Sleeping With The Light On

Escrito por Tize | Revisado por Pepper

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  Lee Minhyuk suspirava, olhando parte do início da asa do avião pela janelinha ao lado de seu assento. Era na primeira classe, mas ele ainda se sentia desconfortável. A noite cortava o céu e todos os outros passageiros dormiam. Apenas ele continuava acordado, com a lâmpada individual acesa. Ela deveria deixá-lo dormir, porém o resto da escuridão do ambiente incomodava-o.
  – Senhor, – a aeromoça chamou. – deseja que a luz seja desligada?
  Minhyuk observou-a atentamente. Era mais uma daquelas belas mulheres esguias e bem maquiadas, com vozes suaves e rostos gentis.
  – Não. Eu prefiro deixá-la assim mesmo, obrigado. – ele respondeu dando um sorriso cansado.
  A aeromoça sorriu de volta antes de sair. Ela podia ser bonita, mas não tinha covinhas. Isso realmente era uma pena. Ele gostava de covinhas...
  Inconscientemente, ele levou a mão ao bolso da calça, de onde tirou o celular. Desbloqueou-o, revelando o wallpaper de uma moça sorridente e tímida. Ela também não tinha covinhas como ele preferia, mas continuava a tirar-lhe do sério.
  – ... – ele murmurou bloqueando o celular para não ter que olhar aquela imagem mais uma vez.
  Fechou os olhos, tentando dormir. E ele realmente quase conseguiu isso...

  Era inverno, por isso a noite estava mais escura e longa do que as normais. A lareira, no canto da sala, era sua única fonte de luz. Minhyuk estava estirado no tapete, rodeado de almofadas, e usava um sweater de lã azul marinho enquanto se cobria com uma manta quentinha.
  – Yah! – de repente ele a ouviu exclamar. – Vai ficar nessa moleza toda mesmo?
  Ele ergue os olhos, encontrando-a parada no batente da porta segurando suas canecas fumegantes. Aquele sorriso deslumbrante em seus lábios, faziam seus olhos brilharem como duas pequenas estrelas.
  – O que é isso? – ele indagou se sentando quando percebeu que ela começava a se aproximar.
  – Chocolate quente! – ela disse sorrindo e entregando-lhe uma das canecas.
  Minhyuk olhou desconfiado para o conteúdo de seu recipiente, mas acabou bebendo-o depois de levar um chute numa das canelas.
  – Então? O que achou? – ela perguntou observando-o ansiosa.
  Ele fez uma careta, querendo torturá-la ao máximo.
  – É...
  – É...? – ela repetiu ansiosa.
  – Ficaria melhor com você mais perto. – ele disse corando levemente, fazendo a garota rir nervosa, muito vermelha.

  – B-Bomb! Yah! Minhyuk! – alguém gritava em seu ouvido.
  – O quê?! – ele perguntou confuso e assustado, olhando ao redor preocupado.
  – Já faz meia hora que estamos tentando te acordar! – Zico disse franzindo o cenho. – Você está bem?
  – Sim. Eu estou bem. – Minhyuk respondeu, soltando um longo suspiro.
  Zico, assim como todos os outros membros do Block B, sabia de sua condição nos últimos meses e tentava de tudo para ajudá-lo – embora todos eles tenham desistido de obter resultados nas primeiras cinco semanas.
  – Você tem certeza de que quer fazer isso? – Zico perguntou em um tom mais baixo, como se estivesse contando um segredo a ele.
  – Eu já cheguei até aqui. O que mais falta?
  – A parte difícil.
  Achá-la e resolver tudo. Minhyuk suspirou, fechando os olhos por alguns instantes. Era inverno e a cidade estava tomada por aquela áurea branca. Um clima parecido com o da última vez que a viu. Ela deveria estar em algum café àquela hora do dia, acompanhada de sua melhor amiga.
  E por mais que ele tentasse entender o que se passava pela cabeça dela, Minhyuk não sabia dizer se estava feliz. Porque tudo começou quando ela decidira ir embora. Se ela quisera isso, então deveria já está conformada e seguindo em frente.
  Mas ele não estava na mesma situação. Não poderia estar. era sua luz. Sem ela seu mundo não passava de uma completa escuridão. Por isso ele dormia todas as noites com a luz acesa. Porque sem ela ao seu lado, a escuridão ficava mais profunda e ameaçadora.
  – Consegui o endereço. – Kyung apareceu estendendo um papel a Minhyuk.
  Eles já estavam instalados no hotel que seria sua casa pelos próximos dias. B-Bomb estava muito cansado por causa da viagem e pensamentos embaralhados, por isso entrara num dos primeiros quartos e não saíra dali, apenas aguardando a hora de ter que enfrentar seus problemas.
  – O endereço...? – ele repetiu confuso e Kyung assentiu dando um de seus sorrisos que fazia sua cara ficar um pouco amassada.
  O mais velho encarou o papel com o cenho franzido. Ele queria perguntar como o “Cabeça de Pepino” conseguira aquilo, mas a ansiedade e preocupação estavam focadas no que ele precisava fazer agora.
  – Boa sorte. – U-Kwon sussurrou, aparecendo ao seu lado e colocando um das mãos em seu ombro.
  B-Bomb assentiu, suspirando e olhando para o céu. Era meio da tarde, mas as nuvens cinzas de chuva faziam tudo ficar mais escuro. Ele teria que procurar a luz de qualquer jeito, não?

   sentiu um arrepiou percorrer-lhe o corpo assim que pôs os pés para fora de casa naquela manhã. Era como se o dia quisesse avisá-la. Mas ela não queria ouvir. Sabia que aquele tipo de coisa não poderia acontecer. Minhyuk havia aceitado sua partida, ele não deveria nem mais pensar em sua existência.
  Então, por que continuava a sentir aquele tipo de sensação? A de que ele a qualquer dia apareceria em sua frente, arruinando tudo o que ela havia construído depois de tanto desapontamento e desespero? Provavelmente era paranóia.
  Não. É o que você deseja.
  De verdade, ela não queria que sua consciência continuasse a sussurrar essas palavras. Se continuasse assim, acabaria se tornando uma verdade.
  – Você não parece bem hoje. – sua amiga dissera quando se encontraram num café, como de costume.
  Ela não quis responder. Sabia que se o fizesse, acabaria mentindo, e de mentiras ela já estava farta. Quando voltou para casa, no meio da tarde, ao encostar na maçaneta, sentiu novamente aquele arrepio. Dessa vez, bem mais forte e duradouro.
  – . – era aquela voz grave, levemente rouca e inconfundível dele.
  – Não... – ela murmurou baixo de mais para que mais alguém ouvisse além de si.
  Virou lentamente a cabeça, até enxergá-lo. Ele estava parado a poucos metros, usando um sobretudo preto, calças escuras e, ela podia imaginar, um sweater, daqueles que sempre o deixava fofo. O cabelo castanho e curto dele tinha um pequeno topete e os olhos dele eram tristes, mas brilhantes. Como se ele acabasse de enxergar uma fagulha de fogo no meio do frio.
  – Oi. – ele disse.
   ficou de frente a ele, completamente desconcertada. Não sabia o que pensar... Aquela sensação estava mesmo certa, durante todo esse tempo? Encaram-se olho a olho, os dele marejados e os dela incrédulos.
  – O que você está fazendo aqui? – indagou.
  – Vim te ver. – ele respondeu sincero.
  – Por quê? – ela sentia vontade de gritar, mas precisava se controlar.
  – Porque eu te amo.
  Oh, claro. Ele sempre dizia isso nos momentos críticos, mas nunca quando realmente deveria dizê-lo. riu pelo nariz, como se estivesse querendo ser irônica. Estava cansada daquele jeito só dele.
  – Eu sabia que um dia isso iria acabar acontecendo... – ela sussurrou, mais para si mesma.
  – Precisamos conversar. – ele disse quase desesperado.
  – Nós não precisamos conversar, oppa. – ela rebateu, irritada, dando uma ênfase na última palavra.
  Minhyuk arregalou os olhos. Ela nunca o chamara assim, embora ele sempre a pedisse para fazê-lo. Imaginava que quando isso acontecesse, seria como um daqueles sons angelicais, doces e prazerosos. Mas era completamente o contrário agora. Na verdade, estava sendo uma canalização do desprezo e ódio... Ela o odiava...
  – , por favor. – ele continuou, dando um passo a frente, hesitante. – Eu preciso conversar contigo, preciso esclarecer algumas coisas, eu... Eu não quero mais continuar no escuro.
  Ele deu mais um passo, encarando-a e implorando com os olhos.
  – O que você sabe sobre a escuridão? – ela perguntou, olhando para baixo.
  – O que você pode saber sobre o que não enxerga? – ele replicou, quase conseguindo sorrir.
   olhou-o brevemente e suspirou.
  – Você não vai me deixar em paz...
  – Não. – ele disse como se quisesse confirmar a retórica.
  Ela assentiu e abriu a porta, convidando-o para entrar. Sentaram-se à mesa da cozinha. Ele a observando enquanto preparava os chás de ambos. Era quase como na época em que ela fazia chocolate quente...
  – Por que está com essa cara de bobão? – ela perguntou tentando não corar.
  – Você sabe o motivo. – ele respondeu aumentando o sorriso.
   não quis continuar nessa conversa. Era perigoso. Perigoso demais.
  – Sinto sua falta. – ele começou, após beber o primeiro gole de chá. – Desde que você foi embora... Eu sinto sua falta a cada instante.
  Eles se encararam, e sentiu como se tivesse quebrado um daqueles vasos chineses extremamente caros e antigos. Uma perda de anos de história, sentimentos e importância.
  – Eu juro que tentei aceitar. Durante esse último ano, eu realmente tentei superar, mas... Não é mesma coisa. O mundo não é mais o mesmo. – ele falava, os olhos vidrados em algum ponto da mesa. – Na verdade, é um mundo muito sombrio e frio. Eu estou perdido, nada faz sentido, nem mesmo a música ou a dança...
   segurou sua xícara com força, para não chorar. Sua consciência gritava, seu coração palpitava, mas ela não podia quebrar mais um vaso que tomara lugar do que tinha se partido.
  – Eu preciso de uma luz. Eu preciso da sua luz. Preciso de você... Seja minha luz, . Volte a ser minha luz...
  A voz única de Minhyuk ecoava em sua mente, como se fosse um feitiço amaldiçoado e hipnotizante. Ela não queria ouvi-lo mais... Era demais... Aquele peso...
  – Está tudo acabado, Minhyuk. – disse o olhando com seriedade. – Por favor... Pare de voltar e me atrapalhar...
  Ele a observou, decepcionado. Mas não tinha perdido a esperança.
  – Tudo bem, então. Vamos encerrar a conversa de hoje por aqui. – ele concordou, se levantando e indo embora.
   acompanhou-o com o olhar até ele desaparecer. Ouviu a porta da frente sendo fechada e o silêncio de uma casa fazia dominar o seu coração. Uma casa vazia...

  No dia seguinte ela saíra para trabalhar como de costume. Quando estava em seu horário de almoço, ficou sabendo da nevasca. Todos os funcionários estavam sendo liberados mais cedo para poderem chegar a suas casas em segurança e aguardarem a acalmaria. queria ter ficado feliz com a folga extra, mas odiava nevascas, pois tudo parecia solitário e assustador.
  Chegou a casa sem muitos transtornos. O problema começou quando fechou a porta e se virou para a sala. Ali estava ele, com seu sweater marrom acobreado, segurando duas canecas de chocolate quente fumegantes.
  – Mas o que...?! – ela exclamou levando a mão ao peito, onde seu coração batia acelerado pelo susto. – Isso é invasão! O que você faz aqui, Minhyuk?
  Ele sorriu, um daqueles sorrisos fofos que revelava sua covinha.
  – Eu fiquei sabendo da nevasca e achei que ficaria um pouco triste estando sozinha aqui nessa casa enorme... – ele disse dando de ombros, como se aquilo tudo não fosse grande problema.
  – Como você conseguiu entrar? – ela perguntou, ainda irritada.
  – Você tem mania de manter uma chave reserva embaixo de qualquer vaso de planta. Foi fácil achar. Aceita chocolate quente?
   o fuzilou com os olhos.
  – Não. Agora, por favor, saia da minha casa, se não chamarei a polícia e...
  – Você quer que eu saia? – ele a interrompeu com um tom cínico. – Está tendo uma nevasca lá fora e você quer que eu saia?
   abriu a boca para retrucar, mas nada veio a sua mente. Mesmo que não o quisesse por perto, não podia mandá-lo para uma nevasca. Isso seria muita maldade e falta de consideração com a humanidade.
  – Certo. Pode ficar, mas assim que o tempo melhorar, você vai sair, entendeu?
  Ele assentiu, um sorriso vitorioso brincando em seus lábios. suspirou. Aquela nevasca precisava passar rapidamente...

  Os dois estavam sentados no sofá da sala há praticamente duas horas, em silêncio. Tomaram várias canecas de chocolate quente e até acenderam a lareira. Ela estava ficando a cada minuto mais nervosa e indecisa, enquanto ele pensava numa maneira de abordar o assunto.
  Precisava convencê-la, sua vida dependia disso. Porém, como? não era facilmente conquistada por palavras e as ações se tornavam difíceis sem as circunstâncias necessárias.
  – Você está cansado? – ela perguntou de repente.
  – Um pouco. E você?
  – Eu estou com frio e um pouco sonolenta, mas tenho medo de te deixar sozinho aqui.
  Minhyuk riu.
  – Se quiser, eu posso te esquentar. – ele disse, um pouco corado, e ela o olhou entediada. – Ok, isso foi clichê, só que foi verdadeiro.
  – Pff! Claro. – ela resmungou cruzando os braços.
  Ele suspirou, se arrastando pelo sofá para ficar mais próximo dela. Sem muita cerimônia, envolveu-lhe os ombros, e esperou que ela relaxasse para segurar-lhe uma das mãos.
  – Está gelada mesmo. – ele falou preocupado.
  – E você achou o que? Que eu estava fingindo para que você pudesse se aproximar e me tocar?
  Minhyuk a olhou rindo. Parece que sua garota estava finalmente voltando a dar sinal de vida como nos velhos tempos...
  – Eu queria pensar que era isso, porque não quero te ver doente...
  Ela fez uma careta e sorriu logo em seguida. Ah... O sorriso dela era mais bonito do que ele poderia se lembrar. Impulsivamente, Minhyuk aproximou-se mais, inclinando o rosto e guiando o dela com uma das mãos, até seus lábios se encontrarem. Foi apenas um selar, mas foi o suficiente para fazer seus corações acelerarem.
  Quando se afastaram, seus olhos se encontraram e era como se tudo tivesse se esclarecido.
  – Não me deixe, por favor. – ele disse com a voz baixa.
  – Você não deveria ter vindo. Eu nunca consegui aguentar a pressão de ser a namorada de um k-idol e nem tenho a confiança suficiente para não sentir ciúmes de suas fãs... – ela disse, alternando seu olhar entre os lábios e olhos dele.
  – A gente pode dar um jeito nisso... – ele disse, começando a fazer o mesmo que ela.
  – Mas... e se não...
  – Shiu... – ele a interrompeu. – Não pense negativamente. Vai dar certo. Porque você é minha luz e eu não quero viver sem você.
  Eles se encararam olho a olho pela última vez, antes de se beijarem novamente. A nevasca já estava acabando, mas a lareira continuou acesa por um bom tempo, iluminando o casal com sabor de chocolate quente.

FIM



Comentários da autora

n/beta/onee-chan: fica melhor cada vez que eu leio. To mortinha.