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#024 Temporada

Say You Won't Let Go
James Arthur



Story Of Us

Escrito por Lika

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Prefácio

  Nossa história, assim como todas as outras, tem um começo, um meio e um fim. Ela é repleta de momentos que valem a pena ser lembrados e de outros que nem tanto.
  Tudo começa e termina com ela.

Capítulo um - o encontro

Novembro, 2022

  Sabe aquela música perfeita? Que faz seu quadril se mover de um lado para o outro por conta própria, leva seus pés desgrudarem do chão e faz seus cabelos esvoaçarem? Bem, foi com essa música que me convenci de ir à Pedreira, naquela sexta-feira à noite.
  Me encarei mais uma vez no espelho, satisfeita, e respirei fundo. Apesar do nervosismo, eu sabia que parte de mim estava feliz em sair. Do outro lado do dormitório, terminava de pentear seu rabo de cavalo, bem preso no topo de sua cabeça.
  - Não se preocupe, , você está ótima! - minha amiga falou, segura.
  - Nós duas estamos - me virei para , soltando um longo suspiro.
  - Estou muito feliz de ter sua companhia hoje - ela me abraçou. - Finalmente consegui tirá-la do casulo!
  - Espero não me arrepender muito…
  - Nós fizemos um acordo, , e eu prometo cumpri-lo. No momento que você se sentir desconfortável, nós vamos embora.
  Engoli em seco. Odiava ser desmancha prazeres, mas fazia pouco menos de um ano desde que havia terminado meu namoro. O meu primeiro e único relacionamento, que durou cerca de quatro anos.
  Além disso, desde que entrei na faculdade, nunca havia ido em uma festa - muito menos uma organizada pelo time de basquete - então acho que ter o estômago embrulhado era algo aceitável.
  - Ei, Terra para ! - estalou os dedos. - Nada de voltar para o passado. Hoje é a nossa noite, vamos nos divertir!
  - Tem razão - suspirei e peguei minha bolsa. - Podemos ir.
  - Esse é o espírito!

  Quando dizem que festas universitárias são de outro mundo, as pessoas não estão mentindo.
  Fazia apenas vinte minutos desde que chegamos no local da festa que era, literalmente, uma pedreira abandonada. Conforme as pessoas chegavam, completavam o círculo de carros no topo, deixando os faróis acesos para iluminar o fundo da cratera, onde a verdadeira festa acontecia. Ali, várias pessoas bebiam e dançavam ao som de um hip hop que nunca havia escutado.
  Eu estava me sentindo um peixe fora d'água, apesar de estar ao meu lado.
  - Vamos descer por ali - apontou para uma escadaria de pedra, antiga e aparentemente segura.
  - Ok - respondi, atônita.
  Durante o caminho até o poço, cumprimentou diversas pessoas, que mal se deram o trabalho de olhar para mim, o que não era inteiramente injusto, pois em todos esses anos, eu também nunca me dei ao trabalho de tentar conhecê-las.
  Assim que chegamos no centro da festa, minha amiga olhou para mim, analisando minha reação, como se esperasse que eu quisesse fugir dali naquele exato momento. Apesar deste ser o meu exato sentimento, engoli em seco e abri um sorriso. Eu não iria estragar a noite de .
  - Vou pegar algo para beber, você aceita alguma coisa?
  - Talvez uma água - falei em voz alta, tentando driblar o som excessivamente alto.
  - , não sei se eles têm isso por aqui, mas farei o meu melhor - apertou meu ombro, dando forças. - Não saia daqui, volto em um piscar de olhos!
  Assenti e logo perdi minha amiga de vista. Eu estava no canto, distante das pessoas dançando, mas próximo demais dos casais que se beijavam, vorazes.
  Fechei os olhos, tentando me lembrar do motivo de eu estar aqui. De repente, um aperto em meu peito fez tudo fazer sentido. Eu tinha aceitado o convite de porque queria viver. Aproveitar meus vinte e poucos anos, fazer besteiras, criar memórias… Foi para isso que eu vim.
  Deixando minha timidez de lado, dei alguns passos em direção à pista de dança improvisada, sendo puxada como um imã, quando subitamente um balde de água fria me atingiu, encharcando minha blusa branca.
  Não, aquilo não era água… Era cerveja.
  - Você só pode estar de brincadeira comigo - resmunguei, sem acreditar no que havia acabado de acontecer.
  - Essa é a zona de splash, gatinha - uma voz masculina zombou, fazendo várias garotas rirem.
  Encarei o dono da voz, sentado nas pedras mais altas, acima de onde eu estava. Era ninguém mais, ninguém menos que um dos astros do time de basquete: . Todos na faculdade conhecem esse garoto de cabelos escuros, pele bronzeada e olhos verdes como esmeraldas. Mas poucos realmente gostam dele - e, agora, eu definitivamente fazia parte do time "odiamos garotinhos privilegiados que não sabem se comportar como seres humanos decentes".
  - Que merda é essa? - Senti minhas bochechas esquentarem. - Isso não existe!
  - Qual é, vai me dizer que não notou a poça gigantesca de cerveja no chão? Não reparou que quase ninguém passa por aqui?
  Franzi o cenho, sentindo a raiva arrepiar minha pele. continuou com o sorriso convencido, que reduziu quando seu amigo - , um garoto alto e forte, de olhos amendoados - deu um tapa em sua cabeça.
  - Já conversamos sobre isso, . Não é nada aceitável jogar bebida em outras pessoas, muito menos em garotas como ela.
  Engoli em seco, sentindo minha garganta arranhar. O que ele quis dizer com "garotas como ela"?
  Encarei o grupo que estava sentado nas pedras. Era composto por jogadores de basquete e várias garotas, pelo menos duas para cada um dos astros do basquete: , e, é claro, o capitão do time, .
  - ? O que houve? - surgiu, segurando um copo e uma garrafinha de água. Seus olhos passaram de mim para os dois garotos com quem eu estava conversando. Em poucos segundos, sua expressão passou de dúvida para fúria. - O que vocês pensam que estão fazendo?
  Ainda abalada com as palavras do jogador, automaticamente cruzei meus braços sob meu corpo, tentando me cobrir. notou meu comportamento e logo tirou seu casaco para me ajudar.
  - Apenas brincadeiras de festa, . - piscou para minha amiga, o que fez meu estômago revirar. Imagino que o de também, porque ela estreitou os olhos e soltou o sorriso mais amargo que já vi na vida.
  - Então seja uma criança longe de nós. Vamos, , eles não merecem um pingo da nossa atenção.
  Respirei fundo, tentando recuperar minha dignidade. Não pude deixar de olhar novamente para o grupo. Ignorei e seu sorriso presunçoso e e sua falsa postura de cavalheiro, mas não pude deixar de tirar meus olhos do capitão. Ele, que deveria manter seus amigos na linha, aquele que deveria ser o exemplo. Encarei diretamente em seus olhos azuis, repreendendo-o e percebi que o garoto se encolheu minimamente.

  De volta ao dormitório, separei meu pijama e minha toalha de banho. já estava dormindo quando eu fechei a porta do nosso quarto atrás de mim e fui em direção ao banheiro, que ficava no final do corredor.
  Eu segurei as lágrimas até o final da festa. Fingi para minha amiga que havia aproveitado a noite, apesar do acontecimento no início da festa. Mas tudo foi uma grande mentira. E, agora, embaixo da água morna, eu iria chorar em silêncio.
  Escutei alguns passos ocos vindo da outra ponta do corredor, mas ignorei totalmente, entrando no banheiro sem olhar para conferir quem era. Liguei o chuveiro, esperando a água esquentar e comecei a pendurar meus pertences quando a porta do banheiro se abriu.
  - , podemos conversar?
  Levando um susto, prendi a respiração e me virei para encarar , parado na entrada do banheiro feminino. Ele estava com a mesma roupa da festa e seu rosto parecia cansado.
  - Você não pode entrar aqui… - deixei as palavras saírem de minha boca.
  - Não é como se eu nunca tivesse feito isso antes - o garoto deu um sorriso mínimo, fazendo uma onda eletrizante percorrer meu corpo, ativando memórias que eu havia arquivado há meses.
   e eu havíamos nos separado no final do nosso segundo ano na faculdade. Ele havia decidido pelo fim, pois queria focar no basquete. Ele havia usado o famoso "não é você, sou eu" e isso havia partido meu coração.
  - Pare. Você não tem o direito de fazer isso - fechei os olhos, tentando evitar que uma lágrima escapasse.
  - Fazer o quê?
  - Lembrar do nosso tempo juntos, como se isso não te afetasse.
   suspirou, se encostando na porta. Ele colocou as mãos nos bolsos, em defensiva.
  - Tudo bem, se você prefere manter o gelo entre nós, eu entendo. Só vim aqui para me desculpar. O que fizeram com você hoje não foi legal e…
  - E você deveria ter feito algo no momento. Não deveria ter deixado para depois, como está fazendo agora. Desde quando você é um covarde?
  Ficamos em silêncio por alguns minutos. A resposta estava na ponta da minha língua, mas eu precisava ouvir as palavras saindo da boca dele. Ele precisava admitir que errou, que se tornou um idiota a partir do momento em que entrou no time.
   e eu entramos na faculdade ainda apaixonados um pelo outro. O sonho dele sempre foi o basquete e eu o apoiei desde o início, mas, assim que ele entrou nos Tigers, tudo mudou. Ele passou a andar com os populares, a ir em festas todos os finais de semana e de repente chegou à conclusão de que sua vida seria melhor sem mim - ou pelo menos foi isso que eu entendi do término, que foi tão abrupto e sem explicação.
  O vapor do chuveiro começou a dominar o recinto, criando uma barreira translúcida entre nós dois. O garoto balançou a cabeça e se ergueu, pronto para ir embora. Senti meu coração apertar, como se quisesse que ele ficasse mais um pouco, mas minha cabeça estava lúcida. Ele não seria meu, não enquanto ainda fosse um garoto imaturo.
  - Agradeço o pedido de desculpas. Se for só isso, pode ir embora - falei, puxando a cortina do chuveiro e entrando embaixo da água quente.
  Esperei escutar a porta fechar e só então eu permiti que as lágrimas rolassem pelo meu rosto.

Capítulo dois - o reencontro

Junho, 2023

  Todo ritual de pré-jogo é o mesmo: passamos a noite na minha casa, para estudar os passes planejados para o dia seguinte, jantar a deliciosa lasanha feita por e dormir cedo, como um casal de idosos.
  Estava ligando o forno quando recebi uma mensagem de voz do nosso treinador. Chamei , que estava mais próximo da cozinha, e ele veio correndo para ouvir comigo.
  - Espero que seja uma boa notícia…
  - Cara, eu sinto que não é algo bom - bagunçou os cabelos.
  Apertei o botão e a voz grossa do treinador soou pelo recinto: "Garotos, essa é a última temporada que vocês representarão os Tigers. Espero que estejam ansiosos para a formatura e pelo ano seguinte, pois tenho uma bela notícia… Os Celtics estão de olho em vocês três! Um olheiro estará na final de amanhã, então espero que deem o melhor que tiverem. É isso, boa noite!"
  Engoli em seco com aquela notícia. Eu sempre soube que tinha potencial no basquete, mas nunca imaginei que o time dos meus sonhos estaria de olho em mim e em meus melhores amigos…
  - O que foi isso? - estava em choque.
  - , venha até aqui, agora! - Gritei, sentindo meu corpo sair do transe.
  Assim que o chegou, puxei meus melhores amigos para um abraço. Nosso sonho estava se realizando. Eu precisava tanto contar isso para alguém… De repente, um buraco se fez em meu peito, pois eu sabia para quem eu queria contar aquela notícia.
  - Ei, o que foi cara? - indagou, se afastando. - O que eu perdi?
  - Os Celtics estão de olho em nós três - respondeu, sorridente.
  Balancei a cabeça, confirmando o que meu amigo havia falado, e dei um sorriso mínimo.
  - , o que foi? Essa foi a notícia mais arrebatadora dos últimos tempos e você só reage com esse sorriso murcho? - cruzou os braços. - O que está passando em sua cabeça?
  Passei as mãos pelo rosto, me sentindo envergonhado. Mas e continuaram em silêncio, esperando uma resposta. Apesar de eles serem meus melhores amigos, não sabiam muita coisa do meu passado. Não tinham ideia da minha história com e eu não sei por que nunca tive coragem de contar para eles o que fiz. De como eu a machuquei.
  - Provavelmente vocês têm uma pessoa em mente para quem querem contar primeiro sobre essa notícia, não é? - esperei os dois concordarem para continuar a falar. - Bem, no meu caso, a primeira pessoa que veio à minha mente é a que eu menos tenho chances de conversar.
  - Como assim? - franziu o cenho.
  - Nossa história é longa e complicada, mas eu queria contar tudo isso para .
  - Quem? - tombou a cabeça.
  - - respirei fundo, ignorando as pontadas em meu peito. - A amiga de . Aquela que você jogou cerveja propositalmente na festa do ano passado.
  - Cara, se eu lembrasse de todas as garotas em que já joguei cerveja na zona do splash…
  - Deixe de ser babaca, - interferiu. - Vamos, , continue sua história.
  - Bem, ela foi minha namorada desde os treze anos. Viemos para a faculdade juntos, mas terminei com ela no final do segundo ano.
  - Antes de entrar para o time? - perguntou.
  - Um pouco depois, para falar a verdade. Nunca contei para vocês sobre ela, porque estava inseguro sobre nosso relacionamento e eu pensava que poderia encontrar uma garota melhor, quando eu me tornasse capitão do time. Foi uma jogada de idiota, eu sei. Deveria ter orgulho de namorar uma garota como , mas deixei o sucesso subir à cabeça.
  - Acho que você não tinha maturidade suficiente. Nenhum de nós tinha, até poucos meses atrás. - deu um tapinha em meu ombro, me confortando. - Às vezes encontramos as pessoas certas, mas no momento errado.
  - Tem razão… De qualquer forma, ela foi a primeira pessoa que me veio à mente. A primeira para quem queria contar sobre os Celtics, mas a única com quem não posso conversar.
   parecia comovido com a história, pois logo me deu um abraço apertado.
  - Eu sinto muito por ter sido um babaca com o amor da sua vida. Se eu soubesse quem ela era, não teria feito o que fiz naquela festa.
  - Eu sei cara, você é um Golden Retriever. Faz arte, mas todos te adoram pelo seu espírito indomável. Ela também te perdoaria, se o conhecesse de verdade.
  - Espera aí. Eu tenho uma ideia - arregalou os olhos. - E se você mostrar para o quanto você amadureceu? Prove para ela que você ainda tem sentimentos por ela e que se arrepende dos seus erros.
  - Como eu faria isso? Ela me bloqueou em todas as redes e não tenho mais o número dela…
  - Ora, faça à moda antiga!
   correu para dentro do apartamento e logo em seguida voltou com um papel e caneta:
  - Escreva uma carta, falando o quanto você sente muito, sobre como gostaria de tê-la de volta e diga que estará esperando por ela no café Sunset amanhã de manhã. Depois, deixe a carta debaixo da porta do dormitório de e espere pelo melhor.
  Peguei os materiais e olhei de para . O segundo parecia achar a ideia razoável, pois balançou a cabeça, concordando com o primeiro.
  - Não custa nada tentar - sorriu, voltando-se para a lasanha que precisava ir para o forno. - Deixe o jantar conosco. Vá para dentro e encarne o seu Shakespeare interior.
  Não pude deixar de rir com aquilo e fui para o meu quarto, seguir o conselho de meus amigos.
  Eu não tinha mais nada a perder, mesmo. Apenas a ganhar.

  Na manhã seguinte, fui o primeiro a aparecer na cafeteria. Escolhi a melhor mesa do lado de fora, peguei um muffin de mirtilo - o favorito de , quando tinha treze anos - e aguardei, com o coração acelerado.
  Fazia séculos que eu não me sentia assim. Relembrar de como nós éramos felizes juntos me deixava leve. Se houve algo que aprendi com meu tempo de solteiro é que nenhuma outra garota me fez sentir como fazia. Ninguém mais valia a pena, além dela. Essa era a garota com quem eu queria passar o resto da minha vida e esse pensamento não me assustava mais. Eu estava pronto para assumir essa responsabilidade e esperava que ela voltasse a confiar em mim.
  Quando o relógio marcou dez horas, vi caminhando em minha direção. Nem acreditava que ela havia lido minha carta e concordado em aparecer. estava linda, usando um vestido florido e o cabelo preso, o que fez meu coração acelerar ainda mais. Em um impulso, me levantei da cadeira, assim que ela chegou até nossa mesa. Me senti um bobo apaixonado, sem saber o que fazer, e isso fez a garota rir. Ah, como eu senti falta dessa risada!
  - Oi - ela me abraçou, ficando ali por mais de cinco segundos. Senti o seu perfume, o mesmo desde que era adolescente, e então eu soube que tinha grandes chances de conquistá-la novamente.
  - Tudo bem? - me sentei à sua frente, tentando controlar o nervosismo.
  - Sim, recebi sua carta - ela sorriu, timidamente, olhando para mim. - Achei fofo da sua parte.
  - Não ficou brava por eu ter forçado o contato?
  - Como assim?
  - Percebi que você me bloqueou em todas as redes possíveis. Imaginei que talvez se zangasse com minha insistência…
  - Ah, bem - brincou com a barra do vestido. - Fiz isso depois daquela festa, faz algum tempo. Acho que estou pronta para desbloqueá-lo.
  - Pronta para me aceitar como amigo, também? - eu sorri, sentindo que o clima entre nós estava melhor do que da última vez em que nos vimos.
  - Depende de como esse dia irá terminar…
  - Acho uma resposta adequada. Mas enfim, peguei um muffin para você. Espero que ainda goste de mirtilo.
  - É meu favorito!
  - Algumas coisas não mudam, não é mesmo?
  - Bem, não comigo, pelo menos.
  Ficamos em silêncio por algum tempo. começou a comer seu muffin, na tentativa de esquivar do momento, que começava a ficar estranho. Para quebrar o gelo, decidi ser franco com ela:
  - Então, o motivo de tudo isso - gesticulei, apontando para nós dois. - É que eu gostaria de lhe dizer que não houve um minuto sequer desde que nós nos separamos em que eu não pensei em você. Sinto sua falta, .
  Notei que ela prendeu a respiração ao ouvir minha declaração. Mas não iria parar, não agora que estava dizendo tudo que estava preso em mim nos últimos anos.
  - Ontem, recebi uma das notícias mais importantes em toda minha vida e a primeira pessoa para quem eu queria contar era você. Todos os dias, do momento em que acordo até o que vou dormir, eu penso nas coisas que fiz, os erros que cometi e de como fui egoísta e quebrei seu coração por uma ilusão juvenil. Não espero que você me perdoe de primeira, porque sei que errei e não fui justo com você, mas, honestamente, eu gostaria que voltássemos a ser amigos e, quem sabe, você perceba que eu mereço uma segunda chance.
   piscou os olhos, provavelmente não acreditando no que havia escutado. Talvez eu tenha soado desesperado, mas era a verdade. Era o que eu estava sentindo.
  - Desculpe jogar tudo isso em cima de você - bebi um gole do meu café.
  - N-não tem problema - ela limpou a garganta e começou a falar. - Para ser sincera, não imaginava que você tivesse amadurecido tanto desde a última vez que nos vimos.
  - Pois é, finalmente me tornei um adulto - sorri, observando os olhos da menina, que brilhavam como as estrelas.
  - Agradeço por você finalmente admitir que errou, mas quero que saiba que eu não o julgo por isso. Não mais. Éramos praticamente adolescentes quando chegamos aqui… Eu também tive uma parcela de culpa e por isso nosso relacionamento não deu certo. Você queria a experiência da vida universitária e eu não. Eu sinto muito por tentar limitá-lo.
  Sem pensar duas vezes, segurei a mão de por cima da mesa. A sensação de sentir sua pele quente e macia era a mesma daquela que eu sentia ao voltar para casa, depois de um longo período longe.
  - Ei, acho que nós dois amadurecemos, não é mesmo? - falei, recebendo um sorriso em resposta. - Nós dois admitimos nossos erros e pedimos desculpas. Imagino que isso seja um dos pilares de um relacionamento estável e duradouro…
  - E é isso que você busca? - indagou, apertando ainda mais sua mão na minha, como se ela não quisesse me perder mais uma vez.
  - Sim. Só existe uma pessoa com quem eu quero envelhecer e essa garota é você, .
  Ela mal escutou o restante das palavras, pois logo se levantou e me abraçou. O cheiro de seu perfume e o calor de seu corpo contra o meu foram suficientes para fazer meu coração explodir de felicidade. Ela era minha, mais uma vez, e eu faria isso valer a pena.
  Assim que ela se afastou por alguns milímetros, puxei cuidadosamente seu rosto para perto do meu. As pontas de nossos narizes estavam se tocando, mas eu não me movi, aguardando sua permissão para beijá-la.
  - Eu senti tanto sua falta - sussurrei, fechando meus olhos.
  - Eu também, .
   sorriu e então se inclinou para tocar seus lábios nos meus.

Capítulo três - o pedido

Maio, 2030

  Só existe uma pessoa que consegue me fazer sentir desse jeito - ansioso e ao mesmo tempo feliz - e essa pessoa é a garota que está dormindo tranquilamente em nossa cama.
  São oito da manhã de um sábado. Nosso cachorro, Jasper, está deitado na ponta do colchão, me observando com certa dúvida. Eu nunca havia feito um "café da manhã na cama" para , mas hoje é um dia especial.
  Entrei no quarto, equilibrando a bandeja, e eu conseguia sentir o peso da pequena caixinha de veludo em meu bolso.
  Apesar de estarmos juntos há anos, toda vez que eu vejo meu coração pula uma batida. Deixei a bandeja na mesa de cabeceira e me abaixei, tocando meus lábios na testa de . Lentamente, ela abriu os olhos e se espreguiçou.
  - Bom dia, princesa! - falei, tentando manter minha voz estável.
  - Bom dia, amor - ela respondeu, passando as mãos pelo rosto. - Que horas são?
  - Cedo - não pude deixar de rir. - Mas prometo que vai valer a pena acordar a essa hora.
  Puxei a bandeja e depositei sobre o colo de . Ela arregalou os olhos, mal acreditando no que via.
  - Você fez tudo isso?
  - Talvez…
  - ! Não precisava!
   se curvou para me beijar, mas eu a interrompi:
  - , assim como eu sei que você não gosta de atrair atenção e de demonstração de afeto em público, você sabe que eu não sou a melhor pessoa com palavras - segurei sua mão, na tentativa de me acalmar. - Então essa foi a melhor maneira em que pensei em lhe fazer essa pergunta…
  Ela rapidamente entendeu o que estava prestes a acontecer, pois devolveu a bandeja na mesa de cabeceira e se ergueu. Segurei suas duas mãos e continuei:
  - , você gostaria de se casar comigo?
  Tirei a pequena caixa azul e a abri, exibindo o anel de prata com um diamante oval no centro. me envolveu em um abraço apertado e rapidamente respondeu:
  - Sim! É claro que eu aceito! Por que demorou tanto tempo para me perguntar isso, ?
  Não pude deixar de rir ao ouvir o final de sua resposta. Jasper latiu em comemoração e eu finalmente beijei minha noiva. Assim que nos separamos, coloquei o anel em seu dedo, que se encaixou perfeitamente.
  - Eu te amo, . Obrigado por me aturar por tanto tempo…
  - , eu te amo desde a infância e te amarei até o nosso último dia.
  Puxei para um abraço e a rodopiei no ar, mal acreditando que eu tinha uma noiva.

Capítulo quatro - o casamento

Dezembro, 2032

  Sinto que nasci para viver esse dia.
  Apesar disso, mal consegui dormir na noite anterior, precisei me revirar algumas vezes na cama até cair no sono. Seria mais fácil se ela estivesse ao meu lado, brincando com meus cabelos até meu corpo desligar e meu consciente se aquietar.
  Mas hoje é um dia especial e a ausência dela é um requisito da tradição: noivos não podem se ver no dia do casamento e eu não quero arriscar nossa sorte.
  - Você está muito bonito, .
  Meu pai me observava pelo reflexo do espelho, sua mão apertando levemente o meu ombro:
  - é uma garota de sorte…
  - Não, pai, eu é que sou - sorri, recordando do esforço que fiz para que ela se tornasse minha namorada e, agora, noiva.
  Respirei fundo e me levantei, preparado. Mal podia esperar para vê-la em seu vestido de noiva - ela havia feito tanto mistério sobre como seria sua roupa que milhares de ideias vieram à minha imaginação.
  Caminhei com meu pai até o altar, cumprimentando os convidados à medida que passava ao lado deles. A igreja era pequena, mas muito charmosa - do jeito que nós dois imaginávamos - com bancos de madeira repletos de amigos e o chão coberto de pétalas. À frente, o padre sorridente aguardava o início da cerimônia.
  Dei um forte abraço em meus pais, antes deles se sentarem na primeira fileira, e então me coloquei ao lado de e , meus padrinhos.
  - Aguentando firme? - indagou.
  - À beira do colapso, mas passo bem - sorri para meu amigo, soltando um longo suspiro. - Fazia tempo que não me sentia assim.
  - Eu sempre soube que vocês terminariam juntos - afirmou, confiante. - Somente uma garota como poderia aguentar um cara como você.
  - O que quer dizer com isso? - respondi, levemente preocupado.
  - Um relacionamento precisa de estabilidade e aventura. Às vezes, você fornecia emoção e ela equilibrava a balança, outras a situação era o contrário. Imagino que esse seja o motivo de terem um relacionamento tão duradouro.
  - Um par perfeito - o outro completou.
  Não tive tempo de responder, pois, assim que me dei conta, os primeiros acordes da marcha nupcial soaram pelo ambiente. , que estava mais próximo de mim, deu um tapinha nas minhas costas.
  Limpei a garganta, sentindo que meu coração poderia sair pela minha boca a qualquer instante. Todos os convidados estavam virados em direção à porta, onde entraria. Com certeza, ela deveria estar tranquila, sem se importar com toda a atenção que receberia.
  Em um piscar de olhos, as portas se abriram para a mulher mais bonita que já vi em toda minha vida. Tudo nela estava perfeito: desde seu longo vestido branco até suas bochechas coradas. Mas, a melhor parte, era seu olhar fixo em mim - esse era o verdadeiro motivo do meu coração apertar em meu peito. Inconscientemente, abri um sorriso.
   caminhava em minha direção, sendo guiada por sua mãe, e eu mal conseguia me conter em meu lugar. Ela parecia uma musa, saindo lentamente de uma pintura. Queria abraçá-la, beijar seus lábios rosados e aproveitar cada segundo ao seu lado. Ansiava por saber que ela seria minha esposa.

Capítulo cinco - o terceiro

Março, 2033

  Sempre me disseram que não existe amor maior que o de mãe. Nunca compreendi como isso seria possível: aos dezessete anos, imaginava que amor próprio era o mais importante. Aos vinte seis, podia jurar que nunca sentiria um sentimento tão forte quanto o que nutria por meu noivo. Hoje, eu sei que todas essas formas de amor são válidas, mas a mais impactante de todas é a que surgiu ao descobrir que algo tão novo e belo crescia dentro de mim… Uma criança, ou melhor, a nossa criança.
  Ainda sentindo os calafrios percorrerem a minha pele, saí do banheiro, tentando ao máximo manter minhas mãos firmes ao redor do pequeno objeto, que havia dado a notícia mais importante dos últimos dias.
  Sentado na beira da cama, tremia a perna direita e, ao me ver, entrelaçou os dedos com força, fazendo os nós das mãos perderem a cor. Me encaixei entre suas pernas, ainda atônita, e mostrei o teste de gravidez para meu marido.
  - Essa cruz significa que o teste deu positivo? - a voz de falhou. Ele revezava o olhar do objeto para mim.
  - Sim, significa que estou grávida! - Abri um sorriso espontâneo e logo em seguida senti meu corpo ser abraçado e erguido do chão.
   riu animado, me girando no ar, e em seguida afundou seu rosto na curva do meu pescoço. Ele soltou um longo suspiro, aliviado. Fiz o mesmo, pois nem imaginava que sua reação seria essa.
  - Isso é incrível, ! - ele se afastou para que pudesse encarar meus olhos. - Seremos os melhores pais de Boston, não, melhor ainda, os melhores da América do Norte!
  Senti uma fina lágrima percorrer minha bochecha, que doía de tanto sorrir. limpou meu rosto com seu polegar, mas ele não aguentou muito tempo e logo começou a chorar de felicidade.
  - Ei, para que tantas lágrimas? - perguntei, risonha.
  - É que nós lutamos tanto para chegar até aqui, não pude deixar de lembrar como tudo isso aconteceu…
  - Realmente, estamos juntos há quatorze anos. De alguma forma, sempre soube que nós acabaríamos assim.
  - Você se lembra de quando reatamos o namoro? - ele perguntou, secando suas lágrimas.
  - Como eu poderia esquecer? - ri, lembrando da carta que ele havia escrito. - Mal imaginava que você sabia escrever bem, nunca tinha feito uma dedicatória para mim antes…
  - Eu precisava conquistá-la de volta. Uma carta de amor deveria resolver.
  - Mas não foi apenas a carta - mordi o lábio. - Passamos o dia todo na cafeteria, conversando sobre nossos sentimentos, sobre o futuro e depois fui assistir ao seu jogo.
  - Ah, aquela foi uma das nossas melhores partidas. Acho que você foi um amuleto da sorte.
  - Lembra de quando você marcou a cesta de três pontos nos últimos segundos da partida? Provavelmente você não me viu, mas eu comemorei tanto que precisou me segurar para que eu parasse de pular.
  - Aquele foi um dia perfeito - suspirou, abrindo o sorriso mais lindo do mundo. - Mas hoje é, de longe, um dia mais perfeito ainda!
  Ele colocou as mãos em minha barriga e me olhou de forma apaixonada.
  - Eu te amo, .
  - Eu te amo, .
  - E eu também te amo, criança. Daniel se for um menino ou Lucinda se for uma menina…
  - Você já pensou nos nomes? - eu ri, sentindo meu coração palpitar.
  - Claro!
  - E eu não posso opinar sobre isso?
  - Óbvio que pode - ele me abraçou, me puxando para a cama. - Mas espero que aceite minhas sugestões…
   me beijou e passamos a noite inteira decidindo nomes.

Capítulo seis - o final

Dezembro, muitos anos depois…

  - Bom, Dan, essa é a história. Sua mãe e eu vivemos alguns desafios antes de nos casarmos. Mas eu cheguei à conclusão que todo relacionamento precisa disso. Todo casal precisa ultrapassar esses percalços que a vida coloca no caminho, pois é isso que faz um relacionamento ser duradouro.
  - Além, é claro, da amizade e da confiança - meu filho completou, sorridente.
  - Sim, tem razão - arrumei a gravata de Daniel e apertei o ombro de meu filho. - Sua mãe iria amar vê-lo arrumado desse jeito…
  - Pai, por favor, não me faça chorar.
  - Tem razão, é que estou com saudade de sua mãe. É só isso. Não imaginava que ela não estaria aqui, no dia do seu casamento…
  - Ela está presente entre nós, bem aqui - Daniel apontou para o peito, o que me fez chorar em resposta.
  Abracei meu filho com força e respirei fundo, deixando a saudade de lado.
  - Tenho tanto orgulho de você, Daniel.
  - Obrigado, pai. E eu sei que mamãe também sente sua falta.
  - É filho, às vezes eu olho para trás e parece que ainda tenho trinta anos e que sua mãe está dançando ao meu lado.
  - Eu te amo, pai, obrigado por contar sua história. Agora, vamos, preciso ir ao altar. Minha história de amor também me espera.
  - Sim, filho. Temos um casamento à nossa espera. Ou melhor, o seu casamento.

Fim