Seven Hearts
Escrito por Ahri | Revisado por Luba
Capítulo 1
CONVERSA NO WHATSAPP ON
: ?
: A balada tá de pé ainda?
: VOCÊ SEMPRE MANDA MENSAGEM DE ÚLTIMA HORA.
: Mas são 18h agora.
: Que saco.
: Marcamos hoje às 20h, né?
: TÁ ATRASADA.
: Tanto faz.
: Vamos ou não?
: CHEGO AI EM 20 MINUTOS!
: VAI TOMAR BANHO SURURU.
: Vai se foder.
CONVERSA NO WHATSAPP OFF
estava na porta da minha casa tocando incessante a campainha.
— Já vai, caralho! — Gritei, segurando a toalha que envolvia meu corpo e descendo os degraus depressa.
Eliza me olhou com o cenho franzido, me repreendendo silenciosamente pelo palavrão.
Abri a porta, encarando a garota de pequena estrutura batendo o pé no chão, com as mãos apoiadas no batente da porta.
— E ai, ? Pronta pra pegar geral hoje? — Perguntou, movimentando os ombros de forma estranha enquanto entrava na sala.
— Qual é, ? Só quero dançar, beleza? — Respondi, secando meus cabelos.
— CHATAAAA! — Mostrou a língua, seguindo-me escada acima.
Chegando no meu quarto, jogou-se preguiçosa na cama, encarando o teto.
— Vai vestir o quê? — Ela perguntou, arrastando-se e encostando a cabeça na cabeceira.
Ergui minha calça jeans preta e um blusão cinza.
riu escandalosamente.
— Você deve estar pirando, né? — Tentou parar de rir, mas as gargalhadas continuavam. — Eu disse, : Você não é nada sem mim. — Caminhou até o closet do lado direito do quarto.
Jogou várias roupas no chão, me fazendo bufar de raiva.
— Usa isso. — Jogou uma peça no meu rosto.
Olhei o vestido preto que eu não usava desde o ano passado.
— Isso não serve. Nem fodendo. — Joguei o vestido em sua direção.
Ela o pegou antes que atingisse seu rosto e me olhou com um olhar intimidador.
— Droga. Passa logo essa merda. — Cedi com a cara fechada.
Entrei no banheiro e me vesti com dificuldade.
— Morreu no banheiro, ? — Debochou.
Sai do banheiro com a maior calma do mundo. Estava com medo que qualquer movimento brusco rasgasse a roupa.
— PORRA, ! VOCÊ TÁ MUITO GOSTOSA! — Gritou, me olhando de cima à baixo.
Comecei a rir e ela me acompanhou.
Olhei para o espelho em frente ao guarda-roupa. Eu estava mais que gostosa.
— O que seria de mim sem você? — Olhei para ela que encontrava-se no chão escolhendo sua roupa.
— Eu disse. — Piscou pra mim. — Agora senta aqui que eu vou dar um jeito nessa sua cara de morta viva.
Revirei os olhos, enquanto sentava em sua frente.
E em quarenta minutos eu havia presenciado o maior milagre do mundo.
— Wow. , você é uma fada! — Exclamei, levantando.
— É, eu sei. — Jogou os cabelos por cima dos ombros.
— Agora sai que é a minha vez. — Me expulsou, levantando-se em um pulo. — Ai, deu câimbra, porra. — Pulou em um pé só até chegar ao banheiro.
Deitei na minha cama e peguei meu celular. Dei uma passada no Twitter e depois fui responder à mensagem de papai.
TWITTER ON
Boa noite pra quem vai curtir a noite com a melhor amiga, pra quem não vai é só noite mesmo!!! :D
TWITTER OFF
CONVERSA NO WHATSAPP ON
Pai: Oi filha, volto pra casa no sábado, tá bom? Estou resolvendo algumas questões para fecharmos o contrato.
: Ah, oi papai.
Pai: Se tudo der certo, sábado acontecerá uma festa para recebermos o nosso novo modelo. Eliza cuidará de tudo.
Pai: Compre um vestido bem bonito.
: Tá bom papai, estarei bem bonita na festa.
Pai: Papai te ama! Até sábado filha.
: Também te amo.
CONVERSA NO WHATSAPP OFF
— Estou pronta. — Ouvi a voz de e olhei em sua direção. Ela deu uma voltinha exibindo o vestido verde escuro de veludo que estava colado em seu corpo, deixando suas curvas bem acentuadas.
— G-O-S-T-O-S-A! Eu pegava. — Bati em sua bunda.
— Tá esperando o que? — Ela se aproximou perigosamente. Nos olhamos e começamos a rir que nem duas hienas com convulsão.
Descemos as escadas e eu me despedi dizendo à minha madrasta que não tinha hora pra voltar.
Will abriu a porta do carro pra nós, mesmo sabendo que eu não fazia questão de toda aquela baboseira.
Fomos deixadas em um novo bar. As letras em vermelho brilhavam chamativas e convidativas.
Entramos atraindo olhares. adorava; já, eu, me sentia bem incomodada.
Fomos direto ao barman, onde pedimos duas doses de tequila e viramos tão rapidamente que o calor se alastrou pelo nossos corpos de forma absurda.
Ouvimos uma música que adorávamos: “Candy Shop.”
Nos encaminhamos para o meio da pista e começamos a rebolar loucamente. Virei de frente para mim e ela jogou seus braços ao redor do meu pescoço. Esqueci de todos os olhares e rebolei até o chão. me seguiu nos passos e colocou as mãos em minha cintura. Aquilo estava sensual demais até pra ela. Viramos de frente, demos às mãos e fomos até o chão. Quando a música acabou, paramos e rimos muito.
Virei-me para pegar uma bebida no bar e perdi minha amiga de vista.
— Filha da puta. — Esbravejei e fui sentar em um sofá vermelho que havia ali no canto. Minha cabeça estava girando muito.
— Oi. — ouvi.
Segui a voz com os olhos e encontrei um homem de cabelos castanhos perfeitamente alinhados. Acho que olhei por tempo demais, pois ele passou a mão em frente ao meus olhos, chamando minha atenção.
— Ah, oi. — Respondi, guardando o celular e olhando para o rapaz que possuía um livro em mãos.
— Quem diabos traz um livro pra boate? — Fiz uma cara confusa. Ele sorri, mostrando seus dentes perfeitamente alinhados e brancos.
— Olha, não me ache estranho. — Falou, arrumando seus óculos. — Eu vim de outra cidade. Estava em uma reunião resolvendo as últimas questões para minha contratação. Então resolvi comemorar. Me chamo . — Estendeu a mão.
— . Mas prefiro ser chamada de . — Apertei sua mão.
— Bom, , quer dançar? — Encarou a pista de dança e voltou seu olhar para mim.
Duvidei por alguns instantes, mas por que não?
Ele segurou minha mão até a pista e, chegando lá, começamos a dançar. Até o momento que o Sr. culto me virou com certa urgência e me encarou como se pedisse permissão pra algo.
— BURRA, ELE QUER TE BEIJAR. — Minha consciência gritava.
Fazia tempo desde que... ah, foda-se.
Colei nossos lábios em um beijo desesperado e necessitado de ambas as partes.
suspendeu o beijo e me puxou pela mão até um corredor com pouca iluminação.
— Entra ai. — Indicou o banheiro masculino.
Alternei meu olhar da porta pra ele. Eu podia sentir meu coração bater descompassado.
— Que foi, ? Não vou te morder, a menos que você queira. — Em um rápido movimento o puxei por sua blusa social preta para dentro do banheiro. Ele bateu a porta com o pé enquanto me beijava.
Me ergueu do chão e me colocou na pia, pressionando seu corpo contra o meu.
Aquilo era loucura. Ele explorava minha boca com maestria, mas, infelizmente, nos separamos em busca de ar.
Minhas mãos foram até os seus ombros, deslizando até seus cotovelos e senti ele apertar minha cintura com mais força.
Foi quando meu celular começou a tocar. Era . Ignorei a chamada e meu celular apitou, indicando uma mensagem.
CONVERSA NO WHATSAPP ON
: ME ATENDE !
: Agora não dá.
: VAMOS EMBORA AGORA.
: ANDA!!!!
: , você nunca vai embora antes das 5 da manhã. O que aconteceu?
: Depois te conto, só vem logo e não para.
: Tô indo, me espera no bar
CONVERSA NO WHATSAPP OFF
Olhei para frente encontrando um encostado na parede de mármore com um olhar curioso e um pouco impaciente.
Saltei da pia e caminhei até a porta.
Lancei um beijo no ar e disse: A gente se vê por ai, fofinho.
Ele me encarava surpreso, mas logo sorriu.
Encontrei sentada em um banquinho tomando uma garrafa d’água.
— Tá tudo bem? — Perguntei à ela, preocupada com sua mudança repentina de humor.
— Ele está ai, . — Seu olhar era distante.
— Ele quem? — Indaguei temendo sua resposta.
— Ian. — Soltou um sussurro como se fosse um pecado dizer aquele nome.
Puxei forte pelo braço, fazendo-a desequilibrar. Só parei de puxar quando chegamos do lado de fora do bar, onde Will estava nos esperando do outro lado da calçada.
Não esperei que o grandalhão abrisse a porta.
Empurrei minha amiga para dentro do automóvel e pedi para que William dirigisse o mais rápido possível.
— Não pode ser, não pode ser. — Eu repetia várias vezes enquanto lágrimas caíam de meus olhos descontroladamente.
Senti dois braços finos me abraçarem e me aconcheguei naquele momento, fechando os olhos devagar com a ideia de que meu pior pesadelo não estava mais em flashes de lembranças. Ele estava lá e era mais real do que nunca.
Capítulo 2
Meus olhos ainda estavam entreabertos enquanto eu tentava bloquear a luz que atravessava a janela. O forte calor transmitido pelo sol queimava minha mão e esquentava minhas vestes; eu havia esquecido de fechar as cortinas. E, infelizmente, era hora de levantar. Mais um dia estava começando e eu afirmava com todas minhas forças que o que havia acontecido ontem tinha sido um mero delírio por conta da bebida.
Fiz um esforço para levantar e logo me arrependi quando fiquei de pé. Minha cabeça girava como um carrossel e eu receava que pudesse cair a qualquer momento. Encostei em minha penteadeira e a vasculhei na busca de um comprimido para aquela dor de cabeça que estava me matando.
— Merda de ressaca. — Reclamei, esticando o braço e alcançando meu celular.
Vi uma mensagem do meu melhor amigo e revirei os olhos, ciente que levaria uma bronca.
CONVERSA NO WHATSAPP ON
: , você faltou aula de novo!
: Me perdoa neném.
: Cheguei ontem e capotei.
: Tudo bem anjo.
: Você foi na boate ontem, né? Eu vi no twitter. kkkkkkk
: De quebra perdeu a aula do George.
: Ai, eu precisava disso .
: Eu tenho que tentar viver de novo.
: Você sabe disso.
: Blz, você venceu.
: Vou dar uma passada ai antes de ir para Southampton, na casa dos meus avós.
: Tá de sacanagem, né?
: Hã?
: Vai ter uma puta festa aqui em casa. Não quero ficar sozinha. Você sabe como meu pai é exagerado.
: E a ?
: Vai pra casa do pai dela esse final de semana. QUE SACOOOOOO.
: Ihhhh baixinha, aquieta a tanga. Sei que você vai dar um jeito de fugir dessa “festinha”.
: cala a boca sequelado.
: Ah, toma um café forte! Tenho certeza que você tá de ressaca.
: Em uma hora eu tô ai.
: E um banho também. Tô sentindo o cheiro daqui. kkkkkkk
CONVERSA NO WHATSAPP OFF
Apenas visualizei a mensagem de e apertei o celular entre os dedos. Fechei os olhos, inspirei fundo e tentei – em vão – afastar as lembranças que vinham em minha mente.
Continuei lutando contra os fantasmas enquanto tirava minhas roupas e cambaleava até o banheiro.
Durante o banho eu esfregava meu corpo com força. Eu não sei explicar o que era aquela sensação no meu peito, mas era horrível.
Deixei que água levasse toda a magoa e dor que eu sentia naquele momento.
Eu tinha que me permitir a viver, tentar de novo e ser feliz.
Sai do banho enrolada em meu robe e penteando meu cabelo. Meus braços e minha barriga estavam com uma vermelhidão ardida devido aos fortes esfregões.
Fui até o andar debaixo e encontrei a decoração de festa mais linda que eu havia visto.
— Uau! — Exclamei, olhando para todos os lados e apreciando o contraste que a cor vermelha Fazia com o dourado e preto.
— Gostou da decoração, ? — Eliza sondou, curiosa. — Claro, Liza! A festa será maravilhosa. — Terminei de descer os degraus, dando um giro no meio do cômodo.
— Seu pai pediu para te dar dinheiro para comprar o vestido. O cartão está em cima do balcão e a senha é 2456. Ah! E ele chega mais tarde. A festa iniciará as 21:00. — Lembrou-me.
— Obrigada, Eliza. — Dei um abraço apertado nela e subi as escadas.
Daqui a pouco meu amigo estaria ali e eu iria carrega-lo para a loja comigo. Ele provavelmente não vai querer ir, mas vou arrastar o pobre coitado mesmo assim. Vesti uma roupa mais leve e entrei no twitter. havia feito um tweet furiosa e eu sabia bem o motivo. Mais tarde falo com ela.
TWITTER ON
DAY: Filho da puta desgraçado tinha que voltar justo agora? Tomara que morra!
TWITTER OFF
— , chegou. — Eliza falou. Acabei dando uma gargalhada pela forma como minha madrasta o apelidou carinhosamente.
— Tô indo. — Dei um berro, passando em seu quarto, pegando o cartão de crédito e colocando dentro da minha pequena bolsa.
Vi que ele estava papeando com uma das empregadas e aproveitei para fazer uma entrada trinfual:
— ! — Gritei pulando em suas costas. Heloísa deu uma risada e pediu licença para voltar a cozinha.
— Anjinho! — Gritou em retorno, distribuindo cócegas pelo meu corpo.
— E aí? Pronto para passar horas ajudando na escolha do meu vestido? — Provoquei, cutucando uma de suas costelas.
— Nossa, você não imagina o quanto. — Revirou os olhos.
— Tá de carro ou quer que eu peça pro Will nos levar? — Me dirigi até a porta.
— Tô de carro. — Ergueu seu chaveiro. Eu realmente não fazia ideia porque ele carregava tantas chaves.
Atravessamos o jardim até o seu Audi Preto.
— Damas primeiro. — Abriu a porta para que eu me acomodasse no banco do carona.
— Deixa de ser maricona, . — Ri do seu jeito cordial.
Ele entrou no carro com cara de poucos amigos, mas olhou para mim soltando uma gargalhada.
Dirigia concentrado, até eu ligar o rádio e começar a cantar junto à música.
— So many times it happens too fast. You trade your passion for glory. — Balançava a cabeça acompanhando a batida. — Don't lose your grip on the dreams of the past. You must fight just to keep them alive.— Completou tamborilando os dedos no volante.
E assim seguimos para Misses Dressy, lugar onde eu comprava meus vestidos. A unidade havia mudado de local, encontrando-se agora na 37-24 24th Street, Suite 140, Long Island City, NY 11101.
Estacionamos o carro e entramos na loja. Lauren recepcionou a gente.
— Olá, querida! Quanto tempo. — Me deu um abraço virando-se para meu amigo. – E você, bonitão? Está bem? — Apertou o braço de .
Era visível seu desconforto. Ele não falava muito quando estava com vergonha. Então respondeu com um rápido aceno.
— O que está querendo hoje? — Me encarou com seus olhos verdes.
— Quero algo mais impactante. Papai me mataria se eu aparecesse com algo simples demais como da última vez. — Joguei minha bolsa no colo do garoto sentado no sofá bege e fui em direção às araras.
— Além do mais a Vogue é a revista feminina de moda mais importante, conceituada e influente do mundo. Se você não chamar atenção dessa vez, seu pai vai me matar. — Fez o sinal da cruz.
Ri em resposta. Passei meus olhos por todo o ateliê, até meu olhar pousar em um vestido preto com brilhantes, uma fenda e um decote muito chamativo.
— Quero experimentar aquele. — Apontei para o vestido no manequim.
— Eve, pegue o vestido e leve até o provador. — Ordenou, olhando a ruiva que aparentava beirar seus trinta anos.
A mulher levou-me até um espaço e me ajudou a colocar a peça.
— Esse vestido foi feito pra você menina. — Me instigou a olhar no espelho.
— M-E-U D-E-U-S. – Sibilei, e tratei de ir até que encontrava-se largado no sofá, mexendo descontraído no celular.
— , o que você achou? — Dei uma voltinha para que meu melhor amigo avaliasse meu look e parei fazendo uma pose.
Ele sentou, mirou a câmera em mim e tirou uma foto, me cegando com o flash.
TWITTER ON
: Meeeeeuu amigo... @mrs se supera dia após dia. Spoiler para os fofoqueiros de plantão!!!!!! FILHA DO CASSIUS AQUI GENTE, OLHA.
TWITTER OFF
— Está perfeita, . — Sorriu e veio em minha direção. Arrumou a minha franja, que insistia em cair nos meus olhos, e sussurrou no meu ouvido. — Convenhamos que você fica melhor sem ele. — Me arrepiei dos pés à cabeça, me repreendendo pelas lembranças que ficaram frescas na minha mente.
Antigamente, nossa ideia de amizade, era bem... diferente. foi bem importante na questão "superação" para mim; foi carinhoso e cuidadoso em relação aos meus traumas e medos.
Balancei a cabeça e olhei dentro de seus olhos dizendo:
— , já conversamos sobre. — Tentei ser um pouco ríspida. Precisava que ele levasse a sério. — Você foi muito importante em todo processo e eu sou muito grata! Mas, por agora, esqueça isso.
— Foi mal, foi mal. — Lançou um sorrisinho, fazendo com que eu abrisse um também.
— Vai ser esse. — Indiquei o vestido em meu corpo, indo de volta para o provador.
Peguei o celular, ainda com as lembranças do meu melhor amigo na minha cabeça, e postei
TWITTER ON
: Como esquecer do sexo, afinal?
TWITTER OFF
Será que eu estava de volta? Será que eu poderia enfrentar aquilo de novo? Eu voltaria à viver?
Paguei tudo e fizemos o percurso de volta para casa.
Me despedi de dando um abraço apertado e pedindo para que ele voltasse logo. Ele me deu um beijo na testa e esperou que eu entrasse para casa.
Assim que coloquei meus pés na sala, eu vi quem eu menos esperava.
— ? — Emiti com espanto.
O garoto olhou para mim com os olhos arregalados e deixou o material que parecia de fotografia em cima da mesa de vidro.
— ? — Me encarou duvidoso.
— Eu mudei tanto assim? — Ri da cara que ele fazia.
— Porra. Tá mais gostosa. — Soltou, mas se arrependeu quando escutou um "olha essa boca! Vou te mandar de volta pra Tailândia, moleque" vindo de Eliza.
era um primo distante por parte de mãe. Eu não tinha muito contato com a família da minha mãe e depois que ela faleceu, eu perdi totalmente.
Como papai gostava muito do , deixou que o mesmo ficasse aqui em casa durante um tempo já que ele estava fazendo o colegial em Nova York.
foi estudar em Los Angeles e, depois disso, nunca mais tive notícias dele.
— Por onde andou esse tempo todo? — Perguntei, curiosa. Sentei no sofá e cruzei a pernas. Ele estava mais bonito também.
— Estava com saudades? — Brincou. — Depois que me formei, peguei alguns trabalhos na Tailândia. — Respondeu, simples. — Antes que pergunte, seu pai me contratou para fotografar o novo modelo e também a festa de hoje. — Adiantou. — Por isso estou arrumando o equipamento. — Indicou com a cabeça a mesa com câmeras, tripés e tudo mais.
— Cara, que legal. Fico feliz pelo seu sucesso. — Levantei do sofá e lhe dei um abraço. — Beleza, . Vou subir para me arrumar.
Apesar do tempo, ele foi muito presente na minha adolescência e eu supria um carinho muito grande por ele.
Ele me abraçou de bom grado e eu me aconcheguei nos seus braços. Além de estar bem mais forte que antes, agora ele também tinha um cheiro maravilhoso. Estava prestes a me afastar quando o ouvi dizer em meu ouvido: Poderíamos relembrar o passado?
Capítulo 3
E la estava eu: arrumando o meu cabelo e maquiagem.
Antes de subir, não respondi nada ao meu primo. Já éramos muito grandinhos para aquela brincadeira de criança.
— Prontinho, senhorita . — Alec, disse afastando-se para ter uma visão melhor de seu trabalho.
— Sem formalidades, Alê, por favor. — Supliquei encarando seus olhos cor de mel.
— Ai! Tudo bem, . — Finalizou sua obra de arte me enchendo de spray fixador.
Tossi algumas vezes e ele riu.
— O que você acha? — Virou-me de frente ao grande espelho.
— Puta que pariu, Alec. — Falei, boquiaberta. Aquela roupa, juntamente com a maquiagem, faziam a combinação perfeita.
Apareci de surpresa no topo da escada e atrai olhares de curiosos.
Enquanto eu descia devagar a escada, flashes de câmeras me bombardearam.
percebendo a movimentação e sabendo que eu nunca fui muito fã de ser o centro das atenções, atraiu os fotógrafos de sua equipe para a entrada e lançou uma piscadela.
Meu pai estava lá: com seus cabelos quase grisalhos, com sua barba feita e seu terno sob medida.
Não aparentava ter a idade que tinha e sempre fora cuidadoso com o seu físico.
Papai cumprimentava todos presentes, posando para fotos e agradecendo alguns investidores e modelos que ali estavam.
Olhou em minha direção e abriu um enorme sorriso. Eu sentia sua falta, mas a cada dia ele ficava mais envolto com o trabalho que com sua própria família.
Tentei correr para abraça-lo, mas o vestido me impediu, fazendo com que eu diminuísse a minha velocidade.
— Oi, minha filha. Você está deslumbrante. Está muito parecida com sua mãe. — Ele falou, suave. Seus olhos azuis e cheio de vida encararam o chão enquanto ele dava um sorriso. Pude perceber em seu rosto que lembrar de minha mãe foi doído.
— Obrigada, papai. — Sorri abaixando a cabeça.
— Estarei no hall. O modelo que eu contratei fará de nossa revista mais reconhecida ainda. Ele é embaixador de algumas marcas e ficou muito empolgado quando falei das sessões de fotos. —Contava entusiasmado.
— Que legal, pai. — Respondi, sorrindo. Tentei parecer interessada no assunto, mas a realidade é que aquilo era um saco. Não tinha como esconder.
— Olha, pai, será que o modelo chegou? — Apontei para o alvoroço formado na porta de entrada.
Meu pai despediu-se com um breve beijo na minha testa, alegando que teria de recebê-lo.
Já cansada de ficar de pé em cima de um salto agulha, peguei uma taça de vinho que os garçons estavam servindo e subi as escadas. Bati a porta do meu quarto e tirei aqueles sapatos que apertavam meus pés.
Coloquei a taça no criado-mudo e me joguei na cama. Eu não tinha feito tanto esforço durante o dia, mas já estava meio cansada. Meu celular apitou com mensagens de chegando.
CONVERSA NO WHATSAPP ON
: E ai, como foi a fuga da festa?
: Mais rápida do que eu imaginava.
: Tô deitada aqui na minha cama, bebendo meus bons drinks.
: Eu disse KKKKKKKKKKKKKKKKKK
: KKKKKKKKKKKKKKKKKKK
CONVERSA NO WHATSAPP OFF
Respondi meu amigo e decidi entrar um pouco no Twitter.
TWITTER ON
: Um brinde aos meus amigos que me deixam sozinha! Ou... sozinha mas com todo mundo; talvez a bebida seja minha única companhia. Boa noite!
COMENTÁRIOS
: Amiga, apaga que dá tempo
: Já tá mals?
TWITTER OFF
Levantei, e fui até a sacada sentindo o vento soprar meu rosto. Peguei o vinho e beberiquei; minha garganta esquentou.
Senti uma presença no quarto e uma respiração forte.
— PUTA QUE PARIU! É AGORA QUE EU VOU MORRER! TEM UM DEMÔNIO AQUI. MEU DEUS, MEU DEUS. — Eu gritava mentalmente.
Eu me olhava pelo enorme espelho do meu quarto. Eu era fodidamente bonito.
— ? — Ouvi uma voz vindo da escada.
Era Nari. Ela trabalhava na minha casa desde que eu era bebê.
— Sim? — Perguntei delicadamente.
— O motorista está a sua espera para levá-lo ao aeroporto. Cuidado para não se atrasar. — Respondeu, com um sorriso.
— Já estou indo. — Revirei os olhos. As vezes ela me tratava como uma criança.
Desci as escadas, passando pela sala, onde mamãe estava sentada. Ela virou-se e olhou para mim dizendo:
— Bebê, tome cuidado lá em Nova York. — Sua voz soou coberta de preocupação.
— Qual é, Sophia? — Digo o seu nome só para irritá-la.
— . — Me fuzilou com o olhar.
— Mamãe, eu sempre quis modelar para VOGUE, esse é meu momento. E não é a minha primeira vez em NY. — Sorri, brincalhão.
— Okay, . — Rendeu-se. — Te amo para sempre.
— Te amo mais. — Respondi, mas logo nosso momento fofo foi interrompido pelo barulho estridente da buzina.
Corri até o carro e, assim que entrei, aceleramos direto para o aeroporto.
Chegamos e meu voo estava quase saindo. Apressei-me com as coisas e finalmente entrei.
Me acomodei na poltrona, peguei uma revista e coloquei os óculos de leitura, pensando no quão demorada seria a viagem. Meus pensamentos foram interrompidos por uma voz.
— Bom dia, senhoras e senhores passageiros! — Sejam bem-vindos a bordo desta Airbus A330. Este é o voo DJ503 para Nova York, com duração de 16h 12m. — Deu uma pausa e tornou a falar. — Para vosso conforto e segurança, por favor, coloquem a sua bagagem de mão nas bagageiras. As que não couberem ou forem pesadas deverão ser guardadas debaixo do assento à sua frente. — Continuou, pacientemente.— Na preparação para a decolagem, sentem-se, apertem o cinto de segurança, coloquem as costas no assento e a mesa na posição vertical. — Lembrando que não é permitido fumar em nenhuma circunstância. — Na decolagem, aproximação e aterrissagem, não é permitido o uso de qualquer tipo de equipamento eletrônico. Para mais informações relativas aos equipamentos eletrônicos que poderão ser utilizados durante o voo, contate alguma de nossas queridas aeromoças ou leia o folheto de segurança. Obrigado, Boa Viagem! — Finalizou.
Após a "breve" mensagem, segui as instruções, deixando a revista de lado e dormindo. Acordei e dormi mais algumas vezes, até que horas depois despertei enquanto o avião aproximava-se do chão para a aterrissagem.
— Em instantes estaremos pousando no Aeroporto Internacional John F. Kennedy. Mantenham os encostos da poltrona na posição vertical e suas mesas fechadas e travadas. Fiquem atentos aos avisos luminosos, eles indicarão a hora exata de apertar os cintos.
— Bem-Vindos a Nova York! São 21h 12m, horário local. Por medidas de segurança, permaneçam sentados e com os cintos afivelados até que os sinais luminosos se apaguem. Informamos também que é proibido fumar durante nossa permanência no solo. Passageiros que fazem conexão nesse aeroporto, deverão desembarcar com seus pertences. Toda orientação será fornecida pelo pessoal da recepção. Esperamos revê-los em breve e agradecemos a preferência. Obrigado!
Desembarquei e fui direto para o hotel.
Cheguei e fiz o check-in. Entrei no meu quarto retirando a roupa e indo em direção ao chuveiro.
Tomei um banho longo, saindo com uma toalha na cintura e a outra secando os cabelos. Decidi pedir algo para comer, eu estava morrendo de fome.
A comida chegou. Eu havia pedido um espaguete com molho carbonara e frango. Estava devidamente temperado. Dei o ultimo gole no suco de morango, escovei os dentes e deitei-me.
— Amanhã será um grande dia. — Apaguei com a ideia de que a noite de festa renderia.
Acordei com o barulho do despertador e desbloqueei o celular, constatando que era exatamente 18h. Sim, eu dormia muito e o fuso horário confundia minha cabeça.
— Merda. — Soltei um grunhido em protesto.
Arrastei-me da cama para o banheiro, desta vez optando pela banheira.
Abri a torneira e deixei encher enquanto escovava meus dentes.
Coloquei os sais de banho na água, me despi e mergulhei até o pescoço, sentindo a sensação relaxante aplicar-se sobre meu corpo.
Levantei após alguns minutos. Lembrei-me que deveria estar na casa do Senhor , às 21:00 horas em ponto.
Sai do banheiro indo em direção ao guarda-roupa. A roupa que eu tinha pedido estava lá.
Me vesti com uma blusa social preta, um blazer da mesma cor, algumas correntes de prata no pescoço, uma calça jeans preta e sapatos sociais.
Fiquei quase uma hora arrumando o meu cabelo e ele ainda não estava da maneira que eu desejava, até que desisti.
Peguei dois perfumes que estavam na prateleira e os misturei, eu gostava de ter uma fragrância única.
Sentei-me na cama, pegando o celular e ligando para John. Ele era o cara que me arrumava algumas prostitutas quando eu vinha para NY.
O celular tocou algumas vezes e foi atendido. Eu ouvia uma música ao fundo.
— E aí, John? — Falei, animado.
— Já sei o que você quer, . Está em Nova York e precisa foder. — Respondeu com sarcasmo na voz.
— Como sempre você adivinhou. — Sorri de lado.
— Ótimo, eu tenho uma aqui. Olha... você vai gamar. — Disse com o tom de voz animado.
— Desde que faça bem o trabalho, eu irei gostar sim. — Respondi, seco. — Dê um jeito de coloca-lá na festa do e lá eu me viro. Me avise quando ela chegar. — Desliguei sem deixar com que ele despedisse.
O telefone do quarto tocou.
— Oi? — Indaguei.
— Senhor , o carro está a sua espera. — O homem disse.
— Obrigado. — Agradeci e desliguei.
Dei uma última olhada no espelho constatando que eu estava incrível.
Abri a porta e chamei o elevador. Entrei apertando o térreo.
Olhei o relógio em meu pulso constatando que era exatamente 20:37 PM.
Entrei no carro e fomos direto para a festa.
Demorou uns 20 minutos para chegar.
Desci do carro sendo recepcionado por vários flashs. Não vou mentir, eu adorava.
Entrei na mansão e.. Puta merda. Ela era ENORME.
O senhor Cassius estava no Hall de entrada esperando por mim.
Assim que eu o vi, apressei-me para cumprimenta-lo.
— Olá, senhor . — Curvei-me minimamente, demonstrando respeito.
— Olá, . Não precisa ser tão formal meu jovem. Pode me chamar apenas de Cassius. — Disse sorrindo e me abraçando de lado.
Gostei desse cara.
— Divirta-se. Está festa será a primeira de muitas que você irá participar. — Disse antes de distanciar-se e se juntar aos seus amigos.
Dei alguns passos e já recebi olhares de mulheres. Algumas solteiras e outras não. Eu devolvia na mesma intensidade, eu amava provocar.
Peguei uma taça de champanhe que serviam ali e bebi em um só gole.
Comi alguns petiscos e eles estavam deliciosos.
Chequei o celular umas três vezes e nada de mensagens do John.
Sentei-me em um banco nos fundos da casa, tomando um pouco de whisky e fiquei observando as estrelas. Pensei no quão errado era aquilo que eu fazia, aquilo que eu desejava. Mas logo fui interrompido pelo som do celular e afastei os pensamentos quando li a seguinte mensagem.
CONVERSA NO WHATSAPP ON
John: Ela entrou na casa
John: Estará te esperando em um dos quartos, de vestido preto.
CONVERSA NO WHATSAPP OFF
É agora. Agora mais do que nunca eu precisava foder. Do jeito que eu gostava.
Bebi o Whisky rápido demais e me senti um pouco tonto ao levantar.
Fui até as escadas e subi a passos fortes.
Entrei no primeiro quarto à esquerda, foi o primeiro que vi.
Nele havia uma menina debruçada na sacada. Ela estava bebendo algo que não consegui identificar. Estava em um vestido preto com uma abertura na perna e as costas totalmente amostra. Naquele momento senti minha calça apertar.
Me aproximei devagar, respirando forte para que ela sentisse minha presença. Ela finalmente virou, e enfim eu pude ver que era a mulher mais bonita que havia visto até então. Seus traços eram delicados, como de uma boneca. Eu a desejava, ali, naquela hora. Ela chegava para trás e eu a acompanhava. Entrei em seu jogo. Mas logo a encurralei na parede. Me aproximei mais um pouco, coloquei seu cabelo atrás de sua orelha e então sussurrei pausadamente:
— Hm, quando eu pedi por uma prostituta não imaginei que seria tão gostosa assim. — Agora deita na cama. — Eu disse, autoritário; e pude sentir ela ficar tensa.
Em uma fração de segundos eu me encontrava no chão, grunhindo de dor. A filha da puta chutou minhas bolas. É isso mesmo?
— Vá se foder, desgraçado. — Ela disse e a raiva era visível em sua voz.
— Você não deveria me tratar assim, vadiazinha. Sabe quem eu sou? — Pergunto e dou um sorriso.
Irei reclamar com o John sobre essa cadela.
— É um idiota metido a gostosão! Sinceramente? Sai do meu quarto. — Gritou apontando para a porta.
— Espera, aí. Me acha gostosão? — Abri mais o sorriso. — C-calma, seu quarto? —Me assustei. Ela NÃO pode ser filha do , nem fodendo.
— Sim, porra! Meu quarto. — Agora vaza ou eu chamo os seguranças. — Diminuiu o tom de voz que usava.
— Ahn... Me desculpe. — Levantei e curvei-me. Eu estava com o cu na mão. — Acho que me confundi. — Estendi a mão. — Sou .
Ela ficou me encarando com uma cara estranha por alguns minutos.
E eu observei melhor. Seu rosto era lindo. Sua boca era um desenho perfeito. Seus cabelos estavam com leves cachos sobre o ombro direito. Sua pele era extremamente linda e eu adoraria deixar marcas por ali. O vestido preto valorizava suas curvas, seus seios não eram tão grandes, mas a sua bunda... PUTA MERDA. E lá estava eu, duro mais uma vez.
Ela sabia que a tensão sexual ali estava enorme.
Mas saiu correndo quando tentei me aproximar.
— ARGH... IDIOTA. — Gritei. — Se ela contar ao pai dela, eu estou fodido. Bye Bye parceria.
Sentei na cama me esquecendo totalmente da foda. Então eu ouço em um sussurro manhoso
— ...? — Entra e fecha a porta atrás de si.
Era uma garota loira com olhos extremamente azuis. Seus seios saltavam do maldito vestido PRETO. Ela caminhava de forma avassaladora.
— Oh, desculpe pelo atraso, eu... — A interrompi.
— Eu não quero saber. Deita na cama. — Mandei.
Como uma ótima garotinha, ela deitou na cama encostando-se na cabeceira.
Caminhei até o lado esquerdo da cama e me sentei. Passei a mão pelo seu rosto, o pegando com firmeza logo em seguida.
— Você irá fazer da maneira que eu mandar. Está bem? — Perguntei, sabendo que a resposta seria sim.
Ela balançou a cabeça em concordância.
— Tire o vestido.
Vejo o mesmo cair no chão em instantes. Ela estava sem calcinha.
— Ótimo. Coloque os braços acima da cabeça. — Mandei.
Observei enquanto ela erguia as mãos lentamente e me afastei para ter uma visão total de seu corpo. Ela era gostosa demais.
Está claro que ela estava excitada e não era a única.
Seguro seu cabelo, enrolo na mão e puxo, deixando seu pescoço totalmente exposto para o meu deleite.
Dou um beijo longo abaixo de sua orelha. E ouço um gemido. Isso me deixa mais excitado, fazendo com que eu marque a sua pele com um grande chupão.
— Anjinho, venha aqui. Ajoelhe. — Ordenei.
Ela para na minha frente, ajoelhada, me olhando e me instigando passando a mão pelo seu corpo desnudo.
Retiro o meu cinto e abro o zíper da calça, olhando diretamente para seus olhos. Deixo a calça cair ao chão, deixando a amostra a minha cueca box preta.
Abaixo lentamente a única peça que impedia o meu amigo de ser liberto.
Esticando o braço, ela me agarra, fechando a mão em torno de minha intimidade.
— Isso, assim. — Minha voz sai mais rouca do que o normal. — Agora, me chupa.
Ela abocanha, chupando com vontade, sua língua era ágil.
— Droga. — Rosnei, tentando imaginar outras coisas para não gozar imediatamente.
Ela engole quase tudo.
— Porra. — Gemo. — Até onde você aguenta, anjo?
Sinto meu pau bater na sua garganta e sei também que estou no meu limite.
— Eu vou gozar. — Aviso.
E como se fosse um estimulo, ela aumenta a velocidade, até que eu me derrame por inteiro em sua boca.
— Uau. O que foi isso? — Pergunto impressionado com a habilidade da garota.
Ela sorri de forma sapeca.
Abaixo para pegar a camisinha que estava no bolso da calça. Pego, abro e coloco.
— Fica de quatro.
Vou para trás da menor, pincelando de leve a sua entrada.
Ela geme.
A penetro com uma só estocada, forte e firme, fazendo-a gritar. Eu não tinha tempo para brincadeiras ali.
Vou alternando entre estocadas lentas e rápidas durante algum tempo, ela estava chegando em seu limite e eu também.
Ela goza e logo depois eu alcanço o ápice.
Saio de dentro dela e visto-me, a mesma me segue arrumando os cabelos que estavam grudados na pele.
Desço as escadas ainda me recompondo, ela fodia bem. Arrumo a camisa e sinto um braço grudar ao meu.
— Ei, não força. Pode soltar, por favor? — Pedi com delicadeza.
Olhei a garota se distanciar e ir embora da festa.
Andei até o banheiro mais próximo para arrumar meu cabelo, eu estava acabado.
Olho pelo espelho vendo a filha do . Seus olhos estão fixos em mim. Droga!
Continuo olhando-a pelo espelho e digo:
— Você será um problema, baby. — Dei um sorriso de lado.
Capítulo 4
Passei o domingo todo em casa atualizando minha série preferida, mas eu ainda não tirava aquele egocêntrico da minha cabeça.
— , acorda! Você não pode perder aula de novo. Vai, vai. — Uma voz suave falou ao fundo, me fazendo abrir os olhos. Dei de cara com uma Heloísa desesperada que tentava me acordar.
Levantei de supetão, assustando a moça.
— Puta merda. Que horas são? — Eu olhava para os lados em busca do meu celular.
— Você tem 20 minutos para se arrumar. está te esperando lá embaixo. — Avisou e saiu do cômodo.
Droga. Eu tenho que parar de madrugar assistindo supernatural.
Tomei o banho mais rápido da minha vida e escovei meus dentes em dez segundos. Peguei uma calça jeans qualquer e uma blusa do AC/DC.
Desci exasperada, pegando uma maçã e indo até .
— Tá rindo de que? — Perguntei, mordendo a fruta.
— De você. Não vai comer algo direito? — Riu indicando a maçã.
— Não dá tempo. Vamos? — Perguntei com certa afobação.
— Isso é tudo porque você não vai ter mais aula com o George? — Brincou.
— Ainda bem, né? Já tenho dificuldade e o cara ainda complica. O velho me odiava. — Soltei uma gargalhada.
Ouvimos passos e olhamos para cozinha vendo um homem sem camisa caminhar até nós.
— Bom dia, . — Disse com a voz um pouco rouca.
Ele estava um delícia só com aquela bermuda.
— ? — Arregalou os olhos, fitando meu primo.
— ? — Respondeu em retorno, coçando o olhos. — VEM CÁ, CARA! ME DÁ UM ABRAÇO. — Puxou meu melhor amigo.
— Quando você voltou mano? — perguntava animado.
— Cheguei ontem, cara. — ia falar mais alguma coisa quando foi interrompido por mim.
— Pateta — Os dois olharam. — Não você. — Apontei para o . — Você, pateta maior. — Mirei meu dedo em .
— Mano, mais tarde eu venho aqui pra gente botar o papo em dia, beleza? — Foi caminhando até a porta.
— Claro mano. Pede meu número com a depois. — Piscou.
— Eu não tenho seu número, idiota. — Respondi saindo de casa.
Fui para a universidade de carro com o . Ele estudava na mesma unidade que eu e costumava me dar carona.
— Vou sair mais cedo hoje. Se importa de chamar Will pra te levar em casa? — Sondou, passando a mão na nuca.
— Claro que não, . — Olhei para ele com ternura. — Tenho que ir, senão vou me atrasar. — Deixei um beijo na sua bochecha e desci do carro.
Corri corredor adentro. A porta estava fechada. Bati e esperei.
— Mas que droga, George. — balbuciei, irritada. — Espera... eu não tenho mais aula com aquele velho. — Falei com certa alegria.
Olhei para baixo vendo que meu tênis estava desamarrado.
Abaixei, colocando o cadarço por dentro da meia.
Ouvi a porta abrir e subi meu olhar para a mesma.
Subi encarando os sapatos deveras lustrado e a calça jeans apertada, que ficava totalmente bem em seu corpo e uma blusa social branca. Quando pousei meu olhar em seu rosto, o ar me faltou nos pulmões.
— Puta merda. — Quase gritei pelo susto.
Ele me olhava fixamente, alternando de meus olhos para minha boca.
— Entre, por favor. — Foi formal.
Sentei no lado esquerdo da sala, em frente a janela.
— Bom, como muitos já sabem, eu irei substituir George. — Deu uma pausa e continuou. — Eu sou . Serei seu novo professor. — Olhou dentro dos meus olhos.
Droga! Esse cara é um puta gostoso, beija bem pra caralho e agora está aqui na minha frente e não posso fazer nada.
Olhei para os lados vendo que as alunas estavam animadas até demais.
— Bom, pelas anotações do seu antigo professor, vocês iniciariam Comunicação Empresarial. — Deixou o livro na mesa e encostou na mesma, apoiando as mãos na beirada.
— Alguém sabe me dizer o que é comunicação empresarial? — Passou os olhos pela sala e parou em mim.
— Você. — Apontou o dedo para mim.
— Bom, senhor,... — Olhei para a lousa onde continha o seu sobrenome escrito. — . Creio que seja uma ferramenta estratégica utilizada por empresas de todos os portes para atingir objetivos. Tais como aumento de credibilidade, melhoria de imagem da corporação e de seus resultados e crescimento nos lucros. Correto?
— Pesquisou isso onde? No Google? — Virei a cabeça, encontrando . Aquele garoto era um saco. Sempre agarrado em sua namorada. ATÉ NA SALA DE AULA. Simplesmente nojentos.
Quando eu ia dar uma resposta à ele, se adiantou.
— Muito bem, . Está correto. — Quando percebeu ter falado meu nome, se arrependeu e tentou explicar. — É , né? Filha do Cassius . — Riu, colocando a mão na frente da boca e arrumando seus óculos em seguida.
— Isso. — Sorri tentando quebrar o clima.
Ele seguiu explicando a matéria.
— Para que a corporação funcione, tanto em termos operacionais, quanto na parte de clima corporativo, a comunicação empresarial é fundamental. — Gesticulava com as mãos. — É ela que vai garantir que os colaboradores trabalhem de forma conjunta e alinhada aos objetivos da empresa, e ainda fazer com que eles se sintam pertencentes a ela, implicando em aumento de desempenho, inovação constante e criando defensores da sua marca. Mas não se assustem — Adiantou ao ver que alguns alunos estavam com os olhos arregalados. — Trabalhar com comunicação nas empresas não precisa ser uma tarefa extremamente árdua e complicada, ok? — Acentuou, percebendo que os alunos estavam calados demais.
— Vocês são sempre assim ou é só porque é o meu primeiro dia? — Brincou, descontraído.
A aula passou rápido depois que sorteou os trios de estudo.
Eu havia caído com e .
quase não ia. As pessoas diziam que ele ficava na sala de música cabulando as aulas.
Há rumores de que ele gostaria de ser musicoterapeuta e só estava cursando administração por causa da empresa de seus pais.
As aulas chegaram ao fim e eu fui para fora do campus. Olhei para o alto e admirei as nuvens que formavam-se no céu.
— Merda. — Revirei a mochila em busca do meu celular.
Bufei ao ver que eu havia deixado o aparelho em casa.
Ia cair o céu sobre minha cabeça e eu estava lá: exposta ao dilúvio.
Senti as primeiras gotas em meus braços e em um piscar de olhos eu estava encharcada.
— Caralho, não é possível. — Eu gritava com descontentamento.
Como havia saído cedo, eu estava sem opções.
— Eu sou burra ou o que? Quem sai de casa sem o celular e sem dinheiro para pegar A DROGA DE UM ÔNIBUS? — Sai batendo os pés, procurando por um lugar onde pudesse me abrigar.
Andei até a cafeteria onde sempre ia com após um longo dia de baboseiras naquela faculdade.
Ela encontrava-se relativamente cheia.
Aquelas pessoas eram como os animais na arca de Noé. Porque o dilúvio estava lá e era real. Eu ria sozinha com meu pensamento.
— Você não parece ser daquelas garotas que é totalmente sozinha e que precisa ficar conversando com sua própria consciência por conta da solidão. — Ouvi uma voz baixa dizer e soltar um riso pelo nariz.
Olhei para frente e encontrei folheando o cardápio como se não quisesse nada.
— E você não parece ser daqueles garotos que tomam conta da vida dos outros, . — Levantei uma sobrancelha, desafiando-o.
Ele deu uma gargalhada, fazendo todos presentes naquele estabelecimento olharem para nós dois.
— Tá maluco? — Perguntei, sentando-me na frente dele com os olhos arregalados.
— Foi mal. Força do hábito. — Olhou para o cardápio novamente e chamou o garçom.
— Eu quero um cold brew, por favor. — Falou, para o homem baixinho e barrigudo que anotava tudo com pressa.
— E você? — Olhou para mim.
— Ah, eu? Nada. — Respondi.
— Certeza? — foi a vez de perguntar.
— Uhum. — Reafirmei.
O moço, que estava de pé, foi em direção a cozinha para provavelmente entregar o pedido do .
— Seu motorista esqueceu de você? — Perguntou em tom zombeteiro.
— Eu ia embora com meu amigo. Mas ele saiu cedo. — Bufei e cruzei meus braços Eu estava um vexame. Parecia um cachorro molhado. — E, pra sua informação, eu não consegui ligar para Will porque esqueci o celular em casa. — Sorri falso.
começou a rir muito alto; mais que a última vez e não conseguia parar.
— O que foi? O que eu disse de tão engraçado? — Olhava para os lados e escondia o rosto com a mão.
— O seu "chofer" tem nome de mordomo. Daqueles de filme, sabe? — Tentou explicar, mas as gargalhadas o impediam.
— Ele não é meu "chofer"! Para com isso. — Ordenei. — Você é irritante. — Revirei os olhos.
— Tá, tá. — Riu de novo.
Ficamos em silêncio até a bebida de chegar. O garoto levantou-se e saiu sem dizer uma palavra.
Um segundo após atravessar a porta ele voltou e me gritou.
— ! — Atraiu olhares novamente.
Se aproximou e ficou em pé, apoiando uma mão na mesa e a outra ocupada com o copo.
— Me esqueci de perguntar se você quer carona. — Tamborilou os dedos na mesa.
— Sério? — Perguntei, surpresa. — Poxa, cara, eu vou aceitar sim. Mas eu estou ensopada, tem algum problema? — Olhei duvidosa.
— Claro que não. O banco é de couro. Fica tranquila. Bora? — Fez sinal com a mão, me chamando.
Caminhamos até um carro prata parado do lado esquerdo da rua.
A chuva caia fina, mas não parecia se importar.
Entramos e ele arrancou.
Depois de alguns minutos dirigindo, ele ligou o som.
Começou a tocar Bruno Mars.
Today I don't feel like doing anything
I just wanna lay in my bed
Don't feel like picking up my phone
So leave a message at the tone
'Cause today I swear I'm not doing anything
Olhei pra ele com uma cara estranha.
— Que foi? Não gosta do Bruno Mars? — Continha ofensa em sua voz.
— Que? Claro que eu gosto. O cara é incrível. — Rebati.
— Eu tenho a coleção de vinil dele, sabia? — Disse, orgulhoso.
— E por acaso você tem um toca disco? — Perguntei por curiosidade.
— Ahn... é... sobre isso. — Riu sem graça.
— VOCÊ TEM UMA COLEÇÃO DE VINIL E NÃO TEM UM TOCA DISCOS? Que tipo de pessoa você é, ? — Gargalhei.
— Não importa. — Fez uma cara fofa.
— Olha só pra você, parece uma lontrinha. — Apontei pra ele.
— Para com isso. Eu não pareço esse bicho coisa nenhuma. — Fechou a cara.
Desci o olhar para o seu braço, vendo que uma tatuagem escapava por entre os panos. Não comentei sobre, mas eu gostaria de descobrir o que era.
— Está entregue, . — Zombou.
— Valeu ,. Te devo uma. — Balancei a mão saindo do carro.
Olhei para frente, vendo o carro desaparecer pelas ruas.
Quando estou prestes a atravessar a faixa para ir até a minha casa, sinto um impacto forte e, de repente, eu estou no chão.
Tento me levantar de primeira e não consigo.
Tento mais uma vez e levanto com dificuldade. Minha mão doía fortemente.
Olhei para o lado querendo entender o que estava acontecendo.
Foi quando vi um garoto, levantando do chão e montando sua moto.
Ele tinha um ar misterioso e perigoso.
Retirou o capacete e direcionou seu olhar pra mim.
Seu olhos eram negros como duas fendas. Seu piercing abaixo do olho chamava atenção. Seus cabelos estavam presos em um mini coque.
Sai do transe quando escutei sua voz.
— Não olha por onde anda, menina idiota? — Sua voz era carregada de raiva.
Capítulo 5
— Qual é, Mike? É só um baseadinho. Deixa de ser careta. — Ri, passando a língua na seda para fechar o baseado.
— Moleque, eu te vi crescer. Se quiser fazer essas coisas, que faça; mas longe do meu bar. — Retrucou irritadiço. — Seu pai não ficaria orgulhoso de você. — Falou enquanto lavava um copo.
Bati no balcão atraindo o olhar de outros clientes.
— Não ouse tocar nessa palavra. Ela perdeu o sentido pra mim desde que ele abandonou a mim e a minha mãe. — Eu o olhava com raiva.
— Olha a maneira que você fala comigo. — Esbravejou. — Seu pai era meu amigo. Eu conheço sua conduta. — Me olhou nos olhos.
— Conhece tão bem que está defendendo esse filho da puta. — Passei a mão pelos cabelos. — Não me surpreende vindo de você. — Sorri de lado, demonstrando deboche.
— O que você disse? — Fez uma cara confusa.
— Eu disse que não me surpreende vindo de você. — Debrucei sobre o balcão, encarando Mike.
— Saia daqui agora, seu moleque. Vou acabar perdendo minha paciência. — Apontou para a porta.
— Hm. — Olhei para ele de soslaio, observando que Mike apertava o pano de prato com certa força, o que fazia com que os nós de seus dedos ficassem brancos.
Levantei do banquinho devagar e encarando algumas pessoas que me olhavam torto.
Embora eu brigasse feito cão e gato com Mike, ele foi quem mais me ajudou quando meu "pai" nos abandonou.
Sai do bar e senti meu celular tocar.
E logo depois algumas mensagens chegaram.
WHATSAPP ON
Mãe: Filho, você não volta pra casa faz dois dias.
Mãe: Onde está?
WHATSAPP OFF
Guardei o celular no bolso da jaqueta e peguei a chave.
A raiva me consumia naquele momento e eu não pensava em mais nada; só queria pilotar a minha moto e sumir por ai.
Coloquei o capacete e girei a chave, ouvindo o barulho que eu tanto amava. Era hora de acelerar.
Arranquei com tudo, fazendo a poeira subir. Eu acelerava cada vez mais, admirando a sensação de adrenalina que corria pelo meu corpo e pelas minhas veias.
Era disso que eu gostava: do perigo.
Acabo por esquecer que as vezes eu não posso ultrapassar os limites de velocidade. Mas quem liga, afinal?
Acelerei mais um pouco e em uma fração de segundos eu me vejo no chão.
— CARALHO! NÃO É POSSÍVEL QUE VOCÊ TENHA CAÍDO DE NOVO DENTRO DE UM MÊS. — Minha consciência berrava.
Levantei sentindo meu tornozelo reclamar. Ergui a moto e olhei para ver se continha algum arranhão.
Retirei o capacete e olhei para a garota à minha frente.
Ela fez uma cara estranha alternando de sua mão, minha moto e eu.
Até que eu decidi falar algo para ver se ela se tocava e saia do meio da rua.
— Não olha por onde anda, menina idiota? — Eu estava com raiva. Porra! Era a minha moto.
— Vai se foder. Isso é uma faixa, está vendo? — Apontou o dedo para faixa de pedestres.
— Não, não, eu sou cego. — Respondi, irônico.
— Deve ser mesmo! E ainda pilota mal. Faça-me o favor, garoto! — Respondeu atravessando a rua. Até que ela era gostosinha. — Valeu pela luxação na mão seu... grrrr. — Disse, irritada.
— Seu o que? — Olhei para ela com um ar superior, instigando para que ela retrucasse.
Ela me mostrou o dedo do meio e caminhou até uma puta mansão do outro lado da rua.
Ri com a cena. Ela era engraçada.
— VAI FICAR PARADO AÍ, ME OLHANDO COMO SE FOSSE UM PSICOPATA RETARDADO? — Gritou antes de abrir a porta.
— Tsc... — Estralei a língua no céu da boca. — VOU SIM. DA PRÓXIMA VEZ EU TERMINO MEU SERVIÇO. — Ri me lembrando que ela havia torcido a mão.
— VOCÊ É LOUCO! — Berrou e sumiu, entrando na casa.
Coloquei o capacete novamente e subi na minha moto.
Era hora de voltar para casa.
Entrei em casa ouvindo uma gritaria incomum no andar de cima.
— Mas que merda é essa? — Eu me perguntava a cada passo que dava subindo a escada.
O barulho vinha da sala de jogos e, quando eu abri a porta, levei um susto do caralho.
estava jogado no sofá apenas de samba canção e com um controle em mãos.
— SAI DAÍ, CARA! VOCÊ É BURRO OU O QUE? — Gritava.
Olhei para o outro lado da sala, encontrando apenas de cueca.
— BAMBAM, MANO, VOCÊ TÁ FAZENDO ERRADO. — berrava de volta.
Olhei para os lados vendo embalagens de salgadinhos, pedaços de pizza e latinhas de refrigerante pelo cômodo.
— TEM COMO PAUSAR O JOGO E OLHAR PRA MIM? — Tentei chamar a atenção de ambos.
olhou para mim, mas rapidamente voltou a atenção ao jogo.
Ele parecia desconfortável.
Mas porque? Eu já vi tudo mesmo.
— Não tem como pausar, . É on-line. — respondeu, rindo da minha cara.
— Ah, é? Entendi. — Caminhei até à tomada e puxei. — E agora ele está desligado. — Ri para ambos.
— Você é maluca? — perguntou. — A gente estava quase acabando com o inimigo. — Jogou-se no sofá, derrotado.
— Olha, eu quero que vocês levantem esses traseiros magros do sofá e arrumem essa porra de sala. — Apontei para a bagunça.
Fiquei parada na frente da televisão com as mãos na cintura, esperando uma resposta.
Os dois olharam-se, cúmplices, e caminharam até mim.
foi o primeiro a me atacar com cócegas.
— PARA, PARA! EU TÔ IMPLORANDO, POR FAVOR! — Eu engasgava ao falar de tanto que estava rindo.
— Você acha que devemos parar, ? — Perguntou ao meu amigo, sem parar com as cócegas.
— Hmm, será? — O maior respondeu.
Até que pararam.
E ficaram me encarando.
Ouvi um barulho na porta e olhamos em direção à ela.
— É... eu volto depois. Desculpe. — Heloísa saiu envergonhada da sala após ver a posição e situação em que nos encontrávamos.
— Viu o que vocês fizeram? Agora ela vai achar que eu estava de gracinha com os dois. QUE ÓDIO! — Bati o pé.
riu da minha cara, me deu um beijo no rosto e saiu.
Revirei os olhos bufando em seguida.
Quando eu ia virar, senti uma aproximação repentina.
estava colado ao meu corpo e suas mãos estavam em minha cintura.
— ... — Sua voz era lenta e sua respiração forte.
Não me atrevi a responder, fiquei imóvel.
— Eu sei. Sei que prometemos que não aconteceria de novo. — Pausou a fala para inspirar o ar. — Mas eu estou com uma puta vontade de te jogar nesse sofá e te fazer minha de novo. — Sussurrou no meu ouvindo me fazendo arrepiar.
afastou meu cabelo pousando ele no ombro esquerdo. Depositou um beijo lento no meu pescoço. Eu supri um gemido, eu não podia.
Virei para com as mãos trêmulas.
Fazia um tempo desde que nos relacionamos pela última vez.
— Olha, , você sabe meu posicionamento sobre isso. — Descansei minhas mãos em seus ombros livres de qualquer pano.
— , cala a boca. — Me surpreendeu com um beijo rápido do qual eu nem tive tempo de retribuir ou não.
Olhei para ele com os olhos arregalados e sai o mais rápido que pude.
Antes de atravessar a porta, olhei para trás, encontrando sentado no sofá passando as mãos pelos cabelos.
— O que foi isso, cara? — Encostei a ponta dos dedos nos meus lábios. — Eu preciso de um banho. — Fui até meu banheiro e lá relaxei sobre toda essa "perturbação".
Cinco dias após o ocorrido com o meu melhor amigo, eu não vi mais ele.
Eu estava tomando café quando meu celular apitou, indicando uma mensagem.
WHATSAPP ON
ADM: Ei, senhorita Google?
: ah
ADM: Então, não sei se você se lembra, mas temos trabalho. Kkkkk
: PUTA MERDA, É MESMO!
ADM: Como amanhã é domingo, você não quer vir aqui fazer?
: E o ?
ADM: tem um compromisso.
: Beleza, que horas?
ADM: Pode ser umas 16h? Vou estar livre.
: Pode ser sim. Me passa o endereço depois.
ADM: Pode deixar que eu busco você. Eu sei onde você mora.
ADM: Filha do Cassius , né?
WHATSAPP OFF
Ótimo. Amanhã eu tenho um trabalho para fazer na casa do . Já disse que detesto esse garoto?
Será que a namorada dele vai também?
— Vou adiantar a pesquisa para chegar e apenas fazer. — Disse em voz alta.
Acordei com a barriga roncando.
— Merda, dormi pesquisando sobre essa porra de trabalho. — Encarei o notebook que estava com a tela preta e provavelmente sem bateria.
Baguncei mais minha cama a procura do celular, até que eu levanto a coberta e o aparelho vai de encontro ao chão.
— Que legal. — Balbuciei com ironia.
Desbloqueei a tela vendo que continha varias mensagem de .
WHATSAPP ON
ADM: Tudo de pé pra mais tarde?
ADM: ????
ADM: Estou sendo ignorado, cara.
ADM: Se você não me responder até 15:30, eu desmarco o trabalho.
ADM: Puta que pariu, você morreu?
: ME PERDOA MARK!!!!
: Quando for 16h, você me busca. Pode ser?
WHATSAPP OFF
Corri para o banheiro me despindo rapidamente. O banho não durou nem dez minutos.
Vesti uma calça, uma blusa preta de manga e meu inseparável all star.
O dia estava nublado, então eu não sentiria calor.
Prendi meus cabelos em um rabo de cavalo alto.
Desci as escadas praticamente correndo, com a maleta do notebook na mão. Como ele estava descarregado, eu carregaria ele na casa de .
— , seu amigo está aqui embaixo. — Eliza gritou quando eu finalizei o último degrau.
Me aproximei de Eliza para me despedir e a mesma me puxou sussurrando em meu ouvido: Uau, , novo no pedaço? — Me cutucou com o cotovelo.
Revirei os olhos e encarei , que infelizmente havia ouvido e estava levemente corado.
— com vergonha? — Provoquei.
— Não enche o saco. Vamos? — Fez sinal com a mão.
Concordei com a cabeça, e assim seguimos para dentro de seu carro.
A viagem foi totalmente em silêncio, o que me deixou desconfortável.
visivelmente era uma pessoa quieta.
Paramos no estacionamento do prédio e descemos ainda em silêncio, então eu resolvi quebrá-lo.
— Então, você é sempre quieto assim mesmo? — Perguntei, com o olhar direcionado ao chão.
— Hm, bom, eu prefiro ficar quieto quando não sei o que dizer. — Apertou o botão do elevador.
— Você mora em qual andar? — Perguntei, nervosa.
Eu morria de medo de elevadores.
— Tem medo? — Sondou, percebendo meu tom de voz.
— Não curto muito, mas fazer o quê? — Suspirei, derrotada. — Eu que não vou subir tantos andares de escada. — Gargalhei.
Entrei no elevador, sendo acompanhada pelo garoto que encostou-se no espelho com o semblante cansado. Suas olheiras eram profundas.
Pensei em perguntar se ele estava dormindo bem, porém permaneci calada.
A máquina moveu-se rápido. Estávamos chegando no décimo quinto andar quando senti um solavanco muito forte, olhando assustada para todos os lados. não estava muito diferente de mim.
— Isso é sério? — Batia na porta, gritando pelo porteiro.
O observei tirando o celular do bolso de trás da calça e tentar contato com a portaria.
— Sem sinal. — Socou a porta de aço várias vezes.
Escorreguei pela parede e abracei minhas pernas enquanto esperneava.
Ouvi socos e gritos até cessarem e então eu pude sentir uma presença ao meu lado.
— Porra, não aguento mais. Cadê aquele velho? — Falou, referindo-se ao porteiro.
Meus olhos que encontravam-se marejados, foram de encontro aos de .
— Ei, . — Levantou meu rosto. — Não precisa chorar. Daqui a pouco a gente sai daqui. — Abriu um sorriso e segurou minha mão, com certo receio.
Não recuei, sentia-me anestesiada.
Passamos alguns minutos apenas ouvindo a respiração um do outro, após várias tentativas falhas de contato.
— . — Ouvi. — Posso te chamar assim? — Ergueu as sobrancelhas.
Balancei a cabeça em afirmação.
— Já que estamos sem opções, que tal nos conhecermos melhor? — Indagou, olhando para o teto. — Acho que temos visões erradas de ambos. — Sorriu sem humor e abaixou a cabeça.
Olhei curiosa, não esperava isso vindo dele.
— O que você faz quando não está presa em um elevador? — Gargalhou.
Acompanhei . Sua risada era contagiante.
— Eu gosto de ler, sair para baladas com a minha melhor amiga, dançar e beber também. E você? — Finalizei, colocando minha franja atrás da orelha.
— Eu amo jogar basquete, andar de skate e sair para baladas, embora tenha que levar Melanie. Ela não gosta nenhum pouco dessas festas. — Revirou os olhos.
— Vocês tem muito tempo juntos? — Escapou da minha boca.
— Temos quatro anos juntos. Mas agora ela anda um pouco estranha. Antigamente, eu não teria tempo nem para fazer um trabalho. — Ergueu os ombros.
— Credo, . Isso é abusivo. — Tirei minha mão, que ainda estava entrelaçada à dele.
— , eu tô cansado disso. Sabe? — Juntou as mãos.
— Sei bem como é sentir-se cansado de algumas coisas. — Abaixei a cabeça.
— Você namora aquele garoto que vive com você pra cima e pra baixo na universidade? Yago? — Fez uma cara confusa.
— Não. — Neguei com a cabeça. — É . E não, eu não namoro o . — Gargalhei tentando parar.
fechou a cara percebendo que eu ria dele.
Passaram-se duas horas desde que o elevador havia parado.
Estávamos morrendo de calor; Era visível pelas gotas de suor.
O garoto me contou que estava brigado com a sua mãe e se arrependia muito por isso.
Eu disse à ele que havia expulsado um homem do meu quarto aos chutes.
Ele riu tanto que ficou sem ar.
— Wow. — Gargalhou tentando parar. — Mas duvido que você chutou mais de um cara em um dia. — Soltou uma risada abafada.
— Você caiu na porrada com duas pessoas no mesmo dia? — Abri minha boca em surpresa.
— Como você acha que consegui essa cicatriz? — Puxou o cabelo para trás, apontando o lado direito da testa.
— Meu Deus, ! — Bati em seu ombro. — Inconsequente. — Impliquei, sentindo mais um forte solavanco, constatando que o elevador subia.
Quando a porta se abriu, eu já agradecia todos os santos existentes, enquanto fazia uma dança totalmente louca.
Do lado de fora encontravam-se dois técnicos e um cara velho e magro que eu presumia ser o porteiro. Ele alternava o olhar de um garoto dançando desajeitado e em mim que estava com as mãos juntas sussurrando o pai nosso.
Nem agradecemos os presentes ali. Saímos que nem foguetes.
— Olha, . Vamos ter que marcar o trabalho para outro dia. — Apontou para a janela, mostrando o céu que já escurecia.
— Puta merda. Passamos uma eternidade lá dentro, né? — Falei, puxando a manga da blusa pra cima.
— Sim. — Abaixou a cabeça. — Ah, obrigado. — Colocou as mãos dentro da calça jeans surrada.
— Pelo que? — Perguntei, confusa.
— Por hoje. — Respondeu simplista, surpreendendo-me. — Apesar de ter ficado nessa merda de elevador, valeu a pena. Eu soube pelo menos um pouco de você. E agora sei que não é nada do que eu pensava. — Deixou os ombros caírem. — Espero ter causado essa impressão em você também. — Fez um biquinho fofo.
Fomos em direção a saída de emergência antes que eu começasse a falar.
— Agora eu sei que não é um cara metido e que quer ser o centro das atenções. — Fiz uma careta. — Você é legal. E um pouco sensível, . — Dei um soco de leve em seu braço.
— Ei. — Gritou em protesto.
— Que foi? Vai chorar? — Perguntei, descendo o último lance de escada.
Parei na sua frente. Ele era bem mais alto que eu. Isso era engraçado.
— Como é o mundo ai de cima? — Brinquei.
— Eu não sei você, mas, daqui de cima, eu tenho uma vista linda. — Olhou nos meus olhos.
Tossi me virando de costas.
— Ahn... acho que vou indo. — Ri sem graça, pegando meu celular e mandando uma mensagem para Will.
— Ah, beleza. — Afirmou. — Eu te mando mensagem marcando outro dia, pode ser? — Pegou o celular no bolso. — 20 chamadas perdidas? Que loucura. — Balançou a cabeça negativamente.
— Vou esperar Will do outro lado da calçada. — Apontei pro outro lado. — Tchau. — Olhei para trás e vi ele acenando e entrando no prédio novamente.
Will chegou uns 10 minutos depois e eu entrei no carro com um novo pensamento sobre .
Seria esse o começo de uma nova amizade?
Capítulo 6
Seria mais um trabalho de grande sucesso. Eu tinha certeza disso.
Cassius estava confiando muito em mim para tal sessão. A ideia de fazer algo mais puxado para o lado sexy me atraía. Estilo que eu adorava fotografar.
Eu iria trabalhar com um fotógrafo chamado . Já vi algumas fotografias tiradas por ele. O cara era bom.
Cheguei no hall da VOGUE e logo fui recepcionado por uma mulher alta, magra e com os cabelos presos que estavam perfeitamente alinhados.
— Boa tarde, Sr. . — Esticou o braço para que eu fosse na sua frente. — Por aqui, por favor. — Indicou o elevador.
Fiquei calado nesse percurso. Só escutando a música irritante que saia de algum lugar no elevador.
Esperei que a moça saísse para que eu fosse atrás.
— O senhor está lá dentro. Pode entrar sem bater. — Sorriu, amigável.
— Okay, Eloise. Obrigado. — Falei, olhando seu crachá e me dirigindo até a sala.
Fiz como ela falou e entrei, encontrando Cassius mexendo em seu computador.
Ao perceber minha presença ele me olhou por cima dos óculos de grau.
— Olá, . Sente-se aqui, garoto. — Apontou a cadeira a sua frente.
Me aproximei e iniciamos uma conversa animada.
— Então, está vendo este modelo de foto? — Passou o portfólio para minhas mãos.
— Sim, sim. — Sorri admirando as poses feitas com tanta delicadeza e simplicidade.
— Já que você tem uma ideia do que precisa ser feito, vamos ao trabalho. — Bateu as mãos, me dando um leve susto. — Opa. — Gargalhou me fazendo acompanha-lo.
— Meu filho. — Pousou a mão em meu ombro esquerdo. — Essa campanha será lançada amanhã. Não há tempo para esperar. Contratei e sua equipe justamente por isso. Rapidez e qualidade. — Finalizou dando alguns tapinhas nas minhas costas e passou pela porta sumindo pelos corredores.
— Beleza. Décimo primeiro andar é o estúdio. — Gesticulei tentando lembrar as coordenadas que o passou.
Quando cheguei até lá, haviam pessoas andando de um lado para o outro, apressadas.
Um homem esbarrou em mim pedindo desculpa logo depois.
— Ajustem as luzes. Isso, isso! Pegue o rebatedor e coloque na direita. — Apontava.
Aquele deveria ser . O cara era estiloso.
— Para a primeira sessão, iremos usar a Side Light, já que queremos dar foco ao modelo. — Olhou em minha direção. — E ai, cara? Você precisa correr para se trocar e fazer a maquiagem. Você tem dez minutos a partir de agora. — Olhou o relógio de brilhantes que tinha no pulso.
Fui primeiro ao vestiário improvisado, onde estavam os figurinos. Peguei a roupa que pela etiqueta indicava ser a primeira.
Sentei na cadeira para fazer a pele e o cabelo. Em menos de dez minutos eu estava pronto.
— Show, . Chega aqui. — Apontou para a poltrona em frente ao fundo cinza. — Meu tio te mostrou como quer as fotos, né? — Perguntou ajeitando a lente.
Então ele era sobrinho do Cassius. Interessante.
— Sim. Não quer algo muito elaborado pois as pessoas estão focando na "beleza natural" nos dias atuais. — Fiz aspas com os dedos.
— Sente preguiçosamente na poltrona e abra três botões da camisa. — Instruiu, posicionando a câmera. — Perfeito. Coloque uma mão no rosto e a outra na sua perna.
Flashes eram disparados em segundos.
O fotógrafo parou para pedir um borrifador.
E começou a borrifar na minha pele para simular suor.
— Porra, que isso? — Perguntei segurando o recipiente com água.
— Água, né? — Respondeu, óbvio.
— Ah, jura? — Indaguei, irônico. — Quer que pareça que eu saí de uma maratona? — Gargalhei, fazendo a sala explodir em risadas.
Troquei de figurino e retoquei a maquiagem.
Agora eu iria fotografar com Mei, uma modelo chinesa.
Pelo visto Cassius estava interessado em várias nacionalidades, o que renderia maior visibilidade para sua revista.
Mei e eu estávamos praticamente abraçados.
Não nos conhecíamos muito bem, mas poderia dizer que ela era uma ótima profissional.
Peguei a terceira roupa e fui direcionado para um espaço maior, porém com um único elemento: um pneu.
Sentei nele conforme pediu e tiramos mais fotos.
Eu já me sentia exausto, mas tinha certeza de que tudo estava nos conformes.
— Ok. Acho que já temos fotos o suficiente para enviar à VOGUE ME. Além de termos as fotos necessárias para a edição aqui de NY. — Disparou.
Eu estava radiante. A VOGUE ME do ano anterior bateu o recorde de vendas on-line de uma única edição. Trinta mil cópias esgotadas em seis minutos. Foi um sucesso instantâneo com sua atitude jovem e fria. Juntamente com o alto nível de qualidade e criatividade da equipe Bhuwakul, renderia ótimas vendas na China e aqui em NY também. Agora seria minha vez de brilhar.
— Liguei para o meu tio e contei que terminamos antes do esperado. TEREMOS COQUETEL! — gritou, animando a sala.
Logo pensei em John... Eu não tinha ninguém para me acompanhar. Não que fosse difícil conseguir, mas eu tinha preguiça.
Peguei o celular que estava na penteadeira branca do lado esquerdo da sala e enviei uma mensagem para meu velho amigo.
WHATSAPP ON
: Hey, John.
: Aquela loirinha está disponível?
John: Pra você? Eu ligo pra ela e peço pra desmarcar os compromissos.
: Amanhã à noite terá um coquetel. Mande ir arrumada.
: Irei ligar para você e passar o endereço.
WHATSAPP OFF
parou ao meu lado e limpou a lente de sua câmera. Logo depois, a guardou.
— Vai comemorar hoje também? — Perguntei, curioso.
— Óbvio que não. Vou editar as fotos ainda. — Respondeu, com uma risada cansada.
Concordei com a cabeça e fui em direção à saída.
Meu dia havia sido produtivo. Eu merecia deitar e descansar.
Eu havia dormido a tarde toda. Ao acordar percebi que estava sozinha em casa.
Quando papai ficava de bom humor dava folga de uma semana para as empregadas.
E se tinha uma coisa que eu amava era privacidade.
Eliza e meu pai estavam na empresa, então eu tinha a casa só para mim.
Vesti uma blusa qualquer que estava jogada no quarto e desci.
Eu queria cozinhar. Era uma das únicas coisas que me mantinha ligada a minha mãe.
Abri o armário para conferir os mantimentos. Eu tinha que ficar na ponta do pé para conseguir pegar.
Deixei tudo sobre a bancada; iria fazer minha especialidade: panqueca americana.
— Farinha de trigo, fermento, açúcar, sal, leite, um ovo e manteiga. — Eu ia apontando para cada um.
Fiz uma enorme bagunça na cozinha, mas já iria arrumar tudo.
Terminei de fazer as panquecas e despejei um pouco de mel nelas.
Eu estava morrendo de sede. Abri a geladeira e peguei a garrafa de vidro. Bebi a água direto do gargalo.
— Coisa feia. Sua mãe não te ensinou que isso é falta de educação? — Ouvi atrás de mim e me virei vendo que o dono da voz era . — Que cheiro bom. — Falou, inspirando o ar.
— E a sua? Não ensinou que é falta de educação se intrometer na vida dos outros? — Debochei. — É panqueca, quer? — Mostrei o prato, orgulhosa.
— Eu poderia ter dormido sem essa, né? — Supriu um riso. — Bonita a blusa. — Riu.
Sentei no balcão da cozinha e abaixei a blusa, já que eu só usava ela para cobrir meu corpo.
— Tava fazendo o que? — Perguntei, curiosa.
— Editando as fotos para postarmos amanhã. — Respondeu sem olhar para mim. — Eu tô bem cansado. — Levantou os braços, esticando-se.
estava lindo naquela camisa polo. Eu conseguia ver uma de suas tatuagens.
— Fez mais algumas? — Atrai sua atenção, mostrando a tatuagem.
— Hã? — Perguntou confuso. — Ah, isso? — Apontou para seu braço. — Fiz ela faz uns cinco meses. — Respondeu, cabisbaixo.
Ele era uma pessoa tão alto astral, mas ultimamente eu só conseguia vê-lo pensativo, até mesmo triste.
— Tá tudo bem, ? Você está estranho, sei lá. Pensativo, sabe? — Olhei para ele, procurando por respostas.
— Sabe, eu paro e penso... eu nunca te esqueci. — Pigarreou. — Quer dizer, eu nunca esqueci sua amizade. Você é muito importante pra mim. — Sorriu terno e abaixou a cabeça.
— Hey, ... Vem cá. — Chamei com a mão.
Ele levantou, ficando na minha frente.
— Me da um abraço? — Pedi, calma.
O garoto se encaixou no meio das minhas pernas, fazendo com que eu as abrisse um pouco.
Ele me abraçou apertado, como se eu fosse fugir de seus braços, apoiou a cabeça no meu ombro e inspirou forte.
Quando nos afastamos, pude ver seus olhos marejados e o puxei de volta pra mim.
— O que aconteceu, ? — Acariciei seu rosto.
— Você, . Você aconteceu. — Seu olhar percorreu todo meu corpo e parou em meus olhos.
Ele se aproximou, com as suas mãos em cada coxa.
— O que você tá fazendo? — Me movi para trás.
— O que eu deveria ter feito desde o primeiro dia em que te vi de novo. — Respondeu e capturou meus lábios em um beijo urgente e cheio de saudade.
Eu sentia todos os sentimentos de através daquele beijo e eu era incapaz de pará-lo.
Senti suas mãos pelo meu corpo e, pela primeira vez em anos, eu não sentia medo de ir até o fim com um homem. Eu estava feliz por poder viver novamente.
Passei meus braços pelo pescoço dele e acariciei a pele exposta.
Ele me pegou no colo e me levou até a sala. Não nos atrevemos a quebrar o beijo em nenhum segundo.
Senti quando ele sentou no braço do sofá e me colocou em suas coxas.
Ele estava excitado, assim como eu.
Sua mão fechou sobre meu seio e eu reprimi um gemido.
— ... — Sussurrei, manhosa.
— Não faz isso. Eu tô tentando me controlar. Não quero que você fique assustada, por favor. — Seus olhos estavam fechados e sua boca entreaberta. Sua respiração era ofegante.
— Eu não quero que se controle. — Respondi, mas me arrependi quando me jogou no sofá e ficou por cima de mim.
— Caralho, por que você tem que ser assim? — Distribuiu beijos pelo meu pescoço, fazendo com que eu gemesse cada vez mais alto.
subia minha blusa enquanto dava beijinhos no meu rosto.
Nos beijamos e partimos para caricias mais íntimas.
Ele estava só com sua cueca vermelha e eu já estava nua.
— Parece que você tem uma vantagem aqui. — Apontei para cueca. — Não gostei disso. — Fiz um biquinho, levando uma leve mordidinha de .
Sentei no seu colo e rebolei, fazendo-o jogar a cabeça para trás.
Ele tocou meu braço pedindo para que eu levantasse minimamente e retirou a sua última peça.
Senti o dedo dele escorregar para dentro da minha intimidade.
— Wow. Quanto tempo eu não sentia isso mesmo? — Sussurrou em meu ouvido, enquanto fazia movimentos com seu dedo.
— , por favor. — Gemi.
— A camisinha, dentro da minha carteira. — Falou, ofegante, me segurando pela cintura e abaixando para pegar a calça no chão.
desenrolou o preservativo sobre seu pau e me puxou.
Antes que eu pudesse pensar, uma imensa sensação de prazer me atingiu.
— Puta que pariu. — Gemi ainda mais alto quando senti ele ir mais fundo.
Procurei sua boca, beijando-o com vontade. Nossas línguas estavam em uma grande batalha.
Eu não conseguia parar de me mover. A única coisa que ouvia-se ali eram gemidos.
— Como você consegue ser tão gostosa? — Apertou meu quadril e meteu mais forte. Logo em seguida sugou meu mamilo, fazendo eu arranhar suas costas de tanto tesão.
— Mais rápido. — Foi a minha vez de falar.
Eu estava chegando ao ápice e pelos murmúrios de ele não demoraria também.
Quando eu ouvi seu gemido, foi como um combustível para mim e eu acabei gozando.
— Gostosa. — Ele falou e acelerou os movimentos, chegando ao ápice alguns minutos depois de mim.
Nos abraçamos, suados e ofegantes.
— Você é forte. Sempre foi. — Disse, calmo.
Nós dois sabíamos o significado que aquilo tinha.
— Eu achava que poderia esquecer você. Mas agora eu tenho certeza que não. — Depositou um beijo na minha testa.
Eu e passamos a noite juntos comendo besteiras. Ele me falou sobre o coquetel que teria amanhã.
Acordei sentindo-me disposta, afinal, a quanto tempo eu não fazia sexo?
Decidi arrumar meu quarto e mandar uma mensagem pra .
WHATSAPP ON
: Bom dia flor do dia.
: Amiga, dei pro e ele se superou.
: COMO É QUE É?
: CARA, EU PRECISO TE CONTAR OS DETALHES. Kkkkkk
: Me poupe. Desde quando você transa e eu não?
: Tá errado isso ai.
WHATSAPP OFF
Quando dei um fim naquela bagunça pude finalmente me arrumar.
Eu já estava quase pronta, só faltava o perfume.
Ouvi uma batida na porta e pedi para que entrasse.
— UAU! — estava parado na porta, vestido socialmente.
Caminhou até mim e depositou um selinho em meus lábios.
— Ei, meu pai tá aqui. — Repreendi, olhando por cima de seus ombros.
— O Will só tá esperando a gente. Vamos? — Estendeu a mão.
Quando chegamos fomos bem recepcionados e dirigidos a uma enorme mesa onde estavam sócios, investidores e modelos.
Números passavam pelo telão.
Sentei ao lado de e logo peguei o celular para conferir o twitter.
Observei a foto que havia postado e vi um comentário do meu pai.
Olhei para os lados e vi que caminhava até nós, com uma garota grudada em seus braços.
Quando os dois pararam na nossa frente, eu não pude acreditar no que meus olhos viam.
Era ela, com seu cabelo loiro e seus olhos extremamente azuis.
Era Melanie, namorada de .
Capítulo 7
A garota puxou o braço de tão forte que eu pensei que fosse arrancá-lo.
Ele fez uma cara icônica, com um misto de confusão e raiva. Eu teria gargalhado se não estivesse tão intrigada.
— Terra chamando . — Ouvi e senti um cutucão em minha costela, fazendo com que eu desse um pulo. Atraí olhares dos demais convidados.
Após uns vinte minutos retornou a mesa desacompanhado e aparentemente muito puto. Porém, quando viu meu pai tratou de colocar um sorriso no rosto e abraçá-lo.
Revirei os olhos e percebeu.
— Ah, , qual é? Tá de implicância até com o modelo? — Riu da minha cara, retirando o óculos amarelo de seu rosto e colocando em cima da mesa.
Porque ele insistia em usar óculos escuros de noite?
— Não enche, Dab. — Brinquei, chamando-o pelo apelido que eu dei na adolescência. Tinha o nomeado assim porque ficava o tempo todo fazendo aquele movimento com os braços.
— Você ainda se lembra disso? — Sorriu, nostálgico.
— Óbvio. Era engraçada a maneira como você fazia dab pra tudo. — Imitei o movimento, vendo que meu pai me repreendia com o olhar.
finalmente sentou-se na mesa em minha frente, pedindo um Whisky dezesseis anos que o garçom prontamente trouxe.
— Que tal um brinde ao sucesso que a revista está fazendo? — Apontou o copo para o telão que mostrava os números subindo monstruosamente.
— Ótima ideia, . Mas porque não esperamos sua acompanhante voltar? — Ergui a taça.
— Infelizmente ela teve que ir embora, . O avô dela está no hospital. — Sorriu, com um pouquinho de raiva.
— Sinto muito, rapaz. — Foi a vez de papai falar.
colocou-se de pé e disse:
— Gostaria de agradecer a oportunidade de trabalhar com pessoas como vocês. Que colocam amor, qualidade e entregam resultado em todas as edições lançadas. Sou grato, de coração, ao Senhor , que viu algum potencial em mim. — Finalizou, levantando agora sua taça com espumante.
Papai adorava uma brecha para falar e eu tinha certeza que ele faria o seu bom e velho discurso clichê. Ele sempre fazia os mesmos discursos e as parcerias não demoravam a acabar.
— Rapaz. — Tocou o ombro de e continuou. — É pelo reconhecimento de pessoas como você que nos esforçamos para fazer o melhor trabalho. — Olhou para o garoto que sorria abertamente. Eu não podia negar, ele era lindo. Mas o que tinha de lindo, tinha de babaca.— E é por isso que eu quero fazer uma proposta. — Tirei o olho do celular e olhei para o meu pai. — Você gostaria de ser um de nossos embaixadores? Olhe para o telão, ! Veja que só você pode construir o seu sucesso.
Olhei para , que me olhou de volta. Ótimo…
— Senhor , eu estou sem palavras. — Riu sem graça. — Claro! Claro que eu aceito. — Pegou na mão do meu pai e puxou ele para um caloroso abraço.
Aquilo me dava ânsia. Credo.
Meu celular começou a vibrar loucamente com varias mensagens e eu me levantei alegando que iria no banheiro.
WHATSAPP ON
: Ei, . Tá aí?
: Oi.
: Tá brava comigo?
: Você não entra em contato faz dias yeom).
: O que você acha? Parecemos dois adolescentes idiotas.
: Desculpa :x
: Podemos sair amanhã? Tô com saudades de você.
: Eu também maricona. Mais tarde a gente se fala. Bjs!
: Beijos. ;)
WHATSAPP OFF
Desliguei o celular e sai do banheiro, porém fui parada no corredor.
— Oi. — Olhou para mim da cabeça aos pés. — Você tá bem bonita. — Falou, e eu olhei dentro de seus olhos castanhos, que brilhavam feito duas pedras preciosas.
— Valeu, pô. — Virei de costas.
— Esqueça o que eu disse. — Gargalhou.
— O que foi, ? Eu hein. — Contorci a cara em desgosto.
— Você age que nem um homem. — Cruzou os braços, acentuando os músculos na camisa social branca e encostou-se na parede.
— Ah, é? — Coloquei as mão na cintura. — Um homem menos babaca do que você, seu troglodita. — Falei, alterada.
— Meu Deus. — Balançou a cabeça. — Você é maluca, sabia? — Se aproximou.
— E você não tem noção do perigo. — Dei um passo para trás. — Quer levar outro chute no saco ou você pensa em ter filhos? — Sorri vitoriosa ao ver que ele parou no meio do caminho. — Foi o que eu pensei. — Sai andando sem olhar para trás, mas eu sabia que seu olhar queimava em minhas costas.
Eu já estava arrumada, com meu vestido rosé de alças finas e meu salto prata. Meus brincos de argola aumentavam o charme. Estava passando meu gloss quando bateu na porta do quarto.
— Achou mesmo que eu perderia a noitada? — Ela entrou. — Caralho, tô gostosa. Pode falar. — Girou no meio do quarto. — É hoje que eu tiro essa teia de aranha da boca. — Jogou os braços pra cima e sentou ao meu lado.
— Que animação é essa? — Sondei com os olhos arregalados.
— Tô interessada em um boyzinho aí. Ai, , ele é tudo de bom. — Suspirou. — Tomara que ele saia cedo do trabalho hoje para podermos curtir na boate. — Pegou o celular.
— Larga essa merda. — Peguei o celular da mão dela, fazendo a garota reclamar e fazer um biquinho. — Preciso te contar sobre o . — Falei, cruzando as pernas e indicando para que ela me acompanhasse.
— Meu Deus! Eu tinha me esquecido. — Bateu na minha coxa.
— Então... nós transamos. E pela primeira vez, em anos, eu não tive medo. Sabe o quão importante isso é pra mim? Eu senti prazer, . Eu senti tudo de novo! Foi tão gostoso! — Peguei nas mãos da minha melhor amiga.
— ISSO É INCRÍVEL! — Ela me abraçou, sorrindo.
— O que é incrível? — Ouvimos uma voz masculina.
caminhou até nós e jogou-se na cama, no meio de nós duas.
— É incrível a ideia de sair de casa AGORA! — Brinquei, desconversando.
— E aí? Prontas? — Sentou e nos abraçou de lado.
estava com a cara fechada. Algo que não era de seu feitio.
— Desde que você me chamou. Achei que ia morrer de tanto esperar. — olhava desafiadora para , que levantou as mãos em sinal de rendimento.
— Eu não deveria ter te convidado. — Retrucou, impaciente com .
— Como vocês iriam se divertir sem mim? — Ela brincou, jogando o travesseiro nele.
Olhei para a cara de e comecei a rir.
— Bora! Antes que eu mude de ideia e deixe esse chaveirinho para trás. — Bagunçou os cabelos da morena, que saiu correndo atrás dele.
Estacionamos uma quadra antes da boate e fomos caminhando até a entrada.
A noite pedia uma balada e muita curtição. O espaço estava mais cheio que o normal. Parecia que tinha gente brotando até do teto.
O som era alto e me instigava a dançar.
Tocava "Don't Start Now" da Dua Lipa. Sem perder tempo puxei e para o meio da pista.
Nós dançávamos conforme as fortes batidas.
estava abraçado à mim, acompanhando meus passos. Quando a música da Dua acabou, falei para ele se divertir enquanto eu iria até o bar. Ele me deu um beijo na bochecha e continuou dançando.
Procurei com os olhos pela balada e encontrei ela aos beijos com um cara que, por conta da pouca iluminação, eu não consegui identificar.
— Beleza, . Sozinha de novo. — Falei, conformada e caminhando até o bar.
Sentei no banquinho esperando a cerveja que havia pedido.
Meus pés balançavam, pois eu não alcançava o chão. Meus dedos tamborilavam na mesa ao ritmo da música, enquanto eu acompanhava a letra cantando.
Quando a cerveja chegou, pude sentir uma presença ao meu lado.
O garoto jogou algumas notas na mesa indicando que pagaria a minha bebida e pediu uma dose de tequila para ele.
— Não é possível. — Ri, desacreditada. — Tá me seguindo? — Dei um longo gole na bebida. Meus dentes doeram de tão gelada que estava, mas dei uma disfarçada.
— Só sigo as garotas que se jogam na frente da minha moto. — Virou sua tequila e sorriu, fazendo seus olhos se transformarem em duas linhas. — Meu nome é . — Ele disse.
O garoto gritava problema, mas sua beleza anulava toda essa questão.
Entornei a cerveja, pensando em sair logo dali.
— Anh... valeu pela bebida, . — Levantei o copo, com o restinho de cerveja que ainda tinha. — Vou atrás da minha amiga. A gente se vê por ai. — Saltei do banco e acenei.
— Calma, aí! Você nem se apresentou e já quer fugir de mim? — Gargalhou. — Não quer saber o que eu estava pensando enquanto te observava dançar aquela música? — Apoiou os cotovelos no balcão, fazendo-me virar para ele.
— Como assim? — Ri, sem graça. Ele estava me observando? — Então você é realmente um tipo de psicopata, né? — Cruzei os braços, com um sorriso debochado.
— AHÁ! Não. — Brincou com o anel em seu dedo. — Posso te mostrar o que eu imaginei pra essa noite, garota misteriosa? — Olhou no fundo de meus olhos e ficou de pé, me dando uma visão total de seu visual: uma calça jeans preta, uma blusa também preta, coturnos surrados e uma jaqueta de couro. Aquele cara definitivamente era um motoqueiro.
"Será que ele faz parte de alguma gang?" — Me perguntei em pensamento.
— O que você imaginou? — Perguntei, e fui surpreendida por uma aproximação repentina. Seu corpo se colou ao meu e pude sentir sua respiração em minha testa.
— Sabe, garotas misteriosas me atraem. — Ele falou e me arrepiei.
Eu olhava o com surpresa. Ele era atraente, não havia como negar. Seu olhar parecia poder ver o lado mais obscuro da minha alma. De alguma forma, aquilo me excitava.
Não sei se era pelo teor alcoólico ou se eu só estava ficando louca mesmo, mas sei que naquele momento me aproximei, levei minha mão até o cabelo do garoto e o trouxe de encontro a minha boca.
Senti um arrepio percorrer meu corpo quando sua língua encontrou a minha e eu pude sentir o metal. Presumi que ele tinha um piercing ali.
Ele apertou minha cintura com uma mão e a outra foi ao meu cabelo, que estava com leves cachos.
O beijo era sincronizado e ardente. Eu tive certeza que aquele garoto era encrenca e eu tinha acabado de entrar na maior delas.
O beijo parou quando ele decidiu descer pelo meu pescoço, deixando leves mordidas e um chupão que com certeza ficaria marcado.
Desci minhas mãos pela extensão de todo seu corpo, mas parei quando ele apertou minha bunda. Mordi seu lábio com desejo.
Quebrei o beijo e olhei para ele.
— O que foi? Fiz algo errado? — Perguntou, querendo retornar ao beijo.
— Não, claro que não. — Ri em resposta e puxei sua jaqueta, querendo arrumá-la.
— Bem, eu preciso ir ficar com meus amigos. Mas obrigada pela bebida. Te devo uma. — Pisquei.
— Ei, não quer ir pra outro lugar? Eu posso deixar você montar na minha moto. — Disse em tom malicioso. — E eu não deixo ninguém sentar, viu? É exclusividade. — Jogou os cabelos para traz.
— Pra quantas garotas você já falou isso? — Questionei, debochada.
— Só para aquelas que se jogam na frente da minha moto e saem como vítimas indefesas. — Sorriu de lado, olhando em meus olhos.
— Engraçado. Pois eu só falo meu nome para os mocinhos e, você, tá mais pra lobo mau. — Virei de costas e sai andando.
— NÃO IMPORTA, VOCÊ PODERIA SER MINHA CHAPEUZINHO VERMELHO. — Ouvi um grito, mas continuei andando sem olhar pra trás.
Capítulo 8
Eu fui para casa quase quatro da manhã e, detalhe, eu tinha aula.
A noite se resumiu em pegação, bebida e muita ressaca. Não era novidade que seria uma luta acordar.
Optei por tomar um banho, colocar as roupas que iria para faculdade, tomar uma xícara de café forte e descansar uns trinta minutos, afinal, eu não poderia faltar nem mais um dia.
O alarme tocava, ecoando pela sala vazia.
Como eu já estava arrumada, só comi uma tigela de cereais e escovei os dentes.
Cheguei no campus dando de cara com .
— Bom dia, . — Cumprimentei, arrumando a mochila no ombro esquerdo.
— Bom dia, . Tudo bem? — Mexeu no cabelo ao falar.
Não pude deixar de perceber o chupão que havia em seu pescoço. Sua pele era branca demais; foi quase impossível não ver.
— A noite foi boa? — Apontei para o pescoço do garoto.
— Ah, isso? Bom, poderia ter sido melhor se eu tivesse levado a garota pra minha casa. — Sorriu, safado.
— Que nojo. — Fiz uma careta.
— Você não tá muito atrás, não. — Apontou para o meu pescoço.
Encostei no lado direito do pescoço, lembrando-me da noite passada.
— Droga. — Sussurrei.
, escandaloso como sempre em situações que exigem silêncio, cruzou o corredor rindo que nem um bicho.
Entramos na sala e eu avistei sentado em uma das carteiras, com Melanie em seu colo.
Assim que me viu, a garota virou o rosto e saiu do colo de .
Revirei os olhos. Eu ainda iria descobrir o que tinha por trás dessa história.
acenou pra mim e disse que havia entregue o trabalho ao professor.
estava sentado em sua mesa, separando e corrigindo os trabalhos.
Assim que ele terminou, foi para a lousa.
E, sem dizer nada, começou a explicar.
Ele estava estranho. Olhava para mim, mas logo desviava o olhar.
Parecia perturbado com algo ou sei lá.
O professor explicou toda a matéria. Ele conseguia nos prender ao explicar com maestria cada tópico.
Eu estava quase pegando no sono, quando meu celular apitou com uma mensagem.
Sorri sem graça observando que todos olhavam para mim.
sorria de lado, achando graça e estava absorto a qualquer som que não fossem os que saíssem do seu fone de ouvido.
pareceu não gostar e me repreendeu com o olhar, pedindo para que eu guardasse o celular.
Quando eu estava prestes a desligá-lo, apitou mais uma vez.
Me instigando a olhar quem era a maldita pessoa que me mandava mensagem.
Acabei não resistindo e fui conferir o WhatsApp.
Era um número que não estava salvo; cliquei por pura curiosidade, alternando meu olhar da tela para o professor que escrevia na lousa.
Essa foi a decisão mais terrível da minha vida.
Quando eu li a mensagem, eu sabia quem era o maldito.
WHATSAPP ON
???: Ei princesa, bom dia.
???: Saudades do que fizemos ao som de swim.
WHATSAPP OFF
O celular caiu da minha mão e foi de encontro ao chão, fazendo um barulho estrondoso.
Eu não enxergava nada ao meu redor.
Lembranças me invadiram como um soco no estômago.
— , não seja a careta do grupo, vai. — Ian brincava comigo, esticando a nova "droga" que todos estavam experimentando.
— Ian, eu não quero. Eu to de boa. — Afastei a mão dele.
— Todo mundo aqui vai te achar chata. Olhe ao seu redor, só você está sóbria, princesa. — Peguei a droga que parecia LSD, mas claramente não era.
Coloquei apenas um pouquinho na língua, e depois de algum tempo eu já sentia tudo girando.
— E ai? Tá curtindo? — Ian perguntava, segurando forte a minha cintura.
Eu sabia o que estava acontecendo ao meu redor, mas não tinha reação alguma. Era como se tudo passasse em câmera lenta.
Eu estava exausta, mas meu coração batia forte.
Senti Ian me puxar escadaria acima, onde ficavam os quartos da casa de seu melhor amigo.
A música que tocava era de uma banda que eu adorava, as batidas eram fortes em meus ouvidos, me fazendo sorrir.
— Que tal a gente se divertir um pouco, hein? — Ouvi Ian sussurrar, um pouco afobado demais.
— Mas já estamos nos divertindo. Está legal. — Fui entrando no quarto e pude ouvir a porta sendo trancada.
O garoto ia empurrando meu corpo devagar e eu senti o macio em minhas costas.
Definitivamente era uma cama.
Vi ele, um pouco distorcido, colocar a garrafa de cerveja no criado mudo e vir em minha direção.
Debruçou em cima de mim distribuindo beijos e eu reagi a alguns. Contudo, ele ia descendo cada vez mais pelo meu corpo.
Ian sabia que eu não estava pronta para ter relações com ele, apesar de não ser mais virgem. Então nunca ultrapassou os limites, e eu era grata por isso.
Senti sua mão abrir o botão da minha calça e puxar a mesma para baixo com tamanha força que arranhou os lados de minhas coxas com a brutalidade.
Fiquei assustada; tentava dar alguns chutes, mas seu peso sobre mim prevalecia.
— Fica parada. Você vai gostar, . Seja uma boa menina. — Falou com a sua voz abafada em meu pescoço.
Sua mão subia e descia pelo meu corpo quase desnudo e eu não conseguia reagir. Eu queria que ele saísse de cima de mim e que tudo fosse um grande pesadelo.
Senti seus dedos fecharem em meu seio e uma dor crescente me atingia no local. Ele não parava e eu tentava fazer com que alguma palavra saísse, mas era como se estivessem sufocadas em minha garganta.
Eu emitia grunhidos. Estava consciente, porém absorta. Não conseguia usar minha força para lutar contra ele naquele momento.
— P- porque? — Perguntei em um fio de voz.
— Por que eu não resisto à você assim, toda convidativa. — Beijou minha boca, porém eu não retribui, o que o deixou furioso.
Em um só movimento senti um dor indescritível.
Eu odiava Ian naquele momento, odiava por quebrar minha escolha de modo tão brusco e impiedoso.
Eu agora chorava. Eu sabia o que estava acontecendo. Eu sentia.
Meus soluços eram abafados pelo som da música:
World is on my shoulders
Keep your body open, swim
I'm swimming, I'm swimming, I'm swimming, yeah
I'm swimming, I'm swimming, I'm swimming, yeah
Out in California, I'll be forward stroking, swim
So hard to ignore ya', keep your body open, swim.
Meu olhar focou na cruz que havia em cima da porta e eu pedi com todo o meu ser para aquela ser a última noite da minha vida.
Eu tinha nojo de mim. Tentei ficar o mais quieta possível, mas era impossível devido a dor.
Eu chorava e soluçava enquanto ele gemia e idolatrava meu corpo com palavras nojentas.
Ian saiu de dentro de mim, deixando um grande vazio.
— Viu? Foi muito bom. — Beijou a minha testa e vestiu sua calça, observando meu corpo imóvel. Logo depois ele saiu do quarto.
Eu apenas fiquei parada, olhando o teto e pensando no quão suja eu era.
Mas o que Ian não sabia, é que ele não havia apenas quebrado sua bonequinha de porcelana. Ele havia quebrado meu coração, levado minha vontade de viver e dilacerado a minha alma.
Meu coração batia descompassado e eu tinha dificuldade em controlar minha respiração. Sentia tremores pelo corpo e minhas mãos suavam muito.
Eu queria gritar. Queria arrancar essas lembranças da minha mente. Queria morrer.
Senti a náusea me atingir e fui incapaz de segurar.
Vomitei no chão da sala de aula e o cheiro forte da bebida prevaleceu.
Levantei o rosto encarando as pessoas ali.
Todos me olhavam apavorados. ameaçou vir até mim, mas levantei a mão pedindo silenciosamente para que ficasse em seu lugar.
Eu tremia tanto que mal consegui ficar de pé.
Tentei correr, mas eu não conseguia. Sai da sala encostando nas mesas e fui em busca de ar puro.
Eu enxergava tudo embaçado e entrei no primeiro corredor que vi, dando de cara com o banheiro.
Senti que alguém me seguia, mas não me dei o trabalho de olhar para trás.
Cai derrotada no chão chorando e praticamente gritando. Tamanha era a dor no meu peito.
Ver a daquele jeito me deixou sem saber o que fazer.
Assim que ela saiu, e apontaram na porta.
— Ei, entrem os dois. — Falei, autoritário. — Eu irei conferir o que está acontecendo. — Retirei os óculos e deixei eles na mesa.
Corri para alcançá-la à tempo de vê-la entrando no banheiro.
Eu ouvia seu choro agonizante e via que ela apertava o peito como se quisesse tirar toda a dor que sentia.
Eu queria proteger aquela garota.
Pousei minha mão gentilmente sobre o seu ombro e passei a acariciá-la.
— Fica calma. Isso vai passar. Respire fundo. — Inspirei para que ela me seguisse.
Seu corpo movia-se inquieto, e ela parecia anestesiada a qualquer tipo de coisa.
Em um movimento impensado abracei a garota e a aconcheguei nos meus braços.
De seus olhos escorriam lágrimas grossas. Ela encolhia-se cada vez mais.
— Ei, meu anjo. Feche os olhos e mentalize um lugar de paz, tá bom? — Levei a minha mão aos seus cabelos, fazendo leves movimentos circulares. — Eu estou aqui com você. — Beijei sua testa.
O que eu estava fazendo?
Cada vez mais seu corpo ia ficando mais calmo e, depois de uns quinze minutos, que pareciam uma eternidade, seu corpo descansou e eu pude perceber que ela havia adormecido.
Ergui ela em meus braços e sai do banheiro, levando-a para a enfermaria.
— Que porra aconteceu com a ? — Ouvi uma voz alterada atrás de mim.
— Espera aí, rapaz. Olha como fala comigo. — Repreendi, ajeitando a menina nos meus braços.
— Vai me responder ou não? — O garoto era insistente.
— Qual é o seu nome? — Perguntei, entrando na enfermaria e depositando na maca.
— . Sou o melhor amigo dela. — Respondeu, colocando a mão no bolso do casaco.
— Olha, , a sua amiga aparentemente teve uma crise de pânico. — Respondi encostado no batente da porta.
Expliquei os detalhes para e pedi para que ele ficasse com ela até a enfermeira chegar.
E retornei a sala.
Eu ainda tinha na minha cabeça: O que será que fez com que ela ficasse assim?
Eu sentia minha cabeça doer.
— Ai, mas que droga.— Coloquei a mão nas têmporas. — Aonde eu estou? — Olhei para o lado, vendo dirigindo.
— Que susto, porra. — Suspirei.
Aquilo havia acontecido mesmo? Eu tinha tantas perguntas.
Mas deixaria para depois. Eu já estava muito saturada.
— O que aconteceu, ? — perguntou em tom preocupado, olhando para mim mas retomando o olhar para frente.
— O Ian, . — Soltei o ar ameaçando chorar.
derrapou o carro dando um forte soco no volante.
— Filho da puta. — Gritou.
— Calma, . Ele fez isso pra me afetar. — Abaixei a cabeça.
O silêncio se instalou no carro, estávamos quase chegando em casa quando uma cena me chamou a atenção.
Soltei o cinto de segurança e caminhei forçando a vista, me perguntando se aquilo era real.
saia da minha casa, acompanhado de um agente da ICE e o outro estava na viatura.
Ele foi colocado a força dentro do carro e lutava contra seja lá o que.
Eu corri. Corri para alcançá-lo e sanar as duvidas que surgiam loucamente.
O que era aquilo? O que estava acontecendo?
Mas a única resposta que eu tive foi o alto som das sirenes indo embora antes que eu me aproximasse.
Capítulo 9
Eu estava em choque e tinha muitas perguntas à fazer.
estava com a feição totalmente chocada. Meu pai estava com os braços cruzados e mordendo os lábios com nervosismo. Em seus olhos era possível perceber uma decepção.
Entrei devagar em casa. Sentei no sofá com as mãos cruzadas e tirei meus sapatos com os pés.
— O que diabos aconteceu? — Perguntei ao meu pai, sussurrando.
Ele suspirou com uma mão na cintura e com a outra limpou o suor na testa.
— Um mandato de prisão. — Eliza falou. Virei minha cabeça para ela, ainda sem entender nada.
— Como é que é? — Ri desacreditada. — Por quê?
— A POLICE ICE veio por conta de uma denúncia anônima. — Meu pai começou. — Quando foram procurar o visto de no carro e confirmar se estava tudo nos conformes ou se ele estava realmente vencido, encontraram uma grande quantidade de drogas.
— Drogas? Mas que porra! — se pronunciou.
Eu estava absorta a tudo. Drogas? Qual é. Isso não era a cara do .
— Por pouco ele não é preso. O visto tinha duração de mais dois meses, então ele não seria deportado. Porém, como encontraram drogas no porta-luvas do garoto, levaram ele para a detenção de imigração e ele será deportado para o seu país de origem. — Meu pai explicou.
— Ele vai ser preso ou algo assim? — Perguntei, receosa. Não estava acreditando que aquilo estava acontecendo.
— Ele seria, mas consegui fazer uma negociação. — Respirou forte. — O rapaz não será preso, contanto que não pise mais nos Estados Unidos. — Abaixou a cabeça.
— O quê? A maioria dos trabalhos dele são aqui, Senhor . — sobrepôs.
— Pois é, . O amigo de vocês deveria ter pensado mais nas consequências. Eu sempre acolhi em minha casa. Jamais pensei que algo assim aconteceria.
Eliza decidiu ir até a cozinha preparar um chá para se acalmar. Papai subiu as escadas, me deixando a sós com .
— . — Coloquei a mão nos cabelos, frustrada. — Não é possível. Você sabe que ele nunca faria isso, né? — Tentei procurar respostas no olhar de .
— Eu achava que não, mas... eu não sei. — Respondeu, sentando-se ao meu lado e me envolvendo em um abraço carinhoso. — Eu sinto muito por isso tudo.
Uma lágrima escorreu por meu rosto. Aquilo não podia ser real.
— Ei, não chora. Eu tô aqui. Você sabe que eu tô sempre aqui, né? — me abraçou mais forte. — Sempre. Nunca vou te deixar sozinha, .
Concordei que sim com a cabeça. Sabia que poderia contar com ele para sempre.
Mandei mensagem mensagem para minha amiga marcando de sair.
WHATSAPP ON
: Me encontra às 19h, na frente do Eleven Madison Park, para entrarmos juntas.
: Tenho muita coisa pra te contar.
: Beleza, mas você paga. Eu tô zerada esse mês.
: Tá achando que é bagunça?
: Ok, não vou.
: Tá bom, eu pago.
WHATSAPP OFF
A noite chegou e eu havia feito uma reserva em um restaurante refinado aqui de Nova York.
Eu não estava em clima para sair, mas queria atualizar de toda essa confusão.
Me vesti adequadamente e prendi o cabelo em um coque bem feito.
O vestido preto me deixava mais velha e acentuava todas as minhas curvas. Pedi que Will me deixasse na porta do local. Eu esperaria ela lá.
Eu já estava totalmente impaciente na porta daquela merda de restaurante. estava atrasada já fazia meia hora. Peguei o celular e iria mandar mais um áudio xingando ela, quando vi a mesma descer do táxi e pagar a viagem. Ela ajeitou seu blazer e veio em minha direção.
— Foi mal. Eu não tenho culpa pelo trânsito de NYC. — Me puxou pelo braço e eu quase fui ao chão.
— Mas que porra. — Xinguei.
Entramos no restaurante que mais parecia uma mansão. Pessoas da alta sociedade e até algumas famosas circulavam por ali.
Fui até uma das recepcionistas de braços dado com a .
— Olá, boa noite. Eu tenho uma reserva no nome de .
— Desculpe, mas aqui não consta nenhum registro. — Respondeu, calma e olhando para o IPad em suas mãos enquanto mascava um maldito chiclete.
— Como não? — Ri, achando que a garota estava brincando comigo.
— Senhora, se você não fez a reserva, não tem como arranjar uma mesa agora. — Apontou em volta, indicando que não havia mesa alguma.
— Você poderia conferir de novo? Eu tenho certeza que fiz. Só um minuto. — Peguei o celular dentro da bolsa para mostrar as ligações feitas.
A atendente nem se deu ao trabalho de olhar e eu já estava puta da vida. Primeiro tenho que esperar por meia hora a bonita da chegar e agora essa gracinha com a minha cara?
— Olha aqui, sua vaca. Se você não olhar as reservas nessa porra desse iPad direito, letra por letra, eu vou arrancar esse chiclete da sua boca com um soco só. — Ameacei, cerrando os dentes.
me olhou, horrorizada. Em dias normais ela seria a pessoa que estaria fazendo esse tipo de barraco, mas hoje eu estava zero paciência.
— , relaxa, a gente vai conseguir uma mesa. — falou, assustada com o olhar que eu estava dando para a moça.
— Eu quero falar com o gerente desse lugar. — Falei, rígida.
— Não será necessário, não é, Nicole? — Ouvi uma voz atrás de mim.
Não é possível cara.
— Ah, Senhor !...Tudo bem? — A garota parecia desnorteada.
— , troca de calça que tá tudo molhado aí. — debochou.
deu um riso abafado pela mão, mas logo voltou a sua postura, encarando a garota que, agora, estava totalmente vermelha. Não sei se era de vergonha ou raiva.
— Tem alguma mesa disponível no local? — pegou o celular no bolso, desviando o olhar de Nicole.
— Claro, temos aquela ali em frente a sacada. — Apontou para o canto do restaurante.
— Perfeito. Elas vão sentar comigo. — Olhou para nós duas.
— Quem disse que eu vou aceitar? — Perguntei com a mão na cintura.
Senti um empurrão.
— Ah, mas você vai aceitar, sim! Eu to morrendo de fome. — contrapôs. — Se você não quiser, eu vou com o e te deixo aqui. — Apertou os olhos.
— Que tipo de amiga você é? — Abri os braços.
— Vamos? — nos interrompeu.
Seguimos o mesmo até a mesa.
— O que vocês vão querer? — Perguntou, olhando o cardápio.
— Acho que vou pedir um penne ao curry com azeite de trufas brancas. — disse.
Eu e o optamos por um espaguete ao molho carbonara. Fiquei sabendo que aquele era seu prato favorito.
Bebemos vinho para acompanhar.
— Cara, o que aconteceu com ? — perguntou, dando a segunda garfada no prato.
— Ele foi deportado. — Respondi, simples. Embora ele fosse saber de qualquer forma, não queria entrar no assunto na frente do .
— Deportado? — Colocou os talheres sobre o prato.
— Denúncia anônima, . — Olhei para que estava atento à nossa conversa.
Continuamos conversando sobre o caso de e no quão estranho aquilo era.
Fui até a sacada do restaurante tomar um ar enquanto a sobremesa não ficava pronta.
e ficaram na mesa esperando.
Debrucei no muro, olhando o céu repleto de estrelas.
Vi uma estrela cadente, fechei os olhos e fiz um pedido.
— Olha só, essa cena novamente. — Ouvi um riso.
— Hã? — Indaguei, confusa, já sabendo quem era o dono da voz.
— Você, debruçada aí, de vestido preto. De novo. Um maldito vestido preto. — Abriu o botão de seu terno.
— Como assim? Não tô entendendo. — E eu realmente não estava entendendo nada.
parou do meu lado, apoiando os cotovelos no muro e olhou dentro de meus olhos.
— Então, você é agressiva com todo mundo ou só comigo mesmo? — Perguntou, mexendo em suas unhas.
Gargalhei com tal pergunta. Ele é maluco?
— Então . Eu só sou agressiva com quem já chega querendo me agarrar. — Brinquei com ele.
— ? Subimos o nível de intimidade? — Apoiou o rosto em sua mão.
— Tira o cavalinho da chuva, bebê. — Encostei no nariz do homem e sai desfilando.
Sentamos à mesa novamente e finalizamos o jantar com muita conversa.
Eu havia conhecido um lado mais brincalhão de . Talvez ele não fosse tão babaca quanto eu pensava.
No dia seguinte, na faculdade, e eu estávamos no horário de lanche. Ele estava comendo um hambúrguer com cheddar e eu só uma porção de batata frita.
— , mais tarde podemos sair? — Me surpreendi com o pedido repentino.
— Ahn... claro. Pra onde? — Perguntei, curiosa.
— Por aí. Só preciso distrair a mente. — Remexeu o canudo no copo de refrigerante.
Quando a aula acabou fui direto para a casa. Passei a tarde estudando e conversando com Eliza sobre os móveis novos que ela pretendia comprar.
Quando deu umas 16:40 foi me buscar. Eu estava com uma blusinha branca, um short jeans e chinelos. Ele também estava simples: uma blusa vermelha com o símbolo do flash, uma bermuda jeans e chinelos brancos.
Fomos o trajeto inteiro conversando. Ele me falou que não estava conseguindo fazer a redação que tínhamos que entregar na sexta-feira e tentei dar umas dicas para ajudá-lo. Comentei sobre minha recente ida na balada e ele brincou dizendo para eu tomar cuidado com motoqueiros.
Chegamos em uma ponte e ele parou o carro. Antes de descer lembrei que tinha visto a Melanie com o e fiquei em transe por alguns segundos. Ele bateu a porta do carro e chamou minha atenção.
— , preciso te contar uma coisa. — Sai do carro e fechei a porta.
— Depois, ... Não estou com cabeça. — Enfiou as mãos no bolso da bermuda.
— Mas é importante, ! Você vai querer saber. — Falei, seguindo o garoto.
— , depois, ok? Quando a gente tiver indo embora você fala. — Continuou andando.
Fiquei com um pouquinho de raiva, mas acenei que sim com a cabeça. Segui ele até o meio da ponte. Ele sentou no murinho e pediu para que eu o acompanhasse. Eu fiquei com um pouco de medo, mas fui. Se eu caísse no rio iria ser culpa dele. Ficamos um tempo em puro silêncio, só olhando para o por do sol e balançando as pernas no ar.
— A Melanie se afastou de mim de uma maneira tão estranha. Quando eu chamo a Mel pra sair, ela inventa uma desculpa. — Ouvia reclamando de sua namorada em silêncio, apenas esperando o momento certo para falar. — Eu acho que ela quer terminar comigo, mas não achou uma maneira ainda. Esse relacionamento tá acabando com meu psicológico. — Riu fraco, olhando o horizonte.
— Então, ... — Coloquei a mão em seu ombro, fazendo o garoto olhar dentro dos meus olhos.
desviou a atenção quando seu celular apitou desesperadamente.
WHATSAPP ON
Tom: MANO, EU VI A MELANIE NO PRÉDIO DA THIRD AVENUE AGORA.
Tom: Ela não me viu. Tenta ir lá e dá uma olhada no que tá acontecendo.
Tom: ???
WHATSAPP OFF
Vejo esticar o celular, olho seu rosto procurando por respostas e assim encontro. A raiva era palpável no seu olhar.
Leio as mensagens, pulo do muro e puxo junto.
— Bora, vamos descobrir o que tá acontecendo agora! — Falo e entro no carro.
A respiração dele era forte e seus dedos estavam brancos de tanto apertar o volante.
Era agora ou nunca.
Capítulo 10
estava dirigindo furiosamente. Seu pé devia ter afundado no acelerador.
— Ou! Tá maluco? — Bati no ombro do garoto.
— O que foi? — Desviou a atenção da estrada por um instante.
— O que foi? — Retruquei com ironia. — VOCÊ VAI MATAR A GENTE CORRENDO DESSE JEITO. — Gritei.
— Larga de ser histérica, . Eu só preciso chegar lá logo. — Inspirava forte.
Seguimos calados até chegarmos ao tal local.
desceu e bateu a porta do carro na força do ódio.
— Puta que pariu, .
Fiz uma cara confusa, indicando para que ele continuasse.
— Aqui não é um simples prédio. — Passou as mãos nos fios e socou a lataria do carro.
— Como assim não é um simples prédio? É um prédio comercial, . — Apontei.
— É um prédio disfarçado. — Fez aspas com os dedos. — Se a Melanie estiver aí dentro, acho bom ela ter uma ótima explicação. — Guardou as chaves no bolso e saiu andando na frente.
— Eita, porra. — Corri tentando alcançá-lo.
Entramos e fomos recepcionados por uma mulher que não parava de olhar para de forma desejosa.
— Podem ir por ali. — Indicou o corredor à esquerda, batendo a caneta na palma da mão.
Revirei os olhos e logo percebi que ali haviam mais seguranças do que o normal.
Puxei pela blusa.
— Isso tá muito estranho. Que merda tá acontecendo? — Falei, um pouquinho assustada.
— Não está estranho, . Este é um prédio de prostituição; ou onde as acompanhantes de luxo ficam com os caras, eu acho. Pelo menos foi o que o Tom disse.
Se afastou e eu pude então associar Melanie e .
ÓBVIO! Se a Melanie estava naquele prédio e foi ao coquetel com o , ela só pode ser uma acompanhante de luxo. Xeque-mate.
Fomos encaminhamos para o andar de cima, onde haviam garotas muito bonitas e que pareciam querer avançar no meu amigo.
olha o celular de novo.
— O Tom disse que viu ela no sétimo andar. Vamos lá. — Corremos para o elevador.
Quando chegamos ao sétimo andar, tinham algumas portas abertas e garotas apenas de lingerie.
Olhamos em todos os cantos e nada de Melanie.
Quando viramos o corredor da direita, demos de cara com a garota de mãos dadas com um cara muito mais velho que ela.
Seus olhos arregalaram e ela ameaçou chorar.
olhou para o homem e para Melanie, deu uma risada seca e virou as costas sem nem olhar para trás.
Olhei para eles com decepção nos olhos.
Eu ajudaria meu amigo.
Encontrei ele dentro do carro com a cabeça no volante.
— Traição, . Traição. — Bateu a cabeça de leve na buzina, me dando um susto. — Eu era um namorado tão bom. Sim, era. Eu não quero mais olhar na cara dela. — Me encarou.
Seus olhos estavam vermelhos e sua voz diferente por conta do choro recente.
— Poxa, meu anjo. Vem cá. — Puxei o mesmo para um abraço caloroso, no qual ele se aconchegou e soltou todas suas mágoas.
Chamei para ir até minha casa assistir um filme e comer besteiras. Ele relutou no começo mas o fiz ceder. O melhor agora era que eu conseguisse distrair meu amigo. Assim que chegamos em casa, peguei várias bobeiras no armário para a gente comer enquanto assistíamos filme.
— Vamos assistir esse. É uma das minhas comédias favoritas! — Afirmei, clicando em Gente Grande.
— Wow, é muito bom mesmo. — Sentou, com os pés em cima do sofá e com a mão suja de Doritos.
Na mesa encontravam-se pipoca, refrigerante, salgadinhos, doces e chocolates.
O filme mal começou, e nós já estávamos gargalhando feito loucos.
Hilliard cantando Ave Maria, era tudo.
Eu não sabia se estava rindo do filme ou da risada do . Só sei que era tão bom vê-lo sorrir que eu prometi para mim mesma que não deixaria que ele chorasse novamente.
A noite chegou e eu levei até à porta para que ele fosse embora.
— Obrigado por me distrair, . Amanhã a gente conversa mais. — Riu de lado, me puxando para um abraço.
Me aconcheguei naquele momento, sentindo toda gratidão transmitida por .
Coloquei as coisas na cozinha e subi as escadas amarrando os cabelos.
Ao passar pelo quarto em que ficava hospedado, decidi entrar.
Sentei na cama e olhei ao redor. Embora o quarto fosse na minha casa, essa parte em especial. Tinha um pedacinho dele.
Parei meu olhar em um óculos amarelo sobre a escrivaninha e lembrei que amava aquele objeto, já que não o tirava de seu rosto.
Deitei na cama e senti o seu cheiro no travesseiro. Fechei os olhos lembrando de quando veio para minha casa pela primeira vez.
Eu estava sentada no meu quarto, tentando decorar aquela merda de tabela periódica e seus componentes.
— Que saco! Porque isso é tão complicado? — Batia o lápis na mesa branca.
Ouvi a porta abrir e desviei o olhar da folha.
Minha mãe entrava no quarto junto com um garoto, que eu presumia ser meu primo que veio para concluir o ensino médio.
— Oi. — Falei, baixinho. Eu era tímida.
— E aí? Tudo bem? — Foi entrando no meu quarto. — Meu nome é . — Sorriu aberto.
— O quê? — Fiz uma cara estranha, tentando entender o nome do menino.
— Pode me chamar de . — Olhou para minha mãe que estava no batente da porta. — Obrigado, tia Gisele. — Deu um beijo na bochecha da mulher.
— Vocês serão bons amigos. — Ela veio até mim, beijou minha testa e saiu do quarto.
— Tá fazendo o quê? — Olhou por cima do meu ombro.
— Tentando decorar a tabela periódica. — Revirei os olhos.
— Eu posso te ajudar. — Pegou a tabela e olhou nos meus olhos, sorrindo abertamente.
Abri os olhos e deles escorriam lágrimas.
Eu não conseguia parar de pensar que nunca seria capaz de tal coisa.
Eu tinha certeza que tudo ia se resolver.
Pego meu celular no bolso para mandar mensagem para .
WHATSAPP ON
: Entrei no quarto que o estava dormindo.
: Achei o óculos amarelo dele e lembrei de quando veio pra cá.
: Ai amiga, sinto muito. Sei que tudo vai se resolver.
: Vai sim, tudo vai se esclarecer.
: Aqui, preciso te contar uma coisa.
: Amanhã a gente se encontra na cafeteria ao lado do campus?
: Amanhã eu não consigo.
: Mas assim que eu chegar em casa, combinamos um horário.
: Ótimo.
WHATSAPP OFF
Quando eu acordei, percebi que acabei adormecendo na cama que era do .
Dessa vez eu tinha acordado no horário certo.
Quando cheguei na universidade e entrei na minha sala, olhei para os lados buscando por ou Melanie, mas não encontrei nenhum dos dois.
estava na sua mesa corrigindo as provas que havíamos feito.
Espero que eu tenha tirado uma boa nota.
Colocou a caneta entre os lábios olhando mais uma folha e balançando a cabeça negativamente.
Após corrigir as provas, começou a explicar onde erramos e porque.
A aula foi super produtiva e eu pude sanar todas minhas duvidas.
Terminamos o quarto capítulo do livro e finalizamos essa matéria.
Era hora de ir embora. A sala estava esvaziando, sobrando só eu, o professor e mais uma aluna.
— , pode me ajudar a levar esses livros na sala 07? — Perguntou, retirando seus óculos.
Eu iria embora com , mas acho que ele podia esperar um pouquinho.
Quando saímos da sala com os livros em mãos, dou de cara com Melanie, que me olhou de cima a baixo.
— Tem alguma coisa da matéria que você queira repassar? — Pude ouvir enquanto entravamos na sala 07.
— Eu? Não, não. Você foi claro e objetivo. — Sorri.
— Então você ficou feliz com a sua nota? — Perguntou, descontraído e apoiando-se em uma mesa.
— Muito mesmo! — Depositei os livros dentro do compartimento.
— E tá tudo bem com você? — Mexeu nos cabelos.
Eu identifiquei um tom de preocupação em sua voz.
— Tá sim. Obrigada. — Assenti.
— O que aconteceu aquele dia? Quer conversar? — Seu cenho estava franzido.
— Está com pena de mim, Senhor ? — Perguntei um pouco alto, querendo sair logo dali.
Eu odiava aquele olhar.
Estava pronta para sair, mas senti sua mão segurar a minha e me virar com certa urgência.
— Quê? Claro que não. Eu apenas estou preocupado. Não entenda errado. — Acariciou a palma da minha mão, olhando-me com ternura.
Ficamos nos encarando por um bom tempo. Ele era uma pessoa boa. Eu sabia disso.
Aquele olhar de novo, como se quisesse fazer algo, mas não faz.
— O que foi? — Perguntei, confusa.
— Foda-se, .— Soltou minhas mãos, levando as suas até a minha nuca e me puxou.
Os lábios se chocaram com força e nossas línguas iniciaram uma grande batalha.
Ele mordeu meu lábio inferior um pouco forte demais, e eu gemi em protesto.
O cara beijava muito bem, não tinha como resistir. E também eu estava carente por conta do .
Era errado? Sim, mas eu queria.
Certamente eu estava enlouquecendo.
— Nós não temos muito tempo. — falou entrecortado.
Abri os botões da sua blusa rapidamente. Ajoelhei em sua frente, ele me ajudava a tirar seu cinto.
"Eu ainda sabia chupar alguém?" — Pensei.
— Isso não é contra as regras da faculdade, Sr. ? — Brinquei, desafiadora e abaixei sua calça juntamente com a sua cueca branca.
— Isso é contra as minhas regras. Mas eu não consigo resistir à você. — Segurou meus cabelos por entre os dedos. — Porra. — Gemeu, segurando forte a mesa quando encostei meus lábios de leve em sua glande.
Coloquei toda a sua extensão até onde eu aguentava. A sucção era frenética e a cada gemido que ele dava, eu ficava mais tentada a continuar.
— Isso tá muito bom, mas vem cá. — Inverteu as posições e abaixou a minha blusa de alças. Não esperou nada e chupou meus seios como se fossem os doces mais saborosos do mundo.
Subiu pelo meu pescoço e mordiscou minha orelha.
Levou sua mão até minha saia e puxou a calcinha para o lado, introduzindo dois de seus dedos.
— Você tá tão molhada. Não vejo a hora de estar aí dentro. — Fazia movimentos que estavam me levando a loucura facilmente.
— Caralho, . — Falei, apoiando uma das mãos em seu ombro e a outra na mesa, sentindo o mesmo tirar minha calcinha preta.
pegou o preservativo de dentro da sua calça social e logo estava pronto.
Minhas pernas se abriram para que ele se encaixasse no meio delas.
Quando ele deu a primeira estocada, nós dois gememos alto.
Procurei a boca dele para abafar os gemidos, já que o barulho irritante da mesa prevalecia no local.
Ele entrava e saía com muita rapidez.
Me inclinou sobre a mesa e eu fiquei empinada e pronta para recebê-lo de novo.
— Você é uma delícia! — Segurou forte minha cintura. — Não tem noção do quão bom é estar aqui dentro. — Apoiou a outra mão ao meu lado, investindo forte.
— Mais, por favor. — Eu suplicava.
Eu estava quase lá.
Senti sua mão espalmada na minha nádega e ele foi mais fundo, fazendo com que meu corpo ficasse agitado com o grande orgasmo que eu estava tendo. Gemi alto de tanto prazer. Virei minha cabeça para o lado, ainda morrendo de tesão e vi uma sombra no vidro da porta.
— ... — Tentei falar. — Eu vi alguém pelo vidro. — Gemi.
— O que, ? Não entendi. — Meteu mais forte e rápido.
Quando ele puxou meu cabelo com tamanha força, eu tive certeza que ele também tinha chego no seu limite.
— Puta que pariu! — Bagunçou os cabelos que estavam colados sobre a pele.
Eu respirava forte, tentando me recompor enquanto me vestia.
abotoava sua blusa um tanto quanto atordoado.
— Acho que vi alguém pelo vidro. — Sussurrei, com medo.
— Calma, não era ninguém. — Tentou me acalmar, passando a mão no meu braço. — Sobre o que aconteceu aqui, podemos conversar depois? — Afivelou o cinto.
— Podemos sim. Eu vou na frente. Espera uns dez minutos, depois você vai. — Falei, passando a mão na saia jeans.
Sai da sala correndo.
— Puta que pariu, será que o já foi embora? — Limpei o suor na testa.
Avistei o carro do meu melhor amigo parado debaixo da árvore e caminhei até lá.
abriu a porta e me olhou feio.
— Quarenta minutos, ? — Perguntou, checando as horas no relógio do celular.
— Me perdoa, . Eu tive um imprevisto! — Menti.
— Beleza. Entra aí.
Entrei no carro, envergonhada.
Durante o caminho fomos conversando banalidades e estava bem descontraído. Parece que tinha esquecido meu atraso.
Sai do automóvel depositando um beijo no rosto do , que sorriu para mim.
— Até amanhã. — Balancei a mão.
Uma coisa ainda rondava meus pensamentos quando eu girei a maçaneta: Será que alguém me viu com ou era só coisa da minha cabeça?
Capítulo 11
Acordei com olhos escuros me encarando.
— Ai, porra! — Empurrei o garoto, saindo da cama.
Olhei para os lados, vendo uma jaqueta de couro e outras peças de roupa no chão, junto com uma caixinha de dados eróticos.
Lembrei-me de uma das posições que fizemos no chão e sorri.
— O que foi? — Ele perguntou.
— Tô pensando aqui... será que minha mãe ouviu alguma coisa? — Arrumei os cabelos, cobrindo os seios com o lençol branco.
— Tá cobrindo por quê? Eu prefiro sem. — Sorriu, safado.
— Cara, você é uma máquina de fazer sexo? — Gargalhei e ele me acompanhou, preenchendo todo o cômodo com nossas risadas.
Decidi tomar um banho e ele me acompanhou.
Trocamos algumas carícias debaixo do chuveiro, mas nada para iniciar um segundo round.
Me arrumei e mandei uma mensagem para minha melhor amiga.
WHATSAPP ON
: Tá chegando já? :p
: Em dez minutos estou aí.
: ok, vem rápido não aguento mais esperar.
WHATSAPP OFF
Eu andava ansiosa de um lado para o outro na sala.
Como ela iria reagir? A opinião dela era importante pra mim.
— Calma, minha filha, senta ai. — Mamãe tentava me acalmar.
— Dona Deisy, a senhora sabe como a é. — Sentei no sofá cinza, batendo as mãos nas coxas. — Daqui a pouco ela chega. AI, O QUE EU FAÇO?! — Prendi meu cabelo em um coque e soltei logo depois.
— Você é muito ansiosa, . A é sua amiga e te apoiará em tudo. Fica tranquila. — Andou até mim, fez um carinho em meu rosto e deu um beijo na minha testa. Depois, caminhou até a cozinha, para terminar de assar os biscoitos favoritos da minha amiga.
Ouvi passos atrás de mim e virei.
— Oi, eu tô nervosa. — Peguei em suas mãos, acariciando os dedos que tinham três anéis.
— Fica calma. Ela vai ficar feliz por nós! — Gargalhou, passando a mão no meu cabelo e colocando-o atrás de minha orelha.
— Eu não sei, hein. Tô com medo. — Fiz beicinho.
Ele se aproximou de mim e mordeu meu lábio inferior, deixando um selinho e me abraçando forte.
Fui até a cozinha e roubei alguns biscoitos. Eu estava quase morrendo por conta da demora. Acho que a queria se vingar de todas as vezes que eu a fiz esperar.
Ouvi o som da campainha e fui correndo abrir. Fiquei surpresa por encontrar uma com olheiras fundíssimas abaixo dos olhos.
— Oi, . — Foi entrando na minha casa, sem ao menos me dar um abraço.
E eu travei de medo quando ela parou na sala.
Qual é? Eu era . Quando eu ficava com medo?
Eu já estava praticamente pronta, faltando apenas meu colar preferido que, por algum acaso, havia desaparecido.
— Ótimo! Agora cadê essa merda? — Abaixei, olhando debaixo da cama.
Olhei no banheiro, no porta-joias, na cômoda e NADA.
Até que resolvi revirar a gaveta de meias.
— AQUI ESTÁ VOCÊ! — Gritei, contente por encontrá-lo.
Eu estava prestes a fechar a gaveta, se não fosse por algo que me chamou a atenção.
Retiro algumas meias que cobrem o caderno de capa roxa.
— Não acredito. — Eu estava boquiaberta por ter achado aquela relíquia.
Coloquei minhas mãos no pequeno diário e suspirei.
Abri na primeira página, passando os dedos sobre a escrita torta.
Foi um presente da minha mãe quando eu completei meus nove anos.
— Nossa, quanto tempo. — Passei as páginas, sorrindo nostálgica.
Parei assim que li o título "MINHA PRIMEIRA VEZ" e quase gargalhei pelos detalhes gravados com minha caligrafia.
— Querido diário, hoje foi um dia muito importante pra mim. Pasme, mas sim. Foi a minha primeira vez. — Eu recitava em voz alta. — foi muito carinhoso comigo. — Parei e sorri, lembrando-me de seis anos atrás.
Nós dois já estávamos sem roupas.
estava sobre meu corpo, posicionado entre minhas pernas.
— Ei, olha pra mim. — Encarei suas orbes que brilhavam. — Tá tudo bem? Você está realmente pronta? — Perguntou carinhoso, acariciando meu rosto, que deveria estar totalmente vermelho.
— Vai doer muito? — Fiz beicinho, apertando seu braço esquerdo.
Eu e , apesar de melhores amigos, tínhamos a promessa de perder a virgindade juntos.
— Prometo que não vou te machucar. Se estiver doendo muito, você me fala, tá? — Eu concordei e ele beijou minha testa.
penetrou-me com delicadeza e cuidado.
Gemi por conta do desconforto e dor crescente.
Ele ficou imóvel dentro de mim, até que eu me acostumasse.
Nós nos olhávamos com ternura.
Fechei meus olhos e senti meus lábios serem capturados.
O beijo era lento, mas instigante, fazendo com que ele se mexesse devagar.
A dor aos poucos foi substituída por um enorme prazer, eu tinha vontade de gemer, mas reprimia por conta da timidez.
Os gemidos de no meu ouvido me deixavam arrepiada.
— Droga. Isso é muito bom. — Beijou meu pescoço, descendo para os meus seios.
— Não posso negar. — Sorri em meio aos gemidos que eu já não conseguia conter.
Eu estava boquiaberta com tantos detalhes. Na época, eu era só uma garota de dezesseis anos perdendo a virgindade com o seu melhor amigo.
Páginas e páginas sobre meu dia a dia. Até que eu parei em uma com o título "Filme... ou quase isso".
— Não é possível. — Perdi o fôlego de tanto rir. — Ai, minha barriga. — Tentava cessar as risadas que preenchiam meu quarto e sentei no chão, lembrando-me também daquele dia.
— , vamos ver um filme? — entrou no meu quarto balançando o pendrive.
— , eu tô estudando. — Fiz uma cara triste.
— Qual é? Você tá aí desde que seus pais saíram. — Encostou-se na porta. — Tô te esperando no meu quarto e não aceito um não como resposta. — Fez dab e saiu.
Larguei o lápis e segui , deitando em sua cama.
— Coloca logo esse filme, pateta. — Dei um tapa de leve em sua cabeça.
O filme passava normalmente, até chegar em uma cena um pouco constrangedora pra mim.
estava vidrado nos seios da mulher que balançavam conforme os movimentos que ela e o homem faziam.
Meu rosto estava virado, eu tentava a todo custo evitar olhar a TV.
Olhei meu primo que me encarava de volta, mas de forma estranha.
E sem aviso prévio, ele me beijou.
Empurrei o garoto e disse: Tá maluco, dab? Isso é errado. — Arregalei os olhos.
— Errado pra quem? — Rebateu, debochado.
O beijo dele era bom. O que nos impedia?
"VOCÊS SÃO PRIMOS!" Minha consciência gritava, mas o calorzinho no meu corpo não ligava para isso.
— Foda-se então. — Sentei no colo do garoto que apertou minha bunda com certa força.
— Quero foder você agora. — Falou, ofegante, entre os beijos. — Pera, você é virgem? — Ele perguntou, curioso.
— Que? Não. — Ri sem graça. — Perdi com . — Finalizei.
Porque eu havia dito aquilo?
— Com ? — Me afastou. — Quando ele contou ter transado pela primeira vez, não pensei que fosse com a minha prima. — Me puxou para perto de novo. — Podemos continuar? — Beijou meu pescoço.
Deitei no colchão e puxei pela blusa, fazendo ele cair encima de mim.
Ficamos o filme inteiro transando.
— Porra, você não cansa? — Perguntei vendo o garoto pegar a terceira camisinha na gaveta.
— E você gosta. — Sorriu, cafajeste.
Fomos para mais um round, sem pestanejar.
Nós estávamos suados demais mesmo com o ar condicionado ligado.
— Ei, não ouse contar para alguém sobre isso aqui. — Apontei para nós dois.
— Relaxa, eu não sou babaca. — Me deu um selinho e levantou-se para vestir a cueca.
Li a última frase em voz alta, limpando as lágrimas de tanto rir.
— Então, diário, uma lição que dab me ensinou foi: Deus criou os primos para não pegarmos os irmãos. E, como eu não tenho irmãos, meu destino era traçado a pegar meu próprio primo. Acontece nas melhores famílias. Até a próxima. — Deitei no chão, erguendo o caderno, fazendo que dele, caísse uma carta.
Curiosa, peguei e abri.
Era uma folha com detalhes em roxo, com o título "Adeus".
Segurei o papel de forma bruta e forte.
Comecei a ler, com lágrimas nos olhos e a voz falhada.
Tem dias que acordamos com vontade de sumir e não voltar mais.
Eu achei que esse ano seria o melhor da minha vida.
Mas mamãe me deixou e o meu ex-namorado, Ian, me machucou de todas formas possíveis.
Só queria uma chance de ser feliz de novo. Penso que talvez não seja possível.
Hoje, estou pedindo com todas as minhas forças para que seja meu último dia na terra.
Me desculpe papai, , e , mas eu quero encontrar minha mãe. Amo vocês mais que eu possa suportar!
Eu tenho 18 anos, mas acho que já vivi o suficiente.
Adeus.
Rasguei a carta com força e fúria.
As lágrimas caiam como uma cachoeira.
— Eu te odeio, Ian! Eu te odeio! — Batia o papel no chão a cada pedaço rasgado, lembrando-me da atrocidade que ele havia feito comigo.
Fiquei mais ou menos meia hora deitada no tapete do meu quarto, apenas ouvindo minha forte respiração.
Só despertei quando chegou uma mensagem no meu celular.
WHATSAPP ON
: Tá chegando já? :p
: Em dez minutos estou aí.
: ok, vem rápido não aguento mais esperar.
WHATSAPP OFF
Eu estava dentro do carro, com a cabeça encostada na janela.
Will me olhava pelo retrovisor interno. Parecia preocupado.
— Oi, . — Cumprimentei sem abraçá-la.
Caminhei até o centro da sala e vi um garoto de cabelos negros com uma tatuagem no ombro direito.
Ele se virou e me deixou confusa.
— ? — Indaguei, sem entender.
aproximou-se do garoto, entrelaçando a mão com a dele.
— Pera... quê? — Coloquei a mão na cintura. — Você tá comendo minha melhor amiga? — Ergui as sobrancelhas.
— É... tô. — Respondeu, levando um soco da garota ao seu lado.
— Cala a boca, seu idiota. — Bufou. — Bom, ... Nós estamos juntos faz um tempinho. — Sorriu, sem graça.
— SÉRIO? — Toda aquela tristeza sumiu, dando espaço à uma alegria inexplicável.
Corri para abraçar os dois e acabei derrubando-os no sofá.
— Sai fora, . — gargalhava tentando me empurrar.
— EBA, SURUBAAAA. — gritou, fazendo tia Deisy aparecer na porta, rindo da posição em que nos encontrávamos.
Fiquei um tempo conversando com eles e descobri que era o cara da balada e estava lá com seu melhor amigo.
No dia seguinte, acordei mais cedo que o normal.
Me arrumei e pedi para Will me levar no Campus.
Assim que desci do carro, percebi que as pessoas me olhavam demais.
Caminhei rápido até a sala e encontrei com .
— , o que aconteceu? Você fez isso mesmo? — questionou, com uma cara desconfiada.
— Quê? Isso o quê? — Joguei a bolsa na carteira e sentei.
Olhares maldosos eram lançados em minha direção e boa parte da turma me encarava assim. Entre olhares e burburinhos, Melanie se destacava, com seu olhar intimidador e sorriso malicioso.
Eu só queria socá-la até arrancar aquele sorriso idiota.
, diferente dos outros, me olhava com reprovação. Eu não entendi nada.
Um homem gordo, baixinho e grisalho, que eu nunca tinha visto na vida, entrou na sala com alguns materiais.
— Não era a aula do professor ? — Me virei para trás, perguntando a , que, devido os fones altos, me ignorou.
— Bom dia! Meu nome é Anthony e eu serei o novo professor de vocês, entrando no lugar de . Ele teve alguns problemas pessoais e voltou para sua cidade. — Falou, arrumando o cinto.
— Problemas pessoais? Nós sabemos o que são esses problemas. Aliás, eles tem nome e sobrenome. — Melanie disse em voz alta, gargalhando e mexendo em seu cabelo.
encarou a garota.
— Não fale coisas que não te convém, Campbell. — falou, grosso e ríspido. — Você é uma das garotas dessa sala, talvez dessa universidade inteira, que menos tem moral pra falar da . Então abaixa a bola.
Minha cabeça explodia de tantas perguntas. O que era tudo aquilo? Será que a Malanie viu alguma coisa? foi demitido por minha culpa?
A única coisa que eu podia fazer era ficar quieta para não piorar a situação.
No entanto, a cada segundo que se passava eu me corroía por dentro.
Capítulo 12
Estava praticamente dormindo com a explicação extensa e nada objetiva de Anthony. Eu não entendi nada e ele não deu nenhum exemplo.
O professor nos deu apenas quinze minutos para comer algo.
e me acompanharam até a cantina.
— , relaxa que isso tudo vai se resolver. — passou a mão por cima de meus ombros, me abraçando de lado.
— É verdade. E, independente do que aconteça, estaremos aqui com você. — cutucou minha costela.
Observei os dois homens pegarem o almoço e fomos até a mesa.
Conversávamos sobre uma ideia genial que já estava finalizando.
Mirei meu olhar para porta e vi vindo em nossa direção.
Ele estava com o cenho franzido e as mãos fechadas em punho ao lado do corpo. Eu conhecia bem meu melhor amigo e sabia que ele estava a ponto de explodir.
— Pode me explicar que porra tá acontecendo? — Falava alto, me encarando.
As pessoas ali presentes, devido ao tom de voz de , focaram em nós.
— Ei, mano. Relaxa aí. — levantou, pousando a mão no ombro de , que se afastou.
— Fica na sua se não quiser arrumar problema, . — Nem se deu ao trabalho de olhar para , que estava vermelho de tanta raiva, apertando o garfo que segurava.
Puxei meu amigo pelo braço, até a saída.
— Que merda é essa, ? — Abri os braços, procurando por respostas.
— Me explica você! Caralho, eu sou seu melhor amigo, . — Reclamou, tirando seu casaco. Sua camiseta preta deixava bem exposto seus músculos e tatuagens.
— Olha, eu estava chateada com o lance do meu primo. E estava ali, sabe? Ai rolou. — Olhei para os lados, envergonhada. — Mas, de qualquer forma, ele é uma boa pessoa. — Coloquei a mão no bolso de trás da calça.
— Ele te come, vai embora e te deixa passando por essa merda aqui na faculdade. Tô vendo a boa pessoa que ele é. — Debochou.
— ? — Indaguei, incrédula e ofendida.
— O que foi? — Me olhava, ainda severo.
— Poxa, cara, você sempre me ajudou. Sempre me entendeu. Por que isso agora? — Minha voz estava embargada.
— Ei, ei, ei. Para com isso. Vem cá. — Me puxou pelo braço me dando um abraço. — Me desculpe pela forma que eu falei, tá? — Beijou o topo da minha cabeça. — Eu só me preocupo demais.
— Tudo bem. Sei que você só quer o melhor pra mim. — Envolvi seu corpo em um forte abraço.
— Já vou indo. O professor de direito tributário faltou. — Comemorou fazendo uma dancinha.
— Idiota. — Bati em seu ombro, vendo ele se afastar.
Virei novamente e dei de cara com , que estava super puto.
— Aquele moleque. — Saiu andando na frente.
— Você sabia desse lado do ? — indagou, arrumando sua jaqueta de couro. — Ele me contou que jogou um notebook no amigo dele. UM FUCKING NOTEBOOK. — Gritou a última frase.
— Credo. Disso eu não sabia. Mas ele é encrenqueiro. — Gargalhei. — Aliás, jaqueta legal. vai adorar. — Pisquei pra ele.
— Ela prefere sem. — Piscou de volta.
— Beleza, beleza, não quero saber da vida sexual de vocês. — Balancei a cabeça negativamente.
Entramos na sala vendo um nervoso.
— Ei, coelhinho. — Brinquei com ele, que soltou um riso.
— Coelhinho? — Fez uma careta.
— Sim! Igualzinho. — Puxei seu nariz, fazendo ele preencher a sala com uma gargalhada.
Melanie nos olhou pelo canto dos olhos e virou, comentando algo com sua amiga.
— Hm, entendi. — Revirei os olhos.
A aula seguiu entediante e Anthony fazia algumas perguntas.
Até que agora eu havia entendido algumas coisas, mas nada que agregasse tanto.
pediu licença ao professor para fazer um comunicado importante.
— Ahn... Oi, pessoal. — Balançou a mão. — Quero informá-los que no dia 19 de julho, que, por sinal, estaremos de férias. Eu estarei organizando um baile de máscaras para arrecadar fundos para reconstrução de um orfanato. Aquele da rua de cima. — Fez sinal com a mão.
— Como podemos saber mais informações, ? — Uma menina de cabelos enrolados questionou.
— Chegarei nesse ponto. — Juntou as mãos. — Bom, eu tenho o número de vocês por conta do grupo da sala. E, quanto mais gente for, melhor. Assim, iremos arrecadar muito mais. — Gesticulava freneticamente. — Irei mandar o valor, horário, local e tudo mais. — Encostou em uma mesa.
— Já pensou em investidores, rapaz? — O professor sondou.
— Claro. Eu já fechei com três investidores que estão doando quantias significativas e que serão de grande ajuda. — Afirmou. — Além de reconstruir o orfanato, os recursos adquiridos vão permitir a ampliação da capacidade de atendimento para crianças com deficiência, com a construção de uma nova área com seiscentos metros quadrados, totalmente equipada, e ampliação do atendimento de cem para trezentas pessoas atendidas. — Finalizou, sorridente.
— Ótima iniciativa, . Pode contar comigo. Estarei lá com meus amigos. — Ouvimos de um garoto no fundo da sala.
— Comigo também. — levantou a mão, balançando de um lado para o outro.
— Obviamente eu também vou, né? — Sorri abertamente.
— Beleza, galera. Vou criar um grupo e mando o link para vocês falarem para outras pessoas. Fechou? — Fez sinal positivo com os polegares. — Valeu, professor. — Caminhou até sua carteira e sentou.
A aula prosseguiu normal. Já estávamos quase finalizando o último tópico.
Os alunos saíam falando com , que parecia realmente animado com toda aquela ideia.
Eu estava feliz pela grande proporção que aquilo estava tomando e com certeza irei doar uma grande quantia para esse feito tão nobre. Estou orgulhosa.
Antes de sair da sala, ouvi meu nome e virei para conferir se eu estava certa ou se tinha sido um delírio.
— , podemos conversar mais tarde? — Melanie perguntou, colocando as canetas dentro de sua bolsinha dourada.
— Não tenho nada pra conversar com você, Melanie. — Fui ríspida.
— Qual é, ? Por favor. — Juntou as mãos e me olhou com seus grandes olhos.
— Ok. Vamos na cafeteria. Não tenho muito tempo. — Sai na frente, sendo seguida pela garota.
Chegamos lá e Melanie pediu um café americano. Eu não pedi nada porque não queria demorar.
— Você e estão ficando? — Soltou, de repente, fazendo com que eu me assustasse.
— Quê? Óbvio que não, garota. — Apoiei os cotovelos na mesa.
— Entendi. — Colocou seu cabelo atrás da orelha. — Então você me ajudaria a voltar com ele? — Fez uma carinha de cachorro pidão.br />
— Você tá de brincadeira com a minha cara, né? — Gargalhei. — Se for só isso, eu vou embora. — Peguei minha mochila e levantei, mas ela puxou meu braço.
— Eu vou te contar tudo. — Disse, cabisbaixa.
Olhei para ela por uns segundos e me sentei novamente.
— Fala. — Fiz sinal para que ela continuasse.
— O negócio dos meus pais faliu. — Sussurrou.
— E daí? — Me arrependi por ser tão insensível ao ver que ela estava chorando.
— Eu tive que ajudá-los. — Fungou, limpando as lágrimas que insistiam em cair. — Eles acham que está me ajudando com o dinheiro. — Sua voz era falha.
Eu olhava a garota com pena. Talvez ela não fosse uma completa babaca, afinal.
— E porque você não pediu realmente a ajuda para o ? — Questionei.
— É muito dinheiro, . Eu não queria que ele me ajudasse. — Abaixou a cabeça.
— Entendo, Melanie. Mas, infelizmente, agora não temos muito o que fazer. — Torci a boca. — O está muito magoado. — Toquei em sua mão. — Mas eu entendo o seu lado, tá bom?
— Obrigada. Eu precisava desabafar isso com alguém. Está sendo tão difícil, porque eu amo o e... — Interrompi a fala da garota.
— Você continua fazendo isso? — Encarei a loira em minha frente, séria.
— Sim. — Respondeu baixinho. — Não é algo que eu goste ou tenho orgulho, mas é a forma como ajudo meus pais. Infelizmente.
Eu estava chocada.
— E não fui eu que espalhei seu boato no campus. — Me olhou, sincera.
— Quê? Como não? Eu te vi aquele dia quando sai da sala. — Desconfiei.
— Não fui eu. Eu ouvi pela boca do Math. — Pegou o celular. — Tem esse vídeo de duas silhuetas e mostra a sala 07. A mesma que eu vi você entrando com . São vocês nesse vídeo, né?
Eu não conseguia ver muito bem por conta da pouca iluminação, mas, definitivamente, era eu.
— Isso não importa mais. — Levantei. — Que você consiga sair dessa situação, Melanie. Eu torço por você. — Sorri antes de sair da cafeteria e o vento frio atingir meu rosto.
Naquele momento, eu lembrei de algo que minha mãe sempre me falava: Todo mundo que você encontra está enfrentando uma batalha que você não sabe. Seja gentil.
Capítulo 13
O forte vento batia contra meus cabelos, bagunçando alguns fios e arrepiando a minha pele. Por algum motivo, a lua parecia mais bonita naquela noite. Seu brilho clareava meu quarto inteiro pelas portas abertas de minha sacada.
Eu tinha pedido para Will buscar primeiro, para que não precisasse dar a volta da casa dela até aqui novamente.
Dei um giro na frente do espelho, observando como aquele longo e lindo vestido dourado com pedrinhas salpicadas ressaltava meu busto.
Meu cabelo estava liso e solto até minha cintura e o salto escarpam me dava um ar elegante.
Olhei a tela do celular, que brilhava com uma mensagem de . Peguei a máscara dourada em cima da cama e desci as escadas com cuidado para não cair.
— Vai com Deus. — Escutei uma voz vindo da cozinha. Sabia ser a voz de Eliza.
— Beijos, Liza. — Gritei de volta.
Fechei a porta atrás de mim e segui em direção ao carro.
Entrei no automóvel e elogiei , que usava um vestido azul acinzentado.
— Puta merda. Você está incrivelmente linda. Que máscara foda, . — Falei, encantada, passando a ponta dos dedos nas pedrinhas em diferentes tons de azul.
— Você não está diferente disso, né? E esses peitões? — Balançou os seios com as mãos.
— Idiota. — Virei o rosto, rindo.
Durante o percurso até o local, eu e íamos conversando sobre o baile e ela acabou revelando que um dos investidores estava bancando a locação do espaço, além de ter doado uma quantia consideravelmente alta.
Ao chegar, demos de cara com um enorme portão preto e alguns seguranças que pediram nossos ingressos.
Passamos por um corredor extenso e com pouca iluminação, mas, assim que as portas se abriram, fiquei encantada com o que vi.
Pessoas dançavam na pista de dança, todas muito elegantes.
Olhei para frente e vi vindo em nossa direção.
Ele estava muito bonito com seu terno azul escuro, quase preto.
— E ai, gata? — Cumprimentou com um selinho. — Oi, . — Me deu um abraço.
— Não vai usar máscara? — Perguntei, confusa.
— Claro que vou. Só preciso esperar todos os investidores chegarem para poder colocá-la.
— Vou pegar algo para beber, vocês querem? — Sondei, já virando de costas e ouvindo o "não, valeu" de .
Como sou o desastre em pessoa, acabei esbarrando em alguém e quase fui ao chão, porém braços fortes me seguraram.
— Interessante. Você sempre vai me abordar assim? — Olhei para cima, verificando se ele realmente estava ali.
— Tá fazendo o que aqui? — Me recompus, arrumando o vestido.
Observei o homem abaixar para pegar a máscara e entregar na minha mão.,br />
— Meu melhor amigo organizou essa festa, né? Eu não poderia ficar de fora. — Sorriu de lado.
— O é seu melhor amigo?
— Sim. Desde que me conheço por gente. — Riu, divertido.
— Quem diria que fosse amigo de . Que mundo pequeno. —Caminhamos até o bar.
— Pois é. E quem diria que você fosse melhor amiga da namorada dele. Irônico, não? — Sentou na cadeira.
Seu blazer azul escuro estava aberto, mostrando sua camisa social branca por baixo com três botões abertos, dando um ar despojado.
— Belos All Star. Combina com você. — Sentei na cadeira ao seu lado.
— Ei, irmão, me vê um Manhattan. — Ajeitou sua franja para trás. — E você? Quer o quê? — Abriu as pernas.
— Quero um Martini, por favor. — Olhei para o Barman que corria para lá e para cá, todo confuso.
— Então, chapeuzinho vermelho, agora eu sei seu nome.
— traíra. — Peguei o drink, dando um gole generoso.
— Vai com calma, hein? — Virou sua bebida em um gole só.
— Ué? Não era pra ir com calma?
— Você sim. Eu não. — Mostrou a língua, deixando o seu piercing à mostra.
— Você gosta de aventuras? Ou sei lá, natureza? — Ele perguntou, olhando-me nos olhos.
— Eu amo. Adoro me sentir livre, sabe? O vento no rosto, o sol ardendo na pele, ou até mesmo as frias gotas de chuva.
— Bom, eu também gosto. Ainda mais quando estou montado na minha moto. Ela me faz sentir como se eu fosse o dono do mundo. — Girou na cadeira. — Me empresta seu celular? — Indicou o objeto em cima do balcão.
— Ah, claro. Quer fazer alguma ligação ou algo do tipo?
— Quase. — Gargalhou, tomando o celular da minha mão e começou a digitar.
Me entregou o aparelho de volta e saiu com um sorriso maroto.
Estava aberto nas notas com a seguinte mensagem: Tem meu número ai caso queira fazer uma trilha um dia desses. Prometo que não vai se arrepender. Salvei meu número como : o lobo mau.
Ri de nervoso da situação engraçada que eu me encontrava.
Coloquei a máscara no rosto e fui dar uma volta pelo salão.
Um homem me olhava de longe.
A máscara cobria seu rosto por completo e o terno na cor grafite dava um ar de seriedade.
Foi estanho e não entendi direito o porquê, mas quando vi aquele homem, com aquela máscara cobrindo seu rosto e deixando à mostra somente seus olhos – que me olhavam como se eu fosse um pedaço de carne – um calafrio percorreu por minha espinha.
— Credo. Estranho. — Andei pelo local, procurando por .
Avistei meu amigo com um terno roxo. Ele estava perfeito e segurava sua máscara na mão.
— Que coisa mais linda. — Me deu um beijo na bochecha.
— Não mais do que você, . — Apertei seu nariz.
— Nossa! O fez um ótimo trabalho. Não é mesmo? — Olhou nos meus olhos. — Aliás, máscara linda.
— Fez, né? Obrigada. — Ajeitei a máscara no rosto.
— Ele e os investidores. Creio que vá sobrar um dinheiro após o acabamento da reconstrução.
Jogamos muita conversa fora, até que levantou alegando que precisava falar com um amigo dele.
Eu estava entretida com o canudo do meu drink, mas a voz de nos alto-falantes me chamou a atenção.
— Boa noite! Estou me sentindo extremamente realizado pois esse projeto já deu certo, graças a todos vocês aqui presentes. Muito obrigado! — Pausou, ouvindo a salva de palmas. — Agora, aproveitem! Venham para a pista de dança e escolham seus pares. A noite está só começando. — Declarou, e desceu do palco, pegando na mão de .
Meus pés me guiaram até o centro da pista, esperando por seja lá o que.
— Vem sempre por aqui? — Ouvi um sussurro.
Eu conhecia aquela voz. Sério?
— Sério? Já ouvi melhores. — Virei, fazendo meu vestido mexer junto.
— Me concede essa dança? — Esticou a mão em minha direção.
— Claro, Sr. . Porque não?
A música tinha batidas lentas.
A mão esquerda de pousou na curvatura de minha cintura, enquanto sua mão direita segurava a minha.
Encostei meu rosto em seu peito, pois ele era bem mais alto do que eu.
Por um instante, esqueci de todas as pequenas brigas que tive com e me permiti aproveitar aquele momento.
Seus movimentos eram leves e delicados, como se qualquer mudança brusca fosse me quebrar.
Ergui um pouco a cabeça para ver a sua reação.
Ele olhava dentro dos meus olhos. Sua máscara era de um preto fosco, que ressaltava o brilho em seu olhar. Em seus lábios estava estampado um belo sorriso. Por um pequeno momento quis sentir o sabor daqueles lábios.
Após a música acabar, alguns pares começaram a dançar de forma ensaiada.
— Ei, isso é... — Comprimiu a boca em linha reta, tentando lembrar do nome da dança.
— Tango, . — Soltei sua mão.
— Calma, aí! Vamos dançar só mais essa. Por favor. — Puxou minha mão, gentilmente.
— Como? Eles estão ensaiados. — Gargalhei, apontando para os casais.
— Sei lá, segue os passos. — Riu, tentando fazer um movimento igual ao das pessoas e quase me derrubando.
— Opa, troca de pares, vai lá. — Soltou minha mão, começando a dançar com uma moça de vestido verde musgo.
Assim que o homem pegou em minha mão, parei de supetão. Me toquei que era aquele cara que não parava de me olhar desde que cheguei.
Ele começou a dançar e fui o acompanhando, mas uma sensação terrível de desconforto pairava sobre mim. Eu só queria voltar logo a dançar com . Pelo menos eu o conhecia.
O homem aproximou seu rosto do meu ouvido e com a voz abafada pela máscara disse:
— É por isso que eu não resisto à você, princesa. — Apertou minha cintura e acariciou meu braço.
Eu travei na hora. Aquela voz...aquela maldita voz. O toque dele novamente…
Foi quase instantâneo a maresia em meus olhos. Eu me sentia suja novamente. Podre. Despedaçada.
Olhei para os lados em busca de ajuda, mas não encontrei ninguém. Meus pés pareciam colados ao chão. Eu tinha que reagir! Eu precisava sair dali.
Sai de seus braços com brutalidade, empurrando-o para longe.
— Eu sei que é você, seu filho da puta. Não encoste em mim nunca mais, Ian! Está escutando?! NUNCA MAIS, DESGRAÇADO! — Grite a última frase.
Assisti ele retirar a máscara e revelar seu sorriso ladino.
Não consegui ficar mais um segundo ali e sai correndo sem pensar em mais nada.
Peguei o celular na pequena bolsa e fiz um grupo, colocando e .
WHATSAPP ON
Grupo: SOS!!!
: O IAN TÁ AQUI NA FESTA, ME AJUDA!
: NÃO É POSSÍVEL CARA... VOU LIGAR PRO , VER ONDE ELE ESTÁ E VOU ATRÁS DE VOCÊ.
: Ian? Ian Collins?
: ESSE FILHO DA PUTA MESMO!
: Gente, me ajuda. Tô com medo dele me seguir.
: Que? O que ele fez? Ele é um dos investidores junto com e um velhote, um tal de Samuel.
: ELE É UM DOS INVESTIDORES?
: Caralho , me encontra no bar AGORA e vamos atrás da .
: TÔ INDO.
: Vem rápido gente, eu tô com muito medo. Estou aqui fora no jardim, na parte coberta, debaixo do pisca-pisca.
WHATSAPP OFF
Guardei o celular esperando ansiosa pelos meus amigos.
De repente, ouço passos e uma mão em meu ombro, e imediatamente viro um tapa na direção da pessoa. Felizmente, segurou minha mão com seu reflexo aguçado, porque, caso contrário, teria agredido o homem errado.
— O que houve? Procurei você por toda parte. Você parece assustada. Tá tudo bem? — Me bombardeava de perguntas e preocupação.
— Nada, . — Minha voz soou mais ríspida que eu queria.
— Tem certeza, ? Aquele cara falou alguma coisa pra você? — Se aproximou, e arrumou uma mecha do meu cabelo.
— Me deixa em paz! Que saco. — Bati em sua mão, afastando-me.
Ele se afastou com os olhos arregalados.
— Poxa, , me desculpa. Olha, deixa isso pra lá, beleza? Você não entenderia. — Ralhei, com a voz embargada.
— , fica tranquila. Vem cá. Quer conversar sobre isso? Eu sei que talvez eu tenha sido um grande babaca, mas eu não tive tempo de me apresentar de verdade, tá? — Me puxou para uma cadeira branca de ferro que tinha ali.
Chovia bastante, mas estávamos em uma parte coberta.
Fiquei um tempo em silêncio, apenas ouvindo nossas respirações e o barulho da chuva.
— Ele é meu ex-namorado. — Pausei, respirando fundo. — , é complicado. Muito complicado lembrar disso. — Fechei meus olhos.
— Fica calma. Tô aqui pra te escutar, viu? — Passou a mão nas minhas costas.
— Ele... ele me machucou .
— Machucou como? Ele te bateu? O que ele fez, meu Deus? — Havia leve desespero em sua voz.
— Não exatamente. Ele... Ele me estuprou. Acabou comigo, . Esse desgraçado, ele... — Fui surpreendida por um abraço forte.
Ele me abraçava com carinho, acariciando meus cabelos.
— Filho da puta! — Murmurou baixinho, mas eu consegui ouvir. — Me desculpe por pressionar você a contar isso.
— Eu precisava desabafar mesmo. Desculpe por isso. — Sequei as lágrimas.
Conversamos um pouco sobre a festa e esperamos a chuva passar. Quando estávamos prestes a sair, Ian aponta na saída.
— E ai? Curtindo bastante, ? — Retirou a máscara, colocando-a na mesinha de ferro que estava ali.
— Porque você não vai embora daqui, hein? Já não fez estragos demais? — questionou, com raiva.
— Quem é esse, princesa? Seu guarda-costas? — Gargalhou, fazendo com que eu me escondesse atrás de e apertasse sua mão. — Ela é minha. E só minha. Eu não admito que outros homens cheguem perto dela dessa maneira. — Se aproximou de nós dois.
— Olha aqui, seu desgraçado, se você fizer alguma coisa com ela, eu acabo com a sua raça. — ameaçou.
— Olha só como você fala comigo. Não sabe com quem está se metendo. — Apontou para o homem que me cobria.
— E muito menos você. — Rebateu. — Some daqui antes que eu perca minha pouca paciência.
— Não sabia que você curtia caras violentos, . Eu posso ser assim se você quiser.
E, em fração de segundos, já estava em cima de Ian, socando seu rosto sem piedade alguma.
Ian não tinha por onde escapar, mas revidou acertando o supercílio do moreno.
Eu não sabia o que fazer, então comecei a gritar para que ambos parassem.
Puxei pelo blazer preto, fazendo o rapaz se erguer e limpar o sangue que escorria de sua boca.
— Sai daqui, seu filho da puta.
— , né? Você vai se arrepender. — Se apoiou na pilastra, e saiu com a mão na cabeça.
— , foi mal, cara. Eu perdi a cabeça quando ele falou daquele jeito. Filho de uma puta!
— , obrigada. De verdade. Vai no banheiro, limpa esse sangue, come algo e descansa. — Peguei em suas mãos, observando que estavam machucadas. — Vamos? Eu vou ficar bem. — Sorri, transmitindo confiança.
— Isso, sorria. Porque cada vez que você para de sorrir, um panda morre. — Me olhava sério.
— Quê? Não era uma fada? — Uni as sobrancelhas, estranhando o comentário dele.
— Sei lá. Meu irmão costumava dizer isso quando eu estava triste. — Soltou um riso nasalado.
— Obrigada mais uma vez. Eu não sei o que aconteceria caso você não estivesse aqui. — Minha voz era quase um sussurro.
— Relaxa. Eu não deixaria nenhuma mulher passar por essa situação diante dos meus olhos.
— Okay, agora vai lá. Te encontro mais tarde, tá bom? — Beijei sua bochecha e o vi sorrir. Em seguida, ele deu um tchauzinho e foi para o banheiro.
e não vieram, o que será que aconteceu?
Voltei ao bar e acabei encontrando e mais dois amigos dele.
— ? Oi. — Me abraçou.
— Oi, . — Retribui o abraço, e me afastei olhando para seu terno branco.
— Senta aqui com a gente. Vamos beber um pouquinho. Preciso te contar uma coisa e…
— , eu não tô no clima. — Interrompi ele. — Vou procurar a .
— Calma ai. Você sabia que a Melanie tá aqui? Ainda com um dos investidores! Um velho que tem idade pra ser pai dela. Eu tô com tanta raiva. Como ela tem coragem?
— Cara, se você não estivesse tão focado nos seus problemas, perceberia que eu tô puta da vida e mal pra caralho. — Apontei o dedo no seu peito.
— Mas... — Tentou falar.
— Deixa, . Mais tarde eu falo contigo. — Virei as costas e sai.
Decidi ir até o segundo andar e subi as escadas. Lá estavam , e sentados no canto direito do local.
Sentei em uma das cadeiras chiques que tinha no cômodo, logo ao lado de . O lugar não era muito bem iluminado, mas, mesmo assim, era lindo. As luzes roxas e circulares no teto combinavam com as cortinas que eram da mesma cor. O carpete escuro também combinava com o papel de parede vermelho. No lado esquerdo, havia um barzinho com somente um bartender.
, que estava pegando bebidas, virou-se e veio em nossa direção, com dois drinks na mão. Entregou um para mim, outro para e sentou-se ao lado de , que estava um pouquinho mais pra frente. Formávamos quase um círculo – defeituoso – de conversa. estava espreguiçado na poltrona de couro ao lado de .
Vi que Melanie estava no canto, sentada com um cara. Sua máscara era chamativa, com algumas penas do lado direito. Ela estava linda.
Acredito eu que o velho com ela é o tal do investidor Samuel.
Eles começaram a se beijar e virei o rosto quase que instantaneamente. Aquilo era demais pra mim.
— Puta que pariu, caralho! Esquecemos da . — vociferou, arregalando os olhos.
— Sim, esqueceram. Se o Ian quisesse me matar, teria matado. Sorte que o foi atrás de mim. — Arrumei o vestido.
— ? — Falaram em uníssono.
— Todos conhecem? — Brinquei.
— Conheço porque ele fez uma propaganda da minha cerveja favorita. — respondeu.
— O que aconteceu? — sondou.
— Ian Collins, . Ele tentou algumas coisas, mas o desceu a porrada nele. — Contei. — Espero que ele já tenha ido embora.
— Ian? Mas que filho da puta. — apertou o copo com o líquido vermelho.
— Vamos esquecer isso por hora. Quero beber mais. O que temos aqui? — Vasculhei a mesa em busca de mais alguma bebida. — E vamos de champanhe mesmo, né? — Ergui a taça, propondo um brinde.
— Sério, ? Um brinde? O cara fodeu com a sua vida e você propõe um brinde? — falou. Tinha raiva em sua voz.
Virei a taça e disse:
— Toma conta da sua vida. Já cansei dessa porra toda, que raiva. Por que ele tem que vir aqui? — Bati na mesa e sai com o olhar dos quatro confusos.
Desviava das pessoas que vinham em minha direção. Estava procurando a porta que dava diretamente no jardim.
Eu estava tonta demais. Como era possível? Só havia tomado uma taça de champanhe e um drink. Tudo bem que eu não era a pessoa mais forte para bebidas, mas isso era o cúmulo.
Assim que coloquei meus saltos na grama verde e aparada, senti minha cabeça rodopiar, eu perdia a força devagar, até sentir a minhas costas na terra molhada e apagar completamente.
Capítulo 14
A luz da manhã que vinha da janela acabou me acordando. ainda estava apagada e babando do meu lado. Desde o acontecimento na festa, ela está aqui em casa cuidando de mim. Ainda parece surreal pensar naquela noite. Dentre as milhões de coisas que poderia ter acontecido naquele baile de máscaras, um assassinato com certeza não era o esperado.
Lembro-me de acordar já direto no hospital, perguntando o que diabos tinha acontecido. Os médicos disseram que meu desmaio foi causado por uma "depressão no sistema nervoso central." Isso basicamente significa que, de alguma forma, eu ingeri algum medicamento que me faz apagar.
Além de ter que passar por esse baque tremendo, fui interrogada duas vezes, mesmo a câmera de segurança comprovando que eu estava desmaiada durante a hora que ocorreu o assassinato.
Apesar de ter total repúdio pelo Ian, eu fiquei extremamente assustada. Quem teria motivos para matar Ian e por que na festa?
De acordo com a polícia, eram inúmeros suspeitos, mas nenhuma prova. Nenhuma pista, nada.
Ele levou um tiro na cabeça e havia também marcas de facadas em sua barriga. E, pelo que entendi, antes de morrer, ele conseguiu ligar para 911 e pedir ajuda dizendo que foi esfaqueado.
Tinha um assassino naquela festa e é assustador pensar que essa pessoa poderia ter feito algo comigo também.
Cutuquei para que ela acordasse. Não queria mais ficar sozinha pensando nisso.
— , acorda! — Sentei na cama e passei a mão nos cabelos, tentando manter os fios no lugar.
— Só mais cinco minutinhos, mãe. — Abriu as pernas.
Argh... espaçosa como sempre.
— O tá no médico, passando mal.
— O o quê? — Levantou assustada.
Comecei a gargalhar muito e ela me deu um tapa no ombro.
— Que ódio. Não faz isso de novo! — Empurrou a coberta pro lado e saiu da cama rumo ao banheiro.
— E aí, pensou na proposta? — Apareceu no batente da porta com a escova na boca.
— Pensei. Acho que vai ser bom pra relaxar já que estamos em período de férias. — Fechei os olhos e inspirei.
— É assim que se fala! Vamos pra Los Angeles, baby! — Correu até mim, me sujando com a espuma da pasta de dente.
— Sai daqui, sua nojenta. — Sai correndo pelo cômodo.
Enquanto eu arrumava as malas, meu pai entrou no quarto chamando por meu nome.
— Oi? — Olhei por cima do ombro.
— Filha, tá tudo bem? — Sentou na cama.
Eu não havia contado ao meu pai o que Ian fez comigo, então ele só achava que não tinha dado certo e que era paixonite adolescente.
— Ah, pai, tá sim. — Sorri sem mostrar os dentes.
— Eu sei que é complicado, mas vamos achar esse assassino. — Arrumou os cabelos grisalhos.
Não tínhamos mais tanta comunicação.
— É. Eu sei. — Observei ele passar pela porta sem dizer mais uma palavra.
saiu do banho e ficou olhando pro closet.
— ! Você não vai levar essa jaqueta de couro e essa saia maravilhosa? É LOS ANGELES, QUAL É? — Jogou as peças na minha cara.
— Porque você sempre faz isso? É só entregar as roupas na minha mão.
— É força do hábito e eu gosto de emoção. — Me mandou um beijo no ar.
Após terminar tudo o que tínhamos que fazer, entrei no Twitter e postei:
TWITTER ON
Uma viagem é a resposta, não importa a pergunta.
TWITTER OFF
Nosso voo sairia às oito horas da manhã do Aeroporto Internacional John F. Kennedy com duração de 08h e 26m.
Troquei algumas mensagens com e contando para ambos que iria viajar.
Talvez depois dessa viagem, eu mande uma mensagem para . Fiquei curiosa com aquela tal trilha.
tinha saído com . Acho que foram comer alguma coisa. Ou ele vai comer, né?
Ri com meu pensamento idiota.
Será que, se eu procurar, encontro o em alguma rede social? Talvez eu devesse pesquisar no Instagram... Ou não. Melhor não. Esquece isso, .
Afastei aqueles pensamentos e desci para a cozinha. Peguei o pão que estava na bancada, vasculhei a geladeira em busca do queijo e presunto e fiz o meu famoso misto quente.
Coloquei minha série em dia enquanto esperava chegar. Será que algum dia eu teria de convocar os irmãos Winchester?
Eu estava esparramada no sofá e quando ouvi porta da frente abrir. Rolei do sofá para o chão e levantei eufórica.
— Cacete, pega o sal! Pega o sal! Ai, meu Deus. Exorcizamus te, omnis immundus spiritus... — Falava desesperada, com os olhos fechados.
— , a tem algum problema mental? — Abri os olhos, encontrando um assustado.
— Tem sim e se chama Supernatural. Toda vez que assiste fica assim, neurótica. Da última vez, ela queria colocar sal na porta porque o cachorro da vizinha não parava de latir e, segundo ela, era um cão do inferno. — Jogou a chave na mesa.
— Tá, né. Está entregue! — Beijou o pescoço .
— Na minha frente? Sério? — Lancei um olhar ameaçador.
— Tá na seca porque quer, amore. O tá caidinho por você e da pra ver na cara dele. Porque você não transou com ele aquele dia? — se apoiou em .
— Vai tomar no seu cu, .
— É verdade, . Ele não tentou te tirar daquele lugar? É típico dele. — Foi a vez de falar.
— Okay, gente, beleza. Agora vaza, . Eu e a temos coisas pra resolver. — Toquei ele da minha casa.
— Grossa. — Fechou a cara.
— Blá, blá, blá. — Fiz gestos com a mão.
— Assim que eu sair, te mando mensagem. Tá bom? — Finalizou dando um beijo em , que me fez virar o rosto.
— , você ficou o dia todo assistindo essa porcaria? — Apontou para TV.
— Você passou o dia fodendo e eu não te julguei. — Cruzei os braços. Minha amiga levantou as mãos em sinal de rendimento.
Subimos para o segundo andar e deixamos tudo separado. Amanhã seria um longo dia.
Acordamos, tomamos banho e bebemos só uma xícara de café. A gente acabou atrasando por causa dos cinco minutos da .
Will nos deixou no aeroporto e fomos correndo para o portão de embarque.
— Aí, cadê meu passaporte? — vasculhava a bolsa. — Eu enfiei no cu, será? — Parou de correr.
— Você tá de brincadeira comigo, . — Bufei.
— AHÁ! Achei. — Ergueu o passaporte como se ele fosse o Simba do filme O Rei Leão, até consegui ouvir a música. Corremos, corremos e corremos mais um pouco. Quase perdemos o vôo, mas no final deu certo.
— Vai logo, sururu! — Empurrei . — Por sua culpa quase perdemos o voo.
— Ah, é? — Fingiu rir.
Não respondi mais nada. Apenas nos acomodamos em nossas poltronas e falamos sobre o quão foda seria estar em LA. Será que eu deveria parar de me preocupar e me divertir só um pouquinho?
Assim que decolamos, a comissária de bordo passou oferecendo lanchinhos. Optei pelo pequeno pão com queijo e um copo de coca cola. Coloquei os fones de ouvido, fechei os olhos e deixei uma sensação de paz me atingir ao escutar aquela voz.
Honey
I'd walk through fire for you
Just let me adore you
Oh, honey
I'd walk through fire for you
Just let me adore you
Like it's the only thing I'll ever do
Like it's the only thing I'll ever do
Acordei com uma voz informando que estávamos prestes a pousar.
— Bem-Vindos a Los Angeles, Califórnia! São 16h 26m, horário local. Por medidas de segurança, permaneçam sentados e com os cintos afivelados até que os sinais luminosos se apaguem. Informamos também que é proibido fumar durante nossa permanência no solo. Passageiros que fazem conexão nesse aeroporto, deverão desembarcar com seus pertences. Toda orientação será fornecida pelo pessoal da recepção. Esperamos revê-los em breve e agradecemos a preferência. Obrigado!
Após o pouso, fomos direto para o aeroporto e comemos no Burguer King, na praça de alimentação.
— Meu Deus, que incrível. — dava pulinhos e alguns gritinhos.
— Por Deus, , é só um aeroporto. — Sorri para as pessoas que olhavam torto para minha amiga.
— Não seja boba, . Não é só um aeroporto. É Los Angeles!
Decidimos pegar um táxi e fomos para o hotel. Assim que chegamos ao LA Resort Hotel ficamos maravilhadas.
Haviam arranjos de flores coloridas sobre algumas mesinhas redondas, poltronas chiques de couro branco e uma enorme escada de mármore. O piso branco dava um ar de limpeza e o cheiro maravilhoso confirmava isso.
Fizemos nosso check-in e fomos para a cobertura.
Olhei o relógio no meu pulso antes de abrir a porta, constatando que eram 19h.
— Nossa, você não achou vazio quando chegamos? — Disparei, com a mão parada na maçaneta. me respondeu com uma careta. — Ué, o que foi?
— . São 19h de uma sexta-feira. Estamos em Los Angeles! Aqui não para, lembra? — Respondeu, como se fosse óbvio.
Peguei a chave de segurança no meu bolso e passei, fazendo a porta destravar.
— Meu Deus, que vista linda! — correu na frente e abriu os braços.
— Tenho que concordar, viu? — Me joguei preguiçosa na cama, olhando o céu.
O quarto era enorme, elegante e cheiroso; mas a melhor parte era aquela parede enorme de vidro que tinha uma vista incrivelmente linda.
— Vamos tomar banho e relaxar. Amanhã começam os trabalhos! — Minha amiga gritou do banheiro.
A noite passou bem rápida, pedimos uma pizza antes de adormecer e comemos até não aguentar mais.
Acordei com um tapa no rosto e levantei da cama assustada.
— Caralho, que isso?
Esfreguei os olhos e observei esparramada na cama.
— Não é possível. Acorda agora, vagabunda! — Bati com o travesseiro na cara dela por diversas vezes.
— Ai, ai, ai. Eu não peguei os biscoitos mãe, eu juro! — Falava com os olhos fechados e as mãos juntas.
Comecei a rir tanto que a minha barriga não parava de doer.
— Que horas são? — Levantou, cambaleando.
— São exatamente 14h 30m, senhorita. — Ri, indo para cozinha.
Eu não queria gastar por bobeira, então optei por fazer macarrão instantâneo.
Depois de implorar, assistimos uma comédia romântica toda clichê.
Ali, assistindo aquele filme, eu percebi o quão carente e necessitada eu estava.
Quando nossa sessão terminou, fomos tomar banho, pois, segundo , hoje será o dia mais icônico de nossas vidas.
Minha amiga veio em minha direção com os cabelos molhados e a toalha enrolada no seu corpo.
— , vamos a uma festa. Não à igreja. Tira essa roupa. — Fechou a cara, julgando meu look: uma calça jeans, um top e uma jaqueta de couro.
Segui ela com os olhos e vi retirar um vestido vermelho de dentro da mala.
— Não ouse jogá-lo no meu rosto. — Apontei meu dedo em sua direção. — Desculpa, , mas vou apostar no meu look despojado e não no de vadia gostosa. — Finalizei, borrifando perfume em meu pescoço.
— Qual é, . Você nunca esteve em Los Angeles. — Falou, secando seus cabelos.
— Nem você, . Está falando com base nos filmes, sua idiota. — Gargalhei da cara que ela fez.
Apertamos o térreo no elevador e fomos participar da mini festa que tinha ali no Resort.
Assim que chegamos no local, fiquei de boca aberta. tinha total razão. Mulheres lindas e sexys estavam espalhadas por todos os lugares. Aquilo não eram vestidos! Eram retalhos, pequenos pedaços de pano.
— Agora acredita em mim? Elas provavelmente vão assim em todas as ocasiões. E coloca um pouquinho esses peitos pra fora, deixa eu te ajudar. — Aproximou as mãos dos meus seios.
— Sai daqui, caralho. — Bati de leve em sua mão.
— Ai, deixa de onda. Ninguém nunca te viu, pateta.
Revirei os olhos e fomos andando. Aquele lugar estava mágico. As luzes eram chamativas e convidativas. A enorme piscina brilhava em todas as cores.
Algumas pessoas estavam com roupas de banho.
Bebemos alguns shots, o que nos deixou animadíssimas. Pensei até ter ouvido meu nome, mas não era impossível ter outra aqui.
Por pura curiosidade virei em direção ao chamado e fiquei tonta com o que vi.
Apoiei no balcão e respirei fundo. Quais são as chances?
Ele olhava diretamente para mim, girando devagar o copo com um líquido que não consegui identificar a cor.
— Puta merda. , não olha agora. Vamos embora daqui.
Parei de olhar para o homem e arrastei minha amiga para o mais longe possível.
— Que droga, minha filha! O que foi? — Ela perguntou, meio desesperada.
— Olha perto daquela mesa de sinuca à sua esquerda. Disfarça, . — Apertei seu braço.
E, como se eu tivesse falado para ela incorporar a garota do filme O Exorcista, ela virou a cabeça de uma maneira que eu pensei que fosse sair do lugar.
— Meu Deus! É o ! — Apontou. — Vamos dar um oizinho.
— Ficou maluca de vez? — Meu rosto estava contorcido.
— Deixa de ser careta. — Me puxou em direção ao homem.
Quando chegamos em sua frente, ele se levantou e cumprimentou com um aperto de mão e um abraço rápido. Na minha vez, me puxou para um abraço e deixou um beijo no canto da minha boca.
Droga. Isso foi proposital, tenho certeza.
— Nunca imaginei que encontraria você aqui. — Peguei a cerveja que ele ofereceu.
— Quase que eu não te reconheço. Tá tão... informal? — Soou mais como uma pergunta.
— Está acostumado a sempre me ver em eventos e totalmente produzida. Deve ser isso. Você também não está formal. — Ri, olhando minhas botas de couro. — Tá fazendo o que aqui? — Sondei, tentando não parecer muito curiosa.
— Bom, de início, foi para promover uma coleção de jóias da Cartier.
— Ah, que legal... — Levantei as sobrancelhas com um sorrisinho. — Após aquele acontecido da festa, temos mais é que ocupar a mente mesmo.
— Pois é. — Ele tomou um gole de sua bebida, e um silêncio estranho pairou no ar.
— Gente, vou lá no quarto colocar um biquíni pra dar um mergulho. — saiu sem esperar eu falar.
— Quer? — O modelo apontou para o copinho na mesinha ao nosso lado.
— É tequila? — Questionei, e ele respondeu que sim com a cabeça. — Hmm! Então eu quero.
Peguei o pequeno copo e virei em um só movimento; chupei o limão com certa força para aliviar a queimação pela minha garganta.
Conversando, descobri que a mãe e o pai do moram na China. Ele me falou sobre seus trabalhos, amigos, hobbies e que, quando era menor, sonhava em ser esgrimista. Falamos da minha faculdade e de algumas matérias também.
— Ei, posso te fazer uma pergunta? — Abaixou a cabeça, mas voltou a mirar meus olhos.
— Claro que pode, né? Bom... depende. — Dei gargalhadas, sentindo o efeito do álcool no meu corpo.
— Você se sente atraída por mim? — Se aproximou. Eu acabei rindo quando escutei essa frase sair de sua boca. Que pergunta cafona era essa, meu?
— Olha, , você não deve estar muito acostumado a escutar isso, mas, não. Eu não tenho interesse em você.
Pensei se aquilo tinha saído mesmo da minha boca. Fala sério, ! O cara é um puta de um gostosão.
— Sério, ? — Ergueu meu queixo.
Me afastei, tentando manter uma distância segura entre nós.
— Okay. — Bateu as mãos. — Que tal caminharmos na praia aqui da frente?
— Agora?
— Lá tem a melhor barraquinha de camarão no palito que eu já comi e também muitos drinks. Você vai gostar. Quer ir?
— Está me chamando pra um encontro? — Cerrei os olhos, brincando.
— Hmm, será? — Entortou a boca. — Bom, acho que estou, sim. Você aceita?
— Você é um cara legal, então eu topo sim. Porém como amigos, ok? Se você tentar alguma coisa eu te dou uma porrada. — Fechei a mão direita em punho e assisti o homem gargalhar e balançar a cabeça negativamente.
Ele pegou a minha mão e fomos em direção à praia.
Os cabelos de balançavam por conta do forte vento. Sua camisa branca estava minimamente aberta e ele estava usando uma calça caqui bege e chinelos brancos. Eu não sabia que ele poderia ser tão casual assim.
Antes de botarmos o pé na areia, tirei as botas e as segurei.
A areia era fofa e fina. A iluminação das barraquinhas não era muita. Contudo, a lua iluminava a noite de uma forma incrível e o céu estava recheado de estrelas.
— E aí, Lee! — tocou na mão de um homem.
— Ei, . Quanto tempo eu não te vejo, hein?
— Faz bastante tempo, né? Bom, Lee, estou com saudades do melhor camarão de Los Angeles. — Abriu um sorriso.
— É pra já, irmão. Só um minuto.
Apenas sorri. Estava envergonhada demais para falar qualquer coisa.
— Então, , o que você quer fazer assim que se formar? — Apoiou a cabeça na mão.
— Bom, vou ajudar meu pai diretamente na empresa. Eu fiz estágio por um tempo lá.
— Sério? Não sabia disso.
— Sim. Sério. — Coloquei o cabelo atrás da orelha.
Lee equilibrava a bandeja com os camarões em uma mão e em outra trazia um pote com queijo cheddar cremoso.
— Aproveitem! Vou buscar as cervejas e os pequenos drinks que preparei pra vocês. Esses são por conta da casa.
Sorri para e ele sorriu de volta, pegando o camarão e mergulhando no queijo.
— Puta merda. Isso é muito boooom! — Praticamente gritou.
— Caralho, , isso é maravilhoso. Como eu nunca havia comido antes?
O tempo foi passando, bebemos e comemos muito.
— Ai, tô um pouco tonta, . — Fiz beicinho.
— Tive uma ideia. — Me puxou pela mão, fazendo com que eu ficasse de pé.
— Vamos dar um mergulho?
— Agora? De noite? Eu tenho medo.
— Fica calma, tô aqui com você. — Acariciou minha bochecha e virou, caminhando até o mar.
O forte cheiro de maresia preenchia meu nariz. O barulho das ondas quebrando-se era revigorante. Sentei na areia e olhei para o lado, vendo se despindo. O corpo dele era lindo. Acho que fiquei tempo demais contando os quadradinhos em sua barriga.
Não consegui ver bem a cor da cueca que ele usava, mas acho que era vermelha.
— Você vem? — Estendeu a mão.
Bati na areia, indicando que era para ele sentar ao meu lado. abaixou devagar e sentou-se.
Me encostei em seu ombro. E, ali, olhando as estrelas em silêncio, senti uma falta absurda da minha mãe.
— O que foi? — Perguntou, preocupado.
— Sinto falta da minha mãe. — Funguei.
— Ei, não fica assim. Sei que ela está orgulhosa de você. Uma garota forte e independente. Você é simplesmente incrível, do seu jeitinho. Agora, vem! Vamos dar um mergulho. — Me deu a mão.
Levantei e retirei primeiro minha jaqueta, depois o meu top e por último minha calça. Eu com certeza estava vermelha demais. Eu não costumava ficar com vergonha nessas situações, mas o álcool me deixava assim.
Fomos caminhando até a beirada e pude sentir a água em meus tornozelos.
— Cacete, tá muito gelada. — Reclamei.
— Quer voltar? — Tocou meu braço.
— Não, só me segura. Eu tô um pouco tonta ainda. — Pedi, insegura.
Morrer afogada não estava em meus planos. Devia ser algo horrível.
Entramos no mar com cuidado e, quando a água bateu em minha cintura, me segurou forte. Fomos mais longe até que ela estivesse em meus seios.
Senti algo batendo no meu pé e me desesperei, agarrando o homem com as minhas pernas e abraçando seu tronco.
— ALGUMA COISA TOCOU O MEU PÉ. — Choraminguei.
— Calma, , calma. Deve ser só uma alga. — Gargalhou, fazendo com que eu olhasse seriamente para o seu rosto.
Ele parou de rir, encarou meus olhos e direcionou o olhar para minha boca.
O cheiro do mar se misturava com o aroma de seu perfume. Era incrível e eu me sentia inebriada com aquela mistura.
Nos aproximamos lentamente, até que nossas testas se tocaram com delicadeza. Estava perto o suficiente para sentir a sua respiração.
E, em um único toque, senti seus lábios tocarem os meus. Seu braço que estava entrelaçado na minha cintura, ficou mais firme e a minha mão que estava livre foi até a sua nuca.
A cada instante o beijo se intensificava e eu já sentia que estava excitado. Eu nem conseguia sentir minhas pernas mais. Eu precisava daquilo.
Nos afastamos devagar e pude então recuperar o fôlego.
— Nossa. O que foi isso? — perguntou, ofegante.
— , eu preciso... — Sussurrei.
— Precisa de quê? — Falou no meu ouvido.
— De você. — Ao ouvir isso, senti as mãos dele agarrarem meu quadril e puxar para baixo, de encontro a sua intimidade e o gemido que escapou por entre meus lábios foi involuntário.
— Eu também quero você, mas a gente deveria ir. deve estar preocupada.
— Foda-se a .
— Eu te espero no meu quarto e te mostro o quanto eu te quero. Vamos? — Me puxou e me deu um selinho, seguido de uma mordidinha.
Eu estava puta e com tesão acumulado. Vou tomar um banho, tirar essa areia do corpo e foder com o até não querer mais. Quem ele pensa que é pra me deixar na vontade assim?
Entrei emburrada no quarto e fui direto para o banheiro, puta da vida.
— E aí como... — tentou falar.
— Cala a boca, eu já to saindo.
Vi aparecer na porta do banheiro com uma cara de assustada.
— Vou passar a noite no quarto do
Não me perturba. Eu preciso transar, por favor. — Disse, quase choramingando.
— Okay, okay. Você tá precisando dar mesmo pra ver se acaba com esse mal-humor.
Após terminar o banho, me enrolei no roupão branco felpudo e sai rumo ao quarto daquele cretino. Como ele me deixa assim e da a desculpa de que na praia não? Que raiva!
havia me falado que estava no quarto 140, que, por coincidência, era no fim do corredor.
Voei até lá e comecei a bater na porta.
— Calma. Tá com pressa? — Ouvi assim que ele abriu a porta, me dando passagem.
— Pressa, ? Pressa? — Tirei o roupão, jogando-o em algum canto do cômodo e pousei as duas mãos na cintura, batendo o pé impaciente. — Se você não me foder agora, você não fode nunca mais.
O álcool dominava o meu corpo ou era meu subconsciente falando?
No segundo seguinte eu estava apoiada na parede branca daquele quarto de hotel. Ele me pressionou ali e meus seios foram comprimidos na superfície gelada de concreto, fazendo um arrepio gostoso dominar meu corpo.
— Desde a primeira vez que eu te vi lá no seu quarto esse é meu objetivo.
— Parabéns, conseguiu. Feliz? — Tentei mover a cabeça para trás e olhar nos seus olhos, mas sua mão segurava meus cabelos fortemente.
— Só estarei feliz depois que eu te foder bem aqui. — Roçou seu corpo ao meu.
me girou de forma brusca, mas ainda me encurralava na parede. Encarei suas íris que transbordavam promiscuidade, ansiedade e desejo. Senti o ar falhar em meus pulmões. Tamanha era a vontade de tocar sua pele. Meus olhos faziam questão de acompanhar cada movimento que o homem fazia.
nos conduziu até a cama e segurou minhas mãos acima da cabeça.
Suas mãos alcançaram as minhas, trilhando um caminho de fogo ardente, até chegar aos meus ombros deixando ali, um leve carinho. Minha respiração encontrava-se desregulada até demais.
me olhava no fundo dos olhos enquanto executava toda aquela tortura chinesa. O sorriso sádico não deixava seu rosto por um segundo se quer. Ele estava se deliciando com cada mínima reação do meu corpo ao seus toques.
A calma dele era um gatilho irritante.
Os dedos fecharam-se na carne de meus seios para logo depois prender meu mamilo entre seu dedo indicador e o polegar.
Um gemido sôfrego escapou de minha garganta. Eu só queria mais daqueles toques. O que estava acontecendo?
— Não é pra gemer agora. Guarda pra mais tarde. — Me beijou ferozmente, tentando conter os gemidos que insistiam em sair da minha boca.
Afastei o corpo dele gentilmente com as mãos.
— Estou em desvantagem. Tira essa merda. — Olhei pra baixo e vi o volume guardado em sua cueca branca.
— Não gosto que mandem em mim em uma foda, mas já que estou tão ansioso pra estar dentro de você, vou cooperar. — Falou, retirando a peça que nos impedia de sentirmos um do outro por inteiro.
— Tem camisinha aqui, ? — Olhei para cara dele esperando.
— Ahn... não. — Olhou para os lados, envergonhado.
— Ok. Eu tomo anticoncepcional. Tudo bem pra você se fizermos sem camisinha? — Beijei o pescoço dele.
— Você ainda pergunta? — Pincelou a minha entrada levemente.
— Droga, . — Apertei seu ombro.
— Seja uma boa garota e vai receber o que quer, ok? — Sussurrou em meu ouvido.
Os seus olhos escureceram brevemente. Era notável seu desejo. O seu sorriso de lado estava lá, intacto. Agora eu tinha certeza que a noite estava só começando.
Troquei as posições e fiquei por cima dele, fazendo com que ele ficasse assustado.
— Ser uma boa garota não faz o meu tipo, Senhor . — Sibilei pausadamente.
Eu estava sentada sobre ele, deixando o passe livre para que me tocasse. Eu ansiava pelo toque daquelas mãos grandes e fortes que distribuíam carinhos e apertões nas minhas coxas.
Sua cara foi cômica demais quando ele segurou meus seios novamente e viu que eles cabiam perfeitamente ali. Eu tive que me esforçar para não rir.
— Olha, foram feitos pra mim. — Levantou as sobrancelhas e lançou uma piscadela.
Agora, meu mamilo estava preso em seus dentes e eu não conseguia mais segurar os suspiros, súplicas e gemidos constantes. Eu queria ele dentro de mim.
Segurei seu pau e introduzi em mim sem calma alguma.
Ouvi ele gemer e segurar firme meu quadril.
— Caralho. Você tá muito molhada. — Revirou os olhos minimamente.
— Isso é o que você faz comigo, consegue sentir? — Rebolei, me debruçando sobre ele e fiz com que meus seios esbarrassem em seu tórax.
— Vem cá, ficar por baixo não faz meu tipo. — Me tirou de cima dele, colocando-me de quatro na cama e sussurrando no meu ouvido:
— Aproveita, mas aproveita bastante, porque hoje eu vou te fazer implorar e gritar por mim.
apoiou uma mão no centro das minhas costas, me pressionando contra a cama macia e com a outra desferiu um puta tapa em minha nádega. Gemi mais alto.
Embora o tapa tivesse doído, a dor tinha sido substituída por um prazer enorme. Esse cara não é real. Não pode ser!
Senti seus dedos finalmente alcançarem a carne molhada entre as minhas pernas e se deliciar por longos minutos. Eu resfolegava, atenta a cada toque que ele desferia em meu ventre. Eu estava ansiosa por ter a devida atenção naquela parte que ansiava por toques.
Ele meteu com tudo em mim novamente, arrancando um soluço de prazer e me fazendo ver estrelas.
Meu quadril já acompanhava o movimento frenético que ele fazia.
era o tipo de homem que gostava da dominância. Tive certeza disso enquanto ele segurava meu cabelo de maneira forte. O cara não parava. Era um vai e vem enlouquecedor.
— O que você quer? Me fala! — Senti mais um tapa na minha bunda. Dessa vez mais forte e ardido.
Ele aumentou suas investidas que estavam firmes, fortes e precisas. Eu sabia que o seu ápice estava perto e eu não estava muito atrás.
Rebolei mais rápido e senti ele ficar tenso, fazendo todos seus músculos contraírem-se.
Ele chegou ao ápice, mas eu não conseguia assimilar suas palavras ditas antes de se derramar dentro de mim.
Seu líquido se misturava ao meu escorrendo pela parte interna das minhas coxas.
— Fala ou eu paro agora. — Foi diminuindo os movimentos gradativamente.
— ... eu quero gozar. Não para, por favor. — Implorei.
Senti ele sair de dentro de mim e me virar no colchão. abriu minhas pernas e se posicionou entre elas.
Deixou um beijo no meu pescoço, trilhando um caminho por onde passava.
Deu a devida atenção para os dois seios, chupando e mordiscando o local.
Lambeu a minha barriga, onde deixou um chupão.
Até que chegou na minha virilha e ficou provocando com leves mordidinhas.
Suas mãos separaram minhas pernas e seguraram, impedindo-as de fechar.
Senti sua língua brincar com o meu ponto de prazer.
Ela ia para cima e para baixo, alterando a velocidade e fazendo movimentos circulares com a língua.
— Seu gosto é tão bom. — Introduziu dois dedos em mim e, enquanto fazia um vai e vem, remexeu seus dedos como se estivesse chamando alguém.
Meu corpo esquentou, eu sentia tremores. O suor escorria pela minha testa e ele me apertava forte.
Foi então que eu gritei, gritei e gemi chamando pelo nome dele enquanto eu tinha o melhor orgasmo de toda a minha vida.
Ele deitou ao meu lado no colchão e eu olhei dentro de seus olhos pela milésima vez naquela noite, ainda atordoada com o que acabara de acontecer.
O homem esticou seu braço e passou os dedos pela minha bochechas – que queimavam de vergonha – e parou com os dedos nos meus lábios.
— Você é linda. — Sorriu minimamente, inspirando forte.
— Para, não é pra tanto. — Fechei os olhos e senti um leve roçar de lábios. — Tá fazendo o que? — Indaguei, ainda de olhos fechados.
— Tentando iniciar um outro round. Topa? — Gargalhou, sentando na cama.
A noite é uma criança e, pelo menos por hoje, nós seremos a diversão um do outro.
Acordei com uma dor no corpo e um braço me apertando fortemente.
Senti a quente e forte respiração bater na minha nuca.
É, não era um sonho; eu estava de conchinha com .
Tirei o braço dele de cima de mim com todo o cuidado do mundo. Não queria que ele acordasse. Depois do belo trabalho, uma noite bem dormida era o que ele precisava.
Vesti meu roupão que estava jogado na poltrona de couro preto e estava pronta pra sair quando vi uma agenda preta na mesa de centro.
Peguei um papel com cuidado para não fazer tanto barulho e escrevi com a caneta que estava ali:
"Ei, Senhor , espero que tenha curtido a noite de ontem... e hoje também, né?
Obrigada por essa noite. E não esqueça: O que acontece em Los Angeles, fica em Los Angeles."
Ri, pensando que aquilo teria mais efeito se fosse em Vegas.
Cruzei os braços, dei uma última olhada na carta depositada em cima da mesa e sai pela porta sem olhar para trás, me forçando a acreditar que o que acontece em Los Angeles, fica em Los Angeles.
Capítulo 15
Lar doce lar. Suspirei ao chegar em casa, largando a mala no meio da sala.
— Caramba, eu preciso de um banho. — Corri para o banheiro, me despindo e deixando as roupas pelo caminho.
Abri o chuveiro e me deliciei com a água quente que escorria do meu couro cabeludo até os dedos de meus pés.
Enquanto ensaboava meu corpo, as memórias de Los Angeles invadiam forte minha cabeça, forçando-me a fechar os olhos.
Encostei a cabeça no vidro do box e fechei o chuveiro.
— Mas que merda. — Praguejei ao chutar acidentalmente a lixeira quando sai do meu longo banho.
Quando havia terminado tudo, desci para conferir se tinha algo pra comer.
E, curiosamente, só teias de aranha abarrotavam os armários.
— Ninguém fica nessa casa? Papai deve ter esquecido de fazer compras. — Bati na testa, reprovando a memória esquecida dele.
Calcei o par de tênis que estava ao lado da porta, peguei minha carteira junto com a bolsa e fui comprar algo pra comer.
Durante o caminho, senti uma sensação estranha, como se estivesse sendo perseguida.
Olhei para trás disfarçadamente e percebi que uma moto me acompanhava ao longe, devagar.
Reduzi a velocidade dos passos ao confirmar quem era e girei sobre os calcanhares observando agora a moto parar ao meu lado.
— AHÁ. TE PEGUEI. — Apontei o dedo para o homem.
Ele retirou o capacete e saiu de sua moto, caminhando até mim.
Seu andar era charmoso por si só, o olhar era penetrante demais. Ele tinha o típico jeito de bad boy e aquele piercing microdermal era muito sexy.
— Cuidado para não babar. — Colocou as mãos no quadril, e pousou a mochila que carregava nas costas sobre a moto.
— Não enche. — Gargalhei. — Que foi? Vai me assaltar agora? Tava me seguindo por quê? — Cerrei os olhos.
— Não vou te assaltar. — Sorriu sem mostrar os dentes. — Você nem deve ter dinheiro aí. — Apontou para a bolsa no meu ombro.
— Quem disse? — Ergui uma sobrancelha.
— Então quer dizer que você tem? — Olhou para os dois lados. — Tenho uma ideia melhor do que te assaltar. — Ajeitou a blusa que usava.
— O quê? — Fiquei imaginando o que ele responderia. Mas eu estava realmente morrendo de fome e a única coisa que rondava meu pensamento eram rosquinhas com creme de chocolate e granulados coloridos.
— Sequestro. — Puxou meu braço me fazendo gargalhar com o susto. — Tô brincando, mas, quer vir comigo? — Esticou um capacete vermelho.
— Vamos no mercado primeiro? Quero comer algo. — O homem balançou a cabeça positivamente.
ficou ao meu lado e fomos caminhando até o mercadinho do outro lado da rua.
— Pensei em te levar naquela trilha hoje. O que acha? — Perguntou, prendendo seu cabelo de maneira frouxa. Ele ficava ainda mais bonito daquele jeito.
— Hm... eu até queria, mas só trouxe essa blusa. — Apontei pra blusa que era muito apertada.
— Eu tenho uma blusa dentro da mochila e posso te emprestar. Você está de shorts e tênis, então está de boa. — Jogou um pacote de salgadinhos na minha direção.
— Tudo bem então, eu acho. — Agarrei no ar a embalagem antes que ela fosse ao chão.
Comprei tudo que precisava e sai de lá satisfeita.
— Você só come essas bobeiras? — sondou com o rosto contorcido em uma careta cômica.
— Não, né, ! — Empurrei seu ombro.
Ele montou sua moto e indicou a garupa para que eu sentasse.
— Ai, papai do céu, me proteja, eu sou muito nova pra morrer. — Juntei as mãos e mirei o céu em uma súplica engraçada.
— Anda logo, senhorita. — Fechou a cara e colocou o capacete.
Ao ouvir o som do motor roncar, acabei me assustando, fazendo com que várias risadas escapassem do motoqueiro.
Sentei e segurei forte sua cintura. Sentia a ansiedade invadir meu ser sem a minha permissão.
— Você é totalmente louco, entendeu? — Senti ele sair do lugar devagar.
— Então vamos provar dessa loucura juntos, .
Dito isso, ele acelerou a moto de uma maneira tão absurda que eu pude sentir meu corpo ser impulsionado para o lado contrário.
— PUTA MERDA, ! — Fechei os olhos com força e apertei forte seu tronco, mentalizando que eu só soltaria quando ele parasse aquela máquina mortífera.
— APOSTO DEZ DÓLARES QUE VOCÊ ESTÁ DE OLHOS FECHADOS. — Gritou de volta.
— CALA A BOCA E PARA LOGO ESSA MERDA! EU QUERO DESCER, SEU IDIOTA. — Quase esmaguei o homem quando derrapamos por conta de um carro.
fez questão de buzinar feito um retardado e ainda xingar o senhor que dirigia o carro.
Após os quinze minutos mais aterrorizantes da minha vida, o garoto estacionou a moto e falou que eu já podia soltá-lo.
Bagunçou seus cabelos e abriu a mochila, retirando de dentro uma blusa preta.
— Toma, veste isso. Com essa blusa que você está não vai nem se movimentar. — Apontou para blusinha amarela que eu usava. — Vai ali atrás e troca. Eu te espero aqui. — Virou-se, vasculhando a sacola com bobeiras e pegando uma bala fini.
— Pra quê? Eu troco aqui mesmo, não tem problema e... — Ele me olhou com cara de tédio.
— Vai logo, tem muitos caras aqui. Se fosse só eu, não tinha problema. Não é como se eu fosse te agarrar, chapeuzinho. — Tocou meu nariz e ofereceu a bala que antes estava na sua boca.
— Sai pra lá, lobo mau. — Sai girando a blusa no ar.
Me troquei rapidinho atrás de uma cabaninha de madeira que tinha ali e voltei até o motoqueiro.
— Vem, vou deixar a minha filha aqui. — Ele puxou minha mão e arrumou sua mochila nos ombros.
Subimos uma escada com degraus desproporcionais e adentramos aquele lugar no qual já pude sentir a calma me rondar.
O cheiro era maravilhoso. Libertador, eu diria.
— É aqui que eu venho pra me acalmar. Eu venho muito aqui. Muito mesmo. — Olhou para mim.
— Tem que aprender a controlar a raiva, então. — Ergui os ombros, abrindo os braços.
— Tem razão. Vou trabalhar nisso. — Sorriu de lado e indicou o caminho.
Fomos andando, seguindo um grupo de pessoas que estava mais à frente.
Era tudo rodeado de natureza, muito lindo.
— Aqui foi onde minha mãe conheceu o namorado novo. Sim, ela está namorando. — Sorriu mostrando seus dentes perfeitamente alinhados. — Ela quer ir morar com ele em outra cidade. — Olhou para o cima, procurando pelo céu, porém as árvores não deixavam ver muito bem.
— Você tem ciúmes dela? Não quer que ela vá? — Toquei seu braço.
— Não é isso, sabe? Só que... ela é a única pessoa que eu tenho de verdade desde que meu pai nos abandonou. — Eu olhava para ele, atônita, prestando atenção em cada palavra que saia de seus lábios. — Mas ela é minha felicidade. Então, se está feliz, eu também estou. — Finalizou, indo na minha frente.
Passamos por uma ponte de madeira. Ali era perfeito.
apoiou-se, admirado.
— Não me canso de contemplar. — Ao terminar a frase, ficou brincando com o piercing na sua língua.
— É muito lindo. — Falei, mirando seu rosto.
— Eu? Sou mesmo. — Riu da minha cara. — Você tá vermelha.
— Olha as coisas que você fala, seu idiota. — Me puxou de lado para um abraço.
Eu levei um susto, não esperava esse tipo de contato. Quero dizer, não ali.
— Fica quietinha. Aproveita o momento e veja o quão linda é a natureza. — Apontou para cachoeira que caia diante de nossos olhos.
Ficamos um tempo olhando toda aquela imensidão, mas não tardamos a seguir o grupo.
Quando estávamos passando em um terreno irregular, eu acabei caindo.
— Que droga. — Resmunguei, tentando levantar.
Meus joelhos estavam ralados, assim como as minhas mãos.
— Por Deus, o que houve? — se virou desesperado e correu até mim.
— A pedra estava escorregadia. Acabei caindo. — Ele segurou meus pulsos e me ergueu.
— Toma cuidado. — Torceu a boca, olhando a palma da minha mão. — Vem, vamos embora.
— Mas já? — Fiz um beicinho.
— Vou te levar em casa e cuidar desses machucados. Se não fosse por mim, você não teria eles. — Fechou a cara, culpando-se pelo ocorrido.
Tentei argumentar, mas ele era uma mula e não ouvia nada que eu dizia.
Subimos na sua moto novamente e pedi para que ele não fosse tão rápido. Ele atendeu meu pedido desta vez.
Olhei para os lados enquanto ele pilotava.
— Espera... esse não é meu bairro. Pegou um atalho? — Alertei .
— Eu não disse que te levaria para a sua casa. Aprenda a interpretar frases, lindinha. — Eu não podia ver seu rosto, mas tinha certeza de que ele estava sorrindo. Já escurecia.
Entramos na garagem e deixamos a moto lá dentro.
me ajudou com todo cuidado do mundo e me guiou até a porta de sua casa.
Quando entramos, demos de cara com um gato siamês.
Ele abaixou-se e pegou o gato em seus braços.
— Essa é a Nora. Uma das minhas gatinhas. — Acariciei o animalzinho que começou a ronronar. — Ela gostou de você.
— Ela é uma gracinha. — Sorri fechando os olhos.
— Agora, vem, anda. Vamos lavar esses ferimentos e colocar curativos. — me puxou gentilmente, me levando escadaria acima.
— Relaxa. Tá tudo bem. — Puxei a mão.
Sua casa era simples, mas muito aconchegante.
Entramos em um cômodo que identifiquei ser seu quarto.
Havia uma cama de casal, posters de banda de rock e também alguns instrumentos.
— Não repara na bagunça. Vou pegar a caixinha de primeiros socorros. — Saiu do quarto.
— , desculpa, mas se importa se eu tomar um banho? — Perguntei acanhada. Eu estava me sentindo suada depois da trilha.
— Ah... não, não. Vou pegar a toalha pra você. — Ele parecia afetado.
Ri timidamente, retirando os tênis de meus pés.
— Aqui, . Trouxe uma cueca, essa blusa e essa bermuda, caso queria usar. — Estendeu a muda de roupas. — Estou tomando banho no outro banheiro. Se precisar de algo, é só gritar. — Falou e saiu do quarto, encostando a porta.
Liguei o chuveiro e passei uma água rápida em meu corpo.
Senti uma enorme ardência quando o sabonete entrou em contato com os arranhões.
Me sequei, coloquei a blusa branca que havia me oferecido e vesti sua bermuda.
Eu parecia um menino agora. Gargalhei me encarando no espelho.
Observei surgir no quarto secando seus cabelos de uma forma muito engraçada.
— Aqui. Obrigada! — Agradeci, entregando a toalha e sua cueca.
— Você está sem... — Olhou para a bermuda. — Ok. — Saiu do quarto de novo, mas logo retornou.
— Vamos cuidar disso. — Encharcou o algodão com álcool 70 e passou sobre a palma da minha mão.
Fechei os olhos quando começou a arder, mas tratou de assoprar o local.
— Quer que coloque a bandagem? — Perguntou, dando atenção aos meus joelhos agora.
— Não é necessário. — Respondi.
— Tá bom. Vou jogar isso aqui no lixo. — Foi até o banheiro e voltou.
— Cadê sua mãe? — Perguntei, e bati no colchão para ele sentar ao meu lado.
— Está na casa do namorado dela. Fica umas duas horas de viagem daqui. Ela deve dormir lá hoje. — Me encarou.
— Você toca? — Apontei para a guitarra do lado esquerdo do quarto.
— Costumava tocar. Era eu, e minha garagem contra o mundo. — Sorriu, nostálgico. — Mas parei quando entrou para a faculdade de administração. Quando da ele foge das aulas e tocamos por aí.
Então, era isso... não ia nas aulas para fazer o que realmente gostava.
— Mas e você? O que faz quando fica sozinho aqui? — Soltei sem pensar.
— Bom, eu sequestro meninas indefesas e passo um tempo com elas. — Desafiou, me surpreendendo.
— O seu problema, lobo mau, é achar que todas são indefesas. Não me confunda com qualquer uma. — Me aproximei, tocando seu queixo e erguendo seu rosto para que ele me olhasse nos olhos.
— Se continuar me olhando assim, eu não me responsabilizo pelos meus atos. — Eu conseguia sentir o cheiro de sabonete que emanava de sua pele.
— Eu devo sustentar o olhar ou pedir para que você não se responsabilize mesmo? — Ergui uma sobrancelha.
Ele não disse nada. Apenas avançou e capturou meus lábios em um beijo necessitado. Sua língua tocou a minha, travando uma batalha que não terminaria tão cedo.
Fomos até o meio da cama e me puxou para seu colo. Remexi meus quadris, vendo o homem pender sua cabeça para trás.
— Não faz isso comigo, não. — Beijou meu pescoço.
Sai de cima dele e retirei a blusa, jogando-a em algum canto do quarto. Não importava mais.
— Sem sutiã? — Encarou meus seios, que ansiavam por contato.
— Sem calcinha também. — Retirei a bermuda.
— Você veio com intenção de me matar? — Titubeou, despindo-se também.
— Só se for de prazer. — Rebati, já irritada com a demora.
colocou-se no meio de minhas pernas.
— Já foi chupada por alguém com piercing? — Mostrou a língua.
— Quê? Não. — Respirei fundo ao ver que sua face já estava perto demais.
Revirei os olhos ao sentir o metal gelado fazendo contraste com a sua língua quente no meu maior ponto de prazer. Quase gritei de tanto tesão.
Suas mãos seguravam minhas coxas fortemente e eu gemia tanto que pensei em abaixar o tom.
— Não fique com vergonha. Pode gemer. Deixe que saibam que você está amando isso aqui. — Mexeu os dedos dentro de mim com mais velocidade, intercalando entre mordidas na parte interna da coxa e lambidas.
Quando eu estava quase gozando ele parou. Miserável.
— Tem camisinha aqui, né? — Lembrei-me da mesma pergunta que havia feito para alguns dias atrás.
— Claro. Pega aí, tá do lado do abajur. — Ergueu a cabeça.
— De menta? Boa escolha. — Abri a embalagem.
— Quer colocar pra mim? — Brincou, com malícia em sua voz.
— Eu não, folgado. Pega logo isso aqui. — Entreguei pra ele.
Enquanto ele estava ocupado com o preservativo, eu estava maravilhada com o seu corpo. A tatuagem em seus ombros era perfeita, cobria quase todo seu tronco.
— Vem cá. — Me tirou dos devaneios e me colocou por baixo dele.
Começou a sugar meus seios, me levando ao paraíso. O verdadeiro paraíso na terra.
Sorri em meio as lambidas.
— Que foi? — Interrogou com mini rugas entre as sobrancelhas.
— Nada. Só me fode logo. — Exigi.
— Como quiser. — Falou, e meteu sem mais nem menos. Eu tinha pedido, né? Mas não estava preparada.
Acompanhei seus movimentos.
— Se eu soubesse que seria assim, teria tentado antes. — Estocou forte, fazendo um gemido escapar de minha garganta.
— E se eu soubesse que seria tão bom, teria me atirado. — Rebolei, agora fazendo ele gemer.
Seus cabelos estavam colados na testa. A visão era perfeita. O quarto cheirava a sexo e seu corpo suado sobre o meu era uma obra mais que divina.
— Isso. Assim. — Pedi para que ele continuasse naquele ritmo e, com direito a olhos virando, tremores e arrepios pelo corpo, eu finalmente tinha gozado.
;Troquei as posições ficando por cima de e rebolando, mas logo sai. Retirei a camisinha e joguei longe.
Coloquei minha boca em sua glande, ouvindo os suspiros que saiam de sua boca e também os piores xingamentos.
Encarei ele com uma cara de safada. Suguei como se minha vida dependesse daquilo. Ele fechou forte os olhos e segurou meu cabelo com força. Foi um incentivo para eu aumentar ainda mais a velocidade. Ele urrou de prazer e senti uma tremenda quantidade de seu líquido atingir minha garganta.
— Porra, . — Gemeu enquanto observava os meus movimentos. Limpei com os dedos um pouco que escorria pela minha boca.
— Caralho. Essa foi a melhor chupada da minha vida. — Encostou na cabeceira, derrotado. Deitei em seu peito, e estiquei meu braço para abraçá-lo.
— Que foi? — Ergueu meu rosto e depositou um selinho cálido em meus lábios.
— Nada. — Ri sem humor. — Que cicatriz é essa? — Apontei para sua barriga.
Era quase imperceptível devido a uma tatuagem que cobria, mas minhas habilidades de observação eram insuperáveis.
— Meu pai. Chegou bêbado em casa uma vez. Tinha uma garrafa quebrada em mãos. Queria bater na minha mãe, ou sei lá, talvez matá-la. Então eu entrei na frente e ganhei essa belezinha aqui. — Passou a mão sobre a cicatriz.
— E essas bolinhas em seus braços? — Passei meus dedos pelas bolinhas escuras.
— Ele me queimou com cigarros. — Abracei ele forte naquele momento.
— Gostei da sua tatuagem também. — Me abraçou de volta.
— Acredita que meu pai não sabe dela até hoje?
— O que significa? — Ele perguntou, curioso.
— A fênix simboliza renascimento. Apesar de todas as dificuldades, consegui superar e renascer das cinzas.
— E superou o quê? — Rebateu.
— Um dia eu te conto. Pode ser? — Beijei seu pescoço.
— Claro. Vou te cobrar isso. — Fechou os olhos. — Amanhã eu te levo. Dorme aqui hoje. — Apertou meus braços com a mão.
— Vou dormir aqui, fica tranquilo. — Voltei a encostar minha cabeça em seu corpo, pensando sobre a minha tatuagem.
Renascer faz parte de mim. Quando menos esperam, eu renasço das cinzas.
Capítulo 16
Me encontrava atordoado demais para pensar em qualquer outra coisa que não fosse a ida repentina de .
Eu olhava para o horizonte, encarando o céu extremamente carregado de nuvens, enquanto escondia ambas as mãos na calça social preta.
Uma garoa serena iniciava-se do lado de fora manchando a grande janela de vidro com as finas gotas.
Me mexi na cama macia, sentindo falta do colchão afundado ao meu lado. Abri os olhos e levei as mãos até o rosto, procurando afastar o sono.
Encostei na cabeceira tentando fazer com que minha visão se estabilizasse.
Procurei a com os olhos e levantei meio cambaleante em direção à cozinha.
— ? — Pousei a mão direita no quadril, chamando pela garota.
Abri a geladeira, peguei uma garrafinha de água e dei um gole generoso.
Eu olhei em todos os cômodos possíveis, até achei que ela tivesse ido tomar banho, mas não.
Sentei no pequeno sofá de frente para a mesa.
Comecei a massagear as têmporas afim de espantar a importuna dor de cabeça que começava a aparecer.
Olhei para a mesa, tombando a cabeça para o lado em um sinal repleto de confusão.
— O que é isso? — Estiquei preguiçosamente o meu braço, alcançando o papel cuidadosamente dobrado.
Abri devagar, depositando a garrafa sobre a mesa.
— Ei, Senhor . — Comecei a recitar o que estava escrito no papel e ergui uma sobrancelha adotando um semblante divertido. — Espero tenha curtido a noite de ontem... e hoje também, né? — Soltei um riso nasalado e prossegui. — Obrigada por essa noite. E não esqueça: O que acontece em Los Angeles, fica em Los Angeles. — Finalizei com as sobrancelhas minimamente unidas. — Que garota imprevisível. Foi embora sem ao menos se despedir e ainda pede para que eu esqueça a melhor foda da minha vida? — Neguei com a cabeça, ficando de pé.
Sai de meus devaneios ao constatar que o interfone tocava. Caminhei até o objeto que ficava suspenso na parede e atendi.
— Bom dia, Senhor . — A voz melodiosa da mulher soou abafada.
— Bom dia. — Devolvi, seco.
— O carro que o senhor pediu para ir ao aeroporto chegou. Devo pedir para que ele espere aqui na frente ou vá para o estacionamento?
— Peça para que ele suba até o estacionamento, por favor. — Pedi com educação, esperando calmamente a resposta da mulher do outro lado da linha.
— Certo, Senhor. — Desligou.
Peguei a mala, arrastando-a para fora do cômodo em que eu estava há dias. Caminhei pelo extenso corredor e apertei o botão, chamando pelo elevador. Mirei meu pulso que continha um enorme relógio dourado, procurando pelas horas.
— É, , o que acontece em Los Angeles... fica em Los Angeles. Mas por quanto tempo? — Pensei em voz alta, com um sorriso ladino enquanto entrava no elevador e selecionava os botões para ir até a garagem.
POV - NEW YORK.
Abri os olhos com pesar, inspirando um cheiro incrível que fez minha barriga roncar.
Afastei o lençol que cobria minha pele e caminhei até a janela fechada. O céu estava sem resquícios de nuvens e o sol brilhava radiante.
— Que vista linda. Poderia vê-la todos os dias. — Virei em direção à voz, dando de cara com encostado no batente da porta com os braços cruzados e os cabelos levemente úmidos e bagunçados.
— Não seja bobo. — Joguei os cabelos para frente, tentando cobrir os seios.
— Não tem problema. Tá tudo gravado aqui, ó. — Tocou o dedo indicador ao lado da cabeça, e se aproximou tocando minha cintura. — Vamos comer? Preparei o café. Você come bacon? — Perguntou, com um mínimo sorriso sambando nos lábios.
— Como sim; só que antes posso usar o banheiro pra tomar banho? — Toquei seus ombros, alisando o local que era coberto por tatuagens.
— Mi casa es tu casa. — Tombou a cabeça pra trás gargalhando. — Eu até te acompanharia, mas já tomei banho.
Ergui uma sobrancelha, me desvencilhando de seus braços e caminhando para o banheiro.
Minutos depois, desci as escadas enquanto ainda secava os fios ensopados, que agora emanavam o cheiro dos cabelos de . Avistei Nora no último degrau, me encarando com seus grandes olhos azuis.
Peguei o animalzinho em meus braços e entrei na cozinha, vendo a mesa posta com dois pratos.
— Tem suco e café. O que você quer? — Me analisou de cima a baixo, suprindo um sorriso. — Minhas roupas ficam lindas em você. — Colocou ovos e bacons sobre a mesa para que eu pegasse a quantidade desejada.
— Olha, Nora, temos um chefe aqui, huh? — Recebi um miado em resposta, depositando-a com cuidado no chão de madeira. — Vou beber suco. Pode sentar e comer, eu pego.
— Tá bom. — O homem jogou para trás a franja que insistia em ficar nos seus olhos e sentou-se.
— Quando a gente terminar aqui, você pode me levar embora? Não avisei ninguém que iria dormir fora. — Abocanhei um pedaço de torrada após falar.
— Claro, sem problemas. — Deixou o bacon que mordia em cima do prato e limpou as mãos.
Conversamos um pouco antes dele me levar até minha casa.
Eu tentava focar minha visão na estrada que passava diante de meus olhos como borrões coloridos.
Ao parar na frente de minha casa, retirou o capacete e me fitou.
— Ei, gracinha! — Me virei ao ouvir sua voz. — Quando quiser fugir um pouco, me liga, tá? Será um prazer estar com você. Literalmente. — Sorriu e abaixou a cabeça.
— Não vou esquecer, viu? — Ergui seu rosto e deixei um beijo em sua bochecha.
Entrei em casa e dei de cara com Eliza, que folheava um portfólio de joias.
— Oi, meu amor! Onde estava? E que blusa é essa? — Ergueu uma sobrancelha com o semblante confuso.
— Desculpa por não avisar. Eu dormi na . — Soltei rápido, me enrolando um pouco na frase.
Virei para subir as escadas que estavam devidamente enceradas.
Subi o primeiro degrau ouvindo a voz de Liza.
— Engraçado. — Um riso seco escapou de sua garganta. — A anda te dando chupões?
Congelei por alguns segundos. Fechei os olhos, fazendo uma súplica silenciosa à Deus e virei de frente para a mulher que me encarava, serena, com as duas mãos sobre o colo.
— Então, Liza... — Passei a mão na nuca, em um claro sinal de nervosismo.
— Está tudo bem, . — Levantou e parou ao meu lado, levando sua mão fria até meu braço e deixando um carinho terno no local. — Não precisa se explicar. Agora, suba antes que seu pai chegue e você tenha que se explicar mesmo. — Riu da cara que eu havia feito.
Corri escadaria acima e me joguei na cama, finalmente pegando o celular que tinha ficado em casa ontem. Ignorei algumas mensagens e procurei o perfil de , ligando para ela logo depois.
O celular tocou até cair na caixa postal. Tentei novamente e dessa vez a ligação foi aceita.
— Caralho, ?! Você nunca demora pra atender assim. — Quase gritei, me encostando na cabeceira.
Não ouvi nada além de um baixo gemido.
— Ou? Tá tudo bem? — Indaguei, levemente confusa.
— Oi, . — Uma voz grossa saiu pelo telefone e eu uni as sobrancelhas.
— ? — Ouvi mais gemidos, só que, dessa vez, bem mais altos. — Que porra é essa?
— É, , o prêmio de empata foda do ano vai para você. — Brincou e pude ouvir o sussurro de direcionado a .
— Primeiramente, quem atende o telefone transando? Velho, eu consigo ouvir os corpos de vocês chocando-se, então vocês não pararam pela minha ligação. Não tô empatando nada. — Fiquei ereta. — Olha, depois mando mensagem pra vocês. Vamos sair mais tarde. Curtam a porra do orgasmo, otários. — Gargalhei e desliguei sem deixar com que se despedissem.
Entrei na conversa do pra dizer que já estava em casa.
WHATSAPP ON
: Ei, cheguei em casa.
: Que saudades, princesa.
: Você não imagina o quanto .
: Tá tudo bem?
: Sim sim e você?
: Eu tô ótimo, mas agora eu preciso sair, volto mais tarde para conversarmos.
: Pode deixar amorzinho!
: Te amo.
: Te amo também. <3
WHATSAPP OFF
Levantei da cama e coloquei-me de frente ao enorme espelho, que possuía uma grande moldura de madeira na coloração branca.
Fitei meu pescoço e meus olhos quase saltaram para fora das órbitas. Meu pescoço estava com um chupão enorme.
Sentei-me em frente a penteadeira e peguei a maquiagem necessária pra cobrir aquele treco. me paga. Troquei a blusa que estava usando e continuei com meu short.
Como não tinha nada pra fazer, deitei no sofá da sala trocando os canais incansavelmente, até que me conformei com um desenho que passava. Fiquei assistindo aquilo até pegar no sono. Só acordei quando o telefone de casa começou a tocar.
— Puta merda. — Praguejei, chutando a almofada que caiu. — Alô? — Falei, com mal humor evidente na voz.
— Mal-humorada, hein? — A voz feminina soou. — Para onde vamos? me falou que você queria sair.
— Aaaaah, teve um bom orgasmo, senhorita ? — Dei uma risadinha irônica.
— Foi incrível, menina. Você nem imagina. — Gargalhou e eu a acompanhei.
— Idiota. Vamos jantar, fiz uma reserva. E já vou avisando que não vou pagar nada! — Adiantei para minha amiga, brincalhona.
— Ok, ok. O paga pra mim. — Respondeu. — Ou então vamos comer em um fastfood.
— Por mais que eu ame comer um Big Mac, hoje eu quero a clássica comida americana. — Entortei a boca.
— Beleza. Onde é? — Indagou, com pressa.
— Polo Bar. Fica na 1 East 55th Street. Encontro vocês lá em uma hora. — Falei, autoritária.
— Ok, . Estarei lá em uma hora. Agora, tchau, vou me arrumar. — Desligou o telefone sem me deixar falar nada.
Dei uma última olhada no espelho, finalizando com um blush e um pouco de gloss.
Peguei uma jaqueta jeans caso sentisse frio e chamei um táxi, já que Will havia levado papai e Eliza em uma reunião.
Ao chegar, fui recepcionada por um homem alto de cabelos negros e olhos extremamente azuis. Seu sorriso era cordial e ele era muito educado. O mesmo me conduziu para dentro do estabelecimento e eu avistei e .
Cobre, painéis de madeira, couro e quadros com um estilo country davam um ar despojado no Polo Bar. Eu adorava aquele lugar. A elegância da atmosfera e o conforto da boa comida fazem um contraste incrível.
Antes de sentar no estofado marrom, eu disse:
— Pelo menos alguém do casal é pontual. — Gargalhei, fazendo me acompanhar, mas logo fechou a cara quando minha amiga lançou um olhar ameaçador. — Já pediram algo? — Intercalei o olhar de um para o outro e peguei o cardápio de cima da mesa.
— Eu pedi Mac and Cheese e o pediu Buffalo Wings. — respondeu, bebericando seu suco de maçã.
Levantei a mão, chamando a atenção da garçonete que rondava o local.
— Pois não, senhorita? — Sorriu amigavelmente e apertou a caneta entre os dedos, pronta para anotar meu pedido.
— Vou querer costelas de porco com bastante barbecue e batatas fritas como acompanhamento. — Depositei o cardápio de volta à mesa de madeira devidamente polida.
— Algo pra beber? — Anotou o pedido.
— Pode trazer uma coca, meu bem. Obrigada! — Sorri sem mostrar os dentes e virei para o casal.
— Vou ao banheiro. Se minhas asinhas chegarem, não deixe que a pegue, . — Apontou para a namorada dele e virou as costas.
— , preciso te contar uma coisa. — Debrucei um pouco na mesa e toquei sua mão. — Eu transei com o . — Fechei um olho e esperei a reação.
— Eu sei, sua safada. — Bateu no meu braço. — Ele contou para o . — Ergueu uma sobrancelha e brincou com o canudo branco em seu copo.
— Mas já? — Fiz um beicinho.
— O que você esperava? Eles são melhores amigos, né? — Revirou os olhos, respondendo como se fosse óbvio. — Mas e aí, me fala... Ele fode melhor que o ? — Tamborilou os longos dedos na mesa, fazendo um barulho irritante.
— Não enche o saco, . — Cheguei para trás, me encostando no sofazinho. — Foi só uma foda. Não é como se nós estivéssemos apaixonados. — Ri da cara dela.
— Eu não teria tanta certeza.
— Como assim? — Paramos a conversa quando o garçom trouxe nossos pedidos, que, aliás, estavam muito cheirosos.
— Esquece. — Falou, dando uma garfada naquele macarrão que parecia maravilhoso.
Olhei na direção do banheiro e vinha apressado.
— Estava cagando, cara? — Perguntei, brincando.
— Eu fui dar uma mijada, . Meu zíper emperrou. — Explicou, corando.
— E porque não deixou aberto? Ia facilitar meu trabalho. — empurrou o garoto de leve com seu ombro.
— Simplesmente nojentos. — Fiz ambos rir e coloquei um pedaço de costela na boca. Meu Deus, aquilo estava incrível.
O jantar foi muito bom na companhia do casal. Conversamos, rimos e falamos de assuntos sérios também.
A noite estava fria, o que me obrigou a vestir a jaqueta.
— Quer carona, ? — perguntou, caminhando até o carro.
— O Will já está vindo me buscar. Obrigada, anjo. — Lancei um beijo no ar e observei os dois saírem de mãos dadas.
Quando Will chegou, entrei rapidamente no automóvel e fomos para minha casa. Já era tarde e eu tinha sono. Muito sono.
Assim que cheguei em casa, agradeci ao Will e passei pelo jardim, abraçando meu próprio corpo em busca de calor.
Decidi que antes de cair na cama, relaxaria na banheira, com direito a água quentinha e sais de banho.
Esperei que ela enchesse e mergulhei até o pescoço, sentindo a sensação de calor me abraçar.
Fiquei submersa até que meus dedos enrugassem. Depois, levantei e coloquei uma calça de listras brancas e cinzas e a blusa cinza do pijama. Peguei os cobertores e me perdi no meio daqueles panos.
Acordei com meu celular tocando incansavelmente.
— Mas que merda é essa? Eu não coloquei para despertar. — Procurei o celular pela cama, ainda de olhos fechados. — Meu Deus, são três e meia da manhã. — Sentei na cama com os olhos semiabertos.
Eu estava quase pegando no sono, quando o celular começou a tocar de novo.
Atendi rapidamente e fui grossa:
— Mas que caralho, porra! Quem liga pra alguém a essa hora da manhã?
— Hmm, desculpa, , mas eu tô aqui na frente da sua casa. Você pode descer? Vou te levar para um lugar. — A voz do garoto soava eufórica.
— Olha aqui, , é de madrugada, tá frio e eu estou com preguiça. Foi mal, mas não vai rolar. — Eu estava pronta para desligar, mas desisti ao ouvir seu suspiro derrotado.
— Por favor, eu juro que não te peço mais nada. Vem? — Sua voz agora era a de uma criança pirracenta.
— Não vou trocar de roupa. Só vou pegar um casaco porque tá muito frio. — Levantei e fui até o closet, tirando de lá meu casaco preto e felpudo.
Desci as escadas tentando fazer o mínimo de barulho possível.
estava do lado de fora do carro, com uma calça de moletom preta e com um casaco pesado.
— E não é que você veio mesmo? — Me mediu de cima à baixo. — De pantufas? — Soltou um riso nasalado.
— Você tá de chinelos e meias, garoto. Não tem local de fala. — Empurrei ele, entrando no carro.
— Eu não ganho nenhum abraço? — Revirei os olhos em resposta e entrei no automóvel quentinho e confortável. — Delicada como coice de cavalo. — Sentou no banco do motorista e riu pra mim.
— É bom você ter um ótimo motivo pra me tirar da cama, porque, caso contrário, eu te mato. — Ameacei, apontando o dedo para o garoto que encontrava-se assustado.
Demorou uns trinta e cinco minutos até estacionar em frente à praia.
— Porque me trouxe aqui? — Vi ele sair do carro, me fazendo acompanhá-lo.
— Para ver o nascer do sol. Eu gosto da sua companhia. Imaginei que fosse gostar. — Caminhou até o porta malas e retirou alguns pedaços de madeira, jogando na areia. — Vem cá, senta aqui. — Bateu na areia fofa me chamando.
Observei minuciosamente todos os movimentos de , enquanto ele acendia a fogueira.
Levantou-se rápido, parecendo lembrar de algo, foi até o carro, pegou um saco de marshmallows e sentou-se novamente.
— Tudo isso só pra mim? — Brinquei, vendo ele assentir.
— Claro, . Você me ajudou quando eu mais precisei, sabe? Sinto que estou melhorando agora e depois daquele lance com o Ian, não estive muito próximo à você. — Finalizou, esticando o galho com o marshmallow na ponta.
— Ei, tudo bem, . Eu admiro muito você e sua amizade. É muito importante pra mim. E eu também gostaria de pedir desculpas. — Abaixei a cabeça, e enfiei um daqueles docinhos fofos e açucarados dentro de minha boca.
— Pelo que, exatamente? — Riu, apoiando uma mão na areia.
— Te tratei mal no baile de máscaras. Me desculpa. Não foi minha intenção. Aconteceram tantas coisas naquele dia que eu fico com dor de cabeça só de pensar. — Disparei a falar.
— Então não pense. Já está tudo bem. Aproveita bastante esse nascer do sol. — Chegou mais perto. — Encosta aqui. — Indicou seu ombro com o olhar e eu prontamente obedeci.
— , posso te contar uma coisa? — Comecei, meio incerta se deveria ou não comentar sobre aquilo.
— Claro, . O que foi? — Interrogou com a boca cheia.
— Não me julga nem nada do tipo. Por favor. — Fechei os olhos com força e ouvi a respiração de junto as ondas que quebravam ao pé da areia. — Eu meio que estou gostando de duas pessoas. — Falei rápido demais.
— O que você disse? — Fez uma careta em confusão.
— Eu acho que estou gostando de duas pessoas. — Respondi pausadamente dessa vez.
— E como você chegou a essa conclusão? — Meu amigo me encarava, curioso, com os cotovelos sobre os joelhos.
— Talvez seja pelo toque, pelo olhar, pelo jeito de andar, de falar... o jeito de ser e a forma como ocupam todo espaço na minha cabeça. — Suspirei, encarando o horizonte.
— Uma vez eu li em algum lugar, que, se você acha que gosta de duas pessoas, era para escolher a segunda, pois se você realmente gostasse da primeira, não teria uma segunda opção. — Fez aspas com os dedos e entortou a boca. — Mas, eu acho que você deveria seguir seu coração, sabe? Eu não segui e olha a merda que deu! — Abaixou a cabeça e riu fraco.
O que falou me fez refletir rapidamente, mas a dúvida ainda pairava sobre meu ser. Ficamos quietos por um instante e eu voltei a falar, quebrando o silêncio.
— Você é louco por me acordar a essa hora. — Comentei, encostada novamente em seu ombro.
— Shh. Já vai acontecer. — Olhou para o céu, que dava os primeiros sinais de uma bela manhã.
O sol saia devagar, dando um aspecto alaranjado ao céu. Era lindo e tão puro. Tal como nossa amizade que crescia a cada dia mais.
Ficamos até o sol sair totalmente. Agora, eu já estava dentro do carro, com a cabeça no vidro e morrendo de sono.
Ao chegarmos na minha casa, foi comigo até a porta.
— Espero que tenha gostado. — Colocou as mãos dentro do casaco.
— Eu amei. Obrigada. — Dei um abraço apertado em meu amigo e me virei para entrar, dando um último tchauzinho.
Nem consegui chegar ao quarto, tombei ali mesmo naquele sofá.
Acordei e senti um cheiro que eu conhecia muito bem penetrar minhas narinas, fazendo-me sorrir nostálgica.
Sentei, espantei o sono e escovei os dentes no banheiro do primeiro andar antes de começar a caminhar até o outro cômodo.
— Eliza? — Chamei ao entrar na cozinha.
A mulher tinha suas mãos na bancada, amassando uma massa branca e fofa.
Vi Heloísa retirar a forma de dentro do forno. A fumaça saia do pão, espalhando-se pela casa.
— querida, quer ajudar? — Me encarou com seus olhos cor de mel.
Inspirei forte o cheiro daqueles pães quentinhos e me coloquei ao lado de minha madrasta.
— Do que você precisa? — Prendi o cabelo e lavei as mãos logo em seguida.
— Você pode rechear os pães? Como fazia quando era mais nova? — Um sorriso pendurou os seus lábios, enquanto me lançava um olhar que transmitia amor e cuidado.
Esperei que Eliza abrisse a massa para rechear com calabresa, um dos meus recheios favoritos.
Aproveitei a distração da mais velha e roubei um pedaço de pão com queijo e corri ao constatar que ela me olhava com os olhos serrados.
— Você nunca vai mudar, menina! — Tombou a cabeça para trás em uma gargalhada gostosa.
— Enquanto você fizer pães maravilhosos, eu continuarei a rouba-los. — Bati uma mão na outra espantando um pouco da farinha.
— Mas que bagunça é essa aqui? — A voz grossa fez eco na enorme cozinha, fazendo com que nós duas déssemos um pulo pelo susto.
— Papai! — Corri para abraçá-lo.
Quanto tempo eu não fazia isso mesmo? Pois é, hoje eu estava nostálgica.
Me afastei observando o terno preto que agora continha farinha de trigo.
Meu pai encarou sua roupa e depois meus olhos.
Eu já tinha noção do que viria.
Ele se aproximou da bancada tomando um punhado daquele pó branco em sua mão direita.
— Cassius, a não é mais uma criança. Pare com isso. — Eliza gritou, tentando pausar a ação seguinte.
Me preparei para correr quando vi que ele já saia de seu lugar.
Corri em volta daquela bancada de mármore como se minha vida dependesse daquilo, mas não adiantou muito, já que o meu velho me alcançou com facilidade e jogou todo conteúdo no meu rosto.
Tossi algumas vezes antes de limpar o rosto; depois dei alguns sopros enquanto ouvia as gargalhadas dos presentes.
Me senti aquela criança sem problemas, em uma bolha de felicidade da qual seria impenetrável.
Abri os olhos, ainda limpando alguns resquícios e vi que meu pai me encarava com um lindo sorriso no rosto.
Foi para o jardim e pediu que eu o seguisse. Assim eu fiz.
Pisei na grama verde e aparada, ouvi o canto dos passarinhos e encarei o céu lindamente azul.
O sol realçava o azul dos olhos de meu pai.
— Filha... — Aproximou-se, levando seus dedos ao meu rosto e limpando a sujeira que ele mesmo havia feito. — Obrigado, . Obrigado por ser essa filha maravilhosa. Eu tenho muito orgulho de você. — Descansou as mãos em minhas bochechas. Segurando firme, mas terno. — Tenho estado distante em todos os momentos em que você mais precisa de mim e me sinto muito culpado. Me sinto impotente em saber que não posso juntar alguns pedacinhos quebrados dentro de você. Eu sinto muito por tudo que vem acontecendo em sua vida. Prometo que serei mais presente. — Pousou seus lábios em minha testa, fazendo uma paz enorme crescer em meu coração.
Eu não estava sozinha. Eu nunca estive.
— Prometo que farei o impossível para que você, minha filha, seja feliz. — Segurou minhas mãos, acariciando de leve meus dedos. — Sabe, sua mãe... — Pausou, procurando forças para continuar. — Sua mãe estaria orgulhosa de quem você é. Não, ... ela está. Está sim. — Balançou a cabeça positivamente e sorriu.
— Papai... — Uma lágrima solitária escorreu pelo canto do meu olho.
Levei a mão até o rosto e a limpei sobre o olhar preocupado de meu pai.
— Desculpe, eu ainda não consigo falar dela sem me emocionar. — Sorri sem mostrar os dentes e recolhi minhas mãos que estavam entrelaçadas a dele. — Eu estou tão confusa com alguns sentimentos, papai. — Olhei para ele envergonhada, pensando se devia mesmo falar sobre aquilo.
— Como assim, filha? — Escondeu as mãos no bolso de sua calça social.
— Ahn... nada, pai. Deixa pra lá. — Gargalhei, nervosa. — Bobeira minha. — Olhei para os lados, tentando fugir do assunto.
— Se não quiser falar, tudo bem. Porém, saiba que eu sempre estarei disposto a te ouvir. — Acariciou meu ombro.
— Obrigada pelas coisas que fez e que faz por mim. Por tudo o que disse e por tentar ser sempre o melhor pra mim. Eu te amo muito, papai; mais que eu possa explicar. — Quebrei a distância entre nós, abraçando-lhe com toda a força que eu tinha.
Ali, encostada em seu peito e ouvindo sua respiração, me lembrei o quão era bom sentir-se protegida; como a criança feliz, que, um dia, eu fui.
Passei o dia todo com papai e Eliza, até que decidi sair um pouquinho de casa. Era por volta de 15:50.
Assim que sai da cafeteira com meu cappuccino pude sentir a brisa gelada em meu rosto. O clima estava meio doido. O sol brilhava forte, mas ainda estava frio. Coloquei meus fones de ouvido, me aconcheguei no meu sobretudo e decidi que iria dar uma volta pela cidade.
Segui pelas ruas movimentadas de Nova York enquanto me deliciava com resto da bebida que ainda tinha em meu copo. O dia definitivamente não tinha sido da forma que eu imaginava, mas até que eu estava feliz com isso. Eu não esperava ter aquela conversa com meu pai, mas fico feliz que tenha acontecido.
Joguei o copo vazio no lixo e virei a esquina com um sorriso no rosto, que logo desapareceu quando senti alguma coisa atingir minha cabeça. O cheiro era forte e não podia ser o que eu estava pensando!
— Cara, só pode estar de sacanagem, né? — Bufei ao constatar que algum pombo tinha cagado no meu cabelo. É, , óbvio que um pombo iria cagar em você quando você tá de boa. Caminhada cancelada. Melhor eu virar pela rua 104 e ir para a casa.
Segui pela 104 e, enquanto eu passava pela travessia que levava a rua 107, avistei uma silhueta coincidentemente familiar. Continuei andando e percebi que era Melanie. Legal. Era só o que faltava agora. Eu dar de cara com ela enquanto estava toda suja.
Meu plano era seguir direto e fingir que não vi, mas não pude evitar de parar quando ela me olhou nos olhos enquanto recebia ajuda de um velhinho. Primeiro pensei que era só mais um de seus casos como acompanhante de luxo, mas depois percebi que ele estava ajudando-a colocar suas malas no carro.
— Parece que alguém vai tirar longas férias. — Falei, me aproximando.
— Essa mala rosa você pode colocar ali em cima, por favor. — Ela indicou ao senhor e se virou para mim. — Bom, não são apenas férias.
— Ah, então você está de mudança? Vai para qual parte de Manhattan?
— Para a parte que fica fora dela, na verdade. — Ela deu um sorriso e arrumou uma de suas mechas loiras atrás da orelha.
Fiquei confusa.
— Meu Deus, ! O que aconteceu com seu cabelo? — Melanie questionou, fazendo uma cara de nojo.
— Algum pombo achou que minha cabeça parecia uma privada. — Respondi, meio emburrada por lembrar que tinha cocô no meu cabelo. — Eu sei, eu sei, tá uma merda – literalmente – mas, voltando ao assunto: Como assim fora de Manhattan? Você vai para o Brooklyn? Queens?
Ela deu uma risadinha. Tinha alguma coisa diferente nela. Ela parecia mais leve, não sei. Aquele olhar maldoso de sempre já não estava mais ali.
— Tô saindo de Nova York. — A garota respondeu, enquanto pedia para que o ajudante colocasse a mini-mala preta com cuidado no banco da frente. — E dos Estados Unidos também. Eu vou ir morar com minha tia, na Alemanha.
— Quê? — Levantei as sobrancelhas, atônita. — Mas e o curso? Sua família? Sua vida aqui?
Eu não me importava de fato, mas estava curiosa. Que tipo de pessoa simplesmente vaza assim?
— Você já sabe que as coisas não estão boas para mim, . — A loira falou com uma voz baixa. — Eu cansei de fazer aquela coisa. Não posso arruinar minha vida e ser infeliz pelos erros do meu pai. Na Alemanha eu vou poder começar um curso que eu realmente queira e vou ser acolhida pela família que tenho lá.
— Mas e o ? — Soltei e logo me arrependi das palavras que saíram da minha boca. Mas que merda, ? Desde quando você se importa para onde a Melanie vai? E por que diabos você foi falar do ?
— Nós duas sabemos que ele está melhor sem mim. De todas as merdas que já fiz nessa vida, a que mais me arrependo foi ter magoado ele. — Pude perceber um marejo em seus olhos, que logo se desfez em um sorriso triste. — Olha, , eu sei que fui babaca com você várias vezes. Eu nem sei dizer o porquê, na real. Eu acho que só descontava a amargura que minha vida era nas outras pessoas. Me desculpa por tudo.
Ok, agora esse dia realmente tinha se tornado o mais aleatório possível. Eu realmente não me importava com a Melanie, mas, sei lá, era estranho pensar que eu nunca mais veria ela de novo. Eu sei que passei muito tempo desejando que isso acontecesse, mas, agora que está acontecendo, é bizarro.
— Eu sei que uma desculpa não arruma tudo, mas é só o que eu posso te oferecer agora. Eu até te abraçaria, mas você tem cocô de pombo na cabeça. — Apontou para meu cabelo.
— Senhorita, deveríamos continuar para não perder o vôo. — O senhor falou.
— Olha, Melanie, tá tudo bem. Mesmo. Sem remorsos. — Sorri. — Pode seguir sua viagem com a mente limpa em relação à mim. Eu espero que dê tudo certo para você lá na Alemanha e que você seja mais feliz que aqui.
— Obrigada, . Isso significa muito. Mais que você imagina. — Ela sorriu e caminhou até a porta do carro. — Fica bem e, pelo amor de Deus, dá um jeito nesse cabelo.
Ela entrou no carro e, antes que eu virasse, abaixou o vidro:
— Cuida do , . Ele merece tudo de bom.
— Pode deixar. — Sorri e acenei, vendo o carro preto partir.
Uau. Que conversa... libertadora, eu acho. Segui pela rua que levava até minha casa e resolvi fazer um tweet sobre o que tinha acabado de acontecer. Eu ainda estava chocada em como isso tinha sido inesperado, bom e estranho ao mesmo tempo.
TWITTER ON
Isso sim foi um final inesperado.
TWITTER OFF
Depois de alguns minutos andando por Nova York, enquanto enfrentava o vento frio e olhares de nojo para meu cabelo, cheguei em minha casa.
Respirei fundo antes de entrar e refleti brevemente sobre a vida. Eu não entendia direito e era até um pouco estranho, mas, de alguma forma, uma sensação de desfecho preenchia meu peito. Não era somente pela Melanie, não. Era um sentimento maior, como se algo estivesse chegando ao fim. Eu só não entendia direito o quê.
Capítulo 17
Após chegar em casa, tomei um banho e sentei-me no banco-balanço que tinha no jardim.
Eu estava escovando meus limpos e cheirosos cabelos enquanto balançava bem devagarinho. A brisa leve fazia algumas folhas voarem de um lugar ao outro. Eu estava alegre, embora não entendesse direito o porquê. Meu celular começou a tocar e fiquei surpresa com quem era. não costumava ligar, então atendi depressa.
— Alô, ? — Falei, unindo minimamente as sobrancelhas, fazendo uma pequena ruga formar em minha testa.
— , pode falar? — Notei que sua voz soava chorosa e baixa.
— Claro, meu amor. Aconteceu alguma coisa? — Me mexi, desconfortável, fazendo o balanço remexer um pouco.
— Minha mãe foi parar no hospital de novo. — Fungou e fiquei de pé com o susto.
— Como assim, hospital? — Me desesperei, gritando no ouvido do coitado.
— Calma, ! Calma! Para de gritar. — Tentava me acalmar em vão. — Para o nosso alívio, ela já está melhor. — Falou e finalmente consegui sossegar. — Ela esqueceu de tomar o remédio de pressão, e o médico explicou que, quando se interrompe o uso da medicação de hipertensão, mesmo que por poucas horas ou dias, o corpo sente falta do medicamento e a pressão volta a subir em curto prazo. — Explicou, agora com sua voz mais normalizada.
— Ai, . — Coloquei a mão sobre o peito. — Quase morro do coração. Ainda bem que a tia melhorou. — Suspirei e sentei no banco de novo. — Mas, e ai? O que tem feito? — Mudei de assunto.
— Nada de interessante, na verdade. — Fez um barulho com a boca. — Mas pensei em algo que nós dois poderíamos fazer. — Sua voz era animada.
— O quê?
— Sabe a casa do lago? — Perguntou, fazendo-me sorrir involuntariamente.
— Claro que sei. Eu amava aquela casa. Quanto tempo a gente não vai mais lá? — Apoiei a mão no queixo e olhei para o céu, pensativa, tentando lembrar quanto tempo eu não ia naquele lugar.
— Poxa, tem muito tempo mesmo. O que acha de irmos passar um tempinho lá? — Disparou, me fazendo arregalar os olhos. — Como amigos, obviamente, . Acho que seria bom para nós! — Afirmou.
— Hmmm... nesse caso, podemos ir sim. Não que eu tivesse cogitado ir de outra forma, . — Brinquei com a voz séria e pude ouvir um risinho do outro lado da linha. — Minha vida amorosa já está enrolada o suficiente para mais uma pessoa entrar. — Gargalhei da minha própria desgraça.
— Como assim? Do que eu não estou sabendo, Senhorita ? — Usou seu tom brincalhão para sondar, me causando um riso.
— Te conto tudo quando formos para a casa do lago, pode ser? Quem sabe você não me ajuda com os seus ótimos conselhos!
— Quem além de mim poderia te dar conselhos maravilhosos? E nem pense em dizer ! — Falou antes mesmo que eu pudesse responder a primeira pergunta. — Leve sua roupa em uma mochila e não esqueça o biquíni. — Instruiu, entusiasmado.
Há tempos eu não me sentia animada para fazer algo.
— Beleza, amorzinho. Que horas eu tenho que acordar amanhã? — Me preparei para ouvir 06:30 da manhã e fechei um olho.
— Em vinte minutos estou ai. É melhor correr. TIC, TAC! — Falou e desligou na minha cara.
— Não acredito. — Tirei o celular do ouvido e encarei a tela pensando se ele estava brincando ou não. Por via das dúvidas eu já estava de pé e caminhando para dentro de casa.
Fui em direção ao meu quarto e abri o closet, retirando de lá um vestidinho azul bebê, um short jeans, duas blusinhas básicas e meu pijama. Abaixei e abri a gaveta pegando algumas calcinhas, meu biquíni e a caixinha de escovas reserva.
Dentro da necessaire, coloquei a caixinha de escovas, creme corporal, desodorante e creme dental.
Peguei a mochila que eu não usava mais desde o colegial e coloquei as roupas dentro.
Enquanto arrumava tudo, uma cena veio em minha cabeça:
Nós dois corríamos por toda a grama até cairmos debaixo da árvore.
— Ei, ? — Chamei o garotinho que agora encontrava-se com perninhas de índio.
Ele me encarou com os olhinhos brilhando e com a cabeça tombada para o lado.
— Que foi? — Cutucou minha canela com seu dedo indicador.
— Você sabe o que é beijo na boca? — Perguntei, inocente.
— É aquilo que os adultos fazem, né? Meu papai e minha mamãe estavam fazendo isso ontem antes da gente vir pra cá. Foi nojento. — Colocou a língua pra fora e fez uma cara de repulsa total, o que foi bem engraçado.
— É sim. — Juntei os dois pequenos dedos de minhas mãos, mexendo frenética. — Eu tava curiosa. — Joguei as duas tranças para trás.
— Curiosa com o que? — Fez um beicinho.
— Eu posso dar um beijo em você? — Falei com toda coragem que tinha dentro de mim, porém morrendo de vergonha.
— Em mim? Beijo no rosto ou na boca? — Uniu as sobrancelhas pensativo.
— Na boca. — Apontei para boca.
— Não sei não, . Isso parece ser esquisito. — Balançou a cabeça negativamente, mas olhou para o lado pensando em algo. — Tá, tá. A gente pode tentar. Mas se for ruim não vamos fazer nunca mais. — Cruzou os braços.
— Tá bom. Eu prometo. — Estiquei a mão e ergui meu dedo mindinho, cruzando com o do meu amigo. — Promessas de dedinhos não podem ser quebradas. — Abri meu melhor sorriso. — Chega aqui perto. — Bati no chão ao meu lado.
Observei os movimentos lentos do garoto que parecia muito envergonhado, o que era notório por conta de suas bochechas gordinhas estarem rosadas.
— Fecha os olhos. — Ele obedeceu. — Tá. — Falei mais pra mim do que para ele.
Me aproximei do rosto do garotinho e juntei nossos lábios em um selinho casto, ficamos alguns segundos com as bocas coladas, até que me afastei e abri os olhos.
— Ei, não foi tão ruim assim. — falou abrindo um sorriso.
— Verdade. — Soltei alguns risinhos. — Não podemos contar isso pra ninguém. Promete que não vai contar para seu papai nem pra sua mamãe? Eu também não vou contar para os meus. — Olhei para o garoto que prontamente estendeu seu dedinho, e eu entrelacei o meu, abrindo um grande sorriso.
— Promessas de dedinhos não podem ser quebradas. — Falamos em uníssono.
Despertei ao ouvir o som da campainha e, como não havia ninguém em casa, sai sem me despedir. Mais tarde mandaria alguma mensagem avisando.
Coloquei a mochila em um ombro e desci as escadas correndo. Abri a porta e atravessei o jardim, encontrando encostado no capô de seu Audi preto.
— Preparada para mergulhar de volta à infância? — Disparou, abrindo a porta do carro de forma cordial.
— Que cavalheiro. — Fiz uma saudação, como se puxasse um vestido imaginário, o que fez meu melhor amigo gargalhar.
— Comprei algumas besteiras para comermos e comprei macarrão pra fazermos aquele molho maravilho, sabe? — Me olhou já dentro do carro, passando o cinto pelo corpo e imitei o seu gesto.
— NOSSA, O MOLHO QUE VOCÊ FAZ É MUITO BOM! — Levei a mão até a boca e dei um beijo na ponta dos dedos.
ligou o som e aumentou.
What would I do without your smart mouth
(O que eu faria sem sua boca esperta)
Drawing me in and you kicking me out
(Estou me arrastando e você me está me dispensando)
Got my head spinning, no kidding
(Estou com a cabeça a mil, sem brincadeira)
I can't pin you down
(Não posso te forçar a nada)
What's going on in that beautiful mind
(O que está se passando nessa mente linda)
I'm on your magical mystery ride
(Estou passando pelo seu mágico mistério)
And I'm so dizzy, don't know what hit me
(E estou tão confuso que não sei o que me atingiu)
But I'll be alright
(Mas eu vou ficar bem)
My head's under water
(Minha cabeça está embaixo da água)
But I'm breathing fine
(Mas estou respirando bem)
You're crazy and I'm out of my mind
(Você é louca e eu estou fora de controle)
'Cause all of me
(Porque tudo de mim)
Loves all of you
(Ama tudo em você)
Love your curves and all your edges
(Ama suas curvas e todos os seus limites)
All your perfect imperfections
(Todas as suas perfeitas imperfeições)
Give your all to me
(Dê tudo de você para mim)
I'll give my all to you
(Eu te darei meu tudo)
You're my end and my beginning
(Você é o meu fim e meu começo)
Even when I lose I'm winning
(Mesmo quando perco estou ganhando)
'Cause I give you all of me
(Porque te dou tudo de mim)
acompanhava a música com os olhos vidrados na estrada, que era iluminada apenas pelos fortes faróis.
Encarei o garoto ao meu lado com um sorriso triste. Ele me amava, eu sabia. Eu também amava ele, mas não do jeito que ele queria.
Encostei a cabeça no vidro e continuei a ouvir sua voz misturar-se à de John Legend.
— Estamos chegando já. Que horas são? — Desviou o olhar da estrada.
— São 19:43. — Acendi a tela do celular.
Após alguns minutos, parou o carro desceu e abriu o enorme portão. Adentramos a prioridade da família e ele saiu para fechar o portão novamente.
seguiu devagar com o carro por mais alguns metros e pude avistar o extenso píer do lado direito da casa e o enorme lago que refletia a lua e as estrelas.
Ele estacionou o carro na pequena garagem da casa. Ajudei levando as mochilas para dentro enquanto ele carregava as sacolas com comida.
Girei a maçaneta e adentrei o cafofo. Tinha me esquecido de quão linda era essa casa. Seu estilo rústico com pedras na parede eram de tirar o folego; os móveis de madeira clara estavam polidos e se contrastavam perfeitamente com a madeira escura do chão. A lareira de mármore dava um quê elegante para o local e o tapete de pelo cinza me fazia queria deitar naquele chão e dormir. Era possível ver o lago pela enorme janela da sala.
Coloquei as mochilas no chão e me sentei no sofá de couro marrom. veio ao meu lado e encostou sua cabeça em meu ombro.
— Lembra de como amávamos nadar nesse lago? — Indicou com a cabeça, escondendo a mão esquerda no bolso da calça.
— Como eu poderia esquecer? Você que me ensinou a nadar, seu bobo. — Revirei os olhos.
— E a vez que você se afogou? — Gargalhou, mas logo parou fazendo uma cara estranha. — Eu fiquei desesperado. — Olhei pra ele rindo demais.
— Quando eu acordei você estava do meu lado com os olhos cheio de lágrimas e com o rosto vermelho. — Balancei a cabeça negativamente.
— Vem, chega aqui, vamos colocar a mão na massa. — Girou sobre os calcanhares e puxou minha mão.
Paramos na frente da bancada, e desembalamos os ingredientes.
— Opa, pera ai. — Foi até a sala e eu ouvi um barulho de zíper. Provavelmente ele estava abrindo sua mochila. — Olha o que eu trouxe aqui. — Ergueu a garrafa preta que eu jurava ser vinho.
— É vinho? — Cerrei os olhos tentando ler o rótulo.
— Claro! Vinho tinto. Um Concha y Toro. — Balançou a garrafa.
— Meu favorito. — Bati as mãos.
Colocamos o macarrão para cozinhar. Picamos a cebola, a calabresa e os dentes de alho. Preparamos o molho e colocamos o queijo ralado em um potinho.
— Tive uma ideia. — Olhei para , que levava as taças pra mesa. — Ativa as luzes de fora.
— Hã? — Parou os movimentos e me encarou com a sobrancelha erguida.
— Só faz o que eu tô mandando, . — Vi ele se distanciar, peguei a toalha que estava forrando a mesa e corri para fora da casa indo ao caminho do píer. Estiquei a toalha branca com detalhes em marrom.
Ouvi a voz de ao longe e gritei:
— HOJE VAMOS COMER FORA. — Dei alguns pulinhos animados.
— ÓTIMO, , MAS EU SÓ TENHO DOIS BRAÇOS. — Balançou as mãos.
Voltei correndo, peguei as duas taças em uma mão e o vinho na outra, enquanto carregava os dois pratos com macarrão.
— O cheiro tá incrível. — Inspirei, sentando na ponta do píer. Depositei as taças no chão, abri o vinho e despejei.
— Claro. Foi feito por mim, não tem como ser ruim. — Disse convencido, esticando o prato branco.
Dei a primeira garfada e quase gemi de satisfação.
— As mulheres só fazem essa cara por duas coisas. — Terminou de mastigar e levantou os dois dedos. — Por causa de um orgasmo... ou quando experimentam meu macarrão. — Apontou para o prato e comecei a rir demais.
— Você é um bobo. — Bati em seu ombro que tinha várias tatuagens espalhadas.
— Aí, doeu. — Mostrou a língua.
Continuamos comendo em silêncio e ao terminar, ele pegou os pratos e colocou de lado.
Dei mais o último gole no meu vinho e coloquei a taça no prato, deitando em cima da toalha. me acompanhou e deitou ao meu lado, apoiando a mão em sua barriga.
— Sabe, , eu estou um pouco confusa com alguns sentimentos. — Fechei os olhos por alguns segundos e abri novamente, encontrando me encarando com curiosidade.
— Quais sentimentos? — Ergueu a sobrancelha, interessado no assunto.
— Amor. — Falei, e a imagem dos dois me veio na cabeça. — Você já sentiu algo por duas pessoas ao mesmo tempo? — Torci os lábios.
— Pra se sincero, não. Eu amo uma só pessoa, e sinto que irei amá-la pelo resto de minha vida. — Olhou dentro de meus olhos e senti minhas bochechas queimarem. Desviei meus olhos para o céu.
— Uma estrela cadente. — Falamos juntos.
— Vai, fecha os olhos e faz um pedido. — Apertei forte os meus olhos e mexi os lábios devagar.
— Pediu o que? — Ouvi a voz de e virei para ele.
— Se eu te contar, não vai se realizar. — Mostrei a língua e ele me encarou, levando a mão até meu rosto e deixando um carinho na minha bochecha.
Sorri para e levantei devagar.
— Vamos entrar? Tá ficando frio aqui. — Falei, tentando cortar aquela situação antes que ele fizesse algo que nos deixaria desconfortável.
— Vamos sim. — Me acompanhou, carregando as coisas para dentro.
Após lavarmos a louça, foi até o som e ligou a música.
Era uma melodia lenta…
— Você lembra de quando ensaiamos os passos para o baile de formatura do colégio? — Deu um sorriso balançando a cabeça.
— Como eu poderia esquecer? — Peguei em suas mãos. — Vamos ensaiar de novo? — Brinquei.
Ambos estavam descalços. Coloquei meus pés sobre os pés do meu amigo que foi me guiando.
Nós girávamos pela casa ao som daquela música lenta até que nos cansamos e começamos a assistir um filme.
Adormecemos ali mesmo naquele sofá.
Acordei com uma puta dor nas costas pela posição em que dormi no sofá.
Senti o cheiro forte do café e fui até a cozinha, coçando os olhos e tentando espantar o sono.
— Me dá café? — Pedi, manhosa, com um bico enorme formando-se nos lábios.
— Que bonitinha. — falou, olhando meu estado claramente deplorável, com os cabelos bagunçados e a cara inchada.
— Conta outra, vai. — Puxei a cadeira e sentei.
— Você costumava acordar mais bem-humorada. — Gargalhou, esticando a xícara com café colocando pães, torradas, biscoitos e frutas na mesa.
— Come pra gente ir nadar daqui a pouco. O dia tá lindo. — Apontou pela janela e eu admirei o sol radiante que aparecia lá fora.
Terminamos o café e eu fui para o quarto trocar a roupa. Vesti um biquíni vermelho e calcei os chinelos brancos.
— , VOCÊ TROUXE PROTETOR? — Gritei do quarto.
— Óbvio, quer que eu fique parecendo um pimentão? — Apareceu no batente da porta vestido apenas com uma bermuda tactel preta e balançando o recipiente com protetor solar.
— Vem cá, deixa eu passar pra você. Tem as tatuagens também. Senta na cama porque você parece um gigante perto de mim. — Gargalhei, despejando um pouco do creme branco em minha mão, passando pelos ombros e por toda extensão de seu tronco, dando mais atenção para as tatuagens.
— Qualquer um parece um gigante perto de você. — Devolveu, o que me fez dar um tapinha em seu ombro.
— Vira pra mim. Deixa eu passar no seu rosto. — Espalhei pelo rosto de meu amigo, fazendo seu nariz e bochechas ficarem totalmente brancos.
— Quer que eu passe em você? — Ouvi dele.
— Não precisa, anjinho. Vou passar só no rosto e nos ombros. Quero pegar um bronzeado e de quebra marquinhas, né? — Brinquei, saindo do quarto enquanto passava o protetor em meus ombros.
Sai correndo da casa com ao meu lado. Vi que não conseguiria correr mais do que ele e observei o garoto correr até o píer, segurar os joelhos e pular no lago.
Comecei a rir, batendo as duas mãos e me aproximei.
— Não vai entrar? — Ele espirrou água em mim.
— Vou tomar um pouco de sol primeiro. Tô muito sem cor, não acha? — Dei uma voltinha, pronta para sentar na espreguiçadeira colorida.
— Pra mim você tá ótima. — Apoiou ambos os braços na madeira do píer e impulsionou seu peso para cima, ressaltando alguns músculos. Sentou-se ali, com os pés na água.
Antes que eu pudesse raciocinar, segurou meu tornozelo esquerdo e puxou minha mão para que eu caísse dentro da água.
Levantei rápido, passando a mão pelos cabelos e respirando fundo.
— Não acredito que você fez isso. — Se eu tivesse raio laser como o Superman, com certeza estaria em maus lençóis.
— Sim, eu fiz! — Riu. — O que vai fazer agora? — Mostrou a língua e começou a assobiar.
— Vou devolver, irritante. — Falei e comecei a nadar para sair do lago.
— Pra isso você vai ter que me pegar. — Saiu correndo e se escondeu atrás das árvores.
— AH NÃO, QUE RAIVA! — Eu ia sondando, devagar, sentindo as gotas escorrendo pelo meu corpo e o vento quente bater contra meu rosto. — TE ACHEI. — Sai correndo pelas árvores mas parei assim que senti uma dor horrível. — AÍ, QUE DROGA. O QUE EU TENHO NA CABEÇA PARA FICAR CORRENDO POR AI SEM CHINELOS? — Gritei com os olhos fechados e levantei a sola do pé para ver o que tinha me furado e vi uma grande quantidade de sangue.
— O que foi? — saiu de trás da árvore e se aproximou olhando para mim, preocupado.
— Porque tem vidro aqui? — Fiz uma cara confusa, me apoiando em meu amigo.
— Devem ser os amigos do papai que vem pra cá de vez em quando e com a baderna podem ter quebrado algumas garrafas. Que merda. Vem, vamos cuidar disso. — Me guiou para dentro da casa.
— Tem caixinha de primeiros socorros? Posso limpar, tomar um banho e fazer um curativo decente depois. — Suspirei.
— Tem sim, . Quer ajuda? — Me levou até o banheiro e me colocou sentada no vaso. — Vou pegar aqui. — Abaixou e abriu o grande armário que ficava do lado esquerdo. — Aqui, ó. — Me entregou a caixinha branca. — Se precisar de mim, vou estar no outro banheiro. Já trago sua roupa.
Encarei o machucado e falei:
— Cacos de vidro nunca são uma coisa boa, especialmente se eles estiverem presos em seu pé. — Pressionei em volta da ferida para tentar localizar o vidro.
Abri a caixinha, peguei o álcool 70, uma pinça, cotonetes, algodão e gaze. Coloquei tudo sobre a pia e fiquei de pé, evitando encostar no chão a área afetada.
Abri a porta de vidro preta do box e liguei o chuveiro, retirando o biquíni com dificuldade e deixei a água fria atingir todo meu corpo e pé. Tomei meu banho, sentindo uma ardência horrenda por conta do sabonete, mas nada que eu não pudesse suportar.
Peguei a toalha branca enrolada na prateleira e me sequei enrolando-a em meu corpo.
— Vamos começar, né? — Sentei novamente no vaso e toquei meu pé.
Peguei a bolinha de algodão e encharquei no álcool, levando até a abertura, depois peguei um cotonete para me auxiliar. Como a pinça tinha ponta afiada, não seria tão complicado. Sorte a minha que eu conseguia ver o vidro, pois estava próximo à superfície da primeira camada de pele.
Após sentir um pouco de dor, eu finalmente consegui tirar o pedaço de caco de vidro.
Passei álcool novamente no meu pé, na pinça e fiz um curativo com a gaze. Guardei tudo e abaixei na altura do armário para guardar a caixinha, apertando mais a toalha em meu corpo.
Fechei a porta do armário e sentei no vaso novamente. Viajei por alguns segundos até perceber que uma parte alta da parede estava meio "solta." O que era aquilo?
Como a curiosa que sou, me levantei cuidadosamente, ficando em pé em cima da privada. Eu sei que ficar em pé no vaso é uma ideia estúpida e ninguém deve fazer, mas eu sou idiota. Empurrei aquele quadradinho solto da parede para baixo e fiquei na ponta dos pés, conseguindo enfiar minha cabeça naquele vão que tinha ali. Uma solitária caixinha vermelha me chamou atenção. Estiquei minha mão até tocar o objeto e desci da privada com a caixa nas mãos.
Assim que abri, não pude acreditar no que meus olhos viam. Minha boca estava aberta em um perfeito "O" e minhas pernas tremiam tanto que eu pensei que fosse cair a qualquer instante.
Tentei apoiar a caixa na pia, mas ela acabou caindo e espalhando as coisas pelo chão.,br />
Não podia ser. O que diabos era aquilo? Não podia ser mesmo. Meu coração acelerava como uma bomba relógio e minhas pernas estavam feito gelatinas. Um medo percorria meu corpo e, apesar de eu tentar buscar explicações para aquilo, não encontrava nenhuma.
— Aconteceu alguma coisa, ? Tá tudo bem? — bateu na porta. Sua voz soava preocupada.
— Ahn, é... tá sim, . Não se preocupa, já tô saindo, tá? — Falei com a voz trêmula. Tentava juntar as coisas sem emitir barulhos.
— Tá bom. Sua roupa tá no sofá. — Falou já com a voz distante.
Sentei no vaso, passando as mãos freneticamente pelos cabelos e arrancando alguns fios no processo. Mordi os lábios tentando conter o choro que vinha com força total.
Porque aquilo estava ali? O que eram todas aquelas coisas? Fechei forte os olhos e as coisas que estavam dentro da caixa começaram a me atormentar.
Guardei a caixinha no lugar e comecei a andar de um lado para o outro, sentindo meu pé direito doer.
Ok, , você precisa sair daqui. Você está em perigo.
Abri a porta do banheiro e corri para o quarto. Meu pé doeu demais, mas não parei por um segundo sequer. Peguei meu celular e liguei para . Só chamava. Ouvi os passos de se aproximando e em um ato de desespero mandei minha localização para no WhatsApp. Ela é minha melhor amiga, então saberia o que fazer, certo? Ela iria perceber que tem algo errado. Assim eu esperava.
Escondi o celular em baixo do travesseiro quando ele abriu a porta.
— Ei, tá tudo bem? Você ainda tá de toalha.
— Tá sim. Eu ia me trocar agora. — Falei, tentando sorrir. Ele percebeu que eu estava tremendo.
— Mas a sua roupa está no sofá. Eu avisei, lembra?
Meu coração gelou. Que merda.
— Ah, é. — Dei uma gargalhada que ele com certeza percebeu que era falsa. — Esqueci. Vamos lá na sala buscar comigo. — Tentei fingir com naturalidade e sai pela porta. Droga.
Peguei a roupa no sofá, voltei para aquele banheiro maldito e me vesti. Eu não estava conseguindo racionar direito. Eu estava apavorada e com medo demais para saber o que fazer. Por que caralhos eu tinha deixado meu celular no quarto? Eu sou muito burra, meu Deus. Respirei fundo, passei água no rosto e sai tentando parecer normal de novo.
— Eu tô com um pouco de fome. — Falei, saindo do banheiro. — Você pode fazer um almoço para a gente?
— Claro, . — Ele se aproximou de mim e meu coração quase saiu da boca. — Você tem certeza que tá bem?
Não consegui responder. Seu rosto estava a cinco palmos do meu e eu só conseguia olhar para a porta atrás dele. Quando voltei meu olhar ao seu, ele me olhava diferente. Ele sabia que eu sabia. Ele sabia, não é? É claro que sabia. Meu coração estava prestes a explodir.
— Ei, relaxa. — O garoto me abraçou. — Eu faria tudo para te proteger.
Naquele momento senti algo que eu nunca havia sentido antes. Um misto de emoções que eu não consigo descrever. Dei uma joelhada no meio de suas pernas e sai correndo pela porta, sem pensar em absolutamente nada. Eu corria desesperadamente pela floresta sem nem pensar. Eu só queria fugir.
Continuei correndo até sentir meus pulmões queimando. Em um piscar de olhos, tropecei em algo que não vi e bati a cabeça no chão forte demais. Tudo começou a girar e minha visão começou a falhar. Tentei me arrastar um pouco e a voz de ficou cada vez mais próxima. A última coisa que vi antes de meus olhos fecharem completamente foi seu rosto me observando.
Capítulo 18 - Parte 1
Abri os olhos, tentando estabilizar a visão que encontrava-se levemente embaçada. Senti um líquido quente escorrer em minha testa, chegando ao meu olho direito.
Balancei minha cabeça tentando – em vão – espantar a dor crescente em toda região óssea frontal. Foquei minha visão em um ponto da sala e identifiquei . Tentei levar a mão até o local que doía, mas não consegui. Desviei o olhar para baixo e encontrei minhas mãos e pernas amarradas por cordas pretas.
— Você acordou... — Arrastou a cadeira até minha frente, fazendo com que o barulho terrível da cadeira de ferro no chão de madeira ecoasse pelo cômodo inteiro.
— O que é isso? — Minha voz era baixa e fraca. Aquilo não podia estar acontecendo. Era um pesadelo; Um terrível pesadelo.
— Olha, , não era pra ser assim. Sinto muito por sua testa. — Tentou aproximar sua mão de meu rosto, mas afastei imediatamente. Meus olhos estavam arregalados e meu coração batia descompassado em meu peito.
— NÃO ENCOSTA EM MIM! — Gritei, fechando fortemente os olhos que ardiam.
— Por que você está agindo assim? Não percebe que fiz tudo isso por nós? — Abriu as mãos e bateu em sua perna.
— Por nós? Não existe nós, ! — Comecei a me alterar de novo. — E como assim tudo isso? Você poderia me explicar? VOCÊ PODERIA ME EXPLICAR, PORRA?! — Gritei a última frase.
— Não grita! — Seu tom de voz passou de doce para sombrio em questão de segundos. Eu não o reconhecia mais. Aquele não era o meu melhor amigo.
— Você jurou que não sairia do meu lado. Jurou que me protegeria. — Deixei uma lágrima solitária escorrer por minha bochecha.
— Mas eu estou aqui, . Eu nunca vou sair do seu lado. — Me olhou, querendo se aproximar novamente.
— Não chega perto de mim! Eu já falei! — Funguei, tentando me soltar do amarro das cordas, que machucavam a extensão de meu braço e pulso.
Observei os movimentos do garoto atenciosamente, enquanto ele depositava um objeto preto sobre a mesinha de centro. Era a pistola que eu havia visto dentro da caixa, junto com as imagens e uma faca. Arregalei meus olhos e vi ele caminhar até mim com as mãos, agora, escondidas no bolso da calça de moletom preta. Ele se abaixou um pouco, ficando na altura de meu rosto e pousou as mãos geladas em minhas bochechas. Senti um arrepio de medo correr pelo meu corpo.
Então, ele se aproximou e selou nossas bocas. Eu não fechei os olhos, e nem cedi a passagem quando sua língua tocou meus lábios, fazendo todo seu contorno. Em um ato impensado – ou não – mordi forte seu lábio inferior, fazendo ele se afastar rapidamente. Senti o gosto metálico predominar minha boca e soltei o ar pelo nariz, cuspindo logo em seguida.
— Olha, , se eu não te amasse tanto... — Pausou, limpando a boca e fazendo uma careta. — Talvez eu te odiasse um pouquinho. — Riu nasalado, voltando a sentar-se na cadeira, com as pernas abertas.
Encarei a janela, vendo que escurecia. Então, lembrei de algo que pedi a e entrei em desespero.
— O que foi? — Sondou, com a sobrancelha esquerda erguida.
— N-Nada. — Respondi e me bati mentalmente por gaguejar.
— Já que você quer saber de tudo, tá bem. Eu irei te contar. — Bateu ambas as mãos e cruzou sua perna. — Eu só peço para que você não me odeie. — Abaixou a cabeça.
— Não te garanto nada. Você fez suas escolhas, agora, aprenda a arcar com elas. — Minha voz soou mais nervosa que eu queria.
— Você vai ter que me entender. — Olhou dentro dos meus olhos, fazendo com que eu abaixasse o olhar com o medo que senti.
— Tá bom, , já entendi. Então, você volta só na quinta-feira, né? — Levantei o dedo, enviando o áudio logo em seguida. Deitei, esperando ele me responder e, sem perceber, acabei dormindo no sofá.
Umas duas horas e meia depois acordei com o barulho de um cachorro latindo do lado de fora. Peguei meu celular, cliquei no ícone do WhatsApp e, assim que abri, vi que minha amiga havia mandado uma localização.
WHATSAPP ON
: (LOCALIZAÇÃO FIXA)
: Que isso? A propriedade da família ?
document.write(Daya): ?
: Que droga, as mensagens não chegam.
WHATSAPP OFF
Meu coração parou quando me toquei que já fazia uma hora desde a mensagem. Puta que me pariu! estava em perigo. Corri até a cozinha, peguei minha chave, que estava no porta chaves, e corri até meu automóvel. Joguei a bolsa de couro no banco do carona e comecei a dirigir. Eu estava nervosa demais para pensar direito.
Desde sempre, eu e temos esse código de socorro: em situação de sério perigo e sem possibilidade de ajuda, nós mandaríamos a localização para a outra e, se em uma hora não déssemos notícias, algo muito grave tinha acontecido.
Eu sabia que não era brincadeira, porque sempre levamos isso a sério demais. Uma vez ela me salvou usando esse código quando eu fiquei perdida no meio da estrada pela madrugada e minha bateria estava acabando. Nem deu tempo de falar nada, mas a localização fez ela entender tudo. Agora, era minha vez de salvar minha melhor amiga.
Não tinha como falar para que eu estava indo buscar a . A propriedade ficava longe.
— Ah, claro. Eu sou idiota? — Falei, tateando o bolso da calça jeans.
Diminui a velocidade e procurei o contato do homem no meu celular.
Chamou umas três vezes até que a voz rouca e sonolenta soou do outro lado da linha.
— ? Aconteceu alguma coisa?
— , só escuta! Eu estou dirigindo. — Falei, prestando atenção no semáforo que indicava o sinal vermelho. — Vou te mandar um endereço, vou falar com uma outra pessoa e você vai para casa da . Vou pedir pra esse cara te pegar aí. Pode ser? — Perguntei, voltando a dirigir.
— Que cara? Você tá maluca? O que tá acontecendo? — Disparou várias perguntas.
— , faz o que eu tô mandando. Assim que eu ligar para , te envio o endereço e vocês vem para a propriedade. — Finalizei, apertando o volante com força.
— Ok. Quero explicações mais concretas depois, mas, vou cooperar, você parece estar muito...nervosa; E, se pensar que deixei a garota dele na mão, com certeza ele me mata. — Desligou, sem deixar eu falar mais nada.
Como eu não tinha o número do , fui até o Instagram e lhe mandei uma mensagem, torcendo para que ele visse.
Parei o carro em um acostamento da rodovia e troquei as seguintes mensagens com .
INSTAGRAM ON
: ?
: Oi?
: Aqui é a , amiga da , sabe?
: Claro que sei
: O que houve?
: Preciso que me faça um favor... você pode achar esquisito.
: Manda
: Preciso que pegue na frente da casa da e venham para o endereço que vou mandar pra ele.
: Mas... pra quê?
: A tá lá e não tá muito bem. Tô com um pressentimento ruim.
: Pode fazer isso por ela?
: Com certeza, tô indo pra lá agora.
: Obrigada
INSTAGRAM OFF
Após convencê-lo, disquei o número de rapidamente e passei o endereço.
— Okay, tô indo pra casa da . — Desligou.
Ao chegar em frente à casa de , avistou um Maserati Preto. O homem caminhou descontraído e com as mãos no bolso da jaqueta de couro. Parou ao lado do automóvel e deu três batidinhas no vidro, que abaixou prontamente, revelando alguém que ele conhecia muito bem.
— ? O cara do comercial da cerveja? — encarava com a sobrancelha erguida e a face em plena confusão. — Faz o que aqui? — Apontou para a mansão à sua frente.
— Vim tratar alguns assuntos com a . — Respondeu seco, sentindo o olhar do homem ao lado de sua janela dirigir a atenção para um carro que parava ao lado do seu.
— Ei, , né? Eu sou . A pediu para que eu te buscasse. — Sorriu receptivo e encarou o outro homem ali dentro do carro. — Vamos, rápido! Entra ai. Pelo que ela me falou, a não está muito bem. — Torceu a boca e sentiu uma sensação nada boa percorrer todo seu corpo. — Que sensação horrível.
— O que aconteceu com a ? — disparou, não conseguindo segurar as palavras em sua boca e a sua imensa curiosidade, passando a mão pelos cabelos, bagunçando mais que o de costume.
Os outros homens se entreolharam e viraram novamente para .
Que mal teria em contar?
— A está um pouco longe daqui, em uma casa no lago com o amigo dela. — não soube o porquê, mas sentiu seu estômago dar uma cambalhota ao imaginá-la com outro homem. Balançou a cabeça de forma rude como se isso resolvesse seus problemas. Ergueu a mão, pedindo para continuar. — Ela mandou mensagem pedindo para que a amiga fosse até lá pois não estava se sentindo muito bem, eu acho. A está achando estranho o comportamento da . Sei lá, né? Não deve ser nada, mas vale a pena dar uma olhadinha. pediu para que fôssemos atrás dela. Não sei o porquê, mas não ia discutir com ela. — finalizou a explicação com as mãos no volante, pronto para ir atrás de sua melhor amiga.
— Entendo. — encarava o horizonte pensativo. Não acreditava no que estava prestes a fazer. — Eu vou com vocês. Estou logo atrás. — Viu o carro arrancar à sua frente, balançou a cabeça negativamente e bateu a testa no volante. — O que essa garota tá fazendo comigo? — Deu a marcha e afundou o pé no acelerador. Era hora de tirar algumas coisas a limpo.
Eu encarava os olhos de que estavam levemente marejados. Por reflexo, virei a cabeça em direção à janela, ouvindo o farfalhar das folhas que sacolejavam de um lado para o outro, fazendo os galhos arranharem o vidro e emitir um som estridente e irritante.
— Eu comecei com . — Fechei os olhos e cruzei os braços sobre o peitoral coberto pela camiseta preta.
— Como assim começou com ? — As íris de eram um misto de sentimentos, mas a raiva sobressaia todos eles. Seu rosto estava completamente vermelho e eu estava curioso para saber o que se passava naquela cabecinha.
— Tudo começou no dia em que eu, você e fomos nos divertir naquela boate. Você se lembra? — Perguntei, retórico, cruzando as pernas e balançando devagar o pé direito. — Assim que cheguei na sua casa, subi as escadas sem fazer muito barulho, preparando-me para assustá-las, mas, antes que pudesse fazer qualquer coisa, escutei vocês duas com uma conversinha bem animada e me escorei na porta.
Eu estava atrás da porta, que nem um espião fodido ouvindo as duas garotas conversando. Me concentrei nas vozes no momento em que ouvi o nome de sair dos lábios de .
— Preciso te contar sobre o . — Fiz uma cara de confusão, imaginando o que ela teria para falar sobre ele.
— Meu Deus! Eu tinha me esquecido. — Ouvi a voz de em alto e bom som.
— Então... — Começou calmamente. — Nós transamos.
Meu mundo parou naquele instante. Sua voz continuava ao fundo contando do prazer que sentiu. Eu estava quase rasgando a pele das minhas mãos com a força que eu fechava os punhos. Ódio era o que eu sentia. Quem ele pensava que era pra foder com ela debaixo do meu nariz?
— ISSO É INCRÍVEL! — Sai do transe com o grito estridente de e entrei no quarto.
— O que é incrível? — Perguntei, tentando controlar a voz e o rosto carrancudo que queria tomar forma e me joguei no meio delas. Meu coração batia forte e eu queria de qualquer forma acalmar a respiração pesada.
— É incrível a ideia de sair de casa AGORA!
olhava para os lados, provavelmente buscando em sua memória o tal dia. Balançou a cabeça de forma violenta e me encarou, erguendo o queixo em um pedido mudo para que eu continuasse a explicação.
— Após isso, decidi dar um basta em tudo. Pensei um pouco sobre o que fazer e finalmente tive uma ideia. — Olhei pra ela, sério. Eu não achava graça em tudo que fiz, mas foi para o melhor. Eu sei que foi. Foi pela gente.
— Eu não acredito. Você não seria capaz, seria? — Resmungou, indiciando que iria começar a chorar.
— Não derrame suas lágrimas, . Eu não terminei. É apenas o começo. — Mexi os pés, inquieto. — Um dia eu e fomos nos divertir por ai. Beber, pegar algumas mulheres... — Ao falar isso, encarei a garota, que estava com o rosto virado. — Em uma conversa com o Bhuwakul, descobri que ele já estava pronto para ir embora. Seus dias estavam contados, porque seu visto durava só mais dois meses. — Expliquei com tranquilidade, movimentando ambas as mãos ao falar. — Naquele mesmo dia, eu coloquei algumas coisinhas no porta-luvas de . — Juntei as mãos.
— V-Você... foi você. A denúncia anônima. Você armou tudo! Como pôde? Ele era seu amigo! — Balançava seu corpo de um lado para o outro, tentando se livrar das cordas.
— Se ele fosse meu amigo, não teria feito o que fez! Não teria ficado justamente com você! — Gritei, com raiva. — Eu usei o pretexto do visto, pois sabia que guardava o mesmo no porta-luvas do carro. Acharam o visto e também os dois quilos de cocaína. — Respirei fundo. Eu não tinha nenhum arrependimento do que fiz, mas sentia muito que tivesse chegado à este ponto. Nada disso teria sido necessário se ele tivesse ficado no seu devido lugar. Amigos não transam com a garota que você ama.
— VOCÊ É LOUCO! RETARDADO! — Gritou, chorando muito. Vê-la daquele jeito me deixou com o coração pequenininho.
— Ei, calma! Ele não foi preso. — Tentei argumentar, acariciando a pele exposta de seu ombro.
— TIRA A PORRA DESSA SUA MÃO IMUNDA DE MIM! — Me afastei, assustado. — Você acabou com a vida dele. Todos os trabalhos. Porra! Você tem noção da merda que você fez? — A indignação na sua voz saia em forma de grunhidos.
— , foi pelo seu bem. Ele não era bom o suficiente pra você. Eu fiz porque te amo. — Me aproximei, acariciando seu rosto. — Você PRECISA entender! Foi por você!
— Caralho, para! Sai daqui! Some da minha frente! Você morreu pra mim. Eu te odeio! — Ouvir aquilo foi como um soco no estômago e meu coração parece ter sido esfaqueado e tomado um banho de álcool depois.
— M-me odeia? — Meus lábios tremeram, assim como as minhas mãos. Virei alcançando a pistola e apontei para ela. — VOCÊ ME ODEIA? — Levei a mão esquerda ao meu cabelo bagunçando-os mais que meus pensamentos. Parei assim que ouvi a porta ranger.
Meus dedos falharam e a pistola escorregou de minha mão. Não podia ser! Que porra! Estava cada vez mais difícil ter um final de semana a sós com . Abaixei e peguei a arma.
Os olhos da garota na porta me encaravam com um medo evidente. No entanto, ela continuava parada, com a boca entreaberta, tentando puxar o ar que provavelmente não ia de encontro aos seus pulmões.
— , CORRE! — gritou para a amiga, que finalmente conseguiu mover-se para fora da casa.
Sai correndo atrás da garota com a arma em punho.
— VOLTA AQUI AGORA, SENÃO EU ATIRO EM VOCÊ. — Ordenei e a vi vacilar, porém continuou a correr. — ÓTIMO, ENTÃO EU ATIRO NA . — Eu nunca faria aquilo, mas, se era para causar medo na garota, então que fizesse direito.
Mirei o céu e atirei uma vez, vendo a mulher de cabelos cacheados virar e correr até mim.
— Ok, ok. Não precisa disso! — Aproximou-se com as mãos para cima, pedindo por calma.
— Entra quietinha e eu não te machuco. — Empurrei ela com o braço.
— DAY... — gritou, assim que sua amiga caiu de joelhos.
— Tá tudo bem, . Vai ficar tudo bem. — Ela sorriu. Sorriso do qual eu fiz questão de tirar de seu rosto ao acertá-la com uma coronhada.
Não podia arriscar e esperar que ela acordasse e lutasse contra as amarras que eu havia acabado de fazer ao redor de seu corpo.
Depositei a garota sentada em uma cadeira, tudo sobre o olhar de , que me encarava como se pudesse me matar.
— Onde paramos? — Perguntei, com um dedo no queixo, enquanto batia o pé no chão. As primeiras estrelas apontavam no céu. Até que passou rápido. — Quer esperar a sua amiga acordar ou eu posso contar?
— Anda logo. Não vejo a hora de não olhar nunca mais para sua cara. — Soltou entre dentes. Era visível o ódio que ela sentia naquele momento.
— Vamos então para aquele professor aproveitador. , certo? — Escondi as mãos no bolso da calça, mas logo retirei, sentando na cadeira e pousando no meu colo. — Eu não tinha nada contra o cara... de início. Mas, depois do que eu vi, eu sabia que deveria tirá-lo de circulação. — Minha voz era amargurada e até um pouco mais grossa que o normal.
— O que você fez com ele, ? — Fechou seus olhos fortemente e mexeu suas bem amarradas pernas.
— Bom... primeiro irei contar o que eu vi para chegar a tal ponto. Foi decepcionante, . Eu sei que você já fez más escolhas na vida, mas, aquilo, eu não esperava. Eu estava ali e você foi se envolver com aquele professorzinho de merda? Lamentável.
Eu estava dentro do carro esperando a última aula de acabar. Ela estava demorando mais que o normal, visto que já tinham se passado 20 minutos desde que o sinal tocou.
Abri a porta do carro e senti o vento cortante acertar meu rosto e bagunçar meus cabelos. Enfiei a mão no bolso da calça jeans surrada e caminhei despreocupado corredor à dentro.
Esbarrei com a Melanie na porta e, já que ela era da turma da , resolvi perguntar se ela tinha a visto.
— Ei, Melanie, você viu a ? — Passei a mão na nuca. Se ela fosse grossa comigo, eu seria com ela. Ela nem gosta da . O que eu tenho na cabeça pra perguntar também?
— Ahn... oi. Bom, ela foi pra sala 07 ajudar o professor a levar os livros. Só o que eu vi. — Falou seca e virou as costas.
Andei um pouco mais e virei o corredor da esquerda; Foi quando vi a sala 07, aquela com a porta da cor marfim, com um vidro no centro.
Cheguei perto da porta e ouvi um barulho estranho. Como se uma mesa estivesse sendo balançada. Olhei pelo vidro e vi duas silhuetas.
— Nem fodendo. — Murmurei, rangendo os dentes em minha boca. — Isso não vai ficar assim. — Forcei a vista para ter certeza que era , já que o vidro só possibilitava de ver sombras.
Procurei o celular em meus bolsos e comecei a gravar. Esse cara vai se ver comigo.
Ouvi um gemido e me afastei. Não poderiam saber que eu estava ali. Guardei o celular no bolso e voltei correndo para o automóvel. Bati a porta e descansei a cabeça sobre o encosto do banco.
— Contra fatos, não há argumentos.
— Você... não! — Balançava a cabeça e lágrimas apareceriam em seus olhos.
— Sim. — Confirmei e voltei a explicar, mesmo com os gritos da garota no fundo. — Eu fui até o diretor Satterfield e mostrei o vídeo. De início ele não acreditou muito e pediu para sua secretária chamar o professor . Eu assisti tudo e ele estava bem nervoso. Não parava de gaguejar. — Ri pela lembrança de ver aquele desgraçado se tremendo no canto da sala. — Ele evitou tocar em seu nome e ainda pediu para que você não fosse punida. Da pra acreditar? Que cavalheiro! — Zombei e apontei pra ela. — É uma pena que ele tenha sido só demitido. Ele merecia pior! Aproveitador de merda!
— O que mais dói em mim, , é saber que VOCÊ, quem eu julgava ser meu melhor amigo, espalhou essa porra de vídeo para o campus inteiro. TEM NOÇÃO DE COMO EU ME SENTI UM LIXO? COMO EU ME SENTI MAL COM TODOS AQUELES OLHARES? Você é podre. — Um desgosto enorme surgiu em mim ao ouvir as palavras proferidas por aqueles lábios tão lindos.
— Não me culpe, ! A escolha foi sua. Você que caiu na lábia dele. Se você tivesse me visto como eu te via, coisas assim jamais aconteceriam. Mas tá tudo bem, tá tudo bem. Foi o melhor para você. — Pausei em casa frase.
— Você é um dissimulado. Veio todo bravinho pra cima de mim dizendo que era preocupação, mas era só parte da sua ceninha ridícula.
— Agora, por último, mas não menos importante, vem ele. Aquele que te atormentou em todos os seus pesadelos. — Observei o seu olhar de pura confusão estabilizar.
— O-o que? — Gaguejou e eu sorri. Tão perfeita. Linda como uma boneca. Ela se metia em tanta confusão que nem notava, tadinha. Cabia a mim proteger ela. Sempre.
— Isso mesmo, . Eu fui o culpado. Eu matei Ian Collins. — Revelei e sorri, sorriso que morreu ao ver os olhos delas lacrimejando.
— V-Você é um assassino... — Sussurrou em um fio de voz quase inaudível.
— Eu fiz isso por você! Pela sua segurança. Vamos, , amor, não seja ingrata. Se eu o deixasse vivo, ele poderia te estuprar de novo ou sei lá, até te matar. Eu não perderia a chance diante dos meus olhos. — Cuspi as palavras, encostando-me na cadeira, com os braços cruzados.
— Cala a porra da boca. Não toque nesse assunto. Eu não quero ouvir! CALA A BOCA. — Ela espumava de tanta raiva. Eu nunca a tinha visto daquela maneira. Obviamente toquei em um assunto muito delicado, do qual ela teria que ouvir.
— Não quer saber como foi satisfatório vê-lo pedir pela vida enquanto eu cortava sua pele com a lâmina? Ou de quando eu vi a expressão de medo e pavor que tinha no rosto dele quando disparei em sua cabeça? — Apoiei os cotovelos no joelho chegando mais perto dela, que estava imóvel. — É, . Eu fiz. Eu fiz o que tinha que ser feito! Eu fiz o que nenhum dos seus namoradinhos mariquinhas teriam as bolas para fazer. Eu fiz por amor. POR VOCÊ! Eu fiz e faria de novo para te manter segura. Você não mereceria passar por nada que aquele desgraçado fez. E aparecer no baile? Aquilo foi a gota d'água. Aquele desgraçado merecia pagar. Então, sim, , agora você vai ouvir a história, você queira ou não.
Eu cheguei na festa sendo recebido por , que estava com sua máscara em mãos.
As paredes do local eram pintadas na cor creme e tinha uma grande escada no meio do saguão principal coberta por um carpete vermelho vivo.
— E ai, ? Como você tá irmão? — Tocou na minha mão e me puxou para um abraço de lado. Eu não tinha nada contra ele. Na verdade, era sempre bem-vindo.
— Eu tô ótimo, . — Retribui seu cumprimento dando três tapinhas em suas costas cobertas por um terno de linho azul escuro, quase preto. — Vou entrar e tomar alguma coisa, beleza? — Assisti o homem concordar com a cabeça e receber os outros convidados com a mesma animação.
Subi as escadas segurando o corrimão preto. Já no segundo andar, onde a iluminação era quase escassa, a não ser pelas luzes roxas no teto e o pisca-pisca que salpicava o enorme espelho na parede, observei as pessoas e parei em um rosto conhecido.
Me afastei e sondei de longe, atrás da pilastra de mármore branco. Vi quando ele colocou a máscara que cobria todo seu rosto e ficou de pé, olhando para algo ou alguém na parte de baixo. Segui seu olhar e encontrei , que chegava com . Seu vestido era de um dourado lindo e os cachos em seus cabelos estavam estonteantes. Sorri sem perceber e vi que Ian descia as escadas.
Então ele estava de volta e eu estava ali para observá-lo.
Fiquei observando os movimentos de , desde quando ela parou para beber no bar, e finalmente me achou e veio conversar comigo.
— Que coisa mais linda. — Falei, segurando em sua cintura escultural e deixando um beijo em sua bochecha.
— Não mais do que você, . — Tocou meu nariz com um apertão e eu ri.
— Nossa! O fez um ótimo trabalho, não é mesmo? — Encarei seus olhos castanhos que brilhavam. — Aliás, máscara linda. — Elogiei.
— Fez, né? Obrigada. — Ajeitou a máscara, sem graça.
— Ele e os investidores. Creio que vá sobrar um fundo para guardar o dinheiro após o acabamento da reconstrução. — Finalizei, admirando os traços de sua boca.
Nossa conversa prosseguiu, mas eu pedi licença dando a desculpa que teria de falar com algum amigo.
Sai para fora ao som da voz de nos alto-falantes. Sentei-me em um banco, girando o copo de Whisky para dissolver o gelo e tentando relaxar a postura. Ter Ian no mesmo lugar que estava era fora de cogitação.
Eu já estava ali fora fazia um tempo, mas, como começou a chover forte, fui para debaixo da marquise e olhei para cima, vendo algumas rachaduras. Foi aí que vi uma movimentação estranha e fui até lá, ficando atrás de um grande arbusto que me cobria.
— Quem é esse, princesa? Seu guarda-costas? — Ele deu uma gargalhada. Eu continuava agachado. — Ela é minha, e só minha. Eu não admito que outros homens cheguem perto dela dessa maneira. — Ouvi passos pesados.
— Olha aqui, seu desgraçado, se você fizer alguma coisa com ela, eu acabo com a sua raça. — A voz de outro homem se sobressaiu.
— Olha só como você fala comigo. Não sabe com quem está se metendo. — Ian gritava, nervoso. Eu poderia imaginá-lo vermelho.
— E muito menos você. — O outro rebateu, fazendo minha curiosidade aguçar e eu apontei com a cabeça acima das folhas. — Some daqui antes que eu perca minha pouca paciência. — Avistei à frente de , protegendo-a.
— Não sabia que você curtia caras violentos, . Eu posso ser assim se você quiser. — Ao dizer isso, meu sangue ferveu e eu saí dali a passos decididos ao meu carro. Aquilo não ia ficar assim. Seria a última vez que ele faria isso com ela! Seria a última vez que ele trataria ela daquela maneira.
Apertei o controle do carro entre os dedos quase quebrando o e apertei para destravar o automóvel.
Entrei vasculhando o porta-luvas e toquei em um cilindro metálico gélido. Agarrei o objeto e puxei para fora. Encarei aquilo e coloquei na cintura, cobrindo com o blazer depois. Corri para cozinha, e como os garçons estavam servindo, pude pegar uma enorme faca. Se eu ia fazer isso, que fosse direito.
Subi para o segundo andar e virei o corredor da direita, indo até a sala de segurança.
Bati na porta e me escondi atrás de uma das paredes ali. O segurança que parecia uma geladeira da Electrolux marchou para o lado oposto de onde eu estava. Essa era a minha deixa!
Entrei na sala, encontrando painéis de controle e algumas telas que eram divididas em setores.
Sentei na cadeira, peguei o paninho que estava dentro do bolso do meu terno e mexi rapidamente nos botões, desligando todas as câmeras do local. PONTO PARA MIM! A única câmera que eu fiz questão de manter ligada foi a do lado de fora, que pegava uma parte ampla do jardim florido.
Fui até o bar do segundo andar e lá avistei , e – um cara que eu não ia muito com a cara – por conta de .
Me sentei lá e ficamos jogando conversa fora. Estava quase na hora de agir. Vi que estava subindo as escadas e me adiantei para pegar alguns drinks. Fazia parte do plano.
Peguei as duas taças, depositando uma grande quantidade de Rohypnol em uma delas, e entreguei a taça com um guarda-chuva de papel para .
Sentei ao lado de e fiquei atento as palavras que saiam da linda boca de .
— Puta que pariu, caralho! Esquecemos da . — gritou, arregalando os olhos.
— Sim, esqueceram. Se o Ian quisesse me matar, teria matado. Sorte que o foi atrás de mim. — Arrumou o seu vestido, fazendo meu olhar ir de encontro ao seu colo.
— ? — Falamos todos juntos. Eu tinha que entrar na cena, fingindo não saber sobre nada. Estava dando certo.
— Todos conhecem? — Ela perguntou, apoiando as mãos na mesa.
— Conheço porque ele fez uma propaganda da minha cerveja favorita. — respondeu.
— O que aconteceu? — Fingi interesse.
— Ian Collins, . Ele tentou algumas coisas, mas o desceu a porrada nele. — Comentou, sorrindo boba. — Espero que ele já tenha ido embora.
— Ian? Mas que filho da puta. — Apertei o copo com o líquido vermelho em minha mãos, pensando ser o pescoço daquele desgraçado do Ian.
— Vamos esquecer isso por hora. Quero beber mais. O que temos aqui? — Bagunçou a mesa em busca de algo para beber. — E vamos de champanhe mesmo, né? — Levantou a taça, propondo um brinde.
— Sério, ? Um brinde? O cara fodeu com a sua vida e você propõe um brinde? — Perguntei, não conseguindo conter a raiva no meu ser.
Ela deu um único gole na bebida e disse:
— Toma conta da sua vida. Já cansei dessa porra toda. Que raiva. Por que ele tem que vir aqui? — Falou e saiu, nos deixando para trás.
Observei que ela caminhava cambaleante e sorri de lado. Logo ela estaria no chão.
Sai correndo daquele lugar e fui atrás de Ian. Estava tudo nos conformes.
Vasculhei tudo quanto é lugar, até que encontrei ele afastado dos demais convidados. Perfeito!
Ele estava com a mão em seu nariz que escorria sangue e parecia meio zonzo.
Me aproximei e chamei sua atenção ao pigarrear.
— Você? — Me olhou de cima à baixo, com desprezo.
— Olha, Ian, eu vou ser curto e grosso. Se você não me seguir agora nessa porra, todos saberão o que você fez com a alguns anos atrás. Fui claro? — Ergui uma sobrancelha e apertei seu ombro, deixando o rapaz tenso. — Estarei esperando no quinto andar. Não demore. — Arrumei o blazer e andei devagar até o elevador, selecionando o andar. Observei a porta de aço fechar.
Uns dez minutos depois Ian apareceu. Sem sangue no rosto e um pouco suado.
— Então, você veio mesmo, né? Por que não senta aqui? Vamos conversar. — Cheguei para o lado, para que ele caminhasse até uma das poltronas chiques que estavam ali. Assim que ele virou de costas, eu desferi o primeiro golpe com a faca e girei, ouvindo um grito sufocado pela minha mão. Retirei a lâmina observando o sangue que manchava o terno dele e vi o homem cair diante de meus pés.
— Como você se sente? Estando tão... vulnerável? — Sentei na poltrona à sua frente e cruzei as pernas. — Como você se sente estando a mercê de alguém? Sem poder revidar, hein? O que é? O gato comeu sua língua, foi? — Escorreguei do sofá para o chão, ficando agachado sobre meus calcanhares e desferi mais uma facada contra ele. Desta vez em sua barriga, mas com menos força, pois foi afetada pela sua mão que tentou afastar a lâmina.
Me levantei e caminhei pelo corredor para ter certeza de que não tinha ninguém ali. Assim que voltei, pude ver que Ian estava falando ao telefone.
— Porra. — Corri até ele e peguei seu celular, encarando a tela com o número 911. Eu podia ouvir a voz do outro lado. Desliguei e guardei em meu bolso.
— Sabe porque, Ian? Sabe porque quero te ver sofrer? — Perguntei retoricamente. — Porque você fez ela se sentir um lixo. Você machucou minha menininha. Você não respeitou o espaço e escolha dela. Você a matou. Você a matou e é exatamente isso que vou fazer com você. — Fiquei de pé, levando a mão até a cintura.
Saquei a arma e mirei em sua cabeça.
— PUXA! PUXA ESSA MERDA DE GATILHO. — Ele gritou, com a mão esquerda estancando o sangue que jorrava como uma cachoeira.
E eu ri. Ri da cara dele.
— Está rindo de que seu miserável?
— Não é óbvio? De você, Ian. Patético! Está com tanto medo de morrer que eu sinto daqui. — Abaixei a pistola.
— Quer saber como foi estar dentro dela aquele dia? — Começou a falar com a voz falha.
— Cala. A. Porra. Da. Sua. Boca. — Falei, pausadamente, com a raiva circulando em minhas veias.
— Ela é tão apertada e eu com certeza quero experimentá-la de novo. — Fechou os olhos por um segundo e, quando abriu, pensei que eles fossem saltar das órbitas.
— Você não vai mais tocar no que é meu. Não terá segunda vez. EU IREI PROTEGÊ-LA SEMPRE E NÃO VAI SER VOCÊ QUE VAI ATRAPALHAR ISSO. Vá para o inferno. — Verbalizei e finalmente disparei o tiro certeiro em sua testa.
Estava acabado. Ele estava morto.
Agora eu preciso sair daqui.
— M-meu, D-Deus... — Ela me encarava, estética, com a boca semiaberta, puxando o ar para dentro.
— Eu deixei a câmera do lado de fora ligada estrategicamente. Foi uma puta de uma sorte você ter ido pra lá. Ajudou bastante na parte de que você não seria incriminada pois estava dopada no chão do jardim. Eu sabia que você seria uma das principais suspeitas por já ter tido um relacionamento com aquele desgraçado.
Olhei para o lado assistindo abrir os olhos devagar e por um instante vi o medo correr pelo rosto da garota.
— Olha só quem acordou! — Olhei para . — Parabéns, ! Em meio a milhares de merdas que você já incentivou sua amiga a fazer, pelo menos uma coisa você fez direito. — Abri um sorriso de orelha à orelha. — Por sua causa, não precisei tirar do caminho da . Quando vi vocês se beijando na balada e de mãos dadas em alguns lugares, sabia que podia contar com você.
— Contar comigo? Toma vergonha na sua cara, seu escroto. — Suas sobrancelhas abaixaram e uma ruga formou-se por entre elas. — Eu nunca te ajudaria em algo assim, seu doente. — Cuspiu as palavras, que não me atingiram.
— Isso é óbvio, né? Porque você mais atrapalha a que ajuda. — Cruzei os braços. — Tipo agora. Você vir aqui só piora tudo. Talvez você não seja uma boa amiga como eu pensava. Talvez eu deva te tirar de nossas vidas também.
— Se você encostar um dedo nela, seu doente... — rugiu de ódio.
— , amor, ela é ruim. Você não vê agora, mas ela está trazendo problemas. — Falei, segurando a arma novamente. Pude ver o olhar de ficar assustado. — Foi só ela começar a namorar o que um pacote extra veio junto para sua vida: .
— Ele não tem nada a ver com isso. — falou, só que baixo desta vez.
— Tem sim, . Tem. — Suspirei. — O cara quer mesmo tentar alguma coisa com a . Ele sabe que ela é minha? — Apontei para , que agora tinha uma feição muito mais assustada. — Eu já estava pronto para tirar ele do caminho também. Sei algumas coisas sobre o pai dele. O cara foi preso por tráfico de drogas e o filho poderia fazer companhia para o pai, certo? Eu estava pronto para juntar a família de novo, caso fosse necessário.
— Não! Você não seria capaz disso. Para. — falava rápido demais, balançando os cabelos lisos.
— Tem também o . Eu até que acho ele legal, mas o garoto vive no seu pé. Aposto cem dólares que ele só quer te comer e depois vai embora. — Cruzei as pernas sobre o olhar das duas garotas. — É por isso, , que eu tenho que te proteger. Você não vê essas coisas porque é inocente. Que tipo de amigo eu seria de deixasse você se envolver com quem não te ama de verdade? Eu jamais iria me perdoar se te visse quebrada como o Ian te deixou de novo.
document.write(Mark) é só meu amigo. Ele sim eu posso chamar de amigo. — Sua voz estava embargada e a ponta do seu nariz estava vermelha.
— Não se iluda, . — Soltei e cruzei os braços, alternando meu olhar de uma para outra. — E ainda tem mais um, né? O modelão. Eu confesso que ele é bem bonitão mesmo. Difícil de competir. Rico, bonito, boa lábia e bem sucedido.
— Tudo o que você jamais vai ser. — soltou, mas quando olhei para seu rosto vi a garota se arrependendo de medo. Acho que ela só pensou alto demais.
— Continuando: esse pra mim é um dos piores. O cara pode ter tudo o que quer e vai atrás de você. Por que ele tem que querer o que é meu? — Apontei para meu próprio peito. — Eu farei questão de vê-lo falir, pedir por ajuda e se mandar daqui. A vida dele se tornará o inferno na terra. Escreve o que eu estou falando.
— NÃO! — Ouvi ela gritar. — Você não pode fazer isso. NÃO PODE. POR FAVOR, EU IMPLORO! Deixe eles em paz. — As lágrimas escorriam em grande quantidade nos seus olhos comprimidos. Ela estava tremendo muito e uma imensa culpa pairou meu coração.
— Você gosta dele? — Levantei, caminhei lentamente, abaixei na altura de seu rosto e repeti a pergunta. Dessa vez mais alto. — VOCÊ GOSTA DELE?
Senti algo molhado atingir meu rosto e ergui o olhar, constatando que ela tinha cuspido na minha cara.
— Isso não interessa para você . PRA QUE VOCÊ QUER SABER? VOCÊ REALMENTE SE IMPORTA COM ESSA PORRA DE SENTIMENTO? — Gritou, e sua voz ecoou por toda a casa, assustando sua amiga. — Eu quero que você morra!
Meus olhos encheram de água. Como ela poderia me dizer uma coisa dessas? Justamente depois de eu contar tudo que fiz por ela. Eu não conseguia entender. Meu coração preencheu em um misto de tristeza e raiva. Que ingratidão!
— Eu sei que você tá surpresa ainda, mas, amor, não fala isso. — Acariciei seu rosto. — Foi tudo por você e pelo seu bem. Por nós, . Se alguma coisa me mantém de pé hoje, é meu amor por você. Uma hora você vai entender. Eu sei que vai.
— É ai que você erra, . É nessa psicopatia amorosa que você erra. — Balançava o rosto em negação.
— Se errar é te proteger, então vou errar até o maldito último dia da minha vida. Eu sei que você não vai me amar agora e vai demorar um pouco para entender, mas eu sou paciente. — Levantei, andando de um lado para o outro, até que virei para ela com as duas mãos segurando meus cabelos. — Eu preciso de você, . Sem você a única coisa que sobra é um puta vazio oco e sombrio dentro de mim. Eu não quero me sentir assim. — Minha vista embaçou com as lágrimas que ameaçaram rolar pelo meu rosto.
— Você deveria ter um pouco de hombridade. Você já está morto por dentro. Morto para mim! — Ela gritou, fazendo agora as lágrimas finalmente desprenderem de meus olhos, passarem quente pelas minhas bochechas e morrerem no canto de meus lábios.
Ajoelhei colocando a cabeça por entre os joelhos e bati forte no chão. Não, não, não. Ela tinha que entender! Foi pelo próprio bem dela. Eu fiz por ela, porque eu amo ela. Eu sempre protegi ela e estive ao seu lado. Agora ela me diz isso?
Meu choro preencheu o silêncio e eu fiquei no chão por alguns minutos, até que uma lâmpada se ascendeu em minha cabeça: era tudo culpa da vadia da . Ela tinha levado a para esse caminho! Com esse jeito promíscuo e sem educação. Ela não era mais boa para minha . Era isso. Sem a influência da , a iria voltar a ser minha e finalmente entender tudo.
Dei um sorrisinho, porque, mais uma vez, eu iria proteger minha amada. Só que, dessa vez, ela iria ver com os próprios olhos e poderia finalmente entender a grandiosidade de meu amor.
Peguei a arma na cintura, mas um barulho do lado de fora me chamou a atenção e eu só tive tempo de apontar minha pistola e ouvir ambas garotas gritarem:
— NÃO!
Capítulo 18 - Parte 2
O céu já estava um completo breu e a estrada coberta por pinheiros dava um ar sombrio àquele lugar. Pelo menos era o que se passava na cabeça de , enquanto ele seguia o carro à sua frente
— Droga! Porque eu tenho que ser tão impulsivo? O que eu tô fazendo aqui, meu Deus? — O homem apertava o volante de couro preto em suas mãos, fazendo a ponta de seus dedos ficarem esbranquiçadas pela força que exercia ali.
No carro mais à frente puxava assunto com e acabou por descobrir que ele era o tal motoqueiro misterioso de Cassidy.
— Mas, então, você gosta dela, ? — Perguntou meio incerto e desviou o olhar da estrada por alguns segundos.
— Olha, , pra falar a verdade, acho que a é a pessoa que eu mais me aproximei depois de anos. — O motoqueiro respondeu, apoiando sua mão esquerda em seu joelho.
— Isso é um sim? — insistiu e passou a marcha no carro, acelerando mais um pouco.
deu de ombros e olhou o GPS.
— Olha. — Apontou para o aparelho suspenso no vidro do carro. — Estamos chegando.
Após dez minutos dois carros estacionaram em frente ao grande portão de ferro.
destravou seu cinto e foi o primeiro a sair do carro. Olhando em volta e atrás dos portões. Parecia tudo muito calmo. Seu olhar avaliou todo o local, parando no tesla prata de . Levou a mão até o couro do seu cinto, mexendo desconfortável no acessório. Os sapatos sociais brilhavam sob a luz da lua.
Avistou os dois outros homens descerem do automóvel e cumprimentou ambos com um aceno.
O vento sacolejava forte as folhas que estavam nos muros de concreto. Até que ouviu um barulho estranho:
— Ei, vocês ouviram isso? — Perguntou alarmado, enquanto enrolava a camisa social preta até os cotovelos, exibindo seu relógio de pulso.
— O que? — e sondaram, aproximando-se do modelo.
— Sei lá, foi meio alto. Tem certeza que não ouviram? — Levantou uma sobrancelha e apoiou as mãos no quadril.
— Se tivéssemos ouvido, não estaríamos perguntando. — cuspiu, com cara de poucos amigos.
— Calma ai, cowboy. — zombou do homem que agora bufava ao lado de , que caminhava até os portões, tentando abri-los.
soltou um suspiro quando finalmente conseguiu abrir aquela tranca enferrujada. Olhou para os rapazes por cima do ombro e balançou a cabeça, indicando que era pra entrarem
Eles caminhavam despreocupados, com os sapatos sobre a grama verde, galhos e até cascalhos. Faziam um pouco de barulho, mas nada comparado aos gritos que vieram da casa.
— Que porra é essa? — sussurrou para , que mantinha-se estático, encarando a parede amarela do lado de fora da casinha.
— É a voz dele. O amigo da . O . — Falou e olhou para que estava com uma carranca enorme no rosto.
Em um ato de nervosismo, levou os dedos até seu queixo, passando a mão na barba por fazer como se pensasse em algo.
— Ei, vocês dois. — Chamou, não muito alto, apontando para os homens. — Vão para perto da porta que eu vou dar uma olhada na janela. Pode ser? — Escondeu as mãos no bolso da calça e respirou fundo, dando a volta para chegar até a janela.
Enquanto caminhava, ouviu um som que parecia muito com um choro. Espera, um não, dois! Duas pessoas chorando. Fala sério. Ao finalizar sua volta, apoiou o pé no relevo da parede e impulsionou seu tronco para cima, fazendo com que seus músculos contraíssem um pouco. Ao apontar a cabeça na janela, quase se desequilibrou. O que viu ali tinha o deixado assustado como nunca tinha ficado em toda sua vida. Ele encarava estático uma amarrada por cordas, com cabelos bagunçados, uma ferida aberta no canto superior da testa e olhos vermelhos e inchados. Mirou o olhar para o lado esquerdo e viu que também estava amarrada e com a aparência cansada. Ele quase caiu quando o olhar assustado de encontrou o seu. Seu coração batia tão forte dentro do peito que poderia explodir a qualquer momento. o encarava com medo, mas o que não sabia é que não era medo por ela e, sim, por ele! Um homem tampou de sua visão ao ficar de pé.
Acabou por ficar tão assustado naquele momento, pensando no que poderia acontecer, que perdeu a força em suas pernas e escorregou, fazendo um estrondo, podia jurar que tinha quebrado alguns ossos. Felizmente, não foi o caso, visto que o homem levantou e correu até os dois companheiros.
Ele chegou até e , mas não a tempo de dizer para não abrirem a porta. Só pôde ouvir gritos femininos estridentes.
— NÃO!
Já dentro da casa, só teve tempo para empurrar pra fora e fechar a porta atrás de si, ofegante.
— Ei, abaixa isso, cara. — pedia educadamente, com as mãos erguidas em frente ao peito como sinal de rendição.
— Por que eu deveria abaixar? — Questionou, ainda com a arma em punho. — O que vocês estão fazendo aqui? — Perguntava em alto e bom som, fazendo os cabelos da nuca de arrepiarem com o tom dirigido. — Eu vou lá fora ver o que está acontecendo, e você... — Apontou o cano da pistola na direção do homem que estava escorado na porta de madeira. — Vai sentar ali naquele sofá e ficar quietinho. Se fizer algo, eu atiro. Eu falo sério, não tenho nada a perder.
caminhava à passos frouxos até o sofá duplo, fazendo a madeira ranger sob seus pés. Todos presente na sala, encaravam receosos os movimentos de ao abrir a porta da frente.
Ao ver que o homem saiu de sua visão, colocou-se de pé.
— , onde é a cozinha? — Bagunçou os cabelos. — Rápido! — Ordenou.
— Ali. — respondeu em um fio de voz e indicou com o queixo.
seguiu as coordenadas de sua amiga e começou a vasculhar as gavetas em busca de algo cortante. Até que achou uma enorme faca de cabo branco. Deu a volta na mesa de vidro e chegou até o cômodo de antes, abaixando-se atrás de e cortando as cordas que prendiam a circulação sanguínea da garota.
A soltou um gemido em satisfação quando seus membros foram libertos das amarras e automaticamente colocou-se de pé, indo para o quarto onde seu celular ficou desde a hora que mandou mensagem para sua amiga.
Esqueceu-se de e de por um instante, tateando os móveis no escuro em busca do aparelho. Quando, por fim achou, discou o número de emergência esperando para ser atendida. Os dígitos 911 brilhavam na tela do celular, enquanto ela fazia uma suplica silenciosa para que tudo não passasse de uma droga de pesadelo. Despertou ao ouvir um barulho ensurdecedor ao seu ponto de vista e suas pernas vacilaram.
— POR FAVOR, ME AJUDE. — Ela gritou quando finalmente foi atendida, mas sentiu uma enorme mão segurar seu cabelo em um emaranhado e força-la a ficar de pé.
— Vamos, . Acho que você vai adorar essa cena. — A garota andava a passos trôpegos enquanto lágrimas grossas ameaçavam escorrer de seus olhos.
A cena seguinte fez seu estômago embrulhar e ela segurou a vontade colossal de vomitar. estava caído no chão, sua blusa branca encharcada de um vermelho sangue. O homem respirava fundo, tentando controlar a respiração que provavelmente mal atingia seus pulmões. Seu rosto estava quase cadavérico e retorcia em uma dor dilacerante.
permaneceu ao lado de segurando sua mão, ao mesmo tempo em que a sua própria blusa continha resíduos de sangue seco.
— Por que você fez isso, ? OLHA O QUE VOCÊ FEZ! — A voz de soava trêmula e ela gritava, acariciando os cabelos do garoto encostado em seu colo.
— Por que será, ? Ele soltou a e depois você! Mas, não se preocupa, você é a próxima! — Proferiu, nervoso.
estava em estado de choque. Sua pele estava pálida, fria e pegajosa. vendo que a garota não pronunciava um ruído se quer, apertou de leve seu braço, mas ela continuava com os olhos fixos em seus dois amigos. Suas pupilas estavam dilatadas e ela suava frio.
— ? — Chamou, não obtendo retorno.
Passou um braços pelas articulações dos joelhos dela e o outro braço foi até as costas, sustentando o peso de seu corpo. depositou no sofá e virou-se para pegar água. Ela era a preocupação principal.
Do lado de fora da casa, bagunçava os cabelos exasperado e continuava a contar com detalhes o que acreditava estar acontecendo. Um som muito alto acabou com a conversa dos dois.
— Puta que pariu! — gritou, puxando pela jaqueta de couro, até uma casinha antiga de madeira que tinha no canto direito, onde haviam se escondido mais cedo, quando foi procurá-los. Com um pouco de força, empurraram a porta emperrada e fecharam atrás de si.
passou os olhos pelas mesas repletas de ferramentas e encarou um machado afiado largado no chão. Abaixou-se para tomá-lo em mãos e girou objeto lentamente.
— Que isso cara? Vai dar uma de lenhador? — riu da própria piada.
— Se continuar a fazer piadas assim, na situação em que estamos, eu finjo que você é um tronco e enfio esse machado no seu... — Não terminou a frase pois começou a gargalhar.
— Beleza, beleza. — Levantou as mãos e fechou a cara.
— Pega. — esticou o objeto, passando o para a mão do homem que mexia o piercing da língua freneticamente.
— O que vamos fazer, ? — Arqueou as sobrancelhas e encostou na mesa.
— Entrar na casa. — respondeu sério e buscou seu celular no bolso. — O meu tá sem sinal. — Encarou a tela ligada. — E o seu? — Moveu o pescoço para a direita.
— O meu tá com sinal, mas não tão bom assim. — O motoqueiro retrucou, erguendo o aparelho em busca de um sinal melhor.
— Me dá aqui. — esticou o braço para receber o celular. — Eu vou ir naquela direção, para ligar pra polícia e você vai distraí-lo até que a ajuda chegue. Tudo bem pra você ou prefere trocar de lugar? — Perguntou em um tom calmo, realmente querendo saber se estava tudo bem para o homem, que concordou prontamente.
Ambos saíram daquele cubículo e colocaram-se em seus postos; subia um pequeno morro ali, enquanto ia até a janela da casa principal, pois, ao tentar abrir a porta, percebeu que ela estava trancada.
Pegou impulso jogando os braços para trás e voltando os para frente acertando em cheio a janela e fazendo com que o vidro espatifasse em mil e um pedacinhos. Como essa janela era mais baixa, ele conseguiu entrar e encontrar todos olhando para ele.
— Veio juntar-se para festa? — perguntou, já segurando a arma.
encarou o corpo de no chão, mas percebeu que ele respirava, mesmo que com certa dificuldade. Pensou em algo rapidamente e correu pelos cômodos, atraindo atrás de si. Ficou poucos minutos nessa distração idiota e, por sorte, conseguiu desviar de dois tiros de .
— ! — gritou aos quatro ventos, e alguns segundos depois ouviu um estrondo gigantesco vir da sala. Quando apontou o corpo pela cozinha, viu ir na direção de e atingi-lo com um taco de beisebol.
— Não temos muito tempo! Cadê a ? — perguntava desesperado, ainda segurando o taco.
— Não sei... — Retrucou incerto em um fio de voz.
— Olha, leve o garoto para ser socorrido. Ele perdeu muito sangue. Talvez você chegue a tempo no hospital. Toma a chave do meu carro. — Jogou a chave no ar.
— Mas e... — Tentou falar.
— Eu vou achar a . Fica tranquilo. — Tentou passar segurança, mas sua voz e mãos tremiam. — ... — Chamou a atenção da mulher que tentava convencer de não fechar os olhos. — Onde ela está? — Sondou, já vendo pegar e leva-lo para fora.
— Eu não sei, . Ela estava no sofá, mas eu me distrai e não faço ideia. — Respondeu com a voz embargada e levou as mãos ao cabelo.
— Vai ficar tudo bem. Agora vá com e eu prometo que levarei de volta, nem que eu tenha que morrer para que isso aconteça. — Fechou os olhos e agachou devagar, segurando os braços da mulher, dando apoio para que ela ficasse de pé.
— Por favor, volte seguro também. Ela não suportaria mais uma perda. — Firmou os pés e caminhou dando um aceno para . — Obrigada.
começou a procura-la pelos cômodos da grande casa. Passou pelo extenso corredor, entrando de porta em porta. Até encontrar a garota abraçando os joelhos como se a vida dependesse daquilo. Ela tinha os olhos apertados e mordia o lábio de maneira forte.
— . — tocou o ombro da mulher e abaixou devagar, mas quase desequilibrou e caiu quando ela gritou assustada, ainda de olhos selados. — Sou eu, o . Fica calma. — Acariciou os cabelos levemente molhados de suor da garota que chorava copiosamente. — Vem, temos que sair daqui. — Ergueu a menina e indicou a porta para que ela saísse.
Eles caminharam com pressa até a porta de saída, e, antes de mover-se para fora, ouviram um barulho, como um muxoxo. virou a cabeça minimamente, encontrando o levantando-se e com a mão pressionada no ferimento em sua cabeça. Antes de mandar correr, leu os lábios de que sibilaram claramente: Eu vou matar você.
Eles colocaram-se a correr, velozmente, mas percebeu que estava com certa dificuldade e mancava.
— Ei, ! — Chamou a garota. — As árvores. Vamos despistá-lo por ali. — Indicou os pinheiros e correram para o lugar mais elevado. — Abaixa ai, tá bem? — Olhou dentro dos olhos de , e transmitiu à ela segurança, dizendo silenciosamente que tudo ficaria bem.
ainda estava meio tonto, mas pegou a pistola e seguiu os dois. Estava desorientado, mas conseguiu ver quando abaixou.
— Ótimo, vai ser mais fácil que eu pensei. — Caminhou a passos duros, quebrando galhos e chutando as pedras. — ! — Gritou e viu o homem levantar lentamente, com uma postura imponente. — Acha mesmo que pode fazer algo contra mim e sair vivo dessa?
— Minha intenção é proteger a . — Uniu as sobrancelhas, fazendo as rugas saltarem de sua testa. — Você repudiava tanto Ian, mas está agindo igual ou pior que ele. — A voz de soava mais rouca que o normal e era carregada de desprezo.
— Você não sabe o que diz! Eu não sou a porra de um estuprador. — Apertou a arma na sua mão. — Você nem sequer deveria estar aqui. Proteger a é a MINHA função. Você só atrapalha tudo. Você, aquele motoqueiro de merda e aquela vadia da ! Vocês estão atrapalhando tudo. Mas, tá tudo bem. Eu vou me livrar de vocês e a vai poder perceber que EU sou o melhor para ela. E somente EU.
apertava a terra entre os dedos, escutando a discussão dos dois.
— Ela nunca vai te amar. — Cuspiu as palavras e aproximou-se.
— Cala a porra da boca. — Rangeu os dentes.
— Senão o que? — desafiou, estufando o peito.
— Eu atiro em você agora mesmo. — Apontou a arma para o homem em sua frente.
— Eu não faria isso se fosse você. — retrucou e indicou com a cabeça para que olhasse para trás.
— Fique parado, você está cercado. Não tem como fugir. Agora largue a arma para que ninguém se machuque. — O cara alto, que tinha uma barba rala no rosto, gritou, assustando o .
— Não, não, não. Não era pra ser assim. — começou a chorar, enquanto uma raiva percorria seu corpo. — NÃO ERA PARA SER ASSIM!
— Abaixa a arma agora e deita no chão! — O policial gritou.
— , eu te amo. Eu sempre amei e sempre irei amar. — proferiu e depois virou seu olhar para . — É tudo culpa sua, desgraçado!
O falou e, em um ato de ódio mortal, atirou contra , que caiu no chão inconsciente.
No momento em que o disparo de foi feito, uma chuva tremenda começou a cair. Atrás do pinheiro, encarava o chão, atônita. Nem mesmo um livro de mil páginas conseguiria descrever a dor que a garota sentia naquele momento. Seus joelhos fraquejaram totalmente e por um momento parecia que seu cérebro não emitia mais informações a sua coluna. Seu corpo caiu no chão, inerte. Seus olhos ainda estavam abertos e ela avistava perfeitamente as luzes das sirene no fundo, enquanto via a poça de água que se formava rapidamente se misturar com um vermelho de sangue. Seria menos pior se, no mínimo, ela pensasse em se levantar e não conseguisse, porque, naquele momento, a situação era pior: nem mesmo pensar ela conseguia.
Capítulo 19
Dizem que o luto passa por cinco estágios. Primeiro: a negação, seguida pela raiva. Depois vem a negociação, depressão e, finalmente, a aceitação. No entanto, o luto é um mestre impiedoso. No momento em que você começa a achar que está livre, você percebe que nunca teve chance. Não importa quanto tempo passe, ele sempre volta e te assola. Foi assim com mamãe e será assim novamente.
O céu estava carregado com nuvens cinzas e pesadas, a garoa fina iniciava-se tímida e fazia com que as gotículas de água escorressem pelos vidros das janelas. A minha mente rodopiava para fora daquele cemitério, enquanto eu ouvia de longe a voz recitar:
— Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá;
Senti uma presença ao meu lado direito e, automaticamente, virei o pescoço procurando saber quem era. Pude então reconhecer a dor naqueles olhos castanhos.
— Querida, então você é a famosa ? — Tocou meu ombro, com um sorriso triste pendurado em seus lábios ressecados e piscou os olhos repetidas vezes, tentando afastar - em vão - as lágrimas.
— Perdão? — Ajeitei os óculos escuros, que escondiam as olheiras profundas sobre a pele pálida.
— Sou Dorine . — Passou a mão na sua saia preta, e divagou o olhar pela capela.
Por Deus! A mãe de estava na minha frente. Como eu olharia dentro dos olhos daquela mãe sem sentir a culpa me consumir por ter levado o filho dela para uma cova?
— M-Meus pêsames, Senhora . — Abaixei a cabeça, segurando ambas as mãos que suavam como nunca. As pontas de meus dedos estavam gélidas e eu podia sentir o olhar daquela mulher em mim.
— falava muito bem de você, querida. Por isso eu quis vir até aqui. Quis conhecer o motivo do sorriso dele! Sabe, uma vez ele me disse que você era a melhor amiga dele e, bem, eu não queria lhe conhecer nessas circunstâncias, mas infelizmente a vida nos prega peças. — Sua voz soava chorosa e eu não tive ânimo para erguer o meu rosto. — Quero dizer também para que não se culpe. Se meu filho estava lá por você, foi porque te amava e queria o seu bem. — Segurou minhas mãos, que estavam encima da minha calça de lavagem escura.
Não consegui conter as lágrimas e deixei que elas rolassem pelo meu rosto, amenizando um pouco do sofrimento que eu sentia naquele momento.
Não podia ser real. Era real? Era! Acabou.
Senti um abraço apertado e desajeitado e me permiti chorar junto àquela mãe. A dor de perder um filho com certeza era cortante em seu coração. Após alguns minutos, ela levantou, juntando-se à um homem de cabelos grisalhos.
Fiquei de pé e andei pelo tapete vermelho, indo em direção ao caixão que ele estava.
Aquela risada gostosa de ser ouvida nunca mais poderá ser apreciada; aquele abraço aconchegante nunca mais poderá ser sentido; aquelas horas passadas em uma praia vendo o sol nascer tornaram-se, agora, uma lembrança que não poderá ser revivida; mas, o amor e a amizade que um dia nos uniu, ficará para sempre em meu coração.
Seu rosto estava sereno e mais pálido que o normal. Seus lábios estavam roxos e em suas narinas tinham algodões. Levei a ponta de meus dedos até a bochecha de meu falecido amigo, acariciando o local com uma emoção enorme dentro de mim. Ele havia partido.
Minhas mãos foram parar no seu cabelo onde eu alisava com carinho; Os fios alinhados, contornando agora sua sobrancelha com toda delicadeza possível.
Senti os olhos marejarem e a vista embaçar, me abaixei na altura de seu corpo e selei os lábios em sua testa. Sussurrei em seu ouvido como se ele pudesse me ouvir: Eu te amo. Descanse em paz e até algum dia, meu coelhinho.
Virei de costas, segurando o grito agonizante que estava preso em minha garganta e corri, saindo por aquela enorme porta e batendo de frente com alguém.
— Me desculpe, eu... — Parei de falar assim que vi quem era e passei minhas mãos pelo seu pescoço em um abraço desesperado.
— Vai ficar tudo bem. Eu prometo. — Sussurrou, enlaçando minha cintura.
— ... — Tentei falar.
— Shh, eu sei que está sendo difícil pra caramba. Eu sei de verdade. Você não precisa fingir! Não pra mim. Não agora. — Me encarava com ternura.
Encostei minha cabeça em seu peito e me pus a chorar copiosamente, soltando soluços altos e chacoalhando meu corpo, enquanto era amparada por ele, que acariciava meus cabelos com a ponta dos dedos, fazendo movimentos circulares
— Eu estou aqui com você. Por você. — Beijou minha testa e eu me afastei, olhando para além de , onde estavam , e encostados no tesla de minha amiga.
Todos estavam com feições cansadas. O desgaste emocional era nítido. Após ficar sabendo do ocorrido, veio o mais rápido que pode para nos amparar. Dos três, ele era o que mais estava abatido, mesmo não tendo participado de toda aquela loucura.
Encarei a capela novamente e pude ver que Melanie chorava sobre o corpo de meu amigo, soluçando e chamando pelo seu nome. Assim que recebemos a notícia, comuniquei a mulher, que pegou o primeiro avião para Nova York.
Abaixei a cabeça, em uma prece silenciosa. Pedindo para que ele olhasse por todos nós. estaria em nossos corações para todo o sempre! E, foi com esse pensamento, que me virei e caminhei para fora daquele lugar que há muito tempo eu não pisava.
Eu já estava em casa, de banho tomado, com o casaco vermelho que havia esquecido aqui, um par de meias e um short preto de ginástica. Eu zapeava os canais sem vontade alguma de ver algo. Meus olhos, com certeza, estavam vermelhos e meu rosto inchado. Respirei fundo com aquelas lembranças que me atingiram como mil estacas em meu peito.
Eu não conseguia mover um músculo sequer. Minhas pernas tremiam, querendo que eu ficasse de pé. Na minha cabeça, eu gritava com todas minhas forças, forçando meu corpo. precisava de ajuda. Com muita dificuldade, com joelhos trêmulos e dormentes, me levantei escorada nas grossas cascas dos pinheiros sob minhas mãos.
Quando finalmente sai do meu esconderijo, vi caído sobre as folhas secas, com os olhos fechados, e tremi com o que poderia ter acontecido.
Porém, assim que ele mexeu suas pálpebras, eu soltei o ar que nem havia notado ter prendido.
O tiro atingiu o ombro esquerdo de e provavelmente pelo baque e situação em que ele estava, não aguentou e acabou entrando em colapso, assim como eu, que ainda usava o tronco da árvore como apoio.
Ergui minha cabeça, dando de cara com o olhar assustado de , que, agora, era algemado por um cara duas vezes maior que ele.
— , eu fiz tudo por você, amor. Foi por você. — Falava em afobação, lutando contra as algemas e as mãos dos policiais.
— Cala a porra dessa sua boca, imunda. — Dessa vez fora que falou com a voz entrecortada e enraivecida, apoiando o cotovelo direito na terra molhada. Seus cabelos eram uma bagunça só e de seu pescoço saltava uma veia.
— Você seria o próximo, . É uma pena. — Negou com a cabeça, ficou de pé.
Desviei meu olhar de , para encarar o rosto de , que estava contorcido em dor.
— Ahn... acho melhor irmos para o hospital. Você precisa ver isso. — Apontei para a lesão.
— Relaxa, tá doendo um pouco. Me sinto envergonhado por ter tido um leve desmaio, mas a gente releva. Não sei o que faria se perdesse você. — Arregalou os olhos quando percebeu o que tinha dito, mas logo sorriu de lado, quando viu que eu tinha ficado vermelha. — Vamos, temos que ver como o seu amigo está.
Puta merda! O . Ele havia levado um tiro.
Senti dois policiais se aproximarem. Um veio me amparar, enquanto o outro ajudava a ficar de pé.
— Meu Deus, , e se ele... — Não consegui terminar a frase, pois seu indicador estava em frente aos meus lábios.
— Ei, linda. — O dedo que estava em minha boca, foi parar no meu queixo, erguendo-o. — Vai ficar tudo bem. Ele vai ficar bem. — Acariciou minha bochecha. — Agora vamos entrar no carro.— Soltou um risinho, apoiando-se nas mãos do policial gordinho.
Fomos levados até uma das viaturas e sentamos um ao lado do outro. Levei minha mão até a sua, segurando fortemente seus dedos enquanto fazia leves carinhos e círculos invisíveis no dorso de sua mão.
— Obrigada. — Soltei, verdadeiramente. — Obrigada por ter feito isso por mim. — Encarei seus olhos castanhos que brilhavam de encontro aos meus.
— Eu não fiz isso sozinho. e também! E, claro, a . — Entrelaçou mais os dedos aos meus, e torceu a boca, desviando o olhar para seu ombro.
— Vou agradecê-los também. — Me aproximei de sua bochecha, beijando o local. E, mesmo com a pouca luminosidade dentro do automóvel, pude ver que ele havia corado minimamente.
Chegamos ao hospital e adentramos o hall, onde tinha uma breve movimentação aturdida.
O branco dos azulejos fez minha visão ficar turva e me apoiei no balcão de mármore mesclado.
— Senhor, por aqui. — Ouvi uma voz doce e encarei a enfermeira baixinha que guiava até uma maca pelo extenso e assustador corredor hospitalar. Ele me lançou um sorriso confiante e seguiu a moça.
Adentrei mais aquele grandioso local e avistei uma cafeteira. Ótimo, eu precisava de cafeína no meu sangue.
Tomei uns dois ou três copos de café e sentei-me na cadeira azul que tinha na área de espera, encarando os chinelos.
— Senhorita? — Levantei a cabeça. — Siga-me até a enfermaria para que possamos ver se está tudo bem, certo? — Esticou a mão coberta pela luva branca.
Segui a mulher e deixei que ela me examinasse, dando um calmante para tomar e dizendo que logo surtiria efeito.
Fui para fora de novo e sentei, esperando por respostas.
Levantei a cabeça e vi uma cabeleira atravessar a porta e, de repente, meus pés não pareciam tão importantes assim.
— Oi, . — Ao ouvir a voz de , que, infelizmente, soava cansada e baixa demais, eu corri para seus braços. — ... — Acariciou meus cabelos que estava deveras emaranhado.
— Cadê ele? — Indaguei, preocupada. Vi atravessar a porta de vidro junto à um médico. Um senhor, com cabelos grisalhos, óculos de armação fina e um grande jaleco branco.
Eles pareciam nervosos. Isso não era um bom sinal.
— Cadê ele? — Repeti a pergunta.
— Eu sou o Dr. Smith, estava cuidando da cirurgia de . — Apresentou-se e pousou o olhar triste em mim, empurrando seu óculos para cima de seu osso nasal.
— Estava? Então quer dizer que ele está bem? — Indaguei em um fio de esperança, encarando o homem à minha frente.
— Bom, se quiser, pode sentar... — Apontou para o estofado e sentei contra minha vontade, sentindo apoiar a mão em minhas costas, alisando o local. — deu entrada no hospital às 23:00 horas com um grave ferimento abdominal, causado por um projétil de bala. Tivemos que correr para a sala cirúrgica porque na região abdominal encontram-se o estômago, intestino delgado, cólon, fígado, baço, pâncreas, rins, coluna vertebral, diafragma, aorta descendente, e outros vasos abdominais e os nervos. — Pausou a fala, puxando o ar em seus pulmões. Todos nós ouvíamos atentos sua explicação. — Como vocês podem imaginar, o tiro causou uma hemorragia grave ao atingir o fígado do paciente. E é agora que chegamos ao ponto. — Abaixou o olhar, encarando a prancheta em suas mãos e suspirou. — No meio da cirurgia as complicações vieram à tona e descobrimos o choque hipovolêmico, que é uma situação muito grave. É um tipo de choque causado por débito cardíaco inadequado devido à redução do volume sanguíneo, ou seja, o coração deixa de bombear o sangue necessário para todo o corpo, e consequentemente, o oxigênio. — Intercalou o olhar para as três pessoas à sua frente.
O peso do mundo caiu sobre meus ombros, pesando mais que sete toneladas.
— Doutor, isso quer dizer que...? — Não podia ser verdade, né? Meus olhos ardiam como se alguém tivesse jogado sal nos meus globos oculares.
— O paciente veio à óbito. Eu sinto muito. O horário da morte foi às 00:15. Eu tentei, senhorita. Saiba que as pessoas que nos amam, estarão sempre perto de nós. — Ele afagou o meu braço, com um semblante triste no rosto, falava e falava pedindo desculpas. Ele havia perdido um paciente e eu... eu havia perdido meu melhor amigo.
Sai correndo da sala sem mesmo olhar para trás e senti meu braço ser puxado, levando-me de encontro ao peito de alguém. Meus olhos estavam fechados com força total, mas eu conhecia aquele cheiro. Era .
— Eu sinto muito, . Sinto muito mesmo. — Grudei-me mais ao seu corpo, me aconchegando em seu abraço quentinho.
— Nada disso teria acontecido se... — Tentei falar, mas ele me interrompeu.
— Shh, não diga que você tem culpa. — Abri os olhos devagar e senti seus dedos em minha bochecha úmida pelas lágrimas.
Olhei para os lados e vi saindo por uma porta com uma plaquinha verde e corri até ele, abraçando-o e ouvindo um resmungo, pois apertei seu ferimento.
— , ele... — não disse nada, apenas me apertou com um de seus braços, como quem dissesse silenciosamente: Vai ficar tudo bem.
Aquelas lembranças me assombrariam por um longo período de tempo. Levei a manga do casaco até os olhos, limpando as lágrimas que dali brotavam agilmente, escorrendo pela bochecha corada.
Peguei o celular e entrei na galeria, selecionando uma foto de , da qual eu tirei da última vez que ele veio aqui. Ele ainda usava a blusa que agora estava em meu corpo.
Entrei no twitter e postei a foto com a seguinte legenda: Eu me lembro desse dia como se fosse ontem. Você deitado no chão da sala após nossa sessão de filmes de comédia. Sua risada preenchia a sala e contagiava meu coração. Infelizmente, o que me preenche agora, é a falta que eu sinto de você. Eu te amo para sempre, coelhinho.
Rolei a tela e parei assim que vi uma foto de . Seus olhos estavam cansados, vermelhos e com leves olheiras e seus cabelos estavam bagunçados. A legenda da foto era: Obrigado por todas as mensagens positivas, eu estou muito melhor agora!
Um sorriso bobo brincou em meus lábios e eu me assustei ao ver algumas mensagens chegarem em meu celular.
WHATSAPP ON
: Ei, tem como vir aqui fora? Queria conversar com você.
: Oi . Claro, só um minuto.
: Tô contando.
WHATSAPP OFF
Levantei apressada e enxuguei o rosto, dando leves batidinhas com o pano vermelho do casaco. Corri para a porta de entrada e atravessei o jardim, indo até , que estava escorado na sua querida moto.
— Ei. — Cumprimentei, depositando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
— Oi, chapeuzinho vermelho. — Fez uma piada interna e eu ri.
Observei ele chegar mais perto.
— , eu queria te agradecer pelo que fez por mim. Por tudo. Sério. — Segurei suas mãos e ele olhou para elas, sorrindo.
— , você não precisa me agradecer. Sabe disso, né? — Ergueu a cabeça. — Vim para dizer que sinto muito pelo que aconteceu. Não falei com você durante o velório, pois sabia que precisava de espaço. — Desviou o olhar.
— Fica tranquilo. — Passei minha mão em seu braço, fazendo um afago.
— , eu queria falar sobre uma outra coisa...mas, talvez, não seja o momento adequado. — Levou a mão até sua nuca.
— O que foi? —Demandei, preocupada.
— Ahn... — Ficou alguns segundos olhando para meu rosto. Parecia estar em um conflito interno. — O que você sente por mim? — Seus olhos brilharam em expectativa e minhas pernas bambearam. — ?
— Eu não sei como começar isso, . — Disse vergonhosa.
— Comece pelo começo. — Deu uma risada.
— Eu estava um pouco confusa com tudo. — Vi ele desviar o olhar. — Mas, no meio de todo esse caos, eu só consegui pensar em uma pessoa que eu queria estar. — Recolhi minhas mãos e coloquei-as dentro do bolso.
— É ele, não é? — Indagou com um sorriso melancólico.
— Eu sinto por você uma enorme gratidão, e todos os momentos que passei com você foram incríveis, sério. Porém, seria egoísmo da minha parte se eu não te deixasse ir. — Finalizei com a voz um pouco lastimosa.
— Ei, tá tudo bem. — Levantou minha cabeça, com as duas mãos de cada lado do meu rosto. — Eu já estava esperando por isso.
— Como assim? — Apoiei minha mão sobre as suas e uni as sobrancelhas.
— Eu vi como você olha pra ele, como os seus olhinhos brilham, como você fica vermelha e como reage aos toques dele. Ele reage da mesma forma. — Torceu a boca. — Eu vim aqui com o intuito de me despedir.
— Despedir? — Me afastei, assustada, o que fez com que ele se assustasse também.
— Olha, .... — Me puxou de volta. — Duas pessoas me mantinham nessa cidade. Minha mãe e.... — Soltou minhas mãos e segurou o colar que estava pendurado em seu pescoço, puxando o para cima. — Você.
Eu estava olhando para ele com os olhos arregalados. O cordão era de estilo militar, era um dog tag, com duas plaquinhas prateadas que tilintaram ao bater uma na outra.
— O que eu quero dizer é que estou partindo. — Bagunçou os cabelos. — Mas, antes, queria te entregar isso. — Esticou os braços, passando o cordão pela minha cabeça e ajeitando o em meu pescoço, afastando meu cabelo que havia ficado preso sob a corrente.
— Partindo para onde? — Toquei o metal gelado, que tinha gravado: .
— Vou sair por ai, com ela. — Indicou a moto. — Não tenho local definido. — Guardou as mãos no bolso da costumeira jaqueta de couro. — Só quero que você saiba que não importa onde eu esteja, uma parte de mim, sempre estará com você. — Olhou para o cordão pendurado em meu pescoço.
— ... — Quebrei a distância entre nós abraçando o homem à minha frente com muita força.
— Eu preciso respirar, né? — Brincou, sorrindo.
Tirou as mãos dos bolsos e retribuiu o ato, inspirando o perfume de meus cabelos.
— Olha, chapeuzinho, você tem meu número. Se precisar de mim, sabe onde me encontrar. — Curvou minimamente o corpo e deixou um beijo no canto dos meus lábios.
— Pode deixar, lobo mau. — Mostrei a língua e me afastei.
— Acho que é isso. — Levantou os ombros e deixou cair de novo. — Vou indo. — Deu as costas e montou sua moto, dando uma última olhada por trás da viseira do capacete e piscou um de seus olhos, arrancando e deixando somente o som do motor soar naquela rua deserta.
Ele distribuía beijos por toda a pele de meu pescoço, deixando um rastro de saliva e descendo para meu busto, coberto pelo biquíni vermelho. Raspou de leve seus dentes por meu mamilo rijo, dando um beijo estralado e continuando a trilha pela minha barriga desnuda. Deslizei minhas mãos pelos contornos rígidos de seu peito e voltei até seus ombros, apertando gentilmente enquanto alisava. Sua ereção latejava encostada em minha perna, enquanto ele continuava à dar atenção para meu corpo. Ele apertava todos os lugares em que alcançava.
— ... — Chamei, assim que ele levou os dedos até a barra da calcinha, já encharcada por ele.
— Hm? — Resmungou, sem deixar de distribuir carinhos em minhas coxas.
Não ousei responder, eu já estava farta daquela enrolação. Ele era mestre em provocações, isso era nítido.
Ouvi um som de rasgo e abri os olhos, apoiando meus cotovelos na cama olhando para baixo. Ele me encarava com um sorriso presunçoso em seus lábios e desviou o olhar.
— Você é perfeita.
— Fale isso enquanto olha no meu rosto. — Soltei uma gargalhada.
— Shh. Não estraga o clima. — Voltou a atenção para minha intimidade e afastou as minhas pernas, segurando ambas com força para que não fechassem. Eu ansiava por ele, pelo seu toque.
Passou a ponta da língua pela parte interna da minha coxa, subindo até a virilha e mordiscando de leve a pele. Assim que ele encostou a língua na carne molhada, enfiei minha mão pelos seus fios castanhos, tentando puxá-lo mais para mim, como se fosse possível. Remexi os quadris no ritmo que ele ditava e a sensação eletrizante de sua boca quente ali, era maravilhosa. Joguei a cabeça para trás, gemendo quando ele contornou minha entrada com a ponta da língua e as mãos dele agarraram minha bunda para me manter no lugar. Largou uma de minhas nádegas e levou o dedo até meu ponto de prazer, pressionando com a pressão certa, me fazendo tremer debaixo de seu corpo.
— Já falei que eu amo o seu gosto? — Deu uma lambida preguiçosa por toda a extensão, me olhou e voltou sua atenção para meu clitóris, que já estava inchado e clamando para explodir de prazer.
Não respondi e apenas o puxei para cima, beijando o com vontade, sentindo o gosto da minha própria excitação. Vi ele levar a mão até o laço frontal do biquíni, que logo voou para o chão. Sua boca, agora, atacava a pele em torno de meus mamilos descobertos. Ele beijou a carne macia deixando algumas marquinhas cor-de-rosa no vale dos seios e voltou sua concentração para meu mamilo direito, contornando-o com devoção e deixando-o sensível com a leve mordida. Afastou-se somente para assopra-lo, enviando arrepios e descargas elétricas por todo o meu corpo. Desceu as mãos pelo contorno da minha cintura, até atingir o meio de minhas pernas e afundou dois dedos em minha umidade.
Reprimi o gemido e respirei fundo, concentrando-me para não gozar na hora. Ele insistia em toda aquela tortura chinesa e eu já estava ficando louca de tanto prazer. Ele traçou círculos envolventes em meu clitóris, antes de mergulhar os dedos mais fundo em minhas extremidades, atiçando o pontinho dentro de mim. Se ele continuasse naquele ritmo enlouquecedor, eu não aguentaria.
— ... eu preciso. — Murmurei, ofegante.
— Precisa de que, linda? — Retirou os dedos de dentro de mim, levando os até seus lábios e saboreando com os olhos fechados, como se fosse a coisa mais gostosa que ele havia provado em toda sua vida.
— De você. — Respondi manhosa.
— Então peça. — Segurou minha nuca, encarando-me com um brilho luxurioso nos olhos.
— Não vou implorar, . — Fechei a cara e revirei os olhos quando ele sorriu. — Você quer tanto quanto eu. — Mordi o lábio, provocando ao arranhar suas entradas.
— Acredite em mim, eu não posso esperar nem mais um segundo para estar dentro da sua bocetinha maravilhosa. É só pedir. — Falou e ficou de joelhos, fazendo os músculos de suas coxas saltarem. Levou sua mão até o relevo na cueca vinho, acariciando enquanto me olhava com pura devassidão.
— Então me fode logo, porra. — Soltei, entre dentes e observei ele abaixar a cueca, jogá-la para trás e passar a língua de uma canino até o outro. Cacete, esse homem é sexy demais.
Ele abaixou até mim e segurou sua excitação, guiando-a em minha entrada que pingava por contato. Encostou a glande de leve na carne molhada e pincelou, me levando a loucura. A respiração dele ficou ofegante, os músculos tencionaram e ele fechou os olhos ao me invadir, fazendo-me soluçar de prazer por tê-lo ali, tão íntimo, tão junto, tão meu. Me agarrei ao seu corpo, contraindo-me em torno de sua penetração. O atrito, o fogo, o amor, era tudo intenso demais para suportar por muito tempo. Droga.
— ... — Ele gemeu, quando eu fui de encontro à seu quadril e arqueei as costas, fazendo meus seios ficarem em sua direção, raspando em seu peito desnudo.
O mar agitado balançava o Iate e ajudava nos movimentos. Inverti as posições, descendo devagar em seu membro, vendo a expressão de puro prazer no rosto de . Ele penetrava tão fundo e delicioso, nossos corpos estavam em uma dança louca, que pouco nos cansava, mas precisávamos nos libertar. Minhas coxas, batiam forte contra as suas. Eu conseguia sentir o suor escorrendo por minhas costas e seios, meu cabelo estava grudado em minha testa. Rebolei e ouvi um grunhido, sendo obrigada a abrir os olhos e contemplar a feição dele, que mordia os lábios, tinha os olhos fechados e as sobrancelhas baixas.
— Você vai me matar, rebolando assim. — Encostou a cabeça no estofado marrom da cabeceira, apertou minha cintura afundando os dedos em minha pele e eu ri.
— Já cansou, ? — Espalmei minhas mãos em seu peito e provoquei com mais uma lenta rebolada e arranhões em seus ombros.
— Jamais, . — Fui surpreendida quando ele inverteu as posições e me girou no colchão, deixando-me de barriga para baixo.
Ele puxou meu corpo para cima, pela barriga e ajeitou minhas pernas para que eu ficasse de quatro, empurrando minhas costas pra baixo para que eu ficasse o mais empinada possível. Antes que eu pudesse falar algo, sua mão atingiu minha pele, deixando uma ardência gostosa onde o tapa havia sido direcionado e meteu sem aviso prévio.
— ... você gosta quando eu meto assim... — Diminuiu a velocidade, me torturando e segurou meu quadril, que com certeza ficaria marcado. — Ou quando eu meto assim? — Aumentou as investidas, estocando forte. Eu tremi, levando meu quadril para trás, de encontro ao seu, fazendo o atrito entre nossos corpos ecoar pelo quarto, sobressaindo o barulho do mar.
— N-Não para, eu tô quase lá. — Senti ele parar. Ele tinha que fazer birra. Típico.
Me remexi, ansiosa e ele gemeu.
— Isso. Agora rebola no meu pau, gostoso e bem devagar. — Sussurrou em meu ouvido e eu obedeci prontamente, louca para libertar-me de todo aquele tesão. Segurou meu cabelo em um tufo, puxando meu rosto para trás, fazendo com que eu olhasse ao menos um pouco, seus lindos olhos castanhos. — Eu vou te fazer gozar, agora.
Minhas coxas tremeram com a investida e com a promessa direcionada, meus pulmões encheram de ar e eu relaxei, esperando a melhor parte.
— Olhe pra mim. Está sentindo? — Segurou meus cabelos mais forte, em um emaranhado desajeitado e investiu fundo.
— Eu vou... — Soltei um suspiro trêmulo.
— Eu sei, eu também. Goza comigo? — Gemeu e soprou a pergunta.
Meu corpo tremeu com pequenos choques, meus dedos do pé encolhiam-se, e os da mão rasgavam os lençóis abaixo de meu corpo. Eu estava delirando. O orgasmo emergiu de forma intensa, com cores por trás de meus olhos, e eu gozei forte, não consegui segurar o grito em minha garganta. Que se foda a e o lá em cima.
Senti ele soltar meus cabelos e aumentar a velocidade, contraindo os músculos e encontrando seu próprio prazer, derramando-se dentro de mim.
— Puta merda. — Balbuciou suspirando e deitando-se ao meu lado me puxando para seu peito.
— O que? — Provoquei, desenhando círculos invisíveis em seu ombro.
— A gente se supera a cada transa, porra. — Apoiou o cotovelo no colchão e deitou a cabeça em sua mão.
— Tenho que concordar. — Sorri e senti as bochechas corarem.
Mesmo depois de algum tempo me fazia ter essas reações.
— Seu sorriso é lindo. — Elogiou e levou os dedos até minha bochecha, acariciando o local. — Que foi? Não me olha assim. Como disse Shakespeare: Há mais perigo em teus olhos que em vinte espadas. — Brincou, apertando a ponta do meu nariz. — Então, se você não quiser iniciar um segundo round, acho melhor parar de me encarar assim e levantarmos logo. Vista seu biquíni e coloca um short, já que eu rasguei a parte de baixo dele. — Riu, sem graça pela situação. — Desculpe. — Bagunçou os cabelos e me observou colocando as vestes.
— Só se me der um beijo. — Fiz um biquinho e ele se aproximou, tomando meus lábios em um beijo simbólico. — Vamos logo, antes que algum dos dois inconvenientes venha nos chamar aqui. — Falei e senti ele deixar um beijo em minha testa, enquanto amarrava a cordinha de sua bermuda preta.
Subimos a escadinha de mãos dadas. Antes de sair, apontei apenas a cabeça e chamei para ver a cena.
— Eles são lindos juntos, né? — Apoiei a mão em um degrau e cutuquei com o indicador.
encarava com amor, enquanto ouvia o homem tocar uma melodia desconhecida no violão.
— Sem sombra de dúvidas. Eles fazem um casal e tanto. — Virou o rosto pra mim e piscou.
— Para com isso. — Abaixei as sobrancelhas, fingindo estar brava.
— Isso o quê? — Indagou em tom inocente.
— Essa sedução fajuta. — Cruzei os braços e ergui uma sobrancelha, em desafio.
— Fajuta, é? Aposto um beijo que te levo lá pra baixo apenas com essa sedução fajuta. — Gargalhou e começou a cutucar minhas costelas, fazendo cocegas e eu comecei a rir descontroladamente.
Parei quando não conseguia mais ouvir os acordes do violão.
— Ahn... desculpe, não queríamos atrapalhar. — Falei, terminando de subir as escadas.
— Relaxa. — riu e puxou para seu lado. Apontando o estofado branco. — Senta ai, gente.
O vento sacolejava nossos cabelos e o cheiro da maresia era afrodisíaco e incrível misturado ao perfume almiscarado de .
— É, desse jeito vocês vão assumir o posto dos coelhos em questão sexual. — zombou, nos encarando com um sorriso perverso.
— Cala boca, . Pelo visto vocês não estão atrás, não. — indicou a mesinha que tinha uma camisinha usada. — Que nojo! Aprenda a encobrir seus rastros. Pega aquela porra ali e joga fora agora.
Começamos a rir da cara séria que fazia e ele nos acompanhou.
— Agora é sério, tira aquilo dali. — Apontou para a mesa e levantou, pegando o preservativo e jogando o no lixo.
— Eu ouvi seus gritos daqui, . Nem as ondas batendo no paredão de pedra calaram sua histeria. — brincou, sentando no colo de seu namorado. — Mandou bem, . — Esticou o braço para tocar a mão de com um high five.
Fui até o freezer e peguei duas cervejas, entregando uma para o homem ao meu lado.
Apoiei no corrimão de metal gelado. Encarei o mar de um azul escuro encantador. A água balançava de um lado para o outro e, de repente, me deu uma vontade descomunal de mergulhar.
— Ei, linda. — chamou minha atenção, passando a mão em frente ao meu rosto e me puxou para sentar sobre suas coxas.
— Oi? — Pisquei os olhos diversas vezes e balancei a cabeça devagar, virando-me e deixando um beijo estralado em sua bochecha, fazendo com que ele sorrisse.
— Já ligou para o Senhor ? — Movimentou os dedos em minha barriga, exercendo um carinho casto.
— Depois de tanto tempo você ainda chama ele assim, ? — zombou, tamborilando as unhas pintadas de roxo, na borda branca do Iate.
— O Senhor sempre gostou de mim, isso é um fato. — Pausou, dando um gole generoso na cerveja e continuou. — Mas, se você visse como ele fica enquanto ameaça, chamaria ele de Senhor também. — Soltou um riso nervoso.
— Que bunda mole, . — brincou, fazendo com que todos começassem a gargalhar.
— Ah, sai fora, ! Se o pai da dissesse: Se você machucar minha garotinha, eu mando arrancarem suas bolas, tu ia sair de lá correndo. — rebateu.
— Deus que me livre. — fez o sinal da cruz.
Me virei para .
— Respondendo sua pergunta, : não, não liguei pra ele ainda. — Encarei seus olhos castanhos e levei o gargalo até os lábios, engolindo o líquido amargo. — Ele e Liza devem estar curtindo as Maldivas. — Falei, lembrando-me da última vez em que estive nas ilhas com águas cristalinas.
— Então não ligue para ele agora... deve estar se divertindo mesmo. — sorriu maliciosa e sugestiva, cutucando minha canela com o seu pé.
— Você está mesmo insinuando isso? — Contorci o rosto em desgosto pela imagem de Eliza e papai trocando carinhos íntimos.
deu ombros e levantou, indo ao frigobar e pegando uma latinha de refrigerante.
— Vou ligar após a virada. — Disse e passei meus braços pelos ombros de , pousando a ponta de meus dedos na cicatriz fina que tinha ali do lado esquerdo. Ele desviou o olhar para minha mão e depois para meus olhos, abrindo um sorriso genuíno.
— Gente, minha cerveja acabou. — fez um biquinho infantil e inflou as bochechas, balançando a garrafa vazia.
— E daí? Pega outra. — Retruquei, erguendo uma sobrancelha.
— Você é uma tapada, . — Levei a mão ao peito, fingindo estar ofendida e ele riu. — Vamos jogar verdade ou desafio.
— Ah, claro, se eu tivesse, sei lá, dezesseis anos, eu até jogaria. — rebateu.
— Qual é, , não seja careta. Vamos jogar, . — Bati as mãos animada, sentando-me no chão de madeira envernizado, vendo o casal sentar-se em minha frente e permanecer no estofado. — Vem , por favor. — Pedi manhosa e cutuquei seu pé.
— Tá, tá. — Abaixou e sentou-se ao meu lado.
Todos nós observamos deitar a garrafa no chão do nosso círculo e girar.
O vidro tilintou e parou, apontando para e para mim. Ótimo.
— Verdade ou desafio, ? — Batucou a chão, esperando minha resposta.
— Desafio. — Respondi convicta.
— Hmm... — apoiou a mão no queixo e olhou para , que encarava o namorado como se ele fosse um retardado. Tá, ele era. — Desafio você a dar um selinho na .
— Quê? — indagou, com as sobrancelhas juntas. — Você realmente tem dezesseis anos, . — Balançou a cabeça negativamente.
— Ok. — Respondi, apoiando as mãos no chão e impulsionando o corpo para frente.
fez o mesmo e finalmente encostamos nossos lábios em um selinho de uns cinco segundos.
— Vocês não sabem quantas vezes fingimos ser namoradas para nos livrarmos dos babacas nas baladas. — Day gargalhou ao contar nosso segredo não tão secreto assim. A arma de toda mulher que fica de saco cheio com um homem que não sabe ouvir "NÃO".
— Os socos também funcionam. — Fechei as mãos em punhos e fingi acertar alguém.
— Verdade. Um tempo atrás, a bateu em um cara que me arrastou pro meio da pista de dança e queria me beijar. Nunca pensei que ela tivesse força para quebrar o nariz de alguém. — Minha amiga arregalou os olhos e balançou a cabeça.
Finalmente girei a garrafa fazendo com que ela parasse em e .
— Verdade ou desafio? — perguntou à .
— Pode mandar um desafio pro papai aqui. — Bateu em seu peito desnudo.
— Desafio você a pular pelado no mar. — Propôs e nós começamos a rir, exceto por .
Observamos ele ir para beira do Iate, abaixar as calças e dar um puta de um salto. Caindo de bunda na água.
— Cacete, , depois dessa você não vai ter mais filhos. O coitado deve ter ficado sem as bolas. — Falei, desesperada, vendo nadar de volta para o Iate.
— Porra, , da próxima vez escolha algo que não envolva nudez. Eu não sou obrigado a contemplar a bunda branca do seu namorado. — falava com os olhos fechados. — Já posso abrir? — Apertei sua perna para que ele abrisse os olhos e finalmente encarasse a cena hilária de andando até nós de pernas meio abertas.
Ele sentou e a garrafa foi girada novamente. Parando no e em mim.
— Verdade ou desafio? — Ergui uma sobrancelha.
— Verdade. — Ele respondeu, bebericando a sua segunda cerveja.
— Que chato. — mostrou a língua.
— É verdade que você sentiu-se atraído desde a primeira vez em que me viu? — Brinquei com a cordinha de sua bermuda.
— Você não imagina o quanto. — Aproximou-se e passou o nariz em meu pescoço, enviando arrepios por todos os cantos de meu corpo.
— Pode parar com essa agarração. Gira a garrafa, . — reclamou.
tomou a garrafa em mãos e girou, fazendo pará-la em e nele, novamente.
— Verdade ou desafio, ? — perguntou animando. Provavelmente pensando em algum desafio, mas seu sorriso morreu ao ouvir: verdade.
— Que droga. — Retrucou. — Ah, é verdade que a já te enxotou do quarto dela aos chutes? — gargalhou arduamente e eu me segurei junto a para não rir.
— Não quero mais brincar. — levantou e, como uma criança pirracenta, afastou-se de nós, sentando em um dos banquinhos.
Gargalhamos e fomos até ele, perturbando-o por ter desistido.
Já estava de banho tomado. O vestidinho branco moldava minhas curvas, apertando meu quadril e deixando meus ombros expostos. Meus cabelos estavam lisos e maiores.
insistiu muito para que eu passasse ao menos um pouco de maquiagem, alegando que eu não poderia ficar feia nas fotos.
estava no banho ainda, então aproveitei para subir e admirar aquela noite maravilhosa. e estavam arrumando a mesa para a ceia que viria depois da meia-noite.
Dei a volta no deck e subi alguns degraus de uma escadinha que ficava do canto.
O Iate Topaz era imenso. Papai havia me emprestado para curtir o Ano Novo com o pessoal.
Apoiei meus joelhos no estofado e cruzei os braços na barra de aço.
Ergui a cabeça encarando o véu negro que cobria o céu. A lua cheia brilhava radiante naquela noite, fazendo toda a sua grandiosidade refletir no mar. As estrelas não ficavam para trás. Preenchiam toda a extensão da abóbada celeste, dando um toque único. O vento cortante atingia meu rosto e esvoaçava meus cabelos, bagunçando os fios antes alinhados.
Um sorriso triste sambou em meus lábios quando fiz uma pequena retrospectiva do meu ano conturbado em minha cabeça. Senti um misto de melancolia, gratidão, felicidade e nostalgia enquanto encarava aquele lindo e infinito horizonte em minha frente. Esse ano tinha sido uma aventura e tanto.
Eu tinha finalizado a faculdade de administração e agora atuava diretamente na direção da empresa com papai. Estava sendo uma grande experiência. Poderia ficar mais próxima dele e ainda expandir novos horizontes para VOGUE. Muitos projetos rondavam minha cabeça e eu, com certeza, os tiraria do papel e faria algo inovador e visionário. O espírito de liderança sempre habitou em mim e sem dúvidas usaria ele ao meu favor. Eu estava feliz, apesar dos últimos meses. Tudo estava se encaixando. Tudo estava caminhando para seu devido lugar.
também acabou sua faculdade de moda, focando agora em abrir seu próprio negócio e expandi-lo. É claro que me auto convidei para ajudá-la com todos os preparativos e com a administração. Ela aceitou na hora. Seu sonho era ter uma empresa focada em uma tal técnica que transforma elementos da natureza em cores.
terminou a faculdade junto comigo e passou a ajudar seu pai na empresa que, em um futuro não tão distante, ele herdaria. No entanto, era óbvio que isso não seria o suficiente para satisfazê-lo. Logo após o fim do nosso curso, ele realizou sua matrícula para a faculdade de musicoterapia e estava ansioso para iniciar o período no próximo ano.
continuava como embaixador da VOGUE, sendo agora um de nossos modelos fixos. Nós trabalhávamos muita das vezes juntos, o que resultava em uma pequena bagunça na mesa do meu escritório no final do expediente. prometeu que logo mais viajaríamos para China, mas disse que antes seus pais viriam até Nova York para me conhecer. Fiquei um pouco nervosa, mas acho que é normal.
Depois que suas acusações foram retiradas, meu primo, , conseguiu alguns trabalhos importantes na Tailândia, onde continua morando até que os advogados resolvam toda a burocracia para que ele possa retornar aos Estados Unidos e continuar seu grande sonho. Não conversamos muito sobre os acontecidos, mas ele ficou muito triste ao saber de toda a lambança que fez. Ele não falou nada, mas sei que seu coração se partiu em mil pedaços ao descobrir que seu "amigo" tinha feito aquilo.
, o professor da antiga universidade, entrou em contato comigo assim que soube de toda a história pelo jornal. É, passou no jornal. Segundo ele, não tinha muito contato com as redes sociais e foi complicado me achar.
Quis saber se eu estava bem e eu disse que iria ficar. era um homem de bom coração e agora estava atuando como um professor titular na sua cidade de origem.
Faziam quase cinco meses que não estava mais entre nós de forma carnal. A cada mês, nós, seus amigos, fazemos uma pequena homenagem para esse ser iluminado e de bondade extrema. Cada um de nós solta uma lanterna e faz uma prece silenciosa. Sei que ele estará conosco para todo o sempre.
entrou em contato comigo dizendo que agora estava morando em Boston e assim que estabilizasse sua vida, nos visitaria. Ele estava trabalhando em uma oficina mecânica e sempre mandava fotos com o rosto sujo de graxa, me rendendo boas risadas. Quando perguntei sobre sua vida amorosa, ele disse que estava ficando com algumas garotas por aí, mas nada sério. Eu ainda sentia falta dele e foi bem difícil vê-lo partir logo após a morte de .
. Aquele que foi responsável por todo caos instalado. Falar seu nome ou pensar em suas últimas palavras para mim ainda me causavam arrepios. No começo era mais difícil, mas a terapia vem me ajudando.
Não preciso nem dizer que fiquei extremamente abalada com todo o fuzuê feito. No dia do julgamento, eu não quis estar presente, mas fez questão de estar, sendo testemunha e ansiando pela prisão dele. pegou cinquenta anos de prisão pelos crimes cometidos: dois homicídios qualificados, tentativa de homicídio, sequestro, porte ilegal de arma e acusações falsas. Ele merecia muito mais por ter tirado a vida de . Auburn Prision seria sua nova casa.
Fui tirada de meus devaneios ao sentir duas mãos pousarem no contorno de minha cintura.
— Tem como você ficar mais bonita? — Sussurrou em meu ouvido, descendo o nariz da minha mandíbula, até o pescoço.
Me virei e enlacei seu pescoço com os braços, deslizando as mãos pelo seu peitoral coberto pela camisa social branca.
— Você fica muito bem de branco. — Elogiei, e prendi o lábio inferior entre os dentes.
— E você fica bem pelada. Tradição idiota. — Referiu-se às roupas brancas. — e estão nos esperando ali em baixo.
— Vá chamá-los, daqui alguns minutos a queima de fogos irá começar e nós não podemos perder o espetáculo. — Dei um selinho em e vi ele se afastar.
O farol no meio do mar não iluminava um ponto em especial. As pessoas nos outros Iates já preparavam-se para lançar os fogos. Enquanto isso, uma centena de pensamentos desconexos rondavam minha mente.
— Podemos comer antes da meia-noite? Tô com fome. — resmungou, terminando de subir as escadas e olhou para com olhos pidões.
— Não. — Respondemos em uníssono e gargalhamos ao ver a cara de nosso amigo.
Caminhamos até a mesa de madeira redonda e sentamos nos banquinhos.
— Faltam quantos minutos? — Apoiei o cotovelo sobre a toalha de mesa branca com detalhes em vinho, e tombei a cabeça para o lado.
— Exatamente... — olhou o relógio dourado em seu pulso. — Dois minutos.
— AI MEU DEUS, NÃO ACREDITO! — gritou. — Vocês tem noção? Ano novo, vida nova. Saca?
— É, . É hora de escrever nossa própria história. — Brinquei e senti a mão de pousar em minha perna.
Encarei ele e sorri, pousando minha mão sobre a sua.
— Olha, vai começar a contagem regressiva. Vamos, levantem. — bateu na mesa, agitado.
Grudamos nossos corpos na grade, todos em expectativa, esperando o grande show. As vozes gritavam os números em ordem decrescente e uma música agitada tocava de alguma navegação. Até que nos colocamos à gritar: TRÊS, DOIS, UM. FELIZ ANO NOVO!
Eu encarava, maravilhada as esplêndidas cores se espalharem e misturarem pelo céu. O som das explosões já não estava mais presente em meus ouvidos.
Senti ser abraçada por trás, e sai de meu transe ao ouvir:
— Eu não fazia ideia de como era sentir meu coração acelerado, as pernas bambearem, as mãos suando ou até mesmo pensar em uma pessoa por tanto tempo. Eu me sinto bem pra caralho perto de você. — Alisou meus braços, parando em minhas mãos. — Droga, sou um babaca por não saber expressar meus sentimentos direito, mas eu tô tentando, juro. — Bagunçou os cabelos, e fechou os olhos fortemente, soltando uma lufada de ar pela boca. — Feliz Ano Novo, meu amor. Eu te amo e farei com que tudo seja diferente, que tudo seja uma incrível experiência, da maneira que você merece. — Beijou minha testa, minhas bochechas, meu nariz e minha boca. — Você é minha nova história.
Era a primeira vez que ele me dizia isso e era a primeira vez que eu sentia que tudo seria diferente.
Uma lágrima solitária escapou do meu olho e eu pulei em seus braços, passando minhas pernas pelo seu tronco, distribuindo beijinhos em toda extensão seu rosto.
— Eu também te amo e sei que juntos faremos de tudo para que sejamos felizes. Você é minha nova chance. — Sussurrei em seu ouvido e desci, virando-me para e .
— Feliz Ano Novo, irmãzinha. — Nós duas rimos e corremos para os braços uma da outra. — Eu te amo, . Te amo tanto. Obrigada por ter vivido tudo comigo, cada segundo. Nossa vida... nossa nova vida está prestes a começar de verdade. — Afaguei seus cabelos que estavam lisos e ela me deu um beijo no rosto.
— , eu te amo muito, você sabe disso, né? Ai, não posso chorar, vai borrar a maquiagem. — Afastou, dando batidinhas em baixo dos olhos.
Virei e vi de braços abertos, esperando seu abraço. Corri até ele, quase derrubando o coitado.
— Calma, . — Me apertou entre seus braços. — Feliz Ano Novo, feiosa. — Me deu um beijo na bochecha.
— Feiosa, ? — Bati em seu ombro ao me afastar.
— Tô brincando. Você é linda, mas não mais do que minha . — Puxou minha melhor amiga pela cintura e a abraçou.
Olhei para que enchia as taças com Chandon e sorri, indo ajudá-lo com tudo.
No caminho, vi que tinha recebido uma mensagem de um velho amigo e sorri por ele ter lembrado de mim.
WHATSAPP ON
: FELIZ ANO NOVO CHAPEUZINHOOOO
: Tô com muita saudade e espero te ver em breve
: Que esse seja o MELHOR ano de todos, porque você merece.
: FELIZ ANO NOVO LOBO MAU
: Vem me visitar mesmo, hein? Estou morrendo de saudades.
: E que esse ano seja pra NÓS o MELHOR de todos, porque NÓS merecemos.
: Curta bastante a virada, beijinhos. <3
WHATSAPP OFF
Assim que respondi, fui até e ajudei a pegar as coisas. Sentamos e comemos aquele banquete preparado por mim e pela , que, diga-se de passagem, estava incrível.
Ao terminar, fomos para o terceiro andar, observar as estrelas deitados no chão de madeira.
— Olha, uma estrela cadente. — Apontei para o céu. — Anda, façam pedidos. — Fechei os olhos e comecei a fazer meu pedido.
— O que pediram? — sondou e eu olhei para , vendo que ele ia abrir a boca pra falar.
Pulei em cima dele e tapei sua boca com a mão.
— Não pode falar! Senão, não se realiza. — Franzi o nariz ao tirar a mão e ver o sorriso em seu rosto.
— Eu não ia dizer. Meu sonho está realizado e bem aqui na minha frente. — Abaixei a cabeça, sentindo as bochechas ficarem quentes.
— QUE MANÉ! — gritou alterada e nós caímos na gargalhada.
Após algumas horinhas, descemos para o quarto e capotamos em nossas camas.
Abri os olhos piscando várias vezes para que minha visão estabilizasse. Me arrastei, encostando-me na cabeceira da cama e encarando , que tinha a respiração forte e regular. Retirei os lençóis de seda branco que cobriam as minhas pernas e fui até as escadas que levavam para o andar de cima.
O sol da manhã estava começando a surgir, dando um aspecto alaranjado por toda extensão do céu e do mar. Todo mundo estava morto de sono ainda porque tínhamos ido dormir bem tarde, mas, por algum motivo desconhecido, eu estava bem desperta.
Passei as mãos pelo rosto e cabelos, arrancando alguns fios no trajeto e sorri. Inspirei um pouco forte o ar com aroma salgado do mar e voltei a contemplar o céu, pensando que muitas das vezes o passado supreendentemente insistia em ficar presente.
A minha vida deu uma super cambalhota por estes desafiadores meses. Demorou, mas agora eu entendo. Entendo que tudo tem um porquê. Tudo tem um propósito nos aguardando e querendo dizer: Ei, calma, eu estou aqui. Vai dar tudo certo. Estou segurando a sua mão.
Não é fácil superar o passado, mas sei que com o tempo tudo ficará melhor. Algumas cicatrizes ainda estão comigo, mas para lembrar-me que fui forte. Eu sobrevivi a todos os meus piores dias e agora eu sei o que todos, no fundo, já sabem: nenhuma dor é eterna.
Me pisaram, me chutaram e me bateram.
Me traíram, me confundiram e me enganaram.
Mas, o mais importante, foi que me ensinaram.
Me ensinaram a superar a dor, me ensinaram a lutar contra todos os meus medos e traumas.
— Eu sou uma sobrevivente. — Sibilei com um sorriso sambando em meus lábios. Fechei os olhos e abri os braços, sentindo a brisa abraçar meu corpo coberto pela blusa social de e balançar meus cabelos.
Mesmo quando tudo parecer escuro, mesmo que os céus fiquem furiosos e eu pensar ser o fim, nunca irei desistir. Continuarei a lutar e serei forte. Por mim e por todas as pessoas maravilhosas que estão ao meu lado para me defender, me acolher, me ajudar e, principalmente, me amar.
Caminhei até a beirada do Iate e encarei a extensão azul marinho à minha frente.
Eu pensava que, viver a vida, era ter tudo em perfeito estado, mas percebi que mesmo com todos os altos e baixos dessa montanha russa, ainda vale a pena viver. Ainda vale a pena tentar.
Vivemos em um mundo complicado e difícil de entender. Um mundo onde, as vezes, coisas ruins acontecem sequencialmente e de forma intensa. Não é estranho que algumas pessoas escolham desistir.
Mas, deixo aqui, meu obrigada a mim e a todas as pessoas que não desistiram. Porque, mesmo que algumas vezes pareça, nenhuma pessoa está completamente sozinha. Todos e cada um de nós somos importantes nesse grande e maluco quebra cabeça que é a vida. Todos nós iremos interpretar um papel essencial na vida de alguém e cada minúscula atitude nossa terá um efeito no amanhã. É impossível prever qual será seu efeito no futuro, mas, em uma coisa, podemos confiar: o bem sempre irá gerar o bem. Momentos difíceis virão, mas, dê o seu melhor e, no futuro, compensará.
O medo e a dor se espalham, mas, sem dúvidas, o amor também.
FIM
Não é o fim, é só um novo começo.
7 HEARTS - I Will Never Forget You