Shoot Me

Escrito por Manuela T. | Revisado por Natashia Kitamura

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Parte do Projeto Songfics - 11ª Temporada // Música: DNA, por Little Mix

  O salto batia o chão de granito. Vários pares deles repetiam o som por todo o ambiente. O cabelo dela estava solto. Cachoeiras de fios castanhos enfeitavam e escorriam por seus ombros, se enrolando na metade das costas, e lá decretando final. Um pouco depois dele, via-se o fim do decote de suas costas. Os longos cílios carregados de maquiagem mostravam e escondiam o furacão cor de café que a menina guardava na alma. Seus olhos, sempre foram um ponto fraco. Mas que também poderia se tornar sua mais forte arma. O vestido preto e curto se destacava no salão. Lábios pretenciosos se curvaram para a direita discretamente ao relembrar o que vivera lá. O lugar não era claro, mas não era escuro. Era perfeito para pessoas nem tão boazinhas, nem tão malvadas, como ela.
  Parou em frente ao bar. Um balcão enorme com garrafas empilhadas com luzes coloridas atrás. Um efeito interessante, pensou. Olhou as mesas de madeira redondas que estavam ao seu redor e preferiu sentar em um dos únicos bancos livres do balcão. Quando , "o garoto novo" e o ficante da amiga chegassem, arranjariam alguma mesa. Se eles chegassem. torcia que não. O que a garota mais queria era que a amiga ligasse desmarcando tudo, ou mudando o ponto do encontro. Era doloroso para ela estar ali. Na última vez que ela esteve lá tudo deu errado e no final, dois corações se quebraram. Ela pediu um drink e Harph, o barman, estranhou a sua presença. Ele conhecia sua história. foi questionada pelos olhos de Harph e aquilo foi o que quebrou a barragem. Memórias inundavam sua mente, corpo e alma.

  Flashback

  - Eu não acredito que você estava fazendo isso, ! - berrava com toda a força que tinha. Sabia muito bem que as paredes daquele escritório eram a prova de som. Bem, pelo menos daqueles muito altos, como seus gritos.
  - , você e eu sabemos muito bem que isso não importa. Você deixou bem claro, nós combinamos que tínhamos uma relação aberta. - mantinha uma barreira sobre seus olhos azuis faiscantes, não queria que a menina o abalasse mais uma vez. Estavam na sala que chamava de "escritório", no segundo andar do Pub do qual era dono. Tinha uma janela grande, com vista para a pista de dança, mas as películas na janela não deixavam que as pessoas lá em baixo vissem o interior do cômodo. Havia um tapete grande, fofinho e vermelho no meio da sala. O piso de madeira claro contrastava com a cama/sofá colorida. Era preto com formas geométricas de várias cores, presente da irmã. Uma televisão ficava na parede em frente, entre a janela e a porta. Ele se apoiava na mesa de vidro. , com seus sapatos pendurados nos dedos, gritava. Havia uma mistura de dor e raiva por todo seu rosto, que consumia seus gestos, sua voz, seu corpo. O garoto não alterou a voz.
  - Mas... Eu... Você estava agarrado com aquela piranha que um dia já foi a minha melhor amiga. Isso simplesmente... - As frases saiam cortadas na voz da menina. Ressentida demais para ficar calada. Logo seus olhos encheriam de lágrimas. - Não dá. Você já sabe que eu te amo. Amo. Amo e não consigo suportar isso, . Não mais. - Seu corpo tombou na poltrona de couro amarela.
  - A culpa não é minha, . Eu simplesmente não posso parar de viver por causa dos seus sentimentos. - Assim que pronunciou a última palavra se arrependeu amargamente. Ele sabia que era mentira. Ela também. Mas nada que a garota fazia conseguia tirar dos lábios dele uma confissão de amor recíproco.
   tinha olhos frios e quietos naquele momento, e concluiu isso. Eles o perfuravam mais fundo que uma bala. Era doloroso e finalmente ele se deu conta. Havia quebrado o coração da menina e agora os pedaços afiados a cortavam por dentro.
  - , espera. - Os olhos azuis se abalaram. Viraram tormenta. Ele se apressou para agarrar o braço da menina. Mas já era tarde, com um último olhar ela puxou o braço da mão dele e correu em direção à porta. O que restou dentro de foi a força para gritar:
  - EU NÃO QUIS DIZER ISSO! Não quero te perder.
  Mas foi o que ele fez. Perdeu a doçura de , tudo que tinha de bom nela, perdera tudo. Só restou uma garota magoada que faria de tudo para curar esse amor. De tudo.
  E tudo que ele sentia era arrependimento. O orgulho era tão grande que cobriu o amor. O que seria dele agora, já que decidiu se mostrar? Um pouco atrasado, não?

  Fim do Flashback

  Bem, ela não havia achado uma cura tão rápido. Riu com a própria desgraça. Já fora tão infantil algumas vezes, a ponto de derrubar vinho "sem querer" no vestido de uma ficante de . quase gargalhou com a lembrança. Era hora de crescer, e se não estava lá com ela, só restava manter a paciência.
  Harph a entregou o drink verde de sempre e quase na mesma hora, pôde ouvir a voz estridente de :
  - ! Achei que fosse chegar atrasada, como sempre! - A garota desceu do banco alto para abraçar a amiga.
  - Acho que pude fazer uma exceção hoje. - Sorriu fraquinho ainda abraçada a . Ela já contara para a "bestie" sobre o coração quebrado. Nao explicou o motivo, nem o causador, mas entendia perfeitamente essa necessidade de de se trancar. Poucos achavam a chave para abrí-la.
  - Hum, vamos para uma mesa? - correu os olhos verdes pelo ambiente e logo pescou uma mesa vazia. - Acho que podemos sentar lá. - Apontou para o lugar. concordou com a cabeça. Depois de pegar o drink, agarrou a mão de e a segui até a mesa.
  - Então, me conta tudo sobre o novo namorado. Quero alguns detalhes antes de conhecê-lo.
   abriu um sorriso angelical de pura paixão. consegui animar-se pela amiga enquanto ela tecia elogios ao novo namorado. Haviam se conhecido na faculdade de administração, mais ou menos duas semanas atrás. riu com a data amarga, era quase o mesmo tempo da sua briga com... Ele. Desde então, se encontraram algumas vezes. Nada sério até que ele a pediu em namoro. Fim! não conseguia se conformar com a facilidade de de entrar/sair de relacionamentos sem se machucar.
  - E o melhooor de tudoooo! Não precisaremos pagar a conta, little . - finalizou assim a descrição do novo amor. podia jurar que a amiga estava namorando o bartender.

  Assim que a última palavra escapou da boca de , vê a porta do Pub sendo aberta. Seus olhos arregalaram, a sorte não estava jogando no seu time. chegava um pouco molhado pela chuva e sua jaqueta de couro quase brilhava. O jeans sempre apertado e um tênis branco para quebrar toda a estrutura. O cabelo fazia ondas para a esquerda e foi posto no lugar pela sua mão direita. Cumprimentou alguns seguranças, e como imãs, seus olhos azuis se uniram com os dela. Piscou para que estava estática. Ele riu nervoso, mas discreto. Esperava que a garota não fosse para lá nem tão cedo. E agora? O que diria a ela? E a garota nova? Que vozinha é essa dizendo para ele desistir de tudo e se declarara para ela? Perguntas sem respostas. Decidiu falar com antes de tudo, depois procuraria pela "garota nova" e pensaria nas consequencias. Tudo o que ele menos esperava era que a "garota nova" estivesse sentada junto com .
  Aproximou-se quase com medo. Assim que virou-se e sorriu para ele, viu a dúvida brilhar nos olhos de . Estava desperado. se levantou para falar com o namorado.
  - ! Eu achei que você fosse chegar mais cedo, baby. Já fiz a maior propaganda sua para . - Depois de receber um selinho de , procurou novamente o rosto de e viu algo como mágoa lá. Ou seria raiva?- , esse é o meu novo namorado, . , essa é minha melhor amiga, . - Falou apontando. - Ah, , esqueci de avisar! Não precisaremos pagar porque é o dono do Pub! - Piscou para a amiga que, naquele momento, queria apenas matar o dono daqueles olhos azuis.

  Tensão. A tensão entre e podia ser facilmente cortada com qualquer lâmina. Apenas a voz de e o som de plano de fundo do Pub podiam ser ouvidos. Até que o celular de apita.

  "Little ! Desculpe pelo atraso, gatinha. Já estou chegando. Aliás, já estou na porta. X Pete"

   sorriu. Pelo menos teria uma pequena vingança. Seu gesto não passou despercebido pelos olhos de , que levantou uma sobrancelha. Céus, como ele conseguia fazer isso? Bem, ela não sabia. Deu mais um gole em seu segundo drink e lançou um olhar que ele entendia bem. Teria uma surpresa.
   (como sempre) ainda falava quando outro corpo se aproximou da mesa. Um ser alto, cabelos loiros despenteados e olhos verdes brilhantes tocou o ombro de . o olhou como se fosse um leão prestes a atacar seu delicado cordeiro. Mas apenas sorriu. Ótima escondendo sentimentos, por dentro desmoronava de ódio por ter que jogar tão baixo. Por fora, seus olhos brilhavam por encontrar o novo ficante.
   estava angustiado. No mínimo. Aquela confusão de sempre reinou em seu coração. Ela já estava com outro? E todo aquele amor... Sumiu? Não, . Se você pode maquiar o que sente ficando com outra pessoa, também pode. Era nessa ideia que ele se agarrava. Ela tinah que ser forte o suficiente para não romper e deixá-lo cair.
  - Peteeeee! Quem bom que você chegou, querido. - levantou-se e tascou um beijo rápido nos lábios de Pete. Ele apenas riu. - , , esse é Pete. Meu novo... Ham... - As palavras se atrapalharam em sua mente na hora de definir o relacionamento dos dois.
  - Ficante, peguete, pode escolher. - O garoto pronunciou-se. riu um pouco corada, mas logo se recompôs. Era bom que Pete não visse esse relacionamento com seriedade. Cumprimentou os outros dois que estavam na mesa com um aceno de cabeça e sentou-se ao lado de . olhou nos olhos escuros da menina com uma raiva que aos poucos se tornava ceticismo, que se tornava angústia. apenas riu de lado. Ele merecia e sabia disso. A noite seria longa.

  Aos poucos a conversa desenrolava. e pareciam se comunicar por pensamento, pois seus olhos não desgrudavam. O par azul implorava por uma explicação do castanho, que implorava pelo mesmo do azul. Havia tanta coisa para dizer, tantas vírgulas. Enquanto isso, e Pete pareciam feitos um para o outro. Não paravam a língua. Todo o assunto que era trazido parecia entusiasmar os dois. não sabia se era por pura afinidade ou por causa das sete garrafas de cerveja que os dois já haviam esvaziado. Um pouco dos dois talvez.
  Batidas suaves de uma música ecoaram pelo ambiente. Duas vozes gritaram "EU AMOOOO ESSA MÚSICA" ao mesmo tempo. começou a falar dos mil bons motivos pelo qual Pete deveria dançar aquela música com ela.
  - Vamos. Por favorziiiinho. - Ria tanto que ficou com medo que caísse, já que se levantara para puxar o loirinho para a pista de dança.
  - Eu preciso fazer companhia a , . - Pete olhou para . Seu olhar pedia permissão e os olhos da menina a concedia.
  - Vá dançar com ela, Pete. Por mim tudo bem e duvido que vá se importar.
  Não precisaram de mais palavras para invadir a pista de dança. .
  . Enfim sós.
  - Eu... - começaram ao mesmo tempo. Riram ao mesmo tempo. Maldita coincidência! puxou pela mão, queria dançar. Não podia ficar parado naquela mesa. Seria tenso demais. Ela aceitou sem hesitar.
  As mãos de moldavam-se a cintura de . Era um encaixe perfeito, como se elas a tivesse desenhado. Os dedos frágeis da garota tocaram de leve os ombros do garoto. De lá fizeram um caminho suave até sua nuca, onde as pontas de suas unhas arranharam de leve a pele. Ela mentiria se dissesse que não se arrepiou.
  Aos poucos, seus corações encontravam um ritmo certo para dançar. Balançavam amor, raiva, ódio e ternura para acharem o compasso certo. Logo os corpos estavam colados. Foi difícil para os dois respirar.
  - , eu preciso te contar uma coisa. - sussurava perto do ouvido de . As palavras suaves fizeram cócegas em sua pele, mas não conseguira entender direito o que ele havia dito.
  - Eu não ouvi! - A menina quase gritou com a mesma proximidade. apenas riu da "delicadeza" de .
  - Eu preciso conversar com você. Podemos subir? - tentou mais uma vez. assentiu com a cabeça, dando a entender de que tinha ouvido tudo certinho. Ele agarrou a mão fria da menina e a guiou pelo salão até atingirem as escadas, o topo dela e outro lado da porta também.

  A mão de tocou os interruptores e as luzes acenderam. A sala continuava a mesma. Desde a briga. O garoto sentou no sofá a pediu com os olhos para que fizesse o mesmo. Ele via nos olhos castanhos que as lembranças não inundavam só a ele. Ela também estava quase transbordando. deitou sua cabeça no ombro de . Ele suspirou e ela ouviu aquilo que menos esperava em toda a sua vida.
  - Sabe, . Eu só queria dizer que te amo.
  - Não é tão fácil quebrar o coração de alguém e pedir para que ele se remende com três palavrinhas. - brincava com os dedos da garota e olhava para lá. Era fraco demais para mirar seus olhos cor de café. - Não é tão fácil seguir em frente.
  - Eu sei. Eu tenho medo de que isso - apontou para os dois juntos. -, acabe algum dia. Sabe, eu tinha medo de mostrar meu amor e me tornar frágil. Mas com você longe, eu percebi que ficava ainda mais... - ele se perdeu nas palavras.
  - Vulnerável? - chutou.
  - Sim. Vulnerável longe de você, . - ele finamente virou o rosto. já havia tirado sua cabeça do ombro do garoto. Azul e castanho se encontraram novamente. - Eu preciso de você. É como se você me completasse. Nada está certo quando nos separamos e nada é fácil quando estamos juntos.
  Com o contato visual, os dois deixaram que as palavras escorressem de seus corações e fossem até o outro. O amor era dito com os olhos. A paixão era dita com o toque. Os dois eram intensos, eram choque, era fogo, eram gelo.
  Assim que as luzes foram apagadas mais uma vez, os dois corpos ainda estavam ali. Apenas o brilho de quatro olhos apaixonados podia ser visto no quarto escuro. Não precisavam de mais nada para sobreviver àquela noite.



Comentários da autora


Sorry, queria ter escrito com mais detalhes, mas a fic foi de último segundo (mesmo!)
Obrigada por ter lido.
Beijos!
Manu

PS: Recomendo---Empty Shets---- minha outra fic no site. É só procurar.