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Escrito por Bru Eltz | Revisado por Lelen

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Capítulo Um – I Feel Weak

  - Então, de novo, me explica por que é que eu estou te ajudando a fazer as malas para esse mágico lugar, sendo que eu sou contra o que você está pretendendo fazer?
  - Porque é o que melhores amigas fazem. Além do mais, sabe que eu faria o mesmo por você e , .
  - Porque é o que melhores amigas fazem. – ela debochou, imitando minha voz.
   sempre fora bem clara quanto a suas opiniões sobre meus casos amorosos. Sempre era a favor dos homens no ínicio, depois ficava um pouco desconfiada sobre o futuro, e no final me apoiava quando era a hora de terminar as coisas. Era um bom ciclo. Um que se estendia desde nossa adolescência.
  O que ela não gostava era quando esse ciclo era quebrado.
  - Sério, , por que hein? Por que viajar para o lugar em que sua lua-de-mel dos sonhos deveria ter sido? E só para manchar a alma daquele local sendo que nós duas sabemos que as chances de que tudo fique bem é praticamente nula? Nós nem sabemos se ele quer que as coisas fiquem bem...
  - Ok, . Ok, já chega, guarde meus vestidos na mala e cale a boca.
  Ela amarrou seus cabelos loiros de forma desajeitada e ficou resmungando enquanto fazia o que eu pedia. Em dias normais aquilo poderia ser sono por causa dos plantões no hospital, ou por ter passado a noite sem dormir com . Naquele dia, ela resmungava apenas porque não sabia o que iria acontecer com seus melhores amigos. E isso a consumia.
  Revirei os olhos ao me lembrar de quando eu fora pedida em casamento, e ela não fora avisada antes. Ela ficara histérica. Não tão histérica quando descobriu que ela poderia ser a organizadora dele. É claro que eu e pensávamos que ela não aceitaria porque tinha acabado de ser promovida no hospital, e tinha muito serviço, mas não é dessas. O sonho dela era organizar o casamento dos melhores amigos.
  Era tão bom ter ela como conselheira amorosa. Ela sabia te fazer voltar ao chão. E normalmente ela era imparcial. Mas as coisas mudaram nos últimos três anos.
  Foi quando as brigas começaram.
   estava tão resmungona sobre toda a situação porque aquela não era a primeira vez.
  Ela já me dera abrigo em seu apartamento antes. Já faltara ao trabalho para me ajudar a me recompor. E ela já me ajudara a arrumar minhas malas para uma viagem milagrosa antes. E os milagres nunca duraram mais do que alguns meses.
  E isso afetou o jeito com que ela enxergava .
  Ah, . Só de pensar no nome dele meus olhos se enchiam de lágrimas. Fomos tão felizes... Mas nos últimos tempos, nossas crises tinham piorado. Íamos e voltávamos sempre repetindo o mesmo ciclo. Viajávamos, nos agarrávamos e fingíamos que tudo estava bem. Até que um dois meses depois, as coisas voltavam a ficar ruins, e então esperávamos mais alguns meses para viajar novamente.
  Eram em momentos como aquele, quando eu arrumava minhas malas, que eu me perguntava se tudo não havia acabado, se nós já havíamos vivido tudo o que deveríamos viver.
  Porque não é saudável isso. Afastamos as pessoas que nós mais amamos com toda essa situação. Até , que sempre se manteve firme do meu lado estava cambaleante. Cansada de tudo aquilo.
  Suspirei finalmente fechando a mala.
  - É definitivo dessa vez, . – eu sussurrei.
  - Você pensou isso das outras vezes.
  - Mas, é diferente. Eu saí de casa. Ele saiu de casa. Nós nunca havíamos feito isso antes. Por uma ou duas noites, tudo bem. Mas por dois meses? odeia abandonar o seu lar.
  - E...?
  - E como foi ele que tomou a iniciativa de irmos para Bora-Bora, isso significa que ele está querendo evocar uma frase de nosso passado. Quando por causa do trabalho que consegui na Toyota não pudemos realmente aproveitar nossa lua-de-mel e nos contentamos com duas semanas no Japão.
  - Eu provavelmente vou me arrepender de perguntar... Mas que frase, ?
  - Em Bora-Bora, as coisas podem tanto começar bem, quanto terminar bem.
  - Você acha que...? – ela se interrompeu.
  - Ele tem um objetivo com tudo isso, . E eu temo que se nada der certo, no final dessa viagem estaremos assinando o divórcio.
  Ela levantou da cama, com seus olhos cor de âmbar encarando os meus castanhos. Ela não parecia triste, não parecia desolada. Ela era a máscara da tranqüilidade. Mas quando ela se aproximou de mim, tocando levemente meu cabelo castanho claro, e me puxando para um abraço, eu soube o quão triste ela estava. Ela temia por meu coração, coisa que antes ela nunca se preocupara. Ela era sempre mais empática pelos homens que eu namorava e terminava.
  Mas dessa vez, tudo era diferente.
  E a forte, fui eu.
  Abracei minha , e suspirei, fechando os olhos com força quando ouvi a campainha tocar. Ela me apertou com um pouco mais de força, e me soltou com os olhos marejados.
  - Eu quero que você se concentre, ok? Você vai viajar, para o local dos seus sonhos, vai estar mais sexy do que nunca, com o seu namorado de adolescência, e agora seu marido. Você vai aproveitar essa oportunidade, para pensar em vocês.
  Assenti, com um nó na garganta.
  - Você vai falar para ele tudo. Tudo. Honestidade, . Sempre.
  Assenti novamente. Ela estava se controlando para não dizer que eu poderia ligar para ela o tempo todo, e a qualquer hora. Porque ela queria que a decisão fosse só minha. Ela estava dominando sua curiosidade e necessidade por controle, tudo isso para me ver feliz.
  - Agora fique aqui até eu chamar.
  Ela saiu do quarto, sem ligar que estava de pijama e sem maquiagem alguma, e foi em direção a porta. Desobedecendo ela, eu me esgueirei até um lugar perto o suficiente para ouvir a conversa. Eu podia ter 25 anos, mas eu ainda tenho meus momentos adolescentes.
   abriu a porta e dela eu pude ver um homem de ombros largos e braços fortes, abraçar minha melhor amiga. Ela tentou recuar, mas ele a segurou mesmo assim. Quando ele a soltou, ela limpou o rosto, e tapou a boca ao ver o estrago na camisa pólo escura que ele vestia.
  - Desculpe.
  - São só lágrimas. E eu tenho um milhão de camisas como essa. – sua voz reverberou pelo recinto. Mordi meus lábios e vi fazer o mesmo.
  - ... Você sabe o que está fazendo?
  - Não.
  - Eu sei que não tenho sido sua amiga há algum tempo. E as vezes eu me sinto mal por isso. Mas hoje não é um desses dias.
  - Eu sei, . E não a culpo.
  - Eu amo a . E eu nunca a vi desse jeito. Eu quero que me prometa que vai tomar conta dela nessa viagem, e que vai pensar muito antes de tomar qualquer decisão.
  Ele assentiu, fechando seus olhos castanhos, quanto ela cutucou seu ombro. Ele passou a mão por seus cabelos da mesma cor que seus olhos, e abriu os olhos, esperando.
  - O lugar para onde vai levá-la é especial para ela. Manchar a imagem desse lugar é praticamente desconstruir toda a adolescência dela.
  - ...
  - Deixe-me terminar. – ela suspirou, mexendo na franja – O mínimo que você pode fazer, e é exatamente o que você precisa fazer, é ser honesto. Sincero. Não dá mais para você mentir para ela, muito menos ela para você.
  Ele desviou o olhar dela.
  - Onde ela está?
  - No quarto. Faz quanto tempo desde que vocês não se vêem?
  - Dois meses.
  Ela assentiu, e se virou.
  - ! – ela gritou. Não esperei que ela fosse lá me buscar, mesmo. Então voltei ao quarto peguei a mala e entrei na sala.
  Me senti como em um déjà vu. Mas ao mesmo tempo, apesar daquela cena não ser nova, havia algo diferente.
  Eu havia crescido naqueles dois meses. E também. E eu não sabia como aquilo afetaria ainda mais a nossa situação.
  A única coisa que eu sabia que eu poderia honestamente afirmar ao olhar aqueles olhos castanhos e o sorriso cansado de seu rosto, era algo que eu tinha medo de reconhecer devido ao final imprevisível daquela viagem.
  Eu ainda o amava.

Capítulo 2 – Stop Pretending

   pegou minha mala, com um pedido murmurado. E foi isso.
  A nossa troca de palavras depois de dois meses sem nos olharmos e nos falar. Eu fiquei brava. Eu esperava que ele puxasse assunto.
  Mas tudo o que acontecia eram algumas trocas de olhares cheios de um significado que eu não sabia desvendar. Parecíamos estranhos.
  Nós não estávamos felizes.
  Esse pensamento me consumiu durante o vôo interminável, e durante a primeira noite na ilha.
  Ficamos em um daqueles chalés acima do mar, em que por uma abertura no chão, pode-se mergulhar em uma piscina de vidro que no exterior era cercada de corais e milhares de peixes.
  Eu poderia ter ficado maravilhada, totalmente inebriada pela beleza do lugar, e como estávamos no meio de meu sonho de adolescência.
  Mas, eu não estava. Porque durante as primeiras 24 horas na ilha, o máximo que houve foi ele me entregar água para beber, e perguntar se eu estava com fome.
  Eu sentia que seriamos sugados para o mar de mentiras e fingimentos logo. E ao constatar isso, raiva me consumiu.
  - Ok, já chega. – eu murmurei. Ele olhou para mim, deixando de encarar a lua, e esperou.
  Me levantei, e andei até ele, parando entre a janela e o banco em que se sentava.
  - , por que estamos fazendo isso?
  Ele abriu a boca, mas a fechou, desviando o olhar.
  - Nós não estamos felizes. Estamos indo e voltando. Sem evoluir. Já estamos velhos de mais para isso.
  - ...
  Levantei o dedo.
  - Deixe-me terminar.
  Ele assentiu.
  - Às vezes eu penso que você gosta de toda essa situação. De como nós paramos de nos falar, e então temos o nosso sexo de reconciliação, que para falar a verdade não é bem de reconciliação, mas de esquecimento. Afinal, não conversamos sobre o que acontece. Fingimos que não tem nada.
  - Você não pode me culpar por isso, . Eu quero conversar, eu só não vejo como fazer isso sem receber um dedo em meu rosto, e ser criticado e crucificado por cada ato. Então...
  - Então você prefere ignorar? Acha que é melhor se simplesmente calar a boca e continuar com as coisas do jeito que estão?
  - Você não é a pessoa mais fácil de conviver. E nunca realmente me colocou em primeiro lugar.
  - Meu Deus! – bati com as mãos nos quadris. – Não importa, . Não importa de verdade. Quando você quer algo, você corre atrás, você realmente pisa o pé.
  - O que está querendo dizer?
  - Eu estou querendo dizer que se eu não te coloquei em primeiro lugar, você tinha que ter se colocado. Você tinha que ter me tido que queria isso.
  - em tese eu não precisaria te dizer nada.
  - HÁ, e eu tenho que adivinhar? É isso? Eu preciso ler a sua mente, quando tudo o que me diz é estou bem ?
  - Não...
  - , precisamos de diálogo. Como é que você quer que eu te coloque em primeiro lugar, se você nem ao menos fala comigo? Você não diz o que quer, parece gostar de toda essa situação. E sabe o que isso significa? Que você é egoísta. Que eu tenho que ceder, sempre, para que você possa ficar feliz. Casamentos não são isso.
  - E o que são casamentos para você, então? Você me critica, mas você é hipócrita. Você foge toda vez que algo fica sério de mais, ou quando você não concorda.
  Ele se levantou e me imprensou na parede. Eu pude ver ira em seus olhos. Abri minha boca, e bufei.
  - Casamentos são feitos de amor, e compreensão. E sinceramente, eu não sei se temos isso. – ele disse. – Não temos nem diálogo.
  Eu ri, irônica.
  - Casamentos também não são feitos de conformismo. E você parece bem disposto a sentar e engolir a situação. Bom, eu não estou.
  Ao dizer isso, com os olhos cheios de lágrimas eu o empurrei, e sai correndo da cabana, não me importando se na verdade, eu estava realmente fugindo do problema.
  Eu ficara chocada com a declaração dele.
  Pensar que ele não me amava dilacerava minha alma. Pensar que ele achava que nosso casamento não tinha salvação era pior ainda.
  Mas terrível mesmo era pensar que eu – apesar de amá-lo e precisar dele mais do que a lua necessita do sol para brilhar – concordava que nosso mundo estava desmoronando, e que a salvação poderia não existir.
  - A mocinha está bem? – um senhor de meia-idade perguntou.
  Percebi então que eu estava na entrada do pequeno bar que tinha a beira do mar, não muito longe dos chalés. Sorri para ele com os olhos marejados.
  - Ficarei. – encarei o bar por alguns segundos. – Após algumas tequilas. Ou algumas doses de absinto.

xxx

  Eu sabia que aquilo era um sonho.
  Apesar de saber que estava em Bora-Bora, eu sabia que nunca estive em uma cachoeira tão paradisíaca quanto aquela em minha vida.
  Isso e o fato de que eu estava nua dentro da água me alertaram pelo fato de que eu provavelmente estivera muito bêbada antes de dormir, e que aquele era um de meus sonhos revelações, afinal ninguém mais, ninguém menos do que Beyoncé estava parada em minha frente, vestindo jeans e uma camiseta branca simples.
  Sem salto. Pois é.
  - Eu estou sonhando. – afirmei.
  - Sim, querida, você está. E também está sob os efeitos de um absinto com 85% de teor alcoólico, o que é muito irresponsável.
  - Parece falando.
  - É o que ela falaria mesmo. – ela riu. – Mas o que eu quero perguntar é: por que você bebeu tanto?
  - Para esquecer. – eu pensei em afundar na água, mas o olhar de Beyoncé me manteve parada.
  - Esquecer é bom. Mas resolver é melhor.
  - Eu não sei se quero. Eu não quero perdê-lo, Bey.
  - Quando você ama algo, tem que deixá-lo ir. Se for realmente seu, vai voltar.
  - é capaz de fazer isso porque ela é masoquista. – eu ri fracamente - Eu não quero sentir dor, Bey. Nada vai fazer sentido.
  - A vida é difícil. Mas, você já parou para se perguntar se viver algo que deveria ser vivido com amor no lugar de brigas e ódio não é pior?
  Eu assenti triste.
  - Prendê-lo não vai te fazer feliz, . Na verdade, vai apenas lhe fazer sentir culpa. – seu sorriso era acolhedor. Era estranho ter minha diva ali tão perto de mim, conversando comigo sobre meu casamento. Era bom, mas estranho.
  - Eu acredito que tem razão.
  - É claro que tenho razão. Sou Beyoncé Knowles. Eu sempre tenho razão. – ela riu.
  - Isso parece com algo que eu diria.
  - Bom, eu sou sua consciência querida. Um grilo versão 3000. – ela piscou para mim, me fazendo gargalhar. – Agora está na hora de abrir os olhos.
  Eu assenti, mas não me obriguei a fazê-lo. Aproveitei a sensação de água gelada em meu corpo, o quanto tudo aquilo me acalmava.
  Foi quando a paz era tanta que inundava meus sentidos que decidi acordar.
  Para no segundo seguinte desejar ainda estar dormindo.
  Puta merda. Maldito Absinto.
  Eu estava de ressaca. Na viagem em que eu deveria estar tenho a maior D.R. da minha vida.
  Isso é tão .

Capítulo 3 – Mountain Peak

  - ? – ouvi a voz de – Você está acordada, ou ainda está alucinando?
  - Cale a boca. – eu grunhi. A luz feria meus olhos, o barulho feria meus olhos, o toque de feria minha pele. Eu estava acabada.
  Ele levantou e fechou as cortinas, me obrigando a ingerir quase dois litros de água.
  Depois de algumas horas, eu comecei a me sentir melhor, e ele voltou a seu estado de indiferença calculada, e se sentou no canto mais distante do quarto, enquanto eu levantava, pegava algumas roupas e me encaminhava para o banheiro.
  Tomei um banho demorado, lavando para longe de mim todo e qualquer vestígio de bebida. Depois de quase uma hora sai do banheiro quase renovada.
  Me deparei com uma bandeja com suco e frutas em cima da cama. Meu estomago imediatamente roncou e eu me perguntei quando foi a última fez que eu comi.
  - Faz dois dias que você não põe nada na boca. – falou. - E depois de ter bebido tanto, eu acho que o melhor que tem a fazer é se hidratar enquanto come. Então beber sucos e comer frutas é o melhor.
  Dei de ombros enquanto me sentava na cama, e comia devagar as frutas, sem mel elas eram difíceis de serem engolidas. Mas com o tanto de fome e sede que eu estava, não encontrei tanto problema com o gosto dela que encontraria normalmente.
  - Por que você fez isso, ? Eu te encontrei praticamente delirando, chorando, na praia, e com uma garrafa de Absinto.
  Bom, pelo menos eu não estava semi-nua dançando em cima do bar com velhos me adorando.
  - E então? – ele pressionou.
  Meu primeiro instinto foi abrir a boca e dizer que eu não queria falar sobre aquilo. E a verdade era que eu realmente preferia enterrar aquilo ao invés de conversar. Mas eu não podia.
Estávamos supostamente querendo ajeitar as coisas, não mascará-las.
  - Quando seu marido diz que não te ama mais você tende a fazer coisas estúpidas. Como conscientemente beber uma garrafa de Absinto de origens duvidosas para ficar bêbada e esquecer da vida.
  Ele arregalou os olhos, e depois os apertou ficando com um ar de mistério. Olhei para ele e não pude deixar de sentir um arrepio em minha coluna. Ele era lindo. E eu estava carente. E meu corpo necessitava do dele.
  Droga.
  Apertei as mãos no colchão para me manter sentada.
  - Eu nunca disse que não te amava.
  - Eu me lembro dessa parte, , acredite.
  - Eu disse que casamentos eram feitos de amor, e não sabia se o nosso tinha. Eu nunca disse que eu não te amava.
  - Mas se você acha que nosso casamento não tem amor, tecnicamente você não me ama.
  - Tecnicamente, você é que não me ama. – ele retrucou.
  - Eu nunca ao menos citei amor em nossa conversa. Como é que você pode achar que eu não te amo?
  - Você foi embora, . Novamente. Você não voltou. Você nem ao menos tentou ignorar as coisas só para me ter de volta. Você se afastou, um tanto resignada – ele disse magoado.   - E isso quer dizer que eu não te amo?
  - Isso significa que você desistiu de mim. E quando você desiste de alguém, é porque você deixou de amá-la.
  Abri a boca em espanto. Nunca imaginei as coisas daquela forma. Eu estava dando espaço para ele.
  - Foi por isso que eu fui atrás de você. Por que eu não podia desistir de você. Não tão cedo.
  - Cedo? Estamos nesse ciclo há dois anos. Não é cedo para desistir.
  Ele se levantou, assustado. Pela primeira vez senti o medo que emanava de seus olhos castanhos.
  - Você quer desistir?
  Eu abri a boca pronta para negar e me jogar em seus braços. Mas, era isso o certo? O que devíamos fazer? Eu nem ao menos sabia o que realmente estávamos fazendo.
  Brigávamos por ciúmes todas às vezes. Brigávamos porque tínhamos prioridades diferentes. Eram tantas brigas que eu já não sabia se valia a pena o desgaste. Apesar de amá-lo, eu não queria que ele se prendesse a mim apenas para sofrer.
  E eu não queria mais sofrer.
  - É o que devemos fazer? – perguntei. – Eu não sei.
  - Não. – ele sussurrou. – Não, não, não! Você está desistindo.
  - ! – eu falei mais alto, um pouco perturbada com o tom de sua voz – Pense comigo, ok?
  Ele travou a mandíbula.
  - , eu não sou bom em desistir. Abandonar. Não é o que eu faço.
  - Você prefere ignorar tudo? – eu perguntei.
  - Não foi o que eu disse.
  - Você não vê o que tudo isso faz conosco? Estamos quebrados, destruídos, . E isso não é saudável. Estar em uma situação que só nos traz insegurança não é o melhor, não é recomendável. Insistir nela, além de idiota é falta de amor próprio.
  - Estamos quebrados, mas...
  - Mas?
  Ele parou. Fechou os olhos e sentou desolado no pequeno banco. A luz do pôr-do-sol tocava seus cabelos, e os deixava com reflexos dourados. Apesar de estar lindo, como sempre, era como se um peso fora colocado em suas costas fortes, e de repente, retirado. Ele tinha apenas 26 anos, mas parecia que tinha muito mais.
  - Por quê? – ele perguntou – Estamos aqui, por quê?
  - Bom, nós sabemos porque.
  - Não.
  - Ora, . Por favor. – eu disse com um pouco de raiva.
  - Eu amo você. Isso deveria bastar.
  - Claro, isso é a desculpa que eu deveria aceitar? Sabe-se lá o que houve entre você e aquela garota, e eu tenho que aceitar porque você me ama. – eu murmurei.
  - Ela me assedia, mas eu nunca cederia...
  - Agora você concorda comigo. – eu ri, seca – Você é inacreditável.
  - Você tem tanto medo assim que eu te troque?
  - Eu tenho medo de ser traída. Não trocada. É diferente.
  - Então você não confia em mim, . Porque se você confiasse...
  - Não! Não importa se eu confio ou não. – balancei minha cabeça, aquela conversa estava confusa. – Não sou sua namoradinha, sou sua mulher. Isso é importante. E você tinha o poder para mudar a situação.
  - Tudo bem, eu tinha. – ele assentiu – E você? Você insistiu em ficar trabalhando com seu ex-noivo quando eu repetidamente disse que algo errado iria acontecer. E, ah é, aconteceu, ele te embebedou e se não fosse sua melhor amiga você poderia estar grávida dele.
  Abri a boca para contestar. Mas não havia o que contestar. Sim, eu quase fora estuprada apesar de todas as advertências de . Sim, se não fosse tudo estaria perdido. E sim, eu não sabia que estava ciente de tudo isso.
  - E o seu ponto é? – perguntei com a mandíbula travada.
  - Meu ponto é, , que você tem ciúmes de mim tanto quanto eu tenho de você. Ambos somos cabeças duras o suficiente para insistir no erro, o que desencadeia todas as nossas outras brigas. Ambos temos a carreira com uma prioridade o que acaba com grandes partes de nossa vida conjugal, como seu trabalho estragou nossa lua-de-mel, e o meu estragou nossa segunda lua-de-mel.
  Esperei. Ele se aproximou.
  - Erramos, e muito. Mas...
  - Esquecer, esquecer, esquecer. Você está insistindo. Se eu aceitar isso, vamos transar, e daqui há dois meses ou estaremos assinando o divórcio ou estaremos fazendo outra viagem.
  - Divórcio?! – ele disse surpreso. Me levantei e dei dois passos em sua direção, colocando as mãos na cintura.
  - Eu pensei que você tinha escolhido justo esse lugar para viajarmos porque queria dar um fim em tudo isso.
  - Fim? Eu não vim para Bora-Bora para acabar...
  - Esse é o problema. Eu vim aqui para tomar decisões. Boas ou ruins. Você veio para continuar com o ciclo.
  - ...
  O cortei. Eu sabia como aquilo terminaria. Seu discurso seria comovente. Mas naquela hora, não era o certo. Estávamos insistindo no erro. Admitindo, mas ignorando.
  - O amor é como uma montanha. – eu comecei. – Nós subimos e alguns de nós nunca encontram o topo, o fim. Outros sim. Eu só me pergunto, se talvez, nós não tenhamos atingidos o topo. Apesar de nos amarmos, e admitirmos nossos erros, talvez esse ciclo, toda vez ignorando e repetindo os erros, talvez tudo isso mostre que a gente está no topo da montanha.

Capítulo 4 – I know it’ll hurt you

  Ele abriu a boca, e fechou repetidas vezes.
  Eu sabia que era descrença que eu vi em seus olhos, e por fim determinação.
  - Se eu soubesse que uma garrafa de Absinto poderia ter tanto impacto, eu teria destruído todas. – ele murmurou, e então levantou o olhar me encarando – Quando foi que invertemos nossos papéis, ?
  - Papéis? – eu disse, sem entender. A atmosfera era confusa naquele quarto. Eu finalmente entendi que ele tinha tentado fazer com que resolvêssemos nossas diferenças ao trazer a tona o assunto do ciúmes. Mas a palavra chave não é esquecer.
  Eu só queria ter certeza de qual era, e de que eu não estou estragando tudo.
  - Antes você marcava as viagens, então chegávamos, você explodia e então nós brigávamos um pouco, e eu era o que negava, e insistia em alguma mudança. Você tem razão. Eu acho que sou egoísta por não querer que as coisas mudem, e acomodado.
  - Desculpe por te chamar de egoísta. Eu não estava falando a verdade. Você é provavelmente uma das pessoas mais altruístas que eu conheço.
  - Não tente me reconfortar – ele pediu.
  - Não estou.
  - ...
  - Eu sei que isso te magoa. Mas acho que é o melhor para nós.
  O silêncio predominou durante alguns segundos. Olhei para ele. Eu tinha certeza de que aquele era o homem da minha vida. Nunca encontraria outro que preenchesse meu coração.
  Foi nessa hora que eu soube o que tinha que fazer.
  Me deitei na cama, pensativa. Voltaríamos para casa amanhã, devido a trabalho e outros compromissos, então fora uma viagem curta. Mas o suficiente.
  Fiquei de costas para aonde estava, e fechei os olhos tentando dormir.
  Foi nessa hora que eu percebi que tínhamos vizinhos. Eu esperava que eles não tivessem ouvido nossa discussão, já que tendíamos a falar alto quando estávamos bravos.
  Mas pela movimentação, eles não deviam estar prestando muita atenção.
  Logo os gemidos já eram altos demais para serem ignorados. Mas foi quando eu ouvi um baque na parede onde a cama estava encostada que eu levantei assustada e bufei de impaciência.
  Mas é claro que nossos vizinhos estariam transando, justamente quando eu estava mais carente. Ah, droga.
  Voltei a me jogar na cama, desistindo da idéia de meditar. Virei minha cabeça para o lado e vi tentando se ajeitar no pequeno sofá/banco. Só agora percebi que era ali que ele vinha dormindo. Me senti culpada imediatamente.
  - Venha para cama. – chamei. Não precisei insistir, logo estava andando em minha direção, e pulando por cima de mim, para aterrissar ruidosamente ao meu lado. Segurei uma risada. O barulho no chalé ao lado só aumentava.
  - Nós nunca fomos assim. – ele disse. – Tanta falta de respeito.
  Eu ri irônica.
  - Não sei dizer se fomos ou não. Mas que e são piores do que isso é verdade. Eles até tentam se controlar, sem sucesso. – sorri, me virando para ele – E o que você está falando? Você adoraria cometer essa falta de respeito.
  Ele colocou um travesseiro sobre sua calça.
  - Ok, talvez.
  Os gemidos, ou devo dizer gritos ficaram mais altos, e eu já podia distinguir nomes.
  - Isso está me incomodando. – eu disse, apertando as mãos.
  A verdade é que aquilo estava apenas evidenciando de que eu estava a tempo de mais sem fazer. E a carência estava me consumindo.
  Me virei para o lado de que também parecia desconfortável. Seu olhar aos poucos se grudou no meu e eu vi luxúria enquanto ele encarava meu corpo apenas coberto por uma camiseta comprida e uma calcinha de renda.
  Eu mordi meu lábio inferior e me aproximei.
  Desculpe, mas eu estava necessitada, e ele era meu marido. E aquele não seria um sexo de reconciliação. Não mesmo.
  Oh senhor, nem toquei nele e já estou proferindo desculpas.
  Quando a distância entre nós era de meros centímetros, se mexeu, e a próxima coisa que vi era que ele estava em cima de mim, segurando minhas mãos ao lado minha cabeça.
  Mesmo com uma calça jeans, eu sentia sua excitação crescente, e eu ergui meu quadril um pouco para sentir melhor. Eu estou perdida, vou para o inferno por ser uma pervertida.
  Mas que se dane.
  Ergui meu pescoço, finalmente tocando meus lábios nos dele, minha língua rapidamente se enroscou na dele, e uma verdadeira guerra começou em nossas bocas.
  Ele fazia uma leve fricção, pélvis contra pélvis, e mesmo ainda vestidos aquilo conseguiu arrancar gemidos de mim. Tamanha era a minha necessidade.
  Eu não ia agüentar muito tempo. E já éramos grandinhos de mais para aquela embromação. Logo, fiquei por cima e arranquei sua calça e cueca ao mesmo tempo.
  - Está com pressa, ?
  - Estou há dois meses na seca, você vai realmente brincar comigo? – murmurei.
  Ele riu, e assentiu, me jogando no colchão e se livrando de minhas roupas. Fechei os olhos antecipando a penetração, mas nada aconteceu.
  Abri os olhos e vi encarando meu corpo com desejo, ele passou a língua nos lábios, e desceu, beijando meu pescoço enquanto suas mãos envolviam meus seios. Eu arfei ao sentir ele apertá-los levemente.
  Aos poucos, ele começou a massageá-los e desceu seus beijos por meu colo e barriga, sem nunca parar seus movimentos em meus seios. Eu já gemia com tanto prazer, e sentia ele sorrir enquanto beijava minha virilha.
  Finalmente sua língua tocou meu sexo, e eu gemi mais alto. Suas mãos soltaram meus seios e começaram a se movimentar em minha entrada. Sua língua estimulava meu clitóris com habilidade, e a cada gemido ele ia mais rápido. Minhas mãos se enroscaram em seus cabelos, o impelindo a ir mais rápido.
  Quando senti o orgasmo se aproximando, ele parou.
  Gemi em desaprovação.
  - !
  - Implore por mim, – ele disse sexy.
  - Por favor.
  - Tente melhor.
  - !
  - .
  Bufei, e puxei seus cabelos até que sua cabeça estivesse perto da minha, finalmente sussurrei em seu ouvido:
  - , quero você dentro de mim, e agora.
  Ele apertou minha cintura com força, e me penetrou rápido. Ambos gememos alto.
  Logo ele começou a se movimentar, cada vez mais rápido, murmurando coisas desconexas, enquanto eu me perdia no prazer.
  Logo mudamos de posição, e estando por cima eu acelerei o máximo que eu podia. Estocando fundo eu senti algo novo dentro de mim.
  - ! – falou, entre respirações. Seu olhar era animalesco, ele me tirou de cima dele, me jogando na cama com força, e saindo de dentro de mim, estocou uma vez com força.
  - . – eu ofeguei.
  Chegamos ao orgasmo juntos. Ele caiu em cima de mim, cansado.
  - Fazia tanto tempo que você não me chamava dessa forma.
  Sorri. Ele me aconchegou em seus braços. Suas mãos dedilhavam minhas costas com carinho.
  - E, , você não era a única na seca, não se esqueça. Se você não tivesse tomado a iniciativa eu provavelmente teria cometido um crime e te estuprado. – ele disse envergonhado.
  Eu ri. Algum tempo se passou, e eu fechei os olhos descansando.
   provavelmente pensou que eu estava dormindo e por isso beijou minha testa protetoramente.
  - Nosso amor nunca morrerá, . Não importa o que aconteça. E sim, talvez amor não seja o suficiente, mas eu sei de uma coisa. Você é a mulher da minha vida.

Epílogo – Give Love Another Life

  Como eu havia dito, aquele não fora um sexo de reconciliação. Quando acordei na manhã seguinte, toda suada e agarrada com , logo me desvencilhei e arrumei nossas coisas para irmos embora enquanto ele continuava a dormir. Em dias normais provavelmente teria me aproveitado daquele corpo.
  Tomei um longo banho, absorvendo tudo o que havia acontecido, e sorri com a resolução que vinha em minha mente.
  Eu sabia qual era a palavra chave de nosso relacionamento, perdão.

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  Ao aterrissarmos não pude deixar de sentir um vazio. e eu não nos falamos durante a viagem longa, e isso me deixou mal. Eu queria que aquela viagem tivesse terminado melhor. Mas parecia um pouco feliz, seu olhar determinado era intimidador até.
  Pegamos nossas malas em silêncio e ele me seguiu enquanto eu adentrava o saguão buscando minha com os olhos. Lá estava ela, com seu usual conjunto calça branca e camisa social, mostrando que ela deveria estar no hospital. Ela estava descalça, e segurava seus sapatos de salto alto branco, enquanto ela andava de um lado para outro impaciente.
  Ao vê-la eu tive outra revelação.
  Talvez amor não fosse o suficiente em um casamento. Mas certamente era o suficiente em uma amizade. estava lá sempre. Sempre me apoiando, sempre mostrando que havia luz no fim do túnel.
  Ela nunca pestanejara.
  Nunca hesitara.
  E isso era amor de verdade.
  Tolos são os que acham que amor de verdade só se acha em seu marido, namorado, companheiro. Amor de verdade também está no seu melhor amigo. E eu só enxerguei isso naquele momento.
  Percebi que não importava o resultado da viagem, eu nunca atingiria o fundo do poço. Porque eu teria meu anjo de cabelos loiros pronto para me resgatar. E ao pensar isso, meus olhos se encheram de lágrimas.
  De felicidade.
  - ! – gritei. Ela finalmente me viu, e correu para mim. Me senti uma adolescente novamente.
  - Bom, você está bem. Imaginava que teria que lidar com uma em pânico – ela disse aliviada – Mas você andou bebendo. Eu sinto o cheiro.
  Eu ri com sua preocupação e a abracei com força.
  - Eu te amo sua paranóica obsessiva.
  Ela foi desarmada. E sem jeito me abraçou de volta.
  - Eu também te amo.
   limpou a garganta desconfortável.
   fechou a cara.
  - Oi.
  - , posso falar com sua amiga um pouquinho?
  - Você... – ela começou, colocando a mão na cintura, e então , magicamente apareceu colocando sua mão na cintura dele, e apertando.
  - Claro. Foi o que quis dizer. – sorriu, puxando minha consigo.
  Me virei para que sorria ao ver e se afastarem. Por fim, seu olhar encontrou o meu.
  - Estou cansado de brigar sobre as mesmas coisas.
  - Eu também, .
  - E se perdão for a palavra chave de nosso relacionamento, então acredito que devemos primeiro perdoar a nós mesmos. Se não aceitarmos nossos próprios erros, não tem como outros superarem.
  Abri a boca, mas ele ergueu um dedo para que eu fechasse. Obedeci.
  - E eu também cheguei a conclusão de sua teoria sobre amor tem falhas. Se o amor for mesmo uma montanha, então eu acredito que estamos em um platô. Sabe que muitos confundem platôs com topos de montanha porque não olham para todos os lados. Eu no entanto, tenho certeza de que não estamos nem na metade do caminho, e há muito mais para subir.
  Sorri um pouco boba. Ele colocou as mãos em meu rosto.
  - – eu sussurrei, com a voz rouca – Eu acho que sei o que é o melhor para nós.
  - ? – eu vi sua confiança abalar.
  - Nosso amor nunca vai morrer. Você é o homem da minha vida. – imitei – Talvez nós estejamos em um platô, tenhamos perdido nossa paz. Mas nada impede que nós recomecemos.
  Ele sorriu radiante, e se aproximou para me beijar.
  - Eu te pego às 19h na casa da . É tempo o suficiente para arrumar suas coisas?
  Assenti sorrindo, me erguendo e entrelaçando minhas mãos em seu pescoço; aproximei minha boca de seu ouvido e com um sopro disse:
  - Let’s start over. Let’s give love another life.

FIM



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