The Last Night

Escrito por Gabriela Barreto (Gaby) | Revisado por Pepper

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   "Tik Tok"
  Levantei da cama já arrumada, não coloquei pijamas não iria me dar ao trabalho só precisei calçar um chinelo.
  O único barulho que eu era capaz de ouvir ecoando por toda casa. Todos dormiam, todos menos eu.
  O relógio que se encontrava no corredor marcava quinze para a meia noite, era agora. Conferi se a porta do quarto do meus pais estava trancada, é hoje a sorte estava do meu lado.
  Desci até o hall de entrada fazendo o minimo de barulho possível, pequei a minha chave e finalmente sai de casa tomando o máximo de cuidado ao fechar a porta.
  Aquela sensação de liberdade me invadiu como sempre acontecia aos sábados quando eu praticava essa "fuga".
  - Oi.- Era ele, eu sabia pelo tom de sua voz, pelo modo que me arrepiei ao sentir seu hálito quente em minha nuca. Instantaneamente me virei e lhe beijei passando meus braços sobre seus ombros.
  - Oi.- Murmurei colando minha testa na sua assim que o beijo se encerou.
  - Que bom que veio, fiquei com medo de que você não conseguisse sair.
  - Também fiquei. Na verdade achei bem estranho você querer praticar essa insanidade de encontro à meia noite em pleno domingo, sempre fazemos isso aos sábados ou nos encontramos ontem e outra amanhã temos aula. - Ele parou de andar e fez uma careta enquanto eu continuei descendo a rua em direção a "nossa" árvore.
  - Onde você vai ?
  - Ué? No lugar de sempre.
  - Não. Vou te levar em um lugar diferente. - Ele disse me segurando pelo cotovelo e me fazendo virar em uma rua a direita.
  - Hoje é alguma data especial nossa que eu esqueci? E olha que sou ótima com datas não consigo me recordar de nenhuma no momento mas sempre temos a primeira vez não é? - Dessa vez quem parou de andar fui eu. balançou a cabeça negativamente e depois soltou um riso abafado.
  - Não é nenhuma data especial agora venha.
  Voltei a caminhar passamos o resto do caminho sem falar mais nada, aquele silêncio todo estava incomodo mas resolvi continuar assim.
  - Feche os olhos. - Ele disse se virando para mim e me segurando fazendo com que ficasse parada.
  - Mas... - Não deu nem tempo de pergunta o motivo daquilo, logo fui interrompida.
  - Sem perguntas .
  - Você tá grosso hoje. Não vou fechar os olhos só de birra. - Cruzei os braços abaixo do peito e bati o pé direito.
  - Tá birrenta hoje ein? E eu não estou grosso. - foi atrás de mim, colocou suas mãos sobre meus olhos e soltou um riso abafado que com certeza foi seguido de uma balanço de cabeça negativo.
  Ele foi me guiando, viramos a direita e depois a esquerda. Tropecei duas vezes ao longo do caminho.
  - Chegamos. - Finalmente ele retirou as mãos de meu rosto. A primeira coisa que eu pretendia fazer era agachar e massagear meu pé esquerdo que estava dolorido por conta dos tropeços e logo em seguida reclamar por conta disso. Mas nem deu tempo meus olhos foram direto para uma roda- gigante.
  - Por que estamos aqui? Esse não é aquele parque de diversão que vem aqui na cidade uma vez por ano? - Perguntei o olhando confusa e depois coçando a cabeça, uma mania que adquiri ao longo do tempo.
  - Porque faz parte do que planejei para hoje, e sim é esse parque mesmo. Agora venha.
  Ele abriu os portões do parque e entrou eu o segui como ele mesmo havia pedido.
  - Você sabe né? - Perguntei quando percebi o rumo que tomava.
  - Sei o que? - Dessa vez quem perguntou foi ele sem nem para de andar.
  - Que eu tenho medo de altura e se você pretende ir na roda-gigante já vou deixar bem claro que eu me recuso. - Ele se virou lentamente para mim.
  - Se recusa? - Ele levantou as sobrancelhas lentamente o que me causou um arrepio, torci para que ele não tenha notado.
  - Me recuso! - Bati o pé direito e cruzei os braços na minha famosa pose de "birra".
  Ele caminhou em passou rápido até mim e antes que eu pudesse me "proteger" ele se abaixou, pegou minhas pernas e jogou o resto de meu corpo sobre seus ombros.
  - , me coloca no chão AGORA! Você não pode me obrigar a ir onde não quero. - Bati minhas mãos em suas costa e balancei meu pés.
  - Não posso? - Odeio quando ele faz esse tipo pergunta, me desafiado e odeio mais ainda o fato de ter me arrepiado novamente só de imaginar ele arqueando a sobrancelha esquerda.
  - Não pode! Me coloca no chão, . Agora! - Bati minhas mão mais fortes em suas costas.
  - Pronto estressadinha. - Finalmente com os pés em terra firme. Mas quando fui olhar onde ele tinha me colocado, não fiquei surpresa ao constatar que dentro da "cabine" ou "carrinho" seja lá o que for isso da roda-gigante e logo em seguida ele me deu um leve empurrão me fazendo sentar no assento do brinquedo para que ele pudesse entrar e sentar também.
  - Será que agora você pode me explicar o motivo de estarmos aqui? E não adianta falar que faz parte do seu planejamento para hoje.
  - Posso, mas antes toma. - Ele disse retirando seu casaco e o estendendo para mim.
  - Por que isso? - Perguntei apontando para o casaco.
  - Você está com frio, não está? Se arrepiou uma vez, não, foram duas. - Ele disse rindo e um sorriso sacana brotou nos seus lábios. É ele havia percebido. Vergonha total era o que eu estava sentindo.
  - É, acho que você está com calor.
  - Ah? Por que acha isso? - Perguntei confusa.
  - Está com o rosto vermelho, acho que você vai começar a soar. - É, se eu estava vermelha antes, agora então devia estar um pimentão.
  - para de enrolar me conta logo porque estamos aqui.
  - Bom, tempos atrás você disse que quando tivesse um namorado queria que vocês dois fossem em uma roda-gigante e que ele te beijasse quando chegassem lá em cima, você também disse que queria tirar fotos com ele naquelas maáquinas igual dos filmes e por último ir naquele brinquedo chato do... como é mesmo o nome? Ah é túnel do amor. E é por isso que estamos aqui, vou realizar esses seus "três desejos". Feliz? Estragou a surpresa.
  - Primeiro, como você lembra disso? Segundo, você é definitivamente o melhor namorado do mundo mas só tem um probleminha, eu tenho medo de altura então vamos pular a primeira parte ok?
  - Aah... Não. O único "probleminha" foi seu, se tinha medo de altura não tinha motivo para ter me dado uma baita de um indireta quando eramos amigo sobre os seus desejos para quando tivesse um namorado, e agora você tem então fique quietinha ai e aproveite. - Ele disse enquanto esticava os braços para ligar o brinquedo.
  - Seu grosso! Não foi uma indireta para você, só estava te contando e desliga isso eu tenho medo. MEDO de altura ok? Muito medo. - Disse fechando os olhos e me envolvendo com meus próprios braços.
  - Calma pequena eu te protejo até o fim já que agora não tem mais como desligar.
  Senti seus braços me envolverem em um abraço de lado.
  - Já que estamos aqui, será que você poderia abrir os olhos? Só agora.
  Fiz o que ele pediu, fui abrindo os olhos lentamente e a cada segundo me agarrava mais a ele. Tínhamos chegado no topo e a vista era incrivelmente linda, não pude aprecia-la por muito tempo pois logo fui envolvida por um beijo e também a roda continuava a girar, foi uma sensação diferente várias emoções misturadas e um "baita" frio na barriga que eu não sabia se era pelo beijo ou pelo medo daquela "cadeirinha" ou "cabine" que ficava balançando ou por causa dos dois juntos.
  - Acho que já podemos riscar o primeiro item da lista. - Eu disse dando uma risada assim que encerramos o beijo.
  - É podemos. E assim seguiremos para o segundo, qual é mesmo.
  - Tirar fotos naquela maquina igual dos filmes. - Eu disse rindo e tentando imitar o modo a qual ele havia se referido ao meu segundo "desejo", "pedido" ou seja lá o que for isso.
  - É esse mesmo. Então vamos temos que encontra-la nesse parque.
  - E se não tiver? - Perguntei um pouco apreensiva, afinal já tínhamos começado com isso eu queria pelo menos terminar. Já passei pela "pior parte".
  - Tem sim, eu já vi ela por aqui mas não lembro onde.
  Ficamos uns bons dez minutos andando por aquele parque, e olha que ele não era grande e não tinha ninguém ou seja não tinha um motivo para demorar tanto a encontrar aquela maquininha.
  - Achei.
  - Onde? - Perguntei animada.
  - Ali. - Ele apontou para o local onde ela se encontrava e eu segui a direção com os meus olhos. A infeliz estava bem escondidinha, passamos por ela três vezes e nem a vimos. Ela estava do lado daquelas casas mal assombradas, um arrepio percorreu minha espinha só de lembrar do que já passei naquela maldita casinha. Foi ali que conheci , eu devia ter uns dez ou onze anos e fui naquele brinquedo por causa de uma aposta feita com uma amiga lá dentro levei um susto bem bobinho na minha opinião mas quem o provocou foi .
  Acho que por ironia do destino aquela maquina se encontrava exatamente onde nós tivemos a nossa primeira conversa ou melhor a vez em que saimos do brinquedo onde eu saí chorando, assustada e irritada e descontei tudo isso no gritando com ele por ter me assustado. Dei o troco pois ele ficou assustado com essa minha reação e pediu desculpas depois que eu as aceitei ele começou a rir de mim e desde então nós grudamos igual chiclete. Não que eu reclame disso.
  - Irônico. - Eu murmurei para mim mesma.
  - Pois é. Também estava pensando naquele dia?
  - Se for o de sete ou seis ou oito anos atrás estava sim. Não sei ao certo a quanto tempo nos conhecemos.
  - Nossa e depois dizem que garotas sabem guardar bem as datas.
  - Primeiro, eu sou diferente das outras garotas. Segundo eu sei guardar bem as datas mas é que naquele dia eu não sabia que você se tornaria alguém tão importante para mim por isso não me dei ao trabalho que arquivá-la na minha mente com pouca memória.
  - Acho que é pelo fato de você ser diferente que eu me apaixonei. - Fiquei vermelha tenho certeza.
  - Acho que é pelo fato de você sempre me deixar sem graça que a minha vontade de te matar é constante.
  - Nossa eu to sendo todo romântico e você é toda psicopata.
  - Sou diferente lembra? E eu sou péssima com isso, sabe? Palavras não são bem o meu forte acabo ficando sem saber o que dizer nessas horas e acabo dizendo o que não é para dizer. Me entende? Me embolo toda.
  - E esse é um dos outros motivos para eu ser apaixonado por você . E não precisa dizer nada você vai se embolar toda. - Ri com isso. E acho que é por isso que sou apaixonada por ele.
  Finalmente na máquina de fotos. Ela tirava apenas quatro fotos. Na primeira foto nós mostramos a língua, na segunda ele me deu um beijinho no rosto a terceira foi sem criatividade apenas sorrimos e na última foi a que todo casal tira, um selinho e provavelmente minhas bochechas saíram coradas.
  - Agora é o túnel do amor. - Eu disse toda empolgada aposto que meus olhos até brilhavam.
  - Sim, agora é o túnel do amor. O que você meninas veem de tão especial nele?
  - Ah nem eu sei. Mas é tão cena de filme que acho que todas queremos ter um momentinho como esse. - Tentei dar um sorrisinho meigo no final.
  Fomos no túnel do amor e posso ser sincera? Gostei muito mais da roda-gigante. Era um túnel escuro que só serve para ficar dando beijinhos, não que eu esteja reclamando disso mas eu esperava mais algo parecido com os do filme ou com lindos coelhinhos de chocolate para eu comer durante a trajetória não que coelhinhos de chocolate tenham algo a ver com túnel do amor mas mesmo assim espera algo desse gênero.
  - São duas da manhã, como tempo passou rápido. - Eu disse chocada enquanto olhava no visor do meu celular.
  - Realmente passou muito rápido. eu sei que você tem aula amanhã mas antes eu quero conversar, quero te contar o motivo por ter feito tudo isso.
  - Verdade eu já ia me esquecendo! Me conte logo estou curiosa.
  - Você sempre me disse para seguir meu sonho não disse?
  - Virar cantor? Claro! Sempre te disse e vou continuar dizendo e te apoiando no que precisar. - Dei um sorrisinho no final desta frase.
  - Então, amanhã eu vou embora.
  - O que? Como assim? Do nada você vai embora.
  - , é uma forma de seguir esse meu sonho. Pensei que você teria alguma outra reação.
  - , posso estar parecendo egoísta mas você me liga hoje pede para nos encontrarmos faz com que eu tenha a noite mais divertida da minha vida faz com que eu fiquei mais e mais apaixonada por você para no final dizer que você vai embora? Não que eu não esteja feliz por você muito pelo contrário é que eu tenho medo de te perder.
  - Essa noite foi como uma despedida. Eu queria realizar os seus três desejos para que eu pudesse ir realizar o meu. Pequena, eu não quero te deixar mas eu pensei muito antes de tomar essa decisão e agora não posso mais voltar atrás. - Ele me abraçou e eu correspondi o mais forte que pude, deixei até algumas lágrimas rolarem pelo meu rosto e caírem em suas blusas.
  - Eu entendo. E eu te apoio como sempre apoiei, só que você tem que me prometer que sempre vai se lembrar de mim! E que eu sou sua fã numero um sempre e sempre, e eu queria te pedir para você não ficar com uma vadiazinha qualquer por ai. - Fiz uma careta ao dizer isso. - Mas não posso te pedir para não curtir sua vida então apenas me promete que quando você virar famoso e me encontrar na rua não vai me tratar como uma qualquer não viu? Quero tratamento VIP. - Por mas que eu estivesse chorando e quisesse chorar muito mais resolvi guardar isso para o meu travesseiro e tentaria tornar os meus últimos minutos com divertidos.
  - Eu prometo tudo que você quiser que eu prometa. - Ele disse rindo e bagunçando meu cabelo de um modo que eu certamente odiava.
  Caminhamos abraçados até a minha casa, olhei o horário no visor do meu celular, faltava quinze para as três eu teria apenas uma três horas de sono antes de ter que levantar para me arrumar e ir para o colégio, isso se eu consegui dormir.
  - É acho que a noite acabou. - Eu disse fazendo um biquinho e segurando as lágrimas ao máximo.
  - A noite pode ter acabado mas a partir de agora podemos nos considerar em uma nova fase.
  - Você famoso e eu sem você! Fase legal ein? - Ele arqueou as sobrancelhas. - Me desculpa, fica difícil apoiar os outros quando eu não quero que algo aconteça. Não que eu não queira que você vá atrás do seu futuro nem nada. Eu to parecendo egoísta, mas é complicado para mim.
  - Eu te entendo . Mas fique sabendo você sempre vai ser a , a primeira garota que eu amei aquela que sempre me deu forças e me ajudou a superar vários obstáculos você sempre vai A primeira.
  E então nós nos beijamos. Não foi um termino de namoro normal, não foi um relacionamento normal, não foi um fim de noite normal e nem foi um encontro à meia noite de sábado.
  Nessa noite quando eu saí de casa me considerava com sorte, no fim dela eu já nem sabia mais o que pensar, mas hoje eu agradeço por tudo isso e por ter tido a oportunidade de ter ele ao meu lado de ter conhecido antes de sua fama, ter conhecido como ele é por dentro.



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