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#006 Temporada

Top Good att Goodbyes
Sam Smith




The Last Goodbye

Escrita por Raissa | Revisada por Lelen

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Capitúlo 1- That november cold morning

  Sempre odiei toda aquela bagunça do metrô. Gente demais, pensamentos demais, barulho demais. Tudo em excesso.
  Naquela manhã de segunda não era diferente. Eu estava aéreo, como sempre, e Pedro não parava de falar que ele tinha composto uma música que nós tínhamos que tocar, e sobre o quão a melodia estava incrível. E eu apenas torcia para que chegássemos logo ao colégio para que aquela manhã acabasse logo; eu simplesmente não funciono durante as manhãs.
  - Cara, a música tá foda, até a Talita que sempre acha minhas letras péssimas, amou. Preciso te mostrar amanhã no ensaio.
  - Eu entendi Pedro, mas antes confirma com a sua irmã se ela realmente vai amanhã ensaiar, não tô a fim de ficar esperando, enquanto ela está no shopping.
  - Falando na Senhorita do Drama, - Pedro me olhou sério - ela saiu mais cedo pra buscar a Joanna no aeroporto. Quarta ela vai voltar a andar com a gente de metrô.
  O mundo ao meu redor pareceu parar quando eu ouvi aquele nome, apenas concordei com a cabeça, meio atordoado.
  Joanna. Minha garota, pelo menos era.
  Eu e Joanna éramos melhores amigos, sempre fomos e um dia nós sentimos algo e começamos a namorar. Na minha opinião nós éramos uma ótima combinação, tanto como amigos como um casal, e todos nos achavam lindos também. Até que um dia ela simplesmente disse que não estava mais funcionando, era nossa última semana de aula do 2º ano. Eu lembro de cada detalhe daquele dia.

***

  5 meses antes – Última semana de novembro
  Estava ventando quando saíamos do colégio, ela parou na minha frente. Joanna usava uma camiseta mostarda, calça jeans e all stars pretos, seus lábios e bochechas estavam rosados e seus cabelos ruivos estavam perfeitamente bagunçados, ela estava linda. Então ela disse com um tom de culpa:
  - Quero terminar
  Meu coração se estilhaçou.

***

  O trato era continuarmos amigos, como antes, mas ela começou a se afastar depois do término, ela disse pra mim que se sentia estranha e que não conseguia me ver mais como amigo, mas ela significava tudo pra mim, e sempre que eu tentava me abrir e falar sobre isso, eu não conseguia, doía demais.
  Um mês depois ela desapareceu, foi ficar um tempo com os parentes dela na Irlanda, e me deixou aqui, na lama.
  Finalmente havíamos chego no colégio.
  Eu e Pedro entramos e fizemos nosso ritual diário. Sentamos num banco e observamos tudo e todos ao nosso redor. Todos os grupinhos e suas conversas. Depois de alguns minutos voltamos a conversar normalmente. Mas eu estava aéreo só pensava em o que eu faria quando eu encontrasse Joanna amanhã.
  Minha cabeça estava a mil e eu precisava colocar isso no papel.
  Pedro percebendo que eu parei de prestar atenção no que ele dizia, perguntou:
  - Léo? Tá tudo bem?
  - Preciso de um papel e uma caneta, Pedro. Rápido.
  Ele jogou tudo o que tinha dentro da bolsa no chão, pegou o seu caderno e me deu uma bic preta.
  As palavras iam surgindo e eu as colocava no papel em forma de um garrancho. Enquanto eu escrevia Talita chegou, e estranhou a cena.
  Todo o material de Pedro espalhado pelo chão, alguns papeis de bala e chiclete também, eu estava do lado de toda a bagunça e ele quase caindo em cima de mim vendo o que eu escrevia.
  - O que tá acontecendo? - Ela perguntou
  - Léo voltou a compor depois de meses, Talita, meses! – Ele pulou em cima da irmã
  - Cala a boca, eu já tô acabando. – Eu disse meio irritado enquanto Pedro pulava e sua irmã continuava atônita. – Pronto
  Entreguei para eles lerem, e peguei um chiclete no meio das coisas do chão.
  - Está ótima, puta merda, nós finalmente temos 6 músicas boas.- Talita disse saindo do transe.
  - Nós podemos gravar um EP! – disse seu irmão.
  - Vou falar com o cara do estúdio.

***

  Por umas boas horas eu esqueci toda a situação de Joanna. Deitei na cama à noite e coloquei na cabeça: ela voltou, mas ela não vai mais me atingir. Ela não pode ser mais importante pra mim. Acabou.

Capítulo 2 – Her eyes

  “Rebel, Rebel” do David Bowie explodia nos meus ouvidos, estávamos no metrô com ela. Pedro e Talita estavam desconfortáveis, e eu com meus fones e cara de poucos amigos, olhando para os meus All Star. Joanna estava mais afastada, olhando pra baixo com cara de quem não sabia o que estava fazendo aqui.
  De repente eu sinto que estou sendo observado, quando levanto a cabeça, ela me olhava. A encarei, pensei em desviar o olhar, mas não, eu era forte, eu podia a olhar normalmente, eu tenho maturidade o suficiente para isso.
  Ela me lançou um sorriso de canto de boca, tentando quebrar o clima. Ela deve pensar que eu sou tonto, ela quer conversar, estava nítido. Não, para isso eu não iria ceder, permaneci sério. Ela me olhou meio deslocada, e desviou o olhar.
  Talita e Pedro que observavam atentamente a tudo, me olharam atônitos.
  Eles estavam pensando que eu não tenho coração. Mas eu estou apenas me protegendo. Protegendo a minha inocência, a minha alma, a minha sanidade.
  Doeu ter sido frio. Doeu não poder toca-la, não poder mexer em seus cabelos e passar o dedo sobre as suas sardas como se elas fossem estrelas formando constelações como fazíamos quando crianças. Mas isso me lembrava, cada vez que ela saiu, cada vez que ela foi embora.
  Realmente não doía como antes.
  Dói lembrar que eu fazia isso. Dói lembrar do sentimento bom, das memórias, do que passamos juntos, pensar que foi desperdiçado.
  Mas não dói não a ter, não dói.
  E a cada vez que ela ia embora, menos eu a amava.
  Eu precisava deixar isso para trás, não importa o quão importante ela foi, ou é. Quando terminamos, e ela foi embora, eu chorei, chorei como nunca chorei na minha vida. Toda vez que ela ia embora, quando éramos amigos, eu ainda tinha lágrimas. E pela última vez ela foi embora pra Irlanda, eu já havia acostumado.
  Ao pensar nisso, todo meu rancor, parecia estar desaparecendo.
  Eu não a amava, não mais, não assim.
  Era apenas apego.
  Era uma confusão que fizemos.
  Éramos melhores amigos, e sempre iriamos ser.
  A ficha finalmente caiu.
  Suspirei alto e todos me encararam, eu a olhei e cedi ao seu sorriso. Não, eu não quero voltar a ser seu amigo, mas também não quero ter uma relação ruim ou estranha com ela. Seríamos bons colegas. Apenas.

***

  Eu estava na casa de Pedro e Talita, afinando a guitarra, e lembrando da conversa que eu tive com a Joanna quando saímos do metrô. Ela entendeu, e também queria apenas uma relação boa, mas ela queria conversar melhor comigo depois.
  Os irmãos chegaram e ensaiamos nossas 6 músicas autorais, duas eram minhas, duas eram da Talita, uma era do Pedro e uma eu tinha composto com a Talita. Eram dois duetos, e as outras músicas Talita cantava sozinha, afinal, a garota era nossa vocalista e baixista, Pedro nosso baterista e eu era o guitarrista e cantava algumas vezes.
  Passamos o som da minha última composição, eu escrevi para que fosse um dueto com Talita, e o resultado foi incrível.
[coloquem essa versão de Rolling In The Deep, ah e vamos fingir que ele que compôs ;), mas imaginem algo mais rock <3]
  Pedro tinha recebido um retorno do cara do estúdio. Agendamos 8 horas em estúdio que não poderiam ser desperdiçadas. O preço foi um pouco salgado, mas valia a pena,  iríamos chegar, passar o som e gravar. Estava marcado para sexta, tínhamos mais um dia para ensaiar.

Capítulo 3 – She knows

  Nós estávamos ensaiando enlouquecidamente, naquela tarde de quinta-feira, assim como havíamos ensaiado no dia anterior. Queríamos que ficasse perfeito, e isso estava nos estressando, principalmente Talita. Quando íamos discutir de novo, eu gritei:
  - Chega! Tali, relaxa, não é como se esse fosse o álbum de estreia da nossa carreira. Senta um pouco, relaxa, eu vou buscar água pra você, e você vai escolher uma música para cantarmos. Qualquer música desde que não seja nossa.
  Ela concordou com a cabeça, sorriu de canto de boca e me deu um abraço, sorri e retribui o gesto. Talita era como uma irmã pra mim, e eu sabia exatamente como lidar com ela.
  Pedro correu e veio nos abraçar. Ficamos os três assim durante alguns segundos. Fui buscar água para Tali, e pegar umas frutas para nós.
  Quando voltei, os irmãos estavam rindo juntos, e isso me fez sorrir. Sentei ao lado deles.
  - Decidi a música, nós vamos cantar Sweet Child O’ Mine– Talita disse e sorriu travessa, ela sabia que eu amava aquela música.
  Pedro foi buscar o violão e o celular de Talita vibrou, ela pegou-o e virou-se para mim
  - Léo, você se importa se a Joanna vier assistir nosso ensaio.
  - Não, pode chama-la – Respondi sorrindo meio travado, era engraçado.
  Pedro sentou com o violão e começou a dedilhar a música.
[coloquem esse link para tocar]
  Enquanto eu e Tali cantávamos, Joanna chegou, observou a cena, sorriu e se sentou ao lado de Pedro, acenei para a garota, que tinha seus cabelos ruivos presos num rabo de cavalo, ela retribuiu o gesto.
  Quando a música acabou, voltamos a ensaiar. Joanna já estava acostumada, então ela se acomodou no sofá do porão, e nos observava atentamente.
  Passamos a música do Léo, as duas da Tali e uma minha. Quando cantamos a minha composição da escola, eu pude perceber Joanna rígida, mas em seguida ela sorriu. Ela entendeu, entendeu que a música era pra ela. Logo em seguida eu e Talita cantamos a nossa composição, que ela rapidamente também percebeu que era pra ela.
[coloquem esse link para tocar]
  Ela não parecia incomodada, ela estava com uma expressão indecifrável. Ela entendia meus sentimentos e não me julgava. Talvez ela já soubesse que eu sentia tudo isso.
  Quando acabamos parecíamos todos bem satisfeitos. Joanna nos parabenizou, e disse que iria dar uma passada no estúdio amanhã para nos desejar boa sorte.
  Ela abraçou meus amigos e acenou para mim, dando “tchau”, fiz o mesmo.
  Eu estou cada vez melhor em despedidas.

Capítulo 4 – The last goodbye, i swear

  Tínhamos chegado no estúdio, e faltava 40 minutos para entrarmos para gravar. Talita estava ansiosa, a garota parecia que ia cair dura a qualquer momento. Já Pedro estava super animado, querendo sair batucando por todos os lados com as baquetas que ele trouxe. Eu estava um misto de emoções, mas ao mesmo tempo estava bem tranquilo. Eu deslizava a tela pela timeline do Instagram, não dando muita atenção às coisas que eu via, enquanto tentava acalmar Talita.
  De repente recebo uma notificação. Uma mensagem de Joanna.
  Joanna: Podemos conversar?
  Eu sei que você já vai entrar para gravar, mas eu queria mesmo falar contigo
  Léo: Claro Jô, sem problemas, é até bom para eu me distrair
  Joanna: Estou aqui fora
  Eu me levantei, e Talita me olhou desesperada. Eu a abracei:
  - Eu já volto Tali, Joanna quer falar comigo.
  - Tudo bem Léo, qualquer coisa me chama. E por favor, volta logo.
  - Claro
  Afaguei seus cabelos cacheados, nos separamos e fui para o lado de fora.
  Joanna me esperava encostada na parede. Quando ela me viu, era virou e disse:
  - Antes de você falar qualquer coisa, eu preciso primeiro dizer tudo o que eu tenho para dizer. – Sorri e concordei com a cabeça – Bom, eu só quero terminar nossa conversa do outro dia, falar o que eu não consegui dizer, o que eu não consigo dizer há meses. Eu realmente amei você Léo, em cada parte do meu ser, eu te amei, mas eu apenas via a gente como as duas crianças de sempre, tocando as pintas e sardas uns dos outros. Brincando como sempre. Sendo amigos como sempre. Eu sei que você quer apenas uma boa relação, mas Léo, eu sinto falta da nossa amizade. Eu sinto sua falta.
  - Joanna, não temos chance como namorados, é triste, mas é verdade. Eu demorei para me acostumar com a ideia, mas sim, nós somos apenas as duas crianças de sempre. Acho que nós apenas confundimos sentimentos. Eu prometi a mim mesmo que eu não iria ceder, mas eu também sinto sua falta.
  - Amigos de novo então? – Ela disse meio incerta
  - Nunca deixamos de ser – respondi com um sorriso no rosto.