Staten Island

Escrito por Beatriz Lobato | Revisado por Mah

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   chegara do trabalho mais estressado do que de costume. Jogara seu paletó em qualquer canto da sala e se estirara no sofá. Mais um dia de merda, pensara ele. Já não aguentava mais aquele escritório. Aquelas pessoas gritando por cima de sua cabeça, loucas para entregarem seus relatórios acima do prazo, secretárias folgadas que achavam ter algum tipo de intimidade com ele, e homens que fariam de tudo para estar em seu lugar.
  O trabalho costuma ser tudo para , mas ele já não pensava mais assim. Adorava entrar por aquele prédio toda manhã. Passar por aqueles corredores tragando seu tão famoso cigarro e ouvindo os suspiros que arrancava de todas as mulheres do local. Ele não se surpreendia mais com elas. Não era segredo que dormira com metade daquele escritório, mas depois de um tempo acaba se tornando entediante; nenhuma carne nova, vamos pôr assim dizer.
  Estava frustrado, cansado, entediado. Como podia se sentir assim? Um homem que tinha tudo, aparência, tinha dinheiro, um loft de dar inveja e conseguia as mais bonitas mulheres de Manhattan. Mulheres, essa palavra desencadeou memórias em . Há quanto tempo não se sentia satisfeito com uma? Ah sim, ele se lembrara. Desde que ela aparecera em sua vida.
  Se conheceram em um bar mal frequentado localizado nos subúrbios da cidade. Naquela noite, estava péssimo. Havia terminado um noivado de anos com sua namorada da universidade. Ela o havia traído. Não passava de uma vagabunda mesmo. Todos o avisaram, mas ele não quis ouvir; estava cego de amor.
  Na noite em que mais se sentiu deslocado, ela apareceu. E mostrou a lugares que ele nunca imaginara conhecer. Não, ela não o levou para uma viagem. O que ele queria dizer era como se sentira ao lado dela, como se fosse e voltasse do paraíso milhares de vezes. Era um sentimento difícil de se explicar, meio confuso, mas que apenas eles dois entendiam.
  Seu nome? .


  - Boa noite! - disse a mulher se sentando ao seu lado. Nem dera muita atenção, estava se sentindo um lixo aquela noite. Fez um barulho estranho com a boca, apenas para demostrar que ouvira, mas não estava a fim de conversar.
- Uma dose de whisky, por favor! - ouviu a mulher pedir ao barman, dando um gole em sua cerveja. - Você é novo por aqui? Eu nunca te vi antes!
  - É porque eu não frequento esse tipo de lugar. - disse indiferente.
  - Ah, isso foi uma insinuação à mim? É, sim, eu frequento lugares como esse. - a mulher não parecia ofendida, ela soava mais como irônica.
  - Desculpa, eu não quis te ofender, só não quero conversar com ninguém... - mal terminara de falar quando engoliu as próprias palavras. Quando finalmente se virara para ver a mulher, notara o quão bonita ela era. Não se lembrara de ver alguém tão bonita assim. Mesmo no término de seu noivado, nem sua noiva, a qual era apaixonado, nem ela chegara à extrema beleza. A mulher a sua frente sorria desafiadoramente, seus olhos verdes intensos que pareciam enxergar através da sua alma, os cabelos negros como a escuridão, e a pele clara como a neve.
  - Tudo bem então, eu vou me sentar em outro lugar. Eu não queria te atrapalhar. - Notara que a mulher se levantava para sair quando a segurou pelo braço, fazendo-a o encarar.
  - Não, não! É... Desculpa, não foi o que eu quis dizer... É só que eu não estou muito bem hoje, mas nem por isso você precisa se retirar. - ele sorriu sincero.
  - Obrigada! - ela voltou a se sentar. - Você parece educado demais para um lugar "como esse".
  - Eu estava meio perdido, não queria ir para casa. Na verdade, eu entrei no primeiro bar que eu vi. - se surpreendeu com o que dissera, pois era verdade. Assim que encontrou Candacce, sua noiva, com o amante, saira tão desnorteado de lá que só pensara em qualquer lugar com bebidas o suficiente para fazê-lo esquecer.
  - Você é daqui? - a ouviu perguntar.
  - Manhattan.
  - O que um homem de Manhattan faz andando perdido pelos bares de Staten Island? - ele não queria falar sobre o assunto, mas se sentia "livre" com ela, se pode dizer assim.
  - Staten Island não me causou uma boa impressão!
  - Como assim?
  - Soube que era aqui que minha noiva vinha se encontrar com o amante. - disse por fim. A mulher pareceu espantada e ao mesmo tempo "solidária".
  - Ah, eu sinto muito...
  - Não sinta. Os meus amigos tentaram me avisar sobre a pessoa que ela era, eu é que não quis ouvir.
  - Estava cego de amor? - Não usaria esse termo, mas sim, era louco por Candacce. Agora ele enxergava a verdade. Ela o usava, o tinha sempre em suas mãos, ela nunca gostou dele de verdade, gostava do que ele proporcionava à ela, a vida que ele deu à ela.
  - É... Cego é um ótimo termo. - ele riu sem humor.
  - Staten Island é um ótimo lugar, sinto muito se sua noiva lhe mostrou o contrário. - ela disse.
  - Eu não quis ofender sua cidade, só quis dizer que...
  - Que ficou decepcionado com o que viu aqui? É, eu sei bem... Mas agora que você consegue enxergar, que tal eu te mostrar a verdadeira Richmond?
  - O quê? Como assim "me mostrar"? - ele perguntou confuso.
  - Quer sair daqui? - ela propôs.
  - Você é algum tipo de prostituta ou algo assim? - ela riu.
  - E se eu fosse? Você não é mais noivo mesmo, não é? - ele se surpreendeu com sua resposta, não imaginava que ela ficaria tão normal. Achou que se ofenderia ou o agrediria ali mesmo, mas não. Ela o convidara para sair... Em um momento de reflexão, pensou: Por que não?.
  - É, por que não?
  - Exato, "por que não?". Agora vamos!

  Ela o levou a mais dois bares e depois de cinco ou seis doses em cada um, já se sentia mais alto e não se lembrara das coisas que o atingiram naquela noite.
  - Vem, homem de Manhattan! - ela gritou de longe.
  - É . Meu nome. - falava meio embolado devido ao exagerado consumo de bebida.
  - Tá, tanto faz! Vem logo, , se não eu vou te deixar pra trás! - ela disse, também "alegre" demais.
  - Aonde exatamente você tá me levando?
  - Shiiii! - ela fez, colocando o dedo indicador em seus lábios em sinal de silêncio. - Eu não te levei em uns lugares bem legais? - ele fez sinal positivo. - Então confia em mim.
   queria dizer alguma coisa, mas foi interrompido pelos lábios quentes da mulher em sua frente. O beijo era suave e não tinha pressa. Ele pôs uma mão em volta da cintura dela enquanto a outra ia em volta de seu pescoço. Já ela se concentrou nos fios de cabelos macios de . Céus, quem seria essa mulher? jamais sentira tanto calor e ardência somente em apenas um beijo... Ele queria saber, queria conhecer; se separou bruscamente dela.
  - Como é seu nome? - ele disse ofegante e com a respiração pesada.
  - Não é importante. - ela respondeu.
  - Claro que é, quem é você? - ele insistiu.
  - Olha! Vamos, já perdemos tempo demais aqui, eu quero te mostrar mais um lugar. - ela sai correndo o puxando, o fazendo se calar.

  - Uma balsa?
  - Não é "uma balsa" é "A Balsa"! - ela exclamou em protesto. - A Balsa de Staten Island, nunca ouviu falar?
  - Sim, já ouvi, mas nunca tive muito interesse...
  - Pra um homem tão culto de Manhattan, você conhece muito pouco do seu estado. - ela disse sorridente.
  - Ah é? E o que você sabe? - ele questionou também brincando.
  - Aparentemente, mais que você!
  Ela o empurrou para subir a bardo e com isso o guiou para uma sala aos fundos.
  - Pra onde tá me levando? - ele perguntou.
  - Shiii! Assim vai acabar estragando tudo.
   ficou quieto, sem reação, era como se ela mandasse nele e ele só pudesse falar com a permissão dela. A mulher levantou o olhar o encarando e o beijou segurando sua nuca e o empurrando pra trás. Ele a envolveu com uma mão na cintura dela e a beijou numa intensidade maior. Ela afastou suas bocas e ficou o encarando, deu uma risada safada e o empurrou ao chão, tirando sua calça de couro e logo depois a calcinha, jogando em cima dele. Ele segurou a calcinha no ar e sorriu de lado, seguindo.
  Ele se ergueu um pouco se aproximando e observando os seios dela que estavam visíveis marcados pela blusa agarrada. Ela abaixou sua calça e logo depois sua samba canção devagar, e abriu as pernas passando a unha em sua barriga. A esse ponto, ele já estava pulsando de excitação. Encostando-se nas bordas da balsa, ele a inclinou, deixando suas pernas ao lado de seu corpo e de um impulso, enfiou tudo nela. Ela soltou um gemido baixo de prazer seguido de um sorriso extremamente malicioso e excitante. Ela deixava a cabeça pender pra trás, soltando um breve gemido enquanto ele investia devagar.
  Sorriu sozinho, se sentindo superior por um momento, mas ela voltou a cabeça e o olhou com desejo cerrando os dentes.
  - Só isso que os homens de Manhattan sabem fazer? - Ela disse desafiadora, soltando suspiros.
  Ele deu um tranco forte, a fazendo soltar um gemido alto. A mulher o puxou fazendo ficar por cima dela, ele investia com força e ela gemia com prazer.
  - Vai , mais forte. - Ele já estava investindo ao máximo e ela queria mais? Fora ela quem pediu por isso.
   segurou suas mãos e levou-as na altura de sua cabeça, apertando-as com força, e num movimento rápido deu um impulso mais forçado e ela soltou um gritinho de prazer, o deixando extremamente arrepiado. Ela arranhava suas costas e gemia em seu ouvido enquanto ele apertava fortemente sua cintura sem dó nenhuma. Ela o olhou nos olhos e ele sentiu que ela estava pra ter um orgasmo. desceu a mão até o clitóris dela e o massageou de acordo com seus movimentos. Ela apertou os olhos, soltando um gemido extenso que o fez gemer junto, coisa que ele não fazia, mas ela o deixara louco. Seu membro pulsava dentro dela e estava se segurando pra não gozar. Fora inútil, ele havia gozado e continuou até ela gozar também. Não demorou muito para que isso acontecesse; ela o olhou ofegante, e não disse uma palavra. A mulher mal o beijara e essa era sua maior vontade no momento.
  - Eu quero te beijar. - Ele pronunciou com receio, mas ela sorriu e encostou seus lábios, para então começarmos de novo aquele momento de prazer de alguns segundos atrás.

  - . - ela disse.
  - O quê? - ele perguntou meio mole, estava cansado.
  - Meu nome. ! - ela sorriu para ele.
  - É um nome muito bonito, . - disse sorrindo também. Inclinou-se para beijar a mulher, que retribuiu meio receosa, estava com um olhar perdido. - O que foi?
  - Essa balsa vai ao terminal South Ferry, em Manhattan. Vai te deixar em casa. - ela disse desviando seu olhar.
  - Eu não tenho pressa de ir pra casa.
  - Pois devia ter, já está amanhecendo. - ele mal notara, mas sim, ficaram acordados a noite inteira. Incrível o que bebidas e sexo podem fazer com uma pessoa.
  - E como eu posso te encontrar de novo? - ele perguntou charmosamente.
  - Não pode. - ela respondeu.
  - Como assim, ?
  - , foi só uma noite. Você acabou de terminar um noivado, o que esperava ter comigo?
  - Mas , nós podemos sair, nos conhecer... Eu posso te ligar?
  - Não! Eu não gosto de me envolver, eu nem sei por que eu saí com você... Acho que tive pena...
  - Pena? Não era bem pena que você sentiu enquanto gritava o meu nome ontem à noite, mulher de Staten Island. - ela sorriu.
  - Tem razão, não foi pena... Mas vamos manter essa parte em segredo, sim? - ela disse, já vestindo suas roupas.
  - Que você não gosta de se envolver ou que gritava meu nome enquanto transávamos? - ela riu alto.
  - Tchau, ! - ele a viu andar pelo corredor sem olhar pra trás, e por um momento, quis que ela olhasse.
  - ! - ele gritou, chamando sua atenção. - Quando eu vou te ver de novo? - ele viu um sorriso brotar em seus lábios.
  - Você me verá de novo.


  Como um relampo de lembranças, se levantou do sofá em um pulo. Estava determinado a fazer isso, e era isso que ele iria fazer. Pegou seu paletó jogado e saiu.
  Ele tentou, depois daquela noite quando chegou em casa, expulsou Candacce de casa e disse que não fazia questão nem da devolução da aliança.
   mostrou a ele que a vida estava ali para ser curtida, vivida cada momento. tentou seguir em frente depois de Candacce, mas não conseguia. Ele era assim, se prendia facilmente. Mostrara a porta da saída para Candacce e deu espaço à outro pessoa, ela, .
  Chegou ao terminal South Ferry, o final de uma das barcas de Staten Island, a mesma que passara a noite com , se lembrou.
  Ele tentou procurá-la uma vez, naquele mesmo bar, mas ela não ia mais lá. Quando perguntou, alguns homens se lembraram dela. Disseram que era uma ótima companhia para beber, mas que nunca saiu daquele bar acompanhada. sorriu ao ouvir isso, mas também questionou se poderiam estar falando da mesma pessoa. Mas sim, ele sabia que era ela. Ele tocara , tanto quanto ela o havia tocado.
  Quando chegou à Staten Island, não sabia exatamente aonde ir, só queria que pelo menos uma vez em sua vida o céu se iluminasse para ele. Estava tão perdido em pensamentos, que não notara uma presença familiar.
  - Homem da Manhattan? - virou-se ao mesmo tempo tão admirado e tão encantado com a pessoa que estava em sua frente.
  - ? – perguntou, mesmo já sabendo a resposta. Ele queria correr, abraçá-la, beijá-la, mas é claro que não faria isso. – Nossa, é você mesma! O que está fazendo por aqui? - ela riu.
  - Eu trabalho aqui! - ele se admirou.
  - Aqui? Nas barcas? - ela assentiu.
  - Sim, gosto de observar o mar... Mas e você, o que faz aqui em Staten Island? - ele sabia que se a encontrasse, teria que responder à essa pergunta.
  - Eu vim procurar por você! - ela se admirou com o quão direto ele foi. - Mas nunca imaginei que você queria mesmo que eu te encontrasse.
  - Como assim? - ela riu boba.
  - Ah, por favor, ! Eu não sou tolo, mas só agora eu vejo. Você me trouxe aqui aquela noite, pois queria que eu te encontrasse aqui. Não em nenhum bar ou em qualquer outro lugar de Staten Island, mas sim aqui.
  - Tem razão, talvez eu quisesse que você me encontrasse. - ele sorriu. - Mas vamos manter isso em segredo, tudo bem?
   não pôde mais esperar, procurara por aquela mulher durante meses. Aquela mulher que o fizera se sentir finalmente livre, que o fizera se sentir quente e o que proporcionou uma noite excepcional. Sem mais delongas, a beijou, o melhor beijo de sua vida. O mais quente e o mais profundo beijo. Cheio de saudade, ternura e paixão. E naquele momento, descobriu que não só queria , mas como também precisava dela.

FIM



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