The Mess I Made

Escrito por L. Andrade | Revisado por Mariana

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  - Está escuro aqui. – ela reclama enquanto eu a apoio na parede e lhe dou um beijo.
  - Assim é melhor. – garanto após separar nossos lábios e encostar a minha testa à dela.
  - Não consigo nem te ver. – ela alega enquanto tateia meu rosto para ter certeza da minha posição.
  - Ninguém pode.
  Então eu sorrio. Pois somente assim eu me sinto seguro. Longe das expressões enojadas nos rostos das pessoas, dos dedos apontados, das críticas e zombarias.
  Longe do suicídio social.
  Ainda que signifique que sou um verdadeiro canalha por pensar e fazer isso, eu não consigo evitar. Minha reputação é digna demais para ser destruída apenas por eu estar me envolvendo com o alvo de piadas da escola.
   al-Maliki.
  Na realidade, tudo começou com uma aposta. O mesmo clichê de sempre: o cara popular tem que pegar a aluna estranha e partir o coração dela. Mas eu me recusei a fazer parte disto. Acho estúpido e infantil. Porém, ironicamente, me apaixonei por ela. O que foi um problema de verdade. Pois apesar de eu achar uma babaquice esse lance todo de discriminação contra estrangeiros, optei por esconder meus sentimentos com medo de entrar na mira de escárnios.
  “Tome cuidado. Ela veio do Iraque.”
  Decididamente não é algo muito legal de ouvir. E algo que, muito provavelmente, também não é legal é a pessoa falar que você é uma terrorista suicida que explodirá o próprio corpo.
  O pior é que todos estão completamente errados em um monte de julgamentos, mas mesmo assim insistem em continuar a falar sobre o que não sabem, ao invés de perguntar numa boa qual é a verdade.
  Em primeiro lugar: ela não veio do Iraque. É americana. Para saber isto bastava perceber o primeiro nome dela. O que significa que a discriminação pelo fato de ela ser “estrangeira” não existe. Ela é uma de nós.
  Em segundo: a garota tem dinheiro. Não é uma bolsista morta de fome como todos dizem. O endereço dela é Scarsdale, Nova York.
  Terceiro: ela é bonita. O que contradiz todos os insultos que as garotas esnobes fazem a ela.
  Entretanto, apesar do material inesgotável que prova sem falta de dúvidas que todos estão errados, eu me mantenho negando qualquer tipo de contato com . Sem que ela saiba, óbvio.
  Deste modo, a situação que estou presenciando no refeitório se torna insustentável.
  - Ai, você tirou uma nota vermelha! Por favor, não nos mate porque está desgostosa com a sua vida miserável. – Katherine Smith graceja de após arrancar o boletim escolar de suas mãos.
  O ambiente explode em risadas e eu acompanho, pois estou na companhia dos meus amigos.
  - Nossa! Você definitivamente não sabe nada sobre homem-bomba. Que tal se informar antes da sua próxima piada sem graça? – ela revida altiva e o sorriso sarcástico apossasse de seu rosto atraente.
  Me seguro para não rir dessa vez, pois Katherine faz parte do meu grupo de amigos e você não está habilitado para escarnecer quando seu suposto amigo leva um fora.
  - Se você não se explodir até lá, talvez eu tenha a oportunidade.
   revira os olhos, está cansada desse diálogo estúpido.
  - Seus pais serão recompensados pelo seu ato suicida? Ouvi dizer que as famílias são remuneradas. Está precisando do dinheiro, não é mesmo? Sua família deve ter orgulho da filha que tem. Vai se tornar uma mártir por estar sacrificando sua vidinha insignificante para eles ganharem uns trocados. Só lhe peço que quando o momento do atentado chegar eu seja notificada, pois desejo me manter longe do círculo de terror e simultaneamente da destruição multiplicada.
  Katherine é tão educada que nem parece que está expelindo veneno de seus poros.
  E eu estou estático. Pasmado. E infelizmente é nesse momento que o pior acontece.
   al-Maliki me nota.
  - Você não vai dizer nada? – eu sei que a pergunta de é dirigida a mim, mas, apesar do seu olhar incisivo em minha direção, os espectadores não percebem e ficam confusos.
  Mantenho-me calado, encarando-a intensamente para que ela perceba que não deve falar comigo em público. Ela ignora meu aviso discreto, apesar de tudo.
  - Se é para amar, me ame de verdade. Faça algo, . – ela implora e meu estômago se revira.
  As pessoas, enfim, percebem que eu sou o alvo de suas palavras. vem em minha direção, acompanhada por Katherine logo atrás.
  - Sério que você pegou a garota com tendências suicidas? – Katherine ri incrédula.
  Todos estão me olhando esperando uma resposta.
  - Sim. – e então os olhares mudam drasticamente para expressões enojadas, meu maior medo. E eu sou fraco, pois no instante seguinte estão me retratando. – Quero dizer, você sabe, a garota é meio maluca. Quis realizar o último desejo dela antes de bater as botas, ou explodir as bombas, o que vier primeiro. Talvez eu vá para o céu por isso. Eles mencionam que boas ações te levam a ele, não é mesmo?
  E, então, quem está incrédula agora é enquanto os outros gargalham. Meus lábios fazem a mímica de um “me desculpe”, mas isso a deixa com ainda mais raiva.
  - Parabéns, você fez tudo certo. Realmente um garotinho muito esperto. Iludiu-me tão bem que eu cheguei a acreditar que você era diferente dos outros. Que não julgava ninguém pelo que parece ser, mas pelo que de fato é. Mas tudo bem. Obrigada de qualquer forma. Na vida colecionamos decepções e você só é mais uma delas. – sua voz estava fria e eu sabia naquele momento que não haveria um final feliz para nós dois.
  - Tadinha. – Katherine surge com uma voz convincentemente penosa – Está sofrendo uma desilusão amorosa. Prepare-se, querida. Ainda estão por virem muitas.
  - Ah, não chega a ser uma desilusão amorosa, não mesmo. – digo para ela. Viro-me para e completo – Por que não é possível que depois de eu ter te beijado umas vezes você tenha considerado isso como se a gente tivesse casado ou sei lá.
  E, então, inesperadamente ela me lança uma tapa no rosto.
  - Vá para o inferno.
  Foi a última vez que eu vi .
  E agora, com uma maldita música tocando no rádio, eu me lembro de todos os meus erros, de tudo aquilo que sou culpado.

Deveria ter te beijado lá
Eu deveria tear segurado seu rosto
Eu deveria ter visto aqueles olhos
Em vez de correr para outro lugar
Eu deveria ter te ligado
Eu deveria ter dito o seu nome
Eu deveria ter me virado
Eu deveria ter olhado de novo

  E se eu tivesse feito isso? Tudo estaria diferente agora? Minha cabeça dói quando eu penso no “e se”, naquilo que poderia ter sido uma história de amor incrível.

Mas oh, eu estou olhando para a bagunça que fiz
Eu estou olhando para a bagunça que fiz
Eu estou olhando para a bagunça que fiz
Assim você vira, você pega seu coração e vai embora

  E eu estou cansado. Pois minha razão escolheu meus supostos amigos, permanecer com a honra intacta, sem manchas ou marcas. Entretanto, meu coração infeliz e miserável escolheu a ela. E agora tenho que conviver com isso.

Deveria ter segurado meu chão
Eu poderia ter sido resgatado
Por toda a segunda chance
Que mudou de idéia sobre mim
Eu deveria ter falado
Eu deveria ter orgulhosamente reinvidicado
Que minha cabeça está culpada
Por todos erros do meu coração

  Eu poderia ir até a casa dela. Mas das últimas 17 vezes ela bateu a porta na minha cara. Disse para eu seguir em frente, pois ela já havia feito isto. Não parecia triste, na verdade, sua recuperação se deu muito rápido. E me perguntei se seu coração realmente foi partido. Pois, apesar de toda chacota que ela sofreu, eu era o moribundo com o coração pulverizado, a maior vítima dessa separação.

Mas oh, eu estou olhando para a bagunça que fiz
Eu estou olhando para a bagunça que fiz
Eu estou olhando para a bagunça que fiz
Assim você vira, pega seu coração e vai embora

  “A minha consciência tem milhares de vozes. E cada voz traz-me milhares de histórias. E de cada história sou o vilão condenado.” – William Shakespeare.

FIM



Comentários da autora


N/a: Bom, não me orgulho de ter escrito o clichê de sempre, apesar de ter me atido a outras vertentes. No entanto, espero que tenham gostado.
Xx L.A.