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#029 Temporada

Sk8ter Boi
Avril Lavigne



Sk8rs – Uma história de amor em quatro versos

Escrito por Fe Camilo

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He was a boy, she was a girl. Can I make it any more obvious?
He was a punk. She did ballet. What more can I say?

  Estávamos sentados em um dos bancos da praça de alimentação do shopping e eu me esforçava para tomar o sorvete antes que ele derretesse no calor de 38 graus que fazia no Rio de Janeiro. Havíamos feito uma pausa inesperada no Village Mall para tomar uma água e usar o banheiro e acabamos decidindo fazer hora e chocar o pessoal classe alta que não costumava ver gente pobre por ali. Tanto eu quanto o vestíamos nossas roupas largas e maltrapilhas que usávamos sempre que íamos andar de skate, e o fato de estarem sujas e rasgadas não ajudava na impressão que causávamos.
  - Quanto tempo você acha que temos até alguém chamar um segurança? – perguntei para entre risadas. Detestávamos o lugar e – principalmente – as pessoas que frequentavam ali, mas era divertido demais encarar os olhares pedantes dos clientes habituais.
  - Não muito – ele respondeu se inclinando de repente e abocanhando boa parte da minha casquinha. Dei um tapa no seu braço com a mão livre e passei um pouco de sorvete em sua bochecha como retaliação, me arrependendo assim que ele cerrou os olhos como se fosse um predador e eu a sua próxima presa.
  Me levantei atrapalhada antes de sair correndo sem saber nem mesmo para onde, ouvindo seus passos largos atrás de mim. Antes que eu pudesse chegar muito longe, ele já estava logo atrás de mim, me segurando pela cintura e fazendo cócegas até que eu me contorcesse descontroladamente e caísse de bunda no chão.
  Dei um chute em sua canela e pensei seriamente em me levantar e jogar o sorvete já quase todo derretido na sua cabeça, mas antes que eu pudesse colocar meu plano em ação ele se afastou feito um zumbi correndo para o outro lado com um sorriso bobo.
  Me virei na direção em que ele havia ido me arrependendo imediatamente ao reparar na pessoa com quem ele conversava: Stephany. Precisei engolir o asco que me deu assim que reparei na microssaia que ela vestia deixando à mostra as pernas absurdamente torneadas, fora o tomara-que-caia que evidenciava a cintura fina de bailarina.
  Stephany era simplesmente a crush de desde o primeiro ano do Ensino Médio, mas depois que ela havia finalmente notado sua existência na festa junina da escola dois meses antes, ele passou a aproveitar todas as oportunidades que a encontrava para flertar com ela e tentar marcar um encontro. O que mais me irritava em toda a situação era a maneira como ela olhava para ele. Obviamente ela percebia quão lindo ele era, um perfeito colírio da Capricho que só não recebia mais atenção por conta do estilo desleixado e maloqueiro, mas Stephany fazia questão de sempre torcer o nariz para suas roupas de skatista e deixar claro que ele não era bom o suficiente para ela.
  Esperei por pelo menos dez minutos enquanto se rebaixava como um cachorro sem dono para aquela mimada, mas quando cheguei ao meu limite me aproximei destrambelhada fazendo questão de tropeçar e derrubar o sorvete derretido na roupa da garota.
  Nem preciso dizer que ela fez o maior escândalo do século, né? Além de deixar claro para que ele deveria encontrar companhias melhores porque uma “mocreia” como eu não ajudava em nada sua imagem. Depois de enfim sermos convidados a nos retirar pelo segurança do shopping eu já tinha perdido as contas de quantas vezes revirei os olhos entre ouvir a Barbie irritante e me culpando por não ter conseguido um sim da garota.

He was a skater boy; She said, "See you later, boy". He wasn't good enough for her.
She had a pretty face; But her head was up in space; She needed to come back down to earth.

  Me olhava no espelho com o cenho franzido, a aparência refletida simplesmente não parecia pertencer a mim. Era como se eu estivesse presa dentro do corpo de outra pessoa, tão estranha era a sensação de me ver em um vestido, algo que me recusara a usar desde que – ainda criança – aprendi a dizer a palavra não e lutar ferozmente para ser ouvida.
  Minha mãe me observava com exageradas lágrimas nos olhos, como se eu estivesse prestes a me casar ou algo igualmente tosco. Ela havia milagrosamente me convencido a me vestir “dignamente” para a festa de formatura da escola. O vestido preto completamente rendado abraçava meu corpo evidenciando cada curva, e o corte em v na frente me parecia curto demais, mas ao menos ele era longo na parte de trás. Mordi o lábio nervosamente, me perguntando se aquela era mesmo a melhor escolha antes de desviar o olhar para o terno sobre a cama que havia pegado emprestado do meu irmão.
  - Não se atreva a sequer pensar nisso – minha mãe disse enfaticamente enquanto corria para pegar o terno e segurá-lo com firmeza. – Você está absolutamente perfeita e irá impressionar todos os garotos.
  A olhei horrorizada ao pensar na perspectiva dos caras idiotas da minha escola dando em cima de mim, mas em seguida um pensamento involuntário surgiu em minha mente: Será que se impressionaria? Imediatamente me dei um tapão na cabeça para me impedir de pensar besteiras, o que importava o que o pensava?
  Inspirei fundo me olhando no espelho mais uma vez antes de sair em direção à porta antes que eu me arrependesse de vez. É claro que minha mãe não estava contente o suficiente comigo vestida como uma menininha e fez questão de me fotografar pelo menos dez vezes antes que eu ameaçasse vestir calça moletom e jaqueta jeans se ela não me deixasse ir.
  Trinta minutos depois, meu pai estacionava o carro na esquina do portão do colégio depois de eu desistir de esperar a fila enorme de carros. Me despedi do coroa com um abraço e saí do veículo me arrependendo amargamente de ter acatado a ideia genial da minha mãe de usar a porcaria de um salto. Caminhei com um pouco de dificuldade até a porta de entrada da escola, mas quando passei pelo arco decorado que levava ao pátio principal já havia ao menos entendido como não cair naquela coisa.
  O problema de você ser uma garota skatista que só anda com roupas masculinas, é que assim que você veste algo que seja minimamente feminino o mundo inteiro parece se lembrar que você é uma mulher e decide te tratar como uma. Perdi as contas de quantas vezes precisei recusar os convites para dançar e tentativas esdrúxulas do que os garotos da minha idade entendiam como flerte.
  Eu já estava contando os trocados que tinha na minha bolsa para ver se era o suficiente para fugir dali e voltar para casa de ônibus quando a voz atrás de mim me causou um arrepio instantâneo.
  - Uau! Eu vivi para ver se vestindo como uma garota! – Me virei e dei de cara com vestido como o protagonista perfeito de algum romance adolescente bobo, não que eu os assista.
  - Uau! Eu vivi para ver usar uma calça que não deixe sua cueca à mostra – falei no mesmo tom de ironia, mas dando espaço para ele se sentar ao meu lado no banco que ocupava.
  - Justo. – Ele riu antes de depositar um beijo em meu rosto. E eu culpo todo aquele papo bobo de namorado que a minha mãe não parara de falar boa parte da tarde pelo fato de que a minha bochecha se esquentou com o que ele disse em seguida. – Você está linda.
  - Você não está nada mal – comentei de volta observando como seu cabelo penteado para trás deixava seu rosto em evidência, os olhos brilhando com a luz do ambiente.
  Nós passamos mais de uma hora revezando sobre discutir os picos de skate que poderíamos visitar nas férias e zoar os outros alunos dançando no salão. Era simplesmente fácil estar perto de , como se nossos interesses e pensamentos nos complementasse, podíamos passar horas conversando um com o outro e sempre teríamos assunto para conversar.
  Eu não conhecia um terço das músicas que tocavam e deveria conhecer ainda menos que eu, e foi por isso que nos surpreendemos tanto quando ouvimos os primeiros acordes de ‘Helena’ do My Chemical Romance, uma de nossas bandas favoritas. foi o primeiro a se levantar eufórico antes de me puxar com ele para a pista de dança.
  - Nós simplesmente precisamos dançar essa! – gritou para se sobressair à bateria pesada da música alta.
  Curiosamente, nós parecíamos ser um dos poucos a conhecer a música, mas não nos importamos enquanto gritávamos a letra a plenos pulmões nos movendo dramaticamente. Era mais como se estivéssemos encenando do que dançando a melodia, mas a sensação era incrível. Para fazer efeito, me lancei em seus braços como se estivesse prestes a morrer de desespero, e assim que a música finalizou, estávamos extremamente próximos um do outro. ‘I Miss You’ do Blink 182 foi a próxima, mas como se presos em uma bolha estranha, não nos movimentamos, os olhos presos um no outro.
  Por um segundo admito que pensei em finalizar a distância entre nossos lábios e beijá-lo, mas antes que eu pudesse considerar de fato a hipótese, a voz irritante de Stephany foi ouvida ao nosso lado.
  - ! Quase não te reconheci de longe. – Imediatamente o encanto se dissipou e ele se virou estabanado na direção da garota.
  - Stephany! Uau, você está perfeita! – exclamou impressionado com o vestido rosa bebê que a menina usava, o corte longo a fazia parecer uma princesa que saiu direto de algum conto de fadas idiota da Disney.  Fiquei em silêncio enquanto ela analisava a aparência do meu amigo como se ele fosse um pedaço de carne.
  - Você está um gato – disse, piscando para ele antes de se virar surpresa como se finalmente reparasse em mim. – , como você está... diferente.
  Não precisava ser um vidente para notar que o “diferente” vindo dela não era algo bom, então contra-ataquei sem pensar duas vezes.
  - E você continua exatamente... igual – respondi notando que ela ficara irritada com meu comentário. se mexeu desconfortável ao meu lado e tenho certeza de que se ela não estivesse vendo cada um dos nossos movimentos, ele teria me dado uma cotovelada para que eu segurasse minha língua.
  - É uma pena que nem mesmo com todo esse esforço você consegue deixar de ser a maloqueira de sempre – ela disse, o veneno evidente em suas palavras.
  - É mesmo? Eu já acho uma pena ser completamente burra e vazia.
  - !  - finalmente interferiu, segurando meu braço e me afastando do olhar mortal que Stephany me lançava. – Você tá louca? Essa é a minha última chance de conseguir alguma coisa com ela, então... fica na sua – ordenou antes de me deixar em meio à pista lotada e ir na direção dela.
  Assisti com um misto de raiva e tristeza enquanto ele voltava para ela cheio de sorrisos, tentando capturar sua atenção. Uma estranha vontade de chorar me acometeu, mas antes que eu caísse em lágrimas em meio à uma festa reproduzindo um clichê qualquer, saí dali rapidamente praticamente correndo até o ponto de ônibus. Antes mesmo de sair dos portões da escola já havia desistido dos saltos, o que me permitiu ser rápida o suficiente para pegar o ônibus que passava.
  O caminho para casa foi rápido e precisei – literalmente – fugir da minha mãe e suas indagações incessantes e me trancar no quarto, me escondendo sob as cobertas antes de deixar as lágrimas rolarem. Assim que decidiu me largar para perseguir mais uma vez a garota que o tratava como se fosse um zé ninguém eu havia entendido que aquele já não era meu lugar, afinal ele era o único motivo de eu ter ido até lá. 

He's just a boy, and I'm just a girl. Can I make it any more obvious?
We are in love. Haven't you heard how we rock each other's world?

  Eu consegui evitar por pelo menos duas semanas, viajando com a minha família para outro estado. Mas assim que voltamos ele estava lá, esperando na frente do nosso portão como se soubesse exatamente o horário que chegaríamos. Virei para meu irmão que estava concentrado em ouvir música no seu MP3. Dei um tapa em sua cabeça achando que ele havia me dedurado e fui repreendida por minha mãe que assumiu ter falado com a mãe do no dia anterior.
  A minha intenção era simplesmente ignorá-lo por pelo menos mais algum tempo enquanto eu tentava lidar com o turbilhão de sentimentos que havia sentido após o baile de formatura. Na minha cabeça não fazia sentido que eu tivesse ficado tão chateada e ainda assim, uma parte de mim estava convencida de que eu deveria ter sido sua prioridade, assim como ele era para mim.
  Saí do carro e caminhei em direção ao portão tentando fingir que ele nem estava lá, mas ele foi muito mais rápido do que eu, parando na minha frente e me forçando a olhar para ele.
  - Eu juro que não vou sair daqui enquanto você não falar comigo – afirmou decididamente.
  - O que você quer? – perguntei evitando seu olhar enquanto observava minha mãe traíra fazer um sinal de ‘joinha’ do outro lado do portão, me trancando para fora de casa.
  - Te pedir desculpas – respondeu sem delongas. – Olha para mim , por favor.
  Respirei fundo antes de me forçar a olhá-lo, reparando na tristeza e arrependimento que ele demonstrava, seu nariz estava levemente queimado – muito provavelmente por ter passado horas no sol andando de skate – o cabelo estava mais longo do que o habitual e eu tinha certeza de que a mãe dele deveria encher o saco dele por isso todo santo dia. Era impressionante como eu conseguia entender tanto dele com apenas um olhar.
  - Fala – aceitei com um suspiro, me sentando no capô do carro do meu pai e observando ele fazer o mesmo.
  - Me desculpa por ter sido um idiota completo e deixado você sozinha no baile – pediu com a voz suplicante. – Era para ter sido nossa noite de despedida da tortura de anos chamada escola, mas eu fui babaca o suficiente para largar tudo e correr atrás de uma garota que não tá nem aí pra mim.
  Assenti em concordância, se havia algo de bom naquela história toda era o fato de que ele finalmente admitia a verdade: Stephany nunca ficaria com um cara como ele, distante dos seus padrões superficiais.
  - Você foi um belo de um babaca mesmo – concordei sem aceitar suas desculpas, esperando para vê-lo sofrer um pouco mais.
  - Eu sei. Eu juro que isso nunca mais vai acontecer, você será sempre minha prioridade – prometeu deslizando a mão pelo capô para apertar a minha em uma promessa.
  - Ok – concordei. – Mas você vai precisar me recompensar.
  - Eu faço o que você quiser. – Decidiu imediatamente.
  É claro que ele não sabia que o faria se inscrever comigo no curso de artesanato que minha mãe havia me obrigado a fazer no verão, e assim que fizemos a primeira aula ele fez questão de jogar na minha cara o quão cruel eu era por fazê-lo passar por uma tortura daquelas, mas no fundo eu sabia que ele estava se divertindo, e a companhia um do outro tornava tudo melhor.
  Nós passamos o verão entre procurar novos picos de skate para praticar, aulas de artesanato e ensaios no meu quarto, ele tocando a guitarra enquanto eu tentava fazer covers duvidosos de Paramore, nossa nova banda favorita. Sempre fomos inseparáveis, mas naquele verão havia algo indubitavelmente diferente, como se todas as peças estivessem se encaixando para completar um quebra-cabeças completo.

  Alguns meses depois, no meu aniversário de 18 anos precisei fazer minha mãe me prometer não inventar nenhuma festa, preferia que ela me desse o dinheiro do que seria mais uma de suas festas extravagantes para que eu pudesse fazer minha primeira viagem solo e, por livre e espontânea pressão, ela aceitou. estava fazendo alguns bicos de entregador de supermercado e com o dinheiro que havia juntado decidiu viajar comigo.
  Aquela foi nossa primeira viagem juntos e fomos para São Thomé das Letras, com muito menos dinheiro e juízo do que seria prudente, mas foi uma experiência única. No primeiro dia decidimos caminhar até o Morro do Cruzeiro para ver o pôr do sol. Nos sentamos na pedra e observamos a vista linda à nossa frente com os corações leves.
  - Onde você se imagina daqui cinco anos? – perguntei de repente, curiosa para saber se a paisagem à nossa frente gerava tantas reflexões sobre o futuro para ele como fazia comigo.
  - Não faço a menor ideia – respondeu depois de pensar um pouco. – Algumas coisas são impossíveis de prever.
  - Tem alguma coisa da qual você tem certeza? – perguntei rindo internamente, a intenção era uma zoeira com o fato dele estar sempre incerto sobre as coisas, sempre indeciso, mas a resposta que recebi em seguida me deixou sem palavras.
  - Você – disse baixinho, quase em uma confissão. Olhei em seus olhos que pareciam refletir o alaranjado do céu, o questionamento evidente em meu olhar. – A única coisa que eu tenho certeza nessa vida é você, que eu quero você sempre comigo, aonde quer que eu vá.
  Sorri largamente em resposta sentindo minhas bochechas esquentarem de vergonha. A de um ano atrás riria da frase piegas típica de qualquer filme adolescente, mas naquele momento eu sentia que seria o mesmo que rir de mim mesma.
  - Eu também carrego a mesma certeza – confessei sem ter coragem de olhar para ele.
  Ficamos em silêncio por alguns segundos, como se não houvesse mais nada a ser falado, só sentido.  Quando virei o rosto para olhá-lo me surpreendi com seu rosto absurdamente próximo do meu e, antes que pudesse pensar, eliminei a distância entre nossos lábios, o beijando como tive vontade de fazer muitas vezes antes.

I'm with the skater boy. I said, "See you later, boy". I'll be backstage after the show.
I'll be at a studio, singing the song we wrote about a girl you used to know.

  Cinco anos depois, tudo ainda estava perfeito entre nós, nosso quebra-cabeça precisava ser reajustado vez ou outra, mas sempre conseguíamos nos encaixar perfeitamente, um completando o outro como se nós dois juntos fosse algo que simplesmente precisava acontecer.
  Depois da nossa primeira viagem, quando finalmente conseguimos demonstrar o que sentíamos um pelo outro, muitas outras viagens se seguiram. Nós passamos a levar mais a sério a música e iniciamos uma banda de rock, cantando pelas ruas do Rio de Janeiro, a princípio, até conseguirmos alguns eventos em bares e casas de show. Até conseguimos o feito incrível de ser parte de uma batalha de bandas amadoras na MTV e vencemos.
  Me sentei no colo de com uma caneta e um bloco de notas em mãos, pronta para fazermos um brainstorm de letras, algo que sempre nos acalmava antes de apresentações. Estávamos prestes a entrar no palco do Calabouço Rock Bar, um dos maiores bares do gênero no Rio de Janeiro. Baguncei o cabelo de e dei um beijo em sua testa antes de fazer uma sugestão de tema.
  - E se fizéssemos uma música sobre amor perdido ou algo assim? – Ouvi a risada dos outros caras da banda assim que a sugestão saiu da minha boca, mas mostrei a língua em resposta.
  - Quem aqui teve um amor perdido? – replicou confuso. – Nós fomos sortudos o suficiente para encontrar um ao outro antes de ter um coração partido.
  Sabia que ele estava tentando parecer fofo, mas revirei os olhos em reprovação.
  - Primeiro: não precisamos ter passado por algo para escrever sobre. Segundo: não pense que eu me esqueci da Stephany Albuquerque, queridinho.
  Ele grunhiu em reprovação enterrando o rosto no meu pescoço, pois – segundo ele – eu sempre fazia questão de jogar na cara dele o quão idiota ele era na época que perseguia aquela garota mimada.
  - Você sabe melhor do que ninguém que aquilo estava bem longe de ser amor – murmurou dando um beijo em meu ombro. – Além do mais, vamos escrever o quê? “Era uma vez um garoto que não sabia o que tinha e corria atrás de uma menina que o tratava como se fosse nadinha?”.
  Dessa vez todos na sala riram em uníssono pela idiotice de . Pensei um pouco tentando me lembrar das sensações que aquela história me causava e comecei a escrever no meu bloco de notas.
  - Que tal “When I thought he was mine, she caught him by the mouth. I waited eight long months, she finally set him free”?
  - Eu gosto – afirmou enquanto os outros assentiam em concordância. – “Two weeks and we had caught on fire. She’s got it out for me, but I wear the biggest smile”.
  Assim que ele complementou relembrando de quando havíamos tido uma quase briga por conta daquela garota do passado, sorri vendo como as letras se encaixavam. Julio terminou de afinar o seu baixo e começou um acorde enquanto Flávio batucou levemente sobre um dos bancos dando o ritmo para que eu improvisasse um refrão.
  - “Whoa, I never mean to brag, but I got him where I want him now. Whoa, it was never my intention to brag, to steal it away from you now. But God, does it feel so good”.
  Todos fizemos barulhos de aprovação concordando que aquela seria nossa nova música a ser trabalhada. me deu um selinho rápido nos lábios antes de sussurrar no meu ouvido:
  - Quem diria que um dia escreveríamos uma música sobre a Stephany, hein? – Ri levemente antes de dar um selinho nele de volta e responder
  - É, mas essa música não é sobre ela quase ter conseguido você, é sobre como eu fui a escolhida no final. E que sorte a minha. – me abraçou um pouco mais forte antes de sussurrar no meu ouvido.
  - Que sorte a nossa.

FIM

  Nota da Autora: Olá, galerê! Espero que tenham gostado da história, fiz com muito carinho. ^^
  Decidi retratá-la em outra década, porque essa música simplesmente representa os anos 2000. Ah, e essa música que eles “criam” no final é Misery Business da Paramore. <3