Sem Você Aqui

– Harry?
Engoli seco enquanto ouvia meu nome repetidamente ser chamado do outro lado da linha. Fechei meus olhos sentindo como se milhares de facas fossem fincadas em meu corpo a cada 'Harry' que era pronunciado.
– Harry, você precisa parar de me ligar ou então me responder.
Sua voz compadecida me dava nos nervos, mas não chegava a tomar conta de mim. Se assim o fosse, eu pelo menos teria mais força para desligar a ligação ou nem chegar a fazê-la.
Além disso, o que eu deveria dizer?
"Desculpe, , eu fui imaturo."
"Fui um arrogante filho de uma puta que nunca soube pedir desculpa direito."
"Meu ciúme foi o que acabou com nós dois."
Ela sabe disso tudo. Repetir provavelmente só a fará lembrar de tudo o que causou o nosso fim. O que a fez se afastar de mim. O que me faz ser o homem mais miserável da Terra.
Ouço seu suspiro e me preparo para ouvir a linha ser cortada. Sempre que suspira, é porque está cansada de esperar, então apenas faz o que devia ter feito há tempos: seguir sua vida.
– Não me ligue mais, Harry. Isso não é saudável - e desliga.
Solto uma risada amargurada.
O que eu daria para dizer a ela que o que não é saudável, e minha vida sem ela ao meu lado? Que desde que ela foi embora minha vida tem parecido como se eu vivesse alterado, como se não quisesse saber de nada mais do que minha dor.

DIA SEGUINTE.

– Alô?
Fecho meus olhos e a voz que estava pronta para ser verbalizada, de repente trava em minha garganta.
– Harry?
Tenho certeza que sabe que estou aqui apenas por minha respiração. Quantas vezes não passamos a madrugada com o celular ligado só ouvindo a respiração do outro, enquanto eu estava em algum lugar do mundo em turnê, e ela permanecia em Londres com seu trabalho rotineiro.
As únicas diferenças são que naquela época eu era o primeiro a desligar e que nós dois terminávamos a ligação com sorrisos no rosto.
– Querido, você precisa seguir em frente. Eu preciso seguir em frente.
Ouvi-la me chamar de querido fez meu corpo doer mais do que qualquer outra pancada que já recebi.

–– S E M V O C Ê A Q U I ––

, sei que você quer meu bem. A bondade em você é tão gigante, que não importa quantas burradas eu tenha feito durante o precioso tempo que tive você comigo, você continua sendo gentil.
Sua vontade em ter um relacionamento saudável comigo, como se fossemos amigos que nunca dormiram juntos ou dividiram momentos inesquecíveis, me enjoa. Sei que não é por mal. Que é só você sendo você.
E tudo isso mostra como o problema sou eu.
Como a melhor coisa que fiz, foi deixá-la perceber meu verdadeiro eu para que tivesse a escolha de ir embora.
Mesmo eu querendo que fique.
Mesmo eu podendo fazer qualquer coisa para tê-la de volta.
Qualquer coisa para fugir dessa maldita solidão que só some com a sua presença. Sua e de mais ninguém.

–– S E M V O C Ê A Q U I ––

UM ANO DEPOIS.

– Nos diga, Harry – o jornalista olhou para mim durante a coletiva de imprensa para divulgar minha turnê –, você disse uma vez que a música To Be So Lonely foi feita para uma pessoa real. Desde então, todos nós estamos morrendo de curiosidade para saber quem é essa diva?
Colocar minha dor em uma música e poder cantá-la com frequência foi amenizando a dor dentro de mim. Com o tempo, aprendi a falar de através de metáforas. Hoje, falo sobre ela como se fosse um momento bom de infância.
– Rá - sorrio, sentindo meu coração leve ao me lembrar de –, se eu quisesse falar quem é, o nome da música seria o nome dela.
– Nenhuma dica? Nada? Nem a inicial do nome?
– Não, não - encosto na poltrona estofada e sorrio –, esse é um segredo que vou guardar comigo para sempre e não vou dividi-la com mais ninguém.
Não vou dividir com mais ninguém. Pensei, orgulhoso de mim.
Orgulhoso de ter feito da solidão, o meu melhor companheiro.

Sem Você Aqui

FIM