Ten Thousand Voices

Escrito por Daniele Andrade | Revisado por Isadora

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  Existem vários jeitos de começar uma história, “Era uma vez”, “Houve um tempo”, “Aconteceu em dado momento”, mas nenhum desses clichês se encaixam na minha história. Acontece que eu morri, na manhã do dia 25 de Dezembro de 2013, fui diagnosticada com uma espécie rara de leucemia, onde dez crianças por ano são remetidas ao mesmo diagnóstico. É muito difícil deixar de viver com oito anos, afinal, nem fui para a escola conhecer uma rotina cansativa que muitas crianças não gostam, minha rotina com certeza era bem mais cansativa do que a delas – um tratamento intensivo para retardar a minha morte.
  Mas a minha curta vida foi repleta de vitórias, tive felicidades que meus dedos magros e curtos não podem contar, apesar da dor de partir eu contemplei muitas coisas e mesmo que não tenha tido tempo de realmente agradecer por todo carinho e atenção que eu recebi, sinto que fui completa. Vivi tudo o que eu podia viver e morri sabendo que realizei meu maior desejo.
  Um tempo antes de morrer eu declarei nas redes sociais o que eu queria de Natal, claro que minha mente de oito anos não pensou literalmente que as pessoas iriam se mobilizar para cumprir a minha grande vontade, mas eu queria que as canções do natal fossem cantadas na rua da minha casa, com um enorme coral de várias vozes.
  Eu sabia que não estava bem, estava mais fraca do que antes, e eu sabia que não ficaria ali por muito tempo. Um sábado antes do natal eu ouvi um grande movimento, várias pessoas conversavam e minha mãe sorria encantada com tudo aquilo, quando deu uma certa hora eles começaram a cantar.
  Eles cantaram um repertório incrível de músicas natalinas e eu ouvi tudo deitada dentro do meu quarto, mesmo que eu quisesse sair eu não podia, mas agradeci brevemente por quem participou da realização daquele sonho meu. A cada música cantada eu me enchia mais de alegria, na verdade senti que estava muito melhor, não podia expressar com palavras porque com certeza elas me faltariam, eles não sabem o quanto aquilo foi importante para mim, não sabem como aquilo me fez sentir bem melhor do que eu estava. Mesmo que meu corpo desfalecesse e morresse um minuto depois, nada se compararia a imensa alegria de poder ouvir todas aquelas dez mil vozes cantando na porta da minha casa.
  Uma enorme serenata realizada através de um pedido meu e eu nunca poderia explicar isso. A verdade é: Quem poderia explicar tamanha gratidão encerrada em um ser tão pequeno e franzino como eu?

FIM



Comentários da autora


Geralmente autores não deixam nenhum comentário em shortfics ou em projetos especiais, mas resolvi quebrar esse protocolo desse vez. A história contada nessa fic é verídica, talvez vocês tenham ouvido sobre essa história (que a meu ponto de vista é muito linda,) mas para quem não ouviu, nem leu, nem nada, é só jogar no Google que aparece. O nome da mocinha linda é Delaney Brown que morava na Pensilvânia, faleceu na manhã do dia 25. Segundo as informações, ela tinha no seu sangue 70% de células cancerígenas e apenas dez crianças por ano são diagnosticadas com esse mesmo tipo de câncer nos Estados Unidos.
Bom, é só isso e espero que vocês gostem. Beijos.