SLS: I'm Yours

Escrito por Bea Menar | Editado por Natashia Kitamura

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 Muitos devem dizer isso, mas começou completamente inocente.

Dezembro de 2015
 Era final de semestre e eu estava completamente enlouquecida pela quantidade de provas e seminários que ainda me restavam fazer em tão pouco tempo. Todo mundo sempre me disse que na universidade as coisas são mais puxadas, e que você está por si só... Agora as coisas parecem bem como me disseram mesmo. Ser calouro não é fácil, imagino como estão os veteranos.
 Estava sentada nos degraus que ficam antes (se andarmos linha reta pelo corredor) da entrada a biblioteca com uma das minhas amigas, Teresa. Estávamos ali esperando por Bruna, Rita e Gabriela para ensaiarmos para o seminário que teríamos de apresentar dali a alguns dias.
 Logo após a entrada da biblioteca, ficam armários onde os alunos que quiserem ficar nas mesinhas da biblioteca podem guardar suas mochilas – não é permitido estar com uma ali dentro. E eu até compreendo. Livros são caros para deixar serem roubados.
 Foi então que eu o vi. Deixou a biblioteca com uma chave em mãos e buscou pelo seu número. Os cabelos dourado penteados para o lado formavam um topete de ondas, tinha as bochechas rosadas e óculos de armação preta. Era uma graça!
 - Olha só, parece um daqueles nerds de filme americano. – comentei com Teresa, mas ela estava concentrada demais em seu biscoito para me dar ouvido.
 Quando as meninas chegaram, decidiram que seria melhor resolvermos o que estava faltando do seminário antes de ensaiar, e que essas coisas poderiam ser resolvidas dentro da biblioteca. Eu não estava pensando nele até me sentar a mesa que escolheram e erguer a cabeça. Ele estava numa posição onde ninguém conseguiria tampar minha visão. E, não sei bem por que, mas não consegui parar de olhar para ele. Completamente absorto em seus estudos, tirou a caneca do papel e parou como se precisasse pensar antes de voltar a rabiscar e ergueu a cabeça em minha direção. Fui pega! Pega por lindos olhos verdes brilhando atrás das lentes.
 Fui pega e ele pareceu envergonhado. Daí então oscilava os olhos de uma verde avelã entre os estudos e meus olhos hipnotizados.
 Desde esse momento eu o notei pelo campus. Meu coração pulsava dentro do peito sempre que ele estava em meu campo de visão e, pode até parecer loucura ou coisa de comédia-romântica, mas eu podia jurar que ele também olhava para mim.
 E eu fugia. E percebi que fugia quando numa tarde voltei ao prédio para encher minha garrafa com água e ele estava lá no bebedouro. Fingi que iria jogar algo no lixeiro só para esperar que ele fosse embora. Mas seus olhos verdes me fitaram, os lábios rosados molhados da água gelada muito próximo do meu campo de visão. E então ele veio em minha direção e eu fugi para o banheiro feminino.
 Em um desses dias de fim de semestre, estávamos Teresa e eu no nosso andar, sentadas no banquinho de madeira de frente ao elevador, esperando que Rita terminasse de se resolver com a coordenadora do nosso curso quando a porta do elevador se abriu e eu fui atingida.
 Ele estava ali, bem na minha frente, apoiado no corrimão ao fundo do elevador. Seus olhos me atingiram e eu tentei fugir, me esconder nos próprios cabelos. Era quase como um surto de ataque de pânico. Enquanto ele estivesse ali, me fuzilando, eu não estaria confortável para existir. Pareceu durar para sempre, mas enfim a porta do elevador se fechou e ele continuou seu trajeto ao terceiro andar, o último andar daquele prédio.
 Teresa, como sempre desligada, só notou algo de errado quando corri pelo corredor em busca de um pouco de ar. E, desconcertada pela minha repentina paixão pelo nerd desconhecido, começou uma busca por respostas, uma busca pelo nome dele.
 Chegara então o meu último dia naquele semestre tendo algo a fazer no campus. E eu já tinha perdido qualquer esperança de vê-lo visto que aprendi que seu turno era à noite, enquanto o meu era à tarde, quando Teresa o viu entrar no prédio e correu até uma de nossas colegas do último andar. Ela a abraçou de sussurrou: “É ele”. Apontando para o dono dos cabelos dourados. A garota assentiu e piscou, começando sua missão em busca de descobrir seu nome.
 Recebi, naquela noite, a mensagem que me faria ficar inquieta até o fim dos tempos: “Ashton Irwin, me agradeça depois”.
 E como digna stalker, ela conseguiu o perfil no facebook e o número do tal Ashton. Infelizmente, para mim, Ashton tinha uma namorada e eu estava completamente iludida em pensar que ele retribuía meus olhares.

Março de 2016
 Apesar das correrias e dos estresses pelos estudos que te dirão se terás uma carreira boa e produtiva, ou não, estar no campus fazia muita falta. Já não era mais caloura, as coisas já haviam aparecido para mim, eu tinha muito que fazer para manter meu histórico estudantil bom e cheio. Tomei um projeto de extensão em mãos e o pus em prática como se já tivesse nascido pronta para aquilo.
 Por conta desse projeto, todas as quartas eu precisava ficar na universidade até 19h30 da noite o que me deixou mais próxima da garota que descobriu o nome de Ashton, Maria, já que sempre a via naquele turno.
 Importunava-me por mensagens para deixa-la apresentar-me a Ashton como amigo, mas eu me negava veementemente a ter um abismo tão grande por um cara comprometido, inalcançável. Percebi, todavia, que a luta estava perdida quando descia as escadas do prédio e, no último degrau, o vi passar. Ele sorria, pude ouvir sua gargalhada e notar que tinha uma covinha charmosa na bochecha. O suspiro foi tão grande que pude ouvir meus ossos estralarem.
 Sentei num dos banquinhos de cimento de frente ao prédio em que estudávamos e tomei nota das atividades daquele dia no projeto de extensão – burocracia para com o colegiado que me oferecera o cargo. Senti a presença do meu lado e não precisei fazer muito esforço para saber que era Maria.
 - Você não deveria estar em aula?
 Ela deu de ombros, balançando as pernas no ritmo da música que só tocava em sua cabeça.
 - Não tô afim. – respondeu e eu aceitei, até porque já tive dias de não estar afim de certas aulas. – O que você está fazendo?
 - Sendo organizada.
 - Não quer ser organizada no meu andar? Assim eu vou saber quando a aula acabou para entrar pra próxima.
 Eu aceitei. Ficaria ali até mais tarde de qualquer forma, e um banco aqui, outro no terceiro andar não mudava nada. Sem tirar que Maria sempre tinha assunto, o que me distrairia e faria as horas passarem rápido.
 Quando saímos do elevador que a porta se fechou, eu ouvi aquela gargalhada novamente. Meus olhos se arregalaram e eu ponderei fugir pelas escadas quando as garras de Maria seguraram meu braço.
 - Olá meninos, que momento oportuno. – disse ela com falsa formalidade, aproximando-se deles – O que estão fazendo fora da sala?
 Ashton estava com dois outros caras que costumei ver com ele pelo campus. Não os conhecia além daí. Meus olhos se abaixaram no mesmo instante em que Ashton virou seu corpo em direção a nós.
 - A professora está fazendo consultoria para um seminário que teremos que apresentar. – começou um deles.
 - É, e já fomos atendido. – completou o outro, rindo da própria piada.
 - Ah, que legal! – suspirou Maria, um grande sorriso estampado no rosto. Poderia apostar que ela não prestara atenção em coisa alguma. – Oh, que grossa eu sou. Meninos, essa é minha amiga do andar de baixo. Esses são Ashton, Calum e Luke. Ela é tímida. – completou, me puxando para perto.
 Quando ergui o olhar em direção ao dono das covinhas mais charmosas que eu já vira, ele me olhava intrigado, como se tentasse me reconhecer. Então seu rosto se iluminou por um sorriso torto e ele empurrou o óculo de volta ao topo do nariz.
 - Você tem nome? – ele perguntou, reprovando a falta de informações de Maria.

Maio de 2016
 Era como ter um irmão da minha idade, porém precoce e realmente muito inteligente. Ashton era de um curso completamente diferente do meu, mas sempre que eu precisava ou parecia estressada com algum assunto ele se esforçava ao máximo para entender e poder me ajudar. E quando não conseguia, sempre encontrava uma saída para me animar.
 Estávamos na biblioteca, na mesa que o vi sentado pela primeira vez, e eu estava completamente deprimida com uma prova que estava por vim de um assunto que eu não fazia ideia de como começar a entender. Ele apertou meu ombro e murmurou:
 - Feche esse livro. Nós vamos tomar um sorvete anti-estresse.
 Sentamos lá e ficamos conversando – na verdade, foi mais um monologo – sobre um filme de super-herói que estava para estrear e ele não estava se aguentando nas calças de ansiosidade.
 - E você vai comigo! – decretou ele, apontando o sorvete em minha direção.
 - Sua namorada vai gostar de você com uma garota no cinema?
 - Ela não gosta de super-heróis, ficaria resmungando durante todo o filme, antes e depois também. Pouparei estresse para nós dois. – deu uma lambida, seguida de outra, acabando com sorvete nos lábios – E, de qualquer forma, ela sabe quem é você, não tem perigo.
 Não tem perigo.
 Enquanto os garotos reclamavam de friendzone, eu sofria da síndrome de Mulan. Não é como se ele achasse que eu tinha um pênis ou sei lá, mas como se ele achasse que eu sou um cara.
 Aceitei aquilo, afinal, o que mais eu poderia fazer.

Junho de 2016
 Irwin comprou seu primeiro carro. Eu não conhecia muito de carros então nem me importei tanto em pegar detalhes, eu só sabia que era de segunda mão porque ele sempre tocava no assunto.
 “Ele é ótimo, nem parece segunda mão.”
 “Quando eu disse que iria comprar um carro de segunda mão...”
 “É, é meu. Comprei de segunda mão”.
 Sempre com muito orgulho, e essa era a parte que eu mais gostava em todo aquele rádio quebrado que era o assunto ‘carro’ com ele.
 Começou a fazer questão de me levar até em casa todas as quartas só para que eu não precisasse passar uma hora rodando de ônibus antes de chegar o ponto mais próximo da minha humilde residência.  Conheceu minha mãe. Ficou para um jantar tarde da noite com a desculpa de que não teria nada para comer em casa. E que eu precisava de companhia. Eu nunca reclamei também.

 Nesse mesmo mês teve a Semana da Arte no nosso campus e minha amigas quiseram fazer uma apresentação de dança, menos Teresa. Acabei me juntando a elas e fazendo a tal coreografia. Ele fez questão de perder aula para nos ver dançar.
 Encontra-lo na plateia me fez ter vergonha num primeiro momento, mas logo em seguida, logo que o vi completamente absorto em mim como estava no caderno naquele dia, dancei para ele. Meus olhos só não estavam sob suas expressões quando os passos não me permitiam. E eu me senti, pela primeira vez, como única coisa passando pela mente dele naquele momento.
 Claro que me senti culpada por ainda sentir tanto por ele mesmo com os quase dois anos de namoro com outra. Principalmente quando a apresentação acabou, que fomos aplaudidas e ele fugiu de mim, como eu fugia dele de volta em Dezembro.

Julho de 2016
 Mesmo com as férias continuamos a nos ver.
 Me convidou para ir até a casa dos Irwin, conhecer sua mãe e seus irmãos e jogar um pouco com eles. Harry logo chegou com um monte de jogos aos quais poderíamos passar horas sem nos sentirmos entediados. Começamos por SCRABLE. Ashton fazia brincadeiras, como se estivesse tentando ver minhas letras e Harry o reprovava.
 Logo passamos para um jogo estranho onde tínhamos peças e massinha de modelar para criar personagens e locais com casas e prédios.
 Irwin começou a usar canetas hidrocor nos personagens, burlando as regras.
 - Não, você não pode. – reclamei, reprovando sua atitude.
 - Mas... – ele desviou de mim, tentando voltar a desenhar.
 - Não, Ashton! Tem que ser com as peças e a massinha.
 - Shhh! Você vai ver como vai ficar legal.
 Bufei e o deixei burlar as regras, eu também as burlaria.
 Peguei uma massinha preta e comecei a enrola-la até virar um tubo grande o suficiente para usar no meu plano.
 Ele não usava seus óculos, e eu queria fazer um nele.
 Segurei em seu maxilar e o fiz virar a cabeça me minha direção. Levei a massinha até o alto do nariz e comecei a encaixa-la por ali. Parecia uma ótima ideia para brincadeira, até que comecei a sentir o coração bater forte e ameaçar sair pela garganta. Ele me olhava fixo, aquele brilho verde me constrangendo, a respiração próxima demais de mim.
 Vi o tempo para quando o senti se aproximar de mim.
 - ACHEI O MONOPOLY! – Harry gritou lá de dentro de seu quarto e eu tive forças para me afastar.
 Ouvi suas unhas recém-crescidas arranharem a mesa de madeira enquanto fechava a mão em punho firme.

 Foi o período mais longo que passamos sem nos vermos ou nos falarmos desde que nos tornamos amigos. Ashton começou a me evitar e fazer muita falta no meu dia a dia. Era como se parte de mim estivesse faltando. E apesar de querer acreditar que não estava fazendo aquilo de propósito, começou a ficar difícil quando passou a ver minhas mensagens e não responder.

Agosto de 2016
 Era inicio do mês, primeiros dias, as aulas ainda não tinha retornado. Eu estava no meu quarto ouvindo um CD que acabara de sair quando minha mãe bateu na porta e entrou, fazendo sinal para que eu tirasse os fones.
 - Oi.
 - Ashton está aqui.
 Não acreditei da primeira vez que ouvi, mas ela não estava mais lá para repetir a frase. Então fui até a porta e o vi, o carro estacionado e ele recostado na lataria, os braços cruzados na altura do peito, os cabelos para trás escondidos na touca.
 - Podemos conversar?
 Ele fez menção a abrir a porta do carro quando ultrapassei a porta de casa, mas entendeu o recado quando cruzei os braços abaixo dos seios e comecei uma caminhada lenta em direção a praça mais próxima. O ouvi suspirar e pude ver por soslaio que se aproximava com as mãos nos bolsos frontais da calça jeans.
 - Aconteceram umas coisas.
 - E quando foram essas coisas? Antes ou depois de você começar a recusar ligações?
 - Anjo...
 Virei-me bruscamente em direção a ele, fazendo-o se assustar e perder o equilíbrio na calçada.
 - Você não tem o menor direito de me chamar por apelidos, Ashton. Porque amigos usam apelidos, e amigos não desaparecem como você fez.
 - Eu não podia falar com você!
 - Porque não?
 Ele colocou as mãos nos quadris, passando uma delas na barba nascendo em seguida.
 - Eu não posso dizer.
 - E porque está aqui então? Porque veio me perturbar se não pode falar comigo?
 - Porque eu preciso de você.
 - Não pareceu...
 - Terminamos. – murmurou ele, cruzando os braços e evitando olhar para mim.
 - O que disse?
 - Terminamos. E eu sei que foi o melhor, mas eu não me sinto bem. E eu só queria que por um momento você pudesse ser um pouco compreensiva e esquecesse que um dia eu fui um idiota com você; e que me desse aquele ombro que me ofereceu no comecinho de tudo.
 Respirei fundo, meu coração enlouquecia dentro de mim, eu não sabia muito bem o que pensar sobre aquela situação e ao que dar prioridade. Mas, de qualquer forma, a compaixão sempre reina quando estamos falando de amigos, certo? Principalmente quando há amor envolvido.
 - Tem uma sorveteria a duas esquinas daqui.
 Ele assentiu e agradeceu com um sorriso singelo de canto de boca.

Setembro 2016
 Foi a um mês maravilhoso. Meu contrato com o colegiado para o projeto de extensão foi renovado, minhas notas andavam muito boas na cadeira daquele semestre, minha carreira na profissão começava a tomar forma e eu tinha tudo o que queria. Bem, nem tudo.
 Eu o amava. O amava mais do que nunca. O nervosismo de quando tudo não passava de uma queda brusca estava ali, as mãos frias, o coração ferozmente contra o peito, a respiração alterada. E apenas de vê-lo passar pelo campus com a camisa polo arrumadinha e calça jeans azul acompanhada de óculos de armação preta, eu sentia que estava prestes a pular em seus braços.
 Eu estava enchendo minha garrafinha no bebedouro do meu andar quando aqueles cabelos dourados passaram voando subindo as escadas para o terceiro andar... ele nunca usava as escadas.
 - Vai com calma, Bolt!
 - Oi? O que... Ai, meu Deus! – ele voltou as escadas, segurando no meu pulso e me arrastando para as escadas com ele – Eu preciso de você, agora!
 - Ei, vai com calma. Você tá derramando toda a minha água, Fletcher.
 Ele respirou fundo, continuando a me arrastar pelo corredor comprido até sua classe. Paramos de frente a porta. Ele respirou fundo novamente e soltou meu pulso, virando em minha direção.
 Tirou da mochila uma prancheta e dela destacou um dos papeis, estendendo para mim.
 - Esse corredor tem nove salas, cada sala com uns trinta alunos, e eu tenho vinte minutos para conseguir que pelo menos metade deles assinem esse lindo papelzinho em branco ou teremos problemas sérios com um professor machista e inescrupuloso, sem medo de processos judiciais. Pode fazer isso por mim?
 A força como ele falava rápido fazia com que sua voz sofresse algumas falhar aqui e ali, além das covinhas persistirem em aparecer na maior parte das palavras que ele falava. Os olhos verde avelã me fitaram, esperando respostas.
 - Eu preciso de dizer uma coisa.
 - Agora? Mas eu...
 - Ashton – o impedi, tinha tomado coragem e não podia voltar atrás -, por favor.
 - Tudo bem, diz.
 - Você lembra de mim?
 Ele riu, confuso.
 - Que tipo de pergunta a essa?
 - Você se lembra da garota na biblioteca? Da garota do bebedouro? Da garota no banquinho de frente ao elevador?
 - Lembro. Lembro-me desde antes disso. – ele umedeceu os lábios – Eu te enxerguei antes que você me enxergasse.
 - Eu era completamente sem jeito perto de você, desviava o olhar, fugia...
 - E me fazia achar que não me suportava por isso.
 - Quando, na verdade, eu tinha um abismo por você.
 O silêncio que se instaurou entre nós dois foi o momento em que encontrei para voltar a olha-lo nos olhos. Ashton estava absorto em mim. E a maneira que ele ficava absorto em qualquer coisa ou me causava confiança ou excitação; eu estava com uma mistura de ambos.
 - Meu coração tá batendo forte, Ash. Minha respiração está alterada e não é por culpa da escada. Minhas mãos estão frias e...
 Senti os dedos longos e ásperos dele segurarem as minhas mãos frias e nervosas, piorando todos os outros sintomas.
 - Acho que um mês é tempo o suficiente para você saber o porquê eu tentei muito te evitar nas férias. – ele sorriu, parecendo sem jeito ao se aproximar e abaixar a voz – Eu te pego as 19 amanhã, tudo bem?
 Assenti, sem saber o que dizer.
 - Posso? – ele murmurou, levando a mão que antes segurava as minhas geladas até minha nuca, apenas encostando a ponta dos dedos contra minha pele.
 Foi singelo e nada demorado, mas foi o ponto alto do meu dia. Os lábios que tanto desejei molhados da água gelada do bebedouro encostaram nos meus, impulsionando-os na medida certa. Minha pele se arrepiou quando ele roçou o nariz propositalmente contra o meu ao separar nossos lábios.
 - Agora só temos dez minutos, melhor correr.

 Muitos devem dizer isso, mas começou completamente inocente. Tive uma queda por alguém que já pertencia a outro alguém, e escolhi não ser o terceiro integrante de um casal. Porém a vida nos quis como conhecidos, a vida nos quis como amigos e a vida nos quis como apaixonados.
 Deus sabe que eu nunca desejei o mal ou a infelicidade de ninguém. Mas acredito erámos em espirito muito antes de se tornar carnal, era só questão de tempo.

FIM



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