Something About Destiny

Escrito por Charlie Turner | Revisado por Mariana

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  Tinha essa garota. Sempre tinha. Ela estava com uma bandeira do Brasil enrolada no corpo, cantando todas as músicas do show, um sorriso nos lábios com um batom vermelho, os olhos fechados, o corpo se balançando no ritmo da música, as gargalhadas deliciosas que dava quando a amiga cutucava-a e apontava alguma coisa e então as duas voltavam a curtir o show.
  Ela parecia absorver a música por seus poros, se deixava entorpecer por cada acorde da guitarra ou por cada sílaba pronunciada por meus lábios. O show era num pub, em Londres, não estava tão lotado, tinha gente o suficiente, porém ainda fui capaz de conseguir prender meus olhos em alguém. Queria entender o porquê de uma brasileira estar em Londres curtindo um show da minha banda, canadense. Independente do motivo, queria conhecê-la. Aquela garota despertou algo em mim e eu estava intrigado.
  Anunciei que era a última música do show e ela abriu os olhos rapidamente, um tanto chocada, o olhar perdendo um pouco o brilho, abraçou a amiga e as duas falaram algo ininteligível a essa distância e barulhos, mas elas sorriram brevemente e voltaram sua atenção ao palco. Sorri. Foi impossível não sorrir. Ela olhou para os lados e para trás, procurando alguém e arqueou as sobrancelhas quando percebeu que era para ela, seus olhos voltaram a brilhar num milésimo de segundo e um sorriso malicioso e brincalhão estampou seu rosto até que minha voz soou nas caixas de som e ela começou a cantar junto. Desejei que aquele momento ficasse eternizado em minha mente.
  Agradeci as pessoas e desci do palco, sendo seguido por meus companheiros de banda, mas seguimos caminhos diferentes, eles foram direto para o bar, eu tinha algo, ou melhor, alguém, para descobrir. Avistei-a no mesmo lugar, comentando com a amiga sobre o show, as mãos movimentavam-se freneticamente, o sorriso não saía de seu rosto e ela ainda tinha a bandeira em seus ombros.
  — Boa noite, garotas! – cumprimentei e elas paralizaram, a amiga deixou a surpresa transparecer em seu rosto, a minha garota tentava segurar um riso, parecia se divertir com o fato de eu ter me interessado.
  — Boa noite! – ela me respondeu enquanto a amiga continuava sem reação.
  — Toma alguma coisa comigo? – perguntei olhando diretamente a ela que olhou para a amiga.
  — Vá, eu vou ficar bem. – falou e tirou a bandeira dos ombros da amiga e depois só faltou ela fazer um joinha com as mãos, o que eu achei bem engraçado.

  — Posso saber seu nome?
  — .
  — Combina com você. – comentei aleatóriamente e ela sorriu, agradecendo.
  Chegamos ao bar e eu chamei o barman, que perguntou o que ela ia querer
  — O que você for beber, pra mim tanto faz. – ela falou para mim, dando de ombros.
  — Duas cervejas então.
  Ela fez uma careta e eu franzi a testa.
  — Não gosto de cerveja, mas bebo pela companhia... – sua voz soou meio sugestiva, ou talvez tenha sido impressão minha?
  O barman trouxe nossas cervejas e eu avistei dois bancos que rodeavam o bar, vazios, a alguns metros, andei rapidamente até lá, olhando ocasionalmente para trás para ver se ela me seguia.
  — Não vou fugir, Kerman.
  Meu sobrenome soou totalmente obsceno em sua voz e eu passei a mão pelo rosto, tentando tirar qualquer vestígio de suor que pudesse estar ali, não por ter feito um show, mas porque eu estava incerto de como agir com ela.
  — Então, o que uma brasileira linda como você faz perdida em Londres num show meu?
  Ela riu graciosamente, os cabelos cacheados movendo-se de acordo com seu corpo.
  — Apenas sendo uma turista muito feliz com a coincidência de poder ver minha banda favorita no meu lugar favorito no planeta.
  — Primeira vez que vem para Londres?
  — Primeira vez que saio do Brasil, na verdade. – ela sorriu e eu senti minha boca se alargando sem ao menos eu pensar em sorrir, ela era contagiante. – E, consequentemente, primeira vez que vejo um show do Arkells. Vocês têm que ir ao Brasil!
  — Prometo que vamos tentar encaixar o Brasil da próxima vez que sairmos em turnê.
  — Promessa é dívida, Max, nunca se esqueça disso.

   me encantou com nada mais que sorrisos e poucos minutos de conversa, ela me contou o porquê de ter viajado, sobre a amiga, um pouco da sua vida. Eu não tinha muito o que contar, considerando que ela provavelmente já sabia da minha vida, por ser fã da minha banda. Mas eu sentia que era uma pessoa totalmente diferente do lado dela e eu gostei do jeito que ela me deixava. Eu me sentia livre, leve e atraído. Excitado. E então, de repente, seus olhos captaram um movimento perto da porta do pub e eu vi sua amiga acenar e indicar o relógio.
  Parecia um conto da Disney, como se ela fosse a Cinderela e tivesse hora para voltar para casa.

  Ela desceu do banco e parou entre minhas pernas, suas mãos se postaram em minhas coxas e eu me assustei, ela parecia inofensiva até segundos atrás.
  — Vai cumprir sua promessa?
  E antes que eu pudesse responder, ela me beijou. Seus lábios extremamente macios tocaram os meus. Naquele momento, não existia pub, nem músicas, nem ninguém. Só eu e ela. Nossas bocas juntas. Coloquei uma mão em sua cintura e puxei-a mais para meu corpo, com a outra mão, agarrei seus cabelos e explorei cada canto da sua boca, me entorpecendo naquele simples ato. Ela mordeu meu lábio inferior, terminando o beijo vagarosamente.
  — Não, você não vai... – sussurrei contra seu ouvido e ela riu, suspirando em seguida quando suguei levemente a pele abaixo de sua orelha.
  — A gente se encontra.
  — Como? – simplifiquei a pergunta ‘como se eu não tenho seu telefone, seu endereço ou qualquer coisa do tipo?’.
  — Apenas não procure. O destino está encarregado de tudo, Max. E eu tenho certeza que a gente se vê em breve.
  Ela beijou minha bochecha e andou até as portas do pub, deu mais um daqueles sorrisos estonteantes para mim e saiu, sem olhar para trás, me deixando atônito e com uma única certeza: eu ia encontrá-la.

FIM



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