She Can't be What You Need If She's 17

Escrito por Millena Borges | Revisado por Mah

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  Sentei-me na cama assim que consegui me livrar de todos os malditos presentinhos, fotos e recordações que eu tinha recebido de nesses últimos nove meses. Nove meses de namoro. Nove meses de “eu me apaixonei por você assim que te vi”, nove meses de “escrevi essa música sobre você”, nove meses do que, agora, me parece ser mentira.
  Eu nunca menti sobre o que eu sentia pelo , tudo o que eu demonstrava era tudo o que eu sentia de verdade. Mas quem sabe aquilo só era mais uma “paixão adolescente”. Talvez eu me ‘deixei levar’, eu só tenho 17 anos, é isso o que as garotas da minha idade fazem, se deixam levar. E como ele mesmo disse “Eu não posso ser o que ele precisa, se eu tenho 17 anos.”. Acontece que não fui eu que quebrei o coração dele. Então, , sua música está errada.

  // Flashback //

  - Sabe. – ouvi a voz de baixa e lenta na minha orelha. Também conseguia sentir seu hálito de menta e morango, devido nossa proximidade. Eu estava encostada ao seu peito, sentada no sofá-cama de camurça da casa de meus pais, assistindo pela terceira vez Constantine, um filme do Keanu Reeves, um dos atores favoritos de . – Acho que a gente deveria terminar.
  - Por quê? – perguntei sem tirar os olhos da televisão, sabia que ele me olhava para ver minha reação e não queria demonstrar que estava extremamente assustada com aquele assunto repentino.
  - Não sei. Não acho que isso vai a algum lugar um dia.
  - Não acha que vai dar certo?
  - Não acho. – ele respirou fundo antes de voltar seus olhos para televisão. – Você está magoada?
  - Não sei. – respondi depois de pensar por alguns breves segundos, e eu realmente não sabia. Só namorei dois garotos além de , talvez o primeiro não conte, porque durou apenas dois dias. Mas apesar de tudo eu sabia que deveria me sentir com raiva, triste ou chateada, porém eu não conseguia sentir nada. Nada. Apenas um vazio dentro de mim.
  - Então. – ele hesitou por alguns segundos, tirou seu braço que antes envolvia minha cintura e se sentou corretamente. – Eu vou embora.
  - Ok.
  - Ok. – se levantou, caminhou até o aparelho de dvd e retirou o filme. – Você pode ficar com o filme se...
  - Eu não quero. Acho esse filme uma droga. – eu não achava.
  - Ok. – engoliu em seco e colocou o cd dentro da capa do filme. – Me acompanha até a porta? – levantei-me do sofá e segui até a porta da frente sem dizer uma palavra. Ele abriu a mesma e saiu, se virando para mim. Ele se curvou e me deu um beijo na bochecha direita, talvez por pena. – Eu te ligo.
  E nunca mais ligou.

  //Fim do Flashback//

  Eu não chorei por duas semanas. Eu sempre recebia olhares de pena dos meus pais, dos meus amigos e até do meu irmão mais velho, que parecia me odiar, mas eu não chorei. Eu não sentia vontade de chorar.
  Depois que ele deixou minha casa, eu caminhei até o meu quarto e fiz o meu dever de casa, fiz o dever de casa da semana inteira, e não derramei uma gota de lágrima.
  Quando meus pais chegaram do trabalho, perguntaram por que tinha ido embora tão cedo, já que ele sempre fica para jantar, e eu contei que havíamos terminado.
  Eles disseram que sentiam muito, mas tudo o que eu fiz foi alegar que estava tudo bem.
  Não toquei no nome de pelo o resto dos dias seguintes, fui para a academia e malhei como se nunca fosse malhar mais, levei a minha vida normalmente, apesar de que não recebi a tal ligação de .
  Duas semanas se passaram e, hoje, eu acordei como se meu mundo fosse desabar. Eu estava chorando durante o meu sono.
  Peguei um saco de lixo e juntei tudo o que eu não queria mais: Roupas, presentes, fotos, tudo. Meu quarto ficou mais claro sem todas aquelas lembranças. Eu até tinha um novo espaço para minhas pinturas, e não precisaria pintar no escritório do meu pai, só quando ele estivesse no trabalho.
  Peguei o cavalete e uma tela em branco e o levei até o meu quarto, assim como as últimas duas telas que estavam no escritório. Joguei algumas tintas na paleta, e me sentei de frente ao quadro. Então comecei a pintar. Pintei sem nem pensar no que pintar. Apenas pintei.
  Eu pintava a vista que eu tinha, sentada ali, de frente para a tela. A vista da parede do meu quarto e da janela aberta, deixando a luminosidade do sol entrar. Mas em vez de sol, tudo o que se via na pintura era um quarto escuro, o sol não ultrapassava o vidro da janela. Era assim que a minha cabeça estava no momento.
  Sentia algumas lágrimas caírem enquanto finalizava a pintura e, com isso, veio os soluços. Eu não me importei. Ouvi a porta sendo aberta de leve, mas não quis olhar para trás e ver meu irmão ali, me observando, apenas continuei a pintar.
  Quando a pintura finalmente estava pronta, eu joguei a paleta no chão, junto com o pincel em minha mão, deixando o pincel maior apoiado no cavalete. Sequei as lagrimas do meu rosto, ainda com a mão suja de tinta e tentei controlar os meus soluços, que diminuíam gradativamente.
  Oliver abriu mais a porta, que rangeu, e caminhou até a minha cadeira e encostou sua mão em meu ombro.
  - Sinto muito, .
  - É, eu também.

  Não muito depois do acontecido, eu descobri que estava saindo do país com sua banda, The 1975. Eles iriam fazer alguns shows pelos Estados Unidos.
  Se eu te disser que eu não pensei em ir até a casa dele e dizer que estava feliz pela sua conquista ou coisa do tipo, só para tentar parecer que estava bem e que não queria voltar com ele, eu estaria mentindo. Eu pensei em várias maneiras de ir até lá, pensei no que dizer e como dizer. A verdade é que eu estava esperando que ele magicamente fosse se arrepender do acontecido, e me pedir em namoro novamente.
  Isso tudo que se passava na minha cabeça só me fez ficar com mais raiva ainda, ele não podia simplesmente brincar comigo durante nove meses, dizer que me ama e depois pular fora com essa desculpa de que não ia dar certo. Estava dando certo. E agora, eu fico em casa, lamentando pelo o que eu fiz ou não fiz de errado, enquanto ele fica enfurnado num maldito ônibus, rodando os Estados Unidos, enquanto fuma maconha?
  Eu levantei-me de cama e peguei as chaves de casa ao descer as escadas. Vestida apenas com um short, chinelos e uma blusa de manga, eu segui para sua casa, no final da rua.
  Não me importei em bater na porta ou tocar a companhia, porque ele sempre deixava a porta aberta. Abri e fechei a mesma, assim que entrei e o encontrei, é claro, sentado no sofá, fumando, enquanto assistia ao seu filme favorito.
  - Ah, oi. – ele disse, se virando para a porta, onde eu continuava parada, ofegante, com a minha pequena caminhada. – Sobre eu não ter te ligado...
  - Eu não quero saber por que você não me ligou, não quero saber que desculpa você vai inventar. Eu só estou aqui pra te falar que se você vai fazer isso comigo, me largar dizendo que nosso namoro de nove meses não vai dar certo, sem nem mesmo uma explicação plausível pra isso, então que você faça isso direito, porque até uns dias atrás estava tudo bem entre nós. Porque se você acha que eu não sou o suficiente, então eu te digo: Eu sou sim o suficiente. Porque o fato de eu ter 17 anos não interfere em nada no nosso relacionamento, eu não estou aqui pra voltar, ou sei lá o que você está pensando, eu só estou aqui pra falar que eu posso sim ser o que você precisa, mesmo tendo 17 anos.
  Eu continuei sem fôlego ao terminar minha sentença, apenas encarei por alguns segundos. Ele me olhava assustado, como se pensasse “o que deu nessa garota?”. Virei as costas para ele, e girei a maçaneta, abrindo a porta novamente, porém ouvi o barulho dos seus pés tocando o chão e congelei onde estava.
  - Sinto muito, . – ele disse atrás de mim. Virei-me e levantei os olhos para encará-lo.
  - “Sinto muito, .” Meus pais sentem muito, meu irmão sente muito, você não sente nada.
  - Eu não posso te prender assim, amor. Você é nova, tá no seu último ano no colégio, vai curtir a sua vida. Eu tenho a minha banda, eu quero viajar, tocar, fazer o que eu amo, sem ter um peso na consciência.
  - E o peso sou eu, né.
  - O peso é acordar todos os dias, do outro lado do mundo, e lembrar que eu tenho uma namorada aqui em Manchester. Que ela não vai aproveitar a melhor fase da vida dela, porque está presa com um namorado que provavelmente vai trair ela na primeira oportunidade que tiver. – ele disse, e eu fiquei chocada com o que me foi dito. Eu apenas não conseguia ter uma resposta à altura. Ele respirou fundo. – Olha, eu nunca te traí, se é isso que está pensando. Você é maravilhosa e eu nunca faria isso com você, mas eu tenho 23 anos, logo estarei em outro país por dois meses, eu não vou aguentar ficar sozinho, eu sou jovem, quero aproveitar a vida que tenho, e eu sei que você também quer, por favor, não torna isso difícil para nós dois.
  - Eu não acredito.
  - Me desculpa, eu...
  - Não, eu vim aqui pra te ofender, te xingar, seja lá o que for, eu só queria te fazer se sentir mal pelo o que fez comigo e agora, eu to bancando a babaca na sua frente, e... – à medida que eu falava, mais lágrimas se acumulavam nos meus olhos. Ele tentou me abraçar, mas eu dei dois passos para trás, batendo com as costas na porta de madeira. – Não me toca. Eu vou embora.
  - Fica. – ele falou, mas parecia que ele estava me implorando. – A gente pode assistir a um filme, eu te faço um chá.
  - Não to a fim.
  - Por favor, eu vou embora amanhã. – eu pensei, pensei muito, então acenei com a cabeça. Ele andou até a cozinha para preparar o café, e eu me sentei no sofá, afundando entre as almofadas, e desliguei a televisão.

  Um fim de namoro, não significa um fim de relacionamento. Eu amava , assim como eu amava meu ex-namorado, que hoje eu não amo mais. Eu posso amar de uma maneira diferente, com mais intensidade, mais paixão, mas isso não quer dizer que um dia, eu não vá encontrar uma outra pessoa para amar e para estar junto.
  Quer dizer, eu só tenho 17.

Fim



Comentários da autora


  É isso! Não sei se ficou muito legal, mas até que foi divertido escrevê-la, e eu queria muito mesmo abrir essa categoria no Espaço Criativo, espero que isso incentive vocês a mandarem fanfics sobre The 1975. Eu com certeza irei ler! Haha

  Se não conhece a banda, recomendo ouvir Girls, porque 1) o vídeo clipe é fantástico e 2) tem muitas referências da letra dessa música, na fanfic, então talvez isso fará você pensar que a fanfic é mais cool do que parece. Hahaha
  Obrigada por lerem.