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Ela estava debruçada sobre a mesa do escritório ao lado de sua co-diretora criativa. As mulheres ajeitavam os últimos detalhes da campanha, quando Thiago surgiu a procurando. olhou para a porta ao reconhecer o assobio do namorado.
— Podemos nos falar um minuto? - ele perguntou.
Lilian dissera que voltaria depois para ajeitarem o que faltava, e deixou os dois a sós. já apresentava um vinco em sua testa, mas um sorriso calmo no rosto. Andou em direção ao namorado o beijando discretamente. Thiago sorriu abertamente e estendeu para ela o celular. havia o esquecido no almoço.
— Você tem um problema.
Olhou para o namorado sem compreender, após dar uma conferida no visor do aparelho.
— Te ligaram de um número desconhecido e eu atendi. Era um tal de Nick.
Ele já ouvira falar naquele nome logo que a conheceu, mas não deixou demonstrar a ela que se recordava disso:
— E ele está na delegacia, e pediu a sua ajuda. Um papo de só conhecer, você por aqui.
já havia, em poucos segundos de fala do namorado, ido da surpresa e preocupação para a raiva. O que Nick estava fazendo ali, e numa delegacia?
— Que merda ele está fazendo aqui?
— Tomei a liberdade de ligar para o seu primo, seu ex está lá no batalhão dele.
— Thiago, o que aconteceu? Como assim o Nick me liga e pede pra eu ir tirá-lo da delegacia?
— Eu não fiquei de conversa no seu telefone com o seu ex, né amor. Mas, quando ele falou o número da delegacia, eu liguei para o Diego para saber onde ele estava. Coicidentemente ele está sob os cuidados do seu primo.
— Eu vou ligar pro Diego.
deu a volta em sua mesa, com o celular preso entre a orelha e o ombro e guardava os papéis na gaveta. Thiago sentou-se no sofá da sala dela observando o desenrolar daquela situação. Sua expressão era a mais calma e sensata, o possível.
Depois de entender o ocorrido, ela desligou a chamada e massageou as têmporas encarando o namorado envergonhada. Thiago se levantou, sorriu confiante para ela e a abraçou. Após beijar-lhe o topo da cabeça, ele pegou a bolsa dela a guiando para fora daquela sala.
avisou à secretária que sairia e tentaria voltar a tempo da reunião com os novos clientes, mas, que ficasse atenta caso ela telefonasse desmarcando. Entrou no carro de Thiago protestando o quanto Nick era um karma em sua vida. Toda vez que ela achava que nunca mais o veria, ele ressurgia das cinzas.
Desde que havia se mudado para a cidade atual, e iniciado o namoro com Thiago após um término recente com Nick, ela nunca mais havia falado ou visto o ex. E há três semanas havia completado dois anos do fim da relação com o boxeador.
O namoro entre e Nicholas era cheio de "ires e vires". E após o tempo de dois anos de término - o máximo que haviam chegado - acreditava piamente que, não teria que encarar o ex pelo resto da sua vida. O relacionamento com o médico, Thiago, era tão estável e fadado à felicidade como o anterior nunca fora. Ela ainda protestava sobre "que ideia idiota foi esta dele, em me pedir ajuda?", enraivecida por ter ido até lá. Deveria mesmo tê-lo deixado se virar. Thiago parecia muito mais solícito a ajudar Nick do que ela. E ria das reações da ex.
— É perturbador, para mim, como ele ainda consegue tirá-la do sério.
— Não fique preocupado, tudo isto é fruto do ódio que sinto por ele.
— Isso não me deixa menos aflito, ódio é um sentimento muito forte. E sentimentos fortes são perigosos.
— Thi, isto não é hora para ciúmes. Eu estou puta que o Nick teve esta cara de pau.
— Embora não demonstre, eu também fiquei puto com isso. Mas, nós vamos lá ver o que está acontecendo. Depois dessa ajuda, nós largamos ele na rua.
— Quem dera fosse fácil assim se livrar de Nicholas Jonas.
Bateu a porta do carro e saiu em disparada para dentro da delegacia, seu namorado veio logo atrás. Na recepção pediu que chamassem pelo policial militar, seu primo, Diego. Ele demorou um pouco a aparecer, e abraçou a prima ao vê-la. Sorriu sacana da cara de furiosa dela.
— Quem é este cara, Isa? - perguntou num misto de zombaria e revolta pelo sujeito, ter colocado sua prima naquele recinto, e que ele já julgava ser um idiota.
— Meu ex.
— Ele é do Rio?
— É e não é, e eu não faço a miserável noção do que ele faz na cidade.
— Espero que chamar a ex na delegacia por ter sido preso não seja um plano dele para reconquistar a minha namorada. - Thiago falou rindo para Diego, que já era seu amigo desde o início do seu namoro com a prima dele.
— Ele não é tão idiota assim, eu acho. - confirmou , e nervosa e ansiosa concluiu: — E então Diego? Me explica, direito, o que aconteceu!
— Ronda normal, pegaram ele na praça sete com umas malas e fumando maconha. Ele veio prestar esclarecimentos e está detido desde então. Quando perguntaram se ele queria ligar para alguém, ele ligou. Mas, se eu soubesse que seria para você, eu não teria deixado.
— Não tô acreditando que o Nick está aqui por que parou para fumar um, Diego. Tá brincando né?
— Você sabe como são as coisas aqui, Isa. Ele estava na praça sete, ponto de tráfico e fumando. Porra, aí você me fode né!
— Deveria deixar ele preso, para deixar de ser burro! - afirmou a garota — Eu posso ir lá falar com ele?
— Já encaminhei ele a uma sala vazia, vamos.
encarou seu namorado, incrédula e sacudindo a cabeça em negação. Os dois seguiram o policial e Thiago ficou no corredor aguardando enquanto entrou à sala onde estava o ex. Ela fechou a porta num baque. Nick tomou um leve susto, e olhou para trás se deparando com a imagem da ex andando lentamente até à mesa onde ele estava. Ele apoiou a mão no lado direito do próprio rosto, e o cotovelo na mesa e sorriu com cara de bobo apaixonado. revirou os olhos e passou a língua sobre os dentes caninos. Hábito que ele conhecia bem e sabia o significado: ela estava furiosa com ele. Terminou de lamber os lábios, mordendo-os ao fim e encarou Nicholas como se fosse explodir. Ele recostou-se na cadeira com sua expressão cansada e antiga de "não vamos discutir". colocou sua bolsa sobre a mesa e sentou-se em uma das cadeiras.
— Fala embuste, o que caralhas você está fazendo aqui?
— Fui detido por fumar um baseado. Isso é normal por aqui? - ele riu inacreditável.
— Estou falando de o Horizonte, por que você está aqui?
— Oras, você comprou o Horizonte agora? Eu estou te devendo algum pedágio?
— Não seja cínico! Eu tenho cara de advogada de porta de cadeia, por acaso?
— Outch! Estúpida! - iniciava-se o trocar de farpas — Eu acabei de chegar na cidade, e não conheço ninguém aqui além de você. Eu já ia te ligar de qualquer forma.
— Pra quê? Eu não vou pagar a sua fiança, se é o que você quer.
— Não, não é pra isso, eu já paguei. Já depus, e estão me fazendo tomar um chá de cadeira.
— Nicholas... Vai à merda, cara! Eu saí do meu trabalho! Para quê você me chamou, hein?
— Eu já falei, não conheço nada aqui. Eu acabei de chegar, e tenho que ficar em algum lugar, e você pode me ajudar.
— Passam-se os anos e a sua cara de pau, intacta! Eu não sou guia turística.
— Isa... - a chamou com placidez pedindo uma trégua para o diálogo — Eu me mudei para cá.
Ela o encarava com o queixo caído. Apertou seus olhos numa linha fina de ameaça, e ele a encarava predador com um meio sorriso.
— O que você está armando?
— Uma mudança de ares! - cruzou os braços atrás da cabeça, divertido — E você sabe como eu sou desprendido. Peguei algumas roupas, dinheiro, documento e vim!
— E a sua maconha fedida que me fez perder este tempo.
— Desde quando, você é a certinha?
ignorou o comentário , deu um tapa na cabeça dele e foi até a porta. Falava baixo com seu primo, enquanto Nick observava-os na porta. Logo, Diego saiu e ela e Thiago conversaram entre si. Quando o primo dela voltou, ele entrou na sala com um papel para Nicholas assinar. O rapaz assinou e sorriu agradecido ao policial. Diego se despediu da prima na porta com um "se livra dele" sussurrado ao seu ouvido e um beijo no rosto. E bateu no ombro de Thiago com um olhar cúmplice.
— Vamos, embuste!
Falou para Nick risonho, que pegou suas coisas e levantou-se seguindo a ex e o rapaz que a acompanhava. Observava atento, os dois à sua frente, silenciosos. abriu a porta de um esportivo bonito, e o rapaz foi para o lado do motorista encarando Nicholas de uma maneira, diria ele, ameaçadora. Nick inflou o tórax em intimidação, como era seu hábito quando se sentia afrontado. E entrou na porta de trás, do lado de Isa. Dentro do carro, os três estavam silenciosos, até se pronunciar:
— Nicholas, este é o Thiago. Meu namorado.
Ela afivelava o cinto e os dois homens trocaram olhares pelo retrovisor.
— Amor, nos deixe no escritório que eu vou desovar o Nick em algum lugar. Não quero te atrapalhar mais.
O homem ligou a ignição em silêncio, apenas sorrindo para a garota. Nicholas, de repente, aproximou-se no vão central do carro e estendeu sua mão em cumprimento para o motorista.
— Prazer em conhecê-lo. Nicholas, o ex-namorado dela.
Sorria, e o encarou acima de seu ombro com contrariedade. Entortou sua boca para as gracinhas do ex, e apenas ligou o rádio após trocar olhares com Thiago. Seu namorado assim como ela, havia encarado Nicholas e não movimentado nenhum músculo para cumprimentá-lo. Focou silenciosamente sua atenção ao trajeto, dando partida com o carro.
I want you "I want you and no one else. I want you for myself. I want you, and nothing else girl. No one acting confused, I've got nothing to lose. I want you, and if I can't have you. Then no one will..."
beijou o namorado longamente, enquanto Nick já a aguardava do lado de fora do carro. Passou apressada por ele, e o rapaz calmo puxava sua mala de rodas atrás dela. Observou-a se apressar, com certa distância, e encarou os quadris sensuais dela. Continuava indiscutivelmente atraente, e até muito mais agora. Ela já segurava a porta do elevador impaciente com ele.
— Agradeceria se não me atrasasse mais. - afirmou quando ele passou por ela entrando ao elevador.
— Onde está me levando?
— Te levando? Aqui é o meu local de trabalho, eu estou voltando ao meu trabalho. Tenho uma reunião agora, e você me aguarda na sala de criação.
Ele assentiu seguindo-a novamente. As pessoas encaravam os dois, provavelmente por todos conhecerem o namorado dela e estranharem voltar com outro homem, que por sinal, parecia ter vindo para ficar - a julgar pela bagagem. Ela trocou palavras com a secretária, e entrou em sua sala. A mulher se levantou e sorrindo cordialmente encarou, Nick. Pediu a ele que a seguisse.
— Ela está muito atrasada? - perguntou em baixo tom para a secretária enquanto caminhavam no corredor.
— Um pouco sim, e detesta se atrasar. Mas, não se preocupe. Todos conhecem o profissionalismo dela e sabem que se há um atraso, foi por uma causa justa.
Ele abaixou a cabeça pensando quão babaca continuava sendo, mesmo sem querer. Ele não era uma causa justa, e sabia disso. A moça que o havia acompanhado abriu a porta do lugar onde ele esperaria voltar. Havia frigobar, almofadões espalhados, livros, computadores, uma televisão com dvd, e algumas telas projetoras do local. Um espaço criativo como aqueles que dizia que seria um sonho trabalhar.
— Fique à vontade! Há guloseimas no frigobar e um banheiro àquela porta à esquerda.
Ele olhou para o local que a moça indicara, e sorriu acenando afirmativo. Deixou sua mala em um canto, junto com sua jaqueta. Jogou-se em um dos almofadões, um pouco desengonçado, e retirando seu celular do bolso entretinha-se até ela voltar.
Na outra sala, concentrava-se na reunião, embora olhasse frequentemente para a porta, a fim de espionar se Nick estaria aprontando por ali. Ela levou quarenta minutos para finalizar o novo negócio e após se despedir dos novos clientes com um sorriso e aperto de mãos, ela aguardou que eles saíssem e apressou-se à sala de criações.
Nicholas comia um pedaço de torta e assistia o vídeo da última campanha, que estava no dvd. observou aquela cena com incredulidade divertida. Fechou a porta devagar, e Nick a notou naquele instante. Levantou-se desligando o aparelho televisor.
— E aí ? Deu tudo certo? - seus olhos demonstravam curiosidade.
— Deu sim.
— Legal! Me senti um pouco culpado, em fazer você se atrasar.
— Nicholas... O que te deu na cabeça, hein?
— Sobre o que estamos falando agora?
Ele encarou-a, com sua expressão confusa tão inocente e o canto dos lábios sujos de chantilly. Às vezes Nick parecia uma criança ingênua, o que fazia sentir-se na necessidade de cuidá-lo, entretanto, a mesma criancice imatura a fez terminar o relacionamento anos atrás. E o paradoxo tão conhecido por ela, castigava e recordava dos seus desejos e decisões.
— Estou falando de ter vindo para cá... - ela apontou as bagagens dele e ironizou — De mala e cuia!
— Eu já falei Isa, eu decidi me mudar para esta cidade.
— Eu sei, Nicholas.
Suspirou pesadamente e sentou-se numa almofada ao lado daquela que antes, Nicholas estava. Ele jogou o guardanapo na lixeira da sala, e encostou-se na mesa paralela à . A garota estava relaxada no almofadão, sua saia mid acima dos joelhos mostrava um pouco mais da coxa dela pela fenda lateral. E seu tórax denunciava a respiração pesada dela. Ela sempre respirava de uma maneira que parecia estar exausta. E Nicholas adorava aquilo. Adorava observar o movimento de seus decotes. inclinava a cabeça para trás de olhos fechados. E por mais que ele soubesse que não era um convite para ele avançar, tocá-la era o que mais queria. Nicholas observava em silêncio os gestos de , e reconhecia o significado daquela cena toda: ela refletia sobre o que diria a ele, e se preparava para o que iria escutar.
— , eu não vou mentir que o fato de você estar aqui tenha influenciado a minha vinda. Mas, não foi só por isso.
— Ótimo, então agora que você sabe que estou em outra irá focar nos outros motivos que o trouxeram e ficar longe de mim.
— Você ainda tem tanta raiva por mim?
— Não é raiva. Mas, depois de tantas idas e voltas eu compreendo que amizade não é algo possível entre nós. E na verdade, nem quero.
— É uma pena! Meus pais te mandaram abraços. E Kevin, e Joe e Franklin. E a Danielle também, sente sua falta.
— Sua família é muito querida.
— Por quê se afastou deles, então?
— Porque faz parte do lance de não ter nenhum contato com você.
— Eu acho injusto.
— Você não tem que achar nada.
Eles já se olhavam com desafio e ao notarem que nova discussão se daria, suspiraram e abaixaram o olhar ao chão. Como um espelho, antigo.
— Vai, vamos dar uma trégua! Sente-se aqui. - proferiu indicando a almofada que ele estava antes.
— Eu não vou atrapalhar a sua vida.
Ela o encarou em dúvida.
— Ok, eu prometo tentar.
— Olha, eu estou feliz agora.
— Eu nunca a fiz feliz?
— Claro que fez. Mas, Thiago é a melhor coisa que me aconteceu desde você.
— Entendo...
— Eu acho que a sua vinda é um problema sim, porque eu te conheço Nicholas. E realmente espero que você tenha outros motivos para vir.
— O mundo não gira em torno de você, .
Ele riu, por dois motivos. Um: era mentira que havia vindo por outras coisas além dela. Dois: porquê ela sabia que era mentira.
— Eu achei que você já tivesse ido embora do Rio de Janeiro.
— Depois do último cinturão eu decidi ficar por mais um tempo... Na verdade, nós tínhamos terminado recentemente e eu não queria afirmar isso partindo, no primeiro voo de volta à Los Angeles.
— Desistiu de ir embora, mais um vez, pelo visto.
— Eu tenho um campeonato ainda. E depois dele, meu coach quer que eu vá competir em Los Angeles. Ele acha que passei tempo demais no Brasil. E minha família é outro motivo para voltar.
— Nunca fez bem a você ficar distante deles, eu sempre te disse isso.
— Mas ficar longe de você também não.
— Nick...
Antes que pudesse reclamar, Nicholas a puxou para si. Ele era forte suficientemente para tirar a garota da almofada que estava e colocá-la em seu colo num puxão. E assim havia feito. Suas bocas colavam-se com a urgência absurda de anos. Ela não achava que sentiria aquela necessidade do gosto dele, até aquele momento. Nicholas passou suas mãos por baixo da blusa dela a acariciar as costas da ex. E ao perceber que se afastaria, forçou a mão na nuca dela, na tentativa de não deixar que ela se separasse dele. A mulher, confusa e sedenta aos toques antigos do ex-namorado, espalmou as mãos no peitoral dele e se deixou levar. Maldito momento. Nicholas a notou entregue. E com a mão furiosa que estava nas costas quente dela, mudou a direção para seus seios. E torturava como há tanto tempo não fazia. Lamentou o momento em que ela se recordara de Thiago e bruscamente levantou-se do colo de Nicholas.
— Você não tem jeito! - exclamou furiosa se ajeitando e observando se alguém haveria os pego.
— Eu não consigo resistir, . E nem você!
— Qual parte do "eu estou feliz com Thiago" você não entendeu?
— Toda. Mas, você perdeu a razão ao me deixar notar o quanto seu corpo sente falta do meu.
— Nicholas, levanta. Vou te levar de uma vez por todas ao hotel. E não quero ter notícias suas depois disso, entendeu?
Ele se levantou rindo e antes de pegar suas coisas, a puxou de surpresa os colando novamente. tinha os olhos arregalados de susto e prudência. As mãos de Nicholas tocaram os quadris dela, e ele apalpou seu bumbum de um jeito que a fazia gemer baixo. Ela se odiava por ser fraca com ele. E lambendo os lábios dela, ele se separou pegando suas bagagens e disse:
— Não é o que parece.
"Trynna break the chains, But the chains only break me..."
e Thiago estavam na casa dele, e ela iniciava uma dança provocante para o namorado entretido nas suas leituras. Ele começou a rir e tirou seus óculos de grau os colocando sobre a mesa e os jornais. Caminhou até ela, a pegando junto a si. Dançavam juntos, rebolando. E a música baixa se fazia quase inaudível diante suas risadas.
Do outro lado da rua, no prédio de frente, Nicholas espancava o saco de areia em sua sala. Já havia se mudado para um apartamento em frente ao prédio do rival, faziam três meses.
Parou um pouco, o seu treino e pegou a garrafa de água caminhando até a janela, e dando de cara com a cena, mais detestável até então: e Thiago na sala da casa dele. Ela vestia-se de uma camisola fina, rosada que enaltecia sua pele. E ele estava sem camisa, e sem pudores a tocar o corpo dela. Da dele.
Aumentou o volume de seu rádio, e treinou como nunca antes.
Como ela poderia estar com aquele idiota?
Depois do dia de sua chegada, ele não havia visto ou falado novamente com ela. Mas, seguia os passos de sua ex e do atual namorado dela. Na saída do escritório, o levara para o Othon Hotel, bem no centro da cidade aonde Nicholas poderia se virar muito bem. Eles não comentaram sobre a agarração anterior, mas, estava implícito entre os dois que aquele assunto não teria acabado. Nick a agradeceu, e deu-se por "se virar muito bem" como ela dissera. Quatro dias depois seu coach havia chegado e ocupado o tempo dele com treino, treino e treino. Era por aquilo que Nicholas não havia mais visto . Em seu tempo livre, ele arranjara tempo de pouco a pouco espionar o "arquinimigo". Seu treinador o auxiliou na locação do imóvel, mas após três dias seguindo a partir da empresa em que ela trabalhava, o garoto conseguiu descobrir onde o namorado dela morava. E então, alugou o atual apê. E mais um dia seguindo Thiago, ele descobriu a profissão dele.
— Jack! O filho da mãe, é médico!
Nicholas subiu com várias sacolas as deixando sobre o sofá e, chamando a atenção de seu amigo e treinador que estudava algo em seu notebook esparramado no mesmo sofá.
— Bom. Ela subiu o nível.
— Deixa de ser babaca!
— Nicholas! sempre foi ambiciosa e muito séria, você queria que ela continuasse a namorar com boxeadores?
— Qual o problema em ser boxeador, meu coach?
— Nenhum, fora o fato de que todos que eu conheci, são geniosos, instáveis e problemáticos.
— Eu apenas passei por uma fase de farras! Qual é? Ela sabe que eu não sou daquele jeito, ela me conhece! Ela me viu com a minha família, eu não sou aquele babaca!
— Não, não é. Mas foi esta a referência que você passou para ela enquanto esteve no lugar que hoje Thiago ocupa.
— Você é pior amigo que eu poderia ter.
— Os melhores amigos, geralmente escutam isso.
— Vou treinar.
— Excelente, estou estudando seu treino novo. E treinar é a melhor coisa que você faz.
Nicholas vinha dia a dia, após descobrir a profissão de Thiago, repensando sua vida. O seu sonho de cantar, abandonado. Os planos de sua família para ele. A faculdade de Educação Física, que mal levou adiante. E por aquilo também decepcionara . E agora, encarava a sua realidade com menos admiração. Ele era menos digno de , do quê Thiago?
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Thiago estava curioso para saber por quais razões Nicholas não procurara mais , desde o dia da delegacia. E a namorada nada sabia, ou dizia não saber. Não se sentia ameaçado por Nicholas, pois, se algo ele tinha certeza era do amor de por si. Entretanto, ela não havia mencionado mais nada sobre aquele dia, e não era "paz" que ambos esperavam com a chegada de Nick. chegara no exato instante em que ele observava pela janela de sua sala, a rua lá fora. E sorriu ao ver a namorada chegando cheia de pastas nos braços, enrolada para entrar. Qual não foi sua surpresa quando alguém a ajudou a entrar. E era justamente, Nicholas. De onde ele havia saído? também não estava contente.
— O que você está fazendo aqui?
— Só de passagem.
— Você está me seguindo Nicholas?
— Para de achar que minha vida gira em torno da sua, . Eu só estava de passagem por aqui e coicidentemente te vi. Não pode?
— Coincidentemente?
— O destino deve querer dizer algo com isso, não? - sorriu sacana.
— É, quer dizer que você é a minha pedra no sapato.
Nicholas não se importou com a grosseria dela, e arqueou uma sobrancelha sorrindo. A ajudou com as pastas, e abriu o portão para ela. olhou contrariada para a janela da casa do namorado, e nada viu. Thiago havia se escondido. O que ele esperava que acontecesse? Estava mesmo desconfiando dela? A mulher passou, sendo seguida pelo ex.
— Você mora aqui?
— Não. E não é da sua conta o que faço aqui.
Nicholas entregou as pastas para ela, assim que ela parou no portão do condomínio e tocou um interfone. Se distanciou devagar, sorrindo e olhando para ela. Ao passar pelo portão externo, olhou para cima e avistou Thiago. A menina atenta ao ex e ao interfone que ela não parava de tocar praguejava mentalmente a possibilidade de Thiago não estar em casa. Nicholas, ao passar pelo portão externo, olhou para cima e avistou Thiago. Sorriu vitorioso para o rival, e acenou-lhe. E depois de Thiago sumir vagarosamente da janela o encarando, Nick falou mais alto para a ex:
— O Thiago já vai abrir! Até mais, !
subiu apressada assim que o portão destrancou e ainda podia ver a face de Nicholas a lhe admirar distante.
— Thiago? - gritou ao entrar em casa encontrando a porta aberta.
— Oi amor! Na cozinha!
— Oi! - ela caminhou até ele, largando as pastas sobre a mesa e o beijando — Por que demorou a me atender?
— Você tocou muito? Ele soou apenas agora.
— Hum... Deve estar com algum mau contato.
— Mas, porque a pressa, aconteceu alguma coisa?
— Não, eu só estava enrolada.
— Ah sim...
Mentiram. Ela sabia que ele havia mentido, pois ele havia visto Nicholas. E ele sabia que ela havia mentido, pois ele também avistara Nicholas. Mas, nenhum dos dois tocaram de novo naquele assunto.
Manhã de domingo, brisa mansa e corria pela calçada de seu bairro quando seu telefone tocou. Era uma chamada de Nicholas.
Como ele ainda podia ter o número dela? Ela deveria trocá-lo. Entretanto, a verdade é que não desejava que ele não o tivesse. Recordou-se o beijo quando se reencontraram e atendeu imediatamente a chamada. Nick estava na janela de seu apê, com seu copo de suplemento em mãos. Observava a mulher que se despedia com um beijo quente, do homem na calçada. E pegou o celular para discar o número da ex.
— Fala embuste! - ela atendeu carinhosa.
— Bom dia par você também, .
— Fala logo, estou ocupada!
— Tenho uma luta hoje à noite, no tênis clube. E vou deixar entradas para você.
— Eu não irei.
— Qual é, eu sei que você gostava de assistir minhas lutas, e me davam sorte.
— Sendo sua ex, agora podem dar azar.
— Não darão. Te espero lá,
entendido?
— EU. NÃO. IREI. — Eu disse que deixei "entradas" para você. Inclui seu namoradinho.
ficou muda um tempo e parou de correr. Respirava ofegante e Nicholas, embora soubesse que ela não estava fazendo nada luxurioso, imaginou-a ofegante sobre ele. Ela imaginava o que aquele convite significava. Nicholas teria amadurecido tanto, ao ponto de convidar Thiago e ela para um evento amigável?
— Estou surpresa.
— Não pare de correr! Vai atrapalhar o treino! - ele ralhou com ela, para afastar seus pensamentos e fazê-la se lembrar de quando praticavam juntos. E funcionou.
Lá estava ela sorrindo de canto, ao lembrar dos dois apostando juntos.
— Eu vou falar com Thiago, se ele topar eu irei.
— Ele vai topar.
— Por que a certeza?
— Porque ele fará tudo para me estudar de perto, e eu farei de tudo para mostrá-lo do que sou capaz naquele ringue.
Nick a mandou um "beijo de língua molhado e quente" e desligou a chamada. sorriu e ao perceber seu próprio sorriso, sacudiu a cabeça em negação e continuou a corrida. Thiago detestara o convite de Nicholas, pois significava que ele ainda tinha contato com ela. E os dois discutiram por aquilo. E nenhum dos dois foram à luta. Ocuparam-se com o sexo de paz, embora desejasse muito estar gritando frente ao ringue.
" 'Cause if I want you, then I want you, babe.
Ain't going backwards, won't ask for space.
'Cause space was just a word Made up by someone who's afraid to get too...
Close, ooh... "
No dia seguinte à luta que perdera, Nicholas a telefonara ansioso por uma explicação. Ele sabia que ela não o devia, alguma, embora a tenha aguardado fielmente antes de entrar ao ringue. No início não concentrou-se muito bem, pois, a procurava entre as pessoas até o primeiro soco que o levou a uma encurralada na tela de proteção. Depois do esporro de seu treinador, ele esqueceu-se que a garota não estava lá de novo.
Ela não mentira, foi sincera: "Thiago não quis ir", foi sua resposta a ele e desde então não se falaram mais. Três semanas se passaram e lá estava no seu escritório, quando Luís adentrou-lhe a porta anunciando o novo cliente. E qual não foi a surpresa: estava diante do boxeador rival de Nicholas.
— Por favor, entrem. - ela disse se levantando e indicando o sofá à frente de sua mesa.
Sentou-se nele em companhia dos clientes, sua co-diretora criativa chegou em seguida juntando-se a eles. pedira um café à sua secretária.
— Senhorita , como adiantamos por telefone se trata de uma campanha de marketing para promover Steve Tyson durante a temporada. Queremos que o senhor Tyson tenha visibilidade no país, enquanto estiver por aqui.
— Eu desejo voltar a Los Angeles com glória e honra conquistadas aqui. Meu rival já está lutando aqui no Brasil por um tempo, e a última vez que nos encontramos ele levou o meu cinturão. E eu o pegarei de volta.
Steve não falava português, mas, entendeu cada palavra em inglês dita por ele. E sorriu discretamente ao ouvi-lo reclamar de perder o cinturão para Nick.
— Aliás, senhorita ... Não nos conhecemos? - ele perguntou-a.
olhou para sua parceira de trabalho, que estava tão curiosa quanto os outros na sala, e sorrindo descontraída negou ter tido "a honra de conhecê-lo antes".
— Steve, quer mais do que ganhar um público nativo. Ele deseja ofuscar a carreira que Nicholas já conquistou no Brasil. Mesmo diante de tantos escândalos.
— Entendi... Bem, senhores... Acreditamos - apontou a si e sua co-diretora — que não se faça necessário manchar a imagem de um para promover o outro. Isso é o tipo de método de empresas publicitárias de baixo nível. Nós, da PubliCenter encontramo-nos num padrão elevado de qualidade e respeito no mercado. Podemos garantir que transformaremos Steve Tyson no queridinho do boxe.
Assim que findou-se a reunião, Lilian encarava com uma cara muito animada e satisfeita. Sobre a diretora, já não se podia dizer o mesmo. E Lilian curiosa para saber o motivo daquela aflição não se conteve a interrogá-la.
lhe contou sobre Nicholas, seu ex-namorado boxeador que era rival de Steve Tyson e que, por uma infelicidade do destino, havia retornado para sua vida em poucas semanas antes.
— ! Esta campanha vai mover uma grana forte para a PubliCenter! Não misture as coisas!
— Você sabe muito bem, que eu não sou de misturar trabalho com outras coisas - advertiu a amiga, a fazendo se tocar no que havia dito — Apenas, não será fácil ser a responsável por Steve nesta temporada sem que pareça um ataque ao meu ex.
No entardecer daquele dia, chegou à casa de Thiago e depois do jantar contou ao namorado sobre a nova campanha. Cujo folders, outdoors, e slogans já fervilhavam hipóteses em sua cabeça. Ela amava o boxe. Graças ao Nicholas. E sentia falta daquele mundo, desde o novo namoro não assistira nem por televisão, uma luta se quer. Mas, sabia que admitir para Thiago que estava animada com aquilo seria um problema. E mesmo sem falar muito da nova campanha, mal teve tempo de explicar o restante do ocorrido.
Thiago já fora iniciando uma discussão descabida, de que ela estava entrando muito no mundo do ex. E que começaria a se aproximar mais dele. Disse que era contra a campanha. E ainda que o dissesse ser uma campanha para o rival de Nicholas, não adiantava. Thiago estava ficando cego de ciúme.
— Eu não vou te perder para ele!
Com esta frase findou sua discussão com . Ela se sentiu ultrajada, e silenciosamente pegou suas coisas, olhou para Thiago com incredulidade e saiu do apartamento do namorado. Na calçada andava tempestiva em direção ao seu carro e vestindo o pesado sobretudo, ainda desengonçada. Ao abrir a porta do motorista, olhou para a janela do apartamento de Thiago e lá estava ele, encarando-a com raiva. Ela bateu a porta do carro e disparou o velocímetro.
Do outro lado da rua, escondido entre suas cortinas, ao lado de seu telescópio estava Nicholas, que havia presenciado a cena à sua frente. E sorria feliz, bebendo seu café. Caminhou manso até o sofá da sala e sentou. Colocou os pés sobre a mesa de centro, e ligou a TV em um canal qualquer de luta. Não conseguia tirar os pensamentos da cena assistida e da possibilidade de estar prestes a terminar tudo com Thiago. Ele só queria saber o motivo da discussão que a fez sair com tanta raiva.
Os dias iam passando apressados, e Thiago e estavam bem novamente. Na verdade, não tão bem quanto antes de Nicholas ressurgir. Parece que desde a chegada dele, mesmo à distância tudo encaminhava como um agouro. sentia corvos revoando seu relacionamento, e trabalhar incessante na campanha de Tyson só piorava. Thiago detestava vê-la tão entregue àquela campanha, que só diferenciava-se de outras tantas, no tema. E a dedicação de era a mesma. O ciúme o fazia enxergar o que ele queria, e pela falta de paciência de para atitudes abusivas ambos estavam pisando em ovos, um com o outro.
Ela carregava pilhas de papéis, e rolos de banners sob os braços e - como sempre - enrolava-se para abrir a porta de casa. Novamente foi surpreendida por Nicholas. Ele pegou os banners que caíam ao chão enquanto ela colocara a chave na maçaneta.
— Sempre enrolada, hein .
— Nicholas?
— Desta vez eu não estava de passagem.
— Me seguiu não é?
— Sim. Estava a toa.
Ela pegou os materiais da mão dele, e o observou por um tempo. Nicholas parecia-lhe tão calmo, e amigo. Ele afastou a porta da casa dela, para que ela passasse.
— Quer entrar? - ela convidou.
sorriu e Nicholas assentiu, entrando logo atrás dela. Ela passou na frente dele, com o sorriso desfeito num semblante de desespero. Mas o que ela estava fazendo? Onde havia metido a cabeça? Numa tigela de merda?
Deixou os papéis sobre a mesa, deixou Nicholas parado ao lado dela. Pediu licença e adentrou ao seu quarto. Largou a bolsa em qualquer canto e imediatamente discava para Thiago. Com um desculpa de "podemos nos ver hoje?" torceu com dedos cruzados, para Thiago falar que havia plantão. Não que ela não quisesse vê-lo. Queria e muito! Mas, estava morrendo de medo do namorado concordar e querer ir até lá, até porque ela o tinha telefonado para sondar se ele pretendia ir até a casa dela.
Thiago, felizmente tinha plantão. E após desligar ela retornou à sala e encontrou Nicholas com a sua pior expressão de decepção vendo os projetos da campanha.
— Vai fazer campanha pro idiota do Tyson? - perguntou olhando-a surpreso e confuso.
— Sim.
— Está tentando me atingir?
— Como isso poderia atingir você, não somos nada um do outro.
— Somos ex-namorados e como o Tyson não considerou isto?
— Ele não...
— CLARO! - interrompeu ela — Ele quer me atingir, e por isso te escolheu!
— Nicholas, ele nem se lembrou de mim, ok? E eu não tenho motivos para não fazer a campanha. É uma excelente remuneração. E é a primeira vez em anos que posso ter contato de novo com o boxe, você sabe que eu gosto.
Nicholas sorriu ameno. Ela estava de costas em sua cozinha preparando uma vitamina para os dois. Ele relembrou-se de quando eram namorados e no meio da discussão ela preparava-lhes uma vitamina de trégua. E ela não havia se dado conta do que estava fazendo naquele momento. E nem de quem estava ali. apenas conversava como se fossem amigos. A verdade era que com as brigas entre ela e Thiago, ela não tinha mais o namorado para ouvir-lhe falar de trabalho.
Nicholas sorria com olhos apertadinhos quando a ouviu dizer "você sabe que eu gosto de boxe". Ele caminhou lento até ela, e parou ao seu lado encostado à pia.
— A primeira vez em anos que poderia ter tido contato com o boxe, foi quando te convidei para a luta. Fui eu quem te proporcionei isto, e não o Tyson.
— Você não, porque eu não fui à luta.
— Porque não quis.
Ele sorriu travesso, e ela ao notar que era implicância dele, riu também. Pegou as cascas e sementes das frutas para jogar ao lixo e saiu pela porta da cozinha.
— Eu posso morar, quinze anos aqui, mas nunca me acostumarei que vocês não tem trituradores de alimento nas pias. - ele disse quando ela voltou.
— Mesmo se tivesse, sabe que odeio aquilo!
— Acha antihigiênico e morre de medo.
— É... Isso aí, você sabe.
— Sei mais de você, do que você imagina.
Eles ficaram se olhando silenciosos, e estava sem graça. Nicholas queria beijá-la de novo, mas, ele a conquistaria pela inteligência e não pela impetuosidade. Bem sabia que não era o estilo dela, apaixonar-se por caras impetuosos. gostava da calmaria, dos planejamentos, e das surpresas que dão frio no estômago. Então, ele apenas se aproximou beijando a testa dela. E ela corou com aquilo. Estava surpresa por um ato tão singelo de Nicholas, até parecia com o seu velho Nick. Sorriram e ela serviu-lhes os copos cheios de vitamina. Beberam tudo em silêncio, e depois Nicholas agradeceu e se despediu. o levou até a porta, e antes que saísse ele lhe falou: "Espero mais convites como este". assentiu tímida e ele foi embora, caminhando até perder da vista dela.
entrou em casa com um sorriso diferente. Começou a pensar em como Nicholas teria passado todo aquele tempo, em que estavam separados. O que ele teria feito de bom na sua vida, ou se teria ido cada vez mais fundo no poço. Pensou na culpa que sentiu por terminar com ele quando ele mais precisou, e depois em como não era culpada por querer estar ao lado de alguém que a fizesse bem. Pensou na família Jonas, que mesmo poucas as vezes de contato, sempre demonstraram amar a garota assim como ele. Pensou e repensou no que havia feito Nicholas perder os trilhos, naquela época, e em como tudo desandou rápido demais.
Lágrimas começavam a cair dos olhos dela. E então a dor veio pouco a pouco. A dor de um choro que nunca viera. Desabou em lágrimas ao lembrar do quanto sentiu a falta dele e não quis voltar por julgar que não era certo. E de como o amou. Lembrou das melhores lembranças entre eles, e como doía ainda mais. Olhou os papéis em sua mesa, e seus pensamentos foram até Thiago. Havia começado com Thiago muito precoce. Não havia sofrido, chorado, tomado nenhum porre por Nicholas e já estava descontando em uma nova história de amor o tempo de vitória que não tivera com Nicholas. Oras, que injusto! Tiveram vitórias juntos sim! Mas, não tiveram tempo de eternizá-las como queriam. O sentimento ali, naquele momento de choro e reflexão, era de um parto interrompido. Era isso a relação com Nick: um parto interrompido que na primeira contração não conseguiu segurar.
Voltou-se para Thiago, embora tudo a levasse a pensar em Nicholas. A relação com Thiago era tão estável, e bonita e feliz. Sentia estar passando pela primeira contração no novo relacionamento também, e tudo ameaçava caminhar pelos mesmos passos tortuosos de antes. O que estava acontecendo?
O problema era ela? Thiago? Ou os dois? Ou ainda, ter começado a namorar com ele sem viver o luto do outro fora o presságio do futuro fracasso? Por que Nicholas tivera que voltar?
A campainha de sua casa tocou. E ela limpou as lágrimas e ainda ilustrando seus pensamentos, pela lentidão que se movia, abriu a porta dando de cara com Nicholas molhado. Havia iniciado uma chuva sem que ela percebesse.
— Eu tentei não agir por ímpeto. Mas, eu só quero você.
Ele disse e avançou sobre ela, a beijando furiosamente. Fechou a porta com o pé e o estrondo alto indicava o som do que seria a vida dela a partir dali: estrondos, e mais estrondos. também se entregara àquele beijo. Subiu no colo de Nicholas e agarrou-lhe a nuca com urgência e necessidade, o garoto segurando-a com apenas um braço pelas costas da menina, hábil desabotoou a própria calça. E a peça de roupa lhe escorreu pernas abaixo ficando jogada ao caminho, os caBel os dela eram a algema perfeita para os punhos dele. Se colocaram ao sofá, e ele a encarou vagarosamente antes de beijá-la de novo. Sorriram felizes, e o puxara de volta para ela. As roupas voavam pelo cômodo, e as línguas brincavam pelos corpos um do outro. As costas de Nicholas demonstravam seus músculos fortes se movendo, contraindo, e explorando pegadas furiosas do corpo dela. As pernas de entrelaçaram o quadril, agora nu, de Nick. E ouviu-se sob o barulho da chuva o arfar e gemidos dos dois.
Nicholas sentou-se no sofá e inclinou a cabeça para trás, com um sorriso predador. Ela voltara de novo, andou lentamente até ele, abriu as pernas e sentou-se no colo dele. Ele fechou os olhos. Tentava controlar-se, até ela mordiscar sua orelha. Então suas mãos se espalmaram de novo nos quadris dela, e a estimulavam no ir e vir tão sexy e provocante que o fazia soltar os gemidos roucos que a deixavam excitada só para ele.
A chuva cessara e depois de tudo o que havia acontecido naquela sala, Nicholas adormecera. Mas, não. Ela não conseguiu. Embora cansada seus pensamentos iam até Thiago no trabalho. Como ela poderia ter sido tão idiota?
A publicitária não pretendia terminar o namoro com Thiago. O que havia feito era errado, mas seria ainda errado se entregar a uma aventura com o ex-namorado e abandonar o relacionamento que havia construído até então. E contar para Thiago também não era uma hipótese. Nicholas remexera-se no sofá, e abriu os olhos com um sorriso bobo no rosto. Eles se olhavam.
— Eu não vou terminar com Thiago. - ela soltou atribuindo o sorriso de Nicholas à ideia de que ela terminaria o namoro.
— Eu não te pedi para terminar nada com ninguém, ou pedi?
— Nicholas, é sério. Foi um erro.
— Blá, blá, blá você não deveria ter feito isso e um monte de outras desculpas... - ele levantou-se ainda nu a encarando tranquilo.
— Se veste, por favor.
— Para de agir como se fosse tímida. Você gosta deste corpinho, que eu sei.
Ele levantou-se rindo e foi até a geladeira pegando um doce qualquer na geladeira e dando uma colherada. Ela revirava os olhos ainda o encarando.
— Foi só uma transa , eu não estou achando que você vai largar o senhor perfeito pra ficar comigo, ok? Até porque... - caminhou até o sofá se jogando nele novamente — Se antes, sem outra pessoa no caminho você não foi capaz de ficar ao meu lado, como ficaria agora que tem ele?
As palavras de Nicholas caíram como um tapa de luva. abaixou a cabeça e sussurrou:
— Me desculpe por te ferir.
— Já a desculpei há muito tempo, porque te amo.
— Nicholas... - suspirou — Estou confusa.
— Entendo... Quer que eu vá embora agora?
— Não.
— E então?
— Só fica aqui, e calado.
— Tudo bem. Mas posso ficar nu?
riu divertida. Era o antigo Nick ali. Ela se convencera depois daquela tarde que ele voltara. Ele voltara para ela.
Havia se passado um mês desde o ocorrido na casa de , e Thiago e ela pareciam ter se acertado. Ele até a acompanhou no lançamento da campanha de Steve Tyson.
Nicholas havia a dito na casa dela que ficasse tranquila, pois ele não se oporia à campanha que ela faria para o rival, porque o melhor dela só ele tinha. E nem mesmo Thiago era capaz de extrair o melhor dela. E ela não podia discordar. Com Thiago, era tudo fofo, perfeito, mas não chegava ao carnal que era com Nicholas.
Ela sorria cumprimentando os convidados da PubliCenter, quando avistou no meio de todos um par de olhares animalescos. Era ele. Olhou em busca de Thiago, e ele conversava com Lilian e outras pessoas da empresa mais afastado. Voltou a encarar o lugar onde havia visto os olhos de Nicholas, e seguiu calmamente até lá. Já não via nada, mas continuou andando até que Steve surgiu em sua frente.
— Ah! Steve! E então o que achou?
— Maravilhoso . Sabe o que também é maravilhoso?
— O quê?
— Você.
Ele a olhava com uma expressão de brincadeira e ela não sabia se o levaria a sério. Sorriu sem graça. E tocando o ombro dele, disse que precisava ir. Mas, antes que se distanciasse, Tyson puxou seu punho a fazendo virar.
— Me lembrei de onde conheço você.
— E de onde seria? - ela perguntou indiferente.
— Dos braços de Nicholas Jonas.
— Já faz muito, muito tempo.
— E por que aceitou a campanha do rival dele, se era tão apaixonada por aquele idiota?
— Por que, diferente do que o senhor está me mostrando, senhor Tyson... Eu não misturo trabalho com vida pessoal.
Soltou-se furiosa da mão dele, e saiu deixando Tyson sorrir irônico no meio da multidão. Foi até a pilastra onde achava que Nicholas estaria escondido, e não o encontrou. Virou-se para a porta ao lado, esfregando a nuca como se tivesse alucinações. Nicholas apareceu bem vestido à porta, sorrindo para ela com os mesmos pequenos olhos. Ela sorriu e observou se alguém a espiava. Ninguém. Caminhou até ele e escondidos foram para a varanda do salão, num canto que não pudessem vê-los.
— Largou o médico perfeitinho para me encontrar às escuras?
— Eu vim advertir, que seu nome não consta na lista. - ele riu ao ouvir a desculpa de .
— Eu ouvi o imbecil do Tyson com você. Ele acha que vai tirar você de mim?
— Alguém precisa contar a ele, que outro já fez isso.
— Verdade. Outro que está conversando com mulheres menos interessantes enquanto você corre em minha direção.
fez bico e detestou o comentário. Bateu no ombro de Nicholas que sorria.
— Veio fazer o quê Nicholas, procurar confusão?
— Não. Te parabenizar, pela linda campanha. E pedir pra não caprichar muito mais, e me deixar sem meus fãs.
— Você gostou? - sorriu boba.
— Se eu não conhecesse o Tyson, estaria encantado com ele agora.
— Nem tanto, não exagere.
— Fez um ótimo trabalho. Eu só vim para dizer isso. E te dar um presente.
— Presente?
Puxou e a beijou. O beijo calmo e apaixonado que era típico dos dois, e desde então não havia tido vez. Estavam tão sedentos um do outro, que os beijos anteriores tinham sabor de luxúria. Naquele momento, se recordaram do passado. E a cabeça de rodopiou, enquanto sentia os batimentos de Nicholas acelerarem sob a sua mão fina, espalmada no peito dele.
Logo que separou-se do beijo com ela, ele saiu rápido e furtivo deixando a garota abobalhada. Ela retornou para dentro, e Thiago a procurava.
— Aonde estava, meu amor?
— Cumprimentando alguns convidados querido.
— Ah sim... Eu tenho que ir, me ligaram do hospital.
— Ah, tudo bem. Eu pego um táxi.
Thiago a beijou num selinho e saiu disparado. Ela o viu se afastar, desanimada. Lembrou que o namorado sequer havia elogiado ou falado qualquer coisa sobre a campanha ou sobre a festa. Sorriu disfarçadamente para Lilian, que estava recebendo os cumprimentos de algumas pessoas e saiu em direção aos diretores da PubliCenter.
, depois que chegara em casa passara a noite pensando em Nicholas, até adormecer. Ao abrir os olhos, recebia beijos por todo o rosto e sentia o cheiro de mel e chocolate. Havia uma bandeja de café da manhã a seus pés. E Thiago a beijava, acordando-a carinhoso. Era uma surpresa maravilhosa, que o namorado não fazia a muito tempo.
— Desculpe deixá-la daquela forma ontem. Foi linda a festa, a campanha... Você... - ele disse sussurrado ao seu ouvido e beijou-a mais profundamente.
Ele colocou a bandeja de café da manhã no criado-mudo ao lado dela, e se deitou vagarosamente em cima da namorada. Iniciaram seus carinhos tão intímos e transaram. Mas, não sentiu-se como antes. Algo estava errado. Era como se seu corpo não se satisfizesse mais com Thiago.
Após terminarem, eles sorriram e ela culpava-se pela primeira vez ter feito algo nunca antes feito com o namorado: ela fingiu o orgasmo. Ele levantou-se para tomar banho e ela foi ao banheiro escovar dentes. Tomou banho junto a ele, e saiu antes de Thiago para a cozinha com a bandeja de café que ele preparou, em mãos. Aqueceu o leite com chocolate, o croissant e tomou café na cozinha. Ele surgiu apressado, vestido para o trabalho e beijando-a se despediu e saiu correndo.
começou a chorar. Não um choro de dor, mas um choro de saudade. Pensava em como os dias eram diferentes com Nicholas, antes de tudo desandar. Olhava fixamente para a bandeja vazia ao seu lado, e comia seu croissant quando algo veio a sua mente: Thiago tinha cópia da chave da casa dela, mas ela ainda não tinha a dele. Por quê?
Ela estava de folga, e decidiu que iria visitar o namorado no trabalho. Subiu o elevador, mais tarde naquele dia, e o corredor apinhado de jalecos e enfermeiros andando de um lado ao outro acusavam um dia cheio no hospital. Teria feito bem em ir até lá?
— ?
Encarava o outro lado do corredor quando ouviu seu nome.
— Oi amor! Vim visitá-lo. - ela sorriu e caminhou até ele.
— Que surpresa boa.
Ele a beijou e na porta ao lado dele saiu uma médica assustada. Eles se entreolharam surpresos e pressentiu mal.
— Sabe o que eu estava pensando? Em buscar a chave da sua casa para fazer a minha cópia.
— Agora?
— Sim, algum problema?
— Eu esqueci as chaves em casa amor... Peguei as suas e saí tão apressado que deixei as minhas em casa!
— Oh... Coitadinho do meu amor, quis me fazer uma surpresa e se enrolou.
Ela riu sarcástica, e Thiago notara. Ela disse que o deixaria trabalhar, pois o hospital estava muito movimentado. Eles se despediram. foi até o prédio de Thiago. Antes de chegar na entrada do condomínio, ela avistara Nicholas do outro lado fumando sentado à calçada.
Trocaram palavras, e ele a convidou para conhecer o apartamento dele. Ela ficou surpresa em descobrir que aquele tempo todo ele morava lá. Ela puxou o cigarro dele e tragou subindo. Ao entrar, se espantou pela maturidade que o apartamento dele demonstrava. Contudo, havia um saco de boxe na sala para lembrar que era de Nicholas que falávamos. Ela foi direto ao telescópio da janela.
— Você espiona o Thiago?!
— Surpresa? Queria o quê? Eu tenho que estudar meu concorrente!
— Nicholas, você é tão infantil!
— Já fui mais, acredite.
Eles riram. E ela espiou pelo telescópio.
— E o que você viu de interessante até hoje?
— O que exatamente você quer saber, ? - perguntou ele com a pulga atrás da orelha.
— Nada.
— Não foi interessante, foi torturante, mas eu vi vocês transando na sala. Você fez uma dança sexy e provocante para aquele...
Antes que terminasse de falar ela jogou-lhe uma almofada no rosto. Nicholas riu. E jogou de volta.
— Pervertido.
— Seu namorado é bem mais.
— Nicholas... Se você visse algo errado, me contaria?
— O que foi, ? Aconteceu alguma coisa?
— Ele tem a chave da minha casa, mas não me deu a dele até hoje... - eles ficaram em silêncio se olhando — Ah, esquece! Nada a ver desabafar isso com você!
Ela tragou o cigarro de Nicholas de novo, e ele sorriu de cabeça baixa.
— Sabe o que eu acho?
— Hum?
— Que não podemos mais nos encontrar na sua casa. Ele tem a chave.
gargalhou se jogando mais a vontade no sofá.
— Vamos nos encontrar só aqui agora. Fica melhor também, você pode sair da casa dele e vir direto para a minha.
— Nicholas, você é um idiota.
Eles sorriram e ficaram em silêncio. Nick se recostou no sofá ao lado dela, e pegou o cigarro de volta e o apagou.
— Não quero você fumando isso.
Ele repreendeu por fumar sua maconha. Ela havia parado há muito tempo. E ele só não parou, porque sem ela, a erva o fazia a esquecê-la nas suas piores noites. Eles continuaram se encarando em silêncio. Nicholas pouco a pouco aproximava o rosto do rosto dela. Não perdiam o contato visual. E , depositou uma mão leve nos lábios dele, o que o fez fechar os olhos. E quando se dera conta, ela já o havia beijado. Ficaram juntos no sofá, trocando carinhos e beijos como em início de namoro. Ela estava decidida: tinha que parar com aquilo. E escolher um ou outro. Levantou-se rápida e saiu deixando Nick sem entender.
Ele correu atrás dela pela calçada, mas ela entrou em seu carro e fugiu rapidamente.
Nicholas tentara contato com por dias e ao ver que ela não o procuraria, o rapaz começou a seguir os passos dela. Porém, não a perturbou. Todo dia na saída da empresa, ele aguardava sair do expediente, e ela sempre o evitava. Entrava no carro e dava partida após encarar os olhares tristonhos dele.
Após semanas de perseguição, Nicholas decidira que daria o espaço que ela queria. Mas, coincidentemente se esbarraram na padaria do bairro de Thiago.
— Vejo que decidiu ficar com ele. - ele disse à que permaneceu muda ao vê-lo.
— Não temos nada, eu sou a namorada dele desde que você voltou.
Ela respondera com seu antigo ímpeto de "afastar Nicholas".
— Nada? E se eu perguntar o que ele acha?
— Você não se meta no meu namoro!
— Ele quem se meteu no nosso lance! Mal deu tempo de eu sair da sua vida, para este babaca tomar meu lugar!
largou a sacola em sua mão, em uma cestinha e retirou as compras de Nick da mão dele também. Ela o puxou pela mão para fora daquele ambiente, onde o escândalo dele chamava atenção de todos.
— Nicholas, não fala merda! Eu não tinha mais nada com você quando...
— Você não me deu tempo de consertar as coisas, já foi ficando com ele sem pensar em tudo o que nós vivemos!
— Primeiro: se acalme e não me interrompa. E segundo: acha mesmo que tinha algum conserto?
— Quando nós estávamos gemendo o nome um do outro semanas atrás, me pareceu que sim.
ficou estática e calada.
— Eu não quero voltar atrás com você, como eu disse antes, aquele momento foi um erro.
— Não, não foi. Erro é o que você vai cometer estando com ele.
— Nick, olha... Eu e Thiago estamos ótimos! Vamos viajar este fim de semana, e eu não quero notícias suas quando eu voltar.
— Viajar? E acha que isso significa que ele te leve a sério e te respeita?
— Ele sempre levou a sério nós dois. E sempre me respeitou, ao contrário de você.
— Não precisa ser mago pra saber que você se entrega mais a esta relação que ele!
— Talvez seja o meu defeito.
— Quando estávamos juntos, a entrega foi mútua. Eu nunca fiz você mendigar o meu amor, e minha atenção. E nunca precisei de outra pessoa.
— Para de ficar falando sobre eu e você! Esquece, Nick! Eu e Thiago não vamos nos separar!
Nicholas assentiu, deu as costas com lágrimas nos olhos e saiu. também não estava bem, mas voltou a padaria para que, ao chegar na casa do namorado não tivesse que explicar o motivo de não trazer o café da manhã.
"I can tell that you're a real bad girl, underneath it all..."
O fim de semana havia chegado e Nicholas sabia cada passo que Thiago daria. Não era a toa que ele estava estacionado próximo à casa de , escorado no capô do próprio carro aguardando a cena que ele sabia que viria.
estava eufórica com a viagem. Muitas dúvidas pairavam sobre sua cabeça naqueles dias, e embora uma - maldita - chave não fosse nada, porque é que Thiago continuava evitando dá-la uma cópia da chave de sua casa? O que ele teria a esconder? sentia-se envergonhada por aquilo. Não o bastante as dúvidas que plainavam sua mente, ainda tinha Nicholas vagueando de hora em hora por seus pensamentos.
Ela terminara de passar batom e desceu a espera do namorado. A campainha tocara e mais do que alegre, ela pulara nos braços dele quando abriu a porta.
— Amor! Estou tão animada! - ela dizia esbaforida enquanto puxava sua mala até ele.
— ... Espera.
— O que houve?
— Não podemos ir.
— Por quê? E a pesquisa?
— Na verdade, você não poderá ir...
A face da mulher já havia mudado totalmente. E Thiago não poupou esforços para começar a se explicar. Ele bem sabia o quanto ela ficaria furiosa.
— Eu vou ficar mais de dois dias no Congresso, e o diretor do hospital irá e já me demandou total atenção... E ... Puxa , eu sei que ia ser a nossa viagem, mas, prometo que quando eu voltar não teremos mais o meu trabalho entre nós.
— Você pode acreditar, que não teremos.
— O que você quer dizer com isso?
— Só estou confirmando a sua promessa. Boa viagem, e bom congresso.
Thiago sorriu culpado e beijou a namorada. bateu a porta e entrou furiosa. Como ele poderia ter feito aquilo com ela? Outra vez, em segundo plano? E o que estava acontecendo com Thiago, afinal? Ele sempre fora atencioso, carinhoso, e sempre carregou o mundo por ela. Logo agora, que Nicholas voltara para deixá-la ainda mais confusa, ele estava dando brechas para Nick?
Não demorou muito tempo para a campainha de sua casa tocar, ela ainda estava andando de um lado a outro estupefata pensando no vacilo de Thiago. Olhou para a porta num misto de raiva e esperança: Thiago voltara! Correu para abrir a porta, mas exitou. Não poderia deixar de ser dura com ele. Respirou fundo, e com sua pior face abriu a porta.
— Pronta para viajar?
— Nicholas?
— Ele te deixou para trás não é?
— Não pude ir com ele. E você não tem nada a ver com isso.
respondeu dando as costas a Nicholas, ainda mais irritada. Ele entrou rindo e fechou a porta.
— Vamos, eu vou levar você.
— Para onde?
— Para descobrir umas coisas...
— Nicholas, por favor, cai fora. Será que não entende que não quero assunto contigo?
— Estou vendo que não quer... - ele zombou e riu.
Nicholas abriu a geladeira e pegou um suco. Sentou à bancada da cozinha e retirou um envelope do bolso. continuava de costas a ele encarando a janela da própria sala. Ao ouvir Nicholas pigarrear, ela o encarou. E antes que pudesse reclamar, ele lhe jogou o envelope.
— O que é isto?
— Um favor.
Ela retirou o documento que havia dentro: várias fotografias de Thiago, com várias mulheres, em vários lugares. No hospital, na rua, em bares, no apartamento dele.
— Nicholas? - ela o olhou assustada e continuou analisando as fotos.
— Você me perguntou, se eu visse algo errado, se te contaria...
— Você é um babaca! Sai agora da minha casa!
— O quê? NÃO FUI EU QUEM TE TRAIU!
— Você é um oportunista! O que é? Vem aqui na minha casa, me mostrar estas fotos e acha que vou correr para seus braços depois?
— Não me importa o que você vai fazer depois, o que importa é que eu estou abrindo seus olhos.
— A troco de quê?
— Não sou este babaca que você pensa! Qual é, esqueceu mesmo de tudo o que vivemos?
— Sai daqui.
— Vem comigo, . Eu não quero que você corra pros meus braços agora, eu só quero te mostrar a verdade.
— E tem mais? Como você é ridículo... Está se vingando em espezinhar meus sentimentos não é?
— ! Eu amo você, como eu nunca amei ninguém, e mesmo que você fizesse as piores coisas a mim, eu jamais te faria sofrer. Por favor, vem comigo.
— Pra onde?
— Vou te mostrar o que é o Congresso, que o seu perfeito namoradinho médico foi.
Dito aquilo, pegou sua bolsa e acompanhou Nick. Ela não percebera, mas, Nicholas pegou a mala dela e colocou no carro dele. A vontade que ela tinha de chorar e de matar era enorme. Mas, nunca se renderia a sofrer na frente de Nicholas. Não fizera isso nem quando estavam juntos. Não faria agora.
Eles pegaram a estrada, em silêncio. Chegaram a cidade vizinha, rapidamente, já que não estavam tão longe e Nicholas pisara fundo.
— , vou abastecer. Quer algo da conveniência?
— Não. Vou ao banheiro.
Nicholas estava enraivecido pela frieza da ex. Ele a fazia um favor, e era tratado com desprezo? Claro que, quando colocou um detetive atrás de Thiago, Nicholas queria provar que as cenas que assistia todos os dias em frente à sua janela, eram reais. E só daquela maneira, acreditaria nele. E com a descoberta, esperava o caminho livre para reconquistá-la, mas, jamais pensara que ela o odiaria por lutar por ela.
Eles seguiram viagem, e uma hora e meia depois o pneu do carro furou. continuava impassível. Nicholas chamou o resgate da consecionária rodoviária, e a demora no serviço fez escurecer. Ele não queria seguir viagem de noite. Até poderia, mas não o faria por duas importantes razões: estava tão calada que era arriscado que ele pegasse no sono, e teria mais tempo com ela se não seguissem.
— Por quê parou aqui? - ela perguntou ao ver que ele parara o carro numa parada de caminhoneiros.
— Não vou seguir, preciso dormir.
— Está brincando não é?
— Você quer que eu siga viagem com sono?
— Estou falando de parar aqui. É perigoso! Vamos ao menos, buscar um posto seguro.
— Ninguém vai mexer conosco, e se mexerem, eu estou aqui.
Ele piscou os olhos e sorriu. Ligou o rádio bem baixinho, numa música tranquila, para quebrar o silêncio que ficaria entre eles até pegarem no sono. Mas, não demorou muito para interromper o falso sono de Nicholas.
— Nick...
— Hm?
— O que aconteceu com você?
Nicholas abriu os olhos, confuso. E a encarou por um tempo decifrando a expressão de dor e curiosidade na face dela. Ele sorriu manso, um sorriso que ela amava. O sorriso que formava as ruguinhas em suas bochechas e deixavam os olhos dele pequenininhos. acreditava que era melhor tê-lo deixado calado. Ela não poderia responder por seus atos se Nicholas começasse a ser o Nick dela, de novo.
— Antes ou depois que você foi embora?
— Eu não quero saber o que fez você chegar ao ponto que chegou, ao ponto de eu desistir. É só que... Você tinha tantos planos.
— Não retomei nenhum deles. Só foquei no boxe, na possibilidade da carreira no esporte e sem você... Eu não tinha muitos motivos para focar em outra coisa.
— Você não pretende voltar à faculdade? Lançar pelo menos uma das suas músicas? Abrir um negócio com seus irmãos, como vocês três brincavam de sonhar?
riu largamente ao recordar a memória com os meninos e Nicholas também.
— , uma das coisas que me fizeram vir para cá é justamente a necessidade de por um fim em tudo. Os dois se encaravam forte, mantinham o silêncio. foi a primeira a desviar o olhar, como sempre, exceto quando Nicholas mentia.
— Fim em tudo?
— É. Eu preciso encerrar um ciclo, e vir pra cá faz parte do plano. E se eu encerrá-lo, talvez eu consiga retomar outros planos.
— Que ciclo?
Ela já estava curiosa, e surpreendentemente - ou não - desapontada. Nicholas sabia, ele conseguia ler cada gesto dela. Anos de prática e uma percepção avançada.
— Você sabe. Eu preciso saber se nós teremos um fim. Talvez, se não der certo mesmo, eu consiga voltar à época em que não nos conhecíamos e seguir como se nada tivesse acontecido. Como se eu não tivesse abandonado a música, o teatro, as loucuras com meus irmãos, para viver por você. Te fazer sorrir todos os dias, mesmo quando eu quisesse chorar. Casar com você e admirar o seu despertar toda manhã, antes de sair correndo para levar nossos filhos à escola e seguir para um trabalho qualquer, que até hoje não decidi... Enfim... Se nós não tivermos futuro, em hipótese alguma, talvez eu consiga te apagar da memória e apagar os planos de uma família feliz.
segurava um choro contido e antigo, em sua garganta.
— Ou talvez, se não tivermos futuro, você possa encontrar alguém que o fará muito mais feliz do que eu poderia e tenha a sua família feliz.
— Você acha mesmo que isso é possível?
— Acho. Eu por exemplo, estou conseguindo isso.
— Não está não.
Nicholas a cortou seco e suficientemente realista para fazê-la piscar desajeitada, como ela fazia toda vez que acordava de suas ilusões. suspirou fundo, e abaixou a cabeça. Não poderia não dar razão a ele. Ela estava completamente longe de conseguir uma família feliz com outra pessoa. Nick segurou a mão dela, que estava entrelaçada uma na outra sobre o próprio colo, sorriu e a fez olhar para ele. Antes não tivesse olhado. A frase posterior que Nicholas a disse, foi o bastante para deixar sem chão, e sanidade.
— Outras pessoas podem conseguir, mas eu estou diante do amor da minha vida. Desta e de outras, e como poderia seguir ao lado de mulher que não fosse você, como seguir com outra se minha alma gêmea sempre foi você?
— Você aprendeu a mentir?
— Não, e nem você. Assuma que você sempre tentou sair das suas discordâncias, mas sabe que não haverá outro além de mim. Pode ser o Thiago, ou quantos mais surgirem, nunca será real. Por que eles não podem ser eu.
— Você não sabe o que diz.
— Eu sei, e você sabe que eu estou certo. Eu te amo .
segurava-se para não chorar e confessar que ele tinha razão. Ela apertava suas mãos em punho, e quando seus olhos foram se tornando mais marejados e vermelhos por segurar aquelas lágrimas, ela escutara Nicholas dizer "Eu te amo, " e a partir dali ela não poderia deixá-lo sem resposta.
— Eu juro, que o que eu mais queria era te odiar Nicholas.
Disse, e antes que o homem pudesse ter qualquer reação, puxou-o para um beijo. Um beijo ardente e urgente que dizia o quanto ela o amava. Nicholas, ainda estava zonzo, pois não acreditava que cederia aos sentimentos tão rápido. Ele beijava a mulher, com as mãos paradas à cintura dela, mas ele estava imóvel. E sua perplexidade e inércia continuaram, mesmo quando ela ousadamente passou para o lado dele, sentando-se sobre o colo do rapaz. Ela sussurrou no ouvido dele "está apertado aqui" e riu abafada e continuou o beijo. Nicholas entendendo o que estava acontecendo, levou a mão ao gancho do banco do motorista afastando-o mais para trás. Assim, pode ficar confortável entre o volante e Nicholas. Num estalo, Nick afastou a mulher de sua boca e a encarou. Os olhos de ainda escorriam, e mais ainda agora, refletiam luxúria. Nicholas sorriu sacana, e ela também. Um jogo iria começar.
— Eu poderia começar selvagem como da última vez, mas... Eu não posso confiar em você, . Há sempre o risco de quando acabar você ir embora...
— O que você quer dizer?
— Nada... Passa pro banco de trás.
Ele esperou ela sair de seu colo para analisar a situação: não interessava se queria um sexo carnal com ele, ou se ela havia assumido o sentimento. Nicholas ainda estava a levando para encontrar o namorado traidor, e mesmo pela falha de Thiago, ela poderia não querer ficar com ele. Ela poderia escolher não ficar com ninguém. Aquilo que acontecia não era sinal de que haveria um futuro.
Ele seguiu para o banco de trás do carro, onde estava sentada encarando as reações dele. Ele teria exitado? Ele estaria desistindo? Por mais errado, que aquilo soava a ela, não queria não viver aquele momento. Nicholas sentou-se ao lado dela e os dois ficaram se analisando. Ela colocou uma mecha de caBel o atrás da orelha e fugiu ao olhar dele. E Nick, entendendo o constrangimento dela, puxou-a pela cintura e colou os corpos.
— Esta é uma chance única, deixe acontecer e me pegue se puder.
Proferiu aquelas palavras e beijou , de um modo feroz. Assim como ela correspondeu, também feroz. Aos poucos, ele foi deixando ritmo entre eles se acalmar. Deitou a ex namorada, no banco do carro e foi pouco a pouco despindo-a. Entretanto, não parecia querer ser controlada.
— Boxeador... - sussurrou no ouvido dele o causando arrepios ininterruptos — Deixe seu dinheiro falar pensamentos sujos para mim, e me assuma como uma droga louca que você vem amar .
A vista de Nicholas se escureceu. Ela queria controlá-lo? Ela queria que ele não se controlasse? Naquele instante, ele esqueceria o que viria depois, e assumiria a verdade que acabara de pedir: ela era a droga dele, que ele não poderia viver distante.
As mãos sagazes de Nicholas, puxaram ao seu corpo, ainda deitados, de uma maneira que os encaixava perfeitamente. E não se poliu em deixar claro para quem quer que a visse depois que ela tinha pertencido a ele. detestava ser marcada, e aquilo era algo que não acontecia entre eles no passado, por respeito mútuo aos corpos um do outro. Mas, havia uma necessidade animalesca naquela transa, e havia o mesmo respeito também. Foi sabendo disso, que deu a Nicholas a permissão de fazer o que quisesse com o corpo dela. Ele sugava os seios da mulher, enquanto suas mãos exploravam cada pedaço do corpo dela. , gemia enquanto suas mãos também deixavam as marcas de que Nicholas lhe pertencia. Se não para sempre, pelo menos naquele momento. Ela se contorcia sob o corpo dele, Nicholas estimulava-a com as mãos. E não demoraram muito tempo, naquelas preliminares adolescentes. Quando não podiam mais suportar a necessidade do corpo um do outro, Nicholas penetrou-a. E de novo. E de novo. E de outras maneiras. E mais uma vez, até o vidro do carro estar tão embaçado como no inverno, que no Brasil só existia no hemisfério Sul. Nicholas não queria perguntar o que aconteceria depois. Ele não queria saber sobre o Thiago, ou se ela ficaria só com ele. Ele queria eternizar aquele momento. E , sem ter sido pedida, respondeu-o:
— Nenhum outro seria você.
— Como?
— Nós podemos tentar, mas, ainda temos muito desta vida para fazer durar.
— Então, eu posso desistir de todos os outros planos?
— Não foi o que eu disse.
—! Pare de falar nas entrelinhas, eu sempre sou tão direto e você fica falando em metáforas e você sabe que eu odeio quando você...
— O trabalho qualquer que você ainda não decidiu, pode ser um restaurante com seus irmãos... E a música deve ser retomada! Podemos, inclusive, formar uma banda entre vocês e aí tocariam no restaurante! Eu faço o marketing de todo o empreendimento. E não venha discutir, porque eu não vou deixar você acordar antes de mim e ficar encarando minha cara recém-acordada e amassada todos os dias. Em dias alternados, eu é quem quero contemplar você, Nicholas Jerry Jonas.
— Isso é uma promessa? - ele perguntou, e mais uma vez o sorriso que ela amava.
— Não, este é o ciclo. Este é o nosso destino: ficar juntos ou nos reencontrar tantas e tantas vezes, até acabarmos nos declarando no banco de trás do seu carro.
Eles riram divertidos, não haviam se recordado até aquele momento, que fora daquela maneira que o namoro deles começou.
Take Over
Escrito por Rayanne Dias / Ray Dias | Revisado por Naty
Capítulo Único
I'm back, babyEla estava debruçada sobre a mesa do escritório ao lado de sua co-diretora criativa. As mulheres ajeitavam os últimos detalhes da campanha, quando Thiago surgiu a procurando. olhou para a porta ao reconhecer o assobio do namorado.
— Podemos nos falar um minuto? - ele perguntou.
Lilian dissera que voltaria depois para ajeitarem o que faltava, e deixou os dois a sós. já apresentava um vinco em sua testa, mas um sorriso calmo no rosto. Andou em direção ao namorado o beijando discretamente. Thiago sorriu abertamente e estendeu para ela o celular. havia o esquecido no almoço.
— Você tem um problema.
Olhou para o namorado sem compreender, após dar uma conferida no visor do aparelho.
— Te ligaram de um número desconhecido e eu atendi. Era um tal de Nick.
Ele já ouvira falar naquele nome logo que a conheceu, mas não deixou demonstrar a ela que se recordava disso:
— E ele está na delegacia, e pediu a sua ajuda. Um papo de só conhecer, você por aqui.
já havia, em poucos segundos de fala do namorado, ido da surpresa e preocupação para a raiva. O que Nick estava fazendo ali, e numa delegacia?
— Que merda ele está fazendo aqui?
— Tomei a liberdade de ligar para o seu primo, seu ex está lá no batalhão dele.
— Thiago, o que aconteceu? Como assim o Nick me liga e pede pra eu ir tirá-lo da delegacia?
— Eu não fiquei de conversa no seu telefone com o seu ex, né amor. Mas, quando ele falou o número da delegacia, eu liguei para o Diego para saber onde ele estava. Coicidentemente ele está sob os cuidados do seu primo.
— Eu vou ligar pro Diego.
deu a volta em sua mesa, com o celular preso entre a orelha e o ombro e guardava os papéis na gaveta. Thiago sentou-se no sofá da sala dela observando o desenrolar daquela situação. Sua expressão era a mais calma e sensata, o possível.
Depois de entender o ocorrido, ela desligou a chamada e massageou as têmporas encarando o namorado envergonhada. Thiago se levantou, sorriu confiante para ela e a abraçou. Após beijar-lhe o topo da cabeça, ele pegou a bolsa dela a guiando para fora daquela sala.
avisou à secretária que sairia e tentaria voltar a tempo da reunião com os novos clientes, mas, que ficasse atenta caso ela telefonasse desmarcando. Entrou no carro de Thiago protestando o quanto Nick era um karma em sua vida. Toda vez que ela achava que nunca mais o veria, ele ressurgia das cinzas.
Desde que havia se mudado para a cidade atual, e iniciado o namoro com Thiago após um término recente com Nick, ela nunca mais havia falado ou visto o ex. E há três semanas havia completado dois anos do fim da relação com o boxeador.
O namoro entre e Nicholas era cheio de "ires e vires". E após o tempo de dois anos de término - o máximo que haviam chegado - acreditava piamente que, não teria que encarar o ex pelo resto da sua vida. O relacionamento com o médico, Thiago, era tão estável e fadado à felicidade como o anterior nunca fora. Ela ainda protestava sobre "que ideia idiota foi esta dele, em me pedir ajuda?", enraivecida por ter ido até lá. Deveria mesmo tê-lo deixado se virar. Thiago parecia muito mais solícito a ajudar Nick do que ela. E ria das reações da ex.
— É perturbador, para mim, como ele ainda consegue tirá-la do sério.
— Não fique preocupado, tudo isto é fruto do ódio que sinto por ele.
— Isso não me deixa menos aflito, ódio é um sentimento muito forte. E sentimentos fortes são perigosos.
— Thi, isto não é hora para ciúmes. Eu estou puta que o Nick teve esta cara de pau.
— Embora não demonstre, eu também fiquei puto com isso. Mas, nós vamos lá ver o que está acontecendo. Depois dessa ajuda, nós largamos ele na rua.
— Quem dera fosse fácil assim se livrar de Nicholas Jonas.
Bateu a porta do carro e saiu em disparada para dentro da delegacia, seu namorado veio logo atrás. Na recepção pediu que chamassem pelo policial militar, seu primo, Diego. Ele demorou um pouco a aparecer, e abraçou a prima ao vê-la. Sorriu sacana da cara de furiosa dela.
— Quem é este cara, Isa? - perguntou num misto de zombaria e revolta pelo sujeito, ter colocado sua prima naquele recinto, e que ele já julgava ser um idiota.
— Meu ex.
— Ele é do Rio?
— É e não é, e eu não faço a miserável noção do que ele faz na cidade.
— Espero que chamar a ex na delegacia por ter sido preso não seja um plano dele para reconquistar a minha namorada. - Thiago falou rindo para Diego, que já era seu amigo desde o início do seu namoro com a prima dele.
— Ele não é tão idiota assim, eu acho. - confirmou , e nervosa e ansiosa concluiu: — E então Diego? Me explica, direito, o que aconteceu!
— Ronda normal, pegaram ele na praça sete com umas malas e fumando maconha. Ele veio prestar esclarecimentos e está detido desde então. Quando perguntaram se ele queria ligar para alguém, ele ligou. Mas, se eu soubesse que seria para você, eu não teria deixado.
— Não tô acreditando que o Nick está aqui por que parou para fumar um, Diego. Tá brincando né?
— Você sabe como são as coisas aqui, Isa. Ele estava na praça sete, ponto de tráfico e fumando. Porra, aí você me fode né!
— Deveria deixar ele preso, para deixar de ser burro! - afirmou a garota — Eu posso ir lá falar com ele?
— Já encaminhei ele a uma sala vazia, vamos.
encarou seu namorado, incrédula e sacudindo a cabeça em negação. Os dois seguiram o policial e Thiago ficou no corredor aguardando enquanto entrou à sala onde estava o ex. Ela fechou a porta num baque. Nick tomou um leve susto, e olhou para trás se deparando com a imagem da ex andando lentamente até à mesa onde ele estava. Ele apoiou a mão no lado direito do próprio rosto, e o cotovelo na mesa e sorriu com cara de bobo apaixonado. revirou os olhos e passou a língua sobre os dentes caninos. Hábito que ele conhecia bem e sabia o significado: ela estava furiosa com ele. Terminou de lamber os lábios, mordendo-os ao fim e encarou Nicholas como se fosse explodir. Ele recostou-se na cadeira com sua expressão cansada e antiga de "não vamos discutir". colocou sua bolsa sobre a mesa e sentou-se em uma das cadeiras.
— Fala embuste, o que caralhas você está fazendo aqui?
— Fui detido por fumar um baseado. Isso é normal por aqui? - ele riu inacreditável.
— Estou falando de o Horizonte, por que você está aqui?
— Oras, você comprou o Horizonte agora? Eu estou te devendo algum pedágio?
— Não seja cínico! Eu tenho cara de advogada de porta de cadeia, por acaso?
— Outch! Estúpida! - iniciava-se o trocar de farpas — Eu acabei de chegar na cidade, e não conheço ninguém aqui além de você. Eu já ia te ligar de qualquer forma.
— Pra quê? Eu não vou pagar a sua fiança, se é o que você quer.
— Não, não é pra isso, eu já paguei. Já depus, e estão me fazendo tomar um chá de cadeira.
— Nicholas... Vai à merda, cara! Eu saí do meu trabalho! Para quê você me chamou, hein?
— Eu já falei, não conheço nada aqui. Eu acabei de chegar, e tenho que ficar em algum lugar, e você pode me ajudar.
— Passam-se os anos e a sua cara de pau, intacta! Eu não sou guia turística.
— Isa... - a chamou com placidez pedindo uma trégua para o diálogo — Eu me mudei para cá.
Ela o encarava com o queixo caído. Apertou seus olhos numa linha fina de ameaça, e ele a encarava predador com um meio sorriso.
— O que você está armando?
— Uma mudança de ares! - cruzou os braços atrás da cabeça, divertido — E você sabe como eu sou desprendido. Peguei algumas roupas, dinheiro, documento e vim!
— E a sua maconha fedida que me fez perder este tempo.
— Desde quando, você é a certinha?
ignorou o comentário , deu um tapa na cabeça dele e foi até a porta. Falava baixo com seu primo, enquanto Nick observava-os na porta. Logo, Diego saiu e ela e Thiago conversaram entre si. Quando o primo dela voltou, ele entrou na sala com um papel para Nicholas assinar. O rapaz assinou e sorriu agradecido ao policial. Diego se despediu da prima na porta com um "se livra dele" sussurrado ao seu ouvido e um beijo no rosto. E bateu no ombro de Thiago com um olhar cúmplice.
— Vamos, embuste!
Falou para Nick risonho, que pegou suas coisas e levantou-se seguindo a ex e o rapaz que a acompanhava. Observava atento, os dois à sua frente, silenciosos. abriu a porta de um esportivo bonito, e o rapaz foi para o lado do motorista encarando Nicholas de uma maneira, diria ele, ameaçadora. Nick inflou o tórax em intimidação, como era seu hábito quando se sentia afrontado. E entrou na porta de trás, do lado de Isa. Dentro do carro, os três estavam silenciosos, até se pronunciar:
— Nicholas, este é o Thiago. Meu namorado.
Ela afivelava o cinto e os dois homens trocaram olhares pelo retrovisor.
— Amor, nos deixe no escritório que eu vou desovar o Nick em algum lugar. Não quero te atrapalhar mais.
O homem ligou a ignição em silêncio, apenas sorrindo para a garota. Nicholas, de repente, aproximou-se no vão central do carro e estendeu sua mão em cumprimento para o motorista.
— Prazer em conhecê-lo. Nicholas, o ex-namorado dela.
Sorria, e o encarou acima de seu ombro com contrariedade. Entortou sua boca para as gracinhas do ex, e apenas ligou o rádio após trocar olhares com Thiago. Seu namorado assim como ela, havia encarado Nicholas e não movimentado nenhum músculo para cumprimentá-lo. Focou silenciosamente sua atenção ao trajeto, dando partida com o carro.
I want you "I want you and no one else. I want you for myself. I want you, and nothing else girl. No one acting confused, I've got nothing to lose. I want you, and if I can't have you. Then no one will..."
beijou o namorado longamente, enquanto Nick já a aguardava do lado de fora do carro. Passou apressada por ele, e o rapaz calmo puxava sua mala de rodas atrás dela. Observou-a se apressar, com certa distância, e encarou os quadris sensuais dela. Continuava indiscutivelmente atraente, e até muito mais agora. Ela já segurava a porta do elevador impaciente com ele.
— Agradeceria se não me atrasasse mais. - afirmou quando ele passou por ela entrando ao elevador.
— Onde está me levando?
— Te levando? Aqui é o meu local de trabalho, eu estou voltando ao meu trabalho. Tenho uma reunião agora, e você me aguarda na sala de criação.
Ele assentiu seguindo-a novamente. As pessoas encaravam os dois, provavelmente por todos conhecerem o namorado dela e estranharem voltar com outro homem, que por sinal, parecia ter vindo para ficar - a julgar pela bagagem. Ela trocou palavras com a secretária, e entrou em sua sala. A mulher se levantou e sorrindo cordialmente encarou, Nick. Pediu a ele que a seguisse.
— Ela está muito atrasada? - perguntou em baixo tom para a secretária enquanto caminhavam no corredor.
— Um pouco sim, e detesta se atrasar. Mas, não se preocupe. Todos conhecem o profissionalismo dela e sabem que se há um atraso, foi por uma causa justa.
Ele abaixou a cabeça pensando quão babaca continuava sendo, mesmo sem querer. Ele não era uma causa justa, e sabia disso. A moça que o havia acompanhado abriu a porta do lugar onde ele esperaria voltar. Havia frigobar, almofadões espalhados, livros, computadores, uma televisão com dvd, e algumas telas projetoras do local. Um espaço criativo como aqueles que dizia que seria um sonho trabalhar.
— Fique à vontade! Há guloseimas no frigobar e um banheiro àquela porta à esquerda.
Ele olhou para o local que a moça indicara, e sorriu acenando afirmativo. Deixou sua mala em um canto, junto com sua jaqueta. Jogou-se em um dos almofadões, um pouco desengonçado, e retirando seu celular do bolso entretinha-se até ela voltar.
Na outra sala, concentrava-se na reunião, embora olhasse frequentemente para a porta, a fim de espionar se Nick estaria aprontando por ali. Ela levou quarenta minutos para finalizar o novo negócio e após se despedir dos novos clientes com um sorriso e aperto de mãos, ela aguardou que eles saíssem e apressou-se à sala de criações.
Nicholas comia um pedaço de torta e assistia o vídeo da última campanha, que estava no dvd. observou aquela cena com incredulidade divertida. Fechou a porta devagar, e Nick a notou naquele instante. Levantou-se desligando o aparelho televisor.
— E aí ? Deu tudo certo? - seus olhos demonstravam curiosidade.
— Deu sim.
— Legal! Me senti um pouco culpado, em fazer você se atrasar.
— Nicholas... O que te deu na cabeça, hein?
— Sobre o que estamos falando agora?
Ele encarou-a, com sua expressão confusa tão inocente e o canto dos lábios sujos de chantilly. Às vezes Nick parecia uma criança ingênua, o que fazia sentir-se na necessidade de cuidá-lo, entretanto, a mesma criancice imatura a fez terminar o relacionamento anos atrás. E o paradoxo tão conhecido por ela, castigava e recordava dos seus desejos e decisões.
— Estou falando de ter vindo para cá... - ela apontou as bagagens dele e ironizou — De mala e cuia!
— Eu já falei Isa, eu decidi me mudar para esta cidade.
— Eu sei, Nicholas.
Suspirou pesadamente e sentou-se numa almofada ao lado daquela que antes, Nicholas estava. Ele jogou o guardanapo na lixeira da sala, e encostou-se na mesa paralela à . A garota estava relaxada no almofadão, sua saia mid acima dos joelhos mostrava um pouco mais da coxa dela pela fenda lateral. E seu tórax denunciava a respiração pesada dela. Ela sempre respirava de uma maneira que parecia estar exausta. E Nicholas adorava aquilo. Adorava observar o movimento de seus decotes. inclinava a cabeça para trás de olhos fechados. E por mais que ele soubesse que não era um convite para ele avançar, tocá-la era o que mais queria. Nicholas observava em silêncio os gestos de , e reconhecia o significado daquela cena toda: ela refletia sobre o que diria a ele, e se preparava para o que iria escutar.
— , eu não vou mentir que o fato de você estar aqui tenha influenciado a minha vinda. Mas, não foi só por isso.
— Ótimo, então agora que você sabe que estou em outra irá focar nos outros motivos que o trouxeram e ficar longe de mim.
— Você ainda tem tanta raiva por mim?
— Não é raiva. Mas, depois de tantas idas e voltas eu compreendo que amizade não é algo possível entre nós. E na verdade, nem quero.
— É uma pena! Meus pais te mandaram abraços. E Kevin, e Joe e Franklin. E a Danielle também, sente sua falta.
— Sua família é muito querida.
— Por quê se afastou deles, então?
— Porque faz parte do lance de não ter nenhum contato com você.
— Eu acho injusto.
— Você não tem que achar nada.
Eles já se olhavam com desafio e ao notarem que nova discussão se daria, suspiraram e abaixaram o olhar ao chão. Como um espelho, antigo.
— Vai, vamos dar uma trégua! Sente-se aqui. - proferiu indicando a almofada que ele estava antes.
— Eu não vou atrapalhar a sua vida.
Ela o encarou em dúvida.
— Ok, eu prometo tentar.
— Olha, eu estou feliz agora.
— Eu nunca a fiz feliz?
— Claro que fez. Mas, Thiago é a melhor coisa que me aconteceu desde você.
— Entendo...
— Eu acho que a sua vinda é um problema sim, porque eu te conheço Nicholas. E realmente espero que você tenha outros motivos para vir.
— O mundo não gira em torno de você, .
Ele riu, por dois motivos. Um: era mentira que havia vindo por outras coisas além dela. Dois: porquê ela sabia que era mentira.
— Eu achei que você já tivesse ido embora do Rio de Janeiro.
— Depois do último cinturão eu decidi ficar por mais um tempo... Na verdade, nós tínhamos terminado recentemente e eu não queria afirmar isso partindo, no primeiro voo de volta à Los Angeles.
— Desistiu de ir embora, mais um vez, pelo visto.
— Eu tenho um campeonato ainda. E depois dele, meu coach quer que eu vá competir em Los Angeles. Ele acha que passei tempo demais no Brasil. E minha família é outro motivo para voltar.
— Nunca fez bem a você ficar distante deles, eu sempre te disse isso.
— Mas ficar longe de você também não.
— Nick...
Antes que pudesse reclamar, Nicholas a puxou para si. Ele era forte suficientemente para tirar a garota da almofada que estava e colocá-la em seu colo num puxão. E assim havia feito. Suas bocas colavam-se com a urgência absurda de anos. Ela não achava que sentiria aquela necessidade do gosto dele, até aquele momento. Nicholas passou suas mãos por baixo da blusa dela a acariciar as costas da ex. E ao perceber que se afastaria, forçou a mão na nuca dela, na tentativa de não deixar que ela se separasse dele. A mulher, confusa e sedenta aos toques antigos do ex-namorado, espalmou as mãos no peitoral dele e se deixou levar. Maldito momento. Nicholas a notou entregue. E com a mão furiosa que estava nas costas quente dela, mudou a direção para seus seios. E torturava como há tanto tempo não fazia. Lamentou o momento em que ela se recordara de Thiago e bruscamente levantou-se do colo de Nicholas.
— Você não tem jeito! - exclamou furiosa se ajeitando e observando se alguém haveria os pego.
— Eu não consigo resistir, . E nem você!
— Qual parte do "eu estou feliz com Thiago" você não entendeu?
— Toda. Mas, você perdeu a razão ao me deixar notar o quanto seu corpo sente falta do meu.
— Nicholas, levanta. Vou te levar de uma vez por todas ao hotel. E não quero ter notícias suas depois disso, entendeu?
Ele se levantou rindo e antes de pegar suas coisas, a puxou de surpresa os colando novamente. tinha os olhos arregalados de susto e prudência. As mãos de Nicholas tocaram os quadris dela, e ele apalpou seu bumbum de um jeito que a fazia gemer baixo. Ela se odiava por ser fraca com ele. E lambendo os lábios dela, ele se separou pegando suas bagagens e disse:
— Não é o que parece.
"Trynna break the chains, But the chains only break me..."
e Thiago estavam na casa dele, e ela iniciava uma dança provocante para o namorado entretido nas suas leituras. Ele começou a rir e tirou seus óculos de grau os colocando sobre a mesa e os jornais. Caminhou até ela, a pegando junto a si. Dançavam juntos, rebolando. E a música baixa se fazia quase inaudível diante suas risadas.
Do outro lado da rua, no prédio de frente, Nicholas espancava o saco de areia em sua sala. Já havia se mudado para um apartamento em frente ao prédio do rival, faziam três meses.
Parou um pouco, o seu treino e pegou a garrafa de água caminhando até a janela, e dando de cara com a cena, mais detestável até então: e Thiago na sala da casa dele. Ela vestia-se de uma camisola fina, rosada que enaltecia sua pele. E ele estava sem camisa, e sem pudores a tocar o corpo dela. Da dele.
Aumentou o volume de seu rádio, e treinou como nunca antes.
Como ela poderia estar com aquele idiota?
Depois do dia de sua chegada, ele não havia visto ou falado novamente com ela. Mas, seguia os passos de sua ex e do atual namorado dela. Na saída do escritório, o levara para o Othon Hotel, bem no centro da cidade aonde Nicholas poderia se virar muito bem. Eles não comentaram sobre a agarração anterior, mas, estava implícito entre os dois que aquele assunto não teria acabado. Nick a agradeceu, e deu-se por "se virar muito bem" como ela dissera. Quatro dias depois seu coach havia chegado e ocupado o tempo dele com treino, treino e treino. Era por aquilo que Nicholas não havia mais visto . Em seu tempo livre, ele arranjara tempo de pouco a pouco espionar o "arquinimigo". Seu treinador o auxiliou na locação do imóvel, mas após três dias seguindo a partir da empresa em que ela trabalhava, o garoto conseguiu descobrir onde o namorado dela morava. E então, alugou o atual apê. E mais um dia seguindo Thiago, ele descobriu a profissão dele.
— Jack! O filho da mãe, é médico!
Nicholas subiu com várias sacolas as deixando sobre o sofá e, chamando a atenção de seu amigo e treinador que estudava algo em seu notebook esparramado no mesmo sofá.
— Bom. Ela subiu o nível.
— Deixa de ser babaca!
— Nicholas! sempre foi ambiciosa e muito séria, você queria que ela continuasse a namorar com boxeadores?
— Qual o problema em ser boxeador, meu coach?
— Nenhum, fora o fato de que todos que eu conheci, são geniosos, instáveis e problemáticos.
— Eu apenas passei por uma fase de farras! Qual é? Ela sabe que eu não sou daquele jeito, ela me conhece! Ela me viu com a minha família, eu não sou aquele babaca!
— Não, não é. Mas foi esta a referência que você passou para ela enquanto esteve no lugar que hoje Thiago ocupa.
— Você é pior amigo que eu poderia ter.
— Os melhores amigos, geralmente escutam isso.
— Vou treinar.
— Excelente, estou estudando seu treino novo. E treinar é a melhor coisa que você faz.
Nicholas vinha dia a dia, após descobrir a profissão de Thiago, repensando sua vida. O seu sonho de cantar, abandonado. Os planos de sua família para ele. A faculdade de Educação Física, que mal levou adiante. E por aquilo também decepcionara . E agora, encarava a sua realidade com menos admiração. Ele era menos digno de , do quê Thiago?
---
Thiago estava curioso para saber por quais razões Nicholas não procurara mais , desde o dia da delegacia. E a namorada nada sabia, ou dizia não saber. Não se sentia ameaçado por Nicholas, pois, se algo ele tinha certeza era do amor de por si. Entretanto, ela não havia mencionado mais nada sobre aquele dia, e não era "paz" que ambos esperavam com a chegada de Nick. chegara no exato instante em que ele observava pela janela de sua sala, a rua lá fora. E sorriu ao ver a namorada chegando cheia de pastas nos braços, enrolada para entrar. Qual não foi sua surpresa quando alguém a ajudou a entrar. E era justamente, Nicholas. De onde ele havia saído? também não estava contente.
— O que você está fazendo aqui?
— Só de passagem.
— Você está me seguindo Nicholas?
— Para de achar que minha vida gira em torno da sua, . Eu só estava de passagem por aqui e coicidentemente te vi. Não pode?
— Coincidentemente?
— O destino deve querer dizer algo com isso, não? - sorriu sacana.
— É, quer dizer que você é a minha pedra no sapato.
Nicholas não se importou com a grosseria dela, e arqueou uma sobrancelha sorrindo. A ajudou com as pastas, e abriu o portão para ela. olhou contrariada para a janela da casa do namorado, e nada viu. Thiago havia se escondido. O que ele esperava que acontecesse? Estava mesmo desconfiando dela? A mulher passou, sendo seguida pelo ex.
— Você mora aqui?
— Não. E não é da sua conta o que faço aqui.
Nicholas entregou as pastas para ela, assim que ela parou no portão do condomínio e tocou um interfone. Se distanciou devagar, sorrindo e olhando para ela. Ao passar pelo portão externo, olhou para cima e avistou Thiago. A menina atenta ao ex e ao interfone que ela não parava de tocar praguejava mentalmente a possibilidade de Thiago não estar em casa. Nicholas, ao passar pelo portão externo, olhou para cima e avistou Thiago. Sorriu vitorioso para o rival, e acenou-lhe. E depois de Thiago sumir vagarosamente da janela o encarando, Nick falou mais alto para a ex:
— O Thiago já vai abrir! Até mais, !
subiu apressada assim que o portão destrancou e ainda podia ver a face de Nicholas a lhe admirar distante.
— Thiago? - gritou ao entrar em casa encontrando a porta aberta.
— Oi amor! Na cozinha!
— Oi! - ela caminhou até ele, largando as pastas sobre a mesa e o beijando — Por que demorou a me atender?
— Você tocou muito? Ele soou apenas agora.
— Hum... Deve estar com algum mau contato.
— Mas, porque a pressa, aconteceu alguma coisa?
— Não, eu só estava enrolada.
— Ah sim...
Mentiram. Ela sabia que ele havia mentido, pois ele havia visto Nicholas. E ele sabia que ela havia mentido, pois ele também avistara Nicholas. Mas, nenhum dos dois tocaram de novo naquele assunto.
Manhã de domingo, brisa mansa e corria pela calçada de seu bairro quando seu telefone tocou. Era uma chamada de Nicholas.
Como ele ainda podia ter o número dela? Ela deveria trocá-lo. Entretanto, a verdade é que não desejava que ele não o tivesse. Recordou-se o beijo quando se reencontraram e atendeu imediatamente a chamada. Nick estava na janela de seu apê, com seu copo de suplemento em mãos. Observava a mulher que se despedia com um beijo quente, do homem na calçada. E pegou o celular para discar o número da ex.
— Fala embuste! - ela atendeu carinhosa.
— Bom dia par você também, .
— Fala logo, estou ocupada!
— Tenho uma luta hoje à noite, no tênis clube. E vou deixar entradas para você.
— Eu não irei.
— Qual é, eu sei que você gostava de assistir minhas lutas, e me davam sorte.
— Sendo sua ex, agora podem dar azar.
— Não darão. Te espero lá,
entendido?
— EU. NÃO. IREI. — Eu disse que deixei "entradas" para você. Inclui seu namoradinho.
ficou muda um tempo e parou de correr. Respirava ofegante e Nicholas, embora soubesse que ela não estava fazendo nada luxurioso, imaginou-a ofegante sobre ele. Ela imaginava o que aquele convite significava. Nicholas teria amadurecido tanto, ao ponto de convidar Thiago e ela para um evento amigável?
— Estou surpresa.
— Não pare de correr! Vai atrapalhar o treino! - ele ralhou com ela, para afastar seus pensamentos e fazê-la se lembrar de quando praticavam juntos. E funcionou.
Lá estava ela sorrindo de canto, ao lembrar dos dois apostando juntos.
— Eu vou falar com Thiago, se ele topar eu irei.
— Ele vai topar.
— Por que a certeza?
— Porque ele fará tudo para me estudar de perto, e eu farei de tudo para mostrá-lo do que sou capaz naquele ringue.
Nick a mandou um "beijo de língua molhado e quente" e desligou a chamada. sorriu e ao perceber seu próprio sorriso, sacudiu a cabeça em negação e continuou a corrida. Thiago detestara o convite de Nicholas, pois significava que ele ainda tinha contato com ela. E os dois discutiram por aquilo. E nenhum dos dois foram à luta. Ocuparam-se com o sexo de paz, embora desejasse muito estar gritando frente ao ringue.
" 'Cause if I want you, then I want you, babe.
Ain't going backwards, won't ask for space.
'Cause space was just a word Made up by someone who's afraid to get too...
Close, ooh... "
No dia seguinte à luta que perdera, Nicholas a telefonara ansioso por uma explicação. Ele sabia que ela não o devia, alguma, embora a tenha aguardado fielmente antes de entrar ao ringue. No início não concentrou-se muito bem, pois, a procurava entre as pessoas até o primeiro soco que o levou a uma encurralada na tela de proteção. Depois do esporro de seu treinador, ele esqueceu-se que a garota não estava lá de novo.
Ela não mentira, foi sincera: "Thiago não quis ir", foi sua resposta a ele e desde então não se falaram mais. Três semanas se passaram e lá estava no seu escritório, quando Luís adentrou-lhe a porta anunciando o novo cliente. E qual não foi a surpresa: estava diante do boxeador rival de Nicholas.
— Por favor, entrem. - ela disse se levantando e indicando o sofá à frente de sua mesa.
Sentou-se nele em companhia dos clientes, sua co-diretora criativa chegou em seguida juntando-se a eles. pedira um café à sua secretária.
— Senhorita , como adiantamos por telefone se trata de uma campanha de marketing para promover Steve Tyson durante a temporada. Queremos que o senhor Tyson tenha visibilidade no país, enquanto estiver por aqui.
— Eu desejo voltar a Los Angeles com glória e honra conquistadas aqui. Meu rival já está lutando aqui no Brasil por um tempo, e a última vez que nos encontramos ele levou o meu cinturão. E eu o pegarei de volta.
Steve não falava português, mas, entendeu cada palavra em inglês dita por ele. E sorriu discretamente ao ouvi-lo reclamar de perder o cinturão para Nick.
— Aliás, senhorita ... Não nos conhecemos? - ele perguntou-a.
olhou para sua parceira de trabalho, que estava tão curiosa quanto os outros na sala, e sorrindo descontraída negou ter tido "a honra de conhecê-lo antes".
— Steve, quer mais do que ganhar um público nativo. Ele deseja ofuscar a carreira que Nicholas já conquistou no Brasil. Mesmo diante de tantos escândalos.
— Entendi... Bem, senhores... Acreditamos - apontou a si e sua co-diretora — que não se faça necessário manchar a imagem de um para promover o outro. Isso é o tipo de método de empresas publicitárias de baixo nível. Nós, da PubliCenter encontramo-nos num padrão elevado de qualidade e respeito no mercado. Podemos garantir que transformaremos Steve Tyson no queridinho do boxe.
Assim que findou-se a reunião, Lilian encarava com uma cara muito animada e satisfeita. Sobre a diretora, já não se podia dizer o mesmo. E Lilian curiosa para saber o motivo daquela aflição não se conteve a interrogá-la.
lhe contou sobre Nicholas, seu ex-namorado boxeador que era rival de Steve Tyson e que, por uma infelicidade do destino, havia retornado para sua vida em poucas semanas antes.
— ! Esta campanha vai mover uma grana forte para a PubliCenter! Não misture as coisas!
— Você sabe muito bem, que eu não sou de misturar trabalho com outras coisas - advertiu a amiga, a fazendo se tocar no que havia dito — Apenas, não será fácil ser a responsável por Steve nesta temporada sem que pareça um ataque ao meu ex.
No entardecer daquele dia, chegou à casa de Thiago e depois do jantar contou ao namorado sobre a nova campanha. Cujo folders, outdoors, e slogans já fervilhavam hipóteses em sua cabeça. Ela amava o boxe. Graças ao Nicholas. E sentia falta daquele mundo, desde o novo namoro não assistira nem por televisão, uma luta se quer. Mas, sabia que admitir para Thiago que estava animada com aquilo seria um problema. E mesmo sem falar muito da nova campanha, mal teve tempo de explicar o restante do ocorrido.
Thiago já fora iniciando uma discussão descabida, de que ela estava entrando muito no mundo do ex. E que começaria a se aproximar mais dele. Disse que era contra a campanha. E ainda que o dissesse ser uma campanha para o rival de Nicholas, não adiantava. Thiago estava ficando cego de ciúme.
— Eu não vou te perder para ele!
Com esta frase findou sua discussão com . Ela se sentiu ultrajada, e silenciosamente pegou suas coisas, olhou para Thiago com incredulidade e saiu do apartamento do namorado. Na calçada andava tempestiva em direção ao seu carro e vestindo o pesado sobretudo, ainda desengonçada. Ao abrir a porta do motorista, olhou para a janela do apartamento de Thiago e lá estava ele, encarando-a com raiva. Ela bateu a porta do carro e disparou o velocímetro.
Do outro lado da rua, escondido entre suas cortinas, ao lado de seu telescópio estava Nicholas, que havia presenciado a cena à sua frente. E sorria feliz, bebendo seu café. Caminhou manso até o sofá da sala e sentou. Colocou os pés sobre a mesa de centro, e ligou a TV em um canal qualquer de luta. Não conseguia tirar os pensamentos da cena assistida e da possibilidade de estar prestes a terminar tudo com Thiago. Ele só queria saber o motivo da discussão que a fez sair com tanta raiva.
Os dias iam passando apressados, e Thiago e estavam bem novamente. Na verdade, não tão bem quanto antes de Nicholas ressurgir. Parece que desde a chegada dele, mesmo à distância tudo encaminhava como um agouro. sentia corvos revoando seu relacionamento, e trabalhar incessante na campanha de Tyson só piorava. Thiago detestava vê-la tão entregue àquela campanha, que só diferenciava-se de outras tantas, no tema. E a dedicação de era a mesma. O ciúme o fazia enxergar o que ele queria, e pela falta de paciência de para atitudes abusivas ambos estavam pisando em ovos, um com o outro.
Ela carregava pilhas de papéis, e rolos de banners sob os braços e - como sempre - enrolava-se para abrir a porta de casa. Novamente foi surpreendida por Nicholas. Ele pegou os banners que caíam ao chão enquanto ela colocara a chave na maçaneta.
— Sempre enrolada, hein .
— Nicholas?
— Desta vez eu não estava de passagem.
— Me seguiu não é?
— Sim. Estava a toa.
Ela pegou os materiais da mão dele, e o observou por um tempo. Nicholas parecia-lhe tão calmo, e amigo. Ele afastou a porta da casa dela, para que ela passasse.
— Quer entrar? - ela convidou.
sorriu e Nicholas assentiu, entrando logo atrás dela. Ela passou na frente dele, com o sorriso desfeito num semblante de desespero. Mas o que ela estava fazendo? Onde havia metido a cabeça? Numa tigela de merda?
Deixou os papéis sobre a mesa, deixou Nicholas parado ao lado dela. Pediu licença e adentrou ao seu quarto. Largou a bolsa em qualquer canto e imediatamente discava para Thiago. Com um desculpa de "podemos nos ver hoje?" torceu com dedos cruzados, para Thiago falar que havia plantão. Não que ela não quisesse vê-lo. Queria e muito! Mas, estava morrendo de medo do namorado concordar e querer ir até lá, até porque ela o tinha telefonado para sondar se ele pretendia ir até a casa dela.
Thiago, felizmente tinha plantão. E após desligar ela retornou à sala e encontrou Nicholas com a sua pior expressão de decepção vendo os projetos da campanha.
— Vai fazer campanha pro idiota do Tyson? - perguntou olhando-a surpreso e confuso.
— Sim.
— Está tentando me atingir?
— Como isso poderia atingir você, não somos nada um do outro.
— Somos ex-namorados e como o Tyson não considerou isto?
— Ele não...
— CLARO! - interrompeu ela — Ele quer me atingir, e por isso te escolheu!
— Nicholas, ele nem se lembrou de mim, ok? E eu não tenho motivos para não fazer a campanha. É uma excelente remuneração. E é a primeira vez em anos que posso ter contato de novo com o boxe, você sabe que eu gosto.
Nicholas sorriu ameno. Ela estava de costas em sua cozinha preparando uma vitamina para os dois. Ele relembrou-se de quando eram namorados e no meio da discussão ela preparava-lhes uma vitamina de trégua. E ela não havia se dado conta do que estava fazendo naquele momento. E nem de quem estava ali. apenas conversava como se fossem amigos. A verdade era que com as brigas entre ela e Thiago, ela não tinha mais o namorado para ouvir-lhe falar de trabalho.
Nicholas sorria com olhos apertadinhos quando a ouviu dizer "você sabe que eu gosto de boxe". Ele caminhou lento até ela, e parou ao seu lado encostado à pia.
— A primeira vez em anos que poderia ter tido contato com o boxe, foi quando te convidei para a luta. Fui eu quem te proporcionei isto, e não o Tyson.
— Você não, porque eu não fui à luta.
— Porque não quis.
Ele sorriu travesso, e ela ao notar que era implicância dele, riu também. Pegou as cascas e sementes das frutas para jogar ao lixo e saiu pela porta da cozinha.
— Eu posso morar, quinze anos aqui, mas nunca me acostumarei que vocês não tem trituradores de alimento nas pias. - ele disse quando ela voltou.
— Mesmo se tivesse, sabe que odeio aquilo!
— Acha antihigiênico e morre de medo.
— É... Isso aí, você sabe.
— Sei mais de você, do que você imagina.
Eles ficaram se olhando silenciosos, e estava sem graça. Nicholas queria beijá-la de novo, mas, ele a conquistaria pela inteligência e não pela impetuosidade. Bem sabia que não era o estilo dela, apaixonar-se por caras impetuosos. gostava da calmaria, dos planejamentos, e das surpresas que dão frio no estômago. Então, ele apenas se aproximou beijando a testa dela. E ela corou com aquilo. Estava surpresa por um ato tão singelo de Nicholas, até parecia com o seu velho Nick. Sorriram e ela serviu-lhes os copos cheios de vitamina. Beberam tudo em silêncio, e depois Nicholas agradeceu e se despediu. o levou até a porta, e antes que saísse ele lhe falou: "Espero mais convites como este". assentiu tímida e ele foi embora, caminhando até perder da vista dela.
entrou em casa com um sorriso diferente. Começou a pensar em como Nicholas teria passado todo aquele tempo, em que estavam separados. O que ele teria feito de bom na sua vida, ou se teria ido cada vez mais fundo no poço. Pensou na culpa que sentiu por terminar com ele quando ele mais precisou, e depois em como não era culpada por querer estar ao lado de alguém que a fizesse bem. Pensou na família Jonas, que mesmo poucas as vezes de contato, sempre demonstraram amar a garota assim como ele. Pensou e repensou no que havia feito Nicholas perder os trilhos, naquela época, e em como tudo desandou rápido demais.
Lágrimas começavam a cair dos olhos dela. E então a dor veio pouco a pouco. A dor de um choro que nunca viera. Desabou em lágrimas ao lembrar do quanto sentiu a falta dele e não quis voltar por julgar que não era certo. E de como o amou. Lembrou das melhores lembranças entre eles, e como doía ainda mais. Olhou os papéis em sua mesa, e seus pensamentos foram até Thiago. Havia começado com Thiago muito precoce. Não havia sofrido, chorado, tomado nenhum porre por Nicholas e já estava descontando em uma nova história de amor o tempo de vitória que não tivera com Nicholas. Oras, que injusto! Tiveram vitórias juntos sim! Mas, não tiveram tempo de eternizá-las como queriam. O sentimento ali, naquele momento de choro e reflexão, era de um parto interrompido. Era isso a relação com Nick: um parto interrompido que na primeira contração não conseguiu segurar.
Voltou-se para Thiago, embora tudo a levasse a pensar em Nicholas. A relação com Thiago era tão estável, e bonita e feliz. Sentia estar passando pela primeira contração no novo relacionamento também, e tudo ameaçava caminhar pelos mesmos passos tortuosos de antes. O que estava acontecendo?
O problema era ela? Thiago? Ou os dois? Ou ainda, ter começado a namorar com ele sem viver o luto do outro fora o presságio do futuro fracasso? Por que Nicholas tivera que voltar?
A campainha de sua casa tocou. E ela limpou as lágrimas e ainda ilustrando seus pensamentos, pela lentidão que se movia, abriu a porta dando de cara com Nicholas molhado. Havia iniciado uma chuva sem que ela percebesse.
— Eu tentei não agir por ímpeto. Mas, eu só quero você.
Ele disse e avançou sobre ela, a beijando furiosamente. Fechou a porta com o pé e o estrondo alto indicava o som do que seria a vida dela a partir dali: estrondos, e mais estrondos. também se entregara àquele beijo. Subiu no colo de Nicholas e agarrou-lhe a nuca com urgência e necessidade, o garoto segurando-a com apenas um braço pelas costas da menina, hábil desabotoou a própria calça. E a peça de roupa lhe escorreu pernas abaixo ficando jogada ao caminho, os caBel os dela eram a algema perfeita para os punhos dele. Se colocaram ao sofá, e ele a encarou vagarosamente antes de beijá-la de novo. Sorriram felizes, e o puxara de volta para ela. As roupas voavam pelo cômodo, e as línguas brincavam pelos corpos um do outro. As costas de Nicholas demonstravam seus músculos fortes se movendo, contraindo, e explorando pegadas furiosas do corpo dela. As pernas de entrelaçaram o quadril, agora nu, de Nick. E ouviu-se sob o barulho da chuva o arfar e gemidos dos dois.
Nicholas sentou-se no sofá e inclinou a cabeça para trás, com um sorriso predador. Ela voltara de novo, andou lentamente até ele, abriu as pernas e sentou-se no colo dele. Ele fechou os olhos. Tentava controlar-se, até ela mordiscar sua orelha. Então suas mãos se espalmaram de novo nos quadris dela, e a estimulavam no ir e vir tão sexy e provocante que o fazia soltar os gemidos roucos que a deixavam excitada só para ele.
A chuva cessara e depois de tudo o que havia acontecido naquela sala, Nicholas adormecera. Mas, não. Ela não conseguiu. Embora cansada seus pensamentos iam até Thiago no trabalho. Como ela poderia ter sido tão idiota?
A publicitária não pretendia terminar o namoro com Thiago. O que havia feito era errado, mas seria ainda errado se entregar a uma aventura com o ex-namorado e abandonar o relacionamento que havia construído até então. E contar para Thiago também não era uma hipótese. Nicholas remexera-se no sofá, e abriu os olhos com um sorriso bobo no rosto. Eles se olhavam.
— Eu não vou terminar com Thiago. - ela soltou atribuindo o sorriso de Nicholas à ideia de que ela terminaria o namoro.
— Eu não te pedi para terminar nada com ninguém, ou pedi?
— Nicholas, é sério. Foi um erro.
— Blá, blá, blá você não deveria ter feito isso e um monte de outras desculpas... - ele levantou-se ainda nu a encarando tranquilo.
— Se veste, por favor.
— Para de agir como se fosse tímida. Você gosta deste corpinho, que eu sei.
Ele levantou-se rindo e foi até a geladeira pegando um doce qualquer na geladeira e dando uma colherada. Ela revirava os olhos ainda o encarando.
— Foi só uma transa , eu não estou achando que você vai largar o senhor perfeito pra ficar comigo, ok? Até porque... - caminhou até o sofá se jogando nele novamente — Se antes, sem outra pessoa no caminho você não foi capaz de ficar ao meu lado, como ficaria agora que tem ele?
As palavras de Nicholas caíram como um tapa de luva. abaixou a cabeça e sussurrou:
— Me desculpe por te ferir.
— Já a desculpei há muito tempo, porque te amo.
— Nicholas... - suspirou — Estou confusa.
— Entendo... Quer que eu vá embora agora?
— Não.
— E então?
— Só fica aqui, e calado.
— Tudo bem. Mas posso ficar nu?
riu divertida. Era o antigo Nick ali. Ela se convencera depois daquela tarde que ele voltara. Ele voltara para ela.
Havia se passado um mês desde o ocorrido na casa de , e Thiago e ela pareciam ter se acertado. Ele até a acompanhou no lançamento da campanha de Steve Tyson.
Nicholas havia a dito na casa dela que ficasse tranquila, pois ele não se oporia à campanha que ela faria para o rival, porque o melhor dela só ele tinha. E nem mesmo Thiago era capaz de extrair o melhor dela. E ela não podia discordar. Com Thiago, era tudo fofo, perfeito, mas não chegava ao carnal que era com Nicholas.
Ela sorria cumprimentando os convidados da PubliCenter, quando avistou no meio de todos um par de olhares animalescos. Era ele. Olhou em busca de Thiago, e ele conversava com Lilian e outras pessoas da empresa mais afastado. Voltou a encarar o lugar onde havia visto os olhos de Nicholas, e seguiu calmamente até lá. Já não via nada, mas continuou andando até que Steve surgiu em sua frente.
— Ah! Steve! E então o que achou?
— Maravilhoso . Sabe o que também é maravilhoso?
— O quê?
— Você.
Ele a olhava com uma expressão de brincadeira e ela não sabia se o levaria a sério. Sorriu sem graça. E tocando o ombro dele, disse que precisava ir. Mas, antes que se distanciasse, Tyson puxou seu punho a fazendo virar.
— Me lembrei de onde conheço você.
— E de onde seria? - ela perguntou indiferente.
— Dos braços de Nicholas Jonas.
— Já faz muito, muito tempo.
— E por que aceitou a campanha do rival dele, se era tão apaixonada por aquele idiota?
— Por que, diferente do que o senhor está me mostrando, senhor Tyson... Eu não misturo trabalho com vida pessoal.
Soltou-se furiosa da mão dele, e saiu deixando Tyson sorrir irônico no meio da multidão. Foi até a pilastra onde achava que Nicholas estaria escondido, e não o encontrou. Virou-se para a porta ao lado, esfregando a nuca como se tivesse alucinações. Nicholas apareceu bem vestido à porta, sorrindo para ela com os mesmos pequenos olhos. Ela sorriu e observou se alguém a espiava. Ninguém. Caminhou até ele e escondidos foram para a varanda do salão, num canto que não pudessem vê-los.
— Largou o médico perfeitinho para me encontrar às escuras?
— Eu vim advertir, que seu nome não consta na lista. - ele riu ao ouvir a desculpa de .
— Eu ouvi o imbecil do Tyson com você. Ele acha que vai tirar você de mim?
— Alguém precisa contar a ele, que outro já fez isso.
— Verdade. Outro que está conversando com mulheres menos interessantes enquanto você corre em minha direção.
fez bico e detestou o comentário. Bateu no ombro de Nicholas que sorria.
— Veio fazer o quê Nicholas, procurar confusão?
— Não. Te parabenizar, pela linda campanha. E pedir pra não caprichar muito mais, e me deixar sem meus fãs.
— Você gostou? - sorriu boba.
— Se eu não conhecesse o Tyson, estaria encantado com ele agora.
— Nem tanto, não exagere.
— Fez um ótimo trabalho. Eu só vim para dizer isso. E te dar um presente.
— Presente?
Puxou e a beijou. O beijo calmo e apaixonado que era típico dos dois, e desde então não havia tido vez. Estavam tão sedentos um do outro, que os beijos anteriores tinham sabor de luxúria. Naquele momento, se recordaram do passado. E a cabeça de rodopiou, enquanto sentia os batimentos de Nicholas acelerarem sob a sua mão fina, espalmada no peito dele.
Logo que separou-se do beijo com ela, ele saiu rápido e furtivo deixando a garota abobalhada. Ela retornou para dentro, e Thiago a procurava.
— Aonde estava, meu amor?
— Cumprimentando alguns convidados querido.
— Ah sim... Eu tenho que ir, me ligaram do hospital.
— Ah, tudo bem. Eu pego um táxi.
Thiago a beijou num selinho e saiu disparado. Ela o viu se afastar, desanimada. Lembrou que o namorado sequer havia elogiado ou falado qualquer coisa sobre a campanha ou sobre a festa. Sorriu disfarçadamente para Lilian, que estava recebendo os cumprimentos de algumas pessoas e saiu em direção aos diretores da PubliCenter.
, depois que chegara em casa passara a noite pensando em Nicholas, até adormecer. Ao abrir os olhos, recebia beijos por todo o rosto e sentia o cheiro de mel e chocolate. Havia uma bandeja de café da manhã a seus pés. E Thiago a beijava, acordando-a carinhoso. Era uma surpresa maravilhosa, que o namorado não fazia a muito tempo.
— Desculpe deixá-la daquela forma ontem. Foi linda a festa, a campanha... Você... - ele disse sussurrado ao seu ouvido e beijou-a mais profundamente.
Ele colocou a bandeja de café da manhã no criado-mudo ao lado dela, e se deitou vagarosamente em cima da namorada. Iniciaram seus carinhos tão intímos e transaram. Mas, não sentiu-se como antes. Algo estava errado. Era como se seu corpo não se satisfizesse mais com Thiago.
Após terminarem, eles sorriram e ela culpava-se pela primeira vez ter feito algo nunca antes feito com o namorado: ela fingiu o orgasmo. Ele levantou-se para tomar banho e ela foi ao banheiro escovar dentes. Tomou banho junto a ele, e saiu antes de Thiago para a cozinha com a bandeja de café que ele preparou, em mãos. Aqueceu o leite com chocolate, o croissant e tomou café na cozinha. Ele surgiu apressado, vestido para o trabalho e beijando-a se despediu e saiu correndo.
começou a chorar. Não um choro de dor, mas um choro de saudade. Pensava em como os dias eram diferentes com Nicholas, antes de tudo desandar. Olhava fixamente para a bandeja vazia ao seu lado, e comia seu croissant quando algo veio a sua mente: Thiago tinha cópia da chave da casa dela, mas ela ainda não tinha a dele. Por quê?
Ela estava de folga, e decidiu que iria visitar o namorado no trabalho. Subiu o elevador, mais tarde naquele dia, e o corredor apinhado de jalecos e enfermeiros andando de um lado ao outro acusavam um dia cheio no hospital. Teria feito bem em ir até lá?
— ?
Encarava o outro lado do corredor quando ouviu seu nome.
— Oi amor! Vim visitá-lo. - ela sorriu e caminhou até ele.
— Que surpresa boa.
Ele a beijou e na porta ao lado dele saiu uma médica assustada. Eles se entreolharam surpresos e pressentiu mal.
— Sabe o que eu estava pensando? Em buscar a chave da sua casa para fazer a minha cópia.
— Agora?
— Sim, algum problema?
— Eu esqueci as chaves em casa amor... Peguei as suas e saí tão apressado que deixei as minhas em casa!
— Oh... Coitadinho do meu amor, quis me fazer uma surpresa e se enrolou.
Ela riu sarcástica, e Thiago notara. Ela disse que o deixaria trabalhar, pois o hospital estava muito movimentado. Eles se despediram. foi até o prédio de Thiago. Antes de chegar na entrada do condomínio, ela avistara Nicholas do outro lado fumando sentado à calçada.
Trocaram palavras, e ele a convidou para conhecer o apartamento dele. Ela ficou surpresa em descobrir que aquele tempo todo ele morava lá. Ela puxou o cigarro dele e tragou subindo. Ao entrar, se espantou pela maturidade que o apartamento dele demonstrava. Contudo, havia um saco de boxe na sala para lembrar que era de Nicholas que falávamos. Ela foi direto ao telescópio da janela.
— Você espiona o Thiago?!
— Surpresa? Queria o quê? Eu tenho que estudar meu concorrente!
— Nicholas, você é tão infantil!
— Já fui mais, acredite.
Eles riram. E ela espiou pelo telescópio.
— E o que você viu de interessante até hoje?
— O que exatamente você quer saber, ? - perguntou ele com a pulga atrás da orelha.
— Nada.
— Não foi interessante, foi torturante, mas eu vi vocês transando na sala. Você fez uma dança sexy e provocante para aquele...
Antes que terminasse de falar ela jogou-lhe uma almofada no rosto. Nicholas riu. E jogou de volta.
— Pervertido.
— Seu namorado é bem mais.
— Nicholas... Se você visse algo errado, me contaria?
— O que foi, ? Aconteceu alguma coisa?
— Ele tem a chave da minha casa, mas não me deu a dele até hoje... - eles ficaram em silêncio se olhando — Ah, esquece! Nada a ver desabafar isso com você!
Ela tragou o cigarro de Nicholas de novo, e ele sorriu de cabeça baixa.
— Sabe o que eu acho?
— Hum?
— Que não podemos mais nos encontrar na sua casa. Ele tem a chave.
gargalhou se jogando mais a vontade no sofá.
— Vamos nos encontrar só aqui agora. Fica melhor também, você pode sair da casa dele e vir direto para a minha.
— Nicholas, você é um idiota.
Eles sorriram e ficaram em silêncio. Nick se recostou no sofá ao lado dela, e pegou o cigarro de volta e o apagou.
— Não quero você fumando isso.
Ele repreendeu por fumar sua maconha. Ela havia parado há muito tempo. E ele só não parou, porque sem ela, a erva o fazia a esquecê-la nas suas piores noites. Eles continuaram se encarando em silêncio. Nicholas pouco a pouco aproximava o rosto do rosto dela. Não perdiam o contato visual. E , depositou uma mão leve nos lábios dele, o que o fez fechar os olhos. E quando se dera conta, ela já o havia beijado. Ficaram juntos no sofá, trocando carinhos e beijos como em início de namoro. Ela estava decidida: tinha que parar com aquilo. E escolher um ou outro. Levantou-se rápida e saiu deixando Nick sem entender.
Ele correu atrás dela pela calçada, mas ela entrou em seu carro e fugiu rapidamente.
Nicholas tentara contato com por dias e ao ver que ela não o procuraria, o rapaz começou a seguir os passos dela. Porém, não a perturbou. Todo dia na saída da empresa, ele aguardava sair do expediente, e ela sempre o evitava. Entrava no carro e dava partida após encarar os olhares tristonhos dele.
Após semanas de perseguição, Nicholas decidira que daria o espaço que ela queria. Mas, coincidentemente se esbarraram na padaria do bairro de Thiago.
— Vejo que decidiu ficar com ele. - ele disse à que permaneceu muda ao vê-lo.
— Não temos nada, eu sou a namorada dele desde que você voltou.
Ela respondera com seu antigo ímpeto de "afastar Nicholas".
— Nada? E se eu perguntar o que ele acha?
— Você não se meta no meu namoro!
— Ele quem se meteu no nosso lance! Mal deu tempo de eu sair da sua vida, para este babaca tomar meu lugar!
largou a sacola em sua mão, em uma cestinha e retirou as compras de Nick da mão dele também. Ela o puxou pela mão para fora daquele ambiente, onde o escândalo dele chamava atenção de todos.
— Nicholas, não fala merda! Eu não tinha mais nada com você quando...
— Você não me deu tempo de consertar as coisas, já foi ficando com ele sem pensar em tudo o que nós vivemos!
— Primeiro: se acalme e não me interrompa. E segundo: acha mesmo que tinha algum conserto?
— Quando nós estávamos gemendo o nome um do outro semanas atrás, me pareceu que sim.
ficou estática e calada.
— Eu não quero voltar atrás com você, como eu disse antes, aquele momento foi um erro.
— Não, não foi. Erro é o que você vai cometer estando com ele.
— Nick, olha... Eu e Thiago estamos ótimos! Vamos viajar este fim de semana, e eu não quero notícias suas quando eu voltar.
— Viajar? E acha que isso significa que ele te leve a sério e te respeita?
— Ele sempre levou a sério nós dois. E sempre me respeitou, ao contrário de você.
— Não precisa ser mago pra saber que você se entrega mais a esta relação que ele!
— Talvez seja o meu defeito.
— Quando estávamos juntos, a entrega foi mútua. Eu nunca fiz você mendigar o meu amor, e minha atenção. E nunca precisei de outra pessoa.
— Para de ficar falando sobre eu e você! Esquece, Nick! Eu e Thiago não vamos nos separar!
Nicholas assentiu, deu as costas com lágrimas nos olhos e saiu. também não estava bem, mas voltou a padaria para que, ao chegar na casa do namorado não tivesse que explicar o motivo de não trazer o café da manhã.
"I can tell that you're a real bad girl, underneath it all..."
O fim de semana havia chegado e Nicholas sabia cada passo que Thiago daria. Não era a toa que ele estava estacionado próximo à casa de , escorado no capô do próprio carro aguardando a cena que ele sabia que viria.
estava eufórica com a viagem. Muitas dúvidas pairavam sobre sua cabeça naqueles dias, e embora uma - maldita - chave não fosse nada, porque é que Thiago continuava evitando dá-la uma cópia da chave de sua casa? O que ele teria a esconder? sentia-se envergonhada por aquilo. Não o bastante as dúvidas que plainavam sua mente, ainda tinha Nicholas vagueando de hora em hora por seus pensamentos.
Ela terminara de passar batom e desceu a espera do namorado. A campainha tocara e mais do que alegre, ela pulara nos braços dele quando abriu a porta.
— Amor! Estou tão animada! - ela dizia esbaforida enquanto puxava sua mala até ele.
— ... Espera.
— O que houve?
— Não podemos ir.
— Por quê? E a pesquisa?
— Na verdade, você não poderá ir...
A face da mulher já havia mudado totalmente. E Thiago não poupou esforços para começar a se explicar. Ele bem sabia o quanto ela ficaria furiosa.
— Eu vou ficar mais de dois dias no Congresso, e o diretor do hospital irá e já me demandou total atenção... E ... Puxa , eu sei que ia ser a nossa viagem, mas, prometo que quando eu voltar não teremos mais o meu trabalho entre nós.
— Você pode acreditar, que não teremos.
— O que você quer dizer com isso?
— Só estou confirmando a sua promessa. Boa viagem, e bom congresso.
Thiago sorriu culpado e beijou a namorada. bateu a porta e entrou furiosa. Como ele poderia ter feito aquilo com ela? Outra vez, em segundo plano? E o que estava acontecendo com Thiago, afinal? Ele sempre fora atencioso, carinhoso, e sempre carregou o mundo por ela. Logo agora, que Nicholas voltara para deixá-la ainda mais confusa, ele estava dando brechas para Nick?
Não demorou muito tempo para a campainha de sua casa tocar, ela ainda estava andando de um lado a outro estupefata pensando no vacilo de Thiago. Olhou para a porta num misto de raiva e esperança: Thiago voltara! Correu para abrir a porta, mas exitou. Não poderia deixar de ser dura com ele. Respirou fundo, e com sua pior face abriu a porta.
— Pronta para viajar?
— Nicholas?
— Ele te deixou para trás não é?
— Não pude ir com ele. E você não tem nada a ver com isso.
respondeu dando as costas a Nicholas, ainda mais irritada. Ele entrou rindo e fechou a porta.
— Vamos, eu vou levar você.
— Para onde?
— Para descobrir umas coisas...
— Nicholas, por favor, cai fora. Será que não entende que não quero assunto contigo?
— Estou vendo que não quer... - ele zombou e riu.
Nicholas abriu a geladeira e pegou um suco. Sentou à bancada da cozinha e retirou um envelope do bolso. continuava de costas a ele encarando a janela da própria sala. Ao ouvir Nicholas pigarrear, ela o encarou. E antes que pudesse reclamar, ele lhe jogou o envelope.
— O que é isto?
— Um favor.
Ela retirou o documento que havia dentro: várias fotografias de Thiago, com várias mulheres, em vários lugares. No hospital, na rua, em bares, no apartamento dele.
— Nicholas? - ela o olhou assustada e continuou analisando as fotos.
— Você me perguntou, se eu visse algo errado, se te contaria...
— Você é um babaca! Sai agora da minha casa!
— O quê? NÃO FUI EU QUEM TE TRAIU!
— Você é um oportunista! O que é? Vem aqui na minha casa, me mostrar estas fotos e acha que vou correr para seus braços depois?
— Não me importa o que você vai fazer depois, o que importa é que eu estou abrindo seus olhos.
— A troco de quê?
— Não sou este babaca que você pensa! Qual é, esqueceu mesmo de tudo o que vivemos?
— Sai daqui.
— Vem comigo, . Eu não quero que você corra pros meus braços agora, eu só quero te mostrar a verdade.
— E tem mais? Como você é ridículo... Está se vingando em espezinhar meus sentimentos não é?
— ! Eu amo você, como eu nunca amei ninguém, e mesmo que você fizesse as piores coisas a mim, eu jamais te faria sofrer. Por favor, vem comigo.
— Pra onde?
— Vou te mostrar o que é o Congresso, que o seu perfeito namoradinho médico foi.
Dito aquilo, pegou sua bolsa e acompanhou Nick. Ela não percebera, mas, Nicholas pegou a mala dela e colocou no carro dele. A vontade que ela tinha de chorar e de matar era enorme. Mas, nunca se renderia a sofrer na frente de Nicholas. Não fizera isso nem quando estavam juntos. Não faria agora.
Eles pegaram a estrada, em silêncio. Chegaram a cidade vizinha, rapidamente, já que não estavam tão longe e Nicholas pisara fundo.
— , vou abastecer. Quer algo da conveniência?
— Não. Vou ao banheiro.
Nicholas estava enraivecido pela frieza da ex. Ele a fazia um favor, e era tratado com desprezo? Claro que, quando colocou um detetive atrás de Thiago, Nicholas queria provar que as cenas que assistia todos os dias em frente à sua janela, eram reais. E só daquela maneira, acreditaria nele. E com a descoberta, esperava o caminho livre para reconquistá-la, mas, jamais pensara que ela o odiaria por lutar por ela.
Eles seguiram viagem, e uma hora e meia depois o pneu do carro furou. continuava impassível. Nicholas chamou o resgate da consecionária rodoviária, e a demora no serviço fez escurecer. Ele não queria seguir viagem de noite. Até poderia, mas não o faria por duas importantes razões: estava tão calada que era arriscado que ele pegasse no sono, e teria mais tempo com ela se não seguissem.
— Por quê parou aqui? - ela perguntou ao ver que ele parara o carro numa parada de caminhoneiros.
— Não vou seguir, preciso dormir.
— Está brincando não é?
— Você quer que eu siga viagem com sono?
— Estou falando de parar aqui. É perigoso! Vamos ao menos, buscar um posto seguro.
— Ninguém vai mexer conosco, e se mexerem, eu estou aqui.
Ele piscou os olhos e sorriu. Ligou o rádio bem baixinho, numa música tranquila, para quebrar o silêncio que ficaria entre eles até pegarem no sono. Mas, não demorou muito para interromper o falso sono de Nicholas.
— Nick...
— Hm?
— O que aconteceu com você?
Nicholas abriu os olhos, confuso. E a encarou por um tempo decifrando a expressão de dor e curiosidade na face dela. Ele sorriu manso, um sorriso que ela amava. O sorriso que formava as ruguinhas em suas bochechas e deixavam os olhos dele pequenininhos. acreditava que era melhor tê-lo deixado calado. Ela não poderia responder por seus atos se Nicholas começasse a ser o Nick dela, de novo.
— Antes ou depois que você foi embora?
— Eu não quero saber o que fez você chegar ao ponto que chegou, ao ponto de eu desistir. É só que... Você tinha tantos planos.
— Não retomei nenhum deles. Só foquei no boxe, na possibilidade da carreira no esporte e sem você... Eu não tinha muitos motivos para focar em outra coisa.
— Você não pretende voltar à faculdade? Lançar pelo menos uma das suas músicas? Abrir um negócio com seus irmãos, como vocês três brincavam de sonhar?
riu largamente ao recordar a memória com os meninos e Nicholas também.
— , uma das coisas que me fizeram vir para cá é justamente a necessidade de por um fim em tudo. Os dois se encaravam forte, mantinham o silêncio. foi a primeira a desviar o olhar, como sempre, exceto quando Nicholas mentia.
— Fim em tudo?
— É. Eu preciso encerrar um ciclo, e vir pra cá faz parte do plano. E se eu encerrá-lo, talvez eu consiga retomar outros planos.
— Que ciclo?
Ela já estava curiosa, e surpreendentemente - ou não - desapontada. Nicholas sabia, ele conseguia ler cada gesto dela. Anos de prática e uma percepção avançada.
— Você sabe. Eu preciso saber se nós teremos um fim. Talvez, se não der certo mesmo, eu consiga voltar à época em que não nos conhecíamos e seguir como se nada tivesse acontecido. Como se eu não tivesse abandonado a música, o teatro, as loucuras com meus irmãos, para viver por você. Te fazer sorrir todos os dias, mesmo quando eu quisesse chorar. Casar com você e admirar o seu despertar toda manhã, antes de sair correndo para levar nossos filhos à escola e seguir para um trabalho qualquer, que até hoje não decidi... Enfim... Se nós não tivermos futuro, em hipótese alguma, talvez eu consiga te apagar da memória e apagar os planos de uma família feliz.
segurava um choro contido e antigo, em sua garganta.
— Ou talvez, se não tivermos futuro, você possa encontrar alguém que o fará muito mais feliz do que eu poderia e tenha a sua família feliz.
— Você acha mesmo que isso é possível?
— Acho. Eu por exemplo, estou conseguindo isso.
— Não está não.
Nicholas a cortou seco e suficientemente realista para fazê-la piscar desajeitada, como ela fazia toda vez que acordava de suas ilusões. suspirou fundo, e abaixou a cabeça. Não poderia não dar razão a ele. Ela estava completamente longe de conseguir uma família feliz com outra pessoa. Nick segurou a mão dela, que estava entrelaçada uma na outra sobre o próprio colo, sorriu e a fez olhar para ele. Antes não tivesse olhado. A frase posterior que Nicholas a disse, foi o bastante para deixar sem chão, e sanidade.
— Outras pessoas podem conseguir, mas eu estou diante do amor da minha vida. Desta e de outras, e como poderia seguir ao lado de mulher que não fosse você, como seguir com outra se minha alma gêmea sempre foi você?
— Você aprendeu a mentir?
— Não, e nem você. Assuma que você sempre tentou sair das suas discordâncias, mas sabe que não haverá outro além de mim. Pode ser o Thiago, ou quantos mais surgirem, nunca será real. Por que eles não podem ser eu.
— Você não sabe o que diz.
— Eu sei, e você sabe que eu estou certo. Eu te amo .
segurava-se para não chorar e confessar que ele tinha razão. Ela apertava suas mãos em punho, e quando seus olhos foram se tornando mais marejados e vermelhos por segurar aquelas lágrimas, ela escutara Nicholas dizer "Eu te amo, " e a partir dali ela não poderia deixá-lo sem resposta.
— Eu juro, que o que eu mais queria era te odiar Nicholas.
Disse, e antes que o homem pudesse ter qualquer reação, puxou-o para um beijo. Um beijo ardente e urgente que dizia o quanto ela o amava. Nicholas, ainda estava zonzo, pois não acreditava que cederia aos sentimentos tão rápido. Ele beijava a mulher, com as mãos paradas à cintura dela, mas ele estava imóvel. E sua perplexidade e inércia continuaram, mesmo quando ela ousadamente passou para o lado dele, sentando-se sobre o colo do rapaz. Ela sussurrou no ouvido dele "está apertado aqui" e riu abafada e continuou o beijo. Nicholas entendendo o que estava acontecendo, levou a mão ao gancho do banco do motorista afastando-o mais para trás. Assim, pode ficar confortável entre o volante e Nicholas. Num estalo, Nick afastou a mulher de sua boca e a encarou. Os olhos de ainda escorriam, e mais ainda agora, refletiam luxúria. Nicholas sorriu sacana, e ela também. Um jogo iria começar.
— Eu poderia começar selvagem como da última vez, mas... Eu não posso confiar em você, . Há sempre o risco de quando acabar você ir embora...
— O que você quer dizer?
— Nada... Passa pro banco de trás.
Ele esperou ela sair de seu colo para analisar a situação: não interessava se queria um sexo carnal com ele, ou se ela havia assumido o sentimento. Nicholas ainda estava a levando para encontrar o namorado traidor, e mesmo pela falha de Thiago, ela poderia não querer ficar com ele. Ela poderia escolher não ficar com ninguém. Aquilo que acontecia não era sinal de que haveria um futuro.
Ele seguiu para o banco de trás do carro, onde estava sentada encarando as reações dele. Ele teria exitado? Ele estaria desistindo? Por mais errado, que aquilo soava a ela, não queria não viver aquele momento. Nicholas sentou-se ao lado dela e os dois ficaram se analisando. Ela colocou uma mecha de caBel o atrás da orelha e fugiu ao olhar dele. E Nick, entendendo o constrangimento dela, puxou-a pela cintura e colou os corpos.
— Esta é uma chance única, deixe acontecer e me pegue se puder.
Proferiu aquelas palavras e beijou , de um modo feroz. Assim como ela correspondeu, também feroz. Aos poucos, ele foi deixando ritmo entre eles se acalmar. Deitou a ex namorada, no banco do carro e foi pouco a pouco despindo-a. Entretanto, não parecia querer ser controlada.
— Boxeador... - sussurrou no ouvido dele o causando arrepios ininterruptos — Deixe seu dinheiro falar pensamentos sujos para mim, e me assuma como uma droga louca que você vem amar .
A vista de Nicholas se escureceu. Ela queria controlá-lo? Ela queria que ele não se controlasse? Naquele instante, ele esqueceria o que viria depois, e assumiria a verdade que acabara de pedir: ela era a droga dele, que ele não poderia viver distante.
As mãos sagazes de Nicholas, puxaram ao seu corpo, ainda deitados, de uma maneira que os encaixava perfeitamente. E não se poliu em deixar claro para quem quer que a visse depois que ela tinha pertencido a ele. detestava ser marcada, e aquilo era algo que não acontecia entre eles no passado, por respeito mútuo aos corpos um do outro. Mas, havia uma necessidade animalesca naquela transa, e havia o mesmo respeito também. Foi sabendo disso, que deu a Nicholas a permissão de fazer o que quisesse com o corpo dela. Ele sugava os seios da mulher, enquanto suas mãos exploravam cada pedaço do corpo dela. , gemia enquanto suas mãos também deixavam as marcas de que Nicholas lhe pertencia. Se não para sempre, pelo menos naquele momento. Ela se contorcia sob o corpo dele, Nicholas estimulava-a com as mãos. E não demoraram muito tempo, naquelas preliminares adolescentes. Quando não podiam mais suportar a necessidade do corpo um do outro, Nicholas penetrou-a. E de novo. E de novo. E de outras maneiras. E mais uma vez, até o vidro do carro estar tão embaçado como no inverno, que no Brasil só existia no hemisfério Sul. Nicholas não queria perguntar o que aconteceria depois. Ele não queria saber sobre o Thiago, ou se ela ficaria só com ele. Ele queria eternizar aquele momento. E , sem ter sido pedida, respondeu-o:
— Nenhum outro seria você.
— Como?
— Nós podemos tentar, mas, ainda temos muito desta vida para fazer durar.
— Então, eu posso desistir de todos os outros planos?
— Não foi o que eu disse.
—! Pare de falar nas entrelinhas, eu sempre sou tão direto e você fica falando em metáforas e você sabe que eu odeio quando você...
— O trabalho qualquer que você ainda não decidiu, pode ser um restaurante com seus irmãos... E a música deve ser retomada! Podemos, inclusive, formar uma banda entre vocês e aí tocariam no restaurante! Eu faço o marketing de todo o empreendimento. E não venha discutir, porque eu não vou deixar você acordar antes de mim e ficar encarando minha cara recém-acordada e amassada todos os dias. Em dias alternados, eu é quem quero contemplar você, Nicholas Jerry Jonas.
— Isso é uma promessa? - ele perguntou, e mais uma vez o sorriso que ela amava.
— Não, este é o ciclo. Este é o nosso destino: ficar juntos ou nos reencontrar tantas e tantas vezes, até acabarmos nos declarando no banco de trás do seu carro.
Eles riram divertidos, não haviam se recordado até aquele momento, que fora daquela maneira que o namoro deles começou.
Fim!
Comentários da autora
Ei! O que acharam? Eu pensei em fazer, talvez, uma história que antecederia a esta. Tipo o "como tudo começou" entre eles, sabem? Que tal? Conta, conta, gente! Tô doidinha para saber a opinião de vocês!