Táxi
Escrito por Jessie Prade | Revisado por Marii Luck
Ela sentiu as dores no corpo antes de abrir os olhos, antes mesmo de se dar conta de onde estava. A cabeça pesava, os ossos pareciam esmagados, e havia aquela constante sensação estranha, como se tivesse engolido um guarda-chuva, e agora ele estivesse aberto dentro de seu estômago. O mundo todo girava, e ela ainda estava apenas semiconsciente.
Ah, a ressaca...
abriu os olhos lenta e cuidadosamente, esperando o choque que a luz do dia lhe causaria assim que entrasse em contato com as íris mal-acostumadas. As cortinas, contudo, estavam fechadas, deixando o quarto em breu total.
Ela nunca fechava as cortinas.
A maioria da noite anterior era um grande borrão em sua mente, e as partes que ela não lembrava eram sempre as que lhe davam mais medo. Conhecia seu eu-etílico bem demais, e a apreensão não era infundada. Se as cortinas estavam fechadas, alguém estivera ali com ela durante a noite. E isso não era nada, nada bom.
Tateou a parede próxima à cabeceira da cama, procurando o interruptor. Quando as luzes se acenderam, entretanto, não foi a claridade que lhe causou o choque habitual, e sim o fato de que não estava em seu próprio quarto. Aquele lugar na verdade não tinha absolutamente nada a ver com seu cantinho na West Adams Street, no centro da cidade. As paredes ali eram cinza, os móveis pretos, e as cortinas de um tecido pesado bordô. A decoração era neutra demais, masculina demais.
Um barulho em algum outro lugar a despertou de sua análise.
levantou da cama, e finalmente notou o que vestia: seu conjunto de calcinha e sutiã pretos (que graças a Deus eram novos, ela nunca se perdoaria por ter se deixado levar à casa de um estranho usando lingerie em mau-estado) e uma camisa de flanela xadrez que definitivamente não lhe pertencia.
O barulho se repetiu, e teve um sobressalto. Era um som metálico, não muito distante dali. Provavelmente na cozinha, ela pensou. Deveria investigar.
Ou talvez não. E se ele fosse um maníaco, ou algo assim?
Bem, não poderia ficar ali para sempre, e se ele fosse mesmo um maníaco ela estaria ferrada de qualquer forma, então o jeito era ir ver o que o cara andava aprontando, seja lá onde estivesse.
Antes de sair, ela vasculhou o guarda-roupa, procurando algo para se proteger, só por precaução. Nada de potencialmente perigoso lá, apenas roupas e umas outras porcarias inofensivas. Na estante, apenas o laptop, um aparelho de som, um telefone, e um porta-retratos contendo uma foto de um grupo relativamente grande de rapazes.
rolou os olhos. A julgar pelo quarto, a vida desse cara deveria ser bem sem graça, não era estranho ele ter de se aproveitar de garotas bêbadas para fazer sexo uma vez ou outra.
A garota olhou a foto novamente, eram rapazes bonitos ali. Alguns até não lhe eram estranhos, ela só não conseguia se lembrar de quem eram. Qual dos dez seria ele? Esperando que fosse o parecendo perdido, na ponta esquerda, ela ajeitou na medida do possível os cabelos molhados - espere aí, molhados? - , e saiu do quarto.
A vida do cara até poderia ser chata, mas ele devia ter um bom dinheiro.
foi andando lentamente, observando os quadros pendurados no corredor, passando por duas portas fechadas até chegar à sala de estar. Ali ela viu dois sofás que pareciam muito confortáveis, uma TV, um aparelho de som, e uma mesa de jantar. A parede atrás do sofá era bordô, como as cortinas do quarto, e tinha várias capas de discos de vinil penduradas aleatoriamente como decoração.
sorriu, já sabia que pelo menos o gosto musical dele era bom. E a voz também, ela constatou, quando ele começou a cantarolar Hummingbird do Wilco, na cozinha. A garota foi até o limite da sala, esticou o pescoço para a porta aberta que fazia divisão com a cozinha, e quase riu, pensando que estivera com medo de ele ser um maníaco. O rapaz parecia bem inofensivo, rebolando em sua cueca de patinhos, enquanto cantava e fazia panquecas.
Como se sentisse que era observado, ele olhou para trás, e sorriu. E notou com satisfação que ele era exatamente como ela queria que fosse.
- Você costuma dormir até tarde na casa de estranhos, e depois observa-los enquanto preparam o café? - o desconhecido perguntou, divertido, despejando outra panqueca sobre a pilha no prato.
- Não sempre. - ela coçou a cabeça, e apertou os olhos - Minha cabeça está me matando.
O rapaz apenas sorriu compreensivo, e abriu uma das gavetas do balcão, tirando de lá uma cartela de aspirinas. Ele ainda encheu um copo com água gelada, e entregou o copo e os remédios à . Ela agradeceu, e tomou dois comprimidos, fazendo uma careta em seguida.
- Eu sei que é indelicado perguntar, mas eu não sei exatamente como a noite de ontem terminou. Quer dizer, como diabos eu vim parar aqui? - perguntou, envergonhada.
- Você entrou no meu carro, e apagou antes de me dizer onde eu supostamente deveria te levar, então eu te trouxe pra cá. - ele respondeu, simplesmente, ocupado com a calda de chocolate.
- Ah! - ela riu, aliviada - Você é motorista de táxi.
O rapaz deu uma risada.
- Não... - ergueu os olhos para ela. Lindos olhos . - Mas você provavelmente achou que eu era.
- O quê? - perguntou, os olhos esbugalhados em horror.
Ele deu de ombros.
- Eu estava voltando do estúdio, por volta das três da manhã. Parei no cruzamento, na frente da Smashboxx, e você entrou. Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, você já estava babando no banco de trás, então eu só pude te trazer pra cá...
cobriu o rosto com as mãos, envergonhada. Já estava quase feliz, achando que tinha feito um sexo incrível com aquele homem maravilhoso, e descobria que na verdade tinha apenas invadido o carro dele e desmaiado, não lhe deixando outra opção além de trazê-la (a contragosto) para a própria casa.
- Ora, não fique assim... - ele disse, enquanto contornava a mesa e puxava uma cadeira para que ela se sentasse - Quem é que nunca... Ok, acho que esse tipo de coisa não acontece com frequência. - admitiu, e cobriu o rosto outra vez, fazendo-o rir - Não, sério, não precisa ficar assim - repetiu, enquanto puxava as mãos da garota - Foi um jeito divertido de terminar a noite.
A garota apoiou os cotovelos na mesa, e pressionou as têmporas. Ficou assim por alguns segundos, enquanto o rapaz se encarregava do café da manhã, até que algo lhe ocorreu.
- Nós não....?
- O quê? Claro que não! - ele respondeu, parecendo ofendido - Que tipo de cara você acha que eu sou? Não preciso de garotas dopadas pra me dar bem, tá legal? Mulheres sentem vontade de transar comigo mesmo sóbrias, acredite você ou não.
'Oh, eu acredito', pensou, enquanto o olhava de cima a baixo.
- Então não foi você que tirou minhas roupas e me deu banho? - ela perguntou, passando as mãos pelos cabelos ainda molhados.
- Bem... - ele coçou a nuca, e deu uma risada, subitamente sem graça - Isso eu tentei, mas você me bateu, então eu não pude... - abriu a boca para dizer algo, mas ele continuou - te ajudar. Eu só queria te ajudar, ok? Nunca me aproveitaria de você, por mais bonita, e cheirosa, e por mais que você tenha... CAFÉ! Você precisa de café. - desconversando, ele levantou rapidamente, e foi até balcão. Desligou a cafeteira, pegou a bebida e a trouxe consigo para a mesa, enchendo duas canecas enormes. - Está com fome?
assentiu com a cabeça, e ele empurrou o prato de panquecas para ela. se serviu, jogando a calda de chocolate por cima, e começou a comer. Tudo estava uma delicia.
- Meu nome é , a propósito. - disse, ainda mastigando o primeiro pedaço de panqueca.
Com as mãos cruzadas, e o queixo apoiado nelas, o rapaz sorriu.
- Eu sei. - disse, apenas.
- Você me disse o seu? - ela perguntou, depois de um gole de café.
- Ontem? Umas dez vezes. - ele deu de ombros - É <.
assentiu.
. Ela gostava, um nome bonito para um cara bonito. E simpático. E divertido. E tranquilo. E cheiroso, e...
- Você 'tá legal? - perguntou, e pela expressão dele percebeu que ficara o encarando por tempo demais. - Como está a cabeça?
Ela largou o corpo, deitando a cabeça nos braços cruzados sobre a mesa.
- Parece que eu fui atropelada por um trem. Vários trens. Um metrô inteiro.
riu.
- O que aconteceu pra você beber tanto? - ele perguntou, bebendo um gole de café, e a garota ergueu a cabeça, encarando-o sem dizer nada - Quer dizer, você estava mais louca que o James Franco apresentando o Oscar, e garotas tão bonitas assim geralmente não saem para beber sozinhas, muito menos o nível de álcool que você pareceu ter ingerido ontem. Brigou com o namorado, ou algo assim?
queria ter prestado atenção em tudo, mas sua mente havia parado no 'garotas tão bonitas assim'. Então ele a achava bonita?
- Tem certeza que você está bem? - se debruçou sobre a mesa, aproximando o rosto do dela.
- Acho que sim. - balançou a cabeça - Desculpe, qual foi a pergunta?
- Perguntei qual foi a tragédia que te fez me confundir com um taxista. - ele disse lentamente, voltando a se sentar.
- Oh. - ela fez uma careta - Hector.
- Que nome ridículo. - imitou a careta dela - Desculpe, não quis dizer isso. É seu namorado?
- Pior. Meu chefe.
- Ah, bem... Que nome ridículo. - ele repetiu, e os dois riram.
continuou comendo e tagarelando sobre seu chefe horrível, enquanto apenas a observava. Ela era assistente do editor-chefe da Echo Mag - uma revista local sobre música e cultura popular - e odiava cada minuto de seus dias lá. Hector Chapman, o mandachuva da revista, há três anos transformava sua vida num inferno, prendendo-a a papeladas e serviço burocrático quando o que a garota mais queria na vida era fazer reportagens, entrevistas e todas as coisas legais que jornalistas normais faziam. Ela não havia feito faculdade para preencher formulários e dar uma de secretária pelo resto da vida. Não mesmo.
, sentado no outro lado da mesa, ouvia tudo com atenção. Ele se sentia estranhamente atraído pela garota. Não que fosse estranho estar interessado nela, mas o jeito como uma completa estranha havia cativado sua atenção em apenas meia-hora era um tanto quanto perturbador.
tinha uma energia diferente, e ele inesperadamente gostava daquilo.
-... E além de invadir seu carro e abusar da sua hospitalidade, eu ainda fico enchendo o saco com os meus problemas. - fez uma careta, rindo em seguida - Desculpe.
- Não tem problema. - ele respondeu, com um sorriso - Já disse, não foi de todo ruim. Veja o lado bom, eu conheci você.
bufou.
- Ah é, sua vida ganhou um novo sentido agora. - rolou os olhos, divertida, e ele riu - Deve haver um jeito de eu te recompensar por todo o trabalho. - ela continuou, coçando o queixo.
- Realmente não é necessário. - respondeu, como se ela tivesse proposto algo absurdo.
- Sério. - tocou a mão dele, sobre a mesa - Eu faço questão.
- Bem, nem nesse caso... - o rapaz se inclinou sobre a mesa, aproximando seu rosto do dela, e prendeu a respiração por um instante, esperando o que estava por vir - ... Acho que umas trezentas pratas deve dar, você tem um talão de cheques?
Meio decepcionada, meio divertida, a garota riu, e fez uma careta, empurrando-o no peito.
- Que tal eu pagar o almoço?
pensou por alguns segundos.
- É, vai servir... - concluiu, com uma piscadinha. Contornou a mesa, e deu dois tapinhas no joelho de - Vem, - chamou, puxando-a pela mão - não que eu não esteja gostando da visão, mas acho que suas roupas já secaram.
Ela olhou para si mesma, no vestido/camisa xadrez.
- Você lavou minhas roupas?
- Bem, - , coçou a nuca, sem graça, largando a mão dela. - elas fediam a tequila, então eu achei que talvez...
- Awwww. - entrelaçou seu braço ao do rapaz - Meu anjo da guarda, não sei o que eu faria sem você hoje...
- Nem eu. - ele concordou, rindo.
Cerca de uma hora mais tarde, estavam os dois descendo até o estacionamento do prédio, com contando uma piada velha e rindo baixinho.
- E aqui está o meu, hm, táxi. - ele disse, apontando um sedan branco cuja marca a garota não reconheceu.
- Oh. - ela parou de rir, e observou o carro com atenção. - Agora eu entendo porque invadi o seu carro. - disse, e apenas a olhou sem entender - De onde eu venho os táxis são brancos.
Ele fez uma careta engraçada.
- Onde, diabos, fica isso?
- No Brasil.
- Ah, ótimo lugar. - ele mexeu no cabelo - Quer dizer, eu particularmente nunca estive lá, mas meus amigos vivem dizendo isso, que é um lugar ótimo, com praias ótimas, pessoas incríveis, mulheres lindas...
- Ok. - riu, dando um soquinho no braço do rapaz - Já pode parar de me bajular agora, não vou te pagar tarifa dupla pela simpatia.
- Ah, não? - ele fez uma careta - Droga, estava contando com isso...
Eles entraram no carro, e deu a partida. Durante os quinze minutos de distância entre o apartamento do músico e o restaurante, eles foram conversando sobre suas vidas. A banda de , a infância de no Brasil, como era a rotina de turnê para ele, como havia sido a adaptação dela nos Estados Unidos durante a adolescência. Antes que pudessem notar, estavam parados no estacionamento do restaurante.
Aiello's era um pequeno restaurante italiano onde costumava almoçar praticamente todos os dias, já que ficava perto de seu apartamento e da revista, e principalmente porque - além de não lhe sobrar muito tempo para aventuras culinárias - a garota era péssima cozinheira.
- Eles fazem o melhor spaghetti do mundo. - ela disse, enquanto a recepcionista os levava até uma mesa vaga - Eu juro, o macarrão daqui é abençoado. Abençoado.
- Vamos tirar a prova, então. - respondeu, já olhando o cardápio enquanto se acomodava à mesa junto com .
Eles fizeram o pedido, e em seguida receberam suas respectivas bebidas. Depois de alguns minutos de silêncio, enquanto pensava em algum assunto para começar uma conversa, e olhava em volta, a garota fez uma careta, e se encolheu na cadeira, tentando se fundir ao estofado.
- Não, não não. Isso não está acontecendo. - repetiu para si mesma, desanimada. - Não, não, você não vai estragar meu domingo... Não olhe pra cá, não olhe pra cá, vire pro outro lado, não olhe, não olhe... Oh, merda.
olhou em volta, confuso, e viu um homem andando na direção deles. Ele deveria ter uns trinta anos, vestia-se com elegância - apesar da cara de desgosto -, e aparentemente estava sozinho.
- Quem é? - perguntou à garota, que nada respondeu. - Namorado? Ex-namorado? Amigo, irmão?
- Olá, . - o desconhecido falou, ao chegar à mesa. - O que faz por aqui?
- Nós estamos, hm.. - ela indicou com um gesto vago - Estamos almoçando.
- Claro. - o homem disse, rolando os olhos, e se virou para o rapaz - E você é...?
- . .
- Hector Chapman. - o chefe de respondeu, enquanto eles apertavam as mãos.
- Ah, Hector Chapman. - repetiu, com um sorriso - Ouvi tantas coisas a seu respeito...
- Suponho que sim. - o outro disse, sem muito interesse - Eu te conheço de algum lugar. - coçou o queixo - Você tem uma banda?
assentiu.
- The Maine.
- Isso. - Hector estalou os dedos, depois apontou para - Marque uma entrevista com eles, amanhã depois do almoço, temos as páginas cinco a sete livres. E temos muito trabalho, então não se atrase, nem esqueça meu café. - abriu a boca para falar, mas ele continuou - Mocha. De chocolate branco, o último veio errado. - finalizou, e saiu sem se despedir, ao mesmo tempo em que a garçonete trazia os pratos de e .
Eles comeram em silêncio por um tempo. Na verdade, comeu; apenas ficou brincando com o garfo no meio do macarrão, sem dizer nada.
Enquanto comia, o rapaz pensava se deveria ou não comentar a situação. não havia falado nada, mas ele não tinha certeza se a garota queria que ele começasse a conversa ou que fingisse que nada tinha acontecido. Não aguentando mais o silêncio, e sem conseguir pensar em um assunto, ele pigarreou.
- Então... E esse Chapman, huh? Realmente encantador.
- Oh, sim, ele é um doce. - fez uma careta, e largou o garfo no prato - Argh, eu o odeio tanto que não consigo nem colocar em palavras. Eu odeio tudo e todo mundo. Odeio aquela revista idiota. Odeio cada pessoa que faz tudo o que esse babaca manda. Odeio, odeio, odeio.
riu.
- Então por que você ainda trabalha lá? Quer dizer, existem várias revistas aqui em Phoenix - ele deu de ombros - Você é jornalista, por que ficar buscando cafezinho e fazendo a secretária quando pode conseguir uma carreira muito melhor em qualquer outra revista ou jornal da cidade?
o encarou, boquiaberta. Ele estava certo. Completamente certo.
Por que não vira as coisas por esse ângulo antes?
Ela ficava esperando uma chance na Echo, mesmo sabendo que nunca seria promovida. Por que Hector a liberaria, afinal, quando ela aguentava todas as besteiras e grosserias dele? Que outra assistente trabalharia de madrugada e aos fins de semana quando todo o pessoal da edição estava de folga? Ela vivia um inferno todos os dias, simplesmente porque fazia todos os caprichos do seu chefe babaca.
tinha razão, era hora de mudar.
- Hey, espera aí, aonde você vai? - o rapaz largou os talheres, e levantou, seguindo a garota que dava passos decididos até a mesa onde Hector Chapman almoçava sozinho. - , o que você...? Oh, não.
Ela parou de frente para Hector, com os braços cruzados, e deu um chute de leve no pé da mesa. O homem ergueu o rosto de seu prato, e a encarou com expressão de desagrado.
- O que quer, -
- Só vim dizer que não vou levar seu café idiota amanhã. - ela respondeu - Nem vou chegar cedo, nem vou conseguir porra de entrevista nenhuma.
- O quê?
- Não entendeu? Essa sou eu pedindo demissão, retardado. Você fez eu me sentir uma incompetente por três anos, agora vamos ver como se sai sem mim.
Hector ficou em silêncio por alguns instantes, parecendo surpreso. Depois, caiu na gargalhada.
- Você se acha muito boa, não acha? - perguntou, finalmente - Mas vou te contar uma coisa: um telefonema meu, um só, e você não consegue emprego nem na Lovin' Life After 50, garota.
- Bom, nesse caso eu me viro e abro minha própria revista, e aí veremos quanto tempo dura a Echo e o seu emprego, querido. - deu uma piscadinha, e deu meia-volta, seguindo para a saída do restaurante.
- Vaaaaai - cantarolou, rindo - Até mais, otário.
Ele foi até a mesa deles, deixou algumas notas sob o prato, pegou a bolsa que havia deixado na cadeira, e saiu, balançando a cabeça.
- Achei que você tinha dito que ia me pagar um almoço... - disse, quando a encontrou na saída, e estendeu-lhe a bolsa - Pegue, essa cor não combina com a minha roupa...
pegou a bolsa da mão do rapaz, e rolou os olhos.
- Eu estava fazendo minha saída triunfal, não podia parar para pagar a conta né. - disse, como se fosse óbvio, e riu. - Mas foi legal, não foi?
- Foi demais. - ele respondeu, enquanto andavam pelo estacionamento - Só faltou você jogar o vinho na cara dele, ou algo assim...
- Ah, droga! - ela parou de andar, e deu meia-volta - Devia ter pensado nisso antes! Será que dá pra gente voltar?
- Não! - respondeu, às gargalhadas, arrastando-a até o carro.
Eles entraram, e deu a partida. Ficaram conversando e falando besteiras por todo o caminho até a casa de . Quando finalmente pararam em frente ao prédio onde ela morava, desligou o carro, e passou a mão pelos cabelos.
- Entregue, sã e salva. Faço bandeira um pra você, bem baratinho.
riu, e soltou o cinto de segurança. também tirou o seu e saiu, contornando o automóvel em seguida, e abriu a porta para a garota, como um perfeito cavalheiro. Depois, ambos encostaram-se à lateral do carro, de braços cruzados.
- Obrigada, . Por tudo. - começou.
- Ahhh, não foi nada... - ele deu de ombros - E você? O que vai fazer agora que está desempregada?
- Procurar outro trabalho, provavelmente. - ela respondeu, sem muita certeza.
assentiu, e coçou o queixo, pensativo.
- Ou você pode fazer o que disse lá no restaurante, sabe? - sugeriu - Arranjar um investidor, ou sei lá, e abrir sua própria revista. Fazer o que quiser.
- É, isso seria legal..
- Seria.
Eles ficaram sorrindo um para o outro por um tempo. Quando o clima começou a ficar estranho, o músico balançou a cabeça, e estendeu a mão.
- Me dá o seu celular.
A garota obedeceu, e tirou o próprio telefone do bolso, entregando-o para ela. gravou seu número lá, enquanto ele fazia o mesmo no telefone dela. Trocaram os aparelhos outra vez, e os guardaram em seus respectivos bolsos.
- Não vá entrando em carros de estranhos por aí, ok? - ele advertiu, e os dois riram - Me ligue se precisar de alguma coisa, e eu vou fazer o possível para ajudar.
- Ok, e você... Bem... - deu de ombros - Me ligue, ainda estou te devendo um almoço.
A despedida foi um tanto estranha.
Beijo no rosto? Abraço? Aperto de mão? Eles não sabiam exatamente o que fazer, então apenas trocaram um abraço desajeitado, e acenou, enquanto se dirigia às grandes portas de vidro do prédio.
continuou lá, parado, observando-a se distanciar. Havia sido um bom dia, afinal. era uma garota legal, ele torcia para que as coisas dessem certo para ela. E talvez os dois ainda se encontrassem outra vez.
Ele, pelo menos, esperava que sim.
estava lá, devaneando, fitando as costas da garota, e então algo aconteceu. parou de andar, balançou a cabeça, deu meia-volta, e veio andando até ele em passos largos.
- Você falou pra eu fazer o que eu quisesse, então quer saber? Foda-se. - ela disse, antes de atirar os braços em volta do rapaz e beijá-lo com vontade.
segurou em sua cintura, sorrindo no meio do beijo.
Ah, sim, eles se encontrariam outra vez.
Bônus
Três anos depois
ouviu batidas na porta ao mesmo tempo em que seu celular vibrou no bolso do casaco. Ela olhou o relógio na tela do computador: eram nove da noite, e ela ainda estava presa no trabalho.
As batidas se repetiram; ela esfregou os olhos.
- Está aberta. - disse.
A porta se abriu um pouquinho, e Summer - sua adorável e prestativa assistente - colocou apenas a cabeça para dentro da sala.
- Estou atrapalhando?
- Não, não. - respondeu, com um sorriso - Pode entrar.
Summer então abriu completamente a porta, e cruzou a sala com seus passinhos apressados, os saltos altíssimos que compensavam a baixa estatura da garota fazendo barulho no piso de madeira.
- Pensei em trazer a revista para uma última checada, antes de leva-la para a impressão. - ela disse, colocando o amontoado de papéis sobre a mesa com muito cuidado - Nem acredito que é a nossa centésima edição.
riu.
- Eu não acredito que a ideia de um completo estranho num dia de ressaca deu tão certo. - disse, acariciando a capa da revista - Você sabia disso? Que um cara, que eu nunca havia visto antes daquele dia, me mandou largar meu antigo emprego e criar minha própria revista? - balançou a cabeça, divertida - E que eu obedeci?
- Não... Que cara era esse?
- Um muito, muito especial.
Elas se sentaram lado a lado sobre a mesa, os pés balançando no ar, e revisaram juntas a edição comemorativa. Take a Play #100 - Edição especial: O melhor do Arizona. The Maine na capa, além de reportagens, fotos e entrevistas com várias bandas da região, de The Summer Set a Jimmy Eat World. Uma verdadeira obra de arte.
Em quarenta minutos, estava tudo pronto, e encarava seu trabalho com admiração.
- Quer que eu deixe na impressão, ? - Summer perguntou, descendo da mesa.
- Não, deixe aqui que eu mesma levo. - ela respondeu - Obrigada, querida, pode ir para casa.
- Certo, boa noite, então. - elas se despediram com um abraço, e Summer saiu da sala com seus passinhos curtos e barulhentos.
, sorriu. Adorava aquela garota.
Ela desligou o computador, juntou suas coisas, apagando as luzes e deixando a sala em seguida. No caminho até a saída do prédio, ela pegou o celular no bolso do casaco. Havia uma mensagem de texto, e ela sorriu ao ler o nome na tela.
"Cheguei de viagem e estou morrendo de saudades. Precisa de uma carona? Amo você."
Ela abraçou o rascunho da revista que carregava, e discou números já bastante conhecidos no celular.
atendeu no sexto toque.
- Alô? - disse, com voz sonolenta.
segurou a risada.
- Oi, é do serviço de táxi?
Não sei o que escrever aqui, pra variar haha :P Ai, é isso, gente. Obrigada a todo mundo que chegou a ler até aqui, vocês são umas lindas <3