Still a little bit of you

Escrito por Larissa Camargo da Rosa | Revisado por Lelen

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“There's still a little bit of your taste in my mouth. Still a little bit of you laced with my doubt…It's still a little harder to say what's going on…”

n/a: Coloquem para carregar:
POV – McFLY
A daydream away – All time low
One and only – Adele

  Eu deveria saber, desde o começo, que aquilo não daria certo. Parecia inofensivo. Eu estava indo passar uns dias em Londres com meus três melhores amigos porque tinha contado a eles que iria pedir minha namorada em casamento e eles achavam que eu não podia fazer isso sem uma despedida de solteiro antes. Ok, tinha TUDO pra dar errado e eu deveria ter sacado quando eles usaram o seguinte argumento:
  “Não, a despedida de solteiro não pode ser na semana do seu casamento! Imagina se você descobrir que o amor da sua vida é uma stripper ou a dançarina de uma boate vagabunda em Londres dois dias antes de se casar?!”
  A simples idéia de que haveria strippers e boates vagabundas devia ter me alertado. Se bem que, no final, não teve strippers nem dançarinas... elas com certeza não teriam causado tanto.
  Mas enfim...eu não tinha percebido nada e Harry agora dirigia animado, tamborilando os dedos no volante e cantando algo em dueto com , desafinadamente.
  “Nem acredito que a Amy te liberou pra passar uma semana em Londres com a gente. Ela normalmente é tão...hum...controladora!” – disse, medindo bem a última palavra.
  “Pra não dizer doida...” – soltou, se virando no banco do passageiro para me lançar um olhar divertido.
  “Ela tá de plantão hoje e amanhã. E vai pra um SPA com a mãe no final de semana...” – Expliquei e recebi um sonoro “Aaaaah!” de entendimento dos três. A única explicação plausível para eu viajar sozinho era ela também ter ido. – “E ela não é doida! Só é preocupada comigo, pô!”
  Os meninos não gostavam muito da minha futura noiva. Ela era madura demais (até para mim, às vezes) e isso podia ser um pouco irritante.
  Amy chegou à cidade para ser a nova pediatra e logo se tornou conhecida pela dedicação à profissão e às crianças. Ela era minha vizinha e eu logo me encantei pela jovem médica da cidade. Nós namorávamos há dois anos e agora, eu achava, tinha chegado a hora de darmos um passo a frente. O maior de todos, talvez.
  Aqueles três no carro comigo, porém, discordavam vigorosamente. Mas eram discretos quanto a isso e a tratavam muito bem. Bem melhor do que ela os tratava, para dizer a verdade. E eu duvidava que essa despedida de solteiro fosse por causa da Amy. Era mais um momento só nosso...antes que nós não tivéssemos mais essa oportunidade.

  Eu, , e Harry tínhamos uma banda. Tocávamos na nossa cidade natal e nos arredores...mas não éramos famosos, muito menos ricos. Por isso, passaríamos a semana em Londres dividindo um quarto de hotel. Eu, na verdade, nem ligava...tinha certeza que renderia boas risadas.
  A julgar pela rápida briga pelas camas, eu estava mais do que certo!
  “É sério que colocaram uma cama de casal?” – Foi a primeira coisa que disse quando abriu a porta.
  “Ah, ! Vai fingir agora que não foi você quem pediu isso?!” – Harry fingiu impaciência.
  “Ele precisa pelo menos disfarçar...” – Eu disse, passando os braços pelo ombro do . – “Tá tudo bem amor, eu divido a cama com você!” – Falei, chegando minha cabeça perto da cabeça dele e fazendo uma cara de apaixonado.
   me afastou rindo com um “Sai !” e colocou a mochila em uma das camas de solteiro.
   entrou atrás e pensou um pouco. Pensou até ser atacado por Harry.
  “Então eu e o coisa linda aqui dormimos na cama de casal, certo?” – Ele disse, jogando na cama.
  “Eu tenho escolha?”
  “Não, não tem. Vamos dormir de conchinha!” – Harry disse, feliz. não protestou. Seria molestado de qualquer forma, então que fosse na cama maior.
  Coloquei minhas coisas na cama que sobrou e me virei para eles.
  “Ok, então...e quais os planos pra hoje?”
  “Bar mexicano! Tequila, dançarinas e sombreros!” – contou, animado. – “Até deixei meu bigode crescer um pouco, pra me enturmar!” – Ele falou, apontando para um bigode fininho que crescia naquela cara de criança que ele ainda tinha.
  Bom, não faria mal nenhum beber com meus melhores amigos, né?
  Ou faria?

  Estávamos os quatro sentados no balcão admirando as dançarinas que dançavam em roupas minúsculas nas cores da bandeira do México em “vitrines” atrás do bar. O assunto tinha até acabado.
  “Aquela segunda é o amor da minha vida!” – falou, tomando mais um gole de cerveja. Depois se virou para mim. – “Desculpa cara, eu sei que a gente veio aqui descobrir a sua cara metade, mas você pode não escolher ela?”
  “Tá tranqüilo, cara!” – Eu gargalhei. – “Precisamos descobrir só quando acaba o turno dela!”
  “Isso! Precisamos!”
  Eu não ouvi mais o que ele estava dizendo. Me virei distraidamente, ainda rindo, e reparei em um garota do outro lado do balcão. Ela ria e conversava com o barman, apontando para o sombrero dele.
  Não podia ser. Não ela. Não agora.
  Na hora eu me virei para os meninos. Aquilo era uma armação deles? Eles queriam que eu a visse outra vez para desistir dessa idéia de casamento? Que brincadeira de mau gosto!   Mas a julgar pelas expressões de surpresa bem sinceras, eles também não tinham idéia do que ela estava fazendo aqui.
  Quem era ela? A primeira. A primeira de todas.
  Meu coração acelerou como se quisesse correr dela porta afora. Minhas pernas, porém, ficaram moles e, se meu coração fugisse mesmo...eu não poderia ir atrás.
  Eu ia desviar o olhar e fingir que nem tinha a visto, mas demorei demais. Depois de conseguir o sombrero, como eu sabia que ela conseguiria, se virou para a amiga que ria, pedindo aprovação e então olhou em volta. Nossos olhares se encontraram e eu tremi. E me arrepiei com o sorriso que recebi.
  “Ai caralho!” – Harry disse, como se lesse minha mente. – “É a mesmo?”
  “Uhum...” – Respondi, já me levantando.
  Três anos ao redor do mundo tinha feito muito bem a ela. Estava bronzeada, o cabelo longo mais claro nas pontas e meio ondulado. Usava um vestido azul escuro justo em cima e rodado embaixo. Estava tão linda que me doía!
  “?” – Eu falei. Minha voz saiu um pouco mais tremida do que eu queria. Mas a música estava alta, então ela provavelmente nem percebeu.
  “!” – Ela me deu um sorriso enorme e me abraçou meio desajeitada, por causa do chapéu enorme. – “Eu tava com tanta saudade!”
  Eu também estava, lógico, mas não consegui dizer aquilo. Não era isso que eu queria dizer naquele momento.
  “O que você tá fazendo aqui?” – me soltou e ficou segurando minha mão direita, ainda me olhando tão ternamente que me dava vontade de sair voando dali.
  “Fui promovida a gerente do setor. Não preciso mais viajar, estou morando aqui em Londres.”
  Não preciso mais viajar! Pra cima de mim, ? DE MIM? Ela era uma das representantes internacionais de uma empresa. Ganhava para viajar pelo mundo todo fechando negócios com novos clientes. Mas não fazia isso por trabalho. Como tinha me dito na semana que foi embora, ela era muito maior que a Inglaterra. A alma dela era livre demais para aquela ilhazinha que nós morávamos. Foi que se candidatou a vaga. Foi vontade dela entrar naquela avião e em todos os outros que deve ter entrado. Então não adiantava ela me dizer que não precisava mais viajar, como se fosse forçada.
  “Que legal!” – Respondi, sem muita emoção e forçando um sorriso. Eu não queria ser grosso e provavelmente nem conseguiria, mas ainda sentia uma pontadinha de frustração pensando na gente.
  Houve um silêncio constrangedor que foi quebrado por Harry, que se juntou a nós.
  “! Tá fazendo o que aqui, sua doida?”
  Ela riu, colocou o sombrero nele e o abraçou.
  “Tô de volta, parceiro! Vamos beber, ganhar concurso de tango e tudo o que temos direito de novo!”
  Coloquei as mãos nos bolsos e sorri vendo-a abraçar e e conversar com eles. Os três a adoravam e não havia porque não adorar. parecia ser ligada no 220V. Agora mesmo estava falando, rindo, batendo em e pedindo cinco tequilas ao barman.
  “Seis!” – gritou ao barman, quando eu me aproximei. – “Delia vai tomar também!”
  “Quem?” – quis saber, colocando o sal no dorso da mão.
  “Minha amiga! Fiquem aqui e me esperem!”
  Ela passou por mim antes de sumir e segurou de novo na minha mão, sorrindo. Continuava a mesma que eu me lembrava e isso me deixou preocupado.
  Eu já tinha caído de amores por aquela garota uma vez. Mas não podia me apaixonar de novo.

  Era eu que usava o sombrero agora e estava alegremente bêbado.
   ajudava com a tal dançarina: apontava para ele, depois para a moça, fazia sinal como se pedisse o telefone, dançava e fingia passar a mão em e os três riam.
  Harry já tinha ido dar em cima da tal Delia e parecia estar se concentrando para ver a tela do iPhone.
  “Cara, pra mandar mensagem bêbado pra ...é melhor nem mandar! Ela vai te matar!” – Eu disse, indo me sentar perto dele.
  “Nãããão, ! Eu tô bem! Tô bem pra caramba!” – Ele falou. – “Mas é...dá uma olhada aqui pra ver se eu digitei certo!”
  Bom, eu não era a melhor pessoa pra “corrigir” mensagem nenhuma. Por isso desliguei o aparelho e guardei no bolso.
  “Desencana disso, !”
  A dançarina finalmente saiu daquela “vitrine” e logo parou ao lado de no balcão. ainda precisou ficar um tempo com os dois para ver se ele desencantava, era tímido de dar dó.
  “Como você tá?” – me perguntou.
  “Não sei...” – Respondi honestamente. – “Não esperava esse furacão passando de novo na minha vida...”
  Antes que eu pudesse continuar meu desabafo, o furacão parou entre eu e .
  “Ha! A noite do tá garantida...quer dizer, não sei. Ele continua monossilábico com as garotas?”
  “Deu uma melhorada significativa...mas ainda fica meio bobo perto delas...” – Respondi.
  “Ele com certeza devia aprender com o Harry!” – falou e nós três olhamos para o outro lado, onde nosso amigo tirava uma mecha do cabelo de Delia do rosto dela.
  “Eu sabiiiiia! Sabia que ele ia pra cima dela! Assim que cheguei com ela na roda, ele se pavoneou todo! Típico!”
  Nós rimos e eu a olhei de novo, me lembrando daquela música dos Beatles: “I look at you all, see the love there that’s sleeping...” [n/a: While my guitar gently weeps]
  Droga! Minhas mãos suavam perto dela, meu coração ainda batia descompassado e eu forçava desesperadamente meu cérebro a se lembrar que ela havia me deixado e eu devia sentir raiva. Mas três anos depois, a raiva já tinha se dissipado um pouco.
  “Então isso é uma despedida de solteiro?” – me perguntou. Nem havia percebido que tinha saído e ela agora estava sentada em seu lugar, girando a garrafinha de cerveja nervosamente.
  Ajeitei o chapéu antes de responder e tomei um gole da minha cerveja. Mais porque queria tempo do que por qualquer outro motivo.
  “Hum...mais ou menos. Eu...eu...resolvi pedir minha namorada em casamento e , Harry e acharam que antes de fazer isso, eu devia ter certeza.”
  O sentimento de culpa que eu sentia por contar isso para ela era ridículo, como se eu estivesse fazendo algo errado. Ela tinha me deixado, ela tinha me deixado, ela tinha me deixado. Vai, cérebro! Aprende isso!
  “Entendi...e qual seu veredicto, por enquanto? Está fazendo a coisa certa?” – Ela não tinha usado um tom de ironia. Era uma curiosidade genuína, talvez até uma pergunta esperançosa.   Dei de ombros.
  “Acho que sim...” – Não olhei para ela ao responder, mas a vi abaixar a cabeça e mexer no rótulo de sua cerveja. Resolvi mudar de assunto, porque estava extremamente sem graça. – “E cadê o , hein? Acho que vou procurar. Você conhece, né? Fraco demais pra bebida!”
  Dei um sorriso mais ou menos e sai pelo bar. Encontrei no banheiro e ele nem estava tão mal assim...quem estava mal era eu. Estava perturbado!
  Como se quisesse provar a mim mesmo que tudo estava bem, mandei uma mensagem para Amy.

  “Oi meu amor! Como estão as coisas aí no plantão? Espero que tranqüilas...já to com saudade! Te amo! Beijos!”

  Enrolei mais um tempo antes de voltar onde ela estava. Andei pelo bar, fui até a área de fumantes e quando não havia mais como escapar, andei até o balcão.
  “Vamos num bar de karaokê amanhã!” – Ela sugeria animada para Harry, Delia (que estavam juntos) e . – “Ou então vamos...onde podemos ir, Delia? Você conhece todos os melhores lugares de Londres!”
  “Vamos no karaokê mesmo!” – falou. – “Quero ver você cantando, Dona ...costumava ser um desastre!”
  “Ainda é, zinho! Ainda é!”
  Eles estavam combinando de se ver no outro dia? Era isso? Eles tinham pirado?
  “Qual o assunto?” – Perguntei, como se não tivesse ouvido.
  “Estamos combinando onde vamos amanhã!” – Harry contou, empolgado e abraçando Delia um pouco mais apertado. Tentei fazer uma cara de “eu não quero sair com a ”, mas nem ele e nem sacaram.
  E então eu me dei conta de que o objetivo da viagem era realmente aquele. Se eu não podia nem sair com a minha ex-namorada, então não deveria mesmo me casar. Eu faria aquilo, porque com certeza seria capaz de me controlar. E daí que tinha sido o amor da minha vida pelos anos que estávamos juntos...e por muito tempo depois também, mesmo no começo do meu namoro com Amy? E daí que talvez ela continuasse sendo? E daí que meus amigos preferiam ela? E daí que nesse exato momento eu a olhava dançar e sentia algo estranho no meu corpo todo, especialmente...é...lá mesmo onde vocês estão pensando?
  Meu celular vibrou e eu fui checar a mensagem que eu sabia ser de Amy.

  “Acordado até agora, lindo? Onde vocês estão, hein? Por aqui tudo tranqüilo...também te amo! Sua Amy”

  “Estamos assistindo futebol no quarto do hotel. Quer dizer, eu e Harry estamos. dormiu e está escrevendo. Provavelmente uma música...”

  Ok, era uma mentira deslavada...mas me orgulhei, porque era uma mentira tão bem feita que eu quase podia nos ver naquela cena. Ela acreditaria.
  Boa, ! Mentindo para a futura noiva!
  Como eu ia dizendo... e daí que eu estava ferrado?


  A cama ainda rodava, ou era minha cabeça? Não, minha cabeça estava pesada demais para conseguir girar. Ela provavelmente nem levantaria do travesseiro naquela manhã!
   saiu do banheiro com uma cara péssima. Já chegou passando mal na noite anterior e, pelo jeito, não tinha melhorado ainda.
  Na cama do meio, dormia encolhido, com o braço e a perna de Harry em cima dele. Eu dei uma risadinha e chequei meu celular.
  Já era 13h! Meu estômago, como se tivesse visto que horas eram também, roncou de fome.
  “Vou sair pra comprar comida. Quer ir?” – Perguntei para , com uma voz além túmulo.
  “Quero gatorade. E remédio pra dor de cabeça!” – Ele falou, indo se deitar de novo. – “Puta que pariu, cara...acho que perdi meu celular!”
  “Tá comigo!” – Eu o tranquilizei. Fui até o casaco que usara na noite anterior e joguei o aparelho para ele. – “Como nós viemos pra casa?”
  Juro que não me lembrava. Alias, me lembrava muito pouco do fim da noite.
  “Delia nos trouxe. Você e vieram discutindo, porque você queria parar para comer. Parecia um flashback doido!”
  A cena realmente não me era estranha, mas como tinha dito...era algo que costumava acontecer com freqüência no passado.
  Tomei um banho rápido e saí para buscar comida. No caminho para a porta do hotel, me ligou. Fiquei pensando quanto mais eu não me recordava da noite anterior. Eu com certeza não me lembrava de termos trocado telefone.
  “Boa tarde, sua coisa irritante! Tá melhor?” – Ela perguntou, numa vozinha linda de sono.
  “Não...mas está pior. Nem conseguiu levantar da cama!”
  “Bom...eu também não...o que você tá fazendo?”
  “Sai pra comprar comida. E gatorade. Alias, você sabe onde eu posso achar isso aqui perto do meu hotel?” – Olhei em volta, meio sem saber pra onde ir. Não costumava andar em Londres.    riu. Eu podia imaginá-la deitada na cama, mexendo nos cabelos com uma mão e segurando o celular com a outra. E milhões de cobertores por cima, porque ela era friorenta.
  “Hum...deve ter um mercado na rua de trás do hotel. Mas olha, se você quiser, consigo chegar aí em...15 minutos. Posso ir com você...”
  15 minutos, para ela, significava uma hora. Eu sabia disso. E sabia também que era melhor não, mas o que foi que eu respondi?
  “Ah, pode ser...vou te esperar lá dentro então. Você me chama?”
  Ela fez uma barulho como se estivesse se espreguiçando. Devia ser de propósito! Ela queria que eu me lembrasse de como ficava manhosa quando acordava. Sempre que dormíamos juntos, eu acordava primeiro e ela logo se enroscava em mim, pra eu não levantar. Também...depois que levantava da cama, parecia que nunca mais desligaria. Era sempre assim.
  “Chamo sim...até daqui a pouco, !”
  Voltei meio derrotado para o quarto e não encontrei ninguém acordado nem pra brigar um pouco e descontar a raiva de mim mesmo.
  Estava quase dormindo quando alguém bateu na porta. Harry tomou um susto e quase caiu da cama. Resmungou e voltou a dormir.
  “Ainda bem que eu não te esperei lá fora, hein?” – Eu falei ao abrir a porta. Ela obviamente estava linda e totalmente acordada, como se não tivesse virado a noite bebendo.
  “Desculpa! Tava tentando ressuscitar a Delia, mas ela fica de mau humor quando tá de ressaca...” – Ela me examinou por um tempo, sorrindo. Não parava de fazer isso desde que nos reencontramos. Era meio exasperador...tinha vontade de mandar ela parar. – “Posso entrar? Os meninos estão dormindo?”
  “Entra!” – Falei, saindo da frente da porta. – “Todos dormindo, feito três anjinhos bêbados!”
  Ela deu uma risadinha enquanto olhava o quarto.
  “Que zona! Vocês nunca vão mudar, não?”
  “Provavelmente não...mas vamos, chatinha! Que você demorou cinco 15 minutos pra chegar e eu tô morrendo de fome!”
  “Você VIVE morrendo de fome!” – corrigiu, enquanto saia do quarto e eu ia atrás. Como se ela tivesse passado os últimos anos comigo pra saber se eu vivia morrendo de fome ainda ou não.
  “Se alguém tivesse me deixado parar pra comer ontem a noite...” – Eu disse para irritá-la. Ela bateu a bolsa em mim e revirou os olhos.
  Fomos ao mercado e, para o meu desepero, nos divertimos demais. Paramos para comer num Starbucks ao lado do mercado, porque eu não agüentaria esperar.
  Parecíamos velhos amigos que nunca se separaram. As pessoas mudam bastante em 3 anos. Eu tinha mudado e ela também tinha. Mas parecia que nós tínhamos meio que ido para o mesmo lado. Ainda era fácil conversar com ela como sempre fora...ainda era fácil rir com ela. Ainda era fácil gostar dela.

  Quando voltamos, os meninos já estavam acordados. Harry estava no banho, assistindo TV e falava com no telefone. Parecia uma bronca, porque ele não parava de se encolher.
  “Olá!” – Ela subiu na cama de casal e deu um beijinho em . – “Como foi ontem com a Emma? Ela era legal, né?”
  “Era sim. Bom, ela não é minha alma gêmea, como eu achava...mas eu me diverti!” – Ele piscou e sorriu.
   desligou o celular e saiu sedento atrás do gatorade.
  “Problemas?” – Perguntei.
  “Não...ela não gostou muito da história de bar mexicano e de não contar pra Amy onde a gente foi...mas tá tudo bem...”
   gostava de Amy mais do que meus três melhores amigos juntos. Era engraçado.
  Harry saiu do banho e eles se sentaram na mesinha que havia em nosso quarto para almoçar. Estava sentado na minha cama e na de casal.
  “Quer dar uma volta?” – Ela perguntou, mansamente.
  “Oi?” – Estava ficando com sono de novo. Não sabia se tinha entendido direito.
  “Sair...dar uma volta...sei que tem uma loja de instrumentos aqui perto. O McFLY existe ainda, né? Não me decepcione!”
  Eu sentia falta disso em Amy: Ela não punha muita fé no McFLY. Aliás, torceu o nariz deliberadamente quando eu disse que era músico. Agora até curtia (não tinha muita opção também, né?), ia nos shows e tudo. Mas se pudesse escolher, desejaria que eu fosse advogado, engenheiro...eu? Engenheiro? Faça-me o favor!
  “Existe sim...continuamos firmes e fortes! É pra sempre, né?”
  Os olhos dela brilharam na mesma intensidade dos meus. Acho que foi meio por isso que eu concordei em sair com ela. Fiquei hipnotizado.
  “Então, vamos?” – Ela perguntou de novo, já se levantando.
  “Vamos!”
   me lançou um olhar acusador quando passei por ele. Fingi que não vi. Eu sabia o que estava fazendo! Tinha tudo sob controle! Tudo!

  Estávamos andando já fazia um bom tempo. Achava que era meio sem destino, mesmo ela dizendo que ia me levar a uma loja de instrumentos. Nunca chegava!
   me contava sobre os lugares que tinha estado e eu falava sobre o McFLY. Querendo ou não, eu a conhecia desde sempre e tínhamos sido amigos de verdade antes de namorarmos.
Então éramos dois amigos colocando três anos de assunto em dia.
  “Aqui! Sabia que era em uma dessas ruas!” – Ela comemorou, dando um pulinho e apontando uma portinha vermelha meio descascada e uma vitrine.
  Eu estava enganado, a loja de instrumentos existia mesmo e, apesar da aparência relaxada do lado de fora, era impecável por dentro. conversava com o rapaz do balcão sobre vinis enquanto eu passeava e me apaixonava a cada violão que via.
  “Quer experimentar um deles?” – Ela perguntou, chegando bem perto e eu levei um susto. Porque não esperava e pela proximidade dela.
  “Hum...eu posso?” – Perguntei, tentando me recompor.
  “Pode sim...só escolher!”
  Fiquei um tempo olhando para todos e escolhi um deles. O mais caro, aquele que eu jamais seria capaz de comprar e só teria essa oportunidade para tocar.
   sorriu e me indicou um sofázinho vermelho que havia no fundo da loja. Me sentei e dedilhei o violão. Andava ocupado ultimamente e há muito tempo não tocava. Como era bom!
  “Toca alguma do McFLY.” – Ela me pediu sorrindo, se sentando no tapete na minha frente. – “Uma que eu nunca tenha ouvido!”
  Fiquei um tempo pensando qual música tocaria. Havia muitas músicas que ela não conhecia e muitas que eu gostaria que ela conhecesse, mas naquele momento só havia uma música a ser tocada.
  Limpei a garganta e comecei.
  [Tradução]

“I'm getting tired of asking,
This is the final time,
So did I make you happy?
Because you cried an ocean,
But there's a thousand lines,
About the way you smile,
Written in my mind,
But every single word's a lie.

   me observava com muita atenção e quase nem se mexia. Sabia que a música era para ela.
  Eu tentava não encará-la e olhava apenas para o violão.

I never wanted everything to end this way,
But you can take the bluest sky and turn it gray.
I swore to you that I would do my best to change,
But you said it don't matter,
I'm looking at you from another point of view,
I don't know how the hell I fell in love with you,
I'd never wish for anyone to feel the way I do.

  Eu havia escrito POV no dia que ela tinha ido embora. Era carregada de toda a raiva que eu sentia por naquele momento. Talvez até fosse meio injusto jogar tudo isso na cara dela agora...mas eu não me sentia mal. Nós nunca mais tínhamos conversado depois da partida dela e era bom que ficasse entendido que, apesar do clima legal em que estávamos agora, tinha havido dor e sofrimento. Da minha parte, pelo menos.

Is this a sign from heaven,
Showing me the light?
Was this supposed to happen?
I'm better off without you,
So you can leave tonight,
And don't you dare come back and try to make things right,
'Cause I'll be ready for a fight, yeah.

   se mexeu desconfortável no tapete, como se não quisesse mais me ouvir. Como se aquilo tudo fosse um grande erro. Uma hora chegou até a abrir a boca, como se fosse dizer algo, mas mudou de idéia. Eu não parei de tocar, agora que tinha começado, só pararia no final.

I never wanted everything to end this way,
But you can take the bluest sky and turn it gray.
I swore to you that I would do my best to change,
But you said it don't matter,
I'm looking at you from another point of view,
I don't know how the hell I fell in love with you,
I'd never wish for anyone to feel the way I do.

  Ergui meu rosto para olhá-la e parecia que ela segurava o choro. Os olhos estavam cheios de lágrima e ela não mais olhava para mim. Estava passando a mão pelo tapete e brincando com um furinho que havia ali.

I never thought that everything would end this way,
But you can take the bluest sky and turn it gray.
I swore to you that I would do my best to change,
But you said it don't matter,
I'm looking at you from another point of view,
I don't know how the hell I fell in love with you,
I'd never wish for anyone to feel the way I do.

  Acho que foram os 4 minutos mais longos da minha vida! Quando nós cantávamos nos shows, também era um momento um pouco estranho para mim, por me fazer reviver tudo o que a música representava. Mas cantar para a “musa inspiradora” era ainda mais estranho. Eu meio que também senti uma vontade de chorar. É, talvez não tivesse mesmo sido uma boa idéia.

And you said, and you said, and you said,
And you said, and you said, and you said,
And you said it don't matter.

And you said, and you said, and you said,
And you said, and you said, and you said,
And you said it don't matter.

And you said, and you said, and you said,
And you said, and you said, and you said,
And you said it don't matter.

  Quando eu finalmente finalizei a música, um silêncio ensurdecedor se fez presente. Eu não sabia o que dizer e, pelo jeito, ela também não.
  Droga! Eu devia ter cantado uma música qualquer...devia ter cantado Everybody Knows! Ela ia se divertir ouvindo, eu ficaria feliz em ter alguém que realmente apreciasse a música e nós não estaríamos no momento mais constrangedor da minha vida.
  Foi que se pronunciou primeiro. Ela tentou disfarçar para enxugar uma lágrima teimosa que cismou em cair, mesmo ela fazendo tanta força para segurá-la.
  “É...é uma música muito linda, ! Queria que alguns produtores pudessem ouvir vocês...vocês são incríveis!”
  Ela disse isso e sorriu, com o nariz um pouco vermelho de quem chorou por um tempo. Me senti ainda mais culpado.
  “É só o que a gente queria, na verdade...uma chance pra provar nosso talento!”
  “Vocês vão conseguir. Eu sei que vão!”
  Mais um silêncio arrastado. Ela me olhou e fez menção de dizer alguma coisa, mas meu celular tocou. Era Amy.
  “O-oi, amor!” – Me levantei e sai de perto da , que ainda estava sentada no tapete, observando-o como se fosse a coisa mais interessante do universo.
  “! Onde você tá? Liguei no hotel e eles me falaram que só você tinha saído! Você nem conhece Londres, vai se perder de ficar andando sozinho!” – Ela disparou, sem nem me dar tempo de pensar.
  “Amy, Amy...você não relaxa! Fica calma, respiiira!” – Disse, em tom de bom humor para quebrar o gelo. – “Tá tudo bem, eu tava passeando e entrei numa loja genial de instrumento! E ninguém mais se perde com GPS embutido no celular, meu amor. Fica tranqüila!”
  Ela riu do outro lado da linha. A essa altura vocês devem estar pensando porque diabos eu estava com essa doida controladora. Mas Amy não era sempre assim. Ela era uma mulher maravilhosa, carinhosa e uma pediatra tão sensacional que eu tinha certeza que nossos filhos seriam os mais bem cuidados do universo! Viram só? Eu pensava em filhos com ela!
  “Tô com saudade!” – Ela disse numa voz doce.
  “Eu também...mas vai arrumar sua mala, ir se divertir com a sua mãe e voltar beeem descansada para casa, doutora!”
  “Pode deixar...me liga hoje a noite?”
  “Claro que sim! Beeijos, amo você!”
  “Também te amo!”
  Fiquei olhando mais um tempo para o celular, pensando...pensando...
   já me esperava na porta da loja.
  “Devolvi o violão...não sabia se você queria tocar mais...”
  “Tá, tudo bem...” – Olhei para ela e dei um sorriso meio acanhado. Não sabia muito bem como nós estávamos depois daquela “sessão descarrego”. Haveria conversa sobre aquilo?
Continuaríamos fingindo que não tínhamos namorado?
  “Seu namorado toca muito bem!” – O cara do balcão disse.
  “Obrigada!” – agradeceu, sem se dar ao trabalho de corrigi-lo. Se bem que ia ser pior se ela parasse pra explicar: “Então moço, esse cara é meu ex. Aí eu fui embora, sumi por 3 anos e agora caí de pára quedas na vida dele de novo. Essa música aí que ele tava tocando, o senhor ouviu a letra? Era pra mim!”. Melhor não, né?
  Nós dois saímos da loja e voltamos para o hotel. A volta foi ainda mais longa, afinal, o assunto estava meio escasso. Quando chegamos na porta, parei para me despedir.
  “Nós ainda vamos nos ver hoje a noite?” – Ela perguntou, como se pedisse minha permissão. Fiquei meio sem saber o que dizer.
  “Vamos, oras...não vamos? Você e os meninos não combinaram?”
  “Achei que a música tivesse dito que não era pra eu voltar e tentar fazer as coisas ficarem bem...” – Ela desviou meu olhar e ficou observando um carro no final da rua.
  “...eu....eu não devia ter tocado ela pra você...eu...”
  “Não, a música é linda e eu entendi o recado...”
  “Eu escrevi faz muito tempo. Não tenho mais raiva de você. Você fez o certo...foi atrás do seu sonho...eu só queria que você soubesse que doeu quando a gente terminou. Eu te amava muito!”
   não estava mais tentando impedir que suas lágrimas caíssem.
  “Você acha que eu não sofri? Que não doeu em mim te deixar? Eu...precisava ir...”
  Não agüentava vê-la chorando, mesmo que talvez ela merecesse. A abracei e ela deitou a cabeça no meu peito, me abraçando tão forte que eu quase fiquei sem ar.
  “Me desculpa, ! Me desculpa! Eu também te amava tanto...tanto...”
  “Tá tudo bem, linda...tudo bem...”
  Ela me soltou e eu limpei as lágrimas em sua bochecha. Ficar tão perto assim do rosto dela me deu uma espécie de taquicardia. Foi quase um infarte, na verdade. Eu queria beijá-la, por mais errado que isso fosse. E eu sabia que se a beijasse entraria num caminho sem volta. respirava rápido e estudava meu rosto, olhando para a minha boca com muito mais freqüência do que seria correto. Minha mão ainda estava em sua bochecha.
  Quando eu estava quase mandando tudo à merda, algo soou dentro da minha cabeça e eu recobrei os sentidos.
  “Eu...eu preciso entrar, ...ver se aqueles três doentes ainda estão vivos!”
  Ela piscou e se afastou, como se também estivesse acordando.
  “Ah, ok...me liguem para combinarmos hoje a noite então...”
  “Claro...claro...”
  Ela sorriu e saiu andando. E eu fiquei ali mais um pouco pensando no meu casamento. Pela primeira vez achei que não fosse uma boa idéia.


  Aquele quarto estava uma confusão e eu já tinha desistido de tentar entender fazia tempo. O que eu sabia era que o karaokê não parecia radical o suficiente para aquele grupo de bebuns e eles agora decidiam onde a gente ia.
  Depois de muita discussão, um frigobar vazio, pesquisas infinitas no Google maps e alguns telefonemas...eles decidiram que não iam escolher um lugar só. A diversão da noite seria uma competição: Iríamos para Camden Town e beberíamos em quantos pubs conseguíssemos. Quem desistisse (ou desse PT), entrava num táxi e voltava para o hotel. Não haveria prêmios, apenas a graça de poder tirar sarro de todo mundo que tinha passado mal e voltado antes. E isso para mim, os meninos e valia mais que dinheiro!
  “Vamos começar essa parada aí então!” – Harry falou impaciente, indo se olhar no espelho pela milésima vez. Isso porque ele nem precisaria se esforçar! Delia estava indo conosco, o que significava que ele já tinha se arranjado. Mas era Harry Judd e ele é o cara mais vaidoso que eu conheço. Vai soar bem gay, mas é um dos caras mais bonitos que eu conheço também!
  “Vamos! Vamos logo!” – se levantou da cama, onde estava sentada com , procurando os pubs no Google.
  Eu tinha a mais absoluta certeza que ela havia se vestido para me tirar do sério naquela noite! O vestido preto era justo e curto na medida certa para eu não conseguir tirar os olhos dela.   Na verdade foi isso que fiz a maior parte da discussão sobre onde iríamos: Fiquei tomando uma cerveja e admirando-a.
  Enquanto as meninas acertavam as maquiagens no banheiro, disputando o espaço com Harry, se aproximou de onde eu estava sentado.
  “Se olhares pudessem matar...”
  “Oi?” – Eu estava distraído olhando empurrar Harry para fora do banheiro, gargalhando.
  “Se olhares pudessem matar...” – Ele repetiu, colocando a carteira no bolso de trás e ainda me olhando com uma expressão preocupada. – “Você não parou de encarar a um segundo, cara! Quer conversar sobre isso?”
  Eu me levantei para também pegar minha carteira e celular.
  “Tá tudo bem, ...e a culpa é toda dela! Eu estava olhando para instintivamente. Porque eu sou homem! Vocês também olharam!” – Acusei.
  “Por cinco segundos...” – Ele se defendeu. – “Eu ainda acho que você tá precisando conversar sobre isso. Sobre vê-la de novo. Eu vi a sua cara quando chegou aqui hoje de tarde!”
  “Eu só tava cansado!” – Menti. A verdade é que eu estava confuso demais para conseguir colocar em palavras para alguém. E não havia tempo também...não queria ficar discutindo isso a noite inteira e acabar com a festa dos meus amigos. – “Será que as três donzelas podem terminar de se arrumar logo?”
  “E cadê o ?” – perguntou, colocando o lápis de olho dentro da pequena bolsa que carregava e saindo do cubículo.
  “Foi esperar o taxi lá fora...” – Harry respondeu, também saindo do banheiro, com Delia atrás dele.
  “Vocês sempre deixam o trabalho sujo pra ele, coitado! Como eu estou?” – Ela parou na minha frente e sorriu, tentando ajeitar um cachinho de seu cabelo e esperando minha aprovação.
  “Eu só quero tirar todo mundo desse quarto e ficar sozinho aqui com você!” – Foi o que passou pela minha cabeça, maaaas...é, lógico que não foi o que eu disse. Para irritá-la, eu dei de ombros e fiz cara de indiferença.
  “É...” – Falei, como se ela não estivesse arrancando meu coração fora.
   arregalou os olhos e ameaçou me bater com a bolsa pela segunda vez no dia.
  “Só isso?”
  ”Tô sendo sincero, desculpa...” – Comecei a rir da cara dela e coloquei a mão em suas costas, para dirigi-la até a porta. – “Você tá linda, besta! Que pergunta ridícula!”
   ainda me olhou mais uma vez como se esperasse que eu realmente a puxasse para dentro do quarto e nos trancássemos lá. Sorri para ele, tentando parecer tranqüilo e chamei o elevador.


  Ok, a idéia tinha sido realmente muito boa. Há muito tempo eu não me divertia daquele jeito! Estávamos no terceiro pub, todos levemente embriagados e rindo muito.
   conversava com um russo muito estranho e vez ou outra olhava para mim como se não estivesse entendendo metade do que o cara falava.
   e Harry atormentavam a banda do pub, pedindo músicas das Spice Girls. O vocalista, porém, tinha um senso de humor gigante (assim como sua paciência) e até improvisou um Wannabe a capella.
  , Delia e eu tentávamos descobrir qual era a pior cerveja daquele bar. Ela era uma companhia agradável e tinha os melhores comentários sobre as cervejas.
  Não havia uma regra sobre quando devíamos sair de um pub e ir para outro. Quando alguém decidisse que era hora, então era hora.
  “E aí, aquela cerveja belga ainda está ganhando?” – se aproximou de nós, também bebendo sua cerveja.
  “Sim, aquela ainda é a pior de todas!” – Delia disse. – “Mas agora estamos de olho naquela ali!” – Ela apontou. – “Parece ser amarela demais!”
   riu e olhou para a frente do pub, onde Harry subia no palco para ocupar a bateria.
  “Mas o que...”
  Todos nós olhamos e ouvimos a risada de . Os outros membros da banda conversavam com ele sobre o que tocariam.
  “Tá certo!” – Disse o vocalista, ajeitando o microfone. – “Então nós temos no palco o Senhor Harry Judd, da banda McFLY! Palmas para ele!”
  Nós gritamos e assobiamos. fez menção de subir numa cadeira para enxergar melhor, mas deu uma desequilibrada antes e achou melhor não.
  “Essa se chama Come Together!”
   saiu de onde estava para se juntar a nós.
  “Posso falar que tô com ciúme?” – Ele falou assim que chegou. – “Ele é NOSSO baterista!”
  Nós quatro rimos dele.
  “Você tá com ciúmes porque o vocalista é mais bonito que você, , e foi com a cara do Harry!” – Eu disse e ele me deu um soco no braço.
  “Bom, então a Delia devia tomar cuidado também!” – falou cutucando-a e rindo da amiga envergonhada.
  O bar inteiro aplaudiu sonoramente quando a música acabou e nosso amigo demorou muito mais tempo do que o normal para chegar onde estávamos. Sucesso instantâneo com as mulheres.
  “Me lembrem de nascer Harry Judd na próxima vida!” – Disse , tomando mais um gole da sua cerveja e nos fazendo rir mais um pouco.

  “Eu acho que quero ir embora!” – abriu um olho e apontou para mim, mais resmungando do que realmente falando.
  Eu sabia que ele seria o primeiro a dar PT! Estávamos “na quarta estação” fazia um tempo já e ficarmos amigos da banda no pub anterior tinha nos concedido muita bebida de graça, que bebeu como se não houvesse amanhã.
   já tinha ido embora, mas só porque ele era pau mandado demais. Estava sóbrio ainda.
  “Vamos até a porta então, cara, eu te ajudo a achar um táxi!”
  “Uhum...” – Ele falou fechando o olho de novo.
   veio até onde a gente estava saltitando. Estava ficando alta também. Aquela noite até o momento estava sendo um inferno para mim. Eu não sei se ela fazia de propósito, mas sempre a pegava me olhando cobiçosamente. Talvez fosse só o álcool que a impedia de disfarçar quando eu a olhava também...a coisa é que eu sabia que o que via nos olhos dela era o que eu também trazia no meu cérebro.
  “? Você tá bem?” – Ela fechou o sorriso em uma expressão séria ao ver como estava. – “Ele tá bem, ?”
  “Então...não sei, ele só resmunga!”
  Ela se sentou ao lado dele, fazendo carinho em sua cabeça.
  “? ?”
  “Oi!” – Ele respondeu, fazendo-a sorrir.
  “Você quer ir embora, lindo? Consegue andar? Consegue se levantar, pelo menos?”
  A ternura que ela usava na voz era a coisa mais linda desse mundo. Quando namorávamos cuidava de mim e dos meninos, exatamente daquele jeito. Arrumava amigas bonitas e legais para Harry, cuidava de bêbado, passava horas falando de livros com ...
  “Preciso vomitar...” – ergueu a cabeça, meio tonto e se firmou na mesa para levantar.
  “Vai com ele, ?” – me pediu, ajudando-o a ficar de pé. – “Vou pagar nossas comandas!”
  Saí com meio se arrastando, meio sendo levado por mim. De repente eu não queria mais porque ela era a mulher mais sexy dentro daquele pub e, provavelmente, do mundo. Eu a queria porque ela era...ela. Sim, eu a queria! E isso me daria mais dor de cabeça do que a ressaca que eu com certeza teria amanhã!
  Enquanto cuidava de , meu celular tocou. Eu estava tão bêbado e tão atordoado com a presença de , que atendi mesmo sabendo que isso só ia piorar tudo depois. Nem bem atendi e Amy gritou:
  “!”
  Mas ela já estava gritando? Nem sabia onde eu estava ainda!
  “Oi Amy.” – Respondi, meio cansado dos pitis dela.
  “Como assim você saiu ontem, foi em um bar mexicano e não me conta?” – Silêncio. Maldita , tinha aberto o bocão! Quando eu ia falar, ela voltou a gritar. – “E onde você tá agora? Tá uma barulheira! Vocês não iam ficar no hotel compondo? Não foi pra isso que vocês viajaram?”
  “Mas a gente saiu pra beber hoje, meu amor...só a gente! Qual o problema?” – Perguntei vendo sair do banheiro todo pálido. Fiz sinal perguntando se ele tava bem e ele fez que sim e foi lavar o rosto na pia. – “E quem te falou que a gente saiu ontem?”
  “Vi no facebook do !”
  Eu ia MATAR aquele desgraçado!
  “A gente foi, mas voltou logo! Aquela hora que eu te liguei, eu já tava mesmo no quarto.”
  “Mas você mentiu pra mim!”
  Aquilo era realmente algo que eu não queria pra minha noite, que estava tão legal até o momento.
  “Amy, não consigo te ouvir aqui...te ligo amanhã. Beijos, te amo...tchau!”
  Desliguei o celular antes que ela pudesse responder.
  “Tá foda!” – falou e eu não sabia bem se ele estava falando dele ou da minha conversa com Amy. Ou dos dois.
  “É, cara...tá foda!”

  Colocamos no taxi e rezamos para o taxista ser uma alma boa e não fazer nada a ele.
  “Viadinho!” – Harry caçoou. – “Sempre bebendo mais do que agüenta!”
  Ele passou o braço pelo ombro de Delia e sorriu para mim e para .
  “E aí, sobreviventes? Onde vamos agora?”
  “Próximo pub!” – levantou os braços e deu um passo em falso, quase caindo em cima de mim. – “Ooopa, não me empurra não!”
  “Peraí, vamos chamar um taxi que a tá ruim também!” – Eu falei, segurando-a pela cintura, para que ela não caísse.
  “Babaca!” – Ela disse rindo, me dando um tapa no braço e sem se importar com a minha mão. – “Eu vou ganhar essa competição!”
  “Só se eu deixar!”
  “Enquanto vocês discutem, eu e a Delia estamos indo beber mais, ok?” – Harry nos interrompeu e nós quatro fomos andando até o próximo pub.

  [Tradução]

“I wish you could see your face right now
'Cause you're grinning like a fool
And we're sitting on your kitchen floor
On a Tuesday afternoon

  “Aqui! Aqui! Vamos nesse!” – apontou, já se encaminhando para a porta.
  “Esse foi o primeiro pub que a gente foi, demente!” – Harry falou, puxando-a de volta.
   gargalhou e voltou para o meu lado, como se quisesse que eu a segurasse pela cintura de novo. E eu voltei a abraçá-la. Vai saber...ela poderia cair de novo, não é?

Doesn't matter when we get back
To doing what we do
'Cause right now could last forever
Just as long as I'm with you

  “Eu não sei não...a gente já está muito bêbado!” – Delia falou, olhando receosa para a tequila.
  “Delia! Você é minha parceira aqui, nós temos que ganhar desses dois manés!” – empurrou o copinho para ela e o meu para mim. – “Você tá dentro ou fora, ?”
  “Dentro, lógico!” – Respondi, no mesmo tom sério que ela usava. Como se estivéssemos decidindo o futuro do país.
  “Judd?” – Ela se virou para ele, mas...
  “Já bebi a minha. Vocês conversam demais!” – Harry respondeu, batendo o copinho no balcão e esperando Delia tomar a dela para beijá-la.
   olhou para mim levantando as sobrancelhas quando “sobramos”.
  “Ok então...” – Bateu o copinho dela no meu, como um brinde, e virou também. Demorei mais porque estava observando-a fazer uma careta linda.

You're just a daydream away
I wouldn't know what to say if I had you
And I'll keep you a daydream away
Just watch from a safe place
So I never have to lose

  “Loooooooosers!” – gritava para a janela do taxi onde Harry e Delia estavam. – “Você é uma vergonha, Harry Judd! Uma vergonha!”
  Ela sabia que Harry ficaria extremamente bravo por ser zuado e eu adorava que ela estivesse fazendo aquilo. Se fosse eu, tomaria um soco.
  “Eu bebi mais que você! E to indo embora por motivos de força maior!” – Ele se defendeu.
  O motivo de força maior era ir para a casa que Delia e dividiam, mas eu duvidava que eles fossem fazer algo. Ela estava quase dormindo no ombro de Harry.
  “Cuida dele, !”
  “Cuida da Delia, Judd!”
  O taxi partiu e ficamos só nós dois na calçada.
  “Ebaaa! Ganhamos!” – comemorou.
  “Como ganhamos? Tá doida? E a nossa competição pessoal?” – Perguntei a ela, enquanto íamos andando, meio sem direção.
  “A gente não pode empatar? Eu não quero mais beber!” – Ela parou de andar e olhou para mim, coçando os olhos, como se estivesse com sono. Eu também estava com sono, mas não queria ir embora. Não queria deixá-la.

We would go out on the weekend
To escape our busy lives
And we'd laugh at all the douche-bag guys
Chasing down their desperate wives
I would drink a little too much
And you'd offer me a ride
I would offer you a t-shirt
And you would stay another night

  Andamos muito, tanto que até resolveu tirar o salto. Eu nem sabia se era seguro andar sozinho daquele jeito por Londres de madrugada, mas não estava ligando muito.
  “Você tá andando descalça pela rua! Que nojo!” – Eu amava irritá-la! A cara que ela fazia era impagável.
  “Nojo se você não toma banho quando chega em casa...e se você não calar a boca, vou fazer você me carregar pra não sujar mais meu pé!”
  Eu a carregaria tranquilamente. Até o inferno, se ela quisesse. Mas como estava bêbado, a chance de cairmos era grande demais para eu tentar.

You're just a daydream away
I wouldn't know what to say if I had you
And I'll keep you a daydream away
Just watch from a safe place
So I never have to lose

  Já estava quase amanhecendo e eu e estávamos sentados em um banquinho de um jardim muito bonito. Não fazia idéia de onde estava, mas ela parecia saber...então estávamos bem.
  Eu estava quase dormindo, mas a doida queria ir embora de metrô e não de taxi, por isso estávamos esperando a estação abrir.
  “Deita no meu colo então. Eu te acordo quando for a hora...” – Ela sugeriu meigamente e eu me deitei.
  Talvez se estivesse menos bêbado e sonolento, teria sido realmente tenso me deitar nas pernas dela, mas naquele momento, era só um lugar para eu poder dormir. Me virei para olhar o rosto de e ela sorria, me olhando e fazendo cafuné na minha cabeça. Era bom como eu me lembrava.

We never stood a chance out there
Shooting love in real-time
So we'll take it over ice tonight
With a little salt
And a little lime

  Não me lembro muito bem de como cheguei até o hotel, mas cheguei. Acho que lembro de subindo comigo e me colocando na cama. Ganhei até um beijo de boa noite e gostaria muito de me recordar melhor desse momento.
  Depois ela lavou o pé, checou se estava bem (ele também ganhou um beijo de boa noite) e foi embora.
  Mesmo no estado em que eu me encontrava, sabia que aquela noite tinha mudado muita coisa na minha cabeça. E pior, no meu coração.

You're just a daydream away
I wouldn't know what to say if I had you
And I'll keep you a daydream away
Just watch from a safe place
So I never have to lose”


  Ressaca. Ressaca. Ressaca. Ressaca. Uma para cada um de nós dentro daquele quarto. Mentira, subtraiam uma ressaca aí, porque era um mulherzinha e tinha ido embora antes da noite realmente ficar legal!
  Por isso, também, estávamos fazendo-o de escravo. Ele tinha saído para buscar comida, tinha atendido meu celular para falar com Amy e tinha ido dizer à camareira não nos incomodar naquela tarde (manhã? Que manhã? Eu cheguei em casa às 7h, dêem um desconto!).
  “Como você tá, ?” – Perguntei ao vê-lo sair do banheiro pela quinta vez.
  “Acho que agora vou ficar melhor. Não tem mais o que sair daqui!” – Ele disse, passando a mão pelo pescoço.
  Harry havia chegado uma hora atrás e pelo sorriso que ele não conseguia esconder e o “My Girl” assobiado desde o minuto que ele entrara no quarto, eu estava errado anteriormente.
  “ chegou em casa bem cedo hoje...” – Ele falou, me espiando.
  “Ficamos andando por Camden até de manhã...ela queria voltar de metrô...” – Contei. Verdade pura, simples e inocente.
  “E quem ganhou, no final?” – perguntou.
  “.” – Respondi, meio perdido em pensamentos. Queria lembrar sobre o que tanto conversamos enquanto andávamos. – “Ela me colocou na cama antes de ir pra casa. Acho que isso faz dela a vencedora, né?”
  “Provavelmente...” – respondeu, meio rindo. – “Eu posso falar que sentia falta dela ou vou apanhar?”
  Sorri para ele e dei de ombros.
  “Não, tudo bem...quem não sentia falta dela?”
   ainda fazia aquela cara de preocupado e eu ainda fingia não ver.

  Passamos a tarde juntos e fazendo nada. Rimos um pouco de Harry subindo no palco e das muitas pérolas daquela noite. Amy tentou falar comigo mais umas duas vezes e eu não atendi. Mandei uma mensagem depois falando que não estava perto do celular e para ela relaxar no SPA, querendo dizer “não quero te atender, não me liga mais por hoje!”
  E então meu celular tocou de novo.
  “Oi !” – Sai de perto dos meninos para atender.
  “Oi! Tá vivo?”
  Eu ri.
  “Tô sim, e você? Conseguiu limpar aquele pé nojento?”
  Ela riu também.
  “Imbecil, claro que consegui! Mas então...tô aqui na frente do hotel. Quer dar uma volta?”
  “Uma volta? Algum motivo especial?”
  “Não...sem motivo especial...só queria te ver...” – completou, parecendo meio em duvida, porém, se estava autorizada a dizer coisas como aquela.
  Eu, que desde a noite passada não estava mais no meu juízo perfeito, aceitei.
  “Eu...hum...vou sair com a , ok?” – Disse aos meninos, sem encará-los. Quando a gente sabe que está errado e mesmo assim quer fazer algo, é mais difícil enganar os amigos que a nós mesmos. Eu inclusive corri para fora do quarto e dos olhos acusadores deles.
   me esperava encostada no carro, do outro lado da rua. Os óculos de sol escondiam sua cara de ressaca e ela bebia uma coca-cola.
  “E aí? Onde vamos?”
  “Passear por Londres...ou a gente só pode andar por aí a noite e quando estamos bêbados?”
  “Não, tá ótimo! E me dá um gole dessa coca aí, que eu também to de ressaca!”
  Ela me entregou a latinha e nós entramos no carro.
  Enquanto passávamos por vários pontos turísticos da cidade, me contava sobre sua volta à Inglaterra.
  “Cheguei faz uns 20 dias, mas estou de férias. Me organizando, organizando minhas coisas...tá tudo chegando por fedex. É horrível!”
  “E você já conhecia a Delia?”
  “Conheci ela nos Estados Unidos, quando ela foi fazer um curso e ficou no meu apartamento. Eu estou na casa dela por um tempo só também. Quero uma casa só minha...com quintal, jardim, cachorro...”
  Era exatamente o mesmo discurso de três anos atrás: a casa dela com quintal, jardim e um cachorro. Não consegui conter o sorriso.
  Depois de algum tempo só andando de carro, resolvemos caminhar em um parque. Estava quase anoitecendo e o clima estava simplesmente perfeito para uma voltinha.
  Nos sentamos no gramado e ficamos observando o movimento.
  “E você? Já decidiu coisas sobre seu casamento?” – me pegou desprevenido com a pergunta.
  “Eu..é...ainda não...” – Evitei olhá-la e fiquei observando uma joaninha andar pela grama.
  “Nada? Nadinha? Nem, sei lá, onde você vai casar?”
  “Acho que vamos nos casar na igreja da cidade mesmo...quer dizer, Amy não é de lá...talvez a gente se case na cidade natal dela.” – Se ela soubesse como eu não queria falar sobre aquilo...
   me olhou estranho.
  “O que aconteceu com sua vontade de se casar na praia?”
  “Eu nunca quis me casar na praia!” – Respondi e a olhei. – “VOCÊ queria se casar na praia...e eu...só queria me casar com você, onde quer que fosse..”
  Mantive meu olhar para ver o que diria. Estava começando a ficar realmente estranho o clima entre a gente e eu já não sabia mais se queria fingir que não estava acontecendo nada.   Para meu total desapontamento, ela deu uma risadinha anasalada e cortou nosso contato visual, tomando mais gole da coca.
  Ficamos em silêncio por muito tempo depois disso. Foi bem constrangedor que a última coisa dita tenha sido aquilo. Que droga!
  “Tá ficando frio...vamos?” – passou as mãos pelos braços e se levantou, me ajudando a fazer o mesmo. – “Tem aquela pizza de frango que você ama em casa, quer?”
  Minha fome falou por mim e eu concordei com a cabeça.

  A casa de Delia não era grande, mas era muito confortável. me mostrou a casa toda e depois ligou a TV e me apontou o sofá na sala para eu esperar.
  “E cadê a Delia?” – perguntei.
  “Bom, ela não está de férias. Mas como já passou da hora do expediente...provavelmente com o Harry.” – gritou e eu ri.
  Eu conseguia vê-la na cozinha. Andava para lá e para cá pegando pratos, copos, talheres...vez ou outra sorria para mim de lá. E eu sorria de volta como um idiota apaixonado.
  E era exatamente assim que eu me sentia naquele momento: um idiota apaixonado. Tudo estava virado no avesso e eu não sabia mais o que fazer. Havia três dias que eu só me importava com o que pensava e fazia, que eu não falava direito com Amy e nem queria falar...eu estava vivendo uma fantasia! Um mundo paralelo.
  Mas no dia seguinte eu iria embora e o que deveria fazer? Esquecer, deixar para lá? Ou assumir o que eu sentia e ir atrás desse sentimento?
  Bom...o que eu sabia naquele momento era que eu não podia decidir sozinho!
  [Tradução]

You've been on my mind,
I grow fonder every day,
Lose myself in time,
Just thinking of your face,
God only knows why it's taken me so long to let my doubts go,
You're the only one that I want,

  “A pizza tá pronta!” – apareceu na porta da sala para me chamar.
  “O que tá acontecendo aqui, ?” – Eu perguntei me levantando e colocando as mãos nos bolsos.
  Ela olhou em volta como se esperasse um foco de incêndio ou um ladrão assaltando o apartamento, depois me olhou de volta, confusa.
  “Oi?”
  Mas eu não estava falando da sala e nem da casa.
  “O que está acontecendo aqui, entre nós dois? Eu preciso saber!”

I don't know why I'm scared,
I've been here before,
Every feeling, every word,
I've imagined it all,
You'll never know if you never try,
To forgive your past and simply be mine.

   entendeu que, dessa vez, eu não ia deixá-la fugir do assunto. Eu queria resolver aquilo tudo! Se eu tivesse me despedido dela pela ultima vez quando ainda tínhamos 18 anos, então tudo estaria bem. Naquela época nós realmente não sabíamos bem o que éramos. Saíamos, andávamos de mãos dadas, ela cuidava de mim...nós éramos amigos, mas ficávamos de vez em quando...eu gostava dela e ela gostava de mim, mas tínhamos um pouco de medo.
  Só que a gente tinha namorado, a gente tinha brigado, ela tinha ido embora e agora eu estava prestes a pedir minha namorada atual em casamento. Ou não. Tudo dependia dessa conversa.

I dare you to let me be your, your one and only,
Promise I'm worthy,
To hold in your arms,
So come on and give me a chance,
To prove I am the one who can walk that mile,
Until the end starts.

  Ela continuava calada e eu já tinha decidido que só falaria depois que ela falasse. mordeu os lábios e caminhou em minha direção. Parecia estar ensaiando o que iria me dizer.
  “Você sabe porque eu fui embora, ?” – Ela perguntou.
  “Porque você era muito maior que a Inglaterra...” – Recitei como um texto decorado. Eram as palavras dela, foi o que ela me disse quando me contou que ia.
  Ela balançou a cabeça.
  “Eu estava com medo, . Eu fui embora porque estava com medo!”
  Essa era nova pra mim, medo de que?
  “Medo de que?”

If I've been on your mind,
You hang on every word I say,
Lose yourself in time,
At the mention of my name,
Will I ever know how it feels to hold you close,
And have you tell me whichever road I choose, you'll go?

  “Medo de você, medo do que eu sentia por você...eu não conseguia mais tomar minhas decisões baseadas só em mim como antes. E aí, você começou a falar em casamento e...” – falava olhando nos meus olhos e gesticulava. E eu até estava entendendo o que ela queria dizer, porque era mesmo muito livre para aceitar que alguém pudesse estar controlando-a, ainda que nunca tivesse sido minha intenção. Mas sobre o casamento...
  “Que casamento? Eu não estava falando sobre casamento!”
  “Você falava sim! Falava toda hora do nosso casamento na praia e de como sua mãe não ia gostar da idéia e...” – Eu me perdi um pouco no que ela dizia, porque me lembrei de como agira quando eu tinha dito que só queria me casar com ela, ainda há pouco no parque. Agora as coisas faziam sentido! Um pouco. – “...eu só tinha 22 anos!” – Ela terminou.
  “Você é maluca! Eu falava do nosso casamento porque VOCÊ falava do nosso casamento!”
  “Eu sou uma garota, ! Não estava falando do NOSSO casamento, estava falando do MEU casamento, com quem quer que fosse. Garotas falam de casamento desde os 6 anos de idade!”
  E eu tinha que saber sobre isso?

I don't know why I'm scared,
'Cause I've been here before,
Every feeling, every word,
I've imagined it all,
You'll never know if you never try,
To forgive your past and simply be mine.

  “Como você queria que eu soubesse disso, se você não me disse nada?”
  “Eu fiquei apavorada! Saber por que? Porque eu me casaria com você! Eu me casaria com você no outro dia! Mesmo se não fosse na praia, mesmo se fosse em Las Vegas, com um padre gay!” – falou, meio exasperada e chegando mais perto. Meu coração batia tão rápido que eu parecia ter corrido de casa até Londres. – “Aquilo era totalmente contra os meus princípios! Eu queria ser livre, eu conhecer o mundo! E foi o que eu fiz...foi ridículo, foi sem pensar...mas era o que fazia sentido pra mim naquele momento! Eu precisava viver as coisas antes de me unir a alguém pra sempre...mesmo que fosse a você!”
  “Como se eu não fosse seguir em frente...e fosse te esperar...”
  “Eu sei, foi idiota!” – deu de ombros e me encarou se dando por vencida. – “Cheguei tarde demais...”
  “Você se arrepende?” – Perguntei.
  “De ter ido embora?” – Ela pensou um pouco antes de responder. – “Eu não me arrependo de ter me candidatado a vaga e ter conhecido os lugares que conheci. Eu me arrependo de não ter te dito que eu ia, mas voltava. E voltava por sua causa.”

I dare you to let me be your, your one and only,
I promise I'm worthy, mmm,
To hold in your arms,
So come on and give me a chance,
To prove I am the one who can walk that mile,
Until the end starts.

  Não havia mais muito espaço entre nós dois, mas deu um passo e diminuiu ainda mais nossa distância. Continuava mordendo os lábios nervosamente e me olhando como se estudasse minhas reações. E eu me entregava em casa uma delas.
  “Eu voltei pra ser sua pra sempre, !”
  Ela sorriu e ergueu uma das mãos para fazer carinho na minha bochecha. Fechei os olhos quando ela me tocou e senti que ela se movia mais para perto. Minha respiração estava falha. A dela também, eu podia sentir.
  “Me promete que dessa vez é pra sempre?” – Pedi.
  “Quantas vezes você quiser...”
  Abri meus olhos e ali estava ela. Passei meus braços pela sua cintura e a trouxe para perto. Depois coloquei uma das minhas mãos em seu pescoço e encostei meus lábios nos dela. Eu sabia que isso aconteceria assim que a vi no pub, eu simplesmente sabia que terminaria assim. Ou recomeçaria assim.
   me abraçou forte enquanto nos beijávamos e nossos corpos agora estavam colados um no outro. Queria beijá-la para sempre, naquela mesma intensidade, como se nossa vida dependesse daquilo. Eu não conseguia decidir onde queria que minha mão ficasse e senti os lábios de se entortando em um sorriso por causa disso. Ela sorria enquanto me beijava, como eu poderia não amá-la?

I know it ain't easy giving up your heart,
I know it ain't easy giving up your heart,
Nobody's perfect,
(I know it ain't easy giving up your heart),
Trust me I've learned it,
Nobody's perfect,
(I know it ain't easy giving up your heart),
Trust me I've learned it,
Nobody's perfect,
(I know it ain't easy giving up your heart),
Trust me I've learned it,
Nobody's perfect,
(I know it ain't easy giving up your heart),
Trust me I've learned it.

  Comecei a andar, ainda sem partir o beijo, mas percebi que não me lembrava onde deveria ir.
  “Onde fica a droga do seu quarto?” – Perguntei, ainda com minha boca na dela e meio impaciente.
   riu e para minha tristeza, me deu um selinho e se soltou do meu abraço.
  “É por aqui...” – Ela me puxou pela mão até seu quarto e abriu a porta antes de voltar a me beijar, ainda mais calorosamente.
  “Eu amo você!” – Ela falou, quase sem emitir som, enquanto eu beijava seu pescoço e a dirigia para sua cama.
  Parei de beijá-la e olhei bem em seus olhos para responder.
  “Eu te amo também. Tanto...tanto...”
  Ela sorriu e continuou me encarando.
  “Que foi?”
  “Nada...tô só te olhando. Passei 3 anos sem te ever...sem te ouvir dizendo que me ama...”
  Eu sorri de volta.
  “Eu te amo...eu te amo...”
  Ela me impediu de dizer mais uma vez e me beijou de novo. Eu a coloquei na cama e me deitei por cima dela, puxando a blusa que ela usava enquanto ela também tratava de tirar minha camiseta.
  E o resto eu deixo por conta da imaginação de vocês...

So I dare you to let me be your, your one and only,
I promise I'm worthy,
To hold in your arms,
So come on and give me a chance,
To prove I am the one who can walk that mile,
Until the end starts,
Come on and give me a chance,
To prove I am the one who can walk that mile,
Until the end starts.


  Acordei meio sem saber onde estava, mas não por muito tempo. Logo fiquei consciente de quem dormia sobre o meu peito. Seu perfume era tão bom e tão suave. Olhei para ela meio maravilhado e tão feliz que talvez explodiria.
   se mexeu e abriu os olhos, ainda sonolenta.
  “Bom dia, meu amor!” – Eu disse, passando a mão em seus cabelos.
  “Bom dia, meu amor!” – Ela respondeu, inclinando a cabeça para me olhar.
  Tudo estava silencioso e quentinho e eu poderia passar o resto da minha vida ali.
  “O destino é uma coisa engraçada, não é?” – Falei, acariciando o rosto dela. – “Quer dizer...com tantos lugares em Londres para você ir, você estava no bar onde eu estava! Tava escrito que a gente deveria se encontrar de novo!”
   deu uma risadinha e levantou o corpo.
  “Posso confessar uma coisa? Eu sabia que você ia estar lá, vi no facebook do ...” – Ela contou, rindo.
  Eu não achei a menor graça. De novo a merda do facebook! Era por isso que eu não tinha aquela porra! Me levantei tão rápido que quase a derrubei do outro lado da cama.
  “Você o que?”
  “O que foi, ?”
  “Você foi sabendo que eu ia estar lá e fez todo aquele teatro de ‘oh, nos encontramos por acaso!’, ?” – Minha raiva estava subindo bem rápido.
  Ela se sentou na cama e me olhou preocupada.
  “, eu...”
  “Você sabe como eu sou idiota pra essas coisas, como eu ia achar que se o destino tinha te colocado ali, era porque nós deveríamos ficar juntos e você usou isso pra se aproximar!”
  “...” – me chamou, dessa vez, como se quisesse me trazer à razão. E então eu percebi que tudo ali era irracional. Eu tinha passado a noite com a minha ex-namorada doida, ainda namorando a Amy e prestes a pedi-la em namoro. – “, não faz diferença!”
  “Faz toda a diferença! Você é sempre assim! Faz as coisas sem pensar em nada! Decidiu que eu ia te pedir em casamento e fugiu...aí voltou, viu que eu ia estar em Londres e caiu na minha vida de novo, fazendo uma ceninha pra eu acreditar que era obra do acaso! Que idiota eu sou!”
  Comecei a juntar minhas roupas e me vestir. Precisava sair dali e voltar para a Terra. Voltar para o meu juízo perfeito e para a minha namorada que, apesar de não despertar em mim metade do que despertava, era alguém madura...e normal.
  “Não faz isso, ! Não vai embora assim!” – A essa altura, estava chorando e me segurando para eu ficar.
  “Me solta! Me deixa em paz, pra sempre!” – Gritei, me desvencilhando das mãos dela.
  Saí ainda colocando a camiseta e com o tênis desamarrado e entrei no primeiro taxi que vi.
  Eu bufava de raiva e, se não tivesse vergonha do motorista do taxi, era bem provável que eu chorasse.
  Entrei voando no hotel e encontrei os três no quarto, ainda dormindo.
  “Acordem! Vamos embora daqui! Vamos pra casa!” – Eu falei, dando passadas largas até a janela e abrindo as cortinas. Os meninos não estavam entendendo nada.
  “! Onde você tava? Porque desligou o celular? A Amy me ligou, estava desesperada atrás de você!” – se sentou na cama e me olhou. – “Onde você tava, ?” – Ele repetiu.   “Não importa, vamos embora agora. Eu ligo pra Amy no caminho. Arrumem as coisas de vocês e eu vou descendo pra fazer check out. Acorda Harry, que merda!”
  Sai na mesma velocidade que entrei e cinco minutos depois três zumbis me olhavam completamente atordoados no hall de entrada do hotel. Amigo é amigo, né?

  Fazia três dias que eu tinha voltado e continuava pensando nela. Mas acho que era uma coisa que ia ficar na minha cabeça para sempre. É a maldição do primeiro amor...a gente nunca esquece!
  Estava no meu quarto, apanhando da minha gravata. Ia jantar com Amy em dez minutos e fazer o pedido. Sim, eu iria pedi-la em casamento.
  Percebi que alguém estava na porta do quarto pela minha visão lateral, era uma mulher. Devia ser a vindo me zuar.
  “, me ajuda aqui com a...”
  Não era ela.
  “Posso entrar?” – estava parada na porta com um sorriso tímido.
  “Erm...entra...o que você tá fazendo aqui?”
  Desisti da gravata, se continuasse segurando aquilo em volta do meu pescoço era capaz de me enforcar.
  “Vim te ver, falar com você...”
  “Acho que já conversamos tudo...”
  “...” – O tom de voz dela agora não era mais me chamando a ser racional, como se ela estivesse querendo me mostrar que 1 + 1 = 2 e eu não aceitasse. Era um tom de suplica. Ela queria que eu a ouvisse, porque era muito importante. – “Será que você pode não pedir a Amy em casamento hoje? Posso te pedir pra pensar melhor nisso?”
  “Não tem o que pensar, ...” – Eu estava impassível. Ou eu queria aparentar estar.
  Ela se aproximou mais de mim.
  “Me diz que você não me ama, que não é comigo que você quer ficar e eu vou embora!”
  Aquilo era jogo sujo. Eu jamais poderia dizer que não a amava!
  “Você sempre vai embora de qualquer jeito, ...”
  Eu queria sair correndo dali.
  “Não fala assim! Não é verdade...” – Ela se aproximou e tocou o meu rosto. Minha respiração imediatamente ficou rasa. Como aquela garota fazia aquilo? – “Eu sei que o que eu fiz foi errado, , eu não deveria ter mentido. Mas quando eu te disse que não faria diferença, eu estava me referindo a nos encontramos. Eu viria atrás de você aqui de qualquer forma! Eu iria onde quer que fosse atrás de você!”
  Eu sabia que ela estava certa. Eu sabia que talvez tinha sido tempestade em copo d’água e, naquele momento, eu entendi exatamente do que tinha tanto medo antes. Nós estávamos presos um ao outro e, independente do que acontecesse, nós nos esbarraríamos pelo mundo. E quando nos encontrássemos, seria exatamente como tinha sido.
  “Eu poderia ter escolhido ser gerente em outro país, mas eu escolhi voltar!” – Ela continuou. – “E eu escolhi aqui, porque a liberdade que eu procurava no mundo não é nada perto da felicidade que é viver do seu lado! E eu te prometi que era pra sempre dessa vez, lembra?”
  Fiz que sim com a cabeça e fechei os olhos.
  “Você é uma teimosa...” – Eu disse e abri os olhos, colocando as mãos em sua cintura para trazê-la para mim. – “Eu disse pra você ficar longe e você não ficou...”
  “Eu nunca te obedeço...não sei porque você ainda tenta!” – Senti que ela relaxou ao ouvir minhas palavras. E voltou a sorrir.
  “Será que você pode arrumar minha gravata? Tenho um namoro pra terminar e já tô atrasado...”

  Aquele jantar não foi nada agradável. Eu já estava tomando xingo quando cheguei, por estar atrasado...imagina quando contei a Amy como eu tinha passado meu fim de semana e como esperava passar o resto da minha vida!
  Mas (e isso vai parecer bem sem coração) eu nem liguei muito, quase não ouvi os gritos dela direito.
  Estava pensando na pessoinha que encontrei quando abri a porta do meu quarto. Ela estava sentada na cama, brincando com o meu cachorro. Abria um sorriso toda vez que me via, era lindo!
  Quem era ela? A primeira. A primeira de todas.
  E a única.



Comentários da autora


  n/a: Quaaase não consigo terminar a tempo! Espero que tenha ficado boa, pelo menos!!
Queria agradecer desde já o ATF por, de alguma maneira, ter reanimado em mim a vontade de escrever...fazia eras que eu não escrevia nenhuma fic inteira.
  Obrigada também a minha amiga Isaah, que leu essa primeiro (parafraseando J.K. Rowling). Te amo, flor!
  Bom...essa fic foi inspirada em duas músicas e, se vocês não conhecem, aqui estão os links:
  Gotten – Adam Levine: http://www.youtube.com/watch?v=wv5kdWa_BBQ e
  Cannonball – Damien Rice http://www.youtube.com/watch?v=3yqM--IMkX4 (que inspirou inclusive o título e a descrição).
  E é isso...espero que gostem. E comentem!
  Qualquer coisa, @lary_aku.
;)