Sinto sua falta

Escrito por Vê Ferreira | Revisado por Natashia Kitamura

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  Dezembro de 2012
  Sexta-feira, 18h00min

  Debruçada na minha cama com colcha cor-de-rosa, na frente de meu notebook, eu sorria. Sorria olhando para cada foto e lembrando cada momento.
  Uau, ano que vem é terceiro ano do Ensino Médio na escola mais difícil da cidade! (pelo menos para mim.) Mas eu não podia reclamar, tinha feito vários amigos lá.
  Mas duas são as que mais têm meu amor.
  , essa garota de cabelos castanhos com luzes loiras que olhava para mim com um sorriso no rosto na foto e, ao seu lado, , minha amiga de cabelos castanhos escuros que também sorria.
  Eu as conheci no primeiro ano do ensino médio, um dia comecei a conversar com elas e depois elas realmente viraram ótimas companhias.
  Minhas melhores amigas.
  Com um clique comecei a ver a próxima foto. Na imagem, eu me via mandando um beijinho para mim com e ao meu lado mandando beijinhos também. com seu cabelo cor de ferrugem de sempre e com seu cabelo castanho bem mais curto em comparação em como está agora. Eu já era amiga delas desde o sexto ano, mudei de escola no nono ano e isso jamais interferiu na nossa amizade.
  Agora, eu tinha duas amigas da minha velha escola e duas amigas da nova escola. Bem, eu tinha mais amigas, mas essas eram as melhores, sabe...
  Eu me lembrava dessa foto. Foi um presente de aniversário, mandávamos um beijo de parabéns para...
  Para .
  Franzi o cenho não querendo lembrar-me dela, mas assim que fui para a próxima foto cravei meus olhos na foto. Meu coração começando a bater.
  Dei um suspiro pesado.
  Ambas sorrindo, ambas com olhos castanhos e cabelo castanho.
  O nosso "Amigas para sempre!" tinha virado "Amigas até o nono ano." por minha causa.
  Como deu tudo errado?
  Por causa da garota hiper ciumenta aqui, eu só queria consertar tudo. Mas não podia.
  - , seu pai já está chegando para te levar no shopping, está pronta? – Minha mãe gritava da sala, provavelmente.
  - Sim! – Respondi de volta.
  Desliguei meu notebook dando uma última olhada em até cair na cama de costas.
  Suspirei novamente e deixei a minha mente vagar até o dia em que saí com minhas novas amigas, e conversamos, pela primeira vez, sobre uma amizade eterna.

  Julho de 2011
  Sexta-feira, 19h00min

  “Por que não diz que vai ser para sempre?”
  “Você não consegue me imaginar no seu futuro?”

  No shopping todos estavam vestidos impecavelmente, essa era a graça no frio, todos se vestem bem. Às vezes nem é de propósito e sim por uma necessidade, por exemplo, quem é que não fica bonito de bota? A bota esquenta e embeleza, assim como várias roupas no frio.
  Não que eu soubesse me vestir, apesar da calça skinny e da bota com salto eu não gostava dessa jaqueta preta enorme que eu estava vestindo. Eu já era uma tábua, eu odiava ter que usar essas roupas enormes também.
  Eu, e estávamos em uma cafeteria do shopping. O lugar era frequentado por casais ou grupos pequenos, assim como o nosso. O ambiente era quentinho tanto no clima quanto nas cores, que seguiam um padrão de cores quentes como marrom e bege.
  Eu estava tomando chocolate quente e a cada gole meu corpo se esquentava deliciosamente.
  - Hm... – Murmurei enquanto o chocolate fazia meu corpo esquentar. Eu apertava minhas mãos com força contra o copo numa tentativa de fazê-las esquentar.
  - Ai, eu amo o frio. – disse sorrindo levando a boca mais um gole de seu café.
  Olhei para ela com raiva, mas não falei nada. Sempre preferi o calor.
  - Imagine quando sei lá, estivermos aqui no café, conversando sobre nosso emprego? – sorriu para mim e para .
  - O quê? Emprego? – Quase engasguei com meu chocolate. Enquanto as duas olhavam estranhamente para mim peguei meu guardanapo limpando minha boca. – A gente tá no primeiro ainda. – Eu disse não compartilhando o mesmo sentimento de felicidade dela.
  - Ué – começou. – Seremos amigas até lá. – Ela sorriu para e ambas olharam para mim.
  - Acham mesmo? Quer dizer, eu conheci vocês esse ano, tipo, há cinco meses. – Eu constatei levando um olhar de choque delas.
  - Você não quer que seja para sempre? – perguntou parando de tomar seu cappuccino e assumindo uma postura ereta.
  - Quero. Mas...
  - Por que não diz que vai ser para sempre? – perguntou.
  - Porque eu vivia dizendo isso para minha ex-melhor-amiga. – Falei.

  Flashback
  2010

  - Quem está fazendo quinze anos? – Eu a abracei por trás enquanto estávamos a caminho da sala de aula.
  - Não sei. – Ela disse virando-se para mim. - Quem?
  - A minha melhor amiga! – Eu gritei sorrindo e estendi minha mão que segurava um presente para ela.
  Os olhos dela brilharam e ela deu um sorriso sem jeito.
  - Obrigada , ... – Ela pegou o presente de mim.
  Eu estava ansiosa demais para saber se ela iria gostar. Não tirei os olhos do rosto dela, apenas esperando para ver sua reação.
  Quando ela abriu um sorriso apareceu em seus lábios. – É lindo. – Ela murmurou vindo me abraçar. Um sorriso brincou em meus lábios também.
  O presente que ela havia acabado de ganhar de mim era um porta-retrato. Escrito "Amigas" e uma foto nossa já estava em seu devido lugar.
  Eu havia gostado mais ou menos desse presente, meu presente de verdade era sempre uma cartinha que no momento, estava junto com o retrato.
  - Lerei a carta depois. Temos aula agora. – Ela sorriu.
  - Claro, mas só para você saber, eu sou VIP, por isso não entregarei seu presente hoje à noite, certo? – Eu disse e ela riu.
  - Está bem. – Com passos sincronizados fomos até a sala de aula.
  - O que quer ganhar de dezoito anos? – Perguntei com os braços em volta.
  Ela fez um biquinho. – Hm... Um carro. Claro. – Nós rimos.
  - Ok. E de vinte anos?
  - Uma casa. Tudo que eu quero é você perto de mim. – Ela sorriu.
  - Para sempre. – Murmurei sorrindo.
  - Para sempre. – Ela concordou.

  Fim do flashback

  - Por que simplesmente não esquece ela? – elevou a voz.
  - Não posso simplesmente esquecer uma amizade de quatro anos. – Dei de ombros.
  - Pode sim, assim como ela te esqueceu. – disse e eu me retraí com essas palavras.
  - Ela fez o certo em me esquecer. – Suspirei. – Qualquer um quer esquecer quem te magoa.

  Flashback
  2010

  - Ela sequer veio falar com a gente! – Eu disse irritada me afundando na cadeira da lanchonete com os braços cruzados sobre mim.
  A lanchonete estava cheia e eu estava aqui por causa do aniversário de . As únicas pessoas que eu conhecia aqui era , e . Mas nem estava falando com a gente.
  Lá fora, a noite reinava, o clima estava delicioso, hoje tinha tudo para ser uma noite perfeita. A noite do aniversário de .
  - Calma, . – falou. Seus olhos verdes estavam tristes. – Ela já vai vir aqui. Às vezes a prenderam lá. – Havia duvida na sua voz.
  - A prenderam lá? – Joguei meus braços para o ar. – Ela parece estar bem feliz com os “amiguinhos do condomínio” dela!
  - Ela tem razão, . – se pronunciou tomando um gole de sua coca. Quando voltou a olhar para mim, seus olhos azuis estavam um pouco mais escuros. – está lá com eles até agora, há uma divisão visível aqui, nós, a minoria, e eles, a maioria e, talvez, mais populares.
  - Então é isso? está com eles porque eles são populares? – Perguntei indignada.
  - gosta deles. – disse simplesmente.
  - Não. – Dei uma risada cínica. – Não gosta. Ela quer ser a popular então? Quero ver quando magoarem ela. Ela vai vir correndo para nós.
  - Assim espero. – olhou até e eu e fizemos o mesmo. Ela estava rindo. Ela parecia bem feliz.
  A raiva borbulhou dentro de mim. Ela era minha amiga. Minha melhor amiga. Minha e de minhas amigas. De mais ninguém.
  - Ela vai se arrepender de ter nos esquecido essa noite. – Murmurei tentando controlar meu desejo de vingança.


  Assim que cheguei ao salão, encontrei minhas amigas, menos , esperando por mim. Era a noite de nossa formatura do Ensino Fundamental e tudo estava bem. Menos esse pequeno incidente de não ter vindo falar comigo.
  Os dias seguintes ao aniversário dela foram resumidos em mim, falando mal dela. Talvez eu tenha errado, mas eu estava chateada demais. Contei para todos como ela nos abandonou, como ela só quer ser popular e que um dia, esses “amiguinhos do condomínio” dela não vão mais querer nada com ela.
  Não acho que eu tenha exagerado, ela merecia, eu sou a melhor amiga dela. Não eles.
  Com minhas amigas ao meu lado fomos procurar e quando a achamos um bolo começou a se formar na minha garganta quando ela olhou para com... Nojo.
  - Sai de perto de mim! – Ela gritou.
  Ela gritava assim, mas depois eu me desculpava e tudo ia ficar bem de novo.
  - Me desculpe ! Mas você nem falou comigo no seu aniversário! – Gritei como ela.
  - Eu falei com você sim! E eu não aguento mais esses seus ataques! Não quero mais falar com você! Você devia ter conversado comigo e não sair por aí falando besteira! – O torpor tomava conta do meu corpo, eu não conseguia falar, ela não podia estar falando sério com essas palavras. – Só quero que... Você saia de perto de mim... – Ela disse baixo e deu meia volta.
  Sem conseguir olhar para as meninas que estavam ao meu lado, eu fiquei ali, parada. Eu só tinha certeza de duas coisas: que essa tinha sido nossa última briga e que eu tinha acabado de perder minha melhor amiga.

  Fim do flashback

  - Sabe... Eu imagino sim a gente aqui, juntas, tomando café quando formos ricas e famosas. – disse.
  - Eu também. – riu. – A gente de terninho, causando e falando de trabalho.
  - Porque você, , não consegue imaginar a gente no seu futuro? – perguntou baixinho.
  - Eu consigo! Consigo sim. – Dei um sorriso tristonho. – Tenho tantos pensamentos quanto vocês, eu só... Prefiro aproveitar o presente, e se conseguirmos chegar lá, ótimo!
  - Deixe-me adivinhar. – levantou o dedo indicador e apontou para mim. – Você imaginou o futuro com sua ex-melhor-amiga também, né?
  Engolindo o seco e desviando o olhar delas, eu assenti.

  Flashback
  2009

  - Credo, ! – Eu disse enquanto eu subia numa cadeira e olhava a prateleira cheia de livros dela. – Não sei como você gosta de ler, é tão... Chato. Eles têm figura pelo menos?
  - Não, . – Ela disse revirando os olhos. estava em cima da cama terminando o desenho dela para a aula de artes. – Eu uso a imaginação, você devia tentar!
  - Humpft! Eu assisto ao filme, é bem mais fácil. – Comecei a descer da cadeira com um exemplar de Harry Potter na mão. – Olha só isso! O tamanho desse livro! Não sei como você aguenta ler isso, de verdade.
  - Eu amo ler, li o primeiro Harry Potter com sete anos. – Ela disse e meu queixo caiu.
  - Você é maluca. – Balancei a cabeça.
  - Você é maluca! – Ela veio até mim e pegou o livro de minhas mãos com um sorriso. – Se você soubesse como é bom ler!
  - Ainda prefiro filmes. – Sorri.
  - Vou ter pena da sua filha. – sorriu. – Sua filha vai falar: “Tia , dá um livro para mim? Minha mãe não quer me dar.”
  Eu gargalhei. – Se minha filha quiser um livro eu compro para ela. Mas ela não vai querer. Sua filha vai correr até mim e dizer: “Tia , minha mãe me obriga a ler! Socorro me dá uma Barbie!”
  Ela riu também. – Minha filha vai gostar de ler sim! E de Barbie. – ela acrescentou.
  - Será que nossas filhas vão se amigas também? – Perguntei me sentando ao lado dela na cama dela.
  - Vamos ser amigas até lá, não é mesmo? Elas vão ser amigas também, assim como nós. – Sorrimos uma para outra.

  Fim do flashback

  - Bem, eu realmente, acredito no “para sempre” da gente. – disse olhando para mim e para com um sorriso.

  Dezembro de 2012
  Sexta-feira, 19h00min

  - , seu pai chegou. – Ela disse caminhando até meu quarto. Saí de meus devaneios e me levantei da cama vagarosamente.
  - Estou indo. – Murmurei e olhei para ela quando vi sua silhueta na porta. Seu cabelo loiro recém-pintado, os olhos castanhos semicerrados olhando para mim.
  - Penteie o cabelo, está todo bagunçado. – Ela disse pegando a escova e jogando para mim.
  - Eu sei, eu estava deitada. – Murmurei pegando a escova e penteando meu cabelo.   - Passa um batom nessa boca pálida também.
  - Vou passar. – Resmunguei.


  Eu e fomos as primeiras a chegar ao ponto de encontro. Ainda faltava mais cinco meninas. Eu e ela estávamos falando sobre termos que sair e fazer um passeio bem legal nessas férias de dezembro, quando o celular dela tocou.
  Ela deu uma careta. – vai se atrasar. – Ela murmurou olhando para a tela do celular. Digitou algo e colocou de volta na bolsa.
  - Enfim, tem minha tia tem uma casa de praia, poderíamos ir lá. – sorriu.
  Tentei sorrir como ela, mas de repente, olhando para todas essas pessoas com mais ou menos a minha idade, felizes, vi uma menina que me lembrava a .
  - , você... – Parei de falar para pensar melhor. Mas decidi continuar hesitante. – Você ainda fala com ? – Perguntei olhando para ela. Seus olhos azuis se arregalaram por um segundo até ela responder.
  - Não... – Ela fez uma careta. – Cansei de ser a única a puxar assunto, e os novos amigos dela me dão medo. – Ela respondeu e eu assenti.
  - Ela é amiga de um povo drogadinho lá na minha escola. – Falei.
  - Pois é esse povo que me dá medo é drogadinho.
  Como ela pôde mudar assim? Ela era tão delicada, mas realmente tinha um gênio muito forte, nada a abalava totalmente. Ela sempre teve certeza do que quis, mas ela nunca magoaria os pais dela assim. Ela nunca faria isso consigo mesma.
  Ela não só parou de ser minha amiga, como parou de falar com todas elas, até .
  - Sente falta dela? – retomou o assunto levantando a sobrancelha. Sua voz era delicada, como se não quisesse me ferir.
  Respirei fundo. – Sinto.
  - Por que não diz isso para ela?
  - Não posso! Ela parece tão... Feliz. – falei de má vontade. – Parece estar em feliz em mudar, parece estar feliz de não ser mais minha amiga. Ela nem veio me procurar, só eu fui atrás dela. Você sabe que sempre foi assim, eu fazia a burrada e corria atrás dela, ela sempre foi fria para pedir desculpas, mas sempre teve os braços abertos para mim.
  - Se eu fosse a . – Ela se interrompeu e pensou mais um pouco. Talvez escolhendo as palavras certas. – Se estivesse aqui, o que diria a ela?
  Fiquei olhando para confusa.
  - Sério? – Perguntei.
  - Claro que é! Anda, fala! – deu um sorriso delicado.
  - Tudo bem... – Falei baixinho.
  Fechei meus olhos, respirei fundo e os abri novamente. Tentei imaginar na minha frente, no lugar de . Tentei fazer a saudade falar mais alto e assim as palavras viriam.
  - eu... – Comecei com um bolo na garganta enquanto olhava hesitante para , que me ouvia com atenção. – Eu sinto a sua falta. – Disse finalmente, começando assim, eu já sabia exatamente o que dizer. – Sinto falta do seu riso, das nossas gargalhadas até ficarmos sem ar. Sinto falta dos filmes antes de dormir, dos nossos assuntos aleatórios, do café da manhã com cookies. Sinto falta da nossa amizade, de ser sua amiga. Sinto sua falta. Mas eu queria agradecer, também. Agradecer por ter me aguentado durante tanto tempo, por ter sido minha amiga quando ninguém foi. Quero agradecer cada abraço, riso, cada cartinha, cada promessa de “para sempre” que, apesar de não ter dado certo, cada palavra foi importante para mim. Bem... É isso. – Suspirei. – Só tenho a agradecer e dizer que eu, de verdade, sinto a sua falta.
  Era estranho, colocar tudo o que eu sentia naquele momento para fora. Eu me sentia meio mal querendo uma amiga de volta quando eu tinha uma super amiga à minha frente, porém eu sabia, sabia que se ainda fosse minha amiga, tudo seria perfeito. Porque eu tive que brigar com ela?
  Meus olhos ardiam, meu coração se contraía dentro de mim, depois dessas palavras eu não sabia o que fazer, tudo o que eu fiz foi olhar para meu colo, cruzar os braços sobre o peito como sinal de proteção. De repente me senti tão exposta...
  - . – chamou minha atenção sussurrando. Quando olhei para ela, seus olhos eram ternura e seu rosto trazia um sorriso aconchegante. Com atos rápidos, veio para mais perto de mim, no banco e me abraçou. Deixei me levar no seu abraço, uma lágrima fugiu. – Quero que saiba. – Ela sussurrou em meu ouvido. – Que sempre estarei aqui para o que precisar.
  “Sempre” é uma palavra muito forte, mas ao mesmo tempo é tudo que precisamos.


  Minhas amigas estavam entretidas olhando as lojas de roupas, tentei ficar tão interessada quanto elas, mas havia um problema, uma livraria atrás de mim.
  Do lado oposto da loja de roupas, do outro lado do corredor, uma livraria parecia piscar "Estou aqui!" para mim.
  Fiz uma careta para o nada, eu precisava sair daqui só por alguns segundos.
  - Hm, gente. - Chamei a atenção delas. - Vou à livraria ali do lado, já volto, ok?
  Elas disseram que tudo bem e então tomei meu rumo ao melhor lugar do shopping.
  Eu sentia meu coração disparar e um sorriso se abrir em meus lábios. E eu não tinha dinheiro para comprar nada. Nenhum maravilhoso livro que ali estava.
  Fiz um biquinho decepcionada enquanto lia cada um dos títulos iluminados que ali estavam. De repente, eu ouvi um riso familiar. ? Olhei para os lados já com o coração disparando. Nada.
  Decidi fazer, através do vidro da vitrine, uma revista no lado de dentro.
  E aí meu coração vacilou nos batimentos e minha respiração ofegou.
  . A estava dentro da livraria.
  Seu cabelo estava curto e o liso ainda continuava. E ela ria, com seus amigos que eu nunca vi na vida.
  Rapidamente, abaixei meu olhar para um livro da vitrine. Minha visão começava a embaçar e eu já me sentia corando.
  Ela não precisava me ver. Eu tinha que sair daqui, mas não conseguia.
  Com meu rosto pegando fogo, olhei para cima novamente a fim de vê-la.
  Encontrei seu olhar assim que olhei para ela. Meu coração saltou assim que nossos olhares se cruzaram.
  Eu não sabia o que fazer, mas para minha surpresa, sorriu para mim.
  O mesmo sorriso que fazia meu interior inteiro esquentar, o mesmo sorriso que eu sempre quis ter.
  É ela, é a , minha !
  Sorri para ela também e dei um pequeno aceno.
  - Oi. – Eu mexi a minha boca.
  - Oi. – Consegui ler seus lábios. Ela sorriu de novo.
  Eu tinha que fazer alguma coisa. Por segundos insanos, senti meus pés darem alguns passos em direção à entrada da livraria, eu queria conversar com ela.
  Perguntar: “Tudo bem?” ou qualquer coisa. Qualquer coisa.
  Parei de dar esses passos e me senti uma idiota assim que, sem hesitar, simplesmente deu as costas para mim voltando-se para um cara que a tinha chamado.
  Fiquei ali, olhando-a, chocada.
  Chocada por minha atitude, eu queria falar com ela, acertar as coisas. Mas não tinha nada para ser acertado. Cada uma estava em seu lugar agora.
  Desviei meu olhar para o chão por alguns segundos. Dei um suspiro pesado sentindo meus olhos queimarem, um sinal de que, se não me controlar, chorarei daqui a pouco.
  Voltei meu olhar para de novo. Ela estava de costas para mim, mas suas costas tremiam e às vezes ela jogava a cabeça para frente. Ela estava rindo.
  Eu podia ouvir o som de sua risada, eu podia imagina-la gargalhando.
  - , eu... – Tentei tirar o bolo na garganta que havia ali. – Eu sinto a sua falta... – Sussurrei para o vento que soprava. Olhando para ela, desejei que de alguma forma minhas palavras chegassem até ela e que ela, de algum modo, sentisse o mesmo por mim.


  Eu estava morta de cansaço, caí na cama e fiquei olhando para o teto.
  A noite de hoje havia sido ótima, perfeita. Rever as meninas assim no comecinho das férias não podia ser melhor. Rever todas, até .
  ...
  Mexi-me inquieta nos cobertores com esse pensamento.
  Meu quarto estava mais escuro que o normal, e isso me fez lembrar-me das vezes que dormi na casa de .
  Assim que pensei nisso, balancei minha cabeça. Chega, pare de pensar nela.
   foi somente um “para sempre” que deu errado, afinal.
  , e as outras do grupo ainda estavam comigo, eu disse para sempre para todas, e só com isso falhou.
   e também tinham recebido meus votos de “para sempre” e acho que vamos conseguir.
  O fato é que desde que briguei com , aprendi a dividir minhas amigas, porque se elas me amam, elas vão voltar. Aprendi a respeitar o espaço delas, aprendi a ter menos ciúmes, eu dei liberdade a cada uma delas. Não me lembro de ter brigado com nenhuma de minhas amigas, acho que nunca briguei de verdade com nenhuma delas.
  Com , eu lembro, brigávamos quase todos os dias. Era uma amizade estranha, um amor estranho, e isso machucava.
  Desde que parei de falar com não sei mais o que é magoar uma amiga, não sei mais o que é ser magoada. Não fico mais fazendo textos e pensando em como me desculpar por palavras desagradáveis que falei, porque isso não acontece mais.
   me ensinou a confiar, a amar, a libertar cada uma de minhas amigas.
  Não sei se minhas amizades serão para sempre, mas sei que, se com vivi durante quatro anos brigando loucamente, com elas, tenho muito mais chances de fazer o “para sempre” dar certo.
  Se fosse para dizer algo para agora, eu diria sem hesitar:
  - Obrigada, . – Sussurrei, para o escuro de meu quarto com um sorriso brincando em meus lábios.



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