So Much Love To Give

Escrita por Luisa Silva | Revisada por Luba

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Parte 01

  - Bom dia.
  - Bom dia. – A garota respondeu e entrou em seu apartamento.
  Quase todas as manhãs acontecia o mesmo, era como um ritual. saia de casa para trabalhar e encontrava chegando de seu turno no hospital, eles se cumprimentavam com um simples “bom dia” e seguiam seus rumos. Apesar de toda a simplicidade, se encontrava sorrindo durante todo o caminho até o trabalho por causa desse evento.
   e eram ambos médicos, trabalhavam no mesmo hospital e eram vizinhos, mas só se encontravam nesses breves momentos no corredor. A garota sempre trabalhava no turno da madrugada na emergência, enquanto ele atendia no turno diurno na ala infantil. Era assim desde que ela se mudou para aquele prédio, vindo de algum lugar que o rapaz ainda não sabia qual, mas que pretendia descobrir, assim como muitas outras coisas. Ela possuía cabelos tão escuros quanto a noite, olhos castanhos e pele pálida, provavelmente pela falta de vitamina D, enquanto ele tinha cabelos loiros ondulados, olhos azuis da cor do céu e pele dourada, a própria encarnação do deus Sol. Eram aparentemente opostos, e talvez por isso despertasse um interesse diferente em , de modo que sempre que a via, queria puxar assunto, conversar e tentar conhecer aquela menina misteriosa.
  O dia passou como um turbilhão, como de costume no maior hospital da cidade, e quando se deu conta, já estava voltando para casa, cansado, porém feliz. Muitas pessoas achavam que trabalhar com crianças era difícil, ainda mais crianças doentes, mas não se imaginava fazendo outra coisa. Adorava seu trabalho, por mais estranho que parecesse.
  Quando finalmente chegou no corredor do seu apartamento no terceiro andar de um prédio antigo sem elevador, suspirou de alívio. Aproximou-se de sua porta, mas seu olhar se desviou para a porta ao lado. As luzes estavam acesas, indicando que ainda estava em casa, provavelmente se aprontando para mais uma noite de trabalho. quase teve coragem suficiente para tocar sua campainha, quase, mas desistiu. Entrou em seu próprio apartamento e passou as horas seguintes tentando se convencer de que não havia tocado a campainha porque estaria atrapalhando a menina, e não porque era um covarde.
  - Bom dia. – Disse na manhã seguinte quando encontrou no corredor.
  - Bom dia. – Ela respondeu, deu um pequeno sorriso e entrou em casa, seguindo o ritual.
  O rapaz chegou no trabalho ainda sorrindo, o que nunca passava despercebido por seus colegas.
  - Dormiu bem, hein?! – Brincou Wind.
  - Vai se ferrar! – respondeu, entrando na brincadeira.
  Estavam no vestiário dos funcionários, se aprontando para mais um dia de crianças doentes e choronas e mães desesperadas.
  - Qual é o nome da dessa vez? – O amigo perguntou e, sem deixar tempo para responder, continuou em tom de falso espanto: - O quê? Você nem sabe o nome dela?
  - Não dormi com ninguém, Wind, para de ser assim. – O loiro disse enquanto arrumava suas coisas no armário e colocava o jaleco branco.
  - Você pode até não ter pegado ela, mas sei que quer a vizinha gostosa. – Wind disse em seu jeito de zoação. – Essa aí eu sei que você sabe o nome. Lisa, Lia...?
   resolveu ignorar seu amigo maluco, o respondendo apenas com o dedo do meio. Tendo ambos terminado de se aprontar, seguiram para a área dos consultórios.
  - Mas e aí, você vem pra festa de sexta? – Wind perguntou, mudando totalmente de assunto.
  - Que festa? – O outro perguntou. Wind apenas apontou para o mural de avisos na parede por qual eles estavam passando.
  Em meio a vários papéis brancos e pequenos endereçados a funcionários específicos estava um cartaz que se destacava. Era mais colorido que os outros e, aparentemente, para todos os funcionários do hospital. Nele, lia-se:

Hospital Geral de Stars-Hollow
Para todos os funcionários
A equipe de diretoria do HGSH convida todos os funcionários a comparecerem a festa de centenário da Instituição.
O evento ocorrerá nesta sexta, às 19h, no auditório 1.
Aguardamos vocês!

  Quando terminou de ler, sorriu novamente e pensou “É a minha chance”.
  - É, acho que eu venho, sim. – Disse, mas quando olhou para os lados, seu amigo já não estava mais lá.
  Wind tinha o costume de aparecer e ir embora tão rapidamente quanto o vento, de onde veio seu apelido. Noah Manson, seu nome de batismo, era alto e de pele bronzeada, possuía cabelos curtos e escuros e olhos castanhos, e era alguns centímetros mais alto que . Estava sempre com pressa durante o dia, mas arrumava tempo para fazer suas brincadeirinhas e irritar seus amigos, que ainda assim gostavam dele.
  “Dr. , temos um garoto desmaiado na entrada 3.”
   escutou seu beeper apitar e leu a mensagem. “O dever chama,” ele pensou enquanto se dirigia aonde estava sendo solicitado.
  Quando chegou em casa naquele final de tarde, encontrou no corredor, já saindo para trabalhar. Quando os dois se viram, ficaram algum tempo se encarando, sem saber o que fazer. Era apenas a segunda vez que se encontravam sem ser no “ritual do bom dia”, tendo a outra sido no hospital, quando fez um plantão. Depois de algum tempo - segundos? Minutos? O garoto não saberia dizer – somente olhando o um para o outro, se aproximou de sua porta, e consequentemente de , tomou coragem e disse:
  - Oi!
  - Oi. – Ela respondeu, aparentemente na mesma situação.
  - Então, você vai para a festa no hospital na sexta? – O rapaz perguntou e se arrependeu imediatamente, pois estava nervoso e falara rápido demais. fez uma expressão confusa e repetiu a pergunta, agora mais devagar.
  - Eu... não sei. Que horas? – A morena perguntou e, após responder, continuou - Não sei se vai dar certo, tenho que ver. Mas obrigada por avisar, eu sempre esqueço de olhar o quadro de avisos. Agora tenho que ir, até amanhã.
   se despediu, terminou de trancar a porta e começou a descer as escadas. , sorrindo bobamente, girou a maçaneta da porta, mas essa ainda não estava destrancada. Estivera tão distraído com sua conversa com que esquecera até de procurar sua chave, que provavelmente estava em algum de seus bolsos. Finalmente dentro de seu apartamento, o rapaz se encostou na porta e deslizou até o chão, com um sorriso de orelha a orelha. Conseguira conversar com afinal, era um grande passo. Não conseguia entender porque estava tão feliz, mas, como já havia pensado, despertava algo diferente em si.
  Os três dias que faltavam até a sexta-feira passaram rápido, mas não rápidos o suficiente na concepção de . Quando o dia tão esperado chegou, o loiro estava quase saltitando de ansiedade.
  - A noite foi boa, ? – Wind disse com um sorriso malicioso.
  - Essa piada já está velha, Wind. Eu sempre sorrio de manhã, já pode parar. – disse rindo. Sabia que estava diferente por causa da ansiedade, mas tentava negar isso a todo custo.
  - Mas hoje você tá diferente. Aposto que tem a ver com a vizinha gostosa.
  - Para de chamar ela de gostosa, você nunca a viu!
  - Ah, mas eu tenho imaginação. – Wind disse apontando para a própria cabeça. Fechou os olhos em uma expressão imaginativa e continuou - Ela tem um corpão, né? Peitões incríveis e uma bunda...
  - Deixa de ser tarado e vai trabalhar, Manson! – o interrompeu jogando uma bolinhaem sua direção, feita com um papel qualquer que estava em seu armário.
  Wind levantou-se com uma expressão exageradamente ofendida e saiu rápido do vestiário, dramaticamente. O outro rapaz riu alto e voltou a se aprontar para o dia no hospital.
  Já eram quase 18h quando finalmente conseguiu sair do consultório. “Droga, merda, droga” era tudo o que ele pensava enquanto corria até o carro e acelerava para casa. Estava atrasado única e exclusivamente porque o dia fora incomumente cheio, nada a ver com o fato de ter estado um pouco distraído durante o expediente pensando em uma certa morena.
  Atrasado ele estava quando entrara no apartamento, quando finalmente ficou pronto para ir à festa, já estava morto de atrasado. conseguira ouvir saindo de seu apartamento alguns minutos antes, se Deus quisesse, para ir à festa. O garoto chegou no local quase uma hora atrasado, mas assim que adentrou o auditório, agora transformado em salão, e viu sua vizinha, tudo valeu a pena. Toda a correria, a ansiedade e o estresse do dia, tudo valeu a pena quando viu .
  Ela estava linda, usando um vestido rodado, saltos não muito altos e os cabelos soltos, com um copo de plástico vermelho na mão e conversando com uma colega. O primeiro impulso de foi correr até a garota e beijá-la ali mesmo, sem nenhuma explicação, mas assim que esse pensamento surgiu em sua mente, ele o afastou. Era irracional e sem sentido, e sendo uma pessoa de exatas como era, não gostava de coisas sem sentido. Talvez fosse por isso que o garoto não admitia que não apenas o intrigava, pois qualquer coisa além disso, qualquer sentimento que pudesse nutrir pela garota, não fazia sentido. Eram opostos.
  Todas as filosofias de vida foram afastadas da mente de quando a colega de se afastou, a deixando sozinha perto da mesa dos petiscos. Vendo ali a sua chance, ele se aproximou.
  - Oi! – Disse quando chegou perto o suficiente para que ela o escutasse.
  - Oi! – Ela respondeu e bebeu um pouco do conteúdo de seu copo, na tentativa de esconder o rubor nas bochechas que sempre aparecia quando falava com ela.
  - Meias legais. – O garoto disse e a lançou seu melhor sorriso.
   ficou confusa e olhou para os próprios pés, confirmando que não estava usando meia nenhuma.
  - Não estou usando meias. – Ela disse apertando os olhos na direção do garoto, que ainda sustentava o sorriso galante.
  - Eu sei, mas eu li em algum lugar que elogiar as meias é um bom quebra-gelo.
   continuou o encarando, séria, mas não resistiu e começou a rir, o que fez o sorriso de aumentar.
  - Sua risada é linda. – Ele disse antes que pudesse se impedir.
  - Obrigada. – disse e corou ainda mais. Quando tentou se esconder atrás de seu copo novamente, percebeu que o mesmo já estava vazio. a encarava com divertimento e sua expressão demonstrava algo a mais, mas ela não conseguiu identificar o quê. Tentando mudar de assunto, disse: - Vou pegar mais Coca.
  O convite estava implícito em seu tom, portanto a seguiu. O salão estava decorado com o maior capricho possível, considerando que foi a Diretoria do hospital que planejou a festa. Haviam balões e fitas coloridas pendurados nas paredes e até uma pequena pista de dança, que ninguém estava utilizando. Não havia bebida alcóolica sendo servida, pois os diretores do HGSH eram contra qualquer tipo de entorpecente que não fosse usado para fins medicinais, como deixavam bem claro todos os panfletos e cartazes espalhados pelos corredores.
  - É , não é? – disse enquanto pegava um copo e o enchia de Coca Cola.
  - Isso mesmo. E você é o famigerado . – respondeu.
  - Famigerado? O que esse pessoal anda falando sobre mim? – Ele perguntou em tom de brincadeira, mas no fundo gostaria de saber o que seus colegas falavam quando não estava vendo.
  - Ah, as meninas te adoram, os caras te invejam. Lindo e bem-sucedido, com apenas 24 anos e já trabalha no maior e melhor hospital da cidade, se formou em uma das melhores faculdades do país... O pessoal do turno da noite sabe de bastante coisa. - A garota disse casualmente, como se saber todas essas informações sobre alguém não fosse nada de mais.
   ficou estupefato por um momento, se perguntando como as pessoas sabiam de tudo isso. “Wind”, ele pensou sentindo uma raiva leve do amigo. “Aquele maluco conhece todo mundo nesse lugar, é claro que foi ele.”
  - Então tá, você me conhece, mas eu não sei nada sobre você. Pode começar a falar. – O rapaz disse e sentou-se em uma das mesas vazias do salão. o imitou, sorriu timidamente e começou a contar sobre a vida.
  Ah, as coisas que descobriu aquela noite... tinha 23 anos, nascera em Lorenna, uma cidade no interior que ficava a uma hora de Stars-Hollow, e veio para a capital 4 anos atrás, quando passou em Enfermagem na universidade local. Quando começou a trabalhar no HGSH como enfermeira residente, sua mãe adoeceu e foi internada em Lorenna. Seu pai trabalhava, mas não ganhava o suficiente para pagar o tratamento da mãe, por isso a garota começou a pegar os turnos da noite e da madrugada, que pagavam melhor. Com o tempo, se acostumou e começou a gostar de trocar a noite pelo dia, pois as madrugadas no hospital nunca eram chatas, sempre havia alguém com os miolos para fora ou uma perna dobrada em um ângulo errado. As amigas de gostavam de dizer que se ela não fosse enfermeira, seria uma psicopata. Quase todo o dinheiro que ganhava no trabalho ia para o tratamento da mãe, a quem ela visitava todos os fins de semana, por isso nunca a via em casa nos sábados e domingos.
  - É... Acho que é isso. Acho que eu nunca falei sobre mim mesma por tanto tempo. – disse quando terminou. Colocou uma mecha de cabelo para trás da orelha novamente, algo que percebeu que era como um tique, o que ele achava fofo.
  O garoto não sabia se sentia mais estranho por ter reparado até em um simples gesto como aquele ou por ter achado o gesto fofo. Estava pensando em como continuar aquela conversa, mas não sabia como. “O que se diz depois que alguém te conta a sua história de vida?”, ele pensava, até que foi interrompido por alguém falando ao microfone.
  - Boa noite, pessoal! – Uma mulher falou animadamente de cima do palco. Algumas pessoas aplaudiram, mas ninguém estava bêbado para ser realmente animado. – Como vocês sabem, essa semana o HGSH está completando seu primeiro centenário e, para comemorar, temos aqui alguém muito especial. Por favor, deem as boas vindas ao nosso diretor sênior, Dr. Ernest Stone! – Desta vez, todos aplaudiram enquanto o senhor subia ao palco.
  - Ah, graças a Deus nós estamos sentados. Prepare-se para uma longa hora de enrolação e discurso entediante. – disse baixo para , que soltou um risinho.
  - Vamos embora antes que todo mundo sente e não de mais para sair escondido. – A garota disse em tom de brincadeira, mas levantou-se silenciosamente e o seguiu, indo em direção a porta.
  No caminho, Wind, que estava os observando desde o momento em que e se sentaram na mesa, lançou um olhar malicioso na direção do amigo, que o respondeu levantando o dedo do meio.
  Quando os dois saíram do edifício, começou a tremer de frio quase imediatamente. , percebendo o desconforto da garota, tirou seu casaco e o estendeu em sua direção.
  - Não precisa... – começou, mas o garoto continuou oferecendo até que ela pegou o agasalho e vestiu-o. A peça ficava grande demais na garota, e se pegou novamente pensando na palavra fofo.
  - Como você vai embora? – Ele perguntou, tentando afastar aqueles pensamentos sem sentido da mente.
  - Vou chamar um taxi. – respondeu e começou a procurar seu celular.
  - Vai nada. Vamos, meu carro está por ali. – disse apontando para o outro lado da rua, onde ficava o estacionamento do hospital.
  - , não precisa, eu... – disse e começou a discar um número no celular, mas foi interrompida pelo loiro, que pegou em seu braço e começou a puxá-la levemente.
  - Deixa disso, a gente mora no mesmo prédio, não é incomodo nenhum! Vamos. – Ele começou a andar e o seguiu sem resistência. – Olha, você mesma disse que tem tendências psicopatas, se você não quer ir comigo porque está com medo, acho melhor repensar isso aí. – Brincou.
  Chegaram no prédio rapidamente e subiram as escadas, parando no corredor para se despedirem.
  - Obrigada pela carona. – disse e pescou sua chave de dentro da pequena bolsa.
  - Não foi nada. Obrigado por ter ido na festa. – O rapaz disse e os dois jovens se encararam por alguns momentos, até que a menina desviou o olhar.
  - Então... Boa noite. – Ela disse e destrancou a porta.
  - Boa noite! – respondeu e entrou em seu apartamento.
  Naquela noite, sonhou com a Lua. Sonhou também com o Sol, as estrelas, o vento, a poeira cósmica, o som, a luz... todos tinham forma e estavam interligados. Alguns tentavam se afastar de outros, como uma estrela e o vento, outros tentavam se aproximar, como o Sol e a Lua. A estrela e o vento que tentavam se afastar eram impedidos por outras estrelas, que os puxavam cada vez para mais perto, tentando fazer com que ficassem juntos. O Sol e a Lua eram impedidos por... nada?! No momento em que percebeu isso, os dois astros do sonho se aproximaram rapidamente e colidiram, explodindo e formando um lindo show de fogos de artificio. Os outros elementos do sonho se soltaram e foram para perto dos fogos, que lentamente formavam letras e palavras.
  “Quanta maluquice. Fumou bastante, hein?!” Era o que diziam as palavras formadas.
  Logo o sonho mudou de cenário e se transformou em uma memória de muitos anos atrás, quando e seus amigos haviam acabado de se formar no Ensino Médio e estavam passando uma temporada em uma casa de praia. Era tarde a noite, mas os garotos estavam plenamente acordados, bêbados e chapados, conversando e zoando em volta da fogueira. O garoto loiro já sonhara com aquela cena inúmeras vezes, mas nunca se cansava. Eram boas memorias de bons tempos, e sentia falta disso.
  O alarme tocou às oito horas da manhã, mas o rapaz colocou na função soneca até as oito e meia, quando se obrigou a levantar. Sábado era dia de praia e surf, como Wind adorava relembrar a . Levantou-se, arrumou-se para o dia, tirou a prancha do seu lugar na parede e saiu. Não viu nenhuma movimentação no apartamento ao lado, então concluiu que já havia saído para visitar a mãe ou ainda estava dormindo, das duas uma.
  - Fala ae, deus do Sol! – Tom exclamou quando viu chegando no point deles na praia.
  - E aí, brother! – O loiro respondeu e os dois amigos fizeram um high-five.
  Tom era um dos garotos da “panelinha” dos surfistas. Eram ao todo um grupo de seis, que se conheciam desde o início do Ensino Médio e se consideravam melhores amigos. Eram um grupo estranho, mas ao mesmo tempo, perfeito. era o nerd super gostoso inteligente, Wind era o predador de perereca pegador, Tom Roger era o vendedor de miçanga da paz, John Limp era o mais de exatas do que engenheiro, que namorava Ryan Young, o melhor GBF mais humorado, gêmeo de Riley Young, a wannabe hipster única garota do grupo.
  As praias de Stars-Hollow não eram exatamente havaianas, mas as ondas eram boas o suficiente e, onde há ondas boas, há surfistas, e onde há surfistas, há garotas. O grupinho as chamava de marias-do-mar. Eram frequentemente comparadas às marias-chuteira, mas ao invés de jogadores de futebol, gostavam de surfistas, principalmente do grupo de . Mas quem poderia as culpar, eram realmente jovens bonitos de se ver.
  - Essa onda é minha! – Gritou Ryan para os amigos alguns momentos depois, quando todos já estavam no mar.
  Os amigos surfaram durante algumas horas, sem perceber o tempo passar, como frequentemente acontece quando se faz algo divertido.
  - Noah! – Uma das marias-do-mar exclamou quando viu Wind saindo do mar. O moreno, sem nem pensar duas vezes, pegou a menina pela cintura e a beijou.
  - É Wind, gatinha. – Ele disse quando se separaram. A menina, Stella, riu e puxou Wind para mais longe do grupinho.
  Logo as outras meninas vieram “ao ataque”.
  - , gato! – Amanda exclamou, se aproximando.
  - E aí. – disse desanimadamente. Não gostava muito das meninas, mas era bom tê-las por perto quando se estava afim de uma boa ficada. O que, no momento, não era o caso.
  - O que foi? – A menina perguntou, seguindo quando esse foi se sentar na areia para descansar um pouco.
  - Não to afim hoje, Mandy.
  - Ah, mas eu estou! – Ela replicou e levantou-se, olhando em volta e procurando outro alvo.
   apontou para Tom, que havia sentado em uma cadeira para repassar a parafina na prancha. Amanda foi até ele lentamente, rebolando como sempre, e sentou-se ao seu lado. os observou por um tempo enquanto conversavam, desejando profundamente que estivesse ali. Não sabia porque a garota continuava ocupando seus pensamentos, já havia parado de tentar entender o que sentia.
  As horas foram passando, beijos foram trocados, ondas foram surfadas e todos se divertiram. Ao final do dia, os seis amigos estavam sentados na areia apreciando o Sol se pôr no mar, como acontecia nessa época do ano.
  - Ficou com a Amanda? – Wind perguntou sem rodeios.
  - Não, cara, não tava afim hoje. Ela ficou com o Tom, eu acho.
  - É a vizinha, né? Eu vi vocês dois saindo de fininho da festa ontem. Pegou? – O moreno perguntou.
  - “A vizinha” tem nome. E não, eu não peguei a . Ela é minha amiga, e é muito legal, tá?! – se fingiu de irritado. Colocou os braços atrás da cabeça e se deitou por completo na areia, encarando o céu lindamente colorido pelo pôr do Sol.
  - Cara, você tá tão na dela! – Wind brincou.
  - Nunca mais difame Todo Mundo Odeia o Chris desse jeito.
  - Mas é verdade! – O moreno disse rindo.
  - Vai se ferrar. – replicou, mas sabia que o amigo estava certo. Voltou a encarar o céu, agora já metade escuro, e a pensar em . Um sorriso bobo surgiu em seus lábios, mas o garoto já não ligava mais.

Parte 02

  No domingo à noite, voltou para casa. O prédio em que os dois moravam era antigo, as paredes não eram muito grossas, portanto quem estava na sala de casa conseguia escutar tudo que acontecia no corredor. sabia que chegara em casa por volta das nove da noite. Por impulso, levantou-se do sofá e andou em direção a porta, e quando percebeu, já estava quase girando a maçaneta. Não sabia o que estava fazendo, só que queria muito falar com a menina. Era esse o efeito que tinha, e ele continuava tentando se convencer de que não entendia o porquê. Nunca admitiria que se apaixonara por uma garota que mal conhecia, não fazia sentido.
   e só foram se encontrar novamente na terça de manhã.
  - Bom dia! – disse quando viu o garoto sair.
  - Bom dia! – Ele respondeu com um grande sorriso. – Como está a sua mãe?
  - Está... indo. – Respondeu, agora um pouco mais triste, e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. se repreendeu mentalmente por ter tocado nesse assunto.
  - Ah... Melhoras para ela. Até mais! – Ele disse e desceu as escadas, mas não sem antes ouvir um “Até!” de sua nova amiga.
  Ao abrir seu pequeno armário no vestiário do hospital, teve uma surpresa. O casaco que havia emprestado para na noite da festa, sobre o qual havia esquecido completamente da existência, estava lá, junto com um pequeno bilhete.
  “Obrigada pela noite, espero que continuemos amigos!
  Xx,
  - Cara, ela tá tão na sua! – Disse Wind, que estava espiando por cima do ombro do amigo!
  - Você acha? – perguntou sorrindo bobamente, ainda olhando para o bilhete.
  - Mas é claro! – Wind exclamou e tomou o pequeno papel das mãos do loiro. – Olha isso. – Ele disse, apontando para uma parte específica do objeto. – Sabe o que significa quando as garotas escrevem “Xx” em uma mensagem? – Continuou. acenou negativamente com a cabeça. Wind fez uma expressão decepcionada e respondeu a própria pergunta. – Significa que ela está te mandando um beijo. Um beijo! Uma garota não manda beijos para um cara de quem ela quer só ser amiga!
  - E o que eu respondo?
  - “Querida , você é muito gostosa, vamos se pegar.” – Wind disse em um tom sério.
   lançou um olhar de desprezo ao amigo e em seguida soltou uma risada, mas a expressão do mais alto não se quebrou.
  - É sério, cara. Se quiser eu até escrevo pra você. – O moreno disse.
  - Deixa de ser retardado, Manson. – O loiro replicou e deu um leve tapa a cabeça de seu amigo, que soltou uma gargalhada.
   passou metade do dia pensando em uma resposta para dar a , e a outra metade passou tentando encontrar o armário da garota. O vestiário feminino não era do outro lado do corredor, como sempre imaginara, mas sim do outro lado do hospital. Finalmente achou o que procurava quando faltavam apenas 3 minutos para o fim da última pausa do dia. Encontrou o armário de e colocou um pequeno papel lá dentro por meio das frestas de metal.
  “Obrigado digo eu, por ter me tirado do salão antes do discurso do Dr. Stone!
  Abs,
  

  Na manhã seguinte, havia outro bilhete no armário do rapaz.
  “Haha! Eu já ouvi discursos do diretor vezes o suficiente para saber o quão chatos eles são.
  .”

  Dessa vez, a reposta veio mais facilmente à mente de .
  “Quando foi que esse homem já fez um discurso? Que eu me lembre, só o vi umas três vezes, contando com a festa.”
  “Ele costuma ficar na entrada da emergência, onde eu trabalho normalmente, falando para os pacientes sobre os riscos da bebida alcóolica e de outros entorpecentes sintéticos. Como se os eles precisassem de avisos quando o estrago já está feito.”
Ela respondera no dia seguinte.
  Por aproximadamente duas semanas, os jovens se comunicaram assim, por curtos bilhetes, mas que eram o suficiente para deixar os seus respectivos turnos mais fáceis. Mas logo a nova tradição acabou, quando escreveu seu número de telefone em um dos últimos bilhetes trocados. Começaram a conversar por mensagem, o que era muito mais rápido, mas menos emocionante. De vez em quando, um bilhete ainda aparecia no armário de um dos dois, que era rapidamente lido e guardado junto aos outros.
  Tendo um mês se passado, e já não eram mais apenas vizinhos que trabalhavam no mesmo local. Se tornaram grandes amigos, talvez até mais que isso, pois não passavam um dia sequer sem trocar alguma mensagem. continuava a despertar novos sentimentos em , o que o deixava extremamente confuso, pois já havia matado a “curiosidade” que sentia em relação a garota. Não sabia o que estava acontecendo consigo, mas parara de tentar entender seus sentimentos havia muito tempo.
  Em uma noite qualquer, acordou com o som de seu celular tocando. Pensou em simplesmente ignorar a ligação, já que eram quase duas da manhã, mas logo concluiu que ninguém o ligaria tão tarde da noite se não fosse importante. O loiro esticou o braço até alcançar o gerador do barulho levemente irritante, olhou o identificador de chamadas e apertou os olhos por causa do excesso de luz até conseguir ler o que estava escrito no aparelho.
  Chamada de:
  Arregalou os olhos e se levantou em um instante, não demorando nem mais um segundo para atender.
  - ? O que foi? – Ele perguntou rápido, como fazia quando estava preocupado.
  - , eu... – Ela começou, mas não conseguiu continuar. O rapaz percebeu que ela estava tentando se acalmar, mas sua voz revelou que estava chorando.
  - , tá tudo bem? Você tá chorando? – Ele perguntou, ficando ainda mais preocupado.
  - Tá. Quer dizer, não tá. Acabei de receber uma ligação do Hospital de Lorenna. Eles disseram... A minha mãe...
  O pior veio à mente do garoto, mas ele afastou os pensamentos rapidamente. Tirar conclusões precipitadas nesse tipo de situação raramente era bom.
  - Tá, okay. Se acalma, por favor. Vai ficar tudo bem, tá?! O que exatamente eles disseram? – Ele perguntou tentando ser o mais profissional possível, afinal, era médico, tinha que saber lidar com situações delicadas.
  - Ela tá muito mal. Os pulmões quase não estão mais funcionando... Ela está respirando só pelas máquinas e... – caiu no choro novamente. aguardou alguns segundos até ela se recuperar e continuar. – Desculpa te ligar a essa hora, é que eu não sabia o que fazer... Eu preciso ir ver ela, antes que...
  - Tudo bem, tudo bem. Não pensa nisso, okay? O que você precisa que eu faça? Quer que eu pegue alguma coisa no seu apartamento? Eu posso ir até aí, se você precisar. – Ele disse, já começando a trocar de roupa.
  - Eu... Eu tenho que... Tenho que ir até lá, mas...
  - Você não pode dirigir até outra cidade assim. Eu vou até aí te buscar e te levo até a sua mãe, não tem problema. Quer que eu pegue alguma coisa em casa? – Ele perguntou.
  - N-não. Só... Por favor, vem logo. – disse, claramente desesperada.
   nunca havia saído de casa tão rápido na vida, muito menos chegado ao hospital em tão pouco tempo como aconteceu. A morena já o estava esperando na porta, com uma de suas colegas a acompanhando.
  - Queria muito ir com você, querida, mas... – Disse Jessie, a amiga.
  - Tudo bem, Jess. De verdade. – falou e entrou no banco do carona no carro de .
  - Cuida bem dela, ouviu? – Jessie falou para , que assentiu.
  - Não se preocupe, ela está em boas mãos. – Ele respondeu e fez um aceno de despedida, dando partida no carro.
  Aproximadamente uma hora depois, os dois estavam entrando no Hospital de Lorenna.
  - Marley, onde está a minha mãe? – perguntou a uma das enfermeiras que conhecia, já um pouco mais calma do que quando saiu de Stars-Hollow.
  A enfermeira, Marley, os guiou até um corredor com várias portas idênticas. Andou por alguns momentos, até que parou e abriu uma das portas, dando passagem para os dois entrarem no quarto. viu as lagrimas retornarem com força total aos olhos de quando esta viu o que a esperava lá dentro.
  A cena não era de maneira alguma feliz. O pai de , cujo nome ainda não sabia, estava sentado na cadeira ao lado da cama, parecendo rezar intensamente, segurando a mão da senhora deitada, certamente a mãe, Maragreth. Muitos fios ligavam a senhora à maquinas, que controlavam e monitoravam desde a sua atividade cerebral até a sua respiração. conhecia bem demais aqueles aparelhos para saber que Margareth não tinha muito mais tempo na terra dos vivos.
  O senhor logo percebeu a nova movimentação no quarto e interrompeu suas preces, levantou-se e foi abraçar sua filha imediatamente quando a viu. Nos braços do pai, desmoronou, uma cena que preferiu observar de longe, ainda parado à porta do quarto.
  - O que aconteceu? – perguntou ao pai quando se recompôs novamente.
  - Ah, filha... Eles não têm certeza do que aconteceu, mas agora ela só está respirando pelos aparelhos. – O senhor respondeu, também com lágrimas nos olhos.
  - , eu vou esperar ali, tudo bem? – , claramente desconfortável por estar interrompendo o momento, disse e começou a se afastar da porta.
  - Espera! – A menina o chamou de volta. – Pai, esse é o meu amigo , ele que dirigiu até aqui comigo. , esse é o meu pai, Harold. – Ela os apresentou.
  - É um prazer, sr. . – O garoto disse educadamente, estendendo a mão para cumprimentar o mais velho.
  - Obrigado por cuidar da minha filha, rapaz. – Harold disse e apertou a mão estendida.
  - Eu... vou esperar aqui fora. – disse e assentiu.
  Saiu do quarto, fechou a porta e sentou-se em uma das cadeiras no corredor. Começou a pensar sobre a sua própria mãe e no resto de sua família, sobre como estava a vida deles na sua cidade natal e em quanto tempo não ligava para o pai, e, sem perceber, adormeceu.
  Acordou algumas horas depois com uma grande movimentação no corredor. Alguns enfermeiros entravam apressadamente no quarto da mãe de , todos carregando algum equipamento médico emergencial. só levou alguns segundos para compreender o que estava acontecendo, quando viu uma das enfermeiras tentando afastar e seu pai da cama de hospital para dar espaço ao desfibrilador. A menina chorava e tentava desesperadamente permanecer ao lado de sua mãe, enquanto o pai a segurava e tentava acalmá-la.
  - Mãe! Não, mãe! – gritava, chorava e se contorcia nos braços do sr. e da enfermeira.
   levantou-se e aproximou-se de , que mantinha os olhos dentro do quarto, e a abraçou. No início, resistiu e tentou se livrar dele, mas o loiro mantinha-a no lugar, e logo a menina desmoronou em seus braços, chorando como uma criança.

***

  O funeral de Margareth foi na manhã seguinte. disse que poderia voltar para casa, ela ficaria bem, mas ele era teimoso e disse que iria, mas voltaria antes do funeral. Dito e feito, o rapaz voltou para Stars-Hollow, arrumou uma pequena mochila e dirigiu de volta para Lorenna, onde foi ao funeral e não saiu do lado de em nenhum instante.
  A cerimônia foi triste, porém linda. e seu pai, assim como alguns parentes e amigos mais próximos da sra. , discursaram e falaram sobre como a senhora fora gentil e doce, mesmo em tempos de crise.
  - Temos que voltar antes de 18h. Não posso faltar mais um dia no hospital. – disse na tarde daquele dia, quando estavam ela e na sala de sua casa.
  A casa estava cheia, com boa parte da pequena cidade prestando condolências à família . nunca fora de gostar muito de multidões, principalmente multidões tristes, portanto estava tentando sair dali o mais rápido possível.
  - Você não vai trabalhar hoje, menina . – disse olhando seriamente nos olhos da morena.
  Estavam ambos sentados no sofá, próximos, mas não o suficiente. queria mais, queria abraçar e confortar a menina, queria beijá-la até que esquecesse todos os seus problemas. “Tem gente demais aqui”, ele pensou como desculpa para não fazer o que queria, evitando admitir que não tinha coragem.
  - Tudo bem. Mas eu preciso... sair daqui. – respondeu. – Toda essa gente está me sufocando. Quero ir para casa.
  - Quando você estiver pronta. – O garoto falou.
  Aproximadamente uma hora depois, e estavam entrando no carro do rapaz. A morena se despediu de seus conhecidos rapidamente e abraçou seu pai na porta, prometendo voltar logo.
  A curta viagem de carro até a capital foi silenciosa. Os dois jovens estavam exaustos, tanto pela privação de sono quanto pela tristeza que os abatia. De quando em quando lágrimas escorriam pelo rosto de quando esta lembrava dos momentos passados com a sua mãe e pensava em como sentiria a falta dela. não conseguia se livrar do sentimento de que devia fazer alguma coisa para confortar sua amiga, qualquer coisa, mas não sabia o quê. Pensou várias vezes em parar no meio da estrada e beijá-la até perder o folego, porém não o fez nenhuma vez, por medo da rejeição e também porque tinha um pouco de consciência para respeitar a dor da menina.
  Entraram no prédio em que moravam e subiram as escadas devagar, cansados demais para agir conforme a sua idade.
  - , muito obrigada. – falou quando chegaram em frente as suas respetivas portas.
  - Não foi nada. – Ele respondeu e fez um leve movimento com os ombros.
  - Claro que foi. Você ficou comigo o tempo todo e isso me ajudou muito. Obrigada, de verdade. – Ela insistiu. Deu um pequeno passo e envolveu o seu amigo em um abraço apertado.
   não pensou um instante antes de colocar os braços em volta da menina, segurando-a com a mesma intensidade. Sem perceber, a mão do garoto foi até o rosto de , que levantou o olhar até prendê-lo nos olhos claros dele. Não se pode contar quanto tempo ficaram naquela posição, apenas aproveitando o toque e a proximidade um do outro, só se sabe que de vez em quando o olhar de se desviava até a boca de , assim como o dela ia até os lábios dele. Antes que pudesse se arrepender da ideia, beijou-a.
  No início estavam tímidos, sem saber o que fazer, mas logo cederam ao beijo. Não havia língua, mas uma mistura de sentimentos inundava o estranho casal. tinha consciência de tudo ao seu redor, mesmo que não fosse muito. O frio corredor em que estavam, a luz do Sol poente entrando pela pequena janela acima deles, o pequeno corpo em seus braços que tremia, o gosto e o cheiro doces de . Entendeu finalmente porque, nos filmes, os beijos são filmados desse jeito, com a câmera rodando sem fim; o chão era instável abaixo de seus pés e o mundo girava e desfocava, mas a menina em seus braços estava em perfeita definição. “É boa demais para ser propriamente desse mundo”, ele pensou.
  Mas nenhum beijo pode durar para sempre. Separaram-se devagar, ainda segurando um ao outro como se fossem ancoras. afrouxou um pouco o abraço, o que levou uma pontada de insegurança à mente de . Se dependesse dele, poderia ficar naquela posição até o fim dos tempos, mas o olhar de confusão de o obrigou a soltar-se dela. Ela começou a procurar sua chave desajeitadamente dentro da bolsa, seu rosto estava totalmente vermelho e não conseguia raciocinar direito, enquanto a observava com uma expressão desolada. A morena achou a chave, mas suas mãos estavam tremendo tanto que não conseguia coloca-la na fechadura. O garoto, vendo o seu desespero, pegou o objeto e abriu a porta, dando passagem em seguida.
  - Desculpa, eu... Obrigada de novo... Depois a gente se fala. Obrigada. – Ela disse e fechou a porta, deixando um totalmente desolado sozinho no corredor.
  Levou as mãos à cabeça em sinal de desespero. “Estraguei tudo”, pensou enquanto se apoiava na porta de seu apartamento ainda trancada. Sabia que beijar naquele momento era um erro, não fazia o menor sentido. Mas, se não fazia sentido, por que ela cedeu? Não podia ter sido um erro se ela também queria beijá-lo. Confuso e cansado demais para continuar pensando, abriu sua porta, tomou um banho rápido e capotou na cama.
  No dia seguinte, voltou a falar com . Três dias depois, já eram melhores amigos novamente, apesar de a menina ainda estar de luto por sua mãe. Ela ainda trabalhava no turno da madrugada, mesmo sem precisar, pois já havia se acostumado, então o sagrado ritual do bom dia voltara. Duas semanas depois, porém, a amizade ficou um pouco mais... colorida. Os beijos que trocavam eram casuais, porém tímidos, nunca em público, e também não eram nada oficial. Eram só amigos que se beijam eventualmente, mas queria mais, e também dava sinais do mesmo.
  Wind e o resto do grupinho dos surfistas já suspeitavam de que algo estava acontecendo, mas tiveram certeza quando o loiro chegou na praia e chamou todos para conversar.
  - Então, acho que vocês já sabem sobre a minha amiga, a ... – Começou a falar e todos assentiram, já imaginando o que viria em seguida. – Semana passada a gente começou a ficar e...
  - EU SABIA!! – Wind e John interromperam ao mesmo tempo e estenderam as mãos na direção de Riley e Tom.
  - Vocês nos devem cinco pratas. – John disse para os dois.
  - É ótimo saber que vocês se importam tanto que fazem até apostas sobre a minha vida. – disse ironicamente.
  - Se serve de consolo, eu não entrei na aposta.
  - Você é um verdadeiro amigo, Ryan. – disse e esperou as dívidas serem pagas para continuar a falar. – Então, a gente começou a ficar e eu quero pedir ela em namoro, mas preciso da ajuda de vocês.
  Depois de alguns minutos explicando o que queria fazer, o grupo inteiro topou e começou a decidir o que cada um faria.
  No sábado seguinte, levou para a praia, com a desculpa de que já estava na hora de ela conhecer o resto dos seus amigos e também dizendo que a ajudaria a relaxar e esquecer os problemas um pouco. Chegaram lá e Ryan e Riley já estavam no mar, enquanto os outros jogavam conversa fora sentados na areia.
  - Oi pessoal. – disse enquanto se aproximava do grupo. – Essa aqui é a , que eu falei pra vocês. – Apresentou-a e sentou-se na areia, tentando não deixar transparecer o quão nervoso estava.
  Os garotos trocaram um olhar significativo uns com os outros enquanto também se sentava, o que a deixou se perguntando o que estava acontecendo. Depois das devidas apresentações, Tom puxou assunto com e eles começaram a conversar. O dia foi passando, todos conversaram um pouco, surfaram bastante (lê-se: assistiu enquanto os outros surfavam) e no final da tarde, e se afastaram um pouco do grupo.
  Estavam caminhando pela areia, conversando sobre tudo e sobre nada, e trocando alguns beijos, quando recebeu uma mensagem em seu celular, indicando que estava na hora. Disse para a menina que o sol já estava se pondo e que era bom eles começarem a voltar, pois tinham se afastado bastante. Quando estavam perto o suficiente, respirou fundo e começou a falar.
  - , eu... não quer mais só ficar com você. – Começou e, antes que perdesse a coragem, disse tudo. Disse como se sentia, disse que desde a primeira vez que ele a viu, se apaixonou, mas não tinha coragem de puxar assunto. Disse que desde o dia da festa queria beijá-la até perder o fôlego, e disse também que não queria mais ser só seu amigo. – Quero ser mais que isso.
  A menina estava chocada, porém muito feliz. Queria dar uma resposta à altura da declaração de , mas sabia que nem em um milhão de anos seria capaz de dizer coisas tão bonitas como as que ele dissera. foi para trás de e tampou seus olhos, querendo fazer uma surpresa, o que só a chocou ainda mais. Quando ele finalmente a deixou enxergar novamente, estavam em frente ao grupo dos amigos, que segurava plaquinhas formando uma frase:
  - Quer namorar comigo? – leu a frase em seu ouvido, ainda de pé atrás dela.
   processou tudo o que estava acontecendo e a cada momento seu sorriso se intensificava ainda mais. a estava pedindo em namoro, entendeu finalmente. Sem conseguir se segurar, virou-se e beijou o loiro com toda a sua paixão. O pessoal comemorou, mas eles quase não escutaram, pois o som das batidas de seus corações era ainda mais alto que as ondas do mar.
  - Vou entender isso como um sim. – disse quando pararam o beijo, porém não soltou seus braços da cintura da menina.
  - Claro que é um sim. – disse rindo e se beijaram novamente.
  E aquele amor durou enquanto o Sol de pôs, a Lua nasceu, e de novo, e de novo, e de novo, e de novo...

Fim!



Comentários da autora


  E minha amiga secreta é... GABI MEDEIROS!!
  Muita inspiração para escrever essa short veio da música do Pequeno Cidadão, O Sol e a Lua, que está aqui. Peço perdão pelos erros sobre medicina e surf, porque eu entendo um total de zero coisas sobre isso.
  Só queria agradecer umas pessoas que me ajudaram bastante quando eu estava escrevendo, sem elas essa história teria ficado muito pior. Obrigada a Lari Veschi por me ajudar com alguns nomes, a Isy Barreto pelas informações sobre surf e a Jess Vicente pela capa maravilhosa.