, no caso de hoje eu não vim matar ninguém, só vim treinar minha pontaria e outras coisas. Na verdade, eu sempre faço isso. – Okay, ele não pretendia me matar, menos mal. - E você, o que faz na minha área uma hora dessas? – Sua mão direita estava recostada na mesa, ele olhava pra mim, que o encarava do mesmo jeito, sustendo o olhar desafiando-o, admito.
  - Eu vim fazer o mesmo que você, pelos mesmos motivos... Tirando a parte de matar, é claro. –Descruzei os braços, coloquei uma mão nos bolsos e a da arma ficou livre.
  - Mas onde estão os outros? – Dessa vez ele não estava olhando pra mim diretamente, olhava pra porta. Acho que ela estava mais fechada que aberta. Virei pra olhar e respondi.
  - saiu com o Handcheen, Daleven conseguiu um encontro com a Betty, e eu tô aqui, sozinha. – Me peguei olhando pra o chão, foi à primeira vez desde que começamos nossa conversa.
  - Não , você está aqui COMIGO. – Gelei. Não precisava usar essas palavras e me lembrar de que eu tô sozinha com você outra vez!
  - Teoricamente... – Desconversei, passei as mãos sobre os cabelos, a mão da arma. Ficou estranho.
  - Então... –Olhei de volta pra ele, e já estava com uma arma qualquer em mãos. –Qual é o seu lance com o Handcheen? - Sério? SERIO?!
  - Que? Sério? Por quê? O que? Sério? – Aumentei meu tom, olha o estresse voltando! Por que ele tava perguntando isso? Todo o mês que ele me ignorou não parecia fazer diferença nenhuma diferença, nenhuma!
  - Se acalme, . – Ainda mexia naquela arma estupida sem me olhar, eu poderia jurar que estava rindo. Qual a graça? Não tem graça!
  - Se acalma o caralho! Olha pra mim quando tá conversando, se puder chamar isso de conversa! – Parou, colocou o instrumento pra cima e passou a fita-lo. Deixou-me com mais raiva. – Ugh. – Reclamei, respirando forte, tentando me segurar pra não sair dali. Eu ainda queria saber a resposta da pergunta.
  - Você passa muito tempo com ele, certo?! E pelo que eu vejo não importa de dividi-lo com a Betty.
  - Da onde... – OI? – DA ONDE VOCÊ TIROU ISSO?! – Não me contive em morder meu lábio inferior, não era o bastante. Comecei a andar de um lado para o outro, como uma idiota, eu admito.
  - Tirei de você com ele, grudado a todo o momento que eu chegava aqui. Como se vocês se conhecessem há muito tempo. Tirei de você jogada nas costas dele, talvez... E de várias outras coisas que vocês fizeram durante esse mês. – Ainda apreciava a arma. Eu parei meu percurso idiota, voltando-me a ele ainda parado. Agora me olhava por baixo de um jeito meio sexy, mas que no final não me dizia merda nenhuma.
  - Você não poderia estar mais certo! – Permaneceu intacto, ele tinha me provocado, ia me ouvir. – Durante esse mês, esse mês que eu fiz uma nova AMIZADE e fui totalmente ignorada por você até hoje! E eu não sei qual o motivo de você estar falando comigo, realmente não sei! Quer dizer, eu até posso imaginar – Coloquei um pé pra frente e passei a arma pelos cabelos, tirando-os do meu rosto. Parecia que estava pensando, ele me olhava sem entender ainda. –Talvez deva ser por que o pé na bunda que você levou começou a doer, certo?! Boatos dizem que você foi deixado , mas ninguém me contou isso, eu tenho minhas maneiras de descobrir, não que isso me interesse. – Fria e prepotente. Ele arqueou a sobrancelha, fechou o cenho e abaixou a arma.
  - Não é bom falar do que não se sabe, correto ? – Perguntou.
  - Concordo plenamente! – Disse irritada, mesmo sem falar muito ele conduzia a droga de conversa, mas eu não seria tão fácil assim.
  - Então certo, quer dizer que você nunca teve nenhum pensamento sexual, ou interesse sentimental nesse cara?- Ótimo! Você faz cara de que tá me perguntando qual suco eu quero, mas o que diz só me leva em linha tênue a pensar que está se importando.
  - Não te interessa, nada em mim te interessa eu não te interesso, eu não quero te interessar por que você é um fodido louco e sem mente. – Disse ainda imóvel.
  - É verdade, a Chloe acabou comigo sim, e fico feliz em lhe dizer que eu não a matei por isso... Eu poderia, num piscar, mas não fiz... Ela foi boa pra mim, então resolvi poupa-la, mas não o fazedor de ar. Ah ah, ele não. – Fez que não com a arma. Aquilo estava tomando outra posição, eu estava ficando tensa, por que ele estava falando em mortes?
  - , você mata todo mundo que termina uma relação com você? Você nunca ouviu um não? Belo filho da puta você está me saindo. – Estava com um pouco de receio, tenho que admitir, ele me deixava assim, meio deslocada...
  - Você não me conhece, ! – Seu tom foi tão baixo, ainda sim revirou meu estomago. –Você sabe o que é se apegar a alguém, e vê-la se dissipando por entre os dedos? Ser deixado, ser ignorado? – Seu tom mudou de cortante pra cínico. Sério? Tirando onda com minha cara?! O sorriso tomou conta de seu rosto. Não, eu não posso prestar atenção nesse detalhe!
  - Estúpido! É isso que você é, você... Ahrg! – Não dava mais, aquilo nem era mais uma conversa. – Eu te odeio, ! –Parti direto pra mesa, pra deixar a arma, e ele institivamente saiu de perto e passou a me observar. No meio do caminho eu percebi para onde estava indo e que não estaria em uma distância segura se chegasse à mesa, mas meus pés não me obedeceram. Continuei a caminhar determinadamente em direção da mesa, assim que cheguei perto pude inspirar seu perfume, outra vez. Rebobine, ande ! Rebobine e sinta como ele foi bom, ande, não seja boba! Meu cérebro gritou quando passei por ele, e merda, como queria largar tudo. Meus olhos começaram a brilhar, e sim, agora eu sei quando essa merda brilha. Quando minhas emoções afloravam... Ainda segurava a arma, a bati forte na mesa, morta de raiva de mim, culpa dele!
  - Eu preferi te ignorar, ! – Lá no fundo eu pude sentir uma sensibilidade em sua voz.
  - Não me importa! – Respondi.
  - Não seja tão estupida quanto eu, está na sua cara que faz alguma diferença, é legal da sua parte se negar, eu até gosto. – Dois passos, ele deu dois passos. Pra frente. Meu perímetro, meu espaço porra! – Digamos que eu prefira ficar isolado do mundo!
  - Não me interessa! Você não me deve satisfações, simples assim. – Outro passo. Continuei de costas.
  - Porra, , eu não quis foder com tudo! Eu sempre faço isso, eu faço isso sem perceber. - O som de um tiro rasgou entre meus ouvidos. Direto no alvo que antes eu atirava. – Então, se eu não chego perto de algo é porque eu não quero estragar nada. – Outro tiro. – Eu continuo com raiva de você e a única coisa que sabe fazer é sair com outro cara. Acho que você ainda o quer vivo, por isso eu me fechei. – Outro tiro fodido.
  - Eu não tenho medo de você, você sabe disso, certo? – Gritei, ainda de costas.
  - É uma possibilidade você passar a ter, eu não sou lá essas coisas. – Outro tiro rasgou. Troquei de arma, peguei uma maior, carregada. Virei-me e me pus a atirar com uma mão apenas.
  - Não sou lá essas coisas também! – Sorri de lado, cínica e afiada. Um tiro meu, outro dele, duas vezes seguidas. Ele foi certeiro e eu não fiquei atrás, seu olho brilhou e eu senti o clima pesado se esvair na proporção que os tiros eram dados. Seu olhar ia se abrindo, e eu agora atirava olhando pra ele. Porra, você podia chegar mais perto! – protestei, - Não podia não, fique longe!
  - Não faça isso, !- Continuou a atirar.
  - Isso o que? - Parei.
  - Me secar, tomando atitudes legais enquanto mostra quão boa é na pontaria. – Parou também. Oi de novo, respiração falha e arrepio! Agora eu que estava sendo secada.
  - Eu só estou... – Passei a arma pelo cabelo novamente. – Só estou te devendo uma, sinta-se pago! – Disse, indiferente.
  - Guarde sua gentileza pra outra hora – Passou as mãos sob seus cabelos lindos sedosos macios, como eu lembro, e caminhou em minha direção. Fechei o cenho e permitir-me pensar por um segundo, entendi exatamente o que ele pretendia fazer. Meu susto foi tanto que comecei a atirar em sua direção, sempre acima de seus ombros, mas ele não parou. Outro tiro, ele não ia parar? Descobri que não quando já estava parado em minha frente, com seus olhos brilhando como aqueles globos de festas, a diferença era que a minha cabeça que girava. Ele me puxou e eu simplesmente fui, era um mecanismo natural. Quando percebi seu braço já rodeava minha cintura, num nível que me deixava meio apertada, mas de maneira prazerosa e aconchegadamente. – Prefiro que me pague de outro jeito. – Finalizou. Peguei todas as forças que eu tinha e coloquei-as numa só ação. Levei a arma à sua cabeça, segurando firme, deixando tudo mais tenso. Sustentando o olhar cru e toda aquela conexão.
  - Você não faria isso. – Sorriu. Sorrir pra mim cinicamente naquela situação era quase uma afronta, ninguém lhe disse?
  - Você não pagaria pra ver! – Disse alto, deixando o tom corajoso se esvair pelo lugar. Eu não estava brincando, quer dizer, não sei, mas essa era a minha única chance. Meu rosto permaneceu fechado, me afastei um pouco de seu braço que me tomava. Então ele finalmente fechou o cenho, dando-se conta do que se passava.
  - Okay , vamos lá! Atire em mim, já que eu não faço diferença pra você! Vamos Sweetheart, não mudará nada, você só tirará um grande peso de suas costas! – Suas palavras me assustaram, não posso negar, a confusão tomou conta de mim. Porque fazer aquilo? Sua voz saiu alta, séria, verdadeira. Ele não poderia estar pedindo um tiro na cabeça, não em sã consciência!
  - Você está bem, ? Sabe que eu não estou brincando, certo? Eu tenho motivos pra fazer isso sem nem pensar. – Disse. Dura, e confesso que tive receio dele consentir. Se isso acontecesse eu teria que dar pra trás, eu não gosto de fazer isso, mas estava ciente o suficiente pra não atirar numa obra de arte daquela.
  - Você não atiraria em mim nem daqui milhões de anos, ! – Me soltou, mas continuamos numa distância ainda pequena. – Mas, vamos fazer uma brincadeira aqui! – Eu fiz cara de dúvida, ainda assim continuei lá com a arma, minha mão tava até cansando. Seu cheiro estava me tomando, então pisquei umas vezes e tentei não prestar atenção neste detalhe. – Calme, vamos fazer assim... Eu quero que você atire em mim, e eu não estou brincando. Você confia em mim, ?!
  - Não. Claro que não, que pergunta estúpida! – Entoei.
  - Vamos lá, , sei que gosta de um desafio, nada acontecerá comigo. Continuarei aqui, se você confiar em mim e nada acontecer eu continuo do jeito que você quer, eu resisto a você e não olho em sua cara. – Okay, enigmático. Olhando de um ponto de vista externo eu simplesmente ganharia. Ele não deveria estar mentindo, então eu apertaria o gatilho e nada aconteceria. Mas se acontecesse, ah se acontecesse eu não me perdoaria nem daqui a mil anos, não consigo pensar na hipótese, me dava náuseas.
  - E se eu não fizer? – Bom, pelo menos minha voz não falhou nem saiu embaralhada como estavam meus pensamentos.
  - Se você não fizer... – Chegou mais perto, eu levei a arma com ele. Respirei forte uma vez, tentando com extrema valentia não prestar atenção naquele homem lindo tão perto de mim. Meus músculos endureceram, e eu paralisei. – Eu não te deixarei em paz, simples assim. – Seu olhar pra mim era frio e cortante, como se tivesse me avisando de algo que iria acontecer, como se soubesse o que haveria no futuro. Torci meu lábio, mostrando-me firme diante suas palavras. - Eu vou me fixar em você , e quando perceber você já será minha. Quando você perceber sweetheart tudo que irá querer é ser minha, eu vou te tomar, te beber e não parecerá tão absurdo como parece agora, por que tudo que vai querer é fazer o mesmo comigo, nos completamos e você entenderá isso, mesmo que não seja agora, nem da melhor forma. – Meu ar faltou, mas me segurei. Suas palavras me apavoraram tanto, não tive medo... não era medo, era temor, como se mesmo sem querer eu já soubesse que terminaria caindo naquilo tudo, como se tudo que eu quisesse fazer quando esse tempo proferido chegasse, fosse cair e cair no infinitos de palavras, sensações e sentimentos ditos ali. Minha arma continuou levantada, eu não vou negar, não sei como! Diante da confusão de sentimentos que eu tive, eu não deveria está fazendo isso. Deveria estar no meu quarto, não perdida naquele emaranhado de sensações, ficar perto dele me dissipava.
  - Vamos, , faça! Faça, ! Vamos, garota! – Isso... isso não é justo, não! Não.. Merda, essas vozes promiscuas e assustadoras, cada uma me dizendo uma coisa, me puxando para um lado. Eu não tenho espaço suficiente para uma opinião própria, mas mata-lo não era uma opção. Eu iria perder, eu iria o perder, mas eu ao menos o tinha. Sua voz alta me mandando fazer rasgava sobre meus ouvidos, me fazendo ficar em pane comigo mesma, abri a boca involuntariamente buscando ar. Ele ainda falava. Grunhi cheia de raiva. Tomar uma decisão sob pressão com certeza não era a melhor forma. Eu tinha tudo, todas as razões e mais um pouco para acabar com tudo ali mesmo, mas não o fiz.
  - Hruhg! – Grunhi alto mais uma vez, colocando em minha face toda minha frustação de não poder continuar.
  Apertei o gatilho, mas não em direção a sua cabeça. Ele não se abalou e a bala não saiu. Não havia mais balas na arma, eu mesma havia a descarregado e ele sabia, por que era a arma que ele estava inicialmente! Eu fui idiota o suficiente... não! Não foi estupidez, eu só não poderia confiar em sua palavra, não sabia quanto era a proporção da sua falta de insanidade. Ele sorriu de lado e me olhou por baixo, eu me senti um brinquedo outra vez, meus olhos brilharam forte outra vez e a única coisa que eu pude fazer para amenizar meu ódio e repudia foi socar sua cara com a arma com um máximo de força que pude. Seu rosto avermelhou na hora, mas não pareceu abalado. Eu não estava brincando.
  - Você sabia! Você, sabia, miserável! – Cuspi as palavras, pra mim, ficar cega de raiva não era difícil, e ele tinha conseguido faze-lo num piscar de olhos. – Eu cansei dos seus joguinhos, . – Varri o local e a única coisa que achei pra futuramente despejar minha raiva foi um cabo de madeira, ele era grande e grosso, peguei sem pensar. Ele já olhava pra mim de volta, não teve tempo de dizer muita coisa. Golpe em sua costelas, forte, mas não forte o suficiente para faze-lo sentir dor, por Deus, isso era quase impossível! Resolvi tentar ainda assim, eu o atacava e ele revidava. Eu atacava ele revidava novamente, e pra meu descaso a raiva estava se transformando em algo maior. Excitação. Não, agora não, não, não, não!! Grunhi novamente, totalmente descabelada. Minha tentativa de fazê-lo andar para trás e chegar primeiro até uma adaga pequena no chão deu certo. Invisível, peguei a adaga, ele não percebeu. Continuei levando-o pra trás, até a parede. Era cansativo lutar com alguém que tinha 2000 vezes mais força que você.
  - Estamos apenas começando, querida! – Cínico, ridículo, depravado! Arfei, com ele já encostado na parede começamos a lutar, sempre com as partes superiores, não podia demorar mais. Ele deve ter achado o mesmo, pois finalmente quebrou a estaca no meio e rolou os olhos. Eu grunhi de raiva, fingindo uma derrota parei. É, excitada, eu ainda estava. Isso é loucura! Dei-lhe as costas, e poderia jurar estar vendo sua cara vitoriosa lá, estampada. Quem riu dessa vez fui eu. Nossa distancia estava perfeita pra golpeá-lo se girasse com a minha perna para cima em um ângulo de noventa graus, daria direto em sua cara. O fiz. Mas ele como o rato que é segurou a perna antes dela chegar ao destino. – Ah, ah, ah, ah aaah... Não aja deste modo rebelde, senhorita! – Mais perto, com minha perna direita sendo segurada por sua mão esquerda quase na altura de seu ombro, boa ! Boa!
  - Me solta! – Protestei enfezada.
  - Ou o que? – Soou intimidador, sua expressão era intimidadora, mas eu não me sentia intimidada. Sua expressão de raiva deixava seu rosto marcado, duro, forte. Poder fitar de perto era bom, fazia-o parecer um humano qualquer, normal. Atraente, sedutor bonito. Paramos e sentimos o silencio, ele nos dizia alguma coisa, éramos estúpidos demais pra entender. Fiquei sem resposta, fui solta logo em seguida. – Você é estupida, ! – Menos de cinco centímetros de distância. Essa era distância que nos separava. A raiva escorria sobre nós dois, intensa, pedindo pra ser vingada essa era única forma.
  - E você, , é podre! – Saquei a adaga do bolso do shorts o mais rápido que pude colocando-a sob seu pescoço. – O que me diz agora, uh?! – Apertei um pouco o instrumento sobre uma veia, fazendo-o dar um passo pra trás. Sorri cheia de raiva, fixando nossos olhares. Minha mão foi direta em seu peitoral buscando apoio, voltando a dar oi a aquele local, ela diria “i miss you” se pudesse, eu acho. – Não é tão bom agora, uh! Não se faz esse tipo de coisas com uma garota, . – Desci a adaga afiada lenta e corajosamente do pescoço para o peito apenas com a ponta. Era eu, da forma mais crua, eu não conseguia odiar aquilo por que ele me permitia ser eu mesma, sem muitos pudores. Estava claro como água que ele estava me deixando fazer aquilo, mas eu sei, ele queria sentir. Me sentir, nos sentir. Desci a adaga fazendo uma linha fina em sua pele, ela não rasgava, apenas arranhava. Desci, rasgando sua camisa verde musgo com a arma, me odiando e amando ao mesmo tempo por fazer aquilo, sou aversiva, eu sei. Finalizei e ela partiu-se em duas juntando-se ao chão. Sem camisa, excelente. Nossos olhos cintilaram outra vez e ele tomou a adaga da minha mão, eu não protestei. Me tomou à cintura e trocamos de posição, estava encurralada, então ele colocou uma mão sob a parede, me prendendo. Eu arfei, soltando um protesto mudo para ele.
  - Nada mais justo, que receber o mesmo que eu, certo?! – Não respondi, era retórica. Desci meu olhar lento para a t-shirt que era rasgada também com o instrumento, tudo isso com extrema facilidade. Ela caiu e agora eu também estava um pouco desnuda. Obrigada consciência por ter me lembrado de por um sutiã olhável. Na verdade era bonito, azul escuro, de renda, pra continuar na vibe das combinações. Magnética a nossa ligação, eu sabia exatamente o que fazer, apenas não queria. Se eu o fizesse seria o passo final no abismo. Em meio aquela ligação, com ele centímetros de mim, seu cheiro já impregnado em meu corpo eu fiz a última tentativa de me salvar do abismo que me esperava. Minhas mãos passaram rasgando sobre sua pele nua então eu disse.
  - Não! Eu não vou carregar essa culpa! – Tentei me enganar, empurrei-o pra fora e parti até a porta, não demorou muito e ele estava atrás de mim, senti meu braço fino formigar quando me puxou, furioso. Meus olhos cresceram confusa ainda, cheia de sensações e excitação que teimava em pulsar por todas partículas do meu corpo.
  - Não, ! NÃO! – Disse grosso, recuso a qualquer opinião que fosse diferente. – Não, ok? Se lembre, não negar. Não se negue a isso! – Grunhiu, então eu dei meu ultimo passo, caindo do abismo que nós dois éramos. Foi selado com um beijo. Tomou-me de forma rustica, enfurecida, excitante. Suas duas mãos foram aos meus cabelos, embrenhando-se lá, eu por minha vez rodeei meus braços em sua barriga, buscando-o pra mim, só pra mim. Mordisquei seu lábio meio que desesperada e passei a arranhar sua barriga e parte das costas, sem me importar se machucaria. Ele arfou de volta, estávamos ambos desesperados. Ele trocou suas mãos de lugar, uma foi pra minha nuca e a outra pra minha barriga, ainda nos beijávamos, estávamos quentes, queimando juntos, queimaríamos em vermelho pra sempre. Senti nossos corpos sendo fixados um no outro por ele, logo me arqueando pra cima, segurei em seus braços e num impulso estava com minhas pernas rodeando sua cintura, sendo levada pra alguma merda de lugar que não sabia ainda. Ao longo do caminho minhas mãos foram viajar em seus cabelos macios, enquanto ele mordia meu pescoço e eu praticamente pedia para morrer naquela loucura. Mesa de armas, pra lá que íamos. Ao chegar lá ele parou de me segurar, mas eu não me desprendi. Um barulho alto cortou sob meus ouvidos, todas as armas caíram no chão, nenhuma disparou, não sei o motivo. A mesa de ferro forte era gélida, senti ao ser colocada lá, achei até delicada demais tal ação, estava falando de , não havia delicadeza. Paramos por um segundo, nos alto observando, procurando cada detalhe, nossos olhos pulsavam em brilho intenso. – Você é linda, . – Meus seios subiam e desciam por causa dos movimentos respiratórios. Seus olhos permaneciam vidrados em mim, será que era verdade? Acho que minha expressão perguntou por si só. – Não. Espere um minuto, olhe pra mim. Não estou mentindo pra você, você entende? – Eu hesitei incerta por um estante. Não tinha resposta pra aquilo, franzi o cenho e respirei fundo uma vez. Fui questionada outra vez. –Você entende, ? – Dessa vez foi mais firme, não estava mentindo, eu sabia que não. Foi assim que me senti. Bonita, suficiente, poderosa, o bastante para ele, só por um segundo. Mergulhei na ilusão de que realmente era aquilo e acenei que sim com a cabeça. – Você passará a acreditar nisso, por que eu te direi todos meus dias fodidos. – Grunhiu, e me atacou novamente. Partiu para o meu pescoço, sugando-os alternando os pontos, segurando um dos meus braços. Arranhei seu braço para que prestasse atenção em mim, ele voltou confuso. Eu já estava naquela situação mesmo, então por que não aproveitar?
  Segurei seu rosto com as duas mãos e o beijei, não precisava de consentimento. Nossas línguas rolavam e perdiam-se uma na outra, feroz e avidamente. Sua mão passeava pela minha barriga dando-me arrepios, nossos corpos ainda estavam colados, minhas coxas rodeando sua cintura. Mãos grandes foram feitas para serem usadas, e bem, ele sabia muito bem como fazer. Minhas coxas eram pressionadas e massageadas, pra cima e pra baixo, nessa sequencia. Doía por causa de sua força, mas era prazeroso. Eu queria ser mais forte que aquilo, mais forte que ele, mais forte que eu, mas não conseguia, era inevitável. Parei de beija-lo e fui direto pra seu pescoço, já queria fazer aqui faz tempo. Mordi sem piedade, chupei de um lado para o outro, seu cheiro impregnado em mim, eu não queria sair. Meu coração pulsava pra fora, minha cabeça pedia mais e o som de meus beijos passaram a soar como musica pra mim, ficou melhor ainda quando ele praticamente rugiu pra mim, ele estava gostando. O volume lá em baixo foi sentido quando fui puxada contra seu corpo, eu já pulsava por um toque, a excitação me consumia e me queimava, não era a única ali. Arranhá-lo era única maneira de depositar minha parcial frustação, e se a tatuagem do círculo pudesse ser removida desse modo então já seria tarde há séculos.
  - Ahrgg! – Protestei alto dessa vez, vamos logo com isso, não me deixe esperando filho da puta! Ele sorriu, seu sorriso quebrava qualquer nível de ser sexy, ninguém tinha isso. Cínico, estúpido, cara de pau e sexy tudo de uma vez só, aah, um martírio. Rolei os olhos.
  - Mais feroz do que eu imaginava... vamos resolver isso! – Ouvir sua voz grossa, alta e um pouco rouca me deixou um pouco mais longe da insanidade, merda. Afastou-se um pouco e fitou meus seios que pela graça divina possuíam tamanhos aceitáveis, fiz o mesmo, seus músculos, sua pele, tudo tão convidativo em minha frente. Eu precisava. – Merda ! Merda! – Minhas mãos em cada um dos seus ombros, apertando-os. Reclamei outra vez, não gritaria seu nome, não mesmo! Já estava me permitindo demais estar em baixo dele totalmente entorpecida. Olhou maroto pra mim e depois pra o sutiã, seus cabelos bagunçados não podiam ser mais divinos, apreciaria uma par de dias se pudesse. Voltei a mim, hey, você não vai...
  - Não! Não faça isso, não rasgue essa merda! – Avisei, ríspida. Ele segurou no meio da lingerie e me olhou, desafiando, mas continuei dura. Seu toque me deu ondas magnéticas inalteradas, ignorei e continuei a fita-lo. – Eu disse não! – Repeti em teimosia, então ele desistiu.
  - Apenas dessa vez, sweetheart! Só dessa vez. – Avisou, e num piscar puxou-me pra frente, desabotoou a peça e voltou a pousar-me lá. Meus cabelos caíram sobre a mesa, e pelo seu olhar pesado em mim eu tinha lhe agradado. O brilho de seus olhos aumentou, sua expressão ficou mais feroz que antes, mas eu não tive medo. Ser observada assim me deixava desconfortável, não sei o que ele provavelmente pensava, não sei se queria saber, tentei não pensar puxando-o pra perto de mim de outra vez então fui empurrada pra longe de seu corpo. Antes que eu pudesse tomar ar ou piscar ele já beijava meu pescoço novamente, dessa vez sem demora pra descer até meu colo. Parou e inspirou meu cheiro pra dentro, levando consigo um pouco de mim. Fechei meus olhos pra sentir melhor todo aquele misto de sensações que estava me proporcionando. Uma de suas mãos voltou a apertar minha coxa e a outra foi direto pra meu seios, preenchendo-os, conhecendo-os. Seu toque me arrepiou dos pés a cabeça, seria insanidade dizer que eu queria mais? A cada centímetro que ele chegava mais perto dos seios ondas de prazer vinham pulsando de dentro pra fora, e quando ele depositou sua boca finalmente lá eu simplesmente não aguentei. Soltei um gemido fino e abafado entre dentes, o volume de sua calça se aproximava de meu sexo numa investida fazendo-me sentir mais entorpecida ainda. Dedicado e atencioso, entusiasmado, ele estava sendo tudo isso de uma vez só, enquanto cuidava de um lado dos seios acariciava o outro com as mãos, eu por minha vez puxava-lhe pra perto sempre que podia. Terminando seu trabalho lá, ele desceu até minha barriga, dando beijos quentes e molhados. Bati a mão forte sobre a mesa, eu queria mais! Ele estava me torturando totalmente de propósito, bati de novo então ele olhou pra mim mais certo e sexy do que nunca, acho que meu olhar devia estar bem desesperado. Voltou ao seu trabalho colocando mão que massageava as coxas na cintura, chegando finalmente ao cós do short. Mordiscou mais uma vez, e desabotoou-o, revirei meus olhos outra vez e bati a mão mais forte sob a mesa, fui ignorada, então desisti buscando ar. Um, dois, três... Que merda é essa? Logo agora? SÉRIO?! PORRA! Devo estar pagando algum pecado! Derrotada, segurei em seus cabelos fazendo-o parar, deixando-o confuso. Então disse irritadíssima.
  - Está vindo alguém! – E ele entendeu a mensagem, levantou o corpo ainda em cima de mim e fechou o cenho cheio de raiva.
  - Merda! – Bateu forte sob a mesa numa distância mínima de mim, acho que amassou. Ficamos frente a frente de novo, e, pode parecer bobo mais eu me afogaria no mar que aqueles olhos eram. Apesar da luz baixa conseguia ver a vermelhidão em suas bochechas. Me atrevi dar um inicio de um sorriso pra ele diante do fato, mas desisti no meio. Seu olhar permaneceu gélido, avido e sério fitando-me mais uma vez, era como se em cada olhada como aquela ele conseguisse levar uma parte de mim. Abri a boca pra tentar dizer alguma coisa mesmo diante todo aquele vendaval de emaranhado de coisas, mas antes de falar ele foi até a mim numa lentidão que poderia ser calculada, eu gelei, meu estômago revirou de novo e minha visão embaçou outra vez. Ao contrário dos outros beijos que ele havia me dado esse foi calmo, devagar, paciente, pra falar a verdade foi mais sensual ainda, e só serviu pra me excitar ainda mais! Idiota! Eu reclamaria se não estivesse ocupada demais devolvendo seu beijo. Tive que quebra-lo com outra mordiscada, estava virando hábito.
  - 15º andar. – Avisei meio confusa e estática ainda, então ele saiu de cima de mim deixando-me respirar o ar que eu não tomava por uma par de tempo. Sentei sobre a mesa por um segundo e pulei dela rezando pra conseguir cair em pé. Consegui. Peguei rápido o sutiã e coloquei-o, sem olhar pra ele em nenhum momento, as pernas ainda estavam bambas. Quando me atrevi olha-lo ele estava lá, parado um pouco longe com uma arma na mão me olhando de volta, quem chegasse no local não desconfiaria nem de longe o que estava fazendo, a não ser pelos cabelos bagunçados. Respirei fundo, passando a mãos pelos cabelos me pus a andar sem olhar pra trás outra vez. Quando chegava à porta o ouvi dizer:
  - Não acabou, . – Então partiu um tiro sob o alvo. Apesar da confusão eu sabia que estava, muito longe de acabar. Fiquei invisível, e parti para o corredor, esperando o elevador finalmente parar trazendo Jhon consigo. Ele passou rápido por mim, entrando num piscar na sala. Meus passos curtos me permitiram ouvir um tanto da conversa.
  - , vim confirmar sua ida a Sausalito no litoral com os outros jovens para um treino mais “árduo”. – Pelo tom de voz dele estava achando algo estranho, mas não se manifestou sob.
  - Por que não me ligou? – Arrepio involuntário, isso tinha que acabar!
  - Liguei, você não atendeu, então resolvi vir olhar aqui já que vem treinar de vez em quando.. –Parou por um segundo. – Você parece um pouco... atordoado, aconteceu alguma coisa?
  - Não, não aconteceu nada, eu só vim treinar como outro dia qualqu... – Não consegui mais ouvir, pois a porta do elevador finalmente fechou-se, levando consigo uma muda, vislumbrada e apática.

Capítulo 11 - Segure sua arma

  O som do das batidas ritmadas de Betty chegou antes para , que não tinha pregado o olho a noite toda. chegou minutos depois dela, fazendo-a sentir alivio por não ter sido descoberta pela amiga. logo lhe disse que queria saber tudo sobre o que acontecera na noite anterior, concordou e foi dormir com um sorriso aberto de orelha a orelha. desejou também poder abrir um sorriso feliz, mas ele não viria tão cedo. Durante toda a noite sua mente tentou processar o fato de que ela tinha se atracado com praticamente como animais na sala de treinamento, com direito a tensão, tiros, camisas rasgadas, olhares comprometedores, em um desejo maçante que só de pensar deixava seu corpo faiscando. “Isso foi errado, como eu pude fazer algo tão estúpido? Qual é , você é só mais uma. Não se iluda! Você não pode significar nada pra ninguém, muito menos pra alguém tão fodido quanto você, supere e esqueça!” suspirou voltando a olhar o céu, hoje totalmente aberto num azul totalmente cintilante. Antes de ouvir batidas pensou no que faria “Você vai ignorá-lo, igual ele fez com você! Isso é simples e fácil, até ele ver que você não é um brinquedo e partir pra outra! É isso” apesar de sentir uma fadiga no coração como se ele gritasse sufocado outra coisa ela ignorou, então Betty chegou.
  - Olá garotas! – notou um ar animado em Betty, pelo visto não foi só ela que deu uns amassos.
  - Oi Betty. – respondeu tentando não soar tão desaminada, já gritou animadíssima do banheiro, o que um Handcheen não faz né?! Betty sorriu e adentrou o quarto segurando uma grande sacola.
  - O que tem ai? – levantou num pulo da cama. Tinha voltado a vestir o pijama da noite anterior, a diferença é que apesar de ter tomado uma ducha duplamente demorada o cheiro do infeliz ainda a impregnava.
  - Tenho uniformes! – Soou animada novamente. saiu de toalha do banho, sorrindo também. Será que só ela não estava nessa animação toda por ter pego uma divindade chamada ?! Betty dirigiu-se até a cama e tirou fora roupas estranhas, não entendeu bem, achou até graça.
  - Que merda é isso, Betty? – Perguntou outra vez.
  - Eu já disse, são seus uniformes! Não me tire à paciência, estou bem hoje, não estrague! Além do mais foi um estilista bem reconhecido que os produziu, com matérias específicos para que vocês duas pudessem lutar com maior agilidade, eu achei lindo. vejo que já tomou banho, use o seu. tome logo o seu banho e venha vestir o seu também, não podem se atrasar. – Deu o de para colocar, ela parece ter gostado. Era uma saia curta com um short por baixo, a parte superior parecia um espartilho e marcava todo território superior, o decote não era muito grande, parecia que fora feito a medida de . Começou a vesti-lo com boa vontade.
  - Pra onde vamos? – Questionou, pegando suas roupas indo direto pra o banheiro.
  - Vão a Sausalito, no litoral. Temos um centro de treinamento lá, vocês passarão dois dias treinando e se tudo ocorrer como planejado vocês poderão começar a cumprir sua missão. – Explicou. Segundo o que havia aprendido ali nesse breve tempo, a missão era conseguir capturar o chefe majoritário da organização, cortando o mal pela raiz acabando definitivamente com a morte e extinção desenfreada de mutantes no planeta. Assim como a organização que a mesma estava a rival havia sedes em outros lugares e todos eles estavam se preparando para o ataque, este estava sendo planejado há anos para vingarem todos os mutantes e até humanos que foram mortos inocentemente durante todo o século. Tomou seu banho e foi olhar sua roupa ainda no banheiro. Tinha recebido uma calça extremamente escura e apertada, mas o material como Betty dissera se ajustava ao corpo deixando-a confortável. A blusa era uma perdição. Ridícula! Tinha pedrinhas brilhantes nas mangas que faria qualquer um que passasse por ela praticamente perder a visão. Não gostou nada. Sentou no vaso sanitário fechado e pensou um pouco em algo que pudesse combinar. Colocou a cara do lado de fora e gritou.
  - Você não acha mesmo que eu vou usar uma merda desta né? Se eu sair daqui com uma roupa dessa vou cegar todos na rua! – Protestou ainda mais quando viu quão linda estava. – Eu não vou assim mesmo, deem-me licença. – Passou apenas de sutiã e calça para o guarda roupa, procurando algo aceitável que não provocasse cegueira alheia. Procurou por um tempo, enquanto sua amiga maquiava-se e Betty permanecia pensativa sentada à cama. Finalmente achou algo que lhe agradou. Um vestido preto, liso e colado, ia até as coxas e tinha um decote recatado, recompensando o pouco tamanho. Procurou mais um pouco achou uma meia calça com poucos fios, ia até a coxa, quase de encontro com o cumprimento do vestido. Pensou em usa-la para colocar sua engenhosa ferramenta de guardar equipamentos. Vestiu e virou-se pra Betty, ela não estava nem ai. Fitou-se e percebeu que algo faltava, no caso era algo que a cobrisse mais e a deixasse com um ar obscuro. Uma jaqueta de couro, isso! Estava no fundo do móvel, pegou e cheirou-o, bom, seria esse mesmo! Terminou de calçar o coturno que também ganhara, esse tinha um cano mais alto. Estava pronta, virou-se pra perguntando-lhe o que achava.
  - Meu Deus , se eu não tivesse tanta autoconfiança diria que está mais bonita e sexy que eu! – riu, achou besteira o que ela disse. Achou mais besteira ainda estar usando um salto. Que tipo de pessoa luta com salto? Revirou os olhos e riu. – Só falta duas coisas.. Alguma coisa escura nesses olhos claríssimos e soltar esse cabelo, então ficará magnifica. Vem cá. – Pronto, agora estava estonteante, assim como , só que ao contrário da amiga sentiu um pouco de vergonha por estar tão arrumada, numa roupa tão curta. Pelo menos agora parecia mais velha e poderosa, foda-se o resto.
  - Vamos? – Betty perguntou.
  - Claro! Mas e as malas? – respondeu com outra pergunta.
  - Já estão lá, por precaução. Agora vamos, os outros já estão lá em baixo esperando por vocês.

  - Então, iremos à Sausalito pra que possam ter seu ultimo treino antes de tudo. – conversava com Monalisa, uma mulher muito bonita. Seus cabelos iam até as costas, usava calça apertada e blusa folgada transparente, deixando evidente seus bons pares de seios em evidencia, sua cor, um moreno canela, era lindo, diferente do resto das pessoas na sala. Um tanto intimidadora, principalmente por sua altura e porte notáveis. Tinha cara de matadora, experiente. Ao seu lado estava Jiorg, o cara da noite do fechar do círculo, eles eram um casal, mas com certeza ela comandava tudo ali. – Espero que estejam preparados quando voltarmos. – Finalizou , colocando os óculos escuros, encostando-se ao “carro” branco luxuoso, com aquela pose de inatingível. Um jeans azul, com camisa escura de linhagem fina e sapatos sociais eram o suficiente pra lhe deixar digno da pose que tinha.
  - Espero o mesm... – Monalisa fora interrompida por Betty, e que apareceram na garagem, uma mais bonita que a outra. Atraíram o olhar de todos que estavam na garagem espaçosa que continha na margem de dez carros luxuosos e cinco motos de ultima linhagem. não pode deixar de olhar pra , lindo estonteante do outro lado numa distância boa para sua alegria. retribuiu o olhar, mas ele estava coberto pelos óculos escuros, só parou de olha-la quando percebeu que ela não devolvia o olhar. ao ver Handcheen mais perto encostado no capô de um Civic Honda prata deixou um sorriso alarga-se, ele fizera o mesmo. e Betty sentiram uma pontada de inveja, por não ter necessariamente alguém pra se apegar e Betty por ter que esconder parcialmente seus sentimentos por Vincent, que acabara de chegar também, com Frederick por outra porta. O clima ali ficara tenso e pesado, o constrangimento pairava pelo lugar, cheio de olhares esperançosos e não correspondidos. respirou forte, e foi de encontro à Handcheen e o beijou na frente de todo mundo, deixando todos mais encabulados ainda.
  - O resto do círculo está aqui, podem ir agora. – Betty fez sinal com a garganta para parar os dois que se beijavam. Monalisa e Jiorg saíram andando olhando estranho pra , que devolveu o olhar antipático passando por e indo direto pra o Civic top de linha.
  - Hey , você vai com o – Betty gritou de longe, fazendo o seu corpo fulminar de raiva. Do outro lado dava um sorriso maroto. – Todos irão em dupla. – A voz firme não a deixou reclamar, além do mais ela partiu em retirada, sem lhe dar opção. Foi direto pra o Equus branco reluzente, martirizando-se internamente por aquele equivoco. Sozinha com ele de novo! Ele já estava lá, esperando. Todos já haviam saído, restando apenas eles na garagem.
  - Como vai, ? – disse zombeteiro, abrindo a porta do motorista e entrando. fez o mesmo. Fechou a porta e fitou o nada fixamente, ignorando a perdição sexy ao seu lado.
  - Foda-se você. Não te interessa! – Foi a única coisa que ela disse. Só de ouvir a voz dele e sentir a merda de seu perfume já se balançava. O autocontrole de era admirável, levando em conta a noite anterior em que ficara nos finalmente com a mulher que mais o excitou em toda sua vida. Só de olha-la já tinha devaneios em tocá-la, passaria horas e horas olhando-a nem que fosse de longe, essa proximidade pedia mais, era instintivo. Os jogos deles só o divertiam, e o fato dela ser extremamente aversiva só lhe dava mais vontade de tê-la, ao ser ver mulheres fáceis eram uma merda. era diferente das outras, ela desafiava-o, mas tinha pena de lhe ver machucado. Em todo olhar de ódio que ela lhe dava ele conseguia ver lá num fundo uma faísca luminosa de desejo. Essa era a sua única esperança, apesar de não acreditar veemente que ela poderia vir a gostar de um cara tão fodido e cheios de problemas como ele, mas a esperança é a ultima que morre e sua autoconfiança era das melhores. Ele não estava no jogo, ele junto a ela era o jogo. Preferiu ficar igual , calado e enigmático.

  Ponte Golden Gate, que liga San Francisco a uma pequena cidade litorânea chamada Sausalito. não estava nem um pouco animada, na verdade estava tensa, ainda mais por que depois de sua resposta mal educada não se atreveu a dizer uma palavra, merda! Que merda! O clima era maçante e tenso dentro do carro, ela não virara uma vez apesar de seu interior quase implorar para fazê-lo. Todos os outros estavam mais ou menos à distancia de um sinal adiantados enquanto eles paravam no vermelho. Como uma onda sorrateira fleches vieram aos dois. Carro. Sinal. Primeiro encontro. Se poderia jurar que estava corando. se contraia, esperando impacientemente os segundos passarem e logo atravessarem o maldito sinal. Faltava apenas esse e outro sinal para chegarem a ponte sequela. Quando o sinal abriu permitiu-se respirar e fitar o lado de fora da cidade, não a contemplava a mais de um mês. Numa súbita falta pra onde olhar virou-se pra esquerda, teve apenas a visão das pernas no motorista, e que pernas! fez o mesmo sem perceber. Quando viu que estava sendo fitada olhou rápido pra o retrovisor, e passo a fita-lo como se fosse uma necessidade, corroendo-se ter recaído e o olhado. Depois de cinco minutos fitando o retrovisor um arrepio frio corroeu suas entranhas, fazendo-a gelar com o que supostamente estava por vir.
  - . – Olhou-o pela primeira vez. Merda de conexão, não me atrapalhe! Pensou. Ele virou-se, surpreso. – Nós estamos sendo seguidos. – O seu coração bateu três vezes mais rápido, apavorando-a. – Não olha pra mim, eles vão perceber que nós percebemos, okay?! Não pergunta nada. – Disse o mais baixo que pode, tateando ao lado seu instrumento para guardar armas, colocando-o sem movimentos bruscos. – Eu nunca fiz essa merda antes, mas acho que podemos lidar sozinhos. – Parou e respirou. seguiu suas instruções, ouvindo sua voz extremamente fria que apenas denunciava seu pré-pânico quanto à situação. – Eles não sabem pra onde iremos, e se dermos sorte não viram de onde saímos. O Vincent tá de moto com o Frederick, o risco pra com eles é maior, e o casalzinho, bem, eu não quero por em perigo também. - Temeu só de pensar em seus amigos feridos. olhou-a de canto como se mandasse adiantar o raciocínio. – Viramos em alguma rua deserta e resolvemos isso, certo?! – Perguntou, olhando-o. O carro agora vinha mais perto, sorrateiramente. se pronunciou.
  - Abra o console em sua frente, pegue esse microrádio e aperte a tecla verde. Ele chama pra o carro e a moto. – o fez. – Diga a eles, COM CALMA, para se separarem e depois seguirem caminho. Que estão em perigo e que resolveremos isso. – Obedeceu. Do outro lado da linha ambos ficaram preocupados, mas obedeceram as ordem. Separando-se cada um pra um lado, para logo depois de algum tempo seguir caminho pra Sausalito. – Em baixo do seu banco tem duas adagas, um revolver carregado, e dois calibres. Pegue-os sutilmente e coloque as adagas dentro da jaqueta, de cada lado, um dos calibres e o revolver em suas coxas, rápido . – Parecia tenso, não se perguntou por que, seja lá qual fosse o motivo, ela entendia. Virou numa rua movimentada a esquerda, depois rápida em uma menos à direita. O carro preto continuava sem perdê-los de vista. Depois de andar por um tempo falou de novo, um pouco incerto. – Eu quero que você se abaixe e pegue minhas armas abaixo do meu banco, eu não posso parar então não reclama. – Avisou, ríspido. Outro arrepio lhe desceu a espinha, mas que merda! Eu não quero chegar ai perto de você!
  - Eles vão perceber! – Protestou.
  - Não vão nada, isso vai fazê-los pensar que nós não percebemos. – Disse um pouco mais grosso. – Anda, , não temos tempo! – grunhiu irritada, mas fez. Constrangedor. começou a pensar em não pensar no que estava fazendo, no final ela terminou pensando. Desceu até a perna de , seus seios encostando-se nele e sua bunda numa posição vergonhosa. Ele riu, ela ficou ainda mais puta de raiva.
  - Você me paga! Que tipo de idiota guarda armas embaixo do banco? Que tipo de mutante estúpido não sai de casa com uma arma?! – Perguntou, remexendo em baixo do banco, tendo que pressionar-se para frente pra conseguir pegar a ultima das três armas que estavam ali. como qualquer homem normal teve que se conter com a visão de esfregando os seios em sua perna, sem contar a posição que ela estava, que deixava sua parte traseira super exposta.
  - Você, , você! – Retrucou com a verdade, ela assim como ele havia saído desarmada. Ela grunhiu de raiva outra vez lá em baixo, já com a arma em mãos. Ele fez outra curva, o baque fez com que ela colocasse a mão institivamente em sua virilha, arrependendo-se (nem tanto) depois do acontecimento. “Merda, ! Merda!” riu de novo.
  - Pronto! A propósito, faça isso outra vez e será o primeiro a levar um tiro! – Avisou, pousando de frente em seu colo, segurando duas armas, e deixando uma em sua barriga. Ele não a olhou, mas ela se atreveu a fazê-lo, “será que esse homem é bonito de todos os ângulos possíveis?!” Arrhg! Pensou.
  - Não estamos com tempo pra brincadeirinhas agora sweetheart, ande, coloque a da mão direita no meu cós, por dentro da calça. – ficou incrédula, cresceu os olhos, mas fez sem reclamar o mais rápido possível pra não se deixar levar pelo contato.
  - Pronto, e o resto?
  - No bolso direito. – Fitou-a, os olhos dela institivamente brilharam.
  - E essa? – Disse levantando-se, numa fração o carro perseguidor começou a atirar contra a traseira do carro. tomou um susto, gritou.
  - Ok meu bem, eu sei que é meio difícil da primeira vez... - Outro tiro, os outros estavam chegando mais perto. fez uma curva numa rua movimentada, atravessou um sinal vermelho quase colidiu com dois carros que vinham na direção oposta, a perseguição continuava, dessa vez numa rua menos movimentada.
  - Não me chama de meu bem! – gritou num nervoso extremo.
  - Cala a boca ! Me dá a arma! – Agora os perseguidores estavam de pareia com o outro carro, eles começaram a atirar conta a janela de , ela se apavorou mais ainda, jogando a arma pra . A rua que estavam ficava cada vez distante do centro, agora eles atacavam impiedosamente sob o carro blindado.
  - O que eu faço?! – Gritou assustada.
  - Sobrevive, ! Sobrevive! – Num segundo deu ré, deixando os perseguidores à frente. Parou o carro, pra ver se estava tudo bem com ela. Os perseguidores desconhecidos já voltavam numa velocidade impressionante. – , pega a pistola e o revolver, iremos sair. Presta atenção no que eu vou dizer. – a olhou com fogo nos olhos, já sabia quem estava no carro. Fazedor de ar e Charlote, sua irmã Charlote. Charlote era uma mutante secundária, seus poderes eram muito fracos, mas ela era engenhosa o bastante pra dar algum trabalho a . – Eu sei quem tá no carro, e não tenho duvidas que eles vão tentar nos matar. Presta atenção . – Ela olhava intacta, o carro estava cada vez mais próximo. – Assim que nós sairmos daqui não hesite em matar a garota, certo?! Ela não tem metade de sua agilidade pelo o que eu vi ontem. Mate-a, sem pensar, certo?! Eu cuidarei do crápula.
  - Você quer que eu a mate? – O temor tomou conta de seu corpo, deixando seu sangue praticamente borbulhar, mas algo no fundo de sua alma ansiava por isso. Como se não fosse um problema acabar com a vida de outra pessoa.
  - Sim, sweetheart, pelo bem da sua vida! Não hesite, okay?! – Não idiota, não seja paciente comigo agora, mas que merda! Respirou preparando-se para fazer o que tinha que fazer, agora era a hora. – OUT!
   e saíram do carro, totalmente armados. Do outro lado a poucos metros de distancia descia do carro oposto uma garota baixa, loira com olhar triste e um homem aparentemente em seus trinta anos também loiro, totalmente idênticos. Estavam também armados, o homem, assim como tinha uma fúria no olhar, como se tivessem uma conta pra acertar. A garota parecia apenas uma peça vazia ali, na flor de sua idade, dezessete, no máximo, com uma pequena pistola em mãos, apontada pra . e estavam praticamente juntos, quando o loiro amargo atirou sem anúncios contra . Seu coração palpitou forte, mas foi só de raspão. A raiva de pareceu triplicar depois disso, ele fez que não com a cabeça seguido de um sinal mudo para cumprir sua parte do acordo. Assim ela fez, passando longe e invisível pelo cara que já trocava tiros com , cada tiro dado um passo andado. Depois de um tempo eles estavam próximos o suficiente para lutarem corporalmente. Antes de chegar perto da garota ela parou, observando e seus movimentos 97% certeiros, os outros 3% era a defesa péssima do cara que estava sendo totalmente surrado. Essa luta não deveria ser tão fácil assim, algo estava errado, OU NÃO... Até mesmo por que era agraciado com força, ela não sabia quão forte ele podia ser. rodeou o carro dos inimigos ficando de frente pra luta dos dois visando às costas curtas da garota.
  - Você não deveria fazer parte disso, garota. – Disse ainda invisível.
  - Você não entende ... – Ela gelou, como sabia seu nome? Ainda permanecia virada.
  - Quem te disse meu nome?
  - Sei mais do que imagina, não se deixe enganar pelo que vê. – Fria como um iceberg.
  - Não deveria ser uma Dirtor, teria tantas opções e caminhos diferentes... Você teria uma vida, não seria uma maquina manipulada por alguém que ao menos te conhece. – Revidou, chamando a atenção da garota loira, fazendo-a virar.
  - Sacrifícios. Isso, às vezes é preciso fazer sacrifícios ! Não somos criaturas normais, não merecemos viver. Um dia tudo isso irá se dissipar, e os humanos terão a chance de viver em paz, sem nós, seres insignificantes e estúpidos. – A melancolia de suas palavras era de nível estupendo, chegou a assustar .
  - Quem colocou essa merda em sua cabeça? – Apareceu para a garota, as duas conversavam pacificamente a longa distância. ainda lutava com o idiota desconhecido.
  - Ninguém. Uma pessoa me abriu os olhos.
  - Então foi alguém, alguém bem estúpido. Alguém que te controla, porque não o chama de mestre também? Parece que toda conspiração tem um idiota pra se autonomear mestre, lá na sua área não tem isso não? – Usou do sarcasmo. Ela sorriu amarelo, sob o sol matinal.
  - Toda organização precisa de um governante , o meu me mostrou, abriu os olhos sob como somo errados em viver aqui, não somos dignos. – só conseguia ver uma fé desenfreada ali, chegava a ser estúpido, sentiu pena.
  - Você morreria pelo o que acredita, garota?! – Perguntou um pouco incrédula. Ouvindo de longe dizer algumas palavras sujas pra o cara no chão totalmente furioso, rondando-o como um tigre sorrateiro frente a uma caça.
  - É o que farei agora. – Estremeceu.
  - É uma pena little angel, - realmente sentia por aquilo tudo, pelo que sabia que viria a fazer. Sua primeira morte. – Eu queria poder te mostrar o contrário. Que nós somos bons, que nem todos os outros, meu bem. – Fechou o cenho, lutando pra não chorar. – Um dia isso vai terminar, e quando acabar eu desejarei aos céus que você não estivesse morta, pra ver minha palavra se tornar realidade diante seus olhos. Somos bons, nós somos bons. – Os olhos tristes da garota se fecharam, esperando a hora de seu sacrifício. pensou em não atirar, e poupar-lhe dessa dor, mas não valeria a pena ela já estava perdida, nem um humano deixaria de notar tal perdição. Do outro lado, como se adivinhasse o que estava por vir, o cara ensanguentado no chão passou a fitar a garota desesperado. parou instantaneamente para ver o que faria. A distração foi o suficiente pra o cara pegar uma pequena, a menor de todas pistolas e apontar pra , mesmo tremido. Naquele momento o tempo praticamente se arrastou, passou devagar, quase parando. A respiração de ofegante, o apreensivo, um irmão cheio de dor e uma vitima vazia e conformada. Então ela apertou o gatilho, fazendo sua tatuagem assim como a de encher de algo, uma força, quente e satisfatória. O tempo de um piscar, apenas isso foi suficiente pra o fazedor de ar vingar sua irmã, vez valer seu ultimo suspiro. A bala atravessou faiscante de à coxa de hayley, logo após seu tiro ir direto ao coração de Charlote, sentenciando-a a morte. não se moveu apesar da dor intensa, ficou estática fitando o corpo da jovem que agora conhecia a morte. A reação de ao ver a bala saindo da arma em direção a foi chutar brutalmente a cabeça do homem na esperança falha que erraria a mira e não chegaria a ela. O homem morreu, e ainda sim não funcionou. Desejou ser brutalmente violentado, até morto no lugar dela. sentiu-se inútil, ele estava ali pra protegê-la, mas deixou-se levar por uma vingança estupida. Tinha funcionado, por que o fazedor de ar agora estava junto a sua irmã no mundo dos mortos, mas ele tinha sido falho. Correu rápido em direção a , desesperado. Ela continuava em pé.
  - , por Deus, me diga que isso não dói! – Abaixou-se até sua coxa, ignorando os dois corpos no chão. Ela fitava o nada, estática. – Foi profundo... me responde, ! – Gritou apavorado, levantando-se parando em sua frente. O sangue escorria quente em sua perna.
  - Eu a matei. – Sua voz saiu tremida o bastante pra ele saber que era hora de levá-la e cuidar de toda aquela bagunça. – Eu a matei, ! – Extremamente culpado, tudo minha culpa! Tudo minha culpa, eu não deveria ter a mandado fazer isso! Agora seu estado era de choque. Pegou suas mãos gélidas, colocou-as em seu pescoço e a pegou no colo, sob o sol faiscante. Ela olhava fixamente pra ele agora, procurando uma resposta. Finalmente chegou ao carro, colocou-a dentro e entrou uma velocidade impressionante, partindo rápido pra longe.
  - Dói?! Me responda, , dói?! – Ignorância por causa da culpa. Tudo sua culpa, estava quase entrando em desespero, ela tinha levado um tiro. UM TIRO ENQUANTO MATAVA UMA DIRTOR. – Não faça isso comigo, por favor! Me diga alguma coisa, eu imploro. – Passaram-se dois sinais vermelhos, então ela acordou do transe que sua mente entrara. Ouviu longe os gritos de , tentando chamar sua atenção. Estavam correndo pelas ruas de San Francisco, não fazia ideia pra onde. Só que havia levado um tiro e acabara de matar uma garota. Uma garota estupida o suficiente pra se deixar ser morta por um motivo tão pequeno.
  - Eu matei ela.. –Começou a entulhar pensamentos, desencadeados, desesperados, desordenados. arfou forte, ela finalmente estava respondendo. Já estavam no meio do caminho, só precisava acelerar mais um pouco e cortar algumas ruas. –Eu matei.. -A dor física emocional foi lhe corroendo ela foi querendo fechar os olhos.. e dormir... tomar um tempo.. Apagou. quase quebrou o volante de raiva de si mesmo. Um crápula, se sentia um crápula! Vamos pra minha casa, e eu cuidarei de tudo, sem erros dessa vez.

   POV’S
  Dirigi por ruas aleatórias até ter certeza que não estávamos sendo seguidos, ainda estava desacordada. Parei numa Avenida não tão movimentada pra tirar a bala dela e fazer um curativo rápido. Algumas pessoas olharam torto, idiotas curiosos. Eu precisava de algo pra tirar a bala, logo, antes que virasse uma hemorragia ou algo do tipo, não, mais culpa não. Seu semblante cansado sobre o banco carona só me fez sentir mais culpado. Num súbito lembrei que Chloe deixava sempre um alicate dentro do carro, ela sempre colocava no console. Estava lá. Respirei pra fora quando peguei o objeto. O álcool estava em baixo banco de trás, desci rápido e peguei. Só faltava algo pra estancar o sangue, esse eu não achei, seria minha camisa mesmo. Rasguei-a colocando-a em mãos, então me aproximei pra fazer o curativo, rezando pra que ela não acordasse, mas era quase impossível não se acordar quando era tirada uma bala de seu corpo. Lavei o alicate, tirei o equipamento de sua outra coxa e rasguei a meia calça, e subi o vestido ensanguentado pra começar meu trabalho. Coxas maravilhosas e agora estavam machucadas, um pouco imperfeitas por minha causa, como eu pude manda-la matar a garota?! Ela deveria ter ficado no carro! Vamos lá, ! Faça. Apertei o local pra ver quão profundo a bala estava, bom, bastante e iria doer nela, doer bastante. Peguei o alicate e fui de encontro à bala, ela se mexeu com dor fazendo uma daquelas caretas estupidamente bonitas, minhas mãos vacilaram. Você tem que fazer isso rápido por ela! Encorajei-me buscando e puxando rápido a bala infeliz. Olhei com nojo e a joguei no fundo carro, atravessou o couro do banco, bastante pra denunciar minha raiva. Já ia fazer o curativo quando ela acordou um pouco desnorteada, não parei de fazer o curativo, dei apenas uma breve olhada e terminei.
  - Ond.. – Passou a mão nos cabelos e me observou terminar o curativo por uns segundos, ai eu respondi.
  - Estamos na Fell St, ninguém nos seguiu, mas não podemos voltar pra Fundação. – Ser breve é a melhor saída aqui, especialmente nessa minha posição favorável, tenho que me controlar.
  - Mas, aquilo... – Será que matar tinha a deixado tão desnorteada assim? Não deixe isso lhe machucar, querida.
  - Sim, , aconteceu. Na realidade, acontece toda hora, eu sinto.. – Não, eu não sentia muito. Não pela garota, por ela sim. Terminei, sem fazer nenhum movimento intimidador que incitasse sexo. Não quer dizer que eu não estava pensando. Pigarrei, ela ainda me olhava, voltei ao volante rumo a minha casa. – Não, eu não sinto. Isso doí? – Demorou um pouco, distância de dois sinais mais ou menos. pensava, pensava muito.
  - Não tanto quanto lembrar que eu matei alguém. – Disse fraquinho, fazendo meu coração gelar.
  - Não pode pensar assim, é isso que teremos que fazer daqui em diante, não pode deixar esse pensamento tomar conta de você. – Ríspido. Eu não precisava fazer isso, ela levou um tiro e a culpa foi minha, que não acabei com aquele crápula antes. Gostaria que ele tivesse vivo, pra poder mata-lo de novo, agora por ter a machucado. Calme! Se acalme, não pode ficar nervoso infeliz, só a leve pra casa.
  - Culpa sua, você falou pra eu matar ela sem pensar! – Você está certa!
  - Eu falei sim, não me arrependo! Fico feliz que tenha matado aquela fantasma, eu só não queria que tivesse se machucado! – Melhor.
  - Onde estamos indo?! – Eu sou educado com você e ignora? Olhou um pouco pra o ferimento, não pareceu estar doendo tanto, menos mal. Vou ignorá-la, nada melhor do que provar do próprio veneno, pelo menos por agora. Tenho uma promessa e vou cumpri-la.
  - Quando chegar você descobre. – Fim de conversa por todo o caminho. Pensei em olhá-la uma hora ou outra, mas ela parecia tão longe... Permaneci pensando no que fazer agora, o caminho grande me permitiu decidir oque faria.
  - Por quanto tempo eu fiquei desacordada?! – Já que ela estava me olhando decidi fazer mesmo.
  - Uns 15 minutos. – Até cansada, até cansada ela consegue... Mas que merda!
  - Você procurou saber dos outros? – Desculpa, sweetheart, eu estava ocupado demais cuidando de você, tirando uma bala de seu corpo!
  - Claro que não! Eles sabem se virar! – Todos estavam atrás de nós, eles não devem saber sobre os outros ainda. O fazedor de ar estava atordoado, mas a garota, não, a garota sabia exatamente o que tinha que fazer, ela já sabia que ia morrer. Alguém do outro lado sabe muito mais do que deveria saber.
  - Liga pra eles agora! – Quem você pensa que é pra me dar ordens?! Chega a ser engraçado sua petulância.

  - Não. – Ela se preparou pra revidar, então terminei. – Quando chegarmos você liga. – Fim de conversa, até chegarmos a Lincoln Blvd, minha rua. É um ótimo lugar pra se morar, calmo, perto da ponte e do mar, e da natureza. Pelo menos eu posso treinar sem incomodar ninguém com meus... Barulhos. As mulheres adoram, não vou mentir, eu também. Ela fica na entrada mais discreta, depois de algumas árvores, bem promissor na verdade. Finalmente cheguei à entrada arborizada sentindo que ela provavelmente estava confusa.
  - Chegarmos onde? – Perguntou antes que eu parasse sobre as arvores que cobriam minha residência.
  - Aqui. – Brinquei.
  - Aqui onde? Não tem graça, , tá doendo muito, eu não sou de reclamar, mas tá começando a doer mesmo! – Finalmente educada, ! Está certa, deve estar doendo muito não era mentira, estava até olhando pra mim, mesmo eu estando sem camisa. Bom. Peguei o celular e disquei o código que faziam as arvores saírem da frente do portão, adorava fazer aquilo.
  - Aqui, em minha casa. – Falei sério, ela respirou cansada caindo pra trás no banco. Sim, você vai ficar sozinha comigo outra vez. O portão se abriu e ela ficou estática, deve ter se perguntado se era verdade. O que posso fazer se meus gostos são extremamente diferentes.
  - Tá de brincadeira que tem uma casa aqui dentro? – Finalmente, , finalmente! Garota difícil de impressionar, vou te fazer esquecer a morte indesejada.
  - Não, eu moro aqui, . – Permiti-me relaxar um pouco, entrando em minha casa, respirando o ar puro de lá. Fazia dias que não ia lá, realmente senti falta do meu canto! Permiti-me sorrir, agora estávamos seguros, mas havia muito a se fazer. me olhou de lado estranha, acho que ela não acreditou que havia uma casa ali até avistá-la, e bom, não vou negar que era uma linda casa! Fora construída anos atrás por mim e alguns amigos, meu alto conhecimento em arquitetura ajudou bastante, juntando com o poder foi a combinação perfeita, ficou exatamente como eu queria. Seu alicerce foi feito em cima de pedras rochosas, tendo paredes de concreto revestidas de madeira, bastante portas e janelas e vidros, blindados é claro. Três andares. O térreo, onde ficavam a garagem e meu centro de treinamento. O primeiro onde tinham duas salas, cozinha, banheiro, escritório e outras coisas, a porta principal dava pra uma bela vista direção oeste, como se não bastasse o numero absurdo de arvores lá, havia uma grande e robusta sob o piso da piscina. Finalmente chegando em cima havia quartos, três grandes quartos suíte com closet, um grande corredor que dava numa pequena sala de filmes onde eu costumava assistir sozinho alguns seriados peculiares , nunca levei ninguém pra lá, era algo bem... meu. Parti rápido sob o caminho ladrilhado, adentrando-me na garagem num piscar, ela ficou calada o tempo todo, apenas observando tudo, mas eu poderia jurar que o lugar havia sim lhe agradado. Parei o carro na vaga que restava, as outras três estavam ocupadas respectivamente por um Altima cinza, um RAV4 preto, uma moto BMW 650 nas cores vermelhas e preta, por fim o Equus todo fodido de tiros. Olhei pra ela, que fitava o nada, respirei fundo e desci pra pega-la. Abri a porta e a fitei, dessa vez ela sustentou o olhar, seus olhos ameaçaram brilhar, mas não fizeram.
  - Bela garagem. – Crítica, como sempre.
  - Obrigada, agora venha. – Cheguei mais perto, facilitando sua mudança do banco pros meus braços. Perdeu-se um momento e olhou pra meu peito nu, sorri fechado quando percebi, ela como a bruta que é revirou os olhos.
  - Você sabe que se eu não estivesse fodida assim não encostaria em mim, não sabe? – Perguntou colocando as mãos em minha nuca, o cheiro de sangue misturado com seu perfume era insano e ainda assim eu gostei. Quebrou nosso olhar, passando a olhar pra alguma merda atrás de nós.
  - Perfeitamente, senhorita difícil. – Parti direto pra sala, passando pela porta grande da garagem que ligava os dois cômodos. Ela observava tudo pelas minhas costas, senti. Chegando lá, fui até o interruptor. – Ligue as três primeiras, por favor. – Atendeu meu pedido, fazendo-o deixando toda sala iluminada e bonita, eu realmente gostava de estar ali.
  - Vejo que aprendeu uma palavra nova, parabéns ! – Varreu todo o local, atravessei o lugar chegando ao sofá, depositando-a com cuidado, fazendo o máximo de esforço para não ficar ali olhando-a que nem um idiota.
  - Já você continua sem aprender porra nenhuma. – Retruquei, deixando-a para pegar os curativos na cozinha. Tenho curativos em toda parte, é necessário já que acabo me fodendo sempre que treino.
  - Não sabia que nadava nessa grana toda... – Sua voz estava mais baixa que o habitual, efeito emocional e físico. Voltei com os produtos, sentando em seu lado agora meio sem jeito, porra, seu ferimento era nas coxas! A fadiga de ver sua dor, de querer ajuda-la era maior que o desejo.
  - Eu fiz, . – Desconversei. Ela me olhou uns instantes, sustentei o olhar, sério.
  - Sério? – Sua descrença me fez escapar um riso torto dos lábios, não era tão difícil assim construir uma casa.
  - Sim, eu desenhei e construí com ajuda de uns quatro amigos. – Peguei o algodão, soro fisiológico e gaze.
  - Me permite? – Ela revirou os olhos, não tinha escolha. Afastei seu vestido sujo pra trás e retirei minha camisa, o ferimento estava bem feio, senti culpa quando vi, mas ignorei pra o meu próprio bem. Ela arqueou-se pra frente pra olhar meu trabalho, eu ignorei e pus-me a fazer.
  - Ai! – Reclamou.
  - Não reclama, caralho!
  - Você que não tá em condições de reclamar, eu só tô assim por sua causa. – Inconveniente, não precisava ficar lembrando, eu já me sentia culpado!
  - Você é muito mais bonita calada. – Respondi, apertando finalmente o a gaze na ultima volta.
  - Eu sou muito mais bonita inteira. – Voltou-se a deitar, fitando o teto dessa vez.
  - Eu sei. Tome, ligue pra eles com e veja se está tudo bem! Não demore mais de dois minutos, não sabemos com quem estamos lidando. – Entreguei o celular e sai pra guardar os medicamentos, checar se estávamos abastecidos e se tudo permanecia em ordem por toda a casa, quando voltei ela ainda fitava o teto. – Ligou? – Merda, esqueci da camisa!
  - Liguei, eles chegaram bem. – Porque tinha ficado assim de uma hora pra outra? Mais seca ainda!
  - Você contou? – Parei em sua frente, mas ela continuou me ignorando!
  - Não. – Uma maquina, um robô, com algo em transe, foi o que ela pareceu.
  - Por que não? – Cheguei mais perto, ela não estava bem, não devia ter a deixado só.
  - Porque eu não tive coragem de dizer que eu... – Arfou pra fora, levando consigo toda minha tranquilidade. Não faça isso comigo, sweetheart. – eu matei aquela garota, de graça! Não foi justo... Ela só estava num momento de pânico, e se fosse eu?! – Pera, ela estava... Não, não chore! Passei a mão sob os cabelos e cerrei os punhos com raiva de mim mesmo. Fui até ela, que levantou pra me olhar, por Deus, não chore!
  - Não foi culpa sua, certo?! Era sua única opção! – Sentei no sofá me vigiando pra ter o máximo de delicadeza que pudesse, ela precisava de mim eu era grato por aquilo. Peguei suas mãos, estavam gélidas ela não merecia aquilo. – Aquela garota foi mandada por alguém que colocou aquela ideia em sua mente, ela não iria sair de lá tão cedo... E além do mais ela queria morrer, ela praticamente pediu! Sei que foi sua primeira vez, mas tem que superar, certo?! – Talvez minha tentativa de ser convidativo e compreensivo tenha dado certo, ela abaixou a guarda. Respirou pra fora, cansada.
  - Eu sei... mas ela sabia meu nome, , ela disse que sacrifícios eram necessários, e que tinha um mestre! Você tem ideia do que eu tô dizendo? Eu... não sei o que pensar. – Seus olhos cresceram, estava realmente preocupada e realmente perto de mim, me afastei, não poderia me aproveitar de momentos como esse, era golpe baixo.
  - Não sabia que ela sabia seu nome, mas não precisa se preocupar, eu vou cuidar disso. – Me distanciei, mas era impossível não ficar olhando pra seus olhos verdes azulados com a maquiagem borrada, toda desconcertada depois de ter matado uma inimiga que lhe irritou, ainda por cima sozinha comigo em minha própria casa sentada em meu sofá, era realmente demais pra mim. Dei-me conta que estava paralisado, voltei a mim. – Agora vamos, você tem que descansar. –Ela hesitou um pouco, mas me deu a mão após pensar um pouco. Eu a trouxe devagar até a mim, e tomei-a no colo outra vez. Subi a escada me odiando por não ter prendido a respiração, agora estava com seu perfume se renovando em mim outra vez, seus cabelos cheios bagunçados caindo sob meu ombro, só dificultava tudo. Finalmente cheguei ao quarto de hospede, abri a porta com o pé, olhava tudo tentando esconder a curiosidade, da casa ela estava gostando. Deitei-a na cama, o mais leve que consegui, parti pra meu quarto sem esperar ela dizer alguma coisa. Peguei uma camisa e calça folgada minha, roupas intimas de Chloe que não foram usadas e voltei. – Aqui, roupas pra se trocar... –Coloquei em cima da cama. – É... as roupas intimas... Nunca foram usadas, pode ficar tranquila. – Ela fechou o cenho, e por incrível que pareça eu consegui ficar embaraçado com aquela situação. – São as únicas roupas que eu tenho por agora, desculpe. Toma um banho, sei lá.. Pra aliviar a dor, hmm... não sei.. No frigobar tem comida e bebidas, mas se não gostar é só me chamar que eu faço algo pra você, fique a vontade! – Colocando os pés pelas mãos, que isso, ?! – Eu tenho algumas coisas pra resolver, mas se precisar é só chamar, e tente não pensar sobre aquilo! Na verdade deveria ver TV, tem um seriado ótimo passando daqui a.. – Olhei no relógio, e sabia que ela ainda me fitava, equivoca. –trinta minutos, deve ser... ou dormir! O que se sentir melhor... – Aquele silêncio constrangedor se alojou ali então dei meia volta e me dirigi à porta.
  - , – Gritou, então eu virei, e adivinhe: ela estava me secando. Olha que eu mal tinha virado, bom saber que a chama estava acesa. Não pude deixar de sorrir convencido. – Obrigada! – Venceu o conflito interno finalmente dizendo.
  - Espero que aceite minhas desculpas do mesmo jeito que eu acabo de receber seu obrigada, boa noite, sweetheart. – Dei meia volta antes de ouvir sua resposta, fechei a porta e sai do quarto, tinha bastante coisa pra resolver.

Capítulo 12 - Desconhecido

  - Certo, certo.. – Parou, ouvindo a pessoa na outra linha. – Façam isso. Sim, estamos bem. – Outra pausa. – Ensinarei... Claro, eu não farei... Ahh – De novo. – Não, mãe! Não! Cuide dos outros, eu sei ser profissional!
   não pode deixar de rir com a cena. Como estava no andar acima, supôs que a mãe de estivesse lhe acarretando de perguntas que apenas mães fariam, mas não pode deixar de se preocupar quando o ouviu dizer “que poderia fazer” e um sólido “cuide dos outros” esvair por sua garganta. A tarde fora bem diferente dos outros dias pra ela. Ficou deitada na cama macia que parecia uma nuvem por mais ou menos 45 minutos, em silêncio, apenas ela, seus pensamentos e no andar de baixo. Não deu pra ouvir muita coisa, apenas pisadas fortes no chão assim que ele saiu do quarto, depois foi só silêncio e mais silêncio. Ligou a TV no programa que ele tinha comentado, já passava há 15 minutos. Tirou a roupa, numa lentidão estarrecedora, fazia isso quando estava em choque ou algo do tipo, foi até o banheiro apenas de roupa intima. “Excelente banheiro” Observou. Era em cores amarelas para o lado pastel, havia luzes, espelhos, banheira e toda essa coisa, mas não se importou, só queria tomar um bom e velho banho e voltar para debaixo das cobertas, se afogar em pensamentos e depois, se desse, cair no sono. Assim ela fez, tomou seu banho tentando não estragar o curativo, vestiu as roupas intimas meio que revirando os olhos, depois pôs as peças que lhe dera, o que incluía levar seu cheiro também. Deitou, pegou algum salgadinho e passou a assistir o programa estúpido que passava na tela incrivelmente fina e plana à sua frente. Não prestou atenção nem dormiu, seus pensamentos trabalhavam na ordem “Matei alguém, levei um tiro e agora estou sozinha na casa do homem que eu mais odeio (não tanto) e não tenho como fugir’’. A morte ela já tinha superado, o tiro já não doía, mas o que mais lhe afrontava e tencionava era o fato de estar ali não necessariamente só, e sim com outra vez, enquanto todos seus amigos treinavam e faziam algo maior. se sentia privada, talvez passasse a gostar dessa ideia.
  , por sua vez, depois de descer, pode respirar. Dentro de seu escritório moderno, pintado em cores escuras pensou, ele pensou e pensou! Na verdade, eles dois juntos pensavam mais que se juntassem um grande grupo de pessoas normais pensando. Perguntou se ela estava bem, no que deveria estar sentindo, e outras mil coisas. Sentiu raiva de si mesmo por ter deixado ela levar um tiro, tentou manter a calma, mas não deu. Quando percebeu, o primeiro vaso em sua frente estava em cacos. Um telefonema. Contou tudo pra Betty (atualmente a única amiga que tinha). Como ele podia ficar bem sabendo que estava num quarto acima ainda mais machucada e provavelmente tão noiada quanto ele?! Porra, ele queria, mas não conseguia ficar longe, e se odiava por isso. Contou tudo a Betty, lamentando-se, cheio de raiva por ter deixado tal coisa acontecer. A ruiva, como boa amiga que é, disse que daria um jeito de levar a mala de até lá e ele mesmo poderia treiná-la. Não relaxou uma só vez, o que o fazedor tinha dito antes de morrer tinha lhe virado a cabeça, levando-o a um silêncio tórrido. “Eu a peguei, e você é o otário da história!” “Temos informações valiosas agora, o que a tecnologia de ponta e uma namorada traidora não fazem, huh?!”. Gabava-se a cada golpe recebido, e por fim disse “Ganharemos esse jogo, você, essa garota, e toda sua equipe irão perecer, infeliz!”, então morreu. O que mais irritava era que ele estava estupidamente certo, estavam numa vantagem absurda, sempre melhores e mais organizados. Tinham mais informações, sabiam nomes, e conseguiram por uma traidora do melhor modo possível. Ela ia a sua casa, e passeava pela Fundação incontáveis vezes, pode ter os prejudicado bastante. Precisava se conter. Outra ligação, agora pra Jhon. O mandou checar se havia tido alguma violação de arquivos, checar câmeras e tudo o que fosse possível, queria uma limpa no lugar! Quem quer que fosse que tivesse ali disfarçado TINHA que ser descoberto. Pairou quieto por mais um tempo, com o pensamento voltado a Chloe. Traidora, biscate, e sua vontade agora era de matá-la. Levantou, se direcionando à cozinha, catou um copo de vidro e pôs uma dose de Whisky Bruichladdich. Desceu rasgante e entorpecente, esquentando sua garganta, mas não foi o suficiente pra acalmá-lo. Voltou ao escritório ainda sem camisa, tinha se esquecido de por uma qualquer. Camisa, agora usava uma sua, e ele provavelmente não iria lavá-la tão cedo. Sentado em sua cadeira fitando a noite impiedosa cair pelas janelas abertas do seu local de trabalho. Dessa vez o telefone tocou num repetir enjoativo sobre a mesa, até ele largar o copo sobre a mesma e pegar o telefone. Sua Mãe procurava saber tudo que se passava e ele explicou de novo e de novo e de novo, assentindo sobre treinar nesses dois dias, lhe prometendo que não sairia da linha (como se fosse possível) e seria profissional. Anda ouvia Emma tagarelar em seus ouviu gritar no segundo andar, largou tudo e saiu correndo, subindo as escadas com facilidade entrando no quarto sem bater, encontrando uma totalmente assustada, com os olhos totalmente esgrelhados pra fora.
  - , O QUE ACONTECEU?! – Falou, varrendo o quarto a procura de algo errado, não achou então foi até a cama, ela estava sentada lá, parada, praticamente pálida.
  - Eu toquei em minha perna e aquilo simplesmente se foi! – Sua voz saiu alta, porem frágil, tirou um peso de um prédio das costas de seu parceiro, fazendo seu coração bater com ritmo outra vez.
  - Antes de me falar o que aconteceu – Passou a mãos sob os cabelos, numa expressão fechada. – Não me faça uma coisas dessas outra vez, certo?! – Maneira de pedir algo mais louca, era quase uma imploração com raiva. não entendeu de inicio, franziu o centro depois relaxou, entendendo a mensagem.
  - Não foi de propósito, sabe como é né, você leva um tiro e tipo, quando tá pensando em todas as merdas da sua vida infeliz o passa a mão sobre a perna e seu ferimento feito há horas atrás simplesmente não está mais lá... É algo meio inédito... queria compartilhar com alguém mais sábio que eu. – Revirou os olhos, a expressão fechada de continuou, mas por dentro ele sorria. Acabou quando ela voltou-se a falar. – Claro que esse alguém não é você, mas como é o ditador majoritário e dono desse imenso e lindo pedaço de mansão arborizada, pensei que poderia, por gentileza, ligar pra Frederick e perguntar se é normal coisas desse tipo acontecer. – A ignorante e chata estava de volta, trazendo consigo um saco cheio de cinismo e hipocrisia loucos para serem usados.
  - Me deixa ver. – Agora mais calmo e ainda sem camisa (devo observar) reparou em como estava extremamente fofa usando suas roupas que tinham números muito maiores que o dele.
  - Não. – Nem pensou.
  - Por que não, ? Deixa de besteira, garota, como se eu não tivesse te visto, você, sabe... – Fez questão de falar pausadamente. – Meio pelada. – revirou os olhos, mas que homem irritante, precisava lembrar que eles tinham, hm... se atracado loucamente? Aliás, precisava ainda estar sem camisa, infeliz?!
  - Foda-se você e foda-se o que você viu, que, por acaso, nunca mais verá na sua vida! – Ficou lá, parada de seu lado olhando pro outro lado, se controlando pra não fazer nada que denunciasse sua leve frustação por não poder tocar em e sentir seu corpo puta escultural. Ele levantou e pegou o celular, discou um numero e assim que foi atendido, começou o interrogatório.
  - Me diga se é normal alguém que levou um tiro na coxa há algumas horas atrás estar totalmente curada?! – Perguntou, esperto. Do outro lado da linha Frederick perguntava o que ele queria dizer com isso.
  - Não, claro que não, , a não ser que ela venha a ser do círculo... ou não, eu não sei bem o que o círculo faz, como você sabe estou em estudando ainda. – Do outro lado da linha mexia em papéis que trouxe da Fundação, olhava para um ponto qualquer que não fosse . – Hm... você já olhou o lugar do ferimento? Está realmente curado ou tem alguma falha, não sei... – fitou sentada com a cabeça abaixada ouvindo tudo, foi até sua frente chamando fazendo-a olhar involuntariamente pra ele, arqueou-se pra baixo e com a mão que sobrava rasgou um dos lados da calça, perto da coxa, pra ver o ferimento. começou a protestar, bateu em sua mão, mas ele fingiu que era uma criança.
  - Agora eu to vendo, tá perfeito, como sempre. – Pode guardar seu elevadíssimo teor sexual, .
  - Nenhuma marca? – Perguntou olhando os papeis.
  - Nenhuma. Quer dizer, pera um segundo. – Foi até e rasgou o resto que sobrou da perna, transformando um lado em short. esquentou de raiva e saiu do quarto, xingando nomes baixos com seu sotaque britânico agora pesado, ele continuou lá falando com outro, tirando duvidas.

  Salsitano
  Seis horas e quarenta e cinco minutos da tarde, o sol já havia se posto, todos naquele lugar estavam totalmente exaustos, haviam lutado o dia todo, tendo que lidar com toda a preocupação de ter levado um tiro e tudo mais. Bem, eles não sabiam da metade do acontecido, apenas que ela levara um tiro, mas já estava bem.
  - Eu realmente estou um caco! Quando eles falaram em treinar, eu pensei que era algo mais clean. Acho que se meus poderes pudessem ser gastos como tickets eu estaria sem nenhum agora! – reclamou, deixando seu corpo cair contra o colchão macio do quarto que lhe fora dado. Ela costumava falar sozinha de vez em quando, revirou os olhos reclamando internamente por ter feito outra vez.
  Deixou o ar entrar e sair pelos pulmões saudáveis, ainda estava preocupada por , fato esse que não lhe deixou nem prestar atenção em Handcheen durante o dia. Tomou coragem, pegou um vestido estampado em verde, roupas íntimas e um par de sandálias pretas de dedo e foi pro banho. Deixou a água quente passear pelo seu corpo, relaxando, soltando todo o ar preso. Depois do banho, fez um rabo de cavalo simples e partiu para o refeitório. Agora ela sabia onde boa parte dos mutantes pegos ficava: ali, treinando e controlando-se até que finalmente pudessem ajudar em algo na fundação. Todos usavam fardas cinza fora de moda, a maioria passou por ela olhando por baixo, meio que num certo respeito. Não entendeu, apenas continuou olhando fixo pra algum ponto de cabeça, chegando finalmente ao refeitório. Vincent, Frederick, e sua nova paixão, Handcheen, estavam sentados numa mesa afastada, ainda não tinham comido.
  - Hey! – Saudou todos, chamando atenção de todos na mesa, principalmente Andrey.
  - Hey! – Responderam em uníssono, voltando a seus afazeres. Andrey, por sua vez, levantou e foi ao seu encontro, pegando suas mãos e beijando-lhe no rosto, fazendo-a corar.
  - Você está linda! – Seu sorriso alargou. – Quer dizer... – Pigarreou, lhe abraçando – Mais que o normal, se é possível... – Ela sorriu, fechando o abraço, apertando um pouco. – Parece que toda vez que eu pisco você fica mais bonita, ! – Terminou seu elogio, deixando-a vermelha. Vincent parou de olhar o nada e começou a observá-los.
  - Você está lindo também... – Ele vestia um jeans preto colado, sapatos da mesma cor e camiseta longa de malha cinza, realmente um arraso. – Deveria deixar de ser bobo, se toda vez que nos encontramos você soltar desses elogios eu vou andar por ai parecendo um tomate de tão vermelha que vou ficar! – Reclamou, desvinculando seus corpos, não queriam chamar atenção. notou que Vincent parecia longe, ela sabia que a dona dos seus pensamentos nem estavam tão longe assim, quer dizer, uma ponte de distância. Betty. Vincent estava claramente de quatro por ela, qualquer um perceberia.
  - Vem, vamos sentar. – O puxou pelo braço, mas ele hesitou.
  - Hm... Digamos que só estamos aqui de passagem. – Ela se virou de volta pra ele, Vincent ainda os observava.
  - Como assim, Andrey? – Fechou o cenho, ainda segurando sua mão, foi puxada pra perto outra vez.
  - Não ficaremos aqui oras, vamos logo, anda! – Alguns dos mutantes que se alimentavam se juntaram a Vincent, olhando-os curiosos, fazendo ficar dois tons mais vermelha. Ela assentiu então começaram a caminhar, mas parou ao lembrar-se do que tinha que perguntar a Frederick.
  - Frederick... - Voltou, chamou, mas ele continuava lá embrenhado naqueles montes de papeis, precisava de descanso! – Frederick... – Chamou outra vez, Vincent voltou-se a olhar para o cara ao seu lado rindo do acontecido. – FREDERICK?! – Boa parte dos outros ouviram, mas advinha?! Ele não! Dai, como de praxe, ela mexeu seus pauzinhos. Levantou levemente a mão e virou o rosto do seu “professor” para sua frente delicadamente, fazendo-o prestar atenção, finalmente. – Frederick?! – Perguntou, num tom baixo agora.
  - Oh , desculpe! Eu estou tão agoniado com essa coisa toda, desculpe, não consegui lhe ouvir. – continuava lhe controlando, Fred ficou logo sem jeito. – Hunn... Pode me liberar, por favor? Está meio que doendo ficar nessa posição. – Ela caiu em si e soltou-o imediatamente, Handcheen esperava-lhe logo atrás. – Me diga, o que quer?! – Questionou, voltando aos papeis.
  - Você tem alguma notícia da ?! – Finalmente perguntou, era importante o bastante pra fazê-lo voltar seu olhar pra ela.
  - Tenho sim, o ferimento dela simplesmente desapareceu, ela não sentiu nada, eu preciso saber o que foi que aconteceu e aparentemente o clima naquela casa não está dos melhores! Está tudo bem, depois eu explico melhor! – Voltou ao trabalho, Vincent gargalhou, ele sabia muito bem que aquele clima nada bom poderia virar um muito bom num piscar de olhos. não entendeu muito, mas ficou feliz por sua amiga não estar machucada, um peso foi tirado de suas costas. Handcheen a puxou e então marcharam pra fora do lugar, em direção dos fundos. A curiosidade tomou conta dela.
  - Onde estamos indo? – Questionou curiosa.
  - Não farei suspense, nós iremos comer! Apenas comer aqui do lado de fora. Lá estava muito cheio, eu prefiro ficar sozinho com você, num lugar fresco olhando pra o mar, agi mal?! – Passaram por uma porta grande industrial, o segurança parecia estar ciente do que acontecia, mas não se exaltou, apenas abriu a porta, então passaram. (Vantagens de se estar no círculo, e um pouco de suborno em cache). A porta dava pra uma vista longe da praia, na verdade muito longe, mas ainda assim visível. se se encostou à grade, deixando o vento bater sobre seus cabelos, esvoaçando os. – Espere aqui. – Seria impossível pra dizer que não estava nas nuvens, diferente do que ela pensara Handcheen era bem calmo e interessante, lhe entendia, era engraçado e tudo de bom, efeito da paixão, mas ele era mesmo tudo isso. Voltou, agora com dois sanduiches em mãos, lhe estendeu um e virou-se pra vista, logo ao seu lado.
  - Sabia que eu não achava que duraríamos um mês?! – Ela disse, respirando pra fora por causa de sua confissão.
  - Sabia que eu achava a mesma coisa? – Andrey respondeu rindo, sem olha-la ainda. – Mas acho que não são pelos mesmos motivos... Bem, digamos que eu fui um merda com você de inicio, fiquei com medo de me rejeitar, sabe?! – Dose de amor diária, aquilo era tão... fofo. Fofo e sincero o suficiente pra fazer alguns estômagos revirarem, algumas cabeças rodarem, fazer o ar faltar.
  - Sua tese está certa, pena que você não era o idiota que eu pensei que era. – Mordeu o sanduiche pra evitar que seu estomago revirasse, poderia ser menos amável? Pelo menos o tempo necessário para que levasse alguma comida à boca?! Precisava comer, ainda estava com fome, afinal, saco vazio não para em pé, certo?! Certo.
  - Você também não ficava atrás, você e a , são duas estranhas! – Comeu também. Depois de um tempo em silêncio apenas no som do vento reparou uma equivoco, cada mordida que ele dava, se afastava, gradativamente até terminar a refeição. Ela lhe fitou confusa durante um tempo, mas não saiu do seu lugar, respirou pra fora, tentando colocar os pensamentos em ordem e entender sua mensagem, seja lá qual fosse. Nada, não entendeu nada. Desencostou da grade e cruzou os braços, “O que está acontecendo?!” se perguntou, um leve gelar passou em sua garganta e coração, por que ele ria?! Começou a andar em seu encontro, mas foi Impedida. – Hey, fique ai... Sabe que eu não posso controlar seu corpo! – Resmungou, aderindo a um tom mais alto, devido à distância.
  - Tá, se me quer longe, tudo bem! – Deu de ombros, revirando os olhos, ele sorriu aberto outra vez. – Não vai me dizer o que pretende fazer?! – Perguntou ansiosa.
  - Olhe, eu vou te dizer uma coisa, e quero que entenda, e nunca. – Sorriu nervoso. – NUNCA esqueça. Tudo bem?! – Ai que o coração de gelou, que merda era? Acabe logo com isso! Então começou, ajeitando os óculos aos olhos. – Eu estou aqui, certo?! – Perguntou.
  - Certo! – Concordou inquieta.
  - E você está aí, confere?! – Criatura linda, não faça isso com o coração dessa moça, é capaz de ela lhe esmagar com as mãos, de tanto que está lhe afligindo!
  - Claro, você tá me deixando nervosa, Andrey! – Reclamou.
  - Calma, é algo simples... – Continuou meio com vergonha, meio sem jeito, mas levantou os olhos e disse firme pra garota linda em sua frente. – Enquanto houver você do outro lado, aqui do outro eu consigo me orientar. – Se não tivesse tão escuro ela juraria que ele estava vermelho, muito vermelho. Andrey não era de recitar poema nem nada, mas se esforçou em achar algo simples que representasse a risca o que estava sentindo. Ele não gostava de pensar na ideia de ficar longe de , essa porra de amor, é isso que ele faz! Deixa todo mundo bobo, inclusive a do outro lado que agora caminhava em sua direção, com um sorriso aberto no rosto, tomando-lhe para um abraço carinhoso.
  - Eu sempre estarei do outro lado. – Fitaram-se por alguns instantes, então se colaram para mais um beijo apaixonado.

   bufou de raiva gritando do outro lado da cozinha luxuosa, estava lá há um tempo, inquieta. Perdera a vergonha, abriu tudo, pegou o que bem queria, esquentou um bom prato de risoto de camarão guardado e começou a comer, mastigando com raiva batendo o pé no final da cadeira alta do balcão de mármore preto. Quando ouviu os passos de descendo revirou os olhos e gritou antes de vê-lo.
  - Eu já disse que te odeio hoje?! Você é um crápula, cara! – Voltou a comer, evitando olha-lo, não adiantou muito, pois segundos depois ele já estava na cozinha. Vestia bermuda jeans escura e um casaco grande e marrom, tinha sandálias nos pés e cabelos bagunçado e molhado por causa do banho que tomara, e merda, ele estava lindo, mesmo simples com aquela roupa de achados no fundo do fundo do guarda roupa, era lindo! Enquanto ela estava lá, toda desengonçada com uma roupa 1000 números a mais, se não bastasse tinha uma perna das calças agora rasgada! Um arrepio desceu pelas laterais de quando ele passou por detrás dela, renovando o a lembrança de seu perfume. Ela ignorou e focou na ótima comida, era simples, pegar, levar a boca, mastigar, apreciar e engolir, SIMPLES!
  - Eu já lhe disse que é extremamente sem educação por comer meu jantar em minha frente sem ao menos perguntar se eu quero um pouco?! – Procurou alguma panela no armário, depois abriu a geladeira, tirando ovos, bacon, uma macarronada já pronta e uma taça de vinho.
   parou sua refeição e passou a fitar curiosamente se virando na cozinha, “Oi? Isso é real? Se for, me dê uma câmera, quero registrar o momento!” pensou. Colocou a macarronada no micro-ondas e foi direto ao fogão, abriu umas gavetas, tirando de lá alguns temperos colocando sob a pia, ligando o fogão, quebrou o ovo de um lado da panela e colocou bacon do outro, preparando-os simultaneamente. arriscou rir da cena, mas ele estava tão concentrado, se mexendo de um lado pra o outro, que ela desistiu. O aparelho deu seus cinco bips chatos repetidamente na mesma hora que ele tinha acabado. Pegou um prato, colocou metade do que tinha feito e boa parte da macarronada, abriu outra porta de cima e tomou uma taça, abriu o vinho e pegou talheres, logo estava em sua frente com um lindo prato de comida e um sorriso maroto no rosto. Wow, por essa ela realmente não esperava, que tipo de brutamontes sabia se virar decentemente na cozinha? Deparou-se olhando fixamente pra ele com a boca levemente aberta em linha final, totalmente curiosa.
  – É, eu sei.. bem legal... Efeitos da solidão! – Ele disse, levando uma colherada à boca. voltou do seu transe pós “ele é melhor na cozinha que eu”. – Quer?! – É, ela queria sim.
  - Hm... Vamos ver... Não?! – Soltou, como se fosse óbvio. Revirou os olhos.
  - Por que você é tão boca suja, mal educada, sem classe, insuportável e chata, ?! – Outra colherada, um gole de vinho.
  - Deve ser por que eu não tive ninguém pra me ensinar como não ser assim. – Grossa.
  - Você se diz tão boa, deveria ter aprendido melhor sozinha. – Rebateu.
  - Eu não me digo ser boa, isso é um fato. E eu sou bastante educada, até demais, porem você é estúpido e não merece nem um pouco da minha educação. – Ela nunca ia admitir, mas adorava brigar tanto quanto ele.
  - Qual é, , só você fala isso por que morre de tesão em mim. – Disse, sorrindo irônico. se rebateu pra não rir também.
  - Que frase de prostituta, . Suba seu nível e ai poderemos pensar em ter uma discussão de verdade! – Rebateu com ironia, levantando-se pra por o prato pela metade na pia.
  - Você desconversa por que sabe que é verdade. – Soou mais sério, fazendo-a morder o lábio inferior num misto de raiva e assentimento, até porque ela realmente morria de tesão nele. – Vamos ver até onde aguenta com isso. – Terminou.
  - Eu quero é distância você, ! – Sorriu, virando-se pra sua frente, encostando-se à pia. – Você só me atrasa! – Poderia arriscar tentar chamar aquilo de uma conversa/discussão pacífica? Talvez... Eles apenas se rebatiam sem aparentes segundas intenções aparentes. Ele terminou, levantou e foi também levar o prato a pia, como a cínica que é permaneceu lá, tapando a passagem. Isso não foi problema ele apenas ficou em sua frente, colocou o prato na porra da pia numa puta de uma demora e saiu de perto, isso foi uma boa provocação, ah se foi.
  - O atraso aqui vai lá fora, ele precisa ver uma coisa... mas antes... – Voltou em dois passos largos à sua frente, acho que pensou que seu coração iria sair de sua caixa torácica, só pela determinação que ele viera. – Não está muito na moda... – Abaixou-se na altura de seu rosto olhando-lhe duro, divertindo-se com o fato de tê-la deixado tensa. Fez um buraco na outra perna e puxou num círculo de uma vez, terminando de fazer um short das calcas que ela vestia. – Bem melhor!
  Enquanto ele ia fazer sua coisa do lado de fora, foi pra sala, agora estava meio sem jeito, lembrou que estava lá com ELE de novo. Sentou no sofá, impaciente, fitando a tv desligada. Pensou em ligá-la, mas não iria adiantar muita coisa. Devaneou por alguns minutos, arfando pra fora e batendo o pé, estava começando a ficar tensa. O que deveria ter naquela casa? A curiosidade bateu, levantou e fez um círculo em volta de si olhando o cômodo bonito, fitando as portas em sua frente. Três, cada um de um ângulo distante e diferente, mas apenas uma estava entreaberta e foi pra lá que ela foi.
  O escritório.
  Entrou meio desconfiada, a luz fraca estava acessa. Definiu como um bom lugar para trabalhar, organizado e confortável, dava pra ver o céu, um lugar bem aconchegante. Sua mente acendeu, fazendo qualquer outra ideia sumir, precisava usar aquele computador, qual é... ele estava ali de bobeira, não iria quebrar se ela usasse alguns minutos! Foi até a cadeira confortável e sentou rápido, abriu o aparelho e em seguida gelou. Quem era aquela mulher em seu plano de fundo?! Ela apenas parou lá, estática, olhando aquela loira que sorria marota na tela em sua frente. Depois olha-la por um tempo seu cérebro começou a lhe mandar mensagens do tipo “Idiota, isso que você é!” “Quem é essa mulher?” outro estalo, agora sabia muito bem quem ela aquela bisca. Chloe! Chloe, Chloe! Maldita Chloe! Ela tinha olhos claros e um sorriso bonito no rosto, isso a deixou com mais raiva ainda. Só conseguia pensar em pega-la e acabar muito bem com sua cara! Conseguiu ver seu cinismo, mesmo pela foto. sabia exatamente o que ela havia feito, ela o traiu de forma descarada e baixa! Como ele podia ter como fundo de tela a mulher que lhe traiu? Porra, será que ele a amava?! Isso, isso era estupidez! Claro que a amava, claro que ela era a diversão, claro! O ciúme lhe corroeu, deixando seu sangue borbulhar, fazendo-a pensar em morte. Seria louco dizer que simplesmente queria aquela vadia morta? Hurn, ela queria! Prendeu o ar, e revirou os olhos cheios de raiva, levantou um pouco trêmula. Deu meia volta, caminhando a passos largos até a porta, não deveria ter lhe afetado tanto. Partiu rápido até as escadas, mas foi impedida.
  - Hey, o que aconteceu?! – correu receoso pra lhe alcançar, segurando-lhe o braço. soltou um suspiro raivoso e se virou, sua feição fechada o assustou.
  - Nada! – Gritou impaciente, fazendo força pra ele solta-la.
  - Está na cara que é alguma coisa! – Questionou apático. – O que eu fiz? Porra, eu fiz alguma coisa?!
  - Não! Você não fez merda nenhuma, se tivesse feito eu não estaria nem ai, por que eu não me importo com você, pra mim não faz nenhuma diferença! – Cuspiu as palavras a centímetros de sua cara, era a única mulher que um dia em sua existência falava naquele tom com ele, ela não tinha um pingo de medo ou receio. Ele grunhiu, deixando seus músculos duros de raiva, apertou-lhe mais, tinha começado a doer, mas não reclamou.
  - Por que isso agora?! – Gritou alto, causando-lhe aquele arrepio estúpido outra vez.
  - Eu já disse! – Respondeu no mesmo tom, então ele subiu mais outro degrau diminuindo a distancia. Aquele idiota tinha que ser gostoso! Só atrapalhava, atrapalhava mais o fato de seu sangue estar formigando de raiva.
  - Eu também já disse! Toda vez você vem com um motivo idiota e me dá gelo, me ignora, eu não entendo! – Fechou o cenho, respirou sem ritmo contra seu corpo, revirando os olhos.
  - Não precisa se dar o trabalho de me entender, - Puxou outra vez, mas não foi solta. – não vale a pena! – Passou do tom alto estridente pra sussurro intimidador.
  - Desde quando? – Perguntou exaltado também, ela se cortou por dentro pra não responder o que queria, não deixaria perceber que se doera pelo fato dele ter a foto daquela bisca estampada na frente. Respirou fundo, fechou os olhos e chegou mais perto, opressiva.
  - Desde sempre! – Puxou outra vez, então ele soltou. Fitou-o cheia de raiva, quase fulminando de tão quente, aquela pressão era instigante. – Se fode, ! – Virou e subiu as escadas rápido deixando-o sem palavras, ele ficou lá intacto tentando assimilar tudo por um bom tempo, a porta do quarto de hospedes bateu forte contra parede, e depois foi só silêncio.

  Dez e trinta e sete da noite, em torno de sua cama havia sete computadores de ultima geração trabalhando rápido e eficiente enquanto a garota escutava musica despreocupadamente. Fitava o grande pôster de um protagonista de uma serie de vampiros, pra falar a verdade não gostava muito da serie, só daquele corpo escultural atrás de sua porta. A musica alta parou, sendo substituídas pelo som estridente dos bipes das sete maquinas juntas em uníssono, pronto, tinha terminado seu trabalhinho da noite.
  - Mããe! – A garota gritou, colocando alguns papeis para imprimir. Ela era morena e incrivelmente magra, altura media. Andava descalço pelo chão do seu quarto novo (agora velho, diga-se de passagem) vestia um short jeans claro de cós alto, por cima usava uma camiseta branca com estampa de boca da rolling stones com o nome wild na frente. Seus cabelos eram de tamanho médio e cor preta com uma ou duas mechas azuis, de costume eram lisos sem voltas, mas como no dia de hoje estava entediada resolveu enrola-los. Kaya Callun, 17 anos de idade, garota quase normal de dia, hacker mutante obscura à noite.
  - Diga, Marie. – Chegou à porta do quarto usando um avental, aparentando estar apressada. Ao contrário de Callun, sua mãe era branca, baixinha, amorosa e carinhosa.
  - Acabei de terminar! – Disse empolgada, tomando o papel que saia da impressora em mãos.
  - Quantos dessa vez?! – Perguntou tranquila, encostando-se a porta.
  - Sete! – Rebateu animada, prestando atenção especial no papel que segurava.
  - Sete?! – Questionou surpresa. – Quais? – Ela já deveria estar acostumada. Kaya pigarreou antes de começar, orgulhosa de seu feito.
  - Sim, sete! Dentre eles Deutsche Bundesbank, Alemanha; e U.S. Bancorp, Estados Unidos. – Sorriu de lado, por acaso Callun tinha um grande e bonito sorriso, encantaria qualquer um, do mesmo jeito que sua cara de novinha enganara muitas das pessoas.
  - Wow, querida! Vá com calma, ok?! Sabe que os 2% de chance de nos pegarem ainda existe, certo?! Não pode sair roubando sete bancos numa noite só em apenas segundos! Acabará chamando a atenção do governo! – Repreendeu a atitude da filha.
  - Mãe, você sabe exatamente o que eu faço com esse dinheiro sempre, não sabe?! – Voltou aos notebooks, fechando todas as abas abertas.
  - Sei sim... – Respondeu receosa.
  - Então! Não fique assim, vamos! Fique animada... – Desligou algumas das maquinas, quando a musica voltou a tocar alta, então ela abaixou, sua mãe tinha horror a música alta. – Iremos mandar pra instituições de lugares pequenos, ok? Sempre são as que mais precisam. – Tomou outro papel, nele havia uma lista enorme com nomes de instituições, fundações, organizações, tudo que tinha a ver com ajudar ao próximo. Callun era obrigada a fazer isso um dia na semana, segundo sua mãe seu dom era algo bom e tinha que ser usado de boa forma. Além do mais ela gostava de ajudar quem não tinha muito, ela já não teve muito, era importante se importa! E garantia suas saídas misteriosas e investigações contra algo mais sério, o governo e outros mutantes, por exemplo. – Trinta na Africa, quinze na Europa e dezoito no Brasil, como sempre, tudo bem? – Perguntou sorrindo, sua mãe era bem legal.
  - Tudo bem! – Sorriu de volta. – Agora vamos descer, você não jantou ainda! – Kaya largou o papel e desceu com sua mãe, sua comida estava ótima, como sempre.
  Assistiram, conversaram sobre vários assuntos diferentes, entre eles sua passagem pelo Egito, e o rápido arrependimento. Viajar ao Egito, ir ao deserto era bom, ótimo, lindo e muito cultural, mas a sensação térmica era como se as mesmas estivessem em um grande forno. Passariam um bom tempo sem visitar aquele lugar. Depois de ver sua serie favorita foi pra o seu quarto, sua mãe já tinha subido, estava cansada e amanhã teria trabalho à fazer, importantes ligações também. Já de pijama e luzes apagadas então deitou-se, piscou contra o escuro duas vezes e passou a mão um palmo de distância de seu rosto fazendo uma tela holográfica aparecer diante de si. Ela não costumava usar computadores quando o seu interesse era pessoal, optava para seu próprio sistema, na verdade ela ERA o sistema. Produziu seu próprio sistema a um ano atrás, sendo ele impenetrável e desconhecido por qualquer outra pessoa, mais rápido e inteligente que qualquer maquina produzida por humanos, amava mexer e aprimorar sua obra. Inspirou e então entrou onde realmente queria. Quebrou o sistema com facilidade, depois outro e outro, aquela organização era bem preparada, mas nada que ela não tivesse visto antes. Garotas normais costumavam entrar em suas redes sociais, tweetar e postar fotos novas a cada minuto, bem... Kaya Callun não era normal. Em sua breve descrição podia-se dizer que ela Era Norte Americana nata, filha de Brasileiros. Após nascer seu pai foi morto por um câncer intestinal, deixando-a sem ao menos conhecê-la. Sua infância fora difícil em termos financeiros, nunca teve muita coisa, estudou e morou em um bairro simples até seus nove anos, sua mãe segurava as pontas com a herança que seu pai deixara. Sua mãe sempre soube que ela era especial, não exatamente mutante, mas especial. Seus temores foram confirmados quando ela simplesmente entrou no sistema escolar e mudou sua nota, sem ninguém ver. A garota ficou medrosa com o que havia feito e lhe contou, foi repreendida e nunca mais o fez. Meses depois ganhou um computador, naquele momento tudo se acendeu, pra quebrar outros sistemas foi fácil, começou a ser paga pra subornar grandes empresas, mesmo sendo nova. Sua mãe tomava conta de tudo, então resolveu que se mudariam pra algum lugar longe, Canadá. Lá ela se fixou e entendeu o que é ser mutante, em apenas seis meses já estavam ricas, independentes e felizes. O governo ou outra organização que fosse nunca a pegaram, mas eram espertas, nunca ficavam num lugar por muito tempo, mas agora diante dos olhos da adolescente Marie ela tinha certeza que teria que arrumar as malas outra vez, agora ela lutaria por algo realmente sério e grande.

Capítulo 13

Capítulo 13 - 400 Lux

  - Suas roupas estão aqui, se arrume e me encontre lá embaixo daqui quinze minutos. – Deu duas batidas na porta e desceu.
   estava totalmente enraivado com , não entendeu o motivo dela ficar tão puta de raiva assim, ela iria pagar. Dormiu no sofá, depois de pensar na maior parte da noite. Não queria ficar no mesmo andar que ela, não tinha certeza se conseguiria se controlar. Eram mais ou menos cinco horas da manhã, a mala dela havia acabado de chegar, ele iria treiná-la assim como prometeu, mesmo não querendo. Começariam com uma corrida pela floresta em torno da casa, ele não teria piedade. Se ela ia aprender que fosse com o melhor! Esperou-a impaciente, com de cara fechada até descer, mas se controlar perto dela era quase impossível, impossível não se pegar olhando-a, impossível não querê-la.
  O resto da noite não foi diferente pra , ela simplesmente queria acabar com a raça de Chloe, aniquilar sua existência, fazê-la virar pó em suas mãos! Ainda não conseguia aceitar o fato de estar tão incomodada com aquilo, toda vez que seu pensamento ia em linha fina avisando que o nome daquilo era ciúmes, ela apenas negava, revirava os olhos e engolia o grito bem alto que queria dar. Aquilo estava literalmente lhe consumindo, e ela não podia fazer nada, NADA! Quando finalmente pegou no sono, ele bateu em sua porta mandando que se arrumasse, tudo uma bobeira, teria que olhar em sua cara de novo como se não bastasse! Abriu a porta, encontrando a mala preta e média em sua frente, jogou-a sobre a cama e procurou algo que pudesse vir a ser usado. Roupa de malhar, isso. Deduziu que treinaria, não tinha muito que fazer às cinco da manhã com a não ser isso... Quer dizer, tinha, mas não vem ao caso. Separou uma blusa preta colada, legging solta e cinza estilo dançarina, sapatos pretos e roupa intima da mesma cor, tudo normal. Entrou rápida no banheiro, e se pôs a fazer suas coisas, higiene pessoal, escovar dentes etc. Saiu, se vestiu, calçou e por fim fez um rabo de cavalo alto, era o bastante.
  Deve-se observar que praticamente tremia antes de abrir a porta, porque sabia que teria que o encarar o dia inteiro, sem a menor ideia sobre o que aconteceria. Tomou de todo o seu empenho para descer firme e forte, era o fim. Se pudesse, ela cortaria seu coração, esmagaria com um martelo para ele não bater mais rápido só por vê-lo. Pisou firme e determinada em cada degrau, mas era impossível não sentir uma tremenda vontade de se atracar com ele outra vez, sendo que usava uma regata preta que marcava totalmente seu peito e deixava os músculos expostos e calça do mesmo tipo que a dela, só que masculina, sapatos também. Estava de costas mexendo em seu celular, então se permitiu checar o produto em sua frente, e era ÓTIMO, PERFEITO, ela só não poderia se deixar levar por aquela visão alta, forte e sedutora.
  - Caham... - Pigarreou, já perto dele, com os braços cruzados. Claro que ele já tinha notado sua presença ali, isso era fato, mas quando um encontrou o outro foi maçante, inalterável a maneira que o silencio se afincou ali, emudecendo ambos.
  - Vamos correr. – Sua secura e rispidez na voz não impressionaram , ela já sabia que na manhã seguinte ele estaria diferente.
  - Que seja. – Rolou os olhos e partiu atrás dele até a porta da garagem, ele parecia tão leve e despreocupado, apenas silencioso como se não se importasse, não podia pedir muito depois do que jogou em sua cara. Chegando ao lado de fora, pôde ver melhor como era bonito, fresco e verde, o sol ainda não havia saído direito então ela veria quando acontecesse, o seu alaranjado dava passagem pra o azul tomar conta deixando tudo mais bonito, coisas da natureza.
  - Espero que acompanhe meu ritmo, odeio esperar. Finja que tem alguém atrás de você e corra com todas suas forças, é meio difícil de me alcançar por motivos óbvios. – Caminhou até a trilha, parando pra falar no inicio. Fitou o caminho e olhou apenas uma vez pra ver se tinha entendido, bem, ela tinha.
  Começou sua corrida em silêncio numa velocidade pequena, ia atrás, respirando raiva de si mesmo e dele - que não lhe deu a mínima. Mas pelo menos tinha a visão dele correndo, ótima visão. Depois de alguns minutos admirando as árvores altas e ouvindo o som de pássaros voando livremente sob a alvorada, ele aumentou o ritmo. fez o mesmo, ainda não estava cansada, nem um pouco, para falar a verdade. Usou toda raiva para ter um bom desempenho em sua tarefa, já não bastava ter como seu mentor. Ele aumentou o ritmo novamente, ela fez o mesmo outra vez, mas dessa vez ficou mais distante, não tinha tanto preparo físico assim. Mais à frente, ele corria despreocupado, como se não estivesse em seu calcanhar. Só se deu conta que estava indo realmente rápido após alguns minutos, olhou rápido pra ela e não pode conter o riso, ela estava vários metros atrás. Não, ele não parou, continuou correndo, só que devagar até o ponto desejado, onde a trilha fazia caminhos pra dois lados. Parou leve, como se não tivesse corrido rápido sem parar por mais ou menos quarenta minutos, agradeceu aos céus pela pausa, correu mais um pouco e lhe alcançou sem reclamar.
  – Você vai sozinha agora. – Mais cara de pau impossível.
  - Que? Por quê? – Perguntou, evitando olhá-lo.
  - Porque eu quero que vá só, e quero saber se você consegue chegar antes de mim sem minha ajuda. – Claro que estava se divertindo com o fato de que ela teria que ir sozinha por um caminho totalmente esquematizado por ele para ser mais perigoso. O caminho era confuso e mais escuro, neste lado haveria alguns bichos e ela teria que matá-los, isso era só a metade. – Tome, vê se não perde. – Tirou do bolso o canivete, o seu canivete. Quer dizer, o da , e entregou a . Ela tomou-o de suas mãos sem nenhum interesse ou entusiasmo, o desgraçado estava gostando.
  - Consegue chegar onde?! – Abriu a boca pela primeira vez no dia, gélida e apática.
  - Quando você chegar com certeza irá saber. – Respondeu à altura, deu uns passos pra trás, abrindo passagem para ela passar. Então respirou fundo e foi. Antes de adentrar a mata, deixou seu olhar cair pra trás, onde ele estava olhe fitando, por um segundo achou que seu olhar lhe mandava um “boa sorte”.
  Conforme ela dava passos para dentro da floresta às arvores pareciam mais fechadas e o ambiente ia se tornando mais escuro fazendo-a esquecer de que o sol pairava dando inicio a manhã. Caminhava num nível não tão acelerado que permitia observar lugar grande e vasto ao seu redor. Buscou uma explicação logica para aquilo, mas parecia que estava em outro lugar, algo completamente diferente. O caminho era estreito, o vento batia frio sobre seus braços e seus cabelos esvoaçavam involuntariamente, aquele lugar parecia ter vida. A vontade de olhar para todos os lados começava a lhe tomar, fazendo diminuir o ritmo até parar de andar. Fez uma círculo em volta do seu próprio corpo olhando entre os troncos altos que não lhe permitiam ver o céu. Não estava com medo, mas quando um pensamento forte e maçante tomou conta de sua mente, e o vento forte e gélido pairou sobre seu corpo, foi como se estivesse voltando ao tempo no dia em que fugiu de casa, o pavor a tomou num segundo fazendo as lembranças voltarem pesadas sobre si. Sua família ainda estava distante e ela ainda estava só como sempre foi o resto de sua vida de merda. Estava desordenada, sofria de pane mutante, se fosse possível sofrer disso ela com certeza estava. Como se fosse magia ela despertou daquele mini pesadelo acordada, uma ave gritou forte num tom fino sob seus ouvidos fazendo-a involuntariamente correr sem olhar nada mais a sua volta, incluísse uma armadilha simples e idiota em sua frente. Seu pé foi direto nela, levando-a pra o alto de cabeça pra baixo no mesmo instante. soltou involuntariamente um grito alto cheio de raiva, aquilo era realmente brincadeira, só podia ser!
  - Merda! – Grunhiu impaciente. Só ela pra cair numa armadilha passada daquela. Fez o que normalmente qualquer um faria, pegou o canivete e pôs-se a serrar a corda. Demorou alguns minutos para que se soltasse, o lugar era alto ela tinha que tomar cuidado pra não cair. Segurou-se num galho e desceu facilmente da árvore, pulando antes de chegar ao tronco. – Você me paga, ! – Exclamou e saiu correndo pela trilha.
  Correu o mais rápido que pode, com seu sangue borbulhando de ódio por quinze minutos, tinha a leve impressão de estar sendo espionada, mas não deu atenção, estava determinada a chegar mais rápido que . Seu rosto já estava frio por conta da velocidade que corria, suas extremidades ao contrário estavam quente, continuou até cair, outra vez. “Será possível? Merda! Corda de aço no chão pra me fazer tropeçar? Sério?!” pensou. Seu prendedor sumiu no chão deixando seus cabelos escuros soltos em meio às folhas, quando levantou seu olhar para pôr-se de pé avistou algo peculiar.
  - Okay, isso é novidade! – Exclamou imóvel em meio às cobras venenosas que já vinham em sua direção sorrateiramente, ok, daquilo ela tinha medo.
  Eram mais ou menos cinco, dos tipos cascavel, tigre, mamba preta, taipam e víbora, agora sim seu coração estava parado, não batendo, parado mesmo! Acabara de descobrir seu novo medo, pavor, temor e toda essa coisa parecida. Sentiu uma delas se embrenhar em sua perna e pediu pra morrer, aquele réptil estava em cima de seu corpo e não podia se mexer, porque com certeza seria atacada. A velocidade que poderia ser tomada e a quantidade eram inimagináveis, teria que ter muita coragem e determinação pra sair dali. Ficou imediatamente invisível, imóvel esperando que a víbora em cima dela fosse embora e rezando pra que outras não chegassem perto, bem, a víbora saiu. Puxou todo o corpo pra trás, mas o movimento das folhas em baixo de seu corpo dificultaram as coisas, chamando a atenção delas, que se agitaram. estava mais gélida que nunca, agora sim iria pagar. Catou o resto de coragem que tinha e afastou-se pra trás mais rápido outra vez, ficando a uma distância significativa, boa o bastante pra levantar-se. O problema é que elas já tomavam toda a trilha. Respirou fundo. Já levantada, pegou o Canivete, que deveria virar uma arma ou algo do tipo, ter um canivete ali era quase imprestável! Analisou o lugar e decidiu arrodear pela parte das árvores mesmo, era mais seguro. Sua roupa já não estava em boas qualidades e o brilho no olho originado pelo Claudit Circuli agora era forte e evidente. Foi pela direita em passos largos e rápidos, mas outra vez fora interrompida por uma taipam, que surgiu em sua frente, chacoalhando seu rabo em cima de um galho baixo de uma arvore. Congelou na hora, como a desgraçada sabia que ela estava passando? Pelos céus, estava invisível! Ela olhava-a com firmeza, como se soubesse que aparecia. Num súbito fez, apareceu deixando seu olho brilhar com autoridade sobre o réptil que sibilou tentando intimida-la, não funcionou.
  - Ugh, você é tão estranha, amarga e desnecessária que eu vou te chamar de Chloe! –Soltou enraivada. A taipam tentou atacá-la, mas recuou um passo, seguido de um ataque inesperado e empenhado onde segurou forte seu “pescoço” e cortou o lugar de uma só vez com o canivete. – Vadia. – Coisas do círculo às vezes eram bem vindas.
  Fez uma careta de nojo e partiu correndo pela trilha por mais dez minutos, dessa vez tudo correu bem, sem cobras ou armadilhas. Quanto mais perto chegava, mais claro voltava a ficar, até conseguir ver o céu novamente sobre sua cabeça. Diminuiu o ritmo em sua chegada pra lembrar-se de não tentar matar , apesar de ele ter acabado de fazer exatamente o contrário. O caminho foi abrindo então ela finalmente pode ver onde estava chegando, a parte norte da linda casa de , ele estava lá em pé lhe esperando. Se não estivesse tão irritada com o que ele fez poderia jurar que seu olhar se abriu ao lhe ver, mas não, ele continuava indiferente. Chegou perto, tentando não ter um ataque do coração ou tomar uma decisão precipitada, pegou o canivete lhe deu sem nenhuma delicadeza e entrou como um raio na garagem. Ele por sua vez nunca tinha a visto tão enraivada, seu olhar estava tão duro que até ele poderia chegar a sentir medo. A tensão forte o fez se arrepender de ter feito tal coisa com ela, as cobras não estavam sem veneno, pelo contrário, estavam cheias! Não sabia se caso ela fosse mordida qual efeito teria, já que nunca fora mordido por uma, mas já contava os segundos pra ir atrás dela, aquilo estava praticamente lhe matando.

  - Eu tenho que te dizer uma coisa... – Começou preparando a mãe, que lhe olhou curiosa do outro lado da cozinha. – Éé... – Arrodeou um pouco, sentada na cadeira da bancada. Kaya não queria ter que falar pra sua mãe que se mudariam outra vez, ela sempre fazia isso e sempre se sentia mal por tal. Não é normal chegar na mãe informando que terão que se mudar porque o governo do país desconfia de sua pessoa ou está buscando novos interesses numa Fundação diferente em San Francisco.
  - Fala logo garota, você sabe que eu odeio ficar ansiosa! – Reclamou Juddie, mãe de Callun. Ela lavava louça, segundos atrás despreocupadamente, agora não mais.
  - É o seguinte, teremos que passar algum tempo em San Francisco. – Contou de uma vez, inspirando culpada, Juddie parou seu trabalho, virando-se incrédula.
  - Kaya Callun, o que você fez dessa vez? Pelo amor de Deus, não temos nem dois meses aqui em Charlotte, você sabe que eu sempre quis vir aqui e sabe muito bem que eu ODEIO ficar me mudando! – Falou irritada. – Por quê?! – Callun passou a mão na testa, preocupada. Já deveria saber que ela ficaria irritada.
  - Porque eu tenho negócios a tratar em San Francisco e eu creio que irá demorar um pouco, é mais eficiente nos mudarmos. – Revidou.
  - Me diga, eles estão atrás de nós outra vez? E se estão, por quê? Faz tempos que não roubamos uma grande quantidade de dinheiro, não precisamos mais, por quê?! – Questionou impaciente, já estava do outro lado da bancada, esperando uma explicação da filha.
  - Mãe, não! É claro que não, você sabe que eu nunca erro, é só uma coisa... É importante, eu não posso adiar mais, e pode crer, eu já adiei bastante!
  - Você ainda não me respondeu!
  - Hurrhgg, eu não posso dizer o porquê! Pra sua própria proteção, eu não posso! – Deixou escapar.
  - Como assim, pra minha própria proteção?! Quem protege aqui nessa casa ainda sou eu! Eu continuo sendo sua mãe, caso não se lembre mocinha! Não pense que só porque é mutante que pode se rebelar contra mim ou fazer o que bem entender, porque eu estive com você por toda a vida, é seu dever e obrigação nos obedecer, e se você não tem um bom motivo pra me fazer tirar minha bunda daqui desse lugar, nós simplesmente não iremos a lugar algum! – Bom, discurso de mãe sempre ganha, mas Marie ainda tinha uma carta na manga.
  - Eu não me sinto muito bem, mãe! – Reclamou num fingido tom frágil na voz. Colocou a mão direita no vestido vermelho sob o coração, como quem quer indicar uma doença, a mãe não se abalou.
  - Querida, você nasceu assim, lide com essa doença. – Voltou aos pratos.
  - Mas mãe, eu já sou crescida o suficiente! Eu tenho que ir pra San Francisco, é questão de vida ou morte, no caso questão de morte. – Continuava firme e forte em suas tentativas. – Você pode me deixar ir sozinha, eu prometo que volto inteira, eu prometo! – Juntou as mãos numa prece, como podem ver vida de mutante nem sempre é tão fácil.
  - Quanto tempo você precisa? – Finalmente abaixou a guarda, ela não aguentava ouvir falar em mortes.
  - Não muito, uma a duas semanas no máximo, caso precise de mim nos encontramos lá. –Respirou um pouco mais calma. – É bem importante, sabe que não ando lhe pedindo coisas assim!
  - Isso é perigoso? Você vai ajudar alguém? O governo está envolvido? Você se lembra a ultima vez que teve que lutar? Lembra a ultima vez que visitou seu treinador, o Victor? – Juddie tinha dessas, perguntava bastante.
  - Mais ou menos, pretendo sim ajudar alguém, não sei, lembro sim e eu ganhei só pra refrescar sua memória, lembro, claro que lembro, tomamos um suco depois, acho que faz dois meses! – Respondeu feliz, essa ela já tinha ganhado.
  - Tudo bem, você vai com um guarda costas por uma semana, se precisar ficar mais tempo eu vou também?! – Kaya assentiu, então Juddie terminou seu trabalho e passou pela garota rumo à sala. – Não me desaponte! – Avisou, passando e deixando-a sozinha no cômodo. Um entusiasmo mórbido se instalou sobre o corpo de Kaya fazendo-a sorrir, sabia que seria difícil, não era problema pra ela que gosta de desafio.

  - Essa é minha casa, você tá muito acomodada! – reclamou alto do outro lado da sala com , ela comia um grande sanduiche de frango e ainda não tinha pronunciado uma só palavra desde que chegara.
  - Qual foi? Vai me deixar passar fome, infeliz? Já não basta ter literalmente me posto entre cobras. – Reclamou de volta em meio outra mordida. Concentrou-se totalmente na comida, olhar pra ele a atrapalhava, além de estar fulminando de raiva.
  - Não, não nego comida. Quanto às cobras, você estava merecendo e era totalmente parte do treinamento. – Divertido que você esteja se divertindo, idiota! –Vamos, não podemos perder tempo. – Virou-se saindo do ponto de vista dela, que deu uma ultima mordida em sua refeição matinal e o seguiu revirando os olhos.
   estava parado fitando a parte frontal de sua enorme casa, nem a chegada de tirou sua atenção. Olhou pra o teto alto da casa e pra , fez isso duas vezes seguidas, ela estranhou e fechou o cenho, com certeza não estava pra conversas.
  – Você tem que subir e pular de lá de cima, tente não quebrar uma unha. – Debochou num tom critico.
   não lhe respondeu, apenas olhou os ângulos de algumas árvores e partiu pra uma delas, aquilo seria mais que fácil. Segurou sobre o tronco impulsionando pra cima, sorriu de lado atrevida, sabia muito bem que tinha chamado a atenção de alguém lá em baixo. É verdade, ele estava confuso com o que via, ela estava subindo na árvore como se subisse escadas. Sua descrença foi maior ainda quando ela subiu mais alto e pulou pra um galho distante, impulsionou-se pra trás e caiu segura sob as telhas, que não se abalaram muito. Arqueou as sobrancelhas lá de cima contra a luz do sol, o que com certeza chamou a atenção de , ela e sua forma perfeita.
  - Se me dá licença... – Gritou de cima apática, fazendo menção para que se afastasse. Pulou até a parte baixa do telhado, seguido de outro para o chão, parando em sua frente com seu ar maioral, superior. – Qual merda você quer que eu faça agora? – Perguntou, desinteressada. Ele não respondeu, partiu pra dentro de casa tentando assimilar o fato de ela ter se saído incrivelmente bem em suas duas “tarefas”. Das duas uma, ou ela era realmente boa ou estava com muita raiva, OU os dois... os dois explicava melhor os fatos. Partiu pra cozinha deixando-a esperando, voltou passando direito pra garagem, ela o seguiu com uma cara de tédio que enganaria qualquer um. Ao passar pelo lugar permitiu-se apreciar os automóveis, eram novos e bem cuidados, desejou possuir um.
  - Vamos , eu não tenho o dia todo! – Tirou-a de seu devaneio automobilístico fazendo menção para que passasse sobre a porta que segurava, porta essa que ela ainda não tinha percebido que existia. Passou pela porta um pouco mais estreita dando de cara com um lugar estranho, levantou uma das pernas da calca, entrando ainda mais no cômodo. Enquanto ela olhava o cômodo ele foi buscar algum instrumento do outro lado da sala. Era escuro e rustico, bem iluminado, porem fechado. Havia dois sacos de box do outro lado da sala, instrumentos pra musculação em um lado mais afastado, um alvo no final e um banco. Virando-se pra o outro lado foi surpreendida com a visão de um eventualmente sem camisa segurando duas armas e proteção para mãos, pequenas por sinal. Atrás dele havia uma prateleira coberta por vidro, dentro delas haviam armas, MUITO armas. Franziu o cenho, esquecendo-se um instante de fazer sua pose de durona. – Então, vamos começar. – Aproximou-se dela (exalando sensualidade) e jogou as luvas, ela tomou-as e usou-as. Entregou-lhe a arma já carregada.
  - Tem que ficar sem camisa? – Revirou os olhos, e apontou para o alvo longe, a arma estava notavelmente pesada desta vez.
  - Não se importa, lembra?! Se eu quiser eu fico pelado, a casa é minha. – não gostava nada do fato dele estar esfregando em sua cara que tinha uma casa, se ela quisesse também poderia ter uma, porem ser uma móbile era bem mais interessante.
  - Pagar por pecados deviria ser mais fácil! – Reclamou, mas continuou firme, mas estava com raiva demais, não aguentaria por muito tempo aturar se exibindo, sendo idiota. Ele estava do outro lado fitando a arma como no dia que ficaram. Será que era fissurado em armas? Ele nem precisava daquilo, era tão forte... Só podia ser um fetiche.
  - Ter a sorte de ter você longe também, mas nem sempre nossos pedidos são atendidos, certo?! – As mãos de rodearam forte a arma, “quer dizer que me quer longe?!” Quer dizer, já que é assim morra num inferno quente e vermelho com a Chloe! não devia ser tão explosiva, não era saudável. – Hm... Vamos lá, você tem cinco alvos escondidos nessa sala, tem que encontra-los certeiros e só. – Respirou entediado e atirou em sua direita, ela institivamente cresceu os olhos confusos e enraivados, virando-se pra ele que mandava outro tiro.
  Ela não tinha medo, percebeu que ele só queria a distrair de sua verdadeira lição, achar os alvos. Olhou desconcertada para vários lugares, mas não via nada. Seus músculos esquentavam de raiva porque ele chegava perto vindo vagaroso e engenhoso em linha reta, ele podia fazer vários movimentos para lhe atrapalhar, mas não fez, era isso. Ela abriu um sorriso antes de matar a primeira charada, atrás dele, um círculo raso preso na parede reluzia longe. Ela levantou o punho e atirou, correndo de que vinha em sua direção, decidido, sem se importar com sua descoberta.
  – Você deveria ser mais rápida em suas descobertas, quando está pra ser morta ninguém se importa, só quer sua cabeça! – Avisou frio.
  Ela varreu o olhar outra vez pelo chão da sala, e lá estava outro, mas não seria capaz de acertá-lo com uma arma, precisaria de um maldito canivete. vinha em sua direção atirando em lugares pertos, o som atrapalhava seus pensamentos, os olhos cerrados que vinham dele também. Ela correu invisível desta vez passando um pouco perto demais de , ele sentiu eu cheiro e atirou outra vez no nada. Ela chegou até a mesa tomando o canivete, mirando no alvo agora estupidamente perto pra ser atirado, rolou os olhos reprimindo-se pela burrice. estava de costas ereto, entediado novamente. Ela olhou pra cima viu um no teto e outro do lado, atirou no de perto, jogou o canivete em um dos que estavam no lado e atirou no outro vizinho. Quatro, onde merda estava o outro? Seu pensamento foi interrompido por outra bala que passou consideravelmente perto atingindo o vidro blindado em suas costas. Uma raiva cega subiu a sua cabeça, apareceu fazendo uma careta e atirou contra ele e andou em sua direção, ele fez o mesmo, porem não aparentava tanta raiva quanto ela. Ficaram frente a frente a um passo de distância no meio da sala. O clima ficou pesado seus olhares faiscavam, numa mistura de raiva e um sentimento meio indescritível. respirava forte e mordia o lábio ele só a olhava friamente, escondendo seus pensamentos. Num impulso esmurrou-o forte com a mão da arma, no segundo depois ela estava no chão em baixo de que tinha suas mãos em seu pescoço e um sorriso irônico no rosto. Seu olho brilhou mais intensamente por conta do contato hipnotizando-a no ser em sua frente, desviou o olhar para o teto encontrando o quinto alvo, era sua chance, teria que agir rápido. Seu olhar mudou de enraivado para calmo e saído, arqueou as sobrancelhas deixando em confusão. Segurou seus braços o trazendo pra mais perto, lutando pra não perder o fio que a levaria a vitória, ele foi sem nem pensar. Ela aproveitou o contato pra passar a mãos sobre suas costas até seu cós e juntar seus corpos enquanto ele cheirava seu cabelo, ele já estava lá, na dela. Ele tinha uma arma atrás, ela pegou-a numa velocidade notável e atirou pra cima, acertando o alvo, vencendo.
  - Ganhei, sai de cima de mim. – O empurrou pra longe, fazendo-o sair de cima levemente enraivado. – Mais alguma coisa? – Levantou em seguida, ele não respondeu, então ela tomou como um não.
  Caminhou até a mesa deixando a arma em cima e saindo da sala. Foi rápido o exercício, ela sabia que alguma coisa faltava, alguma raiva a mais, algo a se mostrar, faltava ferocidade e fogo. Passou a mão sobre os cabelos bagunçados e mordeu os lábios, agora parada na cozinha aberta. Ele tinha abaixado a guarda sem pensar, isso podia ser bom, mas podia ser também a prova que era mais um homem atrás de um pedaço de carne fresca. Pegou agua numa jarra na geladeira e bebeu, e permaneceu em silêncio olhando pra pontos alternados da casa. Alguma coisa lhe faltava, algo grande lhe faltava, um sentimento estranho, como se tivesse deixado metade do que era naquela sala. Precisava de algo, precisava de uma chama precisava e gritar da raiva que estava sentindo, mas que merda aquele notebook estava fazendo ali? Como uma hipnose andou até ele, abriu e fitou a tela cheia de esquemas e códigos que não tinha conhecimento. Tinha algo importante ali, tomou-o em seus braços e segurou forte, deixando aquela vontade louca de quebrar o objeto adentrar seu corpo e lhe tomar até estar num nível de insanidade bastante o suficiente pra fazê-lo.
  - Você não vai querer fazer isso. – do outro lado da sala passando a mãos sobre os cabelos. Foi o bastante pra ela tacar o aparelho no chão com força e pisar em cima. Foi o bastante também pra paciência dele se esgotar, ela queria briga ela teria briga. – Eu já bati em várias mulheres, ... – Começou cheio de raiva.
  - Quanto a apanhar de em uma? – Revidou dura, correndo pra cozinha, pegou a primeira faça que achou, pra sua sorte era uma das grandes, ele foi atrás realmente determinado a bater nela, afinal ela tinha acabado com alguns arquivos bem importantes.
  - Acho que já já você descobre a resposta. – Ele agia como se a luta já estivesse ganha, talvez estivesse. Correu até ela e segurou em seu cabelo, jogando-a pra frente, fazendo-a cair esparramada no chão, fez um barulho notável, percebeu que ele definitivamente não estava brincando. Virou-se de frente ainda no chão, mas ele já estava em cima de seu corpo outra vez e não tinha intenção nenhuma de parar. Tentou lhe dar um murro, mas foi bloqueado, tendo sua seu tórax rasgado rasamente pela faca que ela segurava. Distração o suficiente pra sair invisível de baixo dele, assustada, agora em suas costas.
  - Você sempre diz que eu vou te pagar, mas não sou eu quem te devo. – Rasgou suas costas e correu pra a sala, ele foi atrás, outra vez.
  - Eu estou com tanta raiva de você, tanta raiva que eu te mataria sem pensar uma só vez, mas você tem sorte de ainda precisarmos de você pra qualquer merda que seja! Mas vadia, você vai levar uma surra! - O coração dela palpitou fazendo a tensão embrenhar dentre suas veias trazendo consigo uma determinação maçante. Ela ainda assimilava as palavras dele quando se encontrou no chão outra vez, do mesmo jeito que ele fez quando estavam no exercício dos alvos, mas agora bem mais forte. Isso realmente a irritou.
  - Filho da puta! – Gritou do chão, ele tinha um pé em sua barriga agora, subestimando sua força.
  - Nada que eu não seja, sweetheart. – Apertou mais um pouco, deixando-lhe ofegante por ar. Ela desapareceu, - continuava presa – mas quando voltou tinha a faca novamente, tinha caído ao alcance de sua mão. Fez um corte fundo em sua canela, então tirou o pé dela institivamente.
  - Você é crápula o bastante pra bater numa mulher, certo?! Eu sou vadia o bastante pra te bater de volta! – Gritou pra ele, que parecia igualmente confuso, estavam no mesmo barco.
  Do seu lado havia um vaso, bem, seria aquele mesmo, tomou-o nas mãos sem perceber o peso, jogou contra ele, foi parar em sua cabeça, não perderia essa oportunidade. Correu até ele – ainda atordoado - e deu um murro, ainda não contentada esfaqueou raso seu braço, deixando-o sangrando de cabeça baixa, então parou. Sua pausa, e o jeito que ele estava, de cabeça baixa, sangrando e vulnerável lhe fez sentir um arrependimento bruto por ter feito aquilo. Sua opinião mudou quando ele levantou a cabeça, parecia um leão enraivado, arisco e perigoso, e lhe pegaria num piscar de olhos.
  – Oh, merda! – Exclamou dando passos pra traz enquanto tinha tenho, ele grunhiu pra ela então ela subiu as escadas, único caminho que poderia vir a ser tomado.
  Sua respiração ficou realmente falha, não conseguia ter um pensamento concreto que lhe ajudasse, ele queria mesmo lhe bater, mas que merda! estava em seu calcanhar, e nada lhe ajudava, primeira porta trancada, segunda porta também, terceira, do quarto onde ficou do mesmo jeito. Só lhe restou o final do corredor, nem ficou invisível, era óbvio que estava ali, não havia saída, a não ser pela ultima porta, aberta. Entrou rápido, como se fosse adiantar alguma coisa, ele arrombaria.
  - Espero que esteja preparada... – Pôde ouvir seus passos chegando cada vez mais perto da porta, ela estava totalmente fodida!
  Seu coração pulsou numa mistura de medo, duvida e ansiedade. O que ele estava pensando em fazer? Seus pés fincaram-se no chão, mas não era o certo a se fazer, o certo era fugir! Fugir dele, de sua força e aversão, fugir do que ele poderia lhe proporcionar, mas ela não fez. Só ficou lá parada, esperando alguma coisa acontecer. Aconteceu. O som da porta sendo arrombada por lhe pareceu mudo, não conseguia ver as cores do lugar onde estava, não sabia qual lugar estava, ela era só um corpo ansioso e fadigado no meio de um cômodo qualquer, esperando por alguma coisa. Ouviu o baque da porta se abrindo forte contra a parede e teve seus olhos preenchidos pela visão dele, sem camisa, cheio de raiva, bruto e cru, isso deveria lhe incomodar, fazer sentir raiva, mas só fazia seu medo ir embora. “Ele devia fazer alguma coisa, não deveria?!’’ pensou, mas não, ele apenas entrou e ficou parado, com o cenho fechado, tão confuso quanto ela. Depois de um longo caminhar de segundo ele falou.

We're never done with killing time/ Can I kill it with you?/ Until our veins run red and blue
We come around here all the time/ Got a lot to not do/ Can I kill it with you?

  - Eu ODEIO você! – Ele disse, como se fosse alguma confissão proibida ou algo do tipo. Foi como se tirasse um peso das costas.
  - Eu te ODEIO também. – Ela respondeu fria, do outro lado, mordendo dentro dos lábios inferiores, engolindo seco ao sentir o peso de suas palavras. travava uma luta interna, o observava em silêncio, varrendo seu olhar por todo o seu corpo.
  - Você acha que... – Ele passou a mãos dentre os cabelos, deixando-a nervosa. – Seria insano e errado dizer que quero você mesmo fazendo toda essa estupidez? Você acha ridículo eu querer te tocar e ter a merda de uma necessidade de ficar perto mesmo te odiando? É, eu sei, é... Bagunçado, louco, embaraçoso... E eu diria até bonito, porque ele é como você, uma mistura coisas que desencadeiam outras... Eu não sei, eu deveria me recusar, mas eu já me recusei demais a toda essa porra! O que eu posso fazer se toda vez que eu tento dar um passo pra trás de você eu me vejo trancado em uma das partes da corrente?! Eu... – Fez uma careta, seus lábios rosados encontravam-se em linha fina. Continuou. – Você sabe... eu quero acabar com sua raça agora, mas ao mesmo tempo não seria capaz de te machucar nem que fosse um pouco. – Riu apático analisando o que dizia, ela apenas ouvia olhando em seus olhos, cada palavra que ele proferia lhe fazia sentir como se afundasse no escuro. – Não quero que me dê nada em troca, não é obrigada a sentir o mesmo, mas eu precisava dizer outra vez... Você sabe, não é? - Perguntou. Tinha um sorriso sem humor no rosto, esperando uma resposta estupida como sempre, mesmo depois do que tinha acabado de dizer, mas outra vez foi surpreendido por .
  - Sim... – Seu corpo vacilou ao confessar, mas suas palavras não podiam ser mais concretas naquele momento. Olhava fixamente pra ele que a fitava de volta. Passou a mão sobre seu pescoço, agoniada, assustada com o que iria dizer. – Eu te odeio com todas as minhas forcas... – Falou, devagar e incerta. - Eu te acho um idiota, estúpido e burro. Oh, Deus, como você é estúpido! Que tipo de idiota deixa a foto da ex namorada em seu computador depois de terminar?! Você é louco, insano! Você... – Passou a mão nos cabelos, jogando-os para o outro lado. Conforme dizia o que sentia sua voz ficava mais aguda e as palavras eram proferidas com mais rapidez, embolando-se em sua boca. – Você estava brigando comigo minutos atrás, eu... eu estava em baixo de seu pé! – Grunhiu enraivada, gesticulava com a mão em meio aquele caos. – E agora você vem e me diz essas merdas assim?! Eu te odeio! Eu te odeio pra sempre, e eu me odeio do mesmo jeito ou mais ainda por não ser forte o bastante pra deixar de sentir o mesmo! – Terminou, de olhos fechados, sentindo o som do silêncio dele pulsar insonoro dentre seus ouvidos. Um arrepio, o mais forte que já sentira, foi de sua espinha a ponta dos pés fazendo-a tremer. Abriu os olhos novamente, dando-se de frente pra sério em sua frente, assim como ela seus olhos possuía um brilho intenso.
  - Você sabe o que vem agora, certo? – Perguntou, já em sua frente mantendo o contato visual, mas sem tocá-la.
  - É... - Deu outro passo então levou as mãos até seu pescoço juntando seus corpos quentes a centímetros de distância de sua boca. – Eu sei. – Então selou o beijo, lento e cuidadoso, aproveitando o montante de sensações que vinham em seu corpo. Confusão não é a mesma coisa de arrependimento, e apesar da desordem não havia outro lugar no mundo onde os dois gostariam de estar agora.
  O beijo continuou devagar e passivo. deixou escapar o ar preso em seus pulmões quebrando o beijo, então e abriu os olhos. Ele já lhe olhava, examinando sua expressão equivocada. Por um instante ela não lhe pareceu aquela mal educada que podia ser facilmente detestada, era apenas a . Um sorriso sacana se abriu nos lábios de , era ela que ele queria e vice versa. Puxou-a outra vez, dessa vez forte contra seu corpo, suas mãos foram até a cintura dela sob sua camiseta preta e outra até seu cabelo, ela fez o mesmo, e quando perceberam o fogo tinha definitivamente se acendido, tornando tudo feroz e severo de uma hora pra outra. Ele deu passos pra trás tirando os sapatos com os pés rapidamente, ela fez o mesmo, num piscar ele já estava levando-a consigo com convicção do que faria. Ela mordia seus lábios forte e necessitado fazendo sangrar, depois corria a língua por cima pra sentir o gosto metálico do mesmo, precisava despejar sua raiva em alguma coisa e seria aquilo. a levou até a porta que tinha acabado de arrombar e a apertou forte e impetuoso enquanto passeava de sua boca até o pescoço mordendo e inspirando seu cheio de floresta, suor, agrido e natural. Ela alternava suas mãos entre seu ombro e pescoço, hora arranhava seus braços e costas.
  As mãos de passeavam nas coxas de procurando por mais, porem a calça folgada dela não lhe permitia que fosse tão bem explorada quanto queria. Ele passou a as mãos por sua barriga numa lentidão provocativa, o que era totalmente contraditório aos seus movimentos ferozes na parte superior fazendo-a revirar os olhos, ele sorria da situação entre os beijos. Finalmente desatou facilmente o cordão que segurava a calça folgada fazendo-a cair, deixando-a apenas de roupas intimas e camiseta, foi justo porque ele também estava só com uma peça de roupa. Imediatamente as mãos de estavam em suas pernas novamente. O toque eminente das mãos dele sobre sua pele a fez querer queimar de prazer ainda mais, apertava seus cabelos contando se conter, seus olhos se encontraram de novo e riu dessa vez, ele não precisava cuidar de tudo. O empurrou contra seu corpo distância o suficiente pra continuar com as mãos em seu peito e o levou até a parede do corredor nessa distância propositalmente pra fitar o seu corpo, chegava a lhe dar calafrios o tanto que queria aproveitar daquela carne e provar seu gosto. Ele não estava surpreso, pois sabia do que era capaz, mas o olhar selvagem que ela lançou lhe correspondendo mexeu com suas estruturas. Já na parede, com ela em sua frente melhor que qualquer jeito que poderia pensar encontrou-se deslumbrado em suas curvas, no jeito com que seus cabelos caiam bagunçados sobre seus seios, e em sua coragem, atitude e ousadia, porra, ele estava em suas mãos, definitivamente.
   mordeu os lábios e olhou pra ele que devolveu o olhar lhe consentindo a continuar. Ela passou as mãos sobre seu peito explorando o local, arranhando com força, não era pra ser sentido como um carinho e sim algo negligente e enraivado. Chegou mais perto e começou a beijar seu tórax, começando no umbigo sem se esquecer de nenhum dos músculos, na mesma lentidão que ele fez. Poderia ter tocado no seu pacote avantajado, mas preferiu lhe provocar deixando despercebido o imperceptível. Foi mordendo e beijando até chegar em cima aproximando seu corpo dele e beijando seu pescoço hora devagar hora mais rápido e provocativo. Ele tomou sua cintura com uma mão e sua bunda com a outra, pressionando-a e massageando-a. Ela arfou e o mordeu outra vez em resposta, então ele encaixou sua perna no meio das dela, tendo contato com seu sexo pela primeira vez no dia, ela se remexeu sobre sua coxa e ele pressionou a mesma sobre ela lhe proporcionando uma sensação gostosa. Se beijaram outra vez ainda mais intensamente, então ele não aguentou ela em cima de seu corpo sem tomar uma providência. Tomou sua cintura e partiu andando aos beijos pelo corredor, no meio do caminho levantou-a deixando que suas pernas se prendessem sobre seu tórax e pressionou-a brutalmente na parede sem partir o beijo. Parou.
  - Merda, você é tão gostosa! – grunhiu enraivado, dando uma breve olhada no corpo de acima do seu, era divino, suas feições eram delicadas, mas seu olhar era sexy e quente, isso o excitava demais.
  - Cala a boca, ! – Grunhiu de volta, os olhos de ambos brilhavam intensamente.
  - É verdade, eu tenho coisa melhor pra fazer com minha boca. – Ouvir o sotaque de foi o suficiente pra deixá-lo louco. Revirou os olhos e prensou-a mais contra a parede, deixando as mãos livres para rasgar sua camiseta preta, pegando-a de surpresa. Sem lhe dar tempo pra reclamar rasgou também o sutiã, com um sorriso de canto sórdido e sacana no rosto. – Sorry not sorry, sweetie.
  Puxou-a pra outro beijo e foi descendo pra seu pescoço novamente enquanto deixava suas mãos embrenhar-se em seu cabelo bagunçado. Checou seios fartos dela tomando-os a boca sem hesitar, quando sentiu a boca dele em seus mamilos, lambendo-os e mordendo ferozmente deixou sua cabeça cair pra trás evitando um gemido, eles estavam eu outro nível. continuou seu trabalho nos seios enquanto massageava sua bunda e coxas com as mãos. Levantou-a mais um pouco, deixando estaticamente mais alta que ele e pôs-se a andar, passando o quarto de hospede até chegar a seu quarto, a porta estava trancada, mas isso não foi problema, quebrou a maçaneta então se abriu. Suspendeu o corpo de mais uma vez desvinculando do seu.
  - O que voc... – Começou a falar, mas foi interrompida. pegou sua cintura e virou-a de costas contra seu peito, fazendo-a sentir de perto o quanto ele a queria. Colocou uma mão em sua barriga e usou a outra pra colocar seu cabelo de lado. Chegou em seu ouvido e disse cortante como uma navalha.
  - Cala a boca, . – Ela revirou os olhos e deixou-se cair sob seu peito novamente, ela adorava aquele cinismo, aquela tensão e brutalidade que só eles tinham.
  Caminhou beijando pescoço e tencionando seu corpo a até a primeira parede que encontraram. colocou as duas mãos na parede sufocando um gemido porque segurava seus seios com uma mão selvagemente e descia com a outra mão até sua barriga acariciando-a. Suas pernas estavam afastadas e dava passagem pras dele ir e vir quando quisesse. lhe provocava mexendo o corpo contra seu sexo ainda coberto pela calcinha. Ela não demoraria muito pra ter um orgasmo do jeito que ele estava fazendo.
  - Você... – bateu os punhos contra parede,– É um filha da puta! – e grunhiu enraivada. – Ele sorriu aberto, ela era desse jeito até nessas horas! Mas não podia culpa-la, se ela estava sentido o mesmo que ele (e estava) não merecia uma coisa dessas.
  - Mas você gosta desse filho da puta aqui! – Rebateu, deixando sua mão correr pra dentro do único pano que lhe restava, chegando ao seu sexo de surpresa.
  Começou a massagear seu clitóris com movimentos lentos e solícitos propositais, depois de algum tempo potencializou o ritmo, apertando seus seios ao mesmo tempo. Alternou os movimentos, era como se fosse calculado pra ela, só pra ela. não pode segurar o gemido entredentes que soltou, era bom demais pra ser abafado, tinha que expressar sua satisfação. vacilou um pouco por conta da intensidade, mas ele estava lá lhe segurando. Virou-a de frente rapidamente, ele estava sedento, vislumbrado com o que ela podia fazer com ele, deixava-o borbulhando de vontade de tudo.
  – Vamos provar agora! – Só de ouvir suas palavras o rosto de esquentou, ele ia, bem... prová-la! Ela queria aquilo, queria demais! Deu tchau pra sua sanidade no momento que disse sim, mas não pode deixar de sentir vergonha, ainda mais com ele lhe olhando quente de cima a baixo. Sem perceber sua expressão ficou seria e deixou seus olhos caírem ao chão, deixando perceptível seu incômodo. – Hey, não... NÃO faça isso ok?! Por incrível que pareça, eu gosto ainda mais! Você é A mulher, sabe disso! Não deixe esse pensamento lhe tomar. – Proferiu essas palavras, encorajando-a a olhá-lo novamente. Ela o fez, bateu contra a parede novamente e revirou os olhos, fez nula a distância entre os dois e puxou o cordão de sua calça, deixando-o apenas de cueca box.
  - Melhor. – Puxou-o pelo pescoço novamente, juntando seus corpos agora quase totalmente em contato. buscou seus lábios cuidadosamente fechando um beijo.
  - Melhor. – Repetiu, como se fosse uma correção, ela deixou um sorriso escapar de seus lábios. encostou-a na parede outra vez e desceu beijando todos os lugares que podia, abaixando e tirando sua calcinha, ignorando o “fim de linha” fazendo um caminho passivo por sua virilha, beijando molhado o lugar. A proximidade fez com que ela respirasse descompassadamente, seu corpo implorava que ele fizesse logo o que tinha que fazer logo, mas ele adiava o acontecimento, instigando-a.
  - Merda ! Vai logo! – Reclamou revirando pra trás e segurou os cabelos do rapaz, então ele finalmente adentrou dois dedos em seu sexo e começou a movimenta-los devagar, depois rápido e devagar de novo. deixou-se levar pelo prazer intenso, mordeu os lábios tentando segurar-se, mas era difícil faze-lo com lhe olhando daquele jeito enquanto fazia aquilo! Ele aumentou massivamente a intensidade e tirou os dedos então começou a provar do lugar e colocou-os meio que brutalmente outra vez. Continuou a sugar o lugar com vontade enquanto mexia os dedos com empenho. estava perto de chegar ao seu ápice, quase rasgava seu próprio lábio de tanto que mordia pra não gritar, percebeu o que ela estava fazendo e diminuiu o ritmo.
  - Vamos , faça! Não é bom guardar essas coisas, sweetheart - Falou em tom provocativo, foi como mexer numa ferida dela, ele não podia parar agora, não agora que ela estava tão perto.
  - Continue, idiota, continue! – Grunhiu pra ele, que sorriu com sua vitória. Não foi um gemido, foi melhor que isso. Continuou a sua viagem pelo sexo dela, empenhado, movimentando os dedos de uma mão no local e acariciando seu bumbum e coxas com a outra. Após alguns minutos o orgasmo dela veio forte fazendo-a arfar pra fora, deixando-a leve, mas não satisfeita ainda. Ele subiu novamente fazendo o caminho com beijos calmos, dando-a tempo de sentir as sensações magicas que um orgasmo proporciona. Passou a mão por seu rosto e lhe abraçou devagar, cheirando seu cabelo. Um lado de gelou por ele está demonstrando algum tipo de compreensão e afeto, tinha medo daquilo, de já estar totalmente perdida e não querer voltar, mas foi inevitável não deixar suas mãos descansarem nos seu ombro. Era convidativo e tentador, não podia parar, naquela altura ela nem sabia mais o que significava parar. Mais era a palavra, ela precisava de mais, ela queria mais, e ele com certeza também, já tinha aguentado demais, precisava de alguma atenção.
   respirou fundo, então colocou a mão esquerda em seus braços apertando-os e desceu a outra por sua barriga até chegar a box. Passou a mão sobre o lugar analisando o tamanho, sentindo como pulsava e como ela queria aquilo pra ela. Tinha uma posição estranha sobre isso, era como se alguém pensasse em tocar, encostar, chegar perto daquilo ela simplesmente mataria, porque é capaz, ninguém tinha esse direito. O pensamento fez acender uma nova razão pra querer mais do que já tinha provado, potencializando seu fogo. Apertou o lugar com força, chamando a atenção dele colocando a mão que estava no braço em seu rosto.
  - Você é o filho da puta mais gostoso que eu conheço! – riu da “revelação” dela, afinal ela nunca demonstrava nada, quer dizer, nunca teve coragem pra dizer nada desse tipo pra ele. Ela arqueou as sobrancelhas e o segurou pelo peito, quebrando o contato pra olhar onde estava a cama, já que não teve tempo de reparar. Lá, alguns longos passos, uma grande cama lhe esperava. Levou-o de costas para o lugar do mesmo jeito que fez anteriormente, chegou até a ponta da cama e tirou suas mãos dele tinha que olhar bem o que tinha ali, as noites passadas pensando em como ele era um cara maravilhosamente gostoso não fazia jus ao que tinha em sua frente, ele era espetacularmente sexy, mesmo parado em sua frente sem fazer nada ele continuava estupendo.
   foi até seus lábios e mordeu-os, não aguentava mais adiar, tomou a mão em sua cueca e tirou-a impaciente com a ajuda dele ainda aos beijos. Enquanto ele lhe mordia permitiu-se analisar seu membro que pulsava contra sua barriga, bem... ela gostou do que viu, gostou muito do que viu. Outro arrepio tomou conta de seu corpo então ele segurou sua cintura jogando-os contra a cama. Ela posicionou cada perna de um lado e passou a beija-lo e morde-lo. estava levemente atordoado com a visão dela em cima dele, remexendo-se sensualmente sem pudor. Tentava manter o pensamento em ordem, lembrando-se de controlar-se, pois era mais forte e não queria lhe machucar, mas era difícil, ainda mais quando ela passou a beijar seu peito e tomou seu membro masturbando-o sem parar de olha-lo. Ele grunhiu, enraivado, por que ela estava fazendo aquilo? Ficaria louco! continuou os movimentos empenhados no membro por mais alguns minutos, enquanto ele apertava seus seios e coxas encorajando-a enquanto massageava seu clitóris novamente.
  - Ok, chega! – indagou. – Precisamos de mais! – Falou pelos dois, o que era egoísta, porem verdade. Desvinculou-se de e foi até sua mesa, sacando agilmente uma camisinha da primeira gaveta e rasgando-a com a boca rapidamente. tremeu, ele era sexy até abrindo a porra de uma camisinha! Segurou a cintura dela, suspendendo-a pra colocar a prevenção, assim que terminou, olhou-a de volta, e suspirou. - Vá em frente, sou todo seu! – Sorriu safado pra ela que mordeu os lábios, revirou os olhos e tomou o membro pulsante e penetrou devagar em seu corpo.
  Respirou fundo e começou a se mexer contra o mesmo, tomando cuidado pra não cair sobre ele por conta do prazer intenso, quer dizer, ambos esperaram bastante pra aquilo e simplesmente era o paraíso. Só de seus corpos entrarem em contato era bastante para fazê-los perder da razão, faze-los pensar que queriam aquilo pra sempre e querer repetir tal ato por horas e horas o dia e a noite inteira, insano, eu sei. aumentou a intensidade dos movimentos e remexeu-se sobre ele, que grunhia estimulando-a a continuar, e assim ela fez, enquanto ele acariciava e fitava como seu corpo ficava bonito nesta posição. Continuaram firmes e dedicados por longos e longos minutos, sempre se arranhando, grunhindo ou algo do tipo, então depois de duas investidas ao mesmo tempo ela chegou ao orgasmo. Tomou folego e continuaram para que ele também pudesse ter um, o que aconteceu depois mais alguns minutinhos. deixou-se cair sobre o corpo dele, aproveitando as sensações e ondas quentes que possuíam o dela, não por carinho nem nada, mas por necessidade mesmo. Ele massageou suas costas e mexeu por entre seus cabelos, acalmando-a. Só podia ser ouvido o som da respiração dele em baixo dela e dela em cima dele.–Minha vez agora, sweet. –Num movimento rápido trocou de posição, deixando-a embaixo de seu corpo. Poderia até ser chamado de despeito tal ação, se a mesma não estivesse totalmente de acordo. Estavam quase totalmente satisfeitos por hora, mas precisavam sentir aquilo outra vez.
  Por cima dela, pegou outra camisinha e rasgou, ela passou as duas mãos sob sua costa alisando o lugar da tatuagem e inspirando lentamente.
  - Eu quero colocar. – Falou calmamente embaixo de seus pescoço. Ele estranhou o pedido, mas não questionou, lhe deu e ela colocou lentamente apertando o lugar, ele mordeu os lábios pra não grunhir. Antes de penetrar-lhe, ele perguntou.
  - , está tudo bem?! – Sua voz grossa a fez tremer e fechar os olhos, por que ele agia como se realmente importasse?! Puxou-o devagar e beijou-o.
  - Melhor. – Não sabia o que era aquilo, mas entendia, apenas entendia. Posicionou-se e preencheu-a novamente, languidamente e provocante, ela arfou pra trás e gemeu fraco.
  Segurou em sua cintura e começou a mexer-se mais forte e dedicado, dando atenção aos seios e clitóris da moça, fazendo-a grunhir e lançar um olhar impiedoso que pedia secretamente por mais. Ele aumentou e intensidade e ela se remexeu em movimentos contraditórios aos deles, tencionando e fazendo força contra o mesmo, permanecendo assim por mais tempo. Assim que sentiu o corpo avisar a chegada do ápice ele tomou a cintura de e levantou-a juntando os corpos, ficando cara a cara. Eles tinham que terminar aquilo juntos, intensamente e abertamente, era necessário. Ela fitou seu rosto deixando suas mãos embrenhar-se aos seus cabelos, continuando a se mexer, hora rápido hora devagar dando-o espaço pra fazer uma investida e mais outra. Não deveria ser tão louco, não deveria fazer seu coração parar, mas continuar batendo, não deveria ser tão selvagem, tão dela e único, mas era. Ele beijava seu pescoço tão intensamente e sincronizado com o movimento que fazia embaixo que parecia até mentira. Uma investida devagar junto a um beijo desafiador com direito a mordidas, outra continuidade devagar e provocante seguido da retirada e colocada desavisada do membro dentro dela duas vezes seguidas, continuando rápido e selvagem então atingiram (impetuosamente) ao orgasmo.

Capítulo 14 - Seguindo

  - Vamos lá, maricas! Corram, atirem, rápido! Rápido! – Monalisa gritava repetidamente para os mutantes que treinava, eles eram nível um e estavam sendo treinados por Monalisa a mando de desde que saíram para Sausalito. – Vocês correm, atiram e respiram como bebês! Inúteis, façam algo proveitoso, observem a fraqueza do seu adversário e jogue limpo. Ou não. – Monalisa era o tipo de mulher mandona que vivia só, ou com alguém que pudesse vir a lhe fazer bem que pudesse massagear seu ego de várias maneiras. Era ai que a bola da vez entrava. Jiorg, seu capacho, faria qualquer coisa pra ter o amor da mulher, mas ela não dava à mínima, não se sabe quando realmente ela veio a dar mínima.
  - Senhora, eu não aguento mais! – Um garoto de aparentemente 17 anos gritou encostando-se meio que cambaleante a parede.
  - O quê Christian? – Ela gritou do outro lado, ríspida. – Você está me dizendo que está desistindo? É isso mesmo? – Colocou a arma que carregava pra trás, passando por todos os mutantes que lutavam como ogros uns com os outros chegando até ele e Matheos, o garoto com quem brigava.
  - Nós estamos aqui a mais de 7 horas, só descansamos por 15 minutos senhora. – Christian falou, sentando-se no chão, com uma expressão cansada no rosto. Matheos observava, impaciente.
  - Eu definitivamente não perguntei quantas horas você está lutando, o que eu perguntei foi: VOCÊ ESTÁ DESISTINDO? - Abaixou-se intimidando-o. Christian olhava o chão, receoso sem lhe dar uma resposta. – Ok, levante-se. – Assim ele fez. – Desistir, aqui, significa morrer. Nenhum, eu digo nenhum de vocês pode pensar em passar perto da morte! Aqui, nada que não seja vitória é aceitável. Só pela sua audácia de se autodeclarar desistente vai ter que lutar com o Matheos outra vez. Sem armas. – Os olhos de ambos cresceram, chamando a atenção de todos os outros que lutavam, fazendo-os parar institivamente.
  - Quem você pensa que é pra fazer esse tipo de coisa? Não é justo com o Christian, você sabe, ele é quase um humano! – Matheos protestou ao lado. Ele tinha estatura alta e magra, mas podia-se ver alguns músculos brotando de seus braços. Seu nível de mutação era médio, mas nada físico. Ver o que se passava com seu novo colega lhe irritou, não pode ficar calado.
  - Há há!, Garotas e garotos, pessoinhas irritantes que preenchem essa sala com suor de lutas não ganhas e derrota. – Bateu as palmas da mão fazendo um círculo pelo lugar parando no meio. – Este garoto burro acabou de me perguntar quem eu penso que sou... – Sua tranquilidade era sórdida, a maneira com que jogava cada palavra pra fora tinha o poder de gelar o coração de muitos naquela sala. – Eu pergunto a vocês! – Falou animada, como um apresentador de tv, apontando para o povo sorrindo numa fingida felicidade. – Vamos lá, vamos lá! Algum de vocês, manifestem-se! O que eu sou?! Digam!
  - Uma mutante? ... – Uma voz arriscou do fundo. Ela permaneceu em silêncio, fitando os amigos que ainda permaneciam num canto.
  - Uma mulher forte? – Outro palpite mais pra frente.
  - Uma mutante forte, autoritária e extremamente bonita?! – Sucumbiu um mais assanhado ao meio.
  - Oh, claro, isso tudo que disseram e tudo mais, porem esse não é o fato. O fato é que... – Endireitou a camiseta apertada e virou-se novamente para os garotos. – Venha cá Matheos, quero lhe falar qual o fato mais de perto... – Chamou, cravando os olhos nos deles, que caminhava em sua direção em passos fortes e fingidamentes determinados, porque ao contrário do que se parecia por fora ele sentia sim medo de Monalisa, o ser vivente que não o tivesse não era totalmente normal.
  - Me fale qual o seu fato. – Parou em sua frente, decidido, ela gostou, pelo menos não deu pra trás.
  - Garoto. – Sacou um canivete fino e afiado do bolso e começou a brincar com ele por entre as mãos. A essa altura a tensão já se embrenhava em toda sala, juntamente com o silêncio cálido da plateia. – A ultima vez que um ser vivente, (quando eu digo vivente digo garota burra e desavisada) me perguntou QUEM EU PENSO QUE SOU ela virou churrasco, literalmente. – Vinha em passos friamente calculados em sua direção, como num show. – Só não digo que foi suas ultimas palavras porque eu sou uma linda mutante extraordinária que tem DÓ das outras pessoas e deixei ela soltar uma ultima frase antes de virar pó em minhas mãos.
  - Tá, mas o que ela fez? Eu digo, não se mata alguém só porque ela lhe perguntou quem você pensa que é, seria algo estúpido. – Perguntou usando um tom apreensor, arrependeu-se assim que o fez.
  - Ah, ela só tentou roubar meu namorado... não que eu gostasse dele, porque eu não gostava, mas sim porque eu a odiava pelo fato dela existir, isso me ajudou um pouco, sabe?! – Respirou um pouco, virando-se pra plateia. – Eu nem usei muito dos meus conhecimentos de tortura, fiquei com pena. Mas basicamente eu a coloquei numa cadeira e cortei todo o seu cabelo vermelho loureado, não que fosse bonito, porque não era, mas eu queria vê-la sofrer, funcionou. Depois eu raspei seu cabelo enquanto ela chorava e gritava, e com esse brinquedinho mesmo – Levantou o canivete à frente. – desenhei seu rosto com o vermelho do sangue, ficou uma gracinha. De resto apenas matei-a com uma facada em sua jugular e joguei numa fogueira. – As garotas tremiam só de ouvir o tamanho da barbaridade que ouviam, os caras enrijeciam seus músculos de raiva, mas continuavam calados. Christian já tinha se arrependido do que dissera, mas Matheos continuava firme e forte esperando seu castigo.
  - Monalisa, tenho uma chamada urgente pra você. – Jiorg chegou apressado entregando-lhe o celular, sem lhe dar tempo de reclamar pela interrupção.
  - Monalisa. – Do outro lado da linha Betty explicava que eles teriam que voltar pra Organização agora, tinham algo importante pra preparar. – Não dá pra esperar nem um pouco? Betty, eles não estão totalmente preparados ainda, na verdade esses inúteis não estão nem perto de estar. – Do outro lado Betty argumentava que era necessário que voltassem agora, teriam tempo para isso depois. – O.k. Estamos indo.

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  - Frederick, já falou com todos? Temos informações importantes, precisamos de todos vocês reunidos aqui em menos de uma hora, antes do anoitecer. – Betty andava de um lado pra o outro na sala de altas tecnologias, precisava logo de todos ali.
  - Tudo bem, mas diga que não iremos pra uma guerra, porque parte de nossos mutantes aqui estão cansados. – Fred avisou.
  - Ah, claro, que seja! Eu só preciso de vocês aqui rápido, por favor, não morram no meio do caminho, tchau. – Pronto, agora só faltava uma ligação.

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   POV’S
  Eu dormi. Se eu tivesse forcas físicas e mentais pra sair da cama, partir do quarto, buscar uma faca da cozinha e me matar eu teria feito, mas eu apenas dormi. Nem foi porque eu queria ficar lá perto dele nem nada, mas eu estava impossibilitada de levantar depois de ter repetido a dose mais de sete vezes, eu precisava de um descanso. Essa é a vantagem de ser mutante, você se cura rápido, se move mais rápido e consequentemente está pronta pra outra, mas depois de tanto esforço do dia passado eu apenas precisava de um tempo dormindo, a única ideia que eu tinha, de fato era dormir e adiar o turbilhão de pensamentos que viriam. Minha falta de vergonha era notável, afinal eu não deveria estar em sua cama, muito menos dormindo, muito menos dormindo depois de um sexo dos deuses. Quem dera os deuses terem a oportunidade de passar pela loucura de chegar perto de daquela forma.
  Minha pele formigou quando ele chegou perto, eu comecei a queimar e institivamente querer mais e mais. Foi insuportável o modo como seu olhar me vislumbrou e enganou meus sentidos, me indiciando a fazer exatamente o que eu não queria. Ou queria? É, foda-se, eu queria, mas não devia. Eu poderia pensar na merda que eu fiz, no quão convencido ele é e que agora eu estou perdida e sem moral nenhuma pra lhe sucumbir e afrontar como sempre faço, mas prefiro pensar em como foi... Aah, merda, eu não sei explicar com todas essas palavras bonitas que toda massa comenta quando encontra alguém realmente bom, talvez eu possa descrever de outra maneira... Foi , fisicamente falando, satisfatório, prazeroso, instigante, poderoso e provocante e outras palavras que eu realmente não sei. E mentalmente falando foi confuso, eu não sei o que pensar sobre isso, só sei que é errado e se eu tiver um pouco mais de sanidade isso, com certeza não acontecerá novamente.
  Eu já estava acordada por algum tempo, mas permanecia imóvel sob a cama, só daria sinal de ter acordado quando meu coração parasse de palpitar desse jeito. Mas que inferno, ele estava me... OLHANDO, mas que merda! Não me olhe, eu nem estou vestida! Sem me dar conta eu já respirava mais forte, o movimento do corpo me denunciava, com que cara eu sairia dali? O telefone tocou, pelos céus, eu nunca em toda minha vida fiquei tão feliz ao ouvir um toque infeliz de telefone. Ele levantou, pegou o aparelho e começou a caminhar pelo cômodo.
  - . – Falou baixo, como se isso fosse me atrapalhar em alguma coisa, eu ouço muito bem, tão bem que podia ouvir tranquilamente a pessoa da outra linha.
  - Oi , quanto tempo... – Sério? Uma mulher? Mais uma mulher? Porra, eu sou idiota, idiota, tenho alguma retardação! Sou a garota do dia, e isso é tudo. Uma raiva bruta, que eu já conhecia começou a brotar dentro de mim outra vez, me controlei, precisava ouvir o resto da conversa.
  - Oi... Quem, quem fala?
  - Vai dizer que você não lembra de mim? Sério, ? Semana passada quando você me agarrava e beijava todas as partes do meu corpo você parecia lembrar-se do meu nome. – VAGABUNDOS! Semana passada? Que raiva, que nojo, que vontade de socar aquela cara ridícula dele, arrrg. Uma pontada dolorosa impactou meu peito, não era novidade, ele devia ter outras mulheres, claro, era obvio. Eu não devia estar tão surpresa quanto a isso, de qualquer forma eu não podia fazer nada, apenas nunca mais fazer isso e pronto. Foda-se que eu tinha me sentido completa por algumas horas, era tudo mentira e ilusão como tudo em minha vida.
  - Do que você está falando? Você deve ter li... - Puxou a porta quebrada e saiu, essa era minha deixa. Levantei num pulo, meu corpo gritou de dor, ignorei e levantei, dando de cara pra um quarto muito, bastante, significantemente bagunçado. Fechei o cenho e caminhei até o centro dele, não tinha reparado ainda como era bonita a decoração, apesar de ter prateleiras quebradas e objetos aleatórios jogados pra todos os lados... Digamos que tivemos uma briga por poder no meio do nosso “encontro”, digamos que eu ganhei uma vez e perdi outra, mas isso não faz diferença, qualquer coisa naquele meio foi gratificante. O lugar era bastante claro, pintado em branco com papel de parede escuro na parede da cabeceira da cama, assim como o outro quarto havia uma grande televisão a frente, mas isso não importava. Peguei o lençol e me enrolei, suspirei caminhando até a porta, peguei a chave atrás dela, deveria abrir a porta do outro. Lancei uma ultima olhada pra aquele quarto totalmente bagunçado, diferente da minha lembrança.

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  - Oi, Erin? – Kaya perguntou para uma de suas poucas colegas ao telefone. Callun mal tinha acabado de chegar em San Francisco e já estava um passo a frente de todos na investigação, essa era a vantagem de ser uma hacker.
  - Sim, Callun? – Pigarreou do outro lado da linha.
  - Sim Erin, tudo bem?
  - Tudo sim, não poderia estar melhor, o Canadá nunca esteve tão lindo.
  - Que bom, mas, agora pare de enrolação, preciso saber se a pessoa de quem você falou é realmente a mesma que eu procuro. – Apressou-a. Kaya estava em frente a uma faculdade altamente nomeada de San Francisco, já era noite e o numero de alunos que entrava e saia do lugar era incontável, precisaria ser rápida em achar a pessoa que queria.
  - Me dê um minuto, preciso ver outra vez, sabe como é, estamos um pouco distantes... – Explicou, colocando o aparelho de lado para concentrar-se na resposta para a colega. Kaya havia conhecido Erin numa viagem ao interior do Canadá no inverno, ela teve permissão de sua mãe pra ir numa festa e inesperadamente encontrou-a lá, bêbada e descuidada. Passaram a noite conversando, então descobriu que ela também era mutante. Manterão contato até agora, sempre mensagens curtas em datas comemorativas, mas sabiam muito bem que uma poderia contar com a outra quando precisasse.
  Enquanto a garota não terminava a “visão” que lhe daria certeza se realmente essa era a pessoa por quem procurava Callun começou a fitar aleatoriamente os jovens que passavam. Alguns felizes, outros tristes, indiferentes e desajeitados, ela poderia ter aquilo se quisesse, mas não conseguiria, seria demais pra sua cabeça. Essa era sua ruina, ela pensava demais, era inteligente demais e quase ninguém lhe entendia, não era seguro conviver com outras pessoas. A noite já caia, estava ventando bastante, porem o céu continuava limpo e agraciado por estrelas. Seus cabelos embrenhavam sob seu rosto fazendo-a ver tudo azul por causa da cor do mesmo, gentilmente pegou um prendedor no bolso da sua calça branca colada e amarrou-os. Usava uma camiseta lisa preta e por cima uma jaqueta branca com partes pretas, o que contrastava com o resto do visual, deixando-o moderno e diferente da maioria que passava pela rua. Enquanto encostada a seu carro alugado, olhando para o seu par de converse preto aos pés permitiu-se distrair-se um pouco, era difícil pra Kaya se distrair quando seu ser era quase uma maquina em ebulição. O som de Erin lhe chamando novamente chamou-lhe atenção, tornando-a a virar-se à frente da Faculdade e fitar o nada, continuando a conversa.
  - Pronto?
  - Sim, sim... ele irá fazer alguma coisa muito importante hoje, espera muito para saber o que acontecerá, está ansioso... isso pode leva-lo a fazer coisas que não gosta. Talvez na verdade ele nem goste de fazer o que vai fazer, não tenho certeza. Ele é um dos seus, porem não tão bom, na verdade ele é um desperdiçado Callun. – Parou por um segundo, Kaya esperou tranquilamente, dando-lhe seu tempo. Depois de longos segundos voltou. – Bem, ele é bonito... E fechado também, igual a você... – Riu. Callun revirou os olhos e suspirou. – estou fazendo a descrição da sua alma gemia Kaya Callun, é isso?
  - Não temos nada igual, eu não vou fazer a merda que ele está tentando fazer! Odeio comparações, você deveria saber. – Alertou-a, enraivada. – E alma gemia só se for nos seus sonhos, porque ultimamente eu passo tão despercebida nos lugares que estou me sentindo o oxigênio de tão invisível! – Bufou, dando-se como vencida.
  - Não ligo pra o que você diz, é só diz merda mesmo... Mas vamos lá! – Ela pode ouvir do outro lado sua quase amiga bater as palmas da mão umas a outras, sempre fazia isso quando começava a ter uma visão futurística. – Joseph... Joseph –Esperou mais um pouco, deixando-a totalmente tensa e ansiosa. – Joseph Caden! É isso, eu não sei o que você quer com ele, mas é bom tomar cuidado Callun, eu não posso perder a minha parceira de baladas, certo?!
  - Sim... Sim, eu sempre tomo essa coisa ai. – Riu da sua piada sem graça e entrou no Freemont preto alugado levantando os livros, ligando seu sistema para pesquisar sobre Joseph Caden.
  - E isto é só por enquanto, tenho que ir agora. Apareça aqui logo hurn, beijo.
  - Obrigada Erin, apareço assim que puder, sabe como minha mãe ama o Canadá, né?! Também tenho que ir, beijo. – Finalizou a chamada sem ao menos olhar pra o aparelho celular que usava. Usava por capricho, pois não precisava, gostava de ter um aparelho físico em mãos, já que todo o seu sistema era holográfico. – Vamos lá Caden, vamos ver se você sabe se esconder direitinho. – Um sorriso frio apareceu em seus lábios então começou sua busca para achar Joseph. Vasculhou o sistema da Faculdade, achou alguns Joseph’s, mas nenhum se encaixava na descrição de Erin. Então foi pra o sistema hospitalar, nada que fizesse sentindo. Uma irritação começou a tomar conta de seu rosto, pelo visto ele não era tão burro quanto ela pensava. Assim como ela, ele não deixava rastros por onde passava, mas ainda sim seu nível era inferior, ele tinha que ter deixado um furo. Acalmou-se e fechou o sistema, pensando um pouco. Na ultima ligação que teve com Erin ela lhe disse que ele era mais velho, falou do seu humor era peculiar e que fazia algo nesta bendita faculdade à frente. Se ele decidiu estudar, com certeza já teria terminado, o nível de inteligência de um mutante hacker é visivelmente invejável, mas o lugar que seu pensamento estava lhe levando era meio propicio. Será mesmo que Joseph era estúpido o bastante pra ser um professor? Essa era a única resposta plausível, afinal o que um cara que poderia ter o dinheiro que quisesse viajar e explorar todo o mundo estaria fazendo ali? Se bem que não era tanta estupidez assim, ele poderia viver no meio da sociedade, das garotas e ninguém desconfiaria de um professor. Chegando a conclusão de que ele realmente era um professor, pegou sua bolsa, saiu do carro e partiu direto para o grande e extenso campus, rezando para que ele não tivesse ido embora.
  O turno noturno das aulas já estava começando, a maioria dos alunos já tinham pego seus livros nos armários, deixando os corredores quase que vazios. Era estranho estar numa faculdade, com tantas pessoas mais velhas e vividas perambulando de um lado pra o outro sem dar nenhuma importância a sua presença. A não ser um grupo de garotas que lhe deram uma olhada de cima a baixo, mas era de se esperar, seu estilo era diferente e peculiar, chamava a atenção de muita gente. Sem se importar com os olhares que recebeu das garotas - e de um ou outro cara - partiu pra a parte administrativa do local, o que levou algum tempo por conta da extensão do lugar.
  - Oi, eu queria saber qual matéria o professor Joseph Caden ensina, por favor. – Arriscou com um sorriso convidativo no rosto, era sua única chance. O homem de meia idade largou o computador e foi até o balcão lhe atender, seu olhar era um pouco confuso e curioso.
  - Olá! Bem, que estranho você procura-lo por esse nome, ninguém o chama de Joseph por aqui... – Retirou o óculos e limpou-o na camisa polo vermelha que usava. Pelo menos tinha acertado o fato dele ser mesmo professor.
  - É... Você sabe, recomendação de velhos professores, eles costumam chamar outros professores pelo nome menos conhecido. – Gesticulou com a mão, foi uma boa desculpa.
  - Ah, claro, claro... Sabe como é, ele é tão novo e descolado a vista dos outros professores que os alunos o apelidaram de Nick, é mais atual. – Explicou. Claro, Nickolas Joseph Caden, por isso não tinha o achado antes. Ela abriu um sorriso ao receber a informação e checou o corredor, ninguém podia lhe ver ali.
  - Isso! Eu e meu esquecimento mórbido, perdão. Então, qual matéria ele ensina mesmo? – Insistiu, o senhor não hesitou em lhe perguntar.
  - Ele ensina sistemas e matemática, matemática pela manhã e sistemas à noite quando algum outro professor não pode vir. – Recolocou os óculos e voltou ao computador, deixando Kaya um pouco indiferente por sua indiferença, ela esperou.
  - Então, ele tem aula aqui hoje? É que eu preciso fazer algumas perguntas pra minha pesquisa escolar...
  - Se você precisa lhe fazer perguntas não deveria saber ao menos a matéria que ele ensina? –Vamos Callun, aprenda a mentir melhor!
  - O professor que pediu a pesquisa é muito duro e rígido, ele apenas me deu o nome e mandou acha-lo e fazer as perguntas. – Explicou, convencendo-lhe aos poucos. – Pode me dar essa informação, por favor? Isso vale metade de minha nota, é muito importante! E eu ainda tenho que entrevistar mais pessoas... – Fez uma cara tristonha que encheu o senhor de pena, fazendo-o falar.
  - Ok, tudo bem garota, ele está aqui sim. –Digitou alguma coisa no computador e voltou-se a ela. – Ele acaba da dar sua ultima aula de hoje, um pouco mais cedo... – Falou pra si mesmo. – ele deve ter algum afazer hoje mais tarde, já que costuma sair bem mais tarde... mas isso não importa. O sinal bate daqui a pouco então se apresse se quiser ter sua conversa e garantir seus pontos. – Saiu de sua cadeira encostando-se ao balcão, Callun deu alguns passos pra trás, hesitante. – Ele está na sala quinze no segundo andar, vá em frente neste corredor, depois vire a direita e pegue o elevador, se preferir pegue a escada, fica ao lado. Quando chegar até lá vai achar as salas, é impossível não achar, já que elas são numeradas. – Callun abaixou a cabeça, acabou de lembrar-se das câmeras, não era bom ser percebida ali. – Entendeu garota? – Chamou sua atenção novamente.
  - Oh, sim, claro. Corredor, direita, elevador, sala quinze. Obrigada. – Sorriu pela ultima vez e dirigiu-se a esquerda embrenhando-se aos outros alunos. Pegou o elevador e num segundo estava no andar antes falado. Estava quase vazio, pois o sinal tinha acabado de tocar, fazendo um montante de pessoas deixarem as salas. O prédio era velho, então as paredes eram meio escuras. A iluminação apesar de boa deixava o lugar meio estranho e assustador pra se estar sozinha. As pessoas que passaram por Kaya não ligaram muito pra sua presença no lugar, mas o que lhe chamou atenção foi que todos estavam saindo do andar e não permanecendo ou entrando nele, sua duvida foi tirada no segundo seguinte.
  “Alunos e docentes, solicitamos a presença de todos vocês no pátio central de imediato. O conselho necessita informar a todos algumas novas ações e providencias que mudarão a politica costumeira da Faculdade.”
  Uma voz masculina e grossa avisava repetidamente a necessidade da presença das pessoas no térreo. Kaya se escondeu em uma das paredes e esperou até a maioria das pessoas passarem, sempre olhando pra ver se via o idiota chamado Joseph, mas ele não passou, o que lhe irritou.
  - Sala quinze, certo? Pois é pra lá que eu vou! – Falou pra si mesma e dirigiu-se em passos curtos e silenciosos até o local. Ela estava deslocada naquele lugar, por Deus, era uma Faculdade, onde as pessoas tinham que ser sociais e falarem uma com as outras. Precisava sair dali logo, ou morreria. Pensou em chegar e entrar, mas o pensamento lhe pareceu burro e indelicado, ainda bem que lhe pareceu, se fizesse isso colocaria tudo a perder. Chegou perto da sala devagar, em movimentos calculados. Ouviu o som de uma voz feminina, ela ria uma vez ou outra e dava alguns gritinhos finos, irritando-a logo de cara. Foi chegando mais perto e a intensidade dos gritos, risos (e agora gemidos) foram ficando maiores, porem abafados. Finalmente chegou a porta, arriscando uma olhadela através do vidro pequeno do meio da porta. Seus músculos endureceram, mas continuou lá, quieta, esperando ouvir alguma coisa. Era claro pra ela que a garota estava se pegando com alguém, a questão era se esse alguém era de fato Joseph Nickolas.
  - Nick, aqui não... – Confirmada a duvida, era sim o Joseph, já deveria saber que ele era do tipo que pega alunas, idiota.
  - Tá, tá... – Uma vermelhidão tomou conta de suas bochechas, não era do tipo que ouve atrás da porta, mas aquela ocasião era mais que especial. A voz de Joseph era bonita, forte e grossa, juvenil e masculina, mas isso não importava. – Vamos terminar isso em outro lugar, eu estou cansado de transar nesse lugar, já está ficando chato. – Bem grosso esse Joseph, também, devia pegar uma vadia aqui e outra ali, tratá-las mal era algo que vinha normalmente depois de um tempo.
  Kaya se escondeu atrás da parede do outro lado do corredor, então a garota loira, magra e baixa passou em passos largos olhando pra trás uma vez possibilitando-a de ver seu rosto. “Vadia” Kaya pensou, a garota era tão nova quanto ela, devia ter, no máximo 18, caloura. Depois de apenas um minuto o cara tão esperado da noite passou, fazendo-a prender a respiração. Ao contrário da garota ele andava calmo e despojado. Era alto e forte, não forte bombado, forte normal mesmo. Mesmo sem ver seu rosto sabia que era mesmo bonito. Uma boa garota reconhece um cara bonito de longe. Vestia jeans, sapatos escuros e camiseta azul, devia ter uns 24 por ai, arriscou. Parecia tão despreocupado e leve que se tivesse chegado segundos antes poderia jurar que os dois não estavam se pegando. Esperou Nickolas desaparecer do corredor para religar seu sistema e ver qual a saída mais rápida dali. No segundo seguinte tinha a planta do local em sua frente, estudou o local por um segundo e então sabia qual caminho seguir. Correu até as escadas, passando por alguns outros alunos que se dirigiam para o térreo também, debatendo-se em meio à multidão. Teria que passar por ela pra chegar até seu carro e pegar a outra saída dos professores, e conseguir seguir os outros pra onde quer que fosse. Lá estava ele, de costas, conversando com outros professores, todos num grupo. Andou mais um pouco no intuito de conseguir ver seu rosto, não deu. Grunhiu apática e revirou os olhos, seria demais pedir pra que ele se virasse?! O diretor do local falava diante a um palanque recém-colocado, o volume alto fez seus ouvidos reclamarem. “Termine logo com isso, vamos! Eu tenho muito que fazer!” reclamou internamente permanecendo parada, esperando para que ele se virasse. Seu pedido foi atendido, o senhor com quem ela falou há minutos atrás gritou seu nome do outro lado, fazendo-o virar institivamente.
  - Nickolas! - Woow, Nickolas Joseph era de fato um arraso de homem, tão bonito que desconcertou Callun quando o viu, agora estava explicado porque a garota aparentemente queria provar mais do pote.
  - Oi Eduardo, tudo bem?! – Recebeu-o com um aperto de mão seguido de um abraço caloroso, fato que incomodou levemente Kaya, ela não era tão social assim, e além do mais ele estava com uma cara lavada tão grande que lhe irritou, estúpido mesmo.
  - Tudo sim... Cara, você falou com uma garota agora a pouco? Uma morena, muito bonita e jovem, tinha cabelos azuis. – Riu e bateu-lhe as costas. – Sabe como são as garotas de hoje, todas cheias dessas coisas loucas, cabelos coloridos, roupas arrojadas e super inteligentes... – Esperou sua resposta. Joseph, no entanto não sabia do que ele falava, já que Kaya não tinha aparecido lá. Callun dava um passo pra perto a cada palavra do senhor, precisava ouvir a conversa.
  - Não, não apareceu ninguém querendo falar comigo, muito menos uma garota nova de cabelos azuis. – Riu também, como se fosse engraçado. “Qual o problema em ter mechas azuis? Estúpidos!” Kaya disparou no pensamento. – Caso a garota venha me procurar outra vez diga que eu tenho um lugar especial em minha agenda pra ela, - Sorriu maroto, do outro lado Callun revirou os olhos. – agora eu tenho que ir, não aguento mais ficar nesse lugar. Tchau Edu, tenha uma boa noite! – Pronto, agora era a hora, ela saiu novamente pela multidão, para o lado oposto. Precisava correr, pegar seu carro e dar a volta até o estacionamento dos docentes.
  - Hey docinho, onde vai tão cedo? Seja onde for eu poderia ir contigo e deixar a noite mais divertida! – Aarg, era só o que lhe faltava, um idiota lhe atrapalhando e segurando seu braço. Deu alguns passos pra trás e soltou um lindo sorriso pra o cara alto que sorriu de volta.
  - Oh, claro! Vem cá, deixa eu te dar o endereço, anjo. – Como um rato o cara abaixou-se e chegou até seu ouvido, ela segurou em seus ombros, golpeou seu saco e se desvinculou de seu corpo. – Aqui o endereço, IDIOTA. – Partiu correndo pra saída sem olhar pra trás. Correu até seu carro, ele não estava tão fácil como imaginava, outro carro tinha entrado na vaga ao lado dificultando sua saída. – É a morte, só pode ser!
  Entrou rápido jogando a bolsa no outro banco, pegou uma rajada de ar e finalmente saiu de sua vaga, partindo para o outro lado da maldita faculdade. Como se não bastasse toda aquela corrida o estacionamento dos docentes tinha que ficar na rua de trás! Dirigindo com apenas uma mão passou por um sinal quando estava no laranja o que lhe fez ganhar tempo. Tirou um protótipo pequeno e redondo da bolsa e colocou em frente ao painel, precisava saber como seguiria Joseph se ele tomasse um caminho diferente. Ligou-o e pediu para que mostrasse o mapa com todos os atalhos possíveis perto da tal universidade. Encostou o carro na frente da garagem, por sorte pode ver de relance Caden entrando em seu carro, era um bom carro como os outros na garagem, preto, alto e espaçoso, bom pra dar uns amassos, pensou. Ele partiu pra norte, ela foi em seu calcanhar. Adorava dirigir, tinha aprendido com Victor, seu treinador. Ele lhe ensinou a dar vários truques automobilísticos, seguir alguém era um deles.
  Joseph dirigia rápido, mas nada tão rápido que não pudesse alcançar. Pararam de pareia no mesmo sinal, mas seus vidros fechados impediam qualquer um de saber sua identidade. Pra seu desgosto o vidro dele também era camuflado, impedindo sua visão. Não reclamou, ao invés disso olhou seu mapa, estudando quais as possibilidades de pegar uma rua diferente, mas sair em outra igual à dele. Se ele virasse pra esquerda ela teria que segui-lo, se virasse para a direita ela pegaria uma rua alternativa e aumentaria a velocidade, encontrando-os na próxima, pra não ficar evidente que os seguia. Direita foi a direção.
  Ela quebrou rápido no atalho, chegando antes que ele na outra rua. Bom. Naquela direção ele só poderia estar indo pra o subúrbio da cidade. Era aceitável ele morar no subúrbio, era mais difícil de ser notado lá, pelo menos pelas grandes peças. Kaya deixou-os passar e continuou seguindo-os, passando por uma avenida e chegando ao tão esperado subúrbio. O lugar não possuía movimento e as ruas eram estreitas, a noite cálida ajudava no quesito “colocar medo nos outros”. Era realmente valente da parte de Callun seguir um desconhecido até um lugar tão perigoso por um motivo tão pequeno. Na verdade não tão pequeno assim. Pronto, ele entrou numa rua mais afastada, parando na frente de um prédio pintado em cor escura, não devia ter garagem.
  - Subúrbio de San Francisco? Sem garagem? Cara, você é uma das vergonhas da minha raça. – Suspirou e os observou de longe, a garota saiu do carro e arrodeou rápido, encontrando-se com ele do outro lado. Nickolas lhe apertava e lhe beijava o tanto quanto podia, parecia bom, mas isso também não vem ao caso. Kaya usou o tempo dos amassos pra olhar o lugar, devia ter alguma câmera, isso era fato. Digitou códigos em seu sistema, encontrou três câmeras, cada uma de um lado da rua. Ele devia monitorar tudo, mas não era problema, ela colocaria o filme de um dia atrás pra passar pelo seu querido e amado sistema. Crackeou os códigos e fez o que pretendia, caso ele quisesse checar as câmeras não a veria se aproximando do local. O casal - se é poderia chama-los de casal – entrou no lugar deixando o caminho livre, essa era a sua segunda deixa da noite.
  Callun saiu do carro apenas com um ponto no ouvido e uma navalha no bolso, era só o que precisava. Trancou-o e rezou para nenhum ladrão ou algo do tipo lhe atrapalhar, já tinha problemas demais. Caminhou sempre no meio da calçada pra não correr o risco de alguém lhe puxar para um beco. Depois de longos passos chegou até perto da frente do prédio, já chegava perto ao carro de Joseph quando ouviu sua voz mais perto e mais perto. Merda, ele estava voltando! Seu coração pulou pra fora de peito e o sangue quase que esvaiu de sua face, deixando-a em pânico. O que ela iria fazer? Que merda! Correu pra trás do carro e parou meio que vacilante lá, se desse sorte ele iria apenas pegar um documento ou algo do tipo. Se desse sorte.
  Ele abriu a porta do motorista e entrou no automóvel, entrou e ficou lá parado sem fazer nada. Mas que merda estava acontecendo? “Desde quando carro é lugar de pensar? Vamos lá meu filho, faça logo o que tem que fazer. Saia dessa porra de carro, coma a garota e pule pra parte importante!” Callun, personalidade forte e impaciente, assim que ela era. Depois de dois longos minutos ele pegou alguns papeis e entrou outra vez. Kaya saiu de detrás do carro e correu até os fundos do prédio, lá havia uma escada. Ela respirou fundo e começou a subir a escada estreita, olhando em cada janela, tentando descobrir qual era o andar de Joseph. Subiu cuidadosamente até o quinto andar, onde Caden morava. A janela estreita estava fechada, porem destrancada. Uma cortina entreaberta dificultava sua visão para dentro do apartamento. Sentou na escada e respirou, tentando não olhar pra baixo, mas era meio inevitável tendo um ridículo pavor de altura. O vento forte não lhe ajudava em merda alguma, só lhe dava vontade de desistir e jogar tudo pra o alto, desistir não era uma opção naquele momento.
  - Mas que merda, será que essa desgraçada não vai parar de gemer hora nenhuma?! – Reclamou baixo. Como a janela dava exatamente para o quarto ela pode ouvir nitidamente a garota gemendo contra o peito de Joseph, ele parecia não estar curtindo muito, mas lhe parecia relevante o bastante para continuar. Callun por sua vez pareceu incomodada, não era de menos, eles estavam quase transando!
  - Calma Stace, não vai se arrepender se ficar calma, agora fique quieta. – Claro, Stace! Esse era o nome da desavisada.
  – Tá, tá, acabou a festa, vadia. – Sussurrou pra si mesma então abriu seu sistema, a festa realmente iria acabar. Digitou “Stace” na busca então lá estava a foto da loira aguada com todas suas informações, era o que precisava. Ligaria pra ela e acabaria com tudo, acabaria com seu sexo e conseguiria o que queria facilmente. Subiu mais alguns degraus da escada para não ser ouvida então discou seu numero, depois de alguns segundos a maldita Stace atendeu.
  - Oi, ern... quem... – Ele deveria estar lhe beijando ou algo do tipo, pois ela segurava um risinho entredentes. – Quem tá falando?
  - Eu que pergunto, quem está falando? – Fez voz grossa e continuou.
  - Stace... – Ainda ria, só que menos intenso.
  - Então Stace, sua mãe acaba de sofrer um acidente em casa, seu numero foi o primeiro que achamos então resolvemos ligar. – Kaya tentava conter sua vontade de rir, era quase possível ver os músculos de Stace endurecendo no andar de baixo, foda-se a Stace.
  - Oh meu Deus, ela está.. Ela está bem?! – Perguntou. Estava apavorada.
  - Não querida, ela não está muito bem, ela caiu da... – Pesquisou rápido onde ficava sua casa pra não errar na informação. – da escada! Foi bem grave, é possível que ela tenha quebrado mais de três ossos. – Continuou com seu tom gélido de enfermeira, soava tão real que até a própria seria capaz de acreditar em tal besteira.
  - Oh, eu nã... eu estou indo, eu estou indo, não leve-a ao hospital até eu chegar, por favor! É muito rápido, eu só preciso de alguns minutos! – Callun também podia ver o olhar confuso de Joseph e Stace correndo pela casa buscando seus trapos enquanto segurava o telefone.
  - Tudo bem meu amor, só podemos esperar até dez minutos, venha logo. – Fim de conversa com Callun e fim de noite sexualmente ativa pra Nickolas. Kaya desceu novamente os degraus, olhado o quarto, já não tinha mais ninguém no cômodo, daria pra entrar e esperar até ter o que queria. Num movimento rápido abriu a janela, implorando aos céus pra não ter algum tipo de alarme louco. Não tinha.
  O cheiro de sexo ainda estava lá, mesmo que nada tenha acontecido, de fato. Assim que viu como era o lugar teve uma leve surpresa. Era uma espécie de loft/apartamento muito bem decorado, ela moraria ali facilmente. A escassez de paredes lhe permitia ver a porta de entrada mesmo estando na parte que deveria ser chamada de quarto. A maior parte da mobilha era emadeirada, assim como o piso e a grande viga que sustentava a estrutura no meio da sala. Havia uma grande estante branca, nela não havia espaço para por se quer um livro a mais. O sofá cinza tinha a sua frente um pequeno centro de vidro, neste habitava uma caneca branca com o nome “Winner” na cor preta. Foi para o centro do lugar e varreu-o, era diferente e leve, estranho. Caminhou até as duas únicas portas do local, abriu a primeira. Banheiro. Respirou fundo e tentou abrir segunda, mas esta não se abriu. Kaya ficou totalmente frustrada, o que será que tinha ali? Podia jurar que era sua sala de computação, com certeza era. Se entrasse lá teria acesso ao que tanto queria, mas toda e qualquer ideia que veio em sua cabeça foi por agua abaixo no instante que ouviu um barulho vindo das escadas. Joseph estava voltando.
  - Droga! – Exclamou. Seu sangue começava a agitar-se novamente e uma confusão mórbida tomava sua cabeça, em que lugar ela ia se esconder? – Merda, merda, merda! – Grunhiu e varreu o lugar. A única opção que achou pra se esconder foi debaixo da cama, algo bem clichê, eu sei. A cama estava encostada a uma parede e tinha cobertas que decaia sobre os lados, o que ajudava na sua tentativa de se esconder. Correu até ela, tomou o canivete do bolso, e praticamente se jogou debaixo, abusando de sua flexibilidade. Então Joseph entrou.
  O fato de Kaya estar debaixo da cama lhe impossibilitava de ver os movimentos de Caden pela casa. Aparentemente ele estava descalça e caminhava até a cozinha, tranquilamente. Callun permanecia inquieta e estática debaixo da cama, que pra sua surpresa novamente não fedia a mofo ou algo do tipo. Toda vez que arriscava se mexer debatia nos sapados de Nickolas inevitavelmente por conta da escuridão. Maldita a hora que foi fuçar o sistema dos outros e procurar informações suspeitas de uma organização estranha, maldita hora! “Não, não, não!! Agora não!” Seu cérebro pedia desesperado, ela não podia espirrar, não numa situação daquelas! O ar foi tomando seus pulmões e suas narinas começaram a coçar, ela iria espirar, não havia jeito. Quando o espirro veio fez a única coisa que podia, fechou os olhos, tapou o nariz e colocou a mão na boca. Engoliu o maldito espirro, mas continuou com as mãos a postos por precaução, quando qualquer vestígio dele foi embora ela finalmente voltou ao normal. Não ouvia mais os passos de Nick, ele deveria estar parado. Depois de segundos de silêncio o som da tv preencheu o ambiente. Os canais estavam sendo zapeados, então ele deveria estar no mesmo lugar ainda. Kaya arrastou-se até a ponta e arriscou olhar por uma brecha que a colcha deixava, e lá estava Joseph Nickolas sentado numa bancada, comendo cereais e assistindo tv.
  - Uhrg. – Reclamou num sussurro. Espionar alguém era difícil, mas espionar alguém bonito, sexualmente atrativo e mais velho era uma prova de fogo. Joseph vestia apenas os jeans agora, deve ter deixado o resto das roupas minutos atrás quando se comia com a Stace loira aguada. Costas largas arqueadas despojadamente sob o pleno mármore fosco e gélido, uma verdadeira tentação, mas Kaya não devia estar olhando dessa fora para Joseph, ele era mais velho e estava fazendo algo que podia vir a lhe prejudicar futuramente. Olhando por outro lado, se ela quisesse não iria ser um problema se envolver com ele, já que o mesmo estava tendo relações com uma garota mais nova, esta não devia ser a primeira. – Que seja... – Pestanejou novamente. Joseph pensou ter ouvido algum zumbido vindo da parte do quarto, partiu seu olhar para o lugar, mas lá não havia nada. Devia ser a preocupação que lhe corroía por todos esses meses. Trazer garotas pra casa, se divertir em bares, estudar e até mesmo se enfiar em uma sala de aula ensinando matemática não lhe tirava o peso das costas. Todo seu trabalho, todas as noites que passou sem dormir produzindo e reproduzindo o código que salvaria a vida de seu pai agora valeria a pena. Pegar Stace era só um passa tempo até receber sua esperada ligação, precisava de algo pra se distrair, ou não aguentaria a tensão do momento.
  Dez e vinte e quatro da noite, faltava apenas seis minutos para a tão esperada ligação. Sentar e comer era o que lhe restava, pois até deixar de comer ele já tinha deixado, ansioso pra saber qual seria o próximo passo. Seus olhos cor de mel fuzilavam a grande tv em sua frente, mas não conseguia ver nada. Repudiava todo e qualquer tipo de chantagem, e era o que acontecia ali, estava sendo chantageado de maneira baixa e cruel, sendo deixado sem escolha. Toda aquela situação lhe dava raiva e lhe deixava frustrado, consequentemente foi ficando estúpido e desamável. As garotas, igualmente sem escrúpulos e loucas por sexo viam em sua frente uma ótima possibilidade de se auto satisfazer com ele, que era novo, bonito, sarcástico e sedutor. A fantasia que elas tinham de pegar um professor lhe rendeu ótimas e saciáveis noites de prazer, não podia reclamar dessa parte.
  Dez e vinte e oito, “será que eu vou ter que passar o resto da noite debaixo dessa cama?” Callun já estava com medo de dormir ali mesmo, afinal ela tinha se arrumado às pressas e pego o primeiro voo pra San Francisco. Não parou em nenhum hotel, deixou esse trabalho para seu segurança, ele arrumaria tudo enquanto ela dava uma passada no “shopping”. Pior que dormir embaixo da cama de um desconhecido era ser pega debaixo da cama de um porque foi idiota o suficiente pra não conter um espirro, por isso não podia pensar em dormir, passaria a noite em claro até descobrir tudo o que queria e sair ilesa daquele local.
  O som diferente e estranho de um telefone fixo zumbiu por cima do barulho da televisão, foi estranho, pois apesar de todo o barulho podia se sentir um clima tenso e maçante se adentrar ali. Os corações dos dois pulsaram forte, por motivos diferentes, mas a tensão era maçante e inequívoca. Depois de três toques Joseph atendeu.
  - Joseph. – Começou. O cérebro de Callun alertou num e estalo, ela tinha que ouvir o outro lado da linha, seria mais que útil. Ligou seu ponto e sincronizou ao sistema, debatendo-se debaixo da maldita cama diminuindo a luz do pequeno projetor pra não chamar atenção do rapaz ao lado. Pronto, tinha conseguido programar-se a tempo.
  - Esta ligação é confidencial, para continua-la diga o seu numero de cadastro. – Indagou uma voz feminina que parecia ser computadorizada. Na verdade deveria ser mesmo, deixar a voz parecida com a de um robô dificultaria o conhecimento caso fossem cassados. Kaya estava tensa, não poderia estar mais perto de conseguir sua informação, e de brinde, se desse sorte não precisaria dormir debaixo de uma cama desconhecida espirrando loucamente.
  - 2-4-7-T-0-0-M-J. – Respondeu, deixando o outro lado da linha em silêncio por alguns segundos. Olhando outra vez por debaixo das colchas Kaya pode ver o telefone velho de cor bege em que Joseph falava, seus traços estavam levemente fechados, o que denunciava o seu nervoso.
  - Código aceito. – Kaya mordeu os lábios, já nervosa também. – Senhor Nickolas Joseph Caden, você tem uma mensagem de voz, aperte um para ouvi-la. Antes de discar o numero um esteja ciente que esta mensagem não se repetirá, então preste o máximo de atenção. – Avisou a voz robótica do outro lado da linha. Joseph pareceu não se importar, seja o que fosse ele prestaria atenção o máximo possível, então discou um e a mensagem começou a soar em seus ouvidos.
  - Olá, Joseph! Como vai o meu garotinho quase órfão?! – A voz masculina era fria e sarcástica, estava visivelmente se divertindo com a situação. – Bem, eu espero que esteja inteiro ainda... Ou não! Na verdade por mim você morria, MAS como nem tudo é como a gente quer eu tenho que esperar um pouco até conseguir o que eu quero! – Nojo, nojo, instantaneamente Kaya sentiu nojo do cara do outro lado da linha. – Se você for bonzinho e cumprir com o que prometeu eu posso lhe deixar em paz, mas se der um passo errado ou ousar me trair, nem você nem o seu pai irão sair vivos pra contar história! – Continuava com suas ameaças. Kaya por sua vez tinha desvendado outro mistério, diferente do que pensou Joseph não estava fazendo aquilo por vontade própria, estava sendo chantageado. – Espero por você e o MEU tão lindo e esperado código na festa de gala que estou produzindo no edifício Harner Garner numero oitenta localizada na segunda avenida principal daqui a dois dias. Esteja lá com o código, ou não esteja. –Fim de gravação. O rosto de Kaya ainda estava gélido, e ela continuava estática debaixo da cama, prendendo sua respiração, tentando ignorar a pontada no peito que recebeu. Ele estava sendo chantageado por alguém frio e calculista, ele tinha o código. O CODIGO! O som de objetos sendo quebrados e grunhidos altos e desenfreados lhe chamou de volta a terra. Caden jogava vasos contra a parede e gritava enraivado, aquilo deveria estar lhe corroendo, ficar sem seu pai e toda essa coisa, mas ela não poderia deixar aquele pensamento tomar-lhe conta, se deixasse seria sua ruina. Precisava lhe tomar o código e evitar que algo mais grave acontecesse.
  Joseph gritou mais algumas vezes então depois desligou a tv e ficou em silencio. Estava sofrendo, Kaya podia sentir o peso daquilo tudo tanto quanto ele, porque ela sabia o que significava. Arfou franco e fechou o cenho, esperaria até ele sair de alguma daquelas áreas, não demorou. Depois de alguns minutos em silêncios ela pode ouvir o som dos passos de Joseph se afastando, olhou mais uma vez sob a brecha e não o viu. O baque surdo da porta do banheiro se abrindo e fechando a fez ter certeza que poderia sair de debaixo da cama e em seguida do apartamento, e assim fez. O local arrumado agora estava diferente, bagunçado, denunciando a frustação de Nick, Kaya se pudesse faria o mesmo, pois estava igualmente assustada. Abriu a janela e pulou na escada, tomando cuidado pra não fazer barulho e engolindo o medo de altura. Respirou fundo e desceu, chegando ao final. Partiu correndo ignorando o vento gélido que a noite proporcionava, organizando todas as informações, começando a traçar um plano pra conseguir ter o que queria daqui a dois dias.

Capítujlo 15 - Pré-missão

  - Erin? – Callun perguntou antes de ligar o carro e sair do final da rua de Joseph. Ela precisava de outro favor de Erin, este seria mais sério. O seu primeiro toque foi atendido.
  - Kaya? – Erin ficou confusa, afinal Callun nunca lhe ligou duas vezes na mesma noite.
  - Sim, sim. Eu... Eu preciso de um favor, um grande favor. – Sua voz denunciava sua apreensão, estava nervosa.
  - Mas o que aconteceu garota, o que você fez. Você tá bem? Esse Caden ai fez alguma coisa com você? Kaya, me responde!
  - Não... Ainda não, mas não é o foco aqui. Ele não é exatamente o que eu pensava que era... Mas isso não importa, o que importa é que eu preciso de você, eu preciso MUITO de você, porque é a única pessoa em que eu confio. Por favor, Erin, eu te peço, diga que vai me ajudar! – Implorou.
  - Eu não sei cara... O que eu posso fazer? Você está me deixando preocupada, fala logo o que você precisa! – Apressou-a. Erin não tinha um bom pressentimento em relação ao que Kaya lhe pediria, mas tendia a pensar que iria ajuda-la.
  - Eu preciso que você saia dai agora, tome um avião pra Charlotte e pegue minha mãe. – Tomou ar pra continuar, Erin pode jurar que sua amiga estava tremida. – Fale com ela que eu preciso que vá com você. Explique que eu irei depois, e que eu não estou correndo perigo, é só uma precaução porque eu a amo mais que tudo em minha vida. É... Eu tenho uma casa na Austrália, ela é bem no centro de Perth, lá tem vários prédios então fica difícil de achar. Vocês não podem sair de lá em hipótese alguma, de jeito nenhum, você tá me ouvindo Erin, de jeito nenhum! – Callun estava borbulhando. Agora com seu carro em movimento, voltaria para o hotel.
  - Co... Continue. – Erin já saia do bar onde estava, havia acabado de pagar a conta e tomado o rumo de casa.
  - Eu estou entrando em algo muito perigoso Erin, tem a ver com todas nós. Eu não vou parar até conseguir o que eu quero e ficar em paz, mas vocês não podem ficar em perigo. Eu só tenho a vocês duas. – Kaya estava chorando? Era isso?
  - Kaya, por Deus. Eu já estou indo, vou pra casa agora! Não precisa me contar nada, eu sei... Eu vejo que você precisa fazer isso, e entendo, eu estou com você. – Falou do outro lado da linha.
  - Você não sabe o que isso significa pra mim, obrigada Erin, obrigada! – Kaya aumentou a velocidade, passando por dois sinais vermelhos simultaneamente. A essa altura ela não ligava pra esse tipo de coisa. – Eu vou depositar algum dinheiro em sua conta, e documentos novos. Eu quero que ligue para o Victor.
  - Quem é Victor? – Perguntou. Erin também já dirigia seu carro de volta pra casa. Ela era loira e avantajada, daquelas que tem uma boa coxa, bumbum e grande par de seios. A maioria das outras garotas tinha o biótipo magro, ela não. Seus pertences encaixavam no resto de seu corpo da maneira certa, sem exageros. Seu braço era fechado com tatuagens e ela vivia com maquiagens pesadas e batom escuro, era capaz de Juddie não gostar nada de ser levada a um lugar desconhecido sem sua filha, ainda mais se esse desconhecido fosse meio punk e adorasse tatuagens.
  - Victor é o meu treinador, ele conhece minha mãe e irá te ajudar. Ele te levará até seu amigo, então vocês poderão partir pra Perth tranquilamente sem perigo, ok? – Já estava no meio do caminho.
  - Ok, ele é gato?
  - Merda, Erin! Veja você mesmo se ele é ou não gato! – Revirou os olhos, arriscando dar um sorriso diante as lagrimas que já secavam em seu rosto.
  - Tá, eu só queria saber se essa seria minha gratificação. – Riu do outro lado da linha, talvez Erin tivesse bebido demais essa noite.
  - Não, sua gratificação é a vida que eu vou tentar te dar, te devolver. – Aos poucos ela estava voltando, precisava de forças pra continuar fazendo tudo aquilo.
  - Como assim, Smurf?! – Perguntou outra vez. Kaya podia ouvir o barulho do motor do carro velho de Erin, ela herdou de seu pai quando ele morreu num acidente de carro quando saia com um amigo. Desde então ela morou com sua mãe até os 18, mas era difícil, pois sua mãe odiava o fato dela ser mutante. Dois meses depois de fazer 18 ela teve uma visão retorcida ao acordar - suas visões eram claras quando mais nova, porem com a morte de seu pai elas começaram a ficar retorcidas. – ela viu sua mãe saindo. Ela estava brava. Ela não voltaria. Na semana seguinte aconteceu, sua mãe não voltou e ela ficou sozinha. Era como se fosse sina de todos os mutantes, ficar sozinhos.
  - Que inferno, Erin, não me chame de Smurf, sabe que eu odeio! – Fez careta, já estava perto de seu hotel. - Você entenderá daqui um tempo. Por favor, tome cuidado com minha mãe. Não fique bêbada, não magoe o Victor, e não morra! Eu tenho que ir agora. – Finalizou a ligação e liberou o ar preso em seus pulmões. Sua mãe estava salva por hora. Ninguém a pegaria e ela conseguiria tomar a droga do código e impedir toda a merda de acontecer.

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   e foram os primeiros a chegar à fundação. Calados, estáticos e de cara feia, nenhum disse nada, nada foi perguntado também. Foi mais ou menos assim, ouviu a conversa de com a mulher desconhecida e foi para o quarto da noite do dia passado. Ela queria simplesmente trucidar todos eles, ela queria se trucidar. A ideia de tomar um objeto pontudo e tacar no coração não parava de passar por sua cabeça. Entrou no banheiro e tomou um banho, um bom banho, esperando que este pudesse tirar de sua cabeça tudo o que tinha acabado de fazendo. Todo passava em sua cabeça como um CD, rodando e rodando e quando acabava ela lembrava de novo e sentia raiva de si mesma por ter caído em tentação. “ ?! Puff, é apenas besteira. Foi apenas uma coisa corporal, eu só estava precisando descarregar minhas energias em algo, ele é apenas uma coisa, uma coisa que não deve ser lembrada.” Pensou ao sair do banheiro e se dirigir a mala que ainda estava em cima da cama. Já de roupas intimas (inteiras, dessa vez) vestiu a única roupa que tinha ali, calça jeans escura, um casaco bege solto no corpo e seu coturno. No fundo da mala tinha uma touca preta, esta não era dela, mas usaria mesmo assim. Agradeceu ao fato das roupas cobrirem todo o seu corpo, impossibilitava os outros de verem as marcas que carregava.
  - ! – batia forte a porta, batidas sem ritmo. Ela suspirou, fechou a mala e foi até a porta, tentando não exprimir qualquer emoção. O ódio estava presente, ela se sentia um pouco usada, mas não podia reclamar, pois também usou, usou algo que não era seu. Abriu a porta. – O que aconteceu? – Tinha colocado uma calça pelo menos, estar arqueado a porta lhe fazendo perguntas não amenizava nada a situação. Estava confuso... E com raiva, talvez?
  - Me diga você, o que aconteceu? – Arqueou as sobrancelhas, emudecendo-o. Horas atrás eles eram íntimos e sabiam exatamente o que queriam um do outro, mas agora tudo tinha se dissipado, retrocediam ao momento das brigas.
  - Eu não sei! O que você acha que aconteceu? – Perguntou, separando-se da porta, parando estático em sua frente. Ela não estava nem ai.
  - Talvez possamos falar disso quando eu marcar uma hora com alguma de suas secretárias. Quem sabe elas não passam a ligação pra você daqui uma semana! Vou tentar não ligar num momento inoportuno, quando você está saindo da cama depois de um sexo brutal com uma vadia qualquer, por exemplo. – sabia ser dura, ainda mais quando se sentia deixada pra trás em alguma situação, tinha aprendido a revidar a altura desde cedo.
  - Mas que inferno, ! Você estava ouvindo? Era tudo besteira, só merda! – Rebateu com cara fechada, estava de braços cruzados em sua frente. – E isso é ciúme?
  - Eu não reconheço essa palavra, , - Chegou mais perto, instigando-o. – eu estou pouco me fodendo para as outras mulheres que você pega! Ninguém nunca disse que tínhamos uma trégua, ninguém! O que aconteceu ali foi só uma COISA! – Grifou verbalmente a palavra coisa. lhe olhava quase que fulminante. - Não vai acontecer de novo, porque você já teve o que queria e eu já fiz a burrada do dia, eu sempre faço uma. Você foi a burrada da vez, e eu, sua distração momentânea. Não seja burro, esqueça! – Terminou seu discurso, tinha as bochechas quentes de tanta raiva.
  - É, você foi uma ótima distração, se é assim que quer chamar o que fizemos. – Ele tomou sua cintura e puxou-a para o corredor, colocando-a contra a parede, intimidando-a com seu olhar. – Você me usa e depois me trata como lixo , não está nem ai pra mim, não está nem ai pra ninguém! Você é leve como um cavalo! Eu cansei de te aguentar enquanto me trata desse jeito. Você quer do jeito difícil, vai ser do jeito difícil, até aprender que agora você precisa de mim. Agora você precisa de mim, e vai ser doloroso pra você porque é orgulhosa demais pra pedir, mas não se preocupe, seu corpo fará esse trabalho. Vamos ver quanto tempo vai aguentar sem mim, minha ignorância e o meu corpo por perto, porque é disso que você precisa, ou acha que outro homem pode te dar o que eu te dou? – Arqueou as sobrancelhas e riu. – Nenhum. Nenhum nunca foi capaz de suprir os seus desejos e você sabe disso. Nenhum te desafia como eu faço. Nenhum nunca foi eu. E você odeia isso, pois sabe que é a verdade nua e crua. Você só está caindo e sabe o que tem lá embaixo? Fogo! E eu mal posso esperar pra queimar com você outra vez, sweetheart. - arfou, seus olhos arregalaram e seu corpo se retraiu. Devia ser porque era quase o triplo de seu tamanho, e tinha acabado de lhe deixar sem resposta. Saiu de sua frente e passou as mãos nos cabelos, estava visivelmente nervoso também. – Agora nós temos que ir, a Betty ligou, temos alguma coisa lá. – permanecia no mesmo lugar, tudo girava. – Pode descer, vou daqui a dez minutos. – E foi assim que e brigaram mais uma vez. Uma nova batalha entre os dois, outra vez. Ele não disse nenhuma mentira, ouvir era sempre foi mais difícil que falar, iria se empenhar pra fazer exatamente o que ele disse que faria.

  - ! – soltou a mala no chão e correu ao encontro da amiga no outro lado da sala. Ignorou todos que estavam lá, dando única e total atenção ao reencontro. – Você está uma merda, o que esse fez pra você hein? – Perguntou enquanto lhe abraçava forte. O corpo de logo reclamou, mas não quebrou o abraço, não merecia isso.
  - O que você acha que aquele estúpido fez? – Revirou os olhos com a cara fechada. – Ele me fez treinar até a morte, é uma espécie de psicopata! – Mentiu. Claro que mentiria, como se ela fosse chegar em e contar que estava um lixo desse jeito porque tinha transado selvagemente com ele? Até parece.
  - Ele devia pegar leve com você, parece que ele realmente te odeia, huh? – Deu uma olhada sobre os ombros, ele falava com Handcheen e Vincent do outro lado do cômodo extenso em que estavam. – Se quiser eu dou um jeito nele. Aprendi algumas lições esses dias. – Sussurrou.
  - Não... Eu não me importo de lutar, e digamos que eu chutei sua bunda algumas vezes. – Sorriu pra amiga, tinha que mudar o rumo da conversa. Logo. – Mas e ai, como foi lá? – Desconversou.
  - Ah, você sabe... Chutei muitas bundas também. – Riu, o ar tinha se renovado, finalmente. – Lá tem muito mutantes, o quíntuplo do que tem aqui, eu acho. Pra falar a verdade eu acho que boa parte dos daqui foi transferida pra lá. Eles vestem uniforme, ridículos uniformes cinzas. – Transpassou seus braços e começaram a caminhar. – E eu tenho a leve impressão que eles nos respeitam... Algo a ver com o círculo, eu acho.
  - Legal.
  - Outra coisa, o Andrey quase me mata de tanta... – arqueou as sobrancelhas e riu. – FOFURA! , você é podre!
  - Eu não, só que vocês dois estavam lá, deve ter rolado alguma oportunidade de ele ter quase te matado de outra coisa também, né?! – Perguntou como se fosse obvio. Decidiu parar de andar e conversar de costas pra os quatro caras logo à frente, (Fred acabara de chegar) tiraria sua atenção.
  - Claro, ele quase me matou dessas coisas também, mas depois eu entro em detalhes com você. – Parou e lhe analisou um pouco. – , você está diferente. – Diagnosticou.
  - Estou mesmo, dez vezes mais quebrada que antes. É uma grande diferença ! – Repreendeu-a. “Mudar de assunto, mudar de assunto!”, pedia.
  - Espere... Você estava totalmente sozinha em uma casa com aquele cara ali. – Olhou por cima dos ombros de . Ótimo homem, huh? Abriu um sorriso, um grande sorriso de quem desconfiava de nada. – Você... Como você aguentou? Você o viu sem camisa? Meu Deus, você o viu de cueca? E o seu pacote, huh! Anda , fala! Você não é de ferro que eu sei. – Pressionou-a, por que ela tinha ligado os fatos? Podia ser um pouco mais burra.
  - Aaah, ... Não acontec... – Começou.
  - Nem pense em mentir pra mim ! Fala ai, ele se insinuou pra você? Tentou te seduzir enquanto lutava? Isso é tão o tipo dele! Qual é , ele é estúpido, mas é gostoso! Nem precisa mentir pra mim, fala! – ficou de cara no chão, será possível que isso tinha saído da boca de ? Gostoso? Que furada!
  - Mas que inferno, ! – Agonizou-a por ser tão insistente e puxou-a pelo braço, dando alguns passos pra trás. Respirou fundo e confessou. – Nos beijamos. SÓ ISSO. – Não precisava contar tudo de uma vez, o que queria agora era acalmar sua amiga louca. cresceu os olhos num mix de “sério, vadia?” e “me conte tudo!”.
  - Tá de brincadeira! eu vou te socar cara, como não me conta uma coisa dessas!
  - O que eu estou fazendo agora é o que então, huh?! – Respondeu. Estava começando a sentir suas bochechas esquentarem.
  - Eu pensei que vocês dois se odiassem até a morte! – Parou a agitação e ficou estática em sua frente, estava pensando. – Puff, claro que não! Você o socou na frente de todos, e mesmo assim ele te deu um quarto com direito a acompanhante. Você fugiu do quarto com a acompanhante - apontou pra si mesma. – e tudo que ele fez quando te encontrou foi gritar com a gente e te segurar! É claro que ele não te odeia, eu que sou estupida!
  - ?
  - Sim!
  - Ele está logo ali, se quer fazer um discurso sobre isso me avise, eu pego o microfone e o palanque, querida! – Jogou os cabelos pra o lado, já tinha se arrependido de contar, mas ela saberia uma hora ou outra.
  - Ok, ok! Mas antes de acabar o assunto me diz, ele tem pegada ou isso tudo – Olhou pra trás de novo, não podia ser mais discreta. – é só fachada? – Insistente! insistente!
  - O que você acha? – Arqueou as sobrancelhas e lhe deu as costas, ia falar com Vicent, também sentia saudades dele. Pensou em desistir no meio do caminho, afinal ele estava distraído conversando com Andrey e . Mas só de ver sorrindo a vontade de ir passou, ela tiraria seu sorriso da boca agorinha. vingativa.
  - Hey, Vincent! – Fez questão de abrir um grande sorriso e gritar alto seu nome, fazendo-o olhar involuntariamente, assim como os outros. – Se esqueceu de mim, seu pedaço de merda?! – Perguntou brincando. Vincent foi ao seu encontro, os outros voltaram à conversa, menos . Observou disfarçadamente a cena. usava jeans claros e duas camisas, uma branca por baixo e outra maior e vermelha por cima, mais que notável. Vincent por sua vez era um cara despojado, usava bermuda verde escura e camiseta preta. Ele lhe abraçou e levantou, tirando seus pés do chão. – Senti sua falta. – Confessou. Ela olhou seca pra frente, lhe olhava de volta sem expressão alguma. Piscou e então ele já não estava lá.
  - Senti também. – Sorriu. O sorriso de Vincent era lindo, nunca teve um amigo homem, Vincent era o primeiro.
  - Como foi lá? – Ficou exatamente na frente de Daleven, não queria dar de cara com novamente.
  - Julgando que eu tive que aguentar presenciar o amor do Andrey e da a todo o momento, tirando os momentos que eles sumiam pra se pegar é claro e que eu aprendi vários truques de controles da minha “mão de raio”, foi legal sim. Pelo menos saímos do prédio. – Ponderou. Na sala onde estavam, havia um grande painel uma das paredes e vários computadores ao lado, alguém que não sabia quem era mexia neles. Havia também uma mesa grande de vidro, a decoração era de escritório, normal e chata. passou por eles como um flash, saindo da sala. Deve ter ido ao banheiro.
  - E você? Afinal você levou um tiro, não deve ter levado muitos tiros em sua vida. – Sentaram-se do lado direito da mesa, ponta mais distante.
  - Oh, Daleven, eu pensei que ela iria me tirar a vida! – Colocou a mão na testa e virou-a, encenando. – Vi a vida diante dos meus olhos! – Colocou a mão no peito agora. – Oh, pensei que era o meu fim! – Fechou os punhos e cerrou os olhos, então Vincent riu. Ela só era assim com ele, brincalhona e divertida, ele merecia ver essa parte dela.
  - Te compraria rosas brancas para o enterro, o que acha. – Deu uma muradinha em seus ombros.
  - Acho ótimo. Leve vermelhas também, combina comigo.
  - Tá, tá! Parou a brincadeira. O que aconteceu? O Frederick não me explicou direito. – Tomou uma postura mais séria.
  - Ah, foi muito louco e rápido. Nós estávamos atrás de vocês então eu percebi que estávamos sendo seguidos... Fomos pra uma rua distante, eles continuaram nos seguindo até pararmos e sairmos do carro armados, eles saíram também. Eu nunca vivi uma coisa tão filme como aquela, foi como um choque de realidade. – Mordeu os lábios inferiores, não gostava de lembrar-se do que tinha acontecido. – chutava o cara enquanto eu falava com a garota estranha...
  - Qual garota estranha? – Perguntou.
  - Eu não sei seu nome... Mas ela sabia bem o meu. Eu perguntei por que ela estava fazendo aquilo e ela me respondeu que era preciso, ou algo do tipo. Perguntei se ela morreria por aquilo, e ela disse sim. Quando vi eu já tinha atirado nela e recebido um tiro na perna. Depois disso foram só flashes até chegar na casa do estúpido ali. – Fez um bico. Vincent continuava sereno.
  - Eee... – Incentivou-a a continuar.
  - Eee ai que sua casa é linda, infelizmente. – Daleven riu, já tinha ido a sua casa uma vez com Handcheen. Ele havia dado uma festa e lhe convidaram, era mesmo uma bela casa.
  - É, eu sei. Já fui lá. – Contou. não ficou surpresa, sabia que eles já eram amigos antes de entrar pra Fundação.
  - Depois meu ferimento sarou, acho que é coisa do círculo. Segundo o Frederick, é. – suspirou. - Ele me treinou até a morte e me jogou no meio de cobras.
  - Wow, como é que é? – Ok, isso era surpresa.
  - É, tirando a parte em que eu subo em seu telhado, o seduzo pra conseguir uma arma, quebro seu computador e nos atracamos que nem loucos no corredor de cima. – WOW, isso ai sim que era surpresa. não brincava em serviço, huh? Daleven já ia tirar sarro de sua pessoa, mas todos entraram de uma vez na sala, interrompendo-os.
  - Quero que todos tomem um lugar à mesa. – Betty entrou no lugar junto a Frederick, , Handcheen, Frederick e por fim . No automático Daleven virou-se para Betty, ela lhe olhou de volta, mas foi rápido.
  - Ok, pare com isso agora Daleven, você parece um cachorro em busca de um osso, por favor, você é melhor que isso. – lhe deu um tapa no pescoço, não precisava ser tão obvio assim que estava gostando dela. – Se recomponha, nenhuma mulher quer namorar um cachorro, certo?! – Sussurrou. sentou ao seu lado, para sua alegria havia sentado bem longe.
  - Tá, tá. – Calou-se enquanto a grande tela em sua frente era ligada.
  - Hoje à tarde nós descobrimos algo sobre a outra organização. – Betty começou, tomando a atenção de todos. Betty usava conjunto social preto, e camisa branca por baixo, sapatos bico fino e cabelo preso, segurando uma prancheta. Daleven devia ter alguma fantasia sexual com mulheres executivas, só podia ser. – Na verdade o Tyler achou.
  - Quem é Tyler? – perguntou.
  - Eu sou Tyler. – Entrou, e todos olharam pra ele.
  - Grande coisa. – disse. Ele ignorou e fechou a porta, dirigindo-se até Betty. Tyler era o cientista. não gostava dele, toda vez que o via ele tentava alguma coisa contra ela. Ele era um pedaço de merda.
  - O Tyler estava pesquisando os sistemas de algumas empresas de San Francisco e descobriu algo suspeito num Buffet conhecido da cidade. – Na tela atrás dela apareceu a foto da faixada do local. – Eles tinham um movimento maior do que no resto do mês.
  - Tá, mas e dai? Eles não podem nem ganhar dinheiro em paz?! – contrabateu.
  - A garota que você matou trabalhava lá. – Tyler explicou. A imagem de Charlote apareceu na tela. – Charlote era gerente do lugar, gostava de gastronomia. – Charlote, como a cidade, só que com apenas um t. – Procuramos saber quem era o dono do lugar, mas nos registros não aparece o nome de ninguém, é muito suspeito. Colocamos um agente para sondar o local, uma das funcionarias deixou escapar que haverá uma festa importante em algum lugar da cidade, não sabia qual, nem quem era o dono. Pesquisamos mais um pouco por espaços em importantes prédios e tudo parecido, mas não havia nada suspeito. – Tyler mexia num tablet, Betty havia se sentado. – Então hoje tarde percebemos um movimento diferente na Segunda Avenida Principal. Investigamos e voilá. – Num clique um grande edifício monumental estava frente à tela, edifício Harner Garner.
  - Harner Ganer? – perguntou.
  - Isso ai, numero oitenta. – Betty respondeu.
  - Então haverá alguém importante lá? – Daleven perguntou, a intensão era ser respondido por Betty.
  - Achamos que sim, eles não dariam uma festa de gala atoa. – Ela respondeu.
  - Wow, festa de gala é? – perguntou também. revirou os olhos, estava pouco se fodendo pra festa de gala.
  - É, e advinha quem vai nessa festa de gala... – Betty sorriu, inteligente, eu diria.
  - Nós? – levantou as mãos e suspirou.
  - Vocês. – Confirmou. Alguém bateu a porta, então Tyler teve que sair.
  - Com licença, acho que já fiz meu trabalho aqui. – Ele disse, dirigindo-se novamente a porta.
  - Obrigada você, Tyler, tenha uma boa noite. – Ele se foi, então todos ficaram em silencio na sala, não tinha um porque, apenas esperavam alguma informação ou algo do tipo. Betty levantou. – Então, essa festa de gala acontecerá daqui a dois dias. Vamos organizar tudo logo de agora, eu já falei com a Monalisa, ela e alguns garotos irão com vocês.
  - Tá, mas você acha mesmo que eles irão nos deixar entrar? Nossos rostos devem ser marcados. – disse. Sua cabeça estava baixa, olhava para o chão.
  - Você não vai aparecer. – Ela informou. – Já temos tudo planejado.
  - Isso é tão impressionante e empolgante! Eu definitivamente quero matar alguém! – disse, rindo. Daleven lhe fuzilou com o olhar; isso lá são modos, garota?!
  - Tá, qual o plano então? – Handcheen abriu a boca pela primeira vez, ele era do tipo que observava e não falava muito.
  - Vocês meus caros, são o plano. Vocês fazem parte do círculo, e juntos são fortes, quase invencíveis. – Frederick se levantou, juntando-se a Betty no discurso.
  - Isso não me impediu de levar um tiro, não nos coloque num pedestal Fred. Nós não somos invencíveis coisa nenhuma, se fossemos não estaríamos aqui, não precisaríamos fazer o que fazemos. Não ser invencíveis e não ser perfeitos é exatamente o que nos faz bons, não jogue toda essa merda em nossa cabeça, não nos faça acreditar em mentiras, porque eu já estou cansada disso! – Fuzilou-o com o olhar, ninguém entendeu o porquê daquilo. lhe olhou uma única vez, depois continuou a ignora-la como antes.
  - Tudo bem, vocês são perfeitos, mas e dai?! Podem fazer isso, eu sei que podem! – Frederick continuou.
  - Mas que inferno, Frederick, não precisamos de mensagens de autoajuda! Você acha que todos nós não sabemos que podemos ser fuzilados a qualquer momento? Qual é, cada um aqui soube disso no exato momento que entrou. – Seu tom estava elevado, ela mordia os lábios e tinha certo descontrole na respiração. – Menos eu né, afinal toda vez que eu vou pra algum lugar estou desacordada! – Revirou os olhos e levantou-se. – Eu preciso de ar. – Saiu da sala, deixando todos sem saber o que estava acontecendo. Depois de um longo silêncio Betty tornou a falar.
  - , faça alguma coisa. Você a treinou deve saber o que se passa. Precisamos dela inteira, é importante. – Não precisou olhar em sua cara, ele levantou vagarosamente e partiu fechando a porta. Daleven olhou pra , era uma espécie de código, eles dois sabiam que havia algo. – Não podemos parar ok? Vou explicar o que faremos, depois vocês passam pra ela.
  - Ok. – Responderam em uníssono. Betty sentou-se ao lado de Frederick e de frente para os três. Daleven agradeceu a Deus por poder olhar tão perto para a ruiva.
  - Você irá entrar no lugar com o Daleven, e o Handcheen será o guarda costas. Só inicialmente. Ele controla a mente da pessoa que recebe os convidados e vocês entram. Depois ele fica em algum lugar escondido espionando-os. – Frederick falou, Vincent não tirava os olhos de Betty.
  - Ninguém vai desconfiar de termos um guarda costas? – perguntou.
  - Não, isso é normal. Pessoas da alta sociedade irão nesta festa. Pelos céus, é totalmente normal. – Betty subestimava as pessoas às vezes.
  - Eu já entendi que é normal. – rebateu.
  - Enfim, - Dalev soltou. – continuem.
  - Vocês, entram com a também, ia me esquecendo. Vai ser mais fácil pra ela, já que não vai estar com vestido e essas coisas que atrapalham. Ela será nossos olhos e ouvidos, ficará perto de pessoas suspeitas e tudo isso. – Betty olhava pra todos os lugares, menos pra Daleven em sua frente.
  - Quanto a ? - Handcheen questionou.
  - entra do jeito que ele quiser, aproveita e já mata alguns idiotas no caminho. Monalisa dará cobertura também com os garotos novos, do lado de fora. O intuito dessa invasão é conseguir informações, ver faces e exterminar o mandante disso tudo, se ele estiver lá. – Tomou uma caneta e começou a escrever algo. – Como eu disse antes vocês só irão conseguir se trabalharem bem em conjunto e encenar maior ainda, eles são espertos, não podemos subestimá-los.
  - Se fizéssemos isso nós é que seriamos burros. – Frederick disse, Beth virou-se pra ele e abriu um sorriso pequeno. Daleven estranhou.
  - É só isso? – Handcheen perguntou.
  - Não, amanhã vocês vão ensaiar o plano desde cedo. Então vão comer e dormir, vocês tem que ficar inteiros! – Repetiu. – Agora sim, é só isso. Eles saíram da sala, direto para o refeitório, estavam de fato morrendo de fome.

  - Faça o favor de me seguir. – passou a frente de no corredor, ela bebia agua. Estava virada de costas quando ele passou. estava borbulhando de raiva, porque seu disco ainda rodava naquela mesma musica, lembrando-lhe dos mesmos acontecimentos a cada segundo. Ela precisava descarregar sua raiva. O seguiu até o elevador, sem falar nada. Um do lado pro outro, ela sentiu um embrulho no estomago, havia certa possibilidade de ele a pegar ali. O beneficio da duvida lhe acompanhou enquanto subia, o elevador parou, ele não tentou nada. Apenas saiu do lugar, ela continuou o seguindo. Aquele andar era da sala de treinamento.
  - Por que me trouxe aqui? – Perguntou, amarga. Tinha os braços cruzados, já não andava mais.
  - Não lhe trouxe, você veio com suas próprias pernas. Eu estou lhe chamando, me seguir é uma escolha. – Podia se constatar que o humor dele também não era dos melhores. Ela permaneceu parada enquanto ele verificava a porta, dessa vez estava trancada. respirou e quebrou a maçaneta, estava virando graça.
  - Se você consegue fazer isso com tanta facilidade o que te faz pensar que os outros também podem?! – Perguntou.
  - Você pode? – Revidou a pergunta.
  - Obviamente não.
  - Então a resposta é: ninguém pode. Faça o favor de entrar. – Pediu, num fingido gesto de educação, então ela entrou e parou no meio da sala.
  - O que você quer? – tentou não lhe olhar nos olhos, mas era meio que inevitável.
  - É o seguinte, você está com raiva de mim que eu sei. Eu não dou a mínima pra isso, porem iremos fazer algo muito importante pra mim e para resto dessa organização daqui a alguns dias, você não pode estragar tudo só porque não aguenta olhar na minha cara. – Tirou a primeira camiseta vermelha. Ela segurou firme o olhar, não podia olhar pra baixo, não mesmo. Suspirou. – Então eu vou tentar ao máximo não focar em minha força e deixarei você me bater.
  - Que? Você tá de brincadeira não é? Ou acha mesmo que eu vou fazer isso? Qual graça de começar uma luta vencida?! Eu quero te trucidar ao meio, mas não faria isso sem merecer minha vitória. Pode não parecer, mas eu tenho princípios. – Indagou, caminhando rumo à porta. Ele lhe parou, como se já não soubesse.
  - Então se não se importa de eu lhe bater de volta...
  - Não seria justo, você é visivelmente mais forte que eu. – Explicou.
  - Qual é, , você nunca reclamou disso. – Empurrou-a pra trás.
  - Eu aceito, se você me prometer que não irá tentar nada. – Falou. Não queria se deixar levar por um desejo sexual no meio de uma luta. Estava cansada, mas podia se esforçar um pouco pra fazer aquilo acontecer, de fato.
  - Eu não preciso. – Ela pensou por um momento que ele tiraria a segunda camisa, mas não. Ele veio em cima. “Lembre-se , você é menor e mais rápida, essa é a sua vantagem!”.
  - Hurg! Tá! Eu preciso te bater! – vinha contando vantagem, lhe intimidando-a. lhe deu um soco forte na cara com o pé, e antes que pudesse revidar chutou seu queixo.
  - Nossa, ela é rebelde! – Ele disse, levantando-se como se nada houvesse acontecido.
  - Deixe de ser marica e me bata, eu sei muito bem que quer fazer isso tanto quanto eu. E enfia sua pena na bunda! – Um soco dele certeiro, um passo dela pra trás. Bateu outra vez e ela contra atacou, protegendo o rosto tentando outro murro. Ele colocou um dos joelhos no chão e segurou a mão que ela revidou impulsionando-a, deixando-a cair do outro pra trás de seu corpo como numa queda de braço. Em vez de ficar parada no chão ela fez uma volta e chutou a parte de trás do seu joelho fazendo-o cair. “Esqueça a tensão sexual, isso é diferente, vocês precisam disso agora. Agora!”, pensou. Num instante estava de pé, assim como .
  - Isso dói menos do que parece... – Sua toca já estava longe e seus cabelos estavam totalmente desarrumados.
  - Eu não perguntei. – Retrucou.
  - Não era com você, idiota! – Correu e bateu em seu tórax, ele colocou a mão no chão antes de cair, impulsionando-se de volta. Ela foi esperta o bastante para golpear seu braço e faze-lo perder o equilíbrio e voltar ao chão, mas ele não foi só, levou seu pé consigo, fazendo-a cair também. O ritmo era rápido, quase que não dava pra detectar os movimentos de ambos. levantou e ele foi atrás, segurando de frente a sua barriga, tentando lhe derrubar, então ela tomou forças no joelho e lhe socou duas vezes seguidas com dificuldade. Não era tão forte assim, uma hora seu corpo iria ceder, era fato. lhe impulsionou pra frente e no outro segundo lhe jogou para trás de seu corpo, deixando-a cair de frente no chão batendo a cabeça, fazendo uma careta de dor terrível. Ele não sentia aquilo, mas ela, de fato sentia.
  - Chega! Chega! Isso é estupidez! – Ele disse, virando-se pra frente, vendo caída no chão. Era realmente injusto, seu rosto tinha marcas, o corpo também deveria ter. Já não bastou o que fizeram logo cedo?! tinha que se controlar, mas era extremamente difícil com ao seu lado. Parou em sua frente, ela não conseguiria levantar. – Desculpe, você não precisa fazer isso, nem eu. Nenhum homem normal aguentaria brigar comigo nessa intensidade toda. Foi pouco, mas valeu. – Estendeu a mão para ela se levantar. Ela segurou-a e socou-o. Num baque percebeu que ela não estava tão mal assim.
  - É por isso que eu não sou um homem, . Vamos fazer um pouco do meu jeito. – Audaciosa. Sim, ela continuava forte e iria partir para o ataque agora mesmo, usando o fator surpresa para impressionar. Artes marciais, partes superiores, movimentos rápidos. Nisso ela boa. O deixou atacar e permaneceu apenas defendendo-se, até que cansasse, então revidou. Acertou sua carinha linda duas vezes seguidas e o deixou revidar de propósito, então o bloqueou e chutou seu peito, impulsionando-o pra trás. Não pode conter o sorriso com sua pequena conquista.
  - Não sou tão ruim assim, viu?! - Continuou a postos, então ele veio mais forte e impactante, ela lhe bloqueou com precisão, dessa vez ele fez o mesmo. Ao reproduzir outro golpe, ficaram próximos, e por um segundo seus olhos reluziram. Ambos grunhiram, desconectando-se. O local estava cheio de frustação e fúria, aquilo tinha que se dissipar. – Mas que merda, cara! – Correu contra ele, que tomou sua mão e rodou-a num ângulo de 180º graus e tomou soltou. Mesmo com o impacto ela conseguiu ficar em pé, porem quase batia contra na outra parede, foi por pouco. Revirou os olhos e deixou que seus pés a levassem de volta até , depois disso foi estranho. Ela batia ele revidava e bloqueava. Como uma dança ensaiada nenhum dos dois se machucava. Depois de algum tempo onde ambos buscavam brechas pra atacar os dois fecharam o cenho num desespero constrangedor.
  - Isso está sendo... – Ele disse, quando se separaram.
  - Assustador. – Ela terminou ofegante. Queria saber o que era aquilo que acontecia com os dois. – Parece totalmente...
  - Sincronizado. – Ele completou, levantando as sobrancelhas. Com certeza não havia usado nem um pouco do quarto de sua força, mas mesmo assim continuava sendo estranho.
  - Inferno, não termine minha frase! – o repreendeu, colocando a mãos nos joelhos. Seu rosto estava gélido e seus batimentos totalmente acelerados.
  - Você também terminou a minha. – Defendeu-se, catando a camiseta vermelha num canto afastado de onde estavam.
  - Eu continuo com raiva. – Ela confessou, então respirou fundo. Uma fraqueza começou a querer tomar seu corpo, mas ela a repreendeu, não podia cair depois de um show de horrores desses.
  - Eu também. – não queria, mas só de ver toda machucada tentando se recuperar... ah, foi o bastante para sentir raiva de si mesmo outra vez, parecia que ele só sabia errar! “O que deu em minha cabeça pra bater em uma mulher?” Ok, bater em uma mulher estava longe de ser um problema, o problema foi ter o despeite de fazê-lo com a mulher que há horas atrás tinha realizado seus sonhos e lhe levado ao paraíso. Não lhe parecia justo.
  - Isso é louco, eu me sinto sedada... Como se eu fosse uma maquina. Como se precisasse recarregar. – Arregalou os olhos. notou que sua mão fazia a mesma coisa da vez do elevador, então foi até onde estava.
  - Você definitivamente precisa disso, não é sempre que se empata uma luta com . – Ironizou, era o que mais sabia fazer.
  - Eu vou deixar essa passar só porque não estou em condições físicas e mentais pra responder, agradeça aos céus. Agora tchau, eu descarrego o resto da minha raiva de você outro dia. – Partiu andando em passos curtos até a porta, lhe olhava do outro lado. Dessa vez ela estava realmente mal, mas o orgulho era tanto... O fato de ela continuar de cabeça erguida era de ser admirado, afinal não tinha porque de sair de cabeça baixa, nenhum dos dois ganhou, pois tudo foi terrivelmente sincronizado. Ela partia no corredor quando ouviu os passos dele em seu calcanhar. Mais rápidos, e rápidos até lhe alcançar e segurar sua mão e passa-la sob seu pescoço e tomar suas coxas, sem esforço algum. Levantando-lhe e colocando em seu colo.
  - Eu continuo lhe odiando, que fique claro, mas não posso deixar um dos meus sair machucado sem ajudar, sabe como é né, coisas do círculo. – Caminhou em direção ao elevador. não disse nada, apenas não queria precisar disso. Pararam em seu andar, dando de cara com o corredor. lutava pra não adormecer em seu colo, seria demais pra sua mente quando acordasse, não admitiria. Piscou uma vez e viu portas e um lindo corredor. Piscou outra vez e viu uma coisa grande e branca em sua frente. Outra vez e então viu luzes baixas e sua cama, por ultimo sentiu-a. A última voz que ouviu foi de , então caiu no sono que tanto precisava.
  - O que você fez com ela?! – saiu do banheiro de toalha. tinha acabado de por na cama.
  - A pergunta é: O que ela fez comigo. – Rebateu, revirando os olhos. Colocou as mãos no bolso.
  - E a resposta é... – segurava uma escova, seu cabeço estava molhado.
  - Ela me bateu. – Confessou, em meio a um riso sem graça. cruzou os braços.
  - Por quê?
  - Raiva desenfreada. – Verídico, era exatamente o que ela sentia.
  - Filho da puta, você a bateu de volta? – Fez uma careta, se ele tivesse feito...
  - Está tão na cara assim?! – Partiu para o lado de fora, deixando-a sem o poder de resposta.

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  - Menswear para senhor Caden. – O entregador falou, sem bater à porta, assim como foi pedido. Joseph havia pedido o terno de ultima hora para a ocasião especial. Abriu a porta.
  - Oi, boa noite. – Joseph não conseguia nem fingir um sorriso, tudo que conseguia pensar era em seu pai. Seu rosto estava cansado, deveria estar morrendo de sono. O entregador lhe entregou o terno, porem ele não o recebeu. – Abra. – Mandou. Nunca se sabe quando um louco manda um suicida até sua casa com um terno e tenta lhe matar com algum tipo novo de bomba, não é mesmo?! O cara parecia um zumbi, mas não era pra menos, era quase duas horas da madrugada. Ele obedeceu. O terno preto de marca que acompanhava uma camisa social vinho estava em perfeita ordem.
  - Tudo em ordem senhor Caden. – Falou, cocando o olho. Nick tomou o terno de suas mãos e tateou os bolsos. Ele merecia uma gorjeta, afinal, era tão tarde para uma entrega, ainda mais naquele lugar.
  - Não me chame de senhor da próxima vez, - Deu de ombros. – eu ainda sou novo demais para ser chamado assim. – O entregador consentiu, entregando-lhe a nota do produto. – Tome, - Estendeu-lhe 200 dólares, deixando meio estático, fazendo-o arreganhar os olhos em surpresa. – eu aconselho que guarde direitinho isso ai, ou te tomarão num segundo. Aqui é... Perigoso. Agora vá. – Coitado do cara, antes de ter chances de agradecer já via a porta em sua cara. – Entregadores... – Joseph usava óculos. Óculos lhe dava um toque mais doce e genuíno, mas era só dentro de casa, não gostava de ter essa postura na frente de outras pessoas. Como se tivesse desarmado.
  Foi até seu “quarto” e pendurou a peça num pino de aço que tinha na parede. Olhou pra cama, ela lhe chamava. Implorava para que se jogasse e aproveitasse o resto da noite e emendasse até a próxima tarde, mas isso era apenas uma utopia. Não podia parar o seu trabalho, faltava pouco para os últimos detalhes do código para serem acertados. Faria isso por seu pai, desde que ele foi preso era como se algo lhe faltasse. Sempre foi muito apegado com seu velho, ele sempre foi seu porto seguro, mesmo não tendo o mesmo sangue correndo nas veias. O que mais amava sobre seu pai era sua fidelidade e bondade. Não podia esquecer os seus momentos difíceis. Não era fácil, mas toda vez que via seu pai chegava em casa são e salvo, era como se recebesse um novo recomeço.
  Nickolas era praticamente um ratinho ambulante abandonado que vivia nas ruas do subúrbio de Nova York. Lembrava-se bem de sua mãe, ela era uma ótima mulher e lhe criou muito bem, apesar de ser mãe solteira.
  17 anos atrás, Joseph segurava a mão de sua mãe. Voltavam de um pequeno mercado que ficava no fim da rua. Era fim de mês e ela havia lhe prometido que caso conseguisse passar todo o mês sem procurar briga com os garotos de sua turma ele poderia lhe acompanhar nas compras e escolher um tipo de comida para fazerem juntos. Sua mãe trabalhava em tempo integral numa fabrica fora dos perímetros da cidade, ele passava o dia no colégio até as três, depois voltava pra casa na companhia da vizinha. Só tinha tempo de vê-la à noite, mas sempre estava cansado demais para poder conversar. Era realmente difícil.
  - Joshep, o que acha de batatas? – Ela perguntou-o, enquanto tomava uma sacola plástica e colocava meia dúzia de batatas dentro para serem pesadas.
  - Gosto de batatas... –Joseph respondeu. Estava ao seu lado, observando como a balança trabalhava. – O que podemos fazer com batatas?! – Perguntou. Tinha acabado com a balança, ela lhe deu a sacola para que segurasse, também era prestativo. Partiram para o outro corredor. O lugar já estava para fechar, seu bairro era perigoso demais um comércio se dar o luxo de permanecer aberto depois das oito e meia.
  - Hmm... Podemos fazer muitas coisas com batatas, incluindo fazer uma carinha em todas elas e coloca-las para brigar entre si. – Brincou. Arqueou-se para pegar um vidro de ervilhas mais a cima, estavam quase terminando.
  - Parece legal! – Sorriu. Joseph quase não sorria, pois nunca de fato estava feliz, a não ser é claro quando sua mãe estava ao seu lado. Passou sua frente e apontou para parte superior de uma das prateleiras. – Podemos? - Perguntou. Nickolas era bastante inteligente e compreensivo, sabia que às vezes não era possível comprar certa coisa que queria. Isso eventualmente acontecia de vez em quando, então já estava acostumado com a ideia.
  - Acho que podemos dessa vez... Acho que podemos duas vezes! – Tomou dois biscoitos do lugar, ela lutava para dar-lhe o que merecia, fazia esforços. O biscoito foi apenas mais um deles, não importava o quanto iria custar, o importante era ver o sorriso do garoto se ascender depois de descobrir que levaria dois pacotes de biscoitos achocolatados para casa.
  - Obrigada mãe! – Falou, tomando a mão que lhe sobrava. Um pequeno garoto com camiseta simples branca, jeans surrados e sandália em fiapos. Usava óculos, tinha ganhando-o a mais ou menos seis meses atrás. Levou quase metade de suas economias, afinal, naquele tempo não era fácil conseguir uma consulta seguida de um óculos assim tão fácil. Eles cobravam alto, e pode ter certeza, valia os olhos da cara.
  - De nada meu amor, agora temos que ir. – Dirigiu-se ao caixa, só restavam eles dois e a caixa no local. O casal que havia entrado assim que chegaram havia acabado de sair e o senhor velho também já havia comprado seu maldito cigarro e se mandado. Na televisão redonda e pequena instalada na parede passava um jornal. Passar jornais ao invés de algum clipe R&B, Soul ou Hip Hop num canal de TV era pedir para seu ibope fosse parar no chão na época. Sua mãe colocou a mãos em suas costas e massageou-as, fazia frio no dia.
  - Pode passar Portman. – Autorizou para a mulher do caixa. Portman era morena e parecia levemente mal humorada, o que não era legal, pensou a mãe de Joseph. Ninguém que tenha um negócio próprio, onde se possa ganhar seu sustento sem tanto esforço em tempos difíceis desses, com tantos surtos de violência onde não se pode confiar em ninguém, - até mesmo para trabalhar – pode reclamar ou ficar de cara feia. Ainda mais para clientes. Portman olhava os preços de cada alimento de um por um, vagorosamente, o que irritou levemente a mulher que acabava de chegar cansada do trabalho de toda a semana.
  - Você quer algum doce, Joseph? – Ela perguntou, distanciando-se um pouco de seu corpo para que ele não precisasse levantar tanto o pescoço para olha-la.
  - Estou bem, mãe! – Respondeu. A mulher realmente não sabia como uma criança de apenas sete anos podia ser tão calma e compreensiva como Joseph. Ele era o seu orgulho, sua vida.
  Enquanto a mulher somava os valores dos alimentos o sino da porta de vidro da frente se abriu, dando certo susto em ambas. Um jovem de aparentemente vinte e poucos anos entrou no local. Ele não era mal encarado nem nada, mas era difícil não sentir algum pavor diante aquela situação. Ele vestia uniforme de basquetes na cor branca e vermelha, sapatos brancos e faixa vermelha em sua cabeça raspada, era normal naquele tempo o fato que garotos mais velhos continuavam frequentando o colégio apesar de não passar de ano consecutivamente. Pelo menos os caras do basquete, eram eles que poderiam vir a ter um “futuro” na vida, praticando o esporte mais falado do momento. Quase não passou a porta de tão alto que era. Quando ele entrou a mãe institivamente segurou no braço do filho, trazendo-o para mais perto, respirando fundo ela tentava se consolar que aquilo era normal, e que nada ia acontecer. O tal não tão bem encarado virou-se para Portman e perguntou:
  - Onde ficam as bebidas?
  - No fundo, depois da ultima prateleira. – Informou, tentando soar firme, voltando a fazer seus cálculos.
  - Você o conhece? – A mulher sussurrou meio assustada.
  - Nunca vi mais alto em minha vida, mas não deve ser perigoso... Veja, ele não tem cara de traficante, está na escola. – Respondeu, foi um bom argumento. Joseph como não era lerdo sacou que sua mãe estava insegura sobre alguma coisa. Vê-la insegura deixava-o levemente inseguro também.
  - Tem razão, desculpe. – Respondeu por ultimo. Após alguns segundos o cara voltou ao caixa com duas garrafas de energéticos e três pacotes de salgadinhos na mão. Permaneceu parado na “fila” caladão e permaneceria do mesmo jeito se um cara mal encarado não tivesse entrado ali tão rápido quanto um raio deixando todos surpresos e estagnados.
  - Eu te achei seu filho da puta! Agora você não me escapa outra vez! – Gritou com o cara atrás a mãe do garoto, esta por sua vez tentava dar alguns passos para afastar-se caso alguma coisa acontecesse, o que era totalmente premeditado, mas não havia espaço e tempo para isso. Apenas colocou Joseph atrás de si e pôs-se a implorar a Deus para que nada viesse a acontecer. A mulher do caixa de morena já estava branca, assim que Joseph viu a arma na mão do homem uma estranha dor tomou seu coração.
  - Calma aí, cara, calma! Eu não sei do que você tá falando! – Falou, numa calma totalmente fingida. O cara tinha olhos arregalados e vermelhos, devia ter se drogado, o que já estava virando normal naquele tempo. Parecia sujo e estava extremamente enraivado e fora de controle.
  - Vocês dois podem resolver isso em outro lugar, por favor?! – Portman perguntou, engolindo a seco. Joseph já sabia o que estava acontecendo, queria chorar, mas se segurou por sua mãe. O cara virou-se para Portman.
  - Vadia ridícula, você falou comigo? – Ele literalmente cuspiu as palavras. – Eu acerto minhas contas com as pessoas que me devem onde eu quiser. Você não é ninguém para me dizer o que fazer, vá tentar fazer isso no inferno! – Atirou contra seu peito, foi preciso na pontaria, apesar de que não tinha como errar, ele estava à pouquíssima distância. O corpo de Portman caiu no chão instantaneamente, o sangue jorrava em parar, ela já não tinha vida. Joseph começou a chorar baixinho e sua mãe se encontrou num estado de pânico, não podia sair com seu filho porque eles estavam tomando a frente da porta e não podia falar para não ser morta. Apenas se calou e agarrou forte os ombros do seu pequeno por detrás de seu corpo, se desse sorte podia vir a permanecer viva. – E você, filho da puta, onde é que tá seu pai? Aquele desgraçado! Ele me roubou! Eu quero meu dinheiro e minha maconha de volta seu imprestável! – O garoto não devia assimilar o que estava acontecia, tinha os olhos fechados sobre os óculos agora molhados. O cara, que antes estava aparentemente tranquilo e despreocupado agora tinha a mãos acima, rendendo-se a qualquer que fosse a coisa e deixando as garrafas se partirem ao chão num barulho tão assustador quanto aquela cena.
  - Eu não sei, ele fugiu! Ele fugiu! Faz quinze dias cara, por favor... Eu não sei dele, eu juro! – Implorou. ”Autocontrole e sabedoria para proteger meu filho, eu peço. Eu imploro.” A mãe do garoto pensava, tentando conter suas lagrimas e não olhar diretamente na cara do homem mal encarado que segurava um revolver velho a sua frente.
  - Ele foi tão frouxo e sem caráter que fugiu como um cachorro e deixou sua família. Um verdadeiro merda! Eu tenho pena de você... – Disparou entredentes, ele era tão sujo e baixo. Nick abriu os olhos e olhou por detrás da roupa da mãe, determinado a gravar sua face.
  - Eu que tenho pena de você! Se olhe, você está apontando uma arma para minha cabeça, não deve se lembrar do que é ter uma vida de verdade! Pelo menos eu tenho família! – Este rapaz está louco? Só pode! Pra ameaçar um ser que tem uma arma mirada para sua cabeça?! O cara riu tanto da audácia do outro que a arma chegou a balançar de sua mão.
  - De que vale ter uma família baixa como a sua? Sua mãe é quase uma prostituta que eu sei, seu pai é um salafrário, você... Você é um perdido! – Por um instante a mulher que tinha as pernas bambas desejou que o rapaz tomasse uma atitude e tentasse se livrar daquele homem com sua arma, mas nada aconteceu. As palavras estavam lhe afetando, porque sabia que era verdade. – Eu só tenho uma coisa para te dizer, filhote de desgraçado. Prepare um lugar no inferno para seu pai, e quando ele chegar lá diga que ele já pagou a conta! – Então ele fez. Atirou contra o rapaz, sem lhe dar ao menos o direito de uma ultima frase, sem ter piedade. O uniforme branco agora estava mergulhado num vermelho morto vivo insano. O som do tiro deu um arrepio nas ultimas vitimas do local, ela gritou ao ver de perto um duplo assassinato acontecer. Ela empurrou Joseph para trás então ele entendeu o recado, se esconder atrás do balcão. Ele correu e se escondeu, ficou lá encolhidinho, soluçando baixo perto do corpo de Portman, lhe deu náuseas, mas ignorou o fato.
  - Por favor... Eu, eu imploro, eu não digo a ninguém... Eu juro! – Ela implorou, dando passos para trás, pisando em na poça formada pelo sangue do jovem rapaz agora morto. Que se danasse o orgulho e tudo isso, ela precisava ficar viva pelo seu filho, ELE era sua vida. Ela chorava e soluçava, quase não conseguia respirar, devia ser o cheiro de morte agora impregnado aqui lhe chamando. O cara lhe olhou de cima a baixo, ela o repugnou.
  - Você, minha cara... É linda, e jovem, mas infelizmente está no lugar errado e na hora errada. Poderia ser algo mais proveitoso que uma mera testemunha morta no chão de uma quitanda fuleira num fim de noite, mas veja como a vida é injusta! Todo seu destino mudou num piscar de olhos só por causa do erro de alguém que nem lhe conhecia... Vá com Deus, ou não. – Deu um risinho maléfico e apertou o gatilho duas vezes contra seu peito. Foi esse o fim para Nickolas Joseph e sua mãe, não haveria mais futuro para ambos. O canalha partiu, então Nick, percebendo que ele tinha saído correndo do local correu para fora do esconderijo e deu de cara com sua mãe sentada no chão, arfando e respirando ainda fraco. Ele não conseguia conter as lagrimas e o desespero, o sangue jorrava por toda a parte, três corpos jogados no chão em sua frente, era o circo dos horrores.
  - Mãe... Mãããe! Mamãe, acorde! Mãe, você não pode dormir, lembra?! Sou eu... – Ele soluçava, segurando seu rosto com suas mãos pequenas. – Eu que durmo primeiro! Não! Não, eu te peço, não meu deixe aqui sozinho de novo! Eu prometo o que a senhora quiser, mas não! –Ele estava sujo de sangue por toda a parte, e mal sabia, mas sua mãe já havia partido, sem lhe dar um ultimo adeus também. O som estridente de viaturas policiais ecoou sobre seu eu totalmente em pânico e desnorteado por ver seu único bem ser tomado de suas mãos. Vozes masculinas, tensão e uma mão que lhe puxou e tomou-lhe no colo reconfortando e tirando-lhe daquele vazio. A mão que o segurou firme nesse dia e firmou-lhe e deu conforto continuou fazendo até hoje, até que ele também lhe fora tomado, e isso... Isso Joseph não admitiria. Teria seu pai de volta, ou morreria.

Capítulo 16 - Festa

  - Eu morreria nessa droga de lugar sem saber que eles possuem um deposito de roupas! – confessou enquanto eu empurrava a grande porta do depósito para que entrássemos. Ela terá que ir de vestido de gala para festa segundo o que me disse.
  Já são quase duas horas da tarde e eu estou lutando para não me esforçar, não é justo com os outros estar fadada num momento tão importante, mas a noite passada... Merda! Eu apenas tinha a lembrança da merda de um borrão em minha mente. Lembro-me de lutar com retardado mental do e cair de costas no chão uma par de vezes, o que foi normal, afinal, quem em sã consciência aceitaria lutar com alguém visivelmente avantajado fisicamente, ainda mais sem propósito questionável? Isso ai, eu, claro! Eu não estava nem ai para meus hematomas, nem para os que eu já possuía nem para os que eu ganhei, o que me moveu foi o motivo, a raiva. Ficar perto de é insano demais pra mim, mas consequentemente, mesmo que não queira eu simplesmente não consigo ficar longe, só o pensamento já me transtorna.
  A tarde passada foi uma das mais loucas da minha vida, e olha que eu já tenho bastante história pra contar... Nós transamos, mas não era só isso que me incomoda. Quer dizer, incomoda o fato de eu ter feito, porque o ato em si, eu posso negar para o resto do mundo que o odeio e tudo isso, mas para mim mesma, secretamente, posso me dar o luxo de dizer sem pestanejar que foi o melhor sexo da minha vida. É meio estranho, parece exagero até para mim que já tive bastante disso também, mas fazer um sexo brutal (literalmente), sem precisar manter o autocontrole com foi uma experiência e tanto. Coitada da escala Richter, não representou nem um pouco da onde podia chegar o nosso fogo, fogo esse que eu nem sabia que tinha, odeio isso também. Odeio porque ainda é tarde e meu corpo está desesperadamente pedindo por mais, e o fato de eu sentir pequenos choques eletromagnéticos só de pensar em estar perto daquela criatura outra vez me irrita! Por mas ele que grite, implore, meu corpo não chega mais perto do dele de jeito nenhum! É verdade, eu estava meio que precisada de alguma “atenção” sexualmente falando... E tudo que ele me deu foi mais do que eu precisava, bem mais!
  Merda, eu nunca estive com um mutante antes, mas tenho a sensação que mesmo que se estivesse com outro ou coisa parecida, não seria a mesma coisa, por que NÃO-ERA-ELE! Isso é uma puta de uma frustação, tudo que eu consigo lembrar é de seu cheiro, e instantaneamente flashes dos acontecimentos. Eu pensei que era insana, mas depois do que está acontecendo ao meu redor, agora sim, eu estou conhecendo com intimidade o que realmente é insanidade.
  - Que? – Perguntei retoricamente, estava ocupada demais com meus pensamentos para ficar ouvindo a falar e falar sobre a tal roupa que ela iria usar. Havia uma mesa antiga e empoeirada bem distante, caminhei até lá e sentei em cima.
  - , nós estamos praticamente num thrift shop, sem ter que pagar um centavo, nos preparando para uma festa de gala e tudo o que tem a dizer é “que?”? Nossa, como você está no clima! – Suspirou e saiu andando em direção as inúmeras araras cheias de roupas que havia no lugar. Também suspirei, de novo! Eu estou fazendo isso demais hoje. Fitei meu all star preto por alguns segundos, tentando me lembrar da ultima noite já que não tive coragem para perguntar a , muito menos tempo.
  Pela manhã, nós produzimos o esquema de invasão da festa com todos os envolvidos, e adivinhe, não olhou na minha cara uma única vez. Era meio diferente, ele não estava me repudiando ou ignorando, foi apenas como não fizesse diferença nenhuma eu estar ou não lá. Ficou indiferente, produzindo o plano com facilidade, cheio de ideias inteligentes e negligentes. Tá, tá... Eu sei que disse um monte de coisas, coisas essas que não deve ser legais de serem ouvidas, mas essa era a minha defesa, o que poderia fazer?! E agora eu estou sendo tratada como nada de uma hora pra outra, isso que me irrita, a facilidade que ele tem de me ignorar.
  - , você sabe o que aconteceu ontem à noite? – Perguntei alto para que ela pudesse me ouvir.
  - Ah, ontem à noite... Ontem aconteceram várias coisas na vida de várias pessoas, tente ser mais especifica. – Revirei os olhos e virei-me para a mesa suja, sentindo uma vontade sórdida de me deitar lá, porem me controlei.
  - Eu quis dizer ontem à noite no nosso quarto, eu mal me lembro de como fui parar lá... – Expliquei, como se ela já não soubesse. Fitei meus sapatos outra vez, cadarços desamarrados. Coloquei o pé na mesa e amarrei-os vagarosamente, levantando dela num pulo, espreguiçando-me.
  - Aaaah, sim, claro... Você e se beijando loucamente, então eu entro no quarto e bum! Pego vocês no flagra. – Até arrisquei rir de sua piada. Decidi passear um pouco entre as roupas, vai que curtia algo ali no meio.
  - Sério , sério! – Insisti, passando por uma arrara de calças, todas coloridas, eca. Estava a dois corredores do dela, caminhei praticamente de olhos fechados por conta do sono que ainda sento. Também sento algumas dores musculares, o que não é de se impressionar, depois de todos os meus esforços não haveria círculo no mundo para tirar minha dor, pelo menos não toda ela.
  - Tá ok, mas você tem que me contar o que aconteceu entre você e ele, como me prometeu. – Ouvi sua voz mais longe e arfei.
  - Tá, mas me conte você primeiro, porque quando eu começar a contar minha parte a ultima coisa que você irá querer é contar a sua. – Achei um óculos aviador jogado num lugar mais escuro, tomei-o e coloquei-o, dessa vez decidida a achar para ouvir sua história cara a cara.
  - Então, eu estava tomando banho e ouvi a porta abrir... Não, não! – Se distraiu, deve ter visto alguma peça legal, pra variar. – Estava penteando os cabelos e ouvi a porta abrir, quando sai do banheiro vi o te colocando na cama e te cobrindo. E eu fiquei tipo, “que porra é essa?!”, mas depois relaxei... Se eu não soubesse de parte do acontecido tinha ficado de queixo no chão. – Pensei em parar de andar por um momento, ela não precisava ver minhas feições envergonhadas, mas continuei seguindo sua voz. Que se dane!
  - Continue! – Pedi, um pouco mais grossa que o normal.
  - Eu perguntei o que tinha feito com você, dai ele desconversou e perguntou: “o que ela fez comigo, você quis dizer” com aquela voz, quase que eu gelo. – Ela também gelava? Que saco! Continuei seguindo-a, já estava perto. – Daí eu falei “o que ela fez com você?” e ele respondeu que você tinha chutado sua bunda, eu perguntei se ele tinha feito o mesmo, então ele disse: “o que você acha?” e foi embora. – Quando ela terminou eu estava em sua frente. Respirei fundo, já é minha amiga a um bom tempo, não é justo esconder tudo dela, já que tudo que se passa em sua vida eu estou por dentro.
  - Pelo menos ele não me deixou no meio do corredor caída no chão, não é?! – Ironizei forçando um sorriso, ela não parou de mexer nas malditas roupas, apenas me fuzilou e voltou para onde estava. – ...
  - Hun... – lerda.
  - Tem algo bem maior do que você pensa acontecendo. – Falei meio incerta olhando para o chão, tomei sua atenção dessa vez. – Eu... eu nem sei o que é, mas digamos que eu possua uma merda de forte atração sexual pelo , e que apesar de sua demência eu não... O que eu quero dizer é que... Que... – Eu simplesmente não consigo falar isso em voz alta, é assombroso, mas o olhar de sobre mim é intenso demais e eu tenho plena certeza que não conseguirei sair daqui até falar. - Nós transamos. – deixou o short que segurava cair, me olhou totalmente assombrada. O que eu podia fazer? Merda! – ... Não foi planejado, não foi... eu juro. Foi só algo carnal, eu não... sinto nada. Mas tipo, quando eu vi nós já tínhamos feito e estamos prestes a fazer de novo e de novo e eu simplesmente não queria parar! Você sabe como é essa coisa de fazer sexo com alguém da sua raça? É a melhor coisa do mundo! E ainda mais com alguém do círculo também, eu estava precisada há algum tempo, e você sabe, estava virando um poço de frustação sexual! – Desabafei, pronto, menos um peso em minhas costas!
  - ... – Ok, eu não imaginava que ela ficaria assim, tão estática sobre o ocorrido, paralisada. – Você é muito vaca, ! Muito vaca! Como eu vou me concentrar em escolher meu vestido depois que você simplesmente me solta que teve um sexo incrível com o nosso chefe gostoso?! – Revirou os olhos. Ela realmente estava reclamando por que eu atrapalhei a escolha de seu vestido sendo que ela quase me implorou para que contasse?! Minha boca permaneceu entreaberta, esperando uma reação própria de resposta.
  - Eu não sei! Você que me pediu pra te contar, mas se quiser eu não falo mais nada sobre mim, né! – Revidei.
  - Não seja idiota! Vai falando que eu to seguindo a linha do pensamento. – Passou pelo short no chão, eu fiz careta, peguei-o e a segui.
  - Qual linha de pensamento ? Eu não tenho mais nada pra te falar. – Suspirei, tirando os óculos. Ela estava indo a “sessão” de vestidos.
  - Não tem uma merda, me fala logo! Melhor, eu pergunto você responde. – Já havíamos chegado à arara cheias de vestidos lindos, eu particularmente demoraria um pouco pra escolher um, mas era , ela seria rápida.
  - Tudo bem... – Me encostei na bendita arara enquanto ela procurava algo legal. Tirou um vestido verde escuro que ia até os pés e colocou sob o corpo, fiz careta. Não combinava com o seu cabelo curto, ela colocou-o no lugar novamente.
  - Então... Como foi que isso aconteceu? – Puxou outro, marrom, até os joelhos, tinha costas nuas.
  - Esse não. – Opinei. – Na verdade nós estávamos brigando, brigando feio... – Arqueei as sobrancelhas e me endureci por um segundo, essa lembrança ou qualquer outra que tenha a ver com me afeta. Suspirei outra vez, ela me olhou curiosa. – Que? Ele foi um filho da puta. Pra falar a verdade eu que fui, mas isso não vem ao caso! Eu estava ganhando, mas ele correu atrás de mim até o andar de cima e eu não tinha como me esconder, então fiquei lá, paradona esperando ele, sei lá... Me bater. – Soltei com desdém, idiota. Como se ele fosse mesmo me bater. – Ele chegou em minha frente e soltou um monte de merdas do tipo “Quero te bater, mas estou atraído sexualmente por você”, eu não tinha como responder aquilo... Eu só, só falei que o odiava, mas que também estava... estava, enfim, estava! Quando eu vi as minhas pernas já rodeavam sua cintura a caminho de seu quarto. – Mordi os lábios pra não rir do acontecido e da cara de cu da .
  - Wow, vocês brigam, declaram que querem se auto comer, fazem sexo brutal e depois aparecem aqui com essas caras de enterro? Essa parte eu não entendi. – Saí da onde estava e comecei a procurar um vestido decente também. Não queria ficar respondendo isso, que merda.
  - Depois, eu o ouvi falando com uma vadia no celular. – Confessei. – Ela perguntou se ele não estava “lembrado” dela. – Fechei os punhos, porra! Eu não posso deixar de me irritar com o pensamento. – Daí a gente brigou outra vez e isso nunca mais vai acontecer, pronto! Satisfeita?! – Revirei os olhos e fui até a arara, tomando em mãos um vestido bege, curto e sem mangas, com um corte em forma de cilindro no meio dos seios. O pano descia reto até a parte de baixo, passando por cima da saia que tinha a barra triangular nos lados da frente e de trás, no lugar de ambos os cortes de cima e de baixo havia renda, no lugar no que supostamente era pra ser pano. Era muito sexy, muito sexy mesmo. Olhei pra ela, sorri e fitei o vestido em minhas mãos novamente, ele não podia ser melhor para a ocasião.

  ----- Kaya mind ~~
  - Carlos, pode pegar minha encomenda no saguão, por favor? – Pedi.
  Carlos é velho e misterioso, podia ser meu pai, ou avô, talvez. Ele é amigo de minha mãe, e só aparece de vez em quando, num feriado ou outro dificilmente. Pelo que me é de conhecimento ele também veio do Brasil, seu nome denuncia. Ele está me guardando, digamos assim, mas é claro que eu não pude deixar de fazer uma busca sobre sua vida quando cheguei do meu pequeno passeio à casa de Joseph. Joseph gostoso e frustrado, assim como eu... Tá, eu não sou tão frustrada assim, ou sou? Não sei, só sei que ele é um pedaço de caminho perigoso a ser seguido. Porque eu estou falando disso? Minha mente acaba com o resto de mim, às vezes o tanto de conhecimento que eu tenho sobre uma coisa me assusta. Eu sou uma maquina, só alguém como eu me entenderia. As informações que eu achei de Carlos eram poucas, ele era mesmo brasileiro, tinha 52 anos e morava aqui há muito tempo. Não consegui ver onde trabalhava, por preguiça, eu admito. Teve duas passagens pela policia por briga e outra por um acidente de carro, nada demais na verdade. Minha mãe confiava, se ela confiava eu também posso.
  Três e quarenta e quatro, Carlos teve que se ausentar por umas horas, mas prometeu estar aqui assim que o relógio batesse às nove e meia, tudo bem por mim. Ele deixou minhas roupas e sapatos em cima da cama arrumados, gentil de sua parte. O vestido é preto, de alças finas e colado no corpo até abaixo dos seios, depois é solto, fica entre as coxas e joelhos. Sapatos altos e um canivete afiadíssimo, só preciso disso pra hoje. Não, eu não estou nem um pouco feliz em adotar um estilo girl chicky, odeio isso, não sou eu, mas a ocasião pede. Se fosse pra ser uma gricky eu seria uma dark gricky.

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  - Finalmente! – Joseph exclamou alto a palavra. Havia terminado o código, tinha a salvação em suas mãos, literalmente. O “código” era menor que um pen drive, cabia na palma de sua mão e daria um novo rumo a sua vida, salvaria seu pai. Havia terminado na parte da manhã, a tarde foi a Universidade informar que poderia vir a faltar por alguns dias. Já era noite, ele havia voltado para sua casa. Tomou um banho que o animou e encheu-o de esperança. Ao fitar-se no espelho, já com a parte de baixo do terno ele respirou fundo e deixou o sorriso abrir, era difícil de acreditar, mas ele realmente veria seu pai. Segundo o que lhe informaram, ele lhe seria entregue de volta assim que entregasse o código. Não sabia pra quem devia entregar, mas tinha a certeza que não seria traído, quem comandava isso era perigoso, mas cumpria sua palavra.

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  - Onde elas estão? Será que é tão difícil assim de se arrumar?! – perguntou, sentando-se numa das cadeiras da sala que estavam no dia passado quando descobriram da festa.
  - , é uma festa de gala, precisa impressionar se quiser que nosso plano dê certo! – Betty interviu, dando de ombros. Vincent adentrou a sala, deixando o ar mais pesado em volta de Betty, porra, ele estava bonito de mais! Ela não pode evitar virar seu olhar para avaliar Daleven, ele era o charme em pessoa e seria a companhia de essa noite.
  - Onde estão os outros? – Ele perguntou, terminando de abotoar os botões de cima da camisa. levantou-se.
  - O babaca do Andrey eu não sei, e as mulheres ainda estão se arrumando. – respondeu em tom sarcástico. Ele vestia uma roupa preta, parecia mais um uniforme para combate, como um soldado e sim, continuava sexy. Ainda encontrava-se totalmente desarmado, usava um coturno pesado nos pés, estava um pouco inquieto.
  - Hm, legal... Será que eu to à altura da ? – Daleven falou rindo, imaginando o que ela deveria estar usando. ligava bastante pra aparência, o que lhe assustava.
  - Depois que arrumar essa gravata, pode ser que possamos cogitar a ideia. – rebateu. – Eu quero beber.
  - Claro que não vai beber, . Nem sonha, tem que estar sóbrio pra fazer isso. – Betty soltou um olhar feio pra ele, que deu um grunhido interno, odiava levar ordens ou ser oprimido.
  - Galera, cheguei! – Caminhou para dentro do local. Andrey vestia uma roupa de guarda-costas simples, sem muitos apetrechos, com um ou dois bolsos apenas, porem estava com um sorriso de uma ponta a outra, não se soube o porquê. – To gato? – Perguntou, passando a mão nos cabelos pretos (estava sem óculos hoje) fazendo um carão. Todos na sala riram, inclusive ele mesmo.
  - Você é muito idiota, cara. – soltou, apoiando-se a mesa. Vincent não tinha conseguido fazer o nó da gravata ainda.
  - Vá à merda , me deixe em paz. Eu vou a uma festa de gala em missão secreta pela primeira vez, sou mais que foda. –Disse rindo, passando por ele, batendo em seus ombros. - Oi Betty, tudo bem? Como está bonita hoje, andou fazendo compras? Roupa nova? Corte novo? – Andrey intrometido e bobo, tirando a atenção de Betty. Era bom, pelo menos ela não ficava secando Daleven na cara dura que nem estava fazendo.
  - Eu vou te ajudar com isso, porque hoje eu estou MUITO caridoso. Só por isso. – deixou claro ao desencostar da mesa e ir ao encontro de Vincent para arrumar sua gravata.
  - Valeu cara, você sabe que eu não sou do tipo social, de gravatas e paletós eu passo longe. – Justificou-se pra em sua frente.
  - Onde está Monalisa? – Vincent questionou.
  - Ela já foi, está no prédio da frente do local. Qualquer movimento estranho do lado de fora ela nos dará cobertura. – respondeu. Betty engatava um papo interessante com Andrey, eles não pareciam que podiam vir a ser amigos, mas conversavam animadamente, louco.
  - Ela é gostosa, já reparou? – Daleven soltou, enquanto terminava seu trabalho, de costas para a porta.
  - Eu acho que voc... – Ele ia responder, ia.
  Senhor, dai forças aos homens dessa sala! Lá estava , com cabelos curtos, levemente cacheados, vestido bege curto, salto alto, usando uma maquiagem que a fazia parecer uma boneca de tão perfeita. Wow. Ao seu lado, , que usava uma roupa semelhante à de , cabelos presos e pouca maquiagem, quase nenhuma, apenas preto esfumaçado nos olhos, mas era o suficiente. Ing e Ang, uma magnifica, outra simples, ainda sim ambas à beira da perfeição. Vincent ameaçou fazer um comentário, mas apenas abriu e fechou a boca novamente, estranhou e virou-se. Buum, impactante! Arqueou a sobrancelha ao ver que tinha, de fato caprichado. Trocou o olhar para , ela estava seria, o que alimentava a sua fantasia sexual de vê-la vestida com algum uniforme que incitasse guerra deixando-a ainda mais grossa como sempre foi. Ela o encarou sem humor algum, então ele fez o mesmo e se virou de volta pra Vincent, dando um tapinha em seu peito.
  - Talvez a gravata não resolva seu problema. – Riu de lado e voltou ao seu lugar. Andrey abriu ainda mais o sorriso que tinha no rosto quando viu a namorada. Ah, o amor... Grande merda!, pensou. estupidamente tinha o mesmo pensamento rondando sua cabeça, só eles estavam de bicos e caras feias no local.
  - Você é a mulher mais bonita do universo! – Andrey falou pra , mas que merda, era só o que faltava! Ter que ficar aguentando o amor desses dois! “Eu não acho, colega.” pensou.
  - E você está muito sexy com essa roupa de guarda. – Ela riu, e o abraçou em resposta, depois se beijaram.
  - Vocês poderiam, por favor... – começou.
  - Parar de se amassar numa sala cheia de pessoas com propósitos totalmente diferentes no momento? Isso aqui é trabalho pombinhos, espero que eu não tenha repetir novamente. – terminou. Vincent começou a rir, do nada. – E você e filho da puta, tá rindo de quê?! – Perguntou, usando um tom grosso, mas ainda assim Vincent não deixou de rir.
  - Vocês dois, a falou e você foi lá e completou a frase. – arriscou rir também, Andrey e Betty não entenderam o que se passava.
  - Vincent, você sofre de retardo mental... – revirou os olhos.
  - E é bem mais bonito de boca fechada! – terminou, completando sua frase sem perceber. Então todos caíram na risada, deixando-a vermelha de raiva e vergonha.
  - Vocês dois são uma viagem... – disse.
  - Eu acho que ao invés de vocês ficarem rindo das idiotices do Vincent deveriam olhar as horas para irmos, que eu saiba não podemos nos atrasar. – disse, dando de costas e saindo do local.
  - Todos estão seguros do que devem fazer? – questionou, dando uma volta em si mesmo para olhar para cara um na sala.
  - Sim! – Responderam em conjunto. Bateram em retirada para o lado de fora até a garagem, onde seguiriam viagem até a tão esperada festa.
  - Andrey na direção, Vincent e atrás. Vincent, não tenha medo do seu amiguinho aqui, - Apontou pra Handcheen – aja como se ela fosse realmente sua namorada. – Avisou.
  - Por mim tudo bem! – Daleven respondeu, rindo com cara de bobo pra . Não seria difícil fingir ser seu namorado. Handcheen rolou os olhos e entrou no Bentley luxuoso branco junto com os dois que sobraram, enquanto isso foi direto para a BMW 5X preta estacionada um pouco mais longe. Ok, os carros daquele lugar eram de primeira.
  - E, ... – A mulher de cabelos vermelhos começou.
  - Já sei, já sei! Com , que seja. – rebateu abrindo a porta do lado do motorista e entrou. Dessa vez não teria alma no mundo que a fizesse deixar de dirigir. Betty não teve resposta e se dirigiu ao automóvel em silêncio. De cara fechada entrou, sentou e bateu a porta com força. arrancou pra fora, seguindo os amigos à frente.

  - Boa noite, senhor, seja bem vindo a primeira edição do baile de Munford, poderia me dizer seu nome, por favor? – A recepcionista era branca, branca como uma nuvem brincalhona num dia de sol, seus cabelos também, totalmente brancos e curtos. Usava um terno formal na cor preto, e um salto altíssimo de bico fino terminava de firmar seu look bem composto. Joseph não reparou nisso, na verdade ele não reparava nisso fazia tempo, só de vez em quando com algumas alunas bobas.
  - Ah, claro... Nickolas Joseph Caden. – Estava totalmente nervoso, era agora ou nunca! Tinha que conseguir salvar seu pai, tinha.
  - Isso, tudo bem. Seu numero, por favor. – Pediu educadamente, num tom baixo e até doce.
  - É mesmo preciso? – Questionou.
  - É sim, poderia, por favor? – Ela estava o pressionando? Estava feito com uma dessas! Nessas horas era que preferia ter herdado outro poder ou algo do tipo.
  - Tudo bem... – Ela colocou o tablet em sua frente então ele digitou os números 1674 (tinha recebido pela manhã pelo celular), sem nenhum sorriso, então o sinal ficou verde.
  - Prontinho senhor Caden, sua mesa é a 37, obrigada pela cooperação! Tenha uma ótima festa, boa noite. – Caden nem olhou pra trás, apenas entrou de cabeça erguida no salão. E que lindo salão, que lindas pessoas, e que boa a musica. Tudo muito cheio de guardas escondidos entre as paredes sutilmente e movimento.
  - Mesa 37. – Balbuciou, enquanto passava por uma senhora que usava vestido amarelo, seu perfume estava muito forte, observou. 37, do outro lado do salão. Dirigiu-se ao lugar, de longe percebeu que a mesa era habitada por uma jovem moça de vestido verde, cabelos castanhos, sobrancelha fina demais e olhos pretos. Tinha também um casal, (que deveria ser pais da garota, pensou) um garoto e um homem de mais ou menos 30 anos. Respirou fundo e chegou perto do lugar determinado. – Hm, mesa 37, acho que é aqui... – Disse, prendendo a atenção de todos ali sentados. Abriu um sorriso para que não percebessem seu incômodo eminente.
  - Isso mesmo rapaz, tome seu lugar. – O velho de terno azul escuro respondeu. A garota melhorou sua postura à cadeira assim que o viu, também não se importou com ela, apesar de ser bastante bonita. O homem sentado ao lado dela levantou-se estendendo-lhe a mão antes que sentasse.
  - Michael, prazer. – Anunciou num sorriso convidativo.
  - Joseph. – Sorriu amarelo de volta.
  - Estes aqui são Jake, Lauren e senhor e senhora Prestor. – Anunciou, então Nick apertou a mãos de todos educadamente e tomou seu lugar do lado do garoto pequeno.
  - O que faz aqui rapaz? – Michael arriscou.
  - Hm... Negócios. – Respondeu. O casal de meia idade estava totalmente concentrado em outra coisa, seria uma longa noite para Joseph.

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  - Chegamos! – Andrey exclamou euforicamente parando o carro da frente do edifício que parecia mais um museu, bem estruturado e arquitetado, uma verdadeira obra de arte.
  - É, chegamos! – Vincent confirmou, também estava um pouco vibrante e ansioso.
  - Alguém mais quer confirmar que chegamos? Parecem crianças! – rolou os olhos, ela já estava acostumada com festas grandes e luxuosas, afinal viera de família rica. Passaram-se alguns segundos para que tomassem coragem para sair do carro, seria sua primeira missão de verdade. – Ok, vocês sabem o que fazer, certo? Não estraguem tudo, eu ainda quero ficar um tempo viva. – Riu. A verdade é que ela também estava tensa, muito tensa. Se tudo desse errado eles estariam totalmente fodidos.
  - Tudo bem amor, vai dar tudo certo! – Vincent respondeu num tom extremamente carinhoso que chegou a ser sarcástico, Handcheen cresceu os olhos. O coitado já estava pra morrer e ele ainda soltava uma daquelas! caiu na risada. – Que? Eu estou apenas entrando no personagem.
  - Vamos lá galera, pelo círculo! – os incentivou!
  - Pelo círculo? – Qual é a do “pelo círculo”?
  - É, pelo círculo, que é o que nós somos! Me deixe filosofar, idiota! – Ela ignorou-o e colocou uma mão à frente, suas unhas estavam pintadas na cor petróleo.
  - Pelo círculo! – Andrey colocou a mão sobre a dela, então Daleven também fez. Consequentemente seus olhos brilharam, aquilo era mesmo sobre o círculo, sobre união. Saíram do carro, primeiro Andrey, abrindo a porta para Daleven seguido de que inspirava beleza e delicadeza. Andrey deu a chave do carro a um funcionário para que ele levasse-o a garagem enquanto Daleven buscava o braço de e os vinculasse aos seus, como num casal. Outras pessoas chegavam e paravam na frente, onde a mulher de cabelos loiros verificava quem tinha e quem não a permissão para adentrar o local. Luzes fortes iluminavam o local, o que contrastava com a vestimenta das pessoas e toda aquela ostentação ao dinheiro e glamour. A cada passo o som da sinfonia que tocava dentro ficava mais forte e acalmava o coração palpitante de ambos os três. Mais alguns passos e estavam frente à loira.
  - Boa noite senhores, sejam bem vindos à primeira edição do Baile de Munford! Poderiam me dizer seus nomes, por favor? – Fodeu! Só de ouvir o nome da mulher pedindo seus nomes o gelar instigante tomou o coração deles. “Plano, nós temos um plano e vamos coloca-lo em prática!” lembrou-se mentalmente, formulando a frase numa lentidão extrema, enquanto a mulher lhe olhava de cima a baixo.
  - Boa noite. – tomou a iniciativa, abrindo um sorriso convidativo para a outra, cutucando Vincent com as mãos, ele que tinha que responder!
  - Traveo. – Vincent falou firme, finalmente! Então ela foi olhar em seu aparelho. Handcheen estava posicionado do lado de seu amigo, esperando sua deixa, suando frio.
  - Senhor, me desculpe, mas esse sobrenome não se encontra na lista. – Disse, com uma cara de tacho ridícula, sem saber o que se passava.
  - O que? Como assim nosso nome não está na lista? Você sabe quem nós somos, querida? – começou, praticamente jogando um balde de culpa na mulher, ela não sabia quem eles eram... Por que será?!
  - Desculpem, mas o nome de vocês não está na lis... – Tentou conversar, mas dessa vez foi impedida por Vincent.
  - Como colocam alguém desqualificada assim para receber pessoas de nível como nós? Eu não admito que diga que nosso nome não está nessa merda de lista, nós viemos direto da Alemanha só para encontrar nosso velho amigo! Espero que arrume esse mal entendido agora, senhorita! – Dali Vincent, convenceu até as outras pessoas que chegavam e estranhavam o movimento agitado que havia ali. Ele virou-se de costas para a mulher e segurou pela cintura, olhando-a nos olhos, colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. Era a vez de ela agir. se desvinculou do “namorado” e virou-se para a loira, chegando perto o suficiente para falar algo e só ela ouvisse.
  - Olhe para nosso acompanhante gato. – Ordenou, olhando em seus olhos, hipnotizando e controlando como sempre fazia sem receio algum. Ela obedeceu, elevando o olhar para Handcheen que estava ao lado. – Agora faça o favor de ouvir o que ele vai lhe dizer! – Travou o olhar da moça para que não conseguisse virar-se, deixando apenas a opção de olhar para Andrey.
  - Oi linda, tudo bem? Desculpe por isso, mas é preciso... – voltou a abraçar Vincent, tapando a visão de outro casal que chegava, impedindo-os de ver o que fazia. –Você se lembra de nós, somos da Alemanha e viemos visitar um amigo muito querido que está ai dentro. Nossos nomes não estão na lista porque somos VIP’s, convidados mais que especiais! Então, tudo que você lembra é de sua superior lhe dizendo para que deixasse nós, os Traveo’s entrar sem convite. Não comentará isso com ninguém (itálico aqui), ninguém! Dê ordem para que ninguém nos incomode, não gostamos de incomodo. Agora nos dê o numero da terceira melhor mesa da noite, obrigada! - Foi meio estranho pra ver o lado controlador de seu namorado, lhe levava a perguntar se ele já havia feito algo do tipo com ela alguma vez, deixando-a sem lembrar depois. Mas não, ele não deve ter feito. Ele terminou, então seus olhos pararam de brilhar, respirou fundo. A loira encontrou-se um pouco vacilante das pernas, então sustentou-a com seu poder, fazendo-a ficar firme e composta outra vez.
  - Senhor e Senhora Traveo, desculpem o mal entendido, não acontecerá novamente! – Disse, num sorriso torto. Abriu outra vez o aparelho que usava. – Vocês ficaram na mesa 29, espero que tenham uma noite divertida e animada, sem nenhum imprevisto como esse! Boa noite e obrigada! – Isso sim era magica, hein Handcheen! Metade da tensão dele foi embora ao atravessar a entrada do salão. Cheio, sim! A essa altura já havia um grande numero de pessoas no local, muitos sentados, outros dançando e conversando, paquerando, seja o que fosse. Ao passarem por todo o corredor a procura da mesa pode sentir o peso dos olhares em suas costas, isso lhe assustou um pouco, talvez pudesse vir a ser conhecida.
  - Eles não param de te olhar. – Num murmuro Vincent disse para , enquanto varria o local, já a procura de algo novo ou diferente.
  - É, eu posso sentir. – Respondeu. Andrey passou à sua frente, como um guarda, levando-os a mesa, dessa vez sem aparentar nenhuma insegurança. Em sua mesa havia apenas um casal, ambos jovens (não tão jovem quando os próprios, mas ainda sim jovens). Ambos levantaram-se ao vê-los se aproximar.
  - Boa noite! – Vincent os cumprimentou educadamente com um sorriso.
  - Ainda bem que será vocês a nos fazer companhia! Todo ano ficamos com algum grupo de velhos chatos, não aguentava mais. – Soltou a mulher que o acompanhava. Ela era morena, alta e esbelta. Usava um vestido vermelho sangue com um grande corte em “v” na frente, seus cabelos encaracolados estavam soltos e de lado, o grande cumprimento deixava-a ainda mais bonita.
  - Bem, ficamos felizes em ter conseguido uma mesa com pessoas tão agradáveis quanto vocês também! – Vincent rebateu. Porra, pare de ser charmoso Vincent! – Vincent Traveo. – Estendeu a mão para o homem, ele devia ser algum executivo, denunciava pelo olhar e postura. – Essa aqui é minha namorada, . – sorriu e estendeu a mão, então ele a segurou e beijou.
  - Bom conhecer vocês! – disse, exalando delicadeza.
  - Esta aqui é minha irmã, Xanfinie e eu sou Louis Bell! – Falou cautelosamente. Vincent dirigiu-se a mulher e fez o mesmo gesto do homem, beijando sua mão e soltando um “está linda!” para ela. Então sentaram, a essa altura Andrey já estava longe. Ao sentar-se à mesa e ouvir que eles eram empresários importantes puderam sentir uma brecha se abrir, dentro dela vinha uma luz e esperança que tudo daria certo.

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  - Por onde iremos? – perguntou, sim, não era mais o tumulo que jurou ser, mas é tudo pela causa, depois ficaria calada novamente.
  - Pensei que já soubesse o plano. – respondeu num tom frio. Eles estavam nos fundos do edifício, o movimento lá era maior do que imaginavam e seria um pouco mais difícil de entrar do que imaginavam.
  - Me poupe, . Você finge que eu não te incomodo, que eu não sou um monstro sem escrúpulos, e eu faço o mesmo com você. Garanto que quer pegar essa pessoa, que até agora não descobrimos quem é, bem mais que eu. – Suas mãos estavam descansando no volante, apesar da grosseria e indignação para o lado de ela estava apreensiva. A presença dele era mais que incomoda, pois lhe lembrava de coisas que não queria, o fato de tal estar lhe evitando e tratando mal (como ela sempre fez) ainda lhe deixava com sede de trucidação. Sede se trucidar, mas sem se esquecer de que seu corpo estava pedindo o dele, e nem fazia tanto tempo assim, ela estava perdida!
  - Tudo bem! Quanto mais difícil você for, mas difícil eu serei, minha dificuldade deixará tudo pior para você e pra mim será ainda mais divertido. – Ele rebateu num arquear de sobrancelha. É verdade, seria muito difícil, ela nem tinha uma resposta para aquilo. Pode ouvi-la prender um suspiro de derrota, ela nunca daria o braço a torcer, mas para ele não era fácil. Esperar que ela lhe procurasse podia levar algum tempo e ele já não aguentaria muito, teria que ter muito autocontrole para continuar no jogo.
  - Agulhas, por favor. – Pediu, checando as armas que carregava pelo corpo. Temia ter que usá-las, mas era quase um fato. Ele abriu o saco de pano, retirou de lá varias agulhinhas e deu-as a . Dentro delas havia um liquido amarelo que mataria todos que tentasse os impedir de entrar.
  - Pronta? – Perguntou, como se quisesse ouvir mesmo uma resposta. Abriu a porta do carro que já estava encostado no fim do beco saiu, fez o mesmo, travando-o. Estavam lado a lado, ela não pode evitar lhe olhar, ele não pode evitar corresponde-lo. Alguns segundos, apenas. “Ele está aqui, eu estou segura.” ela pensou. “Eu estou aqui, vou lhe proteger.” O olhar dele dizia em resposta. Num suspiro a atmosfera de entendimento havia sumido, sendo substituída por uma sede de ação. Seguiram em frente.
  Enquanto dava passos firmes para frente, até a porta cheia de guardas e seguranças no local pode sentir transformando-se ao seu lado. Segundos depois estava lá, alguns dos homens apontaram armas para ele quando perceberam a proximidade, mas não atiraram. Sabia que eles precisavam de ordens para atirar em outra pessoa.
  - Hey, rapazes! – os cumprimentou animados, eles ainda guardavam a porta fechada. Homens altos, fortes e mal encarados, todos com armas apontadas para , que aparentemente não possuía nenhum tipo de arma.
  - Rapaz, melhor dar meia volta e seguir seu rumo. Esta é uma área privada, idiota! – Um deles falou.
  - Ho ho, calma irmão... – Falou num tom divertido, colocando a mãos na cabeça, mas mesmo com as mãos ao alto continuou fazendo seu caminho para perto. – Eu só preciso de uma informação...
  - Você me chama de irmão e ainda quer informação? Vai se foder cara, melhor ir embora ou encherei essa sua cara arrumadinha de tiros, vai ter tanto tiro em você que ninguém irá te reconhecer quando chegar ao necrotério. – cara de pau, continuava andando.
  - Tudo isso por que eu pedi uma informação cara? Quer dizer, eu nem pedi ainda... – Deu mais alguns passos, então os capachos do cara avançaram para perto também.
  - Você é corajoso rapaz, já devia estar longe daqui desde a primeira vez que eu abri a boca! – Cuspiu as palavras, não respondeu. Tinha um olhar melindroso sobre ele, como se estivesse um passo a frente, isso estava incomodando o homem.
  - Quer que eu dê um jeito nele senhor? – Um dos cara perguntou, sua voz era grossa, assim como sua aparência.
  - Shii, vamos ver o que o galã tem a falar antes de dar alguns ensinamentos! – Fez uma careta. – Vá em frente rapaz, diga o que quer! – Deu-lhe a palavra, lhe abriu um sorriso. E levantou um dedo, mandando-o esperar, deu um suspiro e continuou.
  - Eu queria saber onde você aprendeu a ser burro e feio assim... Sabe, para eu não colocar os pés lá! – Pode ver os olhos do seu oponente crescer de raiva, se ele não tivesse um plano agora estaria totalmente fodido.
  - Aaah, filho da puta! – Avançou sobre , que recuou e avançou sobre ele que cresceu os olhos novamente e caiu ao chão. Os capachos tinham pavor estampados à sua face, o que havia acontecido? O cara caiu do nada! Voltaram a , apontando a arma.
  - Eu não fiz nada, coleguinhas. – Disse. Um dos homens sentiu uma mão quente em seu pescoço, mas não houve tempo pra saber o que era, sentiu uma pontada lá e depois mais nada. Dai apareceu atrás dos dois caras que sobraram.
  - Oi garotos! – Saudaram-os dando um sorriso grande e forçado, eles viraram-se sem reação. “Da onde ela veio?” Perguntaram-se. suspirou e bawn, agulhada neles! Num dos braços de cada um, já que estavam lado a lado. – Tchau garotos! – Parou um segundo vendo-os infectar-se com todo aquele veneno de cobras, morreriam daqui alguns minutos, com certeza. – Feito! – já ia em direção à porta, ela pegou uma das armas de um deles e partiu também.

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  - Tudo por causa dessa bosta de sociedade! – Kaya grunhiu dentro do carro. Carlos dirigia, tinham acabado de entrar.
  - Do que está falando, garota? – Ele perguntou.
  - De salvar a vida de uma nação, talvez?! – Rolou os olhos e pegou o celular na bolsa. – Carlos, não precisa vir me pegar. – Ele assentiu, então ela saiu do veiculo com cara de poucos amigos, batendo a porta com força.
  - Boa festa e cuidado! – Ele soltou antes de arrancar para longe. Kaya estava na verdade muito estressada com a vida, será que tinha que cuidar de tudo?! Bom humor que é bom nada! Caminhou em cima do salto alto preto que usava, assim como o vestido. Seus cabelos pretos com mechas azuis combinavam com a vestimenta escura, na boca usava um batom quase cor de pele, nos olhos mais preto habitava. Ao subir as escadas sentiu o olhar de algumas pessoas sobre si, deviam se perguntar o que uma garota tão jovem fazia num baile para pessoas mais adultas. “Deve ser filha de alguém importante” ouviu um cochichar enquanto passava.
  - De alguém muito importante, senhora. – Falou alto para que a mulher pudesse ouvir, num tom suficientemente sarcástico para que a mesma ficasse com vergonha. Caminhava em passos rápidos e determinados em cima do salto minuciosamente, não era por que odiava usa-los que não sabia, na verdade Callun era inteligente em tudo, um salto para ela não significava nada. Recepcionista loira. Assim que a viu desbloqueou seu telefone, então apertou o botão de “ok” que brilhava no meio da tela. Hora de salvar algumas pessoas mal agradecidas, Kaya!
  - Boa noite senhorita, seja bem vinda à primeira edição do Baile de Munford! Poderia me diz... – A recepcionista devia estar falando essa frase pela centésima vez na noite, Callun não ligava.
  - Kaya Callun, rápido. – Lhe fitou apática, ela precisava relaxar, mas visando aonde iria se meter eu acho que não será tão fácil.
  - Senhorita Callun, mesa 34. Tenha uma boa fest... – Kaya não pode ouvir os desejos de diversão da mulher, pois já adentrava o salão. Ela havia produzido um pequeno código para burlar a lista de convidados, se quisesse colocar Mick Jagger na lista ela colocaria. Assim que adentrou o local sentiu a atmosfera festiva cair sobre si, uma musica alta tocava agora, uma animada e dançante.
  - Vamos lá Kallun, primeiro a diversão, depois o dever! – Riu de lado da sua estupidez, já que sua “diversão” seria apenas um passa tempo para agir na hora certa. – Vamos ver... Aquele ali. – Pensou alto enquanto se dirigia a um rapaz da sua idade a alguns metros à frente, ele estava comendo alguma coisa, então ela passou por ele e lhe deu uma olhada comprometedora. Foi direto para a pista de dança, ele a seguiu como um cachorro.
  - Oi, gata! – Não demorou muito ele lhe abordou, em meio às outras pessoas que dançavam ali.
  - Oi, gato. – Respondeu com um sorriso.
  - Quer dançar? – Enquanto ele falava ela procurava alguém por entre as pessoas.
  - Eu já estou dançando, querido. – Respondeu esperta. Começou a se balançar no ritmo da musica, o garoto a acompanhou. A música acabou e ela não conseguiu encontrar o que queria: Joseph Caden. Onde ele estava? “Filho da puta, apareça! Eu odeio dançar de saltos!” ela pensou.
  - Qual seu nome? – O garoto perguntou. Loiro, magro e provavelmente usava drogas escondido dos pais com os amigos, ela definitivamente não ficaria com ele.
  - Kaya! – Começou a tocar Stay The Night, então seus olhos iluminaram-se. O abençoado que colocou a Willians pra tocar naquela hora merecia um abraço.
  A pista foi enchendo e enchendo-se assim que o primeiro refrão foi entoado, as luzes mudaram e ela pode ver um rosto conhecido em meio à pista de dança, . Apesar de todas as pesquisas que fez durante esse tempo, já conhecia seu rosto, ela já havia lhe conhecido de uma festa que tinha ido quando mais nova onde a mesma estava. Em sua visão estava linda, se divertindo com alguém um pouco mais velho... Pera, num instante seu rosto rosado e feliz passou para desolado e frio, o que aquele cara havia lhe dito? Será que ele disse alguma coisa sobre o... Não. Ele não deve ter dito! Virou seu corpo para outro lugar, na direção das mesas 30/20 procurando por mais alguém.
  – Hey, consiga bebida pra mim! – Disse entusiasmada para despistar o rapaz, que foi pegar liquido de boa vontade. Varreu mais uma vez e ora, ora, o que temos aqui? – Vincent! Wow, você é mesmo muito gato! – Riu. Vincent também estava em suas pesquisas, assim como Andrey, , e qualquer um que fizesse parte da FCH. Ele conversava reservadamente com uma mulher muito bonita, morena de cabelos grandes cacheados, o que eles estavam fazendo? Se infiltrando ali, por quê? Será que eles sabiam do código?! Merda, merda! Mas talvez não fosse tão ruim assim se eles pegassem-no, o ruim seria se eles não soubessem o que fazer com o material, ela devia pegar esse código logo com Joseph. Virou outra vez, e lá do outro lado do salão, lá, bem longe pode ver sua esperança com uma cara emburrada dançando sem vontade alguma com uma garota de vestido verde. Nickolas Joseph!
  - Hey! Só achei champanhe, tudo bem pra você? – O rapaz perguntou, mas ela se quer lhe respondeu, tomou a taça de sua mão e estendeu a outra pedindo-lhe um minuto. Não era possível, mas ela ouvia as batidas do seu salto sobre o chão límpido uma por uma, passando por pessoas dançando, distanciando-se cada vez mais do garoto com quem estava. De fato ela era corajosa, corajosa o bastante pra fazer tudo sozinha, mas não podia deixar de estar apreensiva, além de agora ser a hora ela reencontraria seu amiguinho professor gato e gostoso, e provavelmente destruiria com sua vida, o que lhe quebrava o coração. Quando deu-se conta estava a dois passos de distância do casal, deu um ultimo gole na bebida, catou toda sua cara de pau e coragem e saudou-os.
  - Hey lovellies! – Joseph não disfarçou a examinar seu corpo de baixo pra cima e depois de cima pra baixo.
  - Quem é você? – A garota perguntou, Callun achou que ela tinha cara de bitch azeda mal comida, devia ser mesmo.
  - A garota que vai fazer sua noite, já que nesse aqui – apontou pra Nickolas – você provavelmente não vai conseguir encostar o dedo. – Rolou os olhos, Caden permaneceu calado, observando sua ousadia. – Tá vendo aquele rapaz ali? Aquele loiro de terno cinza? Então, ele quer falar com você, é melhor aproveitar, porque as coisas estão difíceis pra todo mundo hoje em dia. – Arqueou a sobrancelha, observando a garota lhe olhar torto e ir ao encontro do tal garoto que olhava em sua direção.
  - Você é boa... Eu já não aguentava mais aquela chata me pedindo pra dançar. – Ele confessou, parado enquanto Kaya começava a se balançar novamente.
  - Então agora você tem passe livre para voltar a sua mesa e permanecer sentado. – Indagou, a forma como se mexeu fez a saía do seu vestido balançar de um lado pro outro num movimento divertido. Toda essa animação era só para não olhar diretamente e ver-se prendida, porque ela pensou no quanto ele era bonito em alguma hora da noite passada. Joseph sem camisa, ela tinha visto, e agora queria ver novamente.
  - É, eu acho que sim. – Ele sorriu fraco pra ela. Droga, deve ter dado a impressão errada e agora ele iria embora. Kaya pode ver seus olhos abaixarem e levantarem de novo, então ele lhe averiguou e fechou o cenho. Sorriu de lado e começou a tomar o caminho das mesas. Ela iria perdê-lo por causa de uma abordagem estupida e idiota, já sabia que ele estava abalado, não deveria ter feito merda como sempre fazia.

  [N/A] Coloquem para tocar That Girl - Justin Timberlake

  O som dos saxofones. A guitarra fazia riffs, era acompanhado por outros instrumentos, começando a formar uma melodia. Jazz e uma dança, era o que precisava, era o que tinha.
  Kaya respirou fundo e deu passos mais largos que o dele, puxando-o pelo braço, fazendo-o virar bem perto. Ele segurou forte sua cintura, ela não conseguiu segurar o ar preso nos pulmões, estava perto demais, lembrou-se de seu cheiro. Estavam praticamente da mesma altura por conta de seus sapatos, o silencio deles dois, únicos parados na pista de dança por alguns segundos.
  - O que quer garota? Procure alguém do seu tipo, alguém interessante o suficiente pra brincar com você. – Rígido, hm.
  - Eu quero dançar, e acabei de achar alguém interessante e bonito o bastante, alguém a minha altura. – Wow, onde essa garota aprendeu a ser tão segura?! Tirou sua mão do braço dele e colocou-as no ombro, a outra foi para em sua nuca e o clima já estava esquentando, mesmo em meio a tantas pessoas, afinal ela tinha sido bem ousada ao colocar a outra garota de escanteio e o responder daquele jeito. Joseph deu alguns passos para trás e ela o acompanhou, deixando o centro da pista, ainda vinculados. O refrão da musica chegou e eles permaneceram em silêncio, mas conforme a musica fluía Kaya foi se mexendo com mais intensidade, (quando mais nova fora obrigada a tomar algumas aulas de jazz) de inicio Joseph não correspondeu, ficou meio equivocado com sua atitude. – Eu falei que queria dançar, não estamos dançando, não de verdade. – Sussurrou ao seu ouvido de um jeito provocante que lhe causou arrepios, não estava se reconhecendo! Mas era preciso tudo isso.
  - Então vamos dançar! – Juntou o corpo dela no seu e tirou o rosto de sua lateral, olharia em seu rosto. Agora sim estavam dançando. Passos rápidos e lentos, alguns rodopios discretos e muitas, mas muitas pegadas e contatos de ambos. Quando perceberam aquilo já era mais do que uma dança, estava sendo estimulante o bastante para se tornar outra coisa. No final, eles terminaram ofegantes, com um olhar indiferente e oscilante um ao outro. Um pouco longe, mas ele puxou sua cintura novamente, colando-os. – Eu gostei de seu... Cabelo. – Revelou, enquanto olhava seus olhos. Fitou-a por mais alguns segundos, então arrumou seus fios azuis atrás da orelha. Sua mão era quente. Joseph quase havia conseguido desarma-la sem dizer quase nada. Kaya suspirou e fechou os olhos.
  - E eu gostei de você. – Mordeu os lábios, não deveria ter dito isso. – Quer dizer, eu realmente gostei de falar com você, mas agora eu tenho que ir. – Ele mal piscou e ela já havia desaparecido pelo emaranhado de luzes e pessoas.
  - Senhoras, senhores e qualquer outro ser que esteja aqui! Quero pedir a atenção de todos vocês por alguns minutos! Iremos receber a Trisha, já conhecida por boa parte de vocês! Falaremos sobre as ações que serão brevemente tomadas e de como isso será benéfico para nossa sociedade! – O homem levantou sua taça, então foi ouvido um estrondo, um forte estrondo. Um tiro.

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  Kaya Mind’s
  Um tiro. Foi isso que eu ouvi, enquanto eu corria para a parte dos fundos do edifício. Sim, apesar de tudo eu consegui, ainda estou gelada e desnorteada, mas consegui. Está aqui, o código.
  Eu tenho o código.
  Como o Nickolas pode ser tão idiota a ponto de coloca-lo em seu bolso?! Foi fácil pegar enquanto dançávamos. É difícil de acreditar que eu dancei com ele também, que eu cheguei perto, que eu fui corajosa o suficiente para afronta-lo e fazê-lo voltar. Eu tinha que fazer isso, não sei se é certo, mas eu estou arrependida. Não por ter pego o bendito código, mas sim pela consequência de meus atos, consequência essa que eu não sofrerei. Joseph, ele sofrerá ao procurar pelo objeto que passou tanto tempo construindo e não verá seu pai. Mas eu não posso pensar nisso agora, preciso destruir essa merda pra já.
  Corri, ainda com o objeto em mãos e adentrei uma porta, não sabia onde estava. Dã, meu sistema! O abri e procurei a planta que eu havia guardado. Teria que sair do lugar e ir direto, virar à direita e continuar direto, até ai tudo bem, mas se alguém me pegasse? Estava feita, um canivete não ia resolver merda nenhuma, mas ou eu saio ou eu saio, então que se dane! Deixei o cômodo e sai correndo, senti o olhar pesado de alguém atrás de mim, arrisquei olhar pra trás e avistei Andrey mais perto do que eu pude imaginar. Um medo cortante laminou minha garganta, mas eu segui em frente, Handcheen idiota.
  - É melhor parar ai garota! – Ele gritou, já um pouco mais perto, mas eu não desisti. Saltos, malditos saltos. Virei à direita, agora era só ir direto.
  - Melhor pra quem?! – Respondi apavorada, olhando pra trás para medir a distância, conseguiria fugir. – Puta que pariu! – Um corpo caído num duns lados do corredor, seu sangue sujava toda a parede, pude sentir o cheiro forte adentrando minhas narinas apesar da rapidez.
  Mais um pouco Kaya, mais um pouco, por sua mãe. Faça isso, por todos nessa merda de América, corra garota!
  Me auto incentivar, eu devo deixar de fazer isso! Levantei minha saia e peguei rápido o canivete, coloquei em posição de ataque, prevendo a aproximação do retardado mental de olhos azuis. Dito e feito, ele chegou perto o suficiente para tentar puxar minha mão, mas eu golpeei a sua e continuei correndo, já vacilante das pernas, então vi a porta. Nunca fiquei tão feliz ao ver uma porta em minha vida! Peguei velocidade e corri desesperadamente até ela, então cheguei, e meu Deus! Corpos, cinco corpos no chão. Eu nunca vi corpos, onde eu fui me meter cara! Passei por eles recebendo uma rajada de ar frio ao sair por estar saindo do prédio, senti também um temor que nunca senti antes, eu estava tremendo e Andrey continuava a correr atrás de mim. Destruir o código, isso que eu ia fazer. Joguei-o no chão com a maior força que pude, e pisei em cima. Ele se misturou com um pouco sangue que saia das narinas de dois caras, mas eu não o perdi, pisei de novo e de novo, então estava destruído.
  - Garota, você é louca! – Andrey voz de bicha, seu braço segurando o meu me forçou a virar. Me olhou com nojo por milésimos, eu devolvi o olhar com mais nojo ainda. Não tenho certeza, mas senti meu rosto arder uma vez. Não tive forças para reagir, apenas cambaleei para a direita, então senti forte outro soco, agora na barriga. Me encolhi, gemendo de dor. Agora as lagrimas já estavam saindo e molhando todo o meu rosto, respirar está ficando difícil, ainda mais com outro golpe nas costas, me sinto como o saco de pancadas desse desgraçado.
  - É assim que me agradece?! Seu filho da puta! - Ele puxou meu vestido colocando-me em pé, senti o gosto metálico em minha boca, sangue. Meu sangue sendo derramado a toa. Sua apatia estava estampada em seus olhos, então eles brilharam. Há, eu deveria saber! Ele fazia parte do círculo, como ele conseguiu fazer parte daquilo?
  - Não! É assim que eu te agradeço, vadia. – Queimou, ardeu e doeu pra caralho, senti minha cabeça bater no asfalto duro e ensanguentado, então perco a consciência.

Capítulo 17 - Alguns problemas depois da festa

  Seis pessoas caídas no chão, entre eles uma garota bonita, bonita demais para se encaixar naquela cena.
  Andrey havia se separado de e Vincent, que por sua vez ficaram e conversaram com Xanfinie e Louis Bell. Os irmãos falavam demais, essa falha fez com que deixassem algumas informações “importantes” escaparem por entre suas bocas ucranianas salpicadas de vinho francês branco. Enquanto isso e estavam... Bem...
  Minutos antes
  “– Pegou? – perguntou, agora com um fusível em mãos, sem olhar pra trás.
  - O que você acha? – Ela respondeu em tom irônico. Não foi tão difícil intoxicar dois brutamontes com veneno de cobras, não foi difícil mata-los. Sua segunda e terceira morte, respectivamente. – Eu gostei.
  - Agora está em você, . Daqui para frente não terá arrependimentos, amará sair enfiando a faca nos outros. A não ser é claro, que a tal pessoa seja inocente. – Continuaram andando em passos pequenos pelo corredor branco, lá havia apenas uma porta. Uma porta fechada.
  - Oh, é claro. – Ouviu-se um baque surdo, a porta se abriu. De lá saiu um homem, com uma faca afiada. Foi rápido demais, estava a alguns passos à frente, quando se virou já estava com a arma em seu pescoço, sendo segurada pelos cabelos com força.
  - Merda, ! – Grunhiu. Seu fusível apontado para o homem loiro com barba por fazer. adotou uma postura reta, desafiando o oponente descaradamente. Um sorriso no rosto, deixou extremamente nervosa.
  - Quem é você? – Ele perguntou.
  - Realmente importa? – respondeu, um pouco fadigado com a situação. O cara tinha alguém importante para ele em suas mãos, ele não podia tocar em de jeito nenhum, estava fora de cogitação.
  - Responda minha pergunta, ou eu dou um fim nela agora. – Prometeu. O loiro passou o nariz inalando o cheiro do pescoço de , isso deixou ambos, e , irritados.
  - Tô pouco me fodendo pra ela. – Deu de ombros, instantaneamente cresceu os olhos.
  - Como assim pouco se fodendo pra mim?! – Fuzilou-o. Calada , era melhor ter ficado na sua.
  - Então não vai se importar se eu fizer isso. – Segurou mais forte o objeto pontudo dando alguns passos pra frente, preenchendo o local com um corte. O coração de pulou pra fora, mais um pouco e ficaria feio pra seu lado, uma ferida no pescoço era muita coisa. Mas o que lhe deixou enraivada e apreensiva foi o “Tô pouco me fodendo pra ela”. Por um segundo um medo tomou seu corpo, será que ele estava falando isso pra valer?
  - Não se eu fizer isso logo em seguida. – O som da bala entrando na cabeça do cara a centímetros de distância do rosto dela fez seu corpo vacilar, fechou os olhos e cerrou os dentes. Pavor, sentiu pavor e alivio ao ouvir o trincar do instrumento que o maldito segurava cair no chão e seu corpo desvincular do dele que caiu do lado da porta, sujando toda a parede branca.
  - Nunca mais faça isso! Você o deixou me machucar, seu vadio. – Cuspiu as palavras olhando pra cima, o sangue pingava e descia sob seu colo. Precisava limpar e continuar seu trajeto, não podiam perder nada. fez uma careta e a puxou pelo braço para dentro do lugar de onde o loiro (agora morto) saiu. Era um quartinho apenas, ele deve apenas ter visto o movimento no corredor, sentido e atacado. Talvez fosse um pouco louco, nunca se sabe quem essas pessoas são e para quem elas trabalham...
  - Levanta o pescoço. – Mandou. Ela estava encostada no lado de dentro da porta, com ele em sua frente sob a única luz do cômodo, ela era fraca e falhava a cada trinta segundos. Obedeceu em silêncio, olhando pra cima para não cair em tentação. tirou do bolso da calça um lenço, sacudiu-o e passou-o no ferimento, deixando só a metade continuar com a cor habitual por conta do liquido vermelho. – Não vai reclamar? – Perguntou, sentindo-a endurecer, apostaria uma grana alta que ela estava se segurando naquele momento, não tornaria as coisas mais fáceis.
  - Não. – Uuh, na defensiva ?! Quem diria!
  - Que bom então, assim não preciso ficar ouvindo sua voz chata como sempre. – Rebateu, deixando-a com a língua coçando para responder. Já estava terminando de limpar todo o lugar sujo de sangue.
  - Você não merece nem ouvir minha voz, idiota. –Olhando fixamente pra cima ela respondeu, esquivando-se de qualquer indicio de outra coisa na conversa, algum que poderia brotar como sempre acontecia.
  - Não mesmo, ela é feia e quando você começa a falar é diferente de todos à nossa volta. O Andrey, por exemplo, ele é britânico e nem por isso tem esse sotaque carregado que você tem. Acho que faz de propósito. – Confessou. Ooops... advinha quem estava cara a cara com ?!
  - Você está me dizendo que eu forço o meu sotaque?! – Perguntou enraivada. O poder de lhe enraivar instantaneamente só ele tinha. Uma raiva até gostosa de se sentir.
  - Sim... – A luz falhou, junto com a respiração de . – Tipo, agora. – Ela pode sentir seu hálito de tão perto que eles estavam. brincando com , deixando-a mais incerta do que fazia sempre. Ela fez uma careta, não estava forçando seu sotaque, apenas estava nervosa no momento, só isso.
  - Eu não preciso te provar porra nenhuma, - agarrou os dois lados de sua camisa, bem no peito e puxou para frente de si, ignorando a pinicada que veio do pescoço. – eu sempre falei assim e vou continuar falando, se não curtiu é só ir se foder. – Falou bem devagar a última parte, deixando as palavras dançarem animadamente em sua boca num tom alto.
  Mais uma vez tinha mandado ele ir se foder, mas uma vez. Seu sotaque deixava tudo mais interessante, porem não podia deixar isso passar despercebido. Tomou seus pulsos agilmente e elevou-os à cabeça, fazendo-a quase grunhir, porem não fez, ficou em silêncio. Ele riu, um riso abafado que lhe causou surpresa.
  – Me largue. Agora. – falou. O que poderia deixá-la ainda mais enraivada e sedente por ele, já que estava começando a sentir aqueles choques magnéticos outra vez, mais intensos do que nunca? Ele lhe dando o que queria ou simplesmente caindo fora como pediu? Acertou quem pensou em deixa-la totalmente frustrada.
  - Vamos. – Foi apenas o que disse, soltando-a e puxando-a da porta. Ela ficou com cara de “Como assim?”. É, ele avisou que não seria tão fácil.
   abriu a porta, checando se havia alguém no corredor enquanto se recompunha, porque ela com certeza ficou abalada com esse momento.
  Lá estava ela em seu calcanhar. Passaram pelo corpo ensanguentado e seguiram viagem de cabeça baixa, tentando evitar alguma câmera, mas lá não havia nenhuma felizmente, só no outro corredor. Viraram à direita e foram direto, mais ninguém, nada, só corredor vazio. Musica, tocava um som eletrônico com um refrão bom e repetitivo um pouco mais a frente, mais alguns passos e pôde-se detectar vozes masculinas vindo de detrás de uma porta.
  - Você pode ouvir melhor que eu, me diga o que dizem. – Pediu para hayley, que tomou sua frente para ouvir o resto da conversa.
  “O rapaz veio?” Uma voz carrancuda perguntou.
  “O garoto veio sim, ele que não tivesse dado às caras por aqui.” Que? Mas qual garoto?
  “E a nossa chave, ele trouxe?” A voz mesma voz questionou novamente.
  “Creio que sim, acho que ele não irá querer ter seu pai morto.”
  Morte? Chave? Tudo aqui é sobre isso?! pensou.
  “Fique de olho nele. Vamos subir e esperar Trisha para que ela faça logo esse anuncio... Assim que ela acabar nós pegamos o código com o garoto e nossa parte será concluída.”
   pode ouvir o som de ambos subirem as escadas, elas davam para um camarote, camarote esse que deixava-os visualizar todos no local.
  - Wow! Eles estavam falando de um rapaz com uma chave, código, sei lá... Eles irão “pegar” o código na mão dele assim que uma tal de Trisha aparecer e fazer um anuncio. Ps: O rapaz deve estar sendo chantageado, porque eles disseram “ele não irá querer ter seu pai morto” e algo me diz que ele não vai viver tempo suficiente para ver nem o pai nem ninguém. – soltou. Um leve pesar nos ombros, eles tinham que impedir a morte do garoto.
  - Ok, ele não vai morrer. Abre a porta. – respondeu, colocou a arma em punhos e olhou pra , ela estava confusa. Não abriu a porta. – , abre-a-porta! –Repetiu.
  - Só quando você me disser o que pretende fazer. – Encostou-se na bendita porta e cruzou os braços. Teimosa.
  - você sabe que fazendo uma birra estupida dessa está automaticamente – guardou o instrumento e chegou mais perto, sua cara não era das melhores, porem ela permaneceu firme com sua de durona. – matando alguém que talvez nós possamos precisar daqui a algum tempo. – com as mãos fez sinal de arma e apontou no lado direito de sua cabeça, dobrou o dedão que fazia menção ao gatilho e emitiu o som do tiro. – Buum, adeus pegar quem tá tramando toda essa porra, adeus . – Ok, no momento ele parecia um psicopata, lhe assustou um pouco, lhe instigou também, era excitante sentir aquele medo. Mas não era uma mentira o que ele estava falando, era? Não.
  - Caham. – Uma voz feminina pigarreou atrás de . Quem? Ele se virou lenta e despreocupadamente como se não estivesse ameaçando de uma forma sedutora sua parceira. pra variar estava um pouco vermelha, de raiva e vergonha.
  - Pois não? –Ele disse.
  - Quem são vocês e o que fazem aqui, por favor. – Ela perguntou educadamente, dando uma geral em , ignorando totalmente que estava ao seu lado. Se tivessem entrado pela frente reconheceriam que o uniforme que ela usava era semelhante a recepcionista. Devia ser comandante de alguma coisa, buffet ou algo parecido, a julgar por seu cabelo preso e pouca maquiagem.
  - Nós fazemos parte da equipe de segurança, acabamos de chegar. – Agora ele caminhava em linha reta direcionada à mulher de cabelos castanhos. arqueou as sobrancelhas, “Hey, eu perdi alguma coisa aqui, ou...” pensou. Ele sorriu para ela, que se abriu totalmente no outro segundo. É , ele não é tentador apenas pra você. – Sabe como é, um evento importante, precisaram do melhor agente. – Apertou sua mão, em seguida beijou-a lentamente. “Wait, você está flertando, ? Flertando perto de mim?”
  - Então você é o melhor agente? – Perguntou, como se duvidasse que realmente ele era. Não estava nem ai se não era, ele estava lhe dando mole, não é todo dia que um Deus grego dá sopa.
  - Eu não diria “só” melhor agente. – A vontade que teve vontade de fazer um corte bem grande em cada um dos lados da boca dela, como o coringa, só pra ela não ser tão despeitada e esmurrar a cara do foi inenarrável. “Que vadia fácil” pensou ela, rolou os olhos. – A propósito, você está linda. – Merda. Sua quietude devia denunciar que estava morrendo de raiva.
  - Ah, não seja bobo, é apenas roupa de trabalho! – Riu. Desde que ele virou-se ela não havia parado de rir, que porra é essa?! – Oh... Trabalho! Preciso voltar para o meu, infelizmente. – Fez uma carinha murcha.
  - É uma pena... Para onde vai? – questionou.
  - Vou entrar aqui, preciso falar algo importante com algumas pessoas. – Ele a levou até a porta, ignorando completamente a presença de no local, então abriu-a e deu passagem para que a moça pudesse passar.
  - Agora eu trabalharei o resto da noite feliz! – falou baixo num sussurro para ela que riu novamente, não era piada, idiota! – Prazer em te conhecer... – Esperou que ela dissesse seu nome.
  - . – Ela terminou, pegando os dois de surpresa. “A vadia tem o mesmo nome que eu? Vergonha de você! Um nome tão lindo não merece ser colocado em alguém tão sem sal como você, vaca”.
  - Oh, lindo nome, como você! Agora vá, não quero lhe atrapalhar. – E lá estava subindo as escadas, lhe dando uma ultima olhada por cima do ombro esquerdo.
  - Sério? – A verdadeira perguntou. Tombando a passar nele, cheia de raiva.
  - Seríssimo. – Virou-se, para ela com um sorriso no rosto. mal sabia que o sorriso estava ali justamente porque ele conseguiu chegar onde queria e lhe fazer ciúmes, ciúmes de uma mulher que tinha o mesmo nome que ela, legal. – Ela não era um amor de pessoa? – só pode ser brincadeira.
  - Uma idiota, que provavelmente latiria se você mandasse. Feia ainda por cima, mas não é da minha conta quem você flerta ou deixa de flertar. – Severa. Qualquer um veria que ela estava com ciúmes.
  - É verdade. – Disse, despreocupadamente, indiferente. Na verdade ele estava respondendo ao “ela é feia” e não ao “não é de minha conta”, mas nunca saberia. – É o seguinte. Tá vendo essa porta? Eu vou entrar aqui e você vai subir até lá onde eles estão e irá achar o cara e me dizer quem é. Ache a e o Vincent também de lá de cima e certifique-se de que estão seguros. – Passou a mão nos ouvidos e ligou o ponto, ela fez o mesmo.
  - Espera, como você sabe onde vai dar essa porta? – Curiosidade, era bastante curiosa às vezes.
  - Eu já estive aqui, agora vai e não demora. Não temos muito tempo até descobrirem aqueles corpos da saída. – A caminhou até a porta, pode sentir o olhar dela em suas costas. – Ah, não se esqueça, se algo der errado faça o que eu ensinei... E mate todo mundo. – Falou sem olhar pra trás. Boa alternativa , matar todos eles.
  - Claro, matar todos eles. – Respondeu pelo ponto, subindo às escadas. Ela subiu o vão de escadas correndo. E mais outro, então virou à esquerda e lá estava o camarote. Era bonito e bem decorado, em cores outro e bege. De um lado havia um grupo de mulheres bonitas bebendo e dançando ao som da musica, que já devia estar no final. Tomou sua arma em punho, ninguém lhe via. Foi até a sacada do lugar e pode ver o quanto às pessoas ali se divertiam e dançavam ao ritmo da musica em seus ternos e vestidos, respectivamente. Ouviu o som da voz do velho outra vez e a seguiu. Ele e mais dois homens (um novo e outro não tão) conversavam animadamente sentados à mesa perto da sacada o suficiente para ver todos apesar de não estarem em pé. Chegou mais perto.
  - Estamos perto senhores! – O cara não tão velho falou.
  - Não, meu caro. Nós estamos quase lá, é melhor que estar perto. – Corrigiu-o, deixando-o um pouco sem graça. “Quase lá? Quase lá onde?!” perguntou-se internamente. Ao olhar com mais cara para o homem de cabelos brancos e seu bigode, pode perceber que este com certeza não era americano, conhecia um americano de longe. Os outros dois talvez fossem... Descendentes talvez, mas o velho não.
  - Eu ainda não vi a cara do felizardo que fará nossa alegria no dia de hoje! – O mais novo balbuciou, tomando um pouco de vinho. tirou os olhos dele e varreu o lugar. A tal da conversava com as mulheres que haviam parado de dançar e o guarda que estava na porta continuava na porta. Olhou pra baixo. “Pera, aquela ali dançando é a ? Só pode estar de brincadeira!” Pensou, desordenada.
  - Vamos ver o rapaz de ouro então. – O mais velhote falou, estralando os dedos para que alguém trouxesse sua bengala de prata. O garoto loiro o seguiu, por pouco não encosta em , por pouco. – Nossa, convidamos bastante gente para cá, huh. – Encostou-se a proteção.
  - Foi sim...
  - Vamos ver se eu acho aquele pentelho inteligente. – Os olhos de seguiu os dele procurando por Joseph. Depois de algum tempo, quando Justin Timberlake estava quase chegando a seu refrão chiclete e sedutor ele o achou. – Ali! – sua voz não era tão firme, pelo contrário, era serena, mas não se deixe enganar. – Olha só, tem uma garota com ele.
  - Uma gata, pra falar a verdade. – Ela se virou e lá estava. Um casal bonito. Ele segurou sua cintura, trocaram algumas palavras, então ela colocou uma mão em seus ombros e outra na nuca, levando-os a um lado mais afastado da pista de dança. Sendo observados. Então começaram a dançar, um pouco desanimado demais. Ela puxou seu pescoço e disse algo, estavam ficando intrigados. Quem era a garota de cabelos azul? Piscaram e lá estavam eles, inibidos, dançando como se já se conhecessem. Já se conheciam? Perguntaram-se. Não, não se conheciam. A dança aparentava estar boa, ele comandava os giros da garota e a segurava com avidez sempre que era preciso, isso deixou o rapaz loiro levemente incomodado, percebeu.
  - Bom dançarino, bela garota. – Balbuciou o velho. foi para um canto, precisava avisar a (que já estava apostos, escondido de trás de uma cortina) quem era o rapaz que procuravam.
  - ? – Perguntou.
  - Não, o piu piu! – Ironizou.
  - Babaca! É o cara gostoso que tá dançando com uma garota morena de vestido preto esvoaçante com o cabelo azul. – Informou. Ele não pode deixar de perceber o “gostoso”. Procurou um pouco e voilá. Casal hot dançando de um lado da pista.
  - Woow oh, essa garota sabe bem como ser sexy. – Bem, ele não estava mentindo. Ela sabia mesmo.
  - Se fode, . – Ia desligar.
  - Então, quando a Trisha chegar vocês podem apagá-lo? – O loiro perguntou, era quase um pedido. A cabeça de borbulhou, eles não podem o matar.
  - Pera, pera! – Sussurrou, olhando para os lados. Respiração um pouco falha, não ouviu a resposta do velhote.
  - O que? – Ele só queria uma deixa.
  - Eles vão matar o cara, depois que a Trisha falar. Você tem que achar quem vai fazer isso de onde você tá e mata-lo primeiro. – Explicou, com sua respiração um pouco falha. Olhou para o lado ouviu a musica acabar e o velho receber um microfone, prendendo a atenção de todos em baixo.
  “- Senhoras, senhores e qualquer outro ser que esteja aqui! Quero pedir a atenção de todos vocês por alguns minutos! Iremos receber a Trisha, já conhecida por boa parte de vocês! Falaremos sobre as ações que serão brevemente tomadas e de como isso será benéfico para nossa sociedade!”
  Tiro. Um tiro. Foi o suficiente para alarmar todos em baixo, inclusive e Daleven. No segundo seguinte outro tiro. E todos correram, transformando tudo num pandemônio.
  - ? Você tá bem? – Gritou ao escorregar para fora do lugar e descer correndo as escadas. e Daleven deviam sair dali correndo assustados como convidados normais, não podiam destruir o disfarce. – ?! Porra , responde! – Um frio tomou sua barriga ao ouvir mais tiros, eles o acharam.
  Chegou até a porta, atrás dela todos do camarote vinham correndo, tentando se salvar. Ao abrir a porta viu de relance a tal da Trisha, apenas suas costas. Não iria a seguir, apesar de que por um segundo querer muito fazê-lo. Ele não respondeu, ela correu para o salão, onde havia um amontoado de pessoas, cadeiras e mesas virados, comida no chão e tiros correndo. Procurou os amigos, correndo os olhos desesperadamente de um lado para o outro. Lá de cima, do segundo andar viu um corpo cair de um lugar escondido direto no chão. Não foi algo bonito de se ver, seu coração gelou.
  - ! –Ela gritou por cima do barulho das pessoas extasiadas e assustadas que quase não conseguiam sair. – ! Daleven! Daleven! – Não se importou em gritar, ninguém repararia que ali era apenas uma voz sem um corpo físico aparente.
  - ?! – Ouviu a voz fina de entre a multidão, uma chama se acendeu novamente. – ?! Você tá bem?!
  - Eu tô, eu tô! Cadê o Daleven?! – Perguntou. Mais uma troca de tiros e gritos femininos assustados. com certeza estava com raiva.
  - Ele tá aqui! – Gritou, estava sendo levada pela multidão. – O Andrey, ! O Andrey, ele sumiu, não deixa, vai atrás dele, por favor! – Sentiu a garganta da fechar como se fosse ela, como se Andrey fosse seu amor e ele estivesse em perigo. Tinha que ir atrás dele. Daleven segurou-a e levou-a com a maré de pessoas. virou-se, pegando sua arma, destravando-a, colocando em punhos.
  “Procurar Andrey. Procurar Andrey. Procurar Andrey”. Tinha esse pensamento enquanto passava pela chuva de tiros que ia de para os guardas/soldados e vice versa. Estaria tudo razoavelmente bem, não ser, é claro, se ele estivesse para ser morto por um filho da puta que não tinha visto.
  Um dos caras estava para atirar, atirar em sua cabeça. Seria fatal, adeus . Ele não estava vendo, ela não podia gritar. Num movimento rápido levantou sua arma pesada e apontou-a exatamente na cabeça, ela esmagaria seus miolos, só porque ele estava cogitando tirar a vida de sua obra de arte preferida.
  Tic tock. Ele já era.
   fitou o nada, atordoado. Da onde havia vindo esse tiro? Onde?! Outro tiro. Não perdeu tempo, foi, junto à pessoa que lhe ajudava, aniquilando todo e qualquer um que ainda restasse no salão, então estavam todos mortos.
  - Eu salvei sua vida! – Ela gritou de baixo, entusiasmada. Acabara de matar pelo menos dez caras. Da onde eles tinham vindo? Há minutos atrás eles não pareciam estar ali.
  - Parece que sim! – Ele respondeu, recarregando seu fusível. Uma calma tomou conta de seu corpo, ela havia lhe salvado, se sentia grato. Mais que grato. Buscou seu olhar lá de baixo outra vez e sorriu, dessa vez ela sorriu de volta, levantando a arma. Eram cumplices.
  - Onde está o cara? – perguntou, saindo do salão. Ele descia o vão de escadas para lhe encontrar na porta.
  - Levaram. – respondeu ao chegar ao encontro dela. – Tudo bem com você? – varreu seu corpo, tentando achar algum machucado ou algo, mas ela estava apenas bagunçada e ofegante.
  - Sim. Eu tenho que procurar o Andrey. – Ela também lhe olhou, ele também só estava bagunçado. Alivio.
  - Eles ainda estão aqui, foram pra o terraço. Vou atrás, não posso perdê-los assim, fácil. – Explicou.
  - Tudo bem... não morra. – Pediu, passando por cima toda e qualquer vontade que teve de lhe abraçar por estar vivo, indo à frente. Alguém em seu calcanhar, mais rápido que ela. Puxou-lhe pelo braço para que voltasse e lhe abraçou. Seu corpo se encaixava perfeitamente no dela, que engoliu em seco. Ele estava lhe abraçando. Espere, ela estava deixando e lhe abraçando de volta. Rendeu-se. Por alguns milésimos de segundo sentiu-se leve, o silêncio era bom, o cheio de bravura, garra e sangue também. Não era nada, só um abraço, então acabou. Partiram sem olhar para trás.

  - Andrey! – Gritou, ao vê-lo no final do corredor, correu até lá. – Que merda é essa? – Ele tinha uma garota no colo, ela estava desmaiada.
  - É um pequeno imprevisto...
  - Hey, é a garota que estava dançando com o rapaz que eles queriam. Como você conseguiu pegá-la? – Andou até ele, que estava parado lhe esperando. A garota tinha o rosto e parte dos braços machucados, também estava suja e desarrumada.
  - Toma. – Entregou-lhe os sapatos dela. tomou-os, esperando uma resposta descente. – Então, quando eu entrei em vês de ficar conversando com as pessoas fui procurar algo lá pra dentro. De inicio não achei nada, só o buffet e algumas mulheres conversando, tentei entrar no lugar e ver uma que falava sobre discurso, e tudo mais, mas não deu. Daí eu ouvi tiros e voltei, quando entrei no corredor vi essa garota correndo, ela estava meio desesperada, dai eu corri atrás, ela estava aprontando alguma coisa. Ela correu que nem uma louca até aqui e jogou uma parada no chão, pisou até esmagar...
  - Daí você bateu nela, como bom cavalheiro que é. – Arriscou.
  - Claro, ela foi meio petulante. Cadê a ? – Olhou para os lados, não vinha ninguém.
  - e Vincent foram lá pra fora, a me mataria se eu não viesse atrás de você. – Revirou os olhos, como se Handcheen não pudesse tomar conta de si mesmo.
  - E o ? – Merda, o . Seu estomago revirou.
  - Ele foi atrás do cara com quem ela estava dançando. Aliás, ela não... Merda, ele não tá com o código. Não tá, ela pegou na hora da dança! Eu tenho que o avisar! – Suou frio, eles tinham pegado a pessoa certa, mesmo sem querer.
  - Hey! – Pode-se ouvir , Daleven e Monalisa em direção deles. – Quem é essa dai? – gritou de longe. – É melhor ter uma explicação. – Foi só o que disse. Vincent parecia um pouco confuso, e Monalisa, frustrada.
  - Hm, tá vendo como a cara dela tá fodida? Pois é, fui eu. – Ele disse, um pouco maroto, um pouco orgulhoso.
  - Cala a boca, Handcheen, ela é linda. – Daleven disse de antemão, chegando mais perto. Mal chegou em seu perímetro Andrey praticamente jogou-a em seus braços.
  - Então pode ficar! – Falou indo de encontro à sua garota.
  - Onde você se meteu, idiota? – perguntou, caminhando um pouco pra longe. Privacidade de casal, ninguém merece. Não foi audível a resposta. Monalisa passou direto, não foi ouvido uma palavra.
  - Quem é? – Daleven perguntou.
  - A garota mais esperta da noite! – respondeu sem animo algum, ele não entendeu. – Ela fisgou o cara que tinha um código importante, o seduziu, tomou o código e destruiu. Só nos resta saber o que tinha nessa paradinha que ela destruiu. – Deu de ombros. Monalisa estava arrastando os cinco caras mortos de um por um até o outro lado do muro, fazendo uma pirâmide de idiotas mortos.
  - Já gostei dela.
  - É, eu também. E vocês, descobriram alguma coisa? – A cada quarenta segundos olhava para o corredor com portas abertas, não ele não estava voltando, não ainda.
  - Descobrimos coisas que nem imaginávamos.
  - Isso é bom? – Torceu os lábios, cruzando os braços sobre o peito.
  - Bem... Depende do seu ponto de vista. – Olhou Kaya novamente, tinha a achado bonita, doce e leve. Monalisa foi até o corredor e voltou arrastando o cara que tinha atacado anteriormente, jogando-o no monte de mortos.
  - Podemos ir? – O casal perguntou, abraçados. devia ter chorado, pois seu rosto estava levemente inchado.
  - Eu acho que devemos, a policia chega aqui rapidinho, eles com certeza irão querer saber o porquê de tantos corpos. Garanto que nós não iremos querer estar aqui para explicar. – Ponderou. Monna estava certa, precisavam ir.
  - E o ? – Vincent perguntou, olhando novamente para Callun, estava prendendo sua atenção. Todos se calaram.
  - Eu... – suspirou derrotada, ninguém ia querer espera-lo. - Eu o espero. - Abriram um sorriso, os vadios queriam ir pra casa! Noticia da noite: ELA TAMBÉM! Não se importaram de pegar o carro que os esperava sem olhar para trás. Filhos da puta! foi até seu carro, tirou-o do beco, colocando-o frente à porta e ficou lá. Passou-se dez minutos, nada de . Seus dedos brincavam sob o volante, estava nervosa. Onde ele estava? Os policiais iriam chegar, o movimento do lado da frente estava aumentando, só ela é invisível não podia salva-lo de ser visto. Repousou a cabeça na direção, estava cansada, fadigada.
  - When you ready come and get it, na na na na, na na na na. – caminhando indiferentemente, cantarolando um hit de uma cantora pop teen depois de uma noite de matança, só pode ser zoera. Chegou no carro, entrou nele e suspirou despreocupado pela segunda vez na noite.
  - Você estava cantando Selena Gomez? – Perguntou em tom irônico, ainda tinha a cabeça sob o volante.
  - Basicamente... é apenas o que eu sempre digo para minhas garotas. – Disse animado.
  - Acho que eu perdi alguma coisa aqui. – Girou a chave, ligando o automóvel. – Você tá feliz demais pra quem perdeu um suspeito.
  - É, você perdeu alguma “coisa” sim. – Sorriu esperto.
  - A garota de cabelo azul, pegamos. Quer dizer, o Andrey que conseguiu. – tinha um controle absurdo na direção, deu ré numa velocidade alta e partiu mais rápido ainda para frente. Se perguntando o porquê dele ainda estar rindo.
  - Melhor ainda então. – Relaxou-se pelo assento. – Que?
  - Você chega todo felizinho depois de perder o cara, normalmente chegaria pisando em ovos. , esqueceu? – Gesticulou com as mãos.
  - Olha só o que eu achei. – levantou um pen drive, um bem pequeno. Sinal vermelho.
  - O que tem ai dentro? – Puxou o elástico do cabelo, deixando-o soltos, deslizando sob seus ombros.
  - Vídeos. – Agora ele estava mais calmo. Sinal verde.
  - Pornografia, querido ? Pensei que curtisse fazer, não ficar olhando. – Ironizou, tomando o rumo da organização.
  - Câmeras de hoje, eles fugiram rápido demais, rápido demais até para apagar esses registros. Posso não ter os achado, mas pelo menos não fiquei de mãos vazias! – Retrucou conformado, a rua estava meio vazia.
  - É, countdown pra você. Mais uma pista! – Seus braços pediam um pouco de descanso, mas não ia reclamar.
  - Hey, encosta o carro aqui. – Pediu, de surpresa. Ela virou curiosa, pra que?! Encostou no meio fio.
  - O que foi agora?! – Estava começando a se estressar, estava um lixo, precisava descansar. Ele abriu o console, pegou uma nota solta de cinquenta e partiu para fora do carro sem responder. Cinco minutos depois estava de volta com doces e um saco cheio de... salgadinhos. havia saído da maquina automobilística, precisava de ar. – Se tivesse me dito que sua paradinha era pra comprar doces eu teria lhe respondido “, da próxima vez traga de casa, criança. Ou compre o que precisa antes”. – Revirou os olhos, só queria um pouco de paz.
  - Ainda bem que eu não te devo satisfações. – Deu de ombros e fez uma careta, ela ficou meio que... é, sem resposta. – Eu dirijo. – É, seja lá para onde iam, ele dirigiria. O forte da parada era ele, então que fizesse seu papel direito. arrodeou o veiculo, entrou, acomodando-se. Não queria conversar, não por enquanto. Suspirou e ficou contando as luzes que passavam rápido por seus olhos, ele estava lhe olhando, ela sabia. Outro sinal. Essa cidade tem sinais demais. Mendigos, por detrás do vidro blindado viu alguns, se compadeceu. Não gostava de ver pessoas em decadência, mas os humanos eram assim, sempre foram, mal se importavam com o próximo. Egoístas demais para pensar em alguém que não fossem eles mesmos.

  Coloque para tocar [Counting Stars – OneRepublic]

  - Hey! – Abaixou o vidro, abriu o lugar que pegou dinheiro, devia haver algum trocado lá. – Hey! Acordem, seus desocupados! – Colocou metade do corpo pra fora, gritando mais alto para que ouvissem.
  - O que você tá fazendo?! – perguntou confuso.
  - Cala a boca. – Respondeu, voltando aos sem tetos.
  - As mocinhas já acordaram?! – Questionou rindo. Alguns mais espertos se ergueram para olhar quem era a maluca gritando com eles em plena madrugada. Alguns segundos depois estavam todos acordados, uma garotinha de aparentemente onze anos, uma mulher bem descuidada e dois homens, um já velho e outro um pouco mais velho que a mulher. Uma família, uma família não devia ter que viver desse jeito. Seu coração apertou ao perceber a situação deles, doeu bastante e fez sentir vergonha das pessoas que deixavam isso acontecer e a esperança ascender em seu coração. Um dia isso acabaria.
  - Se quiser nós saímos da frente dessa loja! – A mulher gritou, estava abraçada ao seu aparentemente marido. Olhar triste, devia estar sentindo bastante frio, diferente dela.
  - Não seja idiota! – Fez bolinhas de papel com todo o dinheiro que possuía, uns duzentos dólares mais ou menos, virou-se pra . – Corre, me dá sua camisa! – Ordenou, sim, ordenou.
  - Que? Nã... – Fechou o cenho.
  - Experimenta negar tirar esse caralho de camisa pra mim, experimenta! – Avisou. assustadora mode on. Soltou o volante e desabotoou a camisa, tinha por baixo uma típica camiseta fina e branca.
  - Gosto assim. – Jogou-a pra ela, que fez um cestinho e colocou as bolinhas de dinheiro. – Hey, não comprem drogas, se comprarem drogas com esse dinheiro eu volto aqui e dou uma lição em vocês! E é claro, desculpem pelo sangue na camisa, podem jogar fora! Até mais! – Gritou. O sinal abriu e saiu lentamente do local, pode ver as rugas da mulher se desfazerem ao abrir a camisa, um sorriso pequeno tomou conta dos seus lábios. Deixou o vidro aberto, ficando apenas encostada sob a porta, continuando a contar luzes em silêncio. Depois de algumas ruas contando as luzes e estrelas resolveu falar.
  - Quando fazia calor nos dias de primavera, consequente o clima ficava desse jeito à noite... Em Leeds, você sabe, antes de eu ser “infectada” – Fez sinal com os dedos, frisando as palavras. – nós íamos para a nossa varanda, eu me lembro de ser espaçosa. –Ela fitava o nada, sentindo o coração endurecer a cada. – Então minha mãe preparava um bolo a tarde e minha irmã pegava a nossa diversão. Diversão era um rádio, nós colocamos esse nome porque de fato essa era a nossa diversão, só pra deixar claro, que seja... Às sete e meia, quando os guardas faziam a patrulha pela rua nós saiamos para varanda e ficávamos lá, até ficar tarde. – Pegou um dos salgadinhos e abriu. lhe olhava um pouco confuso, um pouco curioso. – Eu não conseguia ler, a luz era cara demais pra ser usada assim, a toa, ainda mais em tempos difíceis como aqueles, então nós usávamos três candeeiros, cada um numa ponta. Minha irmã fitava o nada, minha mãe tricotava... Sim, ela tricotava mesmo. E meu pai ficava ao meu lado, apreciando as musicas comigo, eu ouvia todas elas calada, era bom. Até que um dia ele levantou, virou pra mim e disse: “Tire esse traseiro pequeno dai e venha dançar comigo, mocinha!” eu me lembro até hoje, porque ele com certeza não era do tipo que dançava, mas ele sabia que eu tinha vontade às vezes, mas tinha vergonha de me sacodir sozinha no meio dos outros... é compreensível essa parte. – O mais interessante é que seus olhos apenas marejavam, mas nenhuma lagrima caia. Suspirou. – Eu... eu segurei sua mão e falei “Que os traseiros se sacudam!” então começamos a dançar, sem ligar se passaria alguém na rua ou se o resto de nossa família não estava achando legal. – Encostou a cabeça nos joelhos e continuou, um pouco mais baixo que o habitual. – Esse dia foi muito legal, minha mãe não reclamou porque foi uma das raras vezes que eu aparentava ser normal em sua presença. Também o ultimo dia que eu fui eu em junto deles. – A brisa passou leve sacudindo seus cabelos, deixando-os embrenhar-se ao seu rosto agora tenso. – Mas isso não importa, não está nem perto de importar... Afinal eu estou aqui agora, voltando de uma festa que eu não fui convidada, levando pelo menos mais dez mortes nas costas. – Terminou enraivada.
  - Não sei se elogio sua conexão com a família, e você se lembrar disso, ou fico chateado com o fato de não ainda estar incomodada por matar alguns humanos imundos. – Ponderou com uma pitada de humor, estava um terço mais feliz desde que adquiriu o pen drive com os vídeos.
  - A única coisa que você devia fazer é ficar calado. – Rebateu, lá estava sendo bipolar novamente.
  - Se quisesse que eu ficasse calado não teria ficado pra vir comigo, muito pior contado um breve acontecimento do seu passado. – Aumentou a velocidade, dando meia volta na rua quase vazia, fazendo-a bater forte contra porta e fazer uma careta.
  - Ok, isso aqui não é um parque de diversão, eu não estou certa de que quero estar num carro com você outra vez, afinal não sabe nem dirigir essa porra! – Concertou-se no banco, liberando o saco de fast food que tinha apertado involuntariamente. – Outra coisa, porque deu meia volta? –Grunhiu desaprovando sua mudança de rota.
  - Só não vou mais para onde ia, vou em direção contraria. Isso exige que eu mude a direção, não acha, inspetora? – Falou cínico e indiferente.
  - Oh, claro. Saiba que existe algo bem legal chamado RETORNO. – Pegou um chiclete, abriu e jogou no canto da boca, era de eucalipto.
  - Eu fiz um, acho que percebeu. – Mais cinismo. Depois dessa ela desistiu parcialmente de respondê-lo. entrou numa rua pequena a direita, ao sair virou e foi direto, numa velocidade excessiva.
  - Eu disse! Eu disse que você era uma bosta de motorista! Um bosta! – Gritou ainda doida do tombo que havia levado. Havia um sinal e ele estava vermelho, e o pior, na contra mão vinha outro carro, preto, grande, parecia que havia sido colocado ali totalmente de propósito.
  - Cala a boca ! Cala a merda da boca. – Bateu contra o volante, forte o bastante para balança-lo um pouco. Apenas levantou o rosto checando em quem havia quase batido, imediatamente fechou o cenho. Assim que lhe olhou, percebeu que havia algo errado. Olhando em linha reta pode sentir o interior de seu corpo ficar frio como gelo. Eles estavam ali.

Capítulo 18 - Perseguição

  Mordaças.
  Qual deve ser a sensação de estar amordaçado, trancado no banheiro de um jatinho no qual você não sabe o destino, desconcentrado o suficiente para não conseguir pensar?
  Traição, confiança, distração.
  Ele foi traído, levado às pressas por dois armários de homens em meio a um tiroteio que começou do nada.
  Caden confiou em Kaya depois que a mesma lhe afrontou e pediu para que lhe desse uma dança. Não foi difícil colocar como aprovada a ideia de dançar com ela, mas algo lhe dizia que talvez a garota podia não ser tão doce e delicada como parecia. Wait, ela não parecia tão doce, esse foi o motivo, essa foi sua distração.
  - Como vocês estragam meus planos desse jeito? Incompetentes! Burros, estúpidos! – Trisha gritou com os três babacas à sua frente, eles estragaram tudo! – Eu dou todo o dinheiro que vocês precisam para fazer uma festa. Eu mando vocês convidarem todos os nossos patrocinadores. Eu ordeno que vocês coloquem segurança de ponta lá, justamente por causa da minha presença e tudo que me dão em troca é ter que sair correndo às pressas porque um filhinho da puta nos ataca? Faça-me o favor! – Na cabine estavam apenas ela e os homens, todos eles lado a lado; primeiro o velho, depois o novo e por último o de meia idade.
  - Trisha, você sabe qu... – O velho balbuciou, equilibrava-se em sua bengala e soava frio; ninguém queria estar naquela pele.
  - Cale a boca, seu velho retardado! – Virou-se num suspiro. – Não me responda, nem tente me enrolar. Olhe para mim, você acha mesmo eu vou acreditar em qualquer uma de suas desculpas? – Riu sarcástica. Fazia o caminho de ida e vinda em sua frente. – Vocês falharam, não foi a primeira vez. Cada um individualmente, comigo e com minha equipe mais de uma vez, vocês foram perdoados todas elas, tiveram a oportunidade de voltar à ativa e o que fizeram? Não deram à mínima. Destruíram. Foderam com tudo! – Depois de uma pequena pausa, continuou. - Eu acabei de receber uma ligação e adivinhem?! A polícia foi para lá, a polícia, quadrupedes! E sabe o que eles acharam lá? Há, eu digo a vocês, eles acharam uma pirâmide de corpos, todos os “super agentes” que vocês contrataram, os melhores, aqueles que repisavam e remoíam em meus ouvidos para se gabar, todos eles mortos. Mortos por que vocês são incompetentes, porque não trabalharam direito, mas eu não preciso me estressar com isso... Sabe por quê? – Parou por um segundo novamente, Joseph estava acordando da boa surra que levou, sem saber onde merda estava e com quem. – Porque eu trabalho! – O mesmo som três vezes e eles estavam caídos no chão, vegetando, sem vida. – Amadores... –Soltou sua pistola, pegou uma taça de vinho branco gelado, passou pelos três corpos e tirou seu salto. Nick se debatia dentro do pequeno banheiro, amordaçado e preso por cordas, perdeu alguns dos sentidos, desmaiando outra vez.

  - Da onde a Pocahontas de cabelo azul veio, cara? – Vincent olhava mais uma vez para ela e questionava, estava intrigado.
  - Sei o mesmo que você, Vincent. Eu apenas corri atrás dela e a peguei, talvez ela nem seja todo esse perigo. Talvez eu tenha me animado e ela não tenha culpa de nada, mas algo me diz que não, o jeito que ela me respondeu “é assim que me agradece”, tem alguma coisa ai... – Handcheen veio de antemão, já tinha tirado seu terno e gravata, ficando mais leve, assim como Vincent. Acabaram de chegar, Monalisa, que dirigia o carro, adentrou a garagem depois de passar pelo código de segurança. Andrey estava na frente com ela e , Vincent e Kaya estavam atrás.
  - Chegamos. – Monna disse assim que parou, de cara fechada. Logo atrás vinha sua equipe, eles ainda não haviam ligado para a Fundação para informar dos acontecidos, então ninguém sabia além deles. Saiu do carro sem nem dar tchau batendo forte a porta, ela era desse tipo.
  - Ela é meio estranha, né? – comentou, soltando o cinto. Callun tinha as mãos presas em uma corda (Monalisa havia arranjado para eles) e mesmo assim Vincent não lhe soltou um segundo, mesmo estando desmaiada.
  - Ela é assustadora, isso sim. Esses dias eu estava passando num corredor para a sala de treinamento e ela estava treinando, fiquei uns segundos lá sem que ela visse, ela parecia estar com muita raiva, devia né, porque ela derrubou o saco de box. – Handcheen falou, desprendendo também o seu sinto. – Acho que ela consegue dar uns murros bem certeiros até no .
  - Por favor, você tá de brincadeira, né? O não usa nem metade da força que tem, aquele ali se controla a todo o momento, como consegue eu não faço ideia. – Piece destruiu sua tese de que alguém poderia vencê-lo. Olhou pra Kaya e fez uma careta, ela estava bem apagada. – Esse pacote aqui é todo seu, Daleven. – Dessa vez ele também fez careta, queria descansar um pouco, ou ir ao refeitório subornar alguma camareira por um pouco de bebida.
  - Ah, qual é? Cadê o espirito de união de horas atrás, cadê o “pelo círculo”? – Fez cara de derrotado quando os dois saíram do veículo e deram a volta no mesmo. – Vocês são dois caras de paus egoístas! Se ela me matar a culpa vai ser toda de vocês, hein! – Gritou sob a janela aberta.
  - Por favor, Vincent, aproveite para apreciar um pouco mais da beleza dela e de quebra bata com a Betty num corredor por aí, não perca essa chance! – , ah, ! Saíram de mãos dadas. “Belo casal de egoístas” ele pensou.
  - Vamos lá, Pôcah.
  Ele retirou o sinto de Kaya e a puxou até a porta, para ele, ela continuava desmaiada. Não era sua culpa ter tudo calculado, ser inteligente o bastante para bolar um plano de última hora. Ela acordou no meio do caminho, mas continuou fingindo, era o seu trunfo, apesar de quase não aguentar quando Vincent lhe chamou de Pôcah, que apelido estranho, será mesmo que ela parecia o desenho da Disney? Não sabia como ele era, pois não havia aberto os olhos uma única vez. Sentiu ele lhe arrastar e rodear suas costas e pernas, pegando-a no colo. Ouviu a porta bater, respirou o ar do lado de fora que se misturava com o cheiro dele, um bom cheiro, aumentou a curiosidade de ver seu rosto. Vincent caminhava, um, dois, três passos, parou. De olhos fechados sua curiosidade ia sendo corrompida pouco a pouco, ele havia parado para lhe olhar, não é o tipo de coisa que todo mundo faz. Fechou de leve o cenho quando sentiu uma rajada fraca em seu rosto, ele estava soprando para tirar o cabelo da frente, já que tinha as mãos ocupadas. Depois que a mecha saiu ele continuou, Callun aumentou significativamente suas preces “Pelo elevador, pelo elevador, pelo elevador!!” Vá pelo elevador Vincent, facilite pra mim, facilite. Subiu alguns degraus, foi direto e virou à esquerda, então parou. Era como se ela pudesse ver que ele tomava uma decisão, podia ver o elevador e a escada mais a frente, que tipo de otário pegaria a escada, sendo que está com uma garota no colo? Nenhum, nem mesmo Vincent. Quase suspirou aliviada quando o viu apertando o botão, meio desajeitado.
  – Que seja... – Balbuciou, Vincent também tinha voz bonita, já a de Handcheen era irritante. Trinta segundos e a porta se abriu, dois passos e eles estavam dentro. Respire Kaya, respire garota! Era bom que ele estivesse com o que ela queria, ela precisava que ele soubesse que ela era sim uma mutante, precisava chegar até o lugar certo. A hora era tipo, JÁ!
  Como se acordasse de um transe foi abrindo os olhos, bem devagar e calma, ia pregar uma peça em alguém ali. Abriu-os determinada a ver a aparência de Vincent, que quando lhe viu tomou uma espécie de susto, foi visível, pois ele quase dava um passo para trás e lhe soltava.
  - O que... O que, o qu... Cara, me solta! Me solta! Aahhhhhhh! – Não tomara aula de teatro, mas sabia direitinho como fazer uma boa cena. Sua feição machucada e assustada ajudou-lhe muito, pois ele lhe atendeu, colocando-lhe no chão frio do elevador assim que gritou.
  - Wooow, calma Pocah, calma! – Gritou para ela, estava amarrada, achou mais bonita em pé, era alta e fina, como uma boneca.
  - Quem é você? Onde é que eu estou?! Ahhhh, meu Deus! Socorro!! – Ele ficou surpreso com sua reação. Reação de vítima, como ele iria lidar com aquilo? – Meu Deus eu estou presa! O que você tá fazendo?! Me solta! PORQUE MERDA EU ESTOU PRESA?! Essa corda está me machucando! Você sabe quem eu sou? Você vai morrer, retardado, me solta!! – Jogou as palavras desesperadamente rápido para o outro, precisava que ele acreditasse que ela era humana. Kaya pulava e seu vestido balançava, lhe deixando a aparência de moça indefesa mais forte. Espere, aquilo ali era uma lágrima? Começou a bater na porta do elevador, mas ele não pararia, já era tarde, ninguém precisaria pega-lo há essa hora, porem precisava pará-lo antes que chegasse a seu destino. Virou-se para ele, que estava do outro lado, na defensiva. –Me solta! Me solta, eu tenho problemas em ficar presa, por favor! Eu posso morrer se você não me soltar agora, eu imploro!! – Estendeu a mão e fez a cara mais penosa que conseguiu, Daleven ficou estático e logo em seguida sacou o canivete dela e chegou mais perto, olhando para ela pacientemente. Ela devolveu o olhar um pouco confusa.
  Cabelos castanhos e olhos castanhos esverdeados, musculoso e intrigante, Daleven Vincent, ele tirou sua atenção totalmente. Arfou e o olhou por inteiro, será que havia chance de ganhar uma briga com ele? Será que queria mesmo brigar com ele? Ele estava agindo como se ela fosse à presa, e ela como se ele fosse o caçador. Ergueu as mãos então Vincent as pegou, as suas estavam gélidas, não tirou o olho dela, que respectivamente não tirou os seus do canivete. Parariam no 20º andar e iriam direto para a sala que ficou da primeira vez, isso se ela conseguisse provar que era uma mutante. 12º andar agora, o canivete rasgou o ultimo pedaço de corda que a prendia, Kaya deixou suas mãos caírem no ar quando foi solta, voltou-se a Vincent.
  - Quem você é? – Perguntou. Teoricamente ele estava encurralado por ela, mas isso não era perigo. Estar encurralado por uma garota de aparentemente 17 anos, que estava machucada e assustada, não é perigo quando você é um mutante que tem energia latente circulando por todo seu corpo. Kaya fitou o chão, enchendo o pulmão de ar, 14º agora.
  - Posso te garantir que não sou a Pocahontas! – Ela foi rápida e flexível, quando levantou o rosto já não era a garota indefesa, e sim uma malandrinha esperta cheia de truques na manga. Estendeu a mão para o painel da caixa metálica que estavam então ela parou. 15º andar, uma máquina controlando a outra. Agora parados ela podia pegar seu canivete de volta. – Câmeras. Desligar. – Goodbye, televisionamento por câmeras. Ela deu passos para trás, é claro que ele iria revidar, mas ela foi mais rápida. – Luz. Desligar! – Agora ele não veria nada, ponto pra Callun.
  - Merda! – Grunhiu, buscando-a no escuro. Ela correu para o outro lado ao ouvi-lo, junto com o trincar de algo caindo no chão, seu canivete. Correu para o lado oposto e palmeou o chão, como não conseguia ver levou um corte, mas ignorou, colocando rapidamente dentro do local que estava de início, um bolso de couro prendido na coxa direita, em baixo de sua saia. Grunhiu ao colocá-lo no lugar, seu corpo doía. – Então quer dizer que é mutante? E que desliga elevadores quando bem quer? Melhor, desliga elevadores comigo dentro, é golpe baixo, se for pensar um pouco... E se eu fosse claustrofóbico, Pocah? – Kaya se levantou, e ficou de reta guarda, ele iria lhe atacar, obvio.
  - É, eu sou uma mutante sim, e você ficaria fascinado com as coisas que eu posso ligar e desligar, você me parece uma que precisa ser ligada. – A saia de seu vestido já estava em farrapos, o som dos passos de Daleven denunciava-o para onde se movia. Começou a fazer círculos, ela fez a mesma coisa do outro lado, arisca.
  - Você acabou de me chamar de lerdo? – Perguntou. Uma pequena ponta de Vincent estava curtindo aquilo, pois não tinha ganhado se quer um pouco de ação nessa noite, só na hora dos tiros. Callun também não estava se importando, adorava jogos.
  - Basicamente, Vincent. – Deu de ombros, se ele soubesse que ela sabia seu nome a um longo tempo...
  - Vai me deixar sem saber qual o seu nome? – Perguntou rindo, efeito adrenalina. Continuavam no círculo.
  - Você pareceu gostar do apelido. – Respondeu esperta, procurando um pouco de folego naquele lugar abafado. Será que lá fora se deram conta que o elevador parou?
  - Estou vendo que gosta de uns joguinhos... Acho bom saber dar uns bons golpes também! – Não foi algo que estivesse acostumada de ver todos os dias, raios magnéticos iluminando o ambiente, eles vieram direto da mão de Daleven, eram cinzas e azuis, fascinantes e rápidos, iam direto para o nada. Ele conseguiu ver sua sombra e foi ao encontro, dando-lhe um golpe no rosto, pegando-lhe desprevenida. Logo após esse Kaya estava avisada, havia começado. “Que as aulas com o Victor me ajude nessa hora, amem!” pediu, não tinha mais volta. Vincent estava lhe machucando apenas com uma mão, a outra ele usava para iluminar o lugar, o que era estranho, pois podia simplesmente lhe dar um choque e ganhar de vez. Ele não sabia, mas ela era uma máquina e maquinas são fortemente afetadas quando há uma alta voltagem sobre si.
  - Aah! – Gritou de dor indo ao chão. – Quer dizer que vocês daqui batem em adolescentes indefesas que não sabem lutar? Ótimo, covardes! – Gemeu. Num relance de luz que vinha de Vincent ela pensou ao ver a silhueta de Daleven em pé, “Hey, posso tirar proveito disso!”, e tirou. Quando ele iluminou de novo com seu raio ela golpeou atrás de seus dois joelhos, o fazendo cair com eles no chão, puxou seu cabelo por trás deixando que a cabeça batesse com tudo no chão. – Há, estupido! – Deslizou para frente e empurrou-o, agora estava totalmente caído no chão. Sem perder tempo subiu em cima dele, ficando “sentada” em sua barriga. – Não. – Um murro no rosto, não tão forte como desejava. – Me. – Outro mais forte, do outro lado. Ela tinha muita raiva guardada dentro de si. – Chame de Pocah! – Parou, buscando ar, ele não estava tão ligado como antes. – Nem bata em minha cara outra vez! Eu não sou seu saco de pancadas! – Golpeou outra vez, deixando seu ódio esvair. Saiu de cima dele e se encostou à parede gelada, ficou em silêncio, recuperando-se. Será que tinha finalizado com ele? Ficou lá no chão parado por um minuto, ela fechou os olhos e descontraiu os músculos.
  - Eu também não! – Quando seus ouvidos receberam a mensagem e seus olhos viram aquele brilho, o mesmo que viu em Handcheen, Kaya quase entrou num colapso. É claro, por isso a recuperação rápida.
  - Merda! – Tarde demais, seu nariz já sangrava. Colocou a mão na frente de seu rosto para se proteger e fechou os olhos, mas ele não lhe golpeou.
  - Pocah, você já levou um choque? – Perguntou divertido, não era uma piada. Seu pânico estava aumentando, ele não podia lhe dar um choque daquele. Não, não! não! Ainda mais fazendo parte do círculo. Seu corpo quase vacilava por conta do medo adiantado. Olhou na direção de seu rosto, não podia ver nada. Ele levantou as duas mãos e trouxe os raios de volta, deixando visível o rosto de ambos, bem perto. Se Vincent a tocasse ela estaria bem fodida, para falar a verdade.
  - Não! Não, você não pode fazer isso! – Num ato desesperado tomou sua camisa a mão, puxando-lhe pela gola. Kaya respirava num ritmo frenético, emanando medo. – Você não pode fazer isso, está entendendo? – Puxou mais forte, bem mais forte para que ele soubesse que dessa vez era verdade, forte o suficiente para que ele desse um passo à frente. – Escute... – Respirou fundo, tentando se acalmar. Daleven permaneceu calado. A forma que a luz batia em seu rosto deixava-o enigmático, diferente. – Se você tocar em mim com esses raios eu provavelmente terei uma parada cardíaca, ok? Dependendo da intensidade que colocar eu já era! E não é porque são raios, eu provavelmente sofreria um curto circuito aqui, não faça isso. – Indagou, seu corpo teimava em começar a tremer, mas ela continuava segurando forte os dois lados da camiseta, lhe olhando duro, esperando que parasse com aquilo e não lhe fizesse mal. – Eu sou mais útil viva do que morta! – Retrucou na defensiva. Daleven colocou cada palma da mão em um dos lados deles, iluminando ainda mais o rosto de Callun, dando preferência ao seu lado. O que estava pensando?
  - Prove. – Imediatamente ela fechou o cenho, gelou. Buscou seu olhar, “é isso mesmo?” perguntou com eles. Ficou em silêncio por um momento, olhando para ele por mais algum tempo, tentando achar algo que anulasse o que acabou de ouvir, mas as feições dele não mudaram. Ela sabia, era isso mesmo. Nunca foi tão legal ter que beijar alguém para provar alguma coisa. No outro segundo o puxou rápido, sem perguntar nada ou pedir consentimento e o fez.
  Beijou Daleven Vincent, que a respondeu com a mesma vontade. A intensidade dos seus raios alimentou massivamente, ele se encostou a seu corpo e colocou as mãos uma em cada lado na parede, houve um impacto e depois o som de algo se mexendo sobre eles, tinha colocado a máquina para trabalhar. Com o elevador em movimento tirou as mãos do lugar e finalmente colocou-as sobre a garota, deixando tudo escuro novamente. Só ela poderia religar as câmeras e luzes. Os dois estavam cansados, mas tinham folego, pois adivinhem... Eram mutantes! Kaya tirou as mãos da gola e colocou-as de cada lado de sua camisa e puxou, fazendo os botões voarem longe, deixando-o surpreso. Vincent colocou a mão em sua nuca e segurou seus cabelos, deixou a outra mão passear em sua barriga por cima do vestido, apertando-a sobre a parede, sem lhe dar opção a não ser grunhir entre os beijos.
  – Qual a sua idade, garota?! – Parou do nada. Ela aproveitou para tomar ar.
  - Dezessete. – Respondeu. Ele continuou parado, isso foi um estimulo ou o que?
  - Definitivamente você não parece com as garotas de dezessete anos que andam por aí. – Mordeu os lábios enquanto falava para o escuro. Vinte e quatro anos e aquilo não havia acontecido com ele. Depois de todo esse tempo ele encontra uma garota mais nova que joga e lhe excita como se fosse uma mulher formada, talvez ela fosse, esse pensamento lhe provocou mais. Kaya deixou que suas mãos escapulissem para dentro da camisa aberta dele, lhe arranhando as costas, ele grunhiu e procurou sua boca novamente. Logo após ela disse num suspiro:
  - Luz. Ligar. – Não foi forte como da primeira vez, foi sexy. E assim a luz estava de volta. O primeiro fleche que viu foi dele em sua frente, boca entreaberta, rosada, bagunçado e sexy.
  Vincent a olhou, procurando alguma coisa de diferente, estava lá, só não conseguia enxergar por agora. Callun tirou os braços de sua camisa e colocou sem seu ombro, sem pestanejar ele tomou sua cintura e levantou-a selando outro beijo estupidamente cheio de desejo. Ela fincou as unhas em suas costas e arrastou-as, aumentando a intensidade cada vez que ele ia passeando por sua boca, deixando o beijo mais profundo e severo.
  - É porque eu não sou como as garotas que andam por ai. – Respondeu em seu ouvido, dando-lhe um arrepio forte.
  O elevador parou de se movimentar, deu um bipe avisando sua chegada. Segurou em seu pescoço e ele lhe colocou no chão lentamente, num movimento calculado. Foi algo bem diferente para ambos, foi sobre potência, os dois tinham.
  – Kaya, é esse o nome. Não me chame mais de Pocah. – Avisou olhando em seus olhos vislumbres e estáticos. Respiraram fundo, ela arrumou o vestido deixou as mãos se embrenharem ao cabelo, arrumando-os. – Pode me levar, já sei que tenho que ir. – Parou em sua frente outra vez, estendendo a mão, mas ele não disse nada, apenas ficou sério. Não a prenderia outra vez, não depois dessa. Vincent checou sua camisa, estava um lixo agora, pelo menos Kaya tinha uma desculpa, e ele? Deixou pra lá.
  - Abra. – Pediu. Ela não havia deixado à porta se abrir quando chegaram, dando-lhes tempo para recompor os ânimos e as feições. Olhou-lhe, e pegou seu pulso apertando um pouco.
  - Ok. – Assentiu, abrindo-a com a mão que sobrou. Deixariam aquele pequeno segredo sujo para trás onde o cometeram, pelo menos por enquanto.

  - Vincent, o que... Quem é essa garota? – Betty foi reto em sua direção quando viu a garota junto. Claro que ainda estava de pé, esperando-os. Seu vestido preto marcava um pouco o busto, deixando o volume dos seios evidente. Isso num dia normal atrairia Daleven e o faria olhar em direção a eles como um lobo, mas não agora. Agora ele estava sério, a única coisa que sabia fazer era apertar o pulso de Kaya que o seguia prontamente no mesmo silêncio que o mesmo. A cada passo checava o local em que ele segurava, certificando-se que de que não seria machucada.
  - Achamos na festa, ela é mutante. – Respondeu num tom desinteressado, Betty engoliu seco quando percebeu sua aura mudada. Callun olhou-o de canto de olho e encarou a mulher de cabelos vermelhos soltos em sua frente, fez cara de nenhum amigo. Não precisou nem de uma troca de olhares para entender a situação: Daleven devia gostar de Betty, que por sua vez lhe ignorava, que por sua vez achou estranho ele não estar agindo como sempre no momento. Uma vermelhidão tomou conta de seu rosto, só agora havia parado para pensar no acontecido. Ela mal o conhecia, ele lhe pediu e ela atendeu. Mas ele lhe pediu! Ele mal lhe conhecia e já lhe pediu! Mas é isso que homens fazem, certo? Ela foi seu tira atraso? Não, não podia ser... ele não devia estar no atraso, era bonito demais pra isso. Ela sim, mas não importa, porque já aconteceu. Varreu o lugar, havia apenas poucas pessoas trabalhando, isso era bom. A ruiva conferiu-lhe de cima a baixo, com um ar um pouco superior. Estava certo que seu vestido lindo de hoje à tarde agora era uma grande merda agora, mas seu olhar promissor com certeza não foi por isso, ela sabia bem o que era aquilo. Devolveu-o com um serrar de olhos e uma careta, não era qualquer uma. Vincent continuava segurando forte seu pulso, sem afrouxar nem uma vez.
  - Qual o nome dela? Quais as circunstâncias? – Questionou, virando-se pacientemente para ele, que evitou olhar na direção de Kaya.
  - Ela está aqui, não está? Esse é o seu trabalho, descobrir. Não eu. Já fiz o que tinha que fazer, ela apenas apareceu lá e saiu correndo pelos fundos como uma suspeita, de resto descubra se quiser ou pergunte ela, garanto que ela tem uma língua para te responder. – Apesar de desconcertada e fraca um sorriso quase possuiu seus lábios de Kaya ao ver a cara espantada que Betty vez, era visível que ele não a tratava assim normalmente. “Talvez a bebida da festa o fez ficar diferente, talvez amanhã mesmo passe, ou talvez ele simplesmente deixou de ser idiota e decidiu parar de correr atrás dessazinha aí. ” Callun pensou. Mesmo sem querer tinha tendência a conhecer a atitude do próximo, por ser uma máquina. Betty o achou diferente, mas ele não ligou de ser grosso porque ela sempre o tratou mal e estava ocupado demais com outra coisa.
  - Tudo... tudo bem. Ela vem comigo! – Adiantou. Os olhos de Kaya se encheram, isso significava que ele lhe soltaria e iria embora, ainda mais depois do olhar doido que Betty lhe soltou. “Hahá, você pode até ir embora, mas não antes da nossa vingança pessoal.” Pensou. Betty deu um leve suspiro, um cansado, cheio de cansaço. – Vamos, garota! – Falou deseducada, olhando os dois de vez dando mais um motivo para que Kaya fizesse o que pretendia, deve ter pensando em como os dois pareciam ousados e estranhamente bem juntos. Callun deu os dois primeiros passos certos e fortes, Daleven ainda segurava seu pulso e Betty estava em seu calcanhar, o terceiro não foi tão preciso, no quarto vacilou todo o corpo num movimento fingido, simulando uma queda melhor até que uma atriz de Hollywood. Antes que se desse conta o Vincent havia lhe puxado pelo braço, bateu de leve contra seu tórax, mas não o olhou, exatamente para aumentar a tensão. – Será que ela não aguenta nem dar uns passos até a sala?! – Perguntou retoricamente para ele, revirando os olhos. Partiu andando ao ver que ele havia a segurado, costumo chamar esse tipo de coisa de ciúmes. Daleven lhe deu um leve choque, para que olhasse em sua direção.
  - O que tá fazendo?! – Perguntou num tom grosso, lhe apertando. Kaya pareceu não se importar em estar sendo apertada, continuou cínica.
  - Trazendo um pouco de diversão a sua vida de merda. – Respondeu num sussurro. – Deveria aproveitar enquanto ela está com ciúmes de nós dois. – Seguiram andando, Callun o fez de apoio.
  - O que? Ciúmes? – Falou descrente.
  - Vai dizer que ela não te ignora a todo o tempo? Você acha o que? Você aparece aqui só comigo, segurando no meu braço e de quebra é ignorante! No mínimo ela ficou intrigada. – Continuou balbuciando sobre os ombros, Vincent era mais alto que ela, o que lhe dava a sensação de proteção, mesmo que ele estivesse atrás.
  - Esqueça ela, não é da sua conta! – Retrucou incomodado. Só ele conhecia esse seu lado, o que não deixava ninguém entrar, mas sabia que era verdade. Já chegavam à parte dos presos, há essa hora a maioria estava dormindo.
  - Ok, ok então! Quer se foder se fode! – Soltou enraivada. – Nem sei por que estou tentando te ajudar com isso, não esqueci que me deu dois ou três bons murr...- Wow, ela bem quis, mas dessa vez não foi um truque, vacilou de verdade, rápido demais. Antes de chegar ao chão foi trazida de volta impactante como um... raio. Betty se virou para trás ao ouvir o baque, suas feições se fecharam ao ver Vincent vinculado a Kaya, trazendo-a no colo. Algo a incomodou naquela imagem, mas não podia fazer nada a respeito, só sentir uma pontada de inveja da garota. “Ele só está ajudando essa coitada, ela malmente fala, quem dirá outra coisa...” Se consolou. O interessante era que estava totalmente errada. Daleven passou sua frente direto para sala onde Kaya ficaria, ela havia encostado a cabeça em seu ombro, estava gostando, e o melhor, tinha uma desculpa.

  - Vamos, lá! Vamos lá! – Falou dando duas palminhas. – Pegue a rota que passa pelo rio, tenho que jogar um pouco de lixo lá. – Jogou-se no sofá, os corpos já começavam a feder, mas Trisha não parecia se incomodar com tal fato, o piloto mudou a rota, chegando rapidamente ao rio, medianamente perto da ponte. Ela levantou e abriu a porta, recebendo a frente um vento estarrecedor em sua face, forte o bastante para desfazer seu penteado que já não estava lá essas coisas. Joseph estava retomando sua consciência dentro do banheiro, sua cabeça latejava, tudo que queria era acabar logo com aquilo. – Vamos lá velhote, você primeiro! – Arrastou o velho pela perna e segurou-se à porta. – Lá vai você, sempre te achei carrancudo e chato, com essa sua bengala, malmente conseguia andar. Queria que estivesse vivo, só pra te ver morrer de novo, filho da puta! – Gritou, dando um último empurrão para o mar. – Um já foi, agora vamos dois de uma vez porque eu estou com muita, muita preguiça. –Revirou os olhos e foi até os outros. Papeou o bolso de ambos, no do mais novo achou um anel caro no bolso da calça, já no do mais velho havia um relógio de bolso banhado a ouro. – Quanto a vocês dois... Sempre tive uma pequena curiosidade de saber como seria dar aos dois ao mesmo tempo, mas adivinhem? Vocês eram lerdos e gananciosos, e nunca terão a oportunidade de me tocar, grande dupla de otários. – arrastou-os e jogou-os sem delongas, fitou o corpo de cada um diminuir conforme se distanciava, e depois cair na água, sendo sentenciados ao esquecimento mórbido que a morte de pessoas medíocres que nem eles trazem. Fechou a porta e deu permissão para que o piloto seguisse caminho. – Agora vamos checar se o outro ainda não morreu... – Abriu com tudo a porta do banheiro, Joseph quase caia em seus pés, mas segurou-se. Tudo que conseguiu fazer foi lhe olhar confuso de cima. “Quem é essa?!” pensou, aquele não podia ser um bom lugar, não quando ele estava amordaçado e amarrado dentro de um banheiro num jatinho de um desconhecido, não quando se ouve tiros do nada. – Oi, Joseph! – Abriu um sorriso convidativo, quem queria enganar? Nem sóbria ela estava! Retirou sua mordaça.
  - Me tire daqui. Agora! – Gritou para ela, que riu em resposta.
  - Acha que está em condições boas o suficiente para sair assim gritando comigo? – Abaixou-se e o pegou como um bicho pela camisa, arrastando-o para fora do cubículo que estava. – Mas vamos ter uma conversinha, uma bem legal que envolve festas, bebidas, códigos e seu pai preso entrando em decadência. – Jogou Joseph numa das poltronas, ele estava péssimo, será que não já estava sofrendo o bastante?! Não, não... era apenas o começo. Trisha foi até a mesa e colocou em sua taça o ultimo gole de vinho que havia na garrafa, certificando-se de trazê-la consigo para o questionário que faria. – Então, Joseph... Eu quero o código. Simples.

  - Você acha mesmo... – tossiu, veio um pouco de sangue junto. - que eu vou te dar? Nem em um milhão de anos. Eu nem sei quem você é, e se soubesse ainda assim não te dava. – Suas palavras estavam saindo enroladas demais.
  - Você é um sobrevivente Joseph, eu até admiro... Mas não tem chance, todas suas opções se resumem e voltam a mim. Eu posso pegar seu codigozinho sem nenhuma dificuldade, lhe jogar no mar e pronto, você morre, meu chefe fica com o código, e seu pai... hm, nele eu dou um jeito. – Levantou seu copo, era claro que se ela tocasse no nome do seu pai ele mudaria, não era justo. Fez uma careta de horror, meio desesperada, mas não ousou sair da cadeira que foi colocado. – Você está destinado à morte, meu querido. E ninguém vai ligar, nenhuma de suas alunazinhas, nem seu pai. Pra falar a verdade... Ele deve estar fadigado demais para lembrar que tem um filho, um que lhe desapontou bem quando ele precisava. Grande merda você é. – Rolou os olhos, sua maquiagem estava borrada. Os ouvidos de Nick quase sangravam ao ouvir as coisas horríveis que ela dizia, pois de fato ele se sentia assim, inútil. E agora estava tudo perdido, ela pegaria seu código e ele seria jogado como um pedaço de nada no fundo do mar. - Facilite pra mim e eu lhe mato sem dor, o que acha da proposta?
  - Eu acho que você pode até me matar, mas quando sua hora chegar eu estarei lá, na primeira fila da arquibancada para ver seu fim, desgraçada. – Respondeu já sem tantas forças. Trisha saiu de sua frente e tomou o chão, escorregando pelo tapete sujo, chegando a pernas dele, abrindo-as.
  - Faça, espere quanto quiser, mas antes me deixe ver uma coisinha. – Mais uma vez ele não fez nada, só ficou lá, esperando que ela o apalpasse, achasse o código e lhe jogasse no esquecimento. Pelo menos assim ele não seria corroído pela culpa de não poder salvar seu pai. Trisha tirou seus sapatos e meias, checando tudo, foi subindo pelas pernas, então calça, camisa, paletó, até ficar frente a frente com ele, que para sua surpresa estava com um ar desconfiado e preocupado. – Onde está o código? – Gritou, ele jamais esqueceria a cara que ela fez, foi capaz de embrulhar seu estomago. O hematoma da surra já aparecia em seu rosto, deixando seus olhos tão bonitos agora apagados. – Cadê a porra do código?! – Uma ponta de desespero apareceu em sua voz.
  - Ele deveria estar em minha roupa! Eu não sei. Em meu paletó! – Confessou. Ela foi direto até a peça, revirando-a e mais uma vez sem encontrar nada, rasgou-a.
  - Não minta pra mim, seu orfãozinho bastardo, ONDE ESTÁ O CÓDIGO! – Sua voz preencheu todo o lugar com raiva, fazendo-o perder o pouco de sanidade que havia conseguido desde que acordara.
  - Eu já disse, e quer saber? É bom que você não ache essa porra! O que querem fazer com ele, é loucura! É insano, vocês não vão conseguir se segurar depois que ele for ativado, os humanos que vocês tanto protegem não vão conseguir sobreviver e logo estarão quebrados, seus doentes! – Pegou toda força que tinha para formular a frase, colocar nojo e raiva nela foi fácil. Difícil foi segurar o gemido de dor ao receber uma garrafada na cabeça. Trisha era vingativa. Agora o sangue de Nick ia da cabeça e começava a lavar seu rosto.
  - Onde está o código? – O que era aquilo? Era desespero. Ela não podia chegar em seu destino sem o código, ou seria classificada como os que matou. Covarde e inútil. Parou em sua frente, lhe intimidando, e até funcionou, apesar de ser mulher. – Qual foi a última pessoa com quem esteve na festa? – Respirou fundo. Flashes vieram em sua cabeça. Kaya, sua audácia e a dança... Não seria tão difícil de ter pego o código em seu bolso. Ela lhe distraiu tão fácil, como um idiota ele caiu no seu charme. Lembrou-se do que seu pai dizia “Nunca confie em mulheres, Joseph. Elas são flexíveis, audaciosas, elas nos cegam e quando vemos não somos mais nós mesmos.” Ele havia sido cego e tolo, tudo ao mesmo tempo. Se ela o roubou, o que queria com o código? O que?! Usar? Como ela usaria aquilo? Ou só queria destruir, ou chantagear o chefe de Trisha para conseguir uma grana? Estava tudo muito solto em sua cabeça, não havia muita coisa se encaixando. – O que? Se lembrou de alguma coisa? Fala idiota! Fala!
  - Não. Eu não tive... Contato com nada, ninguém. Só uma família, mesa 34. – Mentiu.
  - Bem, então agora você é um lixo, descartado. Sem código, sem utilidade. – Continuou gritando. Levantou-o em outro puxão, sua cabeça latejou mais forte. Fim Joseph, fim. Fim! Fim! Fim! – Puxou-o até a porta e abriu, ele quase caia involuntariamente para fora. Por causa da fraqueza. Trisha segurou firme na porta e o colocou metade do seu corpo para fora, seu estomago revirou, junto com o coração que disparou. Nenhum ser merecia ser humilhado desse jeito. – Por sua causa eu serei rebaixada, que inferno rapaz! Você arruinou o que eu levei meses pra conseguir! Meses, desgraçado! – Empurrou mais um pouquinho. Lá, a beira da morte tentou raciocinar um pouco, não estava tudo perdido, ele era melhor vivo do que morto. Seja lá o que a garota havia feito com o código ele poderia fazer outro, poderia dar um jeito, poderia tentar.
  - Espere! ESPERE, EU... EU SEI COMO AJUDAR! EU SEI, SEI COMO FAZER OUTRA VEZ! POR FAVOR, ME DEIXE PROVAR! – Gritou, tentando pela primeira vez salvar sua vida, pelo seu pai, apenas por ele. Desmaiou por conta da pressão, ficando por total conta de Trisha, ela poderia fingir que ele era nada e jogá-lo no mar, ou permanecer com ele e ter uma desculpa para sua falha, o conserto para seu erro. E ele ainda ficaria humilhado lá dentro. Seria isso, estava salvo por hora. Puxou-o para dentro novamente e fechou a porta, cessando com o vento. Arrastou-o pela camisa, sujando-o com o sangue dos outros e o jogou no sofá.
  - Pode seguir viajem! – Gritou para o piloto, que assentiu com a cabeça, obedecendo a suas ordens.

  - Eu tenho a leve impressão de que quem tá dentro desse carro provavelmente vai fazer alguma coisa conta nó... – A janela do outro se abriu em sua frente, dentro dele, do lado do passageiro estava um cara branco, barbudo de olhos escuros. Ele olhou para os dois em sua frente e continuou olhando, esperando alguma coisa, mas nenhum fez nada. Sem reação e se entreolharam confusos. – Esse homem é meio estranho. Olha a cara de quem não quer nada, ele devia ir embora ou, sei lá... vir reclamar com a gente, não ficar com essa cara de merda nos olhando. – Falou encarando o homem, ele mascava alguma coisa. Olhou diretamente para , arqueou as sobrancelhas e se voltou para o motorista que não era visível, falou alguma coisa com ele, talvez se não tivesse tão longe ela pudesse escutar. Com um sorriso amarelo ele colocou sua mão para fora e jogou um papel amassado pela janela, ambos o acompanharam até chegar ao asfalto, não lhes pareceu um papel normal, caiu rápido demais no chão. Papeis, mesmo que amassados não caem tão rápido no chão. seguiu olhando o cara, que lhe encarou seguindo de mais um sorriso estranho, não havia nada engraçado ali, na verdade não havia nada. O carro arrancou para direita. inclinou-se para frente, não estava com cinto de segurança. – A bolinha de papel, tá se abrindo sozinha. – Falou. inclinou-se também, desviando qualquer atenção da estrada. O papel abriu-se revelando uma real bolinha vermelha, bem estranho.
  - É só uma bolinha. – disse, mas esta o intrigou. Logo após olhar para novamente ouviu o barulho da coisa vermelha estourando, fazendo-se vivo em seus ouvidos, dando-lhes um susto, seguido de uma fumaça branca que se espalhou por toda sua frente, impedindo-lhes de ver qualquer coisa que viesse por este lado.
  - Como eu estava dizendo eu acho bem provável que esses homens vão fazer algo contra nós... – Sentiu sua pele formigar por dentro, já não era o bastante por hoje? – BRIAN! Dá ré! – Gritou em tom grave. Por sorte ouviu o som do carro que vinha à frente, em velocidade latente e não estava nem um pouco a fim de parar. No mesmo segundo, sem pestanejar colocou o carro para a trás, distanciando-os da fumaça. Um metro depois, um carro preto como o do homem que jogou a bola atravessou com tudo a tal da fumaça.
  - Era só o que faltava pra hoje! Põe o cinto! – Mandou. Ela não obedeceu, estava paralisada. – Porra, , põe o cinto! – Em sua frente o carro corria imponente, as janelas traseiras se abriram e de cada lado saiu alguém mascarado com roupas na cor preta. Seguravam um fúsil, e apontavam respectivamente para na direita e na esquerda. A garganta dela fechou, não sabia se o carro era ou não a prova de balas. Piscou uma vez e as balas estavam alojadas no para-brisa agora trincado e só piorava. Gritou por conta do pânico e se abaixou com os olhos fechados, tentou se manter concentrado com o caminho, aumentou a velocidade tentando fazer com que a situação não piorasse mais ainda. Sua íris começou a queimar, quando se voltou para ele, ela estava brilhando como uma estrela, quente e fulminante. – Ok, você tem que se acalmar, pega as armas, estão no banco de trás! – Tremendo ela mergulhou para dentro da parte traseira e levantou o banco sem delicadeza, lá estava algo útil que podia lhes salvar. Pegou um fuzil, já havia se acostumado com o peso.
  - Meu Deus, isso é uma IMBEL MD97L?! – Perguntou impressionada, lhe dando a arma com cuidado.
  - É sim, boa hora para você se entusiasmar com o modelo de uma arma, boa hora! – Segurou firme o objeto com a mão direita enquanto dirigia. – Munição. – pegou-as e jogou-as no pescoço dele. – Eu não estou vendo nada! – Começaram a atirar novamente na parte da frente. pegou duas pistolas e checou se estavam carregadas, um movimento instável de ao volante fez com que ela se desequilibrasse e apertasse o gatilho para cima.
  - Merda! – Estava ficando quente. E estranhamente ansiosa.
  - Eles estão saindo da frente, passaram para o lado! Qual é a deles?! – Se perguntou. Ainda não era hora de abaixar os vidros e atacar, tinha que esperar alguma deixa, o perigo era muito grande ali.
  - !! , dos lados, os lados! Corre! – O tempo foi suficiente para não se impactar com os carros que vinham de cada uma das vielas, do lado direito o mesmo cara da bola, do outro um carro semelhante. Os que atingiram toda a frente seguiram caminho sem atirar, o que foi questionável. Estavam num triangulo, em cada um dos lados um carro e no meio. – E agora?! – Perguntou mais que assustada, as janelas se abriram e saíram 2 mascarados de cada lado, todos armados. – E AGORA?! – Gritou mais desesperada ainda. Como eles iriam sair dali? Ok eles eram humanos, mas estavam em número maior. parou, ignorando o ataque de , respirou fundo deu ré com tudo, fazendo com que ela se desequilibrasse outra vez dentro do veículo. Como esperado eles vieram atrás seguindo o protocolo, menos a parte que seguiram de ré também, um de cada lado. Sem pestanejar os oponentes começaram a salva de tiros. abriu o teto de cima.
  - Você está bem? – Perguntou.
  - Sim. Não. Fala, o que tenho que fazer? – Segurou suas armas com força e respirou. O carro não aguentaria tantos tiros assim por muito tempo.
  - Vai para fora, e atire nos da esquerda. Mira na cabeça e cuidado com os da direita, qualquer coisa volta. Eu vou abaixar o vidro da direita e acerta-los. Assim que eu ouvir o primeiro tiro abaixarei o vidro, ok? Consegue fazer?! – Tinha os olhos no retrovisor, era a única coisa que poderia lhe ajudar ali, depois de . – Consegue fazer, ?! – Como ela, ele perguntou novamente. Um tanto de pressão, mas sim, ela assentiu. Tirou outras armas rapidamente e colocou em seu banco, fechou o que guardava e subiu em cima já invisível, tomando desprevenidamente uma rajada forte de ar frio. Apontou tremula a arma para o esquerdo, como ele disse, mas estava tremula demais para conseguir realizar o movimento. Graças ao vidro escuro eles não repararam que ela havia sumido do carro. “Ok, ok, eles não estão me vendo. Eles vão nos matar se eu não atirar, eu posso fazer isso. Eu posso.” Com as palmas suadas tomou o ar que vinha livre, usaria um truque que Vincent lhe ensinou. Ela poderia atirar em dois de uma vez, e faria. Mirou nos dois primeiros de cada lado, acabando com eles ficaria livre para acabar com os motoristas já que a janela estava aberta.
  - Aaaaah! – Como se fossem nada ambos os atingidos derraparam para fora da janela e rolaram no chão, já mortos. Ouvindo sua deixa e surpreendendo-se com o feito de abriu a janela, pegando desprevenido não o da direita como prometera, mas sim o do lado contrário, que não estava tão focado quanto o outro. Acertou seu braço, seguido do ouvido, fazendo com que conhecesse a morte. não precisava mais se preocupar, o carro bateu contra uma loja e explodiu, já estavam longe. O passageiro da direita recuou e voltou com uma metralhadora, apontada justamente para cima.
  - Desce! DESCE! – Ela obedeceu, os olhos de ambos continuavam queimando, não pareciam mais humanos. O olhar de ambos tinha raiva, um sabia a raiva do outro e a vontade de matar crescia latente dentro de seus corpos. Arfando disse: - No três! – Abaixou o vidro com tudo, ele na direção e ela na janela traseira, não houve contagem, só a das balas entrando viva na carne dos oponentes. 1, 2, 3, mortos. Freou com tudo, abusando da força que tinha, respirando forte, como fundo tinham o som da explosão. Tiraram 1 minuto de silêncio, então voltou a falar.
  - Não acabou. O terceiro. Esses aqui eram os peões, para nos distrair. Ele vai voltar, . Eu, eu tenho um... – Limpou o suor da testa, não tinha soltado suas pistolas, nem iria. – Um plano. Eles estão voltando, eu sei, por essa rua. Eles não voltariam por outra, não tem como por aqui. – escutava de olhos fechados, as vezes toda aquela luz dentro dele incomodava. Também estava tenso. – Vá atrás deles e quando achar traga-os até aqui, dê um jeito de ficar na frente, ok? Quando você chegar exatamente aqui, – Apontou para linha amarela vertical no chão. – vá o mais rápido que você puder.
  - O que você vai fazer? – Perguntou certamente com medo da resposta, já que a história de plano não estava lhe agradando muito.
  - Só confie em mim, eu preciso do seu bebê aí. – Estendeu a mão, mas ele não lhe deu ainda. – Confia em mim! Você só tem que trazê-los até aqui em linha reta, só isso. Só isso e mais nada, eu juro, vai funcionar! – Olhou com o máximo de sinceridade que conseguiu para ele, que fez uma cara feia, suspirou e lhe entregou o instrumento. – Obrigada. – Disse.
  - Tome cuidado, não estou a fim de quebrar o círculo, o Fred colocaria toda culpa em mim. – Respondeu olhando para frente. A verdade é que aquilo não era fácil de fazer, sair e deixa-la no meio da rua sem proteção. Mas confiaria, ela merecia um credito, havia salvado sua vida há umas horas atrás. Sem olhar para trás saiu do veículo, logo após arrancou, finalmente mudando o sentido, dirigindo na direção normal.
  Ok. Suas bochechas estavam queimando, estava nervosa. Ao ver o carro já longe se perguntou se conseguiria colocar seu plano em pratica, não conseguia pensar se era perigoso demais. Era? Claro que era, e totalmente sem noção, só um maluco faria aquilo. Mas não conseguia pensar, só lhe veio essa alternativa. Se não pegassem esses agora, seriam perseguidos até finalmente serem resumidos a pó. Respirou fundo e tirou a blusa preta que ainda usava, ficando como , de camiseta branca. Pegou um elástico no bolso e prendeu o cabelo novamente, fechou os olhos e limpou as mãos soadas na calça, precisava se apressar, não demoraria muito para que eles voltassem. Caminhou em passos médios até o lugar marcado, ficou lá em pé. Fitou os dois carros totalmente acabados de cada lado da rua. Agachou-se checando se era alto o suficiente como tinha visto há minutos atrás, era.
  - Ok, será divertido! Se um dia eu tiver netos, quem sabe, eu poderei contar sobre o dia que deixei um carro passar por cima de mim. – Ironizou para si mesma. – Só não posso esquecer de falar para nunca entrarem numa situação foda que nem essa. – Suspirou e sentou. – Eu nunca estive tão ferrada em minha vida! – Não mesmo, era a coisa mais perigosa que já deve ter feito. Seu coração já não batia, ele palpitava, queria abrir uma porta e sair correndo de dentro do corpo dela imediatamente. – Ok, eu não vou morrer! – Incentivou-se, como se qualquer incentivo feito por ela fosse melhorar a situação. Finalmente deitou sobre o asfalto ainda um pouco quente, seu consolo foi ver o céu aberto e estrelado frente a seus olhos. Contou cinco delas, cintilantes, colocadas lá em extrema sincronia, mesmo que não estivessem ordenadas corretamente. – Tudo bem... Tudo bem, . – Fechou os olhos e colocou a arma em punho, segurando-a com as duas mãos, quando os abriu novamente já não podia ser vista. Tentou afastar todo o medo que teimava lhe tomar, mas ele só ia aumentando, crescendo gradativamente. Piorou quando sentiu finalmente a vibração debaixo de seu corpo, eles estavam chegando. Segurou com mais força o objeto, começou a contar mentalmente. O som não era de rodas encontrando o chão, esquentando-o, soava como nada, quanto mais perto mais inaudível ficava. O desespero e confusão tomou conta de quando chegou perto da onde ela pediu, levando dezenas de tiros na traseira e simplesmente não vê-la, mesmo assim não desistiu.
  - 3, 2...- Prendeu todo ar que pode quando passou por cima de seu corpo, assim como prometeu. Nenhum arranhão, nenhum tiro. No segundo depois fez. Como se o mundo tivesse resolvido além de ficar louco passar em câmera lenta ela viu com precisão o fundo do carro, então apertou o gatilho com toda coragem que ainda tinha, metralhando o tanque da máquina. Eles passaram, deixando-a ver novamente, apenas por um milésimo as estrelas outra vez. A explosão foi instantânea, forte e provavelmente queimou e aniquilou todos os vermes dentro do veículo. Foi tão rápida, não teve como não atingir também, ela gritou quando o calor que veio forte sem pedir licença, junto com os escombros. Só conseguiu tapar o rosto. Algo diferente aconteceu, parecia que alguém havia colocado uma segunda pele em cima de seu corpo, protegendo-a de tanto calor. Soltou o ar que tinha guardado e tentou se manter acordada.
  - , você é louca! Onde é que tá seu juízo?! – Sentiu seu corpo entrar em temperatura normal e a tranquilidade entrar e acalmar seu coração ao ver bem na sua frente.
  - E aí, eu.. – tossiu fraco. – matei os filhos da puta? – Riu, revirando os olhos.
  - Acho que sim, quase me levava junto também. – Ele pegou a arma e colocou em cima dela, num movimento delicado entrelaçou as mãos em seu corpo e a levantou no colo.
  - Eu não ligo... E eu estou bem, posso andar. – Na verdade não estava tão bem, mas não daria o braço a torcer.
  - Pode dançar também? Me preparar uma janta? Você é muito orgulhosa, .
  - Cala a boca, só vou deixar me carregar porque não passou por cima de mim.
  - É, bem que eu queria, mas o Fred provavelmente me mataria. – Respondeu com um sorriso torto e incrivelmente bonito, sem olhar diretamente para ele seguiu, cumprindo sua promessa de não pedir nada a , e recusar todo e qualquer carinho de sua parte, mesmo que a vontade de fazê-lo estivesse secretamente lhe matando.

  O ar quente do lugar entrou fundo nos meus pulmões por conta da retomada da minha consciência. Bem que eu queria ter tirado um bom sono deitada no chão dessa sala, mas a hora chegou, quer dizer, eu acho que sim né. E eu não vou conseguir fazer nada se não estiver forte o suficiente para usar a mim mesma, eu digo, meu sistema. Abri os olhos numa lentidão admirável, era como se eu estivesse assistindo a cena da arquibancada. De um lado estava eu, deitada e indefesa com o vestido em farrapos, do outro lado, várias pessoas pensando em futuramente me testar, descobrir quem eu sou e qual meu poder. O que eles não imaginam é que sou mais que isso, mais que suas maquinazinhas ou mentes prodígios. Tudo muito bem trancado e branco, totalmente branco e um pouco frio. Inspirei e respirei por mais um minuto, então me esforcei e abri o meu brinquedinho mental, a melhor parte de mim. Acessei o sistema e procurei as câmeras do lado oposto a minha sala, já podia sentir o cheiro de falsidade do outro lado, este caminhava de um computador a outro vasculhando tudo, tentando descobrir uma centelha de coisa que pudesse me incriminar, como se sua vida medíocre dependesse disso. Prometi a mim mesma que a primeira pessoa que entrasse a porta seria minha isca.
  - Preciso fazer algumas perguntas a você, e precisa responder. – Ruiva azeda entrando em minha área. Bem, eu esperava algo mais legal como o , mas quando não se está tentando salvar algo e ninguém se propõe a ajudar você tem que se virar com qualquer coisa.
  - E você precisa de um guarda-roupa novo. – Respondi me pondo de pé o mais devagar possível, ela tem que pensar que estou um lixo. Ignorou minha resposta super criativa e fez cara de merda, opa, ela já tem essa cara, não precisa fazer.
  - Qual seu nome? – Falou de antemão, me segurei à parede e consegui levantar.
  - Cadê seu bom censo? Até minha roupa que está aos farrapos é melhor que a sua. – Cruzei os braços, começando a sentir o olhar dela entrar os meus, querendo de frita-los, provavelmente.
  - Da onde você é? – Respirou fundo, como se fosse resolver. Eu não pararia por nada, simplesmente porque não fui com sua cara.
  - Não do mesmo lugar que você, graças a Deus. – Virei os olhos, como se ela fosse conseguir me intimidar de alguma forma. A raiva que eu estou sentindo é daquelas amargas, que exigem vingança. Me tratar mal não vai ajudar nada nesse processo, só deixará seu nome mais escuro em minha lista.
  - O que estava fazendo naquela festa? – Posso apostar que a história com o Vincent tá fazendo efeito, gosto disso.
  - Além de dançar, beber um pouco e sair correndo no final como a maioria eu não estava fazendo nada. – Me encostei à parede, fazendo melhor cara de tédio que pude. Ela não falou mais, apenas ficou lá parada, provavelmente pensando em outra abordagem. – Você deve estar bem cansada, hein humana. – Fechei os olhos, não precisava ficar olhando. É, eu admito, ela é bonita, mais velha e farta, diferente de mim, que sou magra e tão tenho tantos atributos... E, além disso, ela não deve ter nem metade das preocupações que eu tenho, ela só fica aqui dentro enquanto pessoas como eu lutam pelas próprias vidas além da dela. Tudo está longe de ser perfeito para mim.
  - Você não parece melhor que eu, é só olhar para baixo para perceber. – Respondeu sarcástica, mas eu quero ver se ela estivesse em meu lugar, com certeza não estaria nem viva. Abaixei novamente a cabeça fingindo olhar para as roupas, quando na verdade estava terminando de burlar os computadores dos meus amiguinhos do outro lado.
  - Atitudes como essas no meio do trabalho não devem ser admitidas, Betty. Você devia perguntar sobre minha vida, não caçoar de minhas vestimentas. – Voltei-me para ela, sua feição era de cansada, ainda mais depois do que eu disse.
  - Você pensa que é a única a fazer isso? Me encher de piadinhas e respostas espertas? Há, se quer saber, garota, ficou chato na segunda semana que entrei aqui, todos com respostas inteligentes, tentando parecer melhores que eu... Você é um deles. – Só mais cinco por cento e eu estarei liberada.
  - Não. – Aumentei meu tom propositalmente. – Ao contrário do que você pensa, eu sou diferente. - Noventa e sete.
  - Todos aqui tendem a se achar diferentes, quando na verdade são apenas farinha do mesmo saco. – Riu novamente, me subestimando. – O que te faz pensar que é diferente? - Cem. Do outro lado, as máquinas provavelmente já estavam apitando, deixando todos aquelas pessoas “inteligentes” confusas. Contei exatamente dez segundos. Ela sem resposta, pensando que havia ganhado, deu as costas e caminhou até a porta. Hora de trabalhar, Callun.
  - O fato de eu nunca errar quando o assunto sou eu mesma. – Atrás dela, puxando forte seu cabelo (infelizmente) bonito e macio eu respondi. Ela gritou quando eu puxei mais ainda, tentou pegar minha mão, mas eu logo fiz um corte na sua, fazendo-a deixar-me em paz. Marquei o meio de sua costa com o canivete, qualquer movimento e eu enfiaria sem dó dentro de seu corpinho alvo.
  - O que estás fazendo? Tá cheio de gente do lado de fora idiota, dessa porta você não passa! – Imprensei o instrumento atrás outra vez, fez calar-se.
  - Já que eu vou morrer então não custa nada acabar logo com isso e abrir a porta, né? Só vai lhe poupar de problemas, então abra logo. – Falei com a maior calma que pude, não posso sair por aí gastando paciência. Ela me obedeceu em cima do salto, destravando a porta, finalmente nos liberando da sala branca enjoativa. Estava chorando? Era só o que faltava, merda de humanos.
  - Você não precisa morrer, pode me soltar! – Revirei os olhos, como se eu realmente fosse lhe matar. O medo faz isso com as pessoas, lhe deixam um degrau a baixo, dispostos a quase tudo para ficar bem logo. Não lhe respondi, perto da parede eu coloquei-a mais a frente, se alguém atirasse em mim teria que passar por ela.
  - Essa aqui é a Betty, essa sou eu com o total controle da situação, se algum de vocês decidir tentar algo contra mim eu nem penso antes de meter o canivete dentro dela umas cinco vezes. – Apareci para eles falando, estes já me olhavam feio como se fosse um lixo, ou um bicho. – Vocês trabalham para mutantes, mas a primeira coisa que fazem quando os veem é sentir nojo? Eles devem pagar bem aqui, hun. – Puxei mais um pouco as mechas que segurava, ela precisava fazer uma cara de dor, me ajudaria. Um homem fardado, um guarda, colocou a arma em punho, rolei os olhos. – Nem tente, larga essa merda aí agora. Falem para eles cientistas, que eu sou um tipo de máquina ainda não estudada por vocês. Falem também que mesmo trancada nesta salinha mixuruca consegui quebra-los num piscar de olhos, e ah, falem também que eu não estou brincando. – Mais dura que uma pedra eu terminei, deveria com certeza estar com uma cara muito feia, pois recebi os piores olhares de minha vida.
  - O que você quer garota? Não vai conseguir sair daqui viva, nem que quisesse. Desista! –Uma baixinha falou, fechei o cenho, asiática.
  - Que seja! Se eu não estou preocupada também não deveriam estar, mas que droga! – Respirei fundo, então uma ideia me passou certeira. – Ok, eu vou provar cientificamente, que posso fazer o que quero do lado de fora do prédio, do jeito que vocês disseram que eu não conseguiria. – Dei de ombros, sentindo o peso das palavras, mas eu conseguiria, não era tão difícil assim. – Ok. Não farei mal a vocês, melhor, faremos uma troca!
  - Você está afim de trocar? – Perguntou um provável cientista, burro demais para um cientista.
  - Quer que eu desenhe, amor? - Betty tentou algo outra vez, como mecanismo de defesa apertei a mão do canivete. – Quero o Tyler. Troco a Betty pelo Tyler. – Respondi, vendo-o ao fundo. Fuzilei com os olhos, faria isso com uma arma se possuísse uma agora. Todas as outras oito pessoas encontraram-se olhando para ele, tinham medo nos olhos. – Faria essa troca, Tyler? Eu posso ser perigosa. – Cutuquei, num tom ríspido.
  - Será uma honra lhe acompanhar até a hora da morte. – Respondeu calmo. Hora de sua morte, você quis dizer.
  - Então temos um acordo, ótimo! – Respondi numa animação mais que fingida. – Prendam-no com uma algema, obrigada. – Logo ele estava preso, com um olhar desconfiado. – Venha primeiro, daí eu solto ela.
  - Como saberei se não está mentindo? – Questionou. O cheiro da mulher já estava começando a incomodar, humanos geralmente tem cheiro estranho, diferente.
  - Porque é você que eu quero, queridinho. – Falei fria, a careta ainda estava em meu rosto. – Assim que eu solta-la sairei por aquela porta e deixarei vocês trancados por um minuto, depois estarão livres para chamar quem quiser. Eu aconselho chamarem , e Vincent, talvez os outros dois, enfim, tentem me pegar! – Como já havia largado a insegurança pra lá não me importava mais, não tinha como dar errado, não iria. Ele veio até a mim, sem olhar se quer uma vez em meu rosto, então coloquei em minha frente como um escudo. – Boa sorte, irão precisar. – Sibilei entredentes abrindo a porta e saindo da sala, fechando-a novamente.
  - Quem é você? – Ele perguntou, enquanto corríamos tentando não parecer suspeitos para os outros ali.
  - Vocês deveriam ser mais autênticos com primeiras perguntas. Escadas. – Puxei-o pelo caminho, já sabia onde era, olhei no mapa. – Sou a garota que está parcialmente lhe sequestrando, já está de bom tamanho. Pode me odiar também se quiser, só essa noite eu consegui vários odiadores. – Não me respondeu, pela graça divina. Se eu não soubesse quem era também me enganaria fácil, fácil, não sou muito boa com pessoas, quer dizer, não era, agora estou um pouco mais difícil de me enganar. Tenho que agradecer a quem construiu o prédio por ele ter apenas 24 andares, estávamos no 22.
  - Saiba que te odiei na hora que coloquei os olhos nesse lixo de cabelo azul! – Era só o que eu precisava, opiniões idiotas sobre meu cabelo.
  - Ninguém pediu sua opinião, corra se quiser respirar alguns minutos a mais, pedaço de merda. - 23. Tomei todo ar que pude e continuei com o pique, ele sempre a minha frente. Trinta segundos depois e finalmente 24. Cobertura. Abri a porta de ferro usando mais força do que desejava, o idiota não me ajudou. O lugar era longe, já estava perto de amanhecer em San Francisco, devia ser quatro e meia mais ou menos, fiquei em sua frente. – Você não tentou nada contra mim, nem fugiu... Provavelmente eu diria “bom garoto” ou “muito bem, cara” se não soubesse o imbecil que você é! – Cuspi em sua frente, já não o segurava.
  - Tá falando de quê? – Se fazer de bobo, tão típico. O vento passou por mim, forte, fazendo os trapos voarem. Num lapso de irritação passei a navalha sobre a saia, sem me incomodar se estava ou não curto.
  - O que será que , seu queridinho chefe, irá achar ao descobrir que há um traidor em seu meio? – A chantagem passou salivando pela minha boca e parou direto em seus ouvidos, atingindo o alvo em cheio. Não deixou sua máscara cair, Tyler era esperto demais para isso.
  - Não sei, provavelmente ele matará a pessoa. – Como se não fosse ele. Revirei os olhos.
  - Que bom que sabe disso. – Abri um sorriso encantador. – Agora me pergunto... Como conseguiu ficar aqui por tanto tempo sem que te descobrissem? Eu sei, aqui não é o melhor lugar do mundo, a segurança não é a melhor, mas eu esperava mais deles...
  - Deles quem? – Não precisei virar para saber que foi que perguntou, nunca tinha ouvido sua voz, mas só restava ele, e também só ele subiria aqui. Num movimento rápido corri para trás de Tyler, o traidor. Segurei firme o instrumento e coloquei-o em cima de seu pescoço, qualquer coisa eu o mataria sem pestanejar.
  - Você, . Você e o resto da sua fundação super mal organizada. – Critiquei, ao olhar com certeza para frente vi e Daleven, juntos. Pareciam irmãos, ok, não eram irmãos, mas com certeza eram irmãos de beleza. me pareceu mais bonito que em qualquer foto, também não era pra menos, tudo ao vivo é melhor. Assim como Vincent ele estava de roupa de dormir, calças largas e camiseta preta, arma na mão e cabelos bagunçados. Tenho que confessar que Daleven me chamou mais atenção que , só consigo imaginar ele acordando com seus músculos 3D, totalmente sexy e atordoado com a notícia de que tem uma garota louca na cobertura fazendo um cientista de refém. Acho que foi o acontecido de mais cedo, não posso focar nisso, tenho que mostrar quem é o vilão da parada agora.
  - Promiscua você... Então, qual é a sua? Vai fazer um draminha bem adolescente ou algo parecido, ou veio sei lá, se vingar de alguma coisa que eu ou alguém daqui fez algum dia por ai? – perguntou, seco. Só atiçou minha raiva, estou aqui para ajudar e tudo que ganho é “vai fazer um draminha adolescente?” por Deus, eu não mereço isso, muito menos a cara de merda enlatada que Vincent fez.
  - Essa adolescente aqui acabou de sair de uma sala de alta segurança feita por você e seus homens. Fiz sua secretária monga de refém enquanto destruía todos os computadores do lugar, troquei de refém, sai, deixei eles trancados lá por um minuto, dando-lhes vantagens e ainda cheguei aqui sem que ninguém impedisse. Você acha mesmo que eu sou uma adolescentezinha qualquer? Abra sua boca pra falar algo que não seja bom sobre mim e esse aqui será só o primeiro. E não ouse dar um passo ou atirar, não gosto de brincadeiras estupidas, como essas: - Puxei os cabelos pretos do rapaz para trás e cortei do ombro ao pescoço, com ódio, estava me dominando. O homem gritou de dor, serviu para provar a eles que não estava brincando.
  - O QUE ESTÁ FAZENDO? – Vincent perguntou, não consegui olhar para outro lugar que não fosse ele, merda.
  - Provando. – Respondi num suspiro doído.
  - Provando o que? – Estava confusa, não tanto quando eles que ainda não sabia de nada, se não contasse logo, se não desse uma pausa logo eu cairia dura e não serviria mais para droga nenhuma.
  - Que sou melhor viva do que morta. – Falei, mais fria que o gelo da Antártica, fo-da-se você também Vincent, não acredita? Eu provo outra vez, mas agora será um pouco mais amargo. – Você. Fale agora, ou eu juro que lhe mato. Na frente deles, nem que eu morra depois. – Indaguei. me observava como se eu estivesse blefando ou algo parecido. – Fala, filho da puta, fala! – Soquei suas costas e ele involuntariamente foi para frente. Daleven tomou a frente. – Não encoste. Eu estou mandando não encostar e não estou brincando, eu sou mais esperta do que pensa. – Ele sabe disso.
  - Você está blefando! – me acusou. Tive que rir, o sangue formigou dentro de mim, deixando-me ainda mais agitada. Entre uma piscada e outra olhei para Vincent, ele sabia, eu não estava blefando, mas porque não fazia nada?
  - Ela não está. – Finalmente me ajudou, seu merda.
  - Não estou mesmo. O Tyler está traindo vocês, e não é de hoje. – Revelei, sentindo o extremo prazer de ver o cenho de fechar, sem reação ou resposta para aquilo. Tenho a leve impressão de que a cara que o traidor fez em minha frente o denunciou. – Ele não trabalha só para vocês, trabalha para a O’Wenh. Não sabem o que é O’wenh, certo? – Perguntei esperta, sabia mais que todos naquele prédio juntos e mesmo assim era julgada como uma qualquer, problemática sem dono. – Eles são justamente quem vocês morrem e matam para achar. –Puxei Tyler com mais força e o coloquei-o o forcei a ficar de joelhos. – Isso não é nem a pequena parte do iceberg. Conta! – Puxei seus cabelos novamente arqueando o rosto e rasgando-o a bochecha. – CONTE AGORA! – Não precisei dizer que era a última vez que pedia.
  - Eles me pagaram... – Suspirei pesado ao ouvi-lo finalmente confessar. Olhei rápido pra com cara de nojo, ele estava tipo, passado. Me segurei para aguentar em pé tempo suficiente. – eu sou cientista e eles me oferecerem um bom laboratório para trabalhar, não essa bosta daqui. – Olhava para o chão, levantei sua cabeça para que olhasse para eles. – Eu não aceitei... mas depois, depois eu resolvi aceitar sim, e sabe por que? Porque vocês mutantes não prestam, eles me abriram os olhos lá, me mostraram que vocês eram pedaços de nada que se viam como seres superiores! – continuou olhando incrédulo, visivelmente nervoso, Daleven me encarou e eu retribui, apesar do cansaço, fiz força para parecer o menos amigável possível, estava sozinha nisso. – Vocês nos tratam como inferiores, sempre dando ordens e perguntando coisas, burros. Burros! Nunca sabem de nada, nunca conseguem nada sozinhos, o exemplo disso é você , - ele tinha rancor no coração, isso não era muito bom. – Lembra quem achou ? Eu. Quem organizava tudo e achava informações novas? Eu. Quem fez Chloe conhecer o fazedor de ar que você matou? Rugnh, eu! – Ouvir o nome Chloe sair da boca de Tyler parece ter sido amargo para . Eu já não estava em minhas melhores condições. – Embrenhou as mãos nos cabelos e moveu-se de um lado a outro, estava visivelmente acabado, se culpando por ter sido idiota o bastante para não perceber o que estava diante de seus olhos. – Perseguição em Sausitano? Eu. Festa de gala? Eu também, afinal vocês nunca saberiam dela sozinhos, são ruins demais pra qualquer coisa. – Aquilo soava como uma vingança particular para Tyler. – Nunca fui notado, muito menos reconhecido. Nem um obrigado, nada em especial! Eu gastei anos da minha vida me sacrificando por vocês aqui dentro, e tudo que eu ganhei foram noites não dormidas e um salário pior que ruim! , você é um merda! Você e essa fundaçãozinha de merda, vão apodrecer no inferno, é para lá que vão!
  - Chega, seu fodido! - Foi rápido, jogou a arma que segurava no chão e veio com tudo pra cima dele, não podia deixar, então fiz o que pude, tomei a frente do traidor. – Ficamos nariz com nariz, quase isso pelo menos. Atrás Vincent veio, um pouco tarde demais.
  - Não vai encostar o dedo nele, muito menos em mim! Lhe dei mais informações do que conseguiria sozinho em um ano, então faça o favor de me respeitar. – Respondi dura, fazendo-o recuar. Estava melhor que a encomenda. – AI! – Respirei e estava de joelhos, outra vez e senti o hálito de café em meu nariz. Tyler socou meus joelhos por trás e com a caída me laçou para dentro de suas algemas. Eu simplesmente gelei, deixei o canivete cair no chão, agora estou meio que ferrada. – Me... Solta, quadrupede! – Grunhi para ele.
  - Como é bom ser tratado dessa maneira, né? Humilhado, feito de brinquedo, como eu fui. – Sua voz me pareceu longe eu já não ouvia com muita clareza.
  - Solta ela. – Foi o Vincent? Acho que sim, acho que preciso mesmo respirar, ele está prendendo forte demais.
  - HAHA, pensei que seu negócio era a Betty, irmão! – Meus joelhos estão quentes, aposto que tem sangue saindo de lá.
  - Meu negócio é quem eu bem quiser, solta. – Acho que vou dormir, talvez se eu acordar esteja numa situação melhor.
  - Façam alguma coisa! – Gritei, segundos depois senti ele afrouxar o braço sobre mim, sai de lá cambaleando, me arrastando pelo chão, tinha atirado. Olhei para trás e vi uma luz forte que atacou meus olhos e os fez querer queimar, deixando ainda mais difícil ficar acordada, ele estava matando Tyler. Era o certo a se fazer, mata-lo ou contaria para os parceiros o acontecido e estaríamos perdidos. Daleven gritou enraivado ao terminar e já com tudo embaçado eu vi andar de um lado para o outro atordoado, me arrastei um pouco, não consegui mais continuar, estava exausta em todos os sentidos. O chão estava sujo e cheirava a terra, madeira e sangue, minha cabeça latejava mais forte que uma bateria de carnaval, um inferno. A última coisa que eu vi foram pés, logo depois calça preta, o que eu ouvi porem não esqueceria nem daqui a cem anos:
  - Kaya, Kaya! Kaya! – Meu nome em sua boca pela primeira vez.

Capítulo 19 - Encontros

  - Como ela tá? – Vincent perguntou pela quarta vez para a doutora naquela manhã. Kaya havia ficado em estado de choque, depois que desmaiou no chão só acordou três vezes em dois dias. Delirou por todas as noites, chamando a mãe, Erin e sempre negando tudo, como se tivesse sendo acusada por alguém maior e mais forte em um sonho ruim.
  - Calma Vincent, calma! Não precisa ficar assim por causa da garota, você não trocou nem vinte palavras com ela. – respondeu. Fazia também quatro dias que havia saído da Fundação, apenas Betty sabia onde ele estava, ou melhor, o que estava fazendo.
  - Vinte palavras podem ser o suficiente, . – Respirou fundo, atravessando outra vez o vidro entreaberto do mesmo lugar que havia ficado quando descobriu do círculo, Kaya estava só na sala dormindo. Durante todo esse tempo fez a rotina quarto/janela da emergência, no segundo dia sua melhor amiga passou a lhe acompanhar, afinal assim como ele estava parcialmente sozinha. Contou-lhe sobre a perseguição e como foi excitante e assustador ao mesmo tempo matar todos eles, Daleven ainda não havia falado nada com ninguém sobre o que Tyler e Kaya revelaram, não lhe foi perguntado também, mas era notável a sua preocupação, ela só crescia. – Será que ela vai voltar? – Perguntou, dando as costas para o vidro, encostando-se sobre ele, deixando todo seu peso cair, na verdade Vincent estava cansado, mentalmente cansado. escorregou devagar junto com ele.
  - Por que você tá tão preocupado com ela? – Questionou, traçando o olhar da enfermeira que passava no saguão à recepcionista no balcão.
  - Eu não estou “tão preocupado com ela”, mas talvez a culpa dela estar assim agora possa ser minha, eu não segurei o a tempo. Sem falar que ela nos ajudou o tempo todo e nós meio que a fizemos de lixo. –Colocou pra fora o que sua cabeça já mastigava há dias. Aquele incômodo só passaria quando ela acordasse, lhe desse um murro e mandasse ele nunca mais lhe chamar de Pocah.
  - Eu sei... Se eu fosse ela, com certeza acordaria querendo matar todos vocês. – Arqueou as sobrancelhas. - Nós, no caso. – Estralou os dedos, assim que terminou colocou as mãos no bolso do casaco escuro que usava.
  - E... Eu meio que a usei também. – Confessou, mesmo com o rosto cansado e inicio de olheiras debaixo dos olhos Vincent continuava lindo, mais humano que antes, mais vulnerável.
  - Nem vou perguntar como você fez isso. – Arriscou dar um risinho, ele não retribuiu, ainda estava tenso.
  - Nem precisa, eu a induzi descaradamente, praticamente a fiz me beijar. – Respondeu apático. O sorriso de se estendeu, ela não pode evitar dar uma olhadinha pra ele que dizia: “hmmm, safado! Eu sabia!”.
  - Bem que era de se imaginar, mas quando isso aconteceu? Não me lembro de você ter passado tempo o suficiente com ela para fazerem isso. –Depois de segundos ele deixou um sorrisinho sacana tomar conta de seus lábios.
  - Elevador, foi meio que um desafio e ela foi muito bem, diga-se de passagem e repassagem. – Revelou, finalmente. – Eu fiquei tipo, “ela não vai fazer nada”, dai ela fez. Eu não sou de ferro, né , e ela é linda. Linda e diferente. – Reforçando sua opinião reparou a entrada de uma enfermeira no quarto.
  - Você é um pedófilo, isso sim. – Cruzou os pés, aproveitando a falta de atenção das pessoas, geralmente quando ela estava em algum lugar da fundação que alguém lhe via era estranho. Ser ignorada as vezes vinha a calhar.
  - Não me culpe mais, obrigada.
  - Você não parece nem um pouco culpado, nem arrependido. – Ponderou. – E a Betty? – Desde que Kaya ficou nessa situação, Vincent começou a dar-lhe menos atenção.
  - Eu não sei, . Eu sei que ela nunca me deu a chance que eu merecia, mas sei que ainda sinto algo por ela... Pelo menos se eu não estivesse tão disposto em ficar aqui esperando ela acordar como eu fiquei e continuo... – ouviu de longe a voz de e Handcheen, estavam chegando.
  - E o , você sabe o que aconteceu com ele? Sei lá, eu não sei o que aconteceu lá em cima, mas faz quatro dias... – Fingiu estar procurando algo do lado oposto, já bastava dar o braço a torcer e perguntar, não precisava que Daleven a visse constrangida e vermelha.
  - Não, ele não deu noticias a mim, mas ontem à noite quando eu estava de saída a Betty me disse que ele havia ligado, então seu amado ainda não morreu, fica tranquila. –Seu coração disparou, não precisava ter usado a palavra “amado”, ele não era seu amado... estava longe!
  - Adivinhem o que eu trouxe?! – gritou quando os viram no chão. - Comida!!
  - Você trouxe, ? Acho que tem um erro em sua frase, amor. – Atrás vinha Hadcheen, com quatro garrafas de energéticos e salgadinhos apimentados, não havia espaço para mais nada.
  - Isso é apenas um detalhe, ninguém liga para detalhes. – Sentou-se no chão. Como sempre, estava produzida, calça jeans, blusa vermelha de alças e sapatos baixos. Os cabelos curtos já não estavam tão curtos, agora batiam depois dos ombros, se deixasse ele voltaria à forma de antigamente logo logo. – Como você está, escoteiro? – perguntou, tomando da mão do namorado os aperitivos, dando a cada um o combo salgados/energético, Andrey sentou também.
  - Escoltando com os amigos, como pode ver! – Rebateu abrindo o salgadinho, estava morrendo de fome.
  - Eu ainda me pergunto o que aconteceu no terraço, quem é essa garota que ninguém descobriu nem o nome, porque o sumiu e porque você está de guarda aqui por todos os dias! – Às vezes tinha a boca muito grande, sem papas na língua. Andrey cutucou lhe para que se calasse. – Au! – protestou. – Andrey, eu já disse que odeio sadomasoquismo, pare de fazer essas coisinhas, você é irritante! – Respondeu séria.
  - Ok, ok! Seu nome é Kay... – A porta se abriu e de lá Callun saiu, deixando todos no mínimo assustados sem entender nada. Ela usava apenas a roupa fina do ambulatório por cima das peças intimas. Pele pálida, cabelos desgrenhados e feição cansada, não deram pra ver direito, pois quando olharam ela já não estava lá. – Kaya! – Dalev gritou, largando a comida imediatamente, partindo atrás dela. Os outros levantaram também, preparando-se para ir também. – Não, não! Eu resolvo isso, ela não deve ir longe! – Falou, então não podia mais ser visto. Callun partiu pelo corredor e virou à direita, ao passar por um carrinho de toalhas derrubou-os para dificultar a passagem de outro alguém que viesse atrás. Seu sistema dizia que a terceira porta daria para a escada, mas quando a empurrou só achou um enfermeiro fazendo algum exame num velho de cabelos grisalhos.
  - Merda! – Gritou, gritou alto e impaciente, correndo para fora do cômodo. – Faça algo útil por mim, faça! Saída de emergência me diga onde fica!! – Seu mundo girou mais um pouco, o que estavam lhe injetando por todo esse tempo? – Aaah! AHHH! PARE COM ISSO! PARE COM ISSO! – Implorava para si mesma. Geralmente quando estava muito estressada ou algo do tipo, números e mensagens passavam pela sua cabeça desenfreadamente como agora. Contas bancarias, conversas aleatórias em bate-papos e tudo que fosse relacionado à internet, uma bola que nunca parava de rolar, a não ser que se acalmasse. Apoiando-se a parede continuou respirando fundo, mesmo com dor, lá no fundo estava guardado o mapa. “Ok, ultima porta à esquerda agora, só isso!” pensou. Para sua sorte o corredor estava vazio. Foi até lá quase se arrastando e abriu a porta, depois de um longo respiro viu as escadas.
  - Uma garota correndo, vocês viram? Viram?! – Vincent perguntou gritando aos que passavam, poucos entendiam, até chegar à sala que o velho estava. – Você viu? Uma garota, mechas azuis, cara assustada?
  - Roupa daqui da emergência? Sim, ela foi pelas escadas, não estava muito bem não. – Ele mal olhou para cara do homem, deu meia volta e correu até o elevador, passando pelos amigos (ignorando-os) entrou e pediu para que descesse dois andares. Tomou o corredor assim que as portas se abriram, por azar aquele era o andar de produção, havia vários cientistas e aspirantes lá. – Escadas! Escadas! – Perguntou, só quando chegou ao final do movimentado corredor ouviu alguém lhe gritar de volta “penúltima a direita” então entrou. Estava quase que gelando, pensando se ela poderia ter ido para cima ao invés de descer. Apegou-se ao pensamento e suspirou espantando o nervoso, contou até dez, determinado a voltar e pedir a ajuda dos outros, mas riscou qualquer uma das alternativas quando ouviu o som de alguém correndo, vindo de cima para baixo, era ela. Cada vez mais rápido, quando lhe viu parou, não conseguiu se mover. Kaya estava tão frágil que até um simples tapa a derrubaria, os números borbulhando em sua cabeça não ajudavam em nada, sua falta de reação o deixou mais tenso ainda, foi ao seu encontro, imediatamente ela recuou. – Porque está fazendo isso?
  - Eu, eu só não aguentava mais ficar lá dentro. – Fechou os olhos na esperança de afastar suas dores. – AAAH, MERDA! PARE COM ISSO, POR FAVOR! POR FAVOR! – Gritou colocando a mãos na cabeça dando leves passos de um lado a outro. Vincent aproximou-se, mas ela mandou-o recuar com a mão novamente.
  - O que é isso? – Perguntou, estava um pouco nervoso, ela não estava mais dormindo, então o que lhe incomodava tanto? – O que você tá sentindo Kaya? – Callun se encostou à parede e a arranhou sadicamente.
  - Eu te disse, eu... eu sou uma maquina. – Respondeu baixinho. – Esses números, eles me atormentam e tomam meus pensamentos, - Começou a soluçar, estava chorando, para piorar a situação. – Toda vez que eu fecho os olhos mensagens de todos os lugares me fazem parecer nada, ser nada! Eu não consigo me concentrar, não consigo sair. – Lentamente ele foi subindo os degraus, subindo até que estava apenas a dois passos de distância dela. – Eu não consigo sair! Esses números estão me sufocando, eu... – Só tinha uma palavra para aquilo: frustração. Kaya precisava de uma fagulha de esperança para voltar ao normal e continuar.
  - Ei, ei... – Pegou sua mão, estava gélida, depois a outra. Mudando a direção de seu corpo logo Kaya estava em sua frente. – Vamos fazer assim... – Levantou-as e colocou-as em seus ombros, um de cada lado. – Olhe para mim agora. Respire fundo e olhe para mim. – A incerteza tomou conta do corpo de Callun, mas mesmo assim olhou. Seus olhos brilhavam por conta das lagrimas. – Qual a sua idade, mesmo? – Perguntou, dando um sorriso. Quando ele sorriu metade dos números se foram, dando lugar para a vergonha. Ele era extremamente bonito. O cabelo bagunçado, o resto do sorriso que ainda habitava sua boca, todo aquele conjunto lhe fez cair em si quando o silêncio rasgou seus ouvidos, ela estava um lixo. Expondo seus incômodos como uma garotinha para aquele homem, sentiu mais vergonha. Sem contar no fato de que estava, desgrenhada, inchada e quase pelada. Ela deixou seu olhar cruzar o extintor de incêndio atrás dele, não precisava se sentir mais idiota.
  - Dezessete, já lhe disse... – sentiu outra pontada novamente, apertou seus ombros. – uma vez. – não lhe olhava diretamente, embora quisesse usufruir ver aquela beleza de perto.
  - Não parece. – Sem hesitar ele disse: – Você não parece com as outras garotas de dezessete que andam por aí. – Riu da própria ironia. Kaya fitou o extintor e a parede branca até conseguir se acalmar um pouco.
  - Eu vi que você ficou lá comigo por um bom tempo... – Era estranho pensar que alguém que não fosse sua mãe tivesse ficado na porta do quarto esperando algum sinal de sua melhora. – Não precisava... Quer dizer, eu meio que te soquei da primeira vez, não foi muito legal da minha parte apesar de fazer parte do meu plano... – Limpou as lagrimas com uma das mãos, olhou para baixo evitando ele novamente, ao perceber que Vincent estava com uma camisa de gola sentiu uma inquietação no peito, tinha se lembrado do beijo. Desde a noite da festa tudo estava desordenado e rápido, fez coisas que se quer imaginou, não era como se tivesse planejado estar quase sem roupa na frente de um belo cara depois de vários altos e baixos estranhamente loucos. – Desculpe, eram minhas únicas chances pra tudo e eu nem sei se consegui fazer alguma coisa certa. – Não havia percebido, mas agora estava apenas conversando com Daleven, mensagens e números não lhe atrapalhavam mais.
  - Então, pelo que eu entendi você está se desculpando por me beijar tão bem quanto fez? – Perguntou maroto, deixando-a mais nervosa do que estava. Mais nervosa e envergonhada e vermelha. Ele levantou seu rosto com delicadeza e colocou todo seu cabelo para trás tocando numa das mechas azuis, estava ficando difícil não se render a um Vincent sexy, prestativo e carinhoso como aquele.
  - Cale a boca, você me pediu! – Seu tom foi baixo e sereno. O que era aquilo que estava sentindo? Estava prestes a explodir, porem suas mãos estavam frias. Queria rir da brincadeira dele, mas a insegurança lhe impedia, não lhe parecia algo certo. Já tinha guardado até o seu cheiro!
  - Como pode ver eu não estou reclamando. – Puxou-a um degrau abaixo. Ignorando-o ela fez outra pergunta.
  - Qual sua idade, Daleven? – Deixou de lado o constrangimento e passou um dos braços pelos ombros dele, fazendo-os de apoio, então ele segurou sua cintura e partiram andando.
  - Vinte e quatro, por quê? – Já chegavam à porta.
  - Nunca encontrei um cara de vinte e quatro que esperasse uma garota estranha que mal conhece acordar e viesse atrás dela mesmo depois de acontecimentos estupidamente dramáticos e estranhos, você é um cara bem legal... A Betty deve gostar. – Betty, só de lembrar uma tonelada era acrescentada a suas costas. Não tinha motivos para não gostar dela, mas o sentimento de antipatia só crescia. Continuou, ignorando a merda que acabara de falar, sem lhe dar tempo para responder. – Eu preciso falar com , logo. Perdi tempo demais alucinando naquela cama, eu devia ser mais forte, que merda! – Rolou os olhos, finalmente Kaya estava voltando a si, chegaram à porta. Ele a abriu e imediatamente ela puxou-a de volta, fechando-a. Estava cheio de gente, não tinha como passar ali sem ser vista, malmente estava vestida! – Oh, não, não! Eu não vou passar ai, olha o meu estado! Está fora de cogitação, já não basta à humilhação de ser vista desse jeito por varias pessoas antes. Não vou passar por mais de sei lá, mais centena delas. – Recuou.
  - Ok, se você não se importar eu tenho uma ideia. – Retirou o braço dela de seus ombros, deixando-a em sua frente. Callun o esperou continuar. – Eu te levo pela frente, te cobrindo com meus... braços. Acho que não dá pra ver nada se estivermos bem perto. É só você abaixar a cabeça e ninguém vai saber quem é.
  - Afinal muitas garotas andam por aí nos seus braços. – “Terminou” sua frase ironicamente. – Eu só quero sair daqui, tenho coisas importantes a fazer, por favor, só faça. – Pediu, encostando-se de costas à Daleven, respirou fundo quando ele passou os braços em sua cintura avidamente, escondendo-a. Vincent por sua vez sentiu automaticamente a pressão de sua ação, voltando no tempo a dias atrás quando se encontraram tão intimamente sem ao menos se conhecer. Em silêncio ele abriu a porta e partiu, para a alegria de ambos todos estavam ocupados demais, o que era uma falha, afinal todos deviam estar atentos a movimentos estranhos e suspeitos como aqueles. Tomaram o elevador e voltaram os dois andares, Kaya estava pronta para começar de verdade sua missão.

  - Eu não quero mais ouvir a palavra esperar! Não quero mais saber! Você tem sorte de eu ainda deixar que permaneça aqui, você e esse garoto inútil! Eu quero o código e não esperarei nem mais uma semana por ele, é a única coisa que eu tenho pra lhe dizer! A Rússia está extremamente irritada com essa demora, lhe dou dois dias para tê-lo, não aceito nada que não seja isso, e se eu não tiver você sabe... Terei que fazer justiça com minhas mãos, certo Trisha? – “Como se você fosse suja-las com alguma coisa”, ela engoliu o pensamento incomodo garganta adentro. – O mundo depende disso, minha querida! – Continuou estonteante, pois o mundo estava mesmo a um passo do abraço frio e mesquinho que ele queria dar. – É a nossa subida! – Trisha suspirou sem resposta, não podia questionar seu chefe. – É a nossa subida! – Disse, então ela ouviu o “tun, tun, tun” do final na chamada, seguido de um bipe que indicava o deletar do telefonema. Os O’Wenh têm uma sistema de extração rápido, que pode esconder certos arquivos ou deleta-los para sempre, é sempre útil, assim dificilmente os deixam ser rastreados. Dando um toque sobre a tela frente à mesa fechou o computador, perguntando se algum dia conseguiria ver a face dele.

  - Dois dias. – Kaya disse antes mesmo de adentrar a sua sala, ele havia acabado de chegar, sem tempo de passar no ambulatório para checar sua situação. Depois que chegou de volta ao seu breve lar provisório de quatro dias pediu para que Betty lhe arranjasse um quarto e desculpas pelo acontecido. Antes de se dirigir ao lugar ela passou por , Handcheen e , pediu desculpas também e se apresentou formalmente a todos. Kaya Callun, agora conhecida por boa parte da fundação pela sua audácia, assim como .
  - Hm... Parece que melhorou. – Mesmo pego de surpresa fechou a porta calmamente e dirigiu-se à mesa, passando por ela que estava sentada no sofá. vestia jeans preto, sapatos no mesmo tom, camisa cinza lisa, como sempre lindo, mesmo sem se esforçar. Seus olhos azuis, no entanto, não reluziam como sempre. Kaya pelo menos não se sentiu tão deslocada quanto antes, um bom banho, roupas limpas e bonitas que pediu para que pegassem em seu hotel e comida farta que derretia à sua boca foi o suficiente para lhe revitalizar por inteiro, arriscou até passar duas camadas de rímel para não parecer tão desajeitada e nervosa como estava. Na verdade ela já estava conformada, não havia volta mesmo, mas mesmo assim um nervoso se instalava em sua barriga, deixando-a a ponto de querer vomitar só pensar que algo possa dar errado. – Como já está sentada... – Ela suspirou e levantou, marchando em direção a cadeira frente a ele.
  - Kaya Callun, acho que ainda não sabe qual a minha “graça”. – Revelou um tanto tímida, estendendo a mão. Depois de passar alguns segundos tentando entende-la deu de ombros e segurou-a, ao contrário do que Kaya esperava não foi forte e desengonçado, controla bem o seu dom.
  - , mas já deve saber, afinal está me saindo mais inteligente que a encomenda, um passo à frente de mim, de todos, talvez. – Disse com desdém. É claro que está amargurado com seu fracasso na tentativa de descoberta de algumas coisas. Passou todos esses dias em casa, atormentado por seus demônios, cheio de raiva, quebrando coisas aleatoriamente. Num momento de calma resolveu procurar sobre os tais dos O’Wenh, mas não encontrar nada só aumentou o seu desespero, como iria lutar e salvar todos sem ao menos descobrir quem são seus inimigos e o que querem?
  - Sim, eu sei. Sei algumas coisas sobre você, algumas que não desejo, não por serem sombrias, ou não sei, escandalosas, mas é que leio muito rápido... Quando vejo já armazenei a informação. – Xingou-se mentalmente, estava falando como uma maquina. – Desculpe, estou falando como um maquina... – Suspirou sem saber por onde começar, parou e lhe fitou, dando-lhe a deixa para dizer tudo que queria. – Ok, vamos começar pelo começo mesmo. – Fechou os olhos e organizou os pensamentos, “Ok Kaya, manda ver!” disparou. – Eu sou Kaya Callun, uma infeliz adolescente mutante que num dia qualquer estava bisbilhotando arquivos sujos dos governos de vários países. Essa adolescente achou arquivos de uma Fundação no meio de um Satélite não tão importante assim... Ela, ok, eu, resolveu dar uma olhada, e não ligou muito, porque achou uma grande bobeira. – Ignorou o olhar feio que lhe soltou e continuou sua narrativa não tão coloquial quanto ele imaginava. – Até que uma semana depois achou os O’Wenh em outro satélite transversal ao seu, como a maquina que é ela ligou os fatos e descobriu que as coisas não estavam nada legais como ela imaginava.
  - Mas voc...
  - Me deixe terminar, por favor. Minha história é um pouco longa, mas vou tentar resumir. – Pegou um lápis e começou a balançar, usando-o como distração. – O fato é que os O’Wenh estão a bilhões de anos à nossa frente, só o estacionamento da fortaleza deles deixa isso aqui no lixo. Eles têm muitas informações sobre vocês, tudo por causa do Tyler que vocês mesmos colocaram aqui dentro, obrigada. – Rolou os olhos, seguia estático. Como uma adolescente estava lhe passando a perna desse jeito? – Tudo que eles não têm somos nós, a única carta que temos somos nós mesmos.
  - Mas qual a deles? Mandando homens para nos atacar, quando podem vir aqui e acabar com a nossa raça num tapa, como você mesmo disse. – Não havia sentido naquilo.
  - , acontece que isso que eles estão fazendo é apenas para por medo e deixar todos alertas, alertas com a coisa errada, deixar-nos cegos para algo que está diante nossos olhos. – Soltou, triste. – Eles querem o código que eu destruí, mas devem ter pegado o Joseph antes... A essa altura ele já deve estar terminando de produzir outro, e logo, como eu disse, em dois dias eles trocarão o código pela Far.
  - O que garota? Isso não é possível, não brinque com isso! A vida de todos está em jogo, não me faça arrepender em te dar uma chance! – Levantou batendo à mesa.
  - Não faça eu me arrepender de ter arriscado minha pele para ajudar vocês! –Já de pé, com os nervos à flor da pele ela disse: - Enquanto não me ouvir e não me tratar como a adulta que eu sou, com o respeito que eu mereço eu não pararei de fazer questão de esfregar em sua cara o quanto deixou todos aqui em perigo, e continuaria deixando se eu não tivesse aparecido! Não seja estupido! – Ele pensou um pouco, ela só havia ajudado até agora, não havia porque ser tão grosso e mesquinho. Tinha que dar o braço a torcer e ouvi-la, era sua única opção. – Eu sei que é difícil pra você, mas acredite, agora nós temos mais do que isso aqui para carregar nas costas. Eu, você e todos do circulo, agora temos obrigações, só pra ficar claro nós estamos descendo. – As palavras de Kaya estavam rompendo com a barreira que ele construiu. Sua raiva só crescia.
  - Quem merda é Far? – Perguntou, dando o braço a torcer, saindo detrás da mesa.
  - Eu não sei ao certo, só sei que eles a querem porque ela é uma de nós, e pelo que minha intuição diz “nós” só se classifica a espécie, porque de boa mutante ela não tem nada! Se eles conseguirem efetivar a troca é bem possível que todos nós sejamos destinados a pó, afinal é isso que eles querem, nos reduzir a pó. Disso você deve saber bem. –Respirou fundo, só de pensar seu coração palpitava e a pele formigava. Do outro lado da sala perguntou mais uma vez.
  - O código pela garota?
  - Não se nós impedirmos. – Sibilou Kaya, a ponta de um sorriso resolveu instalar em sua boca, ainda havia esperança.

  - Eu queria ter mais tempo pra explicar a nossa situação para vocês, mas não vai dar. Conseguimos achar nosso inimigo, os O’Wenh. Eles têm quase tudo que precisam para colocar desbancar os EUA da posição queridinha do mundo. – Revelou . O circulo estava todo lá, apenas eles e Kaya num canto, o mais afastado possível, parecia estar com o pensamento bem longe da sala, olhando para um ponto fixo em silêncio. Ao ouvir a noticia ficaram sem reação.
  - Você está dizendo que finalmente achamos quem tanto procuramos? – perguntou. – Pera, você está dizendo que há chances da Rússia virar a maior potencia mundial? Tipo, a Rússia? – Estava incrédula, assim como os outros.
  - Estou, e nossa situação não é nada boa, já que eles tiveram acesso à nossos arquivos, que são muito mal escondidos pelo que eu vi. – Sentou-se à frente, um tanto animado, um tanto triste e astuto.
  - O que eles têm então? – Vincent pergunta, ignorando totalmente a presença de Kaya, não que ele não tenha olhado para ela assim que entrou, mas lembrou do conselho de , ninguém quer namorar com um cachorro, e nem mesmo ele se queria alguma coisa e se era recíproco.
  - Provavelmente o código que a Kaya destruiu na festa, quer dizer outro. – Suspirou paciente. – Eles querem trocar o código por uma mulher chamada Far, segundo Callun também. O código tem informações impactantes e suficientemente poderosas para tirar os EUA da jogada e deixar a Russia no topo da economia, transformando-a instantaneamente na maior potencia mundial. – Respondeu sério.
  - E quem garante que ela não está mentindo? Que não está armando para nós? – Handcheen questionou, sua dúvida fez Callun sair do emaranhado conflitivo de seu sistema e se voltar a ele com as sobrancelhas arqueadas.
  - Se me passa bem, foi você mesmo que me perseguiu, e você mesmo que viu que não parei enquanto não o destruí. – Atirou as palavras num tom friamente calmo, fazendo todos viraram em sua direção. permaneceu num silêncio cálido, quem olhasse para ela diria que sua concentração era maior até que a de Kaya. – Se eu quisesse Handcheen, eu mesma havia construído e destruído minha pátria. Estando numa posição dessa eu podia desfrutar muito bem do dinheiro que ganharia e acima de tudo teria segurança, não só eu, mas todos que eu pedisse. Então não duvide de mim, cada duvida de vocês em relação ao meu caráter só me faz me odiar ao tomar essa decisão e arriscar as pessoas que eu amo. Escuta ai o que o seu chefinho tem a dizer e cala a boca. – Como se nada tivesse falado Kaya mirou os olhos num móvel qualquer e voltou ao que fazia anteriormente. Andrey permaneceu calado, voltou-se a e entrelaçou as mãos a de sua namorada.
  - Eu passei a tarde com ela – Apontou para Kaya sentada despojadamente na poltrona do final da sala. – E temos um plano. – A frase saiu cortante, simplesmente a confirmação que agora tinham um plano, algo perigoso e excitante, mas crucial. Se não pegassem os O’Wenh’s estariam perdidos, não só eles, mas toda a massa mundial, não é um futuro palpável, sabe-se lá as atrocidades que eles pretendiam cometer contra os mutantes e humanos.
  - Pera aí, pra quê eles querem essa Far mesmo? – pergunta novamente, esta provavelmente passou pela cabeça de alguns na sala.
  - Creio que o que eles querem não é algo que nos convenha... – Deduziu Vincent, de repente o ar ficou pesado e todos emudeceram. Só de pensar o frio envolviam seus braços, fazendo-os se questionar se realmente queriam lutar por aquilo, e se queriam como conseguiriam ganhá-la.
  - Não dá pra saber de tudo, não é galera? O importante é tomar o código deles e tentar dar um jeito na mulher, ela é um grande risco. – Respondeu sério. daria a noticia agora. Depois de uma pequena pausa disse: - Mas minha pergunta é: Vocês estão dispostos a fazerem isso mesmo? Eu sei que parece perigoso e realmente é, mas não é apenas sobre nós agora. Mas vocês tem em aberto a decisão de desistir, mas apenas agora, pois depois que saírem dessa sala já estarão selado um compromisso não comigo, mas com o resto das pessoas lá fora. – Olhares distantes e reluzentes, cada um tendo apenas minutos para decidir seu caminho, caminhando para a morte, ou para a vitória, afinal nunca se sabe qual a verdadeira força do inimigo. – Eu sei que se fizermos isso salvaremos mais a eles que nós, sei que os humanos não merecem, mas não podemos generalizar e colocar a vida de inocentes em perigo, muito menos salvar somente eles. Uma nação não volta com as mãos limpas de uma guerra, temos que nos comprometer com isso. – Uma carga de energia passou sobre eles, lânguida e cativante, dentro deles eles já sabiam qual seria a decisão. – Tomarei seu silêncio como um sim. – Por fim disse. A massa pesada ainda tomava conta do ar, todos permaneceram em suas cadeiras.
  - Quando? – Sobre o vazio sonoro da sala perguntou.
  - Dois dias, sinto muito. – A proximidade do acontecimento encheu seu coração de aflição, não esperava que seu possível estivesse tão próximo, afinal não era tão boa assim e nada garantia sua vida, nem a de seus amigos. quis chorar, não sabia se estava preparada, a responsabilidade do ato já proporcionava pequenas explosões em seu cérebro que só tinha lugar para roupas, futilidades e Handcheen. E se o perdesse? E se perdesse a si mesma? – Eu sei que é logo e que não imaginavam ser tão próximo assim, mas é a nossa chance e por incrível que pareça eu não temo não conseguir cumprir nosso objetivo. O máximo que eu posso fazer é dar o que eu prometi, mesmo assim terão que fazê-lo com cautela. Vocês tem o resto do dia de folga para irem aonde bem entenderem, contanto que estejam aqui amanhã pela manhã. Menos Vincent. – Instantaneamente o olhar de Vincent bateu contra o dele em um questionamento. “Porque eu?”.
  - Por que eu? –Fez vivo o pensamento. Kaya parou o que fazia e voltou-se a ele por um momento, logo estava fazendo suas coisas novamente.
  - Preciso de um favor seu, mas não é nada que possa interferir em sua folga, tem minha palavra. – Passou as mãos pelos cabelos pretos como sempre, por um momento deixou de pensar em toda aquela agonia que estava passando e voltou-se sutilmente para , “pra onde ela iria hoje? Será que só? Acompanhada? Será que ele iria a algum lugar, ou ficaria resolvendo a avalanche de coisas que estavam por vir?” Como sempre quando o assunto era ele ficava confuso, ainda mais depois de todo o silêncio que ela fez depois de constatada em relação às informações recebidas. – Podem ir agora. – O casal levantou-se, seguido de , que parecia longe e devastada. Tinha olheiras leves em seus olhos e exalava uma tristeza muda e equivoca, qual seria o motivo? Foi sem olhar para trás, na sala restaram apenas Kaya, Vincent e . Seria falta de educação continuar trabalhando enquanto chegou sua vez de colocar algumas coisas em prática, então Kaya fechou os olhos, suspirou e foi até a mesa, sentando-se ainda longe de ambos os homens.
  - O que é que tá rolando aqui? – Daleven perguntou, tentando não deixar seu pé trás e curiosidade exalar por entre as palavras. Kaya não parecia com medo ou vergonha, mas estava meio receoso de falar qual o favor, pigarreou.
  - Olha, é o seguinte, pra nós descobrirmos onde é que vai acontecer a troca você vai ter que fazer exatamente o que eu não queria que fizesse de jeito nenhum. – Por fim Kaya mesmo disse.
  - Então quer dizer que agora você é mais útil morta? – Respondeu irônico, encarando-a, ela não pensou duas vezes para também o fazê-lo.
  - Não seja idiota, você vai me eletrocutar. – Informou numa calma assustadora, mas por dentro estava quase morrendo de pavor, era muito perigoso fazer uma coisa dessas. Por fora ele fez que era algo normal, como que sempre fizessem isso.
  - Ah, é isso? Quando começamos? – O sorriso falso estampou o rosto de Daleven, havia entendido tudo, rixas assim sempre acabam de outro jeito, ele sabe muito bem qual.
  - Vincent, não seja idiota. A garota precisa de res-pei-to, afinal ela que nos deu tudo que temos agora, e ainda fará a proeza de quase ter um ataque cardíaco só para nos informar onde ocorrerá a troca do que tanto queremos. – Ela sorriu para o novo parceiro, podia ser legal às vezes e além do mais estava gostando da briguinha dos dois, achou engraçado.
  - Ouviu, Vincent? Res-pei-to. – Zombou de sua cara num tom fútil, agindo como uma vencedora.
  - E quanto a “se tocar em mim eu morro.” - Perguntou entrando no jogo também, a intenção era apenas deixa-la encabulada e nervosa, mas não deu certo, não a seus olhos.
  - Já ouviu falar em flerte? – Levantou rindo e deu as costas a eles, deixando-os ligeiramente desordenados e equivocados, uma boa e vitoriosa atriz.

  - Ok, tem certeza mesmo que era só flerte mesmo? Não é legal sair pedindo para morrer assim, e além do mais eu me sentiria culpado se o fizesse. – Daleven disse para Kaya, estava longe por conta da intensidade que as cargas iriam causar. Assim que saiu da sala Callun se dirigiu para o estacionamento e junto com eles foram até um grande gerador de energia localizado do lado sul da cidade, o sol já se ponha e a luz começava a ficar escassa por conta de estarem num terreno baldio. Kaya estava morrendo de medo, assustada, assustada a ponto de pedir para correr, pra sair, pra evaporar dali, mas não fez, respirou fundo e ficou. Olhou para norte no céu, era lá que ficava o satélite O’Wenh, lá que teria de apontar para conseguir os dados que foram deletados e enfim conseguir a informação crucial para a batalha.
  - Eu acho melhor que você faça isso logo antes que eu me arrependa, e eu garanto que não está tão difícil assim de eu me arrepender, estou tipo, a um passo disso. – Revelou o sou nervoso, ele lhe olhava fixo.
  - Certo. – Aproximou-se do gerador e esticou suas mãos para ela de longe, a essa distância Vincent finalmente pode explorar seu corpo sem ser interrompido ou avisado. Kaya usava um vestido preto um pouco justo e longo, ia até os pés e tinha duas fendas abertas aos lados, que iam de baixo até o inicio das coxas. Não era vulgar, mas sim sexy e sombrio, deixava-lhe esguia, mas ao mesmo tempo ressaltava suas curvas. Aos pés calçava um sapato escuro com meias que seguiam até a panturrilha dando a ilusão de que se tratava de um coturno ou bota, cabelos soltos e um olhar levemente assustado, mas fugaz. Afastou suas observações ao corpo de Kaya para longe e fez menção de que ia começar, quando ela viu as faíscas começaram a sair de suas mãos ela se afastou, cobrindo o rosto com a mão num gesto de proteção, definitivamente não estava preparada. Um grito fino saiu de sua boca.
  - Ai, merda, desculpa. Eu só não estou preparada ainda, como eu sou estúpida. – Colocou a mão sob os joelhos, retrocedendo aos dias anteriores que passou na emergência, com dores finas que lhe agoniavam. Ainda olhava para o chão quando sentiu a mão gélida de Vincent sobre seu braço, pedindo educadamente para que levantasse. Uma sensação estranha tomou seu corpo.
  - É normal não querer se eletrocutar, e sentir medo também. – Falou sério, ela não entendeu qual a da falta de afeto. Na verdade até entendeu, mas não queria se envolver, temendo ficar machucada.
  - Não estou com medo. – Respondeu seca. Porque ele continuava sendo amigável ela não sabia, mas rejeitava sua amizade com tudo, não era como se quisesse ser sua amiga. Não dá pra ser amiga de um cara como Daleven, ele realmente é espetacular, e agora mesmo ela se pegou hipnotizada em seus olhos castanhos esverdeados.
  - Bom não estar também, mas mesmo que tivesse seria aceitável. Você fez muita coisa por nós, e mesmo que não queira fazer isso eu acharia formidável, nem mesmo eu sei se faria em seu lugar. Não quero que se sinta obrigada a fazer nada. – A proximidade lhe afetou, obvio. Obvio que oscilou e sentiu a respiração falhar, mas como sempre foi uma boa atriz, não ia o deixar perceber sua queda apesar da dificuldade de fazê-lo.
  - Por favor, parece que estamos falando de virgindade. – Revirou os olhos e deu um passo para trás, então Vincent se aproximou com um riso maroto à boca.
  - Isso pode ser um tópico a ser discutido mais para frente. Acho que não vai conseguir mesmo... é melhor desistimos de você, já fez o que tinha que fazer por nós. – Deu de ombros e virou as costas. “Como assim? Idiota, eu fiz tudo e agora você me diz que eu não consigo? Vai ver como eu consigo!” Num movimento flexível Callun tomou sua mão e o puxou de volta. observava tudo astuto e curioso, ria da situação sem perceber. – Não venha me desafiar sem me dar a chance de provar que está errado. – Disse por fim, levando as mãos dele à sua nuca num movimento não muito delicado, mas bom de sentir. Vincent segurou-lhe firme, exalando certeza, ela não quis pensar sobre, mas foi inevitável. – Faça. Faça agora, agora Vincent. – Tremeu, mas não voltou em sua decisão. Fechou os olhos e apertou seu pulso. – Faça! – Gritou. Assim que a carga chegou a seu corpo sentiu um formigamento, uma dor fina se instalou em seu corpo e seus ossos, e aquilo era só o começo. Gritou ferozmente e o segurou mais forte, então ele aumentou a intensidade, permanecendo nela por um tempo. – Continue. Continue! – Ele assentiu colocando a outra mão em sua barriga, a intensidade já passava o triplo do que um humano aguentaria, quando foi ao quíntuplo ela sentiu uma dor lasciva, forte que só faltava lhe corromper e quebrar de dentro pra fora, então parou. A dor se foi e em seu lugar uma calma que devia ser apreciada se instalou fazendo-a respirar fundo e solta-lo. Ele continuou com os raios até chegar ao gerador.
  - Hey Pocah, vamos ver se você é foda mesmo! – Gritou mais para si que pra ela. Longe deles, se escondia. Daleven fez a ponte com o gerador, depositando toda sua energia em Kaya, proporcionando até que ela levitasse centímetros do chão, a verdade é que parecia um anjo diante toda aquela luz que lhe banhava e consumia. Seu grito ficou mais alto e estridente que tudo, levantou as mãos para norte, seus dentes cerrados, resistindo às dores que iam e voltavam. Lá passaram-se exatos um minuto e quarenta e oito, então como uma fruta madura encontrou o chão, desmaiada. A luz se dissipou, passou correndo por Vincent que ainda se recuperava do tanto de energia que recebeu.
  - Kaya. – Por um instante ele se arrependeu de ter aceitado que a garota colocasse sua via em risco, chamou outra vez. – Kaya, hey, garota! Kaya, vamos lá! Acorde, acorde! – Sem resposta olhou para o seu amigo atrás, ele não estava totalmente recuperado ainda. Pegou-a no colo, assim que seu corpo tocou o dela foi possível sentir a vibração, não era algo bom. – Vamos lá, acorde! Você me disse que conseguia, não seja idiota de mentir pra mim! – Disse nervoso. Foi direto para o carro, quando a colocou no banco do passageiro Vincent veio atrás e entrou também.
  - Nada? – Perguntou enquanto arrancava pela estrada de terra que estavam.
  - Nada, e eu não faço ideia como fazê-la voltar. Cara, eu fiz merda! Nem conheço a garota e a já fiz passar por uma quase morte. Eu fui muito negligente, não devia ter deixado. – Culpou-se.
  - E eu idiota de aceitar suas ordens e as provocações dela, agora a garota tá machucada e não temos prova nenhuma. – Rolou os olhos, também estava chateado. - Não adianta chorar pelo leite derramado, né ?! – Rebateu.
  - Adianta sim, se o leite não é só meu. – Fez cara de “não estou pra conversa” e seguiu calado pela rodovia, hora ou outra olhando Kaya, qualquer um diria que ela apenas estava tirando um bom cochilo. A alta velocidade fez com que chegassem rápido no centro de San Francisco, este estava incrivelmente movimentado sob a noite que já havia tomado o céu, escurecendo-o.
  - Para o carro. – Do silêncio a voz de Vincent se fez viva.
  - Por quê?
  - Porque eu estou de folga, caso não se lembre, e tenho um encontro. – Apesar de soar preocupado um sorriso conseguiu escapar de sua boca. É, ele tinha se esquecido e a parte do “encontro” lhe deixou um pouco perplexo.
  - Então você tem um encontro! – Riu. – Até você tem encontros, deve ter algo errado comigo!
  - Como assim “até você tem encontros”? Não sei se você se deu conta, mas eu sou muito sexy, meu querido, as mulheres vêm em mim que nem abelhas. – Retirou seu cinto e deu uma olhadela no espelho, ajeitando o cabelo. – Eu sou o mel, meu chapa.
  - Ok Shake, mestre da pegação, quem é? – Encostou o carro.
  - Q uem você acha que é? – Havia um triunfo em seu rosto, mas também uma expressão indecifrável, fitou Kaya antes de sair.
  - Cara, cuidado com ela... É meio sensível, apesar de não parecer, talvez vocês não “combinem” tanto quanto pensa. – Avisou. Betty às vezes pode ser estranha, diferente do que Vincent pode estar acostumado.
  - Eu sei, obrigada pelo aviso, mas eu tenho que tentar. Hm, qualquer coisa errado com a Pocahontas ai ou outra coisa você me diz, ok?
  - Certo, certo. Não estrague tudo, hein! – Deu o ultimo aviso quando ele saiu.
  - Eu digo o mesmo pra você, . Não sou só eu que costumo ter relações difíceis, e não gosta de dar o braço a torcer... – Gritou já longe, mas foi audível para os dois no carro, inclusive Kaya.
  - Oi. – Kaya disse, assustando-o instantaneamente, logo riu do feito. – Quer dizer que o seu amiguinho pegador saiu pra caçar, hm. – Esticou braços e pernas e virou-se para olhá-lo.
  - Merda, Kaya! Eu pensei que você estava desmaiada, sei lá, em coma! – Em tom grosso, falou.
  - Ah, então estou eu aqui, em pleno “coma” e você para pra conversar enquanto eu morro aos poucos? Legal de sua parte, da próxima eu acerto com a , ela parece ser bem mais legal que você. – Rolou os olhos.
  - A não tem nada de mais legal que eu, se quer saber eu sou muito legal, só não tenho tempo pra sair sendo legal com todo mundo. – Justificou, era uma verdade.
  - Isso não a importa mesmo, ela gosta de você. – Soltou, sem se dar o trabalho de ligar pra cara que ele fez.
  - Você é muito... Garota, voc... é claro que não! – Rejeitou sua opinião. – Você que tá toda caída pelo Vincent, pensa que eu não vi? – Ela já sabia que ele falaria algo assim.
  - Eu penso muito, , chega até a doer às vezes. Eu admito que o Vincent é bem atrativo, bonito, sexy essas coisas, mas não é pra mim.
  - O que te leva a pensar isso é... – Ela estava o levando a uma conversa e ele não pareceu negar tudo, ou recusar falar sobre.
  - Eu sou estranha, olha pra mim. – Ele deu uma checada, não lhe pareceu nem um pouco estranha, apenas diferente, singular. – Eu tenho meu próprio mundo, meus próprios problemas... Estou longe de ser o modelo de mulher gostosa e sensual que ele procura, longe de ser humana, - Continuou sem entusiasmo, de algum jeito lhe entendeu, mas não concordou com o que dizia. – estou longe de ser igual a Betty ou qualquer uma “abelha” que corra atrás dele. Você sabe o quanto é difícil pra uma mulher, uma garota nova como eu ir falar com um cara que nem ele? Eu poderia esperar a vida toda sem falar nada, porque é difícil. – Ele ouvia tudo com o máximo de compreensão, assim que ela disse a imagem de veio em sua cabeça. Ele lhe disse que se ela o quisesse teria que dizer, desejou poder regredir no tempo e apagar suas palavras. - O pior, eu não quero ser uma abelha humana e desesperada, eu quero ser eu! Mas isso é tão novo pra mim, nós não temos muito tempo pra nada, então eu vou ficar onde sempre estive.
  - Eu não te vejo assim, você me parece forte e determinada. Diferente e interessante, e sua inteligência me incomoda. - Seu tom era divertido. – Bonita também, diferente das garotas de San Francisco, e tudo isso que um homem gosta. – Preferiu não usar a palavra gostosa, por já estar criando um afeto pela garota, ela abriu um sorriso ao ouvi-lo.
  - Não é a opinião do Vincent, como qualquer outra opinião pra você não é a da . Vai , admite que você gosta dela! Eu nem te conheço e te falei sobre o Vincent, sabia que a gente ficou? – Ele cresceu os olhos.
  - Eu devo estar perdendo muita coisa esses dias. – Pensou um pouco. – Por isso ele veio comigo naquela noite, agora eu entendi. E ele sabia seu nome, claro. – Arqueou a sobrancelha.
  - Cala a boca, , estamos falando de você gostar da . Falando sobre você deixar de ser bundão e falar pra ela, deixar de ser filho da puta e ser carinhoso! Não sei se percebeu, mas só temos dois dias pra fazer alguma coisa da nossa vida, se esse código for entregue nós já era pra gente. E eu aposto que ela gosta de você... Vocês já transaram? – Ele olhou em seus olhos azuis, estava envergonhado. – Claro que sim, óbvio. Eu particularmente acho a linda, nos parecemos em questão de personalidade. E vocês juntos me soa como arroz, feijão e churrasco.
  - Como o quê? – Claro, tinha falado em português.
  - Uma comida Brasileira muito boa e singular, vocês dois tem que ser, são suposto a isso. Não estrague. – Falou como uma irmã falaria com um irmão cabeça dura, e por incrível que pareça ele ouviu calado. – Então assim que chegarmos lá você vai honrar essa calça recheada que você usa e vai lá falar com ela, fim de papo! – Terminou com um sorrisinho maroto no rosto.

  - Um pra você, esse aqui é maior, então vocês dois ai atrás podem dividir, beleza? – dizia para o amontoado de pessoas em sua volta. – Você ai, grandão, segura isso pra mim, vai. –O homem ficou receoso por conta de suas vestimentas, mas foi. Depois que todos saíram, inclusive sua amiga ela pensou pra onde poderia ir, mas nada lhe vinha em mente, nenhum lugar. Até que se lembrou das pessoas que tinha dado dinheiro a dias atrás, elas mereciam ser ajudadas e era o mais próximo de familiaridade que poderia chegar. Tomou um banho, prendeu o cabelo alto numa poupa que dificilmente sairia, vestiu seus jeans, camisa, casaco e habitual All Star preto (como todas as outras peças) e tomou o Kia que antigamente lhe pertencia na garagem. Passou em um caixa e tirou uma boa quantia em dinheiro, seguiu a um restaurante que conhecia a anos e pediu o suficiente para alimentar um pequeno exercito, tudo pra viajem. Antes de procurar pessoas que necessitassem de comida ela aproveitou seu passeio observando as casas, que reacendiam as lembranças passadas em sua memória. Os trilhos por entre as estradas, casas tão harmoniosas, próprias para famílias, com suas janelas de vidros.... Tantos parques, já havia os visitado tantas vezes. Sem que se desse conta passou pelo Hilton, seu amigo de longa data. Não pode evitar o sorriso. A vontade de entrar foi passando conforme ia se distanciando do local. Dois dias, pensou ao encostar seu carro. Apenas dois dias a mais e estará tudo acabado, ou para o bem, ou para o mal. Respirou fundo e foi até as pessoas, no inicio eram apenas dez ou doze, mas depois o numero de pessoas foi aumentando, até que chegou a margem de trinta ou mais, o que fez eles terem que dividir.
  - Muito obrigada garota, porque tá fazendo isso? – Uma mulher loira perguntou. Como estavam perto de um parque eles chegaram mais rápido.
  - Porque deu vontade, oras? Vai dizer que não vem muitas pessoas aqui pra ajudar vocês? – Perguntou um tanto esperta, tirando mais um prato da sacola e entregando a uma criança.
  - Não, na verdade... As pessoas hoje em dia não se dão o trabalho de ajudar outras, o que fez é muito bonito. – Disse enquanto dava garfadas descoordenadas em sua comida. suspirou e assentiu.
  - Nem todas frutas descartadas são podres, não é mesmo? – Riu fraco e indiferente. – Você tem família?
  - Não, sou apenas eu. Mas muitos aqui têm, sempre dividimos tudo, apesar de não ser muita coisa. – Seu cheiro não era dos melhores, muito menos. Sua roupa estava esfarrapada e a sandália quase se fundia com o chão a cada passo de tão fina, não podia ficar mais ali, as lembranças de si mesma andando pela mata e chegando nessa cidade totalmente sem rumo voltaram com tudo em sua mente.
  - Entendo, queria poder ajudar um pouco mais, eu sei que não posso fazer o mesmo por todos, mas... – Tirou do bolso os cinquenta dólares que sobraram e lhe estendeu a mão. – Toma esse pra você, e agora eu tenho que ir tá?! É... tchau. – Deu as costas e colocou o capuz, foi em direção às árvores, parque á dentro. Chegando lá sentou no tronco de uma das árvores altas, sentiu a brisa e suspirou, não podia estar se sentindo mais triste e deixada para trás. Coisas começaram a passar por sua cabeça, sua família, seus amigos, a fundação, tudo o que se tornou e . Não entendia, mas queria que alguém lhe abraçasse, que lhe segurasse e uma única vez na vida dissesse que tudo ficaria bem, mas nada acontecia. Ninguém, nem mesmo . O nome dele aparecia em neon só de pensar conforto, lembrou-se de que todas as vezes que caiu ele lhe segurou, lhe levou de volta ao lugar certo à salvo. Mas isso não podia existir mais, nem mesmo tinha esperança, não ia chegar nele e dizer que precisava que lhe abraçasse, que fosse gentil que lhe mostrasse afeto. Ela não o fazia, então ele não tinha porque fazer também. Aquela dor foi lhe preenchendo, tomando conta de seu corpo, afogando sua alma tão rápido e opressivo que a única saída que encontrou foi chorar. chorando porque não tinha proteção, não tinha alguém ao seu lado, como nunca teve. Cada vez que passava a mão para limpar o rosto chorava mais, desejando acordar e perceber que estava sonhando, que ainda era uma garota normal do interior da Inglaterra, que tinha família e era feliz, mas nada passava de uma ilusão idiota de sua mente.
  - . – A voz, aquela voz... Reconheceu assim que ouviu. Rapidamente levantou e limpou as lágrimas. A mulher em sua frente lhe deixou intrigada: Pequena, magra e farta. Cabelos medianos castanhos e soltos, vestia um longo vestido florido, que dava a impressão de ser maior. Não carregava nenhuma bolsa, nem usava sandálias, o modo com que olhou para foi extremamente raivoso, cheio de rancor e inveja. Era a mulher que ouviu quando estava no quarto de , sua garganta fechou de pavor e raiva.
  - Você. – Respondeu com desdém, tentando não deixar tão na cara que estava chorando.
  - Eu pensei que seria mais fácil de te achar, sei lá, quando percebi que estava na rua pensei que iria a algum lugar importante, não dar comida a mendigos e depois chorar como uma perdedora debaixo de uma arvore em um parque qualquer. – Disse cheia de veneno, a brisa de antes se transformou em vento.
  - Não te importa o que eu to fazendo, o que você quer? – Sentiu sua mutação, é claro. Automaticamente pensou em , claro, culpa dele.
  - Eu vim aqui pra me divertir um pouco antes de te ver acabar, e outra, você tá com o . Tá com o então merece.
  - Eu não estou com o , eu não estou com ninguém. Estou s-o-z-i-n-h-a, sempre fui s-o-z-i-n-h-a! – Respondeu com ignorância, partindo para fora do lugar. A mulher logo foi atrás, fazendo-a recuar.
  - Não tá, é? Mas quando eu o chamei pra fazer o que costumávamos fazer ele disse que não, que tinha outra pessoa agora, mas querida, nunca ouve ninguém. A não ser aquela Chloe... Eu até aceitei quando eles dois começaram, mas quando ela se foi eu tinha que tentar outra vez, mas tinha alguma idiota em meu caminho. – Cuspiu, com todo o rancor que pode.
  - Ou talvez ele apenas cansou de te comer, já pensou nessa hipótese? – Sorriu, mais genérica que aeromoça. – Por favor, estamos na Califórnia! Você tem um dom e é até bonitinha, o nem é isso tudo. – Desdenhou. Podia ver a raiva dela crescer.
  - Idiotice sua, sabe muito bem que ele é sim isso tudo, sabe muito bem do que eu estou falando. – Seu tom se elevou conforme terminou a frase, ela abaixou e pegou um punhado de terra em cada mão. – Eu poderia ter tirado algum proveito daquela carne, foi culpa dele eu ter estar com os O’Wenhs! Culpa dele, se aquele retardado tivesse ficado comigo eu não estaria onde estou hoje, mas não ligo, eles são até bacanas. – À essa altura já gritava, um pequeno redemoinho ia se formando aos pés da rancorosa mulher, por um tempo se perguntou se ela sabia qual a intenção dos O’Wenhs para com os mutantes. O redemoinho de areia se fez vivo, assustando e fazendo correr.
  - Merda! – Olhou para trás e tudo ficava mais denso, sentiu-se desnorteada, sem saber por onde ir, até que foi arrebatada até uma arvore violentamente. O redemoinho lhe arremessou até lá, deixando-lhe sem ar, fazendo quase perder os sentidos.
  - Era a minha vez de tê-lo! Minha vez! Ele tinha que ser meu agora, mas apareceu você, uma vaca qualquer que o fez se esquecer de qualquer outra! – Colocou mais intensidade, a única alternativa de foi segurar-se ao galho que já não estava tão firme assim até que ela decidisse parar. Não conseguia pensar em nada, só no desespero que sentia. Percebendo que só sairia dali se ficasse calma, fechou as narinas e boca. Ouviu os gritos raivosos da outra, mas tentava ignorar, até que o calor que vinha de suas costelas foi lhe tomando. Bem no lugar de sua tatuagem. O mesmo manto que lhe cobriu na explosão do carro lhe cobriu agora, lhe dando forças pra respirar. O galho quebrou, fazendo-a cair do alto. Grunhiu e ficou invisível, atordoada se arrastou mais pra frente, até conseguir sair andando.
  - Idiota! Ah, que raiva, droga! Ela me paga, ela me paga agora! – Correu cambaleante para fora do parque, em busca de sua vingança. Sua raiva foi tanta que quando viu o hidrante ele piscou em luzes amarelas em sua frente, é claro. Água. Ficou atrás dele e respirou fundo, a filha da puta receberia algo bem legal. – Hey, rejeitada? Rejeitada, cadê você?! – Gritou, aproveitando o pouco movimento da rua, não havia ninguém. Ninguém, até que ela apareceu das arvores em sua frente. – Quer dizer então que o bosta do te rejeitou? Pra ficar comigo? Eu, uma vaca inexperiente e inglesa? Você não serve pra muita coisa então, já vê o porquê da rejeição. – Deu de ombros, esse gesto fez o redemoinho se formar forte e imponente outra vez. Quando estava do melhor jeito ela sorriu, transbordando de ódio e golpeou forte o hidrante, fazendo toda a água ir em direção sua inimiga. – Chupa essa, idiota! – Ficaria mais ali pra socar sua cara se, por segurança, não precisasse fugir. Mal conseguia andar e falar, mas conseguiu chegar a seu carro. Tomou-o e seguiu direto para fundação, tinha alguém com quem precisava ter uma conversinha.

Capítulo 20 - Resolvendo problemas

  - Bonito aqui... Mesmo. – Betty disse, era de certo o seu aparente cansaço, mas não lhe deixava tão mal assim. Seus cabelos vermelhos estavam presos num rabo de cavalo baixo, e suas roupas estavam simples e com certeza diferente do que Daleven sempre costumou ver: Calça jeans clara, blusa laranja de cetim e sapatilhas. Já estavam dentro do restaurante chique que ele prometeu leva-la. Era elegante, bonito, fino e todas essas coisas que uma mulher como ela deveria gostar. Sentaram-se à mesa que Daleven, por sorte, conseguiu reservar.
  - Pensei que poderia gostar, mas eu estou surpreso com essa sua mudança de visual. – Reparou no movimento do lugar, era mais do que havia imaginado, não deviam estar no meio de tanta gente assim.
  - Sabe o que é, Daleven? É que eu estou cheia daquela merda de Fundação! Simples assim! – Rolou os bonitos olhos e pegou o cardápio de forma grosseira. – Lá eu só trabalho, trabalho e trabalho. Eu amo aquilo, mas às vezes me enche o saco! – Passeou por entre as alternativas, ficando em duvida entre Ostras afrodisíacas e um prato escocês que levava caviar, lagosta e champanhe. Apesar da postura que ela tinha o jeito de falar era diferente, mais solto, foi logo estranhado pelo companheiro.
  - Eu sei, pode ser duro... Tudo isso, aguentar todos esses mutantes e tal, mas vamos esquecer isso por enquanto e focar no jantar, que tal? – Esboçou um sorriso para ela que o ignorou e continuou sua conversa.
  - Quer dizer, outro dia eu estava passando pela carceragem, com pressa e cheia de coisas pra fazer quando ouvi um pensamento. – Encostou o cotovelo à mesa e retirou os óculos. Claro que Vincent já estava se perguntando se havia tomado à decisão certa. – O IDIOTA DEIXOU QUE EU OUVISSE SEUS PENSAMENTOS, SÓ TINHA PORCARIA LÁ! – Fez uma cara tão estranha ao lembrar... – Velho sadomasoquista desgraçado, ridículo. Transferi ele pra Sausalito assim que pude, aquele filho da puta. – O fato dela ter usado palavrões e se expressado de forma tão grosseira o fez questionar-se ainda mais, nunca tinha visto ela falar palavrões assim, a toa.
  - Hm... Você é bem atraente, Betty... – Falou de antemão, não estava defendendo o velho nem nada, só queria a elogiar e sair do assunto “FundaçãoChataPraCaralho”.
  - Você tá defendendo ele? Vincent, ele poderia ter guardado a sujeira dele e me deixado fora, mas não tinha que encher meu saco. – Jogou o cardápio em cima da mesa. Ansiosa.
  - Eu não quis dizer isso, você entendeu errado. Vamos... Vamos esquecer isso e pedir um vinho, certo? – Como o cavalheiro flexível que sempre foi ele tentou amenizar a situação, mas ela não ajudava em nada.
  - Não. – Respondeu dura, com a cara fechada. “Meu Deus, essa mulher precisa de sexo” pensou. – Eu estou com fome.
  - Wow, então tudo bem, vamos pedir então. – Chamou o garçom, que logo chegou para atendê-los. – O que você vai querer? Eu quero o mesmo que você.
  - Quero esse prato escocês aqui, que leva todas essas coisinhas ai, com champanhe e caviar, ah, e lagosta. – Sorriu genericamente para Vincent, que estava levemente chateado com o pedido dela. Na verdade ele O-D-I-A-V-A frutos do mar, ou qualquer coisa que envolvesse pescado, se arrependeu imediatamente da hora que disse que queria o mesmo. Tentou disfarçar sua desaprovação em relação ao prato e deixou que o garçom fosse embora. – Hey, Hey, volta aqui! Vem cá, volta! – Betty chamou o rapaz baixinho de volta, fazendo todas as outras mesas prestar atenção neles. – Cês tem tequila? – Perguntou com uma cara de pau que Vincent não sabe da onde ela tirou.
  - Hunr... É, temos sim, senhora. – O garçom respondeu formidavelmente, tinha outras mesas para atender.
  - Então, quero três doses de tequila numa taça de vinho. – Ele já começava a achar que a mulher estava fora de si. – E você, bonitinho, vai querer?
  - Não, vou dirigir. – Dirigiria para casa no carro dela logo se não parasse de ser antipática daquele jeito. Então o garçom se foi. Depois de algum tempo o mesmo voltou com os pratos e a tequila. Durante esse tempo eles não haviam falado quase nada, por conta da inquietude e falta de qualquer coisa que fosse legal em Betty. Ninguém pode dizer que ele não tentou, pois perguntou sobre o que pôde, na verdade foram apenas duas perguntas, porque de resto ela não lhe deixou falar.
  - Eu estava pensando, você não acha que... – Ele tentou de novo, enquanto encarava o emaranhado de cores que lhe pareciam feias e mortas no prato a sua frente, “que tipo de gente come isso?!”.
  - E aquela garota estranha? – Garfava os pedaços como se fosse a melhor coisa do mundo, Vincent estava se esforçando pra não catar fora dali naquela hora mesmo. – Ela me atacou, idiota adolescente. Ela parecia uma canibal descontrolada, puxou meu cabelo e me humilhou na frente de todos no meu local de trabalho. – Um risinho sacana habitou os lábios dele, apreciando o lembrete da coragem de Kaya. – Eu estou com tanta raiva dela, quem ela pensa que é? E o filho da puta do ainda não me disse o que ela tem pra ainda estar na Fundação, pra mim ela estava longe de lá há muito tempo. – Suspirou, ele tinha que ser sincero consigo mesmo, não havia nada ali. Apenas uma fixação boba por uma pessoa que ele ao menos conhecia, Betty não era pra ele. Ele não era pra Betty.

  Me sinto melhor do que antes, com certeza. Mas o que eu estou fazendo? Preciso me recuperar do baque que foi levar aquela descarga de energia, ainda não acredito que deu certo. Minhas pernas estão formigando e o cabelo ainda tá frisado, mas deu certo! Dessa vez eu tentei não demonstrar meu medo, insegurança e tudo mais, porem não deu! Tudo culpa do Vincent. Tudo porque ele estava lá, vendo o que eu fazia, com aqueles malditos olhos cintilantes e cativantes, como se me entendessem. E eu me deixo ir e sou jogada pela tubulação que é saber que ele vai se encontrar com outra. Que essa outra é Betty, e que ela chegou primeiro que eu e que eu simplesmente não chego aos pés dela, merda. Todo esse tempo viajando de casa ao Canadá, do Canadá pra casa, constantemente... O modo que eu me exclui de tudo e de todos, não sei bem ao certo nem como eu consegui beijar pela primeira vez. Na verdade foi insistência do garoto, e eu odiei, mesmo! Depois apenas festas com a Erin, pegando alguns dois ou três contados e só. Quanto mais crescia, mais sozinha e ocupada com minhas coisas eu fiquei, eu nunca gostei de ninguém, eu acho... Teve o Tobby, mas o que eu senti foi algo, sei lá, banal, tanto é que depois que ficamos passou. Recentemente teve Joseph, por quem me senti atraída, mas que garota não se sentiria levemente atraída por um cara como ele? Resposta certa, nenhuma.
  Isso realmente não importa! E lá vou eu mentir pra mim mesma. Ok, não vou ficar me enganando. Eu senti algo diferente com Vincent, e continuo sentindo e não sei demonstrar nada, não sou boa nessas coisas e ele não me dá bola. Pelo menos é o que parece, é o que eu vejo. Falo isso porque sonhei com ele, nessas noites que passei aqui, e não parei até agora. Minha garganta seca de pensar que ele tá com ela, se fecha só em pensar o que provavelmente farão depois, merda, se ele pegar ela do mesmo jeito que fez comigo... Não é justo, eu nem posso competir! Me pergunto porque tão rápido, e porque tão forte! Maldita mutação, maldita vida! Assim que cheguei uma ideia me veio à cabeça, mas não... Não vou espionar eles dois, não! Por Deus, Kaya, você não está tão ruim assim. Se o ataque realmente acontecer, e eu sei com todas a certeza que vai, eu serei a primeira a dar tchauzinho à terra. Não tem aula de Victor que me faça escapar disso, pelo menos eu vou tentar não morrer tão cedo. Tirando isso eu só tenho pensamento pra mais uma coisa: Minha mãe. Desde que cheguei aqui eu não dei sinal de vida pra ninguém, ela deve estar tão preocupada! Eu sou uma droga de filha, isso sim. Uma droga de adolescente, eu sou uma droga de tudo! E eu preciso esfriar. Ducha, agora!
  Tomada o banho procuro as poucas roupas que vieram do meu hotel, deveria estar um pouco mais preparada, mas serve. Roupas intimas rosa, confortáveis, com pequenos detalhes de renda. Short jeans, meia calça detalhada com pequenos pontinhos escuros, camiseta cinza, casaco preto e All Star preto. Os cabelos soltos pra ajudar com a temperatura baixa da noite, um refrigerante à mão e só. Parto direto para o terraço, vou pela escada, já que tomar o elevador só me traria lembranças de Daleven. Encontro uma mulher de jaleco quando estou quase no final do caminho, cumprimento-a e sigo viajem, e logo estou rodeada de estrelas. O céu me vislumbra um pouco, ele sempre fez. Mas não vim aqui pra olhar o céu, ou apreciar a vista da cidade, muito menos me distrair, eu vim saber da minha mãe, e falar com ela pela ultima vez, quem sabe.
  Vento forte, sacode meus cabelos, deixando-os sobre minha face. Não preciso procurar, pois sei que há um lugar reservado e escondido lá, um pequeno quartinho sem porta, vi na planta. Sei que posso ter meu tempo aqui. Coloco a latinha num banco e caminho até lá, merda deveria ter trazido uma lanterna! A luz de cima me ajuda um pouco, então rezo para que não tenha bichinhos repugnantes e entro. Pra minha sorte não há. Respiro fundo e fito a parede, abro as duas palmas da mão e giro-as de frente a ela, que se ilumina com o meu sistema se abrindo. O som inicial zune em meus ouvidos, e só eu posso ouvir, então deixo normal e externo. Uma vez aberto eu vou direto a casa da Austrália, teço o caminho pelos prédios rapidamente, viro ruas até que chegue onde tanto quero. Minha casa. Quer dizer, uma delas. Assisto os últimos minutos dos vídeos da câmera externa, nenhum movimento suspeito, graças! Respiro fundo e ligo para Erin. No segundo toque sou atendida.
  - Oh meu Deus, Kaya! É você? Eu pensei que tivesse morrido, porque fez isso? Kaya, você tem ideia da dor que sua mãe tá passando? Ela não come a dias, e me odeia! Ela tá muito chateada com você, eu também! Você devia ter avisado de algum jeito, ter dado um sinal, eu não sei, mas sua mãe está surtando! – Sua onda de preocupação me enche de vergonha, ela está certa, eu deveria ter avisado, mas eu não tive como! Não tive! Minha mãe nunca mais confiará em mim, que tipo de filha eu sou?! – Kaya? Ela chora toda hora! Me responde! – Ouço um ruído um pouco longe e paro instintivamente de respirar, será que é algo? Erin continua falando, cheia de angustia, mas não ouço nada. Segundos depois me dou por satisfeita, não há ninguém, então volto para onde estava.
  - Me desculpe! Eu não tenho muito tempo pra falar! Eu só preciso falar com ela, logo. Por favor Erin, me desculpe, não era minha intenção te fazer... Te deixar assim, eu joguei tudo em suas cost... – Ouço seu grito sair fino e me assusto, o que foi isso? O telefone residencial caiu no chão, mas como ela derrubou? Me pego gélida, minha mãe. Não, não!
  - Callun! – Minha mãe grita. Não um grito de socorro ou medo, um grito acusativo, o que só ela sabe dar e hoje ele veio mais sujo que tudo, cheio de ressentimentos, raiva, ódio, tudo. Mãe, não faça isso, por favor.
  - Mãe! Mãe. – Minhas bochechas esquentam e a boca seca, é ela. Com raiva, me odiando, ressentida, mas é ela! Minha mãe, eu não poderia estar mais feliz, ela está bem. Suspiro. – Mãe, eu te amo. Me desculpa, eu juro, eu queria ter avisado pra você! Não tive como, eu sei que te prometi não entrar em encrenca, eu sei, mas... Mãe, eu te amo tanto, meu Deus eu daria tudo pra te abraçar, eu... eu. – Eu não sei o que dizer, e não consigo também, as lagrimas me impedem de respirar direito e minhas mãos tremem, me fazendo preferir um choque dos de hoje a essa agonia de agora.
  - Eu sei... Eu sei, eu também, meu amor. Por que você fez isso comigo? Eu só tenho você, você não tem o direito de me desarmar assim, Kaya! Eu confiei em você e fui enganada! Casa na Austrália? Desde quando?! Porque não me contou sobre isso? E essa sua amiga estranha? Eu já a vi no Canadá algumas vezes, mas só isso. Como me coloca a par de uma garota que tem visões toda hora, órfã e cheia de tatuagens? E o que você faz ai? Eu vou voltar pra casa, eu estou lhe avisando e vou colocar toda a policia, aeronáutica, marinha, tudo que precisar atrás de você! O mundo é grande, mas é apenas um. Kaya... – Ouço seu choro, me corta o coração ouvi-lo, e é tudo minha culpa... Mas eu só queria lhe proteger, só isso. – Meu anjo, por favor, volte pra mim. Por favor! Isso está me matando filha, me matando.
  - Eu não queria, mãe. Você sabe que eu não queria isso, não escolheria isso se não fosse preciso nem daqui a milhões de anos, por favor, só me escuta. – Peço, os soluços da outra parte me fazem continuar, tomo ar e digo: - Eu comprei essa casa pra isso, não pude te falar porque foi tudo muito rápido, e logo depois eu vim pra cá. – Não digo a localização. – Ela, por incrível que pareça é a melhor amiga que eu tenho! Você me disse que quem vê cara não vê coração, então! Ela me ajudou sem perguntar nada, Erin sabe que eu só quero te proteger, só quero que fique à salvo. Eu não aguentaria ser órfã como ela, sei que sabe que não. Você não pode mandar ninguém atrás de mim, não pode de maneira nenhuma! Ouve o que eu digo, só pioraria a situação, ninguém me acha se eu quiser, não é... – limpo meu rosto e ouço outro ruído, mas o ignoro, não deve ser nada. – novidade. Eu estou bem, eu te juro que tô bem! Tô à salvo e viva, estou sendo forte como você me ensinou e tem que fazer o mesmo por mim! Ok, eu não tenho muito tempo, só...
  - Kaya, não... Meu amor, volte pra casa! O que pode ser mais importante que nós, nossa família? Kaya... – Desisto de limpar o rosto e deixo as lagrimas rolarem sem parar, a culpa me domina, se ela soubesse o que faço e porque faço... Seria diferente.
  - Você tem que confiar em mim! Confie em mim! – Grito pra ela, meu tom sai tão desalterado e triste, ignoro e sigo o que dizia. – Eles... Vão tentar tomar os EUA. – Digo de uma vez, ela tem que saber, mesmo por cima.
  - Como? O que? Que merda você tá falando?! – Claro, rolos os olhos e me seguro a parede. É difícil de acreditar.
  - Mãe, a Rússia pode tomar o lugar dos EUA, você sabe o que isso quer dizer? Eu sei que sabe! Se eles conseguirem isso, o resto será fácil! Isso é coisa das antigas, eles querem vingança, outra vez! Eles querem sangue – Minha voz se quer sai ordenada, as palavras embolam à boca. – Não só o dos humanos, o nosso também. Eles vão acabar com todos nós, ou sei lá que merda farão! Eu estou num lugar onde tem mais de nós, eles podem ajudar, eles vão ajudar, e é a única esperança que eu tenho. Tudo que eu tenho é você e não pode estar aqui quando tudo acontecer, não pode! – Silêncio. Ela está em choque, eu posso ouvir a respiração de Erin ao seu lado, ambas estáticas.
  - Kaya, eu vi. – Meu estomago se contorce só de ouvir o que disse, o significado é muito mais complexo.
  - O que? – Pergunto. Mesmo com o casaco o frio me invade, o que estava pensando? Ser pálio pra tudo isso, não tenho tanta certeza de que conseguiremos.
  - Eu vou, vou atrás de você! Eu não posso deixar que corra tanto perigo. – Não, não. Não! Definitivamente não!
  - Não, por Deus, Erin! Você tem que ficar com a mamãe! Mãe, não deixa ela sair dai se não for com você, tá ouvindo?
  - Como se eu pudesse impedi-la! – Ela diz, amarga.
  - Não ouse arriscar sua vida por nada, eu estou fazendo isso por nós! Eu, você Erin, e mãe, Carlos, Victor e... – A fundação, o resto do mundo e agora Vincent, mas evito essa parte. – E vocês devem fazer o mesmo por mim, se manter distante é o essencial, eu não sei o que eles tentarão primeiro, mas com certeza será algo grave. Não quero mais ouvir vocês, Ok? EU AMO VOCÊS! AMO e só quero que continuem vivos, eu quero uma vida, não me neguem isso! – Me agarro a essa coragem repentina e continuo firme e forte. – O dinheiro continuará a entrar, eu prometo, mesmo se eu não voltar a falar com vocês! Vocês precisam ir agora pra o Brasil, eu tenho uma casa lá também, no sul do país, ok? O mais longe possível, mãe espero que se sinta melhor sendo lá e cuide bem da Erin, ela não sabe nada de português! – Um risinho sem graça me escapa, porque dói tanto? Minha visão se embaça e o aperto no peito piora, porque tem que ser assim? E se eu nunca mais vê-las? Continuo em lágrimas, quase que incapaz de permanecer em pé direito. – Isso vai acabar logo, logo. Mesmo. Eu prometo voltar, eu juro pra vocês que vou lutar com todas as minhas forças pra conseguir voltar.
  - Filha, não... Kaya, não faça isso comigo, meu amor. – Sua voz me quebra, meu ar falta, eu só quero gritar, eu só quero que isso acabe. Eu só quero voltar a ver TV com ela na sala, e beber com a Erin num pub qualquer! Mas não consigo, não posso. – Eu te amo filha, eu te amo! – Ela grita do outro lado e automaticamente sei que está vinculada a Erin, recebendo dela o abraço que eu gostaria de dar. Não posso mais suportar ouvir sua voz, não desse jeito.
  - Façam tudo que eu pedi. –Respiro, tremula. –E mãe, eu também te amo. Pra sempre. –E fecho os olhos. Agora posso chorar tudo que minha alma pede. Os gritos e gemidos escapolem de minha garganta deixando tudo mais perturbador ainda, eu não sei mais como respirar. Me apoio a parede, nunca estive tão mal em minha vida, tão machucada e quebrada. Caminho cambaleante até a saída, não consigo ver nada, não consigo andar direito, o chão parece areia movediça, não consigo me equilibrar, sei que vou cair e me deixo levar como a fraca que sou, mas não alcanço o chão, algo quente me toca. Não, me segura, com tanta força e habilidade que não sei se é mesmo possível, o susto me deixa mais fraca ainda. Vincent.
  - Chega! Acabou, ok? – Ele me joga em seus braços, erguida, mesmo que eu não tenha força para continuar assim ele me sustenta. De inicio fico atordoada, mas só de lhe tocar reconheço bem onde estou e sem pestanejar o abraço de volta, é a única coisa que eu preciso agora, um apoio. Lhe abraço forte, mais que forte, mesmo que não seja nada comparado a ele. – Acabou. – Entrelaço minhas mãos em seus cabelos, eu só quero que ele me abrace de volta e é só o que ele faz. Sua recepção só me faz querer chorar ainda mais, tremo tanto que não sei se é realmente possível estar assim tão abalada, sinto que alguém me tirou um pedaço. Respiro seu perfume e fico um pouco mais calma, por um momento que ele pode ser meu. Não. Não.
  - O que você tá fazendo aqui? - Quando me dou conta do que acontece o afasto rápido, quase tão rápido quanto o abracei. Ele não entende, seu rosto denuncia. – Você estava me ouvindo? Você estava ouvindo minha conversa? – O acuso, quase certa de que é verdade. Cambaleio pra trás e ele vem até a mim, mas me afasto. – Não devia fazer isso! Olha o meu estado, porra? Não se ouve a conversa dos outros, muito menos quando a pessoa está dando adeus a sua mãe!! – Grito com tanta força que me sinto esquentar, a raiva me toma totalmente, o que ele está pensando? – Por que você não tá lá com a ruiva boazuda? Por quê? Você não tem mais o que fazer não? Porque não tá lá comendo ela? – Coloco a mão na cabeça, minha raiva praticamente me cega, cega tanto que eu não passo mais uma palavra do que sinto pelo filtro de sanidade. Eu só quero me vingar, só isso. – Injusto. – Continuo com meu tom elevado, quando me viro para ele novamente estou determinada. – Essa merda de mundo é injusto demais! Eu não pedi isso, não pedi pra nascer assim e não ter amigos, não pedi pra ser excluída de tudo, muito menos pra largar minha mãe, a ÚNICA coisa que eu tenho pra salvar gente que eu nem conheço, gente que NUNCA, NUNCA ligou pra minha existência! Isso é injusto! – Eu não sei bem o que aconteceu, mas nesse meio tempo eu simplesmente fui até ele a comecei a lhe empurrar grosseiramente, o idiota quase não se defendeu.
  - Tá tudo bem, tá tudo bem Kaya! – Ele grita, mas eu apenas ignoro. Estou fora de controle, mas não quero sair, não até dizer tudo que desejo e tirar esse peso de minhas costas.
  - Não está tudo bem, está tudo uma merda e metade da culpa do que eu estou sentindo agora é sua! E nem precisa perguntar por que, não. NÃO precisa, eu falo! Não sou dessas que escondem tudo e fica sofrendo só. Porque você, seu idiota, você me fez te beijar! Me fez gostar de você desde o primeiro momento e depois você voltou e quando eu acordei você estava lá! – Ele fica um tanto hesitante e apenas me observa. –Porque você estava lá Vincent? Não podia ter ao menos sumido? Porque você não foi pastar? Porque você me abraçou, hãn? Não se faz isso com uma garota de dezessete anos, não com uma garota que não é como as outras que vivem por ai! Não sendo tão sexy e charmoso, e atencioso e intimidante e sarcástico e – Eu estou quente, estou tão quente que por um momento penso que vou eclodir no céu e me encontrar com as estrelas, como fogos de artificio. – promiscuo. Não quando se tem interesse em outra mulher e ela é melhor! Eu não devia sentir nada, nada! Eu posso morrer daqui a dois dias, eu não sou uma princesa que tem um castelo, um dragão, lindas tranças, torre e príncipe pra me salvar. No máximo sou uma garota cara de pau com uma faca no bolso, isso não é justo! Olhar pra você com outros olhos não-é-justo. Não é certo! E meu Deus, não tem uma semana! Qual a droga de feitiço que você colocou em mim?! – Pergunto, mais que irritada. Disse tudo o que queria. Meu Deus, eu disse tudo que queria.
Não não naão não não não, merda! Espera. Sim. Eu quis dizer isso, e fico mais que satisfeita em ter dito.
  - Você não vai dizer nada? – Pergunto. Estou tão perto dele que posso sentir o seu perfume, mesmo se não estivesse o vento o levaria até a mim.
  Ele não me reponde, então reviro os olhos. Só me olha daquele jeito, e meu estomago revira porque eu não sei como lidar com a situação, porque não sei se quero. Talvez Daleven não seja pra mim, talvez ninguém seja. Sua falta de resposta só conclui minha teoria: A garota novinha que e estranha que gosta de um cara super lindo e atlético, carinhoso de não se colocar defeito. Adivinhe, ela é rejeitada. Certo, agora eu posso voltar pra o meu quarto e chorar. Mas não antes de saber o que ele veio fazer aqui. Estou a dois passos a ele, determinada do jeito que perto dele eu só estive uma vez. Meus olhos vermelhos agora veem tão claro, ele não me diz nada de volta, por quê?!
  – Vincent, por que você está aqui? – Pergunto pausadamente, mas ele permanece mudo, e fico outra vez sem resposta.
  Eu tenho certeza que está estampado em minha testa um “POR QUE?!” bem grande, mas ele continua lá! Porque não me chuta de uma vez? É tão difícil assim? Nego e abaixo a cabeça, suspiro e passo por ele, tombando em seu braço para demonstrar a raiva, porem sou segurada e colocada um tanto que grosseiramente de volta onde estava, ainda um pouco mais perto. O que mais eu faço? Pelo menos agora ele me chutará com decência, mas quando o silêncio volta outra vez meu subconsciente hesitante só consegue implorar para que ele não me machuque, repito “Não me machuque, por favor!” mais de dez vezes antes de perguntar outra vez:
  - Por que veio aqui? – Saiu tão, mas tão baixo, tão baixo que eu tenho vergonha de mim mesma.
  - Eu vim por você. – Sim, eu gelei. – Eu vim pra você. – Não estou ouvindo música, é apenas o som de algo sendo chutado e não sou eu. Vincent segurou em minha cintura e se encostou-se a mim, e Deus, como eu quero abraça-lo! Mas não posso. O afasto e me nego novamente, dando-lhe as costas.
  - Mentiroso. – Apenas digo, não estou nem um pouco inclinada a acreditar que ele largou sua queridinha pra vir até aqui, no máximo foi uma coincidência. Sinto-o em minhas costas, como quando me abraçou para que passássemos as salas dos cientistas.
  - Por que diz isso? Por que eu não viria por você? – Ele me vira e a única coisa que eu faço é o encarar, lhe dou uma chance para fazer com que eu acredite, porque eu quero acreditar. Deus, se for mesmo verdade...
  - Poucas pessoas vêm por mim, quase nenhuma. Você não tem por que. – Respondo séria. Meus olhos ardem um pouco, a adrenalina agora está se esvaindo, me deixa um pouco mais mole.
  - Então eu sou uma dessas pessoas. Por que você não acredita que saí daquela merda de jantar só porque não conseguia parar de pensar em você?
  – Porque ninguém se apaixona tão fácil.
  Respondo automaticamente, mas é em vão, afinal, aqui estou eu, caidinha por ele, tentando ser forte o bastante e esperta o suficiente para não ser enganada. Não consigo lhe responder, não quero falar merda, então permaneço calada.
  – Eu ouvi tudo sim, e me dói te ver sofrendo desse jeito. Eu só quero estar com você, a garota inteligente, cativante e tentadora que me desarmou no elevador de um prédio. – Fica difícil me mexer, reviro os olhos e como quem não acredita e sem querer solto um risinho que estava contido na garganta desde que disse que foi por mim. Ao virar ele não solta, apenas volta-se a mim e dá aquele abraço que interrompi anteriormente, me sinto grata por isso. Minha respiração fica fora do ritmo, minhas mãos em seus ombros, é tão reconfortante. – Eu sou um babaca, devia ter voltado com você pra cá.
  - Não, você deveria se quer tá aqui.
  - Já disse, eu não estaria se você também não estivesse. Eu voltei pra te procurar, voltei porque percebi que estar com a ruiva não importa.
  - E eu estou com medo. – Digo, pois é verdade. Boa parte do que tenho agora é medo, pra ser sincera eu estou apavorada com as coisas que possivelmente acontecerão, mas não é porque estou com medo que não vou lutar. O medo me trouxe até aqui, seria bom não senti-lo, mas pelo menos quando eu sinto consigo fazer alguma coisa.
  - Tá tudo bem, é normal sentir medo. Pelas minhas contas sempre que sente medo faz algo incrível, certo? – Talvez, mas isso me impulsiona, me faz até um pouco violenta. – Eu respondo essa: Certo. – Eu só queria saber se posso confiar nele, se é reciproco. Ele sente a mesma breve perca de sentidos e excitação por mim que nem eu sinto quando estou perto ele? Droga, isso é muito difícil. Não se gosta de alguém assim de uma hora pra outra, ou gosta?
  - Não sobre isso. – Ofego um pouco, mas continuo. – Sobre a verdade. Eu não quero ser enganada, nem por você nem por ninguém, o que eu sinto é real, eu não quero me machucar. Todas elas são melhores que eu, na verdade, porque eu? – Suspiro. - Na verdade, porque você, você pra mim? Há, eu devo tá com algum problema.
  - O que? Não parece certo? Ninguém é melhor que você, Merda, Kaya, você é demais e pra falar a verdade não sei como foi gostar de mim. – Ele me aperta para si, fazendo o calor subir por minhas veias. - Mentira, eu sei que sou um cara muito atraente, sou como...
  - Como mel, ahãm, sei. “As mulheres vem em mim como se eu fosse mel”. – Reviro os olhos, tento imitar sua voz, mas não sai nada parecida. Vincent ri e num segundo tudo muda ao meu redor. O contato com sua pele me faz borbulhar e quase implorar para que ele tome alguma atitude, o que ele quer? Eu já o beijei uma vez!
  - Sim. – Ele diz ao pé de meu ouvido, em resposta fico minhas unhas em seus ombros com força.
  - Diga. – Eu peço num sussurro. Meu coração palpita negligente, me traindo.
  - É verdade... Eu sinto o mesmo. – Meus músculos enrijecem, tenho que tomar cuidado para não ter um blackout aqui mesmo. – Só por você. Pra você. – Daleven vira meu rosto para si, sei que estou uma droga, mas ignoro, nada disso importa. Parece que estou sendo queimada por dentro quando vejo seus olhos brilharem, aquela luz tão bonita e cósmica que vai embora tão rápido quanto veio só me faz o querer mais, que me apaixone mais e caia em seu feitiço. Não consigo me segurar, solto um sorriso para ele, que parece tão satisfeito com isso que me roda e aperta mais. Ele coloca as mãos no bolso se de meu casaco e devolve meu sorriso sórdido, então me beija.

  - Ok. Ok. – estava no elevador, toda suja, estressada e não pretendia livrar a cara de assim tão fácil.
  Afinal, até sua folga ele conseguiu estragar, mesmo de longe ele estava lá, marcando presença da pior forma. Tentou se acalmar de todas as formas ainda no carro, mas a imagem da pequena mulher e seu redemoinho lhe sufocando só lhe deixou com mais raiva ainda, perguntou-se se ela poderia ter dado um jeito de lhe seguir, mas não, ela não fez. Quando chegou no meio do caminho, passando até mesmo pelos sinais vermelhos chorou outra vez, tudo que se relacionava a ela ultimamente lhe deixava abalada desse jeito. Não limpou as lágrimas, gritou pra si mesma que aquilo era loucura, que talvez não importasse e que não valia mesmo a pena, a cada pensamento novo sua dor era direcionada em linha reta para . Ser atacada quase lhe desarmou, não fisicamente, mas seu cérebro pedia descanso e um pouco de paz, paz que não conseguiu onde foi procurar. O elevador abriu, o jovem rapaz ao seu lado saiu e ela não pensou duas vezes para apertar o numero do andar de , suas mãos tremiam e estava insegura, se chegasse lá agora, nesse estado não conseguiria fazer o que queria, nem lhe dar uma lição, nem dizer o que queria. Quando as portas se abriram ela ficou imobilizada. Respirou fundo e apertou o botão de se andar, não faria isso agora.
  Chegando ao destino se antecipou a sair do local e foi direto para seu quarto, estava vazio. Claro que estava, o casal de amigos deveria estar se divertindo por aí, aproveitando tudo que ela não conseguiu. “Talvez Vincent pudesse lhe ajudar se já tivesse chegado do encontro com Betty” pensou. Abriu a porta de forma grosseira e arrancou o casaco, camisa, calça e foi direto para o banheiro. Prendeu o cabelo e se olhou no espelho, “, você tá uma droga!” Se culpou, lembrando que as pessoas lhe diziam isso quase sempre. Suspirou e tirou o resto das peças, fez questão de tomar seu banho com água gelada, numa lentidão extrema. Saiu com bem menos raiva, mas as coisas ainda martelavam em sua cabeça e a parte metida de sub consciente insistia em lembrar do que a mulher disse: “Ele não me quis porque estava com você” “Ele me deu um fora por sua causa” Essa parte sapeca tinha acordado e queria gritar um “Há, vadia!” bem grande pra garota redemoinho, talvez a culpa não tenha sido dele, mas de alguma forma foi intermediário desse ataque, concluiu. Canalizou toda sua atenção em se vestir, afastando todos os outros pensamentos pra o lado abriu o guarda roupa. Não podia amar uma cor mais que preto, mas dessa vez resolveu mudar um pouco, tomou o short vermelho que estava dobrado e blusa de alças preta apenas assim como a roupa intima, dispensando o sutiã. Terminando de se vestir ela olhou pra cama e depois pra porta, se perguntando “Dormir ou conversar um pouco com Vincent?” Ok, estava precisando, ia falar com Vincent.
  - Ok, eu preciso disso. – Se convenceu. Pegou o casaco e saiu do quarto invisível, estava triste, quando estava triste preferia ficar assim. Os pés no chão frio incomodaram um pouco, mas foi suportável, traçou o caminho, se lembrando do dia que ela e tentaram roubar a bebida do quarto dos garotos, de alguma forma essa lembrança era boa. Se alguém lhe dissesse que o cara que lhe bateu aquele dia iria se tornar seu melhor amigo ela não acreditaria. Chegou à porta e bateu. – Vincent. – Chamou-o calmamente. – Vincent... Preciso falar com você. Não me ignora, hein. – Ela precisava, mas suas batidas na porta não soavam tão necessitadas assim, Daleven era seu amigo, poderia conversar e lhe acalmar, mas não da maneira que queria e precisava. – Dalev, vamos lá, preciso falar. Se você tiver aí e não tá me evitando eu te... – Encostou-se ao lugar que tanto batia, ele não estava lá, devia estar sendo um pouco feliz com Betty, ou sei lá, se embebedando, não precisava ficar se enganando. – Tudo bem, eu volto... volto outra hora. – Olhou para o chão e voltou a caminhar, passando por seu quarto direto ela foi como uma criança quando chega em um lugar novo, como se nunca tivesse estado no inicio do corredor. Pediu o elevador, iria ao terraço ficar um pouco só e esperar pelo por do sol, talvez. Afinal, não estava cansada nem nada, apenas se sentindo mais triste e sozinha que o normal. Quando o elevador abriu ela teve uma surpresa: Betty, vestida completamente diferente, cetim laranja gritante, calça jeans e sapatilhas. Seu rosto estava inchado, deixando transparecer que tinha chorado por algum tempo, além disso, ela parecia estar enjoada e um pouco atordoada. Os olhos de procuraram por algo errado e ela logo entrou no elevador em silêncio, precisava ver o que estava acontecendo. Ficou um pouco distante pra que ela não percebesse, quando Betty percebeu que não havia ninguém ali suspirou aliviada, então as portas se fecharam.
   lhe observou de braços cruzados, não soube por que, mas preferiu ficar calada a oferecer ajuda, talvez fosse porque seria muito constrangedor para sua colega ser encontrada numa situação dessas. Mas ela já se perguntava “Ela não saiu com o Vincent?” “Porque tá chorando?” “Se ela tá só e o Daleven não tá no quarto o que aconteceu?” “Onde o Daleven está?!” Esse último pensamento quase a fez aparecer e perguntar o que acontecia, mas se conteve. Se algo tivesse dado errado a ruiva já teria informado e ela saberia. Olhou para onde ela estava indo. Andar de . Só que ficava naquele lugar, engoliu em seco. Fechou suas mãos e percebeu que elas já estavam soadas, se controlou para não respirar forte demais e denunciar sua presença, mas a mulher ao lado estava tão atordoada que não perceberia tão fácil que estava ali. O elevador se abriu, e saiu junto com ela, observou que seu caminhar estava torto, estaria ela bêbada? Ficou surpresa, Betty bêbada? Wow. Se encostou a parede até chegar à porta e bater desenfreadamente, a alguns passos atrás apenas observava.
  - !! – Gritou de um jeito embolado que as pessoas geralmente só falam quando estão visivelmente alcoolizadas. – , abre essa bosta de porta! Eu sei que tá ai, anda! – Betty olhou pro teto, começou a chorar e bater novamente, então a porta se abriu o revelando e tirando todo a atenção que tinha depositado em Betty. Prendeu o ar por segundos quando lhe viu. O cabelo recém cortado e levemente bagunçado, aquele tipo de calça pra dormir com o cós baixo preta que sempre usava e quase a obrigava a imaginar o resto... a camisa cavada que estava acabando de colocar, se havia um homem na terra que mexia com ela sem precisar fazer nada esse homem era ele.
  - Hey, o que foi? – Seus olhos azuis preocupados encontraram os de Betty que choravam, seu maxilar travou, então respirou fundo. – Betty... Não me diz que... – Lhe estendeu a mão, logo ela pegou e lhe abraçou. nunca foi de tirar proveito de seus poderes pra bisbilhotar a vida dos outros, só algumas vezes, mas dessa vez estava sendo inevitável. Ela não sairia dali por nada, necessitava ver de perto como agia com outras pessoas, se era carinhoso, necessitava ficar perto.
  - Aham, eu... Droga, eu estraguei tudo! – Disse em seus braços, ele fitou o corredor apreensivo, mas certo do que tinha que fazer, como se isso já tivesse ocorrido antes. A boca de ficou seca, estava ansiosa pra ver sua atitude. – Eu fui lá e disse um monte de coisas pra ele, falei sem parar, reclamei e... – Tomou ar e se desvinculou de seu abraço. aguardou paciente, esperando-a dizer tudo que queria. – E ele não teve culpa de nada, sabe? Eu só estou cansada de tudo e joguei baixo com ele, porque eu sei que ele tem uma queda por mim e me aproveitei disso só pra me distrair, você sabe... – Voltou a lhe abraçar e chorar. Eles nunca se abraçaram assim, sem pudores, ou medo de acabar logo, o pensamento a fez sentir inveja da colega, já não negava que queria o abraçar. – Eu não gosto dele. – Dessa vez que respirou fundo, afinal estavam falando de seu melhor amigo e ele não é um brinquedo, brincar com os sentimentos de outra pessoa é imaturo e ridículo.
  - Não vou te proteger nessa parte Betty, eu disse pra você não aceitar nada com ele se não gostasse. O Vincent é gente boa. Anda, vou te levar pra o seu quarto, você precisa descansar. – Sua calma deixou de boca aberta, mas sabia que ele era apegado à ruiva. Passou a mãos na cintura dela e o braço em seu pescoço, carregando todo seu peso. foi atrás. – E ai, o que aconteceu lá? – Por conta da bebida ela demorou um pouco.
  - Ah, eu disse pra ele tudo que queria dizer pra alguém, mas nunca disse... Reclamei bastante, e me embebedei enquanto ia falando. – Deu um risinho abafado que o fez revirar os olhos.
  - Você é muito fraca pra essas coisas, e eu já imagino como ele deve ter ficado. – Desistiu de arrastá-la e a pegou no colo de uma vez, afinal, pra quê tanta força se não usa-la?
  - Não, não e não. Ele foi... Gentil. – sorriu, claro que ele foi gentil, Vincent sempre foi um cara mais que legal, não a desapontaria nem numa hora dessas. – Quando terminamos de comer ele me acompanhou até o estacionamento e disse que estava no lugar errado, com a pessoa errada, então pediu desculpas e o meu carro. Falou pra eu chamar um taxi e saiu correndo, eu nem liguei, mas algo me diz que eu sei quem ele foi ver. –Seu tom era melancólico. deu um risinho quase que interno que não pode ver, pois estava de costas a ele. Já chegavam perto do elevador, mas ela não foi junto. Já tinha visto o bastante por hora, foi o suficiente pra fazê-la entender que não era um cara ruim. Isso era algo entre eles dois, na verdade o algo entre eles dois não era ruim, apenas indefinido ainda. Quando elevador se fechou e viu em sua frente, tão prestativo, verdadeiro e puro, ela simplesmente ficou sem se entender. No momento ela só o queria.
  Pegou as escadas, e desceu, todo o tempo se perguntando o que era aquilo, não era tão burra assim, nem tão idiota.
  Um passo “”, outro passo “” e outro “Olhos azuis” mais outro “Quero aqueles olhos azuis” e então respira “Quero aqueles olhos pra mim” “Quero ele”. Pensou.
  - Eu quero ele. – Balbuciou baixinho e continuou andando um tanto devagar, tentando organizar corretamente os pensamentos. Suas mãos soadas foram direto no bolso do short, suspirou, era inacreditável o quanto o queria, e queria que ele lhe quisesse também, que a incitasse do jeito que sempre fez, e a fizesse sentir calafrios e toda aquela mistura de coisas que sentia quando ele estava perto. Chegou a seu andar, só tentava se conformar, sua vez tinha passado.
  Continuaria pensando dessa maneira se não estivesse saindo do elevador quando colocou os pés no corredor.
  Seu coração acelerou, a garganta se fechou novamente, os olhos quase saíram de orbita e começaram a brilhar de uma forma intensa. O que ele estava fazendo ali?
   respirou fundo e o observou. Ele foi em passos determinados até sua porta, observa-lo sem ter que ficar incomodada ou sentir vergonha devia ser um direito de qualquer pessoa que quisesse, no momento sua determinação estava mais que forte. Quando respirou fundo e bateu em sua porta ela quase soltou um gritinho. Colocou a mão na boca e arfou, ele foi lhe procurar! “Meu” “Pra mim” seu cérebro gritava, mas ela simplesmente não podia aparecer agora. Só de pensar sentiu raiva, ela precisava entrar no quarto de alguma maneira e abrir a porta pra ele, mas não podia. Xingou-se mentalmente uma par de vezes. Ele insistiu, mas nunca chamou seu nome, apenas batia e esperava. Ao perceber que ela não estava convenceu-se, saiu de lá com a feição um tanto triste e enraivada, lamentando o acontecido provavelmente. deu meia volta e direcionou-se ao elevador outra vez.
   averiguou a situação, tinha que fazer alguma coisa, não podia deixar escapar essa chance pelos dedos, precisava saber o que ele tinha pra dizer, precisava dizer alguma coisa, não sabia o que, mas precisava.
  Sem pensar duas vezes ela saiu correndo novamente pela escada, já estava virando maratona, mas isso não importava. Ela correu tão rápido que chegou antes dele, foi até a porta do quarto e respirou fundo, fundíssimo. Queria entrar sem ser percebida também, na verdade fazer a stalker estava até lhe agradando. “Respira, você só tem que ficar calma pra ele não te sentir, só isso!” Pensou. Respirou, mas quando a porta do elevador abriu a sua determinação quase foi pro lixo, cada passo que ele dava, quanto mais perto chegava, todo aquele jogo, onde ela era parte dos dois times, aquilo estava lhe levando a beira da loucura. Mas agora ele parecia ainda mais chateado, tão chateado que passou por ela sem perceber nada e abriu a porta sem educação ou calma, deixando a passagem de mais fácil. Assim que entrou tratou de se distanciar, seus batimentos estavam sem ritmos, não via as cores direito.
  Ok, estava lá e precisava agir com atenção, mas o que faria? Antes de qualquer coisa correu os olhos pelo quarto, era enorme. Piso claro, grande tapete também claro e felpudo ao chão, a decoração alternava entre preto, branco, bege e amadeirado. Cama escura, lenções beges um tanto desarrumados e muitas almofadas. Atrás da cabeceira da cama, por cima da parede com textura amadeirada havia um longo espelho na horizontal, também tinha espelhos nas portas do grande guarda roupa que ficava do lado da cama, qualquer um que deitasse nela poderia se ver sem dificuldade alguma. Frente à cama também tinha uma mesa com vinho fechado em cima, e claro, a TV ostentada à parede. As cortinas esvoaçaram de leve, pois as janelas estavam quase que fechadas. Engoliu a seco, o quarto era perfeito. Só ficou num assim anos atrás, por opção é claro, sempre teve condições, mas não havia porque passar a noite num lugar tão grande sendo que estava sozinha. Correu até a poltrona bege que estava perto do guarda roupa e sentou, nunca tinha ficado tão nervosa, nem quando teve que ficar debaixo do carro. Contou mentalmente e quis rir quando chegou no seis: “O que você tá fazendo?” Lembrou-se “Tô contando, idiota” fazia tanto tempo... Respirou fundo, continuou contando e observando andar de um lado pra o outro, mais que estressado. Era por sua causa, sim, por sua causa.
  Tirou o casaco e o colocou no chão, segurando apenas uma ponta para que ele ficasse invisível. Por fim o jogou atrás do criado-mudo e focou no homem em sua frente, estava invadindo sua privacidade, mas só queria rir e rir, não se importava que sentia-se quente apesar do frio que fazia isso era o de menos. Ele fitou a si mesmo no espelho do guarda roupa e suspirou. Depois de um tempo caminhou mais um pouquinho de um lado a outro e de costas retirou a camisa preta que usava, deixando a mostra sua costa magra e definida e a tatuagem. Os músculos internos de se contraíram mesmo sem permissão, dava pra ver que estava numa batalha interna, ela só não sabia qual.
  - Idiota. –Ele se repreendeu, não soube bem o porquê, só conseguia observa-lo, como aquela calça lhe caia bem. Ele fechou a cara e pegou o vinho, abriu-o e tomou vários goles. Olhou pra garrafa e levantou-a, seus olhos brilharam, cheio de ódio, talvez. Assim como estava de início, ele ficou agora, em seu interior se martirizava por não ter ido falar com ela antes e dito tudo o que queria, a noite iria acabar e não conseguiria o que queria. Talvez também não o quisesse, deveria estar se divertindo em alguma festa, aproveitando o tempo que tinha, mas ele estava lá, sozinho. Ela era a única pessoa que desejava realmente aproveitar e estar perto no momento, mas não estava lá. Olhou com mais fúria ainda pra garrafa que estava quase cheia e preparou-se para arremessa-la no espelho do guarda roupa do outro lado da cama. Como pode ter estragado tudo assim tão facilmente? Deus, ele queria    , ele a queria.
  - Espero que esse troço não agarre em mim. – disse, contendo um risinho travesso. Foi bom ver de camarote a reação assustada dele. Não que ele tenha pulado, dado um grito ou soltado a garrafa no chão. Não, ele apenas fechou o cenho e permaneceu imóvel, provavelmente custando a acreditar que tudo o que queria estava ao seu alcance outra vez. Usou toda sua determinação para não colocar tudo a perder agora. Segurou firme o objeto e o colocou de volta na mesa, calmamente.
  - Não vai. – Respondeu olhando para a poltrona, o som de sua voz a fez deduzir a localização. Molhou os lábios e sorriu de lado, como ele não percebeu que não estava só? Ela foi até a ele! Ela foi!
  - Então você está aqui no meu quarto... Me observando em silêncio. Não devo ser tão interessante assim. – diz um pouco sem jeito.
  - Não, não é... – Concordou, ele cruzou os braços, arqueou as sobrancelhas e ficou a esperando aparecer. – Mas, sabe, eu tinha que vir aqui. – Falou enigmática.
  - Deve ser algo muito importante, pra você estar aqui em plena folga. – Disse com desdém, mas meu amigo, quem desdenha quer comprar. É bom lembrar-se disso. As feições enraivadas ainda estavam lá, menos expostas, mas inda estavam.
  - Mais importante do que você imagina. – Se endireitou na poltrona, apoiou-se aos pés que tocavam o chão apenas com a ponta, como uma bailarina. Tomou ar, tentando acalmar o coração ansioso para que não denunciasse o quanto estava nervosa quando pudesse ser vista, afinal, ele poderia ouvir até seus batimentos cardíacos quando aparecesse e vice versa. Foi meio inevitável, não tinha como controlar isso com toda aquela tensão no ar. Apareceu. – Eu vim porque tenho perguntas. – disse, de cabeça baixa. Quando viu ela, seus cabelos levemente desgrenhados, short curto, blusa de alças colada ao corpo seu cérebro gritou alertando como uma sirene: EU QUERO ELA!! Iria ficar louco. Então levantou o rosto, quando a viu ficou um tanto confuso. Como podia haver tanta coisa num olhar só? Parecia que ela tinha passado por um furação de acontecimentos antes de chegar ali. Seus lábios estavam um tanto inchados e até pálidos, bochechas quentes, no olhar tinha um brilho divertido, apesar de parecer que chorou bastante, ele logo foi em sua direção sem se importar com nada. – Tá tudo bem, fica ai. – Ele estranhou, mas recuou.
  - Tem certeza? –Perguntou em tom neutro.
  - Sim. – se levantou e respirou fundo, ele logo conseguiu ouvir sua frequência cardíaca, o coração dela estava palpitante, bem mais que o normal. O que ela tinha? – Perguntas, eu vim te fazer perguntas.
  - Se é tão importante, pode fazer. – Assentiu, mas continuava um pouco deslocada. Ela caminhou em sua direção e ele se afastou, dando-lhe o espaço que precisava, afinal, o quarto era enorme. Eles ficaram frente a frente numa distância considerável, pelo espelho dava para captar uma boa parte do corpo de ambos. Os batimentos cardíacos de também ficaram alterados, toda aquela tensão e ela não dizia, precisava saber se estava bem de verdade. colocou as mãos no bolso da calça para disfarçar sua agonia, impaciência e curiosidade e esperou. Super controlado.
  - Sua ex-namorada/ ficante /transa de uma noite me atacou. – Revirou os olhos, lhe olhou surpreso e confuso.
  - Chloe? – Questionou, não havia ligação naquilo.
  - Pensei que ela não se encaixasse na ultima opção pra você. – Respondeu um pouco mais grossa que antes. – Não. Eu não sei o nome daquela psicopata maníaca por ! Ela estava a fim de bater em mim até eu não conseguir levantar. – Soltou o rancor que sentia. Ninguém gosta de ser atacado gratuitamente sem causa. – Ou talvez ela só queria me ver definhando sem ar dentro daquele REDEMOINHO QUE ELA FEZ BROTAR DOS PÉS E JOGOU EM MIM! REDEMOINHO ESTE QUE ME JOGOU NUMA ÁRVORE E ME FEZ CAIR QUE NEM FRUTA MADURA NO CHÃO!
  - Baixinha? – Perguntou, ela assentiu nervosa com a cabeça. – Assim, com os seios bem fartos? – Desenhou os seios com a mão e gargalhou, mas não tinha graça! explodiu.
  - Você tá rindo? , você tá rindo? Sério? – Grunhiu, jogando o cabelo de lado sem muito cuidado. – Você sabe por que ela me achou não, é?
  - Não, não sei. – Cruzou os Braços, ainda havia uma fagulha do sorriso em sua face, mas se conteve. Estava assim porque sabia que a mulher havia sentido ciúmes de .
  - Um: Por sua causa! Dois: Por sua causa. – Cerrou os olhos. – Três mil duzentos e quarenta e seis: POR SUA CAUSA! – O tom acusativo estava lá enquanto ela gritava, e agora estava totalmente leve e relaxado, diferente de . – Sabe o que ela disse? “Foi culpa dele eu estar com os O’Wenhs! Culpa dele, se aquele retardado tivesse ficado comigo eu não estaria onde estou hoje, mas não ligo, eles são até bacanas.” E sim, eu gravei o que ela disse, porque foi meio assustador!
  - Pera aí, ela tá com eles?
  - Não sei! Não imagino o que fez com ela, mas ela tá pirada e de alguma forma me culpou por isso. – ficou mais quente ainda, cerrou os punhos assim que sentiu o olhar de sobre si.
  - Eu só disse pra ela que não queria nada, faz anos que não nos falamos. Até porque eu sou um cara fiel e tinha namorada. – A lembrança de Chloe embaçou a mente de e lhe deixou embaraçada, merda, esqueça a Chloe! Depois de uma pequena pausa ele continuou com o tom calmo, sensual e assustador que sempre usava. – Ela ficou insistindo pra falar comigo, eu cortei. Mas a Dannie é um pouco persuasiva... Outro dia mesmo, ela me ligou enquanto eu tinha visita em casa, num momento mais que inoportuno, na verdade. – Deu de ombros, de cabeça baixa assistiu de camarote a senhorita short vermelho ligar os pontos: Dannie havia lhe ligado naquele dia, ela ouviu metade da conversa e imaginou coisas. E mesmo depois que ele negou ela continuou achando que era mais uma, afinal foi o que pareceu. – Mudando de numero varias vezes... Mentindo pra encher o saco, pra me atingir.
  - Mentindo é? – Perguntou com o pé atrás.
  - É, coisas do tipo “Semana passada quando me agarrava e beijava todas as partes do meu corpo você parecia se lembrar do meu nome.” – Riu sarcástico, ficou pálida, ele não tinha mentido. Na verdade ela ficou até com vergonha de si mesma. não ligou, apenas continuou o que dizia: -Até que eu dei um basta nela e disse que tinha outra pessoa. – abaixou a cabeça, era muita informação de uma vez só. Queria lhe bater, mas estava louca pra o abraçar também. – Desde então ela não me ligou outra vez. – Disse por fim. queria o abordar sobre a parte dos O’Wenhs e tudo mais, mas a pergunta que tanto queria fazer desenrolou por sua língua tão rápido que não deu pra controlar:
  - Por que você foi ao meu quarto? – Indagou timidamente. Dessa vez ela estava mesmo desarmada, do jeito que nunca foi com ele, só uma garota que estava se descobrindo apaixonada querendo uma explicação decente, querendo entender seus próprios sentimentos. O longo silencio se instalou. Tempo o suficiente pra deixar mais tensão, ansiedade, duvida, desejo, suficiente pra intensificar tudo.
  - Queria te ver, mas parece que saí em desvantagem, porque você me viu e não me atendeu. – Agora ele estava determinado, fascinado. estava diferente, sensível e vulnerável do jeito que nunca foi, aquilo o atraiu de forma tão intensa que começou a se aproximar. Ela não se afastou, mas também não lhe olhou.
  - Eu não estava no quarto... O que você queria comigo? – Questionou outra vez, sentiu o arrepio na espinha quando ele chegou perto, devagar, paciente. Suas mãos soadas voltaram aos bolsos do short. Só um idiota não veria que ela só precisava de um abraço, alguém pra se apoiar de verdade. Afinal perdia todos a sua volta com facilidade extrema, não queria o perder também.
  - Fui seguir o conselho de uma amiga. – catou toda a força de vontade que ainda lhe restava e olhou para o monumento em sua frente, ele não lhe tocou, mas seu olhar lhe permitiu ver muita coisa. também estava quebrado, necessitado da mesma droga, sedento. Não só de desejo carnal, ele precisava preencher o vazio que tinha se instalado ali. O coração de quase parou, teve que respirar fundo e forçar duas vezes para que os olhos parassem de brilhar.
  - Amiga, aham. – Soou como uma provocação.
  - É, amiga. – Ele sorriu, tirou as mãos dela do bolso e segurou. – Basicamente ela disse pra eu tomar vergonha na cara e honrar minhas calças. – Falou baixo e sensual, aquela conexão não podia mais ser quebrada.
  - Não acho que precisa de mim pra honrar suas calças. – Estavam muito próximos, mais elétricos que nunca, a excitação era indescritível.
  - Eu preciso de você mais do que imagina. – Respondeu num sussurro olhando em seus olhos com convicção, passou a mão em sua cintura, fazendo-a arfar. – E você, sweetheart? O que devo a honra de sua presença no meu quarto? – Dessa vez não se importou de fazer o papel de presa, queria queimar com ele ali mesmo.
  - Eu vim te avisar uma coisa. – Sussurrou também, molhou os lábios e pousou a mão possessivamente na nuca dele.
  - Estou ouvindo. – Seus olhares não se desgrudaram por nenhum segundo. Até que ela apertou mais sua nuca para amenizar a dor, fechou os olhos e lhe disse ao pé do ouvido:
  - Eu estou caindo! – Ele sabia exatamente do que ela falava, apertou e massageou sua cintura em resposta. Por Deus, estavam caidaços um pelo outro. queria dizer o resto olhando em seus olhos, então se voltou para ele. – Seria injusto da minha parte não te chamar pra queimar comigo lá embaixo. – Seu tom ousado, só conseguiu lhe olhar e lhe querer ainda mais.
  - , eu já queimava lá por você há tempos. – respondeu com fascínio e sinceridade.
  - Merda, ! Merda! – Por fim ela disse e acabou com a tensão e desejo que consumia ambos de tantas formas e buscou seus lábios em desespero.
  E se reavivaram, voltando com mais intensidade que da última vez, sentindo mais desejo e necessidade que antes. lhe beijou avidamente até que não sobrasse mais folego pra respirar, suas caricias foram todas devolvidas por que segurou-lhe o pescoço e tórax definido como se fosse um aviso para que não fugisse. No segundo seguinte estavam encostados à parede, na frente dele. Sem quebrar o beijo ela o apertava e arranhava.
  - Você faz isso de proposito, não é mesmo? – Ela pergunta em tom acusador, com a mão em sua camisa preta.
  - Depende do que você tá falando. – responde, olhando pra seus seios fartos e agora acesos, segurando-a com força a cintura.
  - De andar por aí ostentando essa droga de corpo perfeito, me fazendo olhar de longe. Me fazer implorar em silêncio, isso é muito baixo de sua parte, . – A respiração dela estava descontrolada e os fios desgrenhados contrastavam com os olhos brilhantes cheios de desejo, o que a deixava mais natural e bonita. Soltou um grunhido em protesto e molhou os lábios. Ele soltou uma gargalhada e passeou o olhar por todo seu corpo, outro golpe baixo. Puxou contra seu peito e trocou rapidamente as posições, colocando-a contra a parede como ele estava.
  - Eu que deveria tá reclamando disso aqui, não acha? – Colocou uma das pernas entre as dela e aproximou-se do meio, deixando-a um pouco tremula. – Ou sair por aí com essas roupas que você usa, fazendo o que faz, me provocando sempre que pode é justo? Você me faz te querer só de tá perto e ainda finge que não tem nada acontecendo. – Esmurrou a parede em sua frente com raiva, o ato só lhe deixou sentindo mais viva, serviu para lembra-la do perigo. É sempre bom um pouco de perigo.
  - Olha quem fala, você faz pior comigo, seu idiota. Sempre fingindo que eu não existo! – respondeu, culpando-o pela falta de atenção que recebia. Olhou em seus olhos e buscou seus lábios outra vez, mordiscando-o com um tanto de força, pedindo passagem para sua língua que foi concedida sem pestanejar. A intensidade aumentou, mas não parava, só queriam mais e mais. Sem parar de beija-lo retirou as mãos do ombro e foi até a gola de sua camisa. Suspirou e rasgo-a ao meio sem a menor cerimonia, quando pararam ele arqueou as sobrancelhas fazendo a pergunta muda: “O que é isso?”. Ela em um risinho interno respondeu “Vingança, meu caro. Vingança!”.
  - É a única opção que você me dá... – Ela pega o farrapo que sobrou e retira dele, fazendo com que todo seu peito apareça. Sem sibilar ela segura sua nuca e vai de encontro, começando a beija-lo por essa parte e inspirar seu perfume inesquecível desesperadamente. – É fazer sentir como se não fosse digno de ser nem o tapete que você pisa! – Respondeu-a irritado, num movimento rápido segurou sua bunda e vinculou-a a sua cintura, fazendo-a gemer. Direcionou-se pra mesa onde havia colocado o champanhe e com uma mão jogou tudo à mercê da gravidade, o som dos objetos indo ao chão a fez o apertar contra si. Ele colocou-a lá e imediatamente devolveu sua vingança rasgando sua blusa.
  - Você também só me dá uma, não tenho culpa se me faz querer tá tirando proveito de seu corpo toda hora. – Grunhiu em protesto quando sentiu as mãos dele em seus seios e logo a boca. Arqueou-se e fechou os olhos, capturando tudo que podia pra lembrar-se pra sempre do momento. – Toda merda de hora ! – Gritou com mais raiva, passando os pés na cintura dele pra manter o equilíbrio. E não conseguiu mais se concentrar em nada, só no prazer que crescia e acumulava em apenas uma parte especifica de seu corpo, respirou fundo. – Não posso sair por aí anunciando ao mundo que te quero todo dia. – Disse. Quando parou, depois de passar por toda extensão do pescoço e chegar em sua boca novamente respondeu:
  - Nem eu que te quero toda hora. – Seu olhar ameaçador voltou, novamente tirou-a da mesa e pôs a cama, cobrindo seu corpo com toda a massa corporal que possuía. Beijou-a outra vez e desceu a mão até seu short vermelho contornando o lugar varias vezes, a provocação foi o suficiente pra fazê-la revirar os olhos, então saiu de cima dela e retirou a peça lentamente. O que foi ruim e bom ao mesmo tempo. A demora foi um fardo pesado a carregar, mas em compensação pode ver como ele estava lindo, extremamente sexy e bagunçado. Com uma mão de cada lado foi descendo a peça sem tirar os olhos se quer uma vez dos dela, desafiando-a, transformando aquilo ainda mais doloroso. Olhou-a nos olhos por um segundo, parou o que fazia e pegou em sua mão, puxando-a para que ficasse de joelhos em sua frente. não entendeu, mas foi ao seu encontro sem hesitar. Ele tocou seu rosto com cuidado e carinho, prestando atenção em cada mínimo detalhe, tentando segurar todos suas emoções ela esperou em silêncio. - Me desculpa. – Ele sussurrou. Depois de um tempo sem resposta continuou. – Eu não brinquei quando disse cairia por você. Talvez eu não seja tão obvio, e às vezes seja idiota, mas a culpa é sua, você me confunde. Você é a única coisa que eu não sei lidar, é complicada e contraditória. – Afagou seu cabelo e terminou: - Mas eu me apaixonei.
  - Você não tá bêbado, né? – sussurrou de volta, tinha um sorriso bobo no rosto. – Ou tá? – Ele negou com a cabeça. – Porque eu estou prestes a confessar algo bem comprometedor também.
  - Não precisa, só esteja aqui comigo. – Beijou-a demoradamente. – Até depois que as estrelas se forem.
  Ela assentiu e disse:
  - Ficarei até depois disso.

Capítulo 21 - O fim

  Pela manhã, quando o sol raiou e as estrelas se foram ela ainda estava lá.
   dormia tranquilamente sobre o peito dele, seu braço o envolvia carinhosamente e ao final a mão, que mesmo sem comando o segurava firme para que continuasse onde estava.
  A luz solar demorou a entrar e foi o primeiro a acordar. Antes de abrir os olhos sorriu, pois sabia que ela havia ficado, continuou ao seu lado depois de tudo. A segurou firme contra si e inspirou seu cheiro.
  - Então você também não estava bêbada ontem. – Perguntou enquanto desenhava formas aleatórias pelo braço dela, fazendo cocegas. – Ou estava?
  - Levando em conta que me lembro de cada segundo do que aconteceu... – Respondeu preguiçosa.
  - Então não mudou de ideia?
  - Bem, não ouvi nenhum telefone tocar dessa vez, não é mesmo?
  - Touchê. – Desvinculou-se dela e sentou. – Sabe como é, não pode me condenar, afinal eu estou acostumado a ser enxotado.
  - Não seja tão mal comigo, eu não sou essa bruxa maldosa que você pinta! – Defendeu-se um tanto ofendida.
  - Vai ver eu tenho um fraco por bruxas maldosas de olhos verdes petulantes.
  - Touchê. – Ele riu e se esticou para beijá-la, mas ela se esquivou.
  - O que? Não vai me dizer que...
  - Não, não. Eu só não quero que me beije antes que uma escova de dente tenha passado cuidadosamente por toooda – apontou para a boca – essa área. – gargalhou e puxou-a pra perto, circundando o braço calorosamente por sua cintura.
  - Qual a graça de ter você comigo depois que as estrelas sumirem se não posso te dar um beijo?
  - Não é bem assim, só que eu nã... – Devagar ele mordeu seu lábio, impedindo que falasse.
  - , será que não entendeu que eu te beijaria mesmo que estivesse suja de lama da cabeça aos pés? Mesmo que estivesse passeado a manhã inteira dentro da caçamba do carro do lixo. – lhe deu um tapinha de protesto. – Mesmo se...
  - Para, isso é tão nojento. – Revirou os olhos.
  - Você não pareceu me achar nem um pouco nojento ontem à noite. – Provocou-a mordendo seu pescoço.
  - É porque eu não achei. – Transpassou os braços no ombro dele, com a mão acarinhou suas mechas então o beijou. – Geralmente as pessoas não se importam com essas coisas quando está estupidamente apaixonada.
  - Não vai ser tão fácil voltar atrás depois, então cuidado com o que diz. – A repreendeu.
  - Não retiro nada do que disse. – Disse orgulhosa.
  - Você, , é uma doce confusão.
  - E você é tão ridículo. – Gargalhou e o abraçou.
  - Não acredito que você ainda não saiu por aquela porta cheia de raiva me xingando até o ultimo dedo do pé, me acusando de alguma coisa relacionada a “não era eu na noite passada” ou “eu fui obrigada” ou...
  - Desculpa! Não é o suficiente?! Eu fui muito vaca, mas você não deixou de ser cafajeste comigo também. – Levantou da cama, catou as roupas e foi direto para o banheiro. foi atrás.
  - Não faz isso! Eu só não acredito que você quer um cara que nem eu. – Falou amargo.
  - Como você? Você não é tão ruim como pensa, na verdade você tá mais pra um exemplo de perfeição e força que ninguém consegue nem chegar perto de ser. – Ele não respondeu.
  - Por favor, eu falho toda vez.
  - E daí? Eu estrago tudo toda vez, mas não é porque erro que vou ficar me achando pior. Eu fui feita pra isso também. – Saiu do banheiro já vestida, com o rabo de cavalo empenhado na cabeça. – Já pode colocar um short, quero conseguir manter um dialogo com dignidade sem me atracar com você. – Por dentro já borbulha, ele hesitou, mas voltou e usou a calça da noite passada. – E o que acontece agora? – Suspirou ao lembrar o que vinha a frente.
  - Temos que lutar. Com mais garra do que nunca fizemos, não vou mentir, eu temo por nós.
  - Eu sei, mas vai dar tudo certo.
  - Queria ter esse positivismo. Não vou me perdoar se estragar tudo de novo. – Fechou o cenho, sempre se cobrou e odiou falhar e agora coisas muito mais sérias estavam em jogo.
  - Não pense assim... – Segurou sua mão. – Você sabe, estamos no mesmo time.

  O resto do dia foi corrido. não o viu novamente depois que saiu de sua suíte, quando chegou a sua estava dormindo como uma pedra. se sentia borbulhante, estonteante, forte, feliz e sem um fardo nas costas, melhor de que em muitos anos. Tomou um rápido banho, para que o cheiro de permanecesse e aproveitou sua ultima tarde livre descansando para o que viria depois da madrugada.

** **

  - Kaya. – Ao ouvir seu nome virou receosa. Callun estava ensinando alguns truques aos cientistas e técnicos quando ouviu lhe chamar. Ele lhe pareceu muito sério, não lhe viu por toda a noite. A hora de ir já estava próxima, ela apenas acertava os últimos detalhes com os que ficariam. Logo quando acordou foi levada a uma sala privada onde revelou onde ocorreria à troca do código pela garota, a ilha Treasure. Longe da cidade, privada, chegada e saídas fáceis, o lugar perfeito. Seria mesmo perfeito se , Kaya e sua trupe não estivessem descoberto quais as intenções dos Owen’s.
  - . – Respondeu seca.
  - Pode vir aqui? – Revirou os olhos e foi, já havia terminado seu trabalho, agora apenas tinha que esperar até a hora da partida. –Preciso falar com você.
  - Isso você já tá fazendo. E ai, deixou de ser idiota e seguiu meu conselho? – Ele sorriu, ela cedeu e riu também.
  - Eu não sei como uma garota como você consegue ter as respostas pra tudo.
  - Bem, eu tenho uma colinha às vezes. – Respondeu esperta, o banco de dados da internet sempre foi útil.
  - Obrigada. – Disse depois de um tempo em silêncio. – Não só por me ajudar a perceber que fui idiota, por me ajudar aqui mesmo quando ninguém quis saber de você e te julgou. Só conheço mais duas pessoas que me ajudaram assim.
  - O que fazer né, eu tenho o dom.
  - Você. Tá diferente... Algo me diz que não fui só eu que deixei de ser idiota noite passada.
  - Olha só, ele raciocina. – Recostou-se à mesa, o observando frente à porta.
  - Eu queria que tivéssemos tempo.
  - E eu queria que tivéssemos paz. – Seu tom soava melancólico.
  - Queria ter tempo de conseguir sua amizade, pra falar a verdade.
  - Isso você já tem, . – Algo lhe dizia que ainda passariam por muitas coisas juntos. – Você a ganhou no momento que eu soube o que fazia... Um irmão nesse exercito de loucos extraordinários.
  - Uma parceira melhor que eu na arte da conquista. – sentia-se mal de por colocar a vida de gente tão boa quanto Kaya em jogo. Callun suspirou e foi em direção a ele, cerrou os olhos e o abraçou, ele retribuiu. – Eu tenho algo pra você, mandei fazer hoje à tarde enquanto arrumava nossa equipe. – Tirou do bolso da calça um soco inglês de prata e colocou em suas mãos. – Não sei se alguém te treinou, além de te dar uma arma essa é a única coisa que posso fazer no momento. – Soou como um pedido de desculpas, outro. – Juro que te treinaria se houvesse tempo.
  - Você ainda me subestima . – Revirou os olhos. – Eu sei uns truques, mas sim, eu adoraria ser treinada pelo mestre alfa do pedaço. – Apertou-o forte, despedindo-se de certa forma. – Obrigada. Mesmo.
  - Obrigada. Temos que ir agora, tá tudo em nossa mão. – Engoliu em seco. Saíram rumo ao terraço, partiriam de lá.

** **

  - Tenho que admitir que quando permiti que trouxessem vocês pra cá eu já sabia que era possível que isso acontecesse, eu sinto muito por isso e fico muito agradecida que continuem aqui mesmo sabendo de todas as circunstâncias, muito obrigada. – A senhora dizia frente à , , , Daleven, Handcheen, Monalisa e Kaya. Apenas eles iriam. – Lembrem-se, já que irão arriscar suas vidas façam valer a pena, quando parecer que não tem mais volta segurem firme, aguentem, vai dar tudo certo. – Eles queriam acreditar naquelas palavras positivas, mas elas não eram entoadas com certeza, força e coragem, podia sentir a fagulha de medo desenrolar por cada palavra da boca da mulher. Não era mal que temesse, mas não ajudava em nada. – Isso é por todos nós, só Deus sabe o que será de nós se eles efetuarem a troca. – Ela começou a chorar, então abraçou seu filho e chorou mais ainda. Talvez fosse a ultima vez. Beth também estava lá, recuperada da noite passada abraçou todos, até chegar a Vincent.
  - Eu... – Beth disse.
  - Desculpa por ontem à noite... Não costumo dar toco nas mulheres que chamo pra sair, mas dessa vez tive que fazer por uma causa maior. – Olhou pra Kaya, que conversava com Monalisa tranquilamente, como se a mesma não fosse a mulher grande e assustadora que era quando queria.
  - Não tããão maior assim, hã. – Deu um murrinho em seu ombro coberto pelo uniforme personalizado de alta e ultima geração que todos receberam.
  - É, talvez não de tamanho. – Lhe abraçou. – Eu te desculpo, mas prometa que cuidará de tudo aqui se nada der certo. Mesmo se começar a desmoronar sobre sua cabeça. Ok?
  - Não faria menos que morrer lutando, te juro. – Ajeitou os óculos, desconcertado. – Boa sorte, amigo.
  - Boa sorte, Beth. – Sorriu maroto ao vê-la se afastar, voltou-se para Kaya, lhe abraçou e entrou no helicóptero de última geração que iria co-pilotar com Handcheen.

** **

  Da porta do helicóptero, que já se preparava pra voar, eu fitei , só faltava ele, que se despedia da mãe mais uma vez. Não pude deixar de ter inveja dele por ter uma mãe pra se despedir, mas uma vez que estou com ele me sinto completa, mesmo se algo terrível vier acontecer eu terei força. Tenho uma ancora, minha ancora.
  - Promete pra mim que não vai morrer! – me abraçou por traz, então virei-me para retribuir. Confesso estar um pouco tremula.
  - Só se prometer sair mais comigo ao invés de ficar com seu namorado gleek gato misterioso. – Revirei os olhos. Ainda sinto-me chateada por ter sido deixada de lado num momento tão delicado como o de ontem. – Você não perguntou se eu queria ir... Não deu tempo de dizer, mas a ultima noite foi cheia e eu sinto como se estivesse caminhando pra morte, eu preciso de tempo pra brigar com você e reivindicar meus direitos de melhor amiga. – Não dou tempo pra que fale. - , eu não vou ser estupida de passar meus quem sabe últimos minutos com você reclamando. Eu amo você, e você foi a primeira e única amiga que eu fiz durante todo esse tempo que estive só. A solidão acaba com a qualquer pessoa, me deixou fria, triste e amarga e no meu pior momento você esteve lá me desafiando a fazer algo idiota e divertido. Se alguma coisa acontecer quero que saiba que desejaria pra nós todo tempo do mundo, e se o tivéssemos eu provavelmente te aguentaria falando de revista de modas pelo resto da vida sem reclamar! – Minha voz falhou na ultima frase, quando olhei para ela percebi seu choro. Parecia que não a veria por um longo tempo, talvez seja idiotice da minha parte, mas nunca me senti desse jeito antes.
  - Eu usaria todo esse tempo pra ler as revistas... – Senti seu abraço dentro do coração, guardei sua singularidade comigo. – E pra pedir desculpas por te desapontar tanto do jeito que fiz. Me perdoa, eu deveria ter sido uma amiga mais presente, menos fútil, menos eu.
  - Cale a merda da boca! Você foi regular, como sempre. – Vi seus olhos brilharem num tom intenso, neles vi angustia e apreensão dividindo tudo com o amor e compaixão. Ela sempre será a melhor, mesmo sem fazer nada. Abalada voltou ao seu lugar, onde Handcheen a abraçou e fez sinal de longe, me cumprimentando. Ao virar dei de cara com , pela primeira vez tão perto desde a manhã. Ele me olhou da cabeça aos pés, e meu coração quis ir passear pelas linhas de trem da cidade de tão abalada que fiquei.
  - Eu sempre fantasiei com você usando roupas assim. – Fiz uma careta.
  - Talvez a ideia de me ver usando-as seja melhor do que realmente me ver usando-as.
  - Com você qualquer um dos dois é excepcional. – Estávamos usando o mesmo modelo de roupa, mas eu poderia dizer a mesma coisa dele. Estava lindo, voraz e só me fazia querer voltar a noite passada e repetir tudo de novo várias e várias vezes. Não o respondi, não sei ao certo em qual categoria nosso relacionamento se encaixa. Não sei se temos um relacionamento, pra falar a verdade. Mas isso não tirou nem por um segundo a vontade que tive de abraça-lo, mas não sabia se podia, se devia. A incerteza me matava, não vou mentir estava tremula, o vento frio sob meu rosto também me deixava tonta, então ele segurou minha mão. Me senti elétrica, viva. Segurei de volta, e entramos. Percebi Kaya me vistoriar, mesmo que discretamente. Ela deu um sorriso de quem sabe alguma coisa e olhou pra . Ok, eu perdi alguma coisa aqui.
  - Oi Kaya. – Saudei-a.
  - . – Ela estava do lado de Monalisa, uniforme iguais pra todos nós, mesmo sendo noite consegui ver suas mechas azuis presas num rabo de cavalo semelhante ao meu.
  - Monalisa. – Sentei do outro lado e esperei a resposta, mas não veio. Eu não sei por que a cumprimento, é simplesmente um desperdício de tempo cumprimentar essa dai. Acho que a vontade dela de pegar o código e os O’wens iguala a de , não sei se ela tem tanto motivo assim, mas não importa, quanto mais pessoas no nosso time melhor! foi à cabine frontal falar com os garotos, voltou e sentou do meu lado.
  - E ai, com medo? – Perguntei.
  - Só se for de quebrar minha unha. – Olhou pra os dedos que brilhavam em roxo e fez cara de tédio. – Pelo menos hoje eu vou ter a chance de matar alguém, afinal só você fica com a diversão.
  - Fique à vontade. – Dei de ombros. – Eu só estou um pouco nervosa, tem muita coisa em jogo.
  - Nós somos um time, não tem como alguma coisa dar errado. Temos tudo preparado e revisamos isso várias vezes, sem falar que somos um pouco especiais, você não acha? – Acho, acho, acho que minha autoconfiança foi pra o espaço. – Me desculpa, mas depois que você incendiou aquele carro só com tiros eu não duvido nada que seja capaz de matar pelo menos metade deles sozinha.
  - Não é pra tanto. É só o extinto de sobrevivência que fala mais alto, como agora. Ou você prefere que eles façam a troca e aniquilem com a nossa raça?
  - Precisa me lembrar que essa possibilidade existe?
  - Posso parar se você parar de se importar com a unha e focar no que realmente importa aqui, ok?
  - Certo, certo. – Suspirei e cruzei os braços, essa ilha não chega nunca! Callun se levanta, vai até a cabine, fecha a porta e lá fica com os outros três por um longo tempo. Mergulho em pensamentos que envolvem o que tem e o que não tem haver com minha vida. Sei que a essa altura meus olhos estão mais brilhantes que a tocha olímpica e minhas mãos soam, mal posso esperar para a hora que tudo isso acabará.
  - Time. – abre a porta e nos chama a atenção, todos se entreolham e voltam a ele. – Eles já estão lá, e nós já estamos chegando perto. Já podemos nos preparar, chegou a hora. – Ele soou tão apreensivo e enraivado que senti medo pelo que viria pela frente.
  Levantamos todos de uma vez, o único que permaneceu sentado foi Vincent que ainda pilotava, mas pelo que sei logo, logo ele sairia de lá e deixaria no piloto automático. Acho que é assim que funciona, mas a ideia de permanecer dentro de um negócio desses sem um piloto de verdade me deixa totalmente enjoada. No meio do nosso caminho há uma grande caixa, nela está todas as armas que usaremos, como se tivéssemos feito isso por toda a vida abaixamos num único e sincronizado movimento e pegamos as que queremos. Eu logo tomo munição, uma granada, um revolver e meu querido e amado fuzil. Verifico se está devidamente carregado e levanto. Sem prestar atenção em e nos outros eu ando até o banco onde tem agulhas com veneno e pego quatro, penso ser um pequeno numero, mas não dá pra levar tanta coisa assim então me conformo.
  Ao virar-me dou de cara com Kaya ajudando Vincent com seus equipamentos, ou é ao contrário, não sei, mas não posso negar que me assustou um pouco. Ele sorri e parece calmo, coloca um soco inglês sua mão esquerda e a beija. Mesmo longe posso ouvi-lo dizer: “Confia em mim?” então ela responde num tom calmo “Mais do que deveria” e lhe abraça. Ao seu ouvido, por fim ele lhe promete “Depois daqui eu te prometo uma história de amor, uma digna de você”. Sinto um frio na barriga e desvio o olhar e a atenção na esperança de não ouvir mais nada, como ficaram íntimos em tão pouco tempo? Meu coração volta a palpitar. e Monalisa conversam sobre alguma estratégia, ele parece ainda mais bonito quando está concentrado. Sentados num dos bancos estavam e Handcheen se atracando como loucos, como podem estando numa situação dessa? Pensando bem eles estão fazendo exatamente o que eu queria, mas não posso. Não os culpo.
  - , não tive tempo de falar com você. – Daleven me chama de volta à terra. Viro-me pra ele que está com uma das mãos contornadas na cintura de Kaya, que segura na dele também. Ele se desvincula e me abraça forte, eu retribuo com vontade, afinal sinto falta de conversar com ele. Tenho que aproveitar por enquanto estou aqui, não sei quão difícil é morrer para um mutante, espero que esteja nos mais difícil nível.
  - Parece que gastou seu tempo muito bem, então eu não ligo. – Sorri entusiasmada ao perceber que ele tinha voltado a abraçar a garota.
  - É, acho que nunca gastei tão bem o meu tempo. – Kaya pareceu envergonhada, tentando não deixar sua paixão tão obvia. – Preciso te pedir pra que tome cuidado dela. – Ele diz num tom amargo, e eu sinto o peso ainda maior recair sob meus ombros.
  - Vincent, não precisa me fazer sentir uma criança, eu não sou invisível nem nada, mas consegui chegar aqui sozinha, caso não se lembre. – Pelo menos ela é das minhas, não posso negar que possuo certa admiração por ela, temos muito em comum.
  - A suas ordens, dou cobertura a ela quando chegar a hora. – O acalmo. – Apesar de que ela consegue sim se cuidar.
  - Obrigada. – Ela me diz.
  - Você já sabe o que vai acontecer, certo? Nós seremos a cobertura de vocês duas. Uma vai pegar a garota e a outra destruir...
  - OUTRA VEZ!
  - O maldito código. – Daleven termina.
  - É, eu fiquei sabendo disso. Só preciso me preparar psicologicamente pra fazer. – Mãos, parem de suar!
  - Não acho que tenha muito tempo. – Callun diz.
  - Estou acostumada com a pressão. – Respondo um tanto seca. – E por favor, tente terminar o mais rápido possível, certo? Pode não parecer, mas eu estou um pouco apavorada. – Confesso, apesar de que apavorada não passa nem perto de conseguir descrever o medo e agonia que estou sentindo.
  - Pode deixar. – Como todos aqui parecem tão calmos?! Droga, nós podemos morrer!
  - Hora de ir galera! – Monalisa grita, suspira e pula, agora não há mais volta. Seguido dela Handcheen e se entreolham e vão, Vincent ajeita o cabelo da garota mais uma vez e a beija tão apaixonado que me faz sentir uma pontada de ciúmes, me cumprimenta e vai. Logo só restam Eu, Kaya e , sem tempo pra mais conversas. vem até a mim e Callun se afasta, nos dando um pouco de privacidade.
  - É agora. – Engulo em seco enquanto fito outra vez – que pode ser a última – os seus olhos azuis brilhantes que sempre, sempre me hipnotizaram.
  - É, não sei se consigo. – Digo nervosa, tremula, então sinto sua mão quente sob a minha.
  - Você é , prender uma qualquer por aí numa noite tediosa não é nada. – Me deixo ser seduzida pelo feitiço de suas mentirosas palavras.
  - Você é , já deveria ter pulado e não deveria estar me iludindo como está fazendo agora! – Reclamo e aponto a arma para ele, mas rápido como é apenas a afasta e me segura contra si, então ouço tiros.
  - , nós temos que i... – Sinto a angustia cortar minha garganta por dentro e me encher ainda mais de medo, mas seu calor faz tudo se dissolver, eu esqueço completamente do que se passa no resto do mundo quando sua boca encosta na minha e distribui eletricidade por todo o resto do meu corpo, me fazendo sentir ridiculamente viva e a postos pra me defender de qualquer perigo que me cercar. Aprofundo o beijo e o aperto tão forte que se fosse fisicamente possível poderíamos ter nos tornado um só. O melhor de beija-lo é que não estou apenas matando o desejo carnal que me entorpece ridiculamente, me faz sentir mais forte do que nunca e feliz, especial. Quando olho para ele sei que é assim que ele também se sente, sei que depois de um longo tempo eu não estou mais só, que tenho uma missão e que posso cumpri-la, mesmo que seja difícil. Me faz sentir sua, apesar de ser isso que eu sempre fui, sua.
  - Eu tenho que ir, sweetheart. Te vejo mais tarde, não tolero desculpas. – Então pula.
  - Ele é um cara e tanto! – Kaya diz, uma vez que está na porta eu vou ao seu encontro.
  - Vincent também, vamos acabar com isso de uma vez e aproveita-los! – Digo. – Pelo som dos tiros boa parte já foi aniquilada e eles devem estar tentando fugir, nós vamos pular no meio do lugar da troca... Tem certeza que estão no meio, não é?
  - Bem, noventa e oito por cento de certeza. – Reviro os olhos, seguro sua mão e respiro fundo espantando o medo da queda pra longe. Eles não tem como fugir, nós os cercamos e eles estão numa emboscada, é só pegar a garota e destruir o código. Só isso.
  - Ok! No três! – Seguro-a forte, o vento me faz ter que gritar as palavras, piora quando olho pra baixo da onde vejo apenas quatro pontinhos quase imóveis. – Um, dois e meio, PÃO! – Então caímos. Durante a queda ouço Kaya gritar pra mim:
  - Você disse “pão??!” – Ela pergunta incrédula.
  - É, eu fiz! – Caímos como frutas maduras moles sob o chão, eu não pude ser vista, mas Kaya tinha uma arma em sua cabeça. Quem apontava era um coroa de cabelos brancos e barba grande engravatado, não conseguir ver direito suas feições, apenas foquei em tira-la de lá em segurança. Não tive tempo de fazer nada, apenas o vi cair quase aos meus pés. Alguém atirou, no momento que percebi que foi Handcheen e que havia mais um cara ao lado do velho também percebi que o cara estava tentando pegar Kaya. Segurou em seu braço e lhe golpeou com precisão, senti a dor dela em mim e lembrei-me do que prometi a Vincent minutos atrás, puxei minha arma e apontei pra ele, mas no mesmo momento ela virou o jogo e o acertou forte com o soco inglês. “O CÓDIGO!!!” minha parte consciente lembrou do primordial.
  Desesperada rodei o lugar procurando o código em algum lugar do chão ou algo parecido, ouvi o grito fino de longe e quis chorar, o que estão fazendo com ela?! Olhei pra frente, Callun estava começando a ceder, o cara era do tamanho de uma porta, ela não aguentaria por muito tempo. Mais pra o lado, longe do corpo Handcheen lutava cruelmente com uma loira, mas uma vez me arrepiei, era ela a garota. Lutava com audácia e sede de viver, mas Andrey estava alimentado de ódio e sede de justiça, seja lá qual seja pra ele o significado dessa palavra. Jogou-a no chão e socou seu rosto, segui o chão por todos os lados, então achei uma maleta cinza, em cima dela estava um notebook com a cheia de códigos que tomavam a pagina mais rápido que qualquer coisa. Do lado havia um negocio pequeno enfiado no aparelho, é claro, o código. A distância era um pouco longa, corri o mais rápido que pude. Frente a maquina hesitei por um momento e pensei positivo. “Ok, tirarei esse negocio daqui e é só, estamos livres! Não foi tão difícil assim.”
  Grande droga, assim que tirei o código do computador ele não parou de preencher a tela. Gelei e olhei em volta, meu sangue provavelmente havia parado de circular corretamente. Finalmente Andrey a dois golpes de nocautear a perigosa mulher, mas em compensação Kaya estava perdendo feio. Peguei o computador e joguei-o com tudo no chão, o mais forte que pude, ele não quebrou. Tomei-o outra vez e joguei com mais força enquanto olhava a cena mais estranha da noite: Ao que me pareceu Joseph Caden tinha entrado na briga Kaya x Louco Russo e estava ajudando-a, mas não fazia sentido, não pra mim. Gritei comigo mesma, frustrada e joguei mais uma vez o notebook ao chão, que dessa vez quebrou-se sem volta. Suspirei aliviada, encontrei o maldito pen drive e pisei com toda força do meu corpo, este se quebrou facilmente para minha imprescindível felicidade.
  Me revitalizei totalmente, os sentimentos me encheram de dentro pra fora e não pude deixar de sorrir. Qualquer que fosse o problema que fossemos ter agora, poderíamos resolver. Poderia ter uma história decente, conhecer o amor ao lado de alguém que gostava de mim e pela primeira vez passaria a estar fora do perigo, era apenas o que precisava: De meus amigos, , segurança e um pouco de tempo para aproveitar cada um deles, de todas as formas.
  Mas tudo me foi tirado quando voltei novamente dos meus estúpidos e ridículos devaneios e vi Kaya sendo arrastada por Caden sem nenhuma delicadeza, provavelmente quase desmaiada pra dentro de um helicóptero, e o pior, ninguém estava indo salva-la. Claro, essa era a minha tarefa. Corri em disparada para dentro do helicóptero sem pensar duas vezes, ao que me parecia só havia eles dois lá dentro, seria fácil de deter. Foi incrível como aquele momento passou tão lentamente, como ouvi tiros, mas continuei correndo sem olhar pra os lados, como se minha vida inteira estivesse resumida aquele momento.
  Subi as escadas e entrei no lugar de forma visível, Callun tinha que ver que eu estava ali cumprindo o prometido. Mas é claro que os O’wens iriam querê-la, seria fácil conseguir o código com alguém como ela a “disposição”. A primeira vista vi que ela estava detida por uma chave de braço dada por Joseph, aquilo era realmente difícil de entender, afinal de que lado ele estava? Kaya estava cheia de sangue e chorava, tinha visível dificuldade pra respirar, mas mesmo assim quando me viu fez esforço pra demonstrar desespero e me avisar fazendo sinais negativos com a cabeça, mas eu não entendi.
  Segundos depois tudo ficou claro como agua, uma emboscada, a mais baixa de todas.
  Por detrás das minhas costas senti o ódio cruel passear por cada uma das minhas veias quando por ultimo, antes da dor crucial, ouvi uma voz extremamente dura, sarcástica e feminina vitoriosamente dizer:
  - Finalmente você, .

FIM DA PARTE UM


Comentários da autora


Nota da autora: Meninas espero que gostem da história, quero deixar claro que o trabalho da Kaine é incrível, essa história é maravilhosa e eu amo ela de paixão, espero que vocês consigam ama-la tanto quanto eu. As atualizações serão enviadas todas as semanas. Entrem no grupo.
//Manú

Nota da beta (NÃO sou a autora!): Comente! Não demora e deixa a autora feliz e inspirada. Qualquer erro, me avise no betagemdaluh@gmail.com ou em um dos meus contatos no meu tumblr de betagem!