Superar

Thicy Porto | Revisada por Luba

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Capítulo 01

  Sua visão estava turva, seus olhos pareciam pesar. Pesavam devido às lágrimas que saiam deles. Seu coração parecia esmagado por dentro, e tudo o que passava em sua mente era a discussão que ela tivera com Kevin, seu namorado. Fechou os olhos e, automaticamente, as lembranças daquele dia invadiram sua mente.
  O barulho da rua era a única coisa que a fazia perceber que não estava surda. Os dois se encaravam, o olhar castanho penetrante de Kevin a condenava. Ela apenas não se sentia confortável com isso, não agora. Era uma noite fria em Portland, e o brilho negro do céu deixaria o clima romântico se não fosse pela situação que eles se encontravam. Kevin, indignado, estacionou o carro na estrada e sua namorada foi a primeira a sair. Com um andar lento, ele se aproximou dela. Sarah não sabia o que esperar diante de toda a tensão. Talvez ele terminasse? Não, ele não era do tipo explosivo. Um bom homem, certamente. Porém, mesmo aqueles que são bons se corrompem. Ele apenas se aproximou, a olhou nos olhos e ficou em silêncio.
  – Sarah, eu não entendo. Por que não quer? – Kevin perguntou ficando ao lado dela no capô do carro.
  – Eu não me sinto confortável em ver seus pais agora, eu quero esperar mais um pouco! – Sarah explodiu, descarregando toda a angústia que sentia diretamente nele.
  – Como não? Você está saindo comigo faz quatro meses e não tem coragem de fazer uma programação comigo e minha família? Poxa! – Kevin magoado se afastou. – Eu não quero estragar nossa noite, mas preciso que você seja sincera comigo, e tome uma decisão logo. –Disse entrando no carro. Segundos depois Sarah o acompanhou colocou o cinto de segurança, porém ele não.
  – Eu não quero isso, entenda. – disse com a voz serena e então ele deu a partida no carro. O silencio permaneceu até o percurso de volta para casa, nenhum dos dois ousava a se encarar, pois estavam perdidos em seus pensamentos.
  – Eu sei que você se sente mal, mas ao menos tenha consideração! Eu não quero algo passageiro com você. – Falou ao parar o carro na frente da casa de Sarah.
  – Boa noite Kevin. - Foi tudo o que disse antes de sair, dando as costas para ele.
  Sarah pensava seriamente na proposta do seu namorado enquanto tomava um banho quente. A ideia de ter um relacionamento sério a deixava insegura, não queria se comprometer agora, mas também não queria vê-lo chateado. Saiu do banho decidida a ligar para ele e ter uma conversa, mas as batidas na porta do seu quarto não a deixaram procurar pelo celular.
  – Kevin bateu o carro, e ele não sobreviveu, querida. Sinto muito – Seu pai falou se aproximando dela, que ficou estática e entrou em prantos.
  Apavorada com o som de um estrondoso relâmpago, Sarah despertou, sentando de imediato na cama. Ligou o abajur que ficava encima do criado mudo para olhar o relógio ao lado, ainda era madrugada. Esfregou a mão no rosto tentando afastar a angustia que aquelas lembranças a traziam, percebeu que suava frio. Buscou forças para ir ate o banheiro, já que sentia um cansaço inexplicável e o piso estava gelado. Levou água ate seu rosto e respirou fundo para controlar a respiração, que estava ofegante. Com corajem, se olhou no espelho. Estava horrível, com olheiras, a pele pálida, e com certeza destruída por dentro. Não conseguia acreditar que havia perdido o namorado fazia uma semana, o sentimento de culpa a castigava, e nada podia ser feito. Se não fosse por sua imaturidade, ele não teria ficado bravo e perdido o controle. Ela o amava e tinha o perdido para sempre e isso a torturava. Não segurando mais, se permitiu chorar mais uma vez.
  De volta em cima da cama, pegou uma foto do seu namorado que havia revelado há pouco tempo e começou a desenhar o rosto dele em seu caderno. Rabiscava sua imagem para preencher o vazio que sentia em sua alma. Ao terminar o desenho, Sarah pegou a foto e ficou a observando, ele era tão jovem e com uma vida pela frente, como o destino pôde ser tão cruel? Pensando nisso deixou alguns lágrimas de saudade escorrer pela imagem. Guardou o caderno, deitou na cama apertando a foto contra si e adormeceu imaginando ser abraçada por ele.
  O dia tinha amanhecido. A empregada entrou em seu quarto abrindo as cortinas e fazendo com que os raios de sol tocassem em seu rosto sereno, com isso despertou.
  – Bom dia senhorita, dormiu bem? – Perguntou Lea ao vê-la sentada.
  – O de sempre... Bom dia pra você também. – Respondeu sem animo algum.
  – O café já está pronto, seus pais estão te esperando na mesa. – Disse.
  – Estou indo. Obrigada. – Dito isso, Lea saiu do quarto para Sarah poder se organizar. Depois de se arrumar, não demorou muito para chegar à cozinha, já que na sua casa não tinha escada. Encontrou seus pais trocando caricias na mesa, e sentou, reunindo-se a eles.
  – Bom dia. – Disse Sarah, fazendo seus pais se consertarem.
  – Ei, bom dia meu docinho. – Falou sua mãe sorridente.
  – Como passou a noite, meu anjinho? – Perguntou seu pai, assim como sua mãe a chamando com apelidos no diminutivo.
  – Nada bem, inclusive não quero ir para escola hoje. – Falou e recebeu o olhar repreensivo de sua mãe.
  – Sinto lhe dizer, mas não vou deixar você faltar hoje. Sei que está passando por um momento difícil, mas ainda quero ver você ir para universidade, sabia? – Falou seu pai, colocando geleia na torrada.
  – Eu só queria que o tempo parasse. – Comentou, ainda sem tocar em nada.
  – Olha, meu amor, o que aconteceu foi uma fatalidade, não foi sua culpa. Você tem que... superar, de um jeito ou de outro. – Disse sua mãe para confortá-la. – E também queremos te contar uma coisa. – Fez uma pausa para surpresa.
  – Estou grávida! – Disse orgulhosa, sendo selada pelo marido à direita.
  – Verdade? Nossa mãe, que bom! Parabéns. – Mesmo que sua voz não transparecesse, estava feliz com a notícia. – Sério, ótima notícia para começar meu dia. Só não estou no clima para festejar.
  – Tudo bem, vou ser compreensível. Mas não posso te dar o luxo de faltar hoje. Nós adorávamos o Kevin, era um bom rapaz, e eu garanto que ele não iria querer ver você desistir tão fácil assim. – Disse seu pai, fazendo Sarah bufar de irritação.
  – Certo, a vida continua e eu tenho que trabalhar. – Pronunciou sua mãe, se levantando da mesa.
  – Ah, isso não é justo, logo no meu dia de folga! – Protestou seu pai.
  – Eu sei amor, pena que não tive a mesma sorte hoje. Mas ainda chego para o jantar. – Falou o beijando. – Filha, quer carona? – A menina negou com a cabeça, bebendo o resto do suco de laranja, então a mãe se aproximou, dando um beijo de despedida em sua testa.
  – Vou arrumar minha mochila. – Levantou-se da mesa assim que sua mãe saiu, deixando seu pai sozinho terminando o café.
  Minutos depois de colocar os livros em sua bolsa e de escovar os dentes, se despediu do seu pai, que estava no sofá no celular, e da empregada, que lavava a louça. Naquele dia, como de costume, Sarah esperaria no ponto de ônibus o carro da escola, mas não queria ficar parada, como dava para ir a pé, decidiu caminhar. Mesmo com o sol que fazia, Sarah abraçou-se ao sentir um vento frio arrepia-la. Estava no meio do caminho, a rua tinha pouco trafego de carro, sempre gostara do bairro que morava por ser tranquilo. Abriu a bolsa à procura do celular para ouvir musica. Deu-se conta que esquecera o caderno de desenho em casa, precisava voltar.
  Voltou correndo para casa, tinha que ser rápida para não se atrasar. Abriu a porta com a chave que estava em suas mãos, não quis perder tempo batendo na porta. Estranhou ao encontrar a sala vazia e em silencio, não deu muito importância ate se aproximar e escutar um gemido suspeito vindo da porta do quarto de seus pais. Não podia ser sua mãe, há essa hora já havia chegado ao trabalho. Sarah se aproximou com cautela em frente à brecha da porta aberta, e levou a mão à boca chocada com a cena que presenciara. Seu pai embaixo da empregada que se esfregava nele e distribuía beijos em seu pescoço, estavam tão entretidos que não a notaram. Naquele momento Sarah sentiu nojo do seu pai, não quis ficar mais naquele lugar.
  “Como ele podia ser tão safado? Trair a própria família! A bendita esposa dele, minha mãe, está esperando um filho. E eu também sou filha desse monstro mentiroso”, pensou. Ainda transtornada, conseguiu avistar no balcão da cozinha a chave do carro dele, não pensou duas vezes em pegar e bater a porta com raiva para que soubessem que alguém estivera ali. Caminhou com rapidez e entrou no carro dando a partida, não sabia para onde ir, mas estava confusa, estava com a cabeça quente com os fatos que haviam acontecido desde a perda de Kevin. Não poderia dedurar seu pai – não agora com a mãe grávida – e também não queria mais seu pai nem Lea em casa. Nunca pensou que Lea fosse como essas mulheres duvidosas – jovens e formosas –, que é sonsa e age como uma cadela.
  As lagrimas em seu olhar pareciam não querer parar e por um breve minuto ela se distraiu ao secar o rosto com o braço quando sentiu apenas um impacto vindo do lado oposto em que dirigia. Sua visão se fechou em uma escuridão, então ela caiu num vazio, sendo preenchido apenas por vozes e sonhos.

Capítulo 02

  O corpo de Sarah, completamente inconsciente, adentrou o hospital em cima de uma maca enquanto uma equipe de enfermeiros e paramédicos a levavam para a ala de emergência.
  – Coloquem um tubo toráxico e levem-na! – Ordenou um dos paramédicos que a acompanhava bombeando um pequeno balão de plástico para ajudar em sua respiração.
  Ao entrar no centro cirúrgico, Harry faz uma analise para saber a proporção dos ferimentos.
  – Contusões cerebrais, – disse ao olhar o exame da tomografia computadorizada da cabeça da garota. – também há hemorragia interna e costelas quebradas. – Respondeu olhando os outros exames.
  – Não há muito que possamos fazer em relação ao cérebro. Temos que esperar para ver. – Ordenou. – Enquanto isso chamem o banco de sangue. Precisamos de duas unidades de O positivo e mais duas de reserva. – Dito isso, fez a higiene e proteções necessárias para começar a cirurgia.
  A sala de cirurgia era pequena e estava cheia, repleta de luzes fluorescentes, o que destacava as marcas de ferrugem no chão que, apesar de polido, é perceptivelmente manchado de sangue antigo. Os médicos são precisos nos movimentos, cortando e costurando como se fosse um quebra-cabeça, só que com bastante cuidado com as peças, pois é uma vida que está em jogo. E era isso que pesava nos ombros de Harry. Nunca queixou-se da responsabilidade que ser medico o trazia, ao contrario, sentia como se tivesse um dom, como se outra pessoa tomasse conta de suas mãos e o mostrasse como fazer. E sempre tinha um resultado positivo em relação a isso. Porem, não deixava de haver tensão na hora da cirurgia, o medo de errar e falhar com o paciente o deixava bastante aflito.
  Apesar de ser jovem e com poucos anos de residência no local, Harry mostrava ser um médico competente. Mostrava resultados no que fazia e com isso adquiriu o respeito de todos.
  A anestesista ao seu lado observava os sinais vitais da garota, ajustando a quantidade de líquidos, gases e drogas que são injetadas. Qualquer cuidado é pouco em um trabalho duro e complicado como esse, a cirurgia parece interminável, mas Harry ainda consegue energia para continuar ali, em pé, trabalhando.
  Depois de 4 horas no centro cirúrgico, terminaram os procedimentos e a levaram para a sala de recuperação. A Unidade de Tratamento Intensivo. No meio do quarto havia um computador que registrava os sinais vitais de Sarah, e uma escrivaninha enorme com uma enfermeira sentada e mais duas enfermeiras que a observam, além de inúmeros médicos ligando os tubos em sua garganta – para ajuda-la a respirar – outro em seu nariz – mantendo o estomago vazio – em seu peito - registrando seus batimentos cardíacos - e em seu dedo, registrando sua pulsação.
  Os pais de Sarah aguardavam na sala de espera noticias da cirurgia. Eva ainda não acreditava no que estava acontecendo. Saiu do trabalho indo direto para o hospital, recebendo a noticia de que sua filha tinha sofrido um acidente de carro, e o mesmo havia capotado. Seu estado era grave, pois não usava sinto de segurança. Tentava acalmar-se nos braços do marido, mas isso não afastava a agonia que sentia por não poder fazer nada.
  – Por que diabos demoram tanto? – Perguntou, já sem paciência, levantando e saindo do abraço do marido.
  – Ei, amor, não se agite tanto, pode fazer mal para o bebê. – Disse o mesmo, levantando também.
  – Eu não consigo ficar calma! Sinto-me uma inútil por estar aqui parada sem poder fazer nada! – Alterou seu tom de voz, descarregando sua aflição.
  – Eu também estou preocupado, mas temos que esperar! Não temos outra escolha. – Respondeu calmo e se aproximou para um abraço, que foi retribuído.
  – Porque ela faria uma coisa dessas? Não faz sentido! – Falou com a voz entrecortada. – Não quero perdê-la, Dylan!
  – Ainda estou tentando entender as coisas, assim como você. Vai dar tudo certo, a Sarah é forte, vai sobreviver. – Disse para confortar a esposa, que manchava seu ombro com as lagrimas.
  – Sr. E Sra. Poesy? – Uma voz feminina soou na sala, atraindo a atenção do casal. Uma enfermeira de pele escura e cabelo curto leu o nome dos responsáveis em sua prancheta.
  – Somos nós! – Pronunciou o pai. Os dois caminharam em sua direção.
  – Como ela está? – Eva perguntou receosa.
  – Ela ainda está sedada devido a cirurgia e continua respirando com ajuda de aparelhos, enquanto seu corpo se recupera do trauma. Mas, está em coma. Para os pacientes nessa situação, ajuda muito escutar a voz de seus familiares. – Explicou a enfermeira.
  – E quando podemos vê-la? – Perguntou sua mãe.
  – Agora mesmo. Sigam-me, por favor. – Disse e os mesmos a seguiram.
  Depois de caminharem a passos largos no corredor da UTI, entram no quarto em que Sarah se encontrava. Então Eva, ao ver o estado da filha, desaba em lagrimas. Deitada naquela cama completamente imóvel e com o rosto cheio de curativos e arranhões por todo o corpo, parecia que Sarah havia entrando em um sono profundo. Lembrou-se que a filha quando criança era fascinada pela história da bela adormecida, que fantasiava que um dia seria acordada por um príncipe que se apaixonaria por ela dormindo. Mas a vida real não é como um conto de fadas, em que os príncipes aparecem e se apaixonam do nada e com um simples beijo despertam a princesa de uma maldição. E no momento em que ia se aproximando da filha, uma sensação de alivio tomou conta de si, talvez haja uma exceção, talvez ainda reste esperança. Aconteceu um milagre, minha filha ainda está aqui, ainda está viva! – pensava positivamente a mulher.
  – Oi, meu docinho! – Disse entre soluços, acariciando cuidadosamente a cabeça da filha.
  – Ela pode realmente nos ouvir? – Perguntou Dylan evitando o contato visual na cena.
  – Não duvidem nem por um segundo que ela consegue ouvi-los. A presença de vocês pode ser reconfortante desde que o que disserem possa realmente ajudá-la. – Respondeu a enfermeira. – Com licença, vou deixa-los a sós.
  Ainda sem corajem de olhar diretamente para filha, Dylan se aproximou e sentou-se ao lado da esposa, que não desgrudava da menina. Sentia-se culpado por ver sua filha naquele estado, fingia não saber o motivo pelo qual Sarah estava em seu carro. Certamente não soube o que fazer ao presenciar o pai tendo um caso com a empregada e agiu por impulso. O que era compreensível para ele, mas vendo o que seu erro causou pesou em sua consciência. Era seu momento de se redimir com sua filha e rezar para que ficasse bem e que o perdoasse um dia. Tinha que manter o equilíbrio, mas algumas lágrimas foram difíceis de evitar. Mesmo que não quisesse, ele era o culpado por tudo que aconteceu com ela.
  – Nós estamos aqui, meu amor! – Dizia a esposa – Está se sentindo melhor agora? – Perguntou, como se fosse possível obter uma resposta. – Você me assustou, pensei que iria... – Fez uma pausa – Seja qual for o motivo, eu te perdoo, estou aqui e e-eu... Eu... – Não conseguiu completar a frase e apagou no colo de Dylan.
  – Eva? – Perguntou balançando seu corpo. – Eva? Acorda! – Chamou pela segunda vez, preocupado. – Eva? Enfermeira! – Gritou, segurando o corpo desfalecido da esposa nos braços.
(...)
  Após encher o copo de café pela segunda vez, Harry andava pelo corredor para o quarto da paciente que operara horas antes e não tivera notícias. Aproximou-se e viu que a porta estava entre aberta, abriu por completo e encontrou uma enfermeira ali.
  – Doutor Styles. Boa noite. – Falou quando a jovem entrou.
  – Boa noite senhorita Moore, como ela está? – Perguntou olhando o ritmo do respirador.
  – Bem, seus pais estiveram aqui, e sua mãe passou mal. Apesar do susto, não houve alteração quanto ao seu estado. Então Sarah ainda continua inconsciente, mas seus sinais vitais estão melhorando. – Respondeu, escrevendo em sua prancheta. – Também, mais tarde os fisioterapeutas virão fazer os testes para averiguar como estão os pulmões dela, para saber se consegue respirar sem a ajuda dos aparelhos.
  – Se ela conseguir respirar sozinha será um bom sinal. – Disse olhando para a garota – É triste ver uma garota jovem desse jeito. – Comentou sentindo pena. Deu uma ultima checada nos registros antes de se retirar. – Com licença, senhorita Moore.
(...)
  Já se passavam da meia-noite e o trafego de carros era ameno. Aumentou a velocidade e ligou o radio para saber das noticias. Harry tinha pressa para chegar em casa, tudo que mais desejava no momento era relaxar e se desligar um pouco do seu trabalho. Ao chegar ao prédio de imediato o segurança o reconheceu e abriu a garagem. Saiu e desligou o carro, indo para o elevador. Naquele momento nada passava em sua cabeça, era apenas mais um dia comum para ele. Pegou o molho de chaves, abriu a porta e tomou um susto quando acendeu a luz.
  - SURPRESA! – Muitas pessoas disseram em uníssono.

Capítulo 03

  Harry tentava absorver o que estava acontecendo em sua casa. Ainda parado na porta, notou os enfeites festivos por todo o cômodo, enquanto um bolo colorido estava sendo carregado nas mãos de sua mãe, então percebeu que se tratava de seu aniversario.
  – Parabéns pra você, nessa data querida! – Sua mãe foi puxando a musica enquanto se aproximava dele. – Parabéns, meu bolinho!
  – Oh! Nossa. – Respondeu assim que assoprou as velas. – Obrigado mãe! –Abraçou a mesma.
  – Parabéns amorzinho! – Falou Elizabeth, sua namorada.
  – Ei, Harry, quanto tempo, amigão! – Disse seu velho amigo Louis, dando um abraço seguido de um tapinha nas costas.
  – Louis? Só assim para eu te ver! Como vai? – Respondeu contente ao encontrar seu amigo de longa data.
  – Estou indo bem, obrigado. Tinha que reservar um tempo para te dar os parabéns, ou seria uma sacanagem de minha parte. – Respondeu ele.
  – Com certeza! Obrigado pela consideração! – Disse Harry.
  – Meu cupcake está virando bolo, como o tempo passa rápido. – Comentou sua mãe enquanto dividia as fatias.
  – Mãe, eu não tenho mais 5 anos, não precisa me chamar assim em voz alta. – Falou fingindo está bravo.
  – Mesmo quando for um velho você será o meu bebê, eu não vou mudar com você, meu filhote. – Respondeu dando um beijo em sua testa entregando seu pedaço.
  – Pois bem, maninho, parabéns para gente! – Disse sua irmã gêmea, Gemma, se aproximando. – Estamos ficando mais velhinhos hoje, curtindo muito os 25?
  – Olha só quem veio aparecer, como vai minha garota prodígio? – Disse dando um abraço meigo nela. – Parabéns Gem.
  – Estou indo bem, valeu. Mas é serio, Hazza, já pensou em se divertir? Precisa sair e curtir enquanto é jovem. Qual é? você não era assim. – Falou fingindo dar um sermão.
  – Acontece que estou me dedicando ao meu trabalho e tenho minhas responsabilidades, você deveria pensar o mesmo em vez de trancar a faculdade. Estou me divertindo muito com vocês aqui.
  – Eu ate poderia pensar no seu conselho se eu me importasse com essas coisas de ciclo da vida e blá blá blá. Só que a vida é muito curta, prefiro quebrar as regras, perdoar rapidamente, beijar lentamente, amar de verdade e rir descontroladamente. Não pretendo mudar.
  – E pensar que dividimos o mesmo útero. Tudo bem, você ainda é nova para entender do que estou falando, vamos apenas esquecer e aproveitar nossa noite, certo? – Disse ele brindando as taças. – Quem é o bonitão?
  – Ah, claro. Esse é meu namorado Liam, ele é amigo do Niall e nós nos conhecemos em umas das minhas trilhas que faço no campus, nos demos muito bem e ele é um cara legal, então pensei por que não? Diga um olá ao Harry, amor.
  – Parabéns. É um prazer conhecê-lo. – O rapaz que estava atrás de Gemma se pronunciou, estendendo a mão direita para ele.
  – Obrigado. É bom conhecê-lo também. – Aceitou o cumprimento de Liam.
  – Agora que todos desejaram felicidades ao Harry, com exceção do meu irmão Niall que não pôde estar presente, gostaria de fazer um breve discurso! – Anunciou sua namorada, se colocando de pé.
  – Mais tarde teremos uma conversa séria. – Harry falou para liam antes de se virar e dar atenção a Elizabeth.
  – Não liga para ele, só faz falar, mas não morde. – Disse Gemma abraçando a curva do pescoço do namorado.
  – Há exatamente 3 anos atrás... – Começou a falar tendo o silencio e a atenção de todos. – eu encontrei uma pessoa maravilhosa, que mudou minha vida só para melhor, que me conquistou com seu jeito doce e integro. Ainda lembro como nos conhecemos na faculdade, e não me canso de falar que foram os melhores tempos que passamos juntos. – Sorriu para Harry, que a olhava atentamente. – Eu sei que é clichê demais dizer que “sem você eu não seria a mesma, porque você é minha metade.” Por isso, quero apenas agradecer por me deixar fazer parte disso e por me mostrar que nunca se deve esperar ficar sozinho para reconhecer o valor de quem está ao seu lado. Parabéns e amo você. – Finalizou, recebendo palmas dos convidados e um beijo caloroso de Harry como resposta.
(...)
  Já era madrugada quando a festa acabou e todos foram para suas respectivas casas. Desde muito novo Harry mostrava ser um conquistador por conta de seu charme, mas com o tempo seus interesses mudaram. Quando jovem, nunca deixou de participar das típicas festas da escola ou de sair com garotas, mas havia outro lado de Harry que poucos conheciam o lado calmo e sereno que apreciava o silencio. Era o que o diferenciava da irmã.
  Enquanto Harry olhava os olhos de Elisabeth, passava um pano nos pratos, enxugando-os. Um sentimento nostálgico invadiu-o. Ele lembrou-se do momento em que ajudava sua mãe a organizar os pratos no armário. Era um dia comum e divertido, filho e mãe se divertindo em uma atividade cotidiana. Até o momento em que o carteiro chegou, trazendo uma carta de seu pai. Para Harry, não havia sentimento de amor, muito menos saudade. Era como se fosse uma obrigação ele mandar um sinal de vida, mostrar que tem o mínimo de consideração com a família que deixou para trás. Todas as vezes que ele passava por aquela porta, trazendo um presente caro e dando um abraço frio em Harry, não havia sentimento. Era como se ele realmente não estivesse ali.
  Desmond sempre ia embora depois de um momento, e tudo voltava a ser como antes. Mas tudo isso não importava mais, até porque Harry nunca mais poderá vê-lo. Despertando das memórias, se aproximou de Liz, dando um beijo na curva de seu pescoço, deixando-a arrepiada.
  – Você é incrível, sabia? Obrigado por tudo. – Sussurrou em seu ouvido, a mesma continuava de costas lavando a louça. – Mas agora eu quero que faça um favor pra mim. – Disse a virando de frente para ele.
  – O que você desejar. – Respondeu com um sorriso malicioso nos lábios. – Sou toda sua.
  Então Harry colou seus lábios nos dela com ferocidade, carregando-a pela cintura e a girando para o lado oposto, onde a sentou no balcão. Afastou-se um pouco para tirar a blusa e voltou a beija-la.
(...)
  Da janela de seu carro as arvores passavam como borrões. Dentro do carro ouvia-se apenas uma musica qualquer que tocava no radio. Conforme o seu destino se aproximava, Harry pensava em seus mil afazeres que teria ao chegar ao hospital e lembrou-se de Sarah, a paciente pelo qual era responsável. Uma sensação de pena e angustia o invadiu, e durante todo o caminho ela não saiu de sua cabeça.
  Fazia sol naquela tarde de terça-feira, Dylan estava sentado em uma cadeira de frente para cama de Sarah, porém sem olhar para ela. Vários minutos em silencio com a cabeça abaixada, enquanto em sua mente sua consciência gritava. Tudo havia se tornado um pesadelo de uma hora para outra, não queria aceitar o fato de carregar essa culpa em segredo caso sua filha não melhorasse. Esse era seu medo, ter causado a morte de Sarah. Por fim decidiu encarar a filha, notou machas de sangue saindo de seu curativo e como o corpo aparentava estar mais frágil.
  – Eu sei que sou a ultima pessoa com quem você gostaria de estar agora. – Pronunciou como se ela estivesse lúcida. – Mas... acredite quando eu digo que quero que se recupere logo e que te amo. Se você pode mesmo me escutar, peço seu perdão pelo o que eu te fiz passar. – Sorriu com a triste realidade.
  – Você e sua mãe não mereciam passar por isso, estávamos em um momento tão especial e feliz e aí... – Fez uma pausa para segurar as lagrimas e voltou a falar. – Sua mãe está bem, a pressão dela caiu, mas se ela continuar nesse ritmo de fortes emoções corre risco para o bebê, por isso o medico aconselhou que ficasse de repouso e não pôde vir. Se fosse por sua mãe, não se afastava por um segundo, ela não cansa de rezar por você. – Se aproximou e segurou em sua mão.
  - Estamos aqui esperando por você, nós te amamos e iremos respeitar seu tempo. – E, naquele breve instante, Dylan acreditava nas palavras de conforto e na fé que passava para ela, que logo tudo voltaria ao normal. Porém, o momento acabou quando Harry invadiu o quarto.
  – Me desculpe, eu não sabia que o senhor estaria aqui. O horário de visitas acabou tem 15 minutos. – Falou para o pai de Sarah, que logo tomou uma postura ereta.
  – Eu já estava de saída, doutor. Perdi-me no horário. – Respondeu.
  – Sem problemas, eu só preciso que o senhor me de licença para analisar a paciente. – Falou com a prancheta em mãos.
  – Claro. – Abriu a porta e, antes de sair, virou-se para Harry. – O senhor acha que ela vai ficar bem em breve? – Perguntou preocupado.
  – Estamos fazendo o nosso melhor para que isso aconteça. – Respondeu com um sorriso para confortá-lo. Ele assentiu, saindo, deixando Harry a sós com a paciente.
  Sozinho naquele quarto ao se aproximar da paciente, Harry levantou sua pálpebra esquerda e revisou o registrador que marcava seus batimentos cardíacos, antes de escrever em seu prontuário olhou para garota a sua frente. As maçãs de seu rosto eram marcantes, com traços finos e cabelos castanhos curtos, mesmo tendo alguns arranhões encontrou beleza nelas.
  — Acho estranho o modo como as coisas gostam de dar errado em nossas vidas, vejo isso em você. É como se precisasse balancear essa felicidade, trazendo tristeza. Em um momento, tudo estava bem, mas aí aconteceu isso. Sei que pode não ser nada, mas você tem pais que se importam com você. — Harry disse, olhando para ela, enquanto sorria brevemente. — Pareço um doido falando com uma pessoa em coma. — Ele se distanciou, dando uma última olhada na prancheta e saindo do quarto.

Capítulo 04

3 meses depois...

  Elisa parou em frente à uma loja onde estava exposto um manequim com roupas de marca masculina. Entrou na loja em busca das peças, encontrou com facilidade e sorriu satisfeita ao sentir a qualidade do tecido em suas mãos. Imaginou Harry usando-o.
  - É esse! - Falou virando-se para Gemma, que a acompanhava. - Acha que o Hazz vai gostar?
  - Tá brincando? Essa roupa é a cara do meu irmão, você conhece bem o estilo dele. - Respondeu com convicção.
  - Obrigada, precisava da sua confirmação. Vou levar duas. - Falou pegando outra peça e seguindo ao caixa.

(...)

  Niall esperava pacientemente do lado de fora enquanto a irmã e cunhada faziam as compras para o Natal. Suas mãos estavam ocupadas, tinham uma família grande, por isso o motivo das inúmeras sacolas. Assim que avistou as duas saindo da loja se levantou caminhando até elas para ajudá-las.
  - Precisam de ajuda, senhoritas? – Ofereceu.
  - Niall você está cheio de sacolas, não acho que seja necessário! - Respondeu Gemma.
  - Elas estão leves, eu aguento! – Insistiu, mas sua irmã interferiu.
  - Obrigada, mas, essas, pode deixar que nós levamos. - Sorriu.
  Elisa era idêntica ao irmão, com exceção do nariz afinado e suas íris verde-água, já que as do seu irmão era azul-claro. Niall é o caçula da família, mas sua altura fazia com que pensassem que era o mais velho.
  - Que tal um lanchinho? - Propôs Liza ao descer na escada rolante.
  - Eu aceito! - Responderam em uníssono.
  - Ah, vocês vão tomar café, não é? - Falou Gemma como se a resposta fosse óbvia vendo os dois seguindo à cafeteria.
  - Eu não gosto de café, então vou comprar milkshake e me entupir de marshmallow, não saiam daí! - Concluiu indo para direção oposta.
  - Pãozinho de queijo com cappuccino bem quente, certo? - Perguntou para se certificar.
  - Você sabe a resposta, obrigada Nialler. - Respondeu ajudando o mesmo a deixar as sacolas.
  Enquanto esperava sentada na mesa o seu irmão fazer o pedido, pegou o celular para se distrair e olhar suas notificações, mas ao ouvir seu nome ser pronunciado parou o que estava fazendo.
  - Elisabeth? - Uma moça ruiva e de uma pele tão branca que chegava a ser rosada chamou seu nome.
  - Daphne? Senhora Blake! - Disse ao reconhecer a amiga e sua mãe.
  - Olá, querida, como está? - Disse a mais velha abraçando-a.
  - Oh sentem-se comigo, por favor. - Ofereceu e assim fizeram.
  - Amiga, você não vai acreditar no que aconteceu! Tenho tantas novidades. - Disse a ruiva toda eufórica.
  - Conte todas! Tem muito tempo que não nos falamos, desde a sua viagem romântica com o Joe, então quais as novidades? - Perguntou Elisa.
  - A viagem foi incrível, parecia um sonho. E a melhor parte de tudo foi o pedido de casamento. Amiga, eu vou me casar! Olha que anel maravilhoso. - Daph mostrava o anel de brilhante orgulhosa e deslumbrada, transbordava alegria.
  E nesse momento, enquanto a ruiva contava cada detalhe do pedido de casamento, tudo em seu redor parecia estar lento, o seu humor mudou drasticamente, não prestava atenção em mais nada no que ela falava. Seus pensamentos estavam longe, não estava com inveja, mas também não conseguia ter a mesma emoção transmitida por ela. Questionava em sua mente por que o mesmo ainda não havia acontecido com ela, já que há 3 anos estava com Harry e em seu coração ansiava tê-lo como marido. Saiu de seus devaneios quando ouviu a voz grossa do seu irmão se aproximar.
  - Olá, senhoritas. – Saudou o mesmo todo sorridente.

(...)

  O corredor estava mais cheio do que o de costume naquele hospital.
  Evangelina observava toda a agitação com o olhar vago, era véspera de Natal e, nessa época, é quando ocorre mais acidentes por conta da neve. Há um ano, nunca imaginaria que estaria comemorando a data em um ambiente como aquele. Todos estavam presentes, desde seu pai até os sobrinhos, todos estavam preocupados, mas esperançosos. Estavam ali por ela, para confortá-la de certo modo.
  Parada sem se mexer a deixava enjoada, sentia a tensão do cansaço nos seus músculos como se a suas preocupações começassem a pesar, seu marido, vendo sua inquietação se prontificou para buscar um lanche. Nada disse, apenas assentiu com a cabeça, então continuou sentada esperando. Até que a lembrança do Natal passado surgiu em sua mente.

Um ano atrás...
  "O pisca-pisca dançavam em sintonia na árvore de Natal, o aroma do tempero transbordava pela casa emanando um cheiro delicioso. Eva trabalhava com agilidade na preparação da ceia junto com sua irmã, Ellen, que terminava de colocar o peru no forno. Com quase tudo pronto levaram as porções para a mesa de jantar. A casa estava cheia, seu marido conversava descontraidamente com o seu cunhado, os sobrinhos estavam entediados e não escondiam o mau humor por não usar o celular, seu pai cochilava serenamente na poltrona da sala e Sarah tentava falhamente ser discreta usando o celular embaixo da mesa, ela sorria ao receber as mensagens.
  - Pensei que tivesse dito que não queria nenhum celular até depois da ceia. - Disse ao se aproximar da mesa.
  - Ah! - Pulou com o susto de ser flagrada. – Desculpa, mãe, não consegui evitar. - Respondeu colocando o aparelho no bolso.
  - Conheço esse seu sorriso. Com quem conversava? - Perguntou como se não tivesse interesse.
  - Um amigo. - Disse simplesmente.
  - E eu o conheço? - Insistiu.
  - Não, ninguém o conhece ainda. Ele é o primo da Becca, se chama Kevin, ele está passando as férias da faculdade aqui.
  - Paquerando um cara mais velho que faz faculdade? Ele não tem namorada? - Perguntou desconfiada.
  - Mãe, eu não estou paquerando ninguém! Ele é o primo da minha amiga que eu conheci no baile, ele não namora e também nem é tão velho assim. - Protestou Sarah se defendendo.
  - Tudo bem, calma. Só estou pedindo para tomar cuidado, esse tipo de cara pensa de maneira diferente, só não esconda nada de mim. - Pediu à filha.
  - Claro, mãe, não precisa se preocupar, só estamos nos conhecendo melhor. Irá saber de tudo se acontecer alguma coisa. - Sorriu para tranquilizá-la quando o celular apitou.
  - Certo, entendi. Agora nada de celular, preciso de ajuda na cozinha. -Disse a levando dali."

  Uma dor aguda em seu ventre a trouxe para realidade, levou a mão ao local do incômodo e gemeu com o desconforto. Levantou-se para ir ao banheiro, sua cabeça girava e estava começando a perder os sentidos, em passos largos foi até a pia do banheiro e molhou o rosto para despertar e refrescar a face, limpando o suor. A dor ainda era presente e sua cabeça ardia de tão quente, sentiu um líquido molhar suas calças brancas, olhou para a mesma. Era sangue. Desesperada, foi às pressas busca ajuda na enfermaria.

(...)

  Era o intervalo para o almoço, normalmente Harry almoçaria dentro do hospital, mas dessa vez queria fazer diferente. Foi até o seu vestiário e se agasalhou devidamente para sair, pois o tempo estava frio.
  Tempo depois, já em seu carro, Harry observava a mudança do cenário a sua volta, todo o colorido se transformando em branco por conta da geada. Notou também que a movimentação das pessoas na rua era mínima e, enquanto procurava um bom restaurante pela cidade, uma senhora vendendo rosas chamou sua atenção. Estacionou e desceu do carro.
  Horas mais tarde, de volta ao trabalho, ainda restavam minutos de seu intervalo e decidiu ir até o quarto de Sarah. Abriu a porta do cômodo e a encontrou imóvel na cama, como se ainda estivesse em um sono profundo depois de um dia cansativo. Toda vez que ele a via não sabia como agir, além do cordial, dizia coisas como "Olá, Sarah, como passou a noite?" ou "Está se sentindo melhor hoje?". Mas não entendia por que sentia essa necessidade de vê-la ou de se comunicar. Talvez por ela ser sua paciente e era seu dever cuidar dela, nada anormal, era o que ele acreditava.
  - Oi - falou simplesmente, mas logo voltou ao silêncio da sala. - Trouxe uma coisa para você. Gosta de rosas brancas? - Continuou a fala e direcionou o buquê para o criado mudo.
  - Lá fora está bem frio, sabia? Está nevando. Minha época favorita do ano. Desde criança - sorriu tímido, mas prosseguiu. - Não era só por conta da neve e as brincadeiras que eu gostava, mas por ser a única época que eu tinha minha família reunida. A minha infância foi complicada, tenho que admitir, minha mãe foi um pai e mãe pra mim, não estou reclamando da criação que tive, sempre com as melhores roupas, brinquedos e a melhor escola. Nunca me faltou nada. Bom, com exceção do meu pai. Meus pais se separam quando eu era muito novo, ele era uma pessoa difícil, segundo mamãe. Nos víamos uma vez por ano, sempre ocupado para os filhos. Mas eu sentia a falta dele, entende? Um exemplo de homem, o amor de pai e de um amigo. - Fez uma pausa para afastar a mágoa que sentia.
  - Mas quando chegava o Natal, tudo mudava. Eu tinha as pessoas que eu amava para desfrutar a presença, a felicidade contagiante de todos e o espírito natalino que surgiam deles e, sendo sincero, eu nem me importava com o que iria ganhar, porque eles estariam comigo. Então chegava a hora dos presentes, minha família tem um jeito diferente de compartilhar isso, gostamos de fazer o amigo oculto. Era tudo organizado com antecedência, colocávamos os nomes de todos em um papel e depois fazíamos um sorteio onde cada um tirava o seu amigo e era secreto, só a pessoa que tirou podia saber. Na hora da entrega do presente, a pessoa tinha que descrever as características de seu amigo oculto, tanto fisicamente quanto personalidade, era divertido ver a agitação e animação deles para adivinhar o nome. - Sorriu com a nostalgia.
  - Foi com esse propósito que eu trouxe as rosas, no caso eu sou seu amigo oculto e mesmo não a conhecendo suficiente pensei que iria ser uma boa ideia, afinal é Natal e no final das contas o que todo mundo quer é sentir. Se sentir amado, se sentir realizado, se sentir indispensável. Apenas sentir. - Disse e fez uma pausa para observá-la, mas logo continuou novamente.
  - Espero que goste das rosas, não pode negar que tive uma boa intenção, elas me lembram você. Deve estar se perguntando "porque lembrei de você". Simples, as rosas brancas significam perdão, inocência, a pureza, paz e lealdade. E eu vejo isso em você. - Foi até a porta e antes de sair disse: - Feliz Natal, Sarah.

(...)

  Já era tarde da noite, o dia de compras de Elisa no shopping tinha terminado, mas sua noite estava longe de acabar, tinha outros planos. Assim que chegou no prédio do namorado, o segurança a reconheceu abrindo a passagem para garagem. Como tinha as chaves do apartamento de Harry, acreditava que tinha permissão para entrar quando ele estivesse ausente.
  Como já era de se esperar, o apartamento estava vazio, mas impecavelmente limpo e com tudo em seu lugar. Harry era perfeccionista. Sem perder tempo foi para cozinha, onde a mesma era bem equipada com aparelhos modernos, iria colocar seu plano em prática.
  Desde criança, Elisa mostrava interesse em cozinhar, não gostava de ser como suas amigas que, só por terem condições, eram acomodadas. Cozinhava por prazer, achava mágica a realização dos pratos. O talento herdou do pai, já que era dono e chefe de um restaurante famoso, bastante elogiado.
  Após a preparação dos pratos para sua pequena ceia, deixou tudo pronto na mesa para quando ele chegasse. Vestiu um vestido vermelho bem alinhado e justo em seu corpo, havia comprado especialmente para a ocasião. Então pegou uma taça de vinho e restou esperar.
  E esperou horas e mais horas, ficara em pé de um lado para o outro. Parou na enorme janela de vidro da sala e observou as luzes que deixavam a cidade iluminada à noite. A taça em sua mão tinha esvaziado outra vez, não iria se embebedar, mesmo decepcionada iria manter o controle. Estava indo guardar os pratos da mesa quando ouviu o barulho da chave na porta, rapidamente tomou postura.
  - Eliza? O que tá fazendo aqui? - Perguntou confuso.
  - Oi Harry, resolvi fazer uma surpresa... Surpresa! - Disse um pouco sem graça.
  - Ah, obrigado, mas não precisava ter se incomodado, pensei que estaria viajando com seus pais. - Disse indo ao quarto tirando a roupa.
  - Mudei de ideia e escolhi ficar com você. Nós quase não temos tempo juntos, você sempre ta dedicado ao trabalho e esquece que tem uma vida.
  - Olha eu realmente estou cansado pra ter uma discussão agora, quero tomar um banho e relaxar. - Respondeu pegando a toalha, entrou no box, mas deixou a porta aberta.
  - Não, eu não estava discutindo. Eu só queria que jantasse comigo. - Disse e não teve resposta, ele estava no banho não seria inconveniente. - Vou esquentar a comida.

(...)

  Depois de um banho demorado e quente, Harry saiu com a toalha na cintura em busca de roupas. Encontrou na cama peças já escolhidas, tinha um bilhete escrito: "Lembrei de você. Com amor, Liz".
  Vendo seu reflexo no espelho, sorriu satisfeito com o conforto do tecido e com como havia ficado bem em seu corpo, como se fosse feito para ele. Ela realmente o conhecia bem, pensara.
  Foi até a cozinha e se encostou no balcão prestando total atenção em seus movimentos, seu esforço e agilidade para que tudo saísse especial para ambos.
  - Me desculpe por ter falado daquele jeito... Mas você que não precisava. - Falou fazendo-a olhar para si.
  - Eu sei, pra você tudo está sempre bem, mas eu quis fazer. É véspera de Natal e você gosta de se reunir com quem ama. - Respondeu e sorriu ao ver que usara a roupa que havia comprado com o relógio do seu aniversário. - Vejo que gostou do presente.
  - Sim. - Disse abraçando-a por trás. - Você tem um bom gosto. O que vamos comer?
  - Arroz com ervas, rocambole de frango e tomates recheados com ragu de pernil. - Respondeu orgulhosa do resultado do seu trabalho.
  - Parece estar delicioso. - Beijou sua nuca.
  Caminharam para a mesa e se serviram. Comeram em silêncio, tendo o único som do tilintar dos talheres no prato. Elisa quase não comia por pensar demais, procurando o melhor jeito de se abrir com ele. Assim que percebeu que Harry ia levantar, pediu.
  - Por favor, fique. Tenho uma coisa a dizer. - Ele a olhou e respirou como se buscasse paciência. Vendo a tensão pairar e ela não continuar, se pronunciou.
  - Estou ouvindo.
  - Eu... - suspirou espantando o nervosismo e prosseguiu. - A verdade é que eu vim pensando nisso há algum tempo, em como nos damos bem, cada dia eu me apaixono mais por você, desde que te conheci minha vida mudou para melhor, eu senti que era amor porque via o tempo passar e o sentimento não mudar. E eu quero viver mais momentos assim com você. Talvez pense que estou indo rápido demais ou que não é o momento certo para decidir isso, mas eu não quero ter que esperar. Por que eu quero ficar com você, essa é minha certeza. Harry Edwards Styles, aceita se casar comigo?
  Nenhuma resposta. Seu semblante era impassível, com o olhar vazio. Era inacreditável.
  - Diga alguma coisa. - Pediu. Ele continuou calado. - DIGA ALGUMA COISA! QUALQUER COISA DÓI MENOS QUE ESSE SILÊNCIO! - Eliza alterou seu tom de voz, o estresse e a frustação tomou conta de si.
  Harry ainda mantinha os olhos fixos nela sem se pronunciar. A verdade era que ele não sabia dar uma resposta para aquela situação, o seu semblante era indecifrável.
  - Qual é o seu problema? - Elisa explodiu chamando ele para a realidade. - Você não tem certeza se quer ficar comigo? É isso? - Disse com a voz embargada, seus olhos marejavam.
  - Não vejo motivos para se descontrolar. - Harry disse calmamente.   - Eu só estou pensando em sua proposta. - Completou recebendo um bufar irritado de Elisa.
  - Talvez porque obviamente não era essa reação que eu esperava vir de você, normalmente não se pensa em responder um pedido de casamento. É espontâneo, sim ou não! A não ser que esteja procurando uma resposta para me dar um fora. - Descarregou sua mágoa, limpou rapidamente as lágrimas e continuou. - Olha, se você não sabe decidir o que vai me dizer, só me diga: por que você realmente está comigo, Styles? - Perguntou confusa.
  - Se eu não gostasse de você não seria minha namorada, isso é fato. Eu gosto e muito, amo você. Só estou surpreso, não esperava, e não é só a questão de casar da boca pra fora. Casamento é comprometimento, cuidar um do outro, conviver com os defeitos, errar e aprender a cada dia e compartilhar uma vida. Sem arrependimentos. Não estou dizendo que você não seria capaz de me proporcionar isso, mas... Acho que não estou pronto. Preciso de um tempo pra pensar. - Disse sincero.
  - Ah, claro. Vai ter todo o tempo que precisar. - Respondeu sarcástica e amargurada. - Só me faça um favor, não venha atrás de mim até ter a certeza do que sente por mim, ou então não me procure. - Levantou irritada, indo embora.

Capítulo 05

1 mês depois…

  O dia do novo ano estava ensolarado, perfeito para comemorar em uma praia ou sair para curtir com os amigos, mas para Becca Watterson iria começar de um jeito menos provável. A garota de longos cabelos ondulados com leves luzes que lembravam raios de sol e de pele naturalmente bronzeada olhava atônita diante a cena em sua frente, se aproximou ainda receosa e aflita até onde estava a cama com o corpo desacordado de sua amiga.
  – Oi – Conseguiu dizer mesmo com as lágrimas atrapalhando sua vista e a fazendo fungar.
  – Eu me sinto a pior amiga do mundo. – Confessou, sentia-se culpada por ter demorado tanto tempo para aceitar a verdade.
  – Me perdoe por não estar ao seu lado no momento em que mais precisou de mim. – Respirou fundo já regularizado a respiração e passou a mão nos cabelos.
  – Eu não posso te perder, eu não suportaria isso. Eu só consigo pensar que... Eu nunca deveria ter te apresentado a ele.

Um ano antes… “ esse amor faz até os fracos de coração se apaixonarem
Quando existe amor, ele é resistente
O amor de verdade é resistente.“

  O refrão da música ecoava pelo quarto de Becca, o volume estava consideravelmente alto mas não ao ponto de incomodar seus pais. Hoje era a noite do pijama, que se resumia somente entre ela e sua amiga Sarah, como qualquer noite do pijama as conversas principais eram: difamar ex namorados, assistir filmes românticos, entupir de doces e, claro, fazer bagunça como por exemplo guerra de travesseiro.
  No momento Becca mantinha sua concentração em pintar as unhas de Sarah.
  – Prontinho. – Disse ao finalizar.
  – Que gracinha. – Respondeu Sarah analisando suas mãos. – Eu amo essa cor, minhas unhas ficam tão perfeitas.
  – Ela realmente fica linda em você, assim como qualquer outra coisa. – Esboçou um sorriso confortante para Sarah a olhando intensamente.
  – Então... Já escolheu o que vamos assistir ? – Perguntou levantando-se, quebrando o contato visual com ela.
  – Quatro amigas e um casamento. – Disse ao desligar o rádio.
  – Por favor, não seja romance, porque não aguento mais ver sempre os mesmo filmes de amor incondicional e absoluto. – Comentou Sarah, desmotivada.
  – Você não pode julgar um filme por um título, calma, é uma comédia romântica. – Justificou recebendo um bufar dela indignado.
  – Qual seu problemas com filmes românticos ? – Questionou Becca.
  – Assim como existem pessoas que não gostam de terror eu não gosto de romance. E eu não acredito na forma em que é colocado o amor nos filmes, é sempre a mesma coisa, amor à primeira vista, o amor proibido, amor não correspondido onde é vivido ao extremo e no final o casal fica junto. Não existe esse amor sem moderação na vida real.
  – Pra mim o que você tem é medo, sabia? Medo de se apaixonar de verdade, se entregar de corpo e alma a alguém, de encontrar alguém que esteja disposto a fazer tudo por você, de se tornar vulnerável e se permitir amar e ser amada como você merece. – Becca disse tudo olhando em seus olhos fixamente, como se ao mesmo tempo que justificasse estivesse se confessando.
  – Talvez esse seja o problema de amar demais, qualquer coisa que o outro faça vai te afetar muito. – Depois de longos segundos sem falar, Sarah completou. – Vamos assistir logo esse filme antes que eu durma.
  O filme passava no computador, uma do lado da outra na cama, algumas vezes Becca olhava de relance para Sarah, e quando os olhares se encontravam ela desviava o olhar rapidamente voltando sua atenção a tela do computador.
  – Sabe.. Eu estava pensando, você vai ao baile de máscara? – Perguntou Becca.
  – Não sei. – Respondeu Sarah sem tirar os olhos da tela. – Você quer ir?
  – Só iria se você fosse comigo. – Disse ouvindo uma risada como resposta.
  – Mas eu nem tenho um par.
  – E por que não vai comigo? Poderíamos ser um casal. – Sugeriu ela.
  – Como minha acompanhante? – Sorriu debochada.
  – Você aceita? – Perguntou esperançosa.
  – O que ? Não! Nem combina. – Riu como se fosse uma piada. – A festa é para casais.
  – Eu não vejo problemas, mas se você se importa tanto, desculpa. – Respondeu voltando atenção ao filme.
  – Okay, vamos melhorar isso. – Parou o filme e sentou na cama – Eu recebi alguns convites de garotos que querem ir ao baile comigo, posso conseguir um para você, o que acha?
  – Não, obrigada não estou tão necessitada ao ponto de roubar seus pretendentes – Respondeu sem ser grosseira. – Eu já tinha conversado com meu primo a respeito, ele já estudou lá uma vez e a diretora o conhece e permitiu ele ir comigo.
  – Que bom! Agora você precisa me ajudar a escolher o meu. – De repente, Sarah teve uma ideia. – Podíamos fazer uma seleção e descobrir qual combina mais comigo.
  – Ah, posso ajudar. – Becca forçou um sorriso. – mas agora vou dormir, meus olhos estão se fechando sozinhos de tanto cansaço, resolvemos isso amanhã, okay?
  – Claro. Boa noite, Bae – Disse Sarah tirando o computador do colo e desligando o abajur, em seguida deu as costas para dormir.
  – Boa noite. – Sussurrou a olhando por trás e respirou fundo dando as costas também.

O dia do baile.

  O salão do baile era improvisado na quadra da escola, a decoração era branca e dourada com vários verdes e orquídeas ao redor, iluminação em tons amarelado, assim como as mesas, o espaço era bastante amplo, as mesas formando círculos dando uma abertura para dançar no centro. A fachada da escola estava lotado com carros chegando a cada instante, todos estavam devidamente mascarados, realmente estava um lugar aconchegante.
  Sarah esperava impaciente sua amiga, seu par do baile parecia não querer se entrosar, sua única preocupação era em se alimentar, isso era constrangedor, ele nem ao mesmo tentava ser gentil ou cavalheiro. Sua situação fazia-se recordar em como aconteceu a escolha do seu par e lembrou-se que eram poucas opções, e Eliot parecia ser o que mais se encaixava para a tarefa, não que ele não estivesse se esforçando mas também não era como planejado.
  Apesar da musica agitada o movimento era tranquilo, poucos se arriscavam a dançar, as mesas estavam mais ocupadas do que a pista de dança. Sarah havia enviado mensagens e vasculhando todo o local e não encontrava Becca de modo algum, portanto esperou pela mesma sentada, distraída no seu celular e entediada por não estar se divertindo como deveria. Ouviu seu nome ser chamado e levantou o olhar.
  Foi então que seus olhares se cruzaram pela primeira vez, seus olhos eram castanhos escuros, mas com uma intensidade tão profunda que se assemelhava a uma noite cheia de estrelas, brilhantes e encantador, e a máscara o deixava ainda mais misterioso e elegante. Era como se nesses breves segundos o tempo havia parado e só existissem eles no local, seus olhos eram tão hipnotizantes que a fez perder a fala ao se aproximar.
  – SARAH – A saudou Becca toda empolgada. – Você está tão linda! Quero que conheça alguém.
  – Prazer, meu nome é Kevin. – Aceitou seu cumprimento educadamente, sem esconder o sorriso bobo que brotou em seus lábios.
  – O prazer é todo meu.

Momento atual

  – Você me trocou por ele, desde quando o conheceu, no baile só enxergava o Kevin, você me deixou de lado descaradamente! – Desabafou Becca ao se recordar do tal dia.
  – E olha o que esse amor causou. Olha onde você está agora. – Encarou seu rosto com ternura – Você não faz ideia do meu esforço pra fingir que estava feliz por vocês dois, você nunca percebeu não é? Eu precisava que me fizesse sorrir, mas você estava ocupada demais sorrindo pra outra pessoa. – Segurou sua mão com delicadeza,
  – Mesmo assim ainda continuo aqui por você, irei esperar e ficar ao seu lado. Porque eu amo você e não posso perdê-la, me ouviu bem? Você é forte, vai superar isso como superou todo o resto. Feliz ano novo. – Beijou sua mão para se despedir e saiu do quarto.

(...)
  – Aqui está. – Disse Léa ao entregar o copo de vitaminas.
  – Oh, muito obrigado. – Agradeceu Dylan e, antes que o mesmo fizesse menção de sair, ela o chamou novamente
  – Tenho uma coisa que preciso te contar. – Falou receosa.
  – Pode falar.
  – Gostaria de que fosse em um lugar em particular, não acho um bom momento agora.
  – Ah – Grunhiu ele como se entendesse o recado. – Safada hein? Ok, mais tarde me encontre na cafeteria pública de sempre. – Foi tudo que disse antes de seguir ao quarto de sua esposa.   O quarto estava mal iluminado por conta da cortina que cobria a passagem dos raios de sol. O corpo de Eva estava estirado sobre a cama, espalhado junto ao lençol bagunçado em suas pernas, sua cabeça mantinha em direção a parede, suas pálpebras nem sequer piscavam ou seu corpo fazia qualquer movimento. Desde que começou todo o pesadelo em sua família sua vontade de lutar estava cada vez menor, e ao perder a gestação avacalhou ainda mais.
  – Sou eu, amor. Hora da sua vitamina. – Chamou gentilmente tocando-a. Ela continuou imóvel. – Por favor, só estou pedindo que beba sua vitamina, está trancada aqui fazem dias, não se alimenta, não vive, olha só como está deixando isso tomar conta de você!
  – Eu perdi meus filhos, Dylan. – Disse de costas. – Não sinto vontade de nada.
  – Não pode dizer isso, Sarah ainda respira e vai voltar para nós, o que aconteceu com nosso bebê poderia acontecer com qualquer outra pessoa. Talvez não seja uma boa hora para ter filhos...
  – Está dizendo que sou velha demais para ser mãe de novo?
  – Não foi o que disse. Estou tentando dizer que se essa criança não veio foi por algum motivo, talvez não estamos tão preparados ou não era pra ser.
  – E por que logo comigo? Tantas meninas conseguem ter filhos e são rejeitados e eu, uma simples mulher com 40 anos, não consigo sustentar nada em meu ventre.
  – Ouça, você é a mulher e mãe mais incrível que eu conheço, e juntos nós conseguiremos vencer essa dificuldade. Na saúde e na doença. – A esposa olhou em seus olhos buscando confiança neles e aceitou o copo com vitaminas.

(...)

  – Então você disse que precisava conversar, pode começar, estou pronto para te ouvir. – Falou Louis bebendo o resto do seu drink.
  Harry parecia um tanto receoso em se abrir com ele. Ele sabia que podia confiar no seu amigo, mas ao mesmo tempo parecia que aquilo não passava de uma bobagem da sua cabeça.
  – Eu e a Eliza demos um tempo faz um mês, ela está me pressionando para nos casarmos. – Disse por fim.
  – Vocês se gostam, estão juntos há um bom tempo, mostra que ela quer ter um relacionamento sério. – Respondeu enchendo o copo. – Deveria saber que a maioria das mulheres esperam por esse momento, sabe? Casar com o cara que ama.
  – Esse é o problema, não me sinto totalmente pronto. – Confessou. – Posso saber uma opinião sua?
  – Uhum. – Confirmou, bebendo seu drink.
  – O que você faria se se apaixonasse repentinamente por uma garota mas não tem certeza se é correspondido? – Perguntou fitando seu copo já vazio. Louis demorou um pouco para processar a informação.
  – Chamaria ela pra sair comigo e revelaria meus sentimentos.
  – E se ela não tivesse como sair com você? Não tivesse como saber sinal algum?
  – Bom, se não fosse recíproco minhas tentativas, eu continuaria com minha namorada.
  – Mesmo se não conseguir tirá-la da cabeça? Sentir que falta algo?
  – Continuaria com minha namorada, já que tentei com a outra e ela não me deu a mínima. – Respondeu Louis e percebeu a inquietação de Harry no sofá. – Ésta apaixonado por outra? É por isso que não aceitou se casar?
  – Isso é loucura! – Explodiu irritado consigo mesmo, depois retornou a tom normal. – Não é tão simples como você pensa, e tocar nesse assunto me deixa nervoso porque é um situação um tanto complicada.
  – Eu não vou te julgar. – Falou sincero. – Como conselho de amigo eu digo, não se sinta obrigado a se casar com a Eliza por achar que se entregar a outra pessoa é um erro ou seja lá o que esteja havendo, é a sua vida e você merece ser feliz, busque isso pra você. Quanto homem eu aconselho, pense bem antes de qualquer decisão, uma escolha errada e você perderá o que tem, que agora acha ser pouco. A vida é uma só, não podemos viver com medo, sem nos arriscar quando preciso.
  Harry repassava as palavras de Louis em sua mente refletindo sobre seu conselho. O que ele precisa é ser cético e tomar uma decisão. Mesmo sabendo o caos que estava em sua mente ele sabia que por dentro era mais sentimento do que razão.

(...)

  Dentro de seu novo carro Dylan esperava por Léa na porta do local marcado. Não sabia o que esperar dela, em sua mente só imaginava sexo, ele estava implorando por isso, mas algo parecia incomodá-la quando disse que tratava de algo sério. O que poderia ser tão grave assim? Mais do que estava bagunçada sua vida, não poderia. Era consideravelmente tarde, então seja o que fosse pra resolver naquela noite não poderia ser demorado, sua esposa poderia acordar a qualquer momento, mesmo tomando os remédios pra dormir. Logo avistou uma silhueta conhecida por ele se aproximar do seu veículo, que imediatamente foi aberto para mesma.
  – Gostosa. – Atacou dando beijos agoniados em seu pescoço. A garota virou o rosto, evitando carícias. – Nossa, o que deu em você?
  Não respondeu, apenas continuou séria, sua feição era de preocupação. Entregou um envelope e um teste de farmácia.
  – O que é isso? – Ele quis saber.
  – Eu estou grávida, e fui ao medico e ele confirmou.
  – Você só pode estar brincando comigo. – Riu debochando. – Eu não vou ter essa criança, essa coisa vai acabar com meu casamento.
  – Coisa? – Repetiu triste. – Como pode ser tão cruel com um filho seu? – Seus olhos lacrimejaram era notável sua decepção.
  – Não seja tão inocente, Léa. Você sabia desde o começo que era só sexo e eu te avisei para tomar seus remédios, pra evitar esse tipo de situação. VOCÊ NÃO PODIA ENGRAVIDAR, PORRA – Alterou o tom de voz, irritado.
  – E como eu fico agora? Eu não posso criar essa criança sozinha, eu preciso de você. – Tentou tocar seu rosto, mas foi a sua vez de a ignorar.
  – Eu não quero esse filho. Eu vou te dar duas opções, ou você se demite e se resolve com seus pais ou faz aborto. Eu não vou assumir de qualquer jeito.
  – Mas Dylan, eu não posso me demitir, tenho que pagar minha faculdade e se eu voltar pra casa grávida meus pais me matam, eu não tenho coragem de abortar. – Disse com a voz trêmula por segurar o choro.
  – Escuta aqui, sua vadia. – Pegou em sua face apertando com violência, fazendo olhar em seus olhos. – Isso não é problema meu, se você sonhar em contar algo pra Eva eu acabo com você, quero você longe dela, me ouviu bem? Agora saia do meu carro sua vagabunda.   E assim jogou seu corpo praticamente pra fora de seu carro, como se estivesse expulsando o problema, sem se importar com nada além de si mesmo<.

(...)

  Suas mãos estavam trêmulas, assim como seus lábios que não conseguiam se controlar pensando no que seria correto a dizer quando a visse. Tinha que admitir estava bastante nervoso. Queria acreditar que estava fazendo a coisa certa, mas em seu coração não era isso que sentia, era como se soubesse que estava enganado a si mesmo, suas emoções eram confusas, ele achava que isso o faria forte, que assim tiraria a loucura de sua cabeça, esquecendo uma dor para que tenha outra.
  Tocou a campainha três vezes, logo foi recebido por uma loira de cabelos bagunçados.
  – Harry? – A loira ficou surpresa. – Você... Não esperava que apareceria essa hora da noite.
  – Me desculpe por incomodar em um horário tão inconveniente, mas precisava te ver.
  – Você quer entrar? – Propôs, dando mais espaço.
  – Não, serei breve, só peço que me ouça atentamente. – Passou a língua entre os lábios, preparando-se. – Há um mês atrás você tinha me dito que eu só deveria procurá-la quando tivesse certeza dos meus sentimentos por você. Passei esses últimos dias pensando em ti em como sua presença me preenchia e sua falta me deixava um vazio completo. Eu gosto muito de você e sei que posso amá-la com o tempo, mas para isso teria que aceitar uma coisa.
  – O quê? – Seu coração acelerou ao ver a caixinha vermelha na mãos do seu amado.
  – Diga-me Elizabeth Mills, você aceita ser minha esposa?
  – Sim.

Capítulo 06

  Mil pensamentos metralhavam sua mente, Harry se sentia confuso diante de toda situação, questionava se realmente tinha tomado a decisão certa, porém mesmo que se arrependesse nunca iria demonstrar. O problema seria não saber fingir que não sentia nada. Porque nunca se sabe quando é da boca para fora ou do coração para dentro. Por isso aceitou se casar com Eliza, porque sabia que era o sensato a se fazer, talvez não o apropriado mas também não poderia arriscar o certo pelo duvidoso, e com isso conformou-se.
  Fazia bastante tempo que Harry não via Sarah desde sua férias de natal, e durante todo esse período ele não conseguia parar de pensar nela e querer estar com ela a cada dia, pois sentia sua falta. Mesmo que negasse a si mesmo, ela havia realmente despertado algo nele. Esse era o problema do amor, ele aparece nos lugares mais inesperados, Harry sentia que estava morrendo aos poucos desde que Sarah entrou na sua vida.
  – Olá Sarah – falou assim que entrou. – Teve um bom natal? Eu espero que sim. Sabia que eu fiquei com minha família nas férias? Por esse motivo não apareci antes, mas agora voltei. – Ele dizia tão convicto que nem parecia um monólogo.
  – Aconteceram tantas coisas nesse pequeno período que você não faz ideia. Trouxe rosas pra você. – As rosas já haviam se tornado um hábito, já que sempre trazia quando ia vê-la. – Escolhi dessa vez lilás porque a cor é fascinante, o lilás é uma das cores mais raras e doce e são muito usadas para expressar intenções românticas. – Achou graça da última frase.
  O silêncio tomou conta do cômodo, enquanto ele pensava consigo mesmo e a olhava intensamente, como se estivesse em transe.
  – Alguma vez seguiu seu coração sem pensar nas consequências? Já se sentiu cobrado pela vida como se estivesse em constante pressão? Seguir o que acha ser coerente e não por sentimentos? – perguntou ele angustiado.
  – Não acha a vida às vezes injusta? As pessoas ao nosso redor nunca reparam nossa dor ou tristeza, até mesmo quando se está feliz ninguém repara o seu sorriso, mas todos sabem julgar quando você erra. Eu não sou tão forte como todos pensam que eu sou, as vezes eu também choro, me desanimo, porque eu ando tão cansado de tudo.
  – Mas aí eu lembro de você, por incrível ou tolo que pareça, você é a única coisa que vale a pena no meu dia. – Por um breve momento se atreveu a segurar sua mão, seu primeiro contato físico com ela e sentiu uma imensa vontade de beijá-la, até que foi interrompido.
  – Doutor? – Becca perguntou desconfiada diante da cena que presenciara.
  – Eu só estava checando se estava tudo ocorrendo bem com sua pulsação, já estou de saída. – Verificou o mesmo e se preparou pra sair. – Boa tarde senhorita.

(...)

  Os anos se passaram e o relacionamento entre Eva e Dylan só esfriava cada vez mais. Eva estava o afastando involuntariamente, desde a perda da sua gestação ela tinha o rejeitado como homem, conversavam sobre o necessário, não trocavam carícias como faziam, quem visse de longe pensariam ser irmãos pelo forma como se tratavam, deixaram de ser um casal e isso incomodava Dylan. Seu casamento estava arruinado, não sabia mais o que fazer para reconquistar sua esposa já que todas as suas tentativas foram fracassadas. Talvez não existe mais o amor como antigamente, mas para Dylan era uma questão de domínio, mesmo que a amasse de seu jeito torto e errado ela só poderia ser somente sua e de ninguém mais.
  – Não dá mais – comentou Eva durante o jantar. Ela ainda não havia tocado na comida.
  – Do que está falando, querida? – perguntou ele ao beber seu café.
  – Não precisamos mais fingir. Nós sabemos que isso não está dando certo, não somos mais felizes, eu quero seguir minha vida, recomeçar do zero. – Justificou.
  – Claro que somos felizes, que conversa sem sentido é essa? – A preocupação era notável em sua voz.
  – Mais do que nunca eu tenho certeza do que eu quero e isso faz sentido pra mim, eu não posso continuar mentindo para mim mesma, eu tentei, Dylan, de verdade, mas eu não amo mais você. Eu quero o divórcio.
  – Isso só pode ser uma piada, você não conseguiria viver sem mim, – disse convencido e notou que a feição da mulher a sua frente era séria. – Você não pode estar falando sério, não pode fazer isso comigo.
  – Por que insiste em mentir? – indagou ela. – Nunca foi profundo, nunca houve sentimento algum da sua parte, nunca houve amor.
  – Eu amo você. E é a verdade.
  – Ah, ama? Como se eu não soubesse das suas amantes, você nunca foi fiel a mim, desde o colegial! – Cuspiu sua raiva nele. – Achou que eu nunca soubesse? Eu sempre soube, mas era muito cega de amor por você que aceitei para continuar meu casamento. Mas meu casamento acabou faz muito tempo.
  Dylan estava em choque, não acreditou naquelas confissões, se fosse anos atrás teria culpado Lea, mas a mesma tinha sumido da sua vida, mal sabia do seu fim desde então. Entrou em desespero com tais palavras, mesmo que a traísse ou cometesse erros ele gostava dela, tinha se apegado aquela rotina, não seria a mesma coisa sem ela ao seu lado. Ela tinha amor para dar e não recebia.
  – Me desculpe por todos esses anos. Infelizmente o que eu fiz não tem volta, cometi muitos erros, mas só peço que fique. – Sua voz falhou devido ao nó em sua garganta, seus olhos marejavam.
  – Não foram erros, foram escolhas. – Pegou sua bolsa em cima do sofá. – Quando eu voltar quero que esteja com malas feitas, caso contrário, eu saio.
  Dito isso, Eva saiu de sua antiga casa deixando um Dylan confuso e pasmo. Era mais do que uma solidão de fim de noite, soava como abandono.

(...)

  As suas respirações estavam entrecortadas. Com movimentos repetitivos Harry penetrava Elisa, a mesma intensificou os gemidos, marcou de arranhões suas costas. Elisa ao chegar em seu ápice segurou firme o lençol como se fosse rasgar, logo em seguida Harry ejaculou, abraçando-a em sua última estocada.
  Nenhuma palavra foi dita, existem momentos que não precisam de palavras. Eles curtiam o silêncio de ambos, apenas o som da respiração sendo normalizada, e os olhares perdidos no teto do quarto. Elisa se aproximou do peitoral de Harry que subia e descia freneticamente e depositou um beijo ao se apoiar com seus braços nele.
  – Tão intenso. – comentou a loira. – No que tanto pensa amor?
  – Nada, absolutamente nada. – Abraçou a cintura nua da noiva.
  – Sabe, eu tenho pensado sobre minha especialização em pediatria, – disse ela cortando o silêncio.
  – O que decidiu? – Mudou sua mecha de lado.
  – Estou querendo fazer minha graduação na França. Tenho seu apoio? Se você disser que não concorda posso fazer aqui em Portland.
  – Eu nunca diria isso, impedir de você fazer algo que gosta seria egoísmo de minha parte, acho que você deveria ir. sei que adora a França e sempre quis estudar fora, esse é o momento. – Foi sincero.
  – Tem certeza? Não vai sentir minha falta? Esse curso o prazo é de 1 ano ou 2.
  – Posso te ligar por Skype quando sentir sua falta, não se preocupe, vou me cuidar. Não se prenda a mim, siga sua vontade. – Sorriu de lado.
  – Eu te amo. – Beijou o noivo ao terminar a frase.

(...)

  Após a entrada existia um curto corredor com leds e que logo se abria numa diagonal para o pub em si, o balcão com o barman ficava a direta e não tinha muita gente sentada ali, com exceção no resto dos lugares, nas paredes e ao redor de mesas. Mas para Eva ainda parecia um lugar vazio, nunca havia frequentado um local assim antes, tudo estava sendo uma novidade. O ar de cigarro não a incomodava, as gargalhadas sem moderação ou muito menos as bebidas alcoólicas. Queria experimentar, se entregar e embebedar-se para que assim afagasse o peito.
  – Boa noite senhorita, – disse um rapaz loiro ao sentar do seu lado, que foi ignorado por ela.
  – É uma moça tão bonita, porque está sozinha em um lugar como este? – Insistiu ele.
  – E você é um rapaz muito jovem para estar flertando com uma senhora como eu, – respondeu bebendo seu drink.
  – Uma senhora linda por sinal, não vejo o porque não me interessaria, já que não estou vendo nenhuma aliança.
  – Não sou mulher que costuma sair com garotinhos, tenho idade de sua mãe.
  – Podemos conversar, então? Eu pago a bebida. Acho que conversar não tira pedaço. – O rapaz lançou seu melhor sorriso e conseguiu convencê-la.
  – Você venceu. E qual o nome do galanteador? – Virou-se para fitar seus olhos.
  – Sou Niall. Niall Horan. – Pegou sua mão onde gentilmente depositou um beijo.

(...)

Meses depois.
  Aconteceu o que Dylan mais temia no momento, perdeu a única mulher que o respeitava e cuidava dele. Ela havia superado bem rápido, estava saindo com um rapaz mais jovem, que ele pensava que só os homens faziam isso. Encontrou os dois na rua e soube pela maneira como se olhavam e tratavam um ao outro que estavam apaixonados e isso causou uma dor horrível em seu coração. Dizem que só damos valor quando perdermos, e naquele momento ele realmente sentiu isso. A dor virou ódio e amargura, havia perdido a casa, seu casamento e sua mulher para um garotinho que mal tinha barba. Não tinha porque manter qualquer rastro que existiu deles um dia, queimou as fotos e rasgou o papel do divórcio. Dylan não via mais porque continuar com falsas esperanças e na hora da raiva tomou uma decisão. Foi a caminho do hospital.
  – Quero falar com o doutor Styles, médico responsável pela cirurgia da minha filha, – disse ele a recepcionista, que logo o comunicou.
  – O senhor queria falar comigo? – anunciou Harry ao entrar em seu consultório, onde o mesmo esperou por 30 minutos.
  – Vim aqui porque tomei uma decisão quanto ao estado de Sarah e seus resultados durante esses anos. Eu quero desligue as máquinas. – Ao ouvir aquilo Harry teria cambaleado se não estivesse sentado. Não pode demonstrar o quão desesperado havia ficado com a possibilidade.
  – E o por que o senhor vai fazer isso? – Manteve a voz firme. – Sarah ainda não consegue respirar sozinha sem o auxílio dos equipamentos, se o senhor realmente fazer isso vai matá-la aos poucos.
  – E não é isso que está acontecendo? Ela mal reage ao tratamento, já está morta, continua viva porque estou pagando, eu não quero insistir com isso. Quero acabar logo de uma vez.
  – E onde está sua esposa? Por que ela não está com o senhor? Gostaria de ouvir as duas versões. – Deu qualquer desculpa para adiar o que estava por vir.
  – Ela já esqueceu que tem uma filha, Sarah se tornou um peso morto. Onde eu assino o papel para autorização?
  – Não pode fazer isso, – disse trêmulo. – O coração dela ainda bate, admito que com dificuldade, mas ela não se foi por completo.
  – Eu conheço as leis do hospital, sei como funciona, o doutor não deveria interferir em minhas decisões, ainda mais com uma paciente que está ocupado uma vaga. Eu quero que desligue as máquinas, porque eu não irei pagar por mais nenhuma despesa dela. – Levantou, preparado para sair da sala. – Amanhã faça o favor de providenciar isso.
  Ao ficar sozinho Harry se apressou a ir ao quarto de Sarah, não controlava mais suas emoções, suas lágrimas escapavam por suas bochechas, seus passos eram largos, quase tropeçando, tudo parecia lento a sua volta. Quando chegou no quarto quase caiu de joelhos, seus lábios nem se moviam de nervosismo e suava frio. Naquele instante ele apenas queria fugir de si mesmo e ir para bem longe de tudo isso.
  – Me desculpe, mas eu não posso mais esconder. Talvez seja a última vez que eu a veja, preciso confessar ou não conseguirei seguir em frente. – Com esforço começou a falar, sua voz quase falhou.
  – Eu senti algo diferente em você, algo que sempre me fazia querer voltar. Porque quando eu fico um dia sem falar com você, esse dia não é bom. É errado querer você, mas eu sempre tive uma queda por erros e meus sentimentos são confusos e não posso controlar. Me diz o que fazer com todo esse amor que é todo seu e eu não posso te dar? – O nó em sua garganta impediu de continuar, limpou as lágrimas e pigarreou.
  – Eu espero que você precise do meu amor assim como eu preciso de você. Dizem que amar é ficar na ponta de um penhasco em meio a ventania. E agora eu entendo perfeitamente, porque quando você ama uma pessoa, é dar a habilidade de destruir você mas confiando que não fará isso, você suporta tudo, mesmo perdê-la. – Respirou fundo.
  – Eu nunca esperei tanto por algo na minha vida, como eu espero por você, o seu despertar. Quero me entregar a você, mas pra isso você tem que vir, tem que me querer tanto quanto eu te quero. Eu não posso perdê-la. Perder-te seria... Como perder a mim mesmo.
  Depositou um beijo demorado em sua testa e a olhou como se fosse a última vez, uma despedida. Mas algo realmente havia mudado, talvez suas palavras tivessem um efeito positivo sobre ela, os sons do bips eram mais frenéticos, os pulmões buscavam por ar além dos tubos, e seu coração batia pulsante, clamando pela vida. E foi assim que Sarah acordou.

Capítulo 07 - O Despertar

  Aos poucos, Sarah abriu os olhos, suas pálpebras piscavam mais de uma vez para se acostumar com a claridade da lâmpada que causava ardência, a fazendo lacrimejar. Sua visão ganhava foco aos poucos, mas logo conseguiu perceber que se tratava de um quarto de hospital. Sentia dificuldade em se movimentar até com uma simples virada de cabeça para analisar o quarto que estava, apenas seus olhos varriam pelo cômodo, estava com os músculos comprometidos e não conseguia se mexer. Não podia falar, pois ainda estava entubada. Uma enfermeira entrou e ao vê-la sua feição foi de extrema surpresa.
  – Você despertou! – disse a enfermeira de pele negra. – Meu nome é Moore, sou enfermeira, consegue me entender querida? Poderia piscar duas vezes para me responder? – perguntou a enfermeira e assim Sarah o fez.
  – Otimo querida, vou chamar o Doutor Styles, – disse empolgada após sair às pressas chamar o médico.

(...)

  A felicidade parecia transbordar de seu corpo, Niall não conseguia esconder o sorriso bobo nos lábios ao carregar seu filho no colo pela primeira vez. Estava bastante nervoso, ainda era uma novidade para ele, estava inseguro e aflito por não saber segurar um recém-nascido, tinha medo de quebrar seu corpinho frágil, mas deixou a preocupação de lado para admirar a semelhança entre ele e o filho, era sua cópia fiel. Carinhosamente depositou um beijo em sua testa, o pequeno se remexeu em seus braços e exibiu um sorriso como se quisesse dizer “oi papai” emocionado ele sussurrou “oi filhão”.
  E nesse breve contato entre eles, Niall sentiu algo em seu coração, um sentimento nunca sentido por ele antes, como se a partir daquele momento estivesse entregue a ele uma missão de proteger seu pequenino a qualquer custo, disposto enfrentar qualquer dificuldade por aquele sorriso, e isso foi o bastante para confortar seu coração.
  Desde a notícia da gravidez de Eva na lua de mel, Niall teve a certeza de que queria que seu filho nascesse em sua terra natal, Mullingar. Há meses o casal fazia planos para se mudar por completo para sua cidade, mas Eva não poderia partir e simplesmente abandonar a filha doente, o que Niall compreendeu perfeitamente. Pois com a chegada desse filho, enxergava como a chave para todos os problemas, um ponto de esperança que ele precisava para realizar seu desejo de ter uma família ao lado de Eva.

(...)

  Harry higienizou bem as mãos antes de adentrar, respirou fundo e parou com a mão na maçaneta, buscando coragem para se preparar para o que viesse encontrar a seguir ao abrir a porta. Tinha recebido a notícia de que Sarah havia acordado ainda cedo pela manhã, antes de chegar no trabalho. Ele ainda estava processando tudo que havia acontecido, não acreditava que finalmente ela estava ali, lúcida outra vez. Estava nervoso, era um fato, mas ele havia se preparado para aquele momento durante 4 anos e agora parecia mais difícil lidar com a situação. Sem esperar por mais tempo, entrou no cômodo.
  – Bom dia, Moore. Olá Sarah, sou o médico responsável por você. Doutor Styles, – disse o mesmo. Então foi como uma cena de filme, seus olhares se encontraram pela primeira vez, os olhos castanhos avelã de Sarah tinha um brilho tão intenso e hipnotizante. O tipo de olhar pelo qual ele venderia sua alma. Fingiu uma tosse para prosseguir a fala já que havia perdido sua concentração.
  – Há quanto tempo ela está acordada? – perguntou à enfermeira.
  – Não sei ao certo doutor, – respondeu. – Quando cheguei já a encontrei assim. Isso é um bom sinal, não é?
  – Ótimo sinal, pra ser sincero. Precisamos mantê-la em observação por uns dias e ver como ela reage aos medicamentos. – Cautelosamente levantou sua pálpebra e colocou uma lanterna em seus olhos, e fez com que seguisse o movimento da luz. – É muito bom tê-la conosco novamente Sarah.
  “Por que sua voz me soa tão familiar, doutor Styles? Eu nunca o vi antes e sinto que já o conheço a muito tempo.”
  Sarah até então não tirou os olhos de Harry desde quando o mesmo havia chegado no quarto. Harry tentava disfarçar para não transparecer o quanto aqueles olhares sobre ele faziam seus batimentos acelerarem de tal modo que ele achou que fosse possível ouvir as batidas de seu coração pelo cômodo.
  – Agora se me dão licença, tenho que ir, – disse trêmulo, deixando o quarto.

(...)

  O eco do toque do celular pela casa o fez despertar do sofá, com relutância Dylan levantou e foi cambaleando, desviando das garrafas de álcool vazias pelo chão e se esticou para alcançar o aparelho.
  Já havia se tornado rotina amanhecer os dias assim desde sua separação, andando desleixado, jogado pelos cantos, embriagado e satisfazendo os desejos da carne, mas toda vez que voltava para casa o vazio predominava, aquela sensação de porto seguro e afeto havia perdido assim que perdeu a esposa, restando apenas solidão e angústia. Ele sabia o que faltava, e sabia que não tinha volta.
  – Alô? – perguntou com a voz rouca. – O QUÊ? Como é possível? Claro, estou a caminho. – Desligou o telefone e tratou de se vestir.

(...)

  Harry organizava em seu escritório as fixas de seus pacientes enquanto aguardava ansiosamente a chegada do pai de Sarah, sentia uma euforia inexplicável dentro de si, queria mostrar o quão estupido estava agindo com sua própria filha e fazê-lo se arrepender, mas prometeu a si mesmo que não permitiria seu lado emocional atrapalhar o lado profissional. As batidas na porta sinalizaram que o homem havia chegado, assim que o mais velho adentrou em sua sala Harry pediu educadamente para que sentasse na cadeira a sua frente.
  – Eu quero que me explique como ela despertou do nada, sendo que há 3 dias eu o pedi para que desligasse as maquinas para que minha filha morresse em paz.
  “Talvez porque eu não me perdoaria se a deixasse morrer, por não suportar o buraco que se formaria em meu peito por ficar sem ela. Porque me apaixonei por sua filha.”, pensou Harry.
  – O que o senhor tem que entender é que Sarah está entre nós novamente, ela lutou por sua vida cada segundo, teve reações positivas quanto os medicamentos e está voltando a consciência. Isso não traz nenhum sentimento ao senhor? - questionou sem ser rude.
  Dylan ainda não tinha parado para pensar com clareza, ainda não tinha absorvido a notícia completamente, tanta coisa havia mudado nos últimos 4 anos desde seu acidente que ele tinha esquecido dessa sensação. Aquela sensação de saber que ainda há alguém que precisa de você, e que você não está mais sozinho. Piscou algumas vezes como se trouxesse para realidade com as palavras do rapaz.
  – Eu tentei me comunicar com sua esposa, mas desde o ano passado que ela não frequenta o hospital e não atende as nossas ligações e...
  – Evangelina não está mais em Portland. Nos separamos tem uns meses e desde então ela ignorou que tem uma filha e não se preocupou com mais nada que a envolvesse, e não faço ideia de seu paradeiro agora, que sinceramente pouco me importa, – respondeu ríspido.
  Harry, constrangido, não soube como reagir diante de sua declaração, o que ele poderia dizer? Um sinto muito? Na dúvida, achou sensato concordar em silêncio a espera de que ele continuasse.
  – O que acontece agora doutor? Sarah vai ficar bem? – perguntou preocupado.
  – Em seu atual estado é comum sentir dificuldades para se mover, seus ossos estão atrofiados, seus músculos estão comprometidos e por conta disso não pode se mexer, nem pode falar. Seus rins não funcionam sozinhos, e o abdômen precisa de uma atenção constante, até sua melhora. Que se ela continuar dando resultados positivos será uma recuperação breve.

(...)

  Elisa estava tão animada com o nascimento de seu sobrinho, a empolgação do seu irmão era contagiante, era um momento muito especial de sua vida, ela nunca tinha o visto tão feliz antes. Horas atrás a mesma soube da notícia por telefone e, apesar de estar distante do irmão fisicamente, quis ser a primeira a conhecer o sobrinho, por isso resolveu fazer uma chamada de vídeo. A intensidade de sua emoção era tanta que parecia estar o vendo pessoalmente, lagrimas de orgulho caíam de sua face, comentou o quanto o bebê era semelhante ao irmão, que estava ansiosa para conhecer sua família e que estava louca para contar a novidade ao noivo, se despediu e declarou saudades.
  Ela contava os dias para voltar para casa.

(...)

  Sarah olhava fixamente para o teto, queria se distrair com alguma coisa, estava farta daquele cenário, queria poder gritar. Era como se sua alma estivesse presa ao estado de seu corpo, impossibilitada, tudo que ela queria era entender o que estava acontecendo e se livrar daquela inércia. Consolou-se ao ver seu pai entrando no quarto.
  “Pai! Porque estou aqui? Eu quero entender o que está acontecendo comigo!”
  – Oi meu anjinho, – disse ele, Sarah notou pelo seu tom de voz que seu pai estava cansado, em todos os sentidos. – Sei que você deve estar cheias de perguntas e confusa, mas não poderei responder nenhuma delas, você passou por tanta coisa, foi forte até o final e precisa continuar sendo, pois a luta está apenas começando, nunca duvide da sua força.
  “O que o senhor quis dizer? Onde está a mamãe? Eu quero vê-la!”
  – Vai ficar tudo bem, seu corpo está bastante frágil, não deixe as preocupações tomarem conta de você, não quero correr o risco de testar sua força. Apenas peço que dê tempo ao tempo, eu estou aqui agora e vou cuidar de você, – disse convicto para confortar sua filha. E naquele momento ele jurou a si mesmo que, desse dia em diante, tudo será diferente.

Dois dias depois...

  Sábado à noite, esse era o dia da semana mais esperado por Harry, pois era o dia em que se reunia para jantar em família. Na maioria das vezes ele faltava devido ao trabalho, o que o desapontava bastante, já que considera como um momento sagrado, nada se compara com a comida caseira de sua mãe, nenhum restaurante sofisticado chegaria aos pés dela. Anne tinha um dom para cozinha, ela sabia exatamente o que fazer para agradar o filho e deixá-lo feliz.
  Aquele ambiente o fazia tão bem, que toda vez quando ia visitá-las sentia-se como uma criança novamente, a definição perfeita de lar. Sua irmã Gemma, não estava em seu melhor momento, discutiu com seu namorado, Liam, e se manteve em silêncio durante o jantar.
  – Como vão as coisas no seu trabalho querido? – perguntou sua mãe.
  – Estão indo bem, – disse sorrindo. Voltaram a comer silenciosamente, então pronunciou-se novamente. – Mãe, sei que minha pergunta não vai fazer sentindo algum mas, a senhora se arrepende de ter conhecido meu pai? – Anne e Gemma se olharam e depois para ele.
  – Pra mim a palavra arrepender não costuma fazer parte do meu dicionário. Eu amava muito seu pai quando jovem, e mesmo ele sendo quem ele é, feito o que fez com nossa família eu me casaria, se não fosse por ele, eu não estaria falando com você agora. E agradeço todos os dias por vocês estarem em minha vida.
  – Então não mudaria nada mesmo se tivesse a oportunidade de voltar no tempo?
  – Talvez sim, talvez não. Porque a pergunta, filho? Algo está o incomodando, consigo sentir, – questionou, Harry sabia que qualquer coisa poderia contar pra sua mãe os piores segredos, ela sempre iria o aconselhar sem julgar, ele sentia seguro com ela.
  – Mãe, eu não sei se quero mais casar com Elisabeth porque estou apaixonado por outra pessoa, – disse e os talheres trincaram o prato, as duas prestando atenção em sua declaração.
  – Me sinto culpado, como se tivesse a traindo sem nem mesmo ter realmente chegado a esse ponto. Estou confuso e não sei como agir diante a isso, não sei se arrisco ou se continuo com a Elisabeth já que ela é tão boa comigo e faz tudo pra me agradar. Eu tenho medo de me arrepender e perder tudo depois, – confessou tudo que angustiava.
  – Você ama sua noiva? – Gemma quis saber e Harry abaixou a cabeça. Ele gostava muito, sentia um carinho imenso por ela, mas não chegava a amar. – E quanto a essa nova garota? Ou garoto não sei.
  – É uma mulher sim, Gemma. – Riu nasalado de sua pergunta. – Eu sei que em geral, eu prefiro estar com ela do que estar com qualquer outra pessoa, ela tem algo que me hipnotiza e me prende, eu me sinto melhor quando estou ao seu lado, é como o arco-íris colorindo o céu.
  – Sabe meu filho, a vida toda queremos saber para onde devemos ir, sendo que o mais importante é quem nos acompanhará. A gente precisa ter algo para acreditar, se você gosta dela deve ir atrás, não existe tempo perdido, nós que vivemos perdendo tempo. Falo por experiência própria, nunca deixe de tentar por medo de se arrepender, você nunca vai saber o que lhe aguarda. Apenas siga seu coração. E se der errado, você ainda tem a mim, não é, meu bolinho?
  – Mãe! – repreendeu manhoso. – Obrigado, eu te amo. – Sorriu mostrando as covinhas e beijando as mãos da mais velha.
  – Quem quer sobremesa?
  Horas mais tarde, após sair da casa de sua mãe, Harry já se encontrava pronto em sua cama para dormir, pegou o notebook que estava em cima do criado mudo e se aconchegou entre os lençóis. Desde que Elisabeth tinha ido para França, Harry passou a vê-la por Skype todas as noites em que tinha um tempo livre, o fuso horário não colaborava muito então por isso ele decidiu ligar para ela somente em fim de semana.
  – Oi amor! Como está? – saudou calorosa como sempre.
  – Oi amor, bem cansado sinceramente. Que horas são aí?
  – 11 horas da manhã do domingo. E aí deve ser madrugada certo?
  – Correto, e as novidades da graduação?
  – As correrias de sempre com seminários pra apresentar e livros pra estudar. Mas hoje tem uma novidade que você vai amar saber!
  – Conta aí pra mim, por favor.
  – Meu sobrinho nasceu e ele é tão fofo! Você devia ter visto, o Niall está tão encantado, eu tenho a foto dele aqui e vou te mandar, – contou animada. Harry sorriu.
  – Que notícia maravilhosa! Eu sou oficialmente tio! – Tentou demostrar empolgação, já que se sentia culpado pela confissão horas antes. – Qual o nome do bebê?
  – O bebê se chama Theo, ele é tão lindinho, meus pais foram viajar para conhecê-lo. Eu não vejo a hora de conhecer a esposa de meu irmão pessoalmente, Niall está pensando em fazer um jantar em família para quando eu voltar. O que acha amor?
  – Acho uma ótima ideia, – ele concordou, Harry sabia pouco sobre sua nova cunhada, tinha visto apenas a foto do casamento, mas nunca foram apresentados pessoalmente. E ele acreditava que daqui até a volta de Elisa ele já teria resolvido seus problemas amorosos.
  – Eu sinto tantas saudades de vocês, qual seus planos pra amanhã?
  – Dormir o dia todo, é meu dia de folga, vou aproveitar claro. E você?
  – Tenho trabalhos pra terminar e livros pra estudar pro meu seminário. Graduação não é nem um pouco mole, tá acabando comigo. Bom, tenho que ir agora e você também precisa dormir. Tchau amor, boa noite.
  – Tenha um bom dia Lisa, tchau. – Sorriu forçado e desligou o computador.

(...)

  Eva admirava a paisagem através da janela de sua casa enquanto amamentava seu filho, carregado nos seus braços. Finalmente ela encontrara o que havia faltado nos últimos anos, sentia-se completa outra vez, reconstruída, e seu coração estava em paz. Niall se aproximou trazendo o telefone, com cuidado ela colocou a criança ao berço e pegou o aparelho de sua mão. Quando a mais velha atendeu o telefonema, seu humor mudou drasticamente, havia ficado perplexa. Seu marido, curioso, perguntou o que havia acontecido e ela disse.
  – Minha filha acordou do coma.

Capítulo 08 - Em minha mente

  3 meses haviam se passado e Sarah recuperava-se aos poucos, por conta do coma perdeu bastante peso, e apesar dos fatos Harry apaixonava-se por ela a todo momento que passavam juntos, a cada dia mais encantado com as descobertas que tinha sobre ela, sempre paciente ouvindo tudo que ela tinha para te dizer, e se sentia privilegiado, já que sonhou tanto com esse momento, finalmente não estava mais falando sozinho. Sarah ainda não sabia andar sozinha e falava com dificuldade, era como se tivesse voltado a ser um bebê, reaprendendo desde o princípio. Hoje seria sua primeira vez que tentariam uma comunicação mais dinâmica para saber o quanto ela lembra do acidente e anterior a ele.
  – Quando estiver pronta nós começamos, ok? – disse Harry segurando em sua mão para passar segurança, a mesma assentiu.
  – E-eu estou pronta, – ela respondeu.
  – Tente voltar para o momento que ocorreu o acidente, o que aconteceu naquele dia? – perguntou docemente.
  Sarah fechou os olhos forçando sua memória para o dia do ocorrido, apenas enxergava flashes de imagens e conversas desconexas, tudo estava borrado, como um canal sem sinal. De repente foi pega de surpresa pela imagem do carro sendo atingido por um caminhão, o que a fez abrir os olhos na hora, assustada, com lágrimas nos olhos. Harry abraçou no mesmo instante para acalmá-la.
  – Calma, está tudo bem eu estou aqui, já passou. – Segurou em seu rosto e viu a vermelhidão em seus olhos. – O que você viu?
  – Eu não consegui ver com clareza, os rostos eram borrões e eu não entendia o que falavam, então eu senti o impacto do carro me atingir, – explicou apavorada. Harry tornou a abraçá-la.
  E quando ele a abraçou foi como se alguma parte de seu coração se enchesse, naquele momento ela se sentiu inteira, precisava de um abraço, um bem apertado, que a livrasse das angústias que passava. E o abraço dele foi exatamente isso.
  – Vamos devagar, tudo bem assim? – perguntou e a mesma concordou. – Até onde se lembra sobre sua vida antes do acidente? Amigos, rotina, sonhos. Conte-me sobre eles.
  – Bom, eu me lembro de... – Fechou os olhos pra ajudar a recordar. – estar terminando o colegial aos 17, tinha uma melhor amiga Becca e estávamos afastadas, minha mãe sempre me chamava de apelidos no diminutivo e conversava comigo antes de dormir. Lembro de gostar de desenhar desde menina, minha mãe ficou feliz quando fiz um retrato dela no dia de seu aniversário. – Sorriu com a nostalgia. – Lembro-me de desenhar nas paredes da casa e meu pai brigar comigo, e também quando meu namorado Kevin se foi. – Uma lágrima desceu ao pronunciar o nome do rapaz. – Ele foi meu primeiro amor e eu não soube valorizar.
  Harry abaixou o olhar, desconfortável, o comentário de Sarah sobre seu primeiro amor o incomodou de tal forma que mudou seu humor na mesma hora, entristeceu seu coração e ele não queria se sentir dessa forma, já que se tratava de algo do passado, invejava o amor que ela dizia ter pelo rapaz. Porque ele queria ser amado por ela.
  – Às vezes me sinto incomodada quando se trata do meu pai, – continuou ela.
  – Como assim? – Quis saber.
  – Não sei exatamente como explicar, é como se eu sentisse raiva dele, mas não sei o porquê.
  – Pode ser uma confusão da sua cabeça, é comum se sentir um pouco perdida no seu caso, você pode estar misturando sentimentos antigos com o presente, – explicou.
  Logo a enfermeira Moore entrou no cômodo, chamando a atenção dos dois e trouxe consigo a cadeira de rodas que ajudaria a Sarah se locomover.
  – Com licença Dr. Styles. Está na hora de sua fisioterapia, Sarah, – anunciou.
  – Claro, nos vemos depois, Sarah. – Harry disse se pondo de pé, a mesma sorriu sem mostrar os dentes, assentindo.

(...)

  – Alô? – respondeu ao atender o celular.
  – Alô, Dylan?
  – Eva?! – perguntou surpreso.
  – Sim, sou eu mesma. Dylan, eu vou ser breve e clara, é verdade que a Sarah voltou... Voltou do coma? Por que não me contou antes? Não passou pela sua cabeça que eu, como mãe, merecia saber? – Eva ouviu a respiração lenta e ansiosa do outro lado da linha. – Nem pense em desligar esse telefone, – disse áspera.
  – E o que você esperava que eu fizesse? Você quem abandonou essa família, não seja cínica, – respondeu ele no mesmo tom.
  – Eu não abandonei ninguém! O errado dessa história aqui é você, seu cretino! Isso tudo é por vingança, por ter me separado de você? – questionou Eva.
  – Vingança? – Riu debochado. – Se sua filha fosse tão importante assim pra você, estaria presente e acompanhando todo o processo ao lado dela, mas você não hesitou em ir embora, só pensou em si mesma. Uma egoísta, é o que você é! – Explodiu, contando tudo que sentia.
  – Você não é ninguém pra me julgar! Você me traiu por esses anos todos e eu tive que aguentar calada, eu nunca abandonaria minha filha e exijo que conte a verdade pra ela. É meu direito falar com ela também! – impôs.
  – Ah claro que ela vai, – disse irônico e desligando o telefone em sua cara, deixando a mesma intrigada no outro lado da linha.
  “E se Dylan estivesse certo?” pensou Eva.

(...)

  Um passo de cada vez. Havia se tornado rotina para Sarah seguir esse dilema, afinal aos poucos ela estava conseguindo voltar a andar, sentia uma euforia dentro de si e, mesmo que falhasse em alguns momentos, ela não se abatia, respirava e tentava outra vez. Harry sempre estava presente para acompanhar suas seções com o fisioterapeuta, na maioria das vezes observava de relance quando passava no corredor, ele admirava sua persistência em querer melhorar e de certa forma se orgulhava também, mas por outro lado sentia-se triste porque ele tinha consciência do que estava por vir quando ela melhorasse.
  Por um momento de distração Sarah notou a presença de Harry a observando no corredor, o mesmo acenou para ela que foi correspondido por um sorriso largo. Becca, que estava presente no momento, olhou para o médico com desconfiança e incomodada com as trocas de olhares de ambos. Esperou que o médico saísse do corredor para questionar.
  – Você não se incomoda ou não acha estranho o comportamento que o médico tem contigo?
  – Como assim?
  – Não sei te explicar, não confio nele e não gosto do jeito que ele te olha.
  – Isso deve ser bobagem sua, ele só está fazendo o papel dele, que é ser atencioso, – disse Sarah.
  – Não sei, mesmo assim, tome cuidado quando estiver com ele. – Seu pedido foi motivo para Sarah rir da amiga.
  – Sabe, – Becca torna a conversar – fico feliz por termos voltado a nos falar como antigamente, eu senti falta de você, – confessou.
  – E não deveríamos estar? – perguntou confusa e Becca hesitou antes de responder.
  – Ah, verdade, não faz sentido o que eu falei. – Sorriu forçado. – Você sente raiva pelo que aconteceu? Me refiro ao acidente.
  – Bom... Eu não sinto nada, não me lembro quase nada também, talvez angústia por ter perdido 4 anos de minha vida em cima de uma cama, mas por um outro lado, é como se eu precisasse desse tempo pra mim. Então não sinto revolta de nada.
  – Fico feliz por você estar se recuperando, – respondeu sincera.
  – E que loucura não é? Você está na faculdade agora, como isso aconteceu? O que eu perdi enquanto dormia? – brincou.
  – Bom, entrei faz dois anos, após muita indecisão em qual curso seguir, mas aí lembrei da nossa conversa e tomei minha decisão.
  – Hmm, que seria? – perguntou curiosa.
  – Você realmente não se lembra? – disse com tom de decepção.
  – Me desculpa, – disse triste.
  – Escolhi arquitetura porque era uns dos cursos que você dizia ter vontade em fazer, e foi o mais próximo que tenho afinidade também.
  – Ah, talvez eu não faça mais arquitetura, penso em estudar artes plásticas.
  – Porque você ama desenhar, – completou becca. – Eu me lembro disso.
  Sarah sorriu, contente por sua amiga saber de algo tão importante para ambas, e retornou ao seus exercícios.

DIAS DEPOIS

  Os dias se passaram em um piscar de olhos, e com eles a recuperação de Sarah também estava se completando. Harry havia se apegado a garota, sua presença diária fez com que sentisse afeição por ela, sempre buscava um tempo para estar com ela, o que causava seu atraso na volta pra casa, já que até para se despedir ele ia ao seu quarto para conversar com Sarah, sem contar os momentos que quando tinha livre, Harry procurava por ela.
  E sua fascinação e carinho por Sarah só aumentavam quando os dois estavam juntos, Harry tinha consciência de que não podia se apegar a ela porque em um momento ela teria que ir embora, mas ele já tinha criado um elo e uma paixão por ela, não tem como corrigir esse sentimento. E só em pensar na possibilidade de se afastarem a angústia atacava o peito, Harry não queria ter que se despedir dela, ele queria fazer parte de todos os seus dias. E ainda tinha Eliza, que o trazia a realidade toda vez que se fantasiava uma vida ao lado de Sarah.
  Pelo fato da maioria de seu tempo ser dedicado ao trabalho e a Sarah, Harry passou a chegar tarde em casa, mesmo sabendo que Eliza estaria esperando por ele. Após sua higiene pessoal, se organizou em sua cama para ligar o computador e falar com sua noiva.
  – Ei hazza, tudo bem? – Eliza saudou animada.
  – Oi Liza, estou bem, só um pouco cansado.
  – Ultimamente é só como você tem ficado toda vez que tem que falar comigo, – comentou chateada.
  – Não é você, é o meu trabalho. Por favor, não quero discutir por bobagens, você tem que me entender que não faço de propósito, – tentou justificar. – E como estão indo as coisas da graduação?
  – Por aqui esta indo tudo bem, tenho uma tese para apresentar e uma resenha para entregar na quinta. – Respirou fundo ao notar a distração do noivo. – Está tudo bem mesmo, Harry?
  – Hum?
  – No que tanto está pensando? – questionou curiosa.
  – Hã, nada de muita importância, me desculpe. O que dizia?
  – Sabe Hazz, já faz um tempo que te sinto distante, não só fisicamente, sinto você se afastar de mim sutilmente, – confessou preocupada. – Está tudo bem entre a gente?
  – Sim, está tudo bem entre a gente, deve ser cansaço excessivo do trabalho. Na verdade eu, eu queria te dizer uma coisa.
  Fez uma pausa para pensar, abriu a boca várias vezes e nenhum som saia dela, talvez as palavras lhe faltassem para a situação tão delicada que se encontrava. Ele não sabia como agir, ele sabia que esse poderia ser o momento certo para confessar que não queria mais se casar, porém não seria justo com Elizabeth se eles terminassem por rede social. Isso teria que ser resolvido pessoalmente.
  – Eu sinto muito sua falta aqui, – mentiu.
  – Eu também amor, cada dia que passa penso que vou sufocar sem você ao meu lado, sinto falta do seu cheiro e de bagunçar seu cabelo, sabia? – ambos riram. – Não importa o que esteja passando, pode contar comigo para desabafar, nós vamos casar, sou sua amiga acima de tudo, quero ser sua companheira.
  Harry absorveu suas palavras e sentiu segurança nelas, ele sabia que apesar de Eliza mostrar total compaixão por ele, assim que ela soubesse da verdade se magoaria, e como amiga ele não queria perdê-la.
  – Agora preciso ir, meu bem, vou almoçar e estudar com minhas amigas mais tarde, se cuida e eu te amo tá?
  – Eu também, boa apresentação e boa sorte, beijos.
  Desligou o computador e virou-se para dormir. E depois mudou-se para o outro lado. E mudou-se de novo a posição até que ficou de barriga pra cima fitando o teto. Harry não estava conseguindo pegar no sono, toda vez que fechava os olhos a imagem de Sarah aparecia instantaneamente, o sorriso dela estava impregnado em sua mente, era possível ouvir o som de sua voz pela casa como uma alucinação. Tudo se resumia a ela.
  Aceitando que não conseguiria dormir, levantou-se para preparar um chá, talvez assim diminuiria a ansiedade de estar com ela. Enquanto bebia o chá, lembrou-se dos conselhos de Louis, e em quão esclarecidos eram seus argumentos, e no quanto aquilo poderia o ajudar no momento. Discou o número e esperou o mesmo atender.
  – Eu espero que seja um motivo muito urgente para ter a audácia de me acordar a essa hora da madrugada, Styles, – disse Louis mal humorado.
  – Desculpe, te acordei, princesa Tomlinson? – respondeu debochado.
  – Seu filho da mãe! Não tem nada importante pra fazer em vez de me incomodar? Por que está me ligando a essa hora?
  – Porque eu preciso conversar com alguém, e você foi o primeiro que me veio a mente.
  – E por que não ligou pra sua noiva? Aposto que ela adoraria.
  – É sobre isso que quero conversar, minha noiva, – disse Harry.
  – Hum. – Ouviu um gemido de reprovação do outro lado da linha, como se Louis estivesse se levantando da cama. – Pode ir falando.
  – Lembra da nossa última conversa sobre casamento, Eliza e sobre minha suposta paixão platônica?
  – Sim, o que tem? – Louis dizia agoniado.
  – Eu não quero mais me casar com Eliza, eu realmente estou apaixonado por outra e agora eu sinto que esse sentimento possa ser recíproco, que talvez a garota sinta o mesmo, sabe? E eu quero investir nessa relação, mesmo com toda dificuldade e obstáculos, eu quero tentar ser feliz ao lado dela. É com ela que meu dia fica bem, é por ela que meu coração bate descompassadamente, ela é o motivo que me faz querer acordar sorrindo e acreditar que é possível. E eu gosto dela cara, gosto de verdade, e eu sei que ela não é de parar o trânsito mas ela para tudo aqui dentro de mim.
  – Nossa! – respondeu Louis, abismado. – Eu não esperava por isso cara! Mas porque ao invés de ter me ligado pra me dizer tais palavras bonitas porque não disse diretamente a ela?
  – Porque ainda sou noivo, e eu quero fazer a coisa certa para não estragar as coisas. Eu sei que Eliza vai se decepcionar e ficar magoada, afinal foram 7 anos juntos e mesmo assim eu não conseguir nutrir esse amor que sinto por Sarah em menos de 4 anos, – deixou escapar.
  – Então Sarah é o nome da sortuda? – perguntou Louis curioso e escutou a risada sem graça do amigo como resposta. – você não precisa dos meus conselhos, Harry, você está decidido, só precisa tomar a atitude para fazer acontecer. Primeiro de tudo, você tem a obrigação de dar uma satisfação a sua noiva, e seja o mais sincero possível. E para Sarah, se você diz ser recíproco, se declare logo para ela porque eu não aguento mais te aturar falando dela, eu também tenho uma vida, sabia? Tá achando o quê? Que vida de advogado é bagunça? – Fingiu estar bravo.
  – Nenhum trabalho é bagunça, meu boo bear, me desculpe por ligar essa hora mas você foi como uma luz em meu caminho, muito obrigado, – agradeceu.
  – Não tem por onde, mas a próxima vez que me chamar desse apelido de novo eu toco fogo em seu carro. Agora me deixe dormir. – Desligou o telefone bravo, causando risos de Harry.

(...)

  Eva estava decidida, esperou seu bebê dormir para o pôr no berço e seguiu para seu quarto para fazer as malas. Niall, ao chegar no quarto, estranhou a movimentação e perguntou intrigado.
  – Vamos a algum lugar? – comentou chamando atenção dela.
  – Oi amor, você chegou do mercado? Eu iria te contar quando chegasse.
  – Então, eu cheguei, por que está arrumando essa bolsa de viagem?
  – Eu liguei para meu ex marido tem uma semana, ele não quer deixar me comunicar com Sarah de jeito nenhum, então eu tenho que ir até ela. Eu não abandonei minha filha, Niall, não abandonei, – repetiu mais pra si mesma do que para o marido.
  – Está tudo bem, eu te entendo, estou aqui para te apoiar, lembra? Vai ficar tudo bem. – Abraçou a esposa, que estava no chão.
  – Eu vou ficar fora por 2 dias, apenas para vê-la e resolver as coisas, acha que dá conta do Theo sem mim?
  – Sim meu bem, pode ficar tranquila, – disse confiante e depositou um beijo em sua testa.

(...)

  Sarah olhava para a parede de seu quarto o qual ficou durante 4 anos em coma, hoje seria seu último dia no hospital, já que estava de alta e poderia ir pra casa. Se vestiu com a roupa que seu pai havia separado para ela e se despediu da enfermeira Moore que havia se tornado uma amiga também, logo depois sentiu a presença de Harry na porta segurando rosas azuis. E para ela aquela cena, parecia familiar.
  – Oi, – disse Harry.
  – Dr. Styles, – respondeu Sarah.
  – Por favor, apenas Harry. – Sorriu tímido mostrando as covinhas.
  – Essas rosas são lindas! Nunca vi uma rosa azul antes, – disse ela encantada.
  – Que bom que você gostou, eu comprei pra você.
  – São para mim? – disse surpresa.
  – Sim, são suas. Você sabia que a flor azul é conhecida por ser uma flor que representa o infinito e o inalcançável? Onde sentimentos como gratidão, respeito, admiração, desejo e amor fazem parte do seu objetivo. São os motivos pelos quais as pessoas oferecem flores na cor azul, – explicou.
  – Que adorável, eu realmente adorei, muito obrigada, – disse animada e abraçou o médico, que foi pego de surpresa mas correspondeu o abraço na mesma intensidade, apertando seu corpo contra o dela e inalando o cheiro de seus cabelos ao qual perfume já havia se acostumado.
  – Obrigada por tudo que fez por mim, Dr.Styles, não sei como retribuir.
  – Seu bem estar já está suficiente pra mim, – respondeu ele e esperou que ela saísse da sala, e metade dele estava indo embora com ela também.

(....)

  Dylan olhava de relance para a filha que estava ao seu lado no carro, em nenhum momento dirigiu a palavra a ele desde que saiu do hospital, apenas encarava a paisagem através do vidro.
  - Está se sentindo bem, meu anjinho? - perguntou seu pai notando sua distração.
  - Sim, estou bem. - Sorriu sem mostrar os dentes. - Só estava pensando na mamãe, queria que ela estivesse aqui.
  - Ei! Sua mãe tem uma outra vida agora, nós podemos dar conta disso juntos, não precisa ficar se sentindo perdida, porque eu cuido de você, - disse ele. Sarah, com a feição triste, concordou e voltou a olhar a paisagem enquanto seguiam seu caminho de volta pra casa.

(...)

"Encontre-me no corredor
Acabei de sair do quarto
Me dê um pouco de morfina
Existe mais alguma coisa para fazer?

Apenas me avise
E eu estarei na porta, na porta
Esperando que você apareça
Apenas me avise
E eu estarei no chão, no chão"

  Apenas três dias se passaram, tempo o suficiente para Harry mudar completamente seu humor. Seu estado era decadente, a insônia havia se tornado sua companheira a noite, não se alimentava direito, não descansava e por isso as olheiras marcavam seu rosto, ele não havia se adaptado à partida de Sarah do hospital. Toda vez que o mesmo passava no corredor e olhava para seu antigo quarto onde sempre a encontrava, um vazio formava em seu peito, um sentimento de angústia surgia quando lembrava-se dela, Harry nem teve tempo para esclarecer a ela sobre seus sentimentos, e agora que a mesma tinha ido pra casa ele havia perdido suas expectativas de vê-la novamente.

(...)

  Eva saiu apressada do aeroporto e pegou um táxi diretamente para sua antiga casa, uma mistura de felicidade, ansiedade e nervosismo era o que ela sentia quando seu destino se aproximava. Depois de tanto tempo iria ter sua filha nos braços outra vez, haviam mudado tantas coisas, mas o amor que sentia por sua primogênita nunca iria acabar. Pagou ao rapaz do táxi e um sentimento nostálgico a invadiu assim que pisou na grama em frente a casa. Respirou fundo e bateu na porta esperando ser atendida.
  - Mamãe?

Capítulo 09

  Sarah olhava surpresa para a mulher em sua frente. Depois de tanto tempo sem ver sua mãe, sem a presença da mesma durante os dias no hospital, tanto tempo longe causou uma certa desconfiança e um turbilhão de perguntas com sua volta repentina, tinha tanta coisa para conversar, sentia tanta falta dela mesmo estando decepcionada com toda a situação. Sarah sentia confiança nela, aquela sensação que costumava sentir quando estava perto de sua mãe reapareceu e tudo que conseguiu fazer foi se aproximar para abraça-la.
  - Oh, meu docinho, – Eva disse emocionada ao abraçar a filha.
  - Mamãe! – repetiu Sarah, abraçando-a bem forte como se a qualquer momento fosse desaparecer.
  - Você tá tão linda, deixe-me te ver melhor. – Afastou-se para dar uma olhada em sua filha crescida.
  - Eu senti tanto sua falta, mãe, - confessou quando a mais velha tocou seu rosto, secando suas lagrimas.
  - Eu também senti a sua, meu docinho.
  - Então por que foi embora? – perguntou indignada.
  - O casamento já não estava dando certo, eu já não conseguia ser feliz ao lado de seu pai, – disse Eva.
  - E por isso teve que ir embora e me abandonar?
  - Eu não te abandonei Sarah, que história é essa agora? – perguntou aflita.
  - Onde a senhora estava quando eu acordei do coma? Durante meses eu esperei por você no hospital, eu precisei de você, mãe, e você não estava lá, – respondeu magoada.
  - Filha, me desculpa, eu sei que não justifica mas eu tive meus motivos, seu pai não tinha me contado nada sobre você eu que tive que buscar por notícias suas, – disse atônita.
  - Meu pai me contou sobre sua nova família, não precisa fingir que se importa comigo agora, – respondeu rígida.
  - Claro que você é importante pra mim, Sarah! Seu pai me traiu e estava sendo falso com nossa família, não acredite nele, Dylan está te enganando para me atingir, – Eva disse como se fosse óbvio.
  - E em quem a senhora espera que eu acredite? Meu pai ficou do meu lado quando eu precisei, já você estava ocupada demais para se lembrar de mim, – respondeu com desdém.
  - Não faça isso, Sarah, não deixe ele nos afastar, eu só quero me aproximar de você, reconstruir o laço de mãe e filha, – disse sincera.
  - Quem está na porta, Sarah? – Dylan perguntou ao se aproximar da porta, encontrando as duas ali. - O que você tá fazendo aqui? – Colocou-se na frente de Sarah, impedindo qualquer contato visual.
  - Só estou conversando com minha filha! – disse Eva no mesmo tom, sem se intimidar.
  - Você não é bem vinda nessa casa, por favor se retire ou irei chamar a polícia, – ameaçou e ela se manteve impassível até Sarah interferir.
  - Por favor, acho melhor a senhora ir agora. - O pedido de Sarah foi como uma faca no seu peito, ela não esperava por essa atitude, sem ter no que mais insistir olhou para a filha triste e saiu do local.

(....)

  Trabalhar sem ter a presença de Sara havia se tornado entediante, como se o dia demorasse a terminar e Harry ficasse sem ânimo para começar seu trabalho. Isso o afetou de tal forma que fisicamente ele também havia mudado, Harry havia perdido o sorriso encantador dos lábios, o bom humor para cumprimentar seus colegas, assim como a vontade de sorrir. Era tão triste passar pelo quarto de Sarah e estar vazio, tudo que ele desejava era apenas ter tido um pouco mais de tempo para confessar seu amor por ela, havia uma semana que Sarah não estava mais no hospital, e sua mudança de comportamento foi notada por todos a sua volta.
  Assim que terminou seu turno no hospital, dirigiu-se para casa, o trânsito estava tranquilo por ser tarde da noite, com isso havia pouco fluxo de carro na estrada, em seguida ligou o rádio para ouvir música durante o caminho de volta para casa.
  Quando chegou em casa procurou se preparar para um banho quente e relaxante, depois de feito foi para cozinha preparar um lanche rápido antes de dormir. Harry comia sem vontade alguma, pensava enquanto mastigava seu sanduíche, pensava e lembrava dela e logo a vontade de comer sumia, ele estava angustiado para vê-la, mas a verdade é que ele não fazia ideia de como encontrá-la. Seu celular vibrou na mesa, o tirando de seus devaneios.
  - Alô? - Atendeu sem olhar no visor da tela.
  - Oi meu bolinho, te acordei? – Harry sorriu ao reconhecer a voz do outro lado da linha.
  - Oi mãe, na verdade acabei de chegar em casa fez 15 minutos, – respondeu docemente.
  - Nossa, querido, chegou bem tarde, deve estar cansado, você já jantou? Não se esqueça de se alimentar bem, é importante comer frutas, é saudável e você precisa repor as energia, – aconselhou sua mãe.
  - Estou jantando agora e, sim, mãe, estou cansando mas nunca cansado demais pra você.
  - Oh, meu filhote meigo, vou ser breve para não tomar seu tempo, o motivo dessa ligação é que gostaria de passar o dia com você e sei que o dia que você está disponível é no domingo, sinto sua falta, dos nossos passeios em família, – comentou manhosa.
  - Claro mãe, irei passar o dia com você, o domingo é perfeito, serei todinho seu, – disse e sua mãe gritou de felicidade na outra linha.
  - Ah que ótimo, vou esperar ansiosa, agora vou deixar você descansar, beijos meu bolinho durma bem.
  - Beijos mamãe, boa noite.

(...)

  Sarah despertou da cama sentindo o aroma de ovos sendo fritos, seu pai estava na cozinha, ele não era tão bom com comida como sua mãe, mas a única coisa que sabia fazer são ovos fritos.
  Sorria ao lembrar que quando era criança e ficava sozinha com seu pai o seu único almoço era os ovos mexidos que ele sabia fazer, era divertido ver como seu pai ficava sem jeito cozinhando e todo desastrado e tinha medo até de se queimar quando o óleo chapiscava. Ela sentia tanta alegria por ter um momento entre pai e filha que adorava ver o modo como ele se esforçava para agradá-la e a parte mais engraçada era quando sua mãe chegava e dava uma bronca nele por ter sujado a cozinha inteira. Então os dois tinham a missão para organizar tudo para aliviar e deixar a mãe menos zangada.
  Sarah sentou-se à mesa enquanto Dylan terminava de pôr os ovos na mesa e teve uma vontade de voltar para aquele tempo em que era criança para poder reviver os momentos e reviver a felicidade que sentia compartilhando o momento do cotidiano com seu pai, mas agora ela estava tão desolada que só queria ter sua antiga família de volta, pois tudo havia mudado. Sua mãe não iria mais voltar para casa e brigar com seu pai para limpar a bagunça, não iria mais ter todos reunidos na mesa para jantar e não ficaria esperando ansiosa sua mãe voltar. E agora ficar sozinha com seu pai parecia tão desconfortável, mesmo com esforço dele tentando agrada-la, Sarah queria entender porque sentia que não podia confiar nele.
  - Bom dia meu anjinho, – pronunciou ao se virar e ver a filha na mesa.
  - Bom dia pai. – Sorriu para ele.
  - Como passou a noite? - disse ao servir os pratos.
  - Bem, – respondeu pegando talher e levando a comida a boca.
  - Fiz seu prato favorito, ovos mexidos e suco de laranja como nos velhos tempos, ainda está bom como antigamente? – tentou puxar assunto para quebrar a tensão que havia entre eles.
  - Sim, está bom, – disse de boca cheia. Sarah estava incomodada com o que tinha ocorrido no dia anterior, não sabia como questionar a seu pai o que realmente tinha acontecido, ela não havia gostado da forma de como seu pai tratou sua mãe.
  - Pai – pronunciou chamado sua atenção –, sobre ontem, por que tratou a mamãe daquele jeito? – perguntou e notou a inquietação de seu pai ao tocar no assunto.
  - Nós podemos deixar pra falar disso outra hora? – pediu calmo enquanto bebia o café.
  - A mamãe disse que você a traiu e por isso se separou, isso é verdade?
  - E você acredita nela? Depois de tudo que ela fez a você e a mim?
  - Pai, por que ela mentiria sobre algo tão grave?
  - Porque ela quer te manipular, te usar contra mim, ela sabe que amo você mas até isso quer tirar de mim, você é a única família que me resta. Não confie nela, Sarah, ela só quer te usar e depois, quando não servir mais, vai te trocar, assim como fez comigo, fui trocado por um garotinho e em menos de um ano já teve um filho com ele. Não acha suspeito? Eu os via na rua, ela parecia outra pessoa, como se nós nunca tivéssemos existido na vida dela.
  Sarah ouvia tudo atentamente, desnorteada, sem saber como reagir e em quem acreditar.
  - Sei que é difícil mas essa é a verdade, ela nem ao menos te visitou no hospital quando você se recuperou. – Completou ele e se aproximou tentando tocar em sua mão, mas Sarah recolheu, evitando que a tocasse e limpou suas lágrimas.
  - Desculpa, perdi a fome, – disse ao levantar.
  - Onde você vai? – perguntou Dylan assim que a viu pegar a bolsa pra sair.
  - Vou dar uma volta, preciso ficar um pouco sozinha pra pensar, – respondeu ao sair de casa.
  Sarah caminhou sem rumo pela rua, estava confusa e queria compreender as palavras de seu pai, caminhava distraída em seus pensamentos, não prestava atenção em nada ao seu redor, depois de uma longa caminhada sem destino, até que seu olhar parou em uma floricultura. O que mais havia chamado sua atenção foram as lindas rosas em frente a lojinha. Ficou tão encantada com as mesmas admirando-as que percebeu que realmente se interessou por elas e resolveu entrar.

(...)
  - Estou preocupada com Harry, – disse Gemma.
  - O que aconteceu com seu irmão? - perguntou Liam.
  Gemma e seu namorado conversavam em seu restaurante favorito, que tinha uma vista incrível para o mar, em um restaurante bastante sofisticado. Liam estava vestido como de costume, usando sua jaqueta de couro preta favorita, com uma blusa lisa da mesma cor e jeans. Liam sempre atraiu olhares por conta de seu estilo despojado e, claro, por ser um moreno de olhos castanhos muito charmoso.
  - Harry anda estranho ultimamente. Sabe, ele nunca mais nos visitou aos sábados, – disse decepcionada.
  - Ele é um homem ocupado, talvez teve algum compromisso de urgência. – Liam tentou justificar.
  - Meu irmão não trabalha até tarde aos sábados e se fosse por isso, ele nos avisaria, poderia até marcar para nos encontrar aos domingos, já que nesse dia ele tá livre, – respondeu inconformada.
  - Não acho que seja motivo para se preocupar com ele, talvez ele tenha coisas importantes para resolver, – disse simples.
  - Eu não acredito que ouvi isso, Liam! – Gemma o repreendeu. – O que pode ser mais importante do que a família? É do Harry que estamos falando! Ele é dedicado e amoroso com a família, eu conheço meu irmão, algo muito grave deve ter acontecido pra ele se afastar der repente. Nós somos gêmeos, mas ele é meu amigo também.
  - Me desculpe se te ofendi, não sabia que estava tão séria a situação dele, – respondeu sem graça.
  - Eu te desculpo, até porque é compreensível. Você não o conhece direito, por isso marquei de encontrar com Louis hoje, – disse bebendo seu chá.
  - Aqui e agora? – Liam perguntou confuso. – E quem é Louis?
  - Louis é o melhor amigo do meu irmão, você o viu uma vez no aniversário surpresa, ele trabalha em um escritório de advocacia aqui por perto e aceitou se reunir conosco para o almoço e conversar, – explicou a loira.
  - Conversar sobre o que, exatamente?
  - Como Louis é o melhor amigo do Harry depois de mim, é claro, acho que meu irmão pode ter encontrado com ele recentemente, eu prefiro acreditar que meu irmão não está escondendo nada de mim, mas se tem alguém que pode ter notícias do Harry esse alguém é o Louis, – disse e Liam confirmou com a cabeça.
  - Ele chegou, – anunciou Gemma assim que avistou o moreno de olhos azuis.
  - Boa tarde casal, – Louis saudou ao se aproximar. O mesmo estava com seu paletó azul marinho perfeitamente alinhado em seu corpo e cumprimentou ambos com um largo sorriso.
  - Oi Louis lembra do Liam? Meu namorado, – comentou Gemma.
  - Prazer em conhecer você, Liam - estendeu a mão –, acho que lembro vagamente do seu rosto no aniversário surpresa, - disse Louis.
  - Prazer em conhecê-lo também, é, eu estava lá, me desculpe não lembrar de você
  - Sem problemas, já faz muito tempo e não tivemos a oportunidade de nos apresentarmos, - Justificou Louis - Então Gemma, a que devo a honra do seu convite? - perguntou sentando-se à mesa.
  - Você tem conversado com meu irmão recentemente? – perguntou sutilmente.
  - Faz umas semanas que eu não o vejo, a última vez foi quando ele me ligou durante a madrugada. Por que, aconteceu alguma coisa? – perguntou preocupado.
  - Faz exatamente quase dois meses que o Harry não se reúne conosco para o jantar em família, isso nunca aconteceu, com exceção de quando ele tinha 12 anos e fez greve de fome. Ele mal responde minhas ligações!
  - Já tentou se encontrar com ele? Ou talvez visita-lo? – sugeriu Louis.
  - Nossos horários são diferentes e o tempo que fica disponível em casa não condiz com meus horários. Eu já tentei ir na casa dele mas ele não estava, ou fingiu não estar, como se quisesse ficar isolado, entende? – Gemma explicou e logo surgiu em sua mente a última conversa que teve com Harry. – Acha que esse comportamento pode ter ligação com a garota que ele está apaixonado?
  - Acho provável. Eu não aguentava mais o Harry falando dela aí eu disse “siga seu coração, a vida é curta pra não se arriscar”. Então ele te contou sobre Sarah?
  - Quem é Sarah? – perguntou confusa.
  - Merda, Gemma, achei que soubesse!
  - Louis, me explica essa história direitinho.

(...)

  Quando chegou domingo Harry se encontrou com sua mãe para passarem o dia juntos. Não foi um dia agitado como era de costume quando era criança sua mãe atenas havia pres dias o companhia para aí na estreia do novo museu de artes da cidade anistia seu filho distantes e alguns momentos e percebendo isso sempre pedi opinião dele o incentivando a participar do momento entre mãe e filho depois disso resolveram fazer um lanche em um piquenique que ficava por ali por perto eu estava se divertindo muito com a sua mãe a ponto de fazenda esquecer de suas preocupações então o mesmo lembrou de uma floricultura que ficava por perto de onde eles estavam ele estava tão feliz como muito tempo na vertical volantes e queria retribuir o carinho como como sabia que sua mãe adorava rosas sabe exatamente o que comprar já que seu interesse por flores surgiu através dela
  - Já volto mãe, um segundo, não some daqui, – pediu igual a uma criança quando quer fazer uma surpresa. Sua mãe apenas assentiu sorrindo saboreando o sorvete enquanto o seu filho se distanciava.
  Ao entrar na lojinha seguiu para as estantes de rosas, o cheiro amadeirado com perfume natural das flores estava tão agradável como lembrava, fazia algum tempo que ele não passava por lá para comprar flores, já que Sarah não iria mais recebê-las. Escolheu as rosas amarelas, eram as favoritas de sua mãe, e ele em particular também adorava essa cor, assim que terminou de recolher o que queria, se aproximou de uma das vendedoras que estava ao seu lado, a mulher de altura mediana e de cabelos castanhos até os ombros, estava de costas para ele mas pôde identificar o fardamento da loja em sua blusa.
  - Moça, com licença a senhorita poderia me ajudar com... – De repente as palavras fugiram de sua boca e seu coração batia tão rápido que parecia querer sair seu peito.
  - Dr. Styles? – Sarah disse ao reconhecê-lo. – Olá, como vai? Posso ajudá-lo?
  - Bom, eu... Eu.... – Piscou os olhos várias vezes, Harry não sabia o que dizer, não conseguia formar nenhuma palavra, estava tão hipnotizado que gaguejou ao falar.
  - O senhor quer um arranjo pra suas flores? – Sarah sugeriu.
  - Ah, claro, por favor. – Sorriu sem graça mostrando suas covinhas. – Era exatamente o que ia pedir.
  - Por favor, me acompanhe, – a garota pediu.
  - Então, você está trabalhando aqui? – perguntou enquanto a seguia.
  - Sim, faz uma semana amanhã, o engraçado é que nunca me imaginei trabalhando em um lugar como este, mas até que é interessante.
  - E o que a fez querer trabalhar aqui?
  - É como se eu a as flores tivéssemos um tipo de ligação, como uma sensação nostálgica. Sinto que em algum momento elas tiveram uma importância na minha vida, mesmo sem eu ter nenhum interesse antes, – explicou deixando Harry perplexo.
  - Isso é incrível, que bom que está trabalhando com o que gosta.
  - Não é como se fosse o trabalho dos sonhos mas é o que me deixa feliz, poder ver o sorriso das pessoas e a energia que elas emitem por ficarem realizadas, isso me deixa feliz também.
  - Sabe, no hospital estão com vagas para trabalhos voluntários, talvez seria uma boa ideia você aparecer por lá e deixar mais pessoas felizes distribuindo rosas. – Sarah riu concordando com ele. – E como você está? Suas memórias voltaram?
  - Ainda não me lembro de quase nada, e quando forço minha mente sinto dores de cabeça.
  - Não há muito o que você possa fazer, acho que só com o tempo para descobrir.
  - O senhor acha que minha memórias vão voltar ao normal?
  - Eu espero que sim. – Sorriu esperançoso, porque não era simplesmente o fato de Sarah querer suas lembranças de volta, e sim o desejo de Harry para que ela lembre dele.
  - Lindas rosas, – disse Sarah e então uma voz ecoou na sua mente. “rosas amarelas representam amor, respeito, alegria, amizade, esta flor significa apenas satisfação e alegria, e são uma boa forma de festejar entre amigos uma data especial. Minha mãe adora cores vivas, amarelo é sua cor favorita, quando minha mãe tinha uma dia triste ou quando era seu aniversário eu costumava entregar rosas amarelas e o sorriso dela dizia tudo.”
  - São para sua mãe? – perguntou Sarah e deixou Harry surpreso.
  - Sim, como sabia?
  - Apenas me passou pela cabeça, – disse simples.
  - Você acertou em cheio, estou em um piquenique com minha mãe aqui no parque e essa são suas flores favoritas, – respondeu Harry e Sarah parou para absorver o que Harry acabara de dizer, como se aquela frase fosse familiar.
  - Foi um prazer vê-la novamente e muito obrigado, – disse Harry ao pagar pelas rosas.
  - Foi bom vê-lo também, volte sempre, – disse e Harry acenou antes de ir embora.

(...)

Niall havia preparado todo o quarto para deixar o clima romântico. Havia velas em lugares estratégicos e pétalas de rosas ao redor da cama finalmente teriam a liberdade de uma noite de amor como antigamente, sem se preocupar em fazer barulhos ou se Theo despertaria de madrugada com fome. O bebê estava com sua mãe, que também havia se mudado recentemente para Mullingar e não parava de paparicar o neto. Assim, Eva, ao sair do banho pronta para dormir, se surpreendeu com o cenário, analisou todo o cômodo encantada, ficou um pouco perdida, como se não soubesse como reagir a ocasião. Era tão atencioso um rapaz jovem vivendo o primeiro amor, era de se esperar que ele fizesse de tudo para agradar sua esposa.
  Eva andou em direção ao seu marido, que a estava esperando na cama de cueca. O mesmo ficou de joelhos sobre a cama e pediu gentilmente para que a ela fechasse os olhos e estendesse as mãos para ele. Dito e feito, ela deixou ser guiada por ele.
  Niall percorreu a sua mão por todo o corpo de sua esposa apontando e acariciando sua pele e quando ela menos esperar foi atacada pelos lábios sedentos de Niall em seu pescoço, sua língua era tão habilidosa como sua mão que apalpava sua pele, porém Eva não conseguiu se entregar às carícias de seu marido.
  - Niall, por favor, – Eva pediu em sussurro e o mesmo não havia cessado. – Querido, por favor, pare.
  Niall imediatamente se afastou dela a desamarrando e tirando o lenço de seus olhos, era nítida a sua frustração.
  - Eu te machuquei? - perguntou preocupado verificando o seu pulso.
  - Não meu amor, só não estou no clima.
  - O quê? Você só pode estar brincando comigo, – disse decepcionado. – Sabe a quanto tempo não temos um momento juntos como um casal? Você travou pra mim desde o nascimento do Theo! Eu sou homem e sinto falta da minha mulher.
  - Eu sei, me perdoa – respondeu cabisbaixa –, é que eu não consigo parar de pensar na Sarah, no desprezo dela ao me ver, Dylan manipulou tudo, conseguiu deixar minha filha contra mim, não acredito que ele foi tão baixo!
  - Dylan! Sempre esse maldito cara, você só vive falando dele, as vezes tenho a impressão de que você ainda é apaixonada por ele, que ainda não superou a separação! – desabafou.
  - Niall, do que você tá falando? Eu só tenho olhos pra você, estamos juntos, mas eu sempre te avisei que não seria fácil, eu já fui casada e tenho uma filha, Dylan sempre vai fazer parte da minha vida. Agora você precisa ter maturidade para agir nessas situações, – desabafou Eva.
  - Ah, quer que eu seja maduro? – disse debochado. – Pois bem, você está deixando esse cara atrapalhar nosso casamento, sempre soube da sua filha mas desde o início aceitei esse fato e isso nunca foi um empecilho. Mas se Dylan vai ser sua prioridade acho melhor darmos um ponto final nessa relação, já que nós não vamos a lugar algum.
  Dito isso Niall vestiu suas calças e bateu a porta ao deixar o quarto, nitidamente irritado.

(...)

  Já em sua casa depois de mais um dia de trabalho, Sarah tomou um banho relaxante, vestiu seu pijama mais confortável ao sair e sentou na cama penteando seus cabelos molhados. Fechou os olhos enquanto fazia o ato, e ao abrir os mesmos deparou-se com as rosas azuis que Harry havia lhe presenteado. As pétalas já estavam falecendo por conta do tempo, apesar de todo carinho que Sarah havia tido com elas. Ao toca-la um sorriso bobo brotou em seus lábios e a nostalgia veio junto, lembrar de Harry a deixava fascinada, ela adorava ouvir o som de sua voz antes de dormir, como se ele acima de tudo a protegesse e a acolhesse, Sarah estava tão acostumada em esperar por Harry todas as noites antes de dormir que pela primeira vez estava sentindo falta disso, do conforto de sua voz.
  Dirigiu até seu criado mudo e ligou o abajur, procurando por seu caderno de desenho. Quando o achou, folheou buscando por páginas em branco e começou a rabiscar como nos velhos tempos. Sarah rabiscou o rosto de Harry, assim que concluiu ficou admirando sua obra, como se o fato de estar o desenhando quisesse a trazer alguma mensagem ou revelar um sentimento desconhecido, então lembrou-se da proposta e pensou na chance de conhecê-lo se aceitasse ir.
  - Toc toc – anunciou Becca –, atrapalho?
  - Não, entra, – disse fechando o caderno e pondo em cima do criado mudo. – Só estava pensando.
  Era a noite das garotas, como nos velhos tempos, Becca iria dormir com ela hoje.
  - Então – sentou-se na cama ao seu lado –, precisamos comemorar o seu primeiro emprego e sua saúde, por isso você escolhe o filme! – Abraçou a amiga empolgada.
  - Finalmente! – agradeceu Sarah. – Nem me lembro da última vez em que nós fizemos isso, só sei que faz muito tempo. – Ambas riram.
  - Espero que escolha o clássico da noite do pijama, – comentou Becca.
  - Claro – mostrou o dvd –, não podia faltar As Branquelas.
  - Espera! Onde está a pipoca e o suco? – questionou.
  - Ah, é mesmo. Só um minuto que vou buscar, – Sarah disse saindo do quarto.
  Assim que ficou a sós no quarto a curiosidade à despertou, Becca queria muito saber o que amiga tinha feito em seu caderno, ela não queria invadir sua intimidade, mas não conseguia controlar sua vontade de saber o que estava ali. Aproveitou o momento e pegou o caderno, abriu na página mais recente e não quis acreditar no que tinha encontrado. Era o retrato do médico do hospital, Harry. De primeira sua vontade foi de amassar e jogar fora o desenho, rasgá-lo em pedaços, mas se conteve, porque ela sabia o que isso significava, quando Sarah fazia o retrato de alguém é porque estava apaixonada, e para Becca isso não podia acontecer.
  - Trouxe duas vasilhas cheias d... – Sarah entrou no quarto e logo uma interrogação estava em sua face. – o que está fazendo?
  - Você está ficando cada vez melhor nisso, que bom que não perdeu o talento para a coisa. – Era perceptível o tom de mágoa nossa voz. – Sério, Sarah? você anda desenhando o Harry? Ele foi seu médico! Está apaixonada por ele agora?
  - O que você tem a ver com isso? – Deixou as vasilhas no chão e foi guardar o caderno. – Aliás, quem deu o direito de você mexer nas minhas coisas?
  - Você sabe que isso não é certo, você não lembra mas eu me lembro da última vez que você se entregou de bandeja assim. Ele não está apaixonado por você, ele só foi gentil e teve cuidado na época que você era paciente dele, nada além disso. Não confunda as coisas.
  - Eu só fiz um desenho, não significa nada. – Tentou justificar.
  - Você disse a mesma coisa quando desenhou o Kevin. A relação de vocês não era saudável, sabe que a culpa dele ter batido o carro foi por sua culpa. É meu dever te alerta sobre esse cara, porque eu não confio nele, não serve pra você, – disse Becca.
  Ouvir o nome de Kevin depois de tanto tempo ainda doía como uma ferida recente, Sarah sentia falta dele e sabia que ele morreu por sua causa. Queria poder voltar no tempo e feito as coisas de outro jeito, sem as brigas.
  - Ele tem 30 anos, Sarah! Você é só uma imatura! – Continuou Becca.
  - Mas que tipo de amiga é você? Fica esfregando que a culpa foi minha, invade minha privacidade e quer me deixar pra baixo? – desabafou. – Eu não ligo pro que você pensa, se realmente fosse minha amiga ficaria do meu lado e não me julgando. – As lágrimas saíam de sua face facilmente.
  - Me desculpe, eu não quis dizer, eu só não quero que a história se repita e você fique pior e cometa outra fatalidade com sua vida quando tudo desmoronar. Mas saiba que vou estar esperando por você quando cair, – disse e Sarah a encarou com surpresa e negação. - Já está tarde, assistimos o filme outro dia. – completou Becca saindo do quarto.
  E mais uma vez, Sarah estava em conflito com seus sentimentos.

(...)

  Elizabeth estava aflita, havia se passado semanas sem conseguir conversar com seu noivo, Harry estava a ignorando e seu comportamento para se isolar a magoava ao mesmo tempo que a preocupava, ela queria entender o que aconteceu para seu noivo estar a rejeitando. Foram vários dias frustrados ligando para Harry sem sucesso, já que o mesmo não atendia, no início Elizabeth achou que estava sendo controladora demais e resolveu dar um tempo para ele, mas com o passar dos dias ela percebeu que Harry nem se importava, pois não retornava as ligações, foi aí que notou o quão delicada estava sua situação.
  Sabendo disso, resolveu tirar o dia para ligar pra ele, mesmo se fosse em um momento inoportuno Harry teria que se comunicar. Tentou de tudo para chamar atenção dele, quando finalmente depois de muita insistência ele atendeu o telefone.
  - Finalmente consegui falar com você! – desabafou irritada mas Harry parecia estar calmo.
  - Estava ocupado. – Respirou fundo.
  - Por semanas? O que é tão importante ao ponto de você me ignorar? – questionou indignada.
  - Eu não estava te ignorando, só queria ficar um tempo sozinho, me desligar das coisas para organizar minha vid,. – respondeu como se fosse óbvio.
  - Do que você está falando? Eu sei que você está escondendo alguma coisa e sei disso porque sua explicação e seu sumiço repentino, significa uma coisa para mim, – disse e sua voz ficou trêmula. – Você tem outra, não é?
  - Eliza, não! – Harry respondeu sem segurança.
  - Eu já estava esperando por isso, Harry! Você está sozinho aí, vive me ignorando, mal conversa comigo, quando fala é como se fosse uma obrigação pra você. Eu te amo, Harry, não desista de nós, do nosso futuro, – pediu sem conter as lágrimas.
  Harry se sentia culpado ao ouvir tais palavras, ele queria acabar com o sofrimento dela mas não assim, não por telefone. Se eles separassem melhor seria para Elisa se recuperar emocionalmente. O problema é que faltava coragem.
  - Você sabe que não precisa de mim, Liza – deixou escapar –, você é incrível e independente, é a mulher que qualquer homem gostaria de ter ao lado. Eu digo isso porque não te mereço.
  - Eu sabia! Você vai terminar comigo por uma porra de ligação, Styles? Você está realmente com outra e quer se livrar do peso que sou pra você, vai jogar toda uma vida que tivemos no lixo? Achei que me considerasse mais, pensei que me amava.
  - Elizabeth, – disse seco. – Eu não estou com ninguém, só pedi para você parar com esse drama desnecessário. Quero que você respeite meus momentos e pare de me perseguir como se fosse sua posse e um troféu para apresentar suas amigas, quero que seja madura para enfrentar os problemas de cabeça erguida e para de chorar por qualquer não que tiver que ouvir, porque nada e nem um milagre vai acontecer se continuar chorando à toa, – Harry disse exaltado desligando o telefone em seguida.

(...)

  A conversa que teve com Becca não saía de sua cabeça, mesmo com todas aquelas duras palavras, Sarah não enxergava perigo em se aproximar de Harry, mesmo estando apaixonada por ele, porém disse a si mesma que não estragaria a amizade dos dois por conta disso, afinal ela sempre quis saber de sua rotina, de como era sua vida fora do trabalho e entre amigos. A verdade era que Sarah queria participar da vida de Harry, e só havia um jeito disso acontecer. Mesmo não acreditando em destino ela sabia lá no fundo que existia uma força maior que a ligava a ele, como se tivessem que ficarem juntos. Acreditando em sua intuição, foi de ônibus até o hospital.
  - Bom dia, eu gostaria de me inscrever para o trabalho voluntário para animar crianças, – disse para a recepcionista.
  - Bom dia, preencha o formulário por favor. – A mulher entregou uma prancheta.
  - Sarah? – A mesma parou de escrever quando reconheceu aquela voz.
  - Dr. Styles! – respondeu ao se virar.
  - Oi, que surpresa vê-la por aqui. Aconteceu algo?
  - Ah, não! – Sorriu tímida. – Segui seu conselho e decidi me inscrever pro trabalho voluntário. Acho que será uma boa experiência e vai me deixar muito feliz ver outras pessoas felizes. E é uma oportunidade de conhecer mais sobre o trabalho no hospital.
  - Bom, eu não sou tão velho assim para ser chamado de senhor. Pode me chamar de “você”, – pediu.
  - Desculpa, é o costume e respeito pelo senh.. Você. – Corrigiu.
  - Claro, entendo. Que bom que decidiu tentar, posso ajudar no que precisar ou para tirar dúvidas, – comentou e Sarah assentiu.
  - Estou no meu intervalo agora, quer se juntar a mim para um café? – sugeriu Harry.
  - Não gosto muito de café, mas muito obrigada, preciso terminar o formulário primeiro.
  - Oh, claro! Nos vemos por aí nos corredores, até mais senhorita Poesy.
  - Até mais. – Acenou para se despedir e voltou a escrever.

(...)

  Suas mãos suavam frio, estava nervosa, finalmente havia tomado coragem para acertar as coisas com Niall, do lado de fora em frente a casa de sua sogra, seus pelos por debaixo da roupa se arrepiava por conta da baixa temperatura de Mullingar. Thep estava dormindo na casa de sua mãe desde a noite que discutiram, Eva sentia-se culpada, queria provar para ele que o amava e que não sentia nada pelo ex marido. Algumas batidas na porta um Niall apático e triste abriu a porta.
  - O que você quer? – Suspirou.
  - Eu vim consertar as coisas, – explicou e Niall deu espaço para que ela entrasse.
  - Vou pedir que seja rápida, tenho que buscar minha mãe no médico.
  - Niall, me perdoa, – disse e o mesmo parou sem mostrar reação. - Eu sei que de uns tempos pra cá eu fiquei distante de você – prosseguiu ela –, eu andei falhando com você, mas quero que entenda que tudo isso que estamos passando é novo pra mim também, porque eu nunca imaginei que me casaria de novo na metade da minha vida, e que com essa idade recomeçaria minha vida e teria um filho. É um desafio pra mim também, sair nas ruas com meu marido que tem a idade de ser meu filho e ser julgada com olhares preconceituosos, mas eu amo você e esse amor é capaz de enfrentar qualquer dificuldade só para não te perder, porque eu sei que o que você sente por mim é verdadeiro e eu tenho que conservar isso porque ultimamente, é raro encontrar alguém que esteja disposto a cuidar de você.
  Niall engoliu em seco, seus olhos estavam marejados, continuou em silêncio até se recompor diante do que ouviu.
  - Você me perdoa? – insistiu Eva.
  - Você terá meu perdão – disse –, mas quero que fique claro que quero que tome uma postura com relação a seu ex marido, quero que se afaste dele, não o procure, você não precisa ter contato com ele pra mais nada, sua filha é uma mulher adulta então resolva-se diretamente com ela. E também acho que deve trazê-la mais para nossa vida, recuperar o tempo que você perdeu quando não esteve ao lado dela, somos uma família agora e nada mais justo que ela se inclua nisso.
  - Você é o homem da minha vida. – Eva sorriu orgulhosa e avançou em Niall, enchendo-o de beijos.

(...)

  Dois meses se passaram desde que Sarah começou a trabalhar no hospital como voluntária na ala de crianças, por apenas 3 vezes na semana ela trabalhava no local, sexta à domingo, onde dedicava 4 horas de seu tempo para ler para crianças e jovens, sempre trazia consigo uma rosa para entregar as mães e aos familiares que estivessem ali presentes, havia também os chamados médicos da alegria onde palhaços se vestiam de médicos, ou médicos se vestiam de palhaço, trazendo alegria para ajudar pacientes a saírem desse clima tenso, transformando o ambiente em um local de descontração e animação.
  Uma satisfação crescia em seu peito ao receber os sorrisos de gratidão, um ato tão simples com um significado imenso, Sarah estava orgulhosa de si. Certo dia no fim de tarde de uma sexta-feira, observou que havia um novato entre os palhaços veteranos, Sarah sempre observava as brincadeiras para se distrair um pouco, mas aquele era um palhaço especial, foi quando ele sorriu que Sarah teve certeza disso, pois as covinhas e o sorriso de Harry ela reconheceria em qualquer fantasia. Harry era o Doutor Pirulito, estava junto com os outros rapazes fazendo brincadeiras e mágicas que deixavam as crianças impressionadas, e davam altas gargalhadas quando Harry se atrapalhava ou caía no chão. A atitude de Harry em se fantasiar de palhaço a surpreendeu, ele era ótimo com as crianças, comunicador e divertido, como se já tivesse o hábito de fazer isso, ver sua dedicação e disposição para com aquelas crianças cresceu ainda mais sua admiração por ele.
  Quando o seu horário acabou, Harry distribuiu pirulitos a todos e Sarah recolheu seus pertences e esperou na recepção a violenta chuva cessar.
  - Parece que vai desabar o prédio com tanta chuva, – comentou Harry ao seu lado, agora como o médico do hospital e não um personagem.
  - Olá Dr. Styles, ou devo chama-lo de Dr. Pirulito? – disse segurando o riso e Harry abriu os olhos em espanto.
  - Não acredito! Como me reconheceu? – falou abismado.
  - Eu reconheceria sua voz em qualquer lugar e ainda de olhos fechados, – respondeu orgulhosa. Harry sorriu largamente, estava feliz em ouvir o que Sarah disse a seu respeito, ele não queria se sentir assim, tão feliz ao ponto de querer confessar tudo o que sentia por ela de uma vez.
  - Estou lisonjeado – Sorriu sincero. –, mas vamos fazer de hoje nosso segredinho, acho que meus colegas ficarão com ciúmes se descobrirem minha identidade secreta.
  - Pode confiar, não sai nada daqui. – Fez uma cruz imaginária em sua boca.
  - Você quer carona pra ir pra casa? – sugeriu Harry. – Se esperar pela chuva vai morar aqui dentro.
  - Se não for muito incômodo pro senhor, desculpe, pra você. – Corrigiu-se.
  - Não será, vamos? – disse e ambos seguiram para a garagem.

(...)

  Risos e gritos eufóricos se ouviam em meio a calçada enquanto Harry e Sarah tentavam correr da chuva para entrar na casa. O carro de Harry estava estacionado na porta de Sarah, mas não impediu de ambos se molharem, para retribuir a gentileza de Styles a mesma o convidou para entrar e ofereceu um café enquanto esperava a chuva amenizar. Adentraram a casa molhados e ofegantes, rindo um do outro, então fizeram uma pausa para recuperar o fôlego.
  - Vou buscar uma toalha para você se secar – disse Sarah. –, e uma camisa seca do meu pai, se importa?
  - Seu pai está em casa?
  - Não, ele disse que chegaria tarde hoje.
  - Se não for incomodar, eu aceito, – repetiu o que Sarah havia dito horas atrás.
  - Pode ficar a vontade, eu já volto, – avisou dando as costas.
  Enquanto a esperava voltar, Harry observou o cômodo ao seu redor, a casa não era exuberante e gigantesca mas era simples e bem aconchegante, o que fez com que ficasse à vontade. Haviam retratos de família por todo lado e ele sorriu com a foto infância que encontrou de Sarah.
  - Aqui está. – Chamou Sarah ao trazer a camisa limpa. – Tem um banheiro no corredor a esquerda, pode se trocar lá.
  - Muito obrigado, – respondeu Harry aceitando a roupa e seguindo para o corredor. Minutos depois, Harry e Sarah já de roupas secas, resolveu preparar um café para sua visita, visto que a mesma sabia que ele adorava um café.
  - Gosta de café puro ou com leite? – perguntou ela enquanto Harry enxugava os cabelos.
  - Pode ser puro com bastante açúcar, – respondeu ao terminar com a toalha. Assim o fez, entregando ao mesmo.
  - Cuidado, está quente, – Sarah avisou mas foi tarde, Harry já havia provado, o mesmo fez uma careta ao beber.
  - Poderia ter me avisado antes de eu beber?
  - Eu tentei. – Defendeu-se bebendo em sua caneca.
  - O que está bebendo? – Quis saber.
  - Chocolate quente. Desculpa não acompanhá-lo no café.
  - Tudo bem, eu sei que você não gosta de café, mas se eu soubesse que tinha chocolate também iria querer. – Fez bico.
  - Como eu ia adivinhar? Eu sempre o vejo beber café. – Defendeu-se.
  - Não estou reclamando! – protestou ao pegar sua caneca. – Obrigado pelo café.
  Nenhuma palavra foi dita, os dois estavam na cozinha tomando seus respectivas bebidas, um olhando pro outro, Sarah ficava vermelha toda vez que Harry a olhava nos olhos, ao perceber isso o mesmo sorriu bobo.
  - Quantos anos você tinha naquela foto da praia? – Harry puxou assunto para quebrar o clima tenso.
  - Eu tinha 2 anos, foi a primeira vez que vi o mar. – Fez uma pausa para beber e voltou a concluir. – Minha mãe disse que eu estava apavorada com a agitação do mar, por isso minha cara de “alguém me tira daqui.” – Ambos riram. – Até hoje não gosto de praia.
  - Eu achei você muito fofa com aquela carinha assustada, precisa ver minhas fotos de quando eu era bebê. – Harry parou para pensar no que havia dito. – Na verdade, não precisa não.
  - Acha suas fotos antigas constrangedoras? Eu duvido você ter uma foto chorando no colo do papai Noel porque estava com medo dele.
  - Ainda sim, não se comparam com as minhas, eu tenho uma tomando banho na bacia, uma eu vestindo o sutiã da minha mãe, e com carinha toda suja de papinha.
  Sarah sentiu-se íntima de Harry ao ouvi-lo contando sobre sua infância, por mais simples que que seja a situação, para Sarah foi um passo importante já que naquela conversa pôde conhecer mais sobre ele.
  - Quando era menino confesso que não era muito fácil, aprontei várias com a governanta da casa. – Mordeu o lábio pra não rir. – Certa vez, esperei ela dormir, o sono dela era profundo, então eu fiz desenhos aleatórios em seu rosto e pintei o cabelo dela de azul, era minha cor favorita.
  - E não é mais? – Quis saber.
  - Minha cor favorita costumava ser azul, mas aí eu me apaixonei pelo castanho de seus olhos. – Harry confessou e Sarah prendeu a respiração como se esquecesse de como respirar. Harry aproveitou o momento para confessar tudo que ele sentia, tudo que havia guardado a anos.
  - Toda minha vida mudou quando você começou a fazer parte dela, desde a primeira vez que eu a vi, eu percebi que minha vida nunca mais seria a mesma, como se tudo der repente se resumisse a você. – Sarah respirava ofegante diante de tal revelação, estava tensa. – Seus olhos são irresistíveis, tudo em você é difícil resistir, quando se trata de você, Sarah, tudo me fascina. Eu só consigo pensar em como deve ser imperdível o seu beijo, e como seria maravilhoso poder toca-la e sentir seu cheiro ficar em minha camisa.
  A cada frase Harry se aproximava mais de Sarah, para sua surpresa a mesma não recuava, porém era nítido que ela estava em conflito com sua mente pelo modo como ofegava.
  - Eu percebi também que eu me tornei um tolo quando eu a conheci, pois não me imaginava mais sem você, eu me apaixonei por seu olhar e desde então os castanhos de seus olhos tornou-se minha cor favorita. – concluiu Harry e finalmente tomou coragem para beijá-la.
  Sarah continuou parada, processando sua atitude, como se quisesse aceitar de que aquilo era real. Mas algo acendeu em seu peito ao sentir os lábios de Harry, como se uma carga de alta voltagem passasse por seu corpo e acordasse suas células desfalecidas. O coração de Harry parecia que ia explodir, finalmente ele estava beijando-a, era como se sonhasse acordado, Harry explorou sua boca e a beijou com vontade, com receio de que a qualquer momento fosse despertar de um sonho.
  Tantas noites ele sonhou com esse momento, fantasiando-se, que o fato de ser correspondido o fez concluir que a realidade estava sendo melhor do que imaginava. Sarah estava se permitindo sentir as novas sensações que Harry lhe trazia, como se despertasse os sentidos que haviam adormecido junto com ela no coma. E ela que sempre foi pé no chão, queria ao menos dessa vez, esquecer que há limites na vida.
  Harry abraçou o corpo de Sarah a trazendo para mais perto, suas línguas brigavam por espaço, querendo aprofundar o beijo. Sarah sorriu tímida ao prender os lábios macios de Harry entre os dentes, o mesmo sorriu de volta para ela, aprovando sua atitude. Então o beijo ganhou mais intensidade e o clima foi esquentando, Sarah sugeriu que fossem para o quarto, então Styles a carregou em seus braços onde a mesma entrelaçou as pernas em sua cintura, onde trilhou o caminho para a cama onde a deixou gentilmente ficando por cima dela.
  - Você tem certeza que quer continuar com isso? – ele perguntou receoso enquanto acariciava seus cabelos.
  - Sim! – Sarah sorriu contagiante ao perceber a preocupação de Harry em relação a ela. – Está tudo bem Harry, toque-me como quiser, eu já conheci um homem antes, – respondeu ela dando total liberdade para que continuasse.
  Um sentimento estranho incomodou Harry, ele não queria admitir que o fato de Sarah não ser virgem havia o desapontado, mas o que ele esperava? Que ela se entregasse para que ele fosse seu primeiro e último homem? Talvez ele realmente quisesse isso. Harry lançou um sorriso simpático para afastar seus pensamentos traiçoeiros e voltou a beijá-la com vontade.
  Desceu uma trilha de beijos para sua clavícula e colo onde iniciava sua pele desnuda dos seios, em seguida Harry retirou sua camisa e jogou em algum canto do quarto e Sarah fez o mesmo. Harry apalpou seus seios descobertos, sorriu malicioso por sua garota não usar sutiã, ele estava admirado com a descoberta de seu corpo, gravava em sua mente cada centímetro de sua pele. Sarah também estava admirada e surpresa ao descobrir que Harry tinha tatuagens por todo corpo, ela nunca imaginou que por baixo daquela roupa de hospital havia um mapa sobre ele. Em particular Sarah havia gostado das tatuagens, talvez por dar um charme ou por ser simplesmente Harry desnudo a sua frente. Deslumbrada, a mesma percorreu seus dedos pelo peitoral de Harry, fazendo uma trilha imaginária por suas tatuagens, desceu maliciosamente até o início de sua calça e levemente apertou sua excitação.
  - Surpresa? – perguntou Harry referindo-se as tatuagens.
  - Por essa eu realmente não esperava. – Ambos riram.
  Talvez por Sarah já ter tido uma experiência sexual antes, ela não sentia nenhuma vergonha em se despir para Harry, era como se ficar nua fosse algo tão natural como beber água, não se preocupava com suas imperfeições sendo expostas, nem cicatrizes do acidente ou suas estrias, mostrando confiança em relação a seu corpo, e isso só deixou Harry mais encantado por ela, era como se realmente existisse uma certa intimidade entre eles.
  - Você é tão linda, – comentou hipnotizado, deixando-a tímida.
  - Você também não é de se jogar fora, Dr. Styles, – confessou.
  - Não me chame de doutor. – caminhou até ela. – não estamos no hospital, estou com você agora, sou apenas Harry, é preciso que lembre-se disso quando for gemer meu nome, – respondeu e ambos sorriram.
  - Como preferir, Harry, – disse puxando-o para si, arrancando outro beijo de cinema. Dessa vez o ritmo era mais acelerado, ambos queriam a mesma coisa, ir direto ao ponto, com habilidade tiraram o resto de suas roupas ficando nus. Sarah puxou a gaveta e tirou uma camisinha, entregando a Harry, que estava surpreso.
  - Uma mulher tem que se prevenir, não acha? – Lançou um sorriso malicioso. - concordo perfeitamente. – retribuiu o sorriso e se protegeu devidamente seu membro ereto.
  Sarah deitou na cama relaxando o corpo, deixando a passagem livre para Harry se posicionar em sua entrada, sem perder o contato visual Harry a penetrou, arrancando gemidos de sua garota. Era uma sensação maravilhosa, sentir o corpo dela, toca-la, não era apenas sexo, havia carinho e delicadeza, como se ambos esperassem por esse momento. De início Harry foi cauteloso, como se ela fosse frágil ao seu toque, mas ao sentir o prazer aumentar gradativamente acelerou seus movimentos indo fundo, ele se movia desfrutando cada milímetro de sua carne, Harry nunca imaginou que um dia teria a chance de ficarem conectados daquela maneira, compartilhando prazer. Suas respirações eram ofegantes, o suor começando a brotar na pele, Sarah sorriu para seu garoto e o mesmo intensificou suas penetrações, Harry mordia o lábio em um gemido sôfrego, saboreando a sensação que estava por vir.

(...)

  Elisabeth estava aflita, Harry não respondia mais as suas mensagens desde sua pequena discussão, já havia almoçado e estava esperando em seu quarto com o computador ligado, já que seu noivo costumava ligar durante aquele horário. As horas foram passando e Elisa concluiu que ele não a procuraria, de novo. Decepcionada, tomou a decisão de ligar para a cunhada para desabafar. Não demorou muito até Gemma atender.
  - Oi Gemm, – cumprimentou.
  - Liz! Que bom falar com você, como vão as coisas aí na França? – perguntou Gemma.
  - Comigo está tudo bem, mas já meu casamento não posso falar o mesmo, – disse cabisbaixa.
  - O que aconteceu? Vocês brigaram?
  - Não foi bem uma briga, mas acho que seu irmão levou a sério demais o que eu disse, ele vive me ignorando agora, – revelou.
  - Deve ser só uma fase difícil. – Tentou reconfortar.
  - Você tem visto ele recentemente? – Quis saber.
  - Não, eu... – Gemma pensava no que falar. – Eu não o vejo tem alguns dias.
  - Sabe Gemm. As vezes eu acho que Harry enjoou de mim, tenho a impressão de que não sou boa o suficiente e que ele tem outra, com certeza deve ter, – confessou decepcionada.
  - Liz, você é uma mulher maravilhosa, não se menospreze só porque o idiota do meu irmão não está sabendo valorizar a pessoa incrível que tem.
  - Ele mudou, Gemm, me trata friamente e as vezes até rispidamente. Eu não sei o que fazer, só não quero perde-lo, – disse em lágrimas.
  - Calma amiga, vai ficar tudo bem, não chore. Eu vou ligar para meu irmão amanhã e vamos conversar e tentar resolver esse climão entre vocês. Harry não merece suas lágrimas, tenho certeza que é alguma frustração do trabalho e ele está descontando em você.
  - Às vezes eu penso que seria melhor abandonar minha pós e voltar pra casa, voltar a estar com ele, porque minha faculdade a distância só esfriou nossa relação, – respondeu entre soluços.
  - Não Liz! Não faça isso, não é justo desistir dos seus sonhos. Você não tem culpa de nada – assegurou. –, não tem culpa do meu irmão ser um infiel, porque se ele disse que te amava seria honesto com você até em outro país!
  - Gemma, o que você disse? – questionou confusa ao ouvir a declaração da cunhada. A mesma se calou como se tivesse falado algo errado. - Gemma, você está insinuando que Harry está me traindo? É isso?
  - O quê? Óbvio que não, amiga, meu irmão te ama, mas acho que você deveria descansar um pouco, amanhã mesmo eu faço Harry te ligar. Me desculpe, preciso ir. Beijos. – Desligou o telefone deixando Eliza perplexa.

(...)

  O Sol tocou seu rosto como um aviso de que havia amanhecido, com a claridade em sua face o fez despertar, aos poucos Harry abriu os olhos observando o quarto a sua volta e lembrou do porque estava ali, sorriu ao encontrar Sarah dormindo tranquilamente sobre seu peito, era possível ouvir as batidas de seu coração e sua respiração calma. Ao recordar da noite passada Harry não conseguia segurar o sorriso bobo nos lábios, seu braço estava em volta das costas dela, abraçando, com a outra mão livre começou acariciar seus cabelos e lentamente Sarah acordou. Assim que consciente, se afastou e sentou na cama para limpar o rosto, Harry observava cada movimento seu, gravando o momento, os cabelos bagunçados caídos sobre seus ombros, a vergonha por ele a encarar, e cara amassada de sono.
  - Bom dia. – Ela levantou o olhar e sorriu, então Harry percebeu que queria ver aquele sorriso pelo resto de sua vida, ainda que uma vida fosse pouco.
  - Bom dia flor da manhã, – respondeu.
  - Que horas são? – perguntou sonolenta.
  - Não sei, acordei tem pouco tempo mas acho que seu pai chegou, – disse e Sarah arregalou os olhos.
  - Sério? Como você sabe? Ele viu a gente? – Segurou o lençol no corpo.
  - Ele chegou de madrugada assim que você pegou no sono, um homem tem que se prevenir então eu tranquei a porta quando ouvi as chaves, ele viu tudo fechado e foi dormir, ouvi quando ele fechou a porta também, – explicou.
  - Meu Deus, não acredito – disse nervosa. –, ele não pode saber que você dormiu aqui, – sussurrou.
  - Já entendi, senhorita Poesy, sei quando não sou bem vindo. – Tirou o lençol e recolheu as roupas do chão.
  - Para de drama, Styles. – Riu da cara de cachorro sem dono de Harry e o puxou para um selinho.
  - Ontem foi incrível, adorei nossa noite, – revelou Sarah.
  - Foi uma das melhores noites que eu tive. – Depositou um beijo demorado em sua testa. – Melhor eu me arrumar antes que eu desista de ir embora.

(...)

  Harry estava contente e não fazia questão de esconder isso. Já em seu carro devidamente vestido, ligou o rádio no maior volume, deixando a música o contagiar. Ele acreditava que nada estragaria seu humor hoje. Estacionou o carro assim que chegou no edifício, saiu cantarolando e dançando pelas escadas até chegar no elevador. eu sorriso se desfez e uma interrogação formou em sua face assim que chegou na porta do seu apartamento.
  - Gemma? O que faz aqui a essa hora da manhã?
  - Bom dia pra você também, Styles, hoje é domingo e eu achei que poderia te encontrar em casa, a propósito, onde estava? – Cruzou os braços.
  - E-eu dormir na casa do Louis. – Mentiu.
  - Eu acabei de falar com Louis, ele não sabia onde você estava. Você dormiu fora?
  - Gemma, a minha vida particular não lhe diz respeito.
  - Eu sei que não, mas você é meu irmão e achei que confiava em mim para se abrir comigo e dizer que não quer mais casar e que está dormindo com outra!
  - Eu não estou com ninguém, Gemma!
  - Ah é? E como explica o fato de não estar usando sua aliança? – Observou e na hora Harry tocou em seu dedo, constrangido por sua irmã ter notado.
  - Eu não vim te julgar – continuou gemma. –, até porque não tenho esse direito, só acho que a Liz não merecia essa traição eu achava que eu conhecia você, mas você se tornou igual a ele. – cuspiu sua indignação, Harry sabia a quem Gemma se referia, e ser comparado ao seu pai foi como uma magoar uma ferida aberta.
  - Você nem ao menos teve respeito por ela! Se queria ficar com essa tal de Sarah, tudo bem, mas não precisava ser desse jeito, poderia ter sido honesto com Elisa.
  - Como sabe de Sarah? – Sua respiração vacilou.
  - Não importa! O foco aqui é sua infidelidade. Sabe que sou amiga da Liz, mas eu sou sua irmã, então ficaria ao seu lado se me contasse o que estava se passando. Ainda pode consertar as coisas, Harry, eu não vou te entregar, por isso aqui vai um conselho, se afaste de Sarah não estrague um futuro que você pode ter ao lado de Elizabeth só por uma garota qualquer. Você não a ama, Harry, você e a Liz são um casal de verdade, se conhecem a anos, ela está perdida sem saber o que fazer com você.
  - Sarah não é uma garota qualquer, não posso abrir mão dela.
  - E vai fazer o quê? Se aventurar e agir como nosso pai? Sendo um porra de escroto egoísta?
  - CHEGA GEMMA! – Harry esbravejou. – Eu quero ficar sozinho, por favor.
  - Com prazer. – Deu as costas segurando sua bolsa.
  Enquanto sua irmã se afastava, lágrimas caiam de seu rosto discretamente, borrando sua visão, talvez Gemma tivesse razão e Harry fosse o vilão da história, ele só queria que amar Sarah não fosse tão difícil.

Capítulo 10 - O que fizemos foi errado

  Harry entrou em seu apartamento ainda abalado com o que sua irmã dissera, enxugou algumas lágrimas se recompondo, ele se sentia culpado por deixar que seus impulsos fossem tão longe. Não era o fato de não amar mais Elisa e querer terminar noivado, o fato era que ele traiu a noiva e Harry acreditava que nunca chegaria a esse ponto, se tornar como seu pai.
  É como se a história se repetisse, seu pai traía sua mãe e por esse motivo ele foi embora, na verdade Desmond nunca demonstrou afeto por sua família e por isso Harry não sente falta de seu pai. Porém o que o mesmo temia era terminar como seu falecido pai, sozinho.
  As palavras de Gemma não saíam de sua cabeça e agora, parado refletindo sobre elas, Harry percebeu que ainda dava tempo de corrigir o rumo de sua história. Gemma estava certa, ele precisava consertar o que fez. Seu celular vibrou em seu bolso trazendo-o à realidade, pegou o aparelho visualizando na tela o nome Sarah ligando, respirou fundo engolindo em seco e deixou celular vibrando no balcão da cozinha, dando as costas, ignorando.

(...)

  Sarah encarava seu celular impaciente esperando que Harry retornasse as suas ligações, ele não havia dado notícias desde quando foi embora de seu quarto pela manhã, o que a deixou inquieta.
  – Sua mãe de novo? – seu pai pergunta ao se aproximar do carrinho de compras.
  – Não, só mensagem de operadora.
  – É. Eles costumam serem inconvenientes com os pacotes promocionais, – comentou.
  Dylan e Sarah estavam no supermercado, comprando o necessário para preparar o almoço daquela tarde de domingo. Sarah não queria que seu pai soubesse sobre sua noite anterior com Harry, por isso optou por manter sigilo.
  – Tocando no assunto, mamãe me ligou pela manhã, acho que talvez eu aceite me encontrar com ela para conversar.
  – Você sabe o que eu penso a respeito, – disse colocando os ingredientes e depois riscando do papel. Sarah permaneceu calada, não queria contrariar seu pai, não ali. – Além disso, trago novidades.
  – O quê? – perguntou curiosa.
  – O que acha de morar com a vovó? Como nos velhos tempos? Recebi uma proposta de emprego na Itália, uma oportunidade de crescermos financeiramente, começar do zero, longe de tudo e todos. E aí, o que me diz?
  – Itália, pai? – Sarah não compartilhava da mesma emoção. – Acho que não estou pronta para me mudar para tão longe, tenho tantas coisas para resolver com a mamãe, Becca e... – não posso deixar Harry, pai. Pensou. – Eu já tenho uma vida aqui, – concluiu.
  Na verdade Sarah não queria se afastar de Harry, só de cogitar a ideia de estar longe dele causou um aperto no peito.
  – Ah, eu te entendo, anjinho, – disse decepcionado.
  – Mas acho uma boa oportunidade pro senhor, pai, tem meu apoio se quiser ir. Sou adulta, posso me virar sozinha, – disse para seu pai ficar despreocupado, deixando um beijo na bochecha.
  – Eu sabia que podia contar com você, filha. Escute, você poderia pegar – checou o próximo item da sua lista. – uma caixa de leite, por favor?
  – Pode deixar, – disse a mesma seguindo para a outra seção para buscar o leite. Enquanto procurava, reconheceu uma silhueta familiar, a mulher estava de costas em um coque bagunçado e com uma criança de colo no carrinho, era sabia que conhecia aquela moça de algum lugar.
  – Com licença – chamou a mesma. –, desculpe mas acho que eu te conheço de algum lugar.
  A mulher virou bruscamente, assustada ao ouvir a voz da garota, e apenas forçou um sorriso.
  – Acho que me confundiu com outra pessoa, – respondeu voltando atenção no seu carrinho.
  – Me desculpe, é que seu rosto me lembra alguém. – Então Sarah se virou e naquele instante surgiu um flashback e aos poucos ia recordando de onde a conhecia e quem era ela, foi aí que a imagem de uma mulher a chamando para o café e abrindo as cortinas de seu quarto surgiu em sua mente. – Lea! – disse em um tom elevado e feliz por conseguir se lembrar dela. – você trabalhou na casa de meus pais quando eu era menina, lembra de mim? Sou eu, Sarah!
  – Aí meu Deus! – A expressão de Lea era uma mistura de surpresa, mas ela não estava satisfeita em reconhecê-la. – Graças a Deus você se recuperou do acidente. – Aproximou-se para um abraço. – Está tão diferente que eu quase não te reconheci, – comentou analisando-a.
  – Bom, agora eu não sou mais uma menininha. – Sorriu.
  – E como você está? Como foi a recuperação?
  – A pior parte já passou, agora é mais adaptação, tenho dificuldades lembrar de algumas coisas e tenho que manter os remédios em dia. Mas estou bem melhor agora.
  – Fico feliz que esteja melhor. – Sorriu e o garotinho ficou agitado ao derrubar o brinquedo no chão.
  – Mamain caiu ó, – balbuciou e a mesma tratou de pegar de volta.
  – Que lindo, seu filho? – disse Sarah ao se aproximar do menininho para fazer um carinho, o garoto a fazia lembrar uma pessoa mas não sabia ao certo quem. – Como se chama?
  – É, esse é o Jordan. – Recuou desconfiada. – Foi bom vê-la de novo, Sarah, mas preciso ir.
  – Ah, tudo bem, nos vemos por aí. – Acenou para o garoto, que sorriu de volta.
  – Pode me fazer um favor? – perguntou receosa, Sarah confirmou com a cabeça. – Poderia deixar entre a gente que nos vimos no mercado?
  Sarah não sabia o propósito de tal preocupação, apenas disse que sim e viu a mulher seguir as pressas. O desespero de Lea a deixou intrigada, era como se ela estivesse se escondendo de alguém. Sarah ficou confusa mas nada pôde fazer, queria entender o que estava se passando ou quem sabe ajudar, mas a mesma não foi indiscreta ao ponto de questionar sua atitude, apenas pegou o leite e voltou para encontrar seu pai.
  A semana passou rápido, logo veio sexta-feira, Sarah estava ansiosa para o dia de hoje pois finalmente iria encontrar Harry no hospital. Durante a semana toda o mesmo não havia dado notícias e como hoje era dia do seu trabalho voluntário tinha certeza de que iria vê-lo.
  Guardou seus pertences no vestiário e seguiu em direção ao refeitório onde ela tinha certeza que encontraria Harry tomando um cafezinho, mas ele não estava. Mesmo decepcionada aproveitou para fazer um lanche, checou no relógio e certificou de que não estava atrasada. Foi até o balcão e pediu um suco de laranja, passavam-se mil coisas em sua cabeça, e todas elas direcionadas a mesma pessoa, Harry Styles. Uma moça se aproximou, de início não deu importância mas ao ouvir sua voz a reconheceu.
  – Enfermeira Monroe? – A mulher que estava de costas virou-se para ela e abriu um largo sorriso.
  – Sarah! – Abraçou a garota. Monroe continuava a mesma, vaidosa e alegre como sempre, ela sentia falta dessa energia que ela emitia.
  – Olha pra você! Está tão radiante, – ela disse, Sarah apenas sorriu tímida. – como você está, meu bem?
  – Estou me adaptando, é bom voltar a rotina, com toda certeza estou melhor graças aos teus cuidados.
  – Eu apenas fiz o meu trabalho. O doutor Styles tem a maior parte do crédito, é bom vê-la seguindo em frente, estou feliz por você.
  – Obrigado pelo carinho, – respondeu grata. – Por falar nele, tem o visto por aí?
  – Ele está em cirurgia faz umas 6 horas.
  – Ah entendi – escondeu seu desconforto –, sabe dizer se ele está com agenda cheia ou se aconteceu alguma coisa questão de família, talvez?
  – Doutor Styles não compartilha de seus problemas particulares, e sim querida, ele vive ocupado aqui. Mas por que a pergunta?
  – Gostaria de saber se ele está bem, tenho gratidão por vocês, por tudo que vocês fizeram por mim, e eu não tenho notícias dele a algum tempo, – disse despreocupada.
  – Que gentil, obrigado pela preocupação, mas ele está bem, é nosso menino de sempre.
  – O doutor Styles é um rapaz tão bonito e charmoso deve ser cheio de mulheres aos seus pés. – Sarah queria saber se sua intuição sobre Harry ser comprometido estava certa, ela não queria acreditar nessa possibilidade.
  – É verdade. – Sorriu brincalhona. – As meninas andam suspirando por onde ele passa. – Achou graça do próprio comentário.
  – Ele nunca dá atenção a elas? – questionou e tomou um gole do suco.
  – Assim meu bem, Harry é uma pessoa conservadora, não sei ao certo como está sua vida amorosa, acho que pra saber só perguntando a ele.
  – Claro. – Forçou um sorriso, ela se sentia como uma nova por importunar a mais velha desse jeito.
  Sarah teria que parar com os antigos hábitos, ela não é mais aquela garotinha do ensino médio que questionava as garotas para saber as atitudes duvidosas de Kevin. O tempo fora cruel, não esperou por ela, apenas fora imposto que de um jeito ou de outro ela teria que amadurecer. Aliás, por que se importar com Harry? Em sua cabeça não saía a ideia de que Styles só quis usá-la e que agora ele iria deixá-la lentamente.
  – Foi um prazer vê-la de novo, querida, mas meu horário já acabou, nos vemos depois, – disse dando um beijo na testa para se despedir.

(...)

  – Oi Gemma, – atendeu Elisabeth sem ânimo, ela já estava se desgastando nessa relação, e imaginava o que a cunhada iria falar.
  – Oi cunhada, liguei por que estou com saudades, você não deu notícias. Está tudo bem por aí?
  – Sim, tudo ótimo, - mentiu, ela não precisava saber que a conversa com Harry havia a destruído emocionalmente. – e você, onde está?
  – Estou na casa do Liam. – Gemma já esperava pelo comentário da loira.
  – Quando é o casamento de vocês mesmo? – brincou.
  – Acho que ser fiel já é o suficiente, não gosto da ideia de que preciso de um dono pra ser feliz.
  – Estou começando a concordar com você.
  – Eu duvido, você sempre sonhou em se casar com meu irmão, vocês foram feitos um para o outro.
  – Acho que tenho outras prioridades agora, – confessou Liza.
  – Você já pensou em transferir sua graduação e voltar pra Portland? – incentivou.
  – Não está em meus planos.
  – Tem razão, você precisa se dedicar nos preparativos pro casamento quando voltar, – disse animada. – Ele te ligou? – Eliza sabia a quem se referia.
  – Já faz uns dias, da última vez, o rumo da conversa não acabou bem. Não quero insistir, parece que só eu luto por essa relação pra dar certo.
  – Você está certa, e como disse você tem outras prioridades agora, Harry te ama, vocês estão passando por uma crise de casal, logo tudo vai voltar ao normal. Harry vai superar, – deixou escapar.
  – O que ele precisa superar? O que Harry tem? – falou preocupada.
  – Ah, você sabe... – gaguejou – estresse por trabalhar demais e a pressão do casamento chegando, ele está muito ansioso. – Agora, foi a vez de Gemma mentir.
  – É, está perto. – Suspirou. – Mal posso esperar para ter o homem dos meus sonhos esperando por mim no altar.
  – Será maravilhoso, como você merece. Preciso ir, Liam está me chamando, – despediu de Gemma e ao concluir a ligação a palavra superar não saía de sua cabeça, Gemma sabia de algo a respeito do futuro noivo, o modo que desviou do assunto deixou desconfiada. Mas Eliza iria descobrir.

(...)

  O cheiro forte de álcool estava impregnado no bar assim que Harry entrou, uma música country tocava no volume ambiente. No balcão havia rapazes solitários fumando e desfrutando de suas bebidas, outros acompanhados de belas mulheres e outros apenas jogavam sinuca, mas com aquela mesma energia condensada que se espera de um bar. Harry não tinha o costume de frequentar esses lugares, porém Louis sim, como eles precisavam conversar achou que o convidando para beber deixasse o assunto mais descontraído.
  Louis fez um sinal com a mão assim que avistou Harry chegar, pediu mais uma dose de seu drink para seu amigo o acompanhar na bebida.
  – Achei que tivesse se perdido no caminho, cupcake, – brincou Louis.
  – Não enche, ursinho da mamãe, – respondeu ao sentar. – Sabe como fica o trânsito as sextas-feiras.
  – E é por isso que temos que beber as sextas. – Entregou o drink a ele para um brinde.
  – Você sabe que não bebo, além do mais isso vai contra minhas regras de médico.
  – Ah, me perdoe senhor politicamente correto. Talvez se eu não te conhecesse desde criança poderia acreditar que é puro. – Sorriu convencido. – Deixe de frescura e vamos brindar.
  – Eu não tenho mais 15 pra achar graça em beber até cair duro, mas o que a gente não faz por um velho amigo? – Sorriu e aceitou o comprimento e empurrou a bebida quente pra dentro, não evitou de fazer uma careta, havia perdido o costume e esquecido de como ardia.
  – Aposto que estava precisando disso, – comentou Louis fazendo seu amigo arquear a sobrancelha.
  – Certo, chega de enrolar. – Deixou o copo vazio no balcão. – Por que contou pra Gemma sobre o que te contei sobre Sarah? Você era o único que sabia que eu queria me separar pra ficar com ela. – O tom de Harry não era de bravo mas também não estava feliz.
  – Calma aí, rapaz – Levantou as mãos em redenção. – Em minha defesa a sua irmã parecia saber do assunto, ela me disse que vocês chegaram a conversar sobre isso em um jantar e depois que eu contei sobre o telefonema percebi que contei mais do que devia, mas ela parecia saber, como eu ia adivinhar?
  Harry parou um instante para recordar e aí ele teve um Flash da conversa com sua mãe na última vez que estiveram juntos para jantar. Ele não podia culpar totalmente Louis por isso, ele realmente já havia confessado pra sua irmã e sua mãe. Suspirou enfadado, não havia muito que ele pudesse fazer a respeito.
  – Droga! – Passou a mão por suas têmporas. – Não era pra ter sido assim! Eu não sei o que fazer.
  – Eu estou aqui para te ajudar, me conte o que aconteceu, – disse sincero mas Harry não sabia se podia confiar em um bêbado.
  – Eu dormi com Sarah.
  A expressão de Louis foi de espanto e surpresa, ele não imaginava que Harry teria essa coragem, de trair Eliza, ele não gostava muito dela porém conhecia seu amigo e sabia que ele não era de tomar essas atitudes.
  – Eu sei. O que fizemos foi errado! – disse alto, o estresse havia o atingido. – Mas eu nunca tive tanta certeza de algo em minha vida como tive naquela noite. Mas agora? Eu não sei o que fazer, não quero me afastar, mas também não posso me aproximar despreparado desse jeito. Não quero que ela me odeie, Louis, eu a amo, – confessou com as mãos nos cabelos. – Eu penso em abandonar tudo, mas não quero que ela desista de mim.
  Seu amigo piscou os olhos diversas vezes com a boca que continuava aberta em choque, o que Louis poderia dizer? Seu melhor amigo estava sofrendo por amor e com a consciência pesada, ele sabia que Harry nunca tomaria uma atitude sem pensar mas não havia nada que pudesse amenizar, como o clima havia ficado tenso Louis sugeriu:
  – Cara, depois dessa você realmente precisa de mais uma dose. – Pediu mais uma rodada.

(...)

  – Oi – Sorriu tímida diante de Sarah. Becca estava em frente a sua porta, estava sem jeito, elas não tinham contato desde a última discussão.
  – Oi. – Retribuiu o sorriso sem jeito. Ambas sabiam que precisavam conversar mas não sabiam por onde começar. Sarah deu espaço para que entrasse.
  – Obrigada. – Sarah esperou que se pronunciasse. – Eu só, quero me desculpar por meu comportamento, não deveria ter agido daquela maneira, mexer na sua privacidade, não é desse jeito que quero me reaproximar de você, me desculpe mesmo eu prometo nunca mais dar essas crises.
  – Está tudo bem, Becca, eu te desculpo. – Abraçou amiga para a deixar despreocupada.
  – Você me permite dar minha opinião? – Sarah confirmou com a cabeça, já imaginando o que seria.
  – Se você realmente está com essa ideia fixa na cabeça de investir um relacionamento com esse cara, por favor não faça nada que se arrependa, não se jogue de cabeça, conheça antes de se entregar, não quero que a antiga Sarah volte a tona.
  Sarah queria saber o que tanto Becca temia que fosse acontecer, o que havia acontecido de tão ruim no passado para ela agir assim agora, talvez seja porque causou a morte do seu primo, mas ela não tinha a resposta, ela não sabia porque a velha Sarah era preocupante. Sua mente estava bloqueada de qualquer resquício de lembranças, ela só queria entender o que se passava, parecia tudo tão deslocado.
  Mas além disso o que mais a incomodava era o modo como Becca se referia a Harry, essa desconfiança que ela tinha dele, mas diante dos últimos fatos ocorridos com Styles, ela estava começando a concordar com a amiga. Sarah estava despedaçada por dentro, ela havia criado expectativas e havia se entregado, mas ela não conseguia se arrepender, ela ainda acreditava que Becca estava enganada sobre ele e por isso não contou a verdade.
  – Isso não vai acontecer, – garantiu – Quer sorvete? – mudou o rumo da conversa.

(...)

  Na manhã seguinte de sábado seguiu sua rotina no trabalho voluntário, se fosse há uma semana atrás estaria empolgada só de pensar na possibilidade de encontrar com Harry no corredor, sua motivação além de trazer alegria para as criançada era ter a oportunidade de vê-lo, mas agora era diferente, ela queria evitar encontrá-lo, não queria dividir o mesmo ambiente com ele depois do que aconteceu entre eles, Sarah não conseguiria olhá-lo sem lembrar dele sem roupa.
  Terminou de recolher suas coisas para seguir seu caminho de volta para casa e ainda que negasse, lá no fundo queria ter visto Harry, mesmo que significasse ficar só na troca de olhares. Mas ao sair do vestiário se deparou com a pessoa que ela menos esperava ver naquele momento e temia que fosse transparecer que estava com borboletas no estômago.
  – Oi, – disse Harry envergonhado. Havia tanto tempo que eles não se falavam. Harry não esperava que ela simplesmente o recebesse com um sorriso aberto e fizesse uma cerimônia. Não, ele não podia cobrar isso dela.
  – Oi, – respondeu no mesmo tom de incerteza na voz. Sarah estava tentando compreender a situação tanto como ele, ambos nervosos e ansiosos um pela presença do outro, com a mesma necessidade de sentir o outro e preencher o vazio que se abre quando estão distantes.
  – Talvez eu seja a última pessoa que você deseja ver no momento, mas eu precisava te ver, nós precisamos... Conversar. – E então Harry tirou o lindo buquê de rosas brancas que estava escondido atrás de suas costas.
  “Deve estar se perguntando, porque lembrei de você? Simples, rosas brancas significam o perdão e a inocência e eu vejo isso em você.”
  De novo aquela voz surgiu em sua mente sem aviso, ela sentia que a conhecia de algum lugar, sentia que estava próxima mas ao mesmo tempo não sabia de onde conhecia aquela voz familiar e qual o propósito das mensagens que surgiam pra ela, não sabia se acreditava nelas ou se apenas ignorava.
  – Você trouxe rosas brancas, – disse analisando o buquê de rosas em suas mãos, involuntariamente fez Sarah sorrir. – Você veio para se desculpar, isso é o que importa.
    – Me desculpe, Sarah, – disse com a voz falha por conta de sua emoção. O corredor estava vazio, apenas a presença dos dois ocupavam o ambiente. – Me desculpe por me comportar como um imenso idiota, você não tem culpa de nada, mas eu voltei e quero consertar o que fiz, quero me aproximar de você, te conhecer, nós precisamos saber tantas coisas um do outro. – Segurou seu rosto delicadamente. – Nunca mais irei te ignorar ou ignorar meus sentimentos por você, mas por favor me deixe saber.... Aceita sair comigo?
  – Sim, sim e sim. – Sarah tomou a atitude de roubar um beijo de Harry como resposta e ele soube que estava perdoado, ainda que não merecesse seu perdão.

Capítulo 11 - Porque gosto de você

  Sarah terminava de conferir sua bolsa, seu pai estava sentado no sofá analisando sua vestimenta. Não, ela não estava vulgar, mas estava arrumada e maquiada como uma mulher e aquela cena pra ele causou estranheza. Algum tempo atrás Sarah era só uma menininha, não usava roupas justas assim e nem usava batom vermelho, ele não acreditava que ela havia se tornado uma mulher diante de seus olhos, e questionava com quem a filha iria sair. Ouviu um carro buzinar e espiou pela janela, deduziu que fosse alguém que sairia com ela, era uma Ranger Rover e Dylan não conhecia nenhum amigo de sua filha que tivesse condições para um carro como aquele.
  – Vai sair? – perguntou bebendo da sua cerveja.
  – Hum... Sim – respondeu pegando as chaves de casa em cima do balcão.
  – De quem é aquele carro? – perguntou calmo.
  – De um amigo do meu trabalho.
  – Agora você tem amigos que eu não conheço? Quem trabalha em uma floricultura não tem como ter um carro desses – disse desconfiado.
  – E desde quando isso importa? Eu estou saindo com um amigo e isso é tudo que precisa saber – respondeu ríspida, ela sabia que não podia responder ao seu pai dessa maneira, mas Sarah não estava com paciência para discutir com um bêbado.
  – Me desculpa, pai, é só que... Eu quero viver, entende? Parece que o tempo escorre por entre meus dedos a cada segundo, eu não posso me privar de momentos como estes, o senhor precisa confiar em mim. – Tentou acalmá-lo.
  – Você já é uma mulher adulta – respondeu embolado. – Quer viver o que lhe foi tirado? Vá em frente e faça como sua mãe!
  Sarah não sabia ao certo o que ele quis dizer, apenas ignorou e saiu de casa, hoje seria um dia especial ela não queria se estressar com coisas insignificantes. Harry abaixou o vidro do carro assim que viu Sarah sair e lançou seu melhor sorriso pra ela, toda vez que ele a via ficava assim, transbordando emoções, vulnerável e constantemente feliz. Harry não queria esconder como seu corpo reage quando está perto de Sarah, ela trás a tona o que há de melhor nele. Quando sentou no banco de passageiro e colocou os cintos, Harry lhe roubou um beijo, a fazendo corar.
  – Você está linda – comentou dando um sorrisinho bobo, a maneira como sorria dizia tudo: estava apaixonado.
  – Obrigada – agradeceu com um sorriso tímido. O olhar esmeralda de Harry queimava sobre ela a deixando sem reação, arrepiando-a, Sarah não conseguia esconder o modo como seu corpo reagia com Harry.
  – Tenho uma coisa pra você, mas preciso que feche os olhos e vire-se.
  – O quê? – sorriu empolgada e fez o que ele pediu. Sarah sentiu os braços de Harry passando sobre seu pescoço e depois um beijo sendo depositado em sua nuca.
  – Pode abrir agora – disse e assim que ela abriu vislumbrou um lindo colar em seu colo, era um colar de ouro que continha um pingente de uma rosa no centro com lindas pedras vermelhas, era o presente mais delicado que já havia recebido de alguém.
  – Nossa, Harry, é tão lindo – comentou sem jeito. – Eu não tenho nada para você.
  – Você está aqui comigo, vamos passar a noite juntos. Ter você ao meu lado já é tudo pra mim. – E como um gesto de carinho e gratidão, Sarah selou seus lábios mais uma vez.

(...)

  Uma música romântica tocava em volume ambiente, o espaço era iluminado por pisca-piscas pendurados como um varal, as mesas forradas com panos de detalhes rosa bebê e bege, a mesa era decorada com arranjos das mais belas orquídeas, o lugar parecia mágico, como se saísse de um contos de fadas. Como o restaurante era no telhado, a mesa que Harry reservou possuía uma incrível vista do alto, a brisa do fim de tarde balançava sutilmente seus cabelos e a luz do pôr-do-sol refletia em seus olhos. Harry observava cada detalhe, gravava cada gesto, ele queria lembrar dessa noite, torná-la inesquecível para ambos.
  – Esse lugar é magnífico, parece que tiraram de um conto de fadas, realmente encantador – Sarah comentou dando uma olhada a sua volta.
  – Também gosto muito de vim aqui, é o restaurante favorito da minha mãe e minha irmã.
  – Gostaria de conhecê-las. – Harry desviou o olhar rapidamente.
  – Quem sabe um dia? – respondeu e logo mudou de assunto antes que ela tivesse a chance de dar continuidade. – Tá gostando da comida?
  Sarah levantou o olhar e encontrou com os seus de cor esmeralda.
  – Está maravilhoso, assim como todo o resto. – Harry sorriu desconcertado, mas charmoso.
  – Que bom, quero que esta noite se torne uma boa lembrança. Para que você possa sempre sorrir quando pensar nela. – Ele ergueu a mão em busca da mão dela sobre a mesa. Sua respiração entregou em como o que ele havia dito mexeu com ela. Sarah queria se lembrar dele, lembrar de tudo, e queria que isso não fosse apenas um momento. Queria que fosse contínuo, que outras vezes tivessem momentos assim, um curtindo a presença do outro.
  – Eu gosto de você, Harry, queria mais noites assim ao seu lado.
  Ele se sentiu vitorioso, como se estivesse cada vez mais perto de conquistá-la, era tudo o que ele queria.
  – Podemos ter todas que quiser. – Ele sorriu e acariciou seus dedos, que estavam entrelaçados com os dela, parecia que tudo parava quando estavam juntos, Harry se entregava por inteiro e todo o vazio que ele sentia quando estava só era preenchido por ela. Ela preenchia muito além do que apenas companhia.
  – Uma vez você havia perguntado sobre meus sonhos e o que eu lembrava da minha vida antes do acidente. Mas eu nunca o questionei sobre e agora que estamos mais próximos eu gostaria de saber mais sobre seus sonhos e seus desejos para o futuro.
  – Pretendo viajar para minha terra natal passar um período por lá nas férias. Mas não é um plano tão distante, quero ir o mais breve possível. Pro futuro, gostaria de encontrar uma garota com quem eu possa partilhar meus sonhos, a quem eu ame, porque assim eu sei que não vai ter muita coisa que importe além disso. Por fim, uma boa casa e ter uma filha que seja tão linda quanto a mãe, porque assim serão as duas garotas mais bonitas que terei conhecido.

“No verão
Como as flores lilás florescem
O amor flui mais profundo que um rio
A cada momento que eu passo com você”

  Uma música lenta começou a tocar, era o convite perfeito para dançar lado a lado, ninguém estava dançando mas Harry ignorou esse fato e estendeu a mão pra Sarah.
  – O quê? – Sarah o encarou confusa.
  – Vem, levante-se, vamos dançar.
  – Só pode ser piada. – Sorriu achando graça. – Harry, não tem ninguém dançando aqui.
  – E isso a incomoda? Talvez eles precisam que algum casal os encoraje a fazer o mesmo, e se não, não precisamos deles, precisamos um do outro apenas. O que me diz?
  Sarah não conseguia dizer não a ele, mesmo envergonhada aceitou a proposta, afinal hoje era uma noite para se lembrar, então por que não se permitir?
  Ela pegou a mão dele e deixou ser guiada. Harry a trouxe para mais perto dele, onde podia deitar a cabeça em seu peito, dançando juntinhos, tão perto que ouvia as batidas do seu coração e inalava seu aroma doce que ela tanto amava.
  – Não quero que pense que estou usando você – sussurrou em seu ouvido. – Eu quero que entre a gente aconteça naturalmente, quero conquistar você mas não quero acelerar nada, então um passo de cada vez, lembra? – Sarah concordou de olhos fechados.

“Existem perguntas que não devemos fazer, mas como você iria se sentir
Se eu dissesse à você que eu te amo?
É apenas algo que eu quero fazer”

  Passos desajeitados e sorrisos embaraçosos, Harry colou sua bochecha na orelha dela e fechou os olhos para sentir a música, apertou sua cintura para provar a si mesmo que não era um sonho. De repente, abriu os olhos e, para sua surpresa, alguns casais estavam dançando também, ele deixou um beijo em sua testa e voltou a fechar os olhos.

“Eu estou tomando meu tempo
Gastando minha vida
Me apaixonando cada vez mais por você
Então me diga que você me ama também”


(...)

  – Minha irmã me ligou – disse Niall ao entrar no quarto onde a esposa ninava seu bebê no colo.
  – Está tudo bem com ela?
  – Aparentemente não, ela está arrasada. Elisa me disse que o relacionamento com Harry está esfriando, ela está preocupada, acha que ele não a ama mais e diz que é tudo culpa dela.
  – Tadinha – disse comovida. – Eles já tentaram conversar? Ou quem sabe uma terapia de casal. Talvez seja porque ela está distante dele.
  – Foi o que eu disse. Acho que ela deve voltar e tentar salvar o casamento ou dar logo um ponto final nisso, não acho justo continuarem juntos se não está como antes.
  – A gente sabe quando chega a hora, digo o casal sente, a corda sempre arrebenta no lado mais frágil, então uma das partes vai se magoar, é inevitável. Quando o fim chega, é inevitável.
  – Eu espero que nunca aconteça isso conosco, eu a amo demais pra deixar você ir embora. Você é a mulher que mudou a minha vida pra melhor, acho que só acabaria se eu deixasse de te amar, mas isso nunca vai acontecer da minha parte – respondeu Niall acariciando a cabeça do bebê. – Olha o que você me deu, uma família, eu serei eternamente grato por isso, e não existe nada no mundo que eu possa fazer para retribuir todo o amor que você me proporciona. – Beijou a cabeça do filho.
  – Eu também amo muito você, Niall, você na minha vida já é um presente. – Ambos pararam para observar a criança, que dormia tranquilamente. – Veja como ele está crescendo tão rápido, e a cada dia ele está mais parecido com você, isso não é justo. – Riu.
  – Ele já vai fazer um ano, temos que começar a preparar a festa. Talvez Sarah possa te ajudar com as escolhas da decoração – sugeriu o loiro.
  – Sarah não sabe sobre o Theo, ainda não tive uma oportunidade para tocar no assunto – disse cabisbaixa.
  – Tenho certeza que ela vai amar quando descobrir que tem um irmãozinho – garantiu o marido.
  – Eu espero que sim – sorriu para ele.

(...)

Dias depois

  Eva esperava pela filha, observava ansiosa o entre e sai das pessoas na esperança de encontrar Sarah no meio delas. Antigamente Eva gostava de trazer a filha na cafeteria na volta do trabalho, onde faziam uma pausa para o lanche e perguntavam sobre como havia sido o dia uma da outra. Na realidade, a mesma não esperava que a filha aceitasse o convite para encontrá-la, visto a situação, estava em débito com Sarah pelos anos que se afastou quando ela mais precisou, mas era algo que ela lutava para mudar.
  – Bom dia – disse Sarah sentando a sua frente, estava tão distraída que nem notou quando havia chegado.
  – Bom dia, meu docinho. – Sarah sorriu, desconcertada, não queria forçar, mas ela reconhecia que era sua mãe e tinha que ser o mais leve possível.
  – Fico muito feliz que tenha vindo.
  – Não poderia negar isso a senhora. Nós precisamos por os pontos nos “i” – comentou.
  – Quer pedir alguma coisa? Eu pensei em pedir empada doce mas fiquei com receio. Ainda continua sendo seu lanche favorito?
  – Eu adoraria – respondeu simpática e sua mãe levantou para fazer o prato. Assim quando trouxe Sarah saboreou a empada que há anos não saboreava.
  – Então, não sei por onde começar – confessou constrangida.
  – Por que a senhora me abandonou quando eu estava internada? – perguntou confusa. Ela queria saber a verdade, queria encaixar as peças dos quebra-cabeças.
  – É mais difícil de entender do que imagina – respirou fundo –, mas eu lhe devo a verdade, Bom... O meu relacionamento com seu pai nunca foi lá um mar de rosas, tivemos altos e baixos durante nosso casamento, eu amava seu pai mais do que a mim mesma, mas quando eu perdi meu bebê eu comecei a perceber que eu não dependia dele, que ele não era saudável pra mim, seu pai só ama a si mesmo, mas eu tinha esperança de que o casamento podia o mudar, mas ele não mudou. Eu sei que eu errei com você, Sarah, de ter lhe deixado pra trás uma vez, mas todo mundo comete erros, e eu estou pedindo humildemente por uma segunda chance, por favor.
  – O que a senhora quer dizer com relação ao meu pai? – ignorou sua fala.
  – O seu pai me traiu. Sempre, durante anos, desde a época do colégio, mas ele não queria que eu me separasse dele por que ele é obsessivo, não suporta a ideia de perder aquilo que acha que tem na palma da mão. Eu engoli muito de sua arrogância porque eu não conseguia ver uma vida sem ele, e era mãe, não podia simplesmente destruir minha família. Mas aí eu descobri uma coisa que me fez mudar totalmente de ideia e me fez encher que a de separação era o melhor caminho para nós dois.
  – E o que a senhora descobriu do meu pai de tão ruim? – quis saber intrigada.
  – Ainda não é o momento certo para tocarmos nesse assunto, já faz muito tempo, e não acho justo que descubra por mim, você devia pergunta a ele porque nos separamos. – Esticou a mão para tocar a filha. – Mas não vim aqui pra isso, eu gostaria de te contar uma coisa.
  Sarah apertou a mão da mãe na mesma intensidade, para que ela entendesse que podia continuar, que apesar de toda mágoa, ela poderia contar com a filha.
  – Eu casei de novo... E você tem um irmão.
  Seus olhos piscaram mais de uma vez para processar a informação. Um irmão? Sua respiração mudou o ritmo, ela estava surpresa, mas não sabia como reagir, ela tinha a sensação de que já havia passado por isso antes.
  – Um irmão – repetiu e tentou sorrir feliz pela notícia, mas era diferente, ela nem ao menos conhecia o pai da criança.
  – Eu trouxe uma foto dele. – Pegou o celular da bolsa e mostrou a foto dele.
  – Ele é tão lindo, como se chama? – disse admirada.
  – O nome dele é Theo, vai fazer um ano. Niall, meu marido, sugeriu que talvez fosse uma boa ideia prepararmos juntas a primeira festa de aniversário dele, mas claro, antes íamos marcar um dia para que você possa conhecê-los. O que me diz?
  – Eu adoraria, vai ser um prazer planejar a festinha dele. – Sorriu simpática.

(...)

  – Bom dia, eu gostaria de pegar meu atestado de consulta médica – disse Becca à recepcionista do hospital.
  – Só um segundo, querida, irei carimbar agora – respondeu a mulher. Becca pegou o celular do bolso e começou a responder suas mensagens enquanto esperava pelo atestado.
  –... Eu sei... Ela tem toda razão. – Reconheceu a voz de Harry passando por ela, ele falava ao telefone, estava tão concentrado na ligação que nem a reconheceu e continuou seguindo seu caminho.
  – Aqui está, meu bem, assine aqui por favor – anunciou a recepcionista e logo Becca fez o que ela pediu.
  – Obrigada – agradeceu e disfarçadamente seguiu o mesmo trajeto que Harry para escutar sua ligação, parou em um ponto estratégico onde ficou a espreita, ele estava em um corredor vazio próximo a escada de emergência enquanto Becca estava na parede que dividia a visão dele, mas ela conseguia escutá-lo.
  –... Mas... É, você tem razão. – Becca pegou o celular e fingiu estar digitando algo quando as pessoas passavam em sua frente, mas estava atenta no que ouvia.
  –... Eu simplesmente não me sinto mais como antes... Eu ainda gosto dela, mas.. Já não é mais a mesma coisa. Não! Claro que não. Eu não jogaria tudo que construímos fora, assim, de uma hora para outra. – Ele soava falso, como se estivesse tapando o sol com a peneira, dando desculpas claramente vagas e clichês.
  – Eu a pedi em noivado! Só não aguento pensar nisso como um peso. – Os olhos de Becca se arregalaram com tamanha surpresa. Dr Styles está noivo.

Capítulo 12 - Resgatando meu coração

  Sarah pegou seu celular e discou o número tão conhecido por ela, sorrindo boba assim que leu na tela ligando para Harry. Não estava tarde da noite, mas esperava que o mesmo atendesse, talvez estivesse ocupado com o trabalho, mas para sua felicidade ele atendeu.
  — Oi amor. — Sarah não conteve o sorriso de orelha a orelha ao ouvir a voz dele se referindo a ela desse jeito.
  — Oi amor — repetiu.
  — Está tudo bem por aí?
  — Sim, está e com você? — perguntou.
  — Acabei de entrar no carro e estou voltando pra casa.
  — Estava trabalhando, não é? Vou desligar, não quero incomodar você.
  — Não desliga, estou com saudade de ouvir sua voz — pediu manhoso. — Você sabe que não me incomoda.
  — Desculpe — disse tímida. — Eu também estou com saudades, quer dar uma volta no parque amanhã? Se puder, é claro.
  — Eu posso encontrar com você no meu horário de almoço, pode ser?
  — Claro! Está ótimo pra mim. — Sorriu satisfeita.
  — Vou precisar desligar, vou dirigir agora — avisou.
  — Me avise quando chegar em casa está bem? Eu te amo — confessou achando-se uma estúpida por deferir tais palavras tão precocemente.
  — Sim senhora, também amo você — ele correspondeu, e de repente ela não se achava tão idiota assim. — Nos vemos amanhã.
  — Até amanhã. — Desligou e voltou para a cama para o novo dia de amanhã.
  Pegou no sono tão rápido que só acordou com o som do despertador no dia seguinte, nem ao menos leu a mensagem que Harry mandou pra ela avisando que havia chegado em casa como ela tinha pedido, respondeu a ele com uma mensagem de bom dia e seguiu sua rotina. Após o café se despediu do seu pai com um beijo delicado na bochecha antes de sair, e esperou pelo seu ônibus.
  No caminho até o trabalho, Sarah ouvia músicas românticas e se lembrava dos momentos com Harry, a primeira noite juntos, o primeiro jantar e o primeiro eu te amo. Estava fluindo tão bem, que no fundo ela achava que aquilo não poderia durar, estava sendo tudo perfeito demais, tinha medo que se machucasse outra vez. Mas com Harry era tão diferente, ela queria ser dele e que ele fosse dela, ele a fazia esquecer de suas inseguranças e de todas as incertezas quando estavam juntos, era apenas os dois, completando o espeço que falta no outro. Talvez permitir se machucar por quem ama não fosse tão ruim assim.
  O dia estava corrido, logo que abriu a loja a rotina voltou, atendendo clientes, fez a manutenção recinto e recebeu as novas encomendas. Quase havia esquecido que havia marcado de se encontrar com Harry, lembrou-se após receber uma mensagem dele avisando que estaria livre brevemente. Tratou de terminar seus afazeres rapidamente e assim que sua colega chegou para repor seu lugar ela pôde sair.
  O parque estava com algumas crianças como de costume, havia muitos pais por lá, vendedor de guloseimas e brinquedos pra chamar atenção dos pequenos. Sarah parou para comprar uma pipoca enquanto esperava por Harry, andou em direção a qualquer banco que estivesse livre, até que uma moça com um bebê em seu carrinho chamou sua atenção, ela a conhecia, Lea, sutilmente se aproximou dela para não assusta-la, não queria que tivesse a mesma reação como foi no último encontro, ela parecia estar fugindo de alguém.
  — Se importa se eu me sentar com você? — pediu. Lea a olhou com certa dúvida mas permitiu com a cabeça.
  — Hoje está um belo dia não acha? — puxou assunto, talvez se mostrasse-se inofensiva, Lea não se sentisse coagida como a última vez.
  — Sim, está — concordou sem parar de balançar o carrinho onde seu filho dormia tranquilamente.
  — Ele é tão lindo, ele lembra um pouco você, mas deve ser a cara do pai. Você se casou recentemente?
  — Não — respondeu simples, parecia que aquele assunto a incomodava. — Desculpe, mas tenho que ir.
  — Lea, eu não sei pelo o que está passando, mas eu gostaria de te ajudar, eu não consigo lembrar de tudo com clareza. Mas lembro que éramos amigas, você me ajudava quando eu me sentia triste ou quando briguei com o Kevin e quando ele morreu. Eu quero te ajudar também, me deixe te ajudar, por favor — pediu antes que ela continuasse o caminho.
  — Sinceramente eu não sei como você poderia me ajudar, ou me perdoar. — Ao virar-se, rosto estava vermelho como de quem começaria a chorar.
  — Por que acha isso? Claro que pode contar comigo — garantiu.
  — Não Sarah, infelizmente você não pode me prometer isso. — Suas lágrimas desciam por suas bochechas. E voltou a andar com o carrinho.
  — Lea, por favor, espera! — Rapidamente acompanhou e alcançou seus passos, ficando lado a lado. — Independente do que esteja passando, eu quero te ajudar, você parece estar passando por problemas, você está nitidamente estressada com alguma coisa, não sei se seu problema é financeiro ou familiar mas eu quero poder fazer alguma coisa, eu sinto como se tivesse te devendo isso, mas não sei o porquê.
  Lea parou de andar e limpou as lágrimas, respirou fundo e se conteve, seja lá o que Sarah havia dito ou o que ela havia feito anos atrás para ajudá-la, Lea parecia saber a respeito, e confiou nela.
  — Jordan é seu irmão.
  — O quê? — disse sem acreditar. Lea fez menção de virar as costas, mas Sarah segurou em seu braço.
  — Meu pai sabe sobre a existência desse filho? — Lea riu nasalado, como se aquilo fosse algum tipo de piada.
  — Sim, ele sabe.
  — Eu não entendo — disse confusa. — Mas porque ele iria esconder essa criança de mim? Por favor, eu quero saber toda a verdade!
  — Dylan não queria esse filho, porque se viesse à tona o seu casamento estaria acabado, ele sugeriu que eu o abortasse. — Fungou ao lembrar e sua voz vacilou ao continuar. — Mas eu não teria coragem, e eu amava o seu pai. Sua mãe teve depressão quando perdeu o bebê, o casamento deles já não estava dando muito certo e eu pensei que quando ele soubesse da notícia poderíamos viver como uma família, ele me prometeu tanta coisa, dizia que não amava mais sua mãe e que estava preso porque ela esperava um filho dele, e que iria pedir divórcio quando você ficasse de maior.
Mas eu fui tão idiota e burra, depois que ele disse coisas horríveis a mim era como se a ficha tivesse caído e eu percebesse a imensa burrada que eu tinha feito. Mas agora eu estava sozinha e tinha um filho pra cuidar, meus pais se recusaram a me ajudar quando souberam que eu esperava um filho solteira e havia dito que não sabia quem era o pai ou seria um problema maior, eu parei de estudar pra trabalhar e dar tudo de melhor para meu menino. Eu não me arrependo, Jordan é a minha luz, meu motivo para sorrir após um dia difícil e ouvir ele dizer mamãe, você não sabe o quanto isso é maravilhoso. — Sorriu enxugando as lágrimas.
  Ao ouvir todas suas confissões, Sarah chorou, compartilhou das mesmas emoções e aflições, chorou por tudo que Lea havia passado só para não perder seu filho e ainda hoje ela vive por ele, dá tudo de si, pra no final do dia ela só querer ter a presença dele para acalmá-la. Depois de absorver toda a informação, Sarah percebeu que sim, Lea havia cometido um erro, mas seu pai havia cometido um maior ainda, e analisando tudo, não era ela que merecia seu perdão.
  — Eu não tenho noção de como isso foi e está sendo difícil pra você, ele tem o meu sangue e eu vou ajudar no que puder, eu sei que você errou mas eu não tenho que te perdoar, mas ao meu pai sim, e ele vai pagar por tudo isso que ele te causou.
  — Não, não quero que faça nada. Eu consegui até hoje cuidar do Jordan sem precisar de um dinheiro dele — respondeu temerosa.
  — A questão não é o dinheiro, Lea! Ele é o pai dessa criança, ele tem que assumir a paternidade e ser presente na vida dele, isso é direito do Jordan, ele não tem culpa do que está acontecendo. Eu não vou te deixar sozinha, eu estou com você e vamos fazer justiça.
  Era tudo que ela precisava ouvir, que não estava sozinha e que alguém estava por ela, que as humilhações teriam um fim e que no final tudo ficaria bem, que seu esforço valeu a pena. Sua emoção foi tão grande que não se conteve em abraçá-la, nunca esperou que Sarah tivesse essa atitude nem que se compadeceria com seu caso, mas ela estava imensamente grata por ela estar ao seu lado.

(...)

  — Alô, bolinho da mamãe.
  — Mãe, por favor — Harry respondeu envergonhado. — Ainda bem que essa ligação não está no viva-voz, o que os meus colegas iriam pensar de mim?
  — Que você é muito amado por sua mãe e um sortudo por ter todo esse carinho disponível pra você. Quantos médicos gostariam de estar no seu lugar agora, meu bolinho?
  — Tá bem mãe, eu já entendi. — Riu ao ouvir sua resposta. — A senhora vai estar em casa hoje?
  — Sim, mas depende do horário que você for vir. Tenho aula de costura hoje — disse empolgada.
  — Não tem problema, eu passo antes de você sair, vai ser rápido.
  — Como assim, não vai jantar comigo hoje? — perguntou desapontada.
  — Não, talvez amanhã, mas já que estamos tocando nesse assunto, a senhora ainda tem as chaves da nossa casa no Lago em Holmes Chapel? Ou está com Gemma?
  — Estão nas minhas mãos, mas por que, filho?
  — Gostaria de passar um período por lá, pra pensar um pouco, vou entrar de férias.
  — Ai meu Deus! Achei que esse dia nunca chegaria — gritou animada. — Agora você finalmente vai ter mais tempo pra mim, e pra organizar o casamento!
  — É... — respondeu desapontado. — Não precisamos pensar nisso agora, tenho que desligar mãe, estou saindo pra almoçar.
  — Está se alimentando bem, não é, mocinho?
  — Sim, mãe eu estou. — Respirou entediado. — Eu sei, vou avisar quando chegar em casa também.
  — Esse é o meu garoto. Eu te amo. — Escutou o estalar de beijos do outro lado da linha e sentiu como se sua mãe o estivesse o enchendo de beijinhos.
  — Também te amo, até mais tarde.

(...)

  Harry buscou Sarah na floricultura pra almoçarem juntos no restaurante do primeiro encontro, o local não estava tão cheio como da última vez, particularmente ele preferia assim, ambos escolheram o seu prato e comentaram sobre como estava sendo o dia um do outro. Harry estava tão feliz por estar almoçando com ela, era algo tão simples mas para ele era tão importante, como se as coisas começassem a darem certo na relação dos dois, mas no fundo ele sabia que aqueles momentos não durariam por muito tempo. Será que ela o entenderia? Ela o perdoaria? E se ela fosse embora para sempre? Harry afastou suas preocupações antes que o afetassem e ficasse deprimido, não era hora para ter uma crise.
  — Eu tenho uma notícia que acho que vai te deixar feliz — disse ele ao terminar com a comida.
  — Me diz, eu quero saber, amor — disse animada. Ouvir ser chamado de amor pela garota que ama é tão gratificante, seu coração pulsava cada vez mais rápido ao ouvi-la chamando assim, definitivamente ele era um cara sortudo.
  — Eu estou de férias! — anunciou. — E eu quero que viaje comigo, por favor, diz que sim? Eu quero que conheça minha casa onde morei na infância, onde eu nasci. Eu disse que gostaria de ir lá de novo, mas quero que esteja comigo.
  — Eu não sei se deveria. — Seu celular vibrou e viu que era Becca ligando.
  — Por favor, não me deixe falando sozinho, amor. — Ao ouvir o pedido desligou o celular sem atender a amiga.
  — Eu não sei se eu deveria ir com você, Harry. Nós não estamos namorando, na verdade não sei o que nós temos, eu tenho medo de estar acelerando as coisas entre a gente. Ir com você na sua casa de infância é um passo muito grande.
  — Então não acha que isso iria nos aproximar? Me conhecer, saber mais sobre minha história está te deixando com o pé atrás? Não quer ter a chance de me conhecer? — Fez uma carinha triste, Sarah não resistiu e riu da cara boba do seu amado.
  — Claro que eu quero, é o que eu mais quero. — Segurou sua mão sobre a mesa.
  — Então isso é um sim? — incentivou.
  — Sim Hazz, você venceu.
  — Obrigado. — Beijou sua mão e levantou para roubar um beijo. — Obrigado.

(...)

  Assim que Eva chegou em casa, foi recebida por beijos e abraços do pequeno Theo, que correu para o colo da mãe assim que a viu chegar. Niall, que estava preparando a comida, enxugou as mãos para falar com sua esposa, também estava morrendo de saudades. Apesar de ela ter ficado ausente por um dia, pra ele havia se passado um ano.
  — Oi meu amor, como foi ficar com o papai? — perguntou ao pequeno nos braços. O bebê nada respondeu só batia palmas alegre.
  — Oi amor. — Niall se aproximou e a deu um selinho. — Como foi lá com a Sarah? Correu tudo bem?
  — Você não vai acreditar! Eu contei toda a verdade pra ela, Sarah sabe sobre o Theo e disse que está ansiosa pra conhecê-lo, conhecer vocês dois e ainda vai me ajudar na primeira festa de aniversário do nosso filho — ela disse tudo tão rápido e tão empolgada, Niall tentou absorver tudo rapidamente e estava feliz por ter dado tudo certo, agora ele não teria com o que se preocupar.
  — É maravilhoso, agora sim, somos uma família completa de novo. — Beijou mais uma vez a esposa pra matar a saudade e logo o pequeno apareceu em sua perna pra tentar afastar o pai de beijar a mãe, e começou a chorar com ciúmes.
  — Ele é realmente seu filho, Horan — comentou Eva rindo do drama do filho.

(...)

  Dylan estava passando pelo corredor e de soslaio viu movimentos no quarto da filha, não achou nada de mais espiar, já que a porta estava entreaberta, quando entrou por completou levou um choque. Sarah estava fazendo as malas.
  — O que está acontecendo? Você vai embora? — perguntou preocupado. Logo cogitando a ideia de ter que ficar sozinho novamente.
  — O quê? — Riu da reação do pai. — Não é nada disso, pai, eu só vou ficar fora alguns dias, estou indo viajar com um amigo. — Continuou pegando as roupas e as dobrando na mala.
  — Eu gostaria muito de conhecer seu amigo, você está saindo com alguém? Por que não me diz a verdade?
  — Olha, pai, quem sabe um dia a gente converse sobre quem está escondendo o que de quem. Mas agora estou concentrada em dobrar essas roupas, não tenho tempo pra isso.
  — Por que está agindo estranho ultimamente? Quem é esse cara? Eu quero saber no que você está se metendo! — exigiu respostas.
  — Eu não estou agindo estranho, o senhor está vendo coisas onde não tem! — respondeu sem paciência.
  — Eu não permito essa sua viagem com alguém que eu não conheço, você mal acordou de um coma, Sarah! Como pode ter algum amigo? — concluiu irritado com o comportamento imaturo da filha.
  — Eu sou dona dos meus atos agora, sou uma mulher adulta e eu posso tomar minhas decisões, com ou sem seu consentimento. — Fechou a mala e, antes de deixar o quarto, avisou. — Não que isso seja da sua conta, mas eu estou saindo com o Harry.
  Sarah esperou por uma resposta, ou até uma intervenção, mas nada foi dito. Ele apenas passou por ela e seguiu para o quarto, nem ao menos quis se despedir. Ela não queria viajar se sentindo culpada por brigar com o pai, independente do que ela descobriu sobre ele hoje, ele ainda era quem havia a acolhido quando sua mãe foi embora a deixando pra ficar no hospital. Mas não havia mais tempo, logo escutou a buzina de Harry do lado de fora e se apressou.
  Harry ajudou a guardar seus pertences no carro e roubou um beijo antes de dar partida. O celular de Sarah vibrava sem parar na bolsa, ela pegou e quando pensou em atender, Harry pediu.
  — Posso te pedir uma coisa?
  — Claro. — Deixou o celular tocando dando total atenção pra ele.
  — Esse é um momento só nosso, não quero que nada nos atrapalhe, quero que esqueça o mundo a sua volta e que tenhamos toda atenção um do outro, então nada de celulares. — Desligou o telefone na sua frente para incentivá-la a fazer o mesmo. — E também, lá não pega o sinal da rede muito bem, então caso precise falar com alguém é bom que avise antes.
  — Tem razão, é minha amiga me ligando, vou mandar uma mensagem. — Concordou e mandou uma mensagem pra Becca antes de desligar o telefone.
Oi Becca, irei ficar ausente por alguns dias, não se preocupe estou bem e não vou fazer nenhuma loucura, na verdade estou vivendo intensamente, tendo uma inesquecível aventura. Estou bem, aviso quando chegar. Sarah <3.

Capítulo 13 - Verdadeiramente, loucamente, profundamente

   – É impressionante não é? Eu tive a mesma reação quando era criança, fiquei deslumbrado com o tamanho da casa – comentou Harry ao entrar na casa e notar o quanto Sarah parecia encantada.
  – Aqui é tão imenso e aconchegante! – Sorriu dando um giro a sua volta, analisando cada detalhe, as mobílias, as decorações, os quadros em família. A impressão que tivera foi de que Harry havia sido muito feliz ali pelo modo como ele sorria nos quadros de família pendurados na parede. – Você deve adorar esse lugar – deduziu.
  – Eu adoro, com toda minhas forças! – garantiu sorridente. – Você ainda nem viu a melhor parte, vem, vou te mostrar a casa. – Deixou as malas de lado em qualquer parte da sala e segurou a mão de sua garota, guiando-a.
  – Espera, Harry! – pediu carinhosamente. – Esse ursinho da foto é o mesmo que está na estante? – Indicou para que ele seguisse a qual urso ela se referia.
  – É sim... Minha mãe fez questão de guardar o primeiro brinquedo que fiz questão de não destruir.
  – Que fofo.
  Sarah riu de tal forma que podia se ouvir o eco da sua gargalhada pela ampla sala. Ainda curiosa, aproximou-se dos quadros, observando-os de perto. Sorriu sapeca, prendendo a risada.
  – Eu já sei o que você está olhando, e pra começar não sei o que essa foto está fazendo aí! – Harry disse envergonhado.
   – É o sutiã da sua mãe, Harry? – perguntou referindo-se a foto em que ele parecia maior, onde fazia uma pose vestido com o sutiã aparentemente da sua mãe.
  – Eu devia ter uns sete anos de idade quando minha irmã me obrigava a brincar de desfile de moda com ela, e como você pode ver, virei uma Angel – zombou fazendo pose.
  Sarah gargalhou novamente e aproximou-se de outro quadro.
  – Quem é essa? – Sorriu admirando cada foto e cada história que nela transmitia. Em outra foto Harry estava ao lado de uma garota loira parecida com ele, deduziu ter 17 anos de idade.
  – Essa é Gemma, somos gêmeos, mas como você pode ver herdei toda beleza da família – brincou.
  – Estou impressionada, você é lindo em todas as fases. E continua mais lindo a cada dia – Sarah se virou, ficando de frente para ele e abraçando sua nuca. – Eu estou tão feliz em está aqui com você, em poder te conhecer mais um pouquinho.
  – Eu também estou muito feliz de te ter aqui comigo, só nós dois. Agora venha, quero te mostrar algo lá fora! – Selou seus lábios rapidamente.
  – Para onde vamos agora, Sr. Styles? – perguntou na esportiva, permitindo ser guiada e curtir o momento descontraído entre eles.
  Agora, estavam na parte de trás da casa, nela havia uma espécie de jardim e uma casa na árvore.
  O cheiro de terra molhada a fazia se sentir acolhida ali, como se estivesse em casa. Não havia palavras para explicar o quanto seu coração estava transcendente por compartilhar momentos assim ao lado de Harry.
  – Esse era e ainda é meu lugar preferido dessa casa, passava quase que meu tempo todo refugiado aí dentro – contou.
  – Eu sempre quis ter uma casa na árvore, sabia? Mas minha casa é muito pequena, como você mesmo pode perceber aquele dia. – Sorriu triste e encarou a casinha.
  – Essa pode ser a nossa casa na árvore, não me importaria de dividi-la com você. Vêm, quero que você entre comigo.
  Sarah sorriu de orelha a orelha com sua resposta e, sem pensar duas vezes, subiu animada as escadas, Harry estava logo atrás dela. Do alto, tinha uma bela visão do jardim e da casa.
  – Estou realizando um sonho daqui de cima.
  – Esse lugar sempre foi meu refúgio quando brigava com minha mãe ou minha irmã. A vista daqui sempre foi a melhor parte, mas ela ficou ainda mais bonita tendo você como parte da paisagem.
  Seus olhos foram de encontro com sua boca, de lábios tão desejáveis, e deitou sua testa com o dela, roçando os narizes em um beijo de esquimós. Sarah inalou seu perfume profundamente, como ela amava sentir seu aroma doce amadeirado, que era tão característico de Styles, ela amava cada detalhe seu, cada pedacinho do seu ser, sua personalidade e sua habilidade de saber o que precisa ser dito na hora certa, a verdade é que ela o amava, mais do que achou possível amar alguém, como nos filmes clichês de romance que tanto odiava e que agora pareciam tão compreensíveis para ela vivenciando tais momentos.
  Então porque simplesmente não dizer como se sente?
  – Harry... – começou a falar mas logo perdeu a coragem. – Esquece, era apenas uma bobagem.
  – Você sabe, estou aqui para te ouvir – incentivou mas Sarah negou com cabeça. – Então eu vou dizer, você é definitivamente a melhor parte dessa viagem. – Selou seus lábios em resposta.
  – Pronta para a próxima parada? – perguntou e a mesma confirmou com a cabeça. – Agora quero te mostrar meu lado cozinheiro, vamos fazer nosso jantar!
   – Leu meus pensamentos, estou faminta!

(...)

  – Eu sei que fico muito sexy de avental, mas não precisa me olhar assim! – comentou Harry se divertindo com os olhares maliciosos de sua amada sobre ele. – O que você quer comer hoje?
  – Depende, você está incluso no cardápio? – brincou ela.
  – Talvez... Mas você com toda certeza está inclusa no meu mais tarde.
  – Okay, doutor Styles, vamos direto para os finalmentes, e pode desmanchar esse seu sorrisinho porque eu me refiro a comida – fingiu dar um sermão nele e logo ele fez uma feição triste, de cachorro sem dono.
  – Quero que você me surpreenda! – desafiou com um sorriso sapeca.
  – Meu amor, eu sou bom em tudo que faço, mas que tal uma macarronada italiana?
  – Acho maravilhoso! Quer ajuda com os temperos?
  – Sua ajuda é sempre bem vinda, meu bem, mas antes irei pegar um bom vinho para nós dois. – Pegou as taças e esperou que fossem devidamente depositadas.
  Enquanto Sarah o ajudava na preparação dos temperos, Harry ia colocando as massas no fogo, logo após entregar os temperos prontos para ele, Sarah virou-se de costas para lavar suas mãos.
  – Acho que a gente poderia pular a parte do jantar, você não acha? – Harry disse com a voz sedutora em seu ouvido, a prensando sobre a pia.
  – Harry – advertiu –, ainda não.
  Harry ainda mantinha seu corpo próximo ao dela, querendo roubar um beijo de qualquer maneira e quando Sarah foi protestar se assustou com as chamas que saíam da frigideira.
  – HARRY! – gritou apavorada e mesmo virou na mesma hora.
  – Calma, Sarah. Está tudo sobre controle, isso faz parte do nosso prato, estou apenas flambando nosso molho.
   – Quer me matar do coração? – falou com a mão no peito. – Achei que iria tocar fogo na casa.
  – Não era minha intenção te assustar, amor, só queria te impressionar com meus dotes culinários. – Tentou sorrir, mas estava muito assustada.
  – Só não estava preparada. – Riu da situação.
  Depois do susto, ambos se reuniram na mesa para provar o jantar. Harry estava com a expectativa lá em cima, ele queria agradar sua garota e compensar o susto que havia dado minutos antes.
  – A comida está maravilhosa, está aprovado, Styles.
  – Agora que já comemos, o que acha de um filme? – sugeriu ao limpar a boca com o guardanapo.
  – Até parece que você tinha tudo planejado – brincou ao recolher os pratos. – Qual filme de hoje?
  – Na verdade, eu tinha tudo planejado. – Sorriu vitorioso. – Eu tinha pensado em Up Altas Aventuras, mas se você quiser podemos mudar.
   – Up é meu filme favorito! – Sorriu animada. – Adoraria assistir com você.
  – Então vamos, a sala já está preparada.
  Harry a ajudou a limpar a louça e logo depois pediu para que ela o esperasse enquanto preparava o ambiente para deixar mais romântico, segundo ele mesmo havia dito. Após sua permissão, Sarah entrou na sala e a mesma estava toda equipada, a lareira aquecendo o cômodo ao redor, diversos edredons sobre o sofá, o mesmo estava aberto semelhantemente a uma cama grande e aconchegante. O gesto de Harry, todo dedicado a cada detalhe para ambos se sentirem confortáveis para apenas assistir um filme, só a fez garantir a si mesma que o que já devia ter aceitado a muito tempo, estava apaixonada por aquele incrível homem.
  – Eu sei que não está perfeito, mas tudo isso foi feito para você com muito carinho.
  – Harry eu não sei o que te dizer, eu simplesmente amei. – Dando um último selinho em seus lábios se aconchegou no sofá para dar início ao filme.
  Sarah nunca havia conhecido esse lado de Harry, um lado extrovertido e brincalhão, e em alguns momentos até sentia malícia mas ao mesmo tempo era tão doce e gentil. Como poderia resistir a Harry Styles?
  O filme começou e devido ao cansaço da viagem Sarah acabou cochilando em seus braços, perdendo sua parte favorita do filme.
  Um sorriso no canto dos lábios de Harry se formou ao vê-la de olhos fechados, deitada ao seu lado. Com todo cuidado do mundo passou os braços com calma por debaixo de seu corpo, a carregando em seu colo. Passou pela sala rodeada de cortinas longas, os passos eram leves e a olhava com total atenção, observando sua respiração. Aproximou seu rosto ao dela e sussurrou em seu ouvido:
  – Ei... Você dormiu o filme todo. Fique tranquila, estou levando você para nosso quarto.
  Havia chegado na porta do quarto, onde gentilmente acariciou o seu rosto no dela, pedindo levemente para que acordasse.
  Conforme Sarah despertava aos poucos, não demorou para ficar devidamente em pé.
  Harry a agarrava por trás, passando novamente os braços ao redor de sua cintura e a puxava contra si, dando total espaço para que a mesma andasse, mas seguindo-a logo atrás.
  O momento foi oportuno, continuou falando novamente em tom baixo em seu ouvido, ali de trás mesmo:
  – Quero que abra a porta do nosso quarto, e me diga o que achou dele, por favor, meu amor.
  Boa parte do quarto tinha detalhes que o mesmo tinha escolhido, entre as outras partes tinha o trabalho de um arquiteto específico contratado para deixá-lo o mais sofisticado e majestoso ao seu gosto. Pela grande janela do quarto, a brisa fresca abraçou seus pelos do corpo deixando-a arrepiada, uma noite fria.
  Observava com total atenção a reação dela ao olhar o quarto, e novamente o sorriso veio ao seu rosto, exibindo-o mesmo sem ela perceber.
  – Minha nossa! – disse quase sem fôlego finalmente adentro. – Estou me sentindo uma princesa.
  Ainda agarrado a Sarah, falou em alto e bom som:
  – Preparei pra ti essa surpresa, meu amor. Para aproveitar muito bem a nossa noite, sem desperdiçar um minuto sequer! – Depositou um beijo doce em seu ombro, subindo para o pescoço, dedicando suas carícias ali. Ele sabia qual era o ponto fraco de Sarah e como usá-lo.
  Com os olhos fechados, aproveitando as carícias, deixou-se levar pelos toques gentis e suaves de Harry por seu corpo. E mais uma vez, seus lábios foram de encontro aos seus, em um beijo apaixonado.
  Suas mãos macias deslizavam por sua pele, retirando as peças de roupas que faltavam, aprovando sua atitude, fez o mesmo ao retirar as dele, era um caminho conhecido para ambos, despir-se um ao outro aumentava a libido. Não sabia ao certo, mas existia algo nela que o fazia acender em chamas, seu corpo inteiro queimava e pulsava por ela, implorando por seu toque.
  Sensualmente, fez uma trilha de carícias com a língua pelo ventre de seu garota, subindo em direção aos seios. Escutá-la gemer era vibrante, só o estimulava ainda mais para proporcionar mais prazer. Desceu os beijos molhados por sua região pélvica, com os dentes retirou o pano que o atrapalhava de visualizar sua intimidade perfeitamente. Arqueou as costas assim que Harry chegou pincelando em sua intimidade com a língua, mordiscou sua região sensível a deixando mais excitada, usou a língua e os dedos simultaneamente para proporcionar um prazer maior, um grito sôfrego indicou de que havia atingido seu ápice, tamanha era sua satisfação ao visualizar tal cena.
  – Mais Harry! Por favor. Eu quero mais…
  Sorrindo maliciosamente, mordeu os lábios a provocando, se posicionou sobre ela e ergueu suas pernas nos ombros para que assim tivesse uma abertura maior para sua penetração. Não havia pudor ali, ou delicadeza, era apenas sexo no momento, e Sarah estava gostando do lado selvagem que acabara de descobrir de Harry. Umidificou os dedos e massageou o clitóris dela em seguida, lubrificando para sua passagem, vagarosamente preencheu sua carne com seu pênis, arrancando grunhidos e gemidos sensuais.
  Mantendo o contato visual, ele a penetrava intensamente, o suor começava a brotar de sua testa, deixou escapar “porra” pois tamanha era sua excitação, devorando cada extensão de sua vagina, não havia sensação melhor do que aquele calor em contraste com a noite fria do lado de fora.

(...)

  Exausta, Sarah caiu no sono após a noite de amor que tivera com Harry minutos atrás, um sono tão profundo mas que parecia tão real.

  Ela estava em um jardim, extremamente lindo, como aqueles retirados de um conto de fadas, correu e rodopiou pela grama, aquela sensação de paz e liberdade era tão boa, de repente parou ao sentir os olhares de alguém sobre ela, fixou o olhar na silhueta a sua frente.
  Era ele, seu primeiro amor, Zayn.
  Seu coração disparou ao vê-lo diante de seus olhos. Como ela sentia falta dele, de abraçá-lo e sentir o seu cheiro forte ficar impregnado em sua blusa.
  Zayn continuava o mesmo, do jeitinho como ela se lembrava, usando sua jaqueta típica de couro preto e jeans, ele tinha um sorriso mais contagiante que tivesse visto antes, parecia feliz em vê-la.
  – Zayn! Você está aqui – disse emocionada, já sentindo seus olhos lacrimejarem.
  Algo estava errado.
  Assim que correu até ele, Zayn correu para outra direção, a deixando confusa. Porque ele estava correndo dela? O que ele estava fazendo?
  Foi quando ele sorriu pra ela e indicou em um gesto com a cabeça onde queria chegar, que ela enfim percebeu, talvez ele queria ser seguido.
  – Zayn, por favor me espera! – pediu ao não conseguir mais alcançá-lo e ficar pra trás entre os arbustos.
  Mas já era tarde, Sarah havia perdido Zayn de vista.
  Escutou sussurros e pessoas chorando ao seu redor, seguiu os sons e se deparou com a sepultura do ex namorado, o jardim havia se tornado um cemitério e aquele mesmo cenário que trouxera felicidade anteriormente, também trouxe toda sua dor e lástima daquele fatídico dia.
  Zayn estava morto, e nada mudaria isso.
  Angústia havia voltado avassaladoramente, tudo que Sarah fez foi se ajoelhar diante da lápide e chorar copiosamente. Ela só queria que nunca tivesse o perdido.
  – Sarah, precisamos conversar. – Escutou a voz de sua amiga e levantou em seguida secando as lágrimas.
  – Eu sinto muito por sua perda – Becca disse triste.
  – Mas uma hora isso iria acontecer, e eu não queria ter que escolher entre vocês, eu não queria que você morresse. Talvez seja melhor do jeito que está.
  – Do que está falando? – indagou indignada.
  – Eu não queria te perder, ele precisava saber a verdade, ele não estava mais te fazendo bem, Sarah, essa é a verdade.
  – Eu não sei do está falando, seja clara! – Sarah não gostava do tom que sua amiga usava ao se referir a Zayn, e o modo em como ela conduzia a conversa.
  – Eu contei a verdade pro Zayn, sobre aquele dia no banheiro da escola, e ele surtou e bateu o carro. – Becca começou a chorar. – Eu não queria que tivesse acabado assim, por favor me perdoe.
  Suas veias alteram na hora, Sarah apenas queria gritar a plenos pulmões toda angústia e raiva que estava sentindo, descarregar pra fora toda sua dor e fúria. Como sua melhor amiga pôde a trair daquela maneira? Por culpa das suas implicâncias Zayn havia batido o carro e agora estava morto, poerdoa-la não o traria a vida.
  – Assassina – Sarah murmurou com os olhos cheios de lágrimas.
  – Sarah, por favor não…
  – ASSASSINA! – gritou.


  Sarah acordou assustada e suando frio, o sonho que tivera havia a deixado perplexa. Será que isso realmente aconteceu? Sarah recordava que estava afastada da amiga, mas não sabia o porquê, teria sido esse o motivo? Ou havia sido apenas um sonho? Fechou os olhos e tentou voltar a dormir, dessa vez abraçada a Harry, tateou por seu lado no qual Harry deveria estar, mas estava vazio, o que a deixou confusa.
  Levantou da cama vestindo um roupão e caminhou na direção onde ouvia-se notas melódicas distantes de um violão. Lá estava ele, Sarah encontrou Harry concentrado em um caderninho e um vilão em seu colo.
  – Harry... O que está fazendo? – perguntou manhosa ao se aproximar.
  – Sarah... Pensei que estivesse dormindo, por acaso eu te acordei?
  – Não. – Esfregou os olhos afastando o sono. – Tive um sonho ruim, senti sua falta na cama.
  – Você quer conversar? Vem, senta aqui. – Harry deixou o violão de lado para que ela pudesse sentar em seu colo, assim ela o fez.
  – Foi estranho. Eu sonhei com o Zayn no dia do velório. Não queria falar sobre isso. – Harry consentiu sem dizer uma palavra. – Mas, estou curiosa, o que estava fazendo aqui em baixo?
  – Bem, eu... Eu perdi totalmente o sono depois que me peguei te observando dormir, então ideias surgiram em minha cabeça e eu precisava colocá-las no papel.
   – Que tipo de ideias?
  – Eu sempre gostei muito de músicas, no colégio sempre era chamado para fazer apresentações em alguns eventos, hoje eu componho algumas músicas e a de hoje é sobre você.
  – Uma música, Styles? Sobre mim? – Sorriu alegre com a revelação. – Você poderia cantar pra mim?
  – Claro... Não sei se você irá gostar, mas é mais ou menos assim... – Afastou-se para pegar o violão de volta.

Estou dormindo, estou acordado, ou algo assim?
Não posso acreditar que você está deitada ao meu lado
Ou eu sonhei, que estamos perfeitamente entrelaçados
Queria poder congelar esse momento em uma moldura e ficar desse jeito

E em todos esses dias e semanas e meses eu tentei roubar um beijo
E todas essas noites sem dormir e devaneios onde eu imaginei isso
eu estou totalmente, completamente apaixonando

Então baby, diga que você sempre irá me manter
Verdadeiramente, loucamente, profundamente apaixonado por você
Apaixonado por você.


  Ouvir cada palavra que ele pronunciava e cada olhar apaixonado fazia seu coração bater mais forte, ninguém havia escrito uma música pra ela antes e aquela música encheu seu coração de paixão.Quanto mais o conhecia mais se apaixonava, a letra da música se encaixava perfeitamente com o que ambos sentiam e Sarah pensou que não haveria momento mais apropriado do que aquele para finalmente revelar o que já estava claro a muito tempo.
  – Eu te amo, Harry – confessou timidamente.
  – Você não faz ideia de como é bom ouvir isso... Eu te amo Sarah.

(...)

  Harry pensou em tudo, planejou programas para os dias recorrentes, em companhia de Sarah ao seu lado. Terminaram a primeira etapa da semana juntos com um passeio pela cidade em que havia nascido, e o retorno pra casa como sempre era ela sorrindo abertamente, saltitante.
  Enquanto Harry estava no banho, Sarah caminhou aleatoriamente pela casa explorando-a, curiosa, deparou-se com uma porta para o sótão que estava fechada, curiosa em saber o que estava atrás da porta tentou abrir e por sua sorte estava destrancada.
  Encontrou ali um quarto empoeirado e meio vazio, tinha apenas objetos para pintura como pincéis antigos, algumas tintas e uma tela branca. Surpresa e com uma ideia que acabara surgindo na mente foi até o quarto onde Harry tomava banho.
  – Amor? – chamou pelo mesmo assim que desceu.
  – Estou aqui! – Saía do banho, ainda bastante molhado. O cabelo comprido era jogado pra trás, com os fios pesados e encharcados. Enrolou uma toalha na cintura, respondendo de imediato.
  A recebeu com um sorriso e, um tanto pervertido, imaginando vontades absurdas e descontroladas ao vê-la, aproveitando ao fato de que estava somente com a toalha.
  – Eu estava passeando pela casa e encontrei uma porta que dava no sótão. De quem é aquela tela para pintura? – perguntou.
  – Ah, a tela era da minha mãe, quando morávamos aqui ela adorava pintar.
  – Sério? O que ela pintava? – perguntou interessada.
  – Ela gostava muito de pintar a paisagem daqui, o lago... A casa na árvore, essas coisas.
  – Sabe, você não é o único que possui habilidades, tenho que te mostrar uma coisa. – Sorriu sapeca imaginando a sua reação quando soubesse.
  – Me espera aí, já volto – disse depressa indo buscar os materiais que estavam no sótão.
  Após responder suas perguntas, ficou ainda mais intrigado em querer saber o que ela havia pensado em fazer, mas estava se divertindo com sua empolgação. Logo Sarah voltou para o quarto com os devidos matérias que trouxera consigo da sala esquecida.
  – Posso saber o que senhorita tem em mente? – Observou todo o movimento intrigado.
  – Eu gostaria de te pintar – revelou.
  – Me pintar? E como você gostaria de me pintar, Sarah?
  – Eu não sei. – Sorriu envergonhada. – Não pensei em nada, só iria esperar a inspiração surgir e fazer a mágica acontecer.
  O sorriso um tanto cafajeste e amoroso brotou nos lábios de Harry, passou a ponta da língua somente no inferior, olhando-a enquanto segurava a base da toalha com uma única mão.
  – E o que você acha de me pintar... Nu?! – sugeriu.
  – Acho... Uma ideia interessante, admiro sua confiança. – Riu. – Bom, quer fazer aqui no quarto?
  – Onde você se sentir mais inspirada, meu amor.
  – Tá bem, vamos pra sala.
  Seguindo para a sala, Harry faz total questão de jogar-se no sofá, e posicionava exatamente de frente pra ela. Deixando a toalha de lado, pondo uma das pernas no estofado e o braço direito para trás, deixando o corpo relaxado, assim como o que estava em meio das pernas.
  As tatuagens em seu corpo pegavam a iluminação ideal, refletindo as gotinhas de água do banho recente, a pele um tanto úmida e a animação vindo, pois sentia-se entusiasmado em estar sendo desenhado por sua Sarah, e com isso situações incontroláveis ocorreram durante o período em que pousava pra ela.
  Em meio a sorrisos desajustados, suas feições amorosas eram nítidas, por mais inquietas e safadas que fossem, estava amando ser pintado por ela.
  – Terminei. Gostaria de vê como ficou? – anunciou chamado sua atenção.
  – Sarah, você realmente tem talento! – disse impressionado. – Está idêntico a mim, parabéns, meu amor.
  – Me deixa muito feliz que tenha gostado, estou um pouco enferrujada, mas até que não ficou ruim. – Encarou suas lindas orbes cor de esmeraldas, que naquela luz pareciam mais escuras, Sarah já conhecia aquele tipo de olhar.
  Mesmo nu, estava pertinho dela, e foi se aproximando ainda mais de seu corpo, no estado em que estava, ainda desviando os olhares entre a tela e ela.
  – Está perfeito amor – respondeu sedutor de frente a ela.
  Harry tomou posse de seus lábios, sugando-os com voracidade, o que resultaria em bocas avermelhadas, estava faminto mais uma vez, ele precisava senti-la ali e naquele momento. Sem contestar, Sarah estava se entregando, ela também o queria.
  Sem desgrudar um segundo sequer do beijo, tirou suas roupas com agilidade, ficando de lingerie onde sentia os olhares de Harry devorando-a, percorreu suas mãos por toda extensão de seus músculos perfeitamente desenhados, era como se ele tivesse sido esculpido por mãos divinas.
  Entregue a seus toques, Sarah percebeu que estava em vantagem, era sua vez de ficar no controle. Beijou e lambeu cada percurso de seu peito coberto pelas tatuagens, escutou suspirar quando ameaçou avançar sobre seu membro, mas ao invés disso mordiscou a região interna de sua coxa.
  Seu pênis pulsava de tal maneira que era possível notar as veias saltando dele. Não tinha como resistir aos seus charmes, o modo sugestivo como a olhava, desafiando a ir além dos seus limites era tão sexy, que fez sua vagina molhar de tesão. Habilidosamente abocanhou seu membro, em um vai e vem molhado eficaz, a essa altura Harry explodia de tesão que pronunciava coisas sem sentido, estava em êxtase, sua boca era tão quente e macia, seu gemido preenchia o eco da sala, tornando o ambiente mais sensual.
  – Sarah.... Oh.. Eu vou eu vou! – implorou a mesma entendeu o recado parando em seguida. – Quero gozar olhando em seus olhos, rebola pra mim minha gostosa – ordenou sentando no sofá, Sarah retirou as peças que faltavam e ficou nua, dando uma visão fascinante de suas curvas para ele.
  Encaixando-se em seu colo, seus movimentos eram vagarosas mas intensos, roçando e causando impacto em suas intimidades, rebolou com a ajuda das mãos fortes de Harry em sua cintura, ambos em deleite e gritando de prazer.

(...)

  Deitada sobre o peito de Harry, Sarah fazia desenhos aleatórios em seu peito, perdida em seus pensamentos. Enquanto ele estava de olhos fechados mas ainda acordado, apenas se recuperando da noite quente que tiveram minutos antes. Harry não largou Sarah por um só segundo, com uma mão abraçando sua cintura, enquanto a outra que estava desocupada retribuía o carinho em seus cabelos.
  Ele estava curioso sobre o porquê dela está tão quieta, talvez esteja apenas descansando apenas como ele, ou talvez algo a deixava preocupada.
  – O que tanto você pensa, meu amor? – espiou com um olhar rápido.
  – Minha mãe... – respondeu ainda se distraindo com suas tatuagens. – Sabe, assim que eu soube que minha mãe havia ido embora quando eu ainda estava no hospital, foi um momento muito difícil pra mim, eu me sentir abandonada, descartável... – fez uma pausa para se recompor, ainda a magoava lembrar disso. – Mas desde que eu me recuperei, ela vem tentando se aproximar de mim, mas eu simplesmente não consigo. É difícil pra mim, saber que minha mãe me deixou pra trás e agora ela acha que tudo vai ficar tudo bem entre a gente, só porque eu a perdoei? Mas é como se tivesse um grande buraco em meu peito, entende? Ainda não consigo esquecer o que ela fez.
  – Eu sei que o que sua mãe fez não foi certo, mas agora ela quer recuperar o tempo que foi perdido enquanto você estava lá, eu acho que você deveria seguir seu coração e perdoá-la, ela te ama.
  – Talvez você tenha razão. – Beijou seu ombro como resposta. – Apesar de que agora, a situação é completamente diferente, minha mãe é casada com outro homem e já tem um filho – explicou. – Ela inclusive pediu minha ajuda na festa de um ano dele. A gente poderia ir junto, você iria comigo.
  – Eu... Bem... Sarah acho que ainda não é hora de conhecer sua família. Olha amor, não me leve a mal, mas ainda é tudo muito recente, deveríamos esperar mais um pouco.
  – Eu sei, Mas... Eu gostaria de te apresentar a minha mãe, mesmo a gente não tendo nada sério, e seria muito importante ter o seu apoio nesse dia – pediu na esperança de que ele mudasse de ideia. – Você não quer conhecer minha família?
  – Claro que eu quero conhecer sua família... Só não é a hora certa ainda, meu amor, eu não estou pronto e preciso de um tempo para raciocinar, por favor, espero que entenda e tenha paciência comigo. E também, eles podem nos julgar por eu ser seu médico... mas eu te prometo que poderei conhecer sua família – justificou.
  – Tudo bem – foi tudo que conseguiu dizer, e virou as costas pra ele. – Estou com sono, acho melhor eu dormir, boa noite.
  Sarah se esforçou para mostrar que realmente estava tudo bem, ela não iria chorar em sua frente, seria infantil de sua parte. Mas acontece que, diante de sua declaração, só conseguia lembrar de Zayn, uns dos motivos de suas brigas era o fato de ele querer assumir seu relacionamento mas ela sempre o negava, e nesse momento ela entendia perfeitamente sua dor. E como doía.
  Como ele tem coragem de pedir paciência e tempo? Quer mais prova de amor e certeza dos sentimentos dela do que esses dias que passaram juntos? Ela não conseguia entender, tentava cogitar as possíveis explicações para Harry não querer um relacionamento com ela mas nada parecia justificável.
  – Eu quero que nossa relação dê certo tanto quanto você, eu te amo mas ainda não me sinto preparado. – Beijou a curva de seu pescoço.
  Sarah não disse nenhuma palavra, apenas consentiu com a cabeça e começou a ouvir a suave voz de Harry em seu ouvido cantando pra ela.

Verdadeiramente, loucamente, profundamente, eu estou
Totalmente, completamente apaixonando por você.

  Os dias passaram em um piscar de olhos, a semana na casa do lago havia chegado ao fim, Harry fez questão de levá-la em casa. Desde a conversa que tiveram na última noite, Sarah não deu nenhuma palavra durante a viagem, apenas para dizer o cordial, ele sabia o motivo. Por estar envergonhado, a única atitude que se tornou coerente para ele foi travar o carro, antes que Sarah saísse.
  – Antes de você ir embora, eu só queria dizer que sou muito grato por esses dias que esteve comigo, obrigado por fazer desses dias os melhores da minha vida, eu te amo. – Beijou gentilmente sua bochecha.
  – Eu também, só tenho a agradecer. – Sorriu e parou para refletir. – Sobre ontem, quando me calei, eu quero que você saiba que eu te amo Harry, e é por causa desse amor que eu irei respeitar seu tempo, para quando estiver pronto estarei te esperando de braços abertos para ficarmos juntos.
  Beijou carinhosamente sua mão que estava entrelaçada com as suas. Ouvir aquela declaração só acendeu mais ainda a chama do amor de Harry por ela, havia uma esperança de que no fim tudo acabaria bem, e que já estava mais do que na hora de ele tomar sua decisão, ele não deixaria sua garota esperando por muito tempo.
  – Logo poderemos gritar para o mundo que somos o casal mais feliz de todos – garantiu selando seus lábios.
  Harry estava bastante confiante e feliz, as peças do quebra cabeça finalmente iriam se encaixar e tudo ficaria bem no final das contas. Sarah o amava e o compreendia, ele não perderia a chance de finalmente poderem ser um casal, ele não quer perder a sua confiança. Ele estava decidido a tomar a decisão certa dessa vez, independente das consequências, ele ligaria para Elizabeth e contaria toda a verdade, ele não podia e nem queria viver essa mentira por mais tempo.
  Abriu a porta de casa e quase caiu duro no chão, tamanho foi seu susto.
  – O que... Como... O que está fazendo aqui? – Arregalou os olhos.
  – Eu voltei amor, voltei finalmente para você. – Elizabeth correu para seus braços.

Capítulo 14

  Harry ainda estava tentando assimilar o que estava acontecendo, o que sua noiva estava fazendo em seu apartamento? Ele nem se deu conta da ausência dela nos dias anteriores, era como se ela realmente não estivesse ali.
  – Eliza? O que tá fazendo aqui? – repetiu confuso.
  – Oi pra você também, meu amor! E, respondendo sua pergunta, eu voltei para o aniversário de um ano do meu sobrinho e voltei pra ficar com você!
  – Eu não estava sabendo de aniversário algum, e quanto aos seus estudos na França?
  – Harry, eu já terminei o curso, já se passaram dois anos! E quanto ao aniversário, eu queria que minha chegada fosse surpresa. – Com toda certeza, Harry estava surpreso, e não estava feliz.
  – Me desculpe, mas não posso continuar com isso – disse sincero.
  – Por que não, Harry? Agora temos todo tempo para ficarmos juntos! – Aproximou-se para abraçá-lo, mas o mesmo recuou.
  – Eu traí você, Elizabeth. – Harry viu as lágrimas surgirem em sua face, ela sorriu triste e piscou os olhos algumas vezes para se recompor.
  – Harry... Olha, não vou dizer que estou surpresa com isso, eu já imaginava, você não falava comigo com tanta frequência, não nos víamos há dois anos, não posso te culpar por isso, e eu quero te dizer que eu te perdoo, podemos voltar a ser o que éramos antes, meu amor.
  – Não... Não podemos. Eu não te amo, Eliza, nunca amei, eu só aceitei ser seu noivo por respeito às nossas famílias e porque você cuida de mim, mas nunca foi recíproco, e agora eu amo outra pessoa. No fim das contas, eu que peço perdão.
  – Harry, não podemos jogar sete anos de relacionamento no lixo, não desse jeito, é só uma fase ruim, todos os casais passam por isso, logo tudo voltará a ser como era antes! – tentou incentivar.
  – Não, Eliza, nunca vai ser como antes, você não entende? Você merece alguém melhor, que possa cuidar de você e que te ame como eu não fui capaz de fazer. Não podemos mais continuar juntos. – Segurou em seus braços delicadamente, para acalmar sua agitação. – Me desculpe.
  Sem ter outra saída, Eliza entregou-se ao choro preso na garganta. Harry a tomou em seus braços, compartilhando seu lamentar, ela era uma ótima garota, não merecia sofrer daquele jeito, mas o fim era necessário para que novos caminhos se abrissem, para os dois.
  – Tudo bem, Harry... – Enxugou as lágrimas afastando-se dele. – Mas posso te fazer um último pedido?
  – Claro. – Ele não poderia negar, devia isso a ela, em consideração a todos os anos que viveram juntos.
  – Por favor, ao menos vá comigo para a festa do meu sobrinho, não quero que minha família saiba que terminamos nosso noivado em um momento tão feliz para eles, principalmente para Niall.
  – Compreendo perfeitamente, eu lhe farei companhia.
  – Muito obrigada, Harry, agora acho melhor eu ir embora. – Pegou a bolsa e evitou encarar seus olhos mais uma vez, ou voltaria a chorar. – Te vejo no sábado.
  – Até sábado. – Acompanhou até a porta. Por incrível que pareça, Harry não estava tão satisfeito como imaginava que ficaria, era como se ele também saísse perdendo nessa situação.

(...)

  Dentro de casa, Sarah se deparou com seu pai no sofá, ele segurava um papel e uma garrafa de bebida na outra mão. Seu pai só bebia por dois motivos: quando estava estressado ou com raiva, analisando rapidamente ele parecia bravo.
  – Oi pai. – Recolheu sua bagagem indo em direção ao quarto.
  – Sarah! Onde você estava? – perguntou a seguindo.
  – Viajando. – Continuou desfazendo a mala, de costas pra ele.
  – Você não disse para onde iria e muito menos com quem iria, você me deixou preocupado, Sarah.
  – Não precisa se preocupar pai, eu estou bem, e muito feliz, por sinal.
  – Já que você não quer me dizer, tudo bem. Não irei te obrigar. – Quando fez menção de sair, a filha perguntou.
  – O senhor está bem? Pelo visto não, está bebendo essa hora da manhã – reclamou.
  – Na verdade, recebi uma carta muito estranha essa manhã. – Adentrou finalmente, sentando na poltrona do quarto.
  – Como assim?
  – Um oficial de justiça me entregou isso hoje pela manhã. – Dylan estendeu o papel para que a filha o pegasse.
  – O Senhor Dylan Poesy está sendo intimado a comparecer para petição de alimentos de Jordan Allen – leu em voz alta. – Acho justo.
  – Como justo? Serei obrigado a pagar pensão a uma criança que nem sequer conheço! – diz impaciente.
  – Tem certeza, pai? O sobrenome Allen te faz lembrar alguém? – instigou cínica.
  – Claro que não! Não devo me lembrar de ninguém! – foi sua palavra final.
  – Você é tão nojento! – gritou irritada – Eu sei de toda a verdade.
  – O quê? Do que você está falando, Sarah?
  – Você e Lea tem um filho! – Dylan ficou desconfiado, sem querer acreditar que ela realmente sabia ou estava apenas blefando. – Ainda vai continuar fingindo que não sabe de nada, papai?
  – Aquele garoto não é meu filho! É apenas um bastardo que veio pra atrapalhar minha vida. – Levantou quase aos tropeços, ficando de frente a ela.
  – Como você pode ser tão insensível? Ele tem seu sangue, é meu irmão, ele só é uma criança, se ele existe é por sua culpa, então trate de reconhecer que ele é seu filho – respondeu incrédula.
  – Olha, Sarah, você não deve me dizer o que fazer, eu sou seu pai! – Exigiu autoritário. Ela não iria mais continuar com aquela discussão, seu pai estava bêbado mas ela sabia que ele não mudaria de opinião quanto a isso.
  – Quer saber? Eu sou a favor dessa pensão, você é meu pai e o dele também, então haja como homem, enquanto estiver sendo esse babaca você irá me perder. – Recolheu as roupas que ainda restavam pra dentro da mala outra vez. – Eu não vou mais ficar nessa casa, você é tóxico.
  – Você está insinuando que sairá de casa? – Avançou indo atrás. – Pois tudo bem, Sarah, você já é uma mulher, faça o que bem entender!
  – Você é um monstro – foi a última coisa que disse antes de ir embora, dessa vez, para sempre. Ainda do lado de fora, pôde escutar o urro de Dylan e o som de vidro sendo quebrado. Não se comoveu, tudo que ela precisava era sair o mais rápido daquela casa.

(...)

  Ao ouvir batidas desesperadas em sua porta, Becca correu para atender, deparou-se com sua amiga em lágrimas, não pensou duas vezes em colocá-la pra dentro, Sarah precisava de consolo.
  – O que aconteceu? Por que tá chorando? – perguntou preocupada.
  – Meu pai, ele é uma pessoa horrível. – A abraçou com força, como se a melhor amiga fosse seu refúgio.
  – O que ele fez dessa vez?
  – Ele está negando assumir a paternidade do meu irmão. – Becca fez uma cara ainda mais confusa – Meu pai teve um filho com a empregada.
  – Eu não posso acreditar. Você deve estar arrasada, amiga.
  – Eu saí de casa, não quero mais voltar, ele é um imundo. Posso ficar por uns dias?
  – A casa é sua, Sarah, poderemos ficar juntas, como antes.
  – Obrigada, de verdade – agradeceu subindo as escadas para o quarto de hóspede.
  – Sarah, eu sei que está passando por um momento delicado, mas preciso te contar uma coisa que venho guardando a dias.
  – Por favor, me diz que não é uma notícia ruim.
  – É sobre o Harry…
  – Como assim? O que tem ele?
  – O que eu tenho pra te dizer não é fácil, mas você precisa me escutar. Sarah, eu ouvi uma conversa do Harry e ele tem uma noiva.
  – O quê? Isso é impossível! Estávamos juntos durante a semana passada, ele não iria mentir pra mim.
  – Sarah, ele não passa de um grande mentiroso, você precisa acreditar em mim!
  – Mas o que você diz é estúpido! Harry não é comprometido, você que tem ciúmes dele desde o início e fica nessa implicância.
  – Sarah, você está cega novamente, não deixe que as coisas aconteçam como foi com o Zayn!
  – Do que você tá falando?
  – Você está fazendo tudo novamente, você está deixando de acreditar em mim, deixando sua amiga de lado para viver uma mentira que novamente eu estou tentando te alertar!

  – Eu não acredito que você foi capaz disso! – disse Sarah chamando sua atenção.
  – Me deixa em paz, Sarah. – Becca simplesmente deu as costas e voltou a fumar com o grupo.
  – Então é desse jeito que você acha que vai resolver as coisas? Cadê a sua maturidade agora?
  – Acho que você deve escutar sua mamãe, Becca – zombou uns dos garotos que também estava fumando no estacionamento.
  – Cala a boca, Greg. – Revirou os olhos e se distanciou do grupo, voltando a sua atenção só pra ela. – E você, não comece com seu showzinho de hipocrisia, você não se importa comigo.
  – Eu não me importo? – disse Sarah sem acreditar – Você é minha melhor amiga, não consigo pensar outro motivo para estar fazendo isso, mas te conheço o suficiente para saber que você não faria essa burrada por causa do nosso namoro.
  – Sim, é por causa dele, o Zayn não tá namorando só com você! Ele namora várias ao mesmo tempo na faculdade, porque é tão difícil de entender? Você acha que eu iria mentir pra você? – Tragou mais uma vez.
  – O que você quer de mim? Por que não aceita que estou com ele e para com essas histórias absurdas? – disse desesperada. Becca riu nasalado.
  – Ele sempre vai está em primeiro lugar pra você, não é? Então o Zayn apareceu na sua vida e você não enxerga mais nada a sua frente? Se não acredita no que eu digo então também não tem o direito de cobrar nada de mim!
  – Então continue com seu joguinho estúpido, mas você não vai me levar junto com seus problemas – respondeu furiosa e deixou pra trás a amiga, que continuou com o grupo como se nada tivesse acontecido.


  As lembranças a invadiram sem qualquer aviso, a acertando em cheio com fortes dores de cabeça, as vozes e as cenas surgiam enquanto conversavam.
  – Não. Não o meu Harry, ele é diferente! – gritou, para provar de que estava errada sobre ele.
  – Ele não é diferente, Sarah, ele é ainda pior que Zayn!
  – Não, não pode ser verdade. – Tropeçou nas próprias pernas e quase se desequilibrou.
  – Sarah, você tem que entender que só eu cuidarei de você quando você se machucar, assim como foi da outra vez, nem Zayn muito menos Harry cuidaria de você como eu!
  – Cuidar de mim? Por que tá falando isso? – Sua cabeça estava fervendo, outra vez mais uma memória.

  Estava tudo desmoronando, não sabia o que exatamente me deixava assim, a solidão tinha tornado minha companheira, ninguém me compreendia e ninguém percebia, era como se minha existência fosse inútil, e que só existia um jeito de acabar com o que eu estava passando.
  Não sei ao certo quando começaram os sintomas, eles simplesmente apareceram e tomaram toda a esperança que eu tinha. Talvez tenha sido a falta de comunicação entre meus pais, ou o estresse da vida no colegial, mas eu não conseguia expressar corretamente para buscar por ajuda, e no fim sufoquei com minhas próprias inseguranças.
  Engoli todos os compridos de uma só vez, talvez se tomasse todas na mesma quantidade que minhas dores o efeito fosse mais eficaz, já havia se tornado um hábito, toda vez quando esse sentimento me atingia tomava os remédios e logo sentia-me mais calma e aquela sensação ia embora, por um tempo.
  Meu corpo foi amolecendo, nem senti a dor do impacto ao cair no chão do banheiro da escola, estava dopada e em êxtase, ainda estava consciente quando comecei a convulsionar e quando tive a sensação de ter quase o coração sendo arrancado para fora do peito, mas não tinha como voltar atrás, e nem voz para pedir por ajuda.
  Aceitando minhas condições, me entrego fechando os olhos.
  – AI MEU DEUS! – alguém grita. – ALGUÉM ME AJUDA!


  – Quem estava lá com você no hospital quando sofreu overdose? Onde estava o Zayn? Me diz, Sarah!

  – Me desculpa – era tudo que conseguia dizer a cada minuto sem parar chorar.
  – Eu não entendo, por que fez isso? – perguntou Becca, também emocionada.
  – Eu não sei... Só senti que precisava fazer…
  – Foi por causa do que eu falei sobre você e o meu primo? Eu não queria te deixar magoada, me perdoa, eu nunca mais vou fumar ou brigar com você de novo, não posso ficar sem você.
  – Não foi sua culpa, só por favor... Não conte nada do que aconteceu ao Zayn, não sei como ele pode reagir. E nós não estamos em nosso melhor momento.
  – Eu não vou. – segurou sua mão.


  – Você... – Agora tudo estava claro, toda a verdade. – Você prometeu que não iria contar, e me traiu!
  – A culpa foi sua pelo acidente do Zayn! – Sarah acusou.
  – A culpa foi sua, Sarah! Você foi a única culpada, você causou tudo isso!
  – Minha culpa? – Riu incrédula. – Foi você que destruiu tudo, que fez o Zayn perder o controle do carro e agora quer destruir a única felicidade que me resta!
  – Você fez com que o Zayn perdesse o controle do carro, você causou toda a situação, ele morreu por sua culpa! E você nunca vai entender que não será feliz ao lado de Harry! Ele não passa de um mentiroso que só quer te usar!
  – O QUE VOCÊ QUER DE MIM? – esbravejou Sarah.
  – EU QUERO QUE VOCÊ ENTENDA, SARAH, QUE EU TE AMO! SÓ EU POSSO TE FAZER FELIZ SEM TE MAGOAR COMO TODOS ELES!
  – Eu vou embora, você está ficando louca. – Recolheu suas coisas.
  Depois da briga Sarah não teve outra pessoa para recorrer que não fosse sua mãe, sua memória havia finalmente voltado, tudo estava claro e as peças do quebra cabeça se encaixavam. Pegou seus pertences e seguiu para o aeroporto onde iria mudar sua rota mais uma vez, ligou para Eva e contou tudo o que aconteceu e pediu por ajuda. Sua mãe e o padrasto foram bastantes compreensíveis ao recebê-la, era estranho o fato de Niall ser seu padrasto sendo que eles têm a mesma idade, mas Niall fora tão generoso e simpático que a mesma deixou seu preconceito de lado.
  – É um prazer te conhecer, estávamos esperando por sua chegada – comentou com Theo no colo.
  – Prazer em conhecê-lo, Niall – disse gentil. – Esse é meu irmão?
  – Sim – disse sua mãe. – Gostaria de carregá-lo?
  – Eu posso?
  – Claro que sim – respondeu Niall a entregando a criança.
  O garotinho de início ficou olhando fixamente pra ela, nitidamente confuso com o novo membro da família.
  – Oi Theo, tudo bem? – perguntou amigável.
  – Bem – repetiu.
  – Ele já sabe falar? – perguntou curiosa.
  – Ele repete algumas palavras, não sabe falar corretamente ainda – explicou sua mãe.
  – Acho que ele gostou de você, ainda não chorou nos seus braços – brincou Niall.
  – Que criança mais dócil, ele é lindo – comentou Sarah ao abraçá-lo e ser correspondida.
  – Por sorte, ele ainda não dá muito trabalho, só às vezes na hora de dormir, tirando isso você irá amá-lo – disse a mãe.
  – Eu já o amo. Você ama sua irmã, Theo? – brincou Sarah.
  – Amo – balbuciou fazendo alegria a todos.

(...)

  Enquanto preparava o novo quarto que iria hospedar, Sarah lembrou de Harry e de que deveria contar sobre os últimos acontecimentos e saber como ele estava, pegou o aparelho no bolso e discou seu número.
  – Harry?
  – Sarah... Oi.
  – Como você tá, tudo bem por aí?
  – Bem... Estou sim... Tá tudo bem, e com você?
  – Estou bem, confusa mas bem, minhas memórias voltaram.
  – Sarah, isso é ótimo, estou muito feliz por você.
  – Deveria estar me sentindo bem com isso, mas não consigo, eu descobri coisas terríveis com a volta da minha memória, eu só preciso de um conforto. – A vontade de chorar estava presa na sua garganta.
  – O que aconteceu, meu amor? Quer que eu faça uma visita mais tarde?
  – Não vai dar, não estou em Portland.
  – C-como assim não está?
  – Eu estou na casa da minha mãe, na Irlanda, vou passar alguns dias com ela, eu briguei com meu pai e minha melhor amiga, eles... são uns monstros.
  – Sarah... Eu sinto muito, com certeza precisamos conversar o mais breve possível, mas será que poderíamos conversar em outro momento? Meu plantão começa agora.
  – Claro tudo bem, promete me ligar?
  – Sim, ligarei depois.
  – Ok, Harry.... Eu te amo.
  – Eu também te amo... fique bem. – Finalizou a chamada.

(...)

  Com os dias que passou na casa de sua mãe, Sarah teve a chance de conviver e conhecer um pouco sobre a rotina dela, a correria do dia a dia, sendo mãe, esposa e arquiteta ao mesmo tempo e todo o esforço que ela mantinha para se manter presente na vida deles, do marido e filho, tinha esquecido do quanto admirava sua mãe. A maior parte do tempo quem cuidava do bebê era Niall, pois seu trabalho não exigia muito dele, então por conta disso ele podia ter mais tempo com a criança, ele não sentia nem um pouco obrigado ou insatisfeito, ao contrário, ele parecia muito feliz em ficar com Theo. Durante os dias que Sarah ficou hospedada, a babá do Theo foi dispensada temporariamente, pois como a mesma havia dito, gostaria de conhecer mais sobre o novo irmão e cuidar dele. Theo era uma criança adorável e amorosa, estava sendo uma experiência incrível descobrir mais sobre sua personalidade e passar o tempo com ele.
  Seu pai não dava notícias desde que saiu de sua casa, talvez ele tenha tomado uma postura madura comparecendo ao juiz, ou ele simplesmente deveria estar foragido, o que ela achava mais provável. Harry ligava para ela todas as noites, sentia falta dele e estava ansiosa para vê-lo, mas ela tinha prometido a mãe que ajudaria na festa do seu irmão. Sarah notou que Harry agia estranho ultimamente, como se estivesse preocupado ou estressado com algo que o incomodava. Sim, ela o conhecia o suficiente para perceber, ele apenas dizia que eram problemas familiares mas que quando eles conversam tudo melhorava, ela queria acreditar que sim.
  Sua mãe estava muito empolgada e feliz com a comemoração do primeiro aniversário do Theo, estava estampado em sua face e, por incrível que pareça, Sarah compartilhava do mesmo sentimento, não imaginava que em uma semana estaria tão apegada e apaixonada pelo irmão mais novo. Toda a decoração, cada detalhe, havia sido pensado e planejado por ela, e estava maravilhoso. O tema escolhido para a festa, período Jurássico, foi de acordo com os gostos do pequeno garoto, onde ela descobriu sobre suas paixões por dinossauros ao assistir desenhos com ele, o resultado final a deixou orgulhosa.
  — Não tenho palavras para descrever o quanto eu amei! Muito obrigada, filha, de todo meu coração — disse sua mãe ao abraçá-la.
  — Não fiz nada demais, você merece. — Sorriu de volta.
  — Os convidados estão chegando, vou ficar ao lado do Niall e recebê-los. Estou bem? — Deu uma volta para mostrar sua roupa de mulher das cavernas.
  — Engraçada, mas perfeita, quero registrar várias fotos disso para quando o Theo crescer. Ele vestiu a fantasia de dinossauro, certo?
  — Sim, todos estamos a caráter, deveria vestir a sua fantasia também.
  — Não, estou bem obrigada. — Riu da situação. — Mas não posso receber ninguém fedendo desse jeito, vou tomar um banho e desço.
  — Vou te esperar lá embaixo — gritou de volta.
  Enquanto escolhia suas roupas para a festa, Sarah sentiu seu bolso vibrar, sorriu ao ver que era Harry ligando.
  — Oi amor.
  — Oi meu bem, como você está?
  — Um pouco ocupada, escolhendo roupas para o aniversário e você?
  — Estou indo pegar um avião agora.
  — O quê? Como assim? — Parou o que estava fazendo para ouvir melhor.
  — Estou indo para Irlanda, na verdade estou indo a trabalho, vou ficar apenas 2 dias para uma palestra, mas poderíamos voltar juntos para minha casa. Talvez diga que estou acelerando as coisas, mas se olhar por outro lado, você não iria ter que ficar longe das coisas que gosta, nem dos seus amigos, nem do seu trabalho, e claro eu vou sair ganhando porque vou ter você morando comigo. É uma ideia muito ruim?
  — Não amor, é uma ideia maravilhosa — disse emocionada. — Eu aceito morar junto com você, aceito ir pra qualquer canto com você.
  — Estou aliviado em ouvir isso vindo de você, amor. — Suspirou e logo em seguida riu descontraído. — Não me sinto tão tolo por você quando concorda comigo.
  — Hazz... seu bobo, meu bobo. — Sorriu apaixonada.
  — Irei embarcar agora, preciso desligar, eu te amo.
  — Eu também te amo, me mantenha informada.
  — Te vejo em breve. – Fim de chamada.

(...)

  Os convidados chegaram e logo sentaram nas mesas indicadas com seus nomes, Niall tinha uma família grande, por parte de sua mãe, apenas seus avós e Sarah estavam presentes, todos pareciam se divertir e os doces e salgados personalizados estavam irresistíveis. Logo após, Niall apareceu pedindo para que sua mãe o acompanhasse até a porta para que ela conhecesse sua cunhada que estava viajando fora a estudos. Sarah não se importou muito, continuou comendo os doces e confirmou pela milésima vez que sua mãe estava bonita para conhecer a cunhada, desejou sorte e mandou beijo para o Theo no colo do pai.
  Com a mão livre mandou mensagem para Harry, perguntando se já havia chegado, tentou esquecê-lo um pouco, afinal ele deveria estar ocupado e voltou a curtir as músicas infantis e as crianças correndo por todo o quintal, primos e alguns filhos, parentes do Niall.
  — Gostaria que conhecesse minha filha. — Ouviu a voz de sua mãe se aproximar, ainda de costas, Sarah pegou prontamente o guardanapo para limpar as gorduras dos dedos e cumprimentar quem fosse.
  — Olá, tudo bem? — Uma garota linda de olhos azuis, semelhante a Niall estendeu sua mão direita. — Sou Elizabeth.
  — É um prazer te conhecer, sou Sarah. — Correspondeu ao aceno.
  — Sua filha lembra muito você, Eva. Quando mencionou que tinha uma filha não imaginei que fosse tão grande – comentou para descontrair.
  — Sim, ela já é uma mocinha. — Entrou na brincadeira. — Filha, essa é minha cunhada, se importa se ela e o noivo sentarem aqui?
  — Claro, a casa é de vocês — disse receptiva, mas notou que a garota estava sozinha. — Ele está a caminho?
  — Oh, ele deve ter ido ao toalete, Harry sempre tira água do joelho quando chega das viagens, como se fosse algum tipo de marcação de território. – Riu, sentando à mesa.
  — Bom, preciso receber os outros convidados, volto em alguns minutos – avisou Eva.
  — Seu noivo se chama Harry? – tentou puxar assunto com a garota. – Que legal, esse é o nome do meu namorado também! – disse empolgada.
  — Que coincidência! — Sorriu simpática. — Então, sua mãe me contou sobre a decoração, parabéns pelo bom gosto, está adorável.
  — Obrigada, me inspirei em algumas postagens da Internet, nada em especial. – Riu e seu celular vibrou avisando uma mensagem. — Falando nele, acabou de me avisar que chegou de viagem.
  — Ele vai se juntar a nós para a festa? — perguntou curiosa.
  — Não, infelizmente. Harry, é muito ocupado, talvez ele passe aqui amanhã, vou guardar alguns salgados para quando ele chegar.
  — Que fofa, com meu noivo não é muito diferente, somos muito ocupados mas espero continuar mantendo nosso amor por mais tempo, apesar de nossas diferenças.
  — Desejo felicidades a vocês, ele deve ser muito importante pra você para continuar firme ao lado dele, hoje em dia é tão difícil encontrar alguém disposto a cuidar um do outro.
  — Eu entendo perfeitamente — disse bebendo o suco, mas logo fez uma pausa para acenar para alguém. — Aí está ele.
  Sarah continuou de costas para não parecer tão intrometida, afinal ele iria se juntar a mesa. Mas algo estava familiar demais, quando o rapaz se aproximou ela jurou que o perfume dele era tão semelhante ao do seu Harry que seu coração acelerou.
  — Estávamos falando sobre você, amor – comentou Elisabeth levantando para roubar um beijo, Sarah desviou da cena para não ser invasiva, apesar de estarem atrás dela.
  — Eva disse que poderíamos sentar nessa mesa, com a filha dela. Sarah, esse é meu noivo Harry.
  Quando a garota levantou e virou para cumprimentá-lo quase caiu dura no chão, o sorriso que antes estampava no seu rosto dera lugar para uma feição completamente confusa, não poderia ser real, Elizabeth o abraçava como um troféu valioso, o que seu Harry estava fazendo aqui e com a irmã do Niall?
  — Harry...? — disse decepcionada.
  — Sarah — respondeu claramente espantado, tão confuso quanto ela.
  — O que você... E ela? – Sua visão começou a embaçar devido às lágrimas que desciam livremente.
  — Vocês se conhecem? – questionou Elizabeth.
  — Não....eu não a conheço — mentiu e, no momento das emoções a flor da pele, Sarah desferiu um tapa no rosto dele, chamando atenção de quem estava ao redor.
  — Você! — Apontou o dedo para ele com tamanho desprezo e decepção. — Você é tão imundo quantos os outros. Eu não vou continuar mais um segundo aqui.
  — Sarah, por favor, me deixa explicar. – Aproximou-se da garota que recolhia sua bolsa da mesa.
  — Não encosta em mim! – gritou. – Você não me conhece, esqueceu?
  — Por favor, me perdoa — disse atordoado, Harry estava sem reação e não soube como agir, ele não imaginaria que chegariam a esse ponto, ele não teria como se preparar para aquilo.
  — O que está acontecendo aqui? – Niall apareceu em meio a confusão.
  — Estou indo embora, não estou me sentindo bem. — Limpou as lágrimas.
  — Filha, o que houve? – Sua mãe surgiu preocupada.
  — Eu estava vivendo uma mentira, eu cansei, cansei de tudo! — gritou e correu em direção a saída.
  — Alguém pode me explicar o que está acontecendo? – repetiu Niall. Harry correu atrás dela, ignorando todos, ele só se preocupava com uma pessoa, ele precisava ir, ou a perderia para sempre.
  — Sarah, por favor espera! – pediu ofegante, ela não olhava pra trás, corria sem parar. — Por favor, em consideração ao nosso amor, ouça o que tenho a dizer.
  — Consideração? — Sarah parou de correr por um momento para respirar, e começou a gargalhar. — Logo você, Harry? Cobrando por consideração?
  — Eu sei que está confusa, com raiva e decepcionada, mas por favor ouça o que tenho a dizer.
  — Não temos nada para conversar! – esbravejou. – Você mentiu pra mim, enganou ela também!
  — Não, não é o que está pensando amor, não estamos mais juntos – tentou explicar, mas parecia complicar a situação ainda mais. — Ela não significa mais nada pra mim, você é o amor da minha vida!
  — O engraçado é que quando me chama de amor, eu sei que não sou a única. – Sorriu triste. — Sabe o que é pior? Eu confiava em você, acreditava que você nunca me magoaria, mas eu me enganei.
  — Eu sei que cometi alguns erros, mas tudo que eu fiz foi por medo de te perder, poderia ter feito diferente, mas se eu tivesse feito outras escolhas não teria conhecido você. Entende porque é tão difícil te deixar? Você não é apenas um amor, você é o amor. Por favor, lembre do que vivemos até aqui, não me…
  — Eu não quero conversar sobre o que vivemos, não há mais nada a ser dito. – Virou de costas, voltando a caminhar.
  — Onde você vai? — Harry alcançou seus passos.
  — Ficar bem longe de você!
  — Isso não é justo! – gritou em resposta, indignado.
  — Injusto? – Riu debochada. – Injusto foi o que você fez comigo! Magoou meu coração sendo que poderia fazê-lo feliz.
  — Então é assim? Você simplesmente vai embora, e a gente finge que nada aconteceu?
  — Você quis assim, Harry.
  — E quanto ao nosso amor?
  — Acabou.
  — E amor acaba?
  — Não sei, mas esse acabou. – Sarah estendeu a mão para chamar um táxi.
  — Talvez não tenha acabado. — Tentou convencer, mas tudo que Sarah fez foi parar a porta do carro e olhá-lo pela última vez.
  — Talvez não fosse amor. — Ele não soube o que mais poderia fazer, não queria desistir mas também não sabia como insistir.

Epílogo

  Acordo sozinho em um quarto de hotel, sonhando com ela outra vez, em meio aos meus devaneios pergunto-me onde você deve estar, Sarah? Angustiado e sem respostas, tento voltar a dormir.
  Na manhã seguinte, fiquei bêbado ao meio-dia, nunca me senti tão desleixado, não nos falamos desde quando você foi embora, o silêncio se tornou confortável e isso é tão superestimado. Sinceramente, não sei como vou fazer para continuar minha vida, se o amor que morreu nela ainda vive em mim.
  Meus amigos e minha família dizem que eu devo seguir em frente, eles acham que eu tenho tudo, mas estão enganados, porque eu não tenho nada sem você.
  Observo o quadro pendurado na parede do meu quarto, aquele quadro que fizeste de mim, que fiz questão de emoldurar para que eu pudesse lembrar dos nosso último momento juntos, assim como a nossa foto que guardo em minha carteira.
  Por que você não pode ser a primeira a ceder? Durante esses dois anos eu nunca deixei de te procurar, mas parece que não quer ser encontrada, até meu telefone sente falta das suas ligações.
  Eu encontrei Niall uns dias atrás, e me precipitei em perguntar sobre você, ele disse que você estava bem, foi tudo que conseguir saber.
  Eu vi estampado no rosto dele decepção e desprezo, novamente o silêncio torna-se adequado. Por que nunca dizemos o que queremos dizer? Sem dar mais uma palavra, seguimos nosso caminho.
  Acordei ao lado de uma garota que parecia com você, Sarah, quase eu disse seu nome. Por alguns instantes eu queria fugir de dentro de mim e desaparecer, para bem longe disso tudo, mas ainda tenho esperanças de que você volte.
  Talvez um dia você me ligue e me diga que você também sente muito, mas você nunca liga.
  – Chega! Eu não posso mais permitir isso – diz Gemma na mesa de jantar. – Você não pode continuar desse jeito.
  – Gem, talvez ainda não seja o tempo dele – continua minha mãe.
  – Eu ainda estou aqui – avisei.
  – Nós estamos preocupados com você, meu filho, você mudou e não está nada bem.
  – Eu estou bem. Não precisam se preocupar. – Volto a comer.
  – A gente poderia sair mais tarde – sugere minha irmã. – Ir no bar, distrair a mente, Liam disse que chegou uma nova colega de trabalho, poderíamos dar boas vindas a ela.
  – Eu não quero me envolver com ninguém, não quero repetir o que fiz com Elizabeth.
  – Gem, filha, eu concordo com o Harry – diz minha mãe. – Cada pessoa tem seu tempo para se recuperar, essa é uma decisão que só ele pode tomar.
  Depois o nosso jantar, volto pra casa a pé. No caminho deparo-me com a floricultura onde costumava comprar, o mesmo lugar onde ela trabalhava e as lembranças só me fizeram me sentir pior, lembrar de você ainda dói. Mais uma vez, entrego-me as bebidas e volto pra casa com ajuda do meu amigo, Louis.
  Dias depois, minha mãe me leva para a livraria comprar livros novos, ela diz que preciso aquecer um pouco esse coração solitário, acho que agora você entenderia o porque eu acredito em histórias de amor. Caminho ao redor, observando despretensioso, explorando, até que um livro chama minha atenção, “o que o sol faz com as flores”, interesso-me pelo título.
  Quanto mais eu avançava as páginas mais me identificava com o livro, de alguma forma era sobre a gente, nas linhas era possível notar as semelhanças. “Contei para as flores o que faria com você e elas se abriram.” De alguma maneira, esse livro me fez sentir próximo de você, voltar no tempo, quando te conheci.
  Quando soube que a minha nova autora favorita estaria nas proximidades para sessão de autógrafos, não pensei duas vezes em comprar as passagens para a oportunidade de conhecê-la e enaltecer seu trabalho.
  O lugar estava lotado, como esperado, em meio ao aglomerado de pessoas alguém se esbarra acidentalmente em mim, uma garotinha correndo pelo corredor que tropeçou em meus pés, ajudei a se levantar no exato momento que sua mãe surgiu.
  – Darcy! – diz ofegante. – Por favor filha, sem correr, e não solte minha mão de novo ok?
  Era ela, depois de dois anos sem notícias, Sarah estava diante de mim e sinto que quase meu coração parou de bater.
  – Sarah? É v-você mesmo? – Repreendo-me internamente por gaguejar na frente dela.
  – Styles? – Encara-me por breves segundos para me reconhecer. – Minha nossa, quanto tempo!
  Ela me abraça, e por um instante traz todo o conforto que eu precisava apenas com aquele simples toque, e quando nos separamos, tento disfarçar minha insatisfação por me afastar dela.
  – Que coincidência, também veio para sessão de autógrafos?
  – E-eu... bem, sim, você também? – Outra vez me atrapalho com minhas palavras.
  – Sim! Não poderia perder essa chance, ela é minha autora favorita. – Ela sorri, ainda continuava sendo meu sorriso favorito.
  – Mamãe, eu tô com sede.
  Saindo do transe, meu olhar foca na criança que estava entre nós. Ela disse mamãe?
  – Sua filha? – digo surpreso, bastante abismado.
  – É – confirma feliz. – Essa é a Darcy, diz oi, filha.
  – Oi – diz tímida entre as pernas da mãe.
  – Uau, você é mãe, meus p-parabéns. Então você está casada?
  – Não, sou uma mãe solteira. – Ri como se o que eu havia falado fosse uma piada. – Vamos, a fila começou a andar.
  – Sarah... será que podemos conversar um pouco, mais tarde? – pergunto rápido antes que ela fosse embora.
  – Por mim tudo bem, mas depois do meu autógrafo. – Sorriu e automaticamente sorri de volta.
  Ela estava tão linda, os cabelos castanhos nos ombros lhe caiam perfeitamente bem, seu sorriso contagiante só me fez contestar que não importa quanto tempo ficássemos longe um do outro, sempre iria me apaixonar como se fosse a primeira vez. Após conseguirmos nossos autógrafos, Sarah ficou tão empolgada que me deixou feliz sua animação, concordamos em ir dar uma volta na praia, comprei um sorvete para a pequena Darcy, que se deliciou lambuzando-se. Sentamos nas escadas que davam em direção a praia enquanto víamos a garotinha molhar os pés no mar.
  – Então.... como tem sido os últimos anos? O que tem feito? – perguntei curioso.
  – Bem, eu estou trabalhando em uma editora de livros infantis, sou ilustradora, e nas horas livres pinto quadros para vender na Internet, com a companhia da minha filha, ela adora pintar comigo. Duas vezes por semana, faço trabalho voluntário no orfanato, sou contadora de histórias com fantoches. E você?
  – Bom, eu ainda sou um simples médico. – Sorri. – Eu não fiz muitas coisas desde a última vez que nos vimos, mas eu e Elizabeth nos separamos de vez, perdi contato com Niall depois daquele dia, ele ficou tão irritado, foi tão vergonhoso e eu nunca tive a oportunidade de me desculpar com você. Me perdoe Sarah, por tudo que eu causei a você.
  – Eu te perdoo, Harry – diz sincera e eu meu coração se aquece, talvez ainda haja esperanças. – Mas perdoar não significa que vou voltar.
  – Por que não? – Mesmo que a resposta fosse óbvia, eu só conseguia questionar o porquê.
  – Harry, eu tenho uma outra vida agora, é uma visão completamente nova, sou mãe e estou investindo na minha carreira, não sei se é uma bom momento para me relacionar com alguém, estou bem do jeito que está. E mesmo se voltássemos, nada seria como antes.
  – Mas... eu pensei que podíamos tentar, já que passou tanto tempo, eu sei que nunca vou consertar o passado mas eu ainda te amo, e tudo que eu mais quero é uma segunda chance. Me deixa cuidar de você e da sua filha, você é a família que eu sempre quis ter – confesso.
  – Eu sinto muito, Harry, mas não podemos, mesmo que haja amor, os erros são irreparáveis – explicou.
  – Então você nunca me amou? – Eu precisava saber, ainda que dilacerante, a verdade era necessária.
  – Eu queria dizer sinceramente que não, mas você realmente despertou algo em mim. – Tento sorrir mas as circunstâncias deixam-me frustrado. – Mas eu te perdoo por ter deixado a impressão de que a qualquer momento alguém vai me deixar.
  – Eu gostaria que você tivesse ficado, porque eu não queria apenas você, queria nós dois – confesso, sentindo minhas bochechas queimarem.
  – Não podemos mudar o passado. – Ficamos um tempo em silêncio, apenas observando o quebrar das ondas do mar, enxugo algumas lágrimas teimosas do rosto, suspiro profundamente antes de insistir uma última vez.
  – Você poderia pelo menos pensar no meu pedido?
  – Por favor, Harry, não me peça para ficar ou para voltar, eu preciso seguir em frente e você tem que me deixar ir. Há um ano atrás eu descobri que existem diferentes perspectivas sobre amar, eu acreditava que para ser feliz eu precisava de um companheiro, um homem ao meu lado, mas quando eu conheci a Darcy no orfanato, percebi que é apenas uma questão de desfrutar aquilo que te faz feliz, e não é necessário estar com alguém ao seu lado, minha filha me inspira, me faz lembrar que todo dia é um novo começo. Talvez isto esteja faltando em você. E eu te desejo todo amor e felicidade do mundo – continuou. – E que você encontre alguém ou um motivo que te faça tão feliz como eu sou hoje, nós merecemos isso.
  – Mamãe, tô com soninho – diz a garotinha, manhosa, coçando os olhos.
  – Tenho que ir. – Pegou a pequena no colo. – Foi bom te ver, Harry, nos vemos por aí algum dia.
  – Bem... foi um prazer te encontrar. Talvez ainda podemos ser amigos?
  – Claro, sem problemas.
  – É que eu perdi seu número. – Ri nasalado.
  – Aqui. Esse é o meu cartão. Obrigada pela tarde, fique bem. – Despediu-se antes de entrar no carro.
  De volta ao quarto de hotel em que estava hospedado para aquela última noite, encaro o cartão que ela havia me dado, virei a noite pensando em tudo que conversamos aquela tarde, eu precisava tomar uma decisão.

MESES DEPOIS

  Em meio a tantas caixas de encomendas sobre a mesa, quase passou despercebido por mim um envelope, parecia uma carta, mas na fachada não havia remetente, apenas o endereço de onde vinha. Curiosa, abro a mesma atenciosamente, é tão raro receber cartas nos dias de hoje, com uma olhada rápida observo que a letra era familiar. Eu não sabia o que esperar, o quem poderia ter enviado, aproveitando que Darcy ainda dormia, sento-me com calma no tapete e leio atentamente.

Hoje lembrei de você, e isso me fez sorrir, é estranho o modo como sua falta ainda me afeta e sua ausência se torna presente nas mínimas coisas que me fazem lembrar de você, quando ouço uma música ou quando vejo nosso filme favorito sozinho, desde que você se foi tem sido assim, revivo nossos momentos para não me sentir tão vazio.
A questão é que eu nunca vou conseguir me perdoar pelo o que eu causei a você, e não importa o tempo que passe, eu só quero te dizer que sinto muito, e que esse foi meu maior erro, mesmo que eu repita várias vezes durante anos: me perdoe, ainda não seria o suficiente, porque sei que você não volta.
Depois de nossa conversa na praia, refleti sobre o que me disse, sobre encontrar um amor e seguir em frente, mas como é que irei saber que está na hora de seguir em frente? Quando deve ser a hora de deixar pra trás?
Então eu percebi, a questão não é sobre deixar de sentir ou forçar-me a te esquecer. Você me ensinou o valor de amar alguém, mas certos amores foram feitos para existir e não para acontecer. Mas amar é assim mesmo, não é?
Não há um dia que eu não pense em você. Talvez superar seja isso, quando as lembranças param de doer. E só eu sei o quanto doeu ver a melhor coisa que já tive ir embora, mas infelizmente é a perda que ensina o valor das coisas.
Nunca foi fácil te amar, e nem por isso eu desisti de você, eu não imaginava que seria tão intenso esse sentimento, quantas vezes me repreendi por continuar alimentando o que sentia, acreditava fielmente que tinha enlouquecido, mas algo acendeu dentro de mim quando te conheci e não foi necessário um beijo, um abraço ou um toque para que eu me apaixonasse perdidamente por você. E eu me perguntava, o que você tem que me atrai tanto?
Foi inevitável não sentir tudo outra vez assim que nos reencontramos, quando te vi depois de tantos anos pensei que o universo estivesse conspirando ao nosso favor para que finalmente ficássemos juntos, era impossível encarar seus olhos e não me apaixonar novamente.
E se pudéssemos voltar no tempo, poderíamos aprender a viver do jeito certo? Não teremos a resposta. Mas preciso por um ponto final, voltar a viver sem me culpar por o que nos aconteceu, talvez esta carta seja a mudança, para que eu mude por mim mesmo.
Após diversos dias, ainda em relutância, tomei uma decisão, a qual deveria ter tomado a muito tempo. Decidi que entregaria essa carta quando estivesse preparado para seguir em frente, e acho que já está mais do que na hora de ter feito isso.
Talvez uma parte de você acredite em mim, em tudo que eu digo, ou talvez não. Mas por favor jamais esqueça de mim, quem eu fui pra você, não esqueça de todos os momentos que tivemos juntos, não faça parecer ter sido uma perda de tempo para nós dois.
Eu sei que não há nada que eu possa fazer para mudar isso, é impossível saber se depois disto ainda podemos ser amigos. Eu sei que não irei encontrar alguém como você, mas dessa vez, quando eu lembrar de você vou sorrir, porque nós demos certo, o tempo suficiente que tinha que dar.
All the love, H.

FIM



Comentários da autora
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