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#015 Temporada

Dress
Taylor Swift



Sob a luz do luar

Escrita por agnes | Editada por Songfics

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  Seu cabelo está por crescer, ele se acomodou no corte militar, sempre bem raspado no modelo buzzcut, o mesmo de quando nos conhecemos e por mais que eu não gostasse tanto antes, acho que gosto agora. Os olhos amendoados e grandes acompanhados de sobrancelhas grossas e expressivas, viram dois risquinhos quando gargalha, eu me perco ali.  Com ele, quase não me lembro mais de que já me decepcionei tantas vezes, isso nem importa tanto.
  — Por que está me olhando assim? - me acorda do meu devaneio, interrompendo um diálogo.
  — Nada, o senhor está muito bem vestido. - digo alisando seu paletó.
  — Você está perfeita, deslumbrante. - sussurra e me lança um sorriso, voltado para sua conversa.
  Realmente me sinto deslumbrante. Meu vestido é azul escuro, com uma fenda na lateral que exibe minha perna direita. Ambos sentimos que o dress code não era muito adequado para um ensaio de casamento à beira da praia, mas após o sol se pôr e a lua iluminar o céu, parecemos perfeitos.
  As conversas animadas competem entre si e com a música calma em tom ambiente. Já faz tanto tempo que estamos todos sentados ao redor daquela mesa que me dá a sensação de um eterno déjà vu. O ensaio já foi concluído há algum tempo, mas todos permanecem bebendo e conversando, já não me lembro mais o que é um ambiente silencioso.
  — Vamos sair daqui? - sussurra após dar o último gole de champagne da sua taça.
  — Mas você está conversando. - digo confusa.
  — Já terminei. Já fizemos nossa formalidade aqui, ou prefere ficar? - arqueia as sobrancelhas e seus olhos se arregalam de uma forma adorável e irresistível. Não, eu não queria mesmo ficar.
  Ele se levanta e segura minha mão, eu o acompanho. Nos despedimos dos noivos e dos amigos mais íntimos. Olhando assim, parecemos até mesmo um casal maduro que está junto há muitos anos, mas sinto que somos dois adolescentes aventureiros, quando no fim das contas não sei bem o que somos ou onde é que vamos chegar.
  Andamos como se ele estivesse com pressa, e no meio do caminho rouba duas garrafas de vinhos expostas sobre a mesa de bebidas e utiliza um saca-rolhas para afrouxar as rolhas. Não entendo muito bem seus planos, mas também não questiono. Atravessamos a porta e seguimos para o carro, um Jeep velho, porém conservado. Imediatamente ele tira o paletó, desabotoa a gola da camisa, como se estivesse sufocado por todo aquele traje formal.
  — Você tá bem pra dirigir? - pergunto ainda sem compreender.
  — Vamos só até a cabana, não é tão longe né. - acelera o carro, e poucos minutos depois estamos de frente para a praia, que é basicamente o quintal da cabana de praia em que estamos hospedados.
  Kyungsoo abre a porta do carro, sai com as duas garrafas de vinho e descalço, suponho que devo fazer o mesmo e o copio. A barra do meu vestido arrasta pela areia, mas não ligo, gosto de sentir o mar, a maresia. O deixo me guiar para onde quer ir, em direção ao mar e a lua, assim ele deposita um beijo suave em meus lábios antes de se sentar na orla.
  Estamos próximo de onde a onda quebra, mas ainda não pode nos atingir, estico as pernas para sentir um pouco da água nos meus dedos dos pés. Ele termina de abrir a garrafa com certa dificuldade, dá um longo gole e passa a garrafa para mim, dou outro gole. O observo ver a lua, ver o mar, e todo esse silêncio confortável é minha parte preferida sobre nós dois, ninguém se sente pressionado a falar.
  Seu rosto não tem defeitos, observo cada traço enquanto ele devaneia. Seus lábios grandes tem um contorno perfeito, o tom da sua pele brilha em contraste com a lua, e seu maxilar marcado faz parecer que foi desenhado a mão. Tudo que consigo pensar durante todo esse dia é que não posso mais lutar contra esse sentimento, Doh Kyungsoo é inescapável. E daí se eu me queimar? Pelo menos ambos estamos eletrificados e por mais que eu tente afasta-lo da minha mente, mesmo quando fecho os olhos e deito a cabeça sobre o travesseiro, é como se tivesse cravado seu nome na cabeceira da minha cama, ele continua em meus pensamentos, firme em meus sonhos.
  Sorrio ao chegar a essa conclusão, porém começo a me preocupar com o que ele pensa sobre nós dois. Sempre silencioso, paciente, de uma maneira que me causa apreensão e espera desesperada pelo futuro. Devolvo a garrafa de vinho e ele dá outro gole, em seguida quebro o silêncio que tinha as ondas do mar como trilha sonora, como se adivinhasse meus pensamentos.
  — Olhe para mim. - digo, atraindo seu olhar. — A lua tem sorte de poder te iluminar essa noite. - com meus dedos contorno seus traços, passando pela testa, sobrancelhas, olhos, nariz e boca. Ele toma minha mão para si e entrelaça nossos dedos.
  — Quanto champagne precisou beber para dizer isso? - brinca tentando disfarçar a timidez, me fazendo rir. — Eu tenho algumas ranhuras dentro de mim, mas você cura quase todas elas quando me olha assim. Mesmo no meu pior, você viu o melhor em mim. -  retribui o elogio de uma forma inesperada, não posso esconder meu riso nesse momento. 
  — Eu gosto desse mundinho que criamos, me sinto confortável.
  — Não é qualquer pessoa ter aguentaria uma tarde inteira numa cadeira desconfortável ouvindo um bando de velhos conversarem sobre coisas banais. Obrigado por ter vindo.
  — Desculpa por ter deixado a toalha molhada na cama, e obrigada por ter cozinhado ontem à noite. - digo e roubo um selinho.
  Ficamos um tempo naquela conversa banal, até que Kyungsoo se levantou rapidamente, abriu a segunda garrafa de vinho que não era tão necessária, já que ambos estamos com a fala arrastada e rindo de qualquer besteira. Ele se levanta rapidamente e me puxa pela mão, ambos estamos gargalhando feito dois adolescentes, tropeçando nos próprios pés e derramando vinho. Ele me puxa para onde a onda quebra, e me beija no rosto antes de sermos derrubados pela força do mar, nessa altura o líquido dentro da garrafa já se misturou com água salgada. Nos recompomos e voltamos para o beijo, salgado como o gosto do mar, intenso e provocante.
  Com as roupas ensopadas entramos na cabana, mas eu não me importo, e aparentemente ele também não. Antes mesmo de fechar a porta atrás de mim, me agarro em seu pescoço e o beijo vividamente, e ele me puxa para mais perto, colocando minha perna direta em sua cintura, acariciando minha pele por baixo da fenda do vestido. Sinto um arrepio subir pela coluna e sorrio entre o beijo, desabotoando sua camisa e em resposta ele abre o zíper do meu vestido de forma um pouco desajeitada.
  — Quanto vinho precisou tomar para mal conseguir abrir um zíper? - questiono em tom de brincadeira e caímos na risada.
  O álcool fala mais alto e comanda nossas atitudes. Ele criou todo o clima para aquele momento acontecer, mas sinto meu corpo respondendo lentamente aos meus comandos. Mesmo assim insisto em beijá-lo e puxá-lo para o quarto. Kyungsoo corre seus dedos pelo meu braço, em direção a alça grossa do vestido que desliza pelo meu ombro, em seguida ele repete o ato com a outra, e assim, o vestido escorrega pela minha cintura, enfim parando nos meus pés. Seus olhos, que antes estavam vidrados nos meus, percorrem cada parte do meu corpo, sinto meu rosto corar e não é por causa do vinho.
  — Você estava linda nesse vestido, estava deslumbrante nele. Está perfeita agora. - ele diz e volta a me beijar, me empurra para a cama. A sensação da sua pele na minha leva embora todo o nervosismo e apreensão que eu sentia antes, minhas mãos param de tremer. Não tem uma parte do meu corpo que não deseja seu toque e seus lábios, que percorrem cada extensão minha.
  Gosto de o ouvir ofegar baixinho, da forma como sua voz sai quase inaudível ao dizer meu nome, ele diz meu nome, e tudo para - o tempo, e o mundo em nossa volta, este se torna insignificante. Gosto de como ele me toca, de como minha cintura se encaixa perfeitamente suas mãos, e de sentir a textura da sua pele com gosto de mar nos meus lábios. Toco cada curva do seu corpo, ombros, abdômen, sua bunda avantajada. Nosso ritmo é perfeito como as sinfonias de Bethoveen e as obras de Monet.
  Enfim, caímos ofegantes, lado a lado, e quando minha respiração se acalma, não ligo com o fato dos nossos corpos estarem com textura grudenta de praia. Deito minha cabeça sobre seu peito e escuto seu coração. Estou quase adormecendo quando o ouço sussurrar meu nome.
  — Nari... - ele diz, e eu não respondo, apenas espero ele continuar. — eu andei pensando, por favor me leve a sério, sei que a gente bebeu, mas eu estou sendo sincero. Eu finalmente acordei, percebi que te quero do meu lado, quero acordar com você assim, beber vinho, reclamar da toalha molhada.
  — Eu não quero ser sua melhor amiga, ou o que quer a gente seja agora. Quero que você seja o único para mim. - correspondo com um sorriso radiante.
  — Você é a única para mim. - sussurra.
  Adormecemos assim, com o barulho das ondas do mar de trilha sonora e sob a luz do luar nos iluminando pela claraboia.