Sou Eu Que Me Lembro

Escrito por Belle Castro | Revisado por Isabelle Castro

Tamanho da fonte: | 

ELA:

  Oito de Setembro de Dois Mil e Quize - Terça-Feira

  O sonho com o príncipe encantado na cavalo branco poderia nunca acabar, mas o despertador, que ficava na mesinha do lado da cama, destruia os meus sonhos, enquanto dormia na cama confortável coberta com um edredom preto. Resmunguei como se fosse minha mãe me chamando para ir ao colégio, mas esta época já havia acabado fazia alguns anos.
  Abrindo os olhos, como se acordar fosse chato e logo me virando para pegar o celular para verificar se havia alguma mensagem de algum ser, logo me levanto, com uma preguiça tremenda e a vontade de voltar para a cama sendo imensa, mas o dever me chamava.
  Hoje haveria uma celebração, ou algo do tipo, de algo que não me lembrava, mas era algo relacionado à universidade em que estudava. Tinha marcado com meus amigos para nos encontrar às nove da manhã na frente do salão onde aconteceria o evento.

  Enquanto me trocava e fazia as necessidades básicas de todo ser humano, pensava no porquê se alguém marcar uma "festa" de manhã, numa terça-feira, no meio do mês de Setembro.

  Pronta para sair, vi que Joaquim tinha a mandado uma mensagem que perguntava se já estava chegando, respondendo a verdade e digo que sim.

***

  - A madame chegou!!! - Joaquim me recepciona.
  Sorrio e o comprimento com um abraço meu amigo de longa data. Ele havia me convecido de ter vindo e aqui estava eu.
  - Tem como você ficar responsável pela recepção dos convidados? Estou ocupado com a comida lá atrás. - Ele pergunta movimentando as mãos com um certo exagero.
  - Claro, mas sei exatamente no que você estará ocupado, senhor guloso.
  - Querida... Preciso manter este corpinho e ele não irá ficar lindo e maravilhoso assim sem a ajuda de certas coisas. - Ele vai se distanciando, enquanto eu rio de sua fala.
  As pessoas que foram convidadas foram chegando de pouco em pouco, mas mesmo assim eram oito ou nove gatos pingados no salão.

  Era ainda manhã, quando a última pessoa chegou, um homem, bonito até.
  - . - Ele fala seu nome para que eu cheque na lista.
  - Oi! Fica à vontade! - Repito o que havia falado para todos os outros que haviam passado por mim.

E foi assim que eu vi que a vida, colocou ele pra mim
Ali naquela Terça-Feira de Setembro
Por isso eu sei de cada luz, de cada cor de cor
Pode me perguntar de cada coisa
Que eu me lembro

  As horas (na verdade se passaram alguns minutos, mas para mim foram horas) foram se passando, até que o veio até mim e nós começamos a conversar. Um cara inteligente, bonito, cabelos pretos, alto até, olhos verdes, bonito, porte médio, engraçado e bonito. Ele falava tanto que em um certo momento havia enchido a minha paciência, mas eu continuava a conversar com o mesmo por toda a educação que minha mãe tinha me dado, e também pois aquela "festa" tava um fiasco. Ele falou, falou e eu fingi que ri.

  Os petiscos logo começaram a serem servidos, mas nem comi pois era presunto enrolado no melão e não aprecio tanto um melão quanto parecia gostar, mesmo preferindo que fosse uma feijoada.

  Papo vai, papo vem, após ele se empanturrar no melão que parecia delicioso ao seu ver, começaram a vir os assuntos que me interessavam. Livros, filmes, música e etecéteras. No meio disto tudo, tenho certeza que ele havia me cantado falando que tinha adorado o jeito que eu tinha me vestido e elogiado minha aparência, mesmo que a única coisa que tinha passado em minha face era água para tirar o excesso de remela da noite.
  - Eu vou ter que ir indo, . - Olha o ponto de intimidade do homem. - Mas eu vou te ligar com toda certeza, pois adorei ter te conhecido.
  - Tudo bem! Espero que você tenha aproveitado esta festa sem motivo. - Ri e me levantei da cadeira que estava sentada para dar um abraço de despedida no meu novo amigo.
  - Eu adorei na verdade. Espero que possamos nos reencontrar pelos corredores da uni.
  - Claro, claro! - O sigo até a porta para me despedir por completo.
  - Então... Tchau! - Ele diz dando aquele sorrisinho de lado que amei desde a primeira vez.
  - Tchau.
  Mas quem disse que um se distanciou do outro? Não nos beijamos loucamente, mas quase... Ou não.
  Ele se aproxima e eu viro meu rosto para que ele possa beijar minha bochecha. Mas quem disse que foi bochecha por completo? Eu me lembro que teve selinho neste beijo inocente. Pode me perguntar de cada coisa, que eu me lembro como o frescor da folha de hortelã.

E foi assim que eu vi que a vida colocou ele pra mim
Ali naquela Terça-Feira de Setembro
Por isso eu sei de cada luz, de cada cor de cor
Pode me perguntar de cada coisa
Que eu me lembro

Eu me lembro

ELE:

  Dezessete de Dezembro de Dois Mil e Quinze - Quinta-Feira

  - ! Acorda, seu mané! - Escuto a voz alta e grossa do meu colega de apartamento gritar através da porta de meu quarto.
  - Já estou acordado! - Respondo enquanto saio do pequeno banheiro precário que havia no quarto.
  Abro a porta e dou de cara com a cara toda amassada de Leandro, o cara que é meu amigo desde as antigas quando erámos dois moleques remelentos tentando jogar futebol no meio da rua. Apesar de nossas diferenças que são muitas, o fato de eu ser meio que um garoto nerd que não sai de casa quase nunca e ele traz todo final de semana alguma mulher "gostosa", isto nunca atrapalhou nossa amizade.
  - Você vai se atrasar para aquela festinha sem noção da sua universidade. - Ele diz enquanto ia até a sala e se jogar no sofá para assistir o seu glorioso jogo de futebol.
  - Ainda é meio dia, da tempo de chegar no horário marcado.
  - Você e essa sua mania de chegar na hora. Caralho, véi.
  Não respondo pois os argumentos que ele tinha eram sempre comentários sem noções e eu não suportava responder. Hoje haveria uma festa de despedida de um colega da universidade em um salão no apartamento de alguém. Como eu e o colega as vezes éramos parceiros de trabalho resolvi ir. Começaria lá pelas duas da tarde a festa então ainda teria tempo para me enrolar pela cidade pois serviriam obviamente algo por lá.
  - Estou indo! - Digo enquanto pego as chaves do meu carro novo em cima da mesinha que tinha ao lado da porta.
  - Adeus! Volte com alguma gostosona!
  Impossível.

***

  Duas e meia da tarde em ponto chego no prédio onde se realizaria a festa. Chego já comprimentando Lorenzo que iria viajar para Itália amanhã. Fico interagindo com o pessoal que estava em volta, mesmo não falando muito, mas para tentar fugir um pouco da solidão que andava sempre ao meu lado.

  Era três da tarde quando o elevador apitou mostrando que mais alguém tinha chegado, era uma moça muito bonita, elegante e radiava simpatia. Ela vinha em minha direção. Ou era isso que eu pensava.
  - Oi, queridos amigos! - Ela disse comprimentando os outros, já que não me conhecia.
  - Oi. - Respondo mesmo não a conhecendo após os outros.
  Achei que ela tinha me escutado, mas ao invés disso ela foi para o outro lado do salão falar com um outro cara.

E foi assim que eu vi que a vida colocou ela pra mim
Ali naquela Quinta-Feira de Dezembro
Por isso eu sei de cada luz, de cada cor de cor
Pode me perguntar de cada coisa
Que eu me lembro

  A festa estava bastante animada, as pessoas passavam por mim conversavam um pouco e iam para outro lado e eu ficava lá parado tomando alguns drinks. Um pouco depois botaram em uma mesa uma panela com feijoada, a comida típica do Brasil que eu tanto adoro. Aproveitei que não tinha comido nada além de um pão com maionese e peguei um prato e enchi daquele feijão com pedaços de porco. Enquanto comia percebi que a moça bonita que tinha chegado às três da tarde ficava me olhando e quando estava me deliciando de um pedaço de calabresa ela chega perto e senta na mesa em que eu estava sentado, assim começando uma conversa. Infelizmente tive que deixar meu prato quase no fim de lado para dar atenção a mulher maravilha em minha frente.

  Papo furado vem, papo furado vai, um ser que eu desconhecia surgiu de dentro de mim. Conversava sem nenhuma restrição, sem vergonha alguma e a conversa fluia que nem percebemos o tempo passar. Ela me achou muito engraçado e eu não faço ideia do porquê, nunca havia sido bom com piadas em geral e quando estava em minha adolescencia, era um desastre com as meninas. Trocamos nossos números de telefone para que pudéssemos continuar a converçar em outra hora, ou até mesmo nos encontrarmos pela faculdade em que estudávamos.

  Em meio ao nosso bate-papo, parei um pouco para analisa-la melhor, disfarçando com total destreza, e me admirei de ela não ter percebido até o momento que a blusa dela estava do lado errado. Apesar de toda a educação que meus pais me deram, não falei nada pois me encantei mais ainda com a pequena mulher que estava me encantando mais ainda a cada segundo, minuto e hora.
  - Eu vou ter que ir indo, . - Fui me despendindo de , este era o nome dela, pois vi que já era bem tarde e não queria que meu apartamento estive cheio de mulheres semi-nuas pelo aproveitamento de Leandro. - Mas eu vou te ligar com toda certeza, pois adorei ter te conhecido.
  - Tudo bem! Espero que você tenha aproveitado esta festa sem motivo. - Ela ri e se levanta da cadeira em que estava sentada enquanto conversávamos.
  - Eu adorei de verdade. Espero que possamos nos reencontrar pelos corredores da uni.
  - Claro, claro! - Ela me acompanha enquanto nos dirigiamos em direção ao elevador.
  - Então... Tchau! - Me despeço já percebendo que o elevador estava quase no nosso andar.
  - Tchau. - Ela diz sorrindo.
  Me aproximo de para lhe dar um beijo na bochecha, mas acidentalmente beijo o canto de sua boca. Mesmo sendo rápido e ter beijado somente o canto da boca de , eu me lembro deste simples gesto que ficou em minha memória pelo resto de minha vida.

E foi assim que eu vi que a vida colocou ela pra mim
Ali naquela Quinta-Feira de Dezembro
Por isso eu sei de cada luz, de cada cor de cor
Pode me perguntar de cada coisa
Que eu me lembro

Eu me lembro

FIM