Sleepless Night

Escrito por Gabs | Revisado por Francielle

Tamanho da fonte: |


  ’s P.O.V

  E lá estava eu de novo: deitada na cama, às 2h30 da madrugada, conversando com as A.R.M.Ys pelo twitter. Fazia apenas quatro meses que o BTS tinha debutado e até que tinha sido fácil pra mim me tornar amiga das meninas do fandom. Ok, o começo não foi as mil maravilhas. É lógico que ia surgir um certo ciúme, afinal, uma manager mulher? Se bem que prefiro pensar mais em mim mesma como uma menina, mas isso não vem ao caso.
  A maioria dos managers de boyband é homem. Talvez a razão seja justamente essa, não sei. O que importa é que eu tinha tido a brilhante ideia de usar o tal tempo que passava junto dos meninos para trazer para elas o que eu tinha a chance de presenciar. Como? Tirando fotos e fazendo vídeos, ora.
  Os membros foram bastante compreensivos quanto a isso, e até me ajudavam fazendo uma pose legal ou mandando alguma mensagem para as fãs. Às vezes, me sinto mais como uma paparazzi do que como uma manager, mas acaba sempre sendo divertido no final. Até porque, o que não é divertido com o BTS? Eu tinha descoberto rápido o dom que eles têm de tornar as coisas comuns do cotidiano, que fazemos quase no automático, em algo engraçado. Esse, definitivamente, é um dos motivos de eu amar meu trabalho. É claro que também dou o maior duro; ralo bastante pra cuidar direitinho da carreira deles. Mas vamos voltar à história do twitter.
  As A.R.M.Ys estavam me pedindo uma filmagem dos meninos dormindo. Na verdade, estavam me cobrando. Ia fazer duas semanas que eu tinha prometido e ainda não tinha cumprido. E, oh, fangirls não deixam nada passar. Era melhor gravar logo e ficar livre, antes que as cobranças virassem ameaças. Vai saber, né? Enfim. Desci da cama, calcei minhas pantufas de unicórnio, coloquei o celular em cima da mesinha do lado da cama e fui em direção ao espelho. Eu usava apenas um casaco cinza-escuro com o desenho de um coelho na frente e uma calça de moletom no mesmo tom.
  Não me julgue: a maturidade demora a chegar para algumas pessoas. Nem preciso dizer que me considero uma delas. Fiz um coque para ajeitar a bagunça que estava meu cabelo. Em seguida, fui à sala e me abaixei para pegar uma câmera que gravasse no escuro, na última gaveta da estante. Saí de casa e quase corri de volta para cama. Estava especialmente frio naquela noite.
  Os meninos moram um andar acima do meu no prédio. Olhei para o elevador e todos os filmes de terror possíveis passaram pela minha cabeça. Então, olhei para escada. Na melhor das hipóteses, poderia sair correndo e alguém ainda escutaria meus gritos. Sendo assim, escolhi-a. Enquanto subia os degraus, concluí que aquela não era a forma certa de agradar as fãs. É claro que uma vez ou outra não custava nada, mas estava se tornando um vício. Tudo que elas pediam, eu obedecia. E quando estivesse ocupada demais para fazer isso, o que será que diriam? Certamente, continuar com aquilo não resultaria numa relação saudável. Se queria ser amiga delas, então teriam que gostar de mim, e não do que eu poderia fazer. Mas pensaria nisso depois; tinha prometido e iria cumprir.
  A chave reserva estava no lugar mais previsível possível. Sim, embaixo do tapete. Abri a porta bem devagar. Tentei checar por uma fresta se tinha alguém acordado, mas como todas as luzes estavam desligadas, entrei. Liguei a câmera e fui me guiando através da tela até chegar ao quarto. Felizmente, a porta estava aberta e eu não iria ter que correr o risco de fazer barulho e acordá-los.

  Suga’s P.O.V.

  ? O que diabos ela estava fazendo aqui? Não, não era possível. Devia ser só mais um dos meus sonhos mesmo. Espera. Aquilo ali é uma câmera? Não me diga que ela está filmando o Rap Mon dormindo. Bom, pelo menos, é o que parece... Oh, mas é claro que está, e só existe uma resposta plausível pra isso: A.R.M.Ys. É óbvio. Ela deve estar em mais uma das suas incontáveis missões. O que elas queriam daquela vez? Ver-nos dormindo? Fofas. Porém, bastante exigentes. E pensar que mesmo assim a  tinha vindo... Será que ela não percebia que aquilo estava virando uma exploração? Suspirei.
  Coitada. Sempre se preocupando em agradá-las. Na verdade, eu não a culpava por isso. Devia ser mesmo uma situação difícil, e ela só estava tentando facilitar o próprio trabalho. Droga. Havia encontrado mais um motivo para gostar dela, como se já não bastassem todos os outros com que eu era obrigado a lidar.
  Agora, ela estava filmando o J-Hope e parecia se divertir com a expressão dele – ou o que quer que fosse. Enquanto se afastava e partia pro JungKook, ela sorriu. Estava escuro, mas eu pude ver bem graças a iluminação da telinha da câmera refletindo no rosto dela. Linda. Como sempre. Depois de filmá-lo, ela puxou com a mão livre o cobertor que ele havia afastado e o cobriu. Não pude evitar dar um sorriso também.  estava sempre preocupada com todos, mas tinha uma atenção especial quando se tratava do nosso maknae. Certa vez, quando a questionei sobre isso, ela me respondeu: “é o meu bebê”.
  Analisei minha posição em relação ao quarto: minha cama ficava na parede oposta à porta, do lado esquerdo. O que significava que eu seria o último a ser filmado. Fechei os olhos e fingi estar dormindo, rezando para que eu acertasse a hora em que ela se aproximasse.

  ’s P.O.V.

  Céus! Como o V conseguia dormir daquele jeito? Ele estava todo torto! De alguma forma, ainda parecia que estava tendo um ótimo sono. Desejei colocá-lo numa posição mais agradável, mas e se ele acordasse? Só me restava torcer para que não estivesse com torcicolo quando amanhecesse. Lancei-lhe um último olhar apreensivo, mas então lembrei que era do V que estava falando, e nada vindo dele podia ser normal. Ou melhor, ele era normal à sua maneira.
  Jimin era o que parecia estar dormindo mais profundamente. Ele e o J-Hope, aliás. Quer dizer que em algum momento aquelas duas criaturas hiperativas realmente descansavam? Era quase difícil de acreditar. Prendi um riso na garganta. Ele dormia com a boca entreaberta. Arrisquei um leve empurrão com o polegar em seu queixo, e ele a fechou. Oh, meu Deus, tão fofo. Nem parecia o machão que era quando estava acordado. É claro que eu nunca diria isso a ele. Sem chances.
  Ah, o Jin. Como podia ser tão bonito até enquanto dormia? Certamente as A.R.M.Ys falariam isso também, nos comentários. E dos lábios, é claro; se é que paravam de falar sobre. Pensando nisso, aproximei a lente da sua boca e recuei. Oh, elas bem mereciam que eu as provocasse. Afastei-me, mas continuei olhando-o. Era mesmo um anjo. Em todos os sentidos. Dei um sorriso, concluindo que o mundo precisava de mais pessoas feito o Jin.
  E, finalmente, o Suga. Mesmo que a cama dele não fosse a mais afastada, eu provavelmente teria deixado-o por último. Por que? Boa pergunta. Não faço a mínima ideia. Meu coração começou a acelerar. Droga. De novo essa viadagem, ? Será possível? Já havia reparado como ele se descompassava sempre que o encontrava, só não conseguia entender o porquê. Afinal, era só o Suga. Só um dos meus sete adoráveis meninos. Tudo bem que nós tínhamos nos tornado bastante amigos. Na verdade, ele parecia ser o mais próximo de mim do grupo, mesmo que os membros me procurassem pra tudo. Eu não sei explicar, mas com o Suga era diferente... Ah, inferno! Por que não podia ser como os outros? Nós éramos uma família! Só isso. Apenas isso. Fim. Então por que aquilo me incomodava tanto? Por que ficava martelando a minha cabeça dia e noite?
  Respirei fundo e me aproximei. Apoiei a mão livre na beirada do colchão, enquanto inclinava o corpo para mais perto e focava em seu rosto com a câmera. Deus, com certeza, abençoou a noite em que fizeram o Suga; ele era absurdamente lindo. Os batimentos acelerados do meu coração idiota ressoavam alto em meus ouvidos agora, como se estivessem falando alguma coisa que eu não entendia. Alguma coisa que eu me recusava a entender. Respirei fundo novamente, tentando me concentrar na filmagem... Tudo nele era tão perfeito. O cabelo, o formato dos olhos, do nariz... Da boca. Já mencionei o quanto amo a voz dele? Ou como ele fica mais bonito ainda quando sorri? Se não, está dito agora.
  Admirei-o por mais algum tempo. Iria ter que retirar aqueles segundos excedentes da gravação, quando estivesse editando o vídeo. Olhei para o temporizador na telinha. Segundos? Já haviam se passado bons minutos! Chega, , já deu. Missão cumprida... Suspirei. Por que diabos eu simplesmente não ia embora? Por que não queria ir embora?
  De repente, senti uma vontade louca de acariciar seu rosto. Era o sinal de que estava mais do que na hora de ir embora agora, de que eu precisava ir embora. Retirei minha mão do colchão, mas antes que pudesse endireitar a postura, Suga levantou seu tronco e enlaçou minhas costas com seus braços, puxando-me para ele.
  E lá estava eu: deitada parcialmente sobre Suga, parcialmente sobre a cama. No começo, não consegui pensar em absolutamente nada; mas quando por fim voltei à realidade, desliguei a câmera apressadamente. Sim. De todas as coisas que poderia ter feito, fiz a mais inútil de todas. Que diferença faria se estivesse ligada, depois eu não iria editar o vídeo mesmo? E de que importava eu estar pensando nisso agora, quando um Suga adormecido me abraçava contra o peito dele?
  Oh. Meu. Deus. Aquilo não podia estar acontecendo. Em um segundo estava indo embora, no outro estava presa nos braços do rapper. Malditas sejam todas as A.R.M.Ys, no que que eu havia me metido? Felizmente, Suga ainda parecia estar dormindo. Ele devia estar sonhando com alguém e sentiu minha presença, por isso me puxou. Comecei a inspirar e expirar lentamente; primeiro, para não acordá-lo — se é que seria possível sair dali sem que ele despertasse; segundo, numa tentativa inútil de manter a calma.
  Minha cabeça estava exatamente sobre o seu peito, e eu podia sentir sua respiração quente e regular próxima ao meu rosto. Fechei os olhos por um momento, apenas apreciando aquela sensação maravilhosa que se espalhava pelo meu corpo. Uma mistura de paz com... Felicidade? Não sei; mas era muito, muito, muito boa. Benditas sejam todas as A.R.M.Ys.
  Eu só podia estar ficando louca mesmo. Aquilo lá era hora de ficar pensando em bem-estar, em mimimi, e não sei mais o quê? NÃO! Precisava me levantar, e teria que ser bem devagar. Com isso em mente, apoiei minha mão livre sobre o colchão e tentei fazer força com a que segurava a câmera; já me impulsionando com a maior delicadeza possível para sair dali.
  Foi quando ouvi um “shhhhh”, e braços me puxaram de volta para baixo. Droga! Ia ser mais difícil do que eu pensava. Espera aí, o Suga sussurrou um “shhhhh”? Aquele barulho que fazemos quando tentamos acalmar uma pessoa? Movi minha cabeça lentamente, de modo que pudesse encará-lo. Seus olhos continuavam fechados, o que significava que eu não podia estar ficando louca, já estava. Bem, não importava, iria sair dali agora a todo custo e estaria atenta caso ele tentasse me puxar de volta; seria só não ceder a sua força e me desvencilhar dos seus braços. E se ele acordasse? Bom, não era como se eu tivesse alternativa. Apoiei minhas mãos de novo, preparando um novo impulso. Dessa vez, ouvi claramente no meu ouvido, embora tivesse sido apenas um sussurro: “por favor, ”.

  Suga’s P.O.V.

  Na mesma hora, o corpo dela ficou completamente tenso. Merda. O que eu estava fazendo? Tinha nada que pensar alto justamente agora! Ok, ok, não tinha simplesmente pensado alto. Eu queria dizer aquilo, só não tinha coragem. Quer dizer, aparentemente eu tinha, ou tive. Ah, sei lá! Excelente momento pro meu coração virar uma escola de samba também, que beleza! As coisas sempre dão um jeito de piorar pra mim, é incrível!
  Oh, Deus! O que eu diria para ela de manhã, quando me perguntasse sobre isso? Que mentira inventaria? A verdade estava totalmente fora de cogitação, a não ser que eu quisesse afastá-la de vez. Será que pediria para ser manager de outro grupo, se soubesse que eu a amava? Os membros iriam me odiar pelo resto da vida deles, caso descobrissem que o motivo havia sido eu, e isso já seria suficientemente ruim, mas... Será que ela me odiaria? Um medo horrível tomou conta da minha mente, e eu só conseguia pensar "não me odeie, não me odeie, não me odeie".
  Meu mantra foi quebrado por uma  que, timidamente, se aninhava no meu peito. Oh, Deus estava olhando para mim naquele momento, tinha certeza; e não perderia essa chance por nada nesse mundo. Subi uma de minhas mãos até sua nuca, exposta graças a um coque, e entrelacei meus dedos em seus cabelos. Com a outra, eu a apertei mais contra mim. E assim ficamos.
  Nada. Absolutamente nada que eu já havia sentido por outras garotas podia ser comparado aquele sentimento. Era algo totalmente novo pra mim. Algo que não me permitia ter certeza se aquilo estava mesmo acontecendo ou se era apenas um sonho. Queria subir no prédio mais alto de Seul e gritar pra todo mundo ouvir que eu a amava e não iria abrir mão disso. Da mesma forma, não queria me mexer um milímetro sequer, com medo de estragar tudo. Ainda assim, depositei um beijo suave no topo da sua cabeça, e pude sentir um sorriso se formando em seu rosto. Tão única.  enroscou os dedos de uma das mãos na manga da minha camisa, dando um leve aperto no meu braço. Agora era eu quem sorria.
  Então, Rap Mon fez o favor de se mexer. Nem preciso dizer que ela se sobressaltou no mesmo instante, levantando-se o suficiente para que pudesse ver sua cama, embora minha mão ainda estivesse em sua nuca. Quando teve certeza de que ele havia adormecido novamente, virou o olhar para mim. Eu já podia ver um pouco do seu rosto pois, a janela ficava bem acima de nós, e os primeiros raios da manhã estavam começando a surgir. Quase nada, mas era suficiente. Seu olhar assustado, aos poucos, foi voltando a ser o que era. Na verdade, havia um brilho diferente neles. É. Havia, sim.
  Atrevo-me a dizer que reparamos na mesma hora a distância minúscula a que estavam nossos rostos. Meu coração voltou a apostar corrida com o J-Horse e, antes que meu cérebro pudesse raciocinar um motivo para eu não fazer aquilo, beijei-a.
  Seus lábios eram mais macios do que aqueles que eu imaginava quando sonhava com esse momento. Era um beijo lento, tímido, mas cheio de desejo. A sensação era de que não estávamos mais ali, e sim em outro lugar. Um mundo só nosso. Um mundo que parecia que esteve sempre ali, pronto, esperando por nós. Um mundo em que eu poderia ser só o Min Yoongi de novo. Um mundo em que nós não precisávamos nos preocupar com nossas profissões, porque nada daquilo importava. Só existia ela e eu.

  ’s P.O.V.

  Aos poucos, fomos nos tornando mais confiantes e aprofundamos o beijo. Meu corpo inteiro queimava, mas de uma forma boa. Pela primeira vez desde que tinha saído de casa, larguei a câmera, colocando ambas as mãos em sua nuca. Senti sua pele arrepiar com o toque, e ele me apertou mais contra si. Pensaria nas consequências daquilo depois. Por hora, só queria aproveitar o máximo possível. Eu tinha o Suga. E, sim, ele me tinha também.
  Desejei verdadeiramente que aquilo não acabasse nunca, mas como tudo que é bom dura pouco, Rap Mon mexeu-se mais uma vez. Era ariscado demais continuar. Parti o beijo e indiquei o líder com a cabeça. Suga fez uma cara de dor, e eu tive que sorrir. Ele mudou para um biquinho, aí foi a minha vez de fazer cara de dor. Trocamos mais um beijo rápido e me levantei. Peguei a câmera, e ele tentou me acompanhar até em casa, mas não deixei. Nós dois teríamos muito o que fazer dentro de algumas horas e precisávamos descansar - ele, principalmente, já que teria que praticar as coreografias. Suga segurou minha mão, ainda relutante, mas acabou me deixando ir.
  Quando entrei em casa, concluí que não havia mais como negar o que o meu coração vivia dizendo a maior parte do tempo. Eu amava o Suga, mas daquilo eu sempre soube; desde o dia em que o conheci pessoalmente. O que eu não sabia, era que o amava tanto.

FIM



Comentários da autora