Tears Won't Cry

Escrito por Carolina M. | Revisado por Mariana

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   estava deitada em sua cama, olhando para o teto de seu quarto como se ele fosse a coisa mais interessante do recinto. A verdade era que mal havia dormido na noite passada, estava estranhamente energética por todo o dia, sem nem mesmo conseguir fazer suas leituras matinais. Claro que este fato não havia passado despercebido por sua irmã, que se dedicou a atormentá-la o dia todo com um monte de questionamentos.
  – , o que é que está se passando contigo? – ela fechou o livro que lia com delicadeza, conforme uma dama deveria fazê-lo e voltou o olhar em sua direção.
  – Nada, irmã. Estou apenas preocupada com o que mamãe quer conversar comigo.
  Aquilo não era de todo mentira. Mais cedo, durante o desjejum em família, seus pais pareciam extremamente felizes, além do normal. Ela, claramente, havia estranhado tudo aquilo, mas não achou que seria educado de sua parte questioná-los. Como se lesse seus pensamentos, logo sua mãe dirigiu a palavra a ela.
  ", gostaríamos que nos encontrasse no escritório de seu pai logo após terminar suas leituras. Temos uma notícia para você".
  Ela queria comentar o quanto aquilo soou estranho e quanto medo sentiu apenas ao imaginar que eles pudessem ter descoberto algo. De que soubessem dele. Porém, ela preferiu manter-se neutra e não dar sinais de medo ou preocupação, o que poderia ser suspeito para que a investigassem. Com um sorriso no rosto, ela concordou em vê-los e pediu licença antes de se retirar até a biblioteca junto a Mary, sua irmã.
  – O que você acha que pode ser? – ela olhava atenta para , com o brilho divertido da curiosidade em seu olhar.
  – Não faço a menor ideia – ela deu de ombros, escondendo suas suspeitas. Fechou seu livro na mesma página que o havia aberto mais cedo, depositando o mesmo em uma mesa que havia ao lado da poltrona em que se encontrava e se levantou, alisando o tecido do vestido que estava usando – Contudo, estou prestes a descobrir, então se me der licença, querida irmã – sorriu para a mais nova e se retirou do recinto, fechando a porta atrás de si.
  Ela jamais admitiria, mas quase podia sentir a adrenalina sendo liberada por suas glândulas, invadindo a corrente sanguínea. Respirou profundamente e seguiu pelo longo corredor rumo ao escritório, onde havia combinado de se encontrar com seus pais. Durante todo o percurso ela não parava de pensar o que aconteceria consigo caso seus pais tivessem descoberto sobre seu segredo.
  A porta no final do corredor parecia saltar diante de seus olhos, como se a convidasse a passar por ela. A essa altura do campeonato, a adrenalina já havia se dissipado por todo seu corpo, entrando diretamente nas células. teve que esfregar suas mãos no tecido das laterais do vestido, tentando secar o suor que se acumulava nas palmas. Ela apoiou a mão na maçaneta e, soltando um último e demorado suspiro, girou a mesma, abrindo a porta.
  O barulho chamou a atenção de seus pais, que ergueram a cabeça e, ao verem-na, sorriram da mesma forma que haviam feito durante o café da manhã.
  – Pode se sentar, filha – minha mãe indicou a cadeira na frente deles e eu segui até a mesma, me sentando. Olhei para os dois à minha frente, esperando que começassem a falar.
  – Bem, ... Nós só te chamamos aqui para dar a notícia que você vai se casar – minha mãe disparou como se fosse a coisa mais natural do mundo.
  – Eu vou o quê? – arregalei os olhos diante daquela surpresa e me automaticamente me levantei da cadeira em que estava. Eu não podia acreditar no que estava ouvindo.
  – Fique calma, minha filha – ela seguiu até mim, tocando meu braço com delicadeza e me guiando até a cadeira, para que voltasse a me sentar. O choque era grande demais.
  – Por favor, algum de vocês me explica melhor essa história – olhei para ambos, buscando uma explicação.
  – É simples, minha filha – meu pai retomou a palavra para si – Convenhamos que você está solteira em uma idade avançada. – ele falava como se estivesse escolhendo as palavras – Então eu consegui arrumar um jovem solteiro e ele está disposto a se casar com você.
  – Muita calma, vocês dois – olhei de um para outro, completamente indignada – Eu não estou em nenhuma idade avançada, só tenho 21 anos e isso não é nenhum problema para mim. Outra coisa: eu não quero me casar, muito menos com alguém que nunca vi na vida. Quando eu decidir que quero fazer isso, será com uma pessoa que amo e não com um desconhecido que tem dinheiro para pagar o dote.
  – Minha filha... – minha mãe passou a mão em meu rosto, fazendo um tipo de carinho maternal. Seus olhos possuíam certa tristeza, mas eu sabia que ela não mudaria de ideia. – Você precisa aceitar que a maioria das meninas se casa com 17, mais tardar 18 anos. Quando mais demorar, mais difícil será para dar herdeiros ao seu marido.
  – Sem falar que o dote oferecido por eles foi muito alto. Seria o bastante para nos manter um bom tempo, filha.
  Aquelas frases tão estúpidas que eu não podia acreditar que estavam sendo ditas a mim por meus pais. Não consegui disfarçar a cara de desgosto que estampou meu rosto, então apenas me desvencilhei das mãos de minha mãe e me levantei novamente da cadeira, seguindo até a porta sem dizer uma só palavra. Segurei a maçaneta e parei, olhando para a madeira de que ela era feita. Ainda sem me virar, falei alto o suficiente somente para que eles pudessem ouvir.
  – Saibam que eu não estou nenhum pouco de acordo com isso e eu espero que na próxima vez que quiserem vender uma de suas filhas como se fosse um pedaço de carne, espero que nos consulte primeiro.
  Dito isso, girei a maçaneta e abri a porta, saindo daquele cômodo o mais rápido possível sem ao menos olhar o rosto deles.

∞ ∞ ∞

Para uma melhor experiência, escute a música até o final da história.

  Não falei com eles pelo resto do dia, permanecendo calada por todo o almoço e jantar. O que eles haviam feito era simplesmente absurdo e inacreditável para que fosse perdoado assim tão rapidamente. Eu definitivamente não era como todas as meninas das outras famílias nobres que são criadas somente para arrumarem um marido, gerarem filhos e os criarem. Eu não queria nada disso, queria viajar pelo mundo conhecendo novas culturas, lugares, culinárias, tudo que tivesse direito.
  Bufei alto enquanto olhava para o teto do meu quarto, pois estava completamente irritada com meus pais e também entediada. Porém, um barulho de algo se chocando com a minha janela atraiu minha atenção, fazendo com que eu me sentasse na cama. Esperei pelo barulho mais uma vez para me certificar que não estava louca e me levantei rapidamente, indo até a janela às pressas. Abri-a e fui até a sacada, me segurando na grade e olhando para baixo, apenas para dar de cara com ele.
  Ali em baixo estava , o único homem por quem já me apaixonei. Avistei-o ali parado, me olhando com um sorriso enorme e automaticamente retribuí o sorriso. Porém, imediatamente me lembrei de que ele havia feito barulho e alguém poderia acabar pegando-o em flagrante, o que não seria bom para ambos.
  – ! O que faz aqui? – sussurrei baixo, porém em um tom de voz que ele pudesse me ouvir.
  – Se esqueceu do nosso combinado? Eu disse que iria vê-la hoje às nove horas da noite – seu sorriso só aumentava no rosto.
  "Tão encantador", não pude deixar de pensar.
  – Certo. Só me dê uns 5 minutos – retribuí seu sorriso – Mas se esconda enquanto isso. Não deixa ninguém te ver aí fora.
  Ele assentiu com a cabeça e correu para algum lugar que não pude ver, pois estava fora do meu campo de visão. Suspirei aliviada por ele estar ali, afinal de contas, depois de tudo que havia acontecido era muito bom poder passar um tempo com ele. Porém, imediatamente, me lembrei de que agora estava prometida a outro alguém. Mordi o lábio, preocupada, pois teria que contar a ele e provavelmente nunca mais nos veríamos por conta disso.
  Instantaneamente lágrimas ameaçaram se formar em meus olhos, mas balancei a cabeça, as impedindo de escorrer. Respirei fundo e me preparei para ir encontrá-lo.

∞ ∞ ∞

  – ? – olhei em volta pelo quintal, procurando-o assim que consegui sair de casa – Cadê você?
  Já estava prestes a dar meia volta e desistir quando senti um par de braços musculosos envolverem minha cintura por trás, puxando-me em direção ao estábulo. Pronta para soltar um grito pedindo por socorro, me virei a tempo de ver aqueles olhos que eu tanto amava. Ele, ao ver minha cara de espanto, imediatamente começou a rir e não me deixou outra escolha que não fosse dar um soco em sua barriga.
  – Ai! – riu, colocando as mãos cruzadas na frente da barriga e se curvando para frente como se meu soco o tivesse machucado, mas eu sabia que era apenas fingimento seu.
  – Para de ser idiota – sorri de lado por conta da cena que ele estava fazendo – Você não precisava ter me assustado, sabe?
  – Sei que não, mas foi divertido e sua cara estava impagável. Queria ter um espelho para que você pudesse se ver.
  – Hahaha! Vai ficar aí a noite toda rindo de mim ou vamos fazer algo? – fiz uma careta, cruzando os braços na frente do corpo e me encostando à viga de um dos estábulos.
  Ele sorriu e se aproximou, fazendo meu coração dar um salto dentro do peito. Suas mãos foram até a minha cintura, fazendo um carinho gostoso na região.
  – Sabia que fica muito charmosa quando está brava e mandona? – riu, curvando o corpo para frente, na minha direção.
  Sua boca ia se aproximando da minha, fazendo com que sua respiração quente atingisse meu rosto, gerando uma série de arrepios pelo corpo. Fechei os olhos, sentindo a distância entre nossas faces diminuir e logo sua boca encontrou a minha em um toque suave. Subi meus braços para seu pescoço, entrelaçando-os atrás de sua cabeça e me entreguei para aquele beijo. Já fazia algum tempo que não nos víamos e eu precisava assumir que senti falta daquilo, dos nossos toques, beijos, das conversas e até mesmo das suas piadas sem graça.
  "Eu definitivamente já estava apaixonada por ele".
  Suas mãos brincavam em meu corpo, subindo e descendo por minhas costas e a sensação era incrível, me fazia querer cada vez mais. Apesar do momento estar muito bom, eu não podia continuar escondendo o segredo porque não queria enganá-lo ou brincar com seus sentimentos. Ele precisava saber.
  – ... – o chamei baixinho, separando o beijo incrível que trocávamos e desci as mãos para seus braços, olhando-o nos olhos.
  Ele apenas me lançou um olhar confuso, tentando entender o que estava acontecendo.
  – Eu... preciso te contar algo – desviei o olhar do seu e me afastei para longe de seu corpo, ficando de costas para ele e cruzando os braços na frente do corpo.
  – Aconteceu algo? Sabe que pode me contar qualquer coisa – ele se aproximou de mim, tentando analisar meu olhar. Mordi o lábio, controlando a vontade de chorar que ia aumentando.
  – Na verdade aconteceu, sim. Nós não podemos mais nos ver – desviei o olhar para o chão, olhando o feno que se acumulava no chão do estábulo.
  – O quê? Mas por quê? – ele se aproximou de mim, apoiando a mão em meu queixo e fazendo com que eu fosse obrigada a olhá-lo. Mordi o lábio de leve, nervosa com o que diria a seguir.
  – Meus pais. Eles arranjaram um casamento para mim sem ao menos me consultar. Fui leiloada e vendida como um pedaço de carne ou algo assim. – as lágrimas já se formavam em meus olhos. Fechei-os para evitar que elas caíssem.
  Ele permaneceu calado, apenas com sua mão em meu queixo sendo nosso único toque. Por um instante tive medo do que aconteceria, não sabendo se ele me largaria ali sozinha, se diria algo para me reconfortar ou qualquer outra coisa. Abri os olhos novamente, buscando por ele e ansiando que fizesse ou dissesse qualquer coisa.
  – Você o ama? – foi tudo que ele disse, ainda me olhando com a expressão séria.
  – O quê? – disparei extremamente confusa, unindo minhas sobrancelhas.
  – Esse seu pretendente. Você o ama? – sua mão soltou meu rosto, causando uma sensação de frio no local devido à falta de seu toque quente.
  Segurei-me para não gargalhar alto, pois poderia acordar todo mundo da casa, então apenas dei uma risadinha de lado.
  – Amar alguém que nunca vi e nem sei quem é? Faça-me o favor, . Você é mais esperto do que isso – cruzei os braços na frente do corpo. – Só mesmo sendo um burro para não notar que é você quem eu amo.
  Ele voltou a me olhar com um sorriso no rosto. Claramente se divertia com toda aquela situação. Não me importava de revelar meus sentimentos, porque ele nunca se preocupou em esconder o que sentia.
  A verdade era que ele poderia facilmente ser demitido, preso ou até mesmo pior, caso os pais dela soubessem que ambos estavam se envolvendo, já que era o funcionário responsável por cuidar do estábulo e também dos cavalos. Já ela... bem, agora estava prometida, então não podia ser pega aos beijos com – como diriam seus pais, mesmo que ela não concordasse – um qualquer que não tinha onde cair morto. A situação era muito complicada.
  – Como disse? – ele sorriu ainda mais, se aproximando dela – Você me ama, ?
  – Você é mesmo um imbecil. Acabei de dizer isso – ri e lhe dei outro soco, mas dessa vez no braço. Isso só o fez sorrir ainda mais, porém não demorou muito para que seu sorriso murchasse.
  – Sabe que eles nunca aprovariam isso. Nós dois – ele gesticulou apontando para si e para mim.
  Eu sabia que ele estava certo, mas simplesmente não me importava mais com isso. Só queria poder ser feliz com a pessoa que eu realmente amasse e conhecer mais do mundo, viver mais intensamente. A raiva que sentia desde a conversa com meus pais foi a faísca que me fez dizer a coisa que havia sido a mais louca, porém, também a mais correta da minha vida.
  – Vamos fugir.
  – O quê? Você ficou louca, ? Não podemos fugir assim, sem nenhum dinheiro e a pé.
  – Podemos pegar um cavalo do meu pai. Ele não vai dar falta, mas caso perceba, é o mínimo depois do que fez comigo.
  – E se nos alcançarem? Eu... você... todos ficariam sabendo disso e seria uma desonra para sua família – ele começou a corar, com medo de ter me ofendido com suas palavras. Isso só me fez achá-lo ainda mais fofo.
  – Não me importo – cheguei mais perto dele e coloquei uma mão em seu rosto, acariciando a região. – No momento tudo que me importa é minha liberdade e você, nós. Desde que eu tenha isso, não me preocupo com nada mais. Se fugirmos hoje, agora mesmo, ao menos será felicidade por uma noite. Sei que estou te pedindo muito, porque você tem muito mais a perder do que eu, então entendo se não quiser – olhei no fundo de seus olhos – O que você me diz?
  Ele permaneceu calado por longos segundos, fazendo com que um silêncio mortal pairasse no local. Por um momento achei que pudesse negar, me chamar de louca por querer acabar com sua vida e simplesmente sair, me deixando sozinha.
  – Isso é quase um suicídio duplo. Sabe disso, né? – me olhou.
  – Romeu e Julieta é um duplo suicídio. Isso que estou propondo é a nossa liberdade, .
  Ele soltou um longo suspiro.
  – Já que é a única forma de ficarmos juntos, eu topo – ele sorriu.
  Meu sorriso dobrou de tamanho e eu me lancei de encontro a ele, o abraçando com todas as minhas forças. Mal podia acreditar que realmente iríamos fazer aquilo, mas já estava completamente feliz e ansiosa. Finalmente iria fazer o que queria, e não o que me obrigavam. Era bem verdade o que disse a respeito de não termos dinheiro, já que eu era sustentada por meus pais e ele basicamente trabalhava para que tivesse o que comer, mas isso não era nenhum problema para mim. Iríamos dar um jeito nisso, eu tinha total certeza.

∞ ∞ ∞

  Naquela mesma noite, cerca de uma hora depois da nossa conversa, eu estava montada em um dos cavalos de meu pai com nos guiando enquanto eu envolvia a cintura dele com os braços, com medo de que pudesse cair a qualquer instante. Antes de sairmos, havia pegado um casaco para ele e outro para mim, pois sabia que estaria frio e haveria um vento cortante durante a cavalgada. O cavalo galopava velozmente e arrisquei dar uma última olhada para trás, vendo aquela casa que havia sido minha se afastar cada vez mais até se tornar um pequeno borrão no horizonte.
  Voltei meu tronco para frente, apoiando o rosto no ombro de . Eu não consegui ver seu rosto por conta da posição em que estávamos, mas conhecendo-o, sabia que estava com um lindo e largo sorriso no rosto. Fechei os olhos, relembrando das palavras que havia escrito na carta de despedida para meus pais, apesar de tudo, eles haviam cuidado de mim por 21 anos e mereciam alguma explicação de minha parte. Havia escrito algumas poucas linhas, na verdade alguns trechos. Por fim, coloquei a mesma em um envelope, que selei com o próprio brasão de minha família, e a deixei em cima de minha cama, pois sabia que meu quarto seria o primeiro local em que me procurariam.

Dream with both eyes open
We can slip away
Our escape in motion
Now by the wake
Save your tears for something
Worth crying over babe
Don't waste them on misfortune
Darling, break away to a place they won’t cry
Baby, they won't cry today

Just like a secret lovers suicide
Kiss up into the sky
To a mystic place where tears won't cry
We’ll borrow happiness just for the night
Where all our tears won't cry
Oh, nothing can hurt you

FIM



Comentários da autora


Nota da autora: Muito obrigada a quem chegou até aqui! Espero que tenham gostado do que escrevi. Escrevê-lo foi simplesmente uma loucura por conta do prazo e quando abri o Word para começar, achei que não teria nem mil palavras, mas no fim eu quase não termino hahahaha. Amei essa música de coração e espero ter feito jus à sua letra tão linda e profunda. Escutem o álbum completo, meninas. Muito obrigada por tudo e até a próxima!