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#011 Temporada

Birds
Imagine Dragons




Slow Dance With You

Escrita por Thai Rodrigues | Revisada por Mariana

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  A chuva caía fria do lado de fora e tudo o que queria era tê-la em seus braços para se aquecer. Nem mesmo a lareira crepitando aquecia o pobre coração do jovem, que estava há dias vivendo de cafeína e álcool. Aquela abstinência estava o matando aos poucos e ele sentia seu coração ser esmagado a cada instante.   Toda essa dor tinha nome e sobrenome: Smith.
  A atriz e o cantor mantiveram um relacionamento por longos três anos, cheio de idas e vindas por conta das agendas lotadas e todo o ciúme envolvido. era uma pessoa complicada e mais ainda, ambas as personalidades somadas resultavam em bombas prestes a explodir.
  Durante o período em que estiveram juntos foram alvos de tabloides e especulações sobre traições e términos. Os dois lutaram muito para ficarem juntos e abriram mão de muitas coisas para fazer dar certo. O amor que sentiam um pelo outro era forte e os levou tão longe…
   aprendeu a lidar com a quantidade de homens que precisaria beijar para ganhar dinheiro e ela entendia o assédio das fãs, até mesmo das groupies. Mesmo com pontadas de ciúme em muitos momentos, os dois sabiam que se pertenciam e que aquilo era apenas mais um empecilho.
  Acontece que depois de tanto tempo, o psicológico fica desgastado e as forças vão se esgotando. estava em turnê mundial com os meninos e estava ocupada demais gravando sua série e mais um filme para a coleção. O afastamento era eminente e com todas as luzes voltadas para eles em momentos tão críticos de suas carreiras não foi possível manter um equilíbrio. O rompimento foi certeiro.
  - Você realmente vai continuar bebendo isso? - perguntou, passando os canais distraidamente. Os dois estavam no apartamento de no centro da cidade, vendo o tempo passar.
  - Eu gosto. - Respondeu sem muito ânimo.
  - Você precisa parar com isso, cara. - Se levantou e tomou o copo da mão do amigo, cheirando o conteúdo e fazendo uma careta. - Você sabe que temos um show em uma hora e que precisamos de você no palco, certo?
  - Certo. - Parou de encarar a chuva e puxou seu maço de cigarros do bolso da camisa.
  - , olha pra mim. - o encarou sério, chamando sua atenção. - Eu sei como é doloroso e não consigo imaginar como você deve estar se sentindo. É uma merda perder alguém que a gente ama, mas precisamos ficar bem pra seguir em frente.
  - Hoje é o aniversário dela. - deu um sorriso sem humor, desviando o olhar de .
  - Eu sei. - segurou seu ombro, o apertando de leve. - Eu também sinto falta dela, não tanto quanto você sente, mas você precisa manter sua cabeça no lugar, cara. O que ela diria se te visse nessas condições?
  - Ela não liga mais pra mim, cara. - Ele finalmente puxou e acendeu um cigarro, vendo roubar outro de seu maço e fazer o mesmo.
  - Quem disse? Você virou algum tipo de vidente nas horas vagas e eu não fiquei sabendo?
  - É óbvio. Ela não me ligou ou postou nada triste nesses últimos dias…
  - E para estar triste precisa postar algum storie no Instagram? - riu. - Até parece que não conhece a depois de tanto tempo. Você sabe como ela é dura na queda. Lua em Áries, lembra?
  - Lembro. - sentiu os olhos arderem. - O que eu faço, cara? Eu não aguento mais sentir falta dela. O cabelo dela, a risada dela e até o jeito que ela decorava as falas… - Se pegou sorrindo com as memórias, logo sentindo sua garganta se fechar e uma lágrima escorrer. - Eu amo tanto ela…
  - Então lute por ela.
  - Como?
  - Você precisa me agradecer por amar o Twitter. - Ele puxou o celular, jogando ele no ar e depois guardando novamente no bolso.
  - Como assim? - Ergueu uma sobrancelha, secando as lágrimas como podia.
  - Ouvi dizer que ela viajou às pressas para gravar uma cena especial do filme. - começou a andar de um lado para o outro, com o seguindo com o olhar. - Os boatos são de que essa cena é com Tom Holland, que como todos sabemos é um dos pares românticos da nossa doce deusa romana. - ainda parecia não entender. - Cara. Nada? Você vive em que planeta?
  - Onde quer chegar com isso?
  - Acho que sou o único dessa banda que acompanha a vida dos outros famosos. - Parou de andar, chegando perto do outro. - O Tom está gravando algumas cenas do novo Homem Aranha aqui, em Sydney.
  - Espera... Você quer dizer que a está em Sydney? Tipo agora?
  - Sim. - Sorriu como se tivesse ganho algum tipo de premiação.
  - Ela… Mas ela disse que não queria saber de mim, que estava de cabeça cheia e…
  - É aniversário dela, . Ela está sozinha em um lugar que nós dois sabemos que ela odeia. Por que não fazer uma surpresa?
  - E se eu estragar tudo de novo? - Choramingou, recebendo um abraço reconfortante.
  - Eu vou estar do seu lado pra te apoiar.

-x-

  - Sydney! - gritou, recebendo uma enorme onda de gritos histéricos. Deus! Como ele amava aquilo. - Hoje é uma noite especial para nós. Além de tocar em casa novamente, nós também preparamos uma surpresa para vocês, nossa melhor parte: Nossos fãs. - E mais gritos. - Infelizmente alguns só poderão desfrutar dessa alegria quando chegarem em casa, mas ficam aqui nossa gratidão e amor, por todos esses anos ao nosso lado.
  - Vocês são incríveis! - gritou, arrancando risadas dos outros.
  - E agora, é com um enorme prazer que apresentamos o incrível, o ilustre…
  - Ok, . - deu um sorriso sem graça, arrancando risadas de alguns fãs que não estavam ocupados gritando. As luzes do palco foram se apagando e se posicionou no pedestal ao centro do palco, com um holofote só para ele. - A música que eu vou cantar agora é muito importante para mim, pois me lembra alguém que me faz sorrir. - Ele limpou a garganta, ajeitando a guitarra, tomando coragem. - Feliz aniversário, . - E a plateia foi a loucura. Algum tempo foi necessário até que todos se acalmassem o suficiente para que tocasse os primeiros acordes.

Slow dance with you
I just wanna slow dance with you
I know all the other boys are tough and smooth
And I got the blues
I wanna slow dance with you

  A bateria começou a soar levemente e parecia sentir a música entrando em suas veias. fez a segunda voz e a plateia começou a acender as lanternas dos celulares, deixando o momento ainda mais épico. Evitando as lágrimas, colocou todo o sentimento naquela canção.

I wanna slow dance with you
I just wanna slow dance with you
Why don't you take the chance
I've got the moves
I'd like to prove
I wanna slow dance with you

  Um filme passou em sua mente durante aqueles poucos minutos em que estava cantando. Os sorrisos que deram um para o outro, as risadas e até mesmo as lágrimas de felicidade só Deus sabe por quantos motivos foram… O que importava era que era louco por aquela garota e precisava lutar por ela. Mesmo que no fim da noite recebesse um email com todos os xingamentos possíveis, ele precisava lutar. Sobreviveram a tanta coisa juntos e ainda tinham muito o que viver. Se dependesse de , é claro.

I wanna slow dance with you

  Finalizou com lágrimas nos olhos e, antes que percebesse, o abraçou por trás, o erguendo no ar. veio logo atrás e bagunçou seu cabelo, com um sorriso enorme no rosto. Depois daquele episódio fofo e corajoso, a banda seguiu o show normalmente, ouvindo o nome de ser pronunciado em massa um pouco antes da última música, fazendo dedilhar “parabéns pra você” e depois dar uma risada sapeca, mandando uma piscadela para .
  - Vamos lá, galera. Chegamos ao final e nós precisamos da ajuda de vocês pra cantar mais uma. - começou.
  - Sydney, vocês estão com a gente? - gritou, recebendo outra onda de gritos histéricos. - Entendemos o recado. - E sorrindo, olhou para os meninos a sua frente. - Senhoras e senhores, nós somos a 5 Seconds Of Summer e essa é Youngblood.

-x-

  - Cara, você viu aquilo? Foi surreal! - pegou uma baqueta e começou a batucar na parede, enquanto andavam para o camarim.
  - Eu amo essa cidade. - gritou e arrancou risada de todos, menos de , que apenas deu um meio sorriso.
  - Ei, cara, se anima. - bagunçou seu cabelo. - Você foi incrível com aquela música.
  - Se ela não te quiser depois dessa, eu quero. - grudou em seu pescoço, dando um sorriso enorme.
  - Vai ficar tudo bem, cara. Você vai ver. - começou. - Agora você vai tomar um banho, correr pela cidade atrás de alguma floricultura ainda aberta e pegar sua garota de volta. - Seu sorriso foi desaparecendo assim que olhou para frente, onde alguns fotógrafos os aguardavam para registrar os momentos para o novo DVD. Uma repórter da TV local que faria a entrevista pós show tinha sua atenção em outra coisa no momento.
  - Wow… - começou a falar, vendo algo que poderia ser uma alucinação. finalmente ergueu o olhar e congelou, parando de andar. Sua voz pareceu sumir e seus olhos não acreditavam no que estavam vendo. Seu coração pareceu parar quando recebeu o olhar de volta.
  A jovem estava com um vestido preto colado e usava meias ⅞, sua marca registrada. Para completar, estava usando um cardigan vermelho que apenas realçou o preto de seus cabelos. Quando a repórter percebeu que não tinha mais sua atenção, finalizou a entrevista rapidamente e saiu de perto, indo conversar com o cinegrafista.
  - ! - se pronunciou alegremente, percebendo que ninguém ali parecia acreditar que ela realmente estava ali. - Parabéns, garota!
  - Obrigada, ! - Ela deu aquele sorriso maravilhoso, retribuindo o abraço.
  - Parabéns, . - foi em seguida, a erguendo um pouco. - Que saudade! Como você está? - A colocou no chão depois de gritos de reprovação vindos da garota. Bem humorados, claro.
  - Na mesma correria de sempre. - Ela fingiu não ver que passou por trás dos garotos e entrou no camarim, com uma cara nada boa. - Eu passei uns dias na cidade para alguns compromissos e resolvi vir ver vocês tocarem. Fazia um bom tempo que não acompanhava tudo da plateia. - Deu um meio sorriso, vendo se aproximar.
  - Cadê a minha deusa favorita? - Sorriu e deu um beijo no topo de sua cabeça. - Caramba você está ótima! Tem certeza de que não está tirando férias escondidas?
  - Absoluta! - Riu, ajeitando seu casaco. - O show foi incrível meninos. Vocês arrasaram como sempre. Parabéns! - Disse animada, dando pulinhos com .
  - Você assistiu o show inteiro? - deu de ombros, atento a resposta.
  - Eu cheguei um pouco depois da primeira música começar, mas acho que não perdi muita coisa. - Deu um meio sorriso. - Obrigada pelas felicitações, garotos. Fiquei muito feliz por saber que não estão… Bravos comigo.
  - Bravos com você? Ah, qual é, . A gente te ama e sempre vai te amar. Independente do que aconteça. - a envolveu em seus braços, fazendo a garota se emocionar um pouco.
  - Então.. Temos uma festa daqui a pouco. Nos daria a honra de vossa presença? - fez uma reverência.
  - Fico lisonjeada, mas acho que não seria uma boa ideia. - Limpou a garganta, olhando de relance para porta do camarim. - Eu vim só para matar a saudade de vocês e parabenizar pelo espetáculo que vocês deram. - Passou a mão no cabelo, sem jeito. - Eu preciso voltar pro hotel, o dia foi um pouco cansativo.
  - Ah, qual é... No seu aniversário não vai beber nem uma dose de tequila? O que fizeram com você na Europa? - a mediu.
  - Me desculpe, meninos, mas eu realmente preciso ir. Obrigada novamente. - Apertou as bochechas de .
  - Bom... Já sabe até quando fica em Sydney? - secou uma gota de suor da testa com as costas da mão.
  - Provavelmente os próximos dois dias. Preciso voltar pra Manhattan pra uma coletiva de imprensa e não posso ficar muito. - Deu um sorriso triste.
  - Vamos embora amanhã a noite. O que acha de almoçarmos todos juntos? - sugeriu.
  - Eu não sei… Eu ligo, qualquer coisa. - Passou a mão no queixo, olhando novamente para a porta do camarim e sentindo algo em seu coração apitar. - Bom... Eu vou indo. Foi ótimo rever vocês, meninos. - Sorriu abertamente e se despediu com abraços longos e fortes de cada um, saindo em seguida.
  - Foi só eu ou ela não veio pela gente? - olhou para os demais, vendo que concordavam. - Eu vou matar o .
  - Deixa o cara. - ainda olhava para a porta pela qual saiu. - Está sendo difícil para ele… Ver ela deve ter dado um nó na cabeça, sei lá.
  - Mas ele praticamente disse que amava ela no palco minutos atrás. - questionou, começando a andar na direção do camarim.
  - Talvez ele não estivesse pronto pra encarar ela. - puxou o celular. – Vamos... Temos uma festa pra ir.

-x-

  Já passavam das duas da manhã e, por incrível que pareça, não conseguiu engolir um gole de álcool se quer. Aquele “encontro” mexeu com sua cabeça de uma forma que ele não esperava. Estava pronto sim para admitir que precisava de mais do que tudo em cima de um palco, mas não estava preparado para encará-la novamente. Pelo menos achava que não estava.
  Vê-la nos bastidores foi uma mistura de vergonha, dor e alegria. Ele já sabia que a mensagem chegaria aos ouvidos da garota, essa era a intenção, porém não esperava que fosse tão rápido. Conhecia aquela mulher tão bem quanto a palma de sua mão e sabia que ir cumprimentar os meninos não fora em vão. Talvez aquilo representasse esperança. Talvez aquilo fosse apenas para deixar claro que realmente era o fim. O que poderia fazer? Estava ficando cada vez mais louco.
  - Vai ficar aí sentado ou vai fazer alguma coisa? - se jogou ao seu lado.
  - Como é?
  - Eu te conheço, … - Puxou o celular, vendo o horário. - Sabemos que ela dorme tarde e que ela está hospedada no Lowest Empire. Quarto 332. - o encarava incrédulo. - De nada.

-x-

Two hearts, one valve
Pumpin' the blood, we were the flood
We were the body and
Two lives, one life
Stickin' it out, lettin' you down
Makin' it right

  A canção saia baixa pelos alto falantes do celular de , deixando o inicio da madrugada ainda mais sombrio. Aquela música fazia os osso de Smith vibrarem, dando um certo prazer para a mulher. Amava música, assim como amava atuar, e é por isso que sentia falta de em noites como aquela. O hálito quente do homem próximo a seu pescoço, o grave de sua voz tremendo próximo a sua orelha e sua doce melodia fazendo o coração dela errar as batidas. Aquelas memórias a perturbavam de forma alucinante. Foi só pensar em seu ex que seu cheiro invadiu suas narinas, como se ele realmente estivesse ali. Uma mistura de menta com lavanda. Fraco, porém viciante. Sem querer, deixou uma lágrima cair, assim como a fina garoa lavava a parte de fora da janela, embaçando a imagem de uma Sydney ainda acesa.

Seasons, they will change
Life will make you grow
Dreams will make you cry, cry, cry

   dirigia com cuidado pelas ruas da cidade. O pub que estavam ficava a cerca de 15 minutos do hotel em que estava hospedada, o que deu um certo conforto para o rapaz. A música que a rádio tocava combinava perfeitamente com o momento, porém a melodia fazia sentir seu coração pesar em seu peito.
  Os olhos astutos de , seu cabelo, sua roupa… Tudo que vira mais cedo estava passando como um filme em sua mente. Ele estava elétrico, como se tivesse acabado de tomar uma enorme xícara de café. Precisava daqueles lábios mais do que nunca. Precisava daquele abraço quente mais do que nunca. Aquela mulher… Aquele sorriso…

Everything is temporary
Everything will slide
Love will never die, die, die

   percebeu a garoa cessando e resolveu dar uma volta no quarteirão, para se distrair. Colocou seu tênis e pegou sua fiel jaqueta jeans, saindo do quarto. Não era uma coisa segura sair sozinha por aí, mas não se importava. O clima estava agradável a seu ver e precisava de ar puro. A cidade ainda estava acesa, como se nunca dormisse. A vida noturna de Sydney era a única coisa que agradava a mulher.
  Sentiu a brisa passar por seu rosto e balançar seu cabelo, respirando fundo e sentindo o cheiro de gasolina misturado com o de asfalto molhado. Aquele clima era perfeito.
  Se lembrou de quando foi passar as férias na Austrália com e deu um leve sorriso, começando sua caminhada, tomando cuidado com algumas poças de água. Aquelas férias foram aterrorizantes e ao mesmo tempo maravilhosas. Horrorosas por conta das aranhas gigantes que viu no interior e maravilhosas por passar um tempo a sós com seu amado, matando toda a saudade e se aventurando como podia. Aquilo ficaria marcado em sua mente para sempre.

I know that
Ooh, birds fly in different directions
Ooh, I hope to see you again

  - Como assim ela não está? - passou a mão no cabelo nervosamente soltando o ar pesadamente.
  - Me desculpe, senhor. Ela acabou de sair. - A jovem atendente disse um pouco assustada pela reação do homem a sua frente. - Não faz nem cinco minutos.
  - E ela não disse para onde ia?
  - Não. Ela apenas me deu boa noite e saiu pela porta. - Deu um leve sorriso, engolindo em seco.
  - Tudo bem, obrigado. - Esboçou um sorriso, mas não queria sorrir. Saiu como um raio pela porta do hotel e desceu as escadas correndo, olhando para os lados a procura de , mas nada. Entrou em seu carro e puxou o celular, discando o número de .
  - E aí, cara? - A voz do homem soou do outro lado da linha.
  - Ela não está no hotel, cara. - bateu a porta do carro e acelerou, mesmo sabendo que era imprudente usar o telefone ao volante. - Ela não vai me atender. Consegue falar com ela?
  - Quer que eu ligue pra ela? - bocejou. - Tudo bem. Te retorno daqui a pouco.
  - Eu agradeço… - ia desligar, mas foi interrompido por .
  - ! - Falou mais alto. - Boa sorte, cara. Eu sei que vai dar tudo certo.
  - Obrigado, . - Deu um meio sorriso, desviando o olhar da rua para finalizar a chamada. Foram esses preciosos segundos que não permitiram que visse o carro desgovernado vindo em sua direção. Por sorte, seus reflexos eram bons e ao levantar o olhar, desviou o volante bruscamente, invadindo uma parte da calçada, mas toda essa manobra não foi suficiente para que seu carro saísse ileso. O outro veículo atingiu a parte traseira do carro de . Não foi uma batida forte, mas fez um estrondo enorme.

When the moon is lookin' down
Shine that light up for your ground
I'm flyin' up to let you see
That the shadow cast is me

  Mesmo com o fone de ouvido, ouviu o estrondo forte atrás de si. Virou com o coração acelerado e viu a origem do barulho: uma colisão entre dois carros. Mesmo não parecendo ser algo sério, se aproximou para prestar ajuda. A chuva foi aumentando e ela colocou o capuz de sua jaqueta, enxergando com um pouco de dificuldade. Viu a silhueta dos dois envolvidos se aproximando um do outro e ambos pareciam conversar calmamente, o que confortou . Se tinha uma coisa que odiava, era ver outras pessoas brigarem. Conforme ia se aproximando, foi possível ouvir o diálogo entre os dois, o que fez seu coração errar uma batida. Aquela voz…
  - Vocês estão bem? - Tirou o capuz, perguntando preocupada.
  - ? - jogou o cabelo para trás, em vão. A chuva só aumentava.
  - … - Ela sentiu sua voz sair baixa. - Você... Vocês... O que aconteceu? - Se forçou a desviar o olhar para o outro homem, sentindo que ainda a encarava.
  - Está sim, senhorita. - O homem usava óculos redondos e tinha um bigode grosso. - Meu carro escorregou na pista e se esse jovem não tivesse sido rápido, talvez a batida tivesse sido pior.
  - Você se machucou? - Perguntou ao homem, vendo sua cara de assustado olhando para os dois carros.
  - Não... Eu estou bem. - Ele olhou para . - Você está bem, meu jovem?
  - Estou. - Ele disse rapidamente, parecendo voltar a consciência. - Eu vou ligar para um amigo meu, ele pode nos ajudar.
  - Não devia ligar para o seguro? - tirou o cabelo do rosto.
  - Eu sei o que estou fazendo. - olhou para ela de relance, puxando o celular do bolso.
  - Você sempre sabe. - Ela colocou as mãos nos bolsos da jaqueta.
  - Me desculpe, mas vocês se conhecem? - O outro homem perguntou, apontando de um para o outro.
  - É, a gente… A gente…
  - Somos velhos amigos. - interrompeu , sorrindo para o homem. - Você tem para quem ligar? Um seguro ou algum familiar? Se quiser pode usar meu celular. - Desconectou seu fone e estendeu o aparelho para o homem.
  - Muito obrigado, minha jovem. Vou pegar minha agenda no carro. - E se retirou, entrando no veículo.
  - O que está fazendo aqui, ? - Se aproximou do homem, que ergueu a mão pedindo um minuto.
  - , preciso da sua ajuda aqui, cara. - parou de prestar atenção no que ele falava, observando os dois carros. O carro mais danificado foi o do outro homem, que teve o para-choque todo amassado. teve sorte de o impacto ter atingido apenas a lateral. - está vindo. - Ele tirou a garota de seus pensamentos, a encarando nos olhos. - Eu vim atrás de você.
  - Como é? - Ela ergueu uma sobrancelha. - Como sabia onde eu… ! - Se interrompeu, ao perceber a proeza que o amigo fez. - O que você quer?
  - Eu quero me desculpar por ser um idiota. - Começou, sentindo seu coração acelerar. - Eu quero me desculpar por todas as besteiras que disse na nossa última conversa e ainda mais por ser um idiota e não ter nem olhado na sua cara depois daquela música estúpida hoje…
  - Não foi uma música estúpida, .
  - Claro que foi! Você nem gosta daquele desenho… - Ele deu uma risada sem graça.
  - Mas eu amo sua voz. - Deixou escapar, olhando para aqueles olhos que se iluminaram. - E aquela versão ficou linda na sua voz. - Sentiu sua garganta fechar. - Eu também tenho que me desculpar pelas besteiras que eu disse. Eu não devia ter desistido tão fácil da gente. A gente sempre deu um jeito e eu não acho que a gente pode desistir tão fácil do que faz parte da nossa felicidade.
  - Eu nunca devia ter te deixado sair por aquela porta… - Se aproximou um pouco mais, ignorando os pingos pesados que caiam do céu. - Você me faz feliz e eu preciso de você. Eu quero você e eu estou disposto a continuar lutando por nós.
  - Mas e se a gente se machucar de novo? Eu amo estar com você, mas às vezes as coisas simplesmente não são para acontecer. - Sentiu uma gota quente escorrer por seu rosto. Assim como , ela também estava chorando. - Ficar sem você esses últimos tempos foi horrível, mas eu ainda tenho medo.
  - Nós sempre fizemos tudo ficar bem. - Segurou o rosto dela com as duas mãos, deixando o coração falar. - Você é o amor da minha vida e eu não estou disposto a te deixar ir de novo. Se você me aceitar de volta, é claro…
  - Eu te amo, . - E quebrou a distância entre os dois, iniciando um beijo calmo.
  - Espera. - quebrou o beijo bruscamente. - Você realmente gostou da música?
  - Claro que gostei. Quando me disse…
  - Espera.. ?
  - Como você acha que eu entrei no show hoje? - Ela deu uma risada baixa, vendo a cara de indignação dele. - Ele me ligou desesperado meia hora antes me implorando pra ir porque estava com saudade de mim e essas coisas. Quando você começou seu discurso eu entendi o motivo da euforia.
  - Eu poderia matar ele, mas ele foi um gênio. - deu uma risada. - E onde você estava?
  - No hotel. Eu estava comprando minhas passagens de volta pra hoje a noite, mas elas estavam esgotadas.
  - Às vezes o destino também ajuda. - E retomou o beijo.

  Os dois perderam a noção do tempo entre beijos, abraços e lágrimas. Se esqueceram completamente do carro e do outro homem que provavelmente os observava. Só se soltaram quando ouviram uma alta buzina bem perto.
  - Eu sabia! - A voz de ecoou na noite silenciosa.
  - O que foi que eu disse? - saiu do lado do passageiro, segurando uma garrafa de whisky.
  - Vocês ficam tão lindos juntos. - desceu do carro, tirando uma foto do casal antes mesmo de fechar a porta. - Finalmente vou poder dormir sem acordar com um certo alguém chorando.
  - … - o repreendeu.
  - Você chorou? - apertou a bochecha de um envergonhado.
  - Ér.. Senhorita? - O homem a chamou delicadamente e só então se lembraram do pobre coitado. - Aqui está o aparelho. Meu filho está chegando. Muito obrigado. - Entregou a , que sorriu.
  - O senhor está bem mesmo?
  - Estou ótimo. Ainda mais como uma dose de amor juvenil para melhorar a noite. - Ele abriu um sorriso enorme. - Não os conheço, mas sei que serão muito felizes juntos.
  - Muito obrigado - sorriu, vendo o homem se encostar na lateral de seu carro, olhando nervosamente para o fim da rua.
  - Bom.. Agora que você não tem mais motivos para beber, essa garrafa é só minha. - virou o conteúdo em sua boca.
  - Você estava bebendo? - deu um tapa no braço do namorado.
  - E fumando. - completou, sorrindo ao ver os dois juntos novamente.
  - O quê?! - Olhou incrédula para , que desviou o olhar.
  - Muito obrigado, . - Murmurou e recebeu uma piscada de volta.
  - Como assim vocês não cuidaram dele? você prometeu!
  - Ele prometeu? - a abraçou pela cintura.
  - Galera.. Será que podemos sair da chuva? Temos um show em dois dias e não posso estar gripado. - deixou a garrafa de lado, encarando os outros.
  - Tudo bem, estrela do show, entra no carro. - jogou a chave. - Esses dois ainda tem muito o que conversar.
  - Conversar.. - deu uma risada maliciosa, deixando vermelha.
  - Cala a boca, . - mostrou o dedo do meio.

  Depois da cena, o casal esperou o filho do rapaz chegar e levar o carro embora. prometeu que na manhã seguinte cuidaria de tudo e que o homem não precisaria se preocupar. Feito isso, os dois seguiram para o Lowest Empire, onde aproveitaram o restante de madrugada que ainda tinham.

  Na manhã seguinte ao ocorrido, foi a primeira a acordar e se encaminhou para a janela, observando o céu limpo revelar o sol. Mal dormira na noite anterior, entre conversas e amassos com , mas não se sentia cansada. Pela primeira vez em semanas se levantou da cama sem um peso nas costas. Se sentia revigorada.
  - Uma música por seus pensamentos. - Sentiu a abraçar por trás, depositando um beijo na curva de seu pescoço.
  - Eu só estava pensando em como somos privilegiados por termos um ao outro. - Ela passou a mão no cabelo bagunçado de , ainda observando o céu.
  - Feliz aniversário, minha Afrodite. - Ele deu uma mordida no ombro despido da mulher.
  - Obrigada, meu Ares. - Sorriu com a brincadeira, se virando para ele e aproximando tanto seus lábios a ponto de quase se tocarem, sussurrando. - Eu te amo.
  - Eu também te amo.

FIM