Shut Up!

Escrito por Ana Ammon | Editado por Lelen

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  Eu já estava tão cansada de ouvir meus pais me mandando o que fazer, como me comportar e até mesmo com quem eu deveria me relacionar que pela primeira vez em minha vida, no auge dos meus vinte e cinco anos eu me rendi a eles e aceitei a ideia de ir a um encontro com o Mark. Eu estava começando a vestir o tal vestido preto longo que minha mãe falou que era para eu usar quando minha irmã mais velha entra no meu quarto se jogando em minha cama.
  - O que foi? – Perguntei vendo ela me olhar confusa.
  - Ai eu não acho que você deveria sair com ele.
  - Mari eu só me rendi ao que papai e mamãe querem, cansei de brigar e bater de frente falando que eu deveria seguir o que eu desejo e não o que eles desejam.
  - Eu torcia tanto por você conseguir fazer isso entrar na cabeça deles e não ter que passar pelo que passo.
  - Como assim passar pelo que você passa? – Me sentei ao lado dela.
  - Mana o Alê não é o melhor marido do mundo não, ele não faz absolutamente nada!
  - Fora o fato que você casou com ele por que papai escolheu ele como melhor pretendente. – Revirei os olhos. – O amor da sua vida sempre foi o .
  - É, tem isso também. – Ela suspirou. – Bom, de qualquer forma boa sorte hoje, espero que o Mark seja no mínimo decente.
  - Também espero mana...
  Terminei de me arrumar já pegando minha bolsa preta, abracei minha irmã e fui em direção ao carro que já me esperava na porta de casa, o motorista me levou até o restaurante de um hotel cinco estrelas que fica na rua principal da minha cidade, eu desci do carro respirando fundo e entrei no lugar à procura do Mark, assim que ele me viu se levantou ajeitando o terno preto feito sob medida para ele, eu revirei os olhos e caminhei em direção a ele que veio me cumprimentar.
  - você está deslumbrante hoje.
  - Hm. Obrigada. – Falei seca.
  - Bom, o que vai querer beber? Pedi uma garrafa de vinho para nós.
  - Pode ser. – Suspirei desejando mentalmente que alguém interrompesse aquele martírio que eu estava passando.
  - Bom, seu pai falou que você gosta muito de sair com os amigos. – Ele começou enquanto ajeitava o guardanapo de pano no colo. – Sabe , quando nos casarmos não poderá ser assim, tenho uma empresa e um nome a zelar.
  - E quem foi mesmo que disse que iremos nos casar? – Perguntei interrompendo ele.
  - Seu pai oras! – Ele arqueou uma sobrancelha nitidamente surpreso com minha pergunta.
  - Não foi esse meu acordo com ele Mark. – Suspirei enquanto me ajeitava na cadeira. – Enfim Mark, quantos anos você tem mesmo?
  - Vinte e oito, sei que sou mais velho que você mas a diferença de idade não irá nos atrapalhar.
  - Meu deus, você fala como se fosse um senhor idoso, eu tenho vinte e seis, a diferença não é tão absurda assim! – Respondi indignada. – O que vamos comer mesmo?
  - O que você escolher.
  - Vou de macarrão.
  Ele chamou o garçom e fez nossos pedidos, eu estava pensando se realmente valia a pena continuar naquele lugar e ir contra todos os meus instintos de sair correndo dali o mais rápido possível, mas veio em minha mente a voz grave do meu pai gritando comigo que eu não iria prestar nem para ser uma boa esposa do jeito que eu estava agindo, me contive e voltei a prestar atenção no que o Mark falava enquanto eu estava perdida em meus pensamentos.
  - Então foi assim que me tornei CEO da empresa.
  - Sendo herdeiro... – Murmurei.
  - Ei! Do que está falando? Eu mereci chegar onde cheguei!
  - Aham... – Me movi na cadeira novamente nitidamente incomodada de estar ali vestindo aquela roupa. – Olha Mark, eu também sou herdeira e você sabe disso, diferente de você eu não sou nem um pouco acomodada com a situação e nem gosto dela.
  - Sério?
  - Sim, não sei se o que você está mostrando aqui é só uma pose de quem tem que me impressionar, se você está aqui só porque seus pais, assim como os meus, meio que te obrigaram a estar aqui. – Tomei um gole de vinho e notei que ele observava atentamente o que eu estava falando. – Mas eu não tenho saco nenhum pra isso e que fique claro, não será no primeiro encontro que eu vou decidir sobre com quem irei me casar.
  - Mas isso é seu pai quem decide, não eu não estou tendo uma pose e muito menos meus pais me obrigaram. – Ele pegou um pão e começou a passar a manteiga. – Mas seu pai me falou que você gosta de mim.
  - Correção, ele gosta de você. – Falei ríspida. – Logo ele acha que fazemos um belo casal, principalmente pelo fato de sua família ser tradicional.
  Ele percebeu que a melhor alternativa no momento era ficar em silêncio e observar o local, ele se levantou me avisando que iria ao banheiro e foi a minha brecha para poder respira aliviada durante alguns minutos. Assim que ele se sentou novamente na mesa e iria começar a falar algo fomos interrompidos por uma banda entrando no local começando a tocar uma música que por sinal eu conhecia, sorri pensando o quantas vezes eu havia cantado aquela música para meu pai e comecei a curtir o momento.
  - Pelo amor de deus alguém pare esta baderna! – Ele falou se levantando.
  - Para com isso Mark, a música é boa, deixa eles tocarem!
  - Boa aonde? Isso é só barulho!!
  - Você não desrespeite meus gostos musicais. – Me levantei brava.
  - Você acha isso bom!?
  - Sim e inclusive ouço a banda! – Falei mais alto do que deveria porque a música havia parado. – Nós definitivamente NUNCA daremos certo!
  - Claro que daremos e você irá ver! – Ele falou segurando meu braço. – Seu pai te prometeu para mim há muitos anos!
  - Acontece querido – Falei me soltando dele. – Que meu pai não manda em mim e nunca irá mandar, mesmo que ele me tire todo o dinheiro dele, não me importa. – Me virei e comecei a caminhar em direção onde a banda estava.
  - Volta aqui que eu ainda estou falando com você! – Ele puxou meu braço me fazendo cair sentada no chão.
  - EPA! – Ouvi uma outra voz masculina atrás de mim. – Em que mundo você vive que se trata uma mulher deste jeito!?
  - Não se meta seu rockstarzinho de merda. – O Mark balbuciou bravo.
  - Você NUNCA mais irá chegar perto de mim! – Falei me levantando e apontando o dedo na cara dele.
  - É o que veremos.
  - Moça, você está bem?
  - Sim, obrigada. – Falei me virando e ficando em choque, ali na minha frente estava o Pierre preocupado comigo.
  - Olha, nós vamos tocar aqui perto, quer vir?
  - Claro! Bem melhor do que um encontro arranjado.
  - Você não se atreveria... – O Mark parou ao lado do Pierre me fuzilando com o olhar.
  - Olha eu não só me atrevo como eu vou. – Falei cruzando os braços. – Pode ir, corre para o meu pai e conta o que aconteceu, a marca de sua mão no meu braço vai durar pelo menos quatro dias, pode ter certeza que irei a delegacia.
  - Então você vem? - Pierre perguntou começando a caminhar junto com a banda.
  Segui ele para um outro lugar que era perto do restaurante deixando o Mark lá plantado, eu sabia que teria uma briga imensa com meu pai quando chegasse em casa mas tudo que eu queria naquele momento era curtir com uma de minhas bandas favoritas, depois do pequeno show que eles fizeram o Pierre me chamou para ir ao camarim com ele.
  - Então, o que aconteceu no restaurante? – Ele falou abrindo uma cerveja e me entregando.
  - Bom, a coisa é mais complicada que parece sabe? – Eu suspirei dando um gole na cerveja. – Meus pais são os donos da empresa , a multinacional de tecnologia, meu pai é um cara super tradicional que quer que as filhas dele casem com pessoas que ele escolhe.
  - Meu deus! – Ele se sentou completamente chocado.
  - O que?
  - ... Essa empresa, nunca encaixou na minha cabeça o como ela cresceu tanto.
  - Para ser sincera? Nem mesmo eu sei. – Dei de ombros. – Parece que foi da noite para o dia que virou uma multinacional.
  - Exatamente! Espera um instante, eu conheço seu rosto... – Ele falou pensativo. – ?
  - Sim...
  - ! Estudei com sua irmã no colégio! – Ele riu.
  - Eu lembro disso! – Dei risada. – Olha, para ser sincera não tinha associado isso até agora!
  - E ai, teu pai escolheu com quem você vai se casar?
  - Disse ele que quer que me case com o babaca do Mark Wilson.
  - Ah não creio! Ele batia em literalmente todos no colégio!
  - É sério?
  - Sim! No ano seguinte que seus pais decidiram trocar vocês de colégio ele foi estudar lá, fazia questão de falar a todos o dinheiro que a família tem por ser quem fabrica as tais bolas de basquete.
  - Ele que enfie as bolas no...
  - ! – O Pierre exclamou rindo e me interrompendo. – Temos crianças no recinto.
  - Crianças? – Olhei para o lado e vi duas meninas. – Oi!
  - Oi... – Elas falaram em coro.
  - Bom, quer ir para um bar?
  - Vamos. – Falei pegando minha bolsa.

  Fomos a um bar mais distante do centro da cidade, assim que nos sentamos e pedimos nossa cerveja eu vi minha irmã sentada um pouco mais para trás com o , sorri vendo a cena e notando o quanto ela estava feliz naquele momento, fiquei os olhando durante um tempo até que ela notou que eu estava ali e veio falar comigo.
  - do céu papai está louco atrás de você! – Ela falou me abraçando. – O que aconteceu?
  - O babaca do Mark aconteceu.
  - ? – O Pierre olhou para ela surpreso. – Quanto tempo!
  - Pierre? Meu deus! – Ela pulou em cima dele. – E ai, o que está fazendo da vida?
  - Ele tem uma banda... – Falei sorrindo de canto vendo os dois felizes em se reencontrar.
  Eles dois estudaram juntos na mesma sala desde o jardim de infância, Pierre assim como a era dois anos mais velho que eu e nós três costumávamos sair juntos naquela época, foi no ensino médio que meus pais resolveram que nós iríamos nos mudar para outra cidade, consequentemente iríamos ter que trocar de colégio, eles sempre foram melhores amigos mas a distância fez eles pararem de se falar durante um bom tempo, era gostoso ver que a amizade deles não havia mudado praticamente nada.
  - Eu não creio que deu certo a banda Pierre!
  - Deu sim ! – Ele olhou para o parado mais para trás. – Ele é seu marido?
  - Não, é um amigo... – A frase dela fez com que eu desse risada. – O que foi ?
  - Nada não... – Ela deu risada junto comigo pelo meu tom de voz que já entregava que eles tinham algo.
  - Então, como veio parar aqui ?
  - O date com o Mark foi horrível, ele inclusive me machucou. – Mostrei a marca da mão dele no meu braço.
  - Meu deus! Ele falou ao papai que foi um cara de uma banda que te machucou.
  - Claro, como se minha mão coubesse ai. – O Pierre deu risada mostrando o tamanho da mão dele que era menor que a do Mark.
  - Acho que tenho que ir até em casa...
  - Espera, não quero perder contato de novo com você, me passa seu número! – O Pierre me entregou o celular dele.
  - Claro! – Peguei o celular e digitei meu número. – Me manda um oi que te falo depois o que aconteceu.

  Eu voltei caminhando para casa e assim que entrei encontrei o Mark sentado no sofá na maior cara de pau como quem estava super preocupado comigo, revirei os olhos quando ele me viu e veio me abraçar e sem pensar duas vezes eu me soltei de seus braços o olhando com nojo.
  - O que faz aqui?
  - Estava preocupado com você.
  - Mentiroso. – Olhei para o meu pai e apontei para meu braço e em seguida para o Mark.
  - Ele falou que foi um cara de uma banda.
  - Esse cara é o Bouvier pai...
  - Bouvier? Pierre Bouvier? Filho de Louis e Réal?
  - Sim...
  - Jamais ele machucaria alguém.
  - EXATAMENTE ISSO QUE TO FALANDO!!
  - Me deixe ver isso de perto. – Ele se levantou de sua majestosa poltrona de couro e se aproximou analisando meu braço. – Mark, deixa eu ver sua mão. – Ele pegou a mão dele e logo ficou vermelho de raiva. – MARK WILSON SUMA DAQUI AGORA.
  - Mas Senhor ...
  - Não, é nítido que foi você quem fez isso, saia da minha casa! – Ele bradou pegando o celular. – Seus pais saberão disso!
  O Mark saiu e meu pai me abraçou em silêncio, eu sabia que aquele abraço era sinal de um pedido de desculpas mas também sabia que ele iria achar outro pretendente em breve, eu tinha pouco tempo para poder me impor e fazer o que eu quero da minha vida, estudar veterinária, me formar e só então pensar em casamento. Dei um beijo na bochecha de meu pai e fui para meu quarto onde arranquei aquele vestido desconfortável o jogando no cesto de roupas sujas e colocando uma calça de moletom e uma camiseta larga, peguei meu celular e respondi o Pierre que havia me mandado um oi como o combinado.

  “Bouvier pelo amor de deus me tira desse inferno, eu preciso de paz, meu pai mandou o Mark embora mas ainda assim sei que ele está escolhendo outro pretendente, isso me irrita de uma forma surreal.”
  “Te busco em vinte minutos.”
  “Estou te esperando.”

  Coloquei uma calça jeans e uma camiseta preta e fui para a sala encontrando meu pai sentado olhando fixamente para o celular, me sentei no sofá e fiquei esperando a campainha tocar.
  - Onde vai filha?
  - Sair com o Pierre.
  - Certo. – Ele parou e me analisou. – Escuta...
  - Pai não começa com essa de pretendente.
  - Não ia falar isso! – Ele se ajeitou na poltrona. – Filha, me desculpe por ter acontecido isso no seu encontro com o Mark, eu quero que você seja feliz.
  - Isso é uma carta branca para eu escolher com quem eu quero ficar? – Ele concordou com a cabeça em silêncio. – Pai que milagre é esse?
  - Eu estava falando com sua irmã mais cedo, ela quer o divórcio do Alê, me apresentou motivos o suficiente para eu apoiar sua decisão, assim como apoiar a decisão dela de ficar com .
  - MEU DEUS! – Falei chocada ignorando a campainha enquanto minha mãe ia atender.
  - Percebi que por mais que eu quisesse proteger vocês e escolher pessoas que tivessem uma situação financeira adequada, essas pessoas não são boas com vocês.
  - Pai... – Falei com os olhos marejados. – Obrigada por finalmente entender.
  - Sinto muito ter demorado tanto e feito vocês passarem por essas situações. – Ele olhou para o Pierre entrando. – Oi Pierre.
  - Olá senhor .
  - Espero que aproveitem a noite. – Ele me deu um beijo na testa e saiu da sala junto com minha mãe.
  - O que acabou de acontecer aqui?
  - Eu não sei que bicho mordeu ele mas ele desistiu de controlar a vida das filhas. – Falei chocada.
  - Isso é ótimo! Vem, vamos comemorar!
  Saímos de casa e fomos de volta ao bar onde estávamos anteriormente, minha irmã e o ainda estavam lá também e assim que nos viram vieram sentar com a gente, começamos a beber e conversar sobre quando éramos crianças, em meio a isso tudo me dei conta do quanto apaixonada pelo Pierre eu era e para ser sincera essa paixão nunca acabou. Olhei para ele falando com a sobre as coisas que aprontavam no colégio e senti meu rosto corar lembrando das vezes em que eu quase havia ficado com ele, desviei o olhar mas pude sentir o olhar de minha irmã sob mim nitidamente sabendo o que eu estava sentido, ela e o foram embora logo depois disso ela inventou uma desculpa qualquer para deixar eu e o Pierre sozinhos.
  - E ai, como você está?
  - Chocada com o que meu pai falou, mas feliz por mim e pela minha irmã.
  - Sua irmã?
  - Sim, ele aceitou a idéia da se separar do Alê para ficar com o . – Comentei dando um gole na cerveja. – Finalmente ela vai ser feliz.
  - Isso é ótimo! E você vai poder curtir a sua vida!
  - Sim, finalmente.
  - Sabe do que eu estava lembrando?
  - Hm?
  - Daquela vez na roda gigante, sua irmã foi de par com o e nós dois fomos juntos... – Vi suas bochechas corarem levemente.
  - Me lembro como se fosse ontem disso.
  - E eu achei que só para mim tinha ficado marcado essa situação. – Ele me olhou curioso.
  - Claro que não! Pierre eu era apaixonada por você naquela época, acha mesmo que eu não ia me lembrar disso?
  - E como eu nunca soube?
  - Eu podia jurar que a já tinha te contado isso! – Dei risada. – Ela era minha confidente na época, na realidade é até hoje, assim como ela era e ainda é apaixonada pelo ! Por isso fez questão de ir com ele naquela noite na roda gigante!
  - E eu tinha medo de dar em cima de você e levar bronca da . – Ele gargalhou. – Sua irmã botava mó pavor na gente, sério!
  - Essa eu é quem não sabia.
  Me levantei para ir buscar uma tequila e foi quando ele me puxou pela cintura selando nossos lábios, senti um arrepio subindo pela minha coluna e me entreguei a situação, ele aprofundou o beijo enquanto colocava uma de suas mãos mão em minha nuca e outra em minha cintura me puxando para mais perto, pude sentir que ele queria aquilo há tanto tempo quanto eu.
  - Eu ia buscar tequila... – Falei olhando para ele, daquela distância pude notar cada detalhe de seu rosto.
  - Podemos tomar tequila depois, o que acha de irmos a outro lugar?
  - Acho que estamos nos precipitando... – Senti meu rosto queimar lembrando que eu nunca havia passado de alguns beijos com alguém.
  - , você...
  - Vem, vamos comer algo. – Falei concordando com a cabeça e notando que ele ficou completamente sem reação.
  - Vamos.
  Nós comemos um lanche e bebemos mais uma cerveja em completo silêncio, silêncio inclusive que se tornou um pouco constrangedor por conta do que havia acontecido. Depois do lanche fomos abraçados em silêncio até o carro estacionado em uma das ruas próximas ao bar antes de entrarmos no carro ele me abraçou.
  - eu não vou te forçar a nada. – Ele sussurrou ao pé do meu ouvido.
  - Sei disso. – Senti um arrepio tomar conta de mim e fiquei na dúvida se fora pelo sussurro ou pelo frio. – Mas eu nunca falei que não estava pronta.
  - Nesse caso... – Ele sorriu. – Vou perguntar de novo, quer ir para outro lugar?
  - Claro. Com você não tem lugar que eu não iria.
  Ele sorriu e abriu a porta do carro, eu entrei fechando a porta e ele logo assumiu o banco do motorista dirigindo cidade a dentro, depois de meia hora estávamos subindo para o apartamento dele e no elevador ele me beijou, um beijo intenso e com sua mão apertando levemente minha cintura, assim que chegamos ao décimo andar andamos apressados até o apartamento cento e quatro e entramos. Ele me puxou pela cintura depositando beijos em meu pescoço e ao pé de minha orelha, ele pegou minha mão e me guiou pelo apartamento até seu quarto onde segurou meu rosto com suas duas mãos.
  - Farei isso da maneira certa, no seu tempo.
  Meu rosto queimou com a frase falada por ele quase em um sussurro e eu o beijei, ele aprofundou o beijo e me deitou gentilmente na cama, logo nossas roupas estavam jogadas no chão ao lado da cama. Definitivamente foi melhor do que tudo que eu já havia sonhado ou imaginado, deitamos os dois ofegantes na cama e eu me aninhei em seu peito.
  - Espero que tenha sido melhor que você imaginava.
  - Foi incrível. – Falei dando um selinho nele.
  Ali naquela posição abraçada com ele eu adormeci. Acordei na manhã seguinte com os raios de sol entrando no quarto pelo vão da cortina cinza, rolei para o lado na cama enquanto me espreguiçava e encontrei um Pierre ainda adormecido, parecia estar dormindo tão bem que decidi não fazer barulho nenhum para não acorda-lo. Me levantei pegando meu celular e fui ao banheiro, assim que desbloqueei o celular vi as mensagens da me falando que tinha avisado nosso pai que eu estava com o Pierre e provavelmente não dormiria em casa, ver aquela mensagem me fez sorrir lembrando da noite passada e como tudo havia sido incrível, sai do banheiro e ele estava sentado na cama olhando confuso para onde eu estava deitada.
  - Bom dia!
  - Bom dia, achei que você tivesse ido embora.
  - Jamais faria isso. – O olhei confusa. – Por que pensou nessa hipótese?
  - Bom, é algo que acontece com certa frequência comigo...
  - Acho que não conseguiria lidar com uma situação dessa. – Falei pensativa. – Iria me sentir usada como um brinquedo.
  - É exatamente assim que a gente se sente. – Ele sorriu, se levantou da cama indo em direção ao banheiro e me dando um selinho no caminho. – É gostoso ver que você está aqui ainda, o que quer tomar de café da manhã?
  - Por acaso você sabe fazer aquelas panquecas ainda?
  - Claro que sei!
  - Se não se importar...
  - Pode deixar que eu faço! - Ele tomo um banho rápido enquanto eu me vesti e fui para a sala, logo me aninhei no sofá.
  - Bom dia ! – O Seb apareceu da cozinha com uma xícara de café me fazendo assustar.
  - Seb? O que faz aqui?
  - Bom, eu moro aqui. – Ele deu risada. – Quanto tempo não nos vemos!
  - Meu deus sim... Espera, você faz parte da banda...
  - Faço sim! – Ele deu risada com a minha afirmação. – E você o que exatamente faz aqui?
  - Bom... – Senti meu rosto queimar olhando para o Pierre que estava saindo do quarto vestindo apenas uma bermuda.
  - Bom dia Seb, vou fazer panquecas, quer?
  - Sempre quero. – Ele olhou para a minha reação e deu risada. – Tá, já entendi, no fim sua imaginação estava certa.
  Eu e Seb éramos colegas de sala na época do colégio, assim como eu ele é dois anos mais novo que o Pierre. Seb era um dos meus confidentes e melhores amigos naquela época então sabia muito bem sobre a minha paixonite pelo nosso amigo, assim como sabia das minhas fantasias com ele. Ele foi um dos únicos que não perdi contato, apesar da distância nós dois demos um jeito de continuar nossa amizade na mesma intensidade de antes então ele sabia de tudo que estava acontecendo comigo em casa, sabia sobre eu nunca ter passado de alguns beijos com nenhum cara, sabia literalmente da minha vida toda.
  - SEBASTIEN! – Exclamei brava sentindo meu rosto pegar fogo.
  - O que? Ele nem ouviu.
  - Ouvi sim, só fingi que não ouvi. – Pierre falou concentrado no liquidificador.
  - Aí viu só?
  - Então quer dizer que você já planejava isso? – O Pierre entregou nossos pratos e se sentou na poltrona. – Teoricamente se guardou?
  - Guardou? – Seb riu com a pergunta do amigo. – Não, ela só não tinha...
  - Parou Sebastien! – Falei interrompendo ele e tapando a boca dele com a minha mão. – Não é porque te conto tudo que você pode sair falando por aí, saco. Enfim, não, eu não me guardei Bouvier, só que nunca tinha rolado com ninguém. – Expliquei tirando a mão da boca do Seb e voltando minha atenção às panquecas.
  - Hm, até que faz sentido.
  - Por que?
  - Bom, para vocês, garotas, é um pouco mais delicado do que para nós, então faz sentido nunca ter rolado, talvez você não estivesse ficado a vontade com ninguém. – Ele deu de ombros e o Seb o olhou como se ele tivesse descoberto a américa. – Eu entendo você e não acho errado.
  - Finalmente alguém sensato! – Dei risada fazendo aos dois rirem também.
  Depois de comermos o Pierre me levou até minha casa me deixando na porta de casa e voltando, eu entrei e fui silenciosamente até o meu quarto onde me joguei na cama repassando tudo que havia acontecido, parecia que tinha sido um sonho, eu finalmente havia feito o que tanto queria com o Pierre e estava torcendo para podermos repetir aquilo. Ouvi meu pai me chamando aos berros da sala e corri para lá, pela intensidade dos berros eu sabia bem que não iria vir algo bom pela frente.
  - Ah você está aí. – Ele se sentou. – Onde estava noite passada mocinha?
  - Com o Pierre pai, você sabe disso.
  - Sei mas dormiu onde?
  - Na casa dele. – Falei com indiferença. – Por que tanto auê?
  - Ele não é homem para você e já cansei de falar isso !
  - Pai!
  - Não começa, hoje à noite você tem outro encontro.
  - EU NÃO VOU. – Bradei batendo na mesa. – VOCÊ FALOU QUE ESTÁVAMOS LIVRES DISSO!
  - Não quero saber, você vai. – Ele bufou. – Esteja pronta as oito que o rapaz vai vir te buscar.
  - Mas que ódio que me dá. – Sussurrei para mim mesma. – Posso saber pelo menos o nome da criatura?
  - Charles.
  - Tá. Estarei pronta.
  Fui para meu quarto pisando duro e logo que entrei bati a porta, eu sabia que meu pai não tinha desistido tão facilmente, peguei meu celular enquanto escolhia a roupa dentre as três alternativas que minha mãe havia colocado na minha cama e mandei mensagem para o Pierre.

  “Meu, não acredito, meu pai inventou que eu tenho que sair com outro cara hoje.”

  Percebi que ele iria demorar para responder já que sua última visualização no whatsapp havia sido há duas horas atrás e me concentrei em me arrumar, eu estava com um total de zero de disposição para sair, só queria deitar na minha cama e dormir depois da discussão com meu pai, eu estava quase pronta quando meu celular apitou acusando mensagem do Pierre.

  “Que merda , espero que ele seja no mínimo legal com você, falo com você mais tarde, vou resolver umas coisas da banda. Fique bem.”

  Fiquei ligeiramente brava com a mensagem, que para mim parecia que ele tinha sido super seco, talvez eu tivesse colocado expectativas demais em cima dele, não sei. Terminei de me maquiar e fui até a sala esperar o tal do Charles que meu pai havia falado, quando cheguei na sala vi o Pierre sentado no sofá tranquilamente conversando com meu pai e por incrível que pareça eles estavam dando risada de algo.
  Fiquei em choque completamente parada do lado da mesa de jantar, minha mãe vendo minha situação parou ao meu lado e sorriu.
  - Achou mesmo que seu pai não iria deixar você sair com quem quisesse?
  - Mas...
  - Filha, foi tudo um teatro armado pelos eu pai e pelo Pierre.
  - Eles me pagam. – Falei sentindo minhas pernas amolecerem. – Me arrumei na força do ódio mãe.
  - Eu sei, assim como eles sabem. – Ela sorriu carinhosa. – Vai e aproveita sua noite com ele, seu pai e ele estavam conversando sobre você, inclusive seu pai aprovou se vocês quiserem levar isso para frente.
  - Mãe!
  - Ué, foi o Pierre quem puxou o assunto, não seu pai.
  Eu me aproximei e apoiei a mão sobre o ombro do Pierre que logo se despediu do meu pai e foi em direção a porta, olhei rapidamente para meu pai que sorria orgulhoso de me ver feliz e de ter brincado comigo. Entramos no carro e eu ainda sentia minhas pernas trêmulas, só não tinha certeza se era por conta da raiva que eu passei ou pelo choque.
  - Ei, desculpa a brincadeira, não resisti.
  - Tudo bem, mas vem cá, pra que usar o nome que ninguém lembra da existência?
  - Justamente por isso. – Ele deu risada.
  - Pior de tudo é que eu caí que nem um patinho. – Dei risada junto sentindo o alívio tomar conta de mim, olhei pela janela e notei que estávamos estacionando no mesmo restaurante que eu fui com o Mark.
  - Temos que ter boas memórias dos lugares, principalmente deste que tem uma comida incrível. – Ele desceu do carro, abriu minha porta e estendeu a mão. – Vem, vamos criar memórias boas juntos!
  - Claro! – Aceitei a ajuda e caminhamos até a mesa.
  - Sabe , eu havia colocado na minha cabeça que nós dois nunca iria ser possível.
  - Por causa do meu pai?
  - Sim, também por causa da distância, nós perdemos o contato com o tempo, o que é super natural inclusive.
  - Agora você é mundialmente famoso também. – Sorri de canto.
  - Então você sabe!
  - Claro que sei! Eu acompanho a banda sabia? Inclusive cansei de cantar várias das suas músicas para meu pai. – Falei dando risada da expressão de choque dele.
  - Eu jamais imaginaria que minha paixão de infância se tornaria fã.
  - Oi? – Falei tossindo engasgada com o pão que estava comendo.
  - O que? O Seb nunca te contou?
  - Não!
  - Ele sabia de tudo, inclusive foi ele quem me falou que eu devia ir atrás de você... – Ele parou pensativo. – Agora faz sentido! Ele sabia de você também!
  - Olha só, Seb deu uma de cupido.
  - E pelo jeito deu certo.
  Senti meu rosto queimar com a frase dele, antes que eu pudesse responder o garçom chegou para anotar nossos pedidos, nós dois optamos por um macarrão com molho ao sugo e um vinho tinto, ele ficou me contanto sobre como era a vida de famoso e sinceramente eu fiquei encantada pela realidade dele, que era bem diferente da minha em alguns aspectos, de lá ele me levou para um bar onde estava o restante da banda, ficamos até as duas da manhã conversando e bebendo.
  Ele parou o carro em frente à minha casa, se aproximou lentamente e selou nossos lábios dando início a um beijo intenso, quando separei o beijo ele me olhou sério e suspirou.
  - eu quero você do meu lado.
  - Pierre. – Eu sussurrei sentindo meu rosto corar. – Você não sabe o quanto eu também quero isso e há quanto tempo eu desejava ouvir você falar isso.
  - Não quero mais ficar longe de você. – Ele sorriu acariciando meu rosto. – Eu te amo pequena e nada no mundo vai me impedir de estar com você.
  - Meu pai talvez?
  - Nada, ele se convenceu que você pode ser feliz com quem escolher, esqueceu?
  - Verdade. – Sorri empolgada e o abracei.
  - Vem, fica aqui essa noite.
  - Disso talvez seu pai não goste.
  - Dormiremos de porta aberta para ele se certificar de que nada de “errado” está acontecendo.
  Demos risada e ele concordou, entramos em casa e fomos direto para o meu quarto onde novamente dormimos abraçados, eu sabia bem que meu pai iria reclamar de algo no dia seguinte mas não estava ligando, tudo o que eu queria era ficar ali abraçada com ele por todo o tempo possível.
  No dia seguinte acordamos com a televisão da sala ligada e meu pai falando alto no telefone, quando chegamos na sala vimos a chamada da reportagem dizendo “Integrante da banda Simple Plan é visto em restaurante com a herdeira das empresas , será que tem algo de mais nesse encontro?”
  Sentimos o olhar pesado do meu pai sob nós dois e nos sentamos olhando as notícias, haviam fotos dos papparazzis desde quando chegamos no restaurante até a porta da minha casa, eu balancei negativamente a cabeça ao ver aquilo tudo tomando uma proporção desnecessária e vendo meu pai pendurado ao telefone com jornalistas. Minha mãe nos trouxe café e se sentou na poltrona ao nosso lado olhando curiosa para nós dois.
  - Que foi mãe?
  - E ai?
  - Ai o que Senhora ?
  - O que vão fazer sobre isso?
  - Bom, provavelmente a melhor alternativa é deixar a mídia aquietar isso e esquecer. – Ele suspirou. – Como foi com as outras garotas que eu sai e foram parar na mídia assim.
  - Pierre – Meu pai se sentou na frente dele. – Meu filho, eu preciso saber, o que pretende com minha filha?
  - Jamais a abandonar Senhor , pretendo ficar ao lado dela para o resto de nossas vidas, se isso for de vontade dela, claro.
  - Filha?
  - É claro que é de minha vontade! – Falei em choque. – Por que pai?
  - Eu preciso saber para lidar com a imprensa, assim que eu chegar ao escritório terão milhares de jornalistas me questionando sobre isso. – Ele passou as mãos pelo cabelo. – Preciso de uma resposta simples, vocês estão juntos?
  - Sim. – Eu e Pierre falamos em coro, ficamos até surpresos e sorrimos um para o outro.
  - Olha , eles fazem um casal lindo.
  - Eles me lembram nós dois . – Meu pai abraçou minha mãe e sorriu nos olhando. – Se lembra de quando começamos a namorar?
  - E como eu esqueceria? – Ela sorriu olhando para ele.
  Eu e o Pierre voltamos ao quarto deixando meus pais ali no momento deles, nós pegamos o notebook e fomos ver o que as pessoas estavam falando de nós dois e por sinal a maioria das fãs dele estavam apoiando, pelo simples fato de eu vir de família com dinheiro e já o conhecer há anos.
  Os meses foram se passando e a mídia foi acalmando sobre o assunto, assim como o Pierre falou que iria acontecer, meu pai me incentivou a entrar na faculdade de veterinária e eu consegui passar na University of California no curso que eu tanto planejava.
  Eu e Pierre sabíamos bem que durante minha faculdade seriam tempos difíceis para nosso relacionamento, ele fez questão de alugar um apartamento próximo do campus para termos nosso canto, quando começaram minhas aulas ele e a banda saíram de turnê, foram dois longos anos sem sequer ver ele pessoalmente com tempo, eu o vi umas três vezes que foram quando teve shows por perto da faculdade nós matamos a saudade um do outro essas vezes mas claro que nunca é o suficiente.
  Ambos sabemos que em breve estaremos curtindo um ao outro com um pouco mais de calma e tempo mas até esse momento chegar vamos sentir muita falta um do outro.

Fim



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