Standing Here

Escrito por Fe Camilo | Editado por Lelen

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  Acordei com uma dor de cabeça tão forte que mais parecia estar levando marteladas no cérebro, e amaldiçoando a tudo e a todos pela sensação horrível que sentia. Abri os olhos notando um teto azul escuro que não era o do meu quarto, fechei os olhos e os abri novamente, me perguntando se não deveria estar sonhando, e para minha infelicidade estava muito bem acordada. Levei mais segundos do que deveria para notar que estava nua, e que o braço de alguém me mantinha no lugar. Merda.
  Bufei irritada, criando coragem para olhar para a figura que se encontrava adormecida ao meu lado, um rapaz de cabelos escuros e tatuagens cobrindo ambos os braços, exatamente como todos os outros rapazes com os quais dormira nos últimos meses, todos uma cópia vagamente parecida com as daquele que mais tentava esquecer: John O’Callaghan.
  Maldizendo a mim mesma pelas merdas de escolha que continuava fazendo, tentei me lembrar do que acontecera na noite anterior, conseguindo recuperar alguns flashes da despedida de solteira de Megan que me renderam uma dor de cabeça ainda mais forte. Cuidadosamente, tirei o braço do desconhecido da minha cintura e saí lentamente da cama para não o acordar, só me faltava ter de me despedir de um cara do qual não lembrava nem o nome.
  Caminhei nas pontas dos pés recuperando meu vestido, calcinha  e stilettos no caminho, mas não tendo a sorte de encontrar meu soutien e sem a coragem de continuar procurando por tempo o suficiente para que o desconhecido acordasse. Segui até o que devia se passar pela sala de estar do seu flat e me vesti rapidamente, preferindo carregar os saltos na mão para não fazer barulho. Minha bolsa, cadê minha bolsa?
  Olhei ao redor minuciosamente, finalmente encontrando minha bolsa pequena jogada ao lado do puff gigante que parecia ser um péssimo substituto para um sofá. Peguei minha bolsa e corri assim que ouvi o barulho de alguém se mexendo na cama, saindo porta afora e seguindo em direção ao elevador parado sem dar chance ao azar. Somente quando estava segura dentro do elevador coloquei os stilettos e me virei para encarar o meu rosto no espelho, me arrependendo instantaneamente ao notar o cabelo desgrenhado e o rosto manchado de maquiagem, traços que deixavam evidente a noite mal dormida. Sem me preocupar em tentar disfarçar a cara de ressaca, saí pelo saguão do prédio na mesma velocidade que saíra do apartamento há minutos, entrando no primeiro taxi que encontrei e fugindo para minha casa no mesmo instante.
  Claramente no caminho entre o apartamento do estranho com quem passei a noite e o meu, não houve um momento em que meu cérebro incompetente pelo cansaço e efeito pós-bebida se prestou ao papel de me lembrar que John estava passando os últimos dias em meu apartamento enquanto aguardava o casamento para se mudarem para a casa nova que gostariam de estrear juntos.
  - ? Onde você estava? Eu te enviei trocentas mensagens, por que não me respondeu? Eu estava literalmente prestes a chamar a polícia! – fui bombardeada com a sua preocupação assim que cheguei em casa, me fazendo lembrar uma vez mais quão fofo ele poderia ser, e me irritando ainda mais por estar presa no clichê mais estúpido de todos os tempos.
  - Eu estou bem, fui parar na casa de um... bem, de alguém. – respondi seguindo em direção ao meu quarto, sem ter a coragem de encarar seus olhos que pareciam uma facada no meu coração. – Tô indo dormir.
  - Hey, espera. – ele disse segurando no meu braço e me girando para olhar nos seus olhos ridiculamente lindos que tentava ignorar. – Você está realmente bem?
  Dessa vez pude ver a preocupação nos seus olhos também além da voz, e a vontade de chorar foi tão intensa que precisei reunir todas as minhas forças para não me debulhar em lágrimas na frente do meu melhor amigo por quem fiz a burrice de me apaixonar.
  - Claro, por que não estaria? – respondi me desvencilhando de seus braços e correndo para o meu quarto, trancando a porta. Lá dentro pude me permitir, enfim, desmoronar.

  

Flashback on


  A música estava tão alta que mal podíamos nos ouvir e a bebida transitava por minhas veias me levando a dançar exageradamente ao som de The Pretty Reckless enquanto aproveitava a festa noite adentro.  Eu estava feliz como não estivera há muito tempo, era aniversário de John, estávamos em uma boate com nossos melhores amigos, e eu tinha o plano perfeito arquitetado.
  O plano era simples, mas – em minha mente – completamente infalível. Havia colocado o vestido sexy que encontrara após horas de procura em todas as lojas da cidade, o vestido era da cor favorita de John, logo ele notaria. Também fiz questão de passar o dia lhe dando diversos presentes perfeitos cuidadosamente escolhidos, pois eu o conhecia como ninguém. E, por fim, estava flertando com ele desde que chegamos na festa, lançando a isca para que ele mordesse.
  Quando percebi que havia bebida o suficiente em meu sangue para que a coragem fosse maior do que o meu medo de ser rejeitada, mas não o suficiente para que eu perdesse completamente  a noção da minha missão, decidi que era o momento certo para ir até ele e beijá-lo. Me virei para Jared, que estava mais próximo no momento:
  - Onde está o John? – gritei para ser ouvida em meio ao som alto.
  - Ele tinha ido fumar. – respondeu o ruivo parecendo ocupado demais com o que parecia uma competição de dança esquisita com Pat.
  Segui rumo ao fumódromo, pensando que talvez esse fosse o lugar perfeito para o ataque, afinal de contas não haveria testemunhas. Estava virando o corredor que levava ao local quando paralisei com a cena à minha frente: lá estava John no maior amasso com ninguém menos que Megan. Fiquei em um estado de choque tão grande que sequer consegui comandar meus pés a se moverem na direção contrária, simplesmente assistindo enquanto ele beijava outra garota e meu coração se despedaçava em mil pedaços.
  

Flashback off

  - Eu os declaro marido e esposa. Sr. O’Callaghan, pode beijar sua esposa. – as lágrimas foram inevitáveis ao ouvir as palavras que encerrariam qualquer chance de algum dia ter aquele que amava, mas disfarcei com um sorriso para fingir ser lágrimas de felicidade como uma boa madrinha faria.

  Uma hora depois adentrei o salão onde a cerimônia acontecia com a melhor cara de passagem que pude manter, procurando por ele em meio à multidão. Sentia meu coração palpitando no peito em vê-lo ao longe, tentando conter a dor do que se tornou uma rotina: vê-lo beijando outra mulher.
  Me aproximei silenciosamente, chamando sua atenção com um toque em suas costas, me enredando uma vez mais em seus olhos tão serenos e honestos, que me fazia me apaixonar de novo toda vez que os encarava.
  - Hey baixinha! Está se divertindo? – perguntou com seu sorriso largo, parecendo feliz como nunca.
  - Hum... é, claro. Parabéns novamente pelo casamento, está tudo lindo. – disse a resposta mais padrão possível. – Eu não vou poder ficar, na verdade, eu só vim para me despedir.
  - O quê? Como assim? – perguntou confuso, colocando a mão em minhas costas e me direcionando para um canto do salão menos movimentado para conversarmos melhor.
  - Lembra aquela bolsa de estudos que eu estou tentando conseguir há meses? – ele assentiu atento – Bem, eu finalmente consegui! Amanhã de manhã pego a conexão para Nova York.
  Ele ficou alguns segundos me olhando surpreso e parecendo ligeiramente triste antes de me abraçar, me rodopiando pelo ar.
  - Parabéns, , eu não tinha a menor dúvida de que conseguiria, você é incrível. – sorri genuinamente pela primeira vez no dia.
  - Obrigada, O’Callaghan. Infelizmente você vai ter de aprender a viver sem mim. – brinquei sabendo muito bem que estava mais para o contrário.
  - Hey, você vai sentir minha falta também, baixinha. – reclamou, um sorriso triste mútuo nos conectando.
  - Claro que eu vou sentir sua falta. – assumi, o abraçando novamente, não conseguindo conter as lágrimas.
  - Tudo bem, , isso não é um adeus, você não acha que vai se livrar da gente tão facilmente, né?
  Me afastei do abraço, me permitindo olhar em seus olhos uma vez mais disposta a gravá-los em minha memória para sofrer em autopiedade depois.
  - Eu te amo, O’Callaghan. – disse as palavras que deveria ter dito há muito tempo.
  - Também te amo,

Fim



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