The girls are from Venus, and the guys are from Mars
Escrito por Tracie | Revisado por Jaqueline (Até capítulo 26) | Sevie H. E. (Até capítulo 27) | Francielle
Capítulo. 01 - The start of something new
Ela? . Baladeira. Corajosa. Não leva desaforo para casa. Não confia muito em homens desde que terminou com o último namorado.
Ele? . Romântico. Sedutor. Sempre consegue o que quer quando o quesito é mulheres. Ou quase sempre.
Dia? Sexta-feira. Noite. Aproximadamente nove horas. Ela saindo de casa para a balada. Ele, bêbado, saindo com uma garota qualquer, da qual não lembrava nem o nome.
* [n/a: quando aparecer nome do personagem + * é o ponto de vista do mesmo]
Estava andando em uma avenida movimentada, consultei meu relógio e eram quase nove horas da noite. Eu estava um pouco bêbado, mas não demais. Só... O suficiente. Não conseguia me lembrar do nome da garota da qual estava acompanhado. Acho que era Julia, Jullie ou alguma coisa do gênero.
- ? – a garota praticamente cantou meu nome, envolvendo seus braços ao redor do meu pescoço.
- Oi... – tentei parecer simpático. Ela não caiu.
- Ashley. Meu nome é Ashley. – ela disse, não parecendo muito feliz por eu ter esquecido seu nome. Mas na boa, ela esperava o que de mim? Eu estou bêbado!
- Isso. Ashley. Desculpe. – falei, beijando-a.
- Se você não beijasse tão bem eu já teria ido embora! – ela falou, dando um sorriso que julguei forçado.
- É mesmo? – falei, beijando-a novamente.
Só percebi que tínhamos chegado à boate (encontrei minha atual acompanhante em um bar, e ela me arrastou até ali) quando Jullie me avisou. Ou seria Ashley? Tanto faz. Amanhã eu não iria vê-la mesmo.
Entramos e tocava uma musica alta que me deixou um pouco tonto, pelo meu atual estado [n/a: música alta em uma boate? Não me diga]. Ashley (ou era Jullie?) me arrastou até a pista de dança, onde me agarrou algumas vezes, mas logo viu outro cara e me largou ali. Mas eu não a culpava, já havia perdido a conta de quantas vodkas a garota havia tomado.
Fui para o bar, pedi um copo de tequila e observei o local. Conseguia ver algumas pessoas se agarrando, outras dançando. Mas uma garota em especial me chamou a atenção. Ela estava sozinha. Era desumanamente linda. Alta, magra, seus longos cabelos castanhos balançavam de um lado para o outro junto com a garota, que dançava sensual e animadamente. Pensei em ir falar com ela, mas logo percebi um cara se aproximando. Então eu não fui o único a notar a bela garota dançando sozinha, é lógico. Fiquei observando qual seria a reação dela.
*
Acho que eu estava bastante bêbada, mais do que o normal. Não conseguia ver claramente as pessoas ao meu redor, só via alguns borrões. Mas isso não importava. Eu só queria me divertir. Continuei dançando animada, ao ritmo da minha música preferida.
- Oi. – ouvi uma voz rouca atrás de mim. Ah, estava bom demais para ser verdade.
- Oi. - Falei, sem me virar.
- Você está muito gata nesse vestido. – senti o homem se aproximar.
- Obrigada. – respondi seca, sem parar de dançar.
Senti duas mãos me agarrarem pela cintura. Logo me soltei, me virei e dei um tapa no tarado, que fez cara de indignação.
- Ai, sua vadia, quem você pensa que é? – ele esfregava as mãos no rosto.
- Alguém que não quer ficar com você. – disse, me virando de novo. Ou quase. As duas mãos do maluco seguraram meus braços, me chacoalhando de um lado para o outro.
- SOLTE-ME, SEU IDIOTA. – gritei, com o objetivo de chamar a atenção de alguém naquela boate. Não deu certo. Todos me ignoraram.
Fechei os olhos me preparando para bater nele. Foi quando percebi que meus braços estavam livres e eu estava sendo carregada para fora daquele lugar.
- O que está acontecendo? – perguntei, assustada.
- Vou tirar você daqui. – respondeu uma voz masculina.
- Mas e o maluco que estava tentando me agarrar? – disse, tentando ficar consciente.
- Dei um soco nele, que caiu no chão. Mas logo ele acorda, vou levar você pra casa. Não vou fazer nada contra você, relaxa. – ele se virou e sorriu pra mim. Foi quando eu percebi que ele era lindo. – Ah, a propósito, sou , mas pode me chamar de .
- . – sorri, ainda hipnotizada.
- Muito prazer. – ele ainda sorria.
Chegamos até um carro preto e abriu a porta do carona para mim. Entrei, mesmo que um pouco hesitante.
Ele ligou o carro e quando percebi já estávamos em movimento.
- Então, tem namorado? – tentou puxar assunto.
- Não. Você? – o encarei.
- Não. – ele sorriu. Mas que mania de sorrir que esse garoto tem! Se o sorriso dele não fosse tão absurdamente lindo eu até consideraria reclamar desse fato. Mas já que ele é um perfeito deus, deixe quieto.
- Então, quantos anos você tem? – falei, distraída.
- Tenho 24, e você?
- 21.
E o silêncio tomou conta do momento, novamente. Não puxei mais nenhum assunto, também não o fez. Virei minha cabeça para o lado e tornei a observar as árvores e casas que passavam rapidamente pela janela.
Capítulo. 02 - Don’t wake me up, baby
*
Eu estava bêbado, então precisava decidir entre dirigir ou conversar com ... Decidi dirigir.
puxou conversa uma vez, mas depois ficou em silêncio novamente. Eu dirigia sem rumo, e isso me lembrou de que eu não sabia o endereço da garota.
- Hum... ? – perguntei.
Não obtive resposta.
- ? – repeti, ainda sem tirar os olhos da estrada.
Novamente nenhuma resposta.
Estiquei meu braço e cutuquei seu ombro, mas a única resposta que consegui foi uma fraca reclamação. Ah, que ótimo. Ela dormiu, e agora?
Eu podia:
1) Acordá-la e perguntar o endereço.
2) Levá-la para um hotel.
3) Levá-la para minha casa e colocá-la para dormir no quarto de hóspedes.
Não sabia o que fazer, decidi tentar a primeira opção.
Missão 1: Acordar e lhe perguntar o endereço.
É necessário: Paciência, ela pode demorar a acordar.
Obs: Nunca é uma boa ideia acordar uma pessoa bêbada.
Chance de sucesso: 25%
Como eu já mencionei, havia bebido. Então tentar acordar uma pessoa e dirigir sem causar um acidente ao mesmo tempo é fora de cogitação para mim. Por isso parei no acostamento, mas não desliguei o carro, só parei.
Virei-me para e pensava em um jeito amigável de acordá-la. Não consegui pensar em nada, então apelei para o hábito tradicional: cutucar, chacoalhar e chamar ela.
Primeiro, cutuquei seu ombro. Nada. Depois tentei chacoalhá-la, chamando seu nome. Dessa vez ela respondeu:
- O que é? – falou grossa, sem abrir os olhos.
- Hum, , você esqueceu de me dar seu endereço. - tentei ser sutil.
Ela murmurou o nome de uma rua, que eu sabia onde era. Logo depois de me dar o endereço, se virou e dormiu novamente.
Status da missão: Completa!
Segui pela rua da casa de calmamente. Estacionei em frente à casa e vi que estava tudo escuro. Achei melhor ver se tinha alguém em casa, senão não teria como entrar. Eu não queria acordar a garota de novo. Tranquei o carro, com dentro, e segui até a porta. Toquei a campainha e esperei. Ouvi um xingamento no andar de cima e logo depois um cara apareceu. Usando somente cuecas, vale ressaltar.
- O que é?
- Você... Conhece a ?
- Em que merda essa idiota se meteu dessa vez? – ele respondeu, mal humorado.
Estranhei. Se ele a conhecesse, perguntaria onde ela estava ou diria que ela não se encontrava em casa, certo?
Certo?
- Quem é, amor? – apareceu uma mulher usando uma blusa masculina. Do cara, eu supus.
- É só um idiota perguntando se eu conheço a . – ele disse, ignorando o fato de que eu me encontrava em frente à porta.
- Aquela retardada da sua ex? Ué, mas por quê? Não fazia dois meses que vocês não se viam?
Virei-me e fui embora apressado. Entrei no meu carro e dei a partida.
Não acredito que me deu o endereço do ex-namorado que ela supostamente não via há meses. Ela estava mais bêbada do que eu pensava. Era melhor eu não acordá-la de novo.
Status da missão: fracassada.
Isso nos leva à segunda alternativa.
Capítulo. 03 - I just wanna run
Missão 2: Deixar em um hotel.
É necessário: Dinheiro e um bom álibi pra “abandonar” uma garota bêbada e dormindo lá.
Obs: Não é recomendável fazer isso quando você está bêbado.
Chance de sucesso: 40%
Procurei minha carteira para conferir quanto dinheiro eu tinha, para pagar o hotel. Eu saí de casa com bastante dinheiro, com certeza ainda tem. Ué, minha carteira não estava no bolso? Procurei no outro bolso, no carro, e nada. Onde estava minha carteira?
# Flashback – Algumas horas antes
Ashley me beijava loucamente, ignorando por completo as outras pessoas presentes no bar. Ela acariciava minhas costas e soltou um gemido baixo quando toquei seu seio esquerdo. Esse fato a fez descer sua mão até minha bunda, permanecendo ali por algum tempo.
# Fim do flashback
Aquela vaca! Roubou minha carteira! Não acredito. Ah, só pode ser piada. E agora? Fudeu.
Decidi que levaria a missão até o final e tentaria deixar no hotel. Não sei como faria para pagar a estadia da garota. Talvez se a recepcionista fosse gostosa, eu dormia com ela e ela liberava a diária pra mim. Modéstia a parte, eu não sou de se jogar fora, e ainda sou muito bom na cama. E eu não me refiro a dormir, se é que você me entende.
Parei no hotel mais próximo, estacionei o carro e fui para a recepção, deixando dormindo.
- Boa noite. – falou uma loira de olhos azuis. Ela era bem bonita, talvez meu plano desse certo.
- Boa noite. – respondi, sorrindo de um jeito sexy.
- Em que posso te ajudar? – ela apoiou os braços no balcão, ficando mais próxima a mim. Ri mentalmente. Essa estava no papo.
- Bom, eu estou com uma garota dormindo no meu carro. – ela suspirou quando ouviu isso. – Mas eu não a conheço. – a loira sorriu largamente. – Então queria deixá-la aqui no hotel para eu poder ir embora. – dei uma pausa, sorrindo sensualmente de novo. – Ou fazer algo mais interessante.
- Tudo bem, deixe-a aqui então. – ela retribuiu o sorriso.
- Só tem um problema. – eu suspirei, fingindo tristeza.
- Qual? – os olhos dela brilharam com a possibilidade de me ajudar. Segurei o riso.
- Eu fui assaltado. – fiz cara triste e encarei o chão.
- Ah, não tem problema. A noite da garota fica por minha conta. Aí a gente sai para fazer alguma coisa mais interessante. – ela riu.
- Mas seu chefe não vai te demitir por isso? – a encarei. Eu não queria meter a garota em problemas. Não muitos.
Ela gargalhou, se jogando para frente e sussurrando com a boca próxima da minha:
- Eu sou a minha chefe. Esse hotel é meu.
Sorri largamente. Essa foi fácil.
- Então tá, vou buscar a garota. – me virei e fui andando para o meu carro, que tinha ficado um pouco longe.
Segui até o carro calmamente e, quando cheguei lá, encontrei a porta do carona aberta e sem . Ah, que ótimo. Onde diabos essa garota estava?
Ouvi uns barulhos de buzinas na rua ao lado e fui ver o que era. Será que era um acidente?
Logo cheguei ao local barulhento.
Ah, isso era pior que um acidente.
estava andando no meio da rua, com os braços abertos e cantando alguma música que eu não consegui identificar qual era. Em volta dela, estavam alguns carros atravessados, tentando passar sem atropelar a garota. Ouvia buzinas frenéticas. Provavelmente os motoristas estavam com pressa e sem nenhuma paciência.
Tentei chegar até , mas tive dificuldade de passar entre os carros. Os motoristas me xingavam, mandavam eu sair do meio da rua e levar a “louca” comigo.
Finalmente consegui chegar até a garota, ela riu ao me ver e eu a coloquei sobre os ombros, ignorando a resistência dela, que depositava socos fracos nas minhas costas e balançava as pernas, murmurando algo que eu não entendi direito.
Status da missão: fracassada.
Segui até o meu carro e as buzinas finalmente cessaram. Quando percebi, não me chutava mais, nem tentava me bater. Acho que dormiu de novo. Coloquei-a no banco de trás do carro e decidi tentar a terceira e última opção, afinal se eu deixasse em um hotel era capaz de ela acordar sem estar totalmente sóbria e cometer outra loucura como essa de novo.
Capítulo. 04 - I look around me, how did I get here?
Missão 3: Levar à minha casa e colocá-la para dormir no quarto de hóspedes.
Obs: Faz alguns meses que eu não entro no meu quarto de hóspedes, não tenho muita certeza do estado do mesmo.
Chance de sucesso: 90%
Meu apartamento era perto de onde estávamos, então o caminho até lá foi rápido. Carreguei nos braços do carro até o apartamento. Estava cansado de carregá-la, então a deixei no sofá. Fui até meu quarto e conferi as horas: duas da manhã. É, nem estava assim tão tarde. Olhei para minha enorme cama (sim, era de casal. Você deve imaginar o motivo.) e tive que resistir à tentação de me deitar, afinal ainda tinha o problema de onde dormiria. Se bem que eu não considerava isso um problema. A garota era linda, mas só vou descobrir se é mesmo legal quando ela estiver sóbria. Por enquanto, prefiro acreditar que é. Sai do meu quarto e me dirigi ao quarto de hóspedes, abri a porta e quando olhei para o quarto tive uma surpresa. Várias caixas e coisas espalhadas por ele me impediam até de enxergar a cama. Que ótimo. E agora? Eu estou cansado demais, não vou arrumar isso. Não mesmo.
Não posso deixar dormindo no sofá, cá entre nós, ele não é muito confortável.
Mas eu não vou abrir mão da minha cama. Eu preciso muito de uma noite de sono. Só se...
*
Acordei meio tonta e com uma dor de cabeça de matar, hesitei ao abrir os olhos. Mas finalmente abri, e tive uma surpresa. Eu estava em um quarto estranho, masculino com certeza. Meio bagunçado, em um tom azul escuro. Bonito e sofisticado. Gostei. Opa, foco , foco. Onde eu estou? O que aconteceu ontem? Ou melhor, quem?
Olhei para o lado e não tinha ninguém mais na cama, mas o lençol estava bagunçado. Alguém dormiu aqui, é lógico. Mas eu não me lembro de ter conhecido ninguém ontem. Sentei na cama e fiquei um tempo fitando o chão, depois olhei a mesinha de cabeceira e conferi as horas: meio dia. Ao lado do relógio, tinha um bilhete com o meu nome, peguei e abri:
“Olá! Aqui é o ! Bom dia. Primeira coisa: não surte. Eu não te seqüestrei nem abusei de você ok? Não tenho muita certeza se você vai se lembrar da noite anterior, mas se não lembrar, não hesite em me perguntar. Onde eu estou? Ou na cozinha, ou na sala. Depende da hora que você acordar. Se for perto do meio dia, eu estarei fazendo o almoço. Não quero te incomodar, então deixei separado na segunda gaveta da minha mesa de cabeceira escova de dente, de cabelo e uma roupa da minha irmã que eu acho que dá em você.
Até mais,
Tentei me lembrar de algum , mas nada veio à minha mente. Quem será que era ele? Será que era bonito? Preocupado ele é, com certeza. A curiosidade de “conhecer” o dito cujo foi tão grande, que em um pulo corri para o banheiro, fazendo minha higiene matinal e colocando a roupa, não sem antes vomitar. Devo ter exagerado ontem. Geralmente eu não vomito nem esqueço a noite anterior. Vai saber o que me deu né. Ainda estava pensando nesse e procurando em minha mente alguma lembrança dele. Nada veio. Sai do quarto, sendo imediatamente invadida pelo cheiro de comida, o que me lembrou de que eu estava com muita fome. Cheguei até a cozinha e o tal cozinhava, de costas para mim. Pigarreei para ele notar minha presença. Ele se virou, sorriu ao me ver e disse:
Xxx ”
- Bom dia.
Depois disso, algumas fracas e borradas lembranças começaram a passar por minha mente.
- Dei um soco nele, que caiu no chão. Mas logo ele acorda, vou levar você pra casa. Não vou fazer nada contra você, relaxa. – ele se virou e sorriu pra mim. Foi quando eu percebi que ele era lindo. – ah, a propósito, sou , mas pode me chamar de .
- . – sorri, ainda hipnotizada.
- Muito prazer. – ele ainda sorria.
- Então, tem namorado? – tentou puxar assunto.
- Não. Você? – o encarei.
- Não. – ele sorriu. Mas que mania de sorrir que esse garoto tem! Se o sorriso dele não fosse tão absurdamente lindo eu até consideraria reclamar desse fato. Mas já que ele é um perfeito deus, deixa quieto.
Ah, era esse . Sorri de volta para ele, ainda sem muita certeza do que exatamente tinha acontecido noite passada.
- Então, lembra de alguma coisa? – ele me olhou, curioso.
- Ahn, na verdade não. – suspirei. Eu não ia dizer que minha única lembrança era a de que ele tinha um sorriso lindo, não mesmo.
- Ah, que pena. Quer que eu te conte?
- É bom né! – eu ri e ele me acompanhou com um riso rouco e sexy. Ai meu Deus. Foi com ele que eu saí noite passada? Diz que sim, diz que sim! Ok, estou parecendo uma maníaca, preciso me controlar. Mas não posso evitar o fato de que ele era muito lindo, e muito, muito gostoso. Será que a gente...?
- Primeiro fato importantíssimo: a gente não transou. – ele falou, lendo minha mente. Ah, droga! Não? Poxa, nem pra ser bêbada eu sirvo, mas que merda. – Na verdade... – ele contou a história, me deixando pasma e extremamente vermelha.
- Eu te mandei na casa do meu ex? Ai meu Deus, que vergonha, quero me enfiar num buraco e nunca mais sair. Nem sei o que dizer... Ahn, desculpa? – tentei, mordendo o lábio inferior. Não acredito que esse gato salva minha pele e eu pago um vexame desses. Legal hein, ponto para você .
- Que nada. – ele sorriu. – Na verdade, foi engraçado. Você foi uma boa companhia, me ajudou a testar meus limites de bêbado. Acho que eu consigo fazer de tudo agora. – ele riu baixo e eu corei. – Ah, desculpa. Não queria te deixar sem graça.
- E eu não queria ter te feito passar por isso. – eu sorri, fraco.
- Então estamos quites, né? – ele piscou pra mim, me paralisando por um segundo. Afirmei com a cabeça. – Ótimo. Se eu te chamar pra sair, vou estar me aproveitando da situação?
- Não mesmo. – eu ri, balançando a cabeça.
- Então, quer sair comigo? – ele sorriu, levantando a sobrancelha.
- Claro, ia ser ótimo! – sorri. Ah, ia ser mais que ótimo. Ele pareceu parar pra pensar um pouco.
- Você sabe que dia é hoje?
- Dia 21 de outubro, por quê? – falei confusa, e ele bateu na testa, como se lembrasse de algo importantíssimo.
- Droga! Tinha esquecido que hoje é aniversário da minha irmã! Desculpe, mas a gente pode sair outro dia, né?
- Lógico! Sem problema nenhum. – sorri, dando de ombros.
- Então, você me passa seu telefone? – ele disse, pegando um bloco e uma caneta.
- Aham! – tomei o bloco de suas mãos delicadamente e ali escrevi o numero do meu celular e o de casa também. – Agora preciso ir. – disse, me levantando.
- Ah, não vai ficar nem mais um pouco?
- Não posso, desculpa! Eu preciso mesmo ir. Obrigada por tudo, de verdade. – fui em direção a ele e dei um beijo estalado em sua bochecha, saindo pela porta. [n/a: não, anta, você saiu pela janela ¬]
Peguei um taxi pra casa e, graças aos céus, eu tinha dinheiro escondido embaixo do meu sapato. Sabe como é, para emergências.
Cheguei e me atirei no sofá, checando o correio de voz. Tinha três mensagens, a primeira era de minha mãe:
“Oi filha! Está tudo bem? Estranhei você não ter me ligado ontem. Cheguei ao Brasil agora, aqui é lindo demais! Você precisa me acompanhar na próxima viagem, você vai amar, garanto! Como estão às coisas por aí? Está alimentando o Fred? Ligue-me para dar notícias, estou ficando preocupada! Amo você, querida. Se cuide.”
Ah, droga! É verdade, esqueci de ligar para minha mãe ontem. Ela está em uma viagem de volta ao mundo com os amigos dela pra se divertir um pouco e a gente se fala todo dia. E... AH, O FRED! Esqueci de dar comida pra ele! Fred é meu cachorro, mas ele mora com a minha mãe já que a casa dela é maior que a minha. Já que ela está viajando, ele está aqui comigo. Fui correndo pra cozinha, coloquei a comida dele no pote e grudei um post-it na geladeira que dizia: “Lembrete: ligar para a mamãe!”. Enquanto bebia um pouco de água, ouvia o segundo recado:
“Oi sonhadora, esqueceu da sua melhor amiga aqui, foi? Haha! Pelo jeito esqueceu, já que há dois dias não me dá noticias. Espero que não tenha esquecido meu aniversário. Você vai, não vai? Tem que ir, se não eu te bato, feia. Estou te esperando e curiosa pra saber as novidades dos bofes. Não me esquece, te amo bitch!”
! Ai caramba, o aniversário dela! É hoje! Ainda bem que eu estou com tudo pronto, presente e figurino. Amém, se não fosse por isso, eu estava ferrada.
é minha melhor amiga há um tempinho, desde quando a gente se conheceu pela internet não nos largamos mais. Corri para o meu quarto e conferi se tudo estava no lugar. Tudo certo para a festa, ainda bem.
Voltei para a sala e sentei no sofá, esperando para ouvir o terceiro e último recado:
“Olá, ? Sou eu, . Tudo bem? Só liguei pra confirmar se você tinha chegado sã e salva em casa. Espero que sim. Quando chegar e ouvir isso, me mande um sms ok? Meu numero é esse que está ai no visor. Beijos.”
Anotei o número dele, e imediatamente enviei: “estou sã e salva, nobre cavalheiro. Agradeço a sua preocupação e sinto muito tomar seu tempo desse jeito. Então, só para confirmar, eu continuo inteira. Xxx .”. Ridículo demais? Talvez. Epa! Ele respondeu: “bom saber que você continua perfeita e lindamente bem, nobre dama. Você não é perda de tempo nenhum, pelo contrário, te observar é meu passatempo favorito. Preocupar-me com você é apenas uma consequência. Xxx ”. Se eu disser que sorri feito uma abobada quando li a resposta dele, vai ser muito sem noção e sem motivo? Fazer o que, foi essa minha reação.
Respondi: “Seu passatempo é me observar? Então quer dizer que você ficou me olhando dormir? Espertinho, haha. Xxx ”. Logo outro bip, alertando uma resposta. Esse garoto era rápido. “Eu não disse isso, essas são as suas conclusões. Mas eu também não vou negar. A culpa não é minha se você parece um anjo dormindo. Xxx ”
Ok, o que eu respondo agora? “anjos dormem? Dessa eu não sabia. Xxx
”. Idiota demais né? Sou uma retardada, eu sei, eu sei. Outro bip: “Bobinha. Você entendeu o que eu quis dizer. Agora eu preciso ir, minha irmã está batendo freneticamente à minha porta. Só pode querer algum favor. Se cuide hein? Xxx ”. Respondi bem rápido: “preocupado você hein? Não vou me jogar da ponte nem nada do tipo, bobinho. Dê atenção pra sua irmã, afinal ela merece, por te aturar tanto. Haha. Xxx ”. Mandei a mensagem, e como não obtive resposta, fui para o meu quarto, larguei o celular na cama e fui tomar banho.
Capítulo. 05 - Now that I’m thinking sober...
Saí do banho e vesti a roupa que eu iria usar no aniversário da . Passei uma maquiagem leve e sequei o meu cabelo, arrumando-o. Sentei-me na cama para colocar o sapato e senti algo vibrar embaixo de mim. O meu celular, dã. Não tenho coisas que vibram, santas mentes poluídas. Era uma mensagem de :
“Eu sei disso, mas é sempre bom lembrar. Não é? Fique longe das pontes, janelas ou coisas das quais você pode se jogar. Brincadeira. Desculpe demorar para responder. É que a minha irmã queria a minha ajuda para achar o estúpido sapato rosa dela. É melhor eu ir para a festa antes que minha mãe venha aqui me puxar pelos cabelos. Xxx .”
Ri baixo, contudo não respondi nada. O que eu iria responder? Não tinha nada bom ou legal para dizer. Achei melhor ficar calada.
Liguei para a minha mãe e conversamos um pouco. Só que ela tinha que ir não sei aonde e desligou. Assim que coloquei o telefone no lugar, ele tornou a tocar.
– Alô?
– Finalmente resolveu me atender, vadia! – a gargalhada de do outro lado da linha me fez rir também.
– Desculpe, mas eu estava me arrumando para a SUA festa, vadia – agora foi a minha vez de gargalhar.
– Ah, sim, falando nisso... Você vai dormir aqui. Não vai?
– Lógico! Haha!
– Ótimo. Venha logo! O pessoal já está começando a chegar.
– Ok, estou indo!
– Certo! Ah, quero lhe apresentar meu irmão. Ok?
– Que irmão?
– O meu irmão, babaca! Eu lhe disse que tinha um irmão.
– Ah, é. Verdade. Estou indo, amiga. Beijos!
– Beijos! – e desligou.
Terminei de arrumar as minhas coisas e peguei outro táxi - dessa vez para ir para a casa de . Cheguei lá, toquei a campainha e a mesma abriu a porta, dando-me um abraço de urso.
– Parabéns, ! Tudo de bom, amiga! – falei e ela agradeceu. Então a observei. Ela estava linda com um vestido preto e o cabelo todo solto. Mas o que me chamou a atenção foi o lindo sapato rosa brilhante que ela usava. E não era só por ele ser bonito. Por causa que ele me lembrava alguma coisa que eu não conseguia descobrir exatamente o que era. Mas que me lembrava alguma coisa, ah, isso lembrava!
Ela disse para eu ir entrando enquanto ela cumprimentava os convidados que tinham chegado depois de mim. Entrei na casa e fui falar com os seus pais. No meio do caminho, trombei em alguém e por sorte não caí, já que a pessoa em questão me segurou.
– Ai, desculpe! – falei apressada.
– ? – fui surpreendida pela voz de . Então percebi que foi ele que eu tinha quase derrubado.
– , oi!
– Sempre nos encontrando das maneiras mais agradáveis. Não é? – ele riu baixo.
– E, para variar, a culpa foi minha. Desculpe. Eu estava distraída – ri nervosa.
– Não se preocupe com isso. É bom ter alguém legal para conversar nessa festa – sorriu e piscou para mim.
– Ué, você não conhece mais ninguém aqui? – perguntei confusa.
– Conheço todo mundo, mas geral está bêbado ou se pegando com alguém. E não vou beber hoje. Então estou sobrando.
– Não está mais! – ri. – Mas por que não vai beber hoje?
– Ah, é que se eu beber acordo tarde amanhã e a minha irmã quer que eu leve a amiga dela para casa de manhã. Aí fica difícil – ele disse.
Que estranho. Eu sentia que tinha alguma coisa me escapando. Mas o quê?
– Então o acompanho. Também não vou beber. Haha.
– Poxa, valeu. Pelo menos vou estar bem acompanhado – corei com o que ele disse. – Tenho que ir buscar uma coisa lá em cima. Já volto. Ok? – afirmei e ele me deu um beijo na testa, sumindo da minha vista logo em seguida.
Fui até a cozinha pegar um refrigerante e logo apareceu com um copo de alguma bebida na mão.
– E aí, ? Já achou alguma vítima? – ri, referindo-me a algum garoto que tenha interessado a ela, obviamente.
– E não é que já achei! Um amigo do meu irmão chamado Billy. Ai, amiga. Ele é um fofo! E beija muito bem – ela suspirou encantada. Ouvi ao fundo alguém gritar o nome dela. – Tenho que ir. Ele está me chamando.
– Vá lá. Aproveite. E veja se usa camisinha. Viu? – ela gargalhou.
– Eu sei, besta – e saiu.
Deixei o copo na pia e fui em direção à pista de dança. Tocava uma música bem animada. Logo me meti ali no meio do pessoal e comecei a dançar. Percebi alguns olhares masculinos em cima de mim, entretanto não me importei muito. Continuei dançando e rezando para nenhum bêbado vir encher o meu saco. Não que eu tenha um. Ah, você entendeu.
*
Subi as escadas e liguei para o meu tio, como a minha mãe havia pedido. Ficar sem beber em uma festa dessas é um saco. Pelo menos eu tinha a . Ela era legal. Se não fosse por isso, eu provavelmente quebraria o meu acordo com a minha irmãzinha. Ri, lembrando-me da proposta dela.
# Flashback - Dois dias antes.
– ? Preciso de um favorzinho seu.
– Fale logo, – falei sem paciência.
– Quero que você leve a minha amiga para a casa no dia seguinte à festa e para isso você não vai poder beber durante a mesma – ela disse e gargalhei.
– Até parece. E o que eu ganho com isso?
– Limpo o seu quarto por um mês e aí a mamãe não vai brigar com você.
Parei para pensar um pouco. É, era uma boa idéia.
– Dois meses – falei sério. Os olhos dela brilharam.
– Fechado! Você é demais – ela saiu do meu quarto dando pulinhos. Eu ri.
# Fim do flashback.
A minha irmã era meio louca. Meio? Ok, . Totalmente pirada.
Fui descendo as escadas e um garçom com uma bandeja cheia de copos de algum drinque exótico (invenção da minha irmã) praticamente me derrubou. Não resisti e peguei um copo. Ah, que se foda a minha irmã. Pedir para mim não beber em uma festa é o mesmo que pedir para um cantor parar de cantar da noite para o dia. É improvável, é impossível(N/A: insuportável. É dor incrível! (8) – Ok, vou me calar).
Quando dei por mim, já estava no quarto copo daquele troço, dançando com uma ruiva no meio da pista de dança. Ela praticamente se esfregava em mim, porém eu não prestava muita atenção. E não era só por causa da bebida. Eu sentia que estava me esquecendo de alguma coisa. Depois de um tempo, deixei para lá. Amanhã descubro o que era que eu estava esquecendo. Por hoje me deixe aproveitar a festa e a garota. Do meu jeito, se é que você me entende.
*
Eu ainda dançava, mas agora o tédio começava a me dominar. Ficar sóbria numa festa dessas era muito estranho para mim. O definitivamente me devia essa.
Falando nisso, onde ele se meteu? Faz horas que estou aqui dançando. Logo a festa acaba e eu aqui, forever alone com o meu “refri”.
Então o vi. Ele estava praticamente engolindo uma ruivinha lá na pista de dança com um copo de bebida na mão. Filho da puta. Não acredito que ele fez isso. Não pensei duas vezes. Já que o idiota estava bêbado e eu tinha pouco tempo de festa, por que não? Fui correndo para o bar e pedi a primeira coisa alcoólica que vi no mini-cardápio grudado na parede.
Capítulo. 06 - That kinda body needs a spotlight.
*
A festa já havia terminado e eu estava no quarto de . A mesma já dormia há horas. Já eu não conseguia pregar o olho. Cansada de encarar o teto (iluminado apenas pela fraca luz do abajur), troquei de roupa e resolvi ir até a cozinha beber um copo de leite.
Levantei-me e, com o cuidado de não acordar a minha amiga dorminhoca, saí do quarto de fininho, desci as escadas na ponta dos pés e, chegando lá embaixo, percebi que a luz do escritório estava ligada. Apesar da curiosidade de saber quem estava lá a uma hora dessas, segui o meu caminho até a cozinha e abri a geladeira. Tinha várias latas de cerveja, mas consegui achar o leite escondido lá atrás. Peguei-o com o cuidado de não derrubar nenhuma latinha e fechei a porta. Quando me virei para ir até o armário pegar um copo, encontrei encostado no balcão. Ele usava uma calça preta e estava sem camisa. Parecia ter saído de um filme. Tamanha era a perfeição do ser à minha frente que eu começara a acreditar que Brad Pitt era apenas um cara, afinal de contas.
No susto, derrubei a embalagem que segurava. Não deu outra. O leite todo derramou no chão, ilhando-me no meio de toda aquela bagunça. riu e deu um passo em minha direção. Ainda com o coração palpitando (barriga sarada do mais sorriso do mais um susto causado pela aparição de um cara gato no meio da cozinha num momento de distração igual a eu mesma tendo um infarto), dei um passo para trás automaticamente. Como o chão à minha volta estava todo molhado, assim que pus o pé para trás, escorreguei. E teria caído se não tivesse me segurado no mesmo instante.
– Opa, mil desculpas. Não quis assustá-la. Está tudo bem?
– Tu... Tudo. Eu só es... Escorreguei. O que você ainda está fazendo aqui na... Casa da ? – a proximidade do rosto de ao meu estava colocando a minha sanidade mental em um ponto seriamente crítico.
– O que estou fazendo na casa da ? – afirmei com a cabeça e ele riu. – Moro aqui. Quer dizer, mais ou menos. Mas aqui é a casa dos meus pais.
Dei um pulo e me levantei instantaneamente.
– Como? Você é o irmão da ? Mas... Como?
– Sou, sim. Como você sabe? Aliás, o que você está fazendo aqui?
– me convidou para dormir aqui hoje – dei de ombros. gargalhou e me deixou sem entender nada.
– Você é a amiga dela?
– Era para mim que você ia dar carona de manhã?
– Só pode ser piada.
– Como assim? Quer dizer, fale sério! É coincidência demais!
– É mesmo. Loucura, não?
– Só um pouquinho – ri e me acompanhou.
Ouvi uns passos na escada e logo aquela ruivinha da festa apareceu com o cabelo todo bagunçado. Ela pareceu com raiva quando viu que estava conversando comigo, mas só falou:
– , preciso ir. A gente se vê. Aqui está o número do meu celular – ela foi até onde estávamos e entregou um papel para ele.
A garota então saiu andando e ouvi o barulho da porta da frente sendo batida furiosamente. O idiota parado ao meu lado amassou o papel com o número da garota e jogou no lixo. E isso me lembrou do que ele tinha feito comigo na festa. Saí da cozinha às pressas e me atirei no sofá, ligando a TV.
– Ué, o que foi? – apareceu, sentando-se ao meu lado.
– Esqueceu-se do que fez comigo? Fiquei sóbria até quase o fim da festa e você lá, engolindo aquela ruiva. Porra, . Acabou com a minha diversão. Achei aquela festa um tédio só.
– Ai, caramba, eu SABIA que tinha me esquecido de alguma coisa – ele bateu na testa. – Desculpe, vá!
– Ok. Mas vou me vingar – sorri maldosamente.
– Ai, que medo – ele fez cara de assustado. Ambos rimos.
O meu telefone começou a tocar.
– Alô?
– , minha diva! – a voz de meu “secretário” (como ele mesmo gosta de ser chamado), Mike, gritou no meu ouvido. Até escutou e ficou me olhando com cara de curioso.
– Ai, Mike. Alterado já a essa hora da madrugada?
– São cinco da manhã, baby.
– Cinco da manhã? E o que faz você me ligar a essa hora?
– Sabe aquele filme que você queria fazer? The Seven Towns? – ele disse animado. Ah, esqueci-me de mencionar. Sou formada em teatro e estou louca para fazer o papel principal em um filme chamado The Seven Towns (As Sete Cidades). É sobre uma garota chamada Melanie Thomson, que é seqüestrada por causa de algo que aconteceu com os pais dela e tem que fugir para descobrir o que eles querem e tal. Ela vai passar por um total de sete cidades que fizeram parte da “história” da família. Em uma dessas, ela conhece Joseph, por quem se apaixona. Só que tem que ir embora. Porém ele a segue. É muito legal a história e, se eu fizesse o filme, a minha carreira iria dar um salto fenomenal.
– Sei.
– Consegui um teste para você! – ele gritou e eu também. ainda me olhava com uma cara engraçada. – Só que é hoje, às seis horas. Preciso que você venha correndo para cá.
– Hoje, seis horas? Ai, caramba. Quero ver como eu vou.
Nessa hora, cedeu à curiosidade e perguntou:
– Para onde? Com quem você está falando, sua maluca?
Pedi para ele fazer silêncio, mas já era tarde demais. Mike começou a fazer perguntas:
– Quem é o bofe? Onde vocês se conhecem? Ele é gato? Ah, tanto faz. Quero que você o traga para a audição.
– Não vou levá-lo, Mike.
– Se você quer mesmo um papel nesse filme, é melhor trazer.
– Mas você nem o viu ainda!
– Não interessa. Ele é do sexo masculino e pelo jeito é seu amigo. Traga-o e fim de papo. Tchau – ele desligou. Bufei de raiva.
– O que foi?
– , você pode me dar uma carona? – perguntei hesitante.
– Posso. Agora? – confirmei com a cabeça. – Ok. Espere um pouco.
Ele subiu correndo e em poucos instantes estava descendo, vestindo uma camisa azul e com a chave do carro em mãos.
– Vamos?
– Vamos – levantei-me e o segui até a garagem.
Entramos no carro e indiquei o caminho do estúdio. Expliquei tudo a . Quando chegamos lá, ainda estava pensando em um jeito de pedir a ele que viesse comigo.
Olhei para dentro e não tinha muito movimento. Só vi o carro de Mike lá parado. Os outros devem estar na garagem de dentro do prédio.
– Nossa, como está vazio – falei, pensando alto.
– Quer que eu vá até lá com você?
Ah, perfeito!
– Quero.
– Ok.
Ele desligou o carro e fomos andando. Dei logo a volta e fomos em direção à parte de trás, já que na recepção não teria ninguém mesmo. Chegamos lá em um pátio enorme, cheio de câmeras e com várias pessoas. Mike conversava com uma mulher simpática e ele deu um sorriso enorme quando me viu. E um maior ainda quando viu . Se é que isso é possível.
Queria saber o que ele estava planejando. Coisa boa é que não era.
Capítulo. 07 - Help!
*
Mike já tinha levado para longe e conversava animadamente com ele. Pensei em ir atrás e ver sobre o que falavam, mas logo uma mulher com um crachá escrito “Susan” apareceu.
– Olá, querida. Aqui está o script da cena do seu teste.
Ela me entregou o papel e dei uma lida nas cenas. Passava-se em uma livraria e era quando ela conhecia Joseph. Logo um tal de Jared me levou para um camarim, onde ele disse para eu ficar decorando as falas enquanto resolvia umas coisas. Depois de uma hora o cara me buscaria para eu fazer o teste.
Fiquei lendo e decorando as falas, ora em pensamento, ora em voz alta. Não seria tão difícil.
*
fora levada para sabe-se lá onde e o tal de Mike não calava a boca. Não que eu tenha algo contra veados, mas o fato de ele ficar se inclinando para cima de mim enquanto falava estava começando a me deixar desconfortável. Ele é amigo de , então não vou ser rude com ele, mas bem que merecia.
Peguei discretamente o meu celular e mandei uma mensagem para .
“O seu amigo não quer calar a boca. Preciso de uma salvadora. Você me tira daqui? SOS! Xxx .”
Guardei o celular no bolso de novo e tentei pensar em um jeito de sair dali.
– Mike, onde fica o banheiro?
– Segunda porta à direita – ele apontou para um canto um pouco distante.
– Ok.
Levantei-me e fui apressado para lá. Entrei e fechei a porta. Peguei o meu celular e disquei o número de . Ela atendeu no terceiro toque.
– O que o coitado do Mike fez com você? Eu estava respondendo a mensagem agora – o tom de voz dela denunciava um sorriso. Sorri também.
– Ele não para de falar! Fugi para o banheiro, mas uma hora vou ter que sair daqui. Cadê você?
– No banheiro, ? Que truque mais velho! – ela gargalhou.
– Eu estava desesperado. Ok? Desculpe – ri também.
– Então ‘ta. Saia daí e entre na quinta porta à esquerda. É onde estou. E não demore. Beijos – desligou.
Ah, ótimo. Como saio daqui? Será que o Mike está lá fora? O jeito vai ser arriscar. Paciência.
*
Desliguei o telefone, ainda rindo. Trinta segundos depois, num estrondo, a porta se abriu e um ofegante passou por ela.
– Você não veio correndo. Veio? – segurei o riso.
Ele levantou as mãos até a altura da cabeça como quem diz “eu me rendo”.
– Poxa, o Mike é mesmo assim tão ruim? – indaguei. Ele afirmou, fazendo cara de culpado, e me fingi de ofendida. Ambos rimos.
– Ele pode até ser legal, mas ficava se inclinando para cima de mim enquanto falava. Cara, isso incomoda. Enfim, falemos de você. Por que a trouxeram para cá?
– Para a minha pessoa decorar as falas para fazer o teste – de repente, uma luzinha acendeu na minha mente. – Lê o texto comigo? Por favor? – fiz a minha cara mais convincente e entreguei o script para ele.
hesitou, arqueando a sobrancelha, porém acabou pegando o papel de minhas mãos.
– Vou logo avisando que não sou ator. Ok? Então se eu...
– Não se preocupe – interrompi-o, tranqüilizando-o. – Só leia o texto que já está bom o suficiente – ri baixo.
– Então vamos à luta – fez pose de herói e gargalhei, indo até o seu lado. Apontei o trecho onde começava a parte que iríamos ensaiar. Ele confirmou com a cabeça e pigarreou dramaticamente, começando: – Olá. Posso ajudar? – falou, fazendo uma cara engraçada. Segurei o riso com muito profissionalismo. Ok, mentira. Contudo pelo menos consegui me controlar.
– Pode, sim. Eu estava procurando “O Morro dos Ventos Uivantes”.
mexeu em uma prateleira invisível e me entregou um livro invisível.
– Obrigada – sorri.
– Estou às ordens – sorriu também. Comecei a me virar e fui interrompida por “Joseph”. – Ei, esse livro não é para você, não, né? – ri, negando com a cabeça.
– Na verdade, é para uma amiga. Como você sabe? – franzi a testa.
Ele riu baixo e deu de ombros, olhando-me de cima abaixo. Corei.
– Você não faz o estilo dramático.
– Para a sua informação, mocinho, possuo sim um exemplar de “O Morro dos Ventos Uivantes” na minha mala. Ok? E já li várias vezes. – dei ênfase ao várias.
Ele arregalou os olhos.
– Certo. Agora você me surpreendeu.
Fiz a minha melhor cara convencida.
– Ei, posso ser bem surpreendente quando quero.
– Disso eu não tenho a menor dúvida – ele disse e riu de um jeito fofo. Estendi a mão.
– Melanie – ele a apertou e sorriu.
– Joseph. Então, quer sair comigo qualquer dia desses para discutirmos os seus gostos literários? – ri baixo, afirmando com a cabeça.
– Eu adoraria.
E fim da cena. Caramba, para quem nunca tinha atuado, me pareceu bastante convincente como ator. Bem que eu podia indicá-lo para o teste também e quem sabe...?
Os meus pensamentos foram interrompidos pela entrada de um Mike saltitante que entrou estrondosamente na sala onde estávamos, assustando-me.
– Eu sabia, eu sabia, eu sabia! – cantarolava ele, dançando ao meu redor. Mas hein?
– Mike, do que você está falando?
Pela cara que fez quando me olhou, soube que tinha aprontado alguma. Ele mirou para cima e eu e seguimos a direção de seu olhar. Uma câmera. Maravilha. Será que estava ligada? E se...?
Capítulo. 08 - This is really happening?
– Ok. Deixe-me ver se entendi – olhei para o chão enquanto tentava colocar as idéias no lugar. – Vocês armaram isso tudo para me surpreender? Na verdade o papel já era meu desde o começo porque o diretor do filme foi à minha ultima peça de teatro? – Mike balançou a cabeça, afirmando. – Você não queria me dizer a verdade para eu não ficar convencida demais achando que a vida é perfeita...? – ele concordou novamente. – Mike, você sabe que isso não faz o menor sentido. Certo? Até porque não levou o plano até o final, contando-me tudo antes mesmo de fazer o "teste" – fiz aspas no ar.
– É que eu não agüentei! – ele se desculpou. – Se eu tivesse levado o plano até o final, você nunca saberia que o papel já era seu... Mas aí o apareceu e pela câmera vi vocês ensaiando... E o diretor falou que...
– Que vocês têm muita química e que seria legal vir aqui outro dia fazer o teste para o papel de Joseph – um homem de cabelo grisalho vestindo um terno preto entrou. Presumi ser o diretor.
– Eu? – finalmente se pronunciou.
De repente recebi um choque de realidade e saí da sala, arrastando Mike comigo. Simplesmente andei em linha reta, ignorando os protestos do maluco ao meu lado, e chegamos a um jardim. Olhei em volta para me certificar de que estávamos sozinhos.
– Então... O papel é meu?
Mike afirmou com a cabeça, sorrindo. Pulei em cima dele, gritando loucamente. Ele me segurou pela cintura e me girou no ar, enquanto gritava também. Permanecemos assim por um tempo até que uma voz nos interrompeu:
– EI, VOCÊS VÃO FICAR PULANDO E GRITANDO AÍ ATÉ QUANDO? JÁ ESTOU FICANDO SURDO! – gritou, porém, ao invés de parar com a loucura, corri até ele e o abracei.
– Eu consegui! Consegui! Consegui! Nem acredito!
– É, conseguiu. Podemos ir?
– Credo. Como você é sem coração – cruzei os braços.
– É. Se quiser uma carona, é melhor vir logo – ele me encarou.
– Miiike...
– Depois ligo para você – ele gritou, adentrando uma porta verde escrito "staff".
saiu andando em direção à saída e o segui, pensando em lugares legais que eu já tinha ido ou ouvido falar para ir comemorar. Aquela boate perto da casa da parece interessante... Nunca fui lá, contudo alguns amigos me disseram que é ótimo! Tem também aquele barzinho perto da praia que já fui uma vez... Lá é muito bom! Se bem que uma festa em casa não seria tão ruim.
– Hum... ? – me encarava dentro do carro, esperando que eu entrasse. Entrei, rindo de minha distração repentina.
– Foi mal.
– Então, vamos para onde?
– Por mim tanto faz – dei de ombros.
– Ok – ele ligou o rádio e saímos do estúdio.
Vinte minutos depois...
entrou na garagem de um prédio que me pareceu familiar. Arrisco o palpite de que seja o seu apartamento. Fomos para o elevador, por algum motivo, com as mãos entrelaçadas... Não que eu esteja reclamando. Longe disso.
Assim que o elevador chegou ao subsolo, me arrastou para dentro e me prensou contra a parede, começando a me beijar fervorosamente. Como não sou de ferro, correspondi ao beijo de imediato. Não sei de que maneira, mas conseguiu apertar o botão do elevador e chegamos ao andar de seu apartamento. Quando saímos de lá, a minha blusa já estava desabotoada e , sem a dele. O mesmo continuava me beijando enquanto tentava abrir a porta. Se eu não estivesse tão ocupada o beijando, teria rido da cena.
Entramos e fomos direto para o seu quarto. Não sei como ele conseguiu me levar até lá, considerando que eu estava em seu colo. Nessa hora, minha calça e meu sutiã estavam jogados em algum lugar da sala, assim como o resto das roupas de . Deitamos em sua cama e subi em cima dele, fazendo-o rir levemente, enquanto beijava o meu pescoço. Comecei a beijá-lo novamente. Era incrível como as nossas línguas se moviam em perfeita sincronia. E, em questão de segundos, a minha última peça de roupa foi parar do outro lado do quarto.
Capítulo. 09 - Do you remember at all?
Abri os olhos relutante e sorri ao ver dormindo angelicalmente ao meu lado. Quando me toquei do que tinha acabado de acontecer, veio-me um impulso de sair correndo. Não sei por que diabos segui esse impulso. Vesti minhas roupas atiradas pelo chão do apartamento e saí silenciosamente com o sapato em mãos. Abri a porta, já completamente vestida e ainda segurando o sapato.
– Já vai tão cedo? – ouvi a voz de e dei um pulo de um metro de altura, com o coração quase saindo pela boca.
– Credo, garoto! Quer me matar de susto? – coloquei a mão no coração, na inútil tentativa de fazê-lo bater mais devagar.
– Não foi minha intenção – ele disse e me virei para olhá-lo. Encarava-me escorado na parede e com sorriso irônico no rosto. A minha mente pensava rápido em uma desculpa, mas de coisas estúpidas e banais o que saiu foi:
– Eu estava indo até a Starbucks comprar um... – apontei para a porta e tentei fazer a cara mais convincente possível.
– Sei... Então você não estava fugindo para não termos que conversar sobre o que acabou de acontecer? – ele levantou as sobrancelhas. Suspirei derrotada.
– Ok! Confesso! – larguei o sapato no chão e me atirei no sofá. Ele riu nasalado e se sentou ao meu lado.
– Por que você ia sair assim? – ele perguntou me olhando.
– Ahn... Não sei... Medo? Acho que não tenho uma boa experiência com relacionamentos – falei e ele levantou as sobrancelhas. – Não! Não estou dizendo que temos alguma coisa! – disse desesperada e ele relaxou. – Só fiquei meio...
– Apreensiva com medo de que eu fosse pressioná-la para ter algo mais sério? – ele me interrompeu e apenas concordei com a cabeça. – Relaxe... Não sou o tipo de cara que acha que uma noite, no nosso caso dia, já significa compromisso total... Nem o tipo de rapaz que obriga alguém a fazer algo que não queira. Você veio até aqui porque...
– Porque quis. É, eu sei. Desculpe, mas quando saio com alguém e a gente... Bom, você sabe... Geralmente vou embora antes de ele acordar e apago o meu número do celular dele... Para não ter perigo de ele vir me perseguir depois. Sabe?
– Perseguir no sentido de querer compromisso sério a todo custo?
– Exatamente.
– Entendi. Espertinha você, não? – ele riu. – Só deixou passar o fato de que sou irmão de sua melhor amiga e poderia encontrá-la a qualquer momento.
– É verdade. Acho que deixei passar esse pequeno detalhe – ri.
– Então já que você estava indo à Starbucks... – ele falou e abaixei o olhar, culpada. – Posso ir junto? Aí me conta o motivo dessa desconfiança toda com o sexo masculino, porque devo confessar que você é a primeira garota que conheço que foge de compromisso.
– Não fujo. Eu só... Estou esperando passar o trauma do meu último relacionamento. Ou aparecer a pessoa certa. Não sei – dei de ombros.
# Flashback – Um ano e meio atrás.
Estava esperando Adam sair da sala de aula da faculdade para irmos ao cinema. Tinha esperado para vê-lo durante toda a semana! Estava tão ansiosa! Awn, Adam era tão fofo! Ele era realmente o namorado perfeito.
Vi-o sair da sala ao lado de uma garota loira com um short que mais parecia uma calcinha e um decote que quase chegava ao umbigo. Ridícula, pf. Se fosse ciumenta, eu me importaria com isso. Mas confio no meu Adam, então vou deixar para lá.
Ué, ele não me viu.
Por que raios ele está abraçando essa garota?
– Adam! – gritei, abanando para ele. Poderia jurar que por um segundo a sua face assumiu uma expressão de nervosismo. Não deve ter sido nada, já que ele veio correndo falar comigo com o jeitinho fofo de sempre.
– Oi, ! – ele me abraçou. Ia dar um beijo nele, mas este desviou. Então me lembrei. Sem beijos na faculdade. Certo. Ele é tão preocupado e responsável... Que lindo.
– Vamos para o cinema? – falei e ele me olhou confuso, porém logo se lembrando do nosso combinado. Bobinho.
– Ixi, fofa, nem vai dar. Combinei de estudar com uma amiga. Ela está com dúvida na matéria, a prova é amanhã e não posso deixá-la na mão. Perdoe-me – ele pegou minha mão e a beijou.
– Tudo bem. Eu entendo – balancei a cabeça afirmativamente, indo embora.
Antes de ir embora, dei uma leve olhada para trás e o vi abraçando a amiga. Tão prestativo esse meu namorado. Ai, ai.
# Fim do flashback.
Prestativo e responsável o caramba. Sem beijos no colégio que nada. Ele não queria é que o projeto de prostituta que havia arrumado soubesse que ele tinha namorada. Ajudá-la na matéria? Por favor! Só se for na matéria de educação sexual, porque, né?! Tenho certeza de que nesse dia recebi um dos milhões de chifres que esse garoto me botou. Tenho certeza! Como eu era idiota e ingênua, meu Deus! Que raiva! Nunca mais vou ser assim tão tonta. Nunca mais. Dá raiva só de lembrar!
– Então? – a voz de me "acordou".
– O quê? – perguntei confusa.
– Posso ir com você à Starbucks ou não?
– Claro que pode! – ri, me levantando. – Vamos! – falei mesmo não me sentindo totalmente pronta para contar a ele sobre o Adam. Ai, dá-me nojo só de pensar no nome dessa criatura. Não vou contar para ele. Não quero reviver toda a história na minha cabeça. Mas eu queria companhia. Por isso concordei que ele fosse junto.
Já na Starbucks...
– Ei, se não quiser falar, não precisa. Ta? – ele dizia calmamente.
– Só não me sinto pronta para falar disso agora. Mas prometo que um dia lhe conto. Ok? – sorri de lado, tomando meu café logo em seguida.
– Você que sabe... Logo aviso que sou curioso – ele riu baixo, também tomando o café.
– Então... Qual sua banda preferida? – perguntei como quem não quer nada.
*
Acordei já morrendo de sono (para variar) e, quando desci, estranhei não ver ninguém na sala nem na cozinha. A e o saíram, mas meus pais... Onde estão?
Olhei para o lado e a porta do escritório estava fechada. Bingo. Essa só é fechada para ocasiões importantes ou conversas super secretas. Corri para a cozinha e peguei um copo. Voltei para o escritório e o encostei à porta para ouvir melhor. Que foi? Sou curiosa. Meus pais conversavam.
– Ela não pode saber! – meu pai dizia desesperado.
– Ela precisa saber! – minha mãe respondia no mesmo tom.
De quem eles estão falando?
– A não está preparada!
Ah, de mim. Preparada para quê? Eu hein...
– Já está na hora de contar, querido. Não podemos continuar escondendo isso. Não é justo com ela!
– Mas como você acha que ela reagirá quando souber que é adotada?
O QUÊ?
Adotada?
Eu sou adotada?
EU?
COMO?
Atirei o copo no chão e sai correndo. Meus "pais" chamaram meu nome, porém continuei correndo, saindo de casa. Corria sem rumo, desesperada e chorando. Como eles puderam me enganar assim por todo esse tempo? Sinto-me tão idiota!
# Flashback – Nove anos atrás.
Eu estava completa e totalmente entediada. Aula de ciências é tão chata! Por que uma garota de doze anos não pode simplesmente ter uma única aula de ciências? Tem que ser três aulas seguidas no mesmo dia? Vou enlouquecer!
– Então... – a professora falou. – Vocês vão fazer uma pesquisa sobre os sintomas da gravidez para a próxima aula. Ok? Aí com as pesquisas concluímos a matéria para a prova! Bom final de semana! – e o sinal tocou. Finalmente! Saí correndo da sala e (ainda bem!) minha mãe já tinha chegado. Entrei logo no carro.
– Oi, filha! Como foi a aula?
– Normal – sorri. Então me lembrei do trabalho. – Mãe? – ela me olhou por um segundo, mas logo voltou a mirar o trânsito. – Quais foram os sintomas que a senhora sentiu quando estava grávida de mim?
Minha mãe freou bruscamente o carro, dando-me um susto.
– Algum problema? – perguntei.
– Não, nada. Só me distraí.
– Ah.
– Então... Ah, senti um pouco de enjôo...
# Fim do flashback.
Como fui burra! Por que eu não me toquei naquela hora? Estava tão óbvio!
Eu continuava andando (lê-se correndo) e chorando compulsivamente. O que eu iria fazer agora?
Pisei em falso e tropecei em cima de alguém. Já ia me desculpar, mas então reconheci que me olhou preocupada.
– O que houve, ? – ela perguntou. Balancei a cabeça negativamente e a abracei como se minha vida dependesse disso.
Capítulo. 10 - Who says you’re the only one that’s hurting?
*
Estávamos em minha casa e só chorava. Ela não conseguia nem falar direito. Em meio aos soluços, a única coisa que entendi foi: “... Eu... Adotada... Hoje... Escritório... Falaram... Correndo...”. Eu até pediria que ela me explicasse direito, mas pelo seu estado é melhor esperar. Além disso, só ficou repetindo “adotada... Adotada... Adotada...”.
Fui buscar para ela um copo de água com açúcar e, quando cheguei à cozinha, meu celular tocou. Era uma mensagem de .
“Tem notícias da ? Estou preocupado com ela...”
Respondi de imediato:
“Ela está aqui em casa chorando muito. O que aconteceu?”
Outro bipe:
“Ela descobriu que é adotada hoje de manhã. Não posso lhe contar os detalhes. Fico feliz que ela esteja contigo. Cuide da minha irmãzinha para mim. Ok? Não a deixe sair daí e, por favor, não conte que mandei essa mensagem.”
“Tudo bem... Qualquer coisa ligo... Xxx .”
Voltei para a cozinha, dei o copo para que me olhou com os olhos vermelhos e perguntou:
– Ouvi seu celular tocar. Quem era?
Dei de ombros.
– Só umas mensagens idiotas da operadora. Nada importante.
Ela assentiu e tomou a água. Abracei-a:
– Vai ficar tudo bem... Não se preocupe e não fica assim... Logo, logo tudo vai ser esclarecido.
– Quero falar com o .
– Tudo bem. Levo você para casa. Vamos – levantei-me.
deu um pulo.
– Não! Não quero ir para casa. Não quero.
– Quer que eu o chame aqui? – ela concordou com a cabeça e começou a chorar de novo. Enquanto a abraçava mandei uma mensagem para explicando tudo.
Quinze minutos depois...
Estava sentada no sofá, ainda abraçando , quando a campainha tocou. Olhei para minha amiga e percebi que ela tinha dormido. Sorri fraco, feliz por ela conseguir descansar um pouco. Com cuidado, encostei sua cabeça à almofada e fui abrir a porta. Era . Ele estava com os olhos vermelhos e me abraçou forte assim que abri a porta. Ficamos abraçados por um tempo até que ele respirou fundo e me soltou.
– Desculpe. Eu só...
– Sh – interrompi-o. – Não diga nada... Sei que você estava precisando disso e eu sou amiga. ‘Ta? Pode contar comigo.
Ele sorriu fraco e balançou a cabeça.
– Cadê minha irmã?
Apontei para o sofá.
– Dormiu.
Ele entrou e apontou para as escadas. Assenti e subimos. entrou no meu quarto e se sentou na cama, olhando-me triste.
– Quer me contar? – perguntei e ele concordou, dando duas batidinhas na cama. Fui até lá e me sentei, segurando sua mão esquerda. Ele fechou os olhos e respirou fundo. Quando os abriu, começou a falar:
– Há dois anos, achei uma carta no meio das coisas da minha mãe. Era da mãe biológica de . Fui correndo para os meus pais, com raiva, exigindo uma explicação. Minha irmã tinha ido passar o final de semana com você. Por isso não estava em casa – concordei, lembrando-me desse dia. Lembro-me de que os pais dela estavam mais nervosos que o normal. Até conversamos sobre isso, mas deixamos para lá. Ele suspirou e continuou. – Eles me contaram que era filha de uma ex-colega de trabalho do meu pai e de um colega de minha mãe. Ambos tinham perdido o emprego e não tinham condições de cuidar da criança. Quando ele se meteu com drogas e começou a bater na mulher e na criança, ela decidiu que não ficaria com o bebê por medo de o marido fazer algo. Em uma noite, bateu lá em casa e pediu para os meus pais cuidaram da menina e minha mãe, que não estava conseguindo engravidar novamente, aceitou e deu todo o amor do mundo a ela. Meu pai disse que eles nunca mais tinham ouvido falar dela... Insisti para contar tudo à , porém eles me convenceram de que ela não estava pronta para saber a verdade ainda. Essa semana minha mãe achou essa mesma carta de novo e decidiu que queria contar tudo para ela. Meu pai não concordou, contudo minha irmã acabou escutando tudo... E deu no que deu.
– Uau – foi a única coisa que consegui dizer.
– É. E você a conhece. Não dá para saber qual vai ser sua reação. Tenho medo de... Sei lá. Ela fazer alguma besteira. Sabe?
– Sei como é. Aquela ali é complicada mesmo. Quando enfia alguma coisa na cabeça não tem quem tire! – ri baixo, secando algumas lágrimas que tinham se formado em meus olhos. – Mas não se preocupe. Com um irmão como você nada vai acontecer com ela. Sério.
Ele sorriu.
– Puxa, obrigado.
– Imagine.
Ouvimos um barulho no andar de baixo. Olhei para .
– Vai contar tudo pra ela?
– Vou.
– Quer que eu a chame aqui para vocês conversarem mais tranquilamente?
– Por favor.
– Ok.
Desci e estava sentada me olhando.
– Está melhor?
Ela balançou a cabeça negativamente e com a voz fraca perguntou:
– Onde está o...?
– Seu irmão? Lá em cima esperando você. Vá lá. Vou deixar vocês conversarem.
Ela assentiu e me abraçou, murmurando um “obrigada”. Subiu rapidamente e fui em direção à cozinha. Sabendo como é quando está triste e sem saber bem como iria reagir a tudo, fiz alguns cookies com gotas de chocolate para ela. Preparei um suco de maracujá para acalmar e deixei tudo em cima da mesa.
Uma hora já tinha se passado e então eles desceram abraçados.
– ! – chamou e o olhei. – Convença a minha irmã a voltar para casa, por favor?
balançou a cabeça negativamente e eu soube do que ela precisava.
– Ela passa a noite aqui. Amanhã a gente resolve isso. Ok? E agora os dois venham aqui que eu fiz cookies.
– Com gotas de chocolate? – o olho dela brilhou.
– Sempre – sorri.
– Obrigada, . Você é a melhor amiga do mundo – saiu correndo.
Aproximei-me de .
– Como foi?
– Ah, ela até entendeu a história e tudo, mas quer sair de casa. Sei lá... Está com raiva dos meus pais por terem escondido isso dela. É mais por isso a revolta. Não é nem por ela ser adotada. É por meus pais e eu não termos contado. Principalmente eles.
– Aham.
– Então, preciso voltar para a casa dos meus pais. Eles devem estar loucos por notícias. Depois vou para o apartamento. Qualquer coisa é só me ligar.
– Ok – concordei e ele me deu um abraço, indo embora logo em seguida.
Fui para a cozinha e a quantidade de cookies já havia sido reduzida pela metade. Ri e só nessa hora notou minha presença.
– Isso está muito bom!
– Obrigada.
– já foi? – ela perguntou já mais séria.
– Já. Ele disse que qualquer coisa era só ligar.
– Ok. Ei, obrigada. Viu?
– Que nada. É para isso que servem as amigas. Certo? – falei, sentando-me ao lado dela e pegando um cookie. Estavam realmente bons. Só digo isso.
Comemos em silêncio.
– Ele lhe contou que não vou voltar para casa? – retomou o assunto de repente.
– Contou... Tem certeza?
– Tenho. Pelo menos por enquanto, para eu esfriar a cabeça. Não estou pronta para encará-los agora. É capaz de eu falar ou fazer alguma besteira.
– Quer ficar aqui comigo? Aqui tem três quartos e eu só uso um.
– Sério?
– Lógico, ué! Seria um prazer imenso ter minha diva aqui comigo!
– Então eu aceito o convite – ela sorriu.
– Quer assistir a alguma coisa para esfriar a cabeça?
– Tipo o quê?
– ! – falamos juntas.
Capítulo. 11 - Can you feel me when I think about you?
{Se quiser abrir em uma nova aba esse mapa para ir acompanhando, fica melhor. Qualquer dúvida você pode olhar. Ou não. Você que sabe! :D}
*
Abri os olhos sem saber onde estava. Dei uma olhada ao meu redor e reconheci a sala de . Subi na ponta dos pés e confirmei: ela ainda dormia. Fui até a cozinha e preparei um rápido café. Comi e resolvi fazer umas compras, caminhar um pouco.
Troquei de roupa e pendurei um lembrete na geladeira, avisando que iria sair. Peguei a chave do carro de e fui.
*
Ouvi um barulho de manhã, mas nem me dei ao trabalho de me levantar. Deveria ser , considerando que o Fred ainda dormia ao meu lado e não tinha latido. Voltei a dormir e acordei depois de algumas horas. Estranho... Eu tinha sonhado com . E foi um sonho bom. Não me lembrava como tinha sido, porém por algum motivo eu sabia que era com ele e estava sorrindo com isso. Que diabos está acontecendo comigo?
Depois de trocar de roupa e fazer minha higiene matinal, desci com Fred ao meu lado.
– ? – chamei enquanto ainda descia. – ?
Será que ela voltou a dormir?
Como não achei nem sinal da garota na sala, fui para a cozinha comer alguma coisa. Chegando lá, percebi um post-it na geladeira.
“Hey, bitch! Espero que você não se importe. Peguei seu carro emprestado e fui fazer umas comprinhas. Nem adianta me ligar. Não levei o celular. Volto no final do dia. Beijo.”
Que ótimo. Ela saiu. Com o meu carro. E tenho que ir ao supermercado ainda... Urgentemente, senão não terá almoço hoje. É sério. Não tem nem água aqui. Tinha um pouco de café e um pão (literalmente, só um. Não um pacote. Um mesmo.). E sei que comeu antes de sair, então estou sem nada. Que legal. O jeito vai ser ir a pé.
Depois de colocar comida e água para Fred, subi, troquei o short e peguei um tênis. Coloquei algum dinheiro e o cartão de crédito dentro do bolso, saindo logo em seguida.
Depois de andar duas quadras, cheguei à Starbucks. Tomei meu café (o mesmo que eu tinha tomado aquele dia com ... Depois que a gente... Ah, foi tão bom... Por que estou pensando nisso? Eu, hein!) e segui em direção ao supermercado.
Depois de muito andar, já morrendo de cansaço, cheguei. Comprei o mínimo possível, mas o estado da minha dispensa estava crítico. Então mesmo assim comprei muita coisa. Eram tipo umas vinte sacolas. Coloquei dez em cada braço e voltei pra casa, rezando para chegar lá viva.
Lembrete: matar a .
Passei na frente da Starbucks. Aleluia! Estou perto. Uma das alças de uma das sacolas arrebentou e, com um movimento ninja, consegui segurá-la. Porém, enquanto eu fazia isso, uma mulher cheia de sacolas esbarrou em mim, derrubando-me no chão com tudo.
– Caramba, desculpe-me! Eu a ajudaria, mas estou realmente atrasada! Desculpe-me! – a mulher falou, indo embora correndo.
Xinguei-a mentalmente e me preparei para juntar as sacolas e me levantar com o máximo de dignidade possível. Quando estava quase conseguindo, ouvi uma risada conhecida.
– Quer uma ajuda aí, moça?
Fuzilei-o com os olhos.
– ... Vai ficar aí rindo ou vai me ajudar?
Ele gargalhou mais um pouco, mas pegou as sacolas e me levantou.
– Obrigada.
– Você realmente tem um imã com pessoas, né? Não consegue ver alguém andando que você já se joga em cima! – ele gargalhava novamente.
– Engraçadinho – olhei para ele com raiva. Contudo, vendo-o rir, não consegui evitar rir um pouco também.
– Então para onde a madame estava indo com esse peso todo?
– Casa. Sua irmãzinha pegou meu carro e eu estava sem comida. E você, o que faz por aqui?
– Exercícios. Estou só correndo um pouco – parei para observá-lo. Ele usava uma blusa branca, um short cinza e uns tênis de corrida pretos. Também tinha um fone no ouvido e estava um pouco suado. – Meu apartamento não é tão longe daqui.
– É verdade – falei, lembrando-me vagamente de onde ele morava.
– Quer ajuda para levar essas sacolas até em casa?
– Por favor! – implorei.
– Ok, vamos – ele me encarou. – Está tudo bem mesmo?
– Sim. Estou acostumada a cair. Nem se preocupe – eu ri.
– Não sei por que, mas eu acredito! – ele riu também, começando a andar. Alcancei-o e ele me olhou. – Então como a está?
– Ah, está melhor. Saiu para fazer compras – ele arqueou a sobrancelha. – Essa é a defesa dela. Quando está estressada, triste ou preocupada com algo, sai para comprar. É como uma terapia – expliquei. – Eu até ficaria preocupada ou com raiva por ela ter pegado meu carro e ainda por cima não ter levado o celular, mas esse é um dia só dela. A estava precisando pôr as idéias no lugar. Sabe como é...
– Sei...
– Mas e você, como está?
– Ah, melhor. Só espero que ela não meta na cabeça que quer encontrar os pais biológicos, porque isso ia causar uma puta confusão com meus pais.
– Sério? – perguntei e ele concordou. – Mas então reze para ela nem pensar no assunto, porque você conhece a peça. Se ela coloca uma coisa na cabeça, não tem quem tire!
– Eu sei. Por isso mesmo estou preocupado. Se por acaso ela tocar no assunto...
– Eu aviso – interrompi-o. – Pode deixar. Chegamos – peguei a chave e abri a porta. entrou com Fred latindo loucamente para ele, fazendo-o rir, e apontei para a cozinha.
Seguimos até lá e ele largou as sacolas na bancada. Fui até a geladeira e peguei um pouco de água para nós dois. se sentou. Comecei a guardar as coisas e a fazer o almoço. Não sabia se ele ia querer ficar para almoçar, mas em todo caso não perguntei. Ele já estava aqui mesmo.
*
realmente sabe cozinhar. Essa é a melhor lasanha que já comi na vida.
– E aí? Aprovado? – ela perguntou e fiz “legal” com o dedo.
Comemos em silêncio.
Enquanto ela recolhia a mesa, comentei:
– Isso estava realmente extraordinário. Não sabia que você cozinhava.
– Pois é. Obrigada. E eu não sabia que no seu dicionário constavam palavras como “extraordinário” – ela brincou.
– Engraçadinha.
Meu telefone tocou. Era .
– Alô?
– ? – ele disse e eu ouvia gritaria no fundo. e . Certeza.
– Fale.
– Você não vem?
– Para onde?
- Para o ensaio, sua anta.
– Ensaio?
– É, ensaio. Não sei se você se lembra, mas temos uma banda chamada McFly. E temos um show amanhã. Lembrou-se, Bela Adormecida?
– Caramba, é mesmo! – tinha me esquecido completamente! O vai me matar.
– É muito lerdo mesmo.
– VENHA LOGO PARA CÁ! – gritou ao fundo.
– Estou indo! – falei, desligando.
– Algum problema? – perguntou.
– Nada demais. Só me esqueci completamente do ensaio da banda – ri. Ela pareceu confusa.
– Banda?
– Sim. Chama-se McFly.
– Nossa, que incrível!
– Pois é. Enfim, tenho que ir.
– Tudo bem – ela sorriu.
– Obrigado pelo almoço. Estava ótimo – fui até ela e dei um beijo em sua bochecha.
Estava saindo, mas o cachorro de (acho que era Fred o nome) começou a latir e pular, correndo à minha volta, pedindo atenção. Ele mal me conhece e já simpatizou comigo. Eu, hein. Fiz carinho nele e saí, acenando para a garota que gargalhava da loucura do cachorro.
Cheguei a casa, tomei um banho e segui para a casa de .
– Desculpem o atraso – falei, enquanto entrava.
– ‘Ta. Tanto faz. Vamos ensaiar logo. Ande.
– ! – veio correndo e pulou em cima de mim. Não sei por que ando com essa gente. Povo mais estranho.
– ! – gritei, pulando com ele em cima de mim. É, não tente imaginar a cena. Lembrei-me do porquê ando com essa gente. Sou igual a eles. É.
– Ô, casal, dá para vocês pararem de se agarrar um pouco para a gente ensaiar? – falou mal-humorado.
– Ah, ! Ele está com ciúmes – olhei para e o mesmo fez “ooown”, correndo para abraçar .
– Não precisa ter ciúmes, amor. A gente também ama você!
– Credo. Saia de cima de mim, seu boiola. Vamos ensaiar logo!
– Ok, ok – falei, gargalhando.
– Cadê o seu , ? – perguntou.
– Lá no seu quarto.
– Mas é muito burro mesmo! Vá buscar. Ande!
– Credo. Como vocês são estressados! Estou indo, estou indo! – ele saiu correndo e logo voltou com o instrumento.
– Vamos de qual primeiro? – perguntei.
– Smile?
– Um, dois, três...
To make it in this world.
You don't have to be skinny, baby,
If you wanna be my girl.
Oh, you just got to be happy.
But sometimes that's hard.
So just remember to smile, smile, smile
And that's a good enough start.
Capítulo. 12 - Just because I liked you back then, it doesn’t mean I like you now
*
Assim que terminei de lavar a louça, fui dar uma volta com o Fred. Só pra ele andar um pouco, eu só ia até a esquina da Starbucks e voltava.
Coloquei a coleira nele e saímos. O passeio foi normal, a não ser na hora que chegamos perto da Starbucks. Eu vi um homem entrando lá que parecia muito com o Adam. Mas não é possível, não podia ser ele. O dito cujo morava do outro lado da cidade, o que ele viria fazer aqui? Enfim, deixei para lá e voltei para casa, indo imediatamente deitar um pouco. Acho que eu durmo demais. Só acho.
*
Cheguei à casa de cheia de sacolas. Quase piso no Fred, coitado. Larguei tudo no meu quarto e fui ver onde a dona da casa estava. Dormindo, é óbvio. Melhor eu acordá-la, já está quase noite.
- ! – gritei, pulando em cima dela.
- QUE É, DEMÔNIO? NÃO VÊ QUE EU ESTOU DORMINDO? – ela gritou e eu caí na gargalhada.
- Vejo sim. Mas já está na hora da Branca de Neve acordar. – dei um tapa fraco em seu rosto e ela abriu os olhos, me fuzilando.
- Primeiro: sai de cima de mim. Segundo: Quem dorme é a Bela Adormecida, não a Branca de Neve. Terceiro: Se você me der um bom motivo para acordar, eu levanto. – fechou os olhos novamente.
- Vamos sair?
- Pra onde?
- Ah, qualquer lugar!
- Pode ser amanhã?
- ...
- ...
- Ok, amanhã. – me rendi e saí de cima dela. Eu também estava cansada. Fui para o meu quarto, me atirando na cama e caindo no sono imediatamente.
*
Já fazia horas que eu tinha acordado e nada da aparecer. Aquela ali não dormiu, desmaiou. Eu estava assistindo Vampire Diaries e consultei o relógio: quatro e meia. Nossa! Daqui a pouco eu vou acordar a dorminhoca, prometi que iríamos sair hoje.
Daqui a pouco eu subo. Vou ver só mais um episódio... Só um.
Duas horas depois...
Acabei olhando mais de um... Que horas sã... SEIS E MEIA?
Subi correndo e pulei em cima de .
- ACORDA!
Ela resmungou e virou pro outro lado.
- A gente vai sair, lembra? – falei e ela saiu da cama num pulo.
- É verdade. Vai se arrumar, eu vou me arrumar também.
- Ok. – falei, indo para o meu quarto.
Coloquei um vestido qualquer e um sapato preto, com uma maquiagem não muito forte. Desci e ainda estava se arrumando (óbvio).
20 minutos depois...
- Aleluia! – falei olhando para . – Eu já estava mofando aqui.
- Desculpa. Bateu uma dúvida. Está bom? – ela perguntou, olhando para si mesma. Encarei-a. Ela estava lindíssima.
- Perfeita. E eu? – levantei, dando uma voltinha.
- Nossa. Você está linda. – ela sorriu.
- Então vamos?
- Sim!
Deixei dirigir, já que ela escolheria o local.
Chegamos a uma boate não muito longe e também não tão lotada. Fomos direto dançar. mal piscou e já tinha um cara falando com ela. Tinham uns me olhando também, mas não dei atenção e continuei dançando.
Uma hora depois...
Eu já estava cansada e tinha sumido... Resolvi ir até o bar pegar uma bebida.
Chegando lá, sentei ao lado de um cara que não me dei ao trabalho de observar. Pedi a bebida que eu queria e ele disse:
- Dois, por favor. Por minha conta. – ele piscou para mim e o observei. Bonito, forte, cabelos não muito grandes, mas não muito curtos, alto. Gostei.
Sorri para ele e ele sorriu de volta.
- Então, como se chama?
- . Você? – o encarei.
- Jason.
- Aqui. – o barman entregou as duas bebidas. A minha tomei imediatamente. Jason imitou meu gesto.
- Quer dançar? – ele apontou para a pista de dança.
- Claro. – Por que não? Concordei e o segui.
Estávamos dançando quando apareceu, ao lado de um cara. Ela me chamou e eu dei um passo em sua direção, ainda com Jason atrás de mim.
- Amiga... – ela falou perto do meu ouvido, para ter certeza de que eu escutaria. – Posso pegar o carro?
- Já vai?
- Quer uma carona?
- Não, imagina! Vai lá, aproveita o cara, eu dou meu jeito pra ir embora. – eu ri e dei a chave para ela, me afastando. Vi a boca dela se mexer, mas não ouvi nenhum som. Acho que ela agradeceu.
Voltei a dançar com Jason.
Uma hora depois...
Meu acompanhante e eu estávamos no bar novamente. De repente, ele olha para mim e pergunta:
- Quer dar uma volta? – eu sorri, entendendo de imediato o que ele queria dizer.
- Claro. – me levantei. Fomos até o carro e ele abriu a porta para mim. Entrei e ele deu a volta, fazendo o mesmo.
Andamos em silêncio por um tempo, até que ele parou em um lugar que parecia um parque.
- Por que paramos aqui?
- Eu tenho uma coisinha pra resolver aqui. – ele falou simplesmente e eu não pude evitar ficar com um pouco de medo. – Vamos? – ele sorriu e eu relaxei um pouco, concordando com a cabeça. Ele deu a volta e abriu a porta para mim, me guiando pela mão. Chegamos até um banco, onde reconheci imediatamente a silhueta de costas para mim.
- Adam! – falei, completamente pasma.
- Pode ir, Jason. Obrigada. – ele falou. Tremi ao ouvir sua voz. Adam nunca foi uma pessoa calma. É muito cruel eu estar com medo dele? Lembrei da última vez que nos vimos.
# Flashback – Dois meses atrás
Eu caminhava tranquilamente pelo shopping, de loja em loja, tentando pensar em um presente para daqui a dois meses. Sim, eu penso nas coisas com muita antecedência ok? Enfim, entrei em uma loja de bolsas, olhei várias, mas nenhuma me interessou. Sai e andei mais um pouco, ficando paralisada ao ver ele. Adam. O cara com o qual eu tinha terminado há um ano. O cara que me traiu com mil mulheres, mas mesmo assim continuava comigo na maior cara de pau. O cara que me magoou tanto, mas tanto, que me faz me odiar até hoje e que tirou minha vontade de entrar em um relacionamento sério. Nunca mais namorei ninguém depois dele. O medo de ter o meu coração partido em pedacinhos de novo é tão grande, que só de pensar na palavra “amor”, me dá um arrepio. O cara que mesmo sendo um grosso comigo e me agredindo algumas vezes (como aquela vez que “sem querer” ele derrubou uma garrafa na minha cabeça e eu passei uma semana no hospital com ele do lado, fingindo estar arrependido. E eu, boba e apaixonada, acreditava. Que idiota), mesmo assim, eu amava. Sabe por quê? Porque eu era ingênua. É verdade. Adam foi meu primeiro namorado, mas o trauma de ser traída por ele foi tão grande, que eu não quero namorar de novo tão cedo... Sabe qual é a maior ironia dessa história? Ele era obcecado por mim. Ainda é. Ele pegava todas, mas meteu na cabeça que eu era dele e de mais ninguém. Essa obsessão era horrível. Eu não tinha ciúme das “amigas” dele. Mas ele? Tinha ciúme de tudo relacionado a mim. Tudo. Não entendo, de verdade, como é possível isso. Esse “amor” dele por mim. Era um amor virado ao avesso. Mas enfim, esse cara estava na minha frente. E a vontade que eu tinha de enforcá-lo era tão grande, que eu precisei respirar fundo antes de dar mais um passo em sua direção.
- Ora, olha quem temos aqui. ! Que bom te ver. – Adam falou, sorrindo. Ah, como eu odeio esse sorriso do fundo da minha alma.
- Adam. – falei, respirando fundo, bem fundo. – O que você quer?
- Ué, nada. Só conversar. A gente podia passar uma borracha em tudo que aconteceu e sair para curtir um pouco, né?
- Borracha? – meus olhos se encheram de lágrimas. Maldita raiva, maldita raiva que se manifesta nos meus ductos lacrimais. Porcaria. Respira , respira. – Borracha? Depois de tudo que você me fez, ainda tem coragem de me dirigir a palavra? Ainda mais de pedir para passar uma borracha? É sério isso? Você não tem vergonha não?
- Vergonha de que? Eu não fiz nada! – ele me olhou confuso.
- Ah, não? Então você nunca me traiu? Nunca me fez de idiota? Fingiu que gostava de mim, mas na verdade vivia com outras? – eu me esforçava para manter as malditas lágrimas dentro do olho, apesar de isso ser uma missão impossível.
- Ei! Eu sempre amei você, . E ainda amo. – ele me olhou e eu tive vontade de socá-lo. – E sobre as traições... Foi apenas um acidente de percurso. Meu destino sempre foi e sempre vai ser você.
- Como você tem coragem de dizer isso? COMO? – agora já era. Eu estava chorando. – Ah, me amava né? Bela maneira de demonstrar seu amor, bela maneira! – eu cuspia as palavras na cara dele, me controlando para não fazer nenhuma besteira. – Você me machucou muito, é verdade. Eu te amava, Adam. AMAVA! E o que você fez com esse amor? Deixou apodrecer em um canto, como se não valesse nada. E agora vem me dizer que me traiu e que isso foi um acidente? Sabe o que foi um acidente? Eu ter aceitado namorar você. ISSO SIM foi um acidente. E bem sério. Você me destruiu. Hoje eu tenho nojo de você, nojo e pena. Eu ODEIO você, Adam. ODEIO. Não OUSE falar comigo de novo. NUNCA! – eu gritava e percebia que as pessoas estavam olhando, mas eu não me importava. Eu precisava falar isso para ele ou eu iria ter um ataque.
Fiquei surpresa quando ele veio em minha direção e segurou meu braço com força. Muita força. Seus olhos demonstravam pura raiva.
- Como você se atreve a dizer isso? COMO? – ele também gritava.
- Você está me machucando.
- É pra machucar mesmo. É PRA MACHUCAR. Sua vadiazinha. Você não tem nenhuma noção mesmo. -
Um segurança se aproximou e (graças a Deus!) obrigou Adam a me soltar.
- Vou precisar pedir que o senhor se retire. – ele falou, já carregando ele para fora.
- VOCÊ É MINHA, . MINHA. E SE NÃO FOR MINHA NÃO VAI SER DE MAIS NINGUÉM. PODE ESCREVER. – e saiu.
# Fim do flashback
Meu braço ficou roxo por semanas depois daquele dia. E desde lá, nunca mais o vi. Até agora.
Ele se virou e veio em minha direção, me olhando com um olhar que eu posso descrever como diabólico. Eu estava realmente com medo. Raiva não, medo. Eu estava apavorada. Toquei com cuidado o bolso do meu vestido para ter certeza de que o celular estava ali. Fiquei aliviada quando percebi que estava.
- O que você quer? – tentei soar o mais natural possível.
Capítulo. 13 - Cause everything you say, everything you do is freaking me out
- O que eu quero? – ele apontou para si mesmo com ironia. – Foi você que veio até mim, querida.
- Não foi exatamente por vontade própria, se você quer saber. – falei, forçando minha voz a não tremer. Eu não deveria ter medo dele, mas realmente doeu o que ele fez no meu braço dois meses atrás.
- Ah, não foi? – ele me olhou novamente, incrédulo. - E você entrou naquele carro, saiu daquele carro e chegou até aqui como? Algemada?
- Se eu soubesse que aquele estúpido ia me trazer até aqui, nunca teria entrado naquele carro. E você sabe muito bem disso.
- O que importa é que você está aqui. Comigo. Como deve ser. – ele deu um passo em minha direção e eu recuei. – Sabe por que eu te chamei aqui? – ele disse. “Não foi exatamente um convite”, eu pensei, mas achei mais seguro ficar calada. – Eu recebi uma proposta de emprego na Espanha. É só um estágio, mas vou passar alguns meses lá. – “E eu com isso?” pensei novamente, mas não falei nada, só balancei a cabeça afirmativamente. – E é aí que você entra.
- Como? – dessa vez não me contive. Ele sorriu ao ver minha cara de espanto.
- Você vai comigo, como minha namorada.
- O que? Se você tá achando que eu...
- Shhh... Eu não disse que você tinha escolha... Disse? – confesso que fiquei apavorada com essa frase. Ele ia me seqüestrar, é isso?
- O que você quer dizer com isso? – perguntei relutante.
- Simples. Sua passagem já está comprada, nosso apartamento já está alugado, mobiliado e nós partimos amanhã as nove.
Meu cérebro demorou um pouquinho para processar a informação. Foi isso mesmo que eu entendi? Ele quer me levar para a Espanha? Como namorada? Amanhã?
- Você está sonhando se acha que eu vou concordar com tudo isso. – disse. Ele riu, se aproximando ainda mais de mim. Olhei em volta para ver se achava algum sinal de civilização, o máximo que consegui enxergar foi um barzinho duas quadras adiante. Eu o olhava completamente em pânico (graças a Deus que eu sou atriz e consigo fingir não estar tão apavorada) e ele apenas gargalhava.
De repente, o silêncio. E ele continuava chegando cada vez mais perto. Eu mal conseguia respirar. Ele tocou meu rosto com o polegar.
- Senti tantas saudades... – ele se aproximou, tentando me beijar.
- Sai daqui! – o empurrei, num impulso. E o olhar demoníaco tomou conta dele de novo.
- O que foi ? Eu sei que você ainda me ama... – Adam tentou me beijar novamente e mais uma vez eu desviei.
- Só porque eu gostava de você naquela época, não significa que eu goste de você agora.
- Eu sei que você sente minha falta... – ele continuou, ignorando minha última fala. – Eu também sinto a sua. – adivinha o que ele fez? Tentou me beijar de novo. Dessa vez eu só virei o rosto e o beijo atingiu minha bochecha. – Para de me provocar garota... – ele agarrou minha cintura e me puxou para perto, mas eu me soltei dele e saí correndo.
Ele correu atrás de mim, e por ser infinitamente mais rápido logo me alcançou, me prensando contra uma árvore com força. Minhas costas doíam. Ele beijava meu pescoço, e eu só gritava “Socorro”, na inútil tentativa de receber alguma ajuda.
- ME LARGA! – eu gritei e ele parou para me olhar.
- Está com medo de mim, princesa? Por quê? Eu nunca lhe faria mal.
- Você é doente, Adam. DOENTE.
- Sou doente sim. – ele riu alto, de tal maneira que me deu mais medo ainda. - Doente por você. POR VOCÊ! – ele gritou, abrindo os braços. Aproveitei a oportunidade para fugir, mas ele colocou o braço na frente bem na hora. – Está achando que vai pra onde, bonitinha? – ele segurou meus dois pulsos, com muita força. - Ainda temos algumas contas a acertar antes de irmos pra sua casa para você arrumar suas malas.
- Ti... Tipo o que? – eu o encarava, tentando não demonstrar nenhuma reação. Mas o tremor em minha voz não ajudava.
- Tipo recuperar o tempo perdido... – ele me beijou, soltando um de meus pulsos e levando a mão livre até a minha bunda.
Consegui posicionar meu joelho entre suas pernas e dei o chute mais forte que consegui. Não era forte o suficiente devido ao meu pânico, mas foi suficiente para Adam cair no chão gritando. Saí correndo, desesperada e entrei naquele bar que havia visto antes, indo correndo até os fundos e invadindo a cozinha.
- Ei, moça, você não pode ficar aqui. – um garçom veio até mim e disse, enquanto eu sentava no chão em um cantinho escondido da cozinha.
- Por... Por favor. Tem um cara atrás de mim. Eu fico só um pouquinho, já vou embora. Prometo. – eu tremia e estava com lágrimas nos olhos. Isso o deve ter convencido.
- Tudo bem. Só um pouquinho hein? – ele sorriu e saiu, logo voltando com um copo d’água na mão, que me entregou.
- O... Obrigada.
- Se cuida. – ele piscou e saiu.
Peguei o telefone no bolso do meu vestido e disquei o número de .
- Alô? – uma voz que não era a dela atendeu. Logo reconheci.
- O... Oi . – eu ainda tremia, mas sorri reconfortada ao ouvi-lo. Eu estava salva.
- ... O que houve? – ele parecia preocupado.
*
O show do McFly já havia terminado e minha festa particular também, se é que você me entende. Achei legal da parte da minha irmã dar uma passadinha aqui antes do show terminar. Só que a desligada deixou o telefone.
Minha acompanhante estava se vestindo, assim que o fez, foi embora.
Fui até a cozinha comer alguma coisa e quando cheguei lá, o telefone de tocou. Vi “ ” no visor e achei melhor atender.
- Alô?
- O... Oi . – a voz dela demonstrava alívio e ao mesmo tempo medo. Medo não, pavor. Fiquei preocupado.
- ... O que houve?
- Adam.
- Quem é Adam?
- Meu ex-namorado. – ah, o tal que causou um “trauma” nela ou algo do tipo.
- O que ele fez?
- Ele... Ah, foi horrível ! – ela começou a soluçar.
- Onde você está? Estou indo para aí. – fui correndo para o quarto e coloquei uma roupa.
Ela me deu o endereço e eu saí correndo pelas escadas.
- Ele chegou com uma coisa estranha de... Proposta de... Emprego... Na Espanha. E queria que eu... Fosse junto. – ela falava e, apesar dos soluços, eu conseguia entender perfeitamente. – Eu disse não e ele disse que eu não tinha escolha aí ele ficou tentando me agarrar... Tentando e tentando! – ela falava mais desesperada ainda. – Até que ele conseguiu. – após ouvir isso, uma raiva tomou conta de mim, raiva que eu não entendi de onde vinha. Cheguei até a garagem e entrei no carro, saindo cantando pneu. – E ele disse que depois dali a gente ia pra minha casa fazer as malas pra viajar amanhã! Mas aí eu consegui dar um chute nele e sair correndo, aí vim parar na cozinha desse bar. – ela suspirou.
Eu estava na metade do caminho e já devia ter levado pelo menos duas multas, mas eu não me importava. Não entendi por que eu estava tão absurdamente preocupado com essa garota, mas segui meu coração (que coisa mais gay) e fui correndo atrás dela.
já tinha acabado a história e só chorava.
- Olha só quem eu achei... – Ouvi alguém dizer. Presumi ser Adam.
- Estou chegando. – falei para e acelerei ainda mais o carro.
Depois de dois minutos, cheguei lá. Rodei o bar inteiro, a cozinha e nada de . Lembrei-me da conversa.
“E ele disse que depois dali a gente ia pra minha casa fazer as malas pra viajar amanhã!”
Entrei no carro e fui voando para a casa de .
Chegando lá, encontrei a porta escancarada. Entrei de fininho e ouvia Adam falando no andar de cima. Subi na ponta dos pés e espiei o quarto.
Adam pegava coisas no armário e atirava na mala, de costas pra mim. estava em um canto, totalmente amarrada, e pareceu aliviada ao me ver.
Fui na ponta dos pés até o banheiro e de lá liguei para a polícia, que me disse que chegaria em dez minutos.
É, agora é comigo.
*
Eu estava apavorada, amarrada em um canto no meu próprio quarto. Adam arrumava minha mala enquanto falava.
- Você achou que ia fugir de mim, né? Não, não, não. Nosso destino é ficarmos juntos e você sabe disso, minha princesa. Um dia você ainda vai me agradecer pela vida maravilhosa que nós vamos ter na Espanha. Você vai ver. – ele parecia um maníaco falando.
Olhei para a porta e vi um pedaço da cabeça de . Amém.
Ele sumiu, mas depois de cinco minutos que eu contei pelo relógio na cabeceira da minha cama, ele entrou no quarto, surpreendendo Adam.
- Quem é você, engomadinho? – ele estava com raiva.
- O que você quer, Adam?
- Eu vim buscar o que é meu por direito.
- ?
- Claro.
- Você é doente.
- Vocês de novo com essa história de doente. Sou doente sim! Doente por ela! – ele sorriu, com cara de louco.
- E você por acaso acha que vai ser feliz com ela lá? Assim, desse jeito? Ela tem medo de você cara, cai na real! – mexia as mãos enquanto falava, tentando convencer Adam a parar com essa loucura.
- Quando ela estiver comigo lá, na Espanha... – ele apontou para a janela. – Ela vai ser feliz, eu vou dar tudo que ela precisa, tudo. E um dia ela vai me agradecer.
Nessa hora consegui empurrar com a língua a fita adesiva que estava colada na minha boca.
- Não! Nunca, eu nunca vou te agradecer, seu doente! – falei e ele veio correndo em minha direção me fuzilando com os olhos, mas antes de ele chagar até mim deu um soco nele, o derrubando no chão. Adam grunhiu e logo se levantou, indo para cima de . Os dois caíram no chão e ficaram rolando de um lado para o outro, trocando socos. Eu só gritava.
Uma hora Adam levantou e pegou pela camisa, o atirando contra meu armário. bateu a cabeça e desmaiou. Eu via sangue no chão.
- O QUE VOCÊ FEZ ADAM? VOCÊ É LOUCO? PARA COM ISSO!
Ele veio até mim e me deu um tapa na cara.
- Cala a boca, minha princesa. CALA A BOCA.
- O que você vai fazer? – ele estava fechando a mala. – ADAM, O QUE VOCÊ VAI FAZER?
- Cala a boca. – ele falou, simplesmente.
Ele soltou minhas pernas da cadeira, mas deixou minhas mãos amarradas, me levantou pelo braço e com a mão livre pegou a mala. Enquanto descíamos eu me esperneava e gritava, tentando me soltar ou pelo menos ver como estava.
Adam me levava como um boneco, e me segurava com muita força. Eu nem sentia mais meu braço direito.
Quando chegamos lá na frente, tinham três carros da polícia parados, e cinco policiais com a arma apontada para a cara de Adam.
- Larga a garota e coloque as mãos aonde eu possa vê-las. – o policial do meio falou. Adam largou a mala, mas continuou me segurando.
- Não vou soltar. NÃO VOU. Vocês não têm o direito de me separar dela. NÃO TEM! – ele apertava cada vez mais o meu braço. – Conta pra eles, amor, conta. Conta como a gente é feliz, conta como a gente se ama. CONTA! – ele gritava, sorrindo como um louco.
- Você é um psicopata. – olhei para ele com nojo. – ME LARGA, ME LARGA AGORA! – olhei para os policiais, desesperada e com os olhos lacrimejando. – Façam ele me soltar, por favor, está doendo. E meu amigo está desacordado lá em cima, vejam como ele está, por favor, por favor! – eu já chorava.
- Chame uma ambulância. – o policial ordenou para o que estava ao seu lado. Ele olhou para Adam. – Largue a garota. Vamos conversar. Você não precisa fazer isso.
Decidi tentar convencê-lo eu mesma.
- Adam... – olhei para ele, enquanto sentia as lágrimas descendo pelo meu rosto desesperadamente. – Você está me machucando. Meu braço dói. Se você me soltar, vamos juntos para a Espanha. Como um casal. De mãos dadas. É isso que você quer? – ele balançou a cabeça afirmativamente. – Então solta o meu braço. Você está me machucando.
Ele parou de apertar tanto meu braço e desatou o nó que prendia meus pulsos. Imediatamente saí correndo para dentro da casa e Adam, gritando, tentou me seguir, mas foi preso pela polícia.
Fui até e a cabeça dele sangrava. Chorei, preocupada.
- ... ... Fala comigo, por favor. FALA COMIGO. – eu o balançava, mas não obtinha nenhuma resposta. Logo o enfermeiro chegou e o examinou.
- Ele vai ficar bem? – perguntei.
- Pelo que estou vendo sim. O corte causado pela pancada no armário não foi muito fundo. Mas ele vai precisar ir para o hospital. E você também. – ele falou, olhando para o meu braço. Olhei também e fiquei surpresa com o que vi. Meu braço estava extremamente vermelho e em alguns pontos estava ficando roxo. Aquele hematoma iria ficar feio. Bem feio. E doía muito.
Olhei para meus pulsos, e o local onde estava a corda que me amarrava tinha vários cortes e sangrava.
Chegaram mais dois enfermeiros que colocaram em uma maca e o levaram, o outro me conduziu até a ambulância.
Entramos na ambulância e o enfermeiro examinou meu braço, passou alguma coisa nele e disse para eu não mexê-lo muito.
Flashes do que tinha acontecido começaram a passar pela minha mente e tudo ficou escuro.
Capítulo. 14 - Every morning I wake up to find I always dream the same
Acordei num pulo, como sempre. O mesmo sonho. Eu sempre sonho com a porcaria do acidente que matou meu pai quatro anos atrás. Todos os dias. Salvo aquela manhã que sonhei com . Mas foi a única exceção em todos esses anos.
Eu não aguentava mais.
E mesmo depois de tanto tempo sonhando a mesma coisa, o sonho sempre me afetava da mesma forma. Eu acordava apavorada e com lágrimas nos olhos. Lágrimas essas que eu sequei rapidamente para saber onde estava.
Hospital? Mas o que...
Ah, claro. Adam.
Eu ainda estava com a mesma roupa, mas sem as pulseiras e com uma agulha enfiada no braço. Desviei o olhar no mesmo instante. Odeio agulhas.
Procurei um botão para chamar algum enfermeiro. Apertei-o e em questão de segundos uma senhora loira apareceu.
- Olha só quem acordou. – ela veio em minha direção e parou ao meu lado. – Como se sente querida?
- Eu estou bem. Faz quanto tempo que estou aqui?
- Apenas uma hora. Você só teve uma crise nervosa, devido ao susto. O soro em seu braço é só por precaução. – ela anotou algo na prancheta em sua mão. - Preciso que você me diga seu nome e o de seu amigo, para ligarmos para algum parente. Não achamos nenhuma identificação com nenhum de vocês.
Amigo? Dei um pulo.
- ? Como ele está?
- Calma, ele está bem. Só está dormindo, mas já fizemos o curativo e ele acordará em breve.- ela sorriu. – Os nomes, por favor.
- Sou . Meu amigo se chama . Posso ligar para a irmã dele, , para avisá-la que estamos aqui?
- Claro. Mas acho melhor eu ligar. Dê-me o número que eu vou lá na recepção fazer a ligação. – falei o número e ela anotou. Se virou para sair, mas eu a chamei.
- Ei! – ela se virou para mim. – Posso ir vê-lo?
Ela veio em minha direção e tirou com cuidado a agulha de meu braço, colocando um algodão no local onde a mesma estava.
- Agora você segura o algodão aqui por alguns minutos. Pode ir vê-lo sim. Seu quarto é o 313.
Levantei-me e fui, sem esquecer de segurar o algodão.
Entrei no quarto com cuidado e dormia. Sentei-me na poltrona ao lado o mais silenciosamente possível, mas mesmo assim ele abriu os olhos.
- Desculpa, não queria te acordar. – falei, culpada. Ele riu fraco.
- Eu não estava dormindo, só tinha fechado os olhos. – ele sentou na cama. Comecei a rir.
- O que foi?
- Nada... É só que esse curativo em volta da sua cabeça ficou engraçado. – ri mais um pouco e ele me acompanhou. – Hey... – falei e ele me olhou. – A enfermeira ligou para a
... Mas antes dela chegar eu queria te pedir uma coisa.
- Diga. – ele sorriu, curioso.
- Sobre o que aconteceu hoje... Não fala para a que foi o Adam, por favor.
Ele me olhou confuso.
- Ué, por quê?
- É que... A gente se conhece há quase um ano, ela ainda não era minha amiga quando terminei com o Adam. E por isso ela não sabe disso. Se eu contar que tudo que aconteceu hoje foi culpa dele, ela vai querer saber de tudo e... Eu ainda estou muito magoada, não queria revirar essa história agora. Deixa o trauma passar e eu conto tudo pra ela. Prometo. – olhei para ele, implorando. Eu não queria reviver essa história agora. – Eu sei que não é justo com ela, mas também não é justo comigo me fazer lembrar de tudo. Ainda dói saber que meu ex-namorado, que eu amava, ou pelo menos eu achava que sim, é um psicopata. Então, por favor, faz isso. Não conta nada pra ela agora. Por favor.
- Por mim tudo bem. Mas o que você pretende dizer pra ela?
- Que invadiram minha casa e tentaram me sequestrar. – dei de ombros.
balançou a cabeça afirmativamente e nessa hora entrou com tudo no quarto.
- ? – ela respirou fundo quando o viu. – ! – ela veio me abraçar. – Você quer me matar, sua mula? – ela me deu um tapa fraco no ombro. - Fui no seu quarto agora e você não estava lá.
Comecei a rir.
- Desculpa.
- Ah, você vai ver primeiro a sua amiga né? Irmã ingrata. – apontou para mim, fazendo rir e ir até ele.
- Aw, irmãozinho, você sabe que eu te amo. – ela apertou sua bochecha. Gargalhei. – Então, qual dos dois patetas vai me contar o que aconteceu? Eu não estou tendo um treco agora porque estou vendo que os dois estão bem, mas eu quero saber o que houve.
- Invadiram minha casa e tentaram me seqüestrar. – dei de ombros novamente. ficou um tempo de boca aberta me encarando. – Fecha a boca senão entra mosca. – brinquei.
- Ah, e você fala isso na maior calma?
- O que? É verdade, poxa! Minha mãe já engoliu uma mosca assim, sabia?
- Não estou falando da mosca, . – ela me olhou de modo ameaçador.
- É, pois é. Tentaram me seqüestrar. – doía em mim mentir para . Doía mesmo. Mas doeria mais falar de Adam agora.
- E o que meu irmão tem a ver com isso?
Ah, merda.
- Ele estava... – eu comecei a gaguejar, mas me interrompeu.
- Indo ver se você estava em casa, porque esqueceu o celular comigo.
- Exatamente! – suspirei aliviada.
- Aí eu meio que... Briguei. – ele falou e gargalhou.
- Você brigando com um sequestrador... Eu precisava ter visto isso!
- O que é isso? – apontei para uma vasilha em cima de uma mesa ao lado da cama.
- Uvas. – sorriu, triunfante.
- Você pediu... Uvas? Em um hospital? – perguntei, me segurando para não rir.
- Qual o problema? Eu gosto de uvas. E a enfermeira perguntou se eu queria alguma coisa.
- Típico. – falou, rindo.
Fui em direção à vasilha, ainda rindo, e peguei-a, mas colocou a mão na frente, o que fez a vasilha virar um pouco, derrubando algumas uvas.
- REGRA DOS CINCO SEGUNDOS! – gritou e todos nos jogamos no chão, pegando a máxima quantidade de uvas possível.
Quem visse de fora ia achar a cena mais bizarra do mundo três adolescentes jogados no chão catando uvas. Mas nós simplesmente não podíamos deixar todas aquelas uvas estragarem.
Depois de todas as uvas salvas em tempo recorde, sentamos no chão, gargalhando.
- Eu não acredito que a gente fez isso. – ria escandalosamente.
- Pelo menos salvamos as uvas. – falou, colocando umas quatro na boca.
- Verdade. – tive que concordar. Aquelas uvas estavam realmente boas.
- Licença... Ahn... – a enfermeira nos assustou.como eu não ouvi ela entrar? Ela é ninja, oh God. [n/a: 1bj Camila] – Senhor... – ela checou a prancheta. – . Vim aqui dar a sua alta. Como está se sentindo?
A essas horas já tinha levantando e nós também.
- Estou bem. – ele sorriu, balançando a cabeça.
- Vou precisar só trocar seu curativo mais uma vez e você está liberado. Ok?
- Ok.
- A gente vai voltar pro outro quarto. Licença. – falou, me puxando para fora.
Fomos para meu quarto novamente.
- Ei. – apontou para mim assim que sentei na cama. – Eu não comprei a história do “invadiram minha casa”, – ela fez aspas no ar. – mas como te conheço, sei que tem um bom motivo pra mentir pra mim. Só quero deixar bem claro que um dia você vai me contar.
Sorri fraco, balançando a cabeça afirmativamente.
- Você é a melhor amiga do mundo.
- Aw. – ela veio até mim e me abraçou forte. Segurei o choro. – Só quero que você saiba que seja o que for eu estou do seu lado sempre. Ok?
Balancei a cabeça, concordando.
Ouvi alguém entrando e me soltei do abraço. Era a mesma enfermeira.
- Olá novamente. – ela sorriu. – Já liberei seu amigo e ele espera as duas lá na recepção. Você está livre também, ok? Pode ir, só assine um papel lá na recepção antes de ir embora.
Ela saiu e nós fomos logo em seguida.
Capítulo. 15 - So breathe in, [...] breathe out.
Acordei sentindo cheiro de panquecas. Pulei da cama e fui correndo pro banheiro, fazendo minha higiene matinal. Coloquei uma roupa qualquer e desci, encontrando na cozinha, super alegre, fazendo panquecas.
- Desde quando você sabe fazer panquecas? – perguntei, surpresa.
- Desde que tem a receita colada na sua geladeira. – ela riu, olhando pra mim, mas logo voltando a prestar atenção na comida.
- É verdade. Pesquisei na internet e colei aí para não esquecer de tentar fazer. – eu ri.
- Prontinho. – ela bateu palmas, rindo. Colocou tudo num prato e pôs na mesa. – Vai lá, vê se está comestível.
- Eu não! Você que cozinhou, você experimenta. Vai que está envenenado? – falei, rindo e ela mostrou a língua para mim, pegando uma panqueca e mordendo com tudo.
5, 4, 3, 2, 1...
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! QUENTE, QUENTE, QUENTE! – ela foi correndo para a pia, enfiando a cara lá em baixo e ligando a torneira. Eu só gargalhava.
Peguei um garfo e comi um pedacinho da panqueca. Estava realmente deliciosa.
- Humm... Isso está ótimo. – falei e voltou para a mesa.
- Acho bom que esteja mesmo viu. – ela pegou o garfo e comeu um pedacinho bem miserável. – Humm... Está mesmo ótimo. Mas eu estou traumatizada e vou comer só isso mesmo. – ela levantou e foi fazer um achocolatado com o leite bem gelado. Eu ri.
Comi o resto das panquecas na maior calma e depois subi para o meu quarto. Chegando lá, peguei o celular para ver as horas e percebi que tinha uma ligação perdida do . Liguei de volta. Ele atendeu no segundo toque.
- Bom dia.
- Bom dia. Já comeu muitas uvas hoje?
- Rá, rá, como você é engraçada. Tenho boas notícias. Quer dizer, eu acho.
- Diga.
- Adam foi preso.
- Jura? Como você soube?
- Me ligaram da polícia hoje cedo, avisando. Eu e você precisamos ir lá depor ainda, mas como foi comprovado que ele é obcecado por você e o próprio disse que tentou te seqüestrar, ele já está atrás das grades.
- Nossa. – fiquei surpresa. Não imaginei que fosse assim tão rápido.
- Pois é. Então, eu marquei com o delegado às três horas. Quer que eu te busque aí ou a gente se encontra lá?
- Eu meio que não sei onde é...
- Beleza então, duas e meia estarei aí na frente. – ele falou, desligando.
Duas e meia. Ok. Agora são dez horas, tem tempo ainda.
Meu telefone tocou. Era Mike.
- Olá.
- Bom dia, flor do dia.
- E aí? – falei, rindo.
- Tem algum compromisso agendado para hoje, senhorita?
- Agora?
- Sim, nesse exato minuto.
- Não. Só às duas.
- Ótimo. Arrume-se e vem pro estúdio que a gente tem que fazer prova de figurino.
- Ok. Estou indo.
- Estou esperando, beijo! – ele disse e desligou.
Troquei de roupa e fui para lá.
Assim que entrei, vi indo para uma sala. Eu ia chamá-lo, mas ele estava muito longe. Mike veio em minha direção.
- Olá. – ele me abraçou, me rodando no ar.
- Oi. E ai, onde é?
- Vem comigo. – ele me puxou para uma sala.
Uma hora e 45 minutos depois...
Eu já tinha experimentado umas trezentas roupas, quando entrou na mesma sala que eu.
- Terminamos com você, . Agora é a vez do . – a figurinista falou.
- ? Você já fez o teste?
- Sim, hoje. Algumas horas antes de falar contigo.
- E porque não me contou? – falei, sorrindo.
- Queria fazer suspense. – ele riu.
- Ok, . Vamos. – Mike me puxou para fora da sala, fechando a porta atrás de si.
- Ainda temos muita coisa para arrumar. As filmagens começam em uma semana, ok?
- Ok. Posso ir embora? Estou com fome.
- Pra variar né... – ele riu. – Pode.
Saí praticamente correndo para o carro e fui direto para casa. Sim, eu estava realmente com fome.
*
Fui fazer o almoço. Eu precisava pelo menos fazer alguma coisa, já que tinha me deixado morar com ela.
Ainda bem que eu sei cozinhar, viu... Porque limpar a casa não é pra mim.
Fiz uma lasanha, que eu particularmente amo.
chegou em casa gritando.
- TENHO FOME. – ela veio correndo até a cozinha. – COMIDA?
- Mim . – apontei para mim. – Você . – apontei para ela. – Mim fazer comida. Comida pronta. Comida lasanha. Comida na mesa. – apontei para a mesa e ela riu, me dando língua e indo para lá.
*
Duas horas e trinta minutos depois...
Saí do banho e fui direto procurar uma roupa. O que as pessoas costumam usar em delegacias? De qualquer forma, peguei uma roupa relativamente simples.
Depois de pronta, desci e tinha dormido enquanto assistia Vampire Diaries. Ri enquanto desligava a TV.
Fui para a cozinha tomar um pouco de água, bebi e assim que saí de lá meu celular tocou. Era .
- Alô?
- Oi! Estou chegando, está pronta?
- Sim.
- Ok, cinco minutos e eu estou aí. – ele falou e desligou logo em seguida.
E em exatamente cinco minutos, ele chegou.
Entrei no carro sem dizer nada.
- Pronta? – ele me olhou.
Respirei fundo e confirmei com a cabeça.
20 minutos depois...
estava a algum tempo dando depoimento e eu já estava criando raiz aqui nessa sala de espera. E depois dele seria eu lá... O que eu vou dizer para eles? Respirei fundo. A verdade. Vou dizer somente a verdade. Não é como se eles fossem colocar na primeira página do jornal isso nem nada do tipo, então eu não tinha motivos para esconder nada. Certo?
A porta se abriu e um sério saiu por ela, sentando ao meu lado.
- . Por favor, me acompanhe. – o delegado me chamou, voltando para dentro da sala.
Respirei fundo mais uma vez.
- Minha vez. – falei, sorrindo fraco para . Dei um beijo em seu rosto e segui o caminho de onde ele acabara de voltar.
*
Eu folheava um jornal qualquer apenas passando os olhos pelas linhas, mas sem realmente ler nada. Eu esperava sair daquela sala, já havia passado uma hora e ela continuava lá dentro. Minha paciência estava acabando. O que será que eles tanto falam? Comigo foi mais rápido. Se bem que ela tem mais o que dizer... Não entendo o que uma garota como ela viu naquele cara... Sério. Ele pode até ser “bonitinho” (não estou dizendo que ele é. Estou dizendo que pode ser. Entenda, por favor.), mas um cara como aquele transborda descontrole. Como ela não percebeu que ele era um maluco obcecado? Ah, já sei. Ela estava apaixonada. Porque as garotas quando se apaixonam ficam tão burras e cegas? Chega a dar raiva um negócio desses. Ainda bem que eu nunca me apaixonei. Não que eu seja uma garota... Ah, você entendeu.
A porta abriu. Aleluia!
Uma de olhos vermelhos passou por ela e o simpático (ou não) delegado veio logo em seguida. Ele apontou para a secretária.
- Milly? - ela o olhou. – Arrume um copo de água com açúcar para a senhorita , sim?
- Sim senhor, é pra já. – ela levantou da cadeira e foi até uma porta do outro lado da sala de espera onde se lia “Entrada restrita. - Apenas pessoal autorizado”. Em menos de um minuto voltou, com o copo em mãos. Entregou-o para , que murmurou um fraco “Obrigada”. Tão fraco que se eu não estivesse olhando para ela nessa hora, nem teria percebido. Há essas horas o delegado já tinha desaparecido.
Ela tomou a água e largou o copo no balcão. Olhou para mim e seus olhos encheram de lágrimas novamente. Fui até ela e a abracei o mais forte que pude.
- O... Obrigada, . Por tudo, mesmo. Eu não sei o que seria de mim agora se não fosse por você. – ela falou, num fraco sussurro.
- Nem se preocupe com isso, ok? – falei, dando um beijo em sua testa. Por que eu me importo tanto com essa garota? Sério. Parece que a conheço a minha vida inteira. E a gente se conheceu há seis dias. SEIS DIAS e eu já me preocupo com ela como se... Sei lá. Credo, que confusão. – Quer ir dar uma volta, esfriar a cabeça? Aí você me conta como foi a conversa com o senhor simpatia.
Ela riu fraco e se soltou do abraço, respondendo a minha pergunta apenas com um aceno.
Entramos no carro e fomos o caminho todo em total silêncio. Levei-a até uma praça onde eu ia com meu pai quando era menor. Era pequena, tinha só uns quatro bancos e um parquinho, mas era bem calma e agradável.
Sentamos em um banco bem na frente do parquinho e ficamos alguns minutos só observando. Subitamente, começou a falar.
- Eu contei tudo pra ele... Quer dizer, quase tudo... – ela riu de uma piada interna. – Ele falou que desde o começo Adam demonstrava desequilíbrio, só eu que não percebera. Que ele tentava passar não para mim, mas para ele mesmo, que era o namorado perfeito. Ele queria ser o namorado perfeito, para talvez superar o fato de que o pai dele traiu a mãe. Mas ele não conseguia atingir esse modelo de perfeição, e acabava fazendo o mesmo que o pai, mesmo sem querer. – ela suspirou. - Esse delegado foi o mesmo que interrogou o Adam e ele sabia mais que eu sobre a vida do meu próprio ex-namorado, acredita? – ela sorriu, cômica, mas quando me olhou percebi que uma lágrima solitária tinha escorrido por sua bochecha. Ela limpou-a imediatamente. – Ele ficava com raiva de si mesmo quando via que tinha se transformado no próprio pai e me via como uma “cópia” da mãe dele. Então fazia comigo tudo que ele achava que o pai dele poderia ter feito, mas não fez. Começou a construir um “mundinho perfeito”, – ela fez aspas no ar. – onde eu, a namorada iludida, era a mais feliz do mundo, saindo com ele para tudo quanto é lugar e recebendo os melhores presentes. E ele, se sentia feliz, achando que com esses presentes estaria me compensando pelas traições que continuavam acontecendo. Quando eu deixei de ser idiota e percebi que ele me traía, comecei a falar para ele tudo e mais um pouco e terminei o namoro. – ela balançou a cabeça rapidamente, como se quisesse afastar as lembranças desse dia. – E eu acabei, sem querer, usando a mesma expressão que a mãe dele usou, quando saiu de casa: “Até nunca mais.”. Isso o enlouqueceu, ele reviveu toda aquela história na mente dele e ficou por meses arquitetando um plano para me ter de volta. Como se isso fosse possível. – ela riu, de maneira debochada. – Quando ele finalmente conseguiu um emprego fora do país, achou que era a hora. Quando eu o afastava, ele achava que eu estava testando-o, para ver se ele desistiria de mim, como se eu estivesse pedindo uma “prova de amor” ou algo do tipo. Sabe o que ele disse pro delegado? – ela me olhou, com um meio sorriso molhado por algumas lágrimas. – Que não tinha a intenção de me machucar. Ok. Como se eu fosse assim tão idiota. – ela balançou a cabeça negativamente e voltou a olhar as crianças. Como percebi que ela não falaria mais nada, perguntei o mais delicadamente que consegui:
- Você o amava?
Ela não demonstrou nenhuma reação, cheguei a considerar que não tivesse me escutado, mas não me atrevi a repetir a pergunta.
Um minuto depois, ela suspirou e respondeu:
- Na época, eu achava que sim. Mas agora não tenho mais tanta certeza. – ela levantou. – Podemos ir?
Concordei com a cabeça e a segui até o carro.
Capítulo. 16 - Home is where the heart is
*
me levou até em casa e eu fui fazer alguma coisa para jantar. Logo chegou do trabalho (ela era gerente de uma Starbucks do outro lado da cidade) e comemos. Depois de assistir Senhor dos Anéis (o Ian McKellen é simplesmente genial, só digo isso) fomos dormir.
Acordei com alguém pulando em cima de mim. Vi minha Mery sorrindo, deixando aparecer àquela linda covinha do lado direito, e a abracei imediatamente.
- Oi bebê, que saudade! – eu a balançava de um lado pro outro e ela só ria. – Você e a mamãe voltaram e ninguém me avisa?
- Surpresa! – ela falou, com aquela voz fofa e angelical.
Meredith (Mery, para os íntimos) é minha irmã, ela tem quatro anos e foi com a minha mãe na última viagem. Ela é absolutamente perfeita. Têm as bochechas rosadas, uma covinha do lado direito, tem um cabelo ruivo (liso na raiz, mas com aqueles cachinhos nas pontas. Tem também aquela franja fofa cobrindo toda a testa).
apareceu.
- Bom dia, dorminhoca. – ela falou. Mery começou a rir e ficou cantando “dorminhoca, dorminhoca”.
- Bom dia. – coloquei a pequena na cama e fui até o armário, pegando um short jeans e uma blusa qualquer. Olhei para a . – Cuida dela pra mim só enquanto eu escovo os dentes e troco de roupa? – ela fez um sinal de positivo e eu entrei no banheiro.
Escovei os dentes e troquei de roupa, quando voltei para o quarto estava fazendo cócegas na Mery, que ria muito.
- Vamos descer? Estou com fome. – as duas pararam e levantaram, indo até a porta sem parar de rir.
Chegamos lá em baixo e minha mãe estava preparando a mesa.
- Mãe! Não precisa arrumar isso.
Ela veio até mim e me abraçou, rindo.
- Você sabe que eu adoro cozinhar, e não custa nada colocar a mesa.
- Podiam ter avisado que estavam chegando!
- Sua irmã quis fazer surpresa. – olhei para Mery, que deu língua para mim.
Uma hora depois...
- Sô? – Mery me puxou pelo braço, usando o apelido que só ela usava. – Vai comigo no parquinho?
- Pode ser daqui a pouco? – falei, preguiçosa e ela cruzou os braços.
- Não, agora!
- Tudo bem. Agora então. Vai só avisar a mamãe que a gente está saindo enquanto eu pego um sapato.
- Está bem... - ela saiu, saltitando e eu fui até o quarto pegar uma sapatilha mais confortável. Quando voltei para a sala Mery já estava pronta, com Dolly (uma boneca que ela tem desde que nasceu) nos braços. Fomos de mãos dadas e a pé até o parquinho, chegando lá ela foi correndo para o parquinho e eu sentei em um banco qualquer, ao lado de uma garota de mais ou menos a minha idade.
- Sua irmã? – depois de uns quinze minutos em silêncio ela falou, apontando para Mery, que já brincava com uma garotinha loira que tinha mais ou menos a sua idade.
- Sim. Sua? – apontei para a outra menina.
- Sim. Incrível como a Jolie e a sua irmã fazem amizade rápido. - ela sorriu, olhando para mim. – Sou . – ela estendeu a mão e eu a apertei.
- . E aquela ali é a Meredith.
- Que nome lindo.
- Também acho. Minha mãe passou meses escolhendo. – eu sorri. – Jolie também é um nome lindo. – falei, sincera.
- Obrigada. Fui eu quem escolheu.
- Jura? – perguntei, e ela concordou com a cabeça.
- Depois de muito insistir, minha mãe deixou que eu escolhesse. Fiquei empenhada nessa tarefa por semanas, até que vi esse nome e finalmente decidi. – ela riu.
Meredith veio correndo com Jolie, as duas já sujas de terra.
- Sô... – ela puxou minha mão, pedindo atenção. Olhei para ela. – A Jolie pode ir brincar lá em casa?
- Claro que pode! É só decidir um dia. Tudo bem por você, ?
- Tudo sim. Só que amanhã a gente não pode, depois da aula eu tenho um trabalho pra fazer e a Jo tem médico.
- Sábado então?
- Pode ser.
- Pode ser Mery?
- Sim! – ela falou, pulando.
- Então está combinado. – tirei meu celular do bolso e dei para . – Anota seu número aí. – ela pegou o celular e me entregou o dela. Salvei meu número e devolvi o celular a ela, que fez o mesmo. Guardei o meu novamente no bolso. – Você está imunda, pequena. Vamos voltar pra casa. – levantei, pegando minha irmã pela mão e acenando para e Jolie. – Até depois de amanhã!
- Até. – ouvi Jolie responder.
Chegamos em casa e minha mãe tinha ido comprar pizza (não entendo o problema de usar o telefone. Mas ela é meio contra a tecnologia, vai entender), então tive que ajudar Meredith no banho. Quando terminei de vesti-la, deitei-a na minha cama e contei para ela uma história. A menina ainda prestou um pouco de atenção, mas acabou se rendendo ao cansaço. Cochilei um pouco (pelo menos eu acho) e acordei com o barulho da porta da casa sendo batida.
- Mãe? – gritei, indo para perto da porta.
- Ainda não. – gritou de volta. Desci as escadas, encontrando uma totalmente exausta atirada no sofá. – Ser gerente dá muito trabalho, sabia?
- Hoje é dia 26 de outubro, querida, novembro está logo aí, você vai ver só o que é trabalho quando chegar a alta estação.
- Nossa, quando foi que você ficou tão esperta? – ela falou, irônica.
- Esperta eu sempre fui, querida. Só não queria te humilhar com o meu QI altíssimo. – falei e ela riu, debochada.
- Até parece. Cadê o resto das pessoas dessa casa?
- Minha mãe saiu e minha irmã desmaiou lá em cima.
- DESMAIOU? MEU DEUS, ELA ESTÁ BEM? – ela levantou num pulo, me fazendo gargalhar.
- Eu quis dizer que ela está dormindo, esperta.
- Você e suas charadas... – ela falou, indo em direção à cozinha.
Minha mãe chegou nesse mesmo instante, trazendo consigo duas pizzas e uma sacola.
- Nossa, foi comprar pizza aonde? Na Austrália?
- Engraçadinha você. – ela falou, apertando a minha bochecha e me entregando a sacola. Olhei o que tinha dentro e vi algumas roupas de Meredith. – Eu fui buscar também algumas roupas da Mery, já que ela pediu para passar sexta e sábado com você. Algum problema?
- Não, mãe, claro que não, imagina. Eu vou adorar. Mas e você? Por que não fica também?
- Não posso querida, ainda preciso desfazer as malas. Vou só jantar com vocês e volto para casa. Sua irmã está lá em cima?
- Sim. – falei e ela subiu, me entregando as duas pizzas.
- Pizza, eu ouvi... – chegou correndo e ficou quieta quando viu as duas embalagens na minha mão. – PIZZA! – ela correu até mim, abriu a caixa e tirou uma fatia de lá, dando uma enorme mordida nela.
- Você vai comer com a mão?
- Desculpa, mas é pizza. E eu lavei as mãos, ok?
Ri e fui até a mesa, deixando as pizzas lá e indo até a cozinha pegar os pratos. Coloquei a mesa e minha mãe desceu com Mery.
O jantar foi ótimo, contei à minha mãe sobre o filme e ela ficou super feliz; Meredith falou sobre a nova amiga; minha mãe contou tudo sobre a viagem e contou algumas histórias engraçadas que aconteceram no trabalho.
Realmente Dorothy, não há lugar como a nossa casa.
Capítulo. 17 - Baby let me take care of you
Durante a manhã de sexta-feira fiquei no parquinho com Mery, à tarde fizemos bolo (e bagunça, vale ressaltar) e assistimos a A Fantástica Fábrica de Chocolate. Depois ela me contou, do próprio jeitinho, como tinha sido a viagem e tudo de legal que ela tinha visto. A maneira como minha mãe conta é totalmente diferente da maneira como minha irmãzinha conta. Crianças têm um ponto de vista tão único e mágico. Eu parecia ouvir uma história de conto de fadas, pois, por exemplo, aquele espetáculo teatral definido pela minha mãe como “sofisticado e sutil”, para Mery foi “um lugar cheio de princesas que dançavam e contavam coisas engraçadas”. Depois da história nós duas comemos um sanduíche (depois de alguns minutos chegou e comeu um também) e fomos dormir.
Horas depois...
Acordei com um barulho estranho, olhei no relógio e ainda era de madrugada. Levantei-me da cama com o cuidado de não acordar Meredith e ouvi com mais atenção o barulho lá fora, reconhecendo a música Astronaut, do Simple Plan. Alguém cantava, eu iria ignorar e voltar a dormir, mas percebi a “música” perto demais. Observei da janela e vi um homem sentado na soleira da porta da minha casa. Achei muito estranho e continuei olhando. Até que o maluco olhou para cima e eu o reconheci.
- ? – sussurrei indo correndo para a porta de entrada e abrindo-a sem o menor cuidado, assustando-o.
- . – ele sorriu levantando-se e tentando me dar um abraço.
- Você está bêbado. – afirmei sem paciência. – Venha, entre. – puxei-o para dentro, ligando as luzes.
Ele foi em direção ao meu armário de bebidas, abriu-o e tirou de lá uma garrafa de vodka. Fui até ele e tirei a garrafa de sua mão.
- Não senhor. Já deu de álcool por hoje. – ele fez bico tentando pegar a garrafa de volta. – Não! Nem mais uma gota. Solte a garrafa. – falei séria e incrivelmente ele fez o que eu disse.
- Onde é... O... Banheiro? – ele falou e eu apontei para uma porta à esquerda. foi até lá cambaleando e encostou a porta. Percebi que ele estava vomitando e corri até o armário do meu quarto para pegar uma escova de dente e uma pasta para ele. Quando cheguei até o banheiro novamente, ele lavava o rosto com uma cara não muito saudável.
- Exagerou na tequila dessa vez, hein?
- Nem me fale. – ele falou indo em direção ao vaso novamente. Fui até ele e afaguei suas costas. Quando terminou, entreguei a escova e a pasta.
- Obrigado. – ele me olhou como se pedisse desculpas. Enquanto escovava os dentes, preparei um chá.
Quando voltei da cozinha, estava sentado em um dos degraus da escada com a cabeça entre os joelhos. Sentei-me ao seu lado e ele me olhou. Entreguei o chá e ele tomou um gole, fazendo uma careta.
- Isso é horrível.
- Vai fazer você se sentir melhor, confia em mim.
Ele fez outra careta, mas bebeu todo o conteúdo da xícara, me entregando-a logo em seguida.
- Vem. – estendi a mão para ele e o conduzi ao quarto de hóspedes (ainda bem que estava tudo arrumado). Tirei a colcha de cima da cama e deitou, puxando-me com ele.
- Fica comigo. – ele me abraçou.
- Eu não posso , eu... – olhei para ele e vi que já tinha dormido.
Tirei com cuidado o braço dele de cima de mim e me arrastei de volta para o meu quarto, fechando a porta com cuidado. Suspirei sorrindo.
Bêbados, tão previsíveis.
Acordei com uma mãozinha cutucando a minha bochecha.
- Sô... – Mery falou quando eu abri os olhos.
- Bom dia, bebê.
- Estou com fome...
- Espera um minutinho. – levantei-me, peguei uma roupa e fui até o banheiro, fazendo a higiene matinal e vestindo a roupa. Quando saí, Meredith já esperava na porta.
- E a ?
- Ainda está dormindo. Eu fui lá tentar acorda-la e ela nem abriu os olhos.
- Ah, quer dizer que você acorda primeiro a é?
- É porque a comida dela é melhor que a sua. – crianças. Tão sinceras.
- Ah, é? Ah, é? Sabe o que você merece por desprezar minha comida, sabe? – eu ia me aproximando dela e ela me olhava com aquela carinha fofa. – COSQUINHAS! – falei e ela gritou, saindo correndo, mas eu a alcancei antes de chegar até as escadas.
- AAAAAAAAAAAAH, para, para, para! – ela ria, enquanto gritava.
Um pigarro me fez parar. Olhei para frente e vi um com a cara amassada.
- Bom dia, campeão. Dor de cabeça? – perguntei e ele colocou a mão na testa imediatamente. Eu ri. – Imaginei. , essa é minha irmã Meredith. Mery, esse é o meu amigo .
- Oi . – ela falou acenando.
- Oi. – ele riu de modo fofo, acenando de volta.
- Com fome?
- Um pouco. – ele respondeu.
- Então vamos, porque a Super vai fazer um super café-da-manhã! – levantei o braço e Mery me imitou.
Descemos as escadas correndo (eu e minha irmã, já que desceu feito uma lesma). Chegando lá em baixo, olhei de relance para o relógio da sala e vi que já era meio dia.
- Oh, God. Já é meio dia, galera! – parei no meio do caminho até a cozinha e dei meia volta, ficando de frente para minha irmã e . – Votação: a gente almoça ou toma café-da-manhã?
- Por mim tanto faz. – deu de ombros.
- Eu quero panquecas. – Mery levantou o braço.
- Ok. Panquecas então. E para beber?
- Café. – foi a vez de levantar o braço. Tem vezes que ele parece uma criança. Mas nas outras ele parece tão... Sei lá. Tem tipo um equilíbrio entre os vários “lados” dele. Isso é meio... Fofo. OPA ESPERA UM POUCO. Por que eu estou pensando no desse jeito? A gente só “saiu” uma vez. E, além do mais, ele é irmão da minha melhor amiga! Xô, tentação!
Sacudi a cabeça para tentar voltar a prestar atenção no que estava acontecendo a minha volta. Qual foi a última coisa que ele disse? Chá? Não. Café. É, acho que foi isso.
- Ok. – fui até a cozinha e acompanhou Meredith até o sofá. Ela ligou a TV e os dois ficaram lá assistindo sei lá o que enquanto eu cozinhava. Depois de alguns minutos desceu e me ajudou com as panquecas.
Meu telefone tocou: era . Ela disse que depois do almoço viria para cá.
Sentamos para comer, praticamente devorou a panqueca e saiu correndo para o trabalho. Sei que hoje é sábado, mas ela falou que um dos funcionários tinha faltado e ela precisava dar um jeito lá, pois o movimento estava grande. E também disse que o Billy tinha ligado (aquele cara da festa de aniversário dela) e que eles iriam sair para jantar, que não era para eu esperá-la. Nessa hora deu um chilique do tipo “ele é meu amigo”, mas usou a desculpa de que ele também já tinha ficado com amigas dela. Confesso que eu ri nessa hora.
Depois de arrumar tudo, fiquei conversando com na sala e Mery ficou no quarto, brincando enquanto esperava a amiga.
- Então... Como você está? – ele perguntou, obviamente se referindo a Adam.
- Tentando esquecer... Apesar de isso parecer impossível. – ri baixo olhando para ele.
- Não deve ser nada fácil, considerando que você já conhecia o cara e tal.
- Pois é, mas ele sempre foi meio desequilibrado. Só eu que não queria enxergar isso. Pra mim, essa obsessão que ele sentia era amor. Sei lá, acho que no fundo eu só queria alguém que me amasse de verdade. – falei, imediatamente amaldiçoando minha boca enorme. Por que eu falo tanto quando estou
perto desse garoto? Preciso aprender a controlar minha língua.
- Mas uma garota como você deve ter muitos caras em cima. Tipo, chamando pra sair o tempo todo. E aposto como na época que você namorava o Adam era assim também. – sorri fraco com o elogio escondido nas entrelinhas.
- Era. – eu ri sem jeito. – Mas eram só caras que me achavam bonita, sabe? Eu sabia que nenhum deles gostava de mim de verdade, conhecia meus gostos, minhas manias. Eles olhavam pra mim e viam uma garota perfeita para sair uma noite ou duas, nada mais que isso.
- Nossa, não achei que você fosse assim tão romântica.
- Não sou. – eu ri balançando a cabeça negativamente. – É só que eu sempre pensei que para duas pessoas namorarem elas tem que se gostar de verdade. Não é aquela coisa de “ah, vou namorar aquela menina porque ela é gostosa e meus amigos vão ficar com inveja de mim”. E eu via que era
isso que a maioria ali pensava, talvez seja por isso que eu dei uma chance pro Adam. Acho que eu vi nele 1% do namorado que eu consideraria supostamente perfeito e acabei inventando na minha cabeça os outros 99%, que no fim nem existiam. Na verdade, eu nem entendo até hoje o que foi que
eu vi nele.
- Nossa, que profundo isso. – falou e eu não consegui impedir uma gargalhada. – Na verdade,
eu também já namorei uma pessoa que era obcecada por mim.
- Jura? – falei curiosa.
- Juro. – ele riu. – Ela me perseguia quando não estávamos juntos e, quando estávamos, só de eu olhar pro lado ela já ficava louca da vida.
- Uau. – comecei a rir. – E quanto tempo você ficou com ela?
- Três meses. – ele pareceu refletir. – Acho que foi o namoro mais longo da minha vida.
- E por que você aguentou todo esse tempo? Tipo, eu sei que três meses pode parecer pouco, mas com uma pessoa assim...
- Ela era gostosa. – ele deu de ombros e nós começamos a rir.
- Não sei por que, mas isso não me surpreende.
- Credo, como você me julga mal. Assim magoa. – ele fez bico.
- Ai, tadinho dele! – falei com aquela voz irritante e apertei sua bochecha. Ele não conseguiu evitar uma risada.
- Você é maluca.
- Ah, e você é bem normal, né senhor “salvem as uvas”?
Ele riu novamente.
- Acho que estamos empatados.
Eu ri concordando. A campainha tocou e Mery desceu correndo para atender. Jolie e entraram. Jolie e Mery subiram e veio até a sala.
- Oi! – fui até ela, abraçando-a.
- Oi! Você não tem ideia, a Jo não parava de falar sobre vir pra cá! – ela riu.
- A Mery também.
- ? – falou.
- Oi ! – ela disse indo abraçá-lo.
- Vocês se conhecem? – falei chocada. O mundo era bem menor do que eu imaginava.
- Desde os seis anos. – ele respondeu rindo. – Hey, eu tenho que ir. Tchau, . – ele a abraçou novamente e veio até mim, puxando-me até o outro lado da sala.
- Obrigado por ontem. Mesmo. Não sei por que eu vim pra cá, só me pareceu o caminho certo na hora. Obrigado, viu? E desculpe aí o incômodo. – ele falou baixo.
- Imagina, não foi nada. – respondi enquanto ele me abraçava. O mais estranho é que esse abraço foi... Diferente. Mais íntimo, eu diria. Como se a gente se conhecesse há muito tempo. Acho que agora eu entendo o que o diretor quis dizer quando disse que nós dois tínhamos uma “química”.
Ele subiu para pegar as chaves do carro (que ele ainda iria ter que descobrir onde estava) e saiu.
Fui com até os fundos e sentamos na beira da piscina.
- Então, o que está rolando entre você e o ? – ela perguntou como quem não quer nada e eu a encarei, confusa. – O que foi? Você acha que eu não percebi as roupas dele amassadas?
Ri, entendendo o que ela quis dizer. Expliquei a história da noite passada pra ela, que gargalhou.
- Dessa vez ele se superou. – ela falou, parando de rir um pouco. – Aconteceu alguma coisa entre vocês? Ele nunca fica tão... Ele com outra garota. Tipo, comigo e com a ele é sempre o palhaço de sempre, mas ela é irmã e eu sou quase isso. Com outras garotas, principalmente as bonitas como você, tem sempre o jeito sedutor e a segunda intenção por trás. O que foi que você fez com ele? De
verdade. – ela me encarou e eu ri.
- Na verdade nada. A gente se conhece há pouco tempo e eu também fico mais tagarela do que o normal quando estou com ele. Parece meio natural sei lá. Ninguém força nada. Até porque já aconteceram as “segundas intenções”. – fiz aspas no ar e ela me olhou com o queixo caído.
- Vocês transaram? – não falei nada, apenas concordei com a cabeça. – Faz quanto tempo?
- Seis dias. – fiz as contas mentalmente. – Ou quase isso.
- E ele continua falando contigo? Uau. Alguma coisa em ti o fascinou, senão ele não ia te procurar de novo, confia em mim.
- Eu sou a melhor amiga da irmã dele, não dá pra ele simplesmente fugir de mim, ainda mais considerando o fato de que ela está morando aqui.
- O negócio com os pais né? O me contou. Como ela está?
- Finge não se importar, mas no fundo eu sei que ela está sofrendo com isso. Eu estou dando um tempo pra ela esfriar a cabeça e por as ideias no lugar, mas acho que hoje mesmo vou conversar com ela sobre isso. Acho que eu e o estamos mais “unidos” por causa disso, nós dois nos preocupamos com a .
- Pois é. Eu a adoro, mas nunca tivemos a oportunidade de conversar direito.
- Não seja por isso! A gente marca alguma coisa, se você quiser.
- Claro, ia ser ótimo! Você é super legal.
- Você também! Fechou então, vou falar com a aí te ligo confirmando.
- Ok. – ela sorriu, olhando a casa. – Faz tempo que você mora aqui?
e eu já conversávamos há horas, ela era super divertida e tínhamos várias coisas em comum. Fizemos um bolo de chocolate e comemos com as meninas (que brincavam sem parar). Um tempo depois, chegou.
- Querida, cheguei! – ela gritou, indo até a cozinha. – ? – ela falou surpresa. – Quanto tempo!
- É mesmo! - ela riu, indo abraçá-la.
- Não sabia que vocês duas se conheciam.
- Faz pouco tempo, na verdade. A Jolie e a Meredith ficaram amigas.
- Ah, sim. – ela sorriu.
- Eu preciso ir, já é noite e minha mãe deve estar preocupada. Tchau meninas! – ela acenou, indo buscar Jolie no quarto e saindo logo em seguida.
- E aí, como foi o jantar com o Billy? – perguntei e ela suspirou, sorrindo.
- Foi lindo, ele é um fofo. Super educado e engraçado. Acho que estou ficando apaixonada. – ela riu.
Minha mãe ligou nessa hora, avisando que tinha chegado para buscar minha irmã. Levei Mery até ela e voltei para a cozinha.
- Ei, preciso te contar uma coisa. – eu falei.
- Ih, lá vem. – ela se ajeitou na cadeira. – Manda bala, estou preparada.
- No dia do meu teste, depois do seu aniversário, foi o que me deu carona até o estúdio. Aí o diretor gostou dele e pediu para ele voltar para fazer o teste, que foi três dias atrás. Ele passou e vai fazer o filme comigo. – o queixo dela caiu de leve. – Mas, no dia do meu teste, depois que a gente saiu do estúdio, fomos pro apartamento dele e nós meio que... – nem precisei terminar e a compreensão iluminou o rosto dela.
- Sério? – ela perguntou e eu confirmei. – Posso te dar um conselho? Toma cuidado. Eu sei que ele é meu irmão e tal, mas ele não é do tipo que se apega demais a uma mulher só. Cuidado.
- Relaxa. – eu ri, tentando parecer descontraída. – Não foi nada demais, foi só uma coisa de momento. A gente nem falou direito sobre isso. Eu só queria que você soubesse. – dei de ombros. Eu fingia que não, mas a verdade é que ele tinha mexido comigo sim. Eu só não sabia o quanto. Ainda.
Capítulo. 18 - I’m just a girl, trying to find a place in this world
Eu e estávamos no sofá vendo um filme. Decidi que era a hora certa pra falar com ela.
- ? – chamei, relutante. Ela abaixou o volume da TV e me olhou, curiosa. – O que você pretende fazer? – perguntei. Ela sabia sobre o que eu estava falando. Suspirou fundo e desligou a TV.
- Eu pensei... Pensei muito. E cheguei a conclusão de que eu vou procurar minha mãe biológica. – abri a boca, surpresa. – Eu sei, é arriscado, precipitado, eu sei! Mas eu quero saber de onde eu vim, eu quero saber a minha história! – ela me olhou com os olhos marejados. – Você entende?
- Entendo, claro que eu entendo. – falei puxando-a para um abraço. – Mas e seus outros pais?
- Eu quero falar com eles. Amanhã, sem falta. Quero ouvir o que eles tem a dizer e também comunicá-los da minha decisão. Quer ligar pro e dizer pra ele avisar meus... Pais? – ela pareceu estranhar dizer isso. – Enfim, avisá-los que amanhã, bem cedo, antes de ir pro trabalho, eu vou passar lá para falar com eles?
- Claro, eu aviso sim, pode deixar.
- Obrigada.
- Mas você tem certeza?
- Tenho. – ela suspirou. – Vou dormir, boa noite.
- Boa noite. – falei e ela subiu. Fiz o mesmo, depois de apagar as luzes e pegar o celular.
Assim que cheguei lá em cima disquei o número de . Ele atendeu e eu não consegui entender o que ele disse, devido ao barulho. Ele estava em uma boate, certeza. Esperei uns minutos e ele foi para um lugar mais silencioso. Consegui ouvi-lo.
- Alô?
- Oi . Sou eu.
- Oi. Aconteceu alguma coisa?
- Na verdade sim, a ... – comecei a falar, mas uma voz de mulher do outro lado da linha me interrompeu.
- Ei, se perdeu foi, bonitão?
- Eu estou meio ocupado, Lindsay. Espere-me lá dentro, ok? – a tal Lindsay murmurou mais alguma coisa e eu não ouvi mais nada.
- ?
- Oi, desculpe. Pode falar. O que tem a minha irmã?
- Ela decidiu procurar a mãe biológica.
- Ela o que?
- Isso mesmo que você ouviu. Ela acabou de me dizer. E pediu para você avisar seus pais que amanhã, bem cedo, antes de ir pro trabalho, ela vai passar lá para conversar com eles.
- Tudo bem, eu aviso. Obrigado.
- Disponha. E, ?
- Sim?
- Divirta-se. – falei, irônica, desliguei o telefone e fui me arrumar, decidida a ir para a boate mais próxima e dançar até não sentir mais os pés. O que estava acontecendo comigo? Eu estava com... Ciúmes? Do ? Não, impossível. Eu só quero sair para dançar, super normal.
*
Eu estava lá, como sempre, dançando com a garota mais bonita do lugar. A sortuda da vez era uma tal Lindsay. Ela era bem bonita, mas por algum motivo não conseguia me sentir atraído por ela. O que tem de errado comigo hoje? Aquele maldito “Divirta-se” que tinha me dito ao telefone continuava martelando na minha cabeça.
Tentei ignorar esse pensamento idiota, por que eu estava pensando em uma garota quando estava com outra? Isso nunca acontece. Sacudi a cabeça e comecei a agarrar Lindsay ali mesmo. Com certeza era maluquice da minha cabeça, eu não estava pensando em , só tinha achado... Curioso o que ela tinha me dito ao telefone. Era isso, claro. Parei de pensar e me concentrei apenas na bela garota
que eu estava beijando.
Alguém esbarrou em mim e quando me virei para ver quem era, não achei ninguém. Virei-me novamente na direção da minha atual acompanhante e tive uma surpresa: estava ali, do outro lado do salão, no bar. E mais: sozinha. Será que fazia muito tempo que ela estava ali?
Larguei Lindsay ali mesmo e saí decidido em direção à . Olhei para trás rapidamente e Lindsay já dançava com outro cara. Ri irônico. Típico.
Cheguei até ela, que se levantou quando me viu.
- ! Oi! – ela largou o copo na bancada e me deu um abraço. Quando me soltou, parei para observá-la. Estava absolutamente linda, com um vestido que lhe caía muito bem. Muito mesmo, ele era um pouco curto e deixava a mostra suas belas pernas. Fechei a boca para não babar. Ela estava incrível.
- Não esperava te encontrar aqui! – ela continuou falando, dava para perceber que estava um pouquinho bêbada. Mas não muito. Ela pareceu lembrar-se de algo e fechou a cara. – Cadê a Lindsay?
Dei de ombros.
- Não sei. E nem quero saber.
Ela sorriu pegando a minha mão.
- Dança comigo? – não falei nada, só a segui até a pista de dança.
colocou os braços ao redor do meu pescoço e começamos a nos mexer no ritmo da música.
Às vezes ela aproximava seu corpo ao meu, outras vezes aproximava a boca. Eu já estava ficando maluco, não sabia quanto tempo iria aguentar. Ela estava me provocando de propósito, ou estava muito bêbada para ter noção do que estava fazendo. Se bem que parecia quase sóbria.
Ela desceu até o chão com o corpo colado no meu e eu percebi que não aguentaria muito tempo. Ela era a melhor amiga da minha irmã, porra!
continuava me provocando, aproximou a sua boca da minha até nossos lábios quase se tocarem.
Já chega. Que se foda a minha irmã.
Aproximei sue corpo dela ao meu imediatamente, fazendo-a sorrir de lado. Fui aproximando o rosto aos poucos até nossos lábios se tocarem. Ela aprofundou o beijo rapidamente e eu levei minhas mãos até suas costas, puxando-a mais para perto.
Ela terminou o beijo puxando de leve meu lábio inferior e nós fomos até um lugar menos movimentado, do outro lado da boate. Sentei em um dos bancos e sentou no meu colo, de frente pra mim, com uma perna de cada lado do meu corpo. Segurei a sua coxa esquerda e com a outra mão a puxei mais para perto, beijando seu pescoço.
Ela riu fraco, de modo sexy e me beijou novamente.
*
O que eu estou fazendo? O que tem de errado comigo? Sério.
Juro solenemente pela alma do meu paizinho que eu não sabia que o estaria aqui. Eu não sabia mesmo. Mas eu o vi lá e ele largou a tal Lindsay para ir falar comigo... A partir daí não sei o que deu em mim, comecei a dançar e me aproximar dele, provocando-o. Ele até resistiu por bastante tempo, mas no final me puxou para perto até nossos corpos ficarem colados e começou a me beijar.
Não sei por que eu fiz aquilo, mas devo confessar que ele beija muito bem e eu não me arrependia nem um pouco.
Eu estava começando a achar que estava me apaixonando por ... Não sei o motivo de eu achar isso, mas quando estou perto dele eu me sinto tão diferente. Isso deve ser loucura da minha cabeça, faz uma semana que eu conheço o cara! Não é possível eu me apaixonar tão rápido!
Ou é?
Do nada a voz da invadiu meus pensamentos “Eu sei que ele é meu irmão e tal, mas ele não é do tipo que se apega demais a uma mulher só”. Afastei-me de , que me olhou assustado e saí da boate quase correndo.
O que me deu na cabeça? Ele é irmão da minha melhor amiga! Irmão! E ainda é um galinha sem tamanho, que não se importa com o sentimento das mulheres, ele só quer pegar todas! Aposto que ele deve estar pensando que eu sou só mais uma e deve estar com a doce ilusão de que vai só me beijar e depois nunca mais me ver de novo! Ele deve ter esquecido o fato de que a mora comigo. Idiota.
Entrei no carro, batendo a porta com força e ficando paralisada por um momento, em choque.
Ah, porra. Eu estou apaixonada por . Minha vida é realmente uma droga.
Mas eu não vou deixa-lo me usar e jogar fora, não vou! Sabe o que eu vou fazer? Provocá-lo. Provocá-lo muito. Pra ele ver só como é bom brincar com o sentimento dos outros. Não que ele tenha feito isso comigo, mas ele com certeza fez com outras garotas e, se eu deixasse, faria comigo. Mas eu não vou deixar. Sabe por quê? Porque eu sou . E eu já fui feita de idiota uma vez e não serei de novo.
Duas batidas no vidro do carro, do lado do carona, me assustaram. Era . Destravei a porta.
- Aconteceu alguma coisa? – ele falou sentando. Balancei a cabeça negativamente.
- Não. – eu ri tentando achar alguma desculpa. – Só vim ligar pra . – peguei o celular e mostrei pra ele. – Ela nem sabia que eu tinha saído, tinham 25 chamadas não atendidas dela aqui.
- Nossa. – ele riu me olhando de um jeito sedutor. – Mas, se você já ligou, podemos voltar lá pra dentro. – ele começou a se aproximar de mim e, quando estávamos quase nos beijando novamente, virei o rosto para a frente. Ele suspirou, como se tentasse se controlar e eu segurei uma risada.
- Na verdade, acho melhor eu ir embora. Já está tarde.
- Tem certeza?
- Ué, tenho. Por quê? – eu ri.
- Por nada. Vou indo também. – ele veio me dar um beijo na bochecha e eu virei estrategicamente o rosto um pouco para o lado, fazendo-o beijar o canto da minha boca. Ele mordeu o lábio, olhando para o chão e suspirando, antes de sair batendo a porta.
Eu ri satisfeita.
Liguei o carro e fui para casa. Parei em um sinal vermelho e olhei pelo retrovisor, vendo que o carro de estava bem atrás do meu. Voltei a prestar atenção no sinal e quando ele ficou verde eu avancei, só não percebi uma enorme caminhonete preta vindo no lado direito, que acertou em cheio o banco do carona.
Porra.
Em questão de segundos, apareceu e batia loucamente no vidro chamando o meu nome.
Eu estava um pouco tonta por causa do susto, mas não estava machucada. Abri a porta e saí cambaleando, só não caí porque ele me segurou.
O dono do outro veículo veio correndo em minha direção.
- Ai meu Deus, você está bem? – ele falava, tremendo.
- Eu estou bem, não se preocupe. – falei sorrindo. Olhei para o meu carro, apontando para ele. – Só ele não teve a mesma sorte.
- Eu pago a oficina, não se preocupe. Eu chamo o guincho, eu pago tudo. Quer que eu te leve para o hospital? – ele continuava, nervoso, agora segurando a minha mão.
- Não precisa, eu mesmo levo. – falou grosso. Qual é a desse garoto?
- Não precisa. Eu estou bem! Só quero ir pra casa.
- Tudo bem. Venha cá. – me carregou até o carro dele e disse para eu deitar no banco de trás enquanto ele esperava o guincho que depois me levaria para casa. Adormeci rapidamente. Ou desmaiei, vai saber.
*
Esperei o guincho chegar e peguei o número do cara que tinha batido no carro da . Combinamos tudo e o carro foi para a oficina. O tal William falou que me ligaria quando soubesse o dia que o carro ficaria pronto.
Levei até em casa, mas toquei a campainha, liguei para a , e nada. Ela devia estar dormindo, e minha irmã quando dorme parece uma pedra, ninguém a acorda.
O único jeito foi leva-la novamente para o meu apartamento, só que dessa vez eu tinha arrumado o quarto de hóspedes. Na verdade, foi a empregada. Mas você entendeu.
Deixei-a na cama e fui para o meu quarto. Deitei, mas não consegui dormir. Fiquei só encarando o teto e pensando no que acabara de acontecer.
estava me provocando, isso era claro. Mas eu não sabia o motivo. O pior é que estava dando certo. E aquele fora que ela me deu? Nem pense que eu engoli aquela história de ela ligar para a . E aquele meu olhar sedutor seguido do “vamos voltar lá para dentro” era para te-la feito ceder. Ou me agarrar na mesma hora. Mas ela não fez isso. Só me provocou mais. COMO ela consegue? Eu vou ficar maluco.
Parece mentira, mas esse é o primeiro fora que eu levo. Não foi exatamente um fora, mas eu queria beijá-la e ela não quis me beijar.
Mas eu vou fazê-la provar do próprio remédio. Ah, se vou.
Acordei com um barulho no celular. Alerta de mensagem. Quem me manda mensagem às nove da manhã? Deve ser importante. Abri a mensagem e vi que eram aquelas promoções da operadora. Ah, qual é!
Mas agora que já acordei mesmo... Levantei e atirei o celular na cama, indo para o banheiro e fazendo a higiene matinal. Abri o armário e procurei minha blusa azul, mas não a encontrei. Devia estar na lavanderia. Peguei outra qualquer e fui até a cozinha, encontrando e suas belas pernas de costas para mim, fazendo alguma coisa.
- O que você está fazendo? – pergunte, tentando tirar o meu olhar de suas pernas. Ela deu um pulo encostando-se ao balcão e, ofegante, se virou para mim.
- Que... Quer me matar do coração? Caramba! – ela colocou a mão no peito respirando fundo. Eu vi isso devido a minha visão periférica ser muito boa, porque ainda encarava suas pernas. – ? – ela estalou os dedos duas vezes. – Aqui em cima. – ela riu sem jeito e eu tive que fechar os olhos e respirar fundo antes de olhar para seu rosto.
- Desculpe... Eu me distraí.
- Notei. – ela riu novamente e eu parei para observá-la. Sabe a blusa azul? Ela estava usando. E devo confessar que fica muito melhor nela do que em mim. Ela deve ter percebido que eu olhava a blusa, pois logo falou: - Ah, eu fui até o seu quarto e peguei essa blusa. Você estava dormindo, não quis te acordar. Espero que não tenha problema.
- Não, problema nenhum. – balancei a cabeça. – Mas o que é isso aí que você está fazendo? – apontei para o recipiente vermelho.
- Bolo. – ela falou e pareceu se lembrar de algo. – Ah, eu ia te perguntar. Onde você guarda o açúcar? Não consegui achar.
Fui até onde ela estava e me aproximei do balcão. Devido ao fato de ela estar ali, no meio do “caminho”, nossos corpos se tocaram e eu conseguia sentir sua respiração tocando de leve a minha bochecha. Percebi que ela estava um pouco tensa. Estiquei o braço e peguei o pacote de açúcar que estava em cima do armário atrás dela, afastando-me dela lentamente com ele em mãos.
- Aqui. – entreguei o pacote a ela, que o pegou imediatamente.
- O... Obrigada. – ela falou aparentando nervosismo e se virou de costas para mim de novo, voltando a fazer o bolo. Bingo. Agora você sabe como eu me senti ontem, .
- Faz tempo que você acordou? – perguntei indo até o sofá.
- Não muito. – ela respondeu, e depois de alguns segundos sentou ao meu lado. – Que horas são?
- Nove e meia. – respondi olhando o horário no relógio que tinha em cima da estante.
- Em vinte e cinco minutos o bolo fica pronto.
- Ok. – falei ligando a TV na MTV. Passava um programa que falava fofocas dos famosos. Aumentei o volume quando apareceu uma foto de .
“Então, o que vocês acham dessa garota? É ela quem vai interpretar Melanie no filme The Seven Towns, galera! Eu a achei linda, e você?” uma perguntou.
“Também achei!” a outra respondeu. “E sabem quem vai ser o par romântico dela no filme, que vai interpretar o lindo Joseph? Esse cara aí!” ela falou e apareceu uma foto minha, ao lado daquela que já tinha aparecido de .
“O que vocês acharam do casal? Na minha opinião eles combinam muito! Respondam lá na nossa enquete! O link está na tela! Depois dos comerciais, clipe novo da Demi Lovato, não saia daí!”
- O que? – parecia surpresa. – Não acredito que já estão falando da gente.
- Nem eu. – tive que concordar. Um telefone começou a tocar lá na cozinha e foi correndo atender. Pelo jeito que ela falava, aposto que era a minha irmã.
Ela passou alguns minutos no telefone e eu assistia algum programa que passava no Discovery.
Ela voltou e sentou ao meu lado novamente.
- Quem era?
- .
- Sabia. – eu ri. – O bolo já está pronto? – falei como quem não quer nada e foi correndo para
a cozinha.
- POR QUE VOCÊ NÃO AVISOU? – ela gritou.
- VOCÊ ESTAVA NA COZINHA, UÉ! ACHEI QUE LEMBRARIA. – gritei de volta.
Fui até a cozinha e ela tirava o bolo do forno.
- Ainda bem que não queimou. – ela falou e enquanto eu esticava o braço para pegar um copo no armário. Ela passou ao meu lado para pegar um prato na pia e eu acabei me distraindo (o motivo você deve imaginar) e não segurei o copo direito, ele caiu com tudo na minha testa.
- AI! – gritei e veio até mim, colocando um pano de prato no local do corte e me puxando até o sofá.
- Senta aí e segura o pano direitinho. Onde fica a caixa de primeiros socorros? – ela perguntou e eu sentei, apontando para a estante.
- Terceira gaveta. – informei e ela foi até lá, pegando a caixa e largando-a ao meu lado.
- Fica quietinho que eu vou cuidar disso. – ela falou sentando em cima de mim, com uma perna de cada lado do meu corpo. Ela tirou o pano da minha testa e pegou na caixa algum algodão e colocou um remédio nele. Eu não prestei muita atenção no que ela estava fazendo, porque enfim a minha visão
estava ótima. A blusa azul que ela vestia ficou grande (obviamente) e tinha gola V. Imagine aí.
- AI! – gritei quando o algodão molhado atingiu minha testa, ardendo muito.
- Shh... – sussurrou, soprando o local do corte e colocando lá um bandaid (daqueles grandes).
– Prontinho. – ela sorriu me olhando nos olhos. Aquela posição já estava me incomodando.
- Você adora me provocar, né?
- Fazer o que... – ela riu. – É divertido.
Ficamos um tempo só nos encarando, nenhum dos dois falou nada. Comecei a me aproximar dela e (para variar), quando estávamos quase nos beijando, ela saiu de cima de mim e foi em direção ao quarto de hóspedes.
Fiquei sentado, imóvel, tentando me acalmar um pouco. Eu ainda vou pirar com essa garota, pode escrever. Se continuar assim logo logo eu tenho um treco.
Depois de alguns minutos, saiu do quarto com a mesma roupa do dia anterior e foi em direção à porta.
- Já vai?
- Já. Obrigada por ontem. – ela forçou um sorriso. - E... Manda uma mensagem depois quando souber quando meu carro fica pronto, ok?
- Ok, mas e o bolo? – perguntei.
- Perdi a fome. – ela saiu batendo a porta.
Capítulo. 19 - Baby let me take care of you
*
Lembra-se do dinheiro no sapato, para emergências? Pois é, salvou-me de novo.
Eu olhava o movimento pensando no que tinha acabado de acontecer. O que foi aquilo? Um conjunto de provocações, tanto da minha parte quanto da dele? Será que ele tinha ficado com raiva porque eu meio que dei um “fora” nele e resolveu se vingar? Só pode ser isso. Não tinha nem perigo dele estar apaixonado por mim, ele só estava revoltado porque o orgulho de pegador dele estava machucado. Dã.
Sabe o que ele quer? Ele quer que eu ceda, para ele restaurar a "honra" do senhor nunca-levei-um-fora para depois esfregar na minha cara que ele é irresistível e partir pra próxima vítima. Eu posso falar isso porque eu conheço o tipo. E eu geralmente cedia, porque eu não iria ver o cara de novo e nem sentia nada por ele mesmo. Mas com era diferente. Infelizmente. Infelizmente ele era irmão da minha melhor amiga e infelizmente eu estava ridiculamente apaixonada por ele.
- Moça? – a voz do taxista me acordou. – Chegamos.
Paguei-o e entrei em casa, sentando no sofá.
- CARAMBA, ONDE VOCÊ ESTAVA? EU ESTAVA PRESTES A CHAMAR A POLÍCIA! – veio correndo da cozinha e me abraçou.
- Eu estou viva, relaxa.
- Mas o que aconteceu? – ela sentou ao meu lado e eu suspirei. Sabia que ela tinha perguntado sobre o fato de eu não ter dormido em casa, mas eu estava com tanta coisa entalada na garganta que comecei a falar tudo pra ela. Desde o dia que eu e nos conhecemos, até a minha reação quando ele me ligou noite passada e o que aconteceu hoje de manhã.
- E aí eu saí de cima dele, fui até o quarto, troquei de roupa e fui embora. – terminei, suspirando. Ela me olhou pasma.
- Nossa. Que história, hein? Quando você me falou aquilo sobre o meu irmão, não imaginei que vocês já tivessem passado por tanta coisa. E mais ainda agora!
- Mas e aí? O que eu faço?
- Quer uma dica? Você está apaixonada.
*
- Apaixonado? Eu? Que ideia, . – balancei a cabeça negativamente. – Eu a conheço há o que? Nove dias?
- Nove dias é muito tempo, ! Eu me apaixonei pelo em dois e começamos a namorar depois de quatro! – ah, esqueci de mencionar. namora . – É totalmente possível você estar apaixonado pela . Sabe por quê? Porque ela é diferente das garotas com as quais você está acostumado. Ela é sincera, engraçada e super legal! Eu a conheço há pouco tempo, mas já sei que seremos grandes amigas, porque ela é uma pessoa incrível! Para de negar o óbvio!
- Será? – perguntei parando para pensar. Não é possível. Ou é? – Ok! Considerando a hipótese de talvez eu estar apaixonado por ela: que diferença faz? Ela não sente nada por mim mesmo.
- Ah, é? E como você sabe? – ela me olhou cruzando os braços.
- Porque ela fica me provocando e quando eu vou beijá-la ela desvia ou sai de perto. Ela gosta de me fazer de idiota só pra rir da minha cara depois.
- Você não tem como saber disso.
- Eu sei. Acredite.
- Não acredito. Sabe o que é isso?
- A verdade?! – falei irônico.
- Não. Medo de compromisso.
*
- Você está é com medo de se comprometer. – falou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Suspirei.
- É, talvez seja isso. Em parte.
- Como? Você concordou comigo? – ela me olhou surpresa. – Por quê?
- É que um tempo atrás eu tive um namorado... – comecei e ela ficava mais surpresa à medida que eu contava sobre Adam. Mas não mencionei o nome dele. Só contei toda a história, toda mesmo. Até a do pseudo-sequestro.
- Caramba... Eu não fazia ideia. – ela falou me abraçando. Respirei fundo e engoli o choro. Já chega de chorar por quem não merece. – Acho que agora eu entendo o porquê de todo esse tempo você não ter se comprometido com ninguém. Eu também teria medo.
- Pois é.
- Mas você não acha que está na hora de dar uma chance para si mesma?
- Não sei... Não com o .
- Por quê?
- Desculpa, , mas o seu irmão é um galinha e nós duas sabemos disso. Não consigo acreditar que ele mudaria logo por mim.
- Nem se ele provar que gosta de ti de verdade?
- Por que a pergunta?
- Foi só uma ideia. – ela deu de ombros. – E se ele está “atrás” de você ainda... – ela fez aspas no ar. – É porque aí tem!
- Engraçado, a disse a mesma coisa.
- Então acho que a gente tem razão!
- Eu não teria tanta certeza. – respondi. Eu não acreditava naquilo e estava decidida a resistir e provocá-lo até o final. – Mas enfim, falando na ... A gente podia combinar de sair pra algum lugar né? Ela parece ser tão legal!
- Claro, pode ser. Quando?
- Ué, não sei. A gente marca alguma coisa.
- Ok. – ela respondeu.
- E aí, como foi com os seus pais? Aliás, o que a senhora está fazendo aqui que não foi trabalhar?
- Fiquei preocupada com você. Falei pra minha chefe que estava doente. – ela deu de ombros e eu ri, apertando sua bochecha. – E com os meus pais... No início eles não aceitaram a ideia de eu ir procurar minha mãe, nós discutimos e tudo. Mas eles sabem como eu sou teimosa e acabaram concordando e me dando o endereço. Foi bom ficar de boa com eles. – ela sorriu.
- Ah, mas e aí? Você vai voltar pra casa?
- Por enquanto não... Ah, sobre o ... , teria como ele vir morar aqui?
- QUE? – gritei, pulando do sofá. Ela não estava falando sério.
- É, ele vai reformar o apartamento e a obra vai demorar um mês pra ficar pronta.
- E os seus pais?
- Ele está querendo ir pra lá, mas aí para vê-lo eu teria que ir até lá... – ela olhou pro chão.
Morar com o ... Essa não está me parecendo uma boa ideia.
- E qual o problema? Você não falou que estava de boa com eles?
- E eu estou! – ela falou e eu a olhei confusa. – Mas eles não querem que eu vá procurar a minha mãe. Só me deram o endereço porque sabiam que eu iria conseguir de uma forma ou de outra. Se eu fosse muito pra lá, eles iam ficar tentando me convencer a mudar de ideia. Iam colocar um monte de
coisas na minha cabeça e eu ia acabar ficando com medo de ir, mesmo que inconscientemente. POR FAVOR! É só por um mês. – ela me olhou com aquela cara de cachorro que caiu da mudança.
- Eu não sei... – falei em dúvida. Como assim... MORAR com o ? Vê-lo todos os dias? Essa ideia não me parecia boa... Não me parecia boa mesmo. Se bem que eu poderia provocá-lo todos os dias... Como eu estou com a mente maligna, nossa.
- POR FAVOR, POR FAVOR, POR FAVOR, POR FAVOR! – ela ficou pulando e me chacoalhando. Tem vezes que parece uma criança. Ela e têm isso em comum... – !
- OK! Mas é um mês ok? UM MÊS. Nada mais. – concordei me arrependendo no mesmo segundo.
Um mês é muita coisa, eu não vou aguentar todo esse tempo, eu não vou... PERA AÍ, ! Que
desespero idiota é esse? É só um garoto! E eu vou conviver com ele o tempo todo mesmo, por causa do filme. Não tem motivo pra tanto desespero.
Meu celular tocou, olhei no visor e não me surpreendi quando vi quem era: Mike.
- Oi!
- Bom dia, flor do dia! – ele falou como sempre e eu ri. - Preciso que você vá buscar o script no estúdio. Não esqueça que terça começam as filmagens!
- Gatíssimo, eu bati o carro. Não tem como eu ir aí.
- Poxa... Você está em casa?
- Estou sim.
- Então vamos fazer o seguinte: eu pego o seu script e levo aí.
- Aí você aproveita e fica pro almoço.
- Perfeito. Combinado então... Beijo. – ele falou desligando.
- Quem era? – perguntou assim que desliguei, curiosa.
- Mike. Ele vem para almoçar.
- Ah... Vou subir.
- Ok. – falei e ela subiu correndo. Liguei a TV.
*
- Como assim morar na casa da , ? Você está maluca?
- Você fala como se fosse a pior coisa do mundo, né ! – eu ri irônica. Quando concordou, a primeira coisa que fiz foi ligar para o meu irmão. Convencê-lo ia ser mais difícil que convencê-la. – É só por um mês, vai!
- Se é só por um mês eu posso muito bem ir morar com o Senhor e a Sra. .
- Mas eu não quero ter que ir lá em casa pra te ver.
- Então eu vou até aí.
- Para de ser chato...
- Me chamar de chato não vai me ajudar a mudar de ideia, irmãzinha.
- Nem se eu te pedir por favor e disser que eu te amo muito e quero ter você pertinho de mim pra eu infernizar sua vida todo dia de manhã como a gente fazia na época do colegial? – falei esperançosa e com aquela voz de criança.
- Nesse caso eu prometo pensar no assunto. - AÊ! Mas pensa rápido, porque os pintores marcaram de ir aí amanhã, lembra?
- Porcaria. Tinha me esquecido completamente. Quer vir aqui hoje me ajudar a arrumar a mala e dar uma organizada na casa?
- Eu não sou sua empregada, .
- Quer que eu pense no assunto?
- OK, ESTOU INDO! – desliguei o telefone e troquei de roupa enquanto ligava para um taxi. Assim que terminei de me arrumar o taxi chegou. Desci correndo.
- Vai pra onde com toda essa pressa? – perguntou.
- Vou visitar meu irmãozinho. Ah, não venho almoçar ok? E o se muda hoje à noite! TCHAU! – falei, fechando a porta.
- O QUE? , VOCÊ NÃO DISSE QUE... – ela gritou, mas eu entrei no taxi e não ouvi o resto.
- Não entendo o motivo desse seu desespero pra que eu vá morar com vocês. – falava enquanto arrumávamos sua mala.
- Qual o problema?
- Ué, nenhum.
- Se eu te desse um bom motivo você iria?
- Claro. – ele deu de ombros.
- Eu aposto que você não aguenta uma semana naquela casa.
- Por quê? É assombrada por acaso? – ele riu.
- Não interessa o porquê. – falei séria. Se eu falasse o motivo ele não iria nunca. – Eu aposto que você não aguenta uma semana naquela casa. Ponto.
- Se eu aguentar, o que eu ganho?
- Meu CD do Foo Fighters.
- O autografado? - ele falou sorrindo. AH NÃO, O AUTOGRAFADO NÃO!
- Se for o autografado eu tenho direito a um bônus.
- Diga.
- Quero ver vocês dois ensaiando amanhã. Você já foi pegar o script, né?
- Já, antes de você chegar. Nós dois quem?
- Você e o Papai Noel. – falei e ele me olhou confuso. Lerdo. Dei um tapa na cabeça dele. – Você e a né, idiota.
Ele pareceu pensar.
- Aceito. – ele falou e eu o abracei pulando. – Mas espera um pouco.
- O que foi agora?
- Se você ganhar...
- Se eu ganhar... – parei para pensar. – Você me conta o que sente pela . – falei. Eu sabia que eu condições normais ele nunca me contaria, mas eu preciso saber. E eu sei que ele não vai aguentar muito tempo lá, até o Mike (que é gay) não aguentou nem dois dias. Ele disse que a masculinidade oculta dele estava começando a se revelar e ele não queria isso. Sim, você está confuso. Mas não vou me dar ao trabalho de explicar, veremos por conta própria logo logo.
- Fechado. – ele sorriu olhando para o relógio. – Quer ir almoçar?
- Só se for naquele restaurante italiano que eu amo.
- Então vamos. – ele pegou a chave do carro, saindo do apartamento e eu o segui, fechando a porta.
*
A campainha tocou e eu fui correndo abrir a porta.
- Mike! – sorri ao ver meu amigo parado na porta com um sorriso enorme no rosto e duas caixinhas de comida chinesa na mão.
- Oi. Desculpe a demora, a fila estava um pouco grande. Aqui seu script. – ele me entregou uma pasta azul com uns papeis dentro. – Decore a cena quatro logo, vocês vão começar por ela.
- Ok. – dei espaço para ele entrar e, depois de deixar a comida na mesa, voltou para me abraçar.
Fomos para o sofá.
- Hey, o que foi isso no seu braço? – ele apontou para o meu braço direito, onde ainda tinha um hematoma; o único que ainda não tinha sumido.
- Longa história. – foi tudo que eu respondi.
- Sorte sua que a primeira cena que vocês vão filmar é em um dia frio.
- É verdade. – eu ri.
- Ei, falaram de você na MTV.
- Pois é, eu vi.
- O livro fez muito sucesso, estão todos esperando pelo filme. Acho bom você interpretar a Melanie direitinho, até porque eu também sou fã. – ele apontou para mim ameaçador e eu gargalhei.
- Quanto a isso não se preocupe, eu também li o livro e adorei. Vou dar o meu melhor, deixa comigo.
- Acho bom. – ele apontou para mim de novo e nós rimos. – Vamos comer?
- Vamos sim. – fomos em direção à mesa.
Mike já tinha ido embora e eu estava sentada no sofá segurando o celular. Eu deveria ligar para .
Ele é meu melhor amigo desde... Sempre. E eu ainda não tinha falado para ele sobre Adam. Disquei o número dele e, depois do terceiro toque, ele atendeu.
- Pensei que tinha me esquecido. – falou com a voz chorosa e eu ri. Como era bom falar com ele.
- Não te esqueceria nem se eu quisesse, besta.
- E ai? Como você está?
- Indo, eu acho. – falei e a voz dele ficou séria.
- O que aconteceu, ?
- Quer vir para cá? – foi tudo que eu respondi.
- Estou indo. – ele desligou e, depois de alguns minutos, a campainha tocou. entrou e me olhava preocupado. Seus cabelos loiros estavam molhados e bagunçados, o que indicava que ele não tinha penteado o cabelo. Usava uma blusa marrom e uma calça jeans qualquer. Devo admitir: ele era bem bonito.
- Oi bonitão. – eu ri, bagunçando seu cabelo e ele me abraçou forte.
- Que saudades que eu estava de você, pequena.
- Também estava com saudades, . – ele me soltou e foi até o sofá comigo, pegou uma almofada e deitou no tapete. Eu ri. Preguiçoso. Ele me puxou pela mão e eu deitei ao seu lado, de frente para ele.
me encarava, esperando que eu falasse. Suspirei.
- Sabe o Adam? – falei e ele levantou num pulo. Levantei também.
- O que esse cara fez, ? DIZ O QUE ELE FEZ DESSA VEZ! – sim, sabia de tudo sobre Adam. Segurei seu rosto com as mãos.
- Se você reagir desse jeito eu não conto, pequeno. Promete pra mim que vai ouvir tudo com calma. – falei e ele me olhou nos olhos e se acalmou, suspirando e confirmando com a cabeça.
Sentou no sofá, mas eu permaneci em pé. Suspirei antes de começar e, a cada palavra que eu dizia, fechava mais o punho e respirava cada vez mais fundo. Finalizei a história com um suspiro. Ele me olhou.
- Terminou? – perguntou e eu balancei a cabeça afirmativamente. Ele levantou, indo em direção à porta, mas na metade do caminho eu parei em sua frente.
- Eu vou matar esse desgraçado. EU VOU MATAR! – ele gritava com raiva. Eu entendia a raiva dele, entendia mesmo. – ONDE ELE ESTÁ? ONDE ELE ESTÁ, ?
- Ele está na cadeia, onde é o lugar dele. – falei e ele relaxou um pouco.
- Por que você não me contou antes? – ele me olhava e eu consegui perceber que ele estava um pouco desapontado.
- Porque eu queria esperar ele ser preso primeiro, senão você ia fazer alguma besteira. Viu como você reagiu agora? Se ele ainda estivesse solto, você iria atrás dele, não iria?
- Claro que eu iria, . CLARO! Esse cara merece uns belos tapas. Por que você está o defendendo, posso saber? – ele me olhou com raiva, logo desviando o olhar para baixo. Eu ri fraco.
- Que defendendo ele, pequeno? Ficou maluco? Eu nunca defenderia aquela criatura. Eu estava preocupada com você, não com ele. Olha pra mim, Thomas. – segurei seu rosto, obrigando-o a me olhar nos olhos. Ele suspirou, me dando um beijo na testa.
- Desculpe. – falou num suspiro, abraçando-me. – Falei besteira. Você me perdoa, pequena?
- Claro que sim. Se fosse o contrário eu também ia ficar louca da vida. – falei e ele riu fraco. – Mas agora vamos falar de coisa boa! Como vai a banda? – tinha uma banda e, apesar de eu não lembrar o nome e nunca ter ido a um ensaio, eu sabia que era boa. A voz de é linda.
- Vai bem. – ele riu me soltando. – E você? Quando começa a filmar? – ele disse e eu o encarei, incrédula.
- Como você sabe que... – comecei, mas logo entendi.
- Mike. – falamos juntos, rindo.
- Depois de amanhã. – eu sorri.
- Cadê o script?
- Lá em cima. – apontei para as escadas.
- Posso ver?
- Não. – falei e ele me olhou com a boca aberta. Dei um tapa em sua testa. – Claro que pode, besta. Vem comigo. – o puxei pela mão e subimos.
- “E eles se beijam”. HUUUUUUM. – lia o script inteiro em voz alta, fazendo os próprios comentários. Eu só gargalhava. – Quem é que vai interpretar o Joel?
- Joseph.
- Quem é Joseph? Eu conheço? – ele perguntou e eu ri.
- O nome do personagem é Joseph.
- E quem é Joel? – ele me olhou confuso.
- Eu vou saber? Esse tal Joel é invenção da sua cabeça.
- Como assim? – ele me olhou mais confuso ainda e eu dei um beijo em sua bochecha.
- Deixa pra lá.
- Ah, quando a lenta é você eu sou obrigado a repetir até você entender, né? – ele cruzou os braços com uma expressão fofa no rosto.
- Você repete porque me ama. – ele me olhou incrédulo.
- Isso é uma indireta? Você está dizendo que não repete porque não me ama, é isso? – ele fez bico.
- Claro que eu te amo, jumento. É só que eu não quero repetir. Nem eu entendi direito. – eu ri, mordendo a sua bochecha.
- Ai, sua canibal! – ele disse colocando a mão na bochecha e eu ri.
- Não tenho culpa se você é mordível.
- Vai me comer, é? – ele perguntoou todo inocente e eu fiz uma cara safada. – Credo, você só pensa besteira. Não sei por que eu ando contigo.
- Eu sei! – levantei o braço. – Você...
- Me ama. – ele completou junto comigo. – Eu já ouvi isso. – ele sorriu, revirando os olhos.
- ? – falei e ele me olhou. – Senti sua falta. Muito mesmo.
Ele abriu os braços e eu sentei em seu colo.
- Também senti a sua. – ele beijou minha bochecha carinhosamente. De repente, deu um pulo. – HEY!
- O que? – perguntei confusa e rindo.
- Podíamos alugar uns filmes, né? – ele me olhou, arqueando as sobrancelhas. Eu fiz o mesmo, sorrindo e balançando a cabeça. – EU DIRIJO! – ele gritou, indo correndo até a garagem. Depois de pegar um sapato, eu o segui.
- ALELUIA! JÁ ESTAVA CRIANDO RAIZ AQUI. – gritou assim que eu entrei no carro e eu ri.
- Eu demorei menos de um minuto. Só fui pegar um sapato, poxa. – fiz bico.
- Foi pegar o sapato ou fazer o sapato? – ele me encarou e eu aumentei mais o bico. Ele pegou a minha mão e a beijou. – Adoro te irritar, sabia?
- Eu sei. – dei língua para ele, que riu, ligando o carro. Liguei o rádio imediatamente e nos olhamos sorrindo assim que reconhecemos os primeiros acordes de Moves Like Jagger.
- JUST SHOOT FOR THE STARS IF IT FEELS RIGHT. – comecei a cantar animada.
- THEN AIM FOR MY HEART IF YOU FEEL LIKE. – continuou perfeitamente afinado.
- TAKE ME AWAY AND MAKE IT OKAY. – fechei minha mão direita como se fosse um microfone e cantei.
- I SWEAR I’LL BEHAVE. – cantamos juntos, começando a rir.
- A gente tem sérios problemas, sabia? – falou gargalhando.
- Eu sei! – também gargalhei. – Pagar micos é com a gente mesmo, babe!
- AND IT GOES LIKE THIS. – cantou balançando a cabeça.
- TAKE ME BY THE TONGUE AND I’LL KNOW YOU! – cantei balançando de um lado pro outro.
- KISS ME ‘TIL YOU’RE DRUNK AND I’LL SHOW YOU! – foi a vez de , que, como estava dirigindo, apenas balançou a cabeça.
- ALL THE MOVES LIKE JAGGER. I’VE GOT THE MOVES LIKE JAGGER. I’VE GOT THE MOOOOOOOOOOOOVES LIKE JAGGER! – cantamos juntos começando a rir. Percebi que tínhamos chegado à locadora quando desligou o carro, parando a música.
Assim que desci percebi que estava muito frio e eu estava sem casaco. Que ótimo.
percebeu e veio até o meu lado, me abraçando.
- Casaco comunitário? – ele falou e eu ri.
- Sempre. – falei e fomos abraçados até a locadora. Quem visse, de longe poderia até pensar que fossemos namorados, mas eu não via desse jeito. E vice-versa. A gente se conhecia desde criança, somos mais irmãos que amigos. Posso garantir que nunca aconteceria nada de romântico entre nós dois. Eu o amo demais, ele é meu porto seguro.
- Um chocolate pelos seus pensamentos. – disse me cutucando com o ombro.
- Eu estava pensando no quanto eu te amo. – falei sincera.
- Nossa, como você é fofa. – ele falou mordendo minha bochecha.
- AI, SEU CANIBAL! – eu gritei, chamando a atenção de todos na loja. me puxou para perto dele e voltamos a olhar os filmes, rindo baixo.
- Pra chamar mais atenção só colocando um abacaxi na cabeça. – ele sussurrou.
- Até que não seria má ideia. – respondi no mesmo volume e ele riu. – A Proposta! – falei pegando o filme. leu a sinopse por cima do meu ombro.
- Nah. Prefiro esse. – ele pegou outro filme. Li o título.
- The Runaways?
- É, o que você acha?
- Perfeito. – concordei. Eu amava The Runaways.
- Ok, espera aqui que eu vou alugar. - ele se virou e eu o chamei.
- TOM! – ele veio até mim.
- Para de gritar, maluca! – ele riu. – Que foi?
- Não esquece meu chocolate. Estou te esperando no carro. – falei e dei um beijo em sua bochecha, saindo e entrando no carro. Minutos depois ele apareceu, me entregando um bombom.
- EBA! – gritei abrindo-o imediatamente. Dei uma mordida e me cutucou, pedindo um pedaço. Dei na boca dele (afinal, de novo, ele estava dirigindo) e ele devorou o bombom inteiro.
- TOM! – gritei rindo e dando um tapa em seu braço.
- Tfem ais fsa facola. – ele falou cuspindo bombom pra todo lado.
- AHN? Não fala de boca cheia, seu porco. – falei rindo. Quando ele engoliu, deu língua para mim.
- Tem mais na sacola. – ele repetiu e eu peguei a mesma, tirando um bombom de lá e devorando-o inteiro na mesma hora. – Vai se engasgar desse jeito. – ele falou e eu dei língua para ele.
Chegamos em casa e se jogou no sofá.
- Vai dormir aqui? – perguntei.
- Só se você me deixar dormir nesse sofá. – ele falou e eu concordei com a cabeça. – Sério, se um dia você não o quiser mais, eu quero. – ele me olhou e eu gargalhei.
- Eu vou me lembrar disso. Vou só tomar banho e já volto ok? – eu disse e ele concordou com a cabeça. – O controle da TV está ali. – apontei para o balcão e foi pegar o controle.
Eu subi para o meu quarto e percebi certa movimentação no quarto de hóspedes, mas não dei muita importância, deve ser procurando alguma coisa.
*
Eu assistia a um programa qualquer na TV enquanto esperava para assistirmos ao filme. Depois de alguns minutos, desceu e foi na direção da cozinha.
Na TV passava um filme sobre um cara que... ESPERA AÍ!
- ? – falei surpreso. – O que você está fazendo aqui?
Ele olhou para mim com a mesma expressão de confusão estampada no rosto. Que diabos o
está fazendo aqui?
- ! Eu te pergunto a mesma coisa. – ele disse enquanto vinha até mim. Ele sentou no outro sofá.
- Eu estou esperando a ... E você?
- Eu meio que vou morar aqui enquanto reformam meu apartamento. – ele deu de ombros.
- Você conhece a ? – o olhei curioso. Ela não tinha me dito nada sobre isso. Aliás, eu nunca tinha apresentado os dois. Aquela história não fazia o menor sentido para mim. Por que viria pra cá?
- Ela é melhor amiga da .
- ... – repeti, tentando me lembrar de alguma .
- Minha irmã?! – ele falou me encarando. Bati na testa.
- É verdade. Não sabia que vocês se conheciam.
- Eu e a ? – ele me olhou confuso. Mas é lerdo mesmo.
- Você e a .
- Ah, não faz muito tempo na verdade. Alguns dias. – ele falou. – Vou fazer aquele filme com ela, lembra?
- AH! Você vai ser o tal Jared?
- Jared? Não. Joseph. – ele pareceu confuso e eu ri.
- Tanto faz.
desceu as escadas de pijamas e não percebeu a presença de , sentando ao meu lado. Quando sentou, o viu. Pareceu surpresa.
- Ah, oi . Tinha esquecido que você viria. – ela riu um pouco nervosa. O que estava acontecendo entre ela e ? Ela olhou para mim e depois pra ele. – Vocês se conhecem?
- Sim, ele também é do McFly. – respondi e ela me olhou confusa.
- McFly?
- A banda. – foi quem respondeu dessa vez.
- Ah é! – ela riu. – , cadê o filme? – me olhou e eu, que estava segurando-o, levantei o mais alto que consegui. Ela subiu em cima de mim e tentava pegar, sem sucesso. Olhei de canto de olho para o e percebi que ele encarava a cena de boca aberta. O que ele estava olhando? Ah, não. Ele não está mesmo olhando pra bunda dela, né? Só pode ser piada. Ok, chega de brincadeira.
Dei o filme para ela, que me olhou confusa.
- Ué, desistiu?
- Preguiça. – foi tudo que eu respondi. levantou e foi colocar o filme. O idiota do ainda a encarava, de boca aberta. Atirei uma almofada dele, que me olhou confuso e eu apontei para minha melhor amiga, que ainda tentava se entender com o aparelho de DVD. Ele entendeu o que eu quis dizer e ficou um pouco vermelho. Que fofinho. Ok, mentira.
Eu sei o que você está pensando. Não, não é ciúmes. É só... Cuidado. Eu sei o tipo de cara que o é e eu sei muito bem que ele nunca teve um namoro sério. Eu não ia deixá-lo fazer a minha irmãzinha de idiota, não ia mesmo.
Levantei e fui ajudar com o filme.
- Quer ajuda?
- Acho que tá quebrado. – ela cutucava o aparelho.
- Já tentou fazer isso? – peguei o fio e liguei na TV, onde imediatamente apareceu o Menu do filme.
- Acho que não. – ela riu, indo para o sofá e sentando ao lado de . Sentei ao lado dela e apertei o play. pegou uma almofada e colocou no meu colo, deitando em cima, e jogou suas pernas no colo de , que riu.
*
O filme já tinha começado quando desceu. Ela sentou ao lado de e assistiu com a gente. Eu já tinha visto aquele filme mil vezes com ela... A gente adorava.
Chegou a cena da Dakota, na qual ela cantava nossa música preferida. Tirei minhas pernas de cima de e saí do colo de . entendeu imediatamente e levantou comigo. Fiquei em um lado da sala e ela no outro.
- CAN’T STAY AT HOME CAN’T STAY AT SCHOOL! – começou, indo até o meio da sala.
- OLD FOLKS SAY, YA POOR LITTLE FOOL! – foi a minha vez, indo também até o meio da sala.
- DOWN THE STREET I’M THE GIRL NEXT DOOR. – cantamos juntas, jogando o braço pra direita e subindo-o enquanto tava uma rebolada básica. – I’M THE FOX YOU’VE BEEN WAITING FOR. – gritamos apontando uma pra outra.
- HELLO DADDY, HELLO MOM. – cantamos, jogando o cabelo de um lado pro outro. – I’M YOUR CH CH CH CH CH CH CH CHERRY BOMB! – essa parte cantamos balançando os ombros. – HELLO WORLD, I’M YOUR WILD GIRL. – eu e gritamos, usando a mão como microfone. – I’M YOUR CH CH CH CH CH CH CH CHERRY BOMB! – gritamos, pulando de volta pro sofá e começando a gargalhar. também começou a rir.
- Vocês e essas coreografias malucas... – ele falou revirando os olhos. Dei uma leve olhada para , lembrando-me de sua presença somente naquele segundo, e vi que ele estava com a boca um pouco aberta e olhando para lugar nenhum. Ri baixo. Não era minha intenção provocá-lo, mas funcionou de uma forma ou de outra. Ele levantou de repente.
- Ué, vai pra onde? – perguntou.
- Tomar um banho... Gelado, bem gelado. – ele subiu correndo e eu segurei uma gargalhada.
Capítulo. 20 - You got me going crazy
*
Era disso que eu estava falando. Qual é! O não vai aguentar muito tempo.
- Vou ao banheiro. – falei para e , que viam o filme com atenção. Fui até o quarto de e fiquei esperando-o sair do banho. Ele saiu e eu ri.
- Entendeu agora do que eu estava falando? Se for continuar aqui vai ter que tomar muitos banhos, irmãozinho. Se eu fosse você, desistiria enquanto é tempo.
- Eu nunca desisto, irmãzinha. Mas também é sacanagem o que você está fazendo comigo. Ainda bem que você trabalha, aí não vai estar aqui o tempo todo pra ficar dançando com ela por aí. – ele disse e eu gargalhei.
- Você acha mesmo que é só aquilo? Quer ver coisa pior? Fica pra almoçar amanhã. Aí você vai ver. Eu não vou estar aqui, vou almoçar com o Billy. Só me conte depois como foi. – eu ri irônica e fui para o meu próprio quarto.
*
[N/A: Música] {Dica da autora: se quiserem ver o vídeo primeiro, para inspirar na hora de imaginar a cena, eu recomendo.}
Acordei e já eram onze horas. Troquei de roupa e fiz minha higiene matinal, indo em direção às escadas. Antes de descer, dei uma olhada no quarto de e ela não estava lá. Tinha ido almoçar com o Billy, é verdade.
Desci ouvindo uma música alta proveniente da cozinha.
Fui até lá e vi um rádio no chão, na porta. Olhei para dentro da cozinha e estava de costas para mim. A música que estava tocando acabou e outra começou. Ela se mexia no ritmo da música enquanto colocava algumas coisas dentro de uma panela. A roupa que ela usava? Uma blusa. Somente uma blusa. A mesma cobria até metade de sua bunda, deixando a mostra sua calcinha listrada.
I bought a new pair of shoes
I got a new attitude when I walk
'Cos I'm so over you
And it's all about tonight
Acho que entendo o que minha irmã quis dizer. Então era assim que cozinhava? Respirei fundo, mas sem fazer barulho. Afinal, ela ainda não tinha me visto ali.
I'm going out with the girls
Ready to show all the boys what I got
I'm letting go of the hurt
'Cos it's all about tonight
Ela rebolava, enquanto mexia com uma colher o conteúdo da panela. Ela foi, dançando, buscar algo na geladeira e foi para a pia com dois tomates na mão.
Yeah the night is alive
You can feel the heartbeat
Let's just go with the flow
We've been working all week
Tomorrow doesn't matter
when you're moving your feet
It's all about tonight
Enquanto ela cortava os tomates, mexia a cabeça e rebolava no ritmo da música, algumas vezes dobrando o joelho. Mordi o lábio inferior, com a respiração pesada.
We'll be dancing and singing
and climbing up on the tables
We'll be rocking this party
So tell the Dj don't stop!
Nessa hora, jogou os tomates na panela e virou para onde eu estava, de olhos fechados. Ela jogou os braços para cima e rebolou mais ainda, dessa vez até o chão. Eu não conseguia parar de olhar, estava vidrado na cena à minha frente.
Grab someone if you're single
Grab someone if you're not
It's all about tonight
A garota foi, jogando os cabelos e rebolando, até a geladeira, com um copo na mão. Serviu um copo de suco e bebeu, parando pela primeira vez. Deixou o copo na bancada e mexeu os ombros, andando de modo sexy até o fogão e voltando a mexer a panela, rebolando.
Ok, já chega. Fechei os olhos e fui de modo decidido até as escadas.
Acho que eu preciso de outro banho.
*
Pensei ter ouvido um barulho enquanto cozinhava, mas devia ser o vento. Eu continuava cozinhando – e dançando – no ritmo de uma das minhas músicas preferidas. Terminei de fazer o molho na mesma hora que o macarrão ficou pronto. Eu realmente amo cozinhar, ainda mais ouvindo música! É... Relaxante.
Coloquei o macarrão em um prato e joguei o molho por cima, na mesma hora em que apareceu, com a cara amassada.
- Bom dia. – ele falou, com a voz ainda rouca.
- Bom dia. – eu ri, olhando seus cabelos bagunçados. – Cansou da minha cama?
- Nem lá em cima eu tenho sossego. Esse rádio está muito alto. – ele foi até o rádio e o desligou. Acordei cedo hoje e, como estava dormindo na sala e eu estava cozinhando com a música alta, ele pediu para ir dormir no meu quarto e eu deixei.
Ele veio até mim e me deu um beijo na bochecha.
- Cadê o ? – ele perguntou, levando o macarrão para a mesa.
- Não sei... – dei de ombros. – Deve estar dormindo ainda.
- Não estou não! – entrou na cozinha, me assustando. Ele estava... Lindo. Com os cabelos molhados, uma calça jeans escura e uma blusa azul marinho. – Bom dia. – ele riu.
Olhei para mim mesma e percebi a roupa que usava. Ou a falta dela. Porcaria.
- Eu... Já volto. – saí correndo em direção ao quarto e coloquei um short.
Desci silenciosamente e ouvi um pedaço da conversa de com .
- Como você consegue conviver com ela? – falava desesperado. Do que ele está falando? O que foi que eu fiz? – Você viu o jeito como ela cozinha? Cara. – ele suspirou. Quando que ele tinha me visto... AH! O barulho na cozinha de manhã. Era ele.
- Você quer dizer com pouca roupa e muita música? – perguntou e ele confirmou. – Normal, cara. A sempre cozinha assim.
- Normal? Você acha normal? – riu irônico. – Desculpa perguntar, Thomas... Mas você é gay?
- Não, claro que não. – riu. - Eu só não estou apaixonado pela .
- O que você quer dizer com isso? – perguntou, aparentando um pouco de nervosismo.
Entrei na cozinha e fui em direção aos armários, pegando os pratos. Os dois garotos estavam quietos. Olhei para eles e percebi que estava um pouco vermelho.
- Algum problema? – encarei-os confusa. levantou e me ajudou com os pratos.
- Não, nenhum. – respondeu, pegando os copos e levando para a mesa.
já tinha chegado do almoço com Billy e eu, ela, Billy, e conversávamos no jardim.
- Eu vou ter que ir. – levantou.
- Também vou. – Billy levantou, dando um selinho em .
- Eu levo vocês até a porta. – falei, guiando-os até lá.
*
- E ai, como foi o almoço? – falou irônica assim que , e Billy sumiram de vista.
- Engraçadinha. - a encarei. voltou e ficamos calados.
- Hey, ! A gente podia ensaiar uma cena, né? As filmagens começam amanhã. – ela falou e eu concordei com a cabeça. – Já decorou as falas?
- Já e você? – perguntei.
- Ontem. – ela riu.
- Posso ver? – perguntou. Claro, o bônus. Ela não perderia essa oportunidade.
- Se você não atrapalhar... – respondeu e minha irmã comemorou.
*
Eu queria tanto ver esse ensaio. Eu nem respirava, de tanta concentração. e - quer dizer, Joseph e Melanie – caminhavam de mãos dadas, e foi assim que a cena começou.
Ela (deitando no ombro dele): Você sabe que eu vou ter de ir embora, não sabe?
Ele: Eu sei... Só não entendi o motivo.
Ela: É complicado... Se eu te contar é possível que você fique em perigo, e eu não quero isso.
Ele (pegando o rosto dela entre as mãos): Eu só quero que você prometa que nunca vai me esquecer.
Ela (sorrindo): Eu prometo.
Ele: Eu quero que você saiba que, não importa pra onde você for, eu vou te encontrar.
(Ela começa a falar, mas ele a impede, colocando o indicador em seus lábios)
Ele: Sabe por quê? Porque desde o dia que você nasceu, você já estava destinada a ficar comigo. Sabe por quê? (Ela ri, balançando a cabeça negativamente) Porque eu amo você. Antes mesmo de eu te conhecer, eu já te amava mais que a minha própria vida. Está escrito lá em cima (ele aponta para o céu) que você é minha. Então, de um jeito ou de outro, você vai voltar para mim. E nós vamos ter nossos cinco filhos.
Ela (rindo): Eu amo você. Nunca duvide disso, Joseph. Nunca.
Ele: Só se você me prometer que vai ler essa carta (ele entrega um envelope) quando estiver no avião. Ou quando estiver triste. Ou quando sentir saudades. Ou quando... Enfim. Você vai ler isso, e vai ter a certeza de que eu te amo.
Ela: Prometo.
(E eles se beijam)
Ela (chorando): Eu preciso ir.
(Ela sai)
Ele: Eu estou bem atrás de você.
(Ele sai, pelo mesmo caminho que ela)
Que. Coisa. Mais. Fofa.
E foi tão... Real.
Sério, nunca na vida imaginei que meu irmão atuasse desse jeito.
- CARAMBA! ISSO FOI... PERFEITO. – eu falei para os dois. e só se olhavam. Resolvi não atrapalhar o momento e saí de fininho.
*
Eu e nos encarávamos há algum tempo, mas nenhum de nós se atreveu a quebrar o silêncio. Aquela cena tinha saído do jeitinho que era pra ser... E aquele beijo não tinha sido nada técnico, só digo isso.
Eu não conseguia explicar o que estava acontecendo entre nós dois. Uma hora ele parecia só um cara que eu tinha acabado de conhecer e achava bonitinho... Na outra, ele é o cara pelo qual eu estou completamente apaixonada.
Eu conhecia o há exatamente dez dias. Dez dias! E eu já sabia que ele era engraçado, fofo, meio lerdo, carinhoso, romântico (dessa eu não tinha 100% de certeza, mas podia apostar que era), preocupado com a irmã (apesar de odiar demonstrar) e ele tinha um lado criança que me encantava demais.
Eu sabia que no quesito relacionamentos ele era completamente diferente de mim. O oposto mesmo. Ele pegava todo mundo, sem se importar com os sentimentos.
Eu tinha a certeza de que eu mexia com ele... Mas eu não sabia se essa atração – na falta de palavra melhor – era forte o suficiente para fazê-lo se apaixonar por mim. Eu não tinha total confiança no ... Tinha medo de confessar para ele o que eu sentia e ele quebrar meu coração, como o Adam fez.
Sim, ele mexe comigo também. Sim, tudo que eu quero é estar do lado dele e só dele. Mas será que é isso que ele quer?
- Está tudo bem? – ele falou, cutucando a ruga de preocupação em minha testa.
- Tudo... Eu só estava pensando.
- Posso saber no que? – ele sorriu. Ah, não. O sorriso não. Aí já é golpe baixo, produção.
- Melhor não... – eu suspirei, indo para o quarto sem olhar para trás.
*
Bufei com raiva e subi alguns minutos depois de . Essa garota só pode estar brincando com a minha cara, não é possível. Mas ok, eu confesso: talvez sinta alguma coisa por ela. Talvez.
Passei na frente do quarto de e a porta estava entreaberta, consegui ouvir a voz de .
- É como se eu fosse de Vênus e ele de Marte, . Não dá! Nós dois somos muito diferentes!
Ela está falando de mim? Parei na porta para escutar.
- Mas, ... Já ouviu falar que os opostos se atraem? – minha irmã disse.
- Ok, os opostos se atraem. Se ele gostar de laranja e eu de maçã! – ela falou, aumentando o tom de voz, mas logo voltando ao normal. - Mas no quesito “relacionamentos” ele pega geral sem se preocupar com nada, eu não. Eu saio pra balada sim, mas eu não vou pra lá pensando em quem eu vou agarrar, ou melhor, em quantos. Eu só quero dançar, e sozinha. Pra dar certo, um dos dois precisaria mudar e eu não vou fazer isso, nem ele.
- Então você admite que sente alguma coisa por ele? – perguntou. Isso! É isso que eu quero saber. Cheguei mais perto da porta, com cuidado.
- Não, claro que não! – ela respondeu. Ok, eu já ouvi o suficiente. Voltei para o meu quarto, fechando a porta com cuidado, pra elas não ouvirem. Fui até a cama e enfiei a cara no travesseiro.
Que merda está acontecendo comigo?
*
- Então você admite que sente alguma coisa por ele? – perguntou, me olhando curiosa.
- Não, claro que não! – eu respondi e ficou me encarando com as sobrancelhas levantadas. Eu conto ou não conto? Ó, dilema. Contar ou não contar, eis a questão! Ok, parei. Ela merece saber, é minha melhor amiga. Suspirei. – Sentir eu sinto, mas admitir eu não admito não. Já pensou se isso chega aos ouvidos dele? Ele vai saber meu ponto fraco e vai me usar pra depois jogar fora. Acorda , teu irmão não é nenhum santo.
- E você se apaixonou por ele porque gosta dos vilões? – ela me olhou irônica. – Alguma coisa boa ele tem, . E se você se apaixonou por ele, é porque você viu isso. – ela sorriu. – O seu coração, ao contrário do meu, é inteligente. – ela riu um pouco antes de continuar. - Você nunca se apaixonaria por alguém que não te merecesse.
Suspirei. Será que ela tinha razão?
A porta abriu e entrou, sério.
- , estou indo na casa do . – ele disse, sem olhar para mim.
- Ei. – chamei.
- O que? – ele falou, encarando o chão.
- Diz pro que eu mandei um beijo.
- Tá. - ele saiu, ainda sem olhar na minha cara. O que aconteceu? Será que eu fiz alguma coisa?
- O que será que aconteceu? – acabei falando em voz alta.
- Do que você está falando?
- Seu irmão... Nem olhou na minha cara.
- Mas ele foi super frio comigo também... Ele deve ter brigado com alguém da banda, sei lá. Deve estar indo na casa do resolver isso... Vai saber.
- Ainda não me acostumei com o fato de os dois serem da mesma banda. – eu ri.
- Com o tempo você acostuma.
*
“Você nunca se apaixonaria por alguém que não te merecesse.”
“Você nunca se apaixonaria por alguém que não te merecesse.”
“Você nunca se apaixonaria por alguém que não te merecesse.”
Essa maldita frase martelava na minha mente em um ritmo frenético enquanto eu dirigia para a casa do . Ela nunca se apaixonaria por alguém que não a merecesse. E esse alguém sou eu, certo? Claro que eu não mereço a . Ela é tão... Incrível. Eu? Sou só um idiota que me apaixonei loucamente pela encantadora melhor amiga da minha irmã. Eu não presto mesmo.
Cheguei à casa de e toquei a campainha, assim que ele abriu já fui entrando.
- Ei, o que houve cara? – ele falou vindo até mim. Sentei no sofá e escondi a cabeça nas mãos. O é o melhor amigo dela, será que não é perigoso contar pra ele? Ah, foda-se. Ele é meu melhor amigo também. sentou ao meu lado. – Fala, ! Eu to ficando preocupado já, porra.
Respirei fundo e olhei para ele.
- Eu estou apaixonado pela . – ele arregalou os olhos e me encarou, em silêncio.
- Ok, próxima piada, por favor. – ele riu e eu continuei o encarando, sério. Ele percebeu. - Caramba. Apaixonado? Você? Conta outra, .
- É verdade, . Eu também não sei que merda está acontecendo comigo. Mas desde que ela apareceu, eu me pego pensando em coisas que eu nunca tinha pensado antes.
- Por exemplo?
- Por exemplo, levá-la pra jantar. Mas não pra me dar bem depois, pra conversar. Conhece-la melhor, saber do que ela gosta, do que ela não gosta. Sei lá, estou me sentindo estranho nesses dias.
- Nossa... Tem certeza?
- Que eu a amo? Pior é que eu tenho. – suspirei pesadamente. Era desagradável admitir isso em voz alta, eu imaginava que as paredes conseguiam escutar e que ia aparecer do nada, rindo da minha cara. – Mas ela já disse pra que não gosta de mim.
- Disse? – ele me olhou, com pena.
- Disse. Eu sei, sou um lascado mesmo. Primeira vez que eu me apaixono de verdade, e ela não quer me ver nem pintado.
- Eu queria poder te dizer alguma coisa legal, mas se ela disse pra ...
- Eu sei. Não precisa falar nada não, eu só precisava desabafar. Valeu, cara. – levantei e fui saindo.
- Ei, vai pra onde?
- Adivinha. – ele riu e concordou. Ele definitivamente sabia pra onde eu iria.
- Inaugurou um pub aqui perto semana passada, não fui lá ainda e marquei hoje com uns amigos. Tá a fim?
- Claro, vamos lá. – saímos no carro do e chegamos ao pub em menos de sete minutos.
Trinta minutos depois...
Eu estava com um copo na mão e uma mulher do meu lado, mas sabe qual é o pior? Eu não conseguia parar de pensar na . É verdade. Eu me sinto um idiota. O que tem de errado comigo? Eu estava com uma mulher linda, mas pensava em .
- Então... A gente podia ir para a sua casa né... – a minha acompanhante, cujo nome eu honestamente não lembro, falou em meu ouvido.
- Apartamento. – respondi, pensando no dia que tinha ido para lá. Nem me dei ao trabalho de falar que ele estava sendo reformado.
- Tanto faz... A gente podia ir para lá, né? – ela falava, dançando e balançando os longos cabelos loiros no ritmo da música.
- Acho melhor não. – me afastei dela e fui procurar . Ele conversava com uns amigos e com .
- Oi ! – ela sorriu e eu a abracei.
- Oi, Aly. Ei, estou indo embora.
- Ué, você não veio com o ? – perguntou.
- Vim, mas vou andando mesmo. Tchau. – acenei para ela, que acenou de volta, com o celular em mãos.
Saí andando em linha reta, sem me importar realmente para onde estava indo. Eu só andava.
O que tinha acabado de acontecer? Eu dispensei uma garota porque não conseguia parar de pensar na , é isso mesmo? Já está na hora de eu me internar, não é possível.
Passei na frente de um restaurante, um casal tinha acabado de entrar lá. Eles estavam de mãos dadas e pareciam bastante felizes. Confesso que senti um pouco de inveja deles.
Uma buzina me assustou.
- Ei! – ouvi e olhei na direção do barulho. me olhava, sorrindo, com o vidro do carro aberto. [n/a: imaginem que você pegou emprestado o carro do seu McGuy, já que ele foi para o pub com o seu melhor amigo, ok?] – Quer uma carona?
Fui em direção a ela e entrei no carro.
- Como você... – comecei, mas ela me interrompeu.
- me mandou uma mensagem dizendo que você estava precisando de uma carona.
- Eu vou matar a Aly...
- Pensei que você estivesse com o . – ela disse, dando partida no carro.
- Eu estava. – falei e ela me olhou rapidamente, confusa. – Ela é namorada dele, sabia?
- Ela é a ? A namorada do ? Caramba!
- Você é melhor amiga do e não sabia disso?
- Eu sabia que ele namorava uma menina chamada , eu já tinha até falado com ela pelo MSN uma vez, apesar de nunca ter conhecido ela pessoalmente. Mas não sabia que era essa . – ela riu. – Preparado para amanhã?
- Amanhã?
- Primeiro dia das filmagens?
- Ah, é. Tinha me esquecido completamente. – falei, rindo de minha falta de atenção. /p>
*
Chegamos em casa e subiu praticamente correndo, parecia que ele estava evitando falar comigo por algum motivo. chegou logo depois de nós, saltitando.
- EU ESTOU NAMORANDO O BILLY. – ela gritou.
- JURA? OMG! – gritei também e ficamos pulando juntas. – Como foi? Conta!
No dia seguinte...
Acordei antes de todo mundo e fui para o estúdio, passando antes na Starbucks e comprando dois cafés. Cheguei e Mike já me esperava. Deu um sorriso enorme quando viu os cafés em minhas mãos. Pegou um, tomando um gole, e fomos para a maquiagem.
- Olá. – a maquiadora chamada Frida (li o nome no crachá) falou, sorrindo. – Bem vinda.
- Obrigada. – sorri também.
- Podemos começar? – ela apontou para uma cadeira e eu sentei.
- Sim!
Em poucas horas eu já estava pronta para gravar, tinha chegado a pouco e estava terminando de arrumar o figurino.
Depois de alguns minutos, ele entrou na sala onde estávamos. Estava... Lindo. Uma calça preta social, com uma blusa polo azul e sapatos pretos. Assim que entrou, sorriu e eu tive que me controlar para não suspirar.
- Todos em posição! – o diretor falou e eu e fomos para o local da cena. – Um, dois, três... Ação!
Encostei minha cabeça no ombro de e entrelacei nossas mãos.
- Você sabe que eu vou ter de ir embora, não sabe? – falei, exatamente como no script.
- Eu sei... Só não entendi o motivo. – ... falou. Simplesmente falou. Sua voz estava seca e séria, não tinha a mesma emoção de quando ensaiamos.
- É complicado... Se eu te contar é possível que você fique em perigo, e eu não quero isso. – falei, virando-me de frente para ele, que segurou meu rosto entre as mãos, mas não olhou em meus olhos. Ele fitava o nada.
- Eu só quero que você... – ele começou.
- ASSIM NÃO DÁ, ! – o diretor gritou, interrompendo a cena (ou a tentativa dela). – CADÊ A EMOÇÃO? Vocês se amam, acordem! Entrem no personagem. Vamos do começo novamente... Ação!
Ok. Profissionalismo. Vou esquecer toda a palhaçada de esconder o que eu sinto de e entrar de verdade no personagem, como se eu fosse ela.
- Você sabe que eu vou ter de ir embora, não sabe? – falei, olhando-o com uma cara triste e encostando minha cabeça em seu ombro.
- Eu sei... Só não entendi o motivo. – ele falou, aparentando a mesma voz triste e inclinando de leve a cabeça sobre a minha. Pegou minha mão e beijou-a. Isso não estava no roteiro, mas foi fofo.
- É complicado... – eu suspirei, olhando para o chão e sentindo as lágrimas invadirem meus olhos. Isso ficou melhor do que eu esperava. - Se eu te contar é possível que você fique em perigo. - virei de frente para ele coloquei a mão direita por trás de sua cabeça, o olhando carinhosamente. - E eu não quero isso.
Ele segurou meu rosto e olhou fundo em meus olhos, tive que me concentrar bastante para permanecer na personagem.
- Eu só quero que você prometa que nunca vai me esquecer. – ele falou baixo, dando ênfase no “nunca”.
- Eu prometo. – sorri fraco, por entre as lágrimas. aproximou seu rosto do meu, colando nossas testas.
- Eu quero que você saiba que, não importa pra onde você for, eu vou te encontrar. – ele disse, ainda olhando em meus olhos.
- Mas... – comecei, mas ele colocou o indicador em meus lábios.
- Sabe por quê? – ele perguntou e eu balancei a cabeça negativamente, de leve. - Porque desde o dia que você nasceu, você já estava destinada a ficar comigo. Sabe por quê? – balancei a cabeça negativamente de novo, rindo baixo. - Porque eu amo você. – ele disse e pareceu incrivelmente sincero. Ele é realmente um ótimo ator, uau. - Antes mesmo de eu te conhecer, eu já te amava mais que a minha própria vida. Está escrito lá em cima – ele apontou para o céu - que você é minha. Então, de um jeito ou de outro, você vai voltar para mim. E nós vamos ter nossos cinco filhos. – ele falou e eu ri baixo.
- Eu amo você. – falei sincera. Eu não estava interpretando essa parte. - Nunca duvide disso, Joseph. Nunca. – Juro que eu quase falei . Juro. Mas consertei no último segundo e falei “Joseph”. Minha última fala me acordou. Estou em uma cena. Foco, .
- Só se você me prometer que vai ler essa carta – ele sussurrou, me entregando um envelope, peguei o mesmo e segurei perto do coração - quando estiver no avião. Ou quando estiver triste. Ou quando sentir saudades. Ou quando... – ele suspirou. - Enfim. Você vai ler isso, e vai ter a certeza de que eu te amo.
- Prometo. – eu sorri fraco. foi se aproximando até nossos lábios se tocarem. Ele passou a mão na minha cintura e me puxou mais para perto, colando nossos corpos. Só digo uma coisa: isso definitivamente não é um beijo técnico. Ok, foco. Já beijei demais, tá na hora da minha fala. Qual é ela mesmo? Ah, lembrei. Fui me afastando devagar dele, terminando o beijo com um selinho. Meus olhos se encheram de lágrimas e duas escorreram pelo meu rosto.
- Eu preciso ir. – dei mais um selinho nele e saí devagar, sentando em uma cadeira que tinha do lado de fora da cena e pegando um papel para secar as lágrimas. sorriu fraco.
- Eu estou bem atrás de você. – ele sussurrou, saindo pelo mesmo lugar que eu tinha saído e sentando na cadeira ao lado da minha.
Todos – diretor, câmera, o pessoal dos bastidores, maquiagem, figurino, o rapaz da limpeza. Todos. – aplaudiram de pé assim que o diretor falou “Corta”. Confesso: a cena tinha ficado realmente boa. Sorri, agradecendo a todos com o olhar e me virei para , que também sorria, abraçando-o.
- Parabéns. Você foi incrível. – disse sincera. Ele riu.
- Obrigado, você também. – ele me abraçou, levantando-me do chão um pouco. Ele me soltou e, por algum motivo, nós dois ficamos sem jeito, como se tivéssemos feito algo errado. Olhei para o chão e fui para o camarim trocar de roupa para gravar a próxima cena.
Capítulo. 21 - Hit the lights, let the music move you
Para comemorar o primeiro dia das filmagens, saímos à noite, fomos a um bar perto de lá. Eu chamei e , chamou e Billy. Frida (a maquiadora), Jensen (o cabeleireiro), Grace (a figurinista) e mais alguns membros da equipe que eu esqueci o nome estavam lá.
- Vou pegar algo para beber. – falei me levantando. Apesar de ter a impressão de que ninguém tinha escutado, não repeti, apenas fui até o bar. O barman sorriu quando me viu, sentei-me em um dos banquinhos e pedi uma tequila. Enquanto ele preparava, ficava me olhando com uma cara nada inocente.
- Aqui. – ele me entregou e eu agradeci, tomando um gole. O barman, que ainda me olhava, escorou-se no balcão e num sussurro disse:
- Seu namorado não para de olhar para cá.
- Não sei de quem você está falando, mas está errado. – falei, sorrindo. Ele sorriu também, mas teve que ir atender outra pessoa. Quando ele saiu, aproveitei para dar uma espiada por cima do ombro. Assim que me virei vi me encarando, com uma cara não muito agradável. Quando percebeu que eu o olhava, fingiu prestar atenção na conversa que estava acontecendo na mesa. Voltei meu olhar para frente e o barman estava ali novamente, sorrindo para mim.
- Estou certo ou não? – ele arqueou a sobrancelha, apontando com o queixo para , discretamente.
- Sim, ele está olhando para cá, – falei, sorrindo e levantei o indicador. – mas ele não é meu namorado.
- Jura? – ele sorriu e eu concordei com a cabeça. – Nesse caso, meu nome é Peter. – ele estendeu a mão e eu a apertei.
- . – sorri. – E então, faz o que da vida? – eu não queria nada com ele, mas mesmo assim puxei assunto, viu como eu sou fofa?
- Estudo psicologia. E você?
- Sou atriz. – ele me olhou surpreso.
- É mesmo? – ele perguntou e eu ri, concordando.
*
estava no maior papo com o barman engomadinho e parecia estar se divertindo bastante. foi ao banheiro e eu aproveitei a oportunidade para falar com .
- Você está vendo aquilo? – apontei para a cena.
- Qual o problema? A não é nenhuma criança, .
- Faz alguma coisa. – eu praticamente implorei. Se eu continuasse vendo aquilo, iria ficar maluco.
- Desculpe, mas não dá. Ela já é bem grandinha pra saber o que quer da vida. E eu aposto dez contra um como ela não vai pegar esse cara.
- Como você sabe? – perguntei surpreso e ele riu.
- Eu conheço a minha melhor amiga. Dá pra perceber que ela está conversando com ele só por conversar. – ele disse e eu desisti de tentar convencê-lo. Suspirei frustrado. Era bom que aquela conversa acabasse logo.
*
Fiquei conversando com Peter por alguns minutos, mas minha música favorita começou a tocar e eu tive que me despedir dele, indo para a pista de dança. Chegando lá, encontrei , que dançava com Billy. Ela me viu e piscou para mim, sorrindo e voltando a dançar. Fechei os olhos e comecei a dançar também, sentindo a música. Eu amava aquilo. A música entrava pelos meus ouvidos e eu sorria, mexendo-me no seu ritmo. Só me atrevi a abrir os olhos quando a música acabou e me surpreendi quando vi Peter vindo em minha direção.
- Ué, você não deveria estar trabalhando? – perguntei.
- Meu turno já acabou. – ele deu de ombros, começando a se mexer no ritmo da música que tinha começado a tocar.
- Mas já? – parecia tão cedo, pra um barman.
- Comecei a trabalhar meio dia hoje, de tarde aqui é restaurante. – ele explicou, colocando a mão na minha cintura e dançando.
Merda, o que esse cara quer? – pergunta retórica, eu sei muito bem o que ele quer. - Só pode ser brincadeira.
*
estava com as mãos grudadas no banco e eu podia jurar que ele suava frio. Era até um pouco engraçada sua cara olhando a dançando com o barman. Ele estava morrendo de ciúmes, isso era claro. Observei dançar com o cara e percebi que ela estava com os braços livres, apesar de ele segurá-la pela cintura, enquanto os dois dançavam. Isso não era um bom sinal. Eu falei que ela não queria nada com ele, não falei? Falei! Até porque, se ela quisesse, já estaria com os braços ao redor do pescoço dele. E eu não digo isso porque sou o melhor amigo dela, eu digo isso porque é uma coisa óbvia. Só não percebia. Eu ri dele, que idiota.
- Posso saber qual é a graça? – Aly me cutucou de leve, sorrindo. Dei um selinho nela e me aproximei de seu ouvido, sussurrando:
- Olha pra cara do , ele vai ter um treco de tanto ciúme. – falei e ela o observou, divertida. Sim, eu tinha contado para sobre o estar apaixonado pela . Mas, poxa, ela é minha namorada e prometeu que não diria nada pra ela.
- Olha isso, Fletcher. – me cutucou e eu olhei para a pista de dança. O tal barman se aproximou de , mas ela delicadamente o afastou. fez menção a se levantar, mas eu o impedi.
- Você não vai até lá. – falei sério, e ele concordou.
- Você está certo. Se eu for vou ter que ter uma desculpa muito boa. – ele suspirou e eu concordei, voltando a observar a garota. O cara continuava tentando agarrar ela, mas o afastava. Teve uma hora que ele a puxou mais para perto, quase a beijando e ela virou o rosto no mesmo segundo. Nessa hora ela olhou para mim e consegui reconhecer em seus olhos um pedido de ajuda. Olhei para e ele já estava com os punhos fechados.
- Eu vou até lá. – falei para e , que assentiram, e levantei, indo até onde estava. Chegando lá, parei perto deles e fiquei só observando. Teve uma hora que ele segurou o braço dela e ela disse:
- SOLTA. – nessa hora, cheguei mais perto, fazendo os dois notarem minha presença.
- Você é surdo? Larga ela. – falei, sério e ele me olhou com raiva. se afastou do cara e ficou um pouco atrás de mim, segurando meu braço.
- Que palhaçada é essa? – o barman perguntou, um pouco alterado.
- Eu te disse que não queria nada com você, não disse, Peter?
- Você... – ele começou a falar, mas parou. Olhou para ela com raiva e foi embora quase imediatamente. Virei-me para .
- Você está bem? – ela suspirou, sorrindo.
- Sim. Obrigada. Achei que nunca fosse me livrar desse cara. – ela riu, colocando as mãos em meus ombros, me fazendo balançar no ritmo da música, enquanto ela dançava. Eu ri e comecei a dançar também.
*
tinha ido lá e, apesar de não ter ouvido a conversa, sei que ele afastou o idiota do barman, já que o cara foi embora. Finalmente! A não estava mesmo pensando em ficar com aquele cara, né? Ele tinha cara de retardado, um cabelo enorme e espetado e um estilo ridículo. Não que eu entenda de moda, mas aquele cara era patético.
e dançavam, ela estava com as mãos apoiadas no ombro dele e os dois dançavam. Às vezes eles paravam de dançar para rir de alguma coisa que eu (obviamente) não sabia qual era. Eles eram bem amigos, né? Pareciam se divertir muito juntos e adoravam se agarrar, que coisa. A cada minuto eles se abraçavam ou beijavam a bochecha um do outro, que grude, eu hein. Como a não tem ciúmes? Se eu fosse namorado da (quem dera) morreria de ciúmes.
- Como você aguenta? – falei para ela e Aly me olhou, confusa. – Esse grude da com o seu namorado.
- Eles são melhores amigos, . Normal. – ela riu. – Não esqueça que eu e você também somos e, apesar de ter ciúmes, o nunca reclamou. – ela olhou para mim, divertida. – Você está com ciúmes do ? – Aly gargalhou. – Daquele cara lá eu até entendo, mas do ? – ela parecia estar se divertindo mais do que nunca vendo minha cara. Eu pareço um palhaço, por acaso? Que saco. Todo mundo zoa com a minha cara porque eu supostamente sinto ciúmes.
- Não é ciúmes... – comecei a me explicar, mas me encarou. – Ok. Daquele barman era. – confessei. Não adiantava mesmo mentir para ela. – Mas do , não é ciúmes. É... Inveja. – eu suspirei. – Ele é muito próximo dela. De um jeito que eu nunca vou ser.
- Você é muito pessimista, sabia? Como você pode ter tanta certeza de que nunca vai ter nada com ela?
- Ela disse pra minha irmã que não gostava de mim.
- Ela pode ter mentido. Ou você pode ter escutado só uma parte da conversa. Ai, qual é ! Você nunca vai saber se não tentar! – ela me olhou, sorrindo. – Por que você não fala pra ela como se sente? Ou dá indireta, sei lá.
- Você sabe de alguma coisa que eu não sei? – a encarei. Ela parecia esconder alguma coisa.
- Claro que não! – ela riu, balançando a cabeça. – Eu só acho que você não vai aguentar muito tempo guardando isso só pra você. – ela puxou meu rosto, obrigando-me a olhar em seus olhos. – Você é um cara incrível , se ela não gostar de você ela é uma tapada. – eu ri com o comentário dela.
- Obrigada, eu acho. – a encarei, confuso e ela gargalhou. e voltaram.
- Hey, estou indo. – ela falou.
- Aconteceu alguma coisa? – perguntei, segurando-me para não olhá-la nos olhos, senão era capaz de eu fazer alguma besteira.
- Minha mãe vai ter que sair e eu vou ter que ficar com a minha irmãzinha. – ela respondeu.
- Quer uma carona? – ofereci. Que foi? Sou educado, caramba.
- Acho que eu vou aceitar. – ela sorriu, despedindo-se de todos. Fiz o mesmo e a acompanhei até o carro. Entramos e eu dei a partida.
- Notícias do meu carro? – ela perguntou.
- Caramba, esqueci mesmo de te avisar. – bati na testa. Eu tinha esquecido completamente. – Desculpe. Fica pronto na segunda.
- Ok. – ela sorriu, olhando para frente e ligando o rádio.
Eu, e Mery assistíamos a algum filme da Barbie que passava na TV. Não sei porque estava assistindo a isso.
- Vocês querem comer alguma coisa? – perguntou se levantando. [n/a: perceberam que eu gosto de comer, né? :3]
- Tem bolo? – Mery perguntou. Essa garotinha era bem fofa. Tinha os olhos e a beleza da irmã, parecia ter uns quatro anos e tinha um cabelo ruivo. era louca por essa menina, isso era claro só pelo jeito de ela olhá-la.
- Tem sim, bebê. Quer? – ela perguntou, carinhosa e a pequena concordou. – Quer também, ? – ela me perguntou e eu concordei. saiu e foi até a cozinha. Meredith virou para mim e sorrindo disse:
- Eu acho que ela gosta de você.
Eu ri, levantando e sentando próximo a ela no sofá.
- Você acha? – perguntei e ela riu.
- Eu acho. – respondeu decidida.
- Por quê?
- Sei lá. – ela deu de ombros. – Eu só acho. – falou e, nessa hora, voltou, com dois pratos de bolo na mão. Ela foi para a cozinha buscar o dela e logo retornou, sentando no sofá conosco.
Acordei cedo e me arrumei, descendo para tomar café. Cheguei lá e fazia o café.
- Bom dia. – falei e ela deu um pulo, virando para mim. – Acordou... – parei no meio da frase, olhando para ela. usava um shorts curto, junto com uma blusa preta que deixava seu ombro esquerdo a mostra. Juro que um dia eu enlouqueço com essa garota. Mesmo sem querer, ela consegue ser incrivelmente linda... E perigosamente sexy. Não sei se eu vou suportar um dia inteiro com ela e com esse short. É capaz de eu fazer alguma besteira. Ou não. Ela riu, despertando-me do transe.
- É, acordei... – ela pareceu confusa com a minha última fala. – Me dá uma carona hoje?
“Claro, todas que você quiser.”Quase respondi. Mas me segurei.
- Claro, dou sim. – sorri, indo pegar uma xícara.
Tomamos café e em menos de dez minutos estávamos prontos. A viagem até casa da mãe de (para deixar Mery) e depois até o estúdio não fora longa, mas mesmo assim bem cansativa. Eu tinha que respirar fundo toda vez que ia mudar a marcha e acabava olhando para as pernas de . Por que esse short tem que ser tão curto? Diz! Por quê? Faltou dinheiro pro tecido, foi? Querem me ver sofrer, só pode.
A primeira cena que gravamos aquele dia foi a da livraria, quando Joseph e Melanie se conheciam. Foi até fácil gravar aquela cena, considerando que o figurino de era uma calça jeans e uma blusa vermelha, com um casaco bege.
As próximas cenas seriam apenas da , mas mesmo assim me sentei para assistir. Eram algumas cenas de ação, onde ela corria de um lado pro outro e outras de mistério. Ela atuava realmente bem.
Depois de ela gravar algumas cenas sozinha, foi a minha vez de gravar com ela novamente. Saí do camarim, já com meu figurino, e esperei-a. A cena que gravaríamos seria a que Joseph encontra Melanie, um mês depois que ela foi embora e pede que ela explique tudo. Ela entrou com umaroupa que lhe caía muito bem (mais shorts curtos. Respirei fundo) e se posicionou para a cena. Fiz o mesmo, indo para trás da parede onde ficava a porta. E começou.
* Narração em terceira pessoa on * [n/a: não esqueça que eles estão filmando, essa cena não se encaixa na fanfic em si. Eu quis descrever as cenas do “filme”, mas essa foi uma decisão minha. Não confunda ou misture uma história com a outra, por favor.]
A garota entrou no quarto, fechando e trancando a porta, e foi logo tirando os sapatos, atirando-os em algum canto. Tirou o cinto, o colete e a blusa, jogando-os no chão do banheiro. Suspirou e deitou na cama, apenas de sutiã e shorts. Depois de alguns segundos, alguém bateu na porta. Ela levantou com cuidado e olhou pelo olho mágico que tinha na porta. Sorriu, abrindo-a imediatamente, puxando o homem para dentro e trancando a porta novamente.
- Joseph! – ela quase gritou, praticamente pulando em cima dele. Ele sorriu e envolveu-a com os braços, soltando-a depois de alguns segundos para depositar em seus lábios um selinho demorado.
- Eu disse que te encontraria, não disse? – ele sorriu, fazendo carinho na bochecha da garota com o polegar. Ela mordeu o lábio inferior, suspirando e olhando pro chão. – O que foi?
- É... Perigoso, Joe. – ela suspirou mais uma vez. – Tem certeza?
- Tenho. Seja o que for, vou enfrentar junto com você. Mas eu quero que você me explique tudo. – ele disse e ela o puxou, fazendo-o sentar na cama. Ela pegou alguns papéis dentro de uma gaveta e sentou de pernas cruzadas na frente do garoto. Deixou os papéis de lado e começou a falar:
- Eu vim de uma família muito rica, meus pais eram empresários e tinham muito dinheiro. Quando eu tinha mais ou menos seis anos, eles morreram. – ela suspirou e ele a encarou, esperando que continuasse. – Ninguém me disse o motivo da morte, mas na época eu era uma criança e não fui atrás de saber, só ficava chorando pelos cantos. Fui morar com uma amiga da família, que me criou a partir daí e, quando eu cresci, ela me disse que eles tinham sofrido um acidente de avião, mas me escondeu os detalhes. De alguns meses pra cá, eu recebi umas cartas, perguntando sobre um “papel secreto”. – ela entregou a ele as cartas, e ele passou os olhos por algumas rapidamente. – Aí um tempo atrás eu fui sequestrada, mas consegui fugir. Fui de cidade em cidade, num total de sete, para saber mais sobre o que eles queriam e também para fugir dos caras que tinham me sequestrado.
- E você descobriu? – ele perguntou. Ela foi até ele e cochichou algo em seu ouvido. O garoto concordou com a cabeça e a abraçou. – Não vou deixar ninguém chegar perto de você. Vamos enfrentar isso juntos. – ele beijou-a no topo da cabeça e os dois deitaram abraçados na cama. A garota adormeceu rapidamente; já ele ficou somente a observando.
- CORTA. – o diretor gritou e os atores saíram, indo cada um para seu respectivo camarim.
* Narração em terceira pessoa off *
Entrei no camarim e praticamente me joguei na cadeira. Eu ia ficar maluco convivendo assim com . Eu a via em todos os lugares! (Literalmente)
“Por que você não fala pra ela como se sente?” pensei no que havia dito. “Você nunca vai saber se não tentar!”
Eu deveria?
Suspirei fundo e levantei, decidido.
Deveria. E é exatamente o que eu vou fazer.
*
Estava sentada em meu camarim, já com a minha própria roupa, e estava pensando em . Eu estava cada vez mais apaixonada por ele, apesar de odiar admitir isso. Estava convivendo com ele mais do que meu pobre coração aguenta. Eu o via muitas vezes por dia e era difícil me controlar para não agarrá-lo.
A porta abriu num estrondo e eu me levantei.
entrou e fechou a porta.
- Me explica, . – ele disse e eu o olhei confusa.
- Explicar o que, ? – eu realmente não tinha ideia do que ele estava falando.
- Porque eu gosto tanto do seu toque, do seu beijo, por que eu gosto tanto de ouvir sua voz, de conversar com você. Porque sempre que eu estou com alguma outra garota, é o seu rosto que vem a minha mente, porque sempre que eu te vejo quero tanto sentir seus lábios nos meus, porque sempre que eu penso em você, eu sorrio. Porque só de te ver com outro cara me dá um aperto no peito, porque eu quero sempre te fazer sorrir, por que eu quero seu corpo colado no meu, por que eu quero você só pra mim. – a cada “porque”, uma lágrima rolava pelo meu rosto, eu não conseguia acreditar no que eu estava ouvindo. - Me explica, por quê? Eu nunca senti isso antes e... Droga, por que você tá chorando?
Sacudi a cabeça negativamente e sorri em meio às lágrimas. Ele assentiu e continuou falando:
- Eu te amo. Eu só precisava que você soubesse disso, sei que você não se sente da mesma forma em relação a mim. – ele sorriu fraco, virou-se e começou a andar em direção a porta. Engoli o choro, suspirei rapidamente e resumi tudo o que eu queria falar em uma só frase:
- Você não sabe de nada.
Capítulo. 22 - I know that my love for you is real
se virou lentamente para mim, totalmente surpreso. A boca dele se abriu de leve e ele arqueou as sobrancelhas. Ele deu um passo em minha direção e sorriu.
- Você não pode estar falando sério. – ele disse e eu também sorri.
A porta abriu de repente, dando um susto em nós dois. Mike estava com uma cara desesperada e quando me viu, suspirou aliviado.
- Ainda bem que você ainda está aqui. Vem comigo, tivemos um problema com o seu figurino e temos que fazer outro, mas a anta da figurinista perdeu as suas medidas. – ele veio até mim e me puxou para a saída. Virei para .
- , eu... – tentei dizer, mas meu camarim logo sumiu de vista. Mike me arrastava em uma velocidade incrível, tropecei algumas vezes e por pouco não caí no chão. Pra que esse desespero todo? A gente só vai filmar de novo amanhã, que coisa! Eu preciso falar com o . E agora?
Peguei um táxi para casa e não vi nem sinal do . Assim que entrei em meu quarto, meu celular tocou.
- Alô?
- Oi, pequena!
- . – eu sorri.
– Quer vir aqui pra casa? Os caras estão aqui, a , a Annabelle e a também.
- Quem é Annabelle? – perguntei confusa. Não me lembrava de ninguém com esse nome.
- Namorada do . – pensei um pouco. ... Era o único membro do McFly que eu ainda não conhecia.
- Ah sim.
- E então? Você vem?
- Vou sim. Mas eu preciso que alguém me busque aqui, meu carro ainda não está pronto.
- Vou mandar o . – ele disse e eu concordei, despedindo-me de e desligando o telefone, deixando-o no balcão e indo tomar banho.
Coloquei uma blusa que eu amava e uma calça jeans qualquer, junto com minha ankle boot favorita. Depois de alguns minutos, meu celular alertou mensagem.
“Bu, cheguei.” Era tudo o que dizia. Ri. sempre bem direto. Desci e ele estava realmente lá. Entrei no carro e ele me deu um beijo na bochecha.
- E ai, quanto tempo. – ele riu.
- É verdade. – concordei. – O que eles estão fazendo lá?
- Karaokê. – ele respondeu e eu ri alto, tentando imaginar a cena.
Chegamos à casa de em poucos minutos, entrei e encontrei e uma garota que eu não conhecia (deduzi ser a tal Annabelle) cantando alguma música de High School Musical que eu não sabia qual era no karaokê e os outros estavam atirados no sofá. As duas cantando pareciam se divertir e eu lembrava vagamente da música, apesar de ainda não saber o nome. Eu escutava muito essa música alguns anos atrás, quando HSM era “moda”. Não conte pra ninguém, mas eu tenho todos os filmes. Não conte mesmo, porque se a descobrir que eu tenho vai roubar todos de mim. Aquela ali tem até hoje algumas músicas deles no celular. Eu até acho as músicas legais e elas me trazem uma lembrança boa, apesar de não me recordar de nenhuma. Todos riam da coreografia maluca que as duas faziam, até eu. foi se sentar com os outros e eu fiquei em pé, observando. Ninguém pareceu perceber minha presença. A música acabou e todos aplaudiram. As duas sentaram e se levantou.
- Então, gente... Agora eu vou cantar... – ele olhou para cima, parecendo pensar. Quando seu olhar voltou para baixo, ele me viu. – ! – ele correu e me abraçou, me girando no ar. Pegou minha mão e me puxou para o mesmo lugar onde as meninas estavam cantando antes. Ele apontou para a garota que eu acreditava ser Annabelle e para outro cara, que deduzi ser . – , Anna. Essa é a . – eles sorriram para mim, acenando e eu fiz o mesmo. me entregou o microfone, piscando um olho para mim e Moves Like Jagger começou.
Estávamos lá fazia algum tempo, e tinham acabado de cantar I Will Survive e eu quase não conseguia respirar de tanto rir. Aqueles dois eram malucos.
ficava me encarando por longos minutos e eu encarava de volta, mas nenhum de nós se aproximou, ele estava em uma ponta do sofá e eu em outra.
Ele, , e levantaram e cada um pegou um microfone. A música começou e olhava diretamente para mim. Apesar de a música ser animada ele nem se mexia, mas insistia em manter seus olhos cravados nos meus. O que ele queria dizer com isso? Que precisávamos conversar? Ok, desculpa , mas disso eu já sabia.
A música deles acabou e eu decidi que precisava fazer alguma coisa. Levantei, pegando um microfone e escolhi uma música que tinha pelo menos um pouco a ver com o que eu queria dizer para ele.
A >música começou e eu respirei fundo, olhando nos olhos de .
I know that my love for you is real
(Eu sei que o meu amor por você é verdadeiro)
It's simple truth
(É a pura verdade)
That we do
(Que fazemos)
Just something natural that I feel
(Algo natural que eu sinto)
Quando cantei a primeira frase, me olhou e mordeu o lábio inferior, desviando o olhar para o chão por alguns segundos, mas logo voltando a me olhar nos olhos.
When you walk in the room
(Quando você entra no quarto)
When you're near
(Quando você está por perto)
I feel my heart skip a beat
(Eu sinto o meu coração pular um batimento)
The whole world dissapears
(O mundo inteiro desaparece)
And there's just you and me
(E só há você e eu)
Falling head over heels
(Loucamente apaixonados)
Let's take a chance together
(Vamos aproveitar uma chance juntos)
Eu nunca tinha cantado na frente de ninguém, mas incrivelmente não estava nem um pouco nervosa com isso.
I know, I know, I know, I know, we're gonna make it
(Eu sei, eu sei, eu sei, eu sei, vamos conseguir)
'Cause no one else can make me feel the way that you do
(Porque mais ninguém me faz sentir como você faz)
I promise you
(Eu te prometo)
I know, I know, I know, I know, we're gonna get there
(Eu sei, eu sei, eu sei, eu sei que vamos chegar lá)
Today, tomorrow, and forever
(Hoje, amanhã, e para sempre)
We will stay true
(Vamos permanecer verdadeiros)
I promise you
(Eu te prometo)
Assim que chegou na metade da música, eu parei de cantar, afinal já tinha dado meu recado. Dei o microfone para (que estava doida pra cantar, já que ela ama essa música) e fui para o quarto de , fechando a porta e indo na direção da janela.
Por favor, entenda o recado, por favor, entenda o recado.
Um minuto depois, ouvi o barulho da porta sendo aberta e logo depois fechada, mas não me mexi. Alguém me abraçou pela cintura e eu reconheci o perfume imediatamente.
- Pensei que você não viria. – sussurrei, contendo um sorriso.
- Achei melhor esperar eles se distraírem de novo. Assim que você saiu eles ficaram me encarando, quando eles passaram a prestar atenção na louca da minha irmã cantando, vim correndo pra cá. – também sussurrou. – A propósito, sua voz é linda.
- Obrigada. A sua é incrível. – falei sincera. A voz dele era perfeita.
- Obrigado. – ele riu baixo, beijando meu ombro. me soltou e puxou minha mão, obrigando-me a ficar de frente para ele. Olhou-me nos olhos me hipnotizando por alguns segundos. Ele se aproximou até nossos narizes se tocarem. – Será que você me daria a incrível honra de ser minha namorada, senhorita ?
- Eu preciso responder? – perguntei e ele riu baixo, balançando a cabeça negativamente, colocou a mão nas minhas costas e me puxou ainda mais para perto, até nossos lábios se tocarem. Aprofundei o beijo rapidamente, envolvendo os braços ao redor de seu pescoço.
Alguém bateu na porta, mas não dei atenção.
- Espero que vocês não estejam fazendo nenhuma besteira aí dentro. – falou não muito alto, mas o suficiente para que nós dois ouvíssemos. Parti o beijo, começando a rir. riu também, me dando um selinho logo em seguida.
- Vai contar pra ele agora? – sussurrou.
- Por mim tanto faz. – dei de ombros, beijando-o. Ele entrelaçou nossas mãos e me conduziu até a porta, abrindo-a. já tinha descido.
Eu e descemos em silêncio e sentamos em um canto do sofá. foi a primeira a perceber que estávamos de mãos dadas e levantou imediatamente.
- , posso falar com você? – ela perguntou, apontando para a cozinha. Ele levantou e a seguiu até lá. Assim que os dois sumiram de vista, e vieram sentar perto de mim, cada um de um lado.
- Por que você está com essa cara? Parece que viu passarinho verde. – Aly falou.
- Estamos namorando. – falei direta e os dois arregalaram os olhos. sorriu a me abraçou. – O que será que eles estão conversando? – perguntei, distraída, olhando para a cozinha.
- Não sei... – deu de ombros.
Depois de alguns minutos, os dois saíram de lá rindo. e levantaram e foram sentar perto de . sentou ao meu lado e foi até a porta.
Ela se aproximou do meu ouvido e sussurrou:
- Sabe o conselho? – perguntou e eu me lembrei de quando ela disse para eu tomar cuidado com . – Esquece. Ele te ama. – ela saiu, levantando e eu fiz o mesmo, indo até meu namorado.
- Vamos? – ele perguntou, sorrindo. Concordei e fomos nos despedir de todos.
Chegamos em casa e subimos até o meu quarto. Assim que fechei a porta, me beijou, puxando-me mais para perto. Envolvi meus braços ao redor de seu pescoço e ele me segurou pela cintura, me levantando um pouco. Levei minhas mãos até seus ombros e comecei a tirar o casaco que ele usava. Ele beijou meu pescoço e fomos interrompidos pelo barulho do meu celular.
- Incrível como tem que ter alguém pra atrapalhar. – ele suspirou, rindo. Tirei o celular do bolso e conferi o visor. Minha mãe.
- Alô? – atendi e começou a beijar meu pescoço novamente, tive que controlar o impulso de desligar o celular.
- Oi filha.
- Oi mãe. Aconteceu alguma coisa?
- Sim, a sua irmã... – ela começou e eu a interrompi, empurrando de leve.
- A Mery? O que houve? Ela está bem?
- Está, mais ou menos.
- Mãe, pelo amor de Deus, vá direto ao ponto.
- Tudo bem. – ela riu. – Sua irmã passou mal, ela deve ter comido algo estragado. Enfim, ela está aqui no hospital tomando soro, mas não é nada sério. Recebi uma ligação urgente da empresa – sim, minha mãe mal voltou das “férias” e já está trabalhando de novo – e vou ter que dar um pulo lá, mas não posso deixar sua irmã sozinha.
- Estou indo. – falei, desligando o telefone e me olhou preocupado.
- Aconteceu alguma coisa com a Meredith?
- Ela passou mal e está tomando soro no hospital, minha mãe vai ter que sair e a pequena não pode ficar sozinha. – expliquei.
- Ok, vamos? – ele abriu a porta do quarto, mas eu fiquei parada, olhando-o surpresa. – O que foi? – ele riu.
- Você quer ir comigo? Alguém me liga e nos atrapalha, eu tenho que sair e você quer ir comigo? – eu ainda não conseguia acreditar naquilo.
- Lógico! – ele arqueou as sobrancelhas. - Não foi alguém que te ligou, foi a sua mãe, dizendo que sua irmã precisa de você. Eu sei o quanto você se importa com ela. – ele disse, dando de ombros e vindo até mim. – , você não achou mesmo que eu ia dar um chilique por causa disso e te deixar ir sozinha, né?
- Eu só... – ele me interrompeu com um beijo. Sorri, partindo-o. – Você não existe.
Ele riu e me deu um selinho demorado, entrelaçando nossas mãos e indo até a porta.
Chegamos ao hospital e minha mãe nos esperava na recepção. Ela arregalou os olhos quando percebeu que eu estava acompanhada.
- Mãe, esse é o , meu namorado. – ela sorriu e o abraçou. – Cadê a Mery? – perguntei e minha mãe fez sinal para que a seguíssemos.
Entramos no quarto e Meredith dormia, minha mãe se despediu de nós e saiu, avisando que voltaria em algumas horas. Eu e sentamos no sofá, apoiei minha cabeça no ombro dele, que suspirou.
- Que foi? – inclinei a cabeça um pouco para cima, para conseguir olhá-lo.
- Não foi assim que imaginei conhecer a sua mãe. – ele respondeu e eu ri baixo, para não acordar Mery.
- Eu acho que ela gostou de você.
- Todos gostam de mim. – ele falou convencido e eu dei língua para ele, que riu, me dando um beijo na bochecha.
- Sô? – ouvi a voz fraca de Mery e me levantei, indo até ela. – Cadê a mamãe?
- Ela deu uma saidinha, mas já volta. – eu sorri, dando um beijo em sua testa. Ela sorriu também, percebendo a presença de .
- Oi .
- Oi. – ele riu, vindo até o meu lado e sorrindo para ela de um jeito engraçado. – Como você está?
- Melhor. Só que essa coisa no meu braço está incomodando. – ela apontou pra agulha do soro, fazendo careta.
- Você vai precisar ficar com isso mais um pouquinho, pra ficar totalmente boa. – falei carinhosamente.
- Mas eu já estou boa. – ela falou manhosa e eu sorri.
- É só mais um pouquinho, bebê. – ela fez bico e eu dei um beijo em sua bochecha. Escorou a cabeça pro lado e logo adormeceu.
Depois de uma hora, a enfermeira veio e “liberou” a minha irmã. Como minha mãe ainda não tinha voltado, levei-a pra minha casa.
Quando chegamos, ela dormia, então a carregou até o meu quarto e a colocou na minha cama (confesso: achei bem fofo). Fomos até a sala e liguei a TV em um programa qualquer. me puxou e eu sentei em seu colo, rindo.
- Ei, o que a queria lá na casa do ? – perguntei como quem não queria nada.
- Ela só queria saber quais eram as minhas intenções contigo. – ele respondeu e eu ri.
- Não acredito que ela fez isso.
- Nem eu. – ele riu, me beijando.
Três dias já tinham se passado e durante eles as filmagens do filme estavam a todo vapor. Ainda bem que era domingo e eu não tinha que ir ao estúdio. É aí que você pergunta: E o ? O é o namorado mais lindo e dedicado do mundo. Ele parece adivinhar o que eu estou pensando às vezes e sempre me surpreende. E a ? A estava super nervosa, pois eu e ela viajaríamos em alguns dias para ir atrás de sua mãe biológica. Consegui uma folga nas filmagens de apenas quatro dias, mas achou mais que suficiente.
Abri os olhos com dificuldade, afinal a luz estava na minha cara. Olhei para o lado e dormia de bruços, com os cabelos bagunçados e a boca um pouco aberta. Incrível como até dormindo ele é perfeito.
O lençol o cobria até a cintura, levei minha mão direita até suas costas descobertas e fiquei fazendo desenhos imaginários com o indicador. piscou algumas vezes, até finalmente abrir aqueles olhos que eu tanto amo.
- Bom dia. – ele falou com a voz ainda rouca.
- Boa tarde, né? – eu ri, apontando pro relógio. Já eram duas horas da tarde. Ele olhou para onde eu estava apontando e bufou, enterrando a cara no travesseiro. Depois de alguns segundos levantou, indo até o banheiro. Fui até o meu quarto, pegando uma roupa e entrando no meu próprio banheiro. Sim, eu tinha dormido no quarto de . O motivo não me dou ao trabalho de explicar, use a imaginação.
Desci e ainda estava no banho, não entendo essa mania dele de tomar banho quando acorda. Se eu tomasse banho quando acordo, era capaz de dormir em pé, debaixo do chuveiro. Fui até a Starbucks e comprei dois cafés, voltei para casa e fiz alguns cookies, já que não queria panquecas (panqueca todo dia não rola, né).
desceu depois de alguns minutos e foi até a cozinha, sem camisa e com o cabelo molhado. Fui até ele e o abracei, ele me girou no ar e me beijou.
- Agora sim, bom dia. – ele disse e eu ri. – Seu carro fica pronto amanhã, não esqueça.
A campainha tocou e eu fui atender. sentou no balcão e pegou um cookie.
Abri e Annabelle estava parada lá, chorando.
- A... ... Tá aí? – ela perguntou, soluçando.
- Dormindo... O que aconteceu? – perguntei, fazendo carinho em seu ombro. Ela tremia. - Pode confiar em mim.
- Seu... Quarto? – ela soluçou novamente.
- Segunda porta à direita. Vai lá, eu já vou. – falei e ela assentiu, subindo quase correndo. Fui até a cozinha e roubei metade do cookie de , devorando tudo em uma mordida. Ele me olhou assustado e eu ignorei, indo até o armário e pegando um copo, seguindo logo em direção à geladeira e colocando água nele. Engoli o cookie e fui até meu namorado.
- Liga pro . – falei direta. Ele me olhou confuso. – Anna chegou aqui chorando, vou lá conversar com ela e tenho quase certeza de que tem a ver com o .
- Ok, vou ligar. – ele assentiu e eu fui saindo.
- Ei! – chamei, parando no meio do caminho e me virando pra ele. – Não conta que ela está aqui. Só pergunta se tem alguma coisa errada, sei lá.
- Acho que eu vou lá... – ele parou pra pensar. – Pessoalmente é mais difícil de ele mentir pra mim. – ele concluiu e me olhou. Eu assenti. Ele levantou e foi até a sala, pegando uma blusa que tinha jogada no sofá e vestindo-a, pegou a chave do carro, veio me dar um beijo e saiu. Subi e Anna ainda chorava, sentada na minha cama. Sentei ao seu lado e a entreguei a água. Ela tomou tudo de uma vez e respirou fundo, enxugando o rosto.
- Terminei com o . – ela falou de uma vez e eu sentei no chão, de frente pra ela, e segurei suas mãos.
- Quer dividir? – ela pareceu hesitar, olhando para a janela. – Eu sou melhor amiga da . Pode confiar em mim.
Ela pareceu se convencer do meu argumento.
- Tem razão. não seria sua amiga se você não fosse confiável. – ela sorriu de lado, parecendo falar com si mesma. Ela suspirou mais uma vez, apertando minhas mãos. – Ele me traiu.
- Quando?
- Ontem. Cheguei numa festa e ele estava dançando com uma garota.
- Poderia ser uma dança inocente... – falei, tentando fazer ela pensar melhor. Sinceramente não acreditava que seria capaz de traí-la.
- Inocente? Ela se esfregava nele e ele olhava pra ela como se ela fosse comestível. Foi horrível! – duas lágrimas escorreram pelo rosto dela e eu não soube o que dizer.
- O que ele disse quando você... – comecei, mas ela entendeu antes mesmo de eu terminar.
- Disse que estava bêbado. Mas, porra, isso não é desculpa! Não é! – ela começou a chorar e eu levantei, sentando ao seu lado e a abraçando. Ela chorou por longos minutos, e eu afagava seu cabelo.
entrou e olhou para mim, que ainda abraçava Anna. Gesticulei, fazendo-a entender o que tinha acontecido e ela sentou do outro lado, esperando Annabelle perceber sua presença. Quando percebeu, Anna deu um abraço rápido nela e levantou num pulo.
- Sem deprê por hoje, hein! Vamos pra piscina! – ela fez uma dancinha idiota. – Ah, terminei com o Billy. Acho importante ressaltar. – ela deu de ombros e foi para o quarto colocar um biquíni.
Anna me olhou assustada.
- Ela não... Liga?
- A é assim, não se surpreenda. – eu ri.
- Não sei como ela consegue.
- Quando ela se apaixonar de verdade vai mudar, confie em mim. – falei, levantando e indo até o armário. – Sorte sua, comprei um biquíni novo ontem que eu acho que dá certinho em você.
- Mas e você?
- Eu não comprei só um, relaxe. – eu ri, jogando um biquíni pra ela, que pegou e foi ao banheiro se trocar. Saiu rapidamente. – Ficou ótimo! – eu sorri. Tinha servido direitinho. Peguei um e fui me trocar também.
Chegamos lá em baixo e estava deitada tomando sol. Eu e Anna deitamos ao lado dela.
Depois de alguns minutos vi três vultos pularem na piscina, molhando nós três. Assim que as cabecinhas saíram da água, reconheci , e , que sorriam divertidos. Uma gargalhada veio de trás de nós, olhei para trás e vi , que também tinha se molhado um pouco. Ela e se olharam e correndo pularam na piscina. Olhei para Annabelle, arqueando as sobrancelhas e ela sorriu maléfica, levantando. Levantei também e ficamos nos olhando, sorrindo como duas maníacas. Existiam duas opções: ou eu a jogava na piscina, ou ela me jogava.
Como eu sou lerda, Anna conseguiu me empurrar na piscina. Mas como sou legal, peguei o braço dela no último segundo e puxei-a comigo. Foi uma cena muito engraçada, todos os outros gargalhavam, inclusive nós duas.
Milagrosamente naquela manhã, acordei cedo e meu namorado também. Decidimos ir tomar um café na Starbucks, já que nós dois estávamos com preguiça de fazer alguma coisa. Fomos andando de mãos dadas até lá e fizemos nossos pedidos no balcão, indo sentar em uma mesa, um de frente pro outro.
- Como o está? – falei me lembrando do dia anterior. – Coitada da Anna, ele foi um idiota.
- Foi. – concordou, entrelaçando nossas mãos por cima da mesa. – Mas ele está arrependido... Nunca o vi assim, sério. O tá super deprimido, vendo filme de mulherzinha e sem querer sair de casa. Acho que ele a ama mesmo.
- É, mas mesmo assim... Ele pisou na bola feio. O que ele pretende fazer?
- Fora chorar? – ele riu e eu assenti. – Não sei, acho que ele vai tentar provar que está arrependido. – deu de ombros.
- É, mas não importa o que ele faça, ela vai ficar sempre com essa “lembrança” – fiz aspas no ar – e mesmo que ela perdoe, ela não vai esquecer.
- É verdade. – ele sorriu e nessa hora a garçonete chegou com nossos pedidos. Olhou interessada para – Obrigado. – ele agradeceu e ela saiu, me olhando feio. Eu sei que meu namorado é lindo, mas precisa secar ele desse jeito? Credo. – Que foi? – perguntou divertido.
- Viu isso? – apontei para o lugar por onde a garçonete tinha saído e ele pareceu não entender. – Ela te olhou como se você fosse comestível. – repeti a frase usada por Annabelle e riu.
- Nem reparei... – ele me olhou nos olhos e eu não pude evitar um sorriso. – Até parece que eu ia olhar pra garçonete tendo você na minha frente né, .
- Jura? Eu sou tão interessante assim? – eu sorri, fazendo pose de convencida.
- Você não tem ideia do quanto. – ele respondeu, bebericando seu café. Fiz o mesmo. Assim que terminamos, foi lá pagar.
Assim que ele saiu do caixa, a tal garçonete foi puxar papo com ele, toda sorridente e com papel e caneta na mão. Ela vai pedir autógrafo, é isso mesmo?
Ela tirou do bolso uma câmera e pareceu pedir uma foto. assinou o papel e se aproximou dela. A criatura fez biquinho e se aproximou bastante dele, abraçando-o (lê-se quase subindo em cima). parecia sem jeito, mas não fez nada pra impedir. Eu não precisava ficar vendo isso, dei meia volta e voltei para casa andando, ou melhor, correndo. Só não fui mais rápido porque, enfim, eu não era a pessoa mais desconhecida do universo. Algumas pessoas já tinham me visto na TV ou sei lá. Entrei, batendo a porta e chegou logo em seguida.
- Por que você saiu desse jeito? – ele perguntou e eu me virei para ele, com um sorriso debochado no rosto.
- Não quis atrapalhar o seu momento com a garçonetezinha. – abusei da ironia e ele me olhou pasmo.
- Ela era uma fã, só queria um autógrafo e uma foto! – ele abriu os braços, como se o que ele acabara de dizer fosse a coisa mais óbvia do universo.
- Bela foto essa... Ela quase subiu em cima de você, ! Fala sério! E você não fez nada pra impedir!
- E o que eu poderia ter feito? Ela era uma fã, caramba!
- Ah, é? – eu estava começando a me irritar. – E o fato de ser fã dá a ela o direito de fazer com você o que quiser? Se alguma maluca aparecer e te beijar, você vai corresponder por acaso? – falei, me controlando pra não aumentar o tom de voz.
- CLARO QUE NÃO! Pirou? Se passasse dos limites eu ia dar um chega pra lá nela, ! Qual é!
- Ah, e pra você era bem normal ela quase pendurada no seu pescoço, né?
- Não! Claro que não! Eu só fiquei sem jeito de empurrar ela pra longe, sei lá! Não acredito que você está com ciúmes.
- Não é ciúme, . É bom senso! Eu sou sua namorada e exijo respeito! Não vou aturar suas fãs te agarrando! Um abraço eu até entendo, mas ela tava quase... – colocou o indicador em meus lábios e eu fiquei quieta.
- Você está certa. Desculpe-me. Eu só fiquei meio sem jeito, é a primeira vez que sou “atacado” desse jeito. Não vai se repetir. – ele suspirou me olhando nos olhos e de alguma forma eu soube que ele falava a verdade. Sorri fraco, suspirando e o abracei.
- Tudo bem. – eu suspirei e ele depositou em meus lábios um selinho demorado.
- No dia que alguma outra garota significar pra mim tanto quanto você significa, eu troco de nome. – ele sorriu e eu fiz o mesmo, olhando-o divertida.
- Já pensou em como vai se chamar? – brinquei, arqueando as sobrancelhas.
- Acho que eu nunca vou precisar me preocupar com isso. – ele riu baixo, me beijando.
- PAREM DE AGARRAÇÃO E VÃO TRABALHAR, BANDO DE INÚTEIS. – gritou, pulando do terceiro degrau da escada e indo até a cozinha. Ri e olhei para o relógio. Opa!
- Estamos atrasados, ! – falei, indo correndo pegar a chave do carro dele atirando-a em sua direção. Ele riu e abriu a porta para mim (tanto a da casa quanto a do carro. Meu namorado é um gentleman, pode falar).
- Quando sairmos do estúdio temos que ir pegar teu carro na oficina, não esqueça. – ele falou, entrando no carro.
Já tínhamos filmado duas cenas e eu estava ficando cansada. Filmaríamos a última do dia e eu finalmente poderia ir embora (aleluia!). estava sentado na cama (no cenário, claro) e eu estava terminando a maquiagem. Terminei e fui andando até onde meu namorado estava para começarmos a cena. Ouvi um barulho estranho e olhou para cima, arregalando os olhos, olhei também e vi uma das lâmpadas do cenário caindo em minha direção.
- ! – gritou e tudo ficou escuro.
Acordei com uma dor de cabeça insuportável e senti alguma coisa no meu nariz, levei a mão até lá e percebi que eram tubos. Tentei tirá-los de lá, mas uma mão me impediu.
- Não. – ouvi uma voz estranha, abri os olhos e vi um homem de cabelos e jaleco branco. Um médico? Olhei em volta e vi uma sala que mais parecia um hospital.
- Onde eu... – comecei, mas fui interrompida.
- No hospital. Você levou uma pancada da cabeça. Consegue se lembrar de algo? – ele perguntou, com uma voz suave que me deu até sono. Busquei na memória, mas não consegui lembrar o que tinha acontecido nem de pancada alguma. Balancei a cabeça negativamente. – É normal. Com o tempo sua memória irá voltar. – ele falou como se fosse a coisa mais normal do mundo. Como assim memória voltar? Eu perdi a memória? Que?
- Eu perdi a memória? – comecei a me desesperar, tentando levantar, mas novamente ele me impediu.
- Não! – ele exclamou, como se tivesse falado algo que não devia - Você só não se lembra de alguns detalhes, mas isso com o tempo irá voltar ao normal. – relaxei, deitando de novo. Por alguns segundos tive medo de esquecer alguém. , , Mery, , , Annabelle, , mãe, Fred, Jolie, Mike, é não esqueci ninguém. Adoraria ter esquecido Adam, mas infelizmente não tenho tanta sorte.
Ouvi a porta abrir e um homem de cabelos castanhos, que parecia ter a minha idade ou um pouquinho mais, entrou e quando me viu, sorriu. Fiquei um pouco perdida naqueles olhos azuis tão profundos e por alguns segundos senti que o conhecia. Franzi a testa, tentando me lembrar dele, mas nada me veio a mente. Quem será que ele é? É bem bonito, tenho que confessar, mas não me recordo dele. O que ele está fazendo no meu quarto?
O médico o chamou num canto e sussurrou algo que não consegui compreender, e o lindo sorriso do homem desconhecido deu lugar a uma expressão triste e séria. Ele me encarou profundamente, e vi seus olhos brilharem enquanto ele mordia seu lábio inferior com bastante força. Ele ia chorar? Mas por quê?
O estranho balançou a cabeça negativamente várias e várias vezes e saiu do quarto quase correndo, mas antes de sair deu meia volta e parou ao meu lado, com os olhos marejados. Eu queria muito saber o motivo de ele estar assim, mas não posso simplesmente chegar e perguntar! Preciso saber o nome dele primeiro, isso.
- Quem é você? – eu sorri o mais simpática possível e o homem deixou escapar uma lágrima, que escorreu demoradamente em sua bochecha direita. Ele encarou o chão e com a voz rouca e os olhos já totalmente vermelhos, me respondeu:
- Sou ... . – mais uma lágrima escorreu e ele saiu do quarto, batendo a porta com força.
Capítulo. 23 - Tell me baby, do you recognize me?
* Narração em terceira pessoa on *
ficou encarando a porta por algum tempo, franzindo a testa. Ela queria saber o que tinha acontecido com o tal , para poder ajudar. Não gostava de ver pessoas chorando, por ela iria atrás dele, se não estivesse presa naquela cama com o médico em seu encalço.
- O que houve com o tal ? – ela perguntou, agora mais preocupada do que curiosa. Não sabia por que, mas se preocupava com as pessoas tristes. Lembrou-se de uma vez na escola, em que viu um de seus professores chorando e só sossegou quando conseguiu arrancar um sorriso do rosto dele e acalmá-lo um pouco. Desejava poder fazer o mesmo com aquele estranho homem. – Ele parece bem triste.
O médico encarou a porta, sem saber o que dizer. Ele não podia simplesmente dizer para a garota que ela tinha esquecido o próprio namorado! Ficar tentando obrigá-la a lembrar de fatos e pessoas só a confunde mais e não ajuda em sua recuperação. A pancada foi grande, o local de onde a lâmpada caiu era bastante alto e acertou em cheio a cabeça da garota. O que ele poderia inventar? Mentir não era correto, mas era o único jeito.
- Não sei, ele disse que precisava falar comigo... – ele olhou para a porta, desejando poder sair correndo dali. – Daqui a pouco eu volto para trocar seu curativo, combinado?
- Combinado. – ela fez joinha, rindo, e o médico saiu, indo visitar o próximo paciente.
No outro lado do hospital, andava sem rumo, querendo sumir do mapa. Por que não se lembrou dele? Ele não era importante o suficiente?
Depois de passar a noite inteira no hospital, quando a viu lá achou que tudo ficaria bem e voltaria ao normal. Mas ele estava enganado. O médico falou que ela poderia esquecer alguns fatos ou pessoas, mas não achou que ela fosse esquecer justo ele! Aquilo parecia uma historinha de filme, ele não conseguia acreditar que fosse mesmo possível ela perder a memória. Mas a naturalidade dela perguntando quem ele era o assustou. Será que ela tinha mesmo esquecido dele? “EU SOU O SEU NAMORADO, LEMBRA?” ele queria ter gritado, mas o médico falou que forçá-la a se lembrar afetaria o tratamento, ele disse que ela se lembraria naturalmente. Só que não sabia quando tempo aquilo iria demorar. Poderia levar dias, semanas, MESES até que ela se lembrasse dele. Será que ele suportaria tanto tempo? Será que ele suportaria ficar sem ela até sua memória voltar? entrou na cantina do hospital e sentou em uma das mesas perto da janela. Olhou para fora, refletindo sobre o quanto aquela garota significava para ele. Sentia que poderia destruir o mundo inteiro por ela, que faria tudo para vê-la sorrir. Era inexplicável o quanto ela tinha se tornado importante em tão pouco tempo. Era tão inexplicável que nem sequer se lembrava de como era sua vida antes de aparecer e virar seu mundo de cabeça para baixo. Ele escondeu a cabeça nas mãos, sentindo as lágrimas encherem seus olhos. Alguém o cutucou e ele suspirou antes de olhar quem era.
encarava seu melhor amigo, com a preocupação estampada em seus olhos. Ela não sabia o motivo de estar assim, mas não devia ser por causa de , afinal ela tinha acabado de vir de lá e a amiga estava perfeitamente bem e recuperada. Aly suspirou e sentou ao lado de , pegando sua mão direita e percebendo seus olhos vermelhos.
- O que aconteceu?
- Ela não se lembrou de mim. – ele murmurou, mas mesmo assim ela entendeu. Lembrava-se de o médico ter mencionado algo sobre falta de memória, mas na hora não deu importância já que tinha se lembrado dela. Como assim ela não lembrava quem era? Isso era possível? Franziu a testa, sem saber o que dizer. O que se diz num caso desses?
- Tenho certeza que ela vai lembrar logo. – apesar de ela não ter absoluta certeza, tinha fé de que o que ela dizia era verdade. não podia passar muito tempo sem lembrar, só alguns dias, certo? Certo? não sabia, mas queria mais do que qualquer coisa que ela lembrasse o mais rápido possível. Não suportava ver o amigo naquele estado. suspirou e tentou sorrir, mas tudo que conseguiu foi uma careta. o abraçou e sentiu seu ombro ficando molhado. Afagou os cabelos do amigo e deixou que ele chorasse o tempo que fosse necessário.
- Quer me matar do coração? Fiquei preocupada com você, maluca. – ela segurava as lágrimas enquanto ria. estava feliz por a amiga estar bem, tinha ficado realmente preocupada.
- Eu estou viva, ok? – ela disse e as duas riram. Somente um dia tinha se passado, mas mesmo assim qualquer minuto sem notícias é uma eternidade.
- Graças ao , né! Se ele não te trouxesse tão rápido pro hospital você poderia ter ficado com alguma sequela. – sorriu e a olhou, curiosa. Seria o mesmo que estava no quarto dela, triste? Ela não lembrava o que tinha acontecido para ela ir parar no hospital, mas parecia que o tal tinha salvado sua vida. Precisava lembrar-se de agradecê-lo depois.
- ... – tentou se lembrar do sobrenome – ? Um cara de cabelos castanhos e olhos azuis, que veio aqui no meu quarto bem triste? – a olhou, com a boca escancarada e totalmente surpresa. Ela não lembrava quem era? Como assim? Isso era possível? Sabia que ela não se lembrava do que tinha acontecido, mas não achou que ela poderia esquecer alguém. Ainda mais o próprio namorado! Não soube o que responder e saiu correndo do quarto, atrás de seu irmão. ficou confusa, mas achou que tinha esquecido algo sabe-se lá onde e foi buscar. Ela voltaria logo, pensou.
A garota chegou ao refeitório e encontrou o irmão fitando o nada, com olheiras horríveis e uma cara péssima. Depois de alguns segundos, sentou ao lado dele e o entregou uma água, tomou um pouco e colocou a garrafa na mesa novamente. Ele não estava com cabeça para comer ou beber nada agora, ele só queria acordar e descobrir que tudo aquilo era só um pesadelo terrível.
foi a passos firmes até ele e o abraçou por trás, com todo o carinho do mundo. Ela não tinha ideia do que ele poderia estar sentindo naquele momento, mas odiava vê-lo assim.
- Ela vai lembrar logo, eu tenho certeza. – ela sussurrou.
- Ninguém tem certeza de nada, mas mesmo assim obrigado. – ele sussurrou também e ela o abraçou ainda mais forte. Ficaram os três em silêncio por alguns minutos até que o médico apareceu para dizer que no dia seguinte pela manhã receberia alta. pediu para conversar com ele e os dois foram até uma sala de consultórios que estava vaga. Ela sentou-se de frente para ele, que esperou que ela falasse.
- Seguinte... – começou, com medo de que a resposta do médico fosse negativa. – Depois de amanhã eu e estávamos planejando ir atrás de minha mãe biológica. – ele a olhou desconfiado – Mas é só uma hora e meia de viagem! É pertinho daqui!
- Essa viagem... Seria de avião?
- S... Sim. – ela começou a ficar com medo. E se ele dissesse que ela não poderia ir? não teria coragem de ir se não tivesse a melhor amiga ao seu lado.
- Não acredito que haja um grande problema, mas ela terá que tomar um comprimido trinta minutos antes de embarcar. A pancada foi forte devido a ter sido na cabeça, mas o corte não foi muito fundo. Se amanhã quando ela tiver em casa, se queixar de muita dor de cabeça deverá retornar ao hospital e não poderá embarcar. Caso contrário, é só tomar o comprimido e ela poderá ir sim.
sorriu satisfeita e pegou o papel com o nome do comprimido que o médico tinha lhe dado.
- Obrigada. – levantou e saiu da sala.
* Narração em terceira pessoa off *
Acordei um pouco tonta, mas a dor de cabeça tinha passado. Olhei em volta e reconheci o mesmo quarto do dia anterior. Eu ainda estava no hospital, que maravilha.
Um médico entrou e anotou algumas coisas em uma prancheta que segurava.
- Bom dia, Srta. . Preparada para ir embora daqui?
- Sim, por favor! – respondi sorrindo. Queria ir embora logo daquele lugar, para arrumar minhas malas para ir viajar com . Estava curiosa para conhecer sua mãe.
Cheguei em casa e encontrei minha mãe e Mery no sofá, a pequena veio correndo pro meu colo e eu a rodei no ar.
- Como você tá, Sô? Mamãe disse que você ficou dodói.
- Eu já estou bem, bebê. – dei um beijo em sua bochecha e sentei ao lado de minha mãe, com Meredith no meu colo.
- Está bem mesmo, filha? Tem certeza?
- Tenho, mãe. – sorri e ela se levantou.
- Vou fazer uma sopa pra você. Quer me ajudar, Mery? – a pequena levantou, pulando animada e foi correndo até a cozinha.
- Não precisa, mãe. – eu ri.
- Faço questão. Agora vai tomar um banho, vai. – ela foi para a cozinha. continuava parada na porta, esfregando as mãos. Ela queria dizer alguma coisa.
- Fala. – disse séria e ela veio até mim.
- Não sei como te dizer isso, mas... – parou, encarando o chão. Cruzei os braços.
- Desembucha, . – falei séria e um estalo me acordou. ... ... ?
- Meu irmão tá morando aqui enquanto o apartamento dele não fica pronto.
- Seu irmão é o ? – perguntei direta. Ela me encarou confusa. – Um cara foi até meu quarto no hospital e me disse que se chamava .
- Ele mesmo. – ela riu sem graça, mas não perguntei o motivo. Subi e antes de chegar ao meu quarto dei uma passada no quarto de hóspedes. Um homem estava deitado de costas na cama, a silhueta parecia a do tal . Será que ele está dormindo? Queria saber o motivo de ele estar triste.
- ? – pergunte, baixo, e ele levantou num pulo e sentou na cama, me olhando. Decidi deixar a conversa mais descontraída. – Por que não me falou que era irmão da ? – sorri e ele pareceu desapontado.
- Eu... Esqueci.
Fui até onde ele estava e me sentei ao seu lado. Toquei seu ombro e ele estremeceu.
- Por que você estava tão triste ontem no hospital?
- Não quero falar sobre isso. – falou num sussurro. Devia ser algo sério. Melhor espera-lo estar pronto para falar, né? Chega de ser inconveniente, já estou ficando encabulada.
- Tudo bem. – sorri fraco e saí do quarto fechando a porta. Fui até meu próprio quarto, tirando os sapatos e atirando-os em algum canto. Entrei no banheiro e fui tomar banho.
Desci e senti cheiro de sopa, Mery assistia alguma coisa na sala, fui até a cozinha e encontrei minha mãe e conversando, as duas pareciam preocupadas.
- Aconteceu alguma coisa? – elas se entreolharam e pareceram um pouco nervosas.
- Não... Nada. – riu nervosa e foi pegar os pratos. Queria perguntar o que estava acontecendo, odiava sentir que estavam me escondendo alguma coisa. Mas justo na hora que eu abri a boca, Meredith apareceu dizendo estar com fome.
Sentamos à mesa e comemos em silêncio, eu estava com tanta fome que terminei rapidinho de comer. Ouvi suspirar e olhar para a escada. Ela só tinha comido metade do que tinha em seu prato.
- O que foi, ? – perguntei, preocupada. Ela suspirou novamente.
- Faz dois dias que o não come nada, estou preocupada. Acho que vou levar alguma coisa pra ele. – ela fez menção a se levantar, mas eu a impedi.
- Não senhora, deixa que eu levo. Você vai comer tudinho que tem aí no seu prato. Até que isso aconteça, não ouse levantar dessa mesa! - apontei para ela autoritária e me levantei, indo pegar um prato. Coloquei sopa e um pedaço de pão e subi, abrindo a porta com cuidado. Ele nem tinha se mexido desde a última vez que fui lá, continuava sentado fitando o nada. Larguei o prato na mesinha de cabeceira e sentei-me ao seu lado. Ele não me olhou, só suspirou.
Esses suspiros já estavam me irritando.
- Você não vai comer nada?
- Estou sem fome. – respondeu seco. Levantei irritada.
- Pare de agir feito criança, que saco! Eu já percebi que todo mundo tá escondendo alguma coisa de mim, se não quiserem me contar não contem. Já não basta a não querer comer, você também está nessa greve de fome ridícula? – respirei fundo, mais calma. Esperei alguma reação de , mas ele só riu. Ele... Riu? – Do que você tá rindo?
- Você... – ele pareceu pensar no que dizer – Lembra minha namorada. – suspirou mais uma vez, olhando-me nos olhos – Quando ela se irrita, fala igualzinho a você.
- Como ela chama? – sorri.
- . – olhou para o chão, sorrindo.
- Que coincidência! – eu ri, sentando-me ao seu lado novamente. – Agora come. – apontei para o prato e ele negou com a cabeça. Peguei o prato e coloquei sopa na colher. Levantei a mesma na altura da boca de . – Abre a boca. – ele arqueou a sobrancelha, com a expressão engraçada. – Abre. – mandei novamente e ele fez o que eu disse. Imitei um aviãozinho e coloquei a colher na sua boca, soltando-a. Ele riu e a segurou, colocando-a de volta no prato e comendo um pedaço do pão. – Muito bem. – fiz joinha e ele riu. Levantei. – Come tudo que tem aí e depois leva o prato lá em baixo pra ver que você comeu, ok? Ela disse que você não come há dois dias e está preocupada. – ele concordou com a cabeça, colocando o prato no colo. Saí, fechando a porta devagar. Desci e ainda não tinha tocado no prato. Peguei-o e derramei o que tinha nele na pia, coloquei sopa quente e o coloquei na frente dela.
- Seu irmão já comeu. Agora faz o favor de fazer o mesmo. – apontei para ela, que sorriu e comeu imediatamente.
Saí de lá e fui para o meu quarto, deitando na cama (eu amo a minha cama, aquela do hospital é horrível) e adormecendo imediatamente.
- Acorda, ! – ouvi a voz de , mas não abri os olhos.
- O que é? – respondi, com a cara enfiada no travesseiro.
- Você tá dormindo desde ontem! Já está quase na hora do nosso vôo, anda! – levantei num pulo. Eu to dormindo desde ontem? Nossa, me superei.
- E as malas? – perguntei assustada. Não vai dar tempo de eu arrumar.
- Já arrumei. E comprei o remédio que você tem que tomar antes da viagem também. Vai tomar banho e desce pra tomar café e sair logo.
- Tá. – sorri, indo para o banheiro. Coloquei uma calça jeans, uma bota preta de salto e uma blusa qualquer, desci e vi que tinham muffins. Desde quando ela sabe fazer muffins? Ela devia ter comprado em algum lugar. De qualquer forma, peguei um e devorei-o, estava delicioso. Terminei de comê-lo e bebi um copo de água, indo até a sala. estava descendo com as malas e eu levei um pequeno susto ao vê-lo, tinha esquecido que ele estava morando aqui. Depois conversei com a sobre o fato de ela ter trazido um estranho para a minha própria casa sem o meu consentimento. Ele sorriu fraco, largando as malas lá e subindo novamente. Subi também e fui até o meu banheiro, escovando os dentes. Peguei a escova e a pasta, desci e coloquei-as dentro da mala. Sentei no sofá para esperar e depois de alguns minutos ela desceu.
- Vamos?
- Por que você demorou?
- Eu... – ela respirou fundo. – Estava falando com . – pegou a chave do meu carro [n/a: lembrem que ele já ficou pronto, ok?] e saímos.
O caminho até o aeroporto demorou uns vinte minutos, o trânsito estava horrível. Eu e só falávamos besteira e em momento algum tocamos no assunto “motivo da viagem”, resolvi não falar nada, pensei que estivesse evitando o assunto.
- Chegamos! Amém. – falei, quando avistei o aeroporto. Fomos em direção ao estacionamento e deixamos o carro lá, fui pegar um carrinho para as malas e descarregamos facilmente. Fomos até o check-in e a fila estava enorme.
- Maravilha! – bufou, sentando em cima de uma das malas. Fiquei apoiada no carrinho, entediada.
- O vôo de vocês é o de dez e meia? – uma garota de nossa idade que estava na nossa frente na fila perguntou e eu sorri.
- Esse mesmo! E o seu?
- Também. – ela riu, estendendo a mão, que eu apertei imediatamente. – Miranda.
- . E essa é . – apontei para ela, que sorriu acenando. Olhei para a sua blusa. – Gosta de Foo Fighters?
- Adoro. – ela sorriu e deu um pulo.
- É NÓIS! Bate! – ela estendeu a mão e Miranda bateu, rindo. Entraram em uma conversa animada sobre a banda e eu nem me meti. Depois de vinte minutos esperando, finalmente fomos atendidas.
- Documentos, por favor. – uma tal Susan pediu e eu entreguei os meus. Depois deu os dela e recebemos as passagens. – Embarque imediato pelo portão 3. – ela sorriu e fomos praticamente correndo até a sala de embarque. Entramos no avião, sorrindo para as aeromoças que ficavam na porta com o monótono “Bom dia. Bom dia. Bom dia.”.
- Onde a gente senta? – perguntei e olhou o papel.
- 13A e B. – chegamos até lá e vimos que Miranda viajaria conosco, o assento dela era o 13C.
- Oi! Que mundo pequeno. – ela riu e eu e sentamos. Começamos a conversar sobre variados assuntos e a viagem passou voando.
Miranda era psicóloga e namorava um médico. Estava noiva, na verdade, e se casaria em menos de três meses. pediu algumas dicas a ela sobre como agir com a mãe e nessa hora meu pensamento voou longe.
- Senhores passageiros, estamos iniciando nosso processo de descida. Mantenham seus cintos afivelados e retornem a poltrona à posição vertical. Verifiquem se a mesinha à sua frente está travada. Nossa chegada está prevista para as doze horas e cinco minutos. Obrigada pela atenção. – plin – Ladies and gentleman...
Observei a paisagem sem saber o que esperar dessa viagem. Como será que a mãe de é? Eu não sabia o que pensar, tinha medo de algo dar errado ou sei lá, na pior das hipóteses a mãe dela já ter morrido.
Descemos e nos despedimos de Miranda, esperamos nossas bagagens e pegamos um táxi até um hotel. Deixamos nossas malas lá, almoçamos no próprio hotel e depois de uma hora fomos até o endereço que possuía.
Tocamos a campainha e uma mulher de cabelos castanhos apareceu. Ela era muito parecida com , suas feições eram iguais e vi que minha melhor amiga ficou paralisada.
- Você é Kim Battlefield? – perguntei, mesmo sabendo a resposta. A mulher concordou com a cabeça e olhou de olhos arregalados.
- ? – perguntou num sussurro.
- Mãe? – ela falou começando a chorar. As duas se abraçaram e entraram. Quando ia entrar, um cara saiu da casa, quase me derrubando.
- EI! – reclamei e ele me olhou.
- Desculpe. – ele falou e eu fui em direção à porta. Veio em minha direção e estendeu a mão.
- Jesse. – sorriu.
- . – respondi apertando sua mão.
- Tenho que sair agora, fique à vontade. – apontou para a porta e foi embora. Entrei e e Kim conversavam, resolvi não atrapalhar e fui até a cozinha. Uma mulher baixinha lavava a louça.
- Olá. – ela sorriu.
- Oi. – eu ri, pegando um pano de prato e começando a secar a louça que a mulher lavava. Ela me olhou surpresa. – Preciso me distrair. – respondi e ela deu de ombros. Queria muito saber o que as duas conversavam, mas eu não podia simplesmente chegar lá, sentar do lado delas e ouvir a conversa. me contaria tudo depois de qualquer forma.
Terminamos a louça e a mulher saiu pela porta dos fundos, supus que foi até a lavanderia. Cruzei os braços me virando de costas para o balcão. Acho que fiquei meia hora lá, fitando o nada. O barulho de alguém adentrando a cozinha me despertou.
- Você. – Jesse sorriu, pegando uma maçã da geladeira e mordendo-a.
- Eu. – ri, sorrindo também. Devo confessar que ele era bem bonito. Loiro, cabelo curto, olhos verdes e um sorriso que faria qualquer uma babar. Ele me olhou de modo estranho e eu o encarei, fazendo-o arquear a sobrancelha.
- O que uma garota como você faz na minha casa?
- O que você quer dizer com isso? – perguntei confusa.
- Geralmente sou eu quem trago garotas bonitas para cá, mas eu não conhecia você. O que te trouxe aqui? Por acaso é amiga da minha irmãzinha?
- Você já conheceu a ? – o olhei abismada. Como assim?
- Acabei de vir da sala, minha mãe me apresentou a ela. Tem cara de ser muito legal.
- Sim, sou amiga dela. – sorri, balançando a cabeça. – Voltou rápido. – observei e ele riu.
- Só fui buscar umas provas na faculdade.
- Você cursa o que?
- Engenharia de controle e automação.
- Uau, impressionante. – sorri. e a mãe apareceram, abraçadas.
- Vejo que você já conheceu meu filho Jesse. – ela sorriu e eu concordei com a cabeça. – Já conhecem a cidade?
- Ainda não. – respondeu por nós duas. Jesse deu um pulo.
- Se vocês quiserem, eu posso ser o guia.
- Claro! – a mãe dele respondeu. – Vamos?
Já tínhamos conhecido o principal da cidade: teatro, shopping, museu e outros pontos turísticos. Já era noite e eu e carregávamos várias sacolas cheias daquelas bugigangas que todo mundo adora comprar nas viagens. Ela e Kim caminhavam na frente, conversando, e eu e Jesse tínhamos ficado para trás. Andávamos na maior calma, eu observava cada detalhe dos lugares.
Troquei as sacolas de braço e Jesse estendeu a mão, sorrindo.
- Quer que eu leve? – entreguei as sacolas para ele, sorrindo. – Então... Tem namorado?
- Não. – ri e o sorriso dele aumentou – E você?
- Também não. Mas estou à procura de uma... Se souber de alguém... – me olhou malicioso.
- Se souber de alguma interessada te aviso. – ri e o encarei da mesma forma, ele piscou para mim. Kim e se viraram, e Kim disse:
- Estão com fome? Tem um restaurante ótimo aqui ao lado. – apontou para uma casa enorme e bem iluminada. Alguns bonecos de Papai Noel enfeitavam as janelas. Hello, hoje ainda é dia 09 de novembro, essa decoração toda é só pra chamar os turistas? Minha árvore eu monto só em dezembro, eu hein. Povo maluco.
Apesar de ninguém concordar em voz alta, todos seguimos naturalmente até o restaurante. Um senhor de meia-idade nos recebeu sorridente e indicou uma mesa. Sentaram Jesse e Kim de um lado, e eu e de outro, nessa ordem. Pedimos pratos típicos da região e não demorou muito até que eles chegassem. A comida era realmente deliciosa, não entendo como Kim e Jesse permanecem magros vivendo com essas comidas por perto. Se eu morasse aqui, comeria isso todo dia. Sério.
Ri observando os guardanapos com desenhos de Papai Noel.
- É comum iniciarem as decorações natalinas no começo de novembro. Nunca entendi, mas enfim... Esse povo é maluco mesmo. – Jesse falou e eu gargalhei mais.
- Adivinhou meus pensamentos.
- Viu só? Já temos algo em comum. – ele riu de modo fofo, piscando novamente e eu me segurei para não suspirar. O cara é um gato, fala sério. Será que a se incomodaria se eu me aproveitasse um pouquinho da hospitalidade do novo irmão dela? Não sou safada, é só que... Ele é realmente um pedaço de mau caminho. Eu pegava, só digo isso.
Chegamos ao hotel e era mais de meia noite, larguei as sacolas no chão e me joguei na cama. Eu estava muito cansada.
Levantei e fiz minha higiene matinal, colocando um biquíni e shorts. Achei um bilhete colado na porta. “Hey, dorminhoca! Saí com Kim, não me espere pro almoço nem pro jantar! Qualquer coisa liga. Xx”
Peguei uma toalha e meu iPod e desci até a piscina do hotel, que incrivelmente não estava muito cheia. Sentei em uma das espreguiçadeiras, passando o protetor e ligando o iPod em uma música qualquer. What Doesn’t Kill You (Stronger), da Kelly Clarkson começou a tocar. Amo essa música. Comecei a mexer a cabeça no ritmo dela e alguém me cutucou. Tirei um dos fones e olhei para o lado, vendo Jesse sorrir.
- Tá me seguindo, é? – ri. - Poderia... – ele colocou a mão no queixo, como se pensasse na ideia. Riu. – Mas não estava. Na verdade um amigo meu está hospedado aqui e pediu que eu viesse passar o dia com ele e a noiva. – deu de ombros. – Eles já estão descendo. Na verdade, chegaram. Olha eles aí. BRYAN! MIRANDA! – gritou, acenando. Olhei para o local que Jesse fitava e vi Miranda, aquela com quem eu e tínhamos conversado no avião.
- Miranda? – me levantei, indo em direção a ela.
- ? – pareceu surpresa e veio me abraçar. – Esse é Bryan, meu noivo. – ele sorriu e eu sorri de volta, acenando. Jesse chegou e cumprimentou os dois, fomos até o bar. Pedimos uma bebida que eu esqueci o nome e ficamos um bom tempo conversando. Quando ficou tarde, Jesse foi embora e eu subi para tomar banho, desci depois de um tempo e encontrei Miranda e Bryan jantando, eles me convidaram para jantar com eles e novamente nos divertimos muito.
Quando subi de volta para o quarto, ainda não tinha retornado, Jesse me informou que iria jantar com ela e a mãe, mas já estava perto da uma da manhã e nada dela ainda. Adormeci rapidamente.
Abri os olhos e encontrei sentada na cama, falando ao celular.
- Eu sei, . Mas não tem nada que eu possa fazer sobre isso! Ele se interessou por ela e ela por ele, pelo menos eu acho. Sinto muito de verdade, mas lembra o que o médi- ela parou de falar quando me sentei na cama. – acordou, te ligo depois. – desligou, sentando ao meu lado. – Bom dia.
- Sobre o que você falava com ?- perguntei e ela hesitou.
- Sobre... Annabelle... Ela está interessada por um cara e está morrendo de ciúmes.
- E o que tem a ver com isso?
- pediu pra ele ligar né, dã. Também sou amiga da Anna e ele achou que eu pudesse convencê-la a desistir do tal cara. – ela riu e eu peguei uma roupa, indo até o banheiro. Era óbvio que não era esse o motivo da ligação e era igualmente óbvio que ela estava me escondendo alguma coisa. Preciso perguntar o que é, mas vou esperar chegarmos em casa primeiro, senão é capaz de a gente brigar e dar merda, vai saber. Saí do banheiro e continuava sentada no mesmo lugar. Ela sorriu.
- Minha mãe biológica e meu novo irmão são super legais, sabia?
- Percebi, você me trocou por eles! Fez o que hoje? – sentei ao seu lado.
- De manhã e à tarde eu e Kim fomos passear pela cidade, ela me mostrou onde ela trabalha, os lugares onde ela gosta de ir e tal. Aí de noite nós fomos com Jesse jantar na casa deles mesmo, acabei dormindo por lá. Jesse é super divertido. E, ah, ele perguntou de você. – me olhou, franzindo a testa. – Já conquistou meu novo irmãozinho, hein? Safada! – me cutucou com o ombro, sorrindo.
- Fazer o que se eu sou irresistível. – pisquei para ela e rimos. pareceu um pouco desconfortável e levantou, pegando o telefone.
- Preciso fazer uma ligação, mas volto logo. – fiquei em pé e abri a boca para perguntar o que estava acontecendo, mas ela me interrompeu. – Por favor! Não pergunta nada. Confia em mim.
- Você sabe que esses segredinhos estão me irritando, não sabe?
- Eu sei. – ela suspirou. – Desculpa. Juro que é pro seu bem.
- Ok. – suspirei frustrada. Odeio não saber das coisas. – Posso fazer só duas perguntas?
- Se eu puder responder... – deu de ombros.
- Pra quem você vai ligar?
- .
- Tem a ver comigo?
- Tem. Desculpa mesmo, eu queria poder te explicar tudo, mas não posso. – saiu do quarto, batendo a porta. Atirei-me na cama, com raiva. O que será que ela está me escondendo? Se ela vai ligar para o e tem a ver comigo... O que pode ser?
*
- Como assim seu irmão postiço tá dando em cima dela, ? – estava desesperado. Eu não queria, mas precisei contar a ele que estava rolando um “clima” entre Jesse e , mais da parte dele do que dela, mas enfim...
- É... Desculpa.
- Como assim? Ela é minha! Quem esse retardado pensa que é? A precisa lembrar, precisa! – ele falava cada vez mais alto.
- Eu sei, . Mas não tem nada que eu possa fazer sobre isso! Ele se interessou por ela e ela por ele, pelo menos eu acho. Sinto muito de verdade, mas lembra o que o médi- fiquei quieta quando vi sentando na cama. Ela acordou, porcaria. Será que ouviu alguma coisa? – acordou, te ligo depois. – desliguei e sentei ao lado dela. Tentei sorrir, mas na verdade estava preocupada com meu irmão. Tinha medo de fazer alguma besteira. – Bom dia.
- Sobre o que você falava com ? - ela perguntou e eu hesitei. Porcaria, se ela sabia que eu estava falando com ... Será que ela ouviu desde o começo? O que eu posso inventar?
- Sobre... Annabelle... Ela está interessada por um cara e está morrendo de ciúmes. – tentei a mentira, mas não pareceu acreditar.
- E o que tem a ver com isso? – eu devia saber que ela não acreditaria.
- pediu pra ele ligar né, dã. Também sou amiga da Anna e ele achou que eu pudesse convencê-la a desistir do tal cara. – ri e levantou, indo até o banheiro. Eu só rezava para ela não perguntar mais nada. Não sabia quanto tempo eu ia aguentar sem falar nada. Se ela perguntasse, o que eu ia dizer? “Hey, é que você perdeu a memória e esqueceu que tem namorado. Você podia, por favor, pedir ao Jesse que pare com as indiretas para cima de você? Seu namorado está bastante incomodado com esse fato.” Claro que não, seria prejudicial a ela uma coisa dessas, imagina só o que ela pensaria! Eu queria de verdade contar tudo a ela e vê-la de boa com de novo, mas eu simplesmente não podia.
saiu do banheiro e eu sorri, pensando em algum assunto para que a ligação de mais cedo não virasse motivo de briga entre nós.
- Minha mãe biológica e meu novo irmão são super legais, sabia?
- Percebi, você me trocou por eles! Fez o que ontem? – sentou ao meu lado.
- De manhã e à tarde eu e Kim fomos passear pela cidade, ela me mostrou onde ela trabalha, os lugares onde ela gosta de ir e tal. Aí de noite nós fomos com Jesse jantar na casa deles mesmo, acabei dormindo por lá. Jesse é super divertido. E, ah, ele perguntou de você. – olhei para ela, franzindo a testa. – Já conquistou meu novo irmãozinho, hein? Safada! – cutuquei-a com o ombro, forçando um sorriso.
- Fazer o que se eu sou irresistível. – ela piscou e nós rimos. Não consegui mais fingir, eu precisava falar com de novo. Levantei, pegando o telefone.
- Preciso fazer uma ligação, mas volto logo. – ela ficou em pé, abrindo a boca, mas eu a interrompi. – Por favor! Não pergunta nada. Confia em mim.
- Você sabe que esses segredinhos estão me irritando, não sabe?
- Eu sei. – suspirei. – Desculpa. Juro que é pro seu bem.
- Ok. – ela suspirou, parecendo frustrada. Eu sabia que odiava ficar no escuro, sem saber o que estava acontecendo. – Posso fazer só duas perguntas?
- Se eu puder responder... – dei de ombros. Se ela perguntar algo muito específico, não vou poder responder e provavelmente vamos brigar. Pega leve nas questions, amiga! Please.
- Pra quem você vai ligar?
- .
- Tem a ver comigo?
- Tem. Desculpa mesmo, eu queria poder te explicar tudo, mas não posso. – saí do quarto, batendo a porta, antes que ela perguntasse mais alguma coisa. Disquei o número, receosa, eu sabia que estava magoado e com tanto medo quanto eu de que alguma coisa acontecesse entre e Jesse. Não é por nada com ele, Jesse é um cara super legal. Mas não o namoraria, tanto pela mágoa que ela ainda tinha de Adam quanto pelo fato de ela morar longe dele. Mesmo assim tinha medo de que eles tivessem qualquer coisa que seja, para mim era de e fim.
- Oi. – ele atendeu, com a voz fraca.
- . – suspirei. – Como você está?
- Como você acha que eu to? Acabei de saber que tem um cara dando em cima da minha namorada e eu não posso fazer nada, porque ela simplesmente não se lembra de mim! – ele suspirou e eu me senti culpada por ter contado a ele. Mas tenho certeza que eu me sentiria pior se não tivesse dito nada.
- Se eu pudesse fazer alguma coisa, juro que eu faria...
- Eu sei, maninha. – ele riu fraco. – Mas você não vai me trocar por esse idiota, né?
- Claro que não! – foi a minha vez de rir. – Meu irmão é você e sempre vai ser, ok? Jesse é um conhecido, talvez um amigo. Nada mais que isso.
- Então tá. Ei, os caras estão me esperando pra gente ensaiar. Melhor eu ir antes que alguém venha me buscar.
- Tudo bem. Tchau.
- Ei, ?
- Sim?
- Cuida dela pra mim, tá? Não sei viver sem essa garota. Se ela se jogar na frente de um ônibus ou sei lá, você por gentileza impede, ok?
- Pode deixar. – eu ri. – Beijos. – desliguei e em seguida meu telefone tocou novamente. Era Jesse... O que será que ele queria?
- Alô?
- Oi !
- Oi!
- Tem algum plano pra amanhã à noite?
- Não, por quê?
- Uma banda local vai fazer um show, eu vou com uns amigos, consigo fácil ingresso pra você e pra .
- Jura? Ah, então fechado! Passar nosso último dia na cidade com estilo! – eu ri.
- Então fechou. Pego vocês duas amanhã às oito em ponto.
- Combinado. – concordei desligando. Se até amanhã à noite não lembrar eu ia ter um ataque. Coitado do meu irmão, mas eu não iria deixar de sair pra me divertir por causa disso. E como se eu for ela vai junto, vou ter que correr o risco. Jesse vai tentar alguma coisa, isso é claro. Mas se ele conseguir beijá-la, eu prometo que eu invento uma dor de barriga e levo-a embora!
Voltei para o quarto e mexia no computador, entediada.
- Party hard amanhã à noite, gatona! – falei um pouco alto e ela gritou, sorrindo. – Shopping amanhã para escolher um look top top na balada? [n/a: olá gírias, sejam bem vindas!]
- Yes! - veio correndo e pulou em cima de mim. Começamos a rir.
Amanhã promete!Último dia na cidade e à noite show? Uhu, lá vamos nós!
Capítulo. 24 - I always forget to tell you i love you, I loved you from the very first day
*
Acordei com o barulho de um telefone, reconheci o toque de e ouvi-a murmurar algo. Abri os olhos e ela ainda estava deitada na cama.
- Quem era? – perguntei.
- Kim. Quer que a gente vá almoçar com ela. Disse que está sozinha em casa hoje, já que Jesse saiu e a empregada está de folga, mas já está fazendo almoço. – ela riu.
- Que horas são?
- Onze.
- Vamos agora?
- Positivo. – fez joinha, rindo. Levantou-se num pulo. – EU TOMO BANHO PRIMEIRO! – foi correndo até o banheiro e eu só gargalhava. é maluca.
* [n/a: qualquer que seja seu McGuy, ele irá cantar, ok? Ele e seu segundo McGuy, quem quer que eles sejam. Se não cantarem, imagine que nessa música eles cantam, por gentileza.]
- Ei! – ouvi gritar e olhei para ele. Eu estava jogado na cama do hotel, onde tínhamos chegado não fazia muito tempo, e já tinham ido dormir em seus quartos e continuava enchendo a minha paciência. Ele veio até mim e me entregou um papel dobrado, abri-o:
Yesterday you asked me something I thought you knew
(Ontem você me perguntou algo que pensei que você sabia)
So I told you with a smile, it's all about you
(Então te disse com um sorriso "É tudo sobre você")
Then you whispered in my ear and you told me too
(Então você sussurrou em meu ouvido e me disse também)
Enquanto eu lia o que estava escrito, cantarolou a letra em uma melodia bastante agradável.
- Said you'd make my life worthwhile, it's all about you (disse "Você faz minha vida valer a pena, é tudo sobre você") – eu cantarolei a última frase que tinha escrita no papel e ele abriu a boca, surpreso.
- Você é um gênio! – pulou de um jeito bem estranho. tem problemas. – Não tinha conseguido encaixar essa frase na melodia ainda. Escrevi esse pedaço no avião, se você quiser finalizar a música pra gente cantar no show de hoje, fique a vontade. Ah, ela é sobre a , essa “cena” – ele fez aspas no ar – aconteceu mesmo. A gente tinha uns nove anos e uma menina se mudou pra minha rua e saiu espalhando pra todo mundo que era minha melhor amiga. ficou louca de ciúme e a gente quase brigou por causa disso. – ele riu e eu também. - Então pode continuar do jeito que quiser, já que a música de uma forma ou de outra vai ser sobre ela. – sorriu.
- Deixa comigo. – sorri animado. Eu já tinha várias ideias. saiu do quarto e eu me concentrei na música.
Tínhamos um show naquela noite na mesma cidade em que e estavam, iríamos embora na manhã seguinte e eu passaria o dia no hotel para não correr o risco de encontrá-las. Quanto ao show, elas não iriam mesmo, já que estava aqui pela mãe dela, não pelo show. Ela nem sabia que esse show aconteceria e eu achei melhor não mencionar nada a respeito.
Peguei uma caneta que tinha deixado em cima da mesinha de cabeceira e comecei a escrever.
*
Depois do almoço, Kim nos acompanhou no shopping e tenho que concordar com : ela é realmente muito legal e divertida. Rimos muito e escolhemos roupas incríveis para o show de mais tarde. Não fazia ideia de qual era a banda, mas devia ser boa. Mandei uma mensagem para , dizendo que estava com saudades, e ele logo respondeu.
Fui tomar banho e me arrumar para o show assim que chegamos ao hotel.
Meu vestido não era muito chamativo, mas muito bonito. Ele era azul marinho e ia até metade da minha coxa. Escolhi um sapato preto e me maquiei enquanto esperava tomar banho.
Ficamos prontas em quarenta minutos, bem na hora em que Jesse chegou. A casa de show aonde iríamos não era muito longe do hotel por isso chegamos em poucos minutos. Estava bastante cheia, encontramos uns amigos de Jesse lá e logo engatou numa conversa com um ruivo bem bonito. O show começou e tive que confirmar: a banda era realmente boa. Estávamos muito longe do palco, por isso não consegui ver a cara dos integrantes, que eram quatro, mas comecei a balançar ao ritmo de uma das músicas. Logo Jesse se aproximou de mim, colocando as mãos na minha cintura e começou a se mexer também.
*
Entramos no palco e todos começaram a gritar, o lugar estava lotado. Começamos com Star Girl e todos logo estavam dançando. Eu passava meus olhos pelo lugar, maravilhado com a quantidade de gente que cabia lá dentro. Olhei mais para o fundo e não gostei nada do que vi: dançava abraçada com um cara que deduzi ser o tal Jesse. Na hora me deu tanta raiva que eu acabei me confundindo e errando uma das notas, me olhou furioso, mas ninguém mais pareceu perceber o erro. Desviei os olhos de lá, procurando minha irmã. Se está aqui... está também, certo? Logo a encontrei, agarrando um cara. Típico. Olhei novamente para onde estava e ela tinha sumido. Respirei fundo e me concentrei somente na música.
*
- Quer ir para um lugar mais calmo? – Jesse sussurrou em meu ouvido e eu sorri concordando. Ele me pegou pela mão e me puxou para fora. Falou algo para o segurança e saímos, chegando a um jardim que tinha ao lado. Tinha um grupo de amigas fumando lá, ficamos um pouco afastados delas, mas ainda assim perto, já que esse jardim não era tão grande.
Ainda dava para ouvir a música, e naquela hora uma mais agitada começou, abracei Jesse e começamos a dançar calmamente como se fosse uma música totalmente calma, mas quem liga?
- Por acaso eu já falei que você está linda hoje? – ele sussurrou e eu ri.
- Ainda não.
- Nesse caso, preciso mencionar o fato de que você está maravilhosa.
- Obrigada. – eu ri novamente.
Acho que passamos uma meia hora lá dançando e conversando. Jesse era uma companhia bastante agradável e achei legal da parte dele não sair me agarrando assim logo de cara.
Ele começou a se aproximar aos poucos, e bem na hora que nossos lábios iam se tocar, o celular de uma das garotas ao nosso lado começou a tocar (lê-se gritar) a música Cherry Bomb e imediatamente eu empurrei Jesse para longe, me apoiando em uma árvore para não despencar no chão, já que de repente minha cabeça pareceu pesar uma tonelada. Lembranças invadiram minha mente num ritmo frenético e eu precisei me concentrar para conseguir entendê-las, de tantas que eram.
– I’M YOUR CH CH CH CH CH CH CH CHERRY BOMB! – gritamos, pulando de volta pro sofá e começando a gargalhar. também começou a rir.
- Vocês e essas coreografias malucas... – ele falou, revirando os olhos. Dei uma leve olhada para , me lembrando de sua presença somente naquele segundo, e vi que ele estava com a boca um pouco aberta e olhando para lugar nenhum. Ri baixo.
- Eu não estava dormindo, só tinha fechado os olhos. – ele sentou na cama. Comecei a rir.
- O que foi?
- Nada... É só que esse curativo em volta da sua cabeça ficou engraçado. – ri mais um pouco e ele me acompanhou.
- ? – sussurrei, indo correndo para a porta de entrada e abrindo-a sem o menor cuidado, assustando-o.
- . – ele sorriu, levantando-se e tentando me dar um abraço.
- Você está bêbado. – afirmei sem paciência. – Vem, entra.
- Tem certeza?
- Ué, tenho. Por quê? – eu ri.
- Por nada. Vou indo também. – ele veio me dar um beijo na bochecha e eu virei estrategicamente o rosto um pouco para o lado, fazendo-o beijar o canto da minha boca. Ele mordeu o lábio, olhando para o chão e suspirando, antes de sair batendo a porta.
- Parabéns. Você foi incrível. – disse, sincera. Ele riu.
- Obrigada, você também. – ele me abraçou, me levantando do chão um pouco.
- No dia que alguma outra garota significar pra mim tanto quanto você significa, eu troco de nome. – ele sorriu e eu fiz o mesmo, o olhando divertida.
- Já pensou em como vai se chamar? – brinquei, arqueando as sobrancelhas.
- Acho que eu nunca vou precisar me preocupar com isso. – ele riu baixo, me beijando.
Sorri, incapaz de demonstrar qualquer outra reação. Como fui capaz de me esquecer de tudo isso? Senti lágrimas invadirem meus olhos, olhei para cima e vi que Jesse me olhava preocupado. Tinha esquecido que ele estava ali.
- Faz um favor pra mim? – perguntei e ele afirmou. – Diz pra que me lembrei de tudo e pede pra ela te explicar o que aconteceu, por favor. E, mil desculpas. De verdade. Você é um cara incrível. Mas eu tenho namorado. – completei sorrindo e Jesse abriu a boca surpreso. Saí andando de volta para a casa de show decidida e ignorei os protestos de Jesse, que me seguia gritando algo que eu não entendi.
Consegui me enfiar no meio das pessoas, do lado esquerdo do palco, quase de frente para . A música que eles estavam tocando terminou e todos aplaudiram, gritando. Ele percebeu que eu estava ali e sorriu.
- A música a seguir foi escrita hoje mesmo e ela é para uma pessoa que está aqui esta noite. – falou.
- E ela é uma pessoa muito importante para todos nós. – completou piscando para mim.
- Não sei se ela vai saber que é para ela a música, - coros de “aah” ecoaram pelo lugar – mas em todo caso... – ele olhou diretamente para mim. – Eu te amo.
- E essa é All About You! – falou, começando a música.
It's all about you (it's all about you)
(É tudo sobre você (É tudo sobre você))
It's all about you baby
(É tudo sobre você baby)
It's all about you
(É tudo sobre você)
It's all about you
(É tudo sobre você)
Lágrimas já tinham molhado todo o meu rosto... Eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo... Como eu não percebi que era justo o McFly a tal banda? Como eu sou burra. parecia evitar olhar para mim, mas parei de prestar atenção nele quando começou a cantar:
Yesterday you asked me something I thought you knew
(Ontem você me perguntou algo que pensei que você sabia)
So I told you with a smile, it's all about you
(Então te disse com um sorriso "É tudo sobre você")
Then you whispered in my ear and you told me too
(Então você sussurrou em meu ouvido e me disse também)
Said you'd make my life worthwhile, it's all about you
(disse "Você faz minha vida valer a pena, é tudo sobre você")
Ri me lembrando daquele dia. é mesmo o melhor amigo do mundo, tenho que me lembrar de agradecer a ele por essa parte da música. Ouvi a voz de , mais linda do que nunca.
And I would answer all of your wishes if you asked me to
(E eu atenderia a todos os seus desejos se você me pedisse)
But if you deny me one of your kisses
(Mas se você me negasse um dos seus beijos)
Don't know what I do
(Não sei o que eu faria)
So hold me close and say three words like you used to do
(Então, abrace-me forte e diga três palavras como costumava fazer)
Dancing on the kitchen tiles, it's all about you, yeah!
(Dançando nos azulejos da cozinha é tudo sobre você)
Eu ri na parte da cozinha, sabendo que naquele dia ele tinha me visto cozinhar. é ou não é o melhor namorado do universo? Parei de encarar o palco e fui para um dos lados onde tinha uma escada, olhei rapidamente para e percebi que ele me procurava com o olhar. Sorri e esperei a última nota da música, aproveitando cada pedacinho dela. Vou gravá-la em um CD e levá-la comigo aonde eu for, pode ter certeza.
Os quatro cantaram juntos a última estrofe e eu não podia estar mais emocionada. Assim que a música acabou, todos aplaudiram loucamente, aparentando terem adorado. Pulei uma grade que tinha lá e subi no palco quase correndo, me atirando nos braços de , que me abraçou, surpreso.
- . – eu tentei controlar o choro, mas a essa hora eu já soluçava sem parar. Abraçava tão forte que poderia enforcá-lo a qualquer momento. – Desculpa. Eu não queria ter esquecido, eu...
- Shh... – ele me interrompeu, fazendo carinho no meu cabelo. – Não foi culpa sua, amor. Aconteceu. Pelo jeito o destino resolveu pregar uma peça na gente. – ele suspirou, rindo em seguida. – Finalmente você lembrou, se demorasse mais um pouquinho eu ia ficar maluco.
- Desculpa. – murmurei de novo e ele me soltou, segurando meu rosto com as duas mãos.
- Não foi culpa sua, linda. Tudo bem. – sorriu se aproximando de mim. Passou o braço por trás da minha cintura e colou nossos lábios com urgência. A plateia começou a gritar mais ainda (e eu achei que isso não fosse possível) e eu dei um selinho em , sorrindo e o abraçando forte novamente.
- Te espero no camarim, tá? – sussurrei o soltando, mesmo sem querer fazer aquilo.
- Tudo bem. – ele sorriu. Saí do palco em meio a mais gritos e entrei num vão da cortina, indo parar em um corredor com as paredes brancas, fui andando em linha reta e uma porta à minha esquerda chamou minha atenção, em letras garrafais pretas se lia: McFly.
Entrei e me deparei com uma sala enorme, com um sofá e uns sete pufes de diversas cores. Tinha uma mesa enorme cheia de guloseimas e um pequeno frigobar. Fiquei dando mil voltas pela sala, ansiosa para ver de novo. Parecia ridículo dizer que eu tinha sentido sua falta, se há alguns minutos eu nem lembrava direito dele, mas agora que eu lembrei a última semana pareceu tão... Vazia sem ele. Parecia de certa forma errado ficar longe de , parecia que tínhamos nascido um pro outro ou algo assim. Que coisa mais piegas, credo.
Suspirei, batendo o pé no chão, impaciente. Peguei um dos pufes – o rosa – e o coloquei em um canto isolado da sala, longe do outro sofá e da mesa. Sentei-me esticando as pernas e começando a cantarolar baixinho a música que eu acabara de ouvir.
Não tenho ideia de quanto tempo passou, mas levei um susto quando a porta abriu num estrondo e um eufórico entrou por ela.
- Fala, gata. Como estás? – piscou para mim, estendendo a mão para eu levantar. Assim que o fiz, me abraçou forte. – Ainda bem que você lembrou, ninguém estava mais aguentando o mala do . – eu ri nasaladamente, abraçando ainda mais forte. – Você que quase se esqueceu de mim, né? Nem falou direito comigo e só deu notícias hoje.
- Desculpa, neném. Eu e estávamos pra lá e pra cá por causa da mãe biológica dela e tal.
- Tudo bem. – ele me puxou e sentou em um pufe, me fazendo sentar em seu colo, meio desajeitada. – Agora me conte as novidades.
- Hm... – parei para pensar, enquanto brincava com o cabelo de . – EU AMEI A MÚSICA. Muito obrigada. – sorri sincera, e ele riu.
- Eu já sabia que você ia adorar, antes mesmo de ouvir a parte que o escreveu.
- Convencido! – dei um tapa fraco em seu ombro e começamos a rir. A porta abriu e os outros três integrantes entraram na enorme sala, e sentaram em dois pufes que tinham em frente a uma TV e ligaram o videogame. sorriu olhando os amigos e veio até onde eu estava com , estendendo a mão para mim. Segurei-a e ele me puxou, fazendo-me levantar e juntando nossos lábios imediatamente.
- EI! Eu estava conversando com a minha melhor amiga. – protestou.
- E agora eu vou conversar com a minha namorada. – rebateu, dando língua para e me puxando para o sofá. Soltei a mão dele e voltei para onde estava, dando um beijo estalado em sua bochecha.
- Depois a gente conversa, coisa fofa. – ele sorriu, dando língua para e cantando “Ela me ama, ela me ama” até sentar em um dos pufes onde os outros caras estavam e ficar olhando-os jogar vídeo game. Ri baixo e fui até onde estava. Ele me encarava, fingindo raiva.
- Precisava disso? – fez bico, cruzando os braços, e eu ri novamente. Uma lágrima solitária escorreu pela minha bochecha e eu senti que meu sorriso poderia rasgar minha boca, de tão grande que estava. Sentei-me ao lado de e o abracei forte pela terceira vez naquela noite.
- Senti tanto a sua falta nesses minutos que eu passei aqui no camarim, você não tem ideia. Parece que não te vejo há anos.
- Para mim esses seis dias sem ter você duraram décadas. – ele respondeu com a voz fraca e o rosto enterrado no meu cabelo. Eu não tinha ideia do que tinha passado nesses dias, mas eu imagino que se ele esquecesse que eu existo, eu perderia o chão... Não sei mesmo o que eu faria.
- Desculpa por ter te feito passar por isso. – sussurrei de novo. Eu me sentia culpada por ter feito o meu sofrer, apesar de não ter culpa de nada. Ele se afastou o suficiente para conseguir me olhar nos olhos.
- Você vai parar de se culpar e calar essa boca ou vou ter que fazer isso eu mesmo? – me encarou sorrindo malicioso e encarando meus lábios.
- Acho que eu preciso de uma ajudinha para ficar quieta. – completei a provocação me aproximando de e selando nossos lábios. Beijamo-nos calmamente, sem nenhuma pressa, apenas aproveitando o momento. Eu fazia carinho em seu cabelo e ele acariciava minhas costas. Um pigarro alto nos fez interromper o beijo, virei para o lado e vi com um sorriso sapeca no rosto.
- A gente tá indo pro hotel, casal. Se vocês preferirem terminar isso aí – apontou para nós e eu ri – lá, é bom virem logo. e já estão no carro.
Levantei-me puxando comigo, entrelacei nossas mãos e fomos até o carro (lê-se limusine) em silêncio, salvo algumas vezes que ele me olhava sorrindo e eu beijava sua bochecha carinhosamente. abriu a porta para mim e eu entrei, sentando-me ao lado de , que sorriu e me deu um abraço rápido. entrou, fechando a porta, e passou o braço por trás da minha cintura, me puxando um pouco mais para perto. Deitei a cabeça em seu ombro, enquanto observava o movimento (ou a falta dele) na rua.
Chegamos ao hotel em poucos minutos e várias fãs esperavam na porta. Eu não tinha ideia de que o McFly fosse tão famoso. Se bem que eu nunca tinha ido a nenhum show deles, esse fora o primeiro. Eles se olharam, receosos.
- Algum problema em ser apresentada oficialmente como minha namorada? – perguntou, me olhando, e eu neguei com a cabeça. – Então vamos. – abriu a porta e eu e ele saímos primeiro, sendo seguidos pelos outros três. A gritaria começou e minha cabeça doía. Aposto como essas garotas vão passar no mínimo uma semana sem poder falar quando saírem daqui. Entramos no elevador e... O silêncio. Suspirei, levando as mãos à cabeça. me olhou preocupado, fez o mesmo.
- Você está bem? – perguntou e eu balancei a cabeça negativamente, de modo quase imperceptível.
- Como vocês aguentam esses gritos? Minha cabeça vai explodir. – reclamei me apoiando em , que me deu um beijo na testa e envolveu os braços em volta de minha cintura.
- Com o tempo você acostuma. – falou, rindo baixo.
- Eu sinceramente espero que sim. – respondi. O elevador abriu e saímos, indo cada um para o seu quarto. Fiquei normalmente em pé de novo, sentindo os zunidos em meu ouvido pararem e a dor em minha cabeça aliviar de forma considerável. virou para mim assim que entramos no quarto e me olhava com a testa franzida. – Já estou melhor, só preciso beber um pouco de água. – ele assentiu e foi até o pequeno frigobar que ficava embaixo da prateleira onde estava a TV e de lá tirou uma garrafa e um copo. Encheu metade dele e me entregou.
- Obrigada. – sorri, bebendo alguns goles e largando o copo na mesinha de cabeceira. Fui até e envolvi meus braços ao redor de seu pescoço, sorrindo. – Onde foi que nós paramos mesmo?
Ele sorriu também.
- Acho que eu sei. – selou nossos lábios, aproximando ainda mais meu corpo do seu.
Acordei, me espreguiçando, olhei para o lado e a cama estava vazia. Em cima do travesseiro tinha um bilhete, abri-o:
“Bom dia, linda.
Estou em uma entrevista em uma rádio, mas não demoro.Não se desespere: você não perdeu o voo. foi às nove horas mesmo, mas você vai comigo só as duas, combinado? Já comprei sua passagem e peguei suas malas, não se preocupe.
Se precisar de alguma coisa é só ligar para a recepção.
Vou voltar para você o mais rápido possível.
Xxx
.
PS: eu te amo.”
Sorri como uma idiota lendo o bilhete. era o ser mais admirável da face da terra e eu queria mais do que qualquer outra coisa que ele voltasse logo dessa entrevista.
Levantei-me e fui até o banheiro, lavando o rosto e dando uma arrumada no cabelo. Olhei para o outro lado do quarto e vi minhas malas ali, ao lado das de . Abri a preta menor e tirei de lá roupas e minha escova de dente. Abri a maior, também preta, e peguei uma sapatilha qualquer. Fechei as duas e fui para o banheiro, escovando os dentes e trocando de roupa. Quando saí, encontrei sentado na cama, sorrindo.
- Pensei que você demoraria mais. – sorri, indo até ele quando o mesmo levantou e dando um selinho demorado.
- Eu demorei... É você que acorda tarde. Já são onze horas, sabia? – riu e eu balancei a cabeça negativamente. – Tá com fome?
- Sim. – respondi sem ter muita certeza.
- Quer sair para almoçar comigo e correr o risco de sair na capa da próxima revista de fofocas ou prefere comer algo aqui no hotel mesmo?
- Acho que prefiro o hotel. – eu ri e ele concordou com a cabeça, estendendo a mão. Entrelacei nossos dedos e fomos até o restaurante do hotel na maior calma. Sentamo-nos em uma mesa reservada, longe dos olhares da maioria ali e o garçom nos trouxe dois cardápios. Comecei a folhear o meu, quando percebi que tinha deixado o seu na mesa e me encarava.
- Que foi? – ri baixo, o olhando confusa.
- Nada. – ele sorriu. – Só gosto de ficar te olhando.
- Não vai comer nada?
- Escolhe você. – deu de ombros, sorrindo de novo.
Encarei o cardápio, mordendo o lábio inferior. O que eu poderia pedir? Não quero nada muito cheio de frescura, quero algo simples.
Sinalizei para o garçom, que logo veio até nós.
- Dois bifes à parmegiana com arroz à grega e dois sucos de uva, por favor. – fechei o cardápio e o garçom esticou o braço, pegando-o e saindo.
- Suco de uva? – perguntou e eu ri.
- Relembrar é viver. – dei de ombros e ele riu, concordando.
# Flashback
- O que é isso? – apontei para uma vasilha em cima de uma mesa ao lado da cama.
- Uvas. – sorriu triunfante.
- Você pediu... Uvas? Em um hospital? – perguntei me segurando para não rir.
- Qual o problema? Eu gosto de uvas. E a enfermeira perguntou se eu queria alguma coisa.
- Típico. – falou rindo.
Fui em direção à vasilha, ainda rindo, e peguei-a, mas colocou a mão na frente, o que fez a vasilha virar um pouco, derrubando algumas uvas.
- REGRA DOS CINCO SEGUNDOS! – gritou e todos nos jogamos no chão, pegando a máxima quantidade de uvas possível.
# Fim do flashback
Ri baixo, lembrando-me daquele dia. riu também, imaginei que também estava pensando nisso. Logo nossos pratos chegaram e comemos em silêncio. A comida estava ótima.
Saímos de mãos dadas e passeamos pelo hotel, sem nenhuma pressa, só curtindo a companhia um do outro. Nenhum de nós disse nada na maior parte do trajeto; nem precisávamos, a energia agradável que pairava sobre nós quando estávamos juntos já era suficiente.
abriu a porta do quarto para mim e eu entrei, rindo.
- Que horas são? – perguntei e vi-o tirar o celular do bolso.
- Onze e quarenta. O combinado é sairmos daqui meio dia e dez. – informou, adivinhando que aquela seria minha próxima pergunta. Fui andando devagar até ele e envolvi meus braços ao redor de seu pescoço.
- Eu te amo. – falei e abriu um sorriso enorme e se aproximou, juntando nossos lábios.
Capítulo. 25 - We’re inseparable
Uma semana tinha se passado e minha relação com não poderia estar melhor. Fazia exatamente um mês que tinha acontecido o aniversário da e eu não conseguia acreditar no quanto minha vida tinha mudado em tão pouco tempo.
Eu estava saindo do estúdio e meu telefone tocou; era .
- Oi amor! – atendi.
- Oi linda, tudo bom?
- Tudo sim e com você?
- Melhor agora. – ele riu. – Onde você está?
- Saindo do estúdio agora, terminei de arrumar alguns detalhes do script com o Mike e estou voltando pra casa. E você? – sorri.
- Eu estou terminando o ensaio com os caras, mais uns quinze minutos e eu volto pra casa também, me espera lá? Tenho uma super novidade pra te contar.
- Ok. Beijos.
- ? – ouvi a voz de quando estava quase desligando.
- Oi?
- Te amo. – sorri largamente, entrando no carro.
- Também te amo, bobo. Não demora, estou te esperando.
- Não vou demorar. – ele riu. – Beijos. – desligou.
Cheguei rapidamente em casa, amaldiçoando a maldita gripe que tinha me atacado nessa manhã. Acordei espirrando e meu nariz estava totalmente entupido, me impedindo de sentir qualquer cheiro que fosse. Pelo menos a dor de cabeça não tinha voltado e eu não tinha febre. Mas que o nariz estava incomodando, isso estava. Preciso me lembrar de marcar um médico, antes que essa gripe fique pior.
Entrei em casa, quase escorregando em algo molhado no meio da sala. Imaginei que tinha derramado água e esquecido de limpar, vou ter uma conversa séria com essa garota.
Subi e tomei meu banho, quase escorregando novamente. Essa maluca tinha passeado pela casa inteira molhada, é isso mesmo, produção?
Troquei de roupa e prendi o cabelo num coque frouxo, me assustando com um barulho vindo do jardim. Imaginei ser e desci correndo (quase escorregando, que novidade. vai se ver comigo, ah se vai!), abrindo a porta dos fundos e dando de cara com...
- Adam? O que você está fazendo aqui? – ele virou abruptamente, parecendo surpreso.
- O que você está fazendo aqui? Pensei que só viria mais tarde!
- O que você está fazendo aqui? – repeti a pergunta, com mais convicção.
- Paguei fiança. – ele deu de ombros, sorrindo de modo assustador. Minha respiração falhou e senti minhas pernas tremerem. O que ele estava fazendo na minha casa? E que caixinha é essa no bolso de sua camisa?
- O que você quer de mim?
- Acertou em cheio na pergunta, gatinha. – riu, dando alguns passos em minha direção. Recuei um pouco para o lado e ele parou de andar. – Quero que você termine com o idiota do seu namorado. Se você não for minha, também não vai ser dele.
Ri, irônica.
- Jura? – pareci perder o medo subitamente. Quem ele pensa que é para vir dar pitaco na minha relação com ? – E como você vai me obrigar? – cruzei os braços, encarando-o.
- Se você não fizer isso, eu acabo com a sua vida. – falou e eu arqueei as sobrancelhas.
- Vai me matar? Jura? Esse é seu plano? – balancei a cabeça negativamente, rindo baixo. – Você não teria coragem. – falei convicta. Adam nunca me mataria... Ele era obcecado por mim... Certo?
- Tem razão. Eu não teria coragem mesmo. – surpreendentemente ele concordou comigo. – Mas quem foi que falou em morte? Vou fazer algo bem pior. – foi em direção à porta, fechando-a e indo até a porta da frente. Abri a porta silenciosamente e, me escondendo na sombra (isso foi fácil, considerando que era noite e eu não tinha ligado nenhuma luz), segui até as escadas com o objetivo de pegar o celular e ligar para . Eu estava muito nervosa. O que Adam pretendia dizer com aquilo? Ele virou de frente para mim quando chegou até a porta, mas milagrosamente não pareceu perceber que eu estava ali. Sorriu maleficamente e tirou uma caixinha do bolso. Foi então que eu percebi. Era uma caixa de fósforos.
Ele tirou de lá um fósforo e o acendeu, atirando-o no chão. A sala ficou tomada pelas chamas imediatamente e eu me apavorei... Não era água no chão, era gasolina.
As chamas seguiam na direção da escada e eu saí de lá, indo até o banheiro do andar de baixo e trancando a porta. Fumaça entrava por debaixo da porta e eu me encolhi embaixo da pia, me esforçando para respirar normalmente. Meus olhos ardiam e eu senti um aperto no peito... Eu ia morrer ali?
*
Cheguei até a casa de e ela estava em chamas. Desliguei o carro no meio da rua mesmo e fui correndo até lá, encontrando Adam sorrindo triunfante enquanto encarava a porta.
- O QUE VOCÊ FEZ, SEU FILHO DA PUTA? - o empurrei com força e muita, muita raiva. Se alguma coisa acontecesse com , esse cara ia perder as pernas... Ah, se ia.
- Coloquei fogo na casa da sua namoradinha, não está vendo? – ele riu apontando para a casa, que estava completamente coberta pela fumaça. Fui em direção à porta, e a empurrei com força, deparando-me com a sala totalmente destruída. Adam gritou alguma coisa, mas não parei para prestar atenção. Eu precisava encontrar .
Olhei rapidamente para o lado, esforçando-me para respirar, meu peito já doía e eu já tinha inspirado muita fumaça. A porta do banheiro estava fechada. Ela nunca fica fechada a não ser que tenha alguém lá dentro...
- ! – gritei, indo correndo até lá e forçando a porta. Não abria. Estava trancada. Dei alguns passos para trás, forçando meus olhos para permanecerem em foco, e saí correndo em direção à porta, dessa vez sem parar, e colidindo com tudo contra ela. Meu ombro direito doía muito, assim como meu cotovelo. Sentia que podia ter quebrado o braço, mas pelo menos a porta tinha despencado no chão. Varri os olhos pelo banheiro, que começava naquele momento a ser coberto pelo fogo e encontrei encolhida embaixo da pia. Cheguei mais perto e percebi que ela estava desacordada. Coloquei-a de mau jeito sobre meu ombro esquerdo e saí dali, indo para a rua e respirando ar puro. Adam veio correndo até mim, desesperado.
- EU NÃO SABIA QUE ELA ESTAVA LÁ DENTRO, EU JURO! EU TINHA FECHADO A PORTA DOS FUNDOS JUSTAMENTE PARA ELA FICAR LÁ E NÃO ENTRAR NA CASA. EU NÃO QUERIA MACHUCÁ-LA... NÃO QUERIA!
- CALE A BOCA, SEU MERDA. VÊ SE FAZ ALGUMA COISA DE ÚTIL E LIGA PRA PORRA DA AMBULÂNCIA E PRO CORPO DE BOMBEIROS. – gritei, caindo no chão de joelhos, por cima de . Não consegui mais me manter em pé, meu corpo todo doía e meu braço inteiro latejava; minha cabeça pesava uma tonelada e eu ainda sentia o cheiro de fumaça, que me deixava bastante tonto. A última coisa que me lembro é de ter visto o carro de chegar e Adam ir embora correndo.
*
Quando cheguei perto de casa, a vi coberta por fumaça e chamas. Fiquei apavorada e desci do carro, encontrando e deitados no chão do jardim frontal. Tentei chamá-los, mas ambos não respondiam. Estavam desacordados.
Comecei a me desesperar e quase não acertei o número da ambulância, mas alguns vizinhos apareceram e me ajudaram. Uma senhorinha me deu um copo d’água e dois vizinhos da casa ao lado se prontificaram a ligar para os bombeiros.
Acabei desmaiando também e quando recobrei a consciência e já tinham sido levados para o hospital e os bombeiros apagavam o incêndio.
*
Acordei sentindo um cheiro inconfundível de hospital, abri os olhos e me vi em uma sala não muito pequena, mas toda em tons claros. Já é a terceira vez que vou parar num hospital em um mês. Azarada, eu? Nem um pouco.
Levei um susto com o barulho da porta, uma cheia de olheiras entrou e deu um sorriso enorme quando viu que eu estava acordada. Veio até mim e me deu um beijo na bochecha. Tentei erguer o braço para abraçá-la, mas quando tentei fazer isso, uma dor imensurável me atacou.
- Ai! – exclamei e me olhou preocupada. Olhei para mim mesma e vi que estava cheia de curativos, encarei-a confusa.
- Queimaduras. – explicou e eu assenti. O incêndio, claro. Não me lembro de muita coisa, pois desmaiei, mas meus braços estavam cobertos por curativos, até me assustei um pouco.
- Há quanto tempo eu estou aqui?
- Três dias. À base de sedativos, claro. Senão você sentiria muita dor.
Mais um barulho veio da porta e dessa vez quem entrou foi a mesma enfermeira da primeira vez que eu estive aqui.
- Você novamente. – ela sorriu, vindo até mim. – Como está se sentindo?
- Mentalmente bem, mas meus braços estão doendo, não consigo nem mexê-los.
- Devido às queimaduras. – pegou um remédio e injetou em mim. – Esse é um remédio para dores. Não chega a ser um sedativo, mas lhe dará bastante so...
*
apagou novamente. Eu estava morrendo de cansaço, não dormi direito durante esses três dias de tanta preocupação. Ela estava melhorando, mas ainda não estava totalmente curada das queimaduras. O médico disse que achava que em mais um dia ou dois ela já não sentiria tanta dor, poderia até passear um pouco pelos corredores do hospital. Com a situação era um pouco mais complicada, ele também tinha várias queimaduras pelo corpo (mais do que , até), mas também tinha deslocado o ombro e quebrado o braço direito. Os médicos tinham a previsão de quatro ou cinco dias para que ele não necessitasse mais dos sedativos. Eu estava com pena do meu irmão, não aguentava vê-lo daquele jeito, ele estava muito machucado. ficaria maluca quando soubesse como ele estava.
- Senhorita? – a mesma enfermeira que tinha atendido me chamou.
- Sim? Alguma novidade? – fiquei apreensiva.
- Nenhuma ainda, infelizmente. Só o que você já sabe. Você deveria ir para casa, tomar um banho e dormir um pouco. Está a três dias direto nesse hospital, precisa descansar.
Suspirei. Era mesmo verdade o que ela dizia. Assenti e peguei minha bolsa, indo em direção à lanchonete onde a mãe de e meus pais almoçavam. Eles estavam em uma conversa animada, apesar de os três estarem preocupados. e gostariam de saber disso.
- Olá. – sorri e todos viraram para mim. – Eu vou para casa um pouco, preciso dormir.
- Precisa sim, querida. Qualquer coisa nós ligamos. – minha mãe [n/a: a adotiva, detalhe importante. A mãe biológica dela mora em outra cidade, não esqueça] pegou a bolsa, tirando de lá a chave da casa deles, considerando que aquela onde eu morava ainda estava sendo reformada por culpa do incêndio. Peguei a chave e me despedi dos três, saindo.
Acordei somente no dia seguinte dez horas da manhã e fui direto para o hospital. Dei uma olhada em meu irmão, que estava igual ao dia anterior, só que com novos curativos. Minha mãe estava lá com ele, meu pai tinha ido para casa e a mãe de saíra para tomar café da manhã. Fui ao quarto de e sentei no sofá que tinha lá, refletindo sobre a vida.
Ainda não tinha contado para que eu estava namorando. Eu planejava contar no dia do incêndio, mas enfim isso não foi possível. Dessa vez eu sentia que ia dar certo, ele me tratava super bem e era um fofo!
- ? – ouvi a voz de e me aproximei dela, sorrindo.
*
- Fala, dorminhoca. Bom dia. Tá melhor? – perguntou sorrindo.
- Sim. – afirmei, também sorrindo. Meu braço ainda doía um pouco, mas nada alarmável. – ... – comecei e ela logo entendeu.
- Dormindo ainda. Acho que fica mais uns dois ou três dias assim... – suspirou e eu fiquei preocupada. Tentei levantar, mas ela me impediu. – Não! Espere o médico vir primeiro e te dizer se você pode ir até lá ou não. – ela apertou um botãozinho ao lado da cama, para chamar o médico. Bufei nervosa.
- Como ele está?
- Com várias queimaduras, deslocou o ombro e quebrou o braço, mas não corre riscos. – mordeu o lábio, também nervosa. Eu sabia que estava tão preocupada quanto eu. Estava decidida a não sair daquele hospital sem ele.
A porta abriu e de lá saiu um médico que até era bonitinho. Ok, , foco.
- Olá. – ele sorriu. Meu Deus, que sorriso. Ok, parei. – Como está se sentindo? Parece bem mais disposta.
- Estou bem melhor, obrigada. – sorri. – Eu posso ir ver meu namorado? Por favor.
- Acredito que não tem nenhum problema. As queimaduras em sua perna não foram muito fortes, só precisamos trocar os curativos do braço.
- Ok.
A simpática enfermeira trocou meus curativos (infelizmente não foi o médico, todos choram) e me acompanhou até o quarto de . Chegando lá senti meu estômago dar voltas e mais voltas. Prendi a respiração e mordi o lábio inferior para não desmaiar, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
não estava bem.
Ele estava com os mesmos curativos que eu tinha em meus braços, só que em número quadriplicado e pelo corpo inteiro. Tinha um gesso em seu braço direito e seu ombro estava totalmente coberto por alguma coisa que não identifiquei o que era – tipo uma gaze, mas maior e mais parecida com um tecido.
Cheguei mais próxima dele, e não ouvi me seguir; presumi que ela ficou na porta.
Meu rosto já estava totalmente coberto por lágrimas e eu estava me segurando para não soluçar. Ele tinha também um roxo na bochecha direita, deve ter batido em algum lugar durante o incêndio.
Estendi o braço – que já não doía – e toquei com cuidado sua bochecha esquerda, fazendo carinho nela. Aproximei-me ainda mais e me inclinei de leve, dando um beijo em sua bochecha.
Eu estava morrendo de preocupação.
“ disse que ele não corre riscos”, uma vozinha em minha mente gritou, mas eu a ignorei. podia não correr riscos, mas mesmo assim estava muito machucado.
Reforcei ainda mais minha decisão naquele exato momento: eu não sairia daquele hospital sem ele.
*
Abri os olhos relutante e me assustei por ver um quarto totalmente estranho. Torci o nariz ao sentir um cheiro inconfundível de hospital. Tentei levantar a mão direita, mas meu braço inteiro doía e o ombro também. Era uma dor fraca, mas ainda sim incomodava. Virei o rosto para o lado, frustrado, e me deparei com dormindo toda torta naquele desconfortável sofá. Ela ainda tinha algumas marcas no braço, mas não tinha curativos como eu. Seu rosto denunciava o cansaço e ela tinha olheiras fundas embaixo dos olhos, o que deixava bem claro que ela não dormia há dias. Fazia quanto tempo que eu estava naquele hospital? Eu não tinha ideia, mas sabia que eram bem mais que algumas horas.
Um barulho na porta chamou a minha atenção, olhei para lá e vi um igualmente cheio de olheiras, mas que abriu um sorriso enorme ao ver que eu estava acordado. Veio devagar até mim, para não acordar .
- ! Finalmente, cara. Como você está? – ele sussurrou parando ao lado da cama.
- Bem. – sussurrei também, e estranhei o quanto minha voz estava rouca. – Vocês estão em greve contra a cama por acaso? Aposto como vocês não dormem há dias.
- É verdade. – ele riu baixo franzindo a testa. – Estávamos todos muito preocupados com você, . Nossa preocupação diminuiu quando a acordou, mas ainda assim continuávamos preocupados. Ninguém dorme direito desde o dia do incêndio, principalmente a . Essa é a primeira vez que ela fecha os olhos em três dias inteiros, acredita?
- Ela é louca? – sussurrei. Como assim ela não dormiu nada em três dias? E se eu não acordasse hoje, ela ia continuar sem dormir? Teremos uma conversa bem séria quando ela acordar.
- Louca por você né, mané. A preocupação era tanta que a coitada nem pregou o olho, comer então nem se fala! Ela toma aquelas sopas sem graça que tem no restaurante do hospital e mesmo assim só depois de muita insistência de todos nós. Agora são... – ele consultou o relógio. – Quatro da tarde. E a senhora sua namorada não tomou nem água.
- Como assim? – aumentei o tom de voz, o que acabou acordando .
- ! – ela falou num sussurro,e seus olhos se encheram de lágrimas. Ela sorriu e veio me abraçar. Levantei o braço esquerdo – esse não doía, ainda bem – e retribuí o abraço, meio desajeitado. Ela beijou minha bochecha carinhosamente e se afastou um pouco para me olhar nos olhos.
- Você quer fazer um favor pra mim? – perguntei, também sorrindo.
- Sim, qualquer coisa.
- Qualquer coisa?
- Ué, sim. O que é que você quer? – ela riu fraco, me olhando curiosa.
- Come alguma coisa decente? – sugeri e ela fechou a cara.
- Não estou com fome. – cruzou os braços fazendo bico e eu sorri largamente. Como se denunciasse a mentira, o estômago dela roncou naquele mesmo momento.
- Amor... – estendi a mão esquerda e fiz carinho em sua bochecha. – Você precisa se alimentar. Por favor.
Ela negou emburrada.
- Depois de três dias sem notícias eu não quero ficar nem um minuto longe de você, , me entende!
- Eu entendo, linda. Juro que eu entendo. Mas eu to bem, a gente vai ter bastante tempo pra ficar junto. Você precisa comer alguma coisa. – insisti novamente, achando graça naquela situação toda. Ela negou novamente e me abraçou forte. Pode não parecer, mas três dias é bastante coisa.
A enfermeira entrou, dando um susto em todos nós e parou de me abraçar para encarar a mulher.
- Olá. – sorriu, parando ao meu lado. – Como se sente?
- Bem melhor.
- Que bom. – ela estendeu para mim um copinho com dois comprimidos dentro. – Você precisa tomá-los, é contra as dores.
Encarei , sorrindo, e ela entendeu o que eu iria fazer.
- OKAY! – gritou irritada, descruzando os braços e revirando os olhos. – “Só vou tomar o remédio se você comer alguma coisa.” – imitou minha voz de maneira debochada, e todos rimos. – Já entendi. – se aproximou me dando um selinho demorado e saiu do quarto.
- ... – pedi e ele logo entendeu.
- Tô indo. – sorriu, também saindo. Tomei o comprimido e a enfermeira se retirou. Não deu um minuto e entrou correndo no quarto, quase tropeçando. Gargalhei e ela veio correndo até mim.
- Aleluia! Já tava começando a cogitar a possibilidade de jogar um balde de água nessa sua cara pra ver se você acordava.
- Sempre carinhosa. – reclamei e ela riu, me abraçando. Quando me soltou parei para observá-la. também tinha olheiras, mas ela não estava tão abatida quanto e . Fiquei aliviado – pelo menos uma ali tinha se cuidado.
- Você tá bem?
- Por que todo mundo sempre pergunta isso? – eu ri. – Tô legal, maninha.
- Sr. e Sra. estavam aqui há meia hora, mas foram para casa dormir. Logo, logo eles voltam. Vou ligar pra avisar que você acordou.
- Ok. – sorri afirmando com a cabeça. E então me lembrei de uma coisa. – ? E o filme?
- As filmagens pararam por enquanto. Vocês vão ter um mês de descanso pra tua recuperação, aí no final de tudo tem um mês a mais que o planejado, claro.
- Ah. – relaxei. Tentei me lembrar de algum compromisso com o McFly, mas nada me veio à mente. Acho que não tínhamos shows agendados, os caras tinham dado essa “pausa” pra elaborar o novo álbum e também pra me dar tempo pra filmar.
*
- Mas você tá bem mesmo? – perguntei novamente.
- Já falei que eu tô legal, Fletcher. Faz uma semana que eu saí do hospital, eu já estou quase completamente recuperado. Já não basta a morrendo de preocupação comigo, você vai entrar nessa paranoia também?
- VOU TE MOSTRAR QUEM É A PARANOICA, . – ouvi gritar e gargalhei. Esses dois não têm jeito mesmo.
- Tá, enfim. Você ligou só pra isso? – perguntou.
- Não. Lembra-se daquela minha prima, a Tory?
- A que mora em uma casa muito foda na praia?
- Essa mesmo. – eu ri, lembrando-me de quando eu e os caras fomos passar um tempo lá ano passado. Foram as melhores férias da minha vida, o lugar é muito legal e tem muita mulher bonita. Não que eu me importe com isso, quer dizer, eu tenho a . Mas eu também não sou cego. e Tory ficaram bem... Amiguinhos na época. Mas acho mais seguro ficar calado sobre isso. – Você ainda tem duas semanas de folga das filmagens, certo?
- Positivo.
- Então, a Tory me ligou ontem e disse que os pais dela vão viajar e ela vai passar duas semanas sozinha naquela casa enorme... Coitada dela, né?
- É mesmo, coitada. – entrou na brincadeira, fazendo uma voz triste.
- Eu, como o primo dedicado que sou, me ofereci pra fazer companhia a ela durante esses longos e solitários dias... E pensei em chamar a banda toda e também nossas queridas amigas. E ai? Topa?
- Se eu topo? Tá mais do que topado, meu camarada. Quando nós vamos?
- Amanhã tá bom pra vocês?
- Amanhã está perfeito.
- E a ?
- O que tem a ? - perguntou confuso e eu ri.
- É, O QUE TEM A ? – ouvi a mesma gritar novamente.
- É muito feio ouvir as conversas alheias, sabia? – ele provocou e eu gargalhei mais, só ouvindo a discussão do casal.
- É muito feio meu namorado e meu melhor amigo falarem de mim pelas costas, SABIA? – ela provocou de volta. – Dá esse telefone! – mandou e eu ouvi um barulho estranho e por fim um tapa.
- Oi . – falou com a voz fofa e eu gargalhei.
- Estou até com medo de perguntar, mas o que foi que você fez com o ?
- Nada, só tive que recorrer a meios mais drásticos para ele me dar o telefone.
- ASSASSINA! – ouvi um berro de e riu alto.
- As demonstrações de afeto entre vocês chegam a me comover.
- Eu sei que nós somos fofos. Enfim, sobre o que vocês falavam?
- Minha prima tem uma casa enorme na praia e a gente tava pensando em ir passar um tempo lá, o que você acha?
- Ué, eu acho uma ótima ideia! Posso chamar a ?
- Pode né, claro. Saímos amanhã as dez, ok?
- Combinado. Beijos.
- Até amanhã, pequena. – desliguei o telefone, pegando a chave do carro e indo até a casa de .
*
- Estamos chegando? – ouvi perguntar pela quinta vez e segurei uma risada. Já estávamos há quase uma hora na estrada e eu também estava curiosa para saber como era a tal praia. Estávamos no carro: eu e no banco de trás; dirigindo e ao lado dele. No outro carro atrás de nós estavam e . disse que iria mais tarde com o misterioso namorado novo, e que quando chegasse era para irmos jantar todos juntos para conhecê-lo e depois do jantar ele iria embora. Eu estava bastante curiosa, ela falava muito bem dele e pela primeira vez parecia realmente feliz.
- Quase. – ouvi responder rindo. – Chegamos. – ele respondeu, estacionando na frente de uma casa... Perfeita. Aliás, não era perfeita. Muito menos uma casa. Era uma a href=" http://www.otempo.com.br/jornalpampulha/fotos/20080308/foto_06032008230402.jpg">mansão magnífica, que me deixou de boca aberta.
Não sei por quanto tempo fiquei encarando aquela maravilha, mas só retornei a mim quando abriu a porta do carro e ficou me encarando, esperando que eu saísse. Saí, ainda embasbacada com tamanha perfeição.
e seguiram em direção à porta e eu os segui, com ao meu lado e e atrás de nós. Uma garota ruiva que eu podia jurar ter vinte anos abriu a porta, sorrindo e abraçando e . Ela encarou , sorrindo largamente, e eu podia jurar que os olhos dela brilharam ao ver o meu namorado. Segurei minha vontade de arrancar os cabelos dela quando a mesma jogou os braços ao redor de , abraçando –o animada. Ele parecia bem desconfortável, mas não a afastou.
Olhou para mim e eu sorri para ela, acenando e indo para mais perto de , entrelaçando nossas mãos. A tal Tory fechou a cara e foi cumprimentar e , entrando na casa em seguida ainda de cara fechada. pareceu não perceber a reação da garota e sorriu para mim, dando-me um abraço rápido e seguindo para dentro da casa.
Uma mulher parecida com a prima de apareceu, atrás dela um homem. Imaginei que fossem os pais dela.
- Olá. Bem vindos. Eu e meu marido já estamos atrasados, mas fiquem à vontade. – ela sorriu apontando para os quartos. – Ficarão meninos com meninos e meninas com meninas, e uma menina ficará sozinha. – saiu dando um abraço em Tory. O homem fez o mesmo.
- Eu fico com a ! – falou piscando para mim e eu sorri concordando.
- E eu com o . – meu namorado respondeu me abraçando pela cintura e beijando meu ombro descoberto.
- Por analogia, o gostosão aqui é meu. – respondeu se aproximando de com uma expressão engraçada. saiu correndo e foi atrás; nós só gargalhávamos.
- E eu vou para o meu quarto. – Tory falou subindo as escadas. Subimos também, colocando as minhas coisas e as de em um quarto; as de e em outro. Eu e ficamos no quarto onde eu e dormiríamos e o outro casal se retirou, deixando nós dois sozinhos.
Fui até a cama e me deitei; ele fez o mesmo, ficando ao meu lado.
- E aí, o que achou? – ouvi perguntar, virando o rosto para mim.
- Ela tá com raiva de mim e a fim de você. – respondi direta, e ele gargalhou.
- Eu perguntei do lugar, não da dona da casa.
- E como você sabe que é dela que eu to falando?
- Da mãe dela que não vai ser né, . – revirou os olhos rindo da minha cara.
- OK. O lugar é bem legal. – olhei em volta achando o quarto lindo. – Mas eu ainda não gosto da Tory.
- Tá com ciúmes? – falou como se achasse a ideia divertida.
Levantei-me da cama indo até a janela.
- Tô sim, por quê? – sussurrei, mesmo sabendo que ele tinha escutado. Senti seus braços me envolverem e ele deitar a cabeça em meu ombro.
- Porque não tem motivo. – sussurrou em meu ouvido me dando um beijo na bochecha. – Sabia que você fica linda com ciúmes?
- Sabia que você fica extremamente chato quando resolve tirar uma com a minha cara? – respondi um pouco irritada e ouvi o riso baixo de .
- Quer dar uma volta na praia?
- Quero. – respondi decidida e me virei, dando um selinho em e puxando-o para fora. Descemos e não encontramos ninguém, estavam provavelmente todos em seus respectivos quartos. Chegamos à praia em pouco tempo e deixamos nossos sapatos em algum canto, indo andando pela areia de mãos dadas.
A praia não estava muito movimentada, algumas crianças faziam um castelo na areia e um casal de idosos as observava, sentados mais adiante. Fora eles, tinha um barzinho com umas duas pessoas sentadas em uma mesa; e só. Estava bem calmo. Levei um susto quando me abraçou, me levantando no chão e girando comigo no ar. Apenas ri, jogando meus braços ao redor de seu pescoço, dando um beijo em sua bochecha.
- Dá pra me colocar no chão? To ficando tonta. – reclamei e ele fez o que eu pedi.
- Fresca.
- Chato.
- Te amo. – falou e eu sorri.
- Você existe? – perguntei colocando meus braços atrás de seu pescoço novamente. riu baixo e negou com a cabeça, me puxando para mais perto e selando nossos lábios.
Capítulo. 26 - Your name, forever the name on my lips
"Confirmado: e estão juntos!"
Apesar dos fortes rumores que começaram no dia 12 de novembro, sobre um suposto envolvimento emocional entre os protagonistas do filme “The Seven Towns”, após ser vista entrando no hotel acompanhada de ao final de um show do McFLY – banda onde ele toca -, nada tinha sido confirmado e o assunto fora até esquecido.
Mas os rumores retornaram após uma estranha pausa nas gravações do filme sem motivo aparente – surgiram especulações de que os dois protagonistas estavam no hospital, mas o assunto fora abafado e a direção do filme encerrou o assunto afirmando que os dois “precisavam de férias” -, já que foram vistos em uma praia um pouco longe da cidade, no maior amor.
O casal trocou beijos e abraços e pareceu se divertir bastante; durante um passeio pela praia, eram só sorrisos.
Nossa equipe procurou a assessoria do casal no mesmo dia (08) e afirmamos com exclusividade para vocês leitores: ELES ESTÃO JUNTOS SIM! Recebemos a seguinte declaração: “ e estão namorando e estão bastante felizes, não assumiram o relacionamento antes por querer manter a privacidade.”
Querem mais uma prova do amor dos dois? Uma fã twittou o seguinte para : “Você sumiu! Dê notícias, cara! Ficamos sabendo sobre você e a , tudo de bom ao casal! Ela é uma fofa!”, ao que ele respondeu: “Peço desculpas por isso, mas eu e os caras estamos em umas ‘férias’ agora. Haha, você acha? Obrigado.”
O que vocês acham dos novos pombinhos? Fotos dos fofos na página 34!”
Segurava incrédula a revista que tinha me dado. Ele me acordou escandalosamente, dizendo que eu precisava ver uma coisa. Não tinha percebido nenhum fotógrafo na praia. Como eles nos acharam lá?! Não estou acostumada a ver minha cara na capa de uma revista, levei um susto enorme quando vi. Abri na tal página 34 e vi lá três fotos: uma de nós dois gravando o filme, uma de eu e saindo do carro depois daquele show do McFly e, por último, eu e ele abraçados na praia ontem.
- ? – perguntou me despertando do transe. Ele riu e me cutucou. – Você está pálida.
- Eu... – abri a boca para falar alguma coisa, mas nenhum som saiu. Apenas naquele momento a ficha realmente caiu. Eu era famosa. Fazer um filme com um cara de uma banda popular não vai fazer o cara da padaria me reconhecer, vai fazer todo mundo me reconhecer. Sabe qual a pior parte? Eu odeio chamar a atenção. Gosto de ser invisível. Não tinha percebido o tamanho do sucesso do filme e do McFly até aquele segundo. Para falar a verdade, tinha até esquecido que as revistas de fofoca existiam. E agora? O jeito é me acostumar com isso. Não sei como, mas de algum jeito vou me acostumar. Eu preciso me acostumar.
Duas batidinhas na porta me assustaram.
- Ei. – ouvi dizer, mas não olhei em sua direção. me deu um beijo na testa e saiu do quarto. – Aconteceu alguma coisa? – perguntou e eu não respondi, apenas estendi a revista para ele; que sentou ao meu lado e leu-a em silêncio. – Caramba, eles são rápidos. De quando é essa revista?
- falou que era de hoje. – respondi automaticamente. colocou a mão sobre a minha, fazendo carinho na mesma com o polegar.
- Você tá bem?
- Sim. Eu só... Não me sinto confortável com o meu rosto na capa de uma revista. – franzi a testa e ele riu.
- Sei como você se sente. Também demorei pra me acostumar no início.
Lembrei-me de , que tinha mencionado para mim meses atrás que a banda dele estava fazendo sucesso já há um tempo; mas sempre fui muito alienada nesse assunto, nunca procurei saber mais sobre a banda e eu não saia muito de casa quando não estava fazendo alguma peça, geralmente ele que ia até a minha casa e nunca conversávamos sobre o assunto.
Por falar em casa, tinha tido um problema na loja e precisou adiar a viagem, mas ela viria hoje mesmo juntar-se a nós. Novamente me disse que viria para o jantar, acompanhada do tal namorado.
- Oi? – chamou, balançando a mão na frente da minha cara.
- Ops. – voltei a prestar atenção nele, rindo. – O que você dizia?
- Eu perguntei o que você acha da gente confirmar pelo twitter.
Lembrei naquele exato minuto que eu tinha um twitter. Na verdade eu tinha esquecido completamente! Postei apenas algumas notícias do filme e respondi alguns fãs, nada de mais.
- Acho ótimo. Na verdade, faz tempo que eu não entro. Vou entrar e responder algumas perguntas, aí eu falo.
- Ok. Eu vou postar só que é verdade. – ele riu, pegando o celular. – Caramba, “ & ” tá em primeiro nos trends.
- Jura? – ri, sem acreditar.- Uau.
- “Soube dos rumores envolvendo a minha pessoa e queria que vocês soubessem por mim... – ele leu em voz alta, enquanto digitava. – Estou namorando sim e perfeitamente feliz.” – sorriu para mim, indicando que tinha enviado e voltou a digitar, novamente dizendo para mim o que escrevia. - “Ah, e espero vocês para a gravação do DVD do McFly na O2 Arena em Londres. Preparados? Vai ser demais!”
Meu queixo caiu.
- DVD? Como assim?
- Lembra no dia do incêndio, que eu disse que precisava te contar uma coisa? – sem conseguir falar nada, apenas concordei com a cabeça. – Então, tínhamos recebido a confirmação de que daria realmente certo gravar o DVD daqui a dois meses.
- Nossa. Parabéns! – falei, pulando em cima dele e o abraçando, sorrindo. – Isso é... Maravilhoso! Vocês vão arrasar, tenho certeza.
- Obrigado, amor. – ele riu baixo, me envolvendo com os braços e eu ouvi uma batida na porta. murmurou um “entre” e colocou a cabeça pra dentro, entrando em seguida, com um sorriso no rosto.
- Tenho notícias. – esfregou as mãos, aumentando o sorriso.
- Fala, ! – praticamente implorei quando ele ficou em silêncio. Ele riu um pouco, respirando dramaticamente antes de explicar.
- Os ingressos esgotaram. Dos dois shows que a gente vai fazer no O2. Não sobrou nenhum pra contar a história.
- Tá de brincadeira. – foi tudo que conseguiu responder. Fui até e o abracei, ele me girou no ar e pulou comigo enquanto gritava coisas que eu não entendi direito.
- Vocês vão arrasar. Muito. – falei quando me soltou e percebi que estava ao meu lado. Abracei-o também e fomos de maneira desajeitada até a sala, onde todos os outros estavam. Eles ainda gritavam e se abraçavam, obviamente também comemorando a notícia.
- Precisamos comemorar. – disse, levantando uma garrafa de tequila. Todos já estavam sentados em um círculo mal formado, eu, e apenas nos juntamos a eles, sentando ao lado de . Ela colocou um copinho na frente de cada um e encheu-os. Todos os presentes viraram o conteúdo imediatamente, fazendo servir mais para todo mundo. – Que tal “Eu nunca”?
- Ah não! – protestou.
- Muito old. – Tory completou.
- Verdade ou desafio? – sugeriu e todos concordaram prontamente. estendeu a garrafa, já vazia, para ele, que girou.
Eu perguntava para . Sorri maleficamente.
- Verdade ou desafio?
- Desafio, baby. – piscou para mim, fazendo uma cara safada. Demorei para pensar em algo, não tinha nada em mente. Soprou uma brisa fria da janela, e naquela hora uma ideia me ocorreu. Virei mais um copo de tequila, me preparando dramaticamente para dar o veredicto.
- Você vai pular na piscina, - comecei e ele já se levantou, exclamando que era moleza. – sem roupas. – completei e ele me olhou, com os olhos arregalados. Eu ouvia risadas vindas de toda a sala.
- Tá frio, sabia? – ele protestou, me fazendo rir mais.
- Sei disso. – foi tudo que eu respondi. foi até o armário e de lá tirou uma toalha. Ficou de costas para nós, de frente para o caminho que levava até a piscina e se despiu ali mesmo. gritou um “gostoso”, causando ainda mais risadas. Ele seguiu até a piscina, com a toalha em mãos e depois de deixá-la no chão, pulou com toda a coragem na água gelada. Ficou poucos segundos lá em baixo, logo emergindo e saindo, enrolado na toalha e um pouco roxo. Acho que estava realmente frio. Tadinho.
- Eu vou me vingar. – ele disse, pegando as roupas do chão e entrando no banheiro. Logo saindo de lá já totalmente vestido. A cara de era realmente engraçada. Sentou novamente e girou a garrafa. perguntava para .
- Verdade ou desafio?
- Eu estou com frio. – falou bem rápido, causando mais gargalhadas. – Portanto, verdade.
- É verdade que... – ela parou para pensar, dando um gole na sua tequila. Todos ali fizeram o mesmo. – Você sente falta da Annabelle?
- É. – engoliu seco, sem expressão, virando o restante do conteúdo em seu copo. Girou a garrafa novamente, e ela parou em mim. Quem perguntava era .
- Desafio. – respondi antes mesmo de ele perguntar.
- Beije o .
- O QUÊ? – gritou, traduzindo meus pensamentos. – PERDEU A NOÇÃO, ?
- Ei, calma lá fodão. Ela quem escolheu desafio. Ninguém é de ninguém até que a brincadeira acabe.
- Mas... Logo o ? – ele perguntou novamente, me fazendo segurar uma risada. era realmente fofo com ciúmes.
- Se prefere que ela me beije, , também está valendo. – provocou, piscando para mim e bufou.
- Termina logo com isso. – ri com a resposta dele e me levantei, sentando ao lado de . Ele me puxou, fazendo –me sentar em seu colo, e suspirou, colando nossos lábios imediatamente. Nossas línguas se moviam sem nenhuma pressa e ele me segurava pela cintura. beijava realmente bem, mas claro que não era nada comparado ao .
Levou sua mão até o meu queixo, separando o beijo com delicadeza e sorrindo fraco. Levantei e voltei ao meu antigo lugar. encarava o chão.
- Já pode olhar agora, senhor possessivo. – provocou e mostrou o dedo do meio para ele, causando ainda mais gargalhadas. Girei a garrafa, e ela parou em Tory. Quem perguntava era .
- Verdade, por favor. Estou ficando com medo desses desafios. – falou de modo engraçado, fazendo todos rir. Dei mais um gole em minha tequila, esperando a pergunta de .
- É verdade que aquela vez que você foi pra cama com o no ano passado foi a sua primeira vez? – perguntou bem direto, e eu só não engasguei porque já tinha engolido tudo. Como assim? Primeira vez de Tory? Com o meu namorado? Por favor, diga que é mentira, ruiva falsificada, ou então teremos problemas.
- É verdade. – sorriu de modo pervertido, olhando para . – Foi inesquecível. – mordeu o lábio inferior, rindo um pouco, e eu me segurei para não arrancar a cabeça dela fora naquele exato segundo. Virei mais um copo com tudo, tentando processar o que eu tinha acabado de ouvir e procurando esquecer aquela presença incômoda na sala para evitar um assassinato.
- O último comentário foi dispensável, Tory. – exclamou, rindo, e ele mesmo girou a garrafa. Tory para .
- Verdade ou desafio?
- Desafio!
- Te desafio a achar uma camisinha dentro da mala do . – ok, dessa vez a vadia ruiva me surpreendeu com tamanha criatividade. não pareceu achar o desafio grande coisa, já que apenas deu de ombros e subiu, voltando depois de alguns minutos com um pacotinho em mãos. Sentou, devolvendo-o para e causando gargalhadas gerais. Depois de alguns minutos de bebidas e gargalhadas, ela pareceu se lembrar do jogo e rodou a garrafa. para . Porcaria. Eu sabia que a tal vingança de pela piscina viria agora, com o que quer que escolhesse.
Como se adivinhasse meus pensamentos, sorriu diabolicamente para mim e olhou para .
- Desafio. – deu de ombros. O sorriso de aumentou.
- Beije a Tory. – foi bem direto e meu queixo caiu. Não acredito que ele teve coragem de fazer isso. Qual é! Aí também já é tocar no ponto fraco. Golpe baixo, produção. Muito baixo.
Não tive muito tempo para raciocinar, já que no segundo seguinte Tory já estava sentada no colo de , praticamente o engolindo ali mesmo. Ela tinha uma perna de cada lado de seu corpo e cravou as unhas nas costas dele, o fazendo soltar um gemido e levar a mão até sua coxa esquerda. Meu celular tocou e eu me levantei, indo correndo para o quarto já com lágrimas nos olhos. Eu estava com ódio da coisinha ruiva. E também de , por não ter contado a historinha dos dois.
Atendi sem nem olhar quem era.
- ? Aconteceu alguma coisa? – me senti aliviada ao ouvir a voz de . – Chego ao restaurante em uma hora, ok?
- Aham... – respondi, sentindo mais lágrimas invadirem meu rosto. Lágrimas de raiva. Ouvi a porta abrir.
- Por que você saiu desse jeito? – ouvi dizer, fechando a porta, e desliguei o telefone e o atirei em algum canto do quarto, tentando me acalmar.
- “Não tem motivo.” – repeti debochadamente sua fala do dia anterior, revirando os olhos. – O fato de você ter vindo para cá no ano passado não é motivo? O fato de você ter transado com ela não é motivo?
Meus olhos estavam marejados, e minha voz denunciava meu nervosismo. me olhava com os olhos arregalados, mas eu me recusava a mirar em sua direção.
- De que merda você está falando? – sua expressão era incrédula.
- Essa garota precisa parar de agir como se eu não existisse, . Ela age como se vocês dois tivessem uma “super conexão” e eu fosse a vadia atrapalhando tudo. O que não ajuda é você me esconder a historinha do passado dos dois. Tem ideia do quanto isso me enlouquece?
- . Essa garota pode achar o que ela quiser, pra mim não faz a menor diferença. A única que importa é você. E sobre a historinha do passado - ele dá de ombros e se aproxima de mim. -, realmente não significou nada pra mim, não te contei porque não achei que faria alguma diferença. Eu sinceramente imaginei que ela já tivesse superado.
- Sua irmã chega em menos de uma hora. – sussurrei e ele suspirou, balançando a cabeça afirmativamente.
- Fazer o que, né. – deu um beijo em minha testa, e foi para o seu próprio quarto. Peguei uma roupa e fui até o banheiro, tomando um banho demorado. Meia hora depois saí do banheiro já vestida, e encontrei sentado em minha cama, com o cabelo um pouco molhado; vestia uma calça jeans e uma blusa azul marinho. Estava lindo, como sempre. Dei um fraco sorriso e segui até a minha mala, tirando de lá um sapato. Sentei em minha cama no lado oposto ao que estava, fingindo ignorar sua presença, e coloquei o sapato rapidamente. Percebi que ele sentou ao meu lado, mas não olhei em sua direção. Colocou o braço ao redor de minha cintura e apoiou e cabeça em meu ombro.
- Está tudo bem?
- Claro. – suspirei, me virando para ele e tentando sorrir. – Me incomodou sim não saber disso, mas tudo bem... Confio em você. Sei que o que passou passou e não faz mais diferença agora. – dei um beijo no canto de sua boca e sorri, dessa vez sinceramente. – Mas você vai ter que me prometer que vai tomar cuidado com a coisinha ruiva. Ela é perigosa. – brinquei, apontando o indicador para ele, que riu de modo fofo, balançando a cabeça negativamente.
- Você não tem jeito mesmo. – me deu um selinho. – Eu prometo. – mais um. – Agora vamos logo pra esse restaurante antes que eu mude de ideia e deixe minha irmã plantada lá até amanhã.
- Até que não é má ideia. – ri, beijando-o.
Depois de vários beijos, finalmente saímos, entrando no carro e indo para o restaurante.
- Ah, quase que eu esqueço. – comecei e lançou para mim um breve olhar, curioso. – Esse jantar é realmente importante para a , considerando que eu sou a melhor amiga e você o irmão. Portanto, por mais chato que o cara seja, nós vamos ser legais, ok? Sem gracinhas nem nada do tipo e simpatia acima de tudo. Ordens da . – finalizei, revirando os olhos, e ouvi gargalhar.
- Ok. – concordou, rindo novamente.
Chegamos ao restaurante combinado em poucos minutos e o casal ainda não tinha chegado. Sentamos um ao lado do outro em uma mesa no canto esquerdo do restaurante, de costas para a porta.
- Olá. – um garçom bem bonito apareceu, sorrindo. Em seu crachá estava escrito “Zach” e não pude deixar de perceber que ele deveria fazer sucesso entre a mulherada freqüentadora do restaurante. Arrisco dizer que tinham algumas que iam até ali só por causa dele. – Desejam pedir alguma coisa?
- Ainda não. – respondi, sorrindo. – Estamos esperando uns amigos, quando chegarem faremos os pedidos.
- Tudo bem. – mais um sorriso. – Fiquem à vontade. – saiu, entrando no que pensei ser a cozinha.
Eu e conversamos sobre coisas diversas por uns dez minutos, até que parou em frente da mesa, sorrindo.
- Oi! – falou e eu me levantei, abraçando-a. fez o mesmo. – Ele está vindo. Foi só estacionar. – explicou, adivinhando meus pensamentos de onde seu namorado estaria. Ficamos conversando em pé mesmo por alguns segundos, eu e ele de frente para a e de costas para a porta. Depois de alguns segundos o sorriso dela aumentou e ela passou por nós, dizendo que ele tinha chegado. e eu nos viramos teatralmente, dando de cara com uma surpresa nada agradável.
- Esse é meu namorado, o nome dele é... – começou.
- Adam. – eu e falamos em uníssono, ambos com um nada feliz. Eu não conseguia acreditar que isso estava acontecendo. ficou surpresa.
- Vocês se conhecem? Uau. – sorriu, achando aquilo maravilhoso, e puxou ele para a mesa, sentando ao seu lado. Eu e nos entreolhamos, e decidimos sentar também. Sem barracos no restaurante. Imediatamente peguei o celular e mandei uma mensagem para : “Eu sei que é difícil, mas precisamos manter a calma. Pela ; só por ela. Aguenta mais uns quinze minutos que eu vou ao banheiro e levo ela comigo, pra não dar muito na cara. Aí eu explico quem ele é. Por favor, mantenha a calma. Sei que é difícil e está sendo horrível pra mim também. Te amo. Xxx ”, enviei e me envolvi na conversa, sendo o mais simpática que consegui e evitando ao máximo olhar para Adam. respondeu: “Eu sei, amor. Por favor, faça isso, e não demore. Não sei quanto tempo aguento sozinho com esse... argh. Vou tentar manter a calma, prometo. E você por favor faça o mesmo. Te amo. Xxx ”
Li a mensagem rapidamente e confirmei a com o olhar, puxando outro assunto qualquer. Fizemos nossos pedidos e eles logo chegaram.
- Então, faz tempo que vocês estão juntos? – ouvi Adam perguntar, e senti que ele olhava diretamente para mim. Continuei encarando o prato, fingindo interesse pela comida e o respondi ainda sem olhá-lo.
- Sim. – falei, sem muito interesse, colocando um pedaço da carne na boca e conferindo o relógio: quinze minutos já tinham se passado. Ótimo. Coloquei minha mão sobre a de , que estava em seu colo, e a apertei carinhosamente, lançando um rápido olhar para ele pedindo mentalmente para que mantivesse a calma. Bebi um pouco de água e pigarreei discretamente. – Vou ao banheiro. – me levantei, lançando um olhar para , que compreendeu o recado.
- Vou também. – levantou, me seguindo até o banheiro. Entramos e percebi que ele estava vazio. Perfeito.
- E então, o que achou dele? – sorriu, quase pulando de felicidade. – Um fofo, né?
- A gente precisa conversar, . – suspirei e ela parou de sorrir. – Lembra do meu ex-namorado maluco?
- Ele fez mais alguma coisa depois do incêndio? – perguntou, arregalando os olhos e eu suspirei fundo, sem ter ideia de qual seria a reação dela.
- Ele é o Adam. – fui direta e ela arregalou mais os olhos, também abrindo um pouco a boca. Achei que ela ia começar a chorar ou algo do gênero, mas ela... Riu. Simplesmente começou a gargalhar sem parar como se tivesse ouvido a piada do século.
- Essa é a sua maneira de dizer que não gostou dele? Qual é, . Eu posso lidar com o fato de você não ter apreciado a paixão dele por esportes, não precisa disso tudo! – riu ainda mais, inclinando um pouco o corpo. Ela ria tanto que seus olhos já estavam cheios de lágrimas.
- ... – eu não conseguia acreditar que tinha mesmo ouvido aquilo. – Eu estou falando sério. Adam é um psicopata e ele é totalmente obcecado por mim. Não sei como ele pretende me atingir chegando até você, mas eu sinto muito te dizer que ele não é uma boa pessoa.
- Tudo gira em torno de você né? – ela riu, irônica, balançando a cabeça. – Não consegue passar pela sua cabeça nem por um segundo que ele possa ter realmente se apaixonado por mim?
- Do que você tá falando? , ACORDA! O Adam é um psicopata. Ele não se apaixonou por você. Ele não é capaz de amar alguém, ele dizia me amar e colocou fogo na minha casa! Ele vai te fazer mal, caramba!
- PARA! – ela começou a gritar, colocando as mãos na cabeça. – Chega. Eu não quero ouvir. Você não sabe o que está dizendo. Não me interessa o que ele fez no passado, ok? No presente ele é um cara incrível e que me ama!
- Passado? – ouvi-a, incrédula. Não acreditava que ela pudesse ser tão cega. – Passado, ? Passado? Faz quinze dias que ele pôs fogo na minha casa. Isso é passado? Acorde!
- Acorde você, . Acorde você! Eu posso sim ser amada, ok? Não precisa ir contra o meu relacionamento porque eu finalmente achei alguém que me ama e você está com medo de perder a minha amizade!
- Perder a amizade? – eu também gritava e estava começando a ficar seriamente irritada. – Não é isso que me preocupa. O que me preocupa é você estar com um cara que não dá a mínima pra você! Eu não quero que você sofra, . – suavizei a voz e senti-a dando-me um tapa na cara. Coloquei a mão no local, que ardia, e a encarei, totalmente chocada.
- Se não quer que eu sofra, porque você mesma está me fazendo sofrer? É tão difícil assim aceitar que eu finalmente estou feliz em um relacionamento?
- Você não tem ideia das barbaridades que está dizendo. – murmurei, ainda com a mão no local que tinha estapeado. Ela apenas revirou os olhos marejados e saiu do banheiro.
Depois de alguns segundos para me recompor, também saí, e percebi que ninguém estava mais na mesa. Fui até a saída e ouvi uns barulhos estranhos e um grito desesperado. Saí correndo e encontrei Adam no chão, com por cima dele. Os dois se batiam e, não foi difícil perceber, dessa vez meu namorado estava ganhando. gritava, mandando os dois pararem, mas isso só os irritava mais. deu um soco em Adam e se levantou, percebi que tinha um corte na testa, mas fora isso estava bem, a não ser pelos arranhões na mão e o sangue presente na mesma. Adam continuava no chão e respirava com dificuldade, se ajoelhou ao lado dele, preocupada, e me olhou incrédulo. Apenas o puxei pelo braço e o obriguei a entrar no carro, sendo eu a motorista dessa vez. Liguei o carro e saí de lá o mais rápido possível, a cena de o ajudando estava começando a me enjoar. Como a minha amiga podia ser tão burra?
- Por que sua bochecha está vermelha? – perguntou.
- . Ela não acreditou no que eu falei e acha que o Adam realmente a ama. Dá pra acreditar? – esmurrei o volante, fazendo a buzina disparar. segurou minha mão, numa falha tentativa de me acalmar.
Chegamos em casa e entramos, todos os outros estavam na sala e nos olharam assustados.
- . Caixa de primeiros socorros. Agora. – falei, subindo com . Entrei em meu quarto, fechando a porta. Logo chegou com a caixa, visivelmente preocupado. Ninguém falou nada.
- Vocês vão me dizer o que aconteceu ou querem que eu adivinhe assim mesmo?
- Bati no Adam. – foi quem respondeu.
- Jura? Bem feito para aquele mané. Ele estava mesmo precisando de uma bela surra.
- EI! – exclamei e eles me olharam. – Eu também acho que Adam merecia, mas não apoio de maneira alguma a violência. – me virei para . – Você não devia ter feito isso.
- Mas...
- Eu sei. Sei os motivos que te levaram a bater nele. – o interrompi, respirando fundo. – Só não faz isso de novo, tá? Odeio briga. Principalmente se envolve um de vocês dois. – suspirei, sentando ao lado esquerdo de e pegando a sua mão direita, que estava machucada. Ela estava toda cheia de sangue e arranhões, e já começava a ficar roxa. Estendi minha mão para e ele me entregou um algodão com um remédio. Passei-o com cuidado na mão de , limpando-a e depois repeti o processo com outro algodão. – Não mexe.
- O que aconteceu nesse jantar? – perguntou e eu respirei fundo antes de explicar tudo pra ele. Meu namorado também prestou atenção, já que não sabia dos detalhes da conversa com . – Caramba. Como ela pode ser tão cega?
- Foi o que eu pensei também na hora. A gente brigou feio. – uma lágrima escorreu pela minha bochecha e colocou o braço esquerdo ao redor da minha cintura e me puxou mais para perto, me fazendo deitar a cabeça em seu peito. – Sei lá, não foi culpa minha, mas tenho medo de ela não me perdoar.
- Não foi culpa sua. – repetiu o que eu tinha dito. – Ela não tem o que perdoar. O Adam não vai seguir com esse teatrinho pra sempre, uma hora ela vai descobrir a verdade e virá te pedir desculpas. – fez carinho em minha mão e se levantou. – Vou deixar vocês conversarem. dorme comigo hoje. Por favor, qualquer coisa é só chamar, não importa a hora.
- Pode deixar. – confirmei, sorrindo e ele saiu. Virei para e rapidamente cuidei do corte em sua testa, levantei, deixei a caixa no chão do banheiro e deitei ao seu lado na cama. Depositei em seus lábios um selinho demorado e ficamos um tempo nos olhando sem dizer nada. Eu apenas encarava seus olhos e me permiti por alguns segundos não pensar em absolutamente nada, só no quanto o homem à minha frente me fazia feliz, apesar de tudo. Quando percebi, já tinha erguido a minha mão e estava acariciando carinhosamente a bochecha de , que naquele momento fechou os olhos. Passei os dedos delicadamente por cada pedacinho do seu rosto, demorando-me mais nos lábios. Sorri involuntariamente e fiz carinho em seu cabelo; me aproximando mais e juntando nossos lábios novamente, em um beijo calmo e suave.
Apesar de todos os problemas que nos rodeavam, naquele momento me senti absolutamente feliz.
Capítulo. 27 - All you are is mean, and a liar, and pathetic and alone in life
Acordei ouvindo duas batidinhas na porta, abri os olhos e encarei ; que ainda dormia e não parecia estar nem perto de acordar. Sorri fraco e me levantei sem fazer barulho, abrindo a porta com cuidado. Era . Assim que me viu ela me abraçou.
- me contou o que houve. Sinto muito por você e . – Afagou meus cabelos carinhosamente e eu suspirei. – Ela voltou pra casa; não quis ficar aqui. Nem veio na verdade, só mandou uma mensagem para mim.
- Eu já esperava por isso. – Murmurei, triste, e dei espaço para ela entrar. Foi direto até a mala e tirou de lá uma muda de roupas.
- Está com fome? O pessoal tá colocando a mesa do café da manhã agora.
- Estou indo.
- Ok. – Falou, me dando um beijo na bochecha e saindo. Eu adorava , tínhamos ficado amigas tão rápido! Ela era super engraçada e compreensiva; uma ótima amiga.
Fui até o banheiro e troquei de roupa, fazendo minha higiene matinal e então fui até , que dormia de bruços, e sentei ao seu lado, fazendo carinho em seu cabelo. Ele se mexeu um pouco até enfim abrir os olhos e sorrir.
- Acorda amor, te espero lá em baixo. – dei um beijo em seu ombro e saí, ouvindo ele murmurar um “Já vou” preguiçoso. Ri, descendo as escadas e chegando lá encontrei a maior bagunça: , , e se moviam pra lá e pra cá com diferentes coisas em mãos e eu fiquei surpresa quando vi a mesa que eles tinham preparado: estava linda. Várias frutas, bolos, pães e doces enfeitavam-na e só faltavam os pratos, que observei trazer.
- Vai ficar só olhando, preguiçosa? Pega os sucos na geladeira, por favor. – Ouvi dizer e fui até ele, rindo.
- Bom dia pra você também, insuportável. – Dei um beijo em sua bochecha e fui até a geladeira, tirando de lá os sucos e deixando-os na mesa.
Meia hora depois...
Terminamos de comer e ainda não tinha descido, subi e vi que ele ainda dormia. Sorri fraco, sentando ao seu lado e cutucando sua bochecha.
- Ei, preguiçoso. Vou dar uma volta na praia, quer ir comigo? – já sabia o que ele responderia, perguntei apenas por educação. Sabe como é, sou uma menina muito boa.
- Depois... – Ele murmurou bem baixinho e eu ri, beijando sua bochecha e saindo.
Cheguei à praia em pouco tempo, logo deixei meus sapatos em um cantinho e fui dar uma volta na areia.
A praia novamente estava praticamente vazia, salvo por um casal no bar e uma garota sentada na areia muito longe de onde eu estava, não conseguia nem vê-la direito. Fui andando na direção dela, com os pés na água, encarando o horizonte. Tão lindo.
Ouvi um soluço e olhei para a frente, assustada, mas não vi ninguém. Mais soluços, dessa vez mais desesperados, foram ouvidos e dessa vez olhei para o lado. Era a tal garota que estava chorando. Espere aí...
- ? – Sussurrei, indo correndo até ela e a abraçando de lado. Ela deu um pulo quando a abracei, obviamente não tinha me visto ali. – O que aconteceu?
- Você... Tinha razão. – Ela disse em meio aos sussurros, e eu percebi que seus olhos estavam extremamente vermelhos.
- Sobre o quê? – Perguntei, apesar de saber a resposta.
- A... Adam. Ele nunca gostou de mim de verdade. – Soluçou, passando a mão no rosto. – Quando a gente tava indo embora... eu estava muito irritada e dizendo que não queria falar com você nunca mais... – Soluçou mais uma vez. – Aí ele disse que se eu não fosse mais ser sua amiga não tinha mais utilidade nenhuma pra ele. E aí me mandou descer do carro. – Ela entrou em prantos novamente, me abraçando e enterrando o rosto em meus cabelos. – Desculpa. Desculpa. Desculpa. Fui tão idiota!
- Shh... – Fiz carinho em seu cabelo, tentando acalmá-la. – Tudo bem. Vai ficar tudo bem. Eu tô do seu lado e vou estar sempre, ok? – Dei um beijo no topo de sua cabeça e ela me olhou com os olhos marejados.
- Jura?
- Claro, boba. – Eu sorri. – Best Friends Forever, certo?
Ela apenas balançou a cabeça. Levantei, estendendo a mão.
- Vamos. – Ela hesitou no começo, mas suspirou e levantou, entrelaçando nossos braços e deitando a cabeça em meu ombro.
Seguimos até a casa e todos nos cercaram imediatamente, fazendo mil perguntas.
- Depois, gente. Agora ela precisa descansar. – Afirmei, subindo para o meu quarto. estava saindo do banho e olhou preocupado para a irmã e depois para mim. – Tudo bem. – Falei num tom suave. – Ela só precisa de um banho. – Olhei para , que balançou a cabeça positivamente. foi até o armário e de lá tirou uma toalha, que entregou para ela. me deu mais um abraço rápido, murmurando um “obrigada” e entrou no banheiro, deixando eu e sozinhos. Suspirei e corri até ele, o abraçando com força.
- Foi mais rápido do que eu pensei. – Murmurei contra o seu pescoço, suspirando novamente. – Ela está muito magoada. Não sei o que fazer.
- Vai ficar tudo bem. Sei que vai. – Ele também murmurou, acariciando minhas costas. Fechei os olhos, inspirando seu perfume, o que incrivelmente me acalmou imediatamente. No fundo eu sabia que tudo ia dar certo. Tem que dar, não tem? – Dói agora, mas ela vai ver que é melhor assim. – Finalizou com um sussurro, me abraçando ainda mais forte. Não falamos mais nada, apenas ficamos lá, abraçados.
Ouvi o barulho da porta sendo aberta, uma enrolada numa toalha saiu de lá, com o cabelo bagunçado. Ela cruzou os braços, apoiando-se no batente.
- Você. – Apontou para o irmão. – Fora. – Guiou seu dedo até a porta, me fazendo rir. saiu, fechando a porta com cuidado e eu fui até a minha mala, procurando por algo que servisse em . Optei por um vestido lilás bem básico, que atirei para ela. A porta do banheiro foi fechada novamente, mas dessa vez não demorou. Logo saiu, vestida, e com uma cara um pouco melhor. Apontou para a cama, num pedido mudo, e eu apenas concordei com a cabeça, observando-a sentar e logo depois fazendo o mesmo.
* Narração em terceira pessoa on *
esfregava as mãos e encarava o chão, visivelmente triste. apenas a encarava, esperando que a amiga começasse a falar. suspirou, respirando fundo, e olhando nos olhos da amiga. Finalmente se sentindo pronta para falar, começou:
# Flashback [n/a: ainda em terceira pessoa]
- AI QUE ÓDIO! – gritava, irritada, enquanto andava de um lado pro outro no lado de fora do restaurante, esperando Adam voltar do banheiro. Ele logo passou pela porta, não estava muito machucado, agora que tinha lavado o rosto e as mãos já parecia quase normal. Apesar de ter certeza de que ele ficaria com alguns hematomas bem feios no dia seguinte. – Consegue dirigir? – Perguntou preocupada, olhando o namorado, que apenas assentiu com a cabeça. Ele também estava irritado, não conseguia acreditar que ainda namorava o idiota. E que o idiota tinha batido nele. A única certeza que tinha era que ia fazer pagar pelo que tinha feito a ele... Ah, se ia.
Voltando ao teatrinho, abriu a porta para , forçando um sorriso que pareceu convencê-la. Deu a volta e entrou no carro, dando a partida.
- Onde é a casa mesmo?
- Você não está mesmo achando que eu vou voltar para lá, está? – Ela cruzou os braços, o olhando incrédula. Depois de tudo que o irmão e a melhor amiga tinham feito, ele ainda queria que ela ficasse sob o mesmo teto que os dois?
- Claro! Você vai para lá, não vai? – “diga que vai”, Adam implorava mentalmente. Se não voltasse para lá, como ele iria controlar ? Seu plano iria por água abaixo.
- Claro que não! Quero voltar para casa agora e tirar minhas coisas da casa de imediatamente. Não quero vê-la nunca mais! – Ela exclamou, visivelmente irritada, socando o painel do carro.
Adam respirou fundo, fechando em punho a mão que descansava em seu colo, tentando controlar a raiva.
- Como assim, amor? – Se esforçou para mostrar um pouco de carinho no comentário. Ele precisava convencê-la, era o único jeito. – Vocês são melhores amigas, logo se acertam.
- NÃO. Nunca. Nunca vou perdoar a por pensar tão mal de você. Nunca mais falarei com ela. – Concluiu, decidida. Era isso mesmo que iria fazer. Seguir sua vida com Adam fingindo que nunca existiu.
Adam freou o carro abruptamente, fazendo soltar um grito e olhar em volta, procurando algo errado.
- O que foi? – O encarou, ainda sem achar uma explicação plausível para a freada brusca.
- Desce do carro. – ordenou, ríspido.
- O quê? Por quê? – perguntou, confusa.
- Você não me é mais de nenhuma utilidade. Se não vai mais falar com a , não tenho mais motivos pra te aturar. Garotinha insuportável. Saia. Do. Meu. Carro. AGORA. – Colocou as duas mãos no volante, para não empurrar a garota para fora. Respirou fundo pela terceira vez, sem acreditar no quanto estava controlado.
o encarava com lágrimas nos olhos, sentindo que seu coração acabara de ser quebrado em mil pedaços. Tirou o cinto de segurança, descendo do carro sem dizer uma só palavra. Adam voltou a ligar o carro, dando a partida. socou, com raiva, a lataria, vendo o veículo cinza sumir de vista na longa e escura estrada. Não conseguindo mais se manter em pé, caiu sobre os joelhos, gritando, e depois caindo para o lado. Sua bochecha encostou-se ao asfalto frio e tudo que a garota conseguia fazer era chorar, chorar e chorar.
# Fim do flashback
- E... Foi isso. – concluiu, sem conseguir olhar nos olhos. Se sentia extremamente envergonhada por ter duvidado da amiga, mesmo que o que ela dissera fosse muito improvável. sempre acreditara nela, mas quando o contrário foi exigido, a decepcionou. Entenderia totalmente se a outra nunca mais quisesse falar com ela, agora que sabia a história toda.
O que Adam tinha dito a ela doía muito; acreditava que tinha se apaixonado de verdade, nunca doeu tanto ser tratada assim. Ela sabia que ele era um idiota, mas ainda sim doía. Lentamente, levantou os olhos para , que ainda não tinha falado nada.
- Desculpa. – Falou baixinho, sentindo uma lágrima solitária escorrer pela sua bochecha. ergueu a mão e, com o indicador, secou-a antes que caísse, dando um meio sorriso e pegando a mão esquerda de , apertando-a entre as suas.
- Não tem o que desculpar, . Eu entendo... Já fiquei cega pelo Adam também e eu imagino o quanto deve doer em você. E... Você sabe melhor do que ninguém que eu sou péssima para dar conselhos. – Riu baixo, balançando a cabeça negativamente. - Portanto eu queria deixar bem claro que estou do seu lado sempre e se eu pudesse te aconselhar de alguma coisa, eu te aconselharia a seguir em frente. Por mais difícil que isso seja. – Concluiu com um fraco sorriso.
Um silêncio agradável pairava sobre as duas, nenhuma disse nada por longos minutos. Até que se lembrou de algo e deu um pulo, assustando a amiga.
- Eu meio que... Liguei pro Jesse. – Ela falou baixinho, desviando os olhos de ; Que apenas a olhou sem expressão. – E ele vai vir para cá. Chega hoje, eu acho. –Arriscou olhar para ela, que não alterou a expressão vazia. – Não tem problema ele ficar?
- Não. – Encarou , franzindo a testa. – Por que teria?
- Porque você quase ficou com ele... – Falou, como se fosse óbvio.
- Quase, sim. E daí? Ele sabe que eu namoro o , não sabe?
- Sabe.
- Então! Não vejo problema nenhum... – Sorriu. fez o mesmo. Uma batida na porta assustou as duas. Mais duas batidas e a porta foi aberta. entrou, com uma bacia azul cheia de pipoca em uma mão, e um DVD de “Diário de Uma Paixão” em outra. acenou com a cabeça, convidando-a a entrar e fechou a porta usando o pé, logo depois se juntando às duas na cama.
*
e pegaram no sono na metade do filme e eu segurei uma gargalhada para não acordá-las. estava toda torta, com metade do corpo na cama e a outra metade para fora; estava apoiada em uma das pernas de e tinha dormido sentada mesmo. Eu deveria tirar uma foto disso, mas não sou tão má. Levantei o mais silenciosamente possível e abri e fechei a porta sem fazer barulho. Segui até o quarto de e e dei duas batidinhas na porta. Segundos depois ela foi aberta, revelando um Thomas só de toalha e cabelos molhados.
- Ui, sedução. – Falei, rindo, e cutucando sua barriga. Entrei no quarto sem fazer a menor cerimônia e vi que dormia, atirado na cama. Eita povo idoso, dormindo à tarde. Vê se pode? sorriu e foi em direção ao banheiro. Eu segui até a porta da varanda e a abri o vidro com cuidado, saindo e apoiando minhas mãos no batente, sentindo o ar quente me invadir. Os quartos estavam com o ar condicionado ligado, portanto o calor não podia ser sentido com tanta intensidade, mas estava realmente muito quente. Dei mais alguns passos à frente e olhei para baixo, vendo um táxi chegar. Aguardei, curiosa, e reconheci Jesse saindo pela porta. Ele levava consigo apenas uma mochila, nenhuma mala. Não pretendia ficar muito tempo, então. Ouvi um gritinho animado que reconheci imediatamente e logo apareceu na minha linha de visão, indo correndo até o meio-irmão e o abraçando. Entraram abraçados e não consegui mais vê-los, fiquei apenas encarando o mar, que não estava tão longe. Eu conseguia ver um pedaço dele adiante. Senti-me extremamente tentada a ir dar uma volta pela praia, mas o calor excessivo não me pareceu muito acolhedor.
- Bu. – Ouvi a voz rouca de em minha orelha e dei um pulo, assustada. Ele riu, colocando as mãos em minha cintura, me virando de frente pra ele e juntando nossos lábios. Ri, partindo o beijo, e envolvi meus braços ao redor do seu pescoço.
- Acordou hein, preguiçoso? Todo mundo resolveu dormir hoje, eu hein. A e a desmaiaram lá no meu quarto também quando a gente tava... – comecei a tagarelar sem parar, mas me calou com um beijo.
- Para de falar, garota. – Riu, me beijando novamente, dessa vez mais intensamente. Passou o braço pela minha cintura e me puxou mais para perto, eliminando qualquer distância entre nós.
- EI! Esse é um quarto de família, olha o respeito vocês dois! – Ouvi a voz de e me separei de , gargalhando. Ele nos olhava com os braços cruzados e balançava a cabeça negativamente. – AH! A Tory vai dar uma festa aqui hoje à noite, e convidou a maior galera. Vocês estão obviamente convidados e tem... – tirou o celular do bolso. – Exatamente três horas para se arrumar. O que eu acho um tempo considerável. Estou com fome e estou vazando. Não façam o que eu não faria!
- Então acho que não tem muita coisa que a gente não possa fazer... – provoquei e ele mostrou o dedo do meio, saindo do quarto. Ri novamente e não tive tempo de dizer mais nada, já que assim que a porta foi fechada os lábios de já estavam sobre os meus novamente.
Eu encarava a minha mala sem ter a menor ideia do que vestir. Tinha acabado de sair do quarto de – fui praticamente expulsa de lá pelo , mas esse é só um detalhe – e faltava meia hora para a tal festa de Tory. Eu ainda não tinha visto ela hoje e sinceramente esperava não ver durante a festa – O que era praticamente impossível, mas a esperança é a última que morre, afinal.
Finalmente decidi por uma blusa vermelha, cuja manga ia até o comprimento do cotovelo e uma saia de cintura alta jeans num tom escuro. Para os pés, optei por uma ankle boot bege – uma das mais confortáveis que eu tinha levado na viagem. Minha maquiagem não foi muito elaborada, só o básico, a única coisa que se destacava era o batom vermelho e mesmo assim ele não estava forte, eu não tinha abusado dele, usei só um pouco para dar uma “cor”.
e já tinham descido e eu comecei a ouvir barulhos, os convidados já estavam chegando.
Penteei o cabelo, mas decidi por deixá-lo solto.
Saí do quarto, ouvindo imediatamente a música alta que ecoava pela casa e desci as escadas, ficando impressionada com o número de pessoas que cabia ali. O lugar já estava relativamente cheio e eu tive que dar algumas voltar até achar , que conversava com Jesse. Eu iria me aproximar, mas achei melhor não fazê-lo, pois o modo que Jesse me encarava era um pouco intenso demais e estava me deixando desconfortável. Andei mais um pouco, me enfiando no meio das pessoas que se agarravam na pista de dança e vi e dançando e se agarrando por lá. Ri e continuei andando, achando finalmente, em uma mesa no jardim dos fundos, , e . Os dois últimos já com suas respectivas acompanhantes.
só viu que eu me aproximava quando eu estava quase chegando até eles e sorriu largamente, vindo até mim e me dando um selinho.
- Você está linda. – Sussurrou em meu ouvido.
- Obrigada. – Sussurrei também, entrelaçando nossas mãos e seguindo até o bar. Pedi uma tequila, já optou por uma mistura azul que eu não perguntei o que era. Seguimos de mãos dadas até a área da piscina e sentamos em um dos sofás que tinham por lá (um dos únicos ainda vazios).
- E aí, se acertou com a ?
- Positivo. – Sorri, fazendo joinha com a mão direita. – Ela pediu desculpas e tal, tá muito magoada. Mas, se Deus quiser, vai ficar bem. Nada que o tempo não cure.
- Ainda bem. – Sorriu. Então eu me lembrei da existência de Jesse.
- !
- Oi?
- A chamou o Jesse... Ele está aqui.
- ELA O QUÊ?! – fez menção a se levantar, mas eu o puxei de volta para o sofá.
- Ela não sabia que ia me encontrar aquele dia na praia, chamou o Jesse pra ter alguém pra conversar, sei lá. – Apontei o indicador para ele, séria. - Sem drama. Ele não é nenhum monstro.
- Vai defender agora? – Me olhou, arqueando as sobrancelhas.
- Vai começar com ciúme agora? – Devolvi, com a mesma expressão e ele suavizou o rosto.
- Ok... Desculpa. – Se aproximou e me deu um beijo no rosto.
Uma música que eu amava começou a tocar e eu levantei, estendendo a mão para , que levantou também.
- Vamos dançar? – Perguntei e ele acenou confirmando, me beijando e me puxando para a pista de dança.
Mais ou menos duas horas tinham se passado e eu e finalmente saímos da pista de dança. Quando finalmente encontrei um relógio levei um susto: duas horas e meia já tinham se passado desde o início da festa! *
- Ai meu Deus! –Bati com a mão na testa e me olhou preocupado. – Esqueci de ligar para a minha mãe. Já volto! – Falei e subi praticamente correndo. Eu tinha me esquecido completamente! Finalmente achei o celular jogado dentro da mala, apesar de não ter ideia de como ele foi parar lá e rapidamente liguei para a minha mãe, pondo as novidades em dia. Desliguei e pus o celular dentro da bolsa, dessa vez em um lugar fácil de achar. Desci e procurei no lugar de antes, mas não o achei. Ele deve ter ido para o bar.
Cheguei lá e o encontrei... Beijando Tory.
Observei subir as escadas e segui até o bar, para pegar alguma bebida. Pedi a mesma de antes e assim que o barman me entregou, tomei um gole. Quando levantei para voltar à festa e esperar , me deparei com Tory na minha frente. Revirei os olhos.
- Que é? – Perguntei, grosso e ela soltou um risinho irritante, colocando a mão em meu ombro. Retirei o mais delicadamente possível a mão dela dali.
- Não precisa me tratar assim, . A não está por perto, eu vi ela subir.
- E daí? – Falei, sem paciência, e ela deu um sorriso malicioso. Virei para o outro lado para sair de perto dela, mas na hora que me virei, Tory me puxou de volta e colou nossos lábios. No susto, demorei um pouco para reagir, mas assim que voltei a mim a empurrei. – TÁ MALUCA? – Perguntei, mas Tory não olhava para mim. O rosto dela estava virado na direção da porta e lá, imóvel e sem expressão, estava , nos encarando. Puta merda.
Quando ela viu que eu a olhava, saiu correndo para dentro da casa e eu dei um passo em sua direção, mas mais uma vez o braço de Tory me impediu.
- Me solta. – Grunhi, com raiva, e empurrei a mão dela para longe.
- Ai, . Pra que essa violência? – Fez carinho na mão que eu tinha empurrado, mas logo voltou a sorrir. – Na última vez que você veio aqui também estava namorando e isso não te impediu de ficar comigo. Que diferença faz?
- A diferença... – Falei, respirando fundo para controlar o ódio. – A diferença é que eu amo a . E se ela não me perdoar você vai se arrepender de ter nascido. Estúpida. – Saí de lá sem olhar para trás e varri o lugar atrás de , mas não a encontrei. Vi , e conversando e fui praticamente voando até eles. Eles me olharam em silêncio, com uma expressão nada agradável. – Cadê ela?
- Você fez uma merda muito grande, seu filho da puta. Deixa-a em paz. – falou, seco.
- Foi a Tory que me beijou, porra! Eu não fiz nada.
- Com a sua fama é difícil de acreditar, maninho. – falou, me olhando decepcionada.
- É, e da última vez que você veio pra cá também estava namorando e fez a mesma merda. – completou.
- Mas eu não amava a Ivy, caramba! E a eu amo... E muito. – Lutei contra as lágrimas, que teimavam em aparecer em meus olhos. Eu era orgulhoso demais para chorar na frente de quem quer que fosse, não deixaria isso acontecer na frente dos meus amigos. – Vocês precisam acreditar em mim... Eu não fiz nada! Juro. – Olhei para o meu melhor amigo. – ...
- Eu acredito nele. – Falou, com um meio sorriso. – Mas não vai ser fácil ganhar a confiança dela de novo... A estava muito magoada e saiu correndo daqui com o Jesse.
- Com quem? – Perguntei, com raiva e deu um tapinha em meu ombro.
- Nem começa. Ela tem todo o direito de estar com raiva e com quem ela quiser. Deixe-a.
- Onde ela está?
- Deixe-a, . – repetiu.
- Onde? – perguntei novamente, sério.
*
Continuava andando e puxando Jesse pela mão, deixando as lágrimas molharem o meu rosto. Ele não fez nenhuma pergunta nem tentou me parar. Achei um sofá vazio longe dos olhares da maioria e segui até lá, sentando com Jesse ao meu lado. Enterrei o rosto nas mãos e solucei sem parar durante um longo tempo, Jesse colocou a mão em minhas costas e acariciava-a sem falar nada, apenas me confortando.
Eu não conseguia acreditar que havia sido tão idiota por ter confiado em . E a tinha me avisado! E eu não ouvi, claro. Burra! Burra. Burra!
Vai saber a quanto tempo ele está de casinho com a Tory? Vai ver desde que chegamos e eu, burra, não percebi! Que ódio, me sinto tão usada.
Eu deveria saber que ele não prestava. Mas não, eu tenho que cismar na ideia de que as pessoas mudam. ARGH! Mudam porra nenhuma.
- Ei, calma. – Jesse se pronunciou pela primeira vez, e continuou fazendo carinho nas minhas costas. Respirei fundo e tirei as mãos do rosto, secando as lágrimas e encarando-o.
- Desculpa por isso. – Tentei sorrir, sem sucesso. Ele abriu os braços e eu me aninhei em seu peito, sentindo as lágrimas retornarem. Através dos olhos embaçados consegui distinguir a silhueta de , que me encarava do outro lado, encostado na porta. Jesse pareceu vê-lo, já que depositou um beijo no topo da minha cabeça naquele instante, me puxando mais para perto. deu as costas e sumiu de minha vista, e eu me entreguei às lágrimas novamente.
Depois de alguns minutos em silêncio, senti alguém afagar minha cabeça e finalmente abri os olhos. estava séria, em seu rosto uma expressão preocupada.
- ... Eu sei que a situação é difícil e tal, mas a precisa de você. Ela passou mal agora há pouco e quando eu fui atrás dela no quarto ela chorava desesperadamente e me colocou pra fora. Tenta falar com ela? – Falou e eu suspirei, concordando com a cabeça e ficando em pé. Dei um beijo na bochecha de Jesse, agradecendo com o olhar pela ajuda e segui até as escadas, olhando somente para frente pra não correr o risco de encontrar o olhar de , onde quer que ele esteja.
Tentei abrir a porta, mas estava trancada. Dei duas batidinhas.
- Vá embora. – Ouvi ela dizer e sua voz não estava das melhores.
- Sou eu, . Abre, por favor. – Falei e logo a porta foi aberta. Entrei, trancando-a logo que o fiz. E encarei a minha amiga, que estava com o rosto molhado pelas lágrimas, e uma expressão triste. Em sua mão esquerda estava uma caixinha branca e rosa, na direita um pauzinho da mesma cor. A olhei assustada, reconhecendo o que ela segurava, e ela balançou a cabeça afirmativamente. Duas lágrimas rolaram pelo seu rosto e ela respirou fundo, finalmente falando.
- Eu estou grávida.
Capítulo. 28 - All those shadows almost killed your light.
Fui acordada por um cutucão leve, seguido por outros insistentemente. Abri os olhos, não me mexendo por ter certeza do corpo de deitado sobre o meu e olhei para o lado, me deparando com Tory. Minha vontade na hora foi gritar e expulsá-la de lá, mas eu precisei ficar quieta, por . Nunca vira a minha amiga tão abalada e, depois de muito conversar, consegui convencê-la a dormir um pouco para acalmar os nervos. Ela havia demorado a dormir, sim, mas tinha dormido; E nos meus braços. Por isso, e só por isso, não pulei na cabeça de Tory quando a vi ajoelhada ao lado da cama, os olhos fixos em mim. Eu não tinha me sentido incomodada pelo fato de ela estar com os olhos vermelhos, na verdade não estava nem um pouco interessada no motivo da tristeza dela.
- Posso falar com você? – ela sussurrou, sua voz quase não foi ouvida. Só entendi porque li seus lábios. Balancei a cabeça negativamente e ela mexeu a boca formando um “por favor” mudo. Encarei o teto por alguns segundos, sem saber como proceder. Eu deveria falar com Tory? Qual era a probabilidade de eu perder a cabeça nessa conversa e fazer alguma besteira? Muito grande, disso eu tinha certeza. Mas não era como se tivesse escolha. Tory parecia decidida. Cuidadosamente tirei de cima de mim, deitando sua cabeça no travesseiro. Levantei e saí, sem olhar se a garota tinha me seguido. Entrei no quarto de Tory e a esperei; Logo a porta foi fechada e eu ouvi um suspiro.
- Olha Tory, eu... – comecei, me virando para encará-la e ela levantou as mãos, com as palmas para a frente.
- Por favor. Só me escute. - pediu e eu acenei positivamente com a cabeça, cruzando os braços defensivamente.
- Espero que seja breve.
- Será. – ela me garantiu, suspirando novamente e evitando me olhar nos olhos. – Eu... – respirou fundo, levantando a cabeça e olhando fixamente para mim. – Desculpe. Foi culpa minha, fui eu quem beijou , ele não teve nada a...
- Pode parar. Se for para falar sobre a cena que eu presenciei essa noite, nem comece. – a interrompi, forçando meu tom de voz, obrigando-o a parecer minimamente normal; Embora o que eu quisesse fazer no momento era gritar.
- Você vai me escutar. Afinal, veio aqui pra isso, não foi? – me encarou desafiadoramente e eu permaneci em silêncio, esperando que ela acabasse logo com aquilo. – Ano passado eu conheci e, como você sabe, nós tivemos uma “coisa”, – fez aspas no ar e eu me esforcei para não revirar os olhos. – mas na época ele estava namorando. Só que eu não me importei, sabe? Porque eu tinha gostado dele e eu me submeti àquilo só pra poder tê-lo por perto. Quando ele foi embora eu me senti mal, sim. Depois de alguns meses eu comecei a namorar esse cara, o Kevin. – ela deu um fraco sorriso e olhou para o chão. Percebi que seus olhos brilhavam, marejados. – Ele é incrível em todos os aspectos e... Agora quando o voltou, eu não sei o que deu em mim! Juro que não sei. Hoje quando eu o vi lá, eu não pensei em nada, acho que minha mente regressou até o ano passado e não quis sair de lá até o final da festa. Você tinha que ver a cara dele, quando percebeu que eu o beijei. Ele quase me matou com o olhar, cheguei a ficar com medo. Ele... Disse que te amava e que se você não o perdoasse... Enfim. – suspirou, olhando para mim novamente. – Agora a pouco Kevin me ligou e... Eu finalmente percebi que ele é bom pra mim, sabe? Eu não quero mais me submeter a isso. Eu gosto dele de verdade, não amo. Mas gosto, sim. E acho que ele não merece isso. Não sei por que eu me importo tanto, nunca me importei com isso antes. Pode me chamar de vagabunda se quiser, mas eu sempre traí meus namorados, sempre. E quando o efeito da bebida passou e eu finalmente percebi o que eu havia feito, eu me senti um lixo. – duas lágrimas rolaram, mas eu não senti pena dela. – Eu quero que o Kevin me mereça, sabe? Porque eu tenho certeza que eu não o mereço. Eu queria consertar as coisas, voltar no tempo se fosse possível... Eu sei que não tem perdão e eu sei que você não gosta de mim, mas eu preciso te pedir desculpas. Desculpa, . Do fundo do meu coração eu te peço: Desculpa. Eu estou arrependida de verdade, e eu quero que você tenha cem por cento de certeza de que o não teve nada a ver com isso. A culpa é totalmente minha. Eu sinto muito. Eu sei que não é fácil, mas você precisa perdoá-lo e... – ela continuou falando, mas eu simplesmente saí do quarto sem ouvir o resto. Fui em direção ao quarto de e entrei, batendo a porta e deixando as lágrimas me invadirem. Ouvi ele se levantar e sua sombra parou à minha frente, em silêncio.
- Precisamos conversar. – a voz murmurou e eu percebi que ela pertencia a . Ofeguei, surpresa, e passei as mãos no rosto rapidamente, secando as lágrimas. Ele deu alguns passos e então a luz foi acesa. Não olhei em sua direção, mantendo meu olhar fixo na porta da varanda, e permaneci em silêncio, apesar de sentir o seu olhar cravado em mim.
- Deixe-me falar primeiro, está bem? – pedi, torcendo para que não percebesse o tremor em minha voz. Esfreguei as mãos, ainda evitando o olhar dele. – Primeiro eu queria deixar claro que acredito em você, sei que foi tudo culpa da Tory. – falei, vendo-o sorrir pelo canto do olho. Permaneci com o olhar fixo na porta da varanda, se eu olhasse nos olhos dele não teria coragem de dizer o que pretendia. – Mas... Não acho que estou pronta para que tudo volte a ser como era antes. Eu preciso de um tempo pra... Digerir essa história toda.
- Você quer... Terminar. – afirmou e não consegui distinguir a mudança em seu tom de voz.
- Terminamos no momento em que você beijou a... – comecei, mas ouvi dar um passo em minha direção e achei melhor não terminar a frase. – Que a Tory beijou você. Que seja. – respirei fundo, pedindo mentalmente para que ele não desse mais nenhum passo. Ele não se mexeu. – Mas eu preciso de um tempo, porque sendo culpa sua ou não, a cena que eu presenciei continua se repetindo na minha mente incansavelmente e ver aquilo minou a confiança que eu tinha em você. – arrisquei olhar em seus olhos pela primeira vez e, quando o fiz, permaneci em silêncio por alguns segundos. Conseguindo recuperar a minha voz, continuei a falar, sustentando o seu olhar. – Eu te amo, . E não é pouco. Você sabe disso melhor do que ninguém. Mas eu realmente gostaria que pudéssemos ser só amigos por um tempo, até eu me sentir segura para confiar em você de novo. Você entende? – perguntei, sentindo minha voz desaparecer aos poucos, até se tornar um sussurro.
- Amigos. – ele repetiu, afirmando com a cabeça e eu dei um leve sorriso, repetindo o gesto. Estendi a mão, que ele apertou cordialmente.
- Amigos. – repeti, me esforçando para tirar a minha mão da dele. Quando o fiz, saí de lá sem nem olhar para trás, voltando ao quarto de e deitando ao seu lado novamente, pegando no sono.
Os próximos três dias passaram como um borrão, a gente ia pra praia algumas vezes, mas na maioria do tempo ficávamos dormindo ou vendo filmes. era uma sombra, não falava com ninguém e parecia muito abatido. Arrisco dizer que não o vi sorrir nenhuma vez. Eu estava incomodada com o jeito dele agir, sim, mas vai ter que aceitar que eu preciso de um tempo. Não vou passar por cima de tudo isso só porque ele está mal. Eu estou péssima também, aliás. Ele faz muita falta e eu queria que tudo voltasse a ser como antes, mas a Tory continua aqui (é a casa dela, portanto inevitável) e sempre que eu olho para ela me lembro do tal beijo, tenho que me segurar para não chorar novamente.
E no meio disso tudo tem a , que continua apavorada com a gravidez. Decidiu dar o filho para a adoção, disse que não tem condições de criar uma criança agora e eu sinceramente concordo com ela. É muito nova para ter um filho, ainda mais do Adam, um canalha sem tamanho.
Acordei cedo e ainda dormia, fiz minha higiene matinal e troquei de roupa, tendo o cuidado de não acordá-la. Estava recém começando a clarear e quando desci percebi que ninguém tinha acordado ainda. Segui até a cozinha e fui até a cafeteira, colocando o café. Terminei, ligando a cafeteira na tomada, me virei para ir até a geladeira pegar um pouco d’água e encontrei me encarando, de braços cruzados, encostado no batente da porta. Dei um pulo, assustada, e bati com as costas no balcão. Sua expressão não mudou.
- Oi. – falei, incapaz de pronunciar qualquer outra coisa. Ele descruzou os braços e foi até a geladeira, tirando de lá a garrafa de água e deixando-a em cima do balcão. Veio na minha direção, para pegar um copo no armário, mas eu não me mexi. Parou ao meu lado e esticou o braço para pegar o copo. No momento que seu perfume invadiu minhas narinas, não consegui controlar o impulso e ergui a mão, tocando sua bochecha esquerda. Arfei, surpresa, assim que o toquei. Sua bochecha estava muito quente.
- ! Você tá ardendo em febre! – toquei sua testa e ele me olhou, sem mudar a expressão.
- Por que você se importa? – perguntou, arqueando a sobrancelha.
- Eu não vou me dar ao trabalho de responder. Na verdade, vou fingir que não ouvi o que você acabou de falar. – desencostei do balcão e peguei sua mão, o guiando até a sala. – Deita aí. – disse, e ele incrivelmente fez o que eu pedi. Fui em direção ao armário do banheiro e de lá tirei uma toalhinha, que eu molhei com água gelada. Peguei na prateleira um remédio para a febre e depois segui até a cozinha para pegar um copo d’água. Quando retornei à sala, ele não tinha se mexido. Agachei ao seu lado e estendi o remédio e o copo. No começo ele apenas me encarou, mas por fim engoliu o comprimido. Fez menção a se levantar, mas eu o puxei de volta para o sofá, o fazendo deitar com a cabeça na almofada. Peguei a toalha molhada e pus sobre sua testa. Ele fechou os olhos assim que o fiz. Eu poderia simplesmente levantar e voltar para a cozinha, mas eu não consegui me mexer. Fiquei apenas observando e prestando atenção em sua respiração tranquila.
Aproximei meu rosto do seu e dei um beijo em sua bochecha, que já estava com a temperatura quase normalizada. Ele sorriu lindamente, como eu não o via fazer a um tempo e eu me levantei, retornando à cozinha e preparando algo para comer. Depois de comer, voltei à sala, mas já tinha voltado para o quarto. Fiz o mesmo e encontrei já de pé.
- Vamos comigo até uma lojinha que tem aqui perto? – perguntou assim que eu abri a porta.
- Pra que?
- Eu preciso de um vestido novo pra festa de hoje!
- Eu também! Meu Deus, tinha esquecido completamente da festa! É verdade. – eu realmente tinha esquecido. Tory tinha combinado de fazer mais uma festa, e tinha chamado praticamente as mesmas pessoas da anterior. Começaria no mesmo horário, inclusive. Eu não estava no clima para festejar, mas não era como se eu tivesse escolha. A festa dessa vez seria na praia, bem perto da casa onde estávamos. Iríamos a pé.
Horas depois...
Já estávamos na festa há algum tempo, mas eu sinceramente não estava nem um pouco animada e só tinha tomado metade da minha tequila. A festa estava realmente linda e bem organizada, cheia de gente, mas eu realmente não estava no clima. Passei pela pista de dança sem parar nenhuma vez (um milagre) e fui até e , que dançavam animadas.
- Meninas... – cheguei mais perto para que elas me escutassem. – Eu tô indo, ok? Beijo. – terminei e elas concordaram. Saí sem nem olhar para trás e cheguei à casa em poucos segundos. Estranhei a porta não estar trancada, mas eu não tinha levado a minha chave mesmo, portanto era algo a meu favor. Não me importei em ligar as luzes, já que eu iria direto para o meu quarto. A única ligada era a do corredor de cima, mas não iluminava muito. Fui em direção às escadas, mas um barulho vindo do sofá me despertou. Tinha alguém de pé olhando para mim, mas mesmo estreitando os olhos não consegui reconhecer a silhueta. Quem poderia ser? Só tinham duas opções: ou Jesse, ou . Os únicos que não estavam na festa.
- Oi? – arrisquei dizer, e minha voz soou mais alta do que eu gostaria. A sombra deu um passo à frente e sorriu, reconheci Jesse. – Ah, é você. Oi Jesse. Por que você não foi à festa? – perguntei e o sorriso dele alargou. Ele me olhava de cima abaixo e mordeu o lábio inferior quando seu olhar chegou às minhas pernas. Eu estava começando a me sentir desconfortável... Senti minhas bochechas ficarem quentes, mas não me mexi.
- Você está linda. – falou, abrindo os braços e eu percebi que ele tinha uma garrafa de vodka quase vazia em mãos. Ele está bêbado, que maravilha. Era tudo que eu precisava. Bufei e me virei para sair dali, mas senti uma mão agarrar minha cintura bruscamente. – Está pensando que vai para onde? Acabou de chegar.
- Está machucando, Jesse. Dá pra me soltar? – perguntei o mais delicadamente possível. Não estava com paciência para aturar bêbados e Jesse estava muito alterado. Arrisco dizer que aquela garrafa que ele tinha acabado de pôr na mesa não era nem de longe a primeira. Seu hálito também não estava nada agradável.
Ele me puxou para o meio da sala e não parecia estar querendo me soltar tão cedo.
- Eu vi você cheia de amor com o idiota do seu ex hoje. Pensei que vocês tivessem terminado. – sussurrou em meu ouvido e eu virei o rosto o mais longe possível.
- Terminamos. Ele estava com febre e eu lhe dei um remédio. Simples assim. Não que isso seja da sua conta. – acrescentei a última parte fazendo uma careta. Não que ele tivesse vendo, mas enfim.
- Que meiga. – falou, abusando da ironia e eu bufei mais uma vez, tentando me soltar. Só o que eu consegui foi que Jesse me segurasse ainda mais firme e me puxasse de frente para ele. Virei o rosto no último segundo para evitar um beijo e isso não o deixou feliz. – Do seu ex namoradinho você cuida mesmo depois de ele te botar um belo par de chifres, né? E eu? Você me fez de idiota quando a retardada da apareceu lá em casa cheia de amor pra cima da minha mãe. Quando você precisava de companhia eu era uma pessoa maravilhosa, não é? Mas quando a sua memória idiota voltou, eu sou só mais um. Não é?
- Claro que não! De onde você tirou isso? – perguntei, assustada. Ele estava fora de si e eu estava com medo de falar alguma besteira que o faça ficar pior. Jesse gargalhou alto e eu tremi, pela primeira vez sentindo medo dele. Não pude evitar por uma fração de segundo pensar no Adam. O medo que eu sentia agora lembrava uma ocasião nada agradável com um certo psicopata que tinha engravidado a minha melhor amiga e isso estava me apavorando.
De repente, ele se aproximou e começou a me beijar; Eu me debatia tentando me soltar, porém sem sucesso. Ele continuava me segurando pela cintura com muita força.
*
Fui despertado de meus devaneios por uma gargalhada alta, e não reconheci a voz. Bufei, sabendo que não conseguiria voltar a dormir tão cedo e fiquei um tempo encarando o chão, com mil coisas passando pela minha cabeça. Quando tempo demoraria para esquecer aquela história toda? Eu não aguentava mais ficar longe dela e queria que o “tempo” passasse o mais rápido possível. Eu sabia que os sentimentos dela por mim não tinham mudado, os meus por ela muito menos; Mas ainda sim eu estava pirando com o término.
Decidi descer para tomar um copo d’água e quando cheguei ao último degrau da escada, me deparei com uma situação nada agradável que abriu uma cratera no meu peito: Jesse e estavam se beijando.
Surpreso e magoado, não consegui dizer nada, e segui devagar até a cozinha sem querer fazer barulho. Ouvi um som estranho e, por impulso, voltei meus olhos para os dois. Percebi então que depositava socos no peito de Jesse e o mesmo a segurava rudemente. Então ouvi um grito abafado e reconheci a voz dela imediatamente. Jesse estava agarrando ela contra sua vontade. Não pensei duas vezes e fui correndo até os dois, puxando e dando um soco em Jesse, que caiu no chão e pareceu desacordado. Acho que exagerei na força, mas não importa.
Foquei minha atenção em e ela soluçava repetitivamente, tremendo e com os olhos arregalados. Suas roupas estavam um pouco rasgadas e seus ombros chacoalhavam por culpa do choro. Segui até ela e passei meu braço por seus ombros, a conduzindo até a cozinha. Eu tinha prometido a mim mesmo não falar com ela até que a própria falasse comigo, para dar a ela todo o tempo que precisasse. Mas essa era claramente uma exceção.
Dei um beijo em sua testa e peguei um copo d’água, passando novamente meu braço por seus ombros, dessa vez seguindo até meu quarto. Tranquei a porta, para o caso de Jesse acordar e peguei no colo, deitando-a na cama. Deitei ao seu lado e fiquei apenas a observando. Ela ainda tremia, mas tinha parado de soluçar. Fechou os olhos, levando as mãos ao rosto.
- ... – a ouvi murmurar muito baixo e respondi algo incompreensível, apenas para avisar que eu estava ouvindo. – Eu posso te... Pedir uma coisa? – sussurrou e eu aproximei um pouco a cabeça para ouvir.
- Claro. – sussurrei também, certo de que faria qualquer coisa que ela pedisse.
- Me abraça? – pediu e eu imediatamente passei o braço por trás de sua cabeça, com a outra mão a puxando mais para perto e a abraçando carinhosamente.
- Precisa pedir? – sussurrei e ouvi ela rir baixo. O som de sua risada me fez sorrir largamente, eu estava seriamente preocupado com o que acabara de acontecer, parecia apavorada. Ficamos alguns minutos assim, sem dizer nada, até que soltei o abraço um pouco e percebi que ela tinha dormido. Beijei sua bochecha e me ajeitei ao seu lado, fechando os olhos.
- Ei... Acorde. – ouvi alguém sussurrar em meu ouvido e sorri quando reconheci a voz. Abri os olhos e encontrei mais próxima do que eu esperava. Ela estava deitada ao meu lado, sua mão direita apoiada em meu peito. Seu rosto estava muito próximo do meu e seu nariz tocava de leve a minha bochecha. Virei o rosto para o lado estrategicamente e nossos narizes se tocaram. não se mexeu. – Eu... – sua voz ficou ainda mais baixa e eu podia jurar, apesar da escuridão, que ela estava corada. Desejei poder ver seu rosto mais claramente. – Queria te agradecer por ontem. – seu olhar, antes cravado em meus olhos, desceu até meus lábios e ela sorriu timidamente.
- Não foi por isso que você me acordou. – não era uma pergunta. Eu conhecia-a bem o suficiente para afirmar com bastante certeza que ela não me acordaria a não ser por um motivo importante. Ela riu, nervosa, e escondeu o rosto em meu pescoço, subindo a mão que antes estava em meu peito até o meu cabelo. Sorri, usando minha mão, que descansava em suas costas, para puxá-la mais para perto.
- Esperava poder escapar dessa. Não passou pela minha cabeça que você me conhecesse tão bem. – sussurrou contra a minha pele e minha nuca se arrepiou com a sensação. – Eu ia te pedir uma coisa, mas mudei de ideia.
- Pedir o que?
- Deixa, .
- Nem pensar. – sussurrei e ela suspirou, movendo os dedos pelo meu cabelo carinhosamente.
- Eu quero ir embora. Voltar pra casa... – sua voz foi diminuindo até sumir por completo. Esperei ela continuar, mas não o fez.
- Mas... – provoquei, para fazer com que ela continuasse.
- Mas não é certo. Eu não posso simplesmente ir embora, se eu falar isso pro ou pra eles vão insistir em voltar comigo e não é justo com eles. Os dois merecem esse tempo pra relaxar. Todos merecem.
- Vamos nós dois. – sugeri, sem pensar. Quando dei por mim, as palavras já tinham saído de minha boca e por um segundo eu fiquei apreensivo. Será que era rápido demais sugerir algo assim? Estávamos juntos sim, mas até onde eu sabia, como amigos. Eu tinha a ajudado e ficado ao seu lado, mas é isso que os amigos fazem. Certo? Amigos, pensar nessa palavra no que se refere à me fez ter vontade de gritar. Ser só amigo era a última coisa que eu queria. Mas não era como se eu tivesse escolha. Era isso ou sumir da vida dela para sempre. E eu tinha certeza de que não sobreviveria muito tempo sem tê-la por perto. Esperei calmamente, incomodado com o silêncio, esperando não me surpreender se simplesmente levantasse e saísse do quarto.
- E os outros? – levei um leve susto quando ouvi sua voz e me surpreendi por ela sequer pensar na minha proposta. Sorri.
- Escreve uma carta pra eles e joga por debaixo da porta. – sugeri de brincadeira, me lembrando de um filme ao qual eu tinha assistido na semana anterior. Esperei a risada de , mas não a ouvi.
- Tem papel e caneta aqui? – ela sussurrou e eu não consegui evitar um riso baixo. – Do que você está rindo?
- Eu estava brincando. – respondi e ela ficou em silêncio por um longo tempo. Não se mexeu. – Que foi? – perguntei calmamente e ela continuou imóvel. E subitamente eu entendi. Ela interpretou errado o que eu tinha dito. – Sobre a carta. Eu estava brincando sobre a carta. Minha proposta sobre ir embora ainda está de pé. – falei e fiquei esperando sua reação. Nada aconteceu. Levantei minha mão livre e fiz carinho em seu braço. – Eu falei sério, . Se você quer ir, vamos.
- Dessa vez é sério ou você vai rir da minha cara de novo? Eu sei que sequer pensar nisso soa estúpido, considerando que sou adulta, mas eu realmente acho que meus amigos merecem pelo menos um pouco de consideração e... – ela começou a tagarelar sem parar, mas eu me levantei e ela ficou em silêncio. Segui até a mesinha de cabeceira, tropeçando em um tênis no meio do caminho, e liguei o abajur, abrindo a gaveta e tirando de lá um bloquinho e uma caneta vermelha. Atirei os dois na cama ao lado de e ela encarou o bloco em silêncio.
- Você é muito paranóica, sabia? Escreve isso logo que a gente tem uma hora para sair antes que clareie. – completei, apontando para o relógio e ela me encarou, com a testa franzida. Segui até ela e cutuquei a ruga de preocupação que tinha acabado de se formar entre as suas sobrancelhas. – Confia em mim. Eles vão sobreviver sem nós. Já está na hora de você fazer alguma loucura.
- Está me chamando de certinha? – falou, estreitando os olhos e eu sorri, sabendo que ela iria. Levantei as mãos, me rendendo e ela se debruçou sobre o bloquinho, começando a escrever. Fui até o banheiro e passei uma água no rosto, depois segui até o armário e peguei uma roupa para mim, achando um vestido florido que tinha deixado ali. Peguei o vestido e atirei para ela, que me olhou arqueando as sobrancelhas. Dei de ombros e segui até o banheiro, trocando de roupa. Quando saí, percebi que já tinha colocado o vestido e notei também que ele tinha um decote generoso na frente, mas me concentrei em olhar apenas para o seu rosto, ignorando a vontade enorme de beijá-la que me arrebatou naquele momento.
Ela levantou dois papeizinhos dobrados e eu concordei com a cabeça. Fui até a porta e abri-a, olhando de um lado para o outro. Tudo limpo, todos ainda dormiam. Sinalizei para e ela veio até mim, olhando também para os dois lados e indo até o quarto dela e de , passando o bilhete de por debaixo da porta. Depois seguiu até o de e fez a mesma coisa. Fechei a porta do quarto, me lembrando que não tinha desligado o abajur, mas também não voltei para desligar. segurou a minha mão e eu tateei o corrimão no escuro, descendo as escadas o mais silenciosamente possível, o único barulho era o das nossas respirações. Seguimos até a porta da frente devagar para não tropeçar em nada e saímos, pela primeira vez notando que chovia na rua. A luz da lua clareou o jardim e eu olhei para , que apenas concordou com a cabeça. Saímos correndo na chuva até o carro e entramos rapidamente, caindo na gargalhada assim que fechamos a porta. Minha camisa estava toda respingada, assim como o vestido de .
Rimos mais um pouco e eu dei a partida no carro, ligando o rádio.
Capítulo. 29 - You light up my world like nobody else
*
A viagem foi milhões de vezes mais agradável do que eu imaginava que seria e parecia estar seguindo à risca a história de sermos amigos, o que não poderia me deixar mais feliz. A preocupação que me perseguia há três dias tinha evaporado completamente, pois eu estava vendo-o sorrir repetidamente e percebia que ele estava realmente feliz. Talvez não completamente, já que eu percebia por algumas vezes quando parávamos em semáforos que ele encarava minha boca descaradamente, mas eu fingi não perceber para não deixá-lo sem graça e cortar o clima bom que pairava sobre nós.
- Quer tomar um café? – a voz de interrompeu meus devaneios, e quando o olhei ele apontou para uma cafeteria pequena ao lado de um restaurante. Sorri largamente, batendo palmas. Eu necessitava de um café. Ouvi a risada de e não consegui evitar olhar para ele. – Acho que eu sei a resposta. – ele sorriu, piscando para mim e fazendo o desvio para irmos até a cafeteria.
Desci do carro e um vento frio atingiu meu rosto, me fazendo tremer e cruzar os braços. apareceu ao meu lado e pareceu também notar que o clima tinha esfriado, pois passou o braço pelos meus ombros, me abraçando de lado. Descruzei os braços, passando-os ao redor de seu corpo e encostando a cabeça em seu peito. Não precisei olhá-lo para saber que ele sorria. Entramos ainda abraçados e eu puxei até uma mesa nos fundos, sentando de frente para ele. Logo uma senhora apareceu e me entregou um pequeno cardápio.
- Eu quero um expresso. – pediu e a moça olhou para mim. Encarei o cardápio novamente.
- E pra sua namorada? – ela perguntou e eu percebi que ele ficou tenso.
- Na verdade, nós... – ele começou, gaguejando um pouco e eu sorri.
- Quero um cappuccino e um croissant. – entreguei o cardápio a ela, que anotou os pedidos num bloquinho e logo sumiu de nossas vistas. Tornei a olhar para e ele me encarava com as sobrancelhas arqueadas, um sorriso ameaçando aparecer em seus lábios. Ri baixo. – Que foi?
- Nada. – respondeu, sorrindo. Colocou a mão sobre a mesa, com a palma virada para cima. Pus minha mão sobre a sua, sem dizer nada. Ele segurou-a próxima dos lábios e beijou-a carinhosamente, depois deixando nossas mãos unidas sobre a mesa.
Logo a moça voltou com nossos pedidos e tomamos o café em silêncio, com as mãos ainda unidas. Comi meu croissant calmamente, pensando. Será que eu já estava pronta para voltar com ? Será que eu já tinha superado o acontecido com Tory? Será que eu queria que tudo voltasse a ser como era antes? E mais, será que queria? Eu sabia a resposta para todas essas perguntas: sim. Eu já tinha pensado o suficiente sobre o acontecido e a maneira como agiu comigo noite passada me provou que eu estava certa ao acreditar que ele me amava. Agora eu tinha plena certeza disso.
- Você me ama. – falei sem pensar e encarei , com medo de sua reação. Ele apenas sorriu, fazendo carinho em minha mão.
- Você só percebeu isso agora? – falou de modo fofo e eu senti vontade de apertá-lo. Deslizei pelo banco, indo parar ao lado dele e juntei nossos lábios num selinho demorado.
- Também te amo. – sussurrei, com nossos lábios ainda unidos e ele sorriu, me beijando novamente.
- Eu já volto. – sussurrou, levantando e seguindo até o caixa. Logo voltou e estendeu a mão para mim. Voltamos para o carro abraçados, e o sorriso insistia em não querer sair do meu rosto. abriu a porta para mim e logo estávamos de volta à estrada.
- Quer ir direto pra casa ou se importa de parar em um lugar antes? – perguntou e eu dei de ombros.
- Por mim tanto faz.
- Ok.
Seguimos por um caminho que eu não conhecia e depois de algum tempo chegamos ao fim da estrada. Encarei e ele saiu do carro sem me dizer nada. Fiz o mesmo, parando ao seu lado e olhei as árvores à nossa volta, sem saber o significado daquilo para ele. Veio para mais perto de mim e entrelaçou nossas mãos, piscando para mim e me puxando para o meio da floresta. Cravei os pés no chão.
- Pra onde a gente tá indo? – perguntei, sem desviar os olhos da imensidão verde à minha frente.
- Confia em mim. – pediu pela segunda vez hoje. Respirei fundo e dei um passo à frente, esperando se juntar a mim. Ele colocou a mão na minha cintura e andamos para frente, desviando de algumas plantas que bloqueavam o caminho. Depois de andar por mais ou menos um minuto, chegamos a um espaço aberto coberto por grama, várias flores e com apenas uma árvore. A única parte dali que não era plana era uma pedra de metade da minha altura que ficava ao lado da árvore. Encarei o lugar, pasma. Era absolutamente lindo e, de onde estávamos, conseguíamos enxergar a cidade inteira.
- Uau. – foi tudo que eu respondi, e ouvi a risada de atrás de mim.
- Vai ficar melhor, olha só. – ele falou, abraçando mais minha cintura e apontando para frente. O sol começava a nascer timidamente no horizonte e logo foi aparecendo mais, iluminando tudo a nossa volta. Eu nunca tinha visto nada tão lindo em toda a minha vida, disso eu tinha certeza. Suspirei, encantada, e não parei de olhar até ele aparecer por completo, oficialmente iniciando o dia. Sorri largamente, ficando de frente para , que também sorria.
- Como foi que você descobriu esse lugar?
- Meu avô costumava me trazer aqui quando eu era pequeno. Incrível, não?
- Muito. – confessei, rindo e ainda maravilhada. Soltei-me dos braços de e andei pelo local, absorvendo o máximo de detalhes possível. Passei os dedos delicadamente por algumas flores e me apoiei no parapeito, observando a vista para a cidade. Dava para ver tudo dali! Não sei quanto tempo passei encarando o local, mas quando me virei para onde estávamos novamente, estava apoiado na árvore, escrevendo alguma coisa. Segui até ele, curiosa e quando cheguei ele tinha terminado. Escreveu nossos nomes na árvore, com um coração em volta. Sorri, beijando sua bochecha.
- Me sinto um adolescente.
- Por quê? – perguntei, rindo da cara que ele fez.
- Eu ajo feito um idiota apaixonado quando estou com você. – entortou o nariz, enterrando o rosto em meu pescoço. Eu ri.
- Idiota nada, eu acho lindo.
- Só você acha, né. – falou, voltando a me olhar. Fiz cara de brava e cruzei os braços.
- E era pra mais alguém achar, por acaso? – falei e ele arqueou a sobrancelha.
- Ciumenta.
- Metido.
- Convencida.
- Chato.
- Minha. – falou, encostando a testa na minha.
- Possessivo. – provoquei e ele riu.
- Realista.
- Possessivo. – repeti, com mais ênfase.
- Você já disse isso.
- Ah, cala a boca, vai! – não consegui segurar uma risada, também não. Sem aguentar mais, finalmente juntei nossos lábios. Não tínhamos nenhuma pressa e ficamos nos beijando calmamente por um tempo, até que o celular dele começou a tocar insistentemente, nos interrompendo.
- Alô? – olhou para mim, sorrindo. – Ela tá comigo, sim. Não, não pode falar com ela. Porque não, . Ela tá viva, ok? Era isso que você queria saber, não era? Pode ficar tranquila. Tchau. – desligou, guardando o celular no bolso e eu o olhei com as sobrancelhas levantadas. – Que foi? – perguntou inocentemente.
- Que carinho, hein. Tadinha. O que ela queria?
- Ligou desesperada dizendo que você tinha ido embora e perguntou se eu sabia de alguma coisa. – riu e eu não mudei minha expressão. – Que foi? Deixa-a, vai sobreviver. Para de se preocupar com os outros um pouquinho, poxa. Tô carente. – fez bico e eu sorri, boba.
- É mesmo? E pra que serve essa sua namorada que não te dá atenção?
- Serve pra nada, aquela inútil. – falou, balançando a cabeça e eu dei um tapa em seu ombro. – Ai! Violenta.
- Insuportável. Mentir é feio, sabia?
- E é por isso que eu só falo a verdade. – falou, com pose de convencido e eu dei outro tapa em seu ombro. – Para de me bater, criatura!
- Não me chama de criatura.
- Prefere “minha vida”?
- Credo, que brega. – fiz uma careta e ele riu.
- Então não reclama, criatura.
- Pelo menos eu sou uma criatura legal. Não sou chata que nem você.
- Eu não sou chato.
- É sim.
- Você me ama do mesmo jeito.
- Quem foi o perturbado que disse esse absurdo? – abri a boca, fingindo surpresa.
- Fui eu.
- Só podia.
- O que você quer dizer com isso? – estreitou os olhos e eu dei de ombros.
- Nada não.
- Para de implicar.
- Não.
- Quer ir embora?
- Não.
- Vai parar de falar não pra mim?
- Não. – provoquei e, quando vi a expressão em seu rosto, saí correndo e gritando. era mais rápido do que eu e logo me alcançou e nós dois caímos no chão, começando a rir. Virei para o lado e fiquei em cima de , percebendo que seu cabelo tinha ficado cheio de grama. Ri, bagunçando-o ainda mais e ele me beijou, girando até que ficasse por cima de mim. Terminei o beijo com um selinho demorado e deitou ao meu lado.
Ficamos um bom tempo ali, conversando sobre coisas variadas e sem muita importância, arrisco dizer que nunca estivemos tão em sintonia. Parece que, mesmo inconscientemente, tudo o que tinha acontecido até agora para nos manter separados só conseguiu nos unir ainda mais e nos fez perceber o quanto cada segundo é valioso e que um relacionamento não é baseado apenas no namoro em si, mas também na amizade e no companheirismo. Se não fosse um cara tão divertido, eu provavelmente nunca teria me apaixonado por ele. E ali, naquele momento, deitada naquele lugar lindo ao lado dele, eu senti que podia acontecer o que fosse, o que eu sentia por ele nunca iria diminuir. Aumentar, talvez, se fosse possível. Assim, refletindo agora, eu percebo que eu na verdade nunca senti nada por Adam a não ser uma minúscula atração, pois o que eu sinto hoje por vai tão além disso, mas tão além, que eu me pergunto como um dia eu cheguei a pensar que sentia algo mais forte por Adam. Sequer cogitar essa possibilidade hoje me dava vontade de rir.
parece ser a mistura perfeita, ele sabe ser fofo, mas sabe ser divertido também quando quer. E de ambas as formas ele é irresistível. Tem um senso de humor único e um jeito que me encantou desde a primeira vez que me permiti enxergá-lo de verdade. Claro que quando o conheci ele era aquele pegador metido a badboy que pegava uma diferente a cada noite, mas parando para refletir hoje, acho que assim que começamos a namorar essa parte dele parece que sumiu por completo, naturalmente até. Se não o conhecesse antes, poderia dizer que ele nunca fora assim.
- Terra para . – ouvi dizer ao meu lado, me cutucando de leve com o cotovelo e o olhei, confusa. – Eu te fiz uma pergunta.
- Ai, amor, desculpa. Estava meio longe. – me desculpei, colocando as mãos no rosto e o ouvi rir.
- Percebi. – ele disse e eu ri, virando o rosto para encará-lo. – Vamos?
- Já? – reclamei.
- Já? – ele arqueou as sobrancelhas. - A gente tá aqui há três horas. – respondeu, depois de conferir as horas no celular e meu queixo caiu. Como assim? Podia jurar que foram minutos.
- Tudo isso?
- Tudo isso. – ele confirmou, afirmando com a cabeça. Levantou e esticou a mão para mim, me ajudando a ficar em pé. Abracei-o de lado e seguimos até o carro. (pra variar) abriu a porta para mim e depois deu a volta e entrou no carro. Depois de colocar o cinto, olhou pra mim. – Pra onde agora, madame? – perguntou e eu demorei para decidir. Até que um estalo me atingiu.
- Meredith! – sorri, sentindo a saudade que eu estava da minha irmãzinha me invadir. Fazia um tempo que eu não a via. Peguei o celular e liguei para a minha mãe, que disse que Mery queria sair para tomar sorvete. Perguntei a e ele disse que por ele estava tudo bem. Desliguei o telefone e liguei o rádio, tocava Like We Used To (A Rocket to The Moon) e eu comecei a cantar a plenos pulmões, usando a mão como microfone. Adorava a música. só ria de mim, mas me acompanhou algumas vezes durante o refrão, caindo na gargalhada logo depois.
Chegamos à casa da minha mãe em pouco tempo e Meredith já nos esperava na porta, vestida de vermelho e com o cabelo amarrado. Fofa, como sempre. estacionou o carro e fomos até ela. Mery me abraçou primeiro, mas depois esticou os braços para ele, pedindo um abraço. Decidimos ir a pé até a sorveteria, pois tinha uma apenas duas quadras adiante. Segurei em uma mão de Meredith e na outra, e fomos andando até a sorveteria, que não estava muito cheia. Talvez por culpa do horário.
Meu sorvete foi igual ao de Meredith – chiclete com balinhas coloridas -, só que pediu um simples de chocolate. Quando a atendente trouxe nossos sorvetes, ele me encarou com a sobrancelha arqueada.
- Não sei quem é a mais criança, você ou a sua irmã.
- Deixa meu sorvete colorido em paz. – reclamei, dando língua pra ele, que sujou a ponta do meu nariz de sorvete. Abri a boca, fingindo indignação, e ele e Meredith não paravam de rir. Limpei o nariz com um guardanapo e não consegui resistir, começando a rir também.
Depois de um tempo, levantou e foi até o caixa para pagar. Mery me cutucou.
- Sô?
- Oi, bebê. – respondi, limpando sua boca com um guardanapo.
- O é seu namorado? – perguntou e eu ri.
- É sim, por quê?
- Eu gosto dele. Ele é legal. – sorriu e eu beijei sua bochecha, sorrindo também. Era muito bom ouvir aquilo da minha irmã; A opinião dela contava muito para mim. Quando eu estava com Adam ela não chegava nem perto dele e, quando ele se aproximava, ela fazia um escândalo. Até hoje não sei o que ele falou pra ela, mas agora não faz mais diferença. Até a pequena percebeu o canalha psicopata que ele era antes de mim, vê se pode!
voltou e fomos a pé para a casa de minha mãe de novo. Meredith pediu para ir comigo para minha casa e disse que precisava ir para o apartamento trocar de roupa, mas depois voltava.
Entramos os três no carro e depois seguimos até a minha casa, assim que chegamos lá Mery foi correndo para o quarto brincar, me despedi de e fui até a cozinha beber um copo de água. Feito isso, subi para me juntar a minha irmã. Encontrei Meredith desajeitadamente deitada na cama e fui até ela, acordando-a.
- Mery, acorde. – cutuquei-a no braço e esperei que acordasse. Ela tinha um sono muito leve, não era preciso muito para acordá-la. – Bebê? – comecei a ficar preocupada e balancei-a um pouco, mas a pequena não deu nem sinal de que acordaria.
- Ela desmaiou, não adianta. – ouvi uma voz vinda da porta do banheiro e cada músculo do meu corpo se contraiu com raiva, eu estava toda arrepiada.
- Adam. – praticamente cuspi o nome, sentindo o ódio tomar conta de mim. Como ele tivera coragem de tocar nela? Levantei e fui quase correndo até ele, dando um tapa em seu rosto. Lágrimas quentes pendiam em meus olhos; Eram lágrimas de raiva, ódio talvez. Adam nem se mexeu, vi o local onde bati ficar vermelho e me senti minimamente melhor. – O que você fez com ela?
- Ela só desmaiou, ok? Pare de drama. – falou, revirando os olhos e eu tive vontade de socá-lo.
- Drama? – levantei a mão para dar outro tapa nele, mas dessa vez segurou meu pulso.
- Pode se controlar, não estou com paciência para revolta hoje. Você vai fazer exatamente o que eu mandar. – falou, abrindo um sorriso antes de completar a última frase. – Ou a sua irmãzinha vai fazer companhia pro seu pai. – terminou e eu estremeci. Adam pôs a mão no bolso e tirou de lá uma arma, apontando-a para Mery. As lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto.
- Não! – gritei, desesperada. – Eu faço o que você quiser. – afirmei, sem pensar duas vezes e o sorriso dele aumentou. A Meredith não, a minha Meredith. Adam não encostaria mais um dedo sequer nela, nem que minha vida dependesse disso. E eu já tinha uma boa ideia do que ele queria.
- Assim é que se fala. Acho que você já sabe o que eu quero. – falou e eu confirmei com a cabeça. - Quero que você termine com seu namoradinho estúpido, não gostei nada de ver vocês como queridinhos da mídia. E tem mais: quero que você tenha a certeza de que ele nunca mais vai te procurar. Entendido?
- S... Sim. – falei, logo que ele terminou de falar. Eu faria qualquer coisa para salvar a vida da minha irmã, até mesmo isso. Ouvimos um barulho no andar de baixo e Adam sorriu maleficamente. tinha chegado.
- Traga-o para cá e diga coisas terríveis para ele. Quero ter certeza de que ele nunca mais vai te procurar. E no menor sinal de que você está tentando me enganar, no menor sinal, o cérebro da sua irmãzinha explode. Entendeu? – perguntou e eu balancei a cabeça afirmativamente. Ele foi até Meredith e a jogou rudemente sobre o ombro, entrando com ela no banheiro e trancando a porta. Estremeci e passei as mãos pelo rosto e pelo cabelo, tentando esconder meu desespero. Eu sabia o que tinha que ser feito. E eu faria. Por Meredith. Ouvi passos na escada e respirei fundo, sabendo que agora eu precisaria atuar mais do que nunca. Chegou a hora de provar para mim mesma que eu era uma boa atriz. As circunstâncias eram terríveis, mas eu não tinha escolha. Fiquei encarando a porta, tentando pensar no que eu diria. Eu não tinha a menor ideia.
apareceu sorrindo e mais lindo do que nunca, mas seu sorriso murchou assim que viu meu rosto e eu tentei suavizar a expressão.
- Precisamos conversar. – falei, agradecendo mentalmente por minha voz ter soado tão suave. Não rude, não triste, apenas suave. Ele franziu a testa e cruzou os braços, dando alguns passos à frente.
- Aconteceu alguma coisa? – perguntou e eu afirmei com a cabeça, me lembrando das palavras de Adam: “diga coisas terríveis para ele”. Dizer coisas terríveis, certo. Ai meu Deus, eu quero morrer. Meu coração está completamente despedaçado, já sabendo qual tem que ser o desfecho dessa conversa. Eu não quero ter que fazer isso, mas é minha única opção. Ou isso ou perder a minha irmã, e eu não me arriscava nem a pensar na segunda opção. iria sobreviver; Eu talvez não, mas ele sobreviveria. Tinha que sobreviver.
- Aconteceu. A gente aconteceu, . Não dá mais.
- Não dá mais o que? Do que você está falando? – perguntou, seu tom de voz ficando cada vez mais alto. Ele já tinha uma ideia do que eu queria dizer, também. Mas queria ouvir da minha boca.
- Estou falando de nós dois.
- Você quer terminar? – a voz dele soava magoada.
- Quero. – respondi, apesar de querer dizer "eu preciso". Mas o que eu realmente precisava era ser rude para manter a minha irmã viva. A expressão magoada de estava me matando aos poucos. Ele não disse mais nada, mas seus olhos gritavam uma só pergunta: Por quê? – Somos muito diferentes... – comecei, lembrando novamente do que Adam disse. Coisas terríveis. – Você é muito diferente... Eu achei que conseguiria passar por cima de tudo isso por estar atraída por você, mas eu me enganei.
- Atraída? – a voz dele era incredulidade pura. Eu também estava incrédula como ele, mas não podia demonstrar. O que eu acabara de falar não podia estar mais longe da verdade. – Atraída? – ele repetiu, não acreditando no que eu tinha dito. – Depois que tudo que nós passamos, tudo o que você sente por mim é atração? – sua expressão era sofrimento puro. Senti meu coração se encolher dentro do peito, com as feridas já doendo. – Pensei que você me amasse, .
- Pensou errado. – falei, forçando minha voz a soar áspera. Funcionou. reagiu como se tivesse levado um tapa na cara e eu continuei com a expressão inalterada. Precisaria ser mais convincente. – Tudo o que aconteceu entre nós foi um erro.
- Um erro? – ele parecia cada vez mais surpreso, e eu senti em seu tom de voz um pouco de raiva; Não o culpava. – Então você se arrepende de ter passado tanto tempo comigo? – perguntou, fixando o olhar em mim e eu me controlei para não olhar para baixo, denunciando a mentira. – Se arrepende, ? RESPONDA! – gritou, colocando as mãos na cabeça e puxando os cabelos. Eu queria chorar, mas precisava ser forte. Detrás daquela porta estava Meredith, e a vida dela estava em minhas mãos.
- Sim. Eu me arrependo. – falei rudemente e vi lágrimas se formando nos olhos de . Vê-lo prestes a chorar por minha causa foi como levar uma facada nas costas; Cada pedaço do meu corpo doía, mas a dor instalada em meu coração era maior do que qualquer outra. Eu conseguia ver nos olhos de que ele tinha acreditado no que eu tinha dito, e suas opiniões sobre mim tinham mudado completamente. Ele agora me achava uma manipuladora mentirosa e acreditava que durante todo esse tempo eu só o tinha usado, e agora estava jogando fora.
- Nesse caso, acabou. Pra sempre. – disse e eu apenas concordei com a cabeça, observando-o sumir de minha vista, até finalmente ouvir a porta da frente bater; Assim que tive certeza de que estava longe, encarei a porta do banheiro, me esforçando a parecer forte. Adam saiu de lá com um sorriso triunfante e deitou Mery na cama novamente, ela continuava em sono profundo. Veio até mim, fazendo carinho em meu rosto e controlei bravamente meus instintos de mandá-lo para longe.
- Boa menina. – falou, rindo sem parar. Mirou Meredith por um segundo. – Ela acordará em algumas horas. Bom trabalho, tenho certeza que o idiota nunca mais vai olhar na sua cara. Um erro. – gargalhou, colocando a mão no abdômen. – Outch! Esse sim foi um chute no estômago. Nenhum orgulho sobrevive a isso. – balançou a cabeça, finalmente cessando a risada. – Ah, mais uma coisinha. Se vocês por acaso continuarem fazendo o filme juntos, você só irá ficar perto dele durante as filmagens ok? E nem tente explicar tudo pra ele senão já sabe... – não precisou completar a ameaça. Aproximou o rosto e deu um beijo no canto da minha boca. – Amo você, princesa. – saiu, rindo sem parar. Quando ouvi a porta bater, desabei no chão. Minha cabeça bateu com tudo no piso, mas eu não senti dor alguma; A que eu já sentia naquele momento era insuportável demais, grande demais. Encolhi-me em posição fetal e comecei a chorar desesperadamente. Eu precisava do meu melhor amigo naquele momento tanto quanto eu precisava de oxigênio. Tateei o celular em meu bolso e disquei o número de .
- Alô? – ouvi sua voz, no fundo consegui distinguir o barulho do carro. Ele estava dirigindo, aleluia! Talvez estivesse voltando. Eu queria um abraço, alguém que me dissesse que tudo ia ficar bem.
- Onde... – suspirei, tentando achar minha voz, abafada pelos soluços. Eu nem respirava direito. – Cadê você? – falei de uma vez, voltando a soluçar.
- Estou chegando em casa. O que aconteceu?
- Eu... – soluço. – Eu... – mais um. Desisti de falar, continuando a chorar; Minha mão tremia e, se eu não estivesse já no chão, o telefone já tinha caído há tempos.
- Estou indo para aí. – falou, desligando, e eu larguei o telefone, empurrando-o para longe e me encolhendo ainda mais. Eu quase nem respirava. Ouvi a porta sendo aberta e os passos na escada foram muito rápidos. Quando percebi, já tinha me pego no colo e me abraçava, me ninando como a um bebê. Eu sabia que ele nunca tinha me visto naquele estado e tinha plena noção do seu desespero, mas eu não conseguia me controlar. Estava destruída. A única coisa que me consolava era a respiração calma da minha irmã, que eu conseguia ouvir por cima do meu próprio barulho. Ela estava viva; Eu, por outro lado, não poderia me sentir mais morta. Eu abraçava e soluçava compulsivamente; Tinha certeza de que ele ia ficar com as marcas das minhas unhas nas costas, de tão forte que eu o segurava.
- Não sei o que aconteceu, mas tente se acalmar, pequena. Por favor. – ele sussurrou, dando vários beijos no topo de minha cabeça. Continuei chorando e ele não disse mais nada, apenas permaneceu me abraçando. Depois de vários minutos, o choro começou a diminuir, até cessar por completo. Eu tinha chorado tanto que sentia que não tinha mais lágrimas a serem eliminadas. Meu coração ainda doía; Meu corpo inteiro doía, cada pedacinho dele. – Vou pegar uma água pra você. – falou, começando a me soltar, mas eu me agarrei a ele novamente.
- Não! – sussurrei, minha voz soando desesperada, e voltou a me abraçar forte, fazendo carinho em minhas costas. Precisei de um tempo para achar minha voz e conseguir respirar normalmente de novo. Quando me senti minimamente melhor, me ajeitei no colo de , ficando sentada, e passei as mãos pelo rosto, para secar as lágrimas que tinham restado ali. Eu queria chorar mais, mas não tinha mais forças. Eu não tinha força pra nada. Percebi que me olhava preocupado e me senti culpada por envolvê-lo nisso. Aproximei-me dele, dando um longo beijo em sua bochecha e o abraçando rapidamente. Respirei fundo, pensando em como resumir a história para ele sem contar demais, me fazendo reviver tudo. – Terminei com . Mas a história é longa e ainda dói, posso te contar mais tarde? – minha voz era um sussurro, mas mesmo assim ele compreendeu.
- Claro que sim, pequena. Não vou sair do seu lado por um segundo sequer. – falou, dando um beijo em minha testa e eu o abracei novamente. – Agora vem comigo que eu vou fazer um chá pra você. – envolveu os braços em minha cintura e eu passei as pernas pela sua. Não conseguiria andar agora e não parecia incomodado em ter que me levar no colo. Ele me deixou sentada no sofá e foi fazer o chá, logo voltando com duas xícaras. Entregou uma para mim e ficou com a outra para si, sentando ao meu lado e pondo meus pés em seu colo. Tomei alguns goles antes de conseguir falar, e quando me senti melhor, contei tudo para ele. Cada detalhe.
Capítulo. 30 - Why are we pretending this is nothing?
Onze meses depois...
Eu encarava com a boca escancarada a página do site oficial do filme, que finalmente tinha ficado pronta. O trailer já tinha saído e a premiere seria em poucos dias. O plano de fundo do site era uma foto minha e de , eu na frente e ele atrás, o nome “The Seven Towns” em letras garrafais num tom de marrom-claro.
O trailer eu já tinha visto várias vezes, e achava-o perfeito. Aparecia um pouquinho de várias cenas, e deixava no ar a curiosidade sobre como seria a trama do filme. Eu fiquei impressionada comigo mesma, modéstia a parte, tinha ido muito bem. então nem se fala! Estava incrível.
Às vezes eu me pegava pensando nele... Como será que ele está? Será que sente minha falta tanto quanto eu sinto a dele? Fazia seis meses que não nos víamos, desde o último dia das filmagens. Apesar de ele ser irmão da , a última vez que tínhamos nos visto foi no hospital, quando ela perdeu o bebê. E nem nos olhamos direito. Eu, com vergonha, e ele, com raiva de mim. Eu sabia que ele estava em turnê com o McFly, e que iria para Los Angeles somente devido à premiere do filme, mas depois retornaria à turnê, já que no dia seguinte eles tinham um show no Chile. Como eu sei? Fácil, eu acessava sites de fofoca para saber notícias sobre o filme (as respostas sobre o trailer tinham sido ótimas, todos pareciam bem ansiosos e eu já tinha até fã clubes!) e acabava lendo uma coisa ou outra sobre a banda e eu continuava sendo a melhor amiga de , claro.
Eu estava com medo de revê-lo, pois saberia que ficaríamos no mesmo hotel e iríamos à premiere juntos, para dar entrevistas e etc. Já que nós dois iríamos desacompanhados, nossos assessores acharam mais conveniente chegarmos juntos.
Já Adam... Tinha sido preso um dia depois da minha briga com . Quando saiu da minha casa ele viu uma garota parecida comigo e pirou, tentando agarrá-la e etc, acabou preso. E dessa vez sem direito a fiança ou algo do tipo, a pena dele é de quinze anos, pois outras mulheres também o denunciaram por abuso sexual, o que só piorou sua situação. Eu sabia que Adam era ruim, mas nunca imaginei que seria tanto. Quando ele foi preso fiquei aliviada, mas não tive coragem de me explicar para . Com que cara eu ia chegar pra ele e dizer que era tudo mentira? Eu tinha dito coisas horrendas para ele, sabia que ele nunca acreditaria e nunca me perdoaria. Sabia disso. Não sabia como iria reagir vendo-o em alguns dias, estava com medo.
Quatro dias depois...
O dia da premiere tinha chegado e eu me arrumava em meu quarto de hotel, coloquei meu vestido depois de pronto meu penteado e o cabeleireiro foi embora. Tinha pedido para fazer minha própria maquiagem, deixando Mike um pouco irritado, dando aqueles chiliques de “mas eu arrumei o melhor maquiador da cidade pra você”, mas eu queria me maquiar sozinha mesmo. Achava melhor. Liguei meu celular e coloquei as músicas no modo aleatório. Tocou All About You e eu imediatamente troquei para alguma da Lady Gaga. Meus olhos se encheram d’água e eu agradeci mentalmente por a música ter tocado antes de eu passar lápis no olho.
É, eu sei o que você está pensando: não, eu não superei o fato de ter terminado com . Ele ainda mexia muito comigo, me lembrava dele com muita frequência e apesar do tempo que já tinha passado, doía muito a falta que ele fazia.
Alguém bateu à porta e eu levantei, secando as lágrimas primeiro. Olhei no espelho e não tinha nenhum sinal de que eu havia chorado. Ótimo.
Fui até lá e abri a porta, me deparando com . Ele abriu a boca, mas assim como eu não conseguiu emitir nenhum som. Observei-o rapidamente e percebi que ele usava um smoking e estava absolutamente lindo. Como se isso fosse alguma novidade.
Continuamos nos olhando nos olhos sem falar nada por longos segundos, até que ele finalmente se pronunciou.
- Eu... Só vim... – engoliu seco, piscando algumas vezes. – Avisar que saímos em meia hora.
- Tu... Tudo bem. – respondi, batendo a porta e me escorando nela, deslizando até o chão. O que foi isso? Seis meses sem se ver e... Isso? Uau.
*
Que merda eu fui fazer? Eu podia simplesmente ter dito ao Mike: “Hey cara, não me importo se você está ocupado. Eu não vou chamar a , faça isso você mesmo.” Mas não, claro que não. Eu tenho que teimar em achar que não vou ficar nervoso ao vê-la. Ela estava... Maravilhosa. E parecia tão desconfortável quanto eu.
Seis meses. SEIS MESES e ainda dói olhar para ela e saber que ela não é mais minha. Meu orgulho tinha sido reduzido a pó e tudo no que eu conseguia pensar era no quanto eu a queria de volta. Sou um completo idiota.
Respirei fundo, ainda encarando a porta do quarto dela, até que finalmente saí do transe e caminhei a passos firmes de volta para o meu quarto, indo até o banheiro jogar uma água na cara. Será que eu aguentaria passar a premiere inteira ao lado dela sem parecer um completo retardado? Vão ter câmeras lá, vamos agir profissionalmente . Profissionalmente.
Meia hora já tinha se passado... Caminhei calmamente até o carro que nos esperava, os vidros eram bastante escuros, fiquei com medo de já estar lá dentro. O motorista abriu a porta e eu olhei para dentro, receoso. Suspirei, relaxado, ao não encontrar ninguém lá e me sentei, fechando a porta. Segundos depois ela desceu, com o andar confiante e extremamente sexy. Suspirei antes de ela entrar no carro e fiquei com a minha melhor cara de paisagem encarando a janela oposta. Ouvi a porta abrir e em seguida fechar, e o perfume de encheu o ambiente. Eu tinha sentido falta desse cheiro... Queria poder abraçá-la agora... Ok, . CHEGA.
- Desculpe a demora, tive um pequeno problema para achar o sapato. – riu fraco e eu percebi que ela estava nervosa. Virei para ela, sorrindo da maneira mais natural que consegui e balancei a cabeça afirmativamente.
- Sei como é. – falei, rindo baixo. Ela sorriu e olhou para a janela. Fiz o mesmo e ninguém falou mais nada.
Abri a boca de leve ao chegarmos ao local do evento... Estava lotado, tinha gente por todo lado, com cartazes do filme e camisetas personalizadas. Não imaginava que faria tanto sucesso.
Descemos do carro e fomos ao tapete vermelho, um de cada vez, para as fotos. Depois seguimos até um local mais reservado, tipo um palco, onde tinha somente uma câmera e um repórter sorridente, para fazer uma entrevista conosco.
- Estamos aqui com e , as estrelas do filme! – falou para a câmera e depois virou para nós.
- Nervosa? – perguntou para a , estendendo o microfone para ela, que sorriu lindamente.
- Um pouco. É meu primeiro filme, estou bem ansiosa para saber a reação do público.
- E você? Nervoso? – perguntou, estendendo o microfone em minha direção.
- Bastante. – ri, confessando. Eu estava sim nervoso, mas não pelo motivo que eles imaginavam.
- Vocês já têm algum plano para depois daqui, algo em mente?
- Sim. – respondi. – Eu estou em turnê com o McFly, temos até um show amanhã mesmo, a turnê ainda vai passar por muitas cidades em mais seis meses de estrada. Estamos bastante animados, o público é incrível! – terminei, e ele estendeu o microfone para .
- Eu estarei começando a gravar mês que vem um seriado, logo logo vocês saberão mais detalhes sobre ele. Por enquanto isso é tudo o que posso dizer. – falou, rindo. Como eu tinha sentido falta dessa risada...
- Então... Boa sorte! E muito obrigado pela entrevista! – finalizou e nós entramos no evento.
O evento tinha sido ótimo e nós já voltávamos para o hotel. Eu e já conversávamos descontraidamente, mas ainda somente como conhecidos; amizade ou qualquer outra coisa que fosse passava longe da nossa conversa.
Ela saiu primeiro e percebi que seu celular tinha caído no banco, peguei-o e saí atrás dela, mas já tinha entrado do quarto. E agora, o que eu faço?
Bati à porta e depois de alguns segundos a mesma foi aberta, entrei, fechando a porta atrás de mim, passando pelo pequeno corredor e me deparando com apenas de roupas íntimas de costas para mim, arrumando a mala. Pigarreei e ela se virou, dando um pulo.
- ? Achei que fosse Mike. – parecia assustada e arrancou o lençol da cama, colocando-o desajeitadamente sobre a parte frontal de seu corpo. Sorri, balançando a cabeça negativamente e fui até ela, estendendo o celular.
- Você deixou cair no carro. – pegou-o e o atirou na mesinha de cabeceira.
- Muito obri... – começou, mas eu a calei com um beijo. Que se foda qualquer tipo de orgulho e mágoa. Eu precisava dela. no começo depositou alguns socos fracos no meu ombro, mas se rendeu e colocou os braços ao redor do meu pescoço. Eu sabia que ela queria aquilo tanto quanto eu. Tirei o lençol que ela segurava e o joguei longe, deitando por cima dela na cama e beijando seu pescoço.
*
Acordei com o barulho irritante do meu despertador e desliguei-o, levantando e sentindo o perfume de , imediatamente me lembrando da noite anterior. Aquilo não podia ter acontecido...
Observei o quarto, mas nem sinal dele. Tinha um post-it colado à porta e nele se lia: ”Desculpe”. Corri até a mala e coloquei uma roupa qualquer, indo correndo até o quarto de e batendo à porta. Quem atendeu foi a camareira e então eu me toquei: ele já tinha ido embora. A turnê do McFly, é claro. Bufei e voltei para o meu quarto, quase quebrando a porta devido à força que eu usei para fechá-la. Deslizei até o chão e fiquei lá... Soluçando, e me arrependendo por ter feito aquilo. Eu não podia ter cedido, eu deveria ter o impedido e o mandado embora. Mas não, eu sou fraca. Fraca e idiota. Agora chorando novamente pelo mesmo cara. Um cara incrível e que eu amo mais do que qualquer outra coisa, mas também um cara impossível... Pelo menos para mim.
Cinco anos e nove meses depois...
Olhava pela janela do avião a linda paisagem da cidade... A minha cidade. Depois de cinco anos fora, eu finalmente estava voltando... E dessa vez para ficar. A série tinha terminado e eu não tinha mais nada me prendendo naquele país estranho, por isso estava voltando para casa, eu precisava de férias.
Pousamos e eu não demorei muito para pegar nossas malas. Peguei um táxi e fomos até minha casa, onde agora só quem morava era .
- Mãe? – o pequeno Nicholas me cutucou, me fazendo olhar para ele.
- Diga, meu amor.
- A gente já está chegando? – olhei pela janela e vi minha tão amada casa ficando cada vez mais perto.
- Chegamos. – eu ri e ele bateu palmas, animado.
O taxista tirou as malas do carro e nós tocamos a campainha, uma toda descabelada apareceu e eu e meu pequeno Nick rimos. Ela deu um grito, pegando ele no colo e me abraçando.
- Por que vocês não disseram que viriam?
- Surpresa. – ele falou, rindo gostosamente.
- Ainda bem que eu penso em vocês viu... Entrem! – saiu do caminho para que eu passasse com as malas e foi até o balcão. Observei a casa. Continuava do mesmo jeitinho... Tantas lembranças.
- Aqui, meu anjo. Feliz aniversário de cinco anos, dois dias atrasado! – olhei para os dois e entregava um pacote enorme para ele, Nick tirou de lá um helicóptero de controle remoto e eu olhei surpresa para .
- ! Não precisava se preocupar.
- Precisava sim. Dou para o meu afilhado o presente que eu quiser, tá? – me deu língua, indo brincar com Nicholas. – Ah, vai ao supermercado comprar leite pro seu filho? Por acaso minha bola de cristal falhou e eu não sabia que vocês viriam, não tenho nada pra dar pra criança.
Eu gargalhei, vendo se afastar e ir até os fundos brincar com Nicholas e o brinquedo novo.
Fui até minha bolsa e peguei algum dinheiro, colocando-o no bolso e seguindo a pé até o supermercado. Fui direto à seção dos leites e peguei uma caixa, se precisasse eu comprava mais. Quando me virei para ir até o caixa, me deparei com uma cena não muito agradável: empurrava um carrinho na minha direção, acompanhado de sua noiva Georgia (sabia disso devido às revistas de fofoca, já que não falava sobre perto de mim). Ele me viu e pareceu muito surpreso, mas não parou de vir em minha direção. Meus pés congelaram e eu não conseguia me mexer. Chegaram até mim em poucos segundos e eu sorri o mais simpática que consegui.
- Olá .
- . – ele respondeu, também forçando um sorriso. Georgia o cutucou. – Georgia, essa é , uma... Amiga. , essa é Georgia, minha noiva.
- A famosa ! – ela riu, estendendo a mão, que eu apertei formalmente. – fala muito de você.
- É mesmo? – ri fraco, sem tirar o sorriso forçado do rosto. Ela mexeu na bolsa e tirou de lá um envelope, me entregando.
- Compareça ao nosso casamento amanhã! Vai ser uma honra ter você lá! – ela sorriu, e seguiu com até o final do corredor, sumindo de minha vista.
Permaneci congelada no lugar, sem mover um músculo, apenas encarando o maldito convite e desejando que ele pegasse fogo e virasse pó ali mesmo. Respirei fundo e fui até o caixa, pagando o leite e voltando para casa. Fui até a cozinha, larguei a caixa lá e pus o convite em cima da geladeira, longe das vistas de qualquer um, vendo que e Nick ainda brincavam, e fui até meu antigo quarto, fechando a porta e me jogando na cama, sentindo as ridículas lágrimas invadirem meu rosto pela milésima vez e pelo mesmo motivo: ele. Como eu sou fraca! Mesmo depois de todos esses anos eu ainda me sinto abalada com por perto, só de ouvir o nome dele meu coração dá uma volta inteira dentro do peito e a dor de não tê-lo por perto continua a me atingir com a mesma força de antes.
Alguém me cutucava, abri os olhos e me deparei com meu filho sorrindo. Ele parecia bastante com , e comigo também; Essa fato só aumentava a saudade que eu tinha dele, nem sabia que eu tinha um filho, eu tinha conseguido manter esse fato escondido até da mídia, não me pergunte como. Só quem sabiam eram os amigos mais próximos, como , e e, claro, Meredith e minha mãe.
- Acorda. – cutucou novamente e eu sorri.
- Acordei, amor da minha vida. Vem cá. – abri os braços e ele subiu na cama, deitando ao meu lado de costas para mim. Dei um beijo no topo de sua cabeça e tentei esquecer o episódio do supermercado. Olhei meu antigo relógio, que ainda estava ali, e vi que eram sete da manhã. – Nossa, eu estou dormindo desde ontem? Desculpa. – levantei, assustada e Nicholas só riu.
- Pois é. A tia falou que é a atmo-sei-lá-o-que da casa que te deixa com sono, já que você sempre dormia um monte quando morava aqui.
- Atmosfera. – expliquei.
- É... Isso mesmo. – ele sorriu, balançando a cabeça afirmativamente. Fui até o banheiro, lavando o rosto e escovando os dentes (enquanto eu dormia arrumou minhas coisas no quarto), troquei de roupa e estendi a mão para o pequeno, indo até a cozinha e preparando o café da manhã.
Nicholas dormiu enquanto assistia desenhos na TV. Levei seu prato do almoço para a pia e chequei o relógio: uma da tarde. desceu, se espreguiçando e eu a segui de volta para a cozinha. Ela sentou em um banco e cruzou os braços.
- Conta.
- O que? – me fiz de desentendida.
- Você chegou do supermercado e foi correndo para o quarto, só acordando hoje. Não venha me dizer que foi cansaço porque não foi. O que aconteceu? – terminou, arqueando a sobrancelha.
- Eu... Encontrei e Georgia no supermercado... E ela me convidou para o casamento. – fiquei na ponta dos pés, pegando o convite que eu tinha deixado em cima da geladeira ontem e estendendo-o a , que abriu a boca.
- Você vai... Não vai?
- Claro que não! Você acha mesmo que eu vou gastar meu precioso tempo indo ver o cara que eu amo fazer juras eternas pra uma piriguete ridícula?
- ... – começou. – O te ama. Ele vai casar com a Georgia porque... - deu de ombros. – Parece ser a coisa certa a fazer. É o que a imprensa espera... E os fãs também. Ele não tá casando porque quer, tá casando só por casar. Foi ela quem pediu a mão dele, não o contrário. Ele aceitou por pena de estar enrolando a menina há dois anos.
- E o que eu tenho a ver com isso?
- Tem a ver que é você quem ele ama, ! Vai lá e impede o meu irmão de fazer a maior besteira da vida dele! E aliás, ele tem um filho e nem mesmo sabe disso! – bateu a mão na mesa, nervosa. – Se você não for... – começou.
- Ok! – a interrompi antes da ameaça ser feita. - Eu vou ao casamento só pra você não ficar com raiva de mim, ok? Mas não espere que eu impeça nada, o já é bem grandinho e sabe o que quer da vida. – respondi, subindo para o meu quarto.
Capítulo. 31 – I hear the preacher say “Speak now or forever hold your peace”
[n/a: qualquer semelhança com a música Speak Now, da Taylor Swift não é mera coincidência]
Passei a tarde inteira me arrependendo de ter dito a que iria ao casamento, eu não queria ir de jeito nenhum. O que eu faria ao ficar cara a cara com ? Eu provavelmente seria fraca, novamente, e agiria como uma idiota. Eu precisava de um plano. Não falaria com e ficaria longe dele, isso. Talvez ele nem precisasse saber que eu fui ao casamento, se eu conseguisse me manter escondida o suficiente.
Olhei para Nicholas, que ainda dormia angelicalmente, agora em minha cama e pensei em onde o deixaria, resolvi ligar para minha mãe e pedir para deixá-lo lá com Meredith enquanto eu estivesse no casamento. Ela concordou prontamente.
Levei Nick à casa de minha mãe e quando voltei para casa eram seis horas da tarde, tomei um banho e coloquei meu vestido, passando um pente em meu cabelo e deixando-o solto mesmo, natural. Passei somente um batom e coloquei um sapato de salto. Estava pronta. Bati à porta de e ela saiu, sorridente. Estava linda.
- Uau, você está linda. – piscou para mim, me olhando de cima a baixo.
- Você também. – sorri.
- Vamos? – pegou a chave do carro e fomos.
Entrei e vi nossos amigos lá: , , , Annabelle, , todos. Não sabia que Annabelle e tinham voltado, fico feliz por eles. Fomos falar com eles e no caminho passamos por umas cinco pessoas mal humoradas, que me informou serem a família de Georgia.
- Olá! – sorriu, fazendo todos virarem para nós. Ficaram me encarando com a boca escancarada e ninguém disse nada.
- Que foi? – tentei sorrir. – Eu fui convidada, tá?
Eles riram, relaxando, e vieram me abraçar um por um.
Seguimos até a igreja e eu pedi a para eu e ela sentarmos na última fileira, longe dos olhares de todos. Eu conseguia ver e ele parecia bastante entediado, nem um pouco nervoso. Conversava com , que eu imaginei ser o padrinho, e ; e em momento algum sequer olhou para a porta.
Uma música começou a tocar; aquilo estava mais para um velório do que para um casamento. Todos automaticamente se levantaram, inclusive eu. Georgia entrava como aquelas misses e parecia que estava em uma passarela, tive que segurar o riso. Aquele vestido dela parecia ser do século passado e eu não me surpreenderia se tivessem teias de aranha nele.
Depois de mil anos, ela finalmente chegou ao altar e a cerimônia começou. Não prestava atenção em nada que o padre dizia, só voltei minha atenção ao casal (eca) lá na frente quando os dois ficaram de pé e começaram aquelas juras que sempre tem. Foi a vez de o padre falar novamente e meu coração disparou. desviou o olhar rapidamente para a porta, como se esperasse que alguém entrasse por ela e impedisse o casamento.
- Se alguém tem algo contra esse casamento, fale agora ou cale-se para sempre! – a voz do padre ecoou em meus ouvidos e senti me cutucar.
- É agora ou nunca. – ela sussurrou e naquele momento eu tomei minha decisão. Levantei decidida e segui até o lugar por onde há pouco tempo a noiva tinha acabado de passar.
*
- Eu tenho! – ouvi a voz de e me virei automaticamente para ela, que estava bem à minha frente, alguns metros à distância. Ela estava absurdamente linda. Olhei rapidamente para os lados e todos a encaravam surpresos, incluindo nossos amigos e minha nada-querida noiva. pigarreou fraco e juntou as mãos, envergonhada. Ela olhava somente para mim, ignorando todos os presentes. – Bom... – pigarreou novamente, esfregando as mãos. – Eu não sou o tipo de garota que faz isso, mas... Você também não é o tipo de cara que casa com a garota errada. – sorriu fraco e eu tive vontade de ir correndo até ela, entretanto só dei alguns passos para frente, ignorando os protestos de Georgia, que tentou puxar meu braço.
- O que você está dizendo? – ouvi a voz irritante de minha noiva, que começava a se descontrolar. – Saia daqui, você não sabe o que diz!
- Cale a boca, falsificada. – disse, causando alguns risos por parte dos presentes. Eu só não ri porque estava muito nervoso, sem saber o que ela diria a seguir. – Acordem! Esse casamento é uma farsa! A falsificada ali só liga pro próprio cabelo! – ela apontou para Georgia, que gritou um “EI!”, e voltou a olhar em meus olhos. – E o ? O me ama. – ela falou e eu dei um passo em sua direção. Dois. Três. Oito e eu parei. Estava a milímetros de distância dela, conseguia até mesmo sentir seu perfume.
- Pensei que você não viria. – sussurrei de modo que só ela ouvisse. sorriu.
- Eu nunca deixaria você casar com qualquer garota que não fosse eu. – ela respirou fundo. – Eu te amo, . E cometi o maior erro da minha vida no dia que terminei com você. – suspirou e eu não falei nada. Ela entendeu que eu queria ouvir tudo. Eu precisava ouvir tudo, eu merecia isso. – Naquele dia, antes de você chegar em casa, Adam apareceu. – suspirou mais uma vez e percebi que um silêncio completo se instalou na igreja, ninguém dava um pio. Todos prestavam atenção no que dizia. – Ele apontou uma arma para a cabeça da minha irmã – uma lágrima escorreu de seu rosto – e disse que a mataria se eu não terminasse com você. – mordeu o lábio inferior, encarando o chão por alguns segundos. – Ele se escondeu no banheiro e ficou lá ouvindo a conversa, para ter certeza de que eu terminaria mesmo. No dia seguinte ele foi preso e eu queria voltar atrás e te explicar tudo... – mais lágrimas – Juro que eu queria! Mas eu tinha te dito coisas tão horríveis que não teria coragem de aparecer na sua frente de novo. Nada do que eu falei é verdade, . Eu só falei aquilo para salvar Meredith. A verdade... – suspirou, secando as lágrimas, e um turbilhão de pensamentos passaram pela minha mente. – A verdade é que eu te amo demais e você foi a segunda melhor coisa que já aconteceu para mim.
- Segunda? – perguntei, receoso, e alguns passos quebraram o silêncio.
- Mãe? – uma voz singela disse e olhou para trás. Dei um passo para o lado para poder ver a criança. Levei um susto enorme quando vi uma criaturinha que era junção perfeita de e eu. Ele tinha os meus olhos, a minha bochecha, mas os cabelos eram da mesma cor dos dela e, quando ele sorriu, vi ali o mesmo sorriso de . Meus olhos ficaram marejados naquele mesmo segundo e eu não consegui desviá-los do menininho à minha frente.
- Quem é esse pirralho? – ouvi mais uma vez a voz irritante de Georgia.
- Meu... Filho. – respondi, sorrindo e sem a menor dúvida do que dizia, e ouvi os coros de “oh” vindos de meus convidados. Olhei para , que sorriu, e me aproximei dela, decidido, colocando meu braço por trás de sua cintura e juntando nossos lábios. Saudade. Urgência. Paixão.
Uma explosão de sentimentos me invadiu e eu soube que tinha feito a coisa certa. era minha, eu era dela, e o pequeno era nosso.
Georgia gritou e começou a bater em minhas costas, como não esbocei nenhuma reação a não ser continuar beijando , ela gritou novamente e saiu correndo da igreja.
Quebrei o beijo com um sorriso e me abaixei, ficando na mesma altura do pequeno. Sorri.
- Como é o seu nome?
- Nicholas. – ele respondeu, sorrindo também, e uma lágrima escorreu pela minha bochecha.
Epílogo
- ... Acorde. – falei suavemente contra o ouvido dela e a vi sorrir. Eu e Nicholas tínhamos acordado cedo esta manhã, para fazer um café da manhã especial para ela, pois era seu aniversário. Ele segurava a bandeja enquanto eu a acordava. piscou algumas vezes, até finalmente abrir os olhos, nos encarando, surpresa.- Bom dia, amores da minha vida. – riu. – Pra que tudo isso? – perguntou, e Nick levou a bandeja até ela, colocando-a na mesinha de cabeceira e subindo na cama para abraçá-la.
- Feliz aniversário, mamãe. – falou e ela agradeceu. Fui até os dois, abraçando-os e dei um selinho em .
- Feliz aniversário. – disse e ela sorriu largamente, abraçando nós dois. Olhei para o meu filho. – Nick, você quer ir lá na sala fazer o que a gente combinou? – pedi, piscando para ele, que concordou imediatamente e saiu, fechando a porta. Ele iria ligar para e avisar que Sophie já tinha acordado e nós em seguida a levaríamos para a festa surpresa que tínhamos arrumado. Ela me olhava, curiosa. – Tenho um presente pra você. – falei, tirando do bolso uma caixinha pequena de veludo, que entreguei para ela. abriu e abriu a boca, surpresa, quando viu o anel. Ajoelhei-me aos seus pés e ela já sorria por antecipação. – Quer casar comigo?
- Quero. – falou, rindo, soltando a caixinha e se jogando em meus braços. Fiquei de pé, ainda abraçando-a. Ela sussurrava em meu ouvido, enquanto ria: - Sim, sim, sim, sim!
Segurei-a mais perto e a beijei. Ela interrompeu o beijo e eu a olhei, confuso.
- Hora do seu presente. – disse e eu não entendi nada. Foi até a mesinha de cabeceira e tirou um envelope grande e branco da primeira gaveta, me entregando. Em suas mãos tinha um sapatinho de bebê, branco e ela fazia carinho na própria barriga. Sorri, entendendo imediatamente o que ela queria me dizer, sem nem mesmo precisar abrir o envelope. estava grávida! Ri, sem acreditar, e fui até ela, beijando-a apaixonadamente. Então eu senti, naquele momento, que o meu “felizes para sempre” estava apenas começando.
“Nada que vale a pena é fácil, lembre-se disso.” – Nicholas Sparks
Fim.
Uau, uau, uau, uau. Acabou mesmo... Eu não consigo acreditar. Essa N/A vai ser grande, então se prepare.
Acho que faz mais de dois anos que comecei essa fanfic e... Meu Deus, parece que foi ontem! Não consigo acreditar que já faz tanto tempo e... Como ela está grande! Ela é imensamente importante pra mim e vocês não tem ideia da minha felicidade nesse momento! Eu estou muito triste, também... Não estava preparada para finalizá-la tão cedo e eu sinceramente quero chorar.
A ?The Girls Are From Venus And The Guys Are From Mars? é tão, mas tão importante para mim! Foi a maior história que eu já escrevi na vida e eu aprendi muito com ela. Eu passava vinte e quatro horas pensando nessa fic, e no que fazer ou não fazer nela. Passou muito tempo sendo a minha prioridade máxima entre todas as minhas outras histórias e compromissos, escrevê-la sempre me acalmava e me fazia tão bem! Era como uma terapia e ao mesmo tempo tão viciante. Eu não conseguia parar de escrever.
Ficava esperando ansiosamente cada atualização e vibrava com cada comentário! Quando recebia elogios ficava toda boba e, quando ficava sem inspiração ou passava por algum bloqueio, eu simplesmente entrava na página da fic e lia os comentários e puf, escrevia várias linhas! Cada um de vocês que leu e comentou, ou que apenas leu, tem um lugarzinho especial no meu coração e eu nunca vou me esquecer de vocês, seus lindos! Muito obrigada por tudo!
Quanto à personagem principal... Eu espero ter dado um final digno de conto de fadas para ela. Espero que vocês tenham gostado, de coração!
Agora os agradecimentos especiais...
Aos leitores, que me acompanharam nessa jornada, se emocionando e rindo junto comigo: Vocês são fodas! Sem vocês eu nunca teria terminado essa história.
Às minhas leitoras Vips, que liam a fic antes e me diziam se estava boa ou não, sempre me incentivando e acompanhando de pertinho: Bruna, Paula, Mariana, Luisa, Camila. Eu não teria chegado nem ao capítulo quatro sem vocês... Muito obrigada!
À minha beta reader, Fran. Obrigada por tudo! De verdade. Sem você nada disso seria possível!
Espero que vocês continuem me acompanhando, pois tenho muitas fics vindo por aí! =D
É isso, obrigada por tudo.
Eu amo vocês demais.
Um beijo e um trilhão de queijos,
Tracie.
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Minhas outras fanfics:
Only Business [McFly ? Finalizada] | When The Sun Goes Down [Outros ? Finalizada] | When The Sun Goes Down 2 [Outros ? Finalizada] / When The Sun Goes Down 3 ? A Carta [Outros ? Finalizada]