Steppin Out

Escrito por Li Santos | Editado por Lelen

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  Narração por
  A minha atual vida pacífica nem sempre foi assim. Me lembro com nenhuma saudade da época em que eu vivi na faculdade. Vocês devem pensar agora que era por causa das aulas, provas difíceis e notas medianas, certo? Pois não era bem por causa disso. Meu tormento começou ainda no ensino médio, um excelente momento para a minha condição se manifestar.
  Eu me transformo em um doberman de vez em quando.
  Sim, vocês leram certo. Pelo menos uma vez na semana, eu me transformava em um cachorro da raça doberman, preto e canela, grande e desajeitado. Minha falecida avó sempre me dizia, desde criança, que nossa família sofria de uma espécie de maldição que ninguém sabe ao certo explicar o seu início. As informações que tenho sobre são que todos os homens da família se transformam em um cachorro de espécies variadas por pelo menos uma vez na semana. O trágico vem agora: nem todos sobreviveram. Foi assim com meu avô, com meu pai, com os meus tios e, possivelmente seria assim comigo, certo? Bom, deveria ser assim, mas eu ainda estou vivo, então parece que não deu muito certo comigo. Ainda.
  Ok, deixa eu voltar ao raciocínio do porquê eu odiar aquela época. O simples fato de eu não conseguir controlar as minhas transformações. Minha avó dizia que tinha um jeito de eu conseguir controlar minha transformação e fazer isso quando eu bem entendesse. Quando eu era adolescente eu não tinha esse domínio e obviamente que acontecia a qualquer horário e dia do mês, quando eu tinha um tremendo azar, rolava duas ou três vezes no mesmo mês. A duração normalmente era de uma semana. Agora, pensem em como era difícil passar uma semana de sua vida como um cachorro de 69cm, 36kg, magricela e desajeitado andando pela cidade. Sim, era bem difícil. Os primeiros meses, até eu me acostumar, foram tensos. Porém, ainda no meu primeiro ano de ensino médio, eu foquei minhas energias em tentar controlar pelo menos a duração e a quantidade de transformações periódicas. Quando cheguei na faculdade, já estava totalmente consciente do que eu fazia e como eu fazia. Conseguia virar o doberman e voltar antes de uma semana. Sempre consciente dos meus atos enquanto estava como um cachorro.
  Atualmente, tenho 33 anos e domino completamente a minha condição. Consigo me transformar em doberman e voltar a ser um humano quando eu quero e pelo período de tempo que eu quero. É libertador, acreditem. Demorou algum tempo, mas valeu muito a pena. Da minha família só resta eu, infelizmente. Eu sei que essa maldição é em todos os homens de minha família e esse é um dos motivos por eu não ter filhos, apesar de praticar bastante.
  Eu menti quando disse antes que eu não sinto saudades alguma da época de faculdade. Eu tenho uma saudade. E o nome dela é . A é uma colega, uma amiga que conheci na faculdade. Me lembro que eu ficava fascinado em vê-la estudar na biblioteca ou quando ela treinava no time de basquete da instituição. era muito talentosa em tudo que fazia, mas muito solitária. Eu fiquei amigo dela bem por acaso, quando um de nossos professores pediu para que eu entregasse a tarefa do dia na casa dela já que ela havia faltado por motivos de doença. Passei na casa dela e entreguei o trabalho, só sai de lá horas depois e nunca mais parei de frequentar o local]. e eu nos tornamos quase inseparáveis, tanto que acabamos namorando quando eu me declarei para ela. Achei que fosse me casar, ter filhos, uma família, uma grande casa com quintal, bichos de estimação... ah, mas é claro que a minha condição maldita não me deixou ir além nesse relacionamento com . Eu conseguia, nessa época, controlar minhas transformações, porém não conseguia evitar ficar “sumido” por uma semana. ficava muito brava porque eu sumia sem dizer para onde ia, simplesmente desaparecia do mapa da cidade e voltava com uma desculpa qualquer de viagem urgente para ver a família no interior. Me cortava o coração mentir, mas como eu ia explicar a verdade para ela? Eu não podia e ela não merecia saber que o namorado dela era um cachorro, literalmente falando. Nosso namoro durou pouco tempo, mas o suficiente para deixar marcas. Uma saudade imensa e um amor que também não cessa.
  Ainda mais pelo fato de eu vê-la todos os dias.
  Eu sou advogado criminalista.
  Eu caminho calmamente, ajeitando meu paletó em meu corpo, e subo as escadas da delegacia que fica próxima ao meu escritório. Adentro ao local e vou diretamente ao atendente que ergue o olhar ao sentir a minha presença.
  — Bom dia, eu vim para libertar o senhor Kobayashi — anuncio e entrego o habeas corpus do meu cliente que está preso por causa de uma briga que teve ontem à noite.
  — Ok, senhor . Vou entregar à delegada, pode aguardar, por favor.
  Eu agradeço e me dirijo aos bancos, sentando-me em um deles. Observo o movimento sempre agitado da delegacia, sou um velho conhecido aqui. Parece até que eu sou o único advogado que há na região, devido ao grande número de pedidos de soltura que recebo, sem contar clientes antigos que se envolvem em problemas por conta dos processos já em andamento. Eu vejo o policial que me atendeu voltar e caminhar em minha direção, me levanto ajeitando o terno.
  — Senhor , a delegada desejo vê-lo — ele diz e vira-se de costas refazendo o mesmo caminho por onde veio.
  O que será que ela quer?
  Às vezes me sinto pressionado, sufocado pelo fato de trabalhar tão próximo a minha ex namorada. É, se estão pensando que a tal delegada é a , estão pensando certo. Meu carma, além de virar um doberman preto e canela, é trabalhar no mesmo quarteirão da que é delegada daqui. Eu refaço o caminho que já fiz inúmeras vezes até a sala dela, quando chegamos na porta, o policial se despede com um gesto de cabeça pedindo para que eu entre. Me vejo sozinho e pensativo novamente. Curioso por saber o que ela quer de mim.
  Após bater à porta, eu ouço a voz de entoar de dentro da sala.
  — Entra — eu adentro o local e o cheiro dela me invade pelas narinas de forma avassaladora. Faz alguns dias que eu não vinha aqui, é tudo nostálgico demais.
  — Mandou me chamar, delegada? — questiono e fico parado à frente da mesa. ergue o olhar para mim e ri.
  — Delegada? — indaga ela de forma retórica. Eu ergo a sobrancelha. — Já fomos namorados, , me chame de .
  — Sabe que não me sinto confortável, ainda mais na situação que estamos agora — ela me encara e rola o olhar, entediada.
  — Você é sempre tão certinho, — ela mexe em alguns papéis em cima de sua mesa. — Sente-se, por favor — eu faço o que ela pede e aguardo ela falar. — Está calado... — seu olhar se volta para mim novamente.
  — Achei que tinha me chamado para falar algo — eu digo e sorri de canto.
  — Sobre o seu cliente...
  — O Ren Kobayashi?
  — O próprio — responde ela e completa: — Receio não poder liberá-lo.
  — Por que?
  — Você sabe o que ele fez, não sabe?
  — Sei — respondi de maneira seca.
  — Ele voltou à casa da ex esposa e tentou matá-la de novo — reenterra de forma pausada como se eu fosse algum burro imbecil e não conhecesse o meu próprio caso.
  — Eu li a acusação — continuo sereno e mantendo o meu olhar fixo ao dela.
  — Então para que esse habeas corpus, meu querido? — ela ergue o papel de soltura de Ren e eu sinto a ironia em sua fala, enrijecendo o corpo.
  — Todos têm o direito de responder pelos seus supostos crimes em liberdade, delegada — ela ri.
  — Eu odeio o fato de você defender criminosos, sabia? — eu não respondo e mantenho meu olhar nela. bufa, irritada. — Eu conheço a Lei e você, como excelente advogado que eu sei que é, também deveria saber que, em caso de exigência de exame de provas, o habeas corpus é não cabível — eu ergo a sobrancelha com a informação que eu, confesso, não sabia.
  — Exigência de exame de provas?
  — Sim, essa ordem chegou hoje cedo — ela me entrega outro papel onde comprova a veracidade da informação. Eu solto um suspiro irritado. Odeio quando ela está certa. — Os responsáveis devem chegar hoje à tarde para a coleta de material genético. Você sabe que ela o mordeu para tentar se defender, não é? Isso porque ele, supostamente — sinto novamente a ironia em sua fala e engulo em seco para não falar nada que me faça ser preso por desacato — tentou esfaqueá-la. A mulher acabou ganhando um corte no braço esquerdo. Mas, claro, que ele também ficou com uma bela marquinha próximo ao punho — ela conclui com satisfação. Eu sei que o Ren não é uma pessoa correta, mas é meu trabalho defendê-lo, já que ele me paga para isso.
  — Tudo bem — eu digo, após alguns segundos. — Amanhã eu volto com outro habeas corpus para soltá-lo.
  — Seja rápido, antes que apareça outro impedimento — ela ri, debochada.
  — Delegada você está abusando do poder de sua função — digo e ela ergue a sobrancelha, me encarando.
  — Advogado não seja tão indiferente à realidade de seus clientes. Sabe que o Kobayashi não presta, já agrediu a ex esposa inúmeras vezes e você já o soltou diversas vezes. Para quê? Por dinheiro? Há outras maneiras de conseguir advogar, — sua última frase sai mais como uma bronca pessoal. Eu ajeito minha gravata no pescoço e respondo:
  — Eu sei o que faço de minha vida, senhorita — ela me encara e rola o olhar.
  — Que seja, . Que seja... — ela dá de ombros.
  — Era só isso?
  — Sim.
  — Já vou, então.
  — Tenha um bom dia, senhor .
  — A senhorita também, delegada .
  A frieza do fim do nosso diálogo retrata bem a nossa relação nos últimos anos. e eu praticamente só nos encontramos quando eu venho à delegacia para libertar algum cliente. Quando isso acontece fora desse ambiente, é em algum bar ou restaurante onde eu vou para trabalhar ou para beber e a encontro acompanhada por um homem, normalmente mais forte que eu e mais bonito. Eu não nego o meu ciúme, pelo menos não para vocês que estão lendo isso. O dia que me questionou sobre esse fato eu apenas ri e disse que era impressão dela e que eu estava muito bem sozinho. A última parte é verdade, eu estou bem comigo mesmo, porém, a primeira parte é uma grande mentira. Eu sinto sim ciúmes dela. Odeio saber que a gente terminou por minha culpa, por causa da minha covardia em não contar a verdade. Mas, contrapondo-se a isso, vem o meu conflito em contar tudo para ela. É difícil. Nem sei por onde começar. Às vezes eu só queria ter a destreza de minha avó no dia em que me contou sobre minha condição. Seria tudo mais simples.
  Eu retorno ao escritório e me jogo no sofá que há aqui, folgo a gravata em meu pescoço tentando respirar mais confortavelmente. Desde que terminamos, a tem me tratado com frieza. Nossa amizade se mantém, mas não da mesma maneira que era antes de tudo acontecer. Faz anos que ela me trata assim e eu, no fundo, não a culpo. Se minha namorada sumisse por uma semana sem dar nenhuma explicação sensata eu também ficaria desconfiado, magoado e, possivelmente, terminaria tudo.
   e eu nos formamos em Direito no mesmo ano. Ela já entrou na faculdade no intuito de se tornar delegada no futuro, já eu sempre quis advogar. Perdi as contas de quantas vezes passamos madrugadas estudando para as provas e simulados que aconteciam com frequência. Quando me disse que faria a prova de aptidão para ser delegada, eu memorizei suas anotações para ajudá-la a revisar os assuntos. Acompanhava aos treinos, como espectador, para dar apoio – até porque eu odeio me exercitar. Enfim, realmente não nos separávamos nunca. Nem quando terminamos, poucas semanas após ela passar na prova, isso não ocorreu. Comemoramos juntos, como amigos, a grande conquista dela. Eu me orgulho muito do que ela construiu dentro de sua sólida carreira como delegada.
  Por outro lado, eu continuei estudando e me especializando, consegui uma rede concisa de clientes importantes e que me pagam muito bem. Entre eles há aqueles que não prestam e eu tenho consciência disso. Essa parte da minha clientela deixa irritada, ela vê como dinheiro sujo o fato de eu defender “gente errada” ao invés de defender quem realmente mereça. Já fui chamado de mercenário várias vezes por ela.

  Alguns dias depois...
  Eu estou caminhando pelas ruas quase desertas da cidade. Está escuro, faz um pouco de frio de outono e já deve passar das 10:00PM. Estou em minha versão cachorro, minhas patas sentem o gelado do chão e tento achar um solo menos gélido para pisar. Aprendi, das piores maneiras, que as patas de um cachorro são bem sensíveis, principalmente à temperatura. Eu solto o ar pelo meu focinho e o sinto percorrer friamente. A rua onde estou fica perto da casa da , faz anos que não vou lá, mesmo mantendo nossa amizade eu prefiro manter distância daquela casa. As lembranças me fariam surtar, certamente.
  De longe, eu consigo ver, mesmo que no escuro, a imagem de um homem alto e reconheço por ser o cara com quem a está saindo atualmente. Segundo informações que ela mesma me disse, ele é cozinheiro e trabalha em um restaurante da região. Eles estão saindo faz alguns meses e eu definitivamente não gosto nem confio nele. O vejo caminhar, olhando para os lados como se verificasse se está sendo seguido, até a rua lateral à rua de . Resolvi seguir o dito cujo. Assim que entro na rua dela, eu vejo uma cena que quase me faz latir: o tal cara atracado no pescoço de outra mulher. A audácia maior é ele está fazendo isso perto da casa da . Minha vontade é correr e fincar meus dentes no pescoço desse cozinheiro desgraçado de quinta. Porém, eu apenas encaro a cena com o olhar semicerrado e rosno involuntariamente. Segundos depois de sair dos braços da mulher, ele vai até a porta da casa de , tocando a campainha. Ao abrir e ver o homem, o sorriso que ela dá é parecido com o que ela mostrava anos atrás, quando namorávamos. Uma onda de saudade me invade e eu não consigo controlar minhas patas, elas caminham devagar na direção da cena e, antes que eu chegue ao jardim da casa, eu os vejo se abraçando e porta principal se fecha.
  Solto um suspiro frustrado, junto com um gemido, e retorno para minha casa, e eu acabo pensando nisso a noite inteira. Eu mal durmo.

  No dia seguinte...
  Levanto cedo, como de costume, e faço minha higiene pessoal. Os pensamentos ainda direcionados àquela imagem do cara que a está saindo beijando outra mulher. Eu não me lembro o nome dele, sei que ela já comentou sobre, mas sinceramente eu não prestei atenção. Eu sai de casa diretamente para o escritório. Já estou com o habeas corpus do senhor Kobayashi e em breve irei à delegacia para libertá-lo. Isso se a não me inventar outro empecilho.
  Caminho devagar pela calçada com minha pasta em mãos, o olhar fixado em meu objetivo que é a delegacia logo à frente. Algo me faz parar. A figura do cozinheiro desprezível sobe as escadas e entra no local. O que ele está fazendo aqui? Argn... acelero meus passos e entro logo após ele.
  — Senhor ! Bom dia! — diz uma policial que me conhece de vista, assim que eu entro na delegacia.
  — Bom dia! — respondo com certo entusiasmo sentindo o olhar do cozinheiro recair em mim. — Vim trazer isso, espero que hoje eu consiga cumprir minha missão — eu digo, descontraído e a policial ri.
  — — a voz de anuncia sua chegada à recepção, meu olhar se direciona para ela.
  — Bom dia, delegada — eu digo, sem emoção e com a expressão séria.
  — Bom dia, senhor — a postura até então feliz ao me ver logo morre e dá lugar à frieza e deboche de sempre. Já me acostumei, de certa forma.
  — Dessa vez o senhor conseguirá cumprir sua missão, senhor — diz a policial fazendo meu olhar voltar a observá-la.
  — Jura? — eu dou um leve sorriso, abaixando um pouco minha cabeça e apurando meus ouvidos à conversa entre e o cozinheiro, que ainda estão próximos a mim.
  — Sim, senhor! — reforça ela também sorrindo. — Senhora — chama a policial e para de falar para dar atenção à moça.
  — Sim?
  — A ordem de soltura do senhor Kobayashi chegou — informa ela.
  — Ah, ok — responde , sem emoção e se aproxima do balcão, seu perfume me invadindo ao passar por mim, pegando o papel, lendo rapidamente e assinando a ordem. — Pronto, mandem soltar ele e avise ao Hayato que eu preciso sair e talvez não retorne mais hoje — essa última informação me faz olhar para ela de canto de olho e me atentar mais.
  — Sim, senhora — diz a policial, pegando o papel de volta e indo na direção da ala das celas.
  Segui o andar de até ela desaparecer de minhas vistas, dei um suspiro cansado enquanto observo a cara cínica do cozinheiro que agora eu sei que se chama Daiki. Ele também percebe meus olhares e vez ou outra lança seu olhar de canto para mim. Minha vontade interna é virar um doberman e mordê-lo, mas isso causaria um grande alvoroço na delegacia e eu não estou com vontade de dar explicações. Isso se me deixarem explicar algo, né? Bom, não demora e o meu cliente surge na recepção com um ar vitorioso por estar saindo da cadeia mesmo sendo um grande filho da puta que ele é. Ren me cumprimenta, agradecendo pelo habeas corpus e eu lhe ofereço apenas um sorriso singelo. Deixamos a delegacia e ele segue de táxi para casa. Eu ainda tenho algo para fazer, então entro no primeiro beco que encontro indo diretamente até a parte traseira do contêiner de lixo.
  Minutos se passam e finalmente Daiki e deixam a delegacia, ele está todo cordial com ela, parece até que quer se redimir pelos amassos que deu em outra mulher ontem. Canalha. Volto a controlar minha raiva e sigo os dois. É óbvio que estou como um doberman e caminho devagar, vez ou outra me escondendo atrás de algum carro estacionado. Assim que eles entram na confeitaria na esquina seguinte, eu fico perto, esperando eles saírem novamente. Vocês devem se perguntar o que acontece com minhas roupas quando eu viro um cachorro, não é mesmo? Bom, esse é um dos motivos para que eu não vire um doberman na frente de ninguém. Quando acontece a transformação, e eu estou de roupa, elas se rasgam. Portanto, eu tenho que ficar... bom, eu tenho que ficar pelado para me transformar e, ao fazer o processo inverso, eu volto pelado também, obviamente. Fazer isso na frente de qualquer pessoa seria traumático, a depender do ponto de vista.
  Eu acabo me distraindo com uma senhora que me vê e fica acariciando minha cabeça. É incrível a tranquilidade dela, pois me acostumei com as pessoas tendo medo de mim. Isso porque um doberman tem uma feição séria e fechada, não difere muito da minha versão humana. Creio que seja por isso que eu me transforme especificamente nessa raça: combina comigo.
   e Daiki deixam a confeitaria e vão diretamente para a casa dela. Deixo a senhora sentada no banco próximo ao local e ela fica sem entender o motivo disso, mas eu não posso perder eles de vista. Corro a todo vapor na direção da casa de e pego um atalho para chegar mais rápido. Dá certo, pois eu chego primeiro que eles que vão a pé e andando devagar. Eles adentram à casa dela e eu fico rondando pela calçada próxima, meu olhar atento à porta e em qualquer movimentação suspeita vinda de dentro da casa.
  Anoitece e eu acabo cochilando um pouco, meu estômago canino está roncando e a fome me aperta, sem contar a sede. Me levanto e caminho até a lateral da casa, tentando ver algo pelas janelas, sem sucesso. Ao voltar para parte frontal eu encontro regando as plantas, nossos olhares se cruzam e eu ameaço falar algo, mas me lembro a tempo que eu sou um cachorro e cachorros não falam.
  — Olha só quem temos aqui... — ela diz, aproximando-se de mim e eu dou alguns passos para trás, instintivamente. — Não precisa ter medo, garotão. Não vou machucar você — o sorriso fofo dela me faz parar de andar. — Você está perdido, hm? — se agacha para ficar na minha atual altura e estende a mão direita na direção de minha cabeça. Eu recuo levemente. — Oh, calma rapaz. Não vou machucar você — se fosse qualquer pessoa certamente já teria corrido de mim, já mencionei o medo que todos aparentam ter de um doberman preto, grande e com cara de mal? Pois é... — Está com fome? — a menção da comida me deixa acesso mesmo sem querer. Meu instinto canino faz meu rabo abanar e minhas orelhas se mexerem, minha boca se abre e eu solto um latido que sai totalmente sem querer. — Ah, está, né? Seu fofo! — ela ri com minha reação e volta a se levantar. — Vem comigo, garotão.
  Ela não toca em mim, mas anda na frente até a porta e eu a sigo. Assim que entramos na casa dela, fecha a porta e põe o regador no canto do hall, me chamando para segui-la. Vamos até a cozinha e eu me sento, ereto, e observo ela mexer nos armários. Ela coça a nuca parecendo pensar no que me dar de comer. Bom, com a fome que estou eu como qualquer coisa. Mas, por favor, não interpretem essa frase de forma libidinosa. Enfim...
   pega um pouco macarrão e um pote, retirando sua tampa e pondo o macarrão dentro dele. Ela sorri e caminha até mim, colocando o pote à minha frente. Eu nem me controlo e ataco o macarrão, nossa, como está gostoso! sorri ao me ver comendo com tanto vigor e se agacha perto de mim, eu mal olho para ela, estou concentrado na minha comida.
  — Você não tem dono, rapaz? — indaga ela e eu me pergunto se ela não está vendo a minha coleira pendurada em meu pescoço. Eu mandei fazer, anos atrás, uma coleira para quando eu saía de cachorro por aí, nela tem o meu endereço e número de telefone reais, além do nome que escolhi para ser o meu quando viro doberman. — Está sem coleira... — quando ela diz isso, eu paro de comer e a encaro. — Não me olhe assim — ela ri. — Você está sem coleira, rapaz. Seu dono deve ter retirado ou você não tem um dono — conclui ela.
  Meus olhos caninos arregalados observando que me encara com o olhar sereno. Pela primeira vez, ela toca em mim e, instintivamente, eu solto um gemido em formato de latido manhoso.
  — Awn, fofo, ele gemeu — zomba e intensifica o carinho que faz na extensão de minha cabeça até metade de minhas costas. — Você gosta disso, rapaz? — seus dedos agora estão concentrados em meu rosto, deslizando pelo meu focinho. Nossa, isso é muito gostoso. Eu tento manter minha postura séria, mas está bem difícil com a me acariciando assim... — Que fofinho, um doberman fofo. Gostei de você, rapaz — comenta ela, sorrindo e aumentando o carinho. De repente, ela se levanta e solta meu rosto me fazendo encará-la com o olhar pidão. Ela ri. — Daqui a pouco te faço mais carinho, rapaz. Agora eu preciso saber se você realmente tem um dono, está bem? — ela diz e enche outro pote, dessa vez com água fresca. — Toma, bebe um pouco de água. Preciso fazer alguns telefonemas.
  Ela põe o pote de água ao lado do de comida. faz alguns telefonemas e percebo que ela tira uma foto minha, certamente para mandar para alguém e verificar se eu tenho um “dono”. Ainda não acredito que me esqueci de colocar a porcaria da coleira no pescoço. Que erro de iniciante, ! Dou um suspiro frustrado e me deito com as patas dianteiras cruzadas e repouso o focinho por cima delas. O sono está me pegando, mas eu não posso dormir. Não, eu não posso dormir na casa da . Pelo amor de Deus, a casa inteira tem o cheiro dela e isso não está me fazendo tão bem. Achei que seria mais simples entrar aqui, porém não imaginei fazer isso como um doberman.
  Acabo dormindo. Mas que droga, quando acordo e a luz da cozinha ainda está acesa, mas não está aqui. Aonde ela foi? Me levanto e caminho até a sala e ela também não está aqui. Solto um latido e aguardo para ver se ela aparece, mas nada do ser autoritário da surgir. Resolvi subir até a parte dos quartos e procurar por ela lá, caminho até a porta que tem a luz interna acesa e paro na frente dela, sentando-me sobre minhas patas. Ouço um barulho estranho e a respiração ofegante de . O que ela está fazendo? Me levanto e caminho sem fazer barulho, entrando no quarto. O barulho aumenta e, quando meu olhar encontra deitada em cima da cama, eu tomo um tremendo susto. Ela está se masturbando! Por Deus! Eu quero morrer agora, estou morto de vergonha... Nunca a vi dessa maneira tão à vontade. Suas pernas estão erguidas, uma de suas mãos tem os dedos enfiados em sua intimidade, enquanto a outra segura uma das pernas sustentando-a no ar. O barulho estranho que ouvi antes são os gemidos dela que estão um pouco mais intensos agora. Ela não percebe que estou aqui e continua a introduzir seus dedos com movimentos ritmados em sua intimidade de maneira muito habilidosa. Isso está me deixando excitado e eu tento me controlar. Meu subconsciente berra para que eu saia daqui agora, porém o meu pau quer que eu fique e aprecie esse momento sublime. Maldito pau idiota!
  — Ah... ahh... — ela geme um pouco mais alto e eu me agacho na ponta da cama dela, para que não me veja. — Ah, isso, ... vai... — espera, ela disse o meu nome?????? — ... ...ahh... — ela continua gemendo e chamando por mim com a voz arrastada de tesão. Mas que diabos está acontecendo aqui? Por que ela está me chamando? Será que ela faz isso sempre e chamando por mim?
  Esse fato, essa confusão e os sentimentos loucos dentro de mim me fazem sair do quarto correndo. Os gemidos de cada vez mais distantes quando eu desço novamente as escadas e enfio meu focinho embaixo do sofá, envergonhado e com uma pequena ereção em meu pau canino. Minutos se passam e ouço barulho vindo da escada, não demora para que a figura de surja por detrás da poltrona, ela está com outra roupa, um babydoll rendado na cor verde-água extremamente sexy. Sinto um arrepio me percorrer e ergo o focinho para encará-la melhor.
  — Olá, rapaz! Vejo que já mudou de ambiente — ela ri com o próprio comentário e senta-se no sofá perto de mim, acariciando minha cabeça. — Vi que você realmente não tem um dono, hein? Que tal eu te adotar? — ela intensifica o afago e eu solto gemidos em forma de latido. Me odeio por isso. — Você é um amor de cachorro. Um bom menino, não é mesmo? — comenta e dá um beijo na ponta do meu focinho, fato que faz meu corpo se mover para trás, me afastando dela. — Você não gosta de carinho agora? — pergunta retoricamente, voltando a se encostar no sofá e soltando um suspiro. As imagens dela se masturbando e chamando por mim me invadem e eu sinto uma vontade enlouquecida de fugir daqui. — Já que você não tem dono... — inicia ela, me surpreendendo ao sentar-se no chão ao meu lado. Eu ergo meu corpo, sentando-me sobre minhas patas. — E eu o vejo rondar minha casa por dias, sempre sozinho — então quer dizer que ela me viu todo esse tempo? Droga... — Eu posso adotar você, quer? — ela me dá outro beijo no focinho e isso está começando a me deixar animado demais. — Hm, deixe-me pensar em um nome para você.
   fica pensativa e continua afagando minha cabeça, alternando pela lateral do meu corpo. Eu me distraio com o carinho dela e não percebo que sua mão agora está em minha barriga, nem que eu estou deitado no chão com a cabeça apoiada no colo dela. Como eu vim parar nessa posição sem ao menos perceber? O que ela está fazendo comigo? está mexendo com minhas fantasias mais pervertidas e estou até cogitando a possibilidade de voltar a ser um humano só para tomá-la em meus braços e transarmos aqui mesmo no tapete.
  Meu Deus, , se controla!
  — Já sei! — ela diz de repente e eu volto a me concentrar no que ela profere. — Seu nome será Ryuu, o que acha? — indaga ela ainda me afagando. O cheiro de está me deixando louco demais para que eu consiga raciocinar, mas eu ergo minha cabeça, a imagem dela invertida para mim. Eu nem percebo, mas minha língua encontra-se para fora de minha boca e meus olhos espremidos. Estou completamente amolecido e entregue a ela. — Você gosta, né? — sorri. — Então se chamará Ryuu — determina e abaixa o rosto para me dar outro beijo na cabeça. Por Deus, mulher, para com isso!
   se levanta, interrompendo o carinho, para preparar algo para ela comer. Quando finaliza seu jantar e vai para sala comer, eu estou deitado no confortável tapete. termina de comer e me chama para subir até os quartos. Até então, achei que ela queria apenas me levar para o quarto dela para que eu dormisse lá, mas quando eu notei nós estávamos no banheiro do andar de cima. Eu tento escapar, mas ela é mais rápida que eu e tranca a porta.
  — Você pode ser grande e forte, Ryuu, mas é menor que eu — comemora ela, rindo.
  Mas que inferno! Não acredito que ela quer me dar banho. Meu Deus, , eu estou pelado! Se bem que ela não está me vendo como humano e sim como um doberman, minha preocupação não faz sentido ou faz? Não, não faz. O que de mal pode haver em um simples banho canino? Nada, né? Fica calmo, , respira.
  Ela prepara a banheira e enche um terço dela com água e sabonete líquido. O cheiro que está agora no banheiro indica que o sabonete usado é o mesmo que ela usa para tomar banho. Ótimo, agora o cheiro dela, literalmente, ficará impregnado em mim. Prevejo minha insônia mais tarde. me chama para que eu entre na banheira, me ajuda a subir e entrar na água que está morninha e cheirosa. Suas mãos começam a esfregar meu pelo e eu começo a relaxar inevitavelmente. Minha língua exposta e meu rabo abanando são sinais de que eu estou realmente relaxado. Odeio estar vulnerável, odeio mais ainda estar assim diante de . Me concentro em não demonstrar tanta alegria pelo esfregar dela em mim, as mãos habilidosas de não servem apenas para manusear uma arma e atirar perfeitamente como sempre fez e faz. Servem também para me tocar e me deixar tão feliz ao ponto de soltar latidos manhosos durante o banho. Isso a faz rir. Eu realmente não consigo controlar por mais que eu tente. Ah, isso é tão gostoso, tão gostoso. Me sinto nas nuvens com o afago dela e sinto outra coisa também. Espera aí, ela está com a mão no... no meu pau???? Oh meu Deus, ele está rígido. Esse não é o momento para ficar excitado, ! Que vergonha! Ah, mas é tão bom esse toque dela que eu... , pelo amor de Deus, é só um banho! Para!!!! Seu pervertido! Mas o toque da ...
  — Ryuu! — espanta-se ela quando eu começo a tentar fugir da banheira, espalhando água pelas paredes e nela também. — Seu bobo, para de se debater, eu já estou terminando! — diz, me segurando com força e eu solto um uivado em reprovação. — Eu achei que você fosse um cachorro e não um porquinho — zomba ela, rindo de mim, e eu a encaro com o olhar estreito. — Awn, ficou chateado, Ryuu? Não seja manhoso, rapazinho — ela joga mais água limpa em mim, retirando a espuma e volta a me esfregar. — Calma, rapaz, já estou acabando — termina logo esse banho, ! Estou excitado e por um triz de voltar a ser humano e agarrar você. — Você é estranho, Ryuu, mas eu gosto de você — ela ri em seguida e completa: — Faremos uma boa dupla juntos.
  E algo me diz que realmente faremos.

[🐕]

  Meses depois...
  Perdi a conta de quanto tempo estou aqui na casa de . Eu já tive a oportunidade de voltar para casa e avisar à minha secretária que ficaria fora por um tempo. Resolvi fazer isso, pois não posso simplesmente desaparecer da vida da assim. E sei que, se eu o fizesse, ela procuraria por mim. Quer dizer, procuraria pelo Ryuu.
  Eu a espero sair de casa e aproveito para escapar um pouco, faço isso vez ou outra para “esticar minhas pernas”, literalmente. Volto a ter meu corpo de humano e saio de casa, mas logo eu volto, pois esqueço de um detalhe importante: eu estou pelado. Depois de anos me transformando em um cachorro e tendo experiência nisso, é um erro idiota eu me esquecer de ter roupas minhas por perto antes de me transformar de volta em humano. Subo até o quarto de e procuro uma roupa para vestir, isso me lembra que preciso dar um jeito de ter roupas minhas em algum lugar dessa casa sem que perceba, estou procrastinando nisso, eu sei. Escolho uma calça de moletom e um casaco largo que ela tem escondido no fundo do closet e me visto. Sorte ser uma das calças largas que a gosta de vestir, senão ficaria extremamente estranho em meu corpo. Como estou sem cueca, o meu pau está roçando na calça e não é uma sensação agradável. Antes de sair, eu observo a redondeza para ver se não há ninguém bisbilhotando. Com a barra limpa, eu deixo a casa de e vou diretamente ao meu apartamento, pego algumas roupas e cuecas para mim. Aproveito para me trocar e vestir algo meu de fato. Pego meu celular e ligo para minha secretária, avisando que ficarei mais algumas semanas fora e sem previsão imediata de retorno. Inventei uma emergência familiar e pedi para que ela repassasse meus clientes para um amigo meu que é tão competente quanto. Retornei à casa de , pegando a chave de emergência que há no vaso de plantas ao lado da porta e entro de volta, deixando a chave reserva em seu lugar. O cheiro da me invade novamente e eu tento me esquecer desse efeito inebriante que dá em mim. Entrei mais pela sala, analisando um lugar para deixar minha mochila com minhas coisas. Subo até o sótão e puxo a cordinha que esconde a escada, quando ela desce totalmente eu subo por ela até o interior do local. Deixo minha mochila atrás de algumas caixas empoeiradas, aproveitando para deixar as roupas que estou vestindo agora dentro da mochila e desligando meu celular. Não quero correr o risco de me ligarem e ele tocar loucamente no sótão da . Desci novamente as escadas, fechando-a novamente e pus a coleira que comprou para mim, nela há o meu nome – Ryuu – junto com o endereço, o número dela e seu nome. Volto ao meu corpo canino e desço até à sala, deitando na caminha que comprou para mim. Ela está me tratando feito um bebê, inicialmente eu estava relutante em deixar ela me tocar, por medo de me descontrolar e acabar cometendo uma loucura. Porém, a convivência com ela, me fizeram me controlar mais e acabei me acostumando com o carinho dela. É estranho não o receber quando estou como humano. Quando me vê, só falta jogar um balde de água gelada em mim. Por falar nisso, parece que ela não notou, até agora, que o meu eu humano, o , está sumido. Isso me deixa entristecido e puto da vida.
  Nós, e eu – Ryuu –, ficamos bastante amigos. Dias atrás teve uma festa à fantasia na delegacia e ela me levou para todos me conhecerem. Eu relutei muito, mas conseguiu colocar asas de morcego presas nas minhas costas, o suporte preso no meu peitoral. Ok, eu até que fiquei bonito com essas asas de morcego. tirou inúmeras fotos e fazia questão de dizer para qualquer um que eu estava muito fofinho como um morcego. Quase morri de vergonha.
  Durante esse tempo, o tal Daiki tem vindo aqui e tendo noites românticas com a . Ou pelo menos tentando, né? Eu confesso que estou enciumado com essa relação, acho que isso já está claro. Até mesmo para o Daiki que claramente percebeu que eu estou sabotando as investidas dele para cima de . Sempre que ele tenta ficar à sós com ela, eu dou um jeito de aparecer “sem querer” no ambiente. Ele fica bem irritado e acaba discutindo com a , já que ele grita comigo e ela me defende. Mas eu fico ainda mais irritado quando as mãos sujas e abusadas desse cozinheiro idiota tentam tocar em .
  A noite chega e com ela a minha querida dona adentra à casa para me alegrar. Sou um cachorro babão, né? Enfim... Ao ouvir o barulho da porta se fechando, eu levanto da minha caminha e corro até a direção de onde está e pulo com minhas patas dianteiras na barriga dela que me segura e distribui beijos no meu rosto. Dou algumas lambidas no rosto dela que, para minha versão canina, são como beijos. Apesar de eu querer realmente é encostar os meus lábios na pele dela, anseio por isso. Quem sabe um dia.
  — Como está meu garotão lindo? — ela diz afagando a lateral de minha barriga e eu lato em resposta. — Seu bonitão carinhoso, nem parece um doberman. Bobão! — ela me dá mais um beijo e eu desço, voltando a ficar em quatro patas.
  — Onde coloco isso, ? — a voz irritante do Daiki ecoa pelo hall e só agora eu percebo que ele também está aqui. Começo a encará-lo e rosno involuntariamente.
  — Põe em cima do balcão da cozinha, por favor, Daiki — diz ela e caminha até a sala. Eu fico encarando o idiota do cozinheiro e ele me olha desconfiado, passando por mim e seguindo a .
  — Seu cachorro não gosta muito de visitas, né? — comenta ele indo até a cozinha, onde está.
  — Ryuu é muito carinhoso comigo. Não sei com outras visitas, porque eu não recebo muita gente aqui, mas realmente, acho que ele não foi muito com sua cara — responde , com sinceridade, enquanto desembrulha a caixa com a comida que pediu no restaurante. Eu me sento perto do balcão, meu olhar fixado no Daiki que me encara de volta.
  — Ele precisa ficar dentro de casa o tempo todo? — ele volta a indagar, ele já tinha feito a mesma pergunta dias atrás.
  — Ele é meu cachorro e meu amiguinho, claro que ele fica dentro de casa volta a afirmar em tom irritado.
  — Mas a gente não tem privacidade e...
  — Não é uma opção, Daiki! Já conversamos sobre isso — rebate . — Ele é meu amiguinho, é meu companheiro e ele fica, não é mesmo, Ryuu? — se agacha perto de mim e me afaga com um sorriso no rosto. Eu sigo sério, encarando o cozinheiro com o olhar estreito.
  — Ele está me encarando — comenta Daiki e ergue o corpo para olhar para ele.
  — Não, ele não está, apenas está olhando para você — rebate.
  — Ele está me encarando — devolve Daiki.
  — Não seja chato, Daiki… basta não olhar de volta! — diz, irritada e volta a arrumar o jantar.

  Eles jantam e eu como minha ração, é até gostosa, acabei me acostumando também – apesar de, quando não está vendo, eu roubo alguns pedaços de frango e presunto da geladeira, sem contar o fato de, quando ela não está em casa, eu passo parte do dia transformado e comendo à vontade. Óbvio que eu peço comida pelo aplicativo, não quero que desconfie que sua comida está acabando sendo que ela não está comendo.
  Passo algumas horas vigilante encarando o Daiki que, à essa altura, já está bastante irritado. sobe até o banheiro para tomar banho sozinha e eu a sigo, mas não entro no banheiro, quero evitar a tentação de vê-la nua e ter outra ereção canina que eu terei que resolver quando ela estiver dormindo – é um dos momentos em que me transformo em humano, vou para o sótão e me masturbo pensando na imagem de nua, tudo que eu quero é tê-la para mim. Distraio meus pensamentos libidinosos e desço para beber água, na verdade eu desço para ver o que o cozinheiro está fazendo. Está tudo desligado exceto pela luz da cozinha, caminho sorrateiramente até ela e ouço a voz baixa de Daiki. Ele fala ao telefone.
  — ... não, senhor, ainda não tive a oportunidade — diz ele no meio da conversa e eu chego mais perto para ouvir melhor. — Raramente ela fica sozinha e ela é muito astuta. Ainda não tive a oportunidade de executar o plano — essas palavras me fazem me atentar mais. Do que ele está falando? — Não sei se é necessário, senhor... — ele para, de repente, e pude ver que seu corpo se enrijece. Ele está de costas para a porta da cozinha. — Ok, senhor. Entendi. Ok, então irei matá-la assim que puder.
  Matar? Como assim? Minha respiração acelera e não consigo sentir direito minhas patas, o que me faz ficar paralisado. Daiki ainda conversa com a pessoa pelo telefone e eu tomo um pouco de coragem, voltando a mim, e corro escada acima. A luz do banheiro está apagada e a do quarto de acesa, corro até lá e a vejo sentada na cama com o notebook no colo, ela está enrolada numa toalha, certamente está nua, mas esse não é o momento de pensar nisso. Concentrado em meu objetivo, eu invado o quarto e subo na cama, puxando o notebook do colo dela.
  — Ryuu! — reclama ela, me encarando espantada. — Menino mal, não faça isso! — continua reclamando e volta a colocar o notebook sobre o colo. Eu o puxo de volta. — Ryuu, para com isso! — eu começo a puxar o lençol na tentativa dela me seguir, mas sem sucesso. — O que você quer, seu bobo? — eu desço da cama e seguro o punho dela com a boca, puxando-o sem botar muita força para não a machucar. — Quer que eu te siga? O que você quer?
  Soltei o punho dela e lati sério, voltando a puxá-la, dessa vez pela toalha. Tomei cuidado para não desmanchar o nó da toalha e deixá-la nua. se deixa vencer pela minha insistência e me segue até à sala. Torço para que Daiki ainda esteja conversando no telefone e ela conseguir flagrá-lo. Mas, para a minha grande decepção, ele já havia desligado.
  — Hm, que bela visão — Daiki diz ao ver de toalha. — Que cara é essa, ?
  — Nada, é que Ryuu me puxou até aqui e... — ela diz, confusa, mas é interrompida pelo abraço indecente de Daiki.
  — Deixa esse cachorro bobo para lá — ele começa a beijar o pescoço dela, eu me enfureço e parto para cima dele rosnando. — Hey!! — ele brada e solta , recuando para trás, com medo de mim.
  — Ryuu! — segura minhas costas e minha coleira para me acalmar.
  — Ele ia me morder! Esse idiotinha ia me morder!
  — Não ia! E não o chame assim, Daiki! — brada . — Ele achou que você estava me fazendo mal e me defendeu, apenas isso.
  — Defendeu? — repete ele, incrédulo.
  — Você sempre o intimida, deixa ele em paz — continua em minha defesa. — Vem, Ryuu.
   me chama e subimos de volta para o quarto. Daiki nos segue, minutos depois. Eu deitei na ponta da cama, aos pés de e quase não dormi. Meu medo do Daiki executar o seu plano de matá-la tira o meu sono. Meses atrás eu quis ficar aqui porque queria que terminasse esse relacionamento pelo simples fato dele trair ela, mas hoje eu preciso ficar aqui para salvar sua vida. Eu não posso ir embora. Preciso investigar que plano é esse e com quem o Daiki falava. Eu preciso saber do que se trata e rápido.

[🐕]

  No dia seguinte...
  Daiki sai logo cedo para trabalhar e o acompanha. Eu fico inquieto dentro de casa e resolvo me transformar de volta, pego meu celular no sótão e faço algumas ligações. Peço para um amigo meu, que é investigador federal e sabe das minhas transformações em um doberman, para puxar a ficha desse cozinheiro filho da puta que quer machucar a minha dona. Ele me retorna, meia hora depois, e o que ele diz me deixa preocupado.
  — Como assim? — repito a pergunta, não crendo no que ele acabara de me dizer.
  — Exatamente isso que ouviu, meu amigo. Esse tal Daiki Yoshida não é cozinheiro. Consta na ficha dele que ele é procurado por assassinato, é o famoso assassino de codinome “Harpia” — repete Taishi, meu amigo investigador, e eu sinto meu corpo gelar.
  — Não é possível que... — eu paro e respiro profundamente, sentindo o medo me consumir. — Não é possível que ele seja um assassino e a não tenha notado!
  — Pois é, conheço a , excelente profissional. Também me admira ela não ter puxado a ficha criminal dele, princípio básico de um policial desconfiado — brinca ele e eu não esboço nenhuma reação. — Vou te passar a ficha dele por e-mail. Olha, , é uma ficha bem extensa, hein! — informa Taishi voltando ao tom preocupado de antes.
  — Preciso saber com quem ele estava falando, Taishi — digo. — Ele disse algo sobre executar o plano de assassinato da . Por favor, precisa me ajudar.
  — Calma, meu amigo. Vamos conseguir, mas preciso que instale um aplicativo no celular dele. Acha que consegue?
  — Se não demorar muito para instalar, consigo sim.
  — Vou te explicar direito como você vai fazer, precisa tê-lo em seu aparelho, vou te mandar o link. Daí você vai ligar o bluetooth e transferir o arquivo direto para o celular dele — explica Taishi e completa: — Não deve demorar mais de cinco minutos para finalizar tudo.
  — Acho que consigo, quando eles estiverem no banheiro tomando banho, eu faço isso.
  — Desculpa perguntar, mas eles tomam banho juntos? — a pergunta faz minha espinha se arrepiar de raiva.
  — Às vezes, mas só porque aquele infeliz tranca a porta antes de eu entrar e estragar a alegria dele — respondo, com raiva.
  — , pode me responder uma pergunta, com sinceridade?
  — Claro.
  — Você ainda ama a ?
  Esse questionamento me faz ficar calado e pensativo. Nunca parei para pensar nisso, de fato. Passei anos da minha vida me dedicando à advocacia na tentativa de me tornar o melhor advogado criminalista e eu alcancei meu objetivo. Mas, de certa forma, eu ter me enfiado com tudo em minha carreira foi uma forma inconsciente que encontrei de não pensar na . Ainda mais porque trabalhamos no mesmo ramo e eventualmente nos encontramos, eu sempre usei de um motivo qualquer para não esbarrar com ela, porém, nem sempre eu conseguia evitar.
  — ? — Taishi me chama de volta à realidade e eu limpo a garganta. — Não precisa me responder, se não quiser.
  — Não me importo em responder, Taishi — eu digo finalmente e completo: — Estava pensando que eu nunca deixei de amá-la. Nunca.
  — Dá para notar, amigo.
  — É... e, posso te confessar algo?
  — Sabe que pode.
  — Eu tive indícios, no tempo que estou aqui, que a não me esqueceu. Ela ainda sente algo por mim — confesso e sinto meu corpo amolecer levemente ao me lembrar do perfume dela quando dormimos juntos na cama.
  — Lute por ela, amigo.
  — Lutarei, mas primeiro eu tenho que salvá-la desse tal de Daiki — respondo voltando a sentir a raiva me consumir.
  — Se precisar de ajuda pessoalmente, pode chamar, ok?
  — Ok, obrigado, amigo.
  — Ah, assim que instalar o aplicativo no celular dele eu irei saber. Estou de olho no programa, aí poderei saber com quem ele conversou ontem e o teor da conversa.
  — Assim que souber de algo, me avisa.
  — Prontamente, meu amigo.
  Me despeço de Taishi e caminho até à cozinha para esconder meu celular. Antes de desligá-lo, eu baixo o aplicativo que Taishi me passa por e-mail e instalo. Enquanto instala eu dou uma breve lida na ficha criminal do Daiki e, minha nossa, realmente é uma lista grande de crimes cometidos por ele. Como que nunca parou para investigá-lo? Depois ela abre a boca para dizer que eu sou irresponsável e leviano. Quem é que literalmente dorme debaixo do mesmo teto que um assassino? Solto um suspiro frustrado e vejo que o aplicativo instalou. Desligo o celular e o escondo em cima do armário da cozinha que está preso na parede. Ouvi mais cedo que e Daiki vêm almoçar em casa, então eu corro para o sótão, voltando a ficar pelado, ponho a coleira no pescoço, desço as escadas e as fecho. Me transformo em Ryuu e volto para a sala, ficando no aguardo dos dois.
  No final da manhã, Daiki e chegam e vão direto para a cozinha. Eu cumprimento minha dona e volto para sala, deixando que Daiki fique à vontade. Da sala, ouço algumas risadas e gemidos vindos de ambos. Tento controlar minha curiosidade e meu ciúme, queria mesmo era morder a cara daquele assassino mentiroso, desgraçado, filho da puta, eu deveria arrancar as bolas dele...
  De rabo de olho eu consigo ver Daiki e caminharem abraçados, cheios de risadinhas irritantes, na direção das escadas. Eles sobem para o quarto e, quando escuto a porta se fechar – aposto que essa ideia foi do cozinheiro falso na tentativa de que eu não entre lá –, eu viro humano e corro para a cozinha. Pego meu celular em cima do armário e o ligo de volta, enquanto ele inicia eu procuro pelo celular de Daiki encontrando-o em cima da mesa de jantar. Ligo o bluetooth do celular dele e do meu, tento fazer tudo rápido, com medo de alguém aparecer, mas a porcaria do aparelho dele está travando bastante. Inferno! Justo agora essa merda resolve travar. Aperto várias vezes na tela do aparelho, na tentativa em vão de fazê-lo destravar, sem sucesso. Finalmente ele destrava sozinho e volta a transferir o arquivo do meu celular para o dele. De repente, eu ouço passos muito próximos e me lembro que estou pelado na minha versão humana e segurando dois celulares. Não dá tempo de eu fazer nada além de apertar no arquivo do aplicativo e colocá-lo para instalar. Antes de conseguir virar um doberman novamente, eu vejo o semblante espantado de me encarando.
  — ?! — diz ela, com a voz assustada e ao mesmo tempo irritadiça. Eu não consigo responder. Eu solto um latido, mas percebo que é apenas um humano imitando o latido de cachorro. Que patético, . Patético. — O que faz na minha casa? E ainda por cima pelado?! — meu Deus, que vergonha.
  — Eu... , eu...
  — Seu tarado! Fala logo o que está fazendo aqui?!
  Seu tom de voz aumenta e eu me assusto, me transformando em cachorro involuntariamente. Tal fato assusta ainda mais e ela fica paralisada me encarando, posso ver suas mãos trêmulas apontando para mim. De repente, ela desmaia, caindo no chão. Desesperado, eu volto ao meu estado humano e vou acudir ela.
  — ? , fala comigo, por favor — eu a sacudo com certa força para que acorde mais rapidamente. Não quero nem saber se o Daiki pode aparecer, só quero que ela acorde. — , vamos lá, acorde! — continuo sacudindo-a e, quando vejo que está despertando, eu volto a ser o Ryuu.
  Começo a lamber o rosto dela e desperta, erguendo o corpo assustada e olhando para os lados. Ao me ver, ela recua o corpo, me encarando de forma incrédula.
  — Mas... você era o... ai, meu Deus... — ela diz apontando para mim e eu solto um latido, me aproximando dela e lambendo seu rosto. — Meu Deus, que sonho louco eu tive, Ryuu... — comenta ela me afagando e eu suspiro aliviado por ela achar que era um sonho, de fato.
   se levanta e ouço a voz de Daiki chamar por ela. Vi que ela sobe as escadas e eu volto a ser um humano, confiro que o aplicativo foi instalado, recolho o meu aparelho, desligando-o e o pondo de volta no armário da parede. Em poucos minutos eu volto a ser o Ryuu. Agora basta eu esperar pelo retorno do Taishi, espero que ele consiga achar algo antes que seja tarde e eu tenha que intervir pessoalmente, como . Se for preciso eu mato o desgraçado do Daiki, mesmo sendo péssimo manuseando uma arma.
  Daiki vai embora e fica em casa, ouvi ela ligando para a delegacia e informando que não se sentia bem e que tiraria a tarde de folga. Acho que me ver pelado como e depois me ver como Ryuu deve tê-la assustado um pouco. Ok, ela ficou apavorada quando me viu, enfim...
  Horas se passam e ela adormece no sofá. Faz um tempo que ela está dormindo, então resolvi pegar meu celular e conferir se Taishi tem alguma novidade. Creio que já deve ter dado tempo suficiente para grampear o celular daquele assassino de merda.
  Agora quero deixar um conselho para todos: quando acharem que não vai dar tempo de fazer algo, que você certamente será pego no flagra por ser descuidado, acreditem em suas mentes. Eu não acreditei na minha e o resultado é esse de agora: me vê, novamente pelado, na cozinha dela e com um celular na mão.
  — ! — grita ela e eu me viro assustado, soltando o celular no balcão.
  — ?! — dessa vez eu consigo falar e tento me aproximar dela.
  — Fica aí! — ela berra de volta e eu paro no mesmo lugar. — Como entrou na minha casa e por que diabos você está pelado?
  — Eu posso explicar...
  — Ryuu! Ryuu! — chama ela, mas nenhum cachorro vem ajudá-la. — Para onde ele foi? — indaga para si mesma, muito nervosa.
  — O Ryuu não vai aparecer agora, — seu olhar sanguinário se volta para mim.
  — O que fez com o meu cachorro, ?! — ela avança para cima de mim e começa a me bater.
  — Não fiz nada, me escuta. Para! — eu seguro seus punhos, fazendo-a olhar para mim. — Me deixa explicar.
  — O que fez com ele? Me solta, ! Me solta! — berra , se debatendo e conseguindo escapar. Ela corre até o outro armário, abrindo a terceira gaveta e retirando de lá uma arma. — Aonde está o Ryuu? — ela aponta a arma para mim e, de certa forma insana, essa valentia toda está me excitando. Eu devo ter algum problema, certamente.
  — , abaixe essa arma, calma — ergo minhas mãos em sinal de rendição.
  — Fala, ! — ela engatilha e eu engulo em seco, sentindo meu corpo paralisar.
  — Eu posso te mostrar ele, mas, por favor, não atira — peço novamente, sem tirar os olhos do cano brilhante da arma empunhada por .
  — Mostra — sibila ela.
  Eu estou com receio de mostrar minha transformação, mas eu preciso fazer isso, caso contrário ela vai atirar em mim. E, pela raiva transmitida por ela, certamente será um tiro fatal. Eu tento relaxar meu corpo e me transformo em Ryuu. De imediato, abaixa a arma e a incredulidade estampa sua face. Suas mãos tremem e ela me encara assustada, levando a mão livre à boca. Eu volto ao normal para que ela não ache que é um sonho novamente e me aproximo dela. não recua, eu apenas paro em frente a ela e seguro suas mãos, retirando a arma dela e colocando-a sobre o balcão.
  — Sou eu — eu digo e beijo suas mãos trêmulas.
  — O que diabos está acontecendo, ? Por que você... por que? O Ryuu é... você e ele... meu Deus, eu só posso estar enlouquecendo — ela diz de forma desconexa, olhando para os lados e eu seguro seu rosto, firmando-o na minha frente.
  — Minha família tem uma maldição que faz com que os homens dela se transformem em cães — explico de maneira prática e sua boca se abre em formato de “o”, soltando o ar de maneira pesada.
  — Você é o Ryuu? — sua voz sai tão trêmula quanto suas mãos.
  — Sim — respondo, simplesmente.
  — Por que estava... por que você está na minha casa? Por que?
  — De início eu queria apenas que você visse que o Daiki traia você...
  — Espera, como assim?
  — Eu o vi se beijando com outra mulher e resolvi tentar te alertar ou afastar ele de você, mas você nunca me deu oportunidade.
  — Sabia que ele me traia! — diz ela e se afasta um pouco de mim, se encostando no balcão central à nossa frente.
  — Eu descobri ontem que ele quer matar você — ela me encara incrédula.
  — Que história é essa, ?
  — Tenho provas — eu digo e pego meu celular. — Meu amigo Taishi, o investigado federal, lembra? Então, ele me ajudou a investigar. Ontem eu ouvi uma chamada do Daiki com alguém e ele falava que iria executar o plano de te matar...
  — Do que está falando, ? Que história mais louca...
  — E não é só isso! Ele não é cozinheiro! — ela ri.
  — Bom, disso eu sei — rebate ela dando de ombros.
  — Sabe?
  — É, se ele for um cozinheiro de verdade, é péssimo, pois mal sabe cozinhar um arroz sem deixá-lo virar um grande pedaço de carvão — ela zomba, rindo levemente.
  — , é sério, eu vi a ficha dele... o Daiki é um assassino procurado pela Polícia Federal — revelo a informação e ela continua me encarando sem acreditar.
  — Meu Deus, espera um instante... — parece se lembrar de algo e eu, por um instante, acho que ela tenha notado algo de errado em Daiki. Leigo engano. — Você me viu me masturbando! — então é isso que ela se lembrou?
  — Me desculpe por isso... — eu digo, coçando a nuca de maneira tímida.
  — Seu pervertido! Tarado! — brada ela e me dá alguns tapas no braço.
  — Eu não tive culpa!
  — Você sempre ficava no meu quarto quando eu me masturbava ou senão ficava espiando pela fresta da porta, ! — droga, então ela me via quando eu ficava do lado de fora? Sou péssimo em me esconder.
  — Me desculpe, mas eu não tenho culpa se você quis me adotar — falo, me defendendo.
  — Então a culpa é minha por você ser um pervertido?!
  — Não disse isso, .
  — Você é um ser humano, ! Isso é nojento!
  — Mas eu estava como Ryuu nesses dias em que... bom, em que você se masturbou.
  — Não tem desculpa! Meu Deus, eu não acredito nisso!
  Ela começa a andar de um lado a outro, passando as mãos pelos cabelos. Eu a sigo com o olhar e ela para perto de mim me encarando.
  — Não me respondeu o motivo de estar pelado — relembra ela e eu sinto meu rosto corar. Realmente tinha me esquecido desse detalhe.
  — Quando eu me transformo em um doberman eu preciso tirar as roupas, caso contrário elas se rasgam — respondo em um tom óbvio.
  — Pelo amor de Deus... agora eu consigo enxergar semelhanças entre você e Ryuu — comenta ela balançando a cabeça para os lados. — Sempre estranhei um doberman ser tão sério e ranzinza. Tinha também a manchinha que o Ryuu tem na pata esquerda e você tem uma igual na mesma perna — ela comenta sobre o sinal que eu tenho, obviamente que minha versão canina também teria. — Sem contar o fato de você, ou melhor, o Ryuu não gostar de fazer exercícios. Dobermans adoram se exercitar e são hiperativos. Já você... bom, o Ryuu era bem preguiçoso — ela me encara, me julgando com os olhos semicerrados.
  — Você sabe que eu nunca gostei de me exercitar. Não consegui fingir nem mesmo quando estava como Ryuu — respondo e dou de ombros.
  — Canalha! — diz . — Você me enganou por quase um ano — e eu nem senti o tempo passar. Verdade, faz quase um ano que estou aqui como Ryuu ao lado de .
  — Fiz tudo isso para proteger você.
  — Me proteger de quê? De quem? Do falso cozinheiro assassino? — debocha ela. — Achou interessante virar um cachorro enorme e dormir na minha cama enquanto vigiava o Daiki? Você poderia simplesmente me falar o que estava acontecendo. Me poupe, ! — eu me aproximo, abraçando-a. — Me solta agora!
  — Você não faz ideia do quão importante você é para mim, — eu digo e sinto a respiração dela alterar com o meu abraço. — Eu sei que você gosta quando estou perto, eu sinto o cheiro dos feromônios sexuais explodindo ao sair de você.
  — Virou médico agora?
  — Não, mas o meu olfato é muito bom — eu gosto de provocar ela, mas só faço isso quando tenho plena certeza de que ela irá ceder, assim como agora. — E você não sente isso quando o Daiki está por perto, eu sei...
  — Você não sabe de nada, , me solta... — a voz dela sai vacilante e arrastada. Dei uma fungada no pescoço dela, subindo até roçar meus lábios em sua bochecha. Ela se retrai, arrepiando-se.
  — Você chamou por mim quando se masturbou. Você sempre fazia isso e não foram poucas vezes. Por que? Você me quer dentro de você, hm? — provoco mais um pouco, dando mordicadas em sua bochecha.
  — Chamei? Não me lembro...
  — Pois eu me lembro...
  — Deve estar louco de tanto virar um cachorro grande e bobo e acabou confundindo tudo — despista ela, virando o rosto para o lado, mas incapaz de sair do meu abraço que nem está apertado.
  — Eu não confundi, . Você sabe que não — eu a solto e mantenho meu rosto próximo ao dela.
  — ... o que vai fazer? — indaga ela, inquieta com nossa proximidade.
  — Nada.
  — Nada?
  — Nada — repito, tranquilamente. — A não ser que me peça — meu pau está, inevitavelmente, ereto e encostando na intimidade dela. Sinto o corpo de estremecer e o olhar dela recair sobre meu pau exposto.
  — O, o, o, o que eu poderia pedir? — ela gagueja e eu me aproximo mais, fingindo que vou beijá-la na boca. Ela solta o ar com força, percorrendo os olhos pelo meu rosto.
  — Não sei — hesito um pouco e finjo tocá-la, sinto o corpo dela recuar só com essa ameaça. — Você quer que eu toque você? — pergunto e volto a roçar meus lábios nos dela.
  — Eu... , ah... — ofega, quase deixando seu corpo cair.
  — Você quer que eu te beije, ? — indago de maneira mais clara e vejo ela segurar o balcão com força.
  — Você deve me beijar, ...
  Ao receber o meu aval, meus braços envolvem o corpo de puxando-o para mim e eu a beijo ferozmente. Suas mãos soltam o balcão e circundam meu pescoço, entrelaçando os dedos na minha nuca. De maneira descoordenada, nós dois retiramos o short que ela veste juntamente com sua calcinha. Demora mais tempo que normalmente demoraria, mas nenhum de nós quis soltar da boca do outro. Por um breve instante isso acontece apenas para que retire sua blusa, ela já está sem sutiã e a visão de seus seios expostos me faz soltar um suspiro de prazer apenas por vê-los diante de mim. Ergo o quadril dela, apertando sua bunda, e sinto suas pernas cruzarem minhas costas, entrelaçando-se. Apoio em cima do balcão e levo meus dedos diretamente em sua intimidade. para de me beijar para arfar de prazer, jogando a cabeça para trás. Meus dedos mergulham intimidade a dentro e vibram para intensificar o prazer dela, ver a expressão de tesão na face de só aumenta o meu próprio prazer. Meu pau já está pronto para penetrá-la, mas eu não quero fazer isso agora, não antes de vê-la gozar para mim. As mãos dela ainda estão em minha nuca e eu as sinto me apertar, puxando os cabelos que nascem ali. Para incrementar nosso prazer mútuo, distribuo beijos molhados pelo pescoço dela e vou trilhando até chegar aos seios de . Ah, como eu senti saudades deles, a maciez dessas duas lindas montanhas me fascina e me faz sentir um enorme prazer. Meus lábios tocam o pico do mamilo esquerdo do seio dela e recua um pouco, sentindo meu toque, logo eu seguro com minha mão livre a pequena montanha que está em minha boca agora. Aumento os movimentos de minha língua em sincronia com meus dedos que ainda penetram a intimidade da delegada sexy à minha frente. Posso perceber que está sedenta para ter meu pau dentro dela, seu quadril se mexe para trás e para frente simulando uma boa foda. Ah, meu amor, eu também quero, mas ainda não é o momento. Te quero toda preparada para me receber. Sei que quando eu enfiar meu pau nela eu não conseguirei parar, não vou conseguir tirá-lo de lá. Então, preciso dar o prazer dela primeiro, a quero transbordando tesão e desejo por mim. Mais do que ela já está.
  Eu volto a beijar os lábios de , sua boca está fria por conta de não conseguir mais respirar apenas pelo nariz. Sinto as mãos dela tocarem meu pau e me masturbarem. Nossa, que gostoso... dessa vez, sou eu quem descolo nossos lábios e começo a arfar com o movimento que ela faz com as mãos.
  — Ah, ... — digo com a voz arrastada, meu tesão me consumindo. — Não para, por favor — eu peço com certa manha em meu pedido e segura meu queixo com uma de suas mãos, me encarando.
  — Era isso que você queria, ? — indaga ela, mas me interrompe antes de eu pensar em formular uma frase. — Me deixar louca de prazer e vontade de ter você?
  — Deu certo? — provoco com um sorriso safado nos lábios.
  — Deu — aproxima seu rosto e me beija, puxando meu lábio inferior ao final.
  — Eu tinha tanto ciúme quando ele tocava você — confesso, meio amolecido pelo toque dela, mas sem diminuir as investidas com meus dedos em sua intimidade.
  — Do Daiki?
  — Sim. Minha vontade era arrancar as mãos dele à dentadas — digo e volto a beijar seu rosto, descendo até sua nuca. — Como eu senti falta de você, — me declaro, totalmente vendido por essa mulher. Dei uma lambida na orelha dela.
  — ... espera... — eu a encaro, receoso e diminuo a penetração com meus dedos.
  — Fiz ou falei algo errado?
  — Não, você não fez nem falou nada errado. É que... — dá uma pausa e solta meu pau levando as mãos até meu peito. Volto a beijar seu pescoço e ela me empurra levemente. — , colabore comigo, por favor.
  — Estou ouvindo, eu escuto bem — eu digo e retomo meu caminho de beijos pelo rosto dela.
  — , por favor... — paro de beijá-la e a encaro com o olhar pidão. O mesmo olhar que eu usava quando estava como Ryuu. Sempre funciona. — ! Não me olhe com esse olhar de cão abandonado! — reclama .
  — Com o Ryuu funcionava — incremento meu pequeno show de drama fazendo um beicinho com meu lábio inferior.
  — Exatamente! Eu me lembrei do Ryuu... — ela diz, de repente. — Quebrou o clima.
  — Eu não sou o Ryuu agora. Eu sou o — pus a mão dela em meu peito. — Sinta, sou eu, está vendo? — deslizei os dedos dela pelo meu corpo descendo até chegar em meu pau novamente. — É bem maior, percebe? — dou um sorriso safado.
  — Golpe baixo, ...
  — Isso te excita, né? Eu sei.
  Não deixo ela expressar nenhuma fala. Apenas volto a intensificar meus dedos introduzidos dentro dela, ela arfa novamente e toma meu pau em suas mãos habilidosas. Realmente, a habilidade das mãos de vai além de manusear uma arma com perfeição.
  — Eu quero agora, ! — exige ela.
  — O que? — me finjo de desentendido.
  — O seu pau dentro de mim.
  — Eu ainda não terminei aqui em baixo — me refiro à masturbação que faço nela. puxa meu pescoço com força e me encara com raiva.
  — Eu disse agora, !
  Dou um sorriso de canto e retiro meus dedos de dentro dela, também solta meu pau e envolve ambas as mãos em meu pescoço. Eu não penetro meu pau na intimidade dela, apenas a carrego no colo, ela entrelaça suas pernas em mim, firmando suas mãos em meu pescoço. Caminho com ela na direção da escada, não quero ter essa transa em cima do balcão por mais gostoso que fosse. Quero algum conforto e que ela tenha o mesmo conforto para poder se entregar para mim totalmente. Subo as escadas com em meu colo enquanto beijo seu pescoço, minha mão direita deslizando em suas costas e lhe causando arrepios. Caminhei pelo corredor até o quarto dela, depositando seu corpo com calma em cima da cama. Solto o ar pela boca, me recuperando e me deito sobre ela, mas me empurra para o lado e sobe em mim. Acho que ela vai sentar em meu pau e quicar gostoso nele, mas ela não faz isso. A vejo engatinhar de costas e abaixar seu corpo com o rosto na altura do meu pau.
  — Achei que queria ele dentro de você — eu digo, encarando-a.
  — Eu disse que o queria dentro de mim, não disse onde — ela sorri de maneira pervertida e eu solto uma risada nervosa.
  Ainda me encarando, manuseia meu pau em suas mãos e o coloca em sua boca muito rapidamente. Eu arfo de prazer. Jogo minha cabeça de volta na cama e aguardo pelo toque dos lábios dela, não tarda a acontecer. chupa a cabeça do meu pau enquanto masturba a base dele com movimentos para cima e para baixo. Ah, como isso é delicioso! Por Deus, que mulher é essa?! O interior da boca de está quente e sua língua também é bastante ágil nos movimentos, dando lambidas no meu pau e me levando à loucura. Para a minha surpresa, ela para de me masturbar com as mãos, apenas segurando a base dele e o introduz ainda mais em sua boca me fazendo arfar novamente. Ao fazer o movimento reverso, os dentes de passam levemente pela extensão do meu pau, o ato me faz erguer meu corpo e me remexer na cama. MINHA NOSSA, isso é bom! Preciso disso de novo, agora! Meus olhos encontram os de que sorri de canto, vitoriosa pela reação que me causa com seu gesto delicioso. Levo minha mão direita em seus cabelos e afago o local.
  — Você é... — eu não consigo terminar minha frase, pois solta meu pau e engatinha de volta na cama por cima de mim, me empurrando para me deitar novamente.
  Vejo-a ficar de joelhos na cama e posicionar meu pau na entrada de sua intimidade. Ela senta devagar e eu sinto o fervor que está dentro dela. Por Deus, eu vou enlouquecer em breve. Essa mulher...
   encaixa meu pau dentro dela totalmente e apoia suas mãos em minhas coxas, começando a quicar de maneira leve e prazerosa. Seus movimentos são intensificados gradativamente e ela joga a cabeça para trás, seus cabelos estão soltos e balançam com o movimento que seu corpo faz. Uma de minhas mãos está na cintura dela e a outra estimula seu clitóris fazendo ritmados movimentos com o polegar.
  — ... — ela me chama e eu a encaro, nenhum de nós interrompe o que está fazendo.
  — Diga, meu amor — respondo com a voz rouca. volta a ficar com o corpo ereto e logo depois se joga em cima de mim apoiando as mãos no colchão ao meu lado.
  — Me fode, meu cachorrão — pede ela e eu não seguro a risada. Não esperava por um pedido dessa forma.
  — Rebola para mim — minhas mãos voltam a se concentrar apenas em apertar sua cintura com firmeza. Eu ergo meu quadril e pressiono o dela contra mim, fazendo os movimentos sincronizarem.
  — Ahhh, ... ahhh — ela geme alto apertando o lençol ao meu lado.
  — Rebola para mim, minha delegada, rebola — volto a pedir e sinto ela rebolar o quadril. Nossa... dessa vez quem geme sou eu. — Ah, ... — não consigo falar mais nada agora, apenas gemer cada vez mais alto e cada vez sentindo mais prazer.
  Sinto meu orgasmo se aproximar de maneira perigosa. Eu ainda quero dar prazer para ela, sei que ainda não gozou, mas eu quero que ela goze para mim. Empurro o quadril dela para cima, para que saia de cima de mim, ela sai e logo eu a tomo de volta em meus braços, deitando-a na cama e me deitando por cima dela. Meu pau volta a habitar seu interior e começo a estocá-la com força. Meu braço esquerdo apoiado na cama ao lado dela e o direito apertando seus seios. Nossos olhares se encaram sem desviar. À essa altura o suor já toma conta de nossos corpos assim como o prazer inevitável. Minha mão direita passa pelos lábios dela provocativamente, entra no clima e segura meu indicador colocando-a na boca em uma bela simulação de uma boquete, a mesma que ela fez minutos atrás. Por Deus, , não faz isso comigo, mulher! Intensifico minhas estocadas e perco o controle de minha ereção. geme alto ao sentir meu líquido invadi-la, quente, quase em ebulição. Deixo meu corpo relaxar por um breve segundo, mas logo volto a estocar , dessa vez com mais tranquilidade. Acaricio o rosto dela e nos beijamos.
  Ainda não estou satisfeito. Retiro meu pau de dentro dela e engatinho para fazer aquilo que eu estou com vontade há meses: chupá-la. A coloco com o corpo meio de lado e ergo uma de suas pernas. Preparo o terreno com meus dedos deslizando pela parte externa de sua intimidade, está tão molhadinha e isso é tão excitante... antes de encostar meus lábios nela, eu a encaro brevemente, seu olhar clamando por aquilo. Um olhar já é o suficiente para eu executar sua ordem. Encosto minha boca na intimidade de e ela geme com o toque de minha língua penetrando-a. Intercalo entre chupadas, lambidas e um mix entre isso e meus dedos introduzidos nela. se remexe na cama, gemendo com fervor, uma de suas mãos envolta em meus cabelos, puxando-os. Apesar de doer um pouco, eu não me incomodo. Na verdade, isso é mais um estímulo para que eu continue a chupar minha linda delegada com mais vigor. Como eu amo fazer isso, morreria com meus lábios chupando-a com toda alegria do mundo. Sou o homem mais feliz nesse momento.
  Ela continua gemendo e eu sinto que ela precisa de mim dentro dela novamente. Interrompo minha chupada e volto a deitar sobre ela, ajeitando seu quadril e encaixando meu pau dentro de sua intimidade. arfa com a entrada dele e eu entrelaço nossas mãos, pressionando as suas no colchão. Começo a estocá-la com força e não paro por nada. O frenesi do momento não me permite parar, eu não posso parar até que tenha seu prazer. Não demora para que o grito dela venha, suas mãos apertando as minhas e o líquido efervescente de sua intimidade inundá-la, afogando meu pau lá dentro. Minha nossa, que prazer imenso estou sentido e é compartilhado por ela que arfa me encarando com a expressão de prazer na face.
  — Eu te amo tanto... — me declaro sem nenhuma vergonha ou limites. Meus olhos percorrem o rosto de , gravando em minha memória cada detalhe.
  — Eu te amo, — suas palavras me fazem fechar meus olhos, sinto a emoção tomar contar de mim e as lágrimas se formarem em meu olhar. Eu me controlo para não chorar, não quero estragar esse momento único. — Senti sua falta, seu cachorro — diz ela e sua fala me faz rir. Porém, não estraga o momento, apenas o deixa mais especial. Acho que ela não me odeia como eu achei que odiaria caso soubesse da minha condição.
  — Obrigado por não me odiar — agradeço e dou um beijo na ponta de seu nariz.
  — Te odeio por ter escondido isso de mim, por não ter confiado em mim — revela ela e completa: — Mas não te odeio por ser como você é — ela dá um beijo no meu nariz e acaricia o local, assim como ela fazia quando eu era o Ryuu. Isso me deixa calmo, totalmente vendido.
  — Isso é tão gostoso... — eu digo com a voz mole, fechando meus olhos. Ouço a risada abafada de .
  — Posso te fazer uma pergunta? — ela diz me fazendo abrir os olhos e encará-la.
  — Quantas quiser — respondo. — Mas antes, vem cá — digo e retiro meu pau de dentro dela, sentando-se na cama, encostado na parede e puxando para deitar-se em meu peito. — Bem melhor agora — afago os cabelos dela e deposito um beijo em sua cabeça. — Pergunte o que quiser agora, meu amor.
  — Cachorro... — ela ri e prossegue: — Quando disse que o Daiki planeja me matar, falava sério ou era uma maneira idiota de chamar minha atenção?
  — Infelizmente eu falava sério — afirmo com um nó na garganta. — Achei engraçado o fato de você ser uma delegada extremamente desconfiada e se deixar levar pela conversa fiada daquele cozinheiro de araque — eu digo e vira o rosto para me encarar, seu olhar estreito sobre mim. — Não me olhe assim, delegada, sabe que tenho razão.
  — Não precisa esfregar na minha cara, advogado — rebate ela e dá uma mordida em meu peito.
  — Au, isso dói, ! — reclamo soltando uma risada e passo a mão livre pelo local.
  — Quando fiz isso no seu pau, você não reclamou — diz ela. — Seu cachorro!
  — O seu cachorro, meu amor — enfatizo e ela sorri para mim, ficando encabulada. — O que mais quer saber sobre o seu cachorrão? — indago com um sorriso no rosto. Ela solta um suspiro.
  — Se ele quer mesmo me matar, quero saber o motivo — diz voltando ao seu tom preocupado de antes.
  — Certamente é alguma inimizade sua — afirmo. — Você é uma delegada firme em suas ações, todo mundo te conhece por não facilitar a vida de ninguém que ande fora da Lei. Suponho que haja algum desses que queira vingança — concluo meu raciocínio ainda afagando a nuca dela que está amolecida e aninhada em meu peito.
  — Preciso saber quem é — diz e completa: — Taishi ficou de te mandar provas, não foi?
  — Já deve ter mandado — respondo. — Falei com ele pela manhã e ele pediu para que eu instalasse um aplicativo espião no celular do Daiki.
  — Então foi por isso que te encontrei pelado na minha cozinha? — indaga ela, lembrando-se do flagra. Ela dá risada.
  — Sim — afirmo também rindo. — Não era para você aparecer, era para você estar tomando banho com o tal Yoshida — digo com certo ciúme em minha fala. Ela percebe.
  — Ciúmes, hein? Hm, quem diria, com ciúmes de mim — ela sorri e nos encaramos. O deboche estampado em sua face.
  — Estava com ciúmes sim e tenho ciúmes de você. Odiava ver aquele idiota aqui tão perto de você e eu não podia fazer nada.
  — Você atrapalhou várias fodas minhas com ele — revela e eu estreito o olhar.
  — Prefere transar com um cara que não sabe cozinhar e ainda por cima quer matar você?
  — Não, eu prefiro fazer amor, foder, transar, ter orgasmos múltiplos e sentir o pau de um certo advogado mentiroso dentro de mim, para sempre — diz dançando seus dedos sobre meu peito, seu olhar me penetrando com vigor.
  Meu olhar sustenta sua encarada. Eu engulo em seco e uso a mão livre para segurar seu rosto, puxando-o na direção dos meus lábios. Antes que eles se toquem, ouvimos um barulho vindo da parte de baixo da casa.
  — O que foi isso? — diz em tom baixo, olhando para a porta.
  — Não sei — respondo e nos afastamos, levantando da cama.
  — Fica aqui — exige ela e vai até o closet pegar uma roupa para se vestir.
  — Não vou deixar você descer sozinha. E se for o Daiki? E se ele estiver armado para te matar? Não, eu não posso... — digo, também em tom baixo, com aflição vendo-a se vestir.
  — Por favor, , fique aqui — volta a pedir. — Você não sabe atirar direito e eu não quero que se machuque — ela veste a última peça e pega outra arma dentro de uma calça no alto do armário interno do closet. Quantas armas ela tem nessa casa?
  — Mas, ...
  — eu não posso te perder — ela para e me encara, seus olhos brilhando e posso ver o medo preenchendo-os.
  — ...
  — Por favor, fique aqui — ela sela nos lábios e vai na direção da porta, sumindo corredor a fora.
  Óbvio que eu não vou ficar aqui esperando enquanto ela corre perigo. Procuro uma roupa que eu possa vestir e acho outro conjunto de calça de moletom e uma calça de cores claras. Não demoro para me vestir, acho que levo menos de um minuto, mas é o suficiente para eu ouvir um tiro vindo da sala. Isso me faz paralisar.
  — !
  Eu digo para mim mesmo e puxo a calça com força até minha cintura, saindo correndo do quarto em seguida. Desço as escadas em desespero e vejo caída no chão da sala, perto da poltrona. Perto dela a figura de Daiki encara seu corpo no chão. Eu não quis saber que eu estou desarmado, apenas parti para cima de Daiki socando sua face. Vejo que a arma ainda está empunhada em sua mão e a seguro jogando seu cano para cima na diagonal. Ficamos nesse impasse até que o cano da arma volta ao seu estado anterior, pressionando em um dos corpos. Há mais um disparo. Sinto meu corpo gelar, nos encaramos e a expressão que ele tem é parecida com a minha: congelada. Eu sinto nossos corpos cederem e caímos juntos no chão. Minhas mãos tremes e minha garganta está seca, as lágrimas tomam conta de mim. Nunca fui um homem violento, pelo contrário, eu odeio brigas ou discussões. Por isso nunca me interessei em ser policial ou delegado. Nem atirar eu sei. Meu corpo todo está tremendo e me sinto frio. O que está havendo?
  Nesse meio tempo, sinto algo puxar meu braço, me deitando de peito para cima. A imagem de entrando no meu campo de visão.
  — ! Meu Deus, , você está ferido! — ela diz, desesperada e eu não consigo responder. O pânico toma conta de mim. — , fala comigo — pede ela e começa a inspecionar meu corpo, procurando pelo local do ferimento. O casaco que eu visto manchado de sangue, o desespero dela aumentando com a demora por achar a ferida de onde sai tanto sangue. — ... — ela ergue o casaco e vê que eu estou com o tronco limpo, não há sangue ou sequer um buraco de bala. — Daiki? — o olhar dela recai sobre o ser ao nosso lado e eu rolo a cabeça para o lado, também o encarando. — Ah, que alívio, ele quem levou o tiro — afirma ao mexer em Daiki e ver que ele também tem sangue manchando suas roupas. O sangue dele.
  — ... — finalmente eu consigo falar e ela volta a me encarar, puxando meu rosto na direção do dela.
  — Você está bem? — indaga ela, chorando.
  — Acho que estou — respondo e sinto o sangue voltar a percorrer pelas minhas veias, me fazendo voltar ao meu estado normal. — Hey, eu estou bem, . por favor, se acalme — reúno forças para segurar seu rosto, minhas mãos sujas com o sangue de Daiki.
  — Meu Deus, ... — ela chora mais e começa a beijar meu rosto. — Você está mesmo bem?
  — Estou, estou sim, meu amor — reafirmo. — E você? Ele te machucou? Deixe-me te ver — meus olhos percorrem o corpo de e eu ergo meu corpo, sentando-me.
  — Estou bem, só com dor de cabeça. Ele me deu uma coronhada...
  — E o tiro que eu ouvi?
  — Acho que foi minha arma disparando, apenas reflexo. Eu estou bem, amor — ela diz, carinhosa.
  — Fiquei com medo — nos abraçamos com força, sinto o corpo dela colado ao meu junto com um grande alívio por vê-la bem. — Temos que chamar a polícia, .
  — Sou a delegada, — brinca ela, se afastando um pouco. — Mas você tem razão.
  Antes dela se levantar para chamar sua equipe até sua casa, policiais invadem a o local e adentro à sala. Por entre eles surge a figura de Taishi.
  — Taishi? — e eu dissemos em uníssono.
  — Vocês estão bem? — eu me levanto com a ajuda de e ela me apoia em seus ombros, minhas pernas ainda estão um pouco moles com o susto.
  — Sim, mas o que você faz aqui? — indaga .
  — Tentei falar com você, , mas você não atendia. Liguei para você também, — ele diz se aproximando mais da gente e ficando na nossa frente. — Que diabos vocês estavam fazendo? — questiona e sinto meu rosto corar. Bom, a gente estava transando, né? Eu evito olhar para e ela faz o mesmo. — Ok, esquece, não sou tão burro como acham — ele diz e ri ao final da frase.
  — Como soube que o Daiki apareceria aqui? — pergunto, tentando mudar de assunto.
  — Enquanto eu fuçava o celular dele, para ouvir a ligação de ontem, ele recebeu outra ligação — inicia Taishi. — Conhece o famoso traficante Katsuo Matsumoto, delegada ? — seu olhar recai sobre .
  — Sim — ela responde.
  — Foi a voz dele que ouvi ao telefone falando com o Daiki.
  — O que ele queria? — questiono.
  — Ele não ficou nada feliz com a execução de sua última operação, . Operação essa que acabou com um de seus esquemas de tráfico de entorpecentes — explica Taishi e completa: — Ele contratou o Daiki para te matar, mas parece que ele se afeiçoou a você.
  — Afeiçoou?
  — É, , ele estava há meses enrolando o Katsuo, mas, ontem ele recebeu um ultimato: ou ele te matava ou ele morreria.
  — Meu Deus — eu digo, perplexo e aperto a cintura de .
  — Desgraçado... — sibila olhando para Daiki que está sendo levado de maca para uma ambulância. Óbvio que há policiais escoltando-o. — Ele me paga...
  — Amor, por favor, não faça nada que te coloque em perigo — eu digo, esquecendo-me da presença de Taishi, e logo percebo que falei alto demais. Quando olho para ele, o idiota está com um sorriso significativo no rosto.
  — Bom, eu preciso ir — ele diz ao me ver estreitar o olhar para ele. Taishi ri em seguida. — Precisam de algo?
  — Não, Taishi, estamos bem. Você ajudou bastante, muito obrigada por ter vindo — agradece sorrindo para ele.
  — Por nada, disponham sempre dos meus serviços — ele diz, despedindo-se.
  Todos deixam a casa de e ela volta a me abraçar com força, chorando em seguida. Acho que ela se manteve firme todo o tempo na presença de Taishi para agora poder desabar. Acolho seu corpo no meu abraço e sinto minha emoção também transbordar. O medo que eu senti quando ouvi o tiro, a incerteza se estava ou não ferida, o medo por achar que eu estava ferido e morrendo. Depois do susto de hoje, creio que só morrerei quando realmente chegar a minha hora e, pelo que percebo de minha vida, não será por conta de minha condição.
  Felizmente nenhum de nós dois se machucou, estamos bem afinal. Uma coisa não sai da minha mente agora, algo que a falou na primeira vez que a encontrei na forma de Ryuu. Essa afirmação me faz sorrir agora, mesmo que as lágrimas escorram por meu rosto.
  Realmente, tinha razão, nós dois formamos uma bela dupla.

“Dentro e fora, eu só quero me sentir bem todos os dias.
  Tudo se encaixo, só quero me sentir vivo!”
  – Steppin’ Out, FLOW

Fim



Comentários da autora


  Eu não acredito que o Kohshi me fez escrever essa fic em 3 dias! Eu já tinha começado, mas só tinha feito 5 páginas e travado. Mas, graças à Cami (e ao Kohshi ter ido buzinar no ouvido dela) o plot fluiu e aí está o resultado: eu escrevi as outras 22 páginas em um final de semana! hahaha muito surto, mas enfim. Obrigada Cami pela ajuda <3 Obrigada Kohshi pelo surto, te amo meu bombom! Obrigada a você que leu e não esqueça o comentário, please! <3333