Sorry

Escrito por Geovana Oliveira | Revisado por Mariana

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   encarava a organização de sua mesa; o notebook fechado já em seu devido lugar, os papéis colocados devidamente em suas pastas, os lápis apontados, prontos para o uso no dia seguinte, seus porta-retratos limpos e postos do jeito que a mulher gostava.
  - Sra. estremeceu ao ouvir o sobrenome de , ou como é há alguns meses, seu sobrenome –, já estou quase me retirando, precisa de mais algum de meus serviços? – Gisele, sua assistente, perguntou cordialmente, entrando na sala de sua chefe.
  - Não, não. Está dispensada. – a mulher falou ajeitando-se na cadeira e sorrindo para a assistente.
  - Obrigada, e bom feriado. – desejou Gisele, se retirando da sala em seguida, fechando a porta atrás de si.
   suspirou. Não tinha como adiar mais o encontro com seu marido, afinal, ele já deveria ter chegado de seu show em Boston, e eles teriam muito o quê conversar.
  Ela poderia ter dado uma de louca, ter ligado descontrolada para quando viu as fotos, mas ela nunca fora uma mulher que se descontrolava fácil – apesar de ter quebrado algumas coisas quando viu as tais fotos –, e não seria em um momento como aquele que ela iria decidir mudar.

We were fine this morning
Nós estávamos bem essa manhã

  Calmamente, juntou suas coisas e saiu de sua sala.
  O silêncio era tanto que os passos de poderiam ser ouvidos do andar de cima. Se ela estivesse resolvido vir de salto teria sido pior, pois iria se irritar com o tintilar de seus próprios pés e consequentemente ficaria descalça.
  Finalmente, após alguns metros, alcançou o elevador, clicando no botão do térreo assim que entrou no mesmo.
  Virou-se para o espelho que havia na parede do elevador e deu um pequeno sorriso, se lembrando de que fora ali que conhecera .

Now I feel like I’m dreaming
Agora sinto como se estivesse sonhando

   só foi perceber que havia chego ao térreo quando a porta se abriu e o frio encontrou com seus braços descobertos.
  Começava a chover e não queria correr o risco de pegar resfriado, já que um dia após o feriado teria uma reunião importante para negociar a compra de sua casa em Chelsea. Abraçando a si mesma, a mulher começou a caminhar rumo à saída do prédio, onde agora apenas João, o porteiro, se encontrava segurando um guarda-chuva.
  - Boa noitem, Sra. . – João cumprimentou, mostrando o melhor de seus sorrisos.
  - Boa noite, João – sorriu –. Será que poderia chamar um táxi para mim, é que eu não trouxe...
  - Só um segundo senhora, espere aqui mesmo. – João a interrompeu, se afastando de , caminhando até a avenida.
  Minutos depois, nada mais que sete, João voltou para perto de , lhe estendendo o braço. entrelaçou e caminhou rumo ao táxi estacionado em frente ao prédio, junto de João.
  - Obrigada, João – agradeceu, sorrindo.
  - Disponha, senhora. Bom feriado. – dito isso voltou para a porta do prédio, onde se pôs em frente a ele, com um sorriso.
  O caminho até a casa de não era tão grande, mas pareceu que se estendeu, principalmente com a chuva que caía. E tudo piorou quando ficaram presos em um engarrafamento. O motorista, distraído, ligou o rádio, justamente em uma estação que passava a música que menos queria ouvir naquele momento.
  “…I miss you, been far away for far too long. I keep dreaming you’ll be with me. And you’ll never go. Stop breathing if. I don’t see you anymore.”
  A música já estava quase na metade, mas isso não impediu que lágrimas brotassem nos olhos de .
  - Por favor, será que dá para desligar o rádio? – pediu, o mais educada possível, tentando não parecer rude.
  - Desculpa se lhe incomodou. – o motorista falou sem graça, desligando o rádio.
  “...anything ut I won’t give up. ‘Cause you…”
  Após o motorista ter desligado o rádio, o silêncio se instalou no carro e agradeceu mentalmente quando saíram do engarrafamento, faltando apenas três quarteirões para chegar a sua casa.
  - Aqui, pode ficar com o troco. – entregou uma nota de 20 dólares e uma de 10, sabendo que a corrida não poderia ter passado de 23.
  Desceu do carro e correu em direção à sua casa para não pegar chuva, já vendo o carro de estacionado na garagem e as luzes da sala acesa.
  Assim que abriu a porta veio ao seu encontro, com uma face preocupada.
  - , eu – começou, tentando esconder seu nervosismo -, eu posso explicar.

You try to tell me what’s happened
Você tenta me dizer o que aconteceu

  - Então explique – concedeu, colocando a bolsa sobre a mesinha de entrada.
  - Aquelas fotos, elas, elas são verdadeiras – ele abaixou a cabeça –, mas, juro que se você deixar eu te explicar exatamente o que aconteceu você vai entender.
   nada respondeu. Ela não iria demonstrar fraqueza para ele e mesmo que ele tenha se importado em dizer a verdade, nesse momento nada importava para ela.
  - Eu estava saindo do Meet & Greet quando aquelas fãs me abordaram, elas pediram um autógrafo. E uma delas me pediu um beijo...
  - E você concedeu esse beijo? Mesmo sendo casado?! – descontrolou-se gritando com que se encolheu.
  - Mas eu agi sem pensar direito! – ele rebateu. – Entenda meu lado!

But I can’t hear when you’re screamin’ (whoo)
Mas eu não consigo ouvir quando você grita (whoo)

  - E você pensou, em algum segundo, no MEU lado? – gritou ainda mais descontrolada do que antes. – Não será você que sairá como corno, mais uma vez, ou será?
   nada respondeu, estava se sentindo um idiota por tratar de tal maneira, um irresponsável por não ter se controlado, um imbecil por ter traído sua amada mais uma vez, um estúpido por pensar que não havia fotógrafos no momento, um cretino por pensar que conseguiria esconder de mais um de seus deslizes, resumindo, estava se sentindo um ser desprezível e repugnante.
  - Me desculpa... – murmurou quase inadiavelmente. – Eu realmente sinto muito por ter feito tudo isso com você. Mas eu lhe imploro, me perdoa.

No more “I’m sorry’s”
Chega de “desculpe-me”
I don’t have the thime
Eu não tenho tempo

  - Não, , eu não vou lhe desculpar – falou com a voz vacilante.
  - O quê quer dizer com isso? – perguntou finalmente levantando o olhar para encarar .
  - Que não vamos mais ficar juntos – a mulher falou encarando o fundo dos olhos de .
  - Não, ! – ele gritou, se levantando bruscamente. – Eu prometo mudar, do fundo do meu coração, eu prometo que mudarei.
  - Você já prometeu isso, e como nas vezes anteriores, eu sei que você não mudará. – falou olhando com um pouco de compaixão para . – Mas não dá mais, , não consigo mais conviver com isso.
  - Não, você não pode ir. Você ainda me ama! – ele falou se aproximando de que se afastou subitamente.
  - Exatamente – ela falou andando para trás -. Mas antes de lhe amar, eu tenho de ME amar, e eu não posso continuar sendo feita de idiota.

You break up to make up
Você termina para voltar
So spare me the lie
Então poupe-me a mentira

   subiu correndo em direção ao quarto, onde o trancou rapidamente, se jogando na cama em seguida.
  Ela sabia que aquilo era o certo a se fazer, mas o certo nunca seria fácil.
   ficou alguns minutos, na sala, olhando a parede, incrédulo pela atitude que tomara. Tudo bem que ele tinha errado, mas fazer aquilo já era demais, não justificava dizer tais palavras, quais, vale ressaltar, ele ainda não havia compreendido. Ela queria um tempo para pensar ou era o fim mesmo?
  O rapaz engoliu em seco ao pensar em tal alternativa e sem pensar nem mais um segundo correu pelo corredor encontrando a porta de seu quarto, como esperava, fechado.
  - , abra essa porta! Precisamos conversar. - forçou a porta, o que foi em vão, já que a fechadura era bem resistente.
  - Me deixa em paz – conseguiu ouvir o pedido de depois de alguns segundos tentando abrir a porta.
  - Eu não vou sair daqui enquanto você não abrir essa porta. – falou se sentando em frente à porta do quarto do casal. – Eu sei que o que fiz não foi certo, mas ainda assim mereço conversar com você, não acha?

You know it’s not right
Você sabe que não é certo

  - Não, não acho – falou, se sentando na cama e mesmo assim ainda conseguir ouvir o suspiro de vinda do corredor.
  - , eu queria saber algo. – ele falou e sem ouvir resposta continuou. – Por que não pode ser como antes?
  - Por que não pode ser como antes? – imitou a voz de , gargalhando em seguida. – Quer que eu aja naturalmente, como uma imbecil, finja que nada aconteceu e saía na rua vestida de mamãe Noel distribuindo doces para as crianças?

We could’ve been smilin’
Nós poderíamos estar sorrindo

  - Eu falo antes, do antes mesmo. – murmurou. – Como na época que estávamos na faculdade, a época que éramos apaixonados...
  - Eu nunca deixei de ser aquela garota. – também murmurou para a surpresa de que encarou a porta, como se pudesse ver por através dela. – Eu sempre fui a boba apaixonada que ouvia suas histórias com os olhos brilhando, que sempre estava contigo para o que desse e viesse, que não lhe abandonaria por nada no mundo, que era sempre seu ombro amigo...

You should’ve seen the light
Você deveria ter visto a luz
Inside my eyes
Dentro dos meus olhos

   ainda encarava a porta e foi aí que várias lembranças vieram à tona. Realmente, nunca deixara de ser aquela garota doce qual ele conhecera, e se ela tinha mudado em algo, por pouco que fosse, era tudo culpa dele. Ele que tinha feito provar da dor da traição, da mágoa, do coração partido.
  Agora, parando para pensar, se perguntava como fora tão idiota para não notar seus próprios erros? Erros esses que por sinal estavam pondo seu casamento em risco, que estavam pondo a prova se o amor de e ainda era o mesmo de um ano atrás.
   parou de pensar ao ouvir um gemido, que parecia de dor, vindo de dentro do quarto e levantou-se prontamente, colando o ouvido na porta. O homem pode ouvir o choro de misturado com um som de dor, que parecia aumentar cada vez mais.

And I shouldn’t have been crying (Oh, no)
E eu não deveria estar chorando (Oh, não)

  - Abra a porta! O que está acontecendo? – ouviu esmurrar a porta, mas não ligou, apenas continuou a arrumar sua mala, colocando o máximo de roupa que conseguia para não ter de voltar ali.
  Ao terminar, jogou-se na cama, puxando as cobertas para cobrir seu corpo, e ficou ali, chorando baixinho. ainda esmurrava a porta, tentando abri-la, e gritava para que a mulher abrisse a porta.
  A mulher se virou para o lado tentando ignorar as batidas na porta e sorriu tristemente, encarando um porta-retratos sobre a escrivaninha, onde estava uma foto da turma que e saíam frequentemente. Sem que percebesse o sono lhe encontrou, levando-a para um mundo cor-de-rosa, onde ela vestida com um longo vestido e era feliz.
  Quando acordou, ainda era madrugada, e já havia parado de bater na porta, provavelmente cansado. Levantou-se preguiçosamente e seguiu para o banheiro, onde tomou um banho rápido, torcendo para que não estivesse na porta, e se estivesse, que não tivesse acordado – se tivesse dormido – com o barulho do chuveiro ligado.
  Ao sair vestiu uma roupa que havia deixado no closet, e prendeu o cabelo de qualquer jeito, indo até a porta em seguida. Abaixou-se e olhou pelo buraco, onde não encontrou indícios de que estava ali. Respirou fundo e pegou suas duas malas – uma de mão e outra normal –, abrindo a porta e como suspeitava, não encontrando nenhum a sua espera.
  Agradeceu mentalmente e pôs-se a caminhar pelo corredor, rumo à saída de sua casa. Ao passar pela mesinha de centro da sala, viu que o bloco de notas ainda estava lá, caminhou até ele e escreveu que, no máximo em 15 dias, o advogado dela apareceria com os papéis do divórcio.

Don’t say you need
Não diga que você precisa de mim

  - Você vai mesmo embora? – arrepiou ao ouvir a voz de .
  - Vou. – respondeu ela, baixo, mas firme.
  - E você vai largar três anos de namoro e quase um de casamento? Vai largar essa casa magnífica, vai largar os nossos planos de ter filhos, vai largar os sonhos que construímos juntos? – perguntou e em momento algum levantou o olhar – Você vai me largar?
  - Desde o momento que você foi infiel a mim, na primeira vez, eu estou levando em conta sair ou não de casa. – finalmente levantou o olhar encontrando encostado no portal da cozinha, como se estivessem conversando sobre o tempo. - Eu tinha razão em ficar com medo do que aconteceria daquela vez para frente, e o pior é que eu pensei que você que você tomaria jeito.

Don’t promise to change
Não prometa que vai mudar

  - , eu juro por tudo que é mais sagrado, eu vou tentar mudar. – falou desencostando do portal e caminhando em sua direção, lentamente.
  - Jurar é pecado sabia? – ela deu um sorriso triste, apertando fortemente a alça de mala. – E tentar não é o bastante para mim, pelo menos não mais.
  - Mas como eu viverei nessa casa enorme sozinho? – perguntou e já poderia ver os olhos do rapaz ficarem úmidos. – Com quem eu assistirei a aqueles filmes românticos? Quem irá me acordar no meio da noite porque ouviu um barulho? Quem irá me esperar no aeroporto quando eu chegar cansado de um show? Quem irá dormir comigo em um dia chuvoso? Quem sempre estará comigo daqui para frente?
  - Eu não posso te dizer o nome dessa pessoa, mas te garanto, não serei mais eu.

I know that you need me
Sei que você precisa de mim
There’s nothing to say
Não há nada a dizer

   soltou puxou a mala e saiu da casa em meios às lágrimas que caíam de seu rosto.
   não estava tão diferente; grossas lágrimas rolavam pelo seu rosto, sem impedimento algum. Ele não acreditava mesmo que sua garota havia o abandonado, o deixado...
  Eles passaram tanto tempo juntos que já não conseguia imaginar sua vida sem aquela mulher, sem seus chiliques, suas manias, sua voz. Ele ficara tão dependente de quanto um alcoólatra é em álcool ou um fumante em tabaco.
  Seu pensamento estava longe quando a porta bateu e como um clique, correu em direção à porta. Ele definitivamente não conseguiria viver um dia sem .
   caminhava lenta e vagarosamente, tentando encontrar o celular na bolsa que havia pegado, precisava ligar para Judith ou mesmo Susana, alguém precisa ir buscá-la e mais que isso, abrigá-la. Quando finalmente conseguiu achar o celular mandou um simples e rápido “tem como me buscar? É urgente” para Susana que seria a única pessoa que aceitaria buscá-la naquele horário.
  Quando a porta bateu novamente suspirou, já imaginando que mais um ar de desculpas viria a seguir.

Shut up and love me
Cale a boca e me ame
Cause you’ve already got me
Porque você já me tem

  Mas ao contrário do que imaginava, apenas puxou seu braço, fazendo com que a mala caísse no chão, apertando-a contra seu corpo e beijando-lhe delicadamente.
   ainda estava com os olhos arregalados quando finalmente os seus lábios tocaram nos de , e aos poucos os fechou, podendo aproveitar o momento. já não pensava direito, sabia que aquilo não era o bastante para fazer desistir, mas ele deveria tentar, pelo menos. E como sentira falta daquilo, de arranhando sua nuca e puxando-o para mais perto, enquanto ele, por sua vez, permanecia com os braços ao seu redor, como se nunca mais fosse a soltar.

I don’t need words
Não preciso de palavras
I need time in your arms
Preciso de tempo em seus braços

  - Não me deixa, por favor. – pediu, desgrudando os lábios de , abraçando-a fortemente. – Eu não vou conseguir viver sem você.
  - ... – murmurou mexendo nos cabelos do rapaz. – Você foi meu primeiro amor, mas será que vai ser o último?
  - Eu quero ser. – ele pediu, baixo, no ouvido de . – Me deixa ser, por favor.
  - Não é questão de deixar ou não.
  - Mas então o quê é? Essa decisão é sua, só você pode escolher seu futuro. Só você pode escolher se eu vou ser ou não seu último amor. – falou, apertando ainda mais em seus braços.
  - Para mim você sempre será o primeiro e último. – falou e soltou um pequeno sorriso. – Mas isso não me garante que eu serei o seu último amor.
  - , não começa com essa história, por favor, eu já te pedi perdão. – falou se afastando de para olhar em seus olhos.
  - , tanto eu quanto você, sabemos que mesmo que eu te perdoe eu vou ficar jogando na sua cara tudo o que você me fez e isso não será nenhum pouco bom, para ambos.
  - E quem disse que eu me importo? – perguntou fazendo rir. – É sério, se você preferir pode me bater quantas vezes quiser, quantas vezes quiser que eu não me importarei, eu só quero ficar com você...
  Quando abriu a boca para responder um farol apareceu no final da rua, assustando a , que colocou as mãos sobre os olhos.
  - Bem, minha carona chegou. – ergueu os ombros para , desconfortável.
  - Não, não, por favor...
  - Não digo eu, , não vai dar. Eu não vou suportar mais um calço da vida. – falou levando sua mala grande até o carro, onde a colocou nos bancos de trás.
  Pouco depois a garota voltou, pegando sua mala do chão e sorrindo infeliz para que deu um sorriso mais triste ainda.
  - Até qualquer dia, . – foi até o rapaz dando-lhe um breve beijo no rosto, indo em seguida para o carro de Susana que lhe aguardava com uma cara sonolenta.
  - Até qualquer dia, pequena. – sussurrou quando o carro já estava virando a esquina novamente.

I need love from you, baby
Eu preciso de amor vindo de você, baby

FIM



Comentários da autora


  N/A: Oooolá *--* Bem clichê, não é? Sim, sim, eu sei, muito clichê. Mas apesar disso eu gostei de escrevê-la, mesmo estando desesperada pelo prazo estar acabando. Espero que assim como eu, ou talvez não, tenham gostado e se não gostaram, pelo menos não me lixem. :XX
  P.S. O trecho da música citada quando a garota está no táxi é de Far Away, Nickelback.