Sem Shrek - Especial de Natal

Escrito por S.M Adelino | Revisado por Natashia Kitamura

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Parte da Promoção de Natal 2014

   parecia um tanto desconfortável no meio dos colegas de classe. Estavam todos na sala conversando alto ou fazendo bagunça enquanto ela permanecia sentada na cadeira lendo um livro grosso e, às vezes, se dava ao luxo de tirar os olhos das palavras e observar os outros daquele canto excluído da sala, bem no fundo desta.
   era muito magra, sem atributos físicos, cabelo bagunçado e esquisita demais. A típica garota tímida que parece um cachorrinho indefeso na frente dos outros.
  Depois de uns 30 minutos lutando contra a timidez e a favor da coragem, levantou da sua cadeira e deu os quatro passos até a janela do fundo da sala. Abriu-a por mais que pudesse olhar tudo o que tinha lá fora com ela fechada. O barulho dos automóveis invadiu a sala, que continuou imperceptível dentre os outros alunos e suas vozes escandalosas.
  Ela olhou para a esquerda, onde havia alguns prédios brancos, e para a direita, onde algo azul vinha destruindo tudo. Era o mar. Duas praias ficavam a quatro quadras do colégio, uma de cada lado. Aquela onda azul turquesa com algumas algas verdes e marrons, e sujeiras.
  - Ah meu Deus! – Praguejou chamando a atenção de todos da turma. – Um tsunami!
  - Fecha isso! – Gritou um garoto desesperado enquanto ela tentava, com força, fechar a janela, porém o vento impedia.
  Estavam todos tensos olhando para a mesma direção. Após o mesmo menino ajuda-la a fechar, permaneceu observando a onda tomando tudo lá fora. A onda passava na frente do colégio como se a construção fosse grande demais para destruir. Era possível ver de muito perto a tsunami. estava apaixonada pela cor da onda, nunca tinha visto nada igual.
  Ela percebeu que a onda acabava na praia do outro lado, como se a tsunami estivesse apenas migrando de uma praia a outra. Os olhos dela percorreram a sala e viu ninguém se mexer. Todos estavam com medo demais para reagirem ou falarem algo – este último era bem esquisito, já que sempre tinham um comentário para tudo -, a morte, literalmente, tinha passado diante dos olhos deles.
   saiu correndo da sala e desceu as escadas. Correu pelo pátio até a porta lateral.
  - Talvez se eu permanecer na mesma linha do colégio e ir até a praia, conseguiria salvar algumas pessoas e tirar algumas fotos para o jornal do bairro. – Sussurrou ofegante correndo já fora do colégio conferindo se o celular estava no bolso.
  A praia era longe e ela parecia muito cansada. avistou a praia ao longe, faltava pouco então ela parou de correr e se permitiu a ir andando. Logo pisou na areia e olhou para a onde que vinha lentamente, antes, atrás de si.
  - Garota, saia daqui! – Gritou um garoto de calção de banho. – Salve-se!
  Ela permaneceu no lugar olhando para o belo menino. Ele era magro e tinha um recém-abdômen definido sendo formado. Moreno com cabelo liso e completamente fofo.
  A onda se aproximava mais e mais enquanto a garota se deslumbrava com a beleza masculina.
  - Segure-se em algum lugar se não quiser morrer. – Esbravejou balançando-a pelo braço e tirando do transe.
  - Onde? – Indagou olhando para todos os lados. – Eu não sei nadar. – Choramingou olhando o mar vindo perigosamente.
  Ele puxou-a pelo braço e abraçou-a fortemente. Logo tudo estava tomado por água e o corpo dela foi amortecido pelo dele quando bateu contra o chão. agora olhava de cima para o próprio corpo que estava sendo agarrado pelo garoto. Nenhum dos dois se mexia. Estavam debaixo d’água como pedras e corais.
  Logo um clarão tomou conta de tudo por uns 30 ou 60 segundos. Então já era noite e estava com um vestido preto de festa que ia até antes do joelho. Ela olhava para uma casa de pedras como uma antiga construção inglesa. Luzes coloridas iluminavam o local e a música agitada inundava o ar.
   estava receosa de entrar. Andou até a alta porta e apertou a campainha que teve o som abafado pela música eletrônica que tocava lá dentro. Uma garota extremamente sorridente e maquiada abriu a porta.
  - Entre e bem-vinda a nova vida! – Gritou por cima da música.
  Puxou para dentro da casa, que agora era de festas. Os créditos finais começaram a subir na tela por cima da imagem pausada de Lera se divertindo com os outros mortos, inclusive o garoto da praia.
  Laura olhou para a televisão que indicava o início de outro programa e o fim daquele filme. Ela estava sentada no sofá com o ventilador virado para si em plena véspera de datas festivas na casa quente de sua vó.
  Laura pegou o celular e abriu o , escrevendo uma mensagem e postando:
  “Esse foi o filme mais esquisito que passaram no Especial de Natal. Eu preferia quando passava Shrek. Era feliz e não sabia.”



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