Sobre Pôquer e Sutiãs Rendados

Escrito por Jessie Prade | Revisado por Flavinha

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  Não beba demais.
  Esconda bem seus sutiãs da Victoria's Secret.
  E nunca, nunca jogue pôquer com .

Capítulo 1

  - Eeeeee... Eu ganhei. - sorriu, soltando as cartas viradas pra baixo na mesa.
  - Não vai nem nos mostrar o que você tinha? - se adiantou para pegá-las, mas foi mais rápida, cobrindo-as com as mãos.
  - Vocês não cobriram a aposta, não merecem ver o meu jogo magnífico... - respondeu, olhando as próprias unhas.
  - OH MEU DEUS, você estava blefando, não estava? - indignada, foi para cima da amiga, tentando derrubá-la da cadeira. - Como você teve coragem de blefar num jogo contra a gente?
  - Gente, paaara! - ela tentava se defender, gargalhando. - Gente, é sério! Vocês têm que aprender a lidar com a derrota... - disse, em tom de ironia, quando as outras duas haviam se acalmado um pouco e parado de tentar atacá-la.
   e se entreolharam.
  - Lidar com a derrota o caralho! - disseram, praticamente ao mesmo tempo, enquanto uma virava a cadeira de , e a outra se atirava sobre a mesa para pegar as cartas.
  - Não acredito que você ganhou da gente com uma merda de uma trinca de damas. - resmungou , jogando as cartas na amiga, ainda caída no chão.
   gargalhou. - O que você tinha?
  - Flush de copas.
   olhou as próprias cartas, e deu de ombros.
  - Bom, eu não ganharia de qualquer forma, só tenho um par de oitos, mas... Espere aí, um Flush não...
  - É, . - cortou , decepcionada.
  - Então quer dizer que...
  - É, ! - e interromperam juntas, a primeira rindo, e a segunda não achando a menor graça.

   se levantou, alisou as roupas, e encarou as notas sobre a mesa com superioridade.
  - Cansei de lucrar em cima de vocês. - disse, empurrando-as de volta para suas respectivas donas - Já perdeu a graça. Fiquem com seu dinheiro, não quero não.
   a olhou desconfiada. - Você aposta, e depois não quer o prêmio?
  - Não foi o que eu disse. - a outra riu. - Não quero mais o dinheiro de vocês, quero algo mais... Divertido.
  - Isso está me parecendo muito, muito ruim. - guardou suas notas na carteira outra vez. - Não vou correr pelada na rua de novo, ok? Não quero passar outra noite na delegacia por sua causa.
  - O que vai ser?
  - Ainda não sei... - coçou o queixo, passando os olhos pela cozinha, até encontrar os ingressos para o show do All Time Low, presos por um ímã na porta da geladeira - Aliás, sei sim.
  As outras duas acompanharam o olhar da amiga.
  - Ai, isso com certeza não vai dar certo...

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  No dia seguinte, assistia America's Next Top Model, jogada no sofá e comendo um pacote de Doritos, quando apareceu carregando uma sacola plástica pequena.
  - Achei que você não ia voltar nunca mais. - disse, de boca cheia. - Onde estava? Temos que nos arrumar para o show.
   lançou-lhe um olhar fulminante, e largou a sacolinha sobre a mesa de centro sem dizer nada.
   pegou o pacote, tirando uma sutiã cor de rosa de dentro dele. Virou-se para a amiga.
  - Bonito, mas quando você vai usar isso? Pretende mostrar pra alguém em especial que eu não sei?
  - Não vou usar. - a olhou como se ela tivesse duas cabeças. - Lembra de ontem? No jogo de pôquer? Vou jogar pro All Time Low, como você, em toda a sua criatividade, decidiu que seria minha tarefa.
  - Oh, bobinha... - guardou o sutiã na sacola novamente, e deu um sorriso irônico para a amiga - Eu não te falei? Não era pra comprar um sutiã novo pra ocasião, já escolhi aquele seu vermelho rendado...
  O queixo de foi ao chão.
  - Você sabe que aquele é um Victoria's Secret, não sabe?
  - Sei sim.
  - E que me custou uma pequena fortuna?
  - Uhum. - resmungou, sem olhar a amiga.
  - E que é meu sutiã da sorte?
  - Pois é.

   pensou por alguns segundos entre matar a amiga ou implorar por misericórdia, ao fim escolhendo a segunda opção.
  - Leve todo o meu dinheiro se quiser! Fique com a carteira também, é uma Dolce & Gabanna, olha! Mas o meu sutiã vermelho rendado não, por favor não...! - jogada aos pés de , ela resmungava várias coisas sem sentido, empurrando sua bolsa no rosto da outra, que ria e tentava afastá-la.
  - É só um sutiã, mulher! Se eu fosse você estaria mais preocupada com o fato de ter que tirar o sutiã no meio do show, escrever seu número de telefone nele e jogar pro Jack...
  A outra parou imediatamente o que estava fazendo.
  - Você quer que eu esteja vestindo o sutiã que vou jogar no palco?
  - Claro, ué, ou não teria graça.
   pôs-se de pé, ajeitou a alça da bolsa sobre o ombro, e, com o pouco de dignidade que ainda lhe restava, ergueu o queixo.
  - Não mesmo.
   ergueu as sobrancelhas, divertida.
  - Ah, não? Ok. - pegou a sacolinha com o sutiã novo, e jogou-a para a outra - Pode ir assinando o cheque aí, então. Quero todo o dinheiro que você já perdeu pra mim no pôquer até hoje, e eu não cobrei...
   parou para pensar por um segundo.
  - Sabe, , acho que não é nada de mais né.. Quer dizer, é só um sutiã, e ele nem dá sorte de verdade...
   riu, e largou o pacote de salgadinhos na mesa de centro, levantando do sofá e passando pela amiga em direção ao seu quarto. - Boa garota. Agora vá se arrumar que eu sei que você quer pegar um lugar privilegiado no show de hoje, então temos que chegar cedo. - acrescentou, rindo.
  - Bla blabla, blablabla, blabla... - resmungou, seguindo a amiga no corredor que dava para os quartos.

  Cerca de quinze minutos depois, saiu do quarto, devidamente arrumada, e encontrou na sala, também já pronta, assistindo um episódio repetido de Dexter.
  - Já assisti isso. A Lilah vai botar fogo em tudo isso aí...
  - Eu sei. - respondeu, ainda olhando a TV, e finalmente pousou os olhos sobre ela.
  A garota vestia uma saia preta de caveirinhas, e a alça do famoso sutiã da sorte aparecia sob a regata também preta. A blusa tinha os dizeres "I love Metro Station" na frente, com um pequeno cavalo estampado no local onde deveria estar o coração.
   viu a amiga erguer uma sobrancelha e deu de ombros.
  - Já que vou pagar o maior mico da história, quero me divertir um pouquinho, pelo menos. Estou louca pra ver a cara do Alex quando olhar para a minha camiseta... - riu, depois mudou a expressão para uma de cachorrinho sem dono - Precisamos mesmo fazer isso?
   riu, e sentou no braço do sofá.
  - De vocês duas, sua tarefa é a melhor. Quer ver? - esticou o pescoço da direção do corredor - , está na hora!
  - Eu não vou! - ouviu-se a voz abafada da garota, vinda de dentro de seu quarto.
  - Ah, você vai sim! - gritou em resposta.
  - Não vou, não! - a outra insistiu, sem sair do quarto.
   rolou os olhos, e se virou para com um sorriso malvado.
  - Vou usar minha carta na manga que nunca falha - riu, virando-se outra vez na direção do corredor - Você não quer que eu ligue para sua mãe e diga que você não estava realmente doente no Natal do ano passado, quer?

  Ouviram xingar sem parar por um tempo. Depois, a porta se abriu, e a garota foi arrastando os pés até a sala.
   não conseguiu segurar a gargalhada quando a viu. Ela usava um vestido vermelho com bolinhas brancas, luvas também brancas, e sapatos amarelos. Seus cabelos estavam soltos, e ela escondia algo atrás de si.
  - Acho que está faltando alguma coisa, não está? - perguntou, divertida.
   bufou, e, emburrada, tirou um arquinho com duas orelhas redondas pretas e um laço vermelho, e o colocou na cabeça.
  - Oi, Minnie. - cumprimentou, com lágrimas nos olhos de tanto rir.
  - Eu definitivamente preferia correr pelada e ser presa outra vez - ela respondeu, pegando sua bolsa e indo até a porta - Anda, vamos logo!
  - Ok, meu desafio é fichinha depois disso... - gargalhou, seguindo as amigas para fora de casa.

Capítulo 2

  O local do show não era muito longe dali, e como as garotas haviam saído de casa cedo, conseguiram lugares à frente do palco. Não que fizesse qualquer questão, é claro. Estava vestida de Minnie Mouse, pelo amor de Deus, já recebia olhares estranhos o suficiente, sem os da banda e produção.
  O show correu normalmente, com as mesmas besteiras pervertidas de Jack e Alex de sempre, Zack tocando por aí sem camisa, e piadas sobre a Minnie da primeira fila, e o garoto com o chapéu de Hamtaro logo atrás delas.

  Quando o All Time Low se preparava para deixar o palco pela primeira vez, cutucou .
  A garota respirou fundo, e fechou os olhos, chamando o nome de Jack. Assim que ele a olhou, ela abriu o próprio sutiã sob a blusa, tirou-o por baixo, pegou uma canetinha, escreveu seu nome e telefone na parte de dentro - como mandava o desafio proposto por -, e atirou-o no palco, enquanto a banda toda a olhava boquiaberta. A pecinha de renda vermelha foi parar aos pés de Alex, que a pegou com cuidado, e caminhou até Jack.
  - Acho que isso era para ser seu, cara. - falou no microfone, rindo, e passou a lingerie ao amigo.
  Jack olhou da garota para o sutiã em suas mãos, um tanto descrente. Quando viu o número de telefone, escrito dentro de um coração caprichosamente desenhado, ele gargalhou e a olhou novamente, indicando que ligaria mais tarde.
  Sob vários gritos - incluindo os de Alex, que não parava de repetir "alguém vai fazer bebês hoje à noite" - a banda deixou o palco, e se afastou, procurando a saída, seguida pelas amigas.
  - Nunca mais vou aceitar provocação sua, nem jogar pôquer com você, . - resmungou, morta de vergonha, tentando passar pela multidão. - Nunca mais!
  - Você reclama de barriga cheia, . - resmungou, tirando o arquinho, já do lado de fora da casa de shows. - Atirar sutiãs ao palco é uma prática comum em shows do All Time Low, agora procure outra idiota que já tenha ido a algum show fantasiada de Minnie Mouse! - bufou. - Ainda bem que não encontramos nenhum conhecido, imagine se alguém da faculdade me vê assim?
   riu.
  - Matt gostou, ele não parava de olhar pra você. - lançou à amiga um olhar zombeteiro - Acho que se tivéssemos ficado até o final, ele ainda ia aparecer perguntando se você não queria conhecer o Mickey dele... - completou, caindo às gargalhadas outra vez.
  - Eu te odeio, . - resmungou, de cara fechada.

  Encontraram o carro no estacionamento, e saíram à procura de alguma lanchonete. ia dirigindo, no carona, e - deitada no banco de trás - tentava trocar de roupa sem chamar a atenção das pessoas nos outros carros, resmungando todos os palavrões que conhecia.

  Cerca de meia-hora mais tarde, elas já estavam no McDonald's comendo seus lanches, quando o celular de começou a tocar. Ela encarou a tela do telefone por alguns segundos, mas não reconheceu o número.
  - Alô?
  - Oi, erm... É a ? - perguntou uma voz masculina, no outro lado da linha.
  A garota trocou um olhar surpreso com as amigas.
  - Sim, quem está falando?
  - Ah, oi! É o Jack...
   arregalou mais ainda os olhos.
  - Jack? - quase gritou, e as outras duas garotas se empoleiraram no ombro dela para tentarem ouvir a conversa.
  - É, eu... Hm... Eu estou com o seu sutiã. - ele deu uma risada - Isso soou estranho, não soou?
  - Não... - a garota respondeu, distraída, depois espalmou a mão na testa - Quer dizer, não sei... Quer dizer... Ah, deixa pra lá.
  O musico riu outra vez, no outro lado da linha.
  - Onde vocês estão?
  - McD's. E vocês?
  - Agora, exatamente, eu não sei... Mas estamos indo a um lugar chamado Voyeur, ou algo assim, e eu pensei que talvez vocês pudessem dar uma passada por lá pra tomar uns drinks com a gente, o que acha?
  - Voyeur? - ela repetiu, esperando a opinião das outras garotas, e negou freneticamente com a cabeça. Lançou à amiga um olhar de dúvida, mas ela continuou recusando - Olha, acho que não.
  - Não? - a voz de Jack soou decepcionada. - Por quê?
   olhou para as amigas, procurando ajuda, e tirou o telefone das mãos dela, com um sorriso sapeca.
  - Oi, Jack, é a . Você não me conhece, mas eu sou uma ótima jogadora de pôquer. - ela riu - Sou grande conhecedora da vida noturna de Philly, também, e garanto que vocês não vão curtir o Voyeur.
  O rapaz soltou uma risada irônica.
  - Ah é? E você tem alguma outra sugestão?   - Várias. Mas a vida é aprender com os erros, certo? - mordeu uma batatinha, e continuou, de boca cheia: - Vá, e veja com seus próprios olhos. Estaremos esperando do lado de fora quando vocês saírem de lá assustados. - concluiu, desligando na cara do músico.
  Olhou em volta, distraída, e encontrou as amigas lançando-lhe olhares sérios.
  - O quê? - perguntou, fazendo uma careta.
  - Você, por acaso, acabou de desligar na cara de Jack Barakat? - perguntou, sem acreditar, e bufou ao lado dela.
  - Não acredito que você fez isso. - resmungou, brava.
   rolou os olhos.
  - Eu estou te ajudando, sua ingrata de merda. - retrucou. - Se der moral demais pra ele, ele não vai dar moral pra você. - levantou, puxando as outras duas. - Agora vamos logo, que o Voyeur é longe.
  Elas jogaram as sobras dos lanches no lixo, e empilharam as bandejas no balcão ao lado, deixando a lanchonete em seguida.

Capítulo 3

  O trânsito na Philadelphia era formado basicamente por vias de mão única, e elas tiveram de dar uma volta na cidade inteira para chegarem ao Voyeur Nightclub. Contornaram o Rittenhouse Square, pegando a South 19th Street, e rodaram por cerca de quinze minutos, virando aqui e ali, até finalmente estacionarem em frente à boate, na St. James Street, área central da cidade.
  A garotas saíram, e se encostaram na lateral do Versa Sedan vermelho de .
  - Você acha que eles vão sair logo? - perguntou, e olhou o relógio.
  - Não dou dez minutos.

  Dito e feito. Faltando ainda quinze minutos para meia-noite, elas começaram a notar a movimentação na entrada da boate.
  O primeiro a sair foi Alex, parecendo horrorizado. Logo atrás dele vinham Rian falando ao celular, Zack e Tay Jardine - vocalista do We Are The In Crowd -   conversando e rindo, e depois os empresários de ambas as bandas. Mike, Rob e Cameron vinham em seguida. Jack veio com Brooks e Alex - do Mayday Parade - e, logo depois deles, Jordan - também do We Are The In Crowd - ouvia com atenção o que Mike Finn - tour manager do Mayday Parade - dizia. Por último, vinha Jeremy. Ele abraçava Jake de um lado, Derek do outro, e ria muito, já parecendo extremamente bêbado.
  - Isso foi ótimo! - gritou - Quando vamos fazer de novo?
  - Cala a boca, Cabbage. - Derek resmungou.
   gargalhou, e Alex e Jack, que a haviam reconhecido, se juntaram à garota. Alex ainda tinha os olhos arregalados.
  - Um cara, usando vestido, e chamado Conchita, tentou me estuprar lá dentro! - disse, chocado.
  Jack esticou o olhar até .
  - Por que você não me disse que isso era uma boate gay, e que hoje era noite drag?
   riu, depois deu de ombros.
  - Digamos apenas que eu me divirto com situações peculiares... - disse, com um sorrisinho ainda brincando nos lábios, e esticou o olhar até os outros músicos atrás deles - Enfim, quem está pronto para a diversão de verdade?

  Jordan e Cameron se entreolharam, animados, mas Curran Blevins - tour manager do We Are The In Crowd - rolou os olhos claros, e deu um tapa na cabeça de cada um.
  - Pessoal, ainda temos umas boas semanas pela frente, e eu não durmo há três dias. Estou voltando para o hotel, e me desculpem, mas não confio em vocês sozinhos, então vai todo mundo comigo. Vocês podem beber com o Starting Line lá no bar do hotel, se quiserem.
  - Ahh, Curran... Por favor? - Cameron perguntou, encarando-o com olhos pidões.
  - Não adianta me olhar com essa cara gay de cachorrinho molhado aí que não vai funcionar. Vamos, vamos, todo mundo pra van!
  Derrotados, eles seguiram o empresário, arrastando os pés até a van. Jake encarou o tour manager do Mayday Parade, esperançoso, e ele apenas deu de ombros.
  - Eu vou voltar para o hotel, mas desde que esteja todo mundo lá pro café da manhã, 'tô pouco me fodendo. Só sigam as regras e fica tudo certo.
   olhou para Derek, curiosa.
  - Regras?
  - São só duas, na verdade. - Jeremy respondeu pelo amigo. - Ninguém morre, - começou, contando nos dedos - e ninguém vai parar na delegacia.
  A garota riu.
  - Bem, não parece tão difícil...
  - Você diz isso porque nunca saiu com o Cabbage. - Derek disse, divertido, indicando Jeremy com a cabeça.
  - Já vi que eu vou gostar de sair com você, Jeremy. - abriu a porta do carro, sorridente. - Enfim, a boate fica aqui pertinho, na 21st Street. Vocês me seguem?
  Metade concordou, metade deu de ombros. As garotas entraram no carro, enquanto cada banda ia para seu próprio transporte, e eles logo saíram dali. Cerca de oito minutos mais tarde, estacionaram na rua dos fundos do Medusa Lounge, que estava deserta.
  - Tem certeza que é aqui? - Jack perguntou, olhando em volta, um pouco incerto.
  - Claro. - respondeu, ativando o alarme do carro, e começando a dar a volta no quarteirão.   Jack e Alex deram de ombros, e a seguiram, tendo a ação copiada pelos outros.

  No outro lado, a situação não era muito diferente. Sem contar as duas ou três pessoas na calçada, a área parecia vazia. Diabos, não fosse pela enorme placa com os dizeres "MEDUSA Lounge" se projetando da parede, ninguém jamais diria que aquela porta preta respingada de tinta era a entrada para o melhor da noite na Philadelphia.
  Bem... Talvez não fosse, mesmo.
  - Certo. - Zack pigarreou. - Essa é a parte onde vocês batem na gente e tentam roubar todo o nosso dinheiro? Porque eu devo dizer, vocês são meio pequenas para isso.
  As garotas se entreolharam.
  - Como assim? - perguntou, confusa.
  - Vocês tão de brincadeira né. - Jack rolou os olhos - Aqui acontece a melhor balada da cidade?
  - ... É. - respondeu, de maneira bem óbvia, balançando a cabeça em confirmação.
  Brooks olhou para cima.
  - Nós vamos subir?
  - Não, vamos descer.
  Ambas as bandas começaram a rir, e continuou os olhando sem entender, até que eles finalmente concluíram que não era brincadeira.
  - Você nos convidou para um festa num porão sujo e mal cuidado? - Jeremy perguntou, e a garota assentiu com a cabeça - Adorei, vamos entrar de uma vez!
  Ele deu um passo para frente, mas Jack o segurou.
  - Espera aí. Quem me garante que vocês não vão nos atacar lá embaixo, e vender nossos órgãos no mercado negro? - olhou-as, desconfiado.
   bufou.
  - Porque só vendemos cérebros, e o seu pelo visto não ia nos dar lucro algum. - resmungou, puxando o guitarrista pelo braço e abrindo a porta. O som alto vindo do fim na escadaria a fez dar pulinhos animados - Ah, vamos logo! - desceu as escadas de dois em dois degraus, puxando Jack consigo.
  Todos desceram logo depois deles, e se amontoaram nos últimos degraus da escada, olhando dos dois seguranças à porta para parada no degrau mais alto.
  - Certo, algumas dicas. - ela começou - Primeira: por 4 dólares eles fazem um submarino de PBR com Voodoo Rum que é uma beleza, mas cuidado na dose, o máximo que eu consegui beber sem apagar foram seis copos. - foi enumerando as dicas - Segunda: as pessoas daqui provavelmente não conhecem vocês, e também não estão nem aí para isso, então relaxem. Terceira: não entrem nos banheiros se não quiserem pegar alguma doença. E quarta, essa é especialmente pra você amiga: - apontou para , com a mesma regata de antes e ainda sem sutiã - Fique longe do ar-condicionado. - concluiu, apontando os peitos dela, e recebeu um dedo do meio em resposta.
   cumprimentou os seguranças, e eles liberaram a entrada de todo o grupo.
  - Como você conhece tanto esse lugar? - gritou, assim que eles passaram pela porta e a música se tornou ensurdecedora.
  Ela apenas sorriu.
  - O dono é meu amigo, e eu venho aqui todos os fins de semana desde o primeiro ano de faculdade. Não é exatamente glamuroso, mas tem drinks baratos, gente legal, música boa e ótimo atendimento. Pra mim é perfeito.
  O músico assentiu, e eles se direcionaram ao bar.
  A primeira rodada, obviamente, foi a bebida sugerida por . Assim como a segunda, e a terceira. E eles acabaram decidindo ficar por lá mesmo, num grande grupo que ocupava praticamente toda a extensão do balcão, até o DJ começar a tocar um medley de músicas do 3oh!3 que fez as garotas darem gritinhos e correrem até a pista.
  All Time Low e Mayday Parade preferiram ficar no balcão por mais um tempo, enquanto elas dançavam animadas. Por volta do quinto copo de PBR + Voodoo Rum, Jeremy - que já havia saído do Voyeur bastante bêbado - começou a se sentir mal, e seus companheiros de banda o levaram para tomar um ar antes que ele acabasse vomitando no pé de alguém. riu, e pediu mais uma rodada para os quatro restantes.
  - Esse lugar não é de todo ruim mesmo. - Jack, disse, bebendo um gole de sua cerveja com rum. - Quer dizer, tirando o calor. E a superlotação na pista. E o fato de eu quase bater a cabeça no teto de tão baixo que ele é.
  - Não sei do que você está reclamando. - deu de ombros - A gente já esteve em lugares muito piores.
  - É verdade. - concordou.
  - E aqui pelo menos a cerveja é barata, e você ainda tem uma gata te dando bola. - indicou , que entre uma música e outra lançava olhares a eles.
  - Isso também é verdade. - balançou a cabeça - Quer dizer, só estamos aqui agora porque a garota te deu um sutiã com o telefone dela, isso é alguma coisa.
  - É, Jack. E já que eu não tive a mesma sorte, - largou o copo no balcão, e deu dois tapinhas nas costas do amigo - vou lá colocar meu charme em ação. - deu uma piscadinha, e foi até a pista, juntando-se à e as outras garotas.
  De longe, eles ainda o viram se aproximar mais da garota, e falar algo em seu ouvido. apenas riu e concordou, e eles começaram a dançar.
   nunca fora exatamente o tipo de dançarino perfeito, e isso pôde ser comprovado quando Crank That, do Soulja Boy soou nas caixas de som. As meninas riam muito enquanto ele desajeitadamente tentava imitar os passos, e os outros três rapazes decidiram que "amigos não deixam o amigo passar vergonha sozinho", e se juntaram à multidão na pista de dança, transformando aquilo num mico generalizado.

  Os garotos do Mayday voltaram, e as próximas duas horas se dividiram entre dançar/pular/rir na pista, e beber/conversar/rir no balcão.   Cerca de três da manhã, e já estavam se pegando em algum canto. , Jack e quatro dos recém-chegados dançavam Ke$ha (gritando a letra a plenos pulmões). No bar, competia com , e Jake pelo posto de "maior bebedor de tequila da cidade", e parecia estar levando a melhor.
  Logo que os rapazes jogaram a toalha, e enquanto ainda comemorava a vitória, Christopher Pearson - dono do lugar - se aproximou da garota.
  - Hey, !
  - Oi, Chris. - ela sorriu sem graça. - Olha, se isso for por aquela garrafa de vodka da semana passada, eu juro que vou te devolver...
  Ele balançou a cabeça, confuso.
  - O quê?
  - Ah, deixa pra lá. - ela balançou a mão, aliviada. - Você quer falar comigo?
  - Na verdade só vim avisar que vamos fechar daqui a pouco. Talvez seja melhor você ir enquanto seus amigos ainda conseguem andar...   Ela olhou para os três. Jake falava sozinho, já estava quase babando no balcão, e a olhava de um jeito estranho. Ela sorriu para ele, e desviou o olhar, sem graça. , então, voltou-se para Chris.
  - Acho que você tem razão.
  Ela se despediu do amigo, caçou , , e os nove rapazes, e eles saíram de lá.

Capítulo 4

  Ainda estava bastante escuro quando o grupo deixou o Medusa Lounge, e, bêbados demais, a única coisa que eles conseguiam pensar era que ainda não queriam voltar para casa/hotel. Assim, apenas ficaram andando a esmo pela cidade.
   e iam na frente, e eram os únicos em completo silêncio. vinha em seguida, com e o Mayday Parade, rindo e cantando qualquer coisa da Lady Gaga. Por último iam Jack e , conversando sobre a aposta que as garotas haviam feito.
  - Agora entendi o que ela quis dizer quando falamos ao telefone. - ele riu.
  - Não é justo! - resmungou - Ela blefou! Deveria existir uma regra onde não se pode blefar quando se está jogando com os melhores amigos...!
  O músico riu ainda mais.
  - Aí perderia a graça... Mas tente ver o lado bom, você não foi fantasiada de Minnie Mouse! - também riu, e Jack olhou e de mãos dadas - Se bem que o Matt ficou louquinho por ela. Sorte de que ele não estava se sentindo muito bem, e foi para o hotel junto com o pessoal, ou cairia matando na garota...
   acompanhou o olhar de Jack.
  - estava odiando a , tipo, demais. Mas com os últimos eventos acho que a raiva passou um pouquinho...
  Os dois se olharam por alguns segundos, e caíram na gargalhada.
  O grupo parou na frente de uma loja de conveniências, e Jake e Alex Garcia entraram, saindo de lá alguns minutos depois, os dois carregando um pack com seis cervejas em cada mão.
  Continuaram andando sem direção, e, quando as garotas notaram, estavam em frente aos portões fechados do Fairmount Park. Elas se entreolharam, pensando no que fazer em seguida, e decidiram que era uma péssima idéia, mas Jack não pareceu se importar muito com isso. Ele facilmente escalou o portão, e pulou para o outro lado, chamando os outros para que fizessem o mesmo.
   pensou em dizer não, mas todos já estavam lá dentro, então ela apenas deu de ombros, e invadiu o local sem dificuldade.

  Uma vez dentro do parque, tudo virou festa.
  Eles pulavam, gritavam, cantavam, espalhavam cerveja pelos cantos, e tiravam várias fotos. Estavam sozinhos lá, então não precisavam se preocupar em não fazer escândalos, certo?
  Errado.
  Tudo aconteceu um tanto rápido. Jeremy achou que a fonte do JFK Plaza daria uma boa piscina, e a última coisa de que se lembrava era ele saindo de lá de dentro - ensopado - sendo carregado por dois policiais.
  Então tudo ficou escuro, e ela acordou na delegacia.

  Durante todo o tempo a garota ficou em silêncio, com a cabeça apoiada no ombro do Jack, enquanto xingava de todos os nomes conhecidos, e a última não parava de exclamar que sua mãe a mandaria para um internato na Noruega.
  Por muita sorte não foram presos. Acabaram todos recebendo uma gorda multa por arrombamento e depredação do patrimônio público, situação que foi resolvida com alguns cheques quando Mike e Matt chegaram à delegacia, por volta das sete horas da manhã.

  - Duas regras. Duas malditas regras, e vocês não conseguem cumprir! - o tour manager do Mayday Parade reclamava, enquanto empurrava os garotos para dentro do ônibus - Você tá de castigo, Cabbage! Você também, Jake, tenho certeza que isso é a sua cara!!!
  Matt deu um tapa na nuca de cada um dos garotos do All Time Low, e entrou no ônibus da banda.
  - Foi um prazer ser preso com vocês. - disse, rindo, e deu um beijo no rosto de cada garota.
   e se despediram com um beijo do tipo desentupidor de pia, jurando que se encontrariam novamente o mais rápido possível.
   chamou para um encontro, quando a banda voltasse de turnê, e ela aceitou. Os dois trocaram telefones, e ele deu um beijo demorado no rosto da garota, afastando-se com um sorriso sapeca.
  E, parado de frente para , Jack chutou uma pedrinha imaginária.
  - Acho que é isso. - disse, enfim.
  - É, parece que sim... - o olhou - Você vai devolver meu sutiã?
  Ele riu, e deu um passo na direção dela.
  - De jeito nenhum. - passou os braços em torno na cintura da garota, puxando-a para mais perto - Talvez em uma outra ocasião, o que significa que vamos ter que continuar nos vendo, se você um dia quiser seu sutiã de volta...
  - Tudo bem - ela respondeu, aproximando o rosto do dele - Mas só porque é um Victoria's Secret...   - Ah, só por causa do sutiã... - Jack sussurrou, tocando os lábios de com os seus.
  - Uhum... - ela já tinha os olhos fechados, e cruzou os braços por trás do pescoço do músico, subindo na ponta dos pés para facilitar as coisas.
  Alex passou por eles e pigarreou, interrompendo o beijo com cutucões nas costelas da garota.
  - Se vocês quiserem sair de novo, tudo bem, mas use essa camiseta idiota de novo e eu vou fingir que não te conheço. - apontou o dedo no rosto da garota, que gargalhou.
  Jack empurrou o amigo, e deu mais um beijo em , antes de entrar no ônibus.

Capítulo 5

  UM ANO DEPOIS

  Era fim de tarde de Sexta Feira, e se preparava para deixar o escritório onde trabalhava, quando Greg, o faz-tudo da empresa entrou em sua sala, carregando um buquê enorme de flores.
  - Chegou agorinha, é pra você.
  Ela pegou as flores, agradeceu, e abriu o cartão assim que o estagiário deixou a sala.

  "Abra seu e-mail"

   riu, e, reconhecendo a letra, sabia que nada de bom poderia sair daquilo.
  Deixou o buquê sobre a mesa, e abriu sua caixa de entrada, que tinha apenas uma nova mensagem.

  De: Jack Barakat
  Assunto: VOLTE PRA CASA!

  Tem duas coisas suas te esperando na cama.
  Eu te amo.

  No anexo, havia uma foto. Era a imagem de Jack, deitado na cama da garota, numa pose sexy, vestindo apenas cuecas... E o famoso sutiã vermelho rendado da Victoria's Secret.

  Ela gargalhou. Aquele sutiã realmente dava sorte.
  E perder para no pôquer nunca havia sido tão bom.

FIM



Comentários da autora

  Gente, é isso. Não sei o que dizer aqui UISAHOSIAHDIUAH Zã, te amo, sua vagabunda!