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#016 Temporada

Season of the heart
Seo In Guk



Seasons Of The Heart

Escrita por Kaah Reiis | Revisada por Songfics

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  Dia do término.

  A garota estava estática, sem acreditar nas palavras que tinham sido pronunciadas pelo namorado – ou seria ex? –, a moça estava confusa, a ficha ainda não tinha caído, mas ela já sentia aquela sensação de perda em seu peito, era como se algo tivesse começado a prender sua respiração e aos poucos ela sentia o ar lhe faltar.
  No fundo, bem lá no fundo, ela sabia que existia alguma coisa de muito errada naquela história, mas talvez seja apenas o fato de que mais uma vez na sua vida, garota foi enganada pela pessoa que um dia ela pensou ser o homem de sua vida.
  Até ontem ele estava dizendo que a amava, que nada nem ninguém os separaria. E como agora ele vinha dizer que tudo não passou de uma mentira? Como ele poderia dizer que os dois anos que passaram juntos não passou da droga de uma brincadeira?
  – Você pode repetir o que acabou de dizer, por favor – a voz da garota saiu fraca e quebrada, da mesma maneira que ela se sentia, como se sua voz pudesse transparecer tudo o que ela estava sentindo. – Acho que não ouvir direito.
  O rapaz bufou já ficando impaciente, ele não queria ter que repetir mais uma vez que não a queria mais.
  Será que era tão difícil entender?
  – Eu menti, usou de toda grosseria para proferir a frase, estremeceu ao ouvir novamente que ele estava mentindo, e ela sentia aquela sensação de aperto apenas crescer. – Tudo o que vivemos foi uma mentira, todas as declarações de amor, as risadas, os beijos... Era tudo mentira.
  Os olhos de encheram-se de lágrimas que logo escorreram por seu rosto, a expressão séria de vacilou quando ele viu a garota desabar na sua frente e por um breve segundo ele se arrependeu por estar fazendo aquilo, mas apenas por um segundo.
  – Vá embora – ela finalmente conseguiu dizer, as lágrimas ainda escorrendo livremente por sua face. – Creio que você não tenha mais nada para fazer aqui.
   respirou fundo e até pensou em dizer algo, mas logo mudou de ideia e caminhou em direção a porta, mas antes de sair deu uma última olhada para a garota que chorava silenciosamente no meio da sala de estar.
  Ele tinha plena consciência que se arrependeria amargamente no futuro por ter terminado aquele relacionamento, mas ele tinha mais certeza ainda que depois de tudo que tinha dito a , ele não tinha mais como voltar atrás.
   sentia-se desolada, a dor em sem peito era massacrante. E ela amaldiçoou-se por ter acreditado no amor novamente, e principalmente por ter acreditado que era diferente.
  Mas ele era.
  Ele era pior que todos os outros cara com que ela se envolveu um dia.
  A moça respirou profundamente tentando conter as lágrimas que jorravam, ela não queria mais chorar e nem deveria, afinal não merecia aquelas lágrimas.
  Caminhou até o quarto que um dia dividiram, ela correu os olhos por todo cômodo, as lembranças vinham em uma enxurrada trazendo ainda mais lágrimas.
  Quantas vezes se amaram naquela cama?
  Quantas planos fizeram enquanto encaravam o teto branco?
  Quantos sonhos, beijos, abraços, sorrisos...
  Quantos momentos compartilharam ali dentro.
  Momentos que foram tão importantes para ela...
  E para ele, bom, para ele era apenas uma mentira bem contada.
  Para ele era apenas uma brincadeira, que se tornou uma ilusão na vida dela, uma ilusão que tinha sido destruída, assim como todos os seus planos e sonhos...
  – Como ele pôde brincar com a minha vida dessa maneira? – a voz dela era quase um sussurro, e aquela era uma pergunta que talvez ela nunca obtivesse resposta. – Como ele pôde?
   agarrou a primeira coisa que viu pela frente, um porta-retrato de vidro que estava na escrivaninha ao lado da porta, era a porcaria de uma foto dos dois juntos, no primeiro dia na casa nova, quando finalmente haviam realizado o sonho de morar juntos.
  Com um grito de ódio e dor ela atirou o objeto contra parede, vendo-o se quebrar em alguns pedaços, mas deixando a foto intacta. A moça correu até o local e pegou a foto, olhou uma última vez para a imagem congelada de um sorriso tão verdadeiro em seu rosto, e de um sorriso que agora ela sabia que era falso no rosto de seu ex.
  – Eu te odeio, – ela disse aos soluços enquanto rasgava a foto em dezenas de pedaços. – Mas eu te amo.
  Ela sentou no chão encostando as costas na parede, e chorou ainda mais. Na tentativa falha de expulsar aquele sentimento de dentro de si.
  Ela tinha plena consciência que não esqueceria com facilidade, mas estava disposta a esquecer aqueles dois anos.
  Apenas quando sentiu um forte ardor em sua mão direita que percebeu que estava com alguns cacos de vidro em sua mão, que cortaram sua palma e fizeram com que algumas gotas de sangue pingassem no chão.
  A moça olhou para sua mão ensanguentada, pegou um pedaço vidro e na auge do desespero pressionou contra seu pulso esquerdo, até que finalmente fez um corte profundo no local e ainda cortou um pouco mais a mão direita, devido a força que pressionava o caco de vidro, aquilo foi o suficiente para que a menina se arrependesse da loucura no minuto seguinte.
  Onde ela estava com a cabeça?
  Iria se matar por causa de um babaca?
  O sangue escorria com intensidade fazendo-a entrar em desespero.
  Ela engatinhou até a cama onde estava seu celular e procurou o número da única pessoa que poderia lhe ajudar naquele momento sem julga-la pelo que pensou em fazer.
  – Alô? – o garoto atendeu no segundo toque, a voz saindo cansada como se ele estivesse correndo.
  – Preciso de sua ajuda – gaguejou até finalmente concluir a frase. – Acho que eu fiz uma besteira.

[...]

   encarou o pulso que agora estava com oito pontos devido a costura que fizeram no hospital, a mão direita estava avermelhada por causa do mercúrio que foi usado para evitar infecções. O remédio para dor tinha deixado a menina mais calma, mas ela ainda sentia aquele aperto no coração devido ao momento que estava vivendo.
  – Você tentou se matar, – o amigo estava perplexo, não acreditando que a amiga tentou cometer suicídio. – Porque você fez isso? Onde o está?
  – Ele...
  O celular do rapaz tocou antes que ela pudesse terminar a frase, com o cenho franzido ele atendeu a ligação cravando os olhos na amiga que estava sentada na maca ainda na sala de curativo.
  – Fala, .
   estremeceu ao ouvir o amigo dizer o nome do ex.
  – Está aqui na minha frente – continuou a conversa, e sentiu o seu coração aquecer ao perceber que perguntava por ela. – Ela teve um acidente com um porta-retrato. Estamos no hospital. Não se preocupe, ela vai ficar bem.
  O rapaz trocou mais algumas palavras com o melhor amigo e logo desligou, colocando o celular no bolso da calça novamente.
  – Você pode me explicar o que está acontecendo, porque eu juro que estou boiando nessa história – o rapaz suplicou, ainda sem entender metade do que estava acontecendo. – Vocês dois brigaram, foi isso?
  – Não, – a menina balançou a cabeça para dar ênfase ao que dizia. – O que o queria?
  – Parece que ele chegou na casa de vocês e encontrou o pequeno desastre no seu quarto, junto com o sangue em cima da cama e no chão, como você deixou seu celular na sua casa, ele ligou para mim para saber se eu fazia alguma ideia de onde você estava... – deu de ombros, mas em seguida analisou a conversa com o amigo em sua cabeça, até concluir algo. – Mas ele não disse que vem te buscar.
  – Eu sei que ele não vem.
  – Você pode me explicar o que está acontecendo? Eu juro que não estou entendendo.
  Como ele não entendia? era o melhor amigo de , um contava tudo ao outro, então era evidente que sabia que tinha terminado com ela.
  A garota analisou o amigo, os cabelos castanhos escuro estavam desarrumados como sempre, os olhos castanhos esverdeados estavam preocupados, e ela sabia disso porque conhecia bem o suficiente para saber que ele estava preocupado com ela, afinal a ruga entre as sobrancelhas e fato dele morder os lábios a cada dez segundos demonstravam sua preocupação. Ele sempre mordia os lábios quando alguma coisa estava o perturbando, e naquele momento não saber o que se passava com o deixava quase louco. O garoto sempre se preocupou demais, a protegeu demais, mesmo quando a garota começou a namorar seu melhor amigo. conhecia bem o suficiente para saber que ele um dia quebraria o coração da garota.
  E parece que aquele dia tinha chegado.
  – Teu amigo terminou comigo – os ombros da menina caíram, e os olhos encheram-se lágrimas. – Ele disse que mentiu para mim esse tempo todo.
  – Ele o quê? O quê aquele imbecil fez a você, ? – alterou-se imediatamente, a mão direita fechando-se em um punho. sentia que poderia quebrar a cara do amigo se ele estivesse ali naquele momento. – O quê aquele babaca disse a você?
  – Disse que nós vivemos uma mentira esse tempo todo, mas eu não entendi bem o que ele quis dizer com isso – confessou , atordoada demais, a sua fragilidade e sua dor eram evidentes, e deixavam o coração de em pedaços. – Como ele pôde alimentar uma mentira por dois anos? Isso não faz sentido, .
  – A melhor coisa que ele fez foi terminar isso, é bem melhor você saber a verdade do que continuar vivendo na mentira que ele criou – aproximou-se de e parou em frente a moça. – Você vai ficar bem, . Mas promete pra mim que você nunca mais vai tentar fazer o que fez hoje. Você teve sorte que eu estava por perto para te socorrer.
  – Obrigada, – ela tentou sorrir, mas infelizmente mal conseguiu mover os lábios para fazer tal gesto. – E eu nunca mais vou fazer, eu me arrependi logo que fiz, foi um momento de loucura. Eu não vou tentar novamente.
  – Vou confiar em você – ele a ajudou a levantar para que pudesse abraça-la. – Não me decepcione.
  – Não irei.

[...]

   insistiu para que o deixasse entrar em casa junto com ela, o menino ainda tinha medo do que a garota poderia fazer se ficasse só, mas garantiu que ficaria bem, só precisava ficar um tempo sozinha para finalmente digerir os fatos.
   abriu a porta e entrou na casa, estava tudo do jeito que ela havia deixado, não tinha mexido em nada, mas ela sabia que encontraria algo fora do lugar em algum lugar da casa. Caminhou lentamente até o quarto e se deparou com uma mala fechada no chão, e ela voltou a sentir aquele incômodo no peito.
  Era a mala de , ele realmente estava decidido a acabar com ela de uma vez só.
  A garota tentou não se abalar com o que via, deu meia volta e foi até a cozinha pegar um copo com água, mas se arrependeu ao parar de frente a geladeira e vez um bilhete do ex-namorado.
  “Volto outra hora, para buscar a última mala. Se for sair, por favor, deixe a chave embaixo do vaso de plantas.”
   sentiu o ar lhe faltar novamente, e mais uma vez lágrimas começaram a escorrer por seu rosto.
  Ela nunca imaginou que poderia sofrer por alguém como está sofrendo, não imaginou que essa dor seria tão massacrante.
   sentou-se no chão quando sentiu suas pernas falharem, ela sentiu todo o seu corpo fraco, como se não tivesse mais controle de si mesma.
  Tentou se levantar, mas não conseguiu, então decidiu ficar alguns minutos sentada, esperando o momento em que se recuperaria emocionalmente para tentar levantar novamente.

  Fevereiro de 2018.
  Era o primeiro dia na universidade nova, desde que mudou de cidade e consequentemente de faculdade, ela não conhecia ninguém naquele lugar e isso estava deixando-a completamente desconfortável.
  Ela agradeceu aos seus céus por ninguém naquele estar prestando atenção nela, principalmente porque ela detestava ser o centro das atenções, e odiava ter que fazer amigos, por isso nunca entendeu o que tinha na cabeça quando se inscreveu para uma bolsa de estudos para continuar o curso naquela universidade.
  Ela se sentia perdida no meio daquelas pessoas. Tudo bem! Ela estava realmente perdida, sentido literal da palavra, a moça até não fazia ideia de onde deveria ir.
  Até poderia perguntar a alguém, mas a vergonha era maior e isso a deixava frustrada, porque ela não era uma pessoa vergonhosa — não o tempo todo —, mas às vezes era atingida por lapsos de timidez que a irritam profundamente.
  Tirou o celular do bolso da calça jeans e discou o número de – o melhor amigo que morava na cidade há alguns anos, e também estudava ali –. Ela sentia que precisava ir embora dali, ainda não estava preparada para se enturmar.
  Antes que pudesse se quer por o celular para chamar, foi atingida por algo gelado e lilás que estragou a blusa branca e junto com ela, o celular.
  — Mas que... — olhou chocada para frente e viu dois garotos encarando-a de maneira assustada. —... Droga!
  — Eu sinto muito — o garoto mais lindo que a moça já viu aproximou-se dela com um copo na mão. — Isso não era pra você, me desculpe.
  — Idiota — resmungou sentindo os olhos marejarem, ela sentia que a qualquer momento poderia chorar. — Que ódio!
  — O que houve aqui, ? — uma garota perguntou surgindo das cinzas.
  — Eu molhei a garota com suco de uva — o garoto mais lindo do mundo disse, era o nome dele.
  A garota que acabou de chegar revirou os olhos.
  — Você e suas brincadeiras idiotas — ela aproximou-se de e deu um meio sorriso. — Vem comigo, vou te ajudar, a propósito, sou Luna.
   — murmurou sentindo os olhos arderem. — Porque isso tinha que acontecer comigo?
  — Calma, — Luna a puxou pela mão e a arrastou para algum lugar, mas antes fuzilou com o olhar. — e Manoel são duas crianças. Sinto muito por isso.
  — Acho que meu celular estragou — acompanhou Luna até o banheiro. — Eu não acredito.
  — Eles vão pagar um novo pra você, não se preocupe — Luna sorriu entregando uma blusa para a novata. — Veste isso, você me devolve depois.
  — Obrigada, Luna — deu um meio sorriso.
  —  Vai fazer que curso?
  — Administração — deu de ombros e jogou o celular estragado dentro da bolsa. — Só que estou perdida.
  — Aí, , me abraça — Luna aproximou-se da garota e a abraçou.
   retribuiu  o abraço meio assustada. — 'Tá tudo bem?
  — Ah, me desculpe — Luna a  soltou e riu meio sem graça. — Acho que vamos estudar juntas.
  — Jura? — pelo menos uma notícia boa. Luna assentiu com um sorriso no rosto. — Que ótimo, estava me sentindo um nada aqui, sério.
  — Agora vamos, temos cinco aulas pela frente — Luna a puxou pelo braço e juntas saíram do banheiro.
   e o outro garoto estavam esperando-as do lado de fora do banheiro.
  — 'Tá tudo bem? — perguntou encarando , que revirou os olhos. — Me desculpe
  — Poupa a garota, — Luna disse empurrando-o levemente. — Vocês devem um celular para ela. Agora tomem jeito, principalmente você: Manoel Monteiro.

  O dia seguinte ao término.

   não entendeu de onde tirou coragem para levantar da cama naquele dia, mas ela precisava ir para a faculdade, era seu último ano e ela tinha trabalhos para entregar.
  Tudo o que ela queria era não ter que encontrar pelos corredores, apesar de ela saber que era quase impossível, já que as aulas dele do dia eram no mesmo prédio que as dela.
  Ela respirou fundo quando parou o carro no estacionamento do a faculdade, o rapaz pegou não da menina, que estava com os olhos cheio de lágrimas.
  — Você é forte, ! — ele sorriu apertando mais forte a mão da amiga.  — Não deixa isso te destruir.
  — Estou tentando, deixou uma lágrima escorrer por seu rosto. — Mas está muito difícil.
  — Você já superou coisa pior — ele soltou  o seu cinto de segurança, e o da amiga e a puxou para um abraço. — Levanta a cabeça!
  A moça se afastou e limpou indícios de lágrimas de sua face, em seguida respirou fundo e abriu a porta do carro e desceu.
   seguiu por um caminho oposto, já que as aulas dele eram num prédio diferente do que estudava, por isso ela teria que enfrentar os olhares alheios sozinha.
  Ela tentava caminhava de cabeça erguida, para que ninguém naquele lugar não prestasse atenção nela, mas era quase impossível, já que a atadura em seu pulso esquerdo chamava muito atenção.
   pôde ouvir alguns comentários sobre a sua situação, mas ela apenas levantou ainda mais a cabeça tentando a todo custo se manter forte, mas infelizmente isso não durou muito, porque quando ela menos esperou surgiu no corredor caminhando em sua direção.
  Ela percebeu quando o olhar do rapaz percorreu o rosto de e foi descendo até parar no pulso da moça, a expressão séria no rosto de se desfez, e um sentimento de culpa o atingiu.
  Ele tinha plena certeza de que aquilo era culpa dele.
  — O que houve com você? — parou em frente a ex-namorada, e pegou no braço machucado da moça. — Você tentou tirar a sua vida?
   engoliu em seco, ela tentou se manter firme para que seu tom de voz não demostrasse toda a dor que consumia seu peito.
   — Não foi nada — ela puxou o braço delicadamente, para evitar ainda mais atenção dos outros universitários. — Sofri um acidente doméstico, e você já sabe disso.
   respirou fundo, sentindo a dor da dureza em que a ex a tratava.
  Mal ela sabia.
  — Tudo bem, só fiquei preocupado.
  — Você não precisa mais se preocupar comigo — foi ainda mais dura em seu tom de voz. — A minha vida não interessa mais a você.
  — ...
  Mas ela o deixou falando sozinho, quando saii sem ao menos se despedir.
   virou-se para ver a ex sumir no corredor, e soltou um suspiro triste.

  Junho de 2018

   andava feito uma sonâmbula pelos corredores da Universidade, o final de semana foi muito cansativo, era semana de provas antes das férias e ela quase não dormiu, já que os professores sempre pegam pesado nessa época, hoje, por exemplo, ela foi dormir às cinco da manhã, isso porque a obrigou dizendo que não adiantaria de nada o estudo se ela não descansasse.
   dormiu e quase perdeu a hora.
  A moça achava que tinha se saído bem na primeira prova do dia, estudou muito para ela então não era possível que as respostas que teria dado, estavam incorretas.
  Estava indo em direção ao pátio, era hora do almoço e a moça necessitava urgentemente de algo para por no estômago, já que não tinha tomado café da manhã.
  Durante o caminho cumprimentou algumas pessoas, que teria conhecido através de Luna e Manoel —, que eram pessoas maravilhosas, e tinham se tornado importantes para a moça.
  De todas as pessoas que tinha conhecido naquela faculdade, o único que ela não se dava bem era com . Depois do incidente com o suco de uva, os dois tiveram outros desentendimentos durantes os quatro meses que se conheciam. Tudo bem que ela não fazia questão de deixar o rapaz se aproximar, e ele com as brincadeirinhas sem graça, também não ajudava.
  Em todas as vezes em que se encontravam durante o dia, sempre brigavam, os amigos diziam que os dois viviam entre tapas e tapas.
   passou a mão no rosto e fechou os olhos tentando mandar o cansaço para longe, foi nesse instante que um corpo se chocou contra o dela, levando-a de costas para o chão. ficou um pouco atordoada, mas logo se recuperou e encarou a pessoa que além de tê-la derrubado, ainda estava em cima dela.
  Como que por ironia, era nada mais nada menos que .
  — Tinha que ser a criança — a garota resmungou empurrando-o de cima de si com uma tapa no rosto. — Por que você não experimenta crescer?
  — Seus argumentos continuam os mesmo — debochou com um sorriso brincalhão, fazendo a moça revirar os olhos.
  — E você continua o mesmo moleque — entrou no refeitório, com em seu encalço.
  — Sai comigo que eu te mostro como sou homem.
   seguiu a moça até a cantina, tentava a todo custo não virar e dar outro tapa no garoto.
  — Não saio com moleque que fingi que é homem — a cara cínica que surgiu no rosto de , apenas fez com que abrisse um sorriso enorme no rosto.
  E que sorriso lindo, ela pensou.
  Foi nesse instante que caiu em si, só fazia o que fazia porque a via como um desafio.
  E obviamente aquilo a irritou profundamente.
   comprou o seu almoço com ainda enchendo o seu saco. Ela respirou fundo tentando não ter um ataque de fúria ali mesmo, no meio de toda a universidade.
  — Alguém aí tem uma 38, uma AR-15 ou até um canhão para que eu possa matar esse animal? — ela disse assim que se aproximou de Luna, Manoel e . — Eu não aguento mais ouvi a voz desse filho da mãe.
  — Estou aqui, viu? — resmungou sentando ao lado de Manoel.
  — Fala com a minha mão.
  Luna e os meninos apenas riam, já estavam acostumados com a implicância que um tinha com o outro, e os três sabiam que aquilo só poderia dar em uma coisa.
  — Isso vai dar namoro — Manoel zoou, atraindo o olhar nada amistoso da mais nova. Falei alguma mentira?
  — Cala a boca, Manoel  a moça sentou ao lado de .
  — Sem estresse, passou o braço pelo pescoço da amiga. — O que houve?
  — Eu simplesmente a convidei para sair — tentou explicar. — E ela resolveu dá piti.
  — Resolvi dá piti — o imitou fazendo careta.— Você me jogou no chão.
  — Foi sem querer — ele se defendeu.
  — Sem querer — a moça repetiu novamente.
  — Sim, dá para parar de repeti o que eu falo? — arqueou uma das sobrancelhas.
  — Dá para você voltar para o útero da sua mãe? — a moça repetiu o gesto do rapaz. — Não, não é? Então me erra.
  — Esse ódio de vocês só pode ser amor, não é possível, gente! — Luna comentou, e logo recebeu uma bola de lenço de papel na cara.
   chamou a atenção da moça novamente. — Sai comigo?
  — Não sou babá para cuidar de criança — um sorriso irônico surgiu no rosto da moça.
  Os três amigos que acompanhavam a cena riram novamente.
  — Por favor, — fez uma carinha fofa.
  — Eu nunca vou sair com você.
  O tom de voz de foi tão firme, que quase desistiu de insistir para que a moça saísse com ele. Quase.
  — Nunca diga nunca — o rapaz piscou o olho esquerdo para a moça, antes de se levantar da cadeira.
  Quando se deu conta, estava em cima da mesa fazendo barulho para chamar a atenção dos outros estudantes.
  — Eu quero fazer um convite para uma garota que está aqui no refeitório — fez careta quando viu o olhar de umas quatro garotas brilharem, duas delas eram ex-namoradas do rapaz. — Nós vivemos uma relação de ódio e... — foi à vez dele fazer careta. — Ódio? — algumas pessoas riram. — Ela me chama de moleque, mas quero que ela saia comigo para que eu prove que posso ser o homem que ela procura. , deixa eu te provar que posso ser o homem da sua vida?
   só queria que o chão se partisse ao meio e ela caísse no buraco quando viu que todos olhavam para ela, ela tinha certeza que estava parecendo um tomate de tão vermelha, ela só não sabia se era de raiva ou vergonha.
  O olhar da moça cruzou com o de , que mantinha um sorriso no rosto, no mesmo instante, levantou e puxou o rapaz pela manga da camisa. Ele se desequilibrou e quase caiu.
  E era isso que queria, que o rapaz caísse e quebrasse a cara.
  — Você é muito idiota — ela resmungou irritada voltando a se sentar, dessa vez com os braços cruzados.
  — Você aceita ou não? — ignorou o comentário.
  — ACEITA! ACEITA! ACEITA! ACEITA! — Manoel, Luna e até mesmo começaram a gritar.
   cobriu o rosto com as duas mãos, ela queria gritar, mas ao invés disso apenas respondeu o que queria ouvir.
  — 'TÁ BOM! 'TÁ BOM! 'TÁ BOM! — a moça berrou levantando num pulo, e saiu batendo o pé.
  Ainda pôde ouvir os amigos chamando por ela, mas tudo o que ela queria era sumir daquele lugar.

  Um mês após o término.

  Era domingo, estava empacotando as suas coisas, iria se mudar, voltar a morar com no apartamento em que dividiam antes da moça ir morar com o namorado. Iria voltar para o lugar de onde nunca deveria ter saído.
  A moça não falou com depois daquele encontro acidental no corredor da faculdade, a não ser por mensagem de texto, obviamente, que o viu algumas vezes, mas sempre dava um jeito de não se aproximar dele.
  As duas semanas que se passaram foram difíceis para , ela era acostumada a viver junto com , a acordar todos os dias ao lado do ex. A moça pensou que os dias iriam amenizar a dor de ter sido deixada, mas apenas intensificou.
  Cada novo amanhecer, era uma nova batalha para enfrentar longe de quem ela dizia ser o amor de sua vida.
  Era incrível como tudo fazia a moça lembrar do rapaz, cada mínimo detalhe, até mesmo as noites frias, que eram as que ele mais gostava, que agora para ela, era motivo de tristeza e solidão, por ele não estava mais ali para aquece-la.
   respirou fundo, e levantou assim que fechou a última caixa.
  Olhou em volta se certificando de que não tinha esquecido nada, não queria ter que voltar ali e reviver mais momentos com .
  Ouviu batidas na porta e deixou o quarto, indo abrir, por um momento ela desejou que fosse , mas ela sabia que não era, sabia que era que teria vindo para ajuda-la com a mudança, e as suas certezas apenas se confirmaram quando ela abriu a porta e viu o melhor amigo parado ali, com algumas sacolas na mão.
  — O que é isso? — perguntou dando espaço para o amigo entrar. — Comida?
  — O que você acha? — ele perguntou indo em direção a cozinha com a moça logo atrás de si. — Eu tenho certeza que você não comeu.
  — Realmente — ela passou a mão na barriga quando sentiu o estômago roncar. — O que seria da minha vida sem você?
   aproximou-se e abraçou o rapaz que estava entretido tirando o lanche de dentro das sacolas.
  — Não seria nada — ele sorriu abraçando-a. — Falta muita coisa ainda?
  — Somente algumas louças, o restante eu já empacotei tudo.
  Ela deu de ombros após se afastar do amigo para ir até o armário pegar dois copos.
  — Tem certeza que vai deixar os móveis? —perguntou abrindo a garrafa de refrigerante.
  — Tenho — pôs os dois copos sobre a mesa, e serviu a bebida para os dois. — Vou alugar com tudo dentro.
  — O está de acordo, não é?
  — Eu mandei uma mensagem para ele para perguntar se ele queria alguma coisa daqui — a moça puxou uma cadeira e soltou para poder se alimentar. — Eu expliquei que iria alugar a casa, e ele me garantiu que não queria nada.
   assentiu, em seguida sentou de frente para a moça. Empurrou um dos lanches para ela e ficou com um para si.
  — Você falou com ele esses dias? — abriu a embalagem de comida e quase morreu de felicidade quando viu que era um hambúrguer. — No caso, vocês conversaram?
  — A gente combinou de sair com o Manoel no final de semana que passou, mas ele não foi.
   deu de ombros, o rapaz sabia que tinha algo acontecendo com o melhor amigo, mas ainda não sabia o que era.
  Mas ele iria descobrir.

  Dois meses depois do término.

   assistia um filme qualquer na tv, a moça estava mais entretida nas mensagens que trocava com Luna, a melhor amiga que ela não falava há semanas, mesmo estudando algumas aulas juntas, as duas teriam se afastado um pouco devido aos dias obscuros que estava vivendo.
  Luna tentava convencer a sair com ela, mas a mais nova estava irredutível, desde que terminou com , ela tinha se fechado para o mundo, só saía para ir a faculdade, isso porque ela tinha obrigação de se formar no final do ano.
  A moça se assustou quando viu a abertura de um dos filmes da Marvel, e sentiu aperto no peito quando viu que se tratava do filme que viu com no primeiro encontro.
  Nunca nem um milhão de anos ela imaginou que iria chorar assistindo Homem-Formiga e a Vespa, parecia até cômico chorar assistindo um filme de ação.
  Ela até quis mudar de canal, mas deixou ali, porque viver as lembranças do que viveu com o ex era única coisa que lhe restava.
  Mesmo que para ele tudo tenha sido uma grande mentira.

  Julho de 2018.
  Demorou semanas até decidi marcar uma data para o encontro com , obviamente ela enrolou o máximo que pôde, mas quando não teve mais desculpas foi obrigada a dizer que sairia com o rapaz naquele dia.
  Ele chegou as oito em ponto para busca-la, estava vestido com calça jeans preta e uma camisa branca de mangas compridas, estava lindo, foi o que pensou quando os olhos dela encontraram os dele.
  O caminho até o local do encontro foi silencioso, eles não tinham muito o que conversar, afinal nunca se deram bem, então não faziam ideia se tinham ou não alguma coisa em comum.
   estava nervoso, com medo de odiar aquele encontro e consequentemente odiá-lo ainda mais, o rapaz tinha medo de frustrar tudo o que tinha planejado para aquela noite.
  — Chegamos — chamou a atenção da moça desligando o carro.
  — Onde estamos? — olhou pela janela e percebeu que estavam em um estacionamento. — Desculpa, não prestei atenção ao caminho.
  — Shopping — o rapaz deu de ombros — Espero que você goste dos filmes da Marvel, porque iremos assistir Homem-Formiga.
  Ela sorri. — Ótima escolha,
  — Ponto para mim, — o rapaz piscou um dos olhos para ela, que apenas riu.
   saiu do carro às pressas e abriu porta para que ela pudesse descer.
  Caminharam juntos pelo shopping, ainda tinham meia hora até o início do filme, foi bastante atencioso, o tempo todo perguntou se gostaria de alguma coisa, e ela respondia que estava bem, mas não fazia isso para ser chata, e sim porque estava bem.
  Durante o filme, conversaram bem pouco, ambos queriam prestar atenção ao que estava acontecendo e todas as vezes que conversaram algo era sobre o filme e nada mais.
  Quando a seção acabou, foram jantar em algum Fast Food, mas já era quase meia-noite então tiveram que pedir no drive-thru e comeram dentro do carro mesmo.
  — Meus planos não eram esses. Juro que não era para estarmos dentro do carro — comentou encarando a moça que apenas riu. — Você é sempre tão calada?
  — Não sou uma pessoa muito sociável — deu de ombros olhando-o por um breve segundo.
  — Por que você me odeia tanto? — fez uma cara de confuso. Ela achou fofo. — Tudo bem que eu fiz algumas idiotices, mas todas às vezes eu pedi desculpas.
  — Você quer listar quantas vezes agiu como um idiota?
  A moça arqueou uma das sobrancelhas, o rapaz riu e pediu para que ela fizesse a tal lista.
  — Você me deu um banho gelado com suco de uva, puxou a cadeira que eu iria sentar e fez com que eu caísse no chão, bateu com a porta do seu armário na minha cara, me deu uma bolada...
  — Ok, você tem motivos — levantou os braços rindo. — Me desculpa por tudo.
  — Me desculpa também, eu agi feito uma babaca com você — deu um meio sorriso. — Geralmente eu não sou assim com as pessoas.
  — Então, amigos? — estendeu a mão para mim.
  — Amigos.
  Os dois apertaram as mãos, ambos com um sorriso no rosto.
  Quando acabaram, a levou para casa.
  — Estás entregue — sorriu desligando o carro. — Espero que tenha curtido a noite.
  — Não foi tão ruim assim.
  Ela fez graça, apenas fez uma careta. — Estou brincando, eu adorei a noite. Foi... Melhor do que pensei.
   confessou soltando um suspiro. Realmente não era quem ela imaginou que fosse, talvez fosse isso que faltava, que ela desse a oportunidade para que o rapaz mostrasse para ela quem era realmente.
  — Que bom — ele riu.
   com todo o seu cavalheirismo desceu do carro e abriu a porta para que a moça pudesse descer.
  — Obrigada — agradeceu assim que o rapaz fechou a porta. — Tchau, .
   deu as costas para ele para poder caminham em direção a sua casa, mas foi impedida por um puxão no braço que a levou de encontro ao corpo de .
  — Você pode me odiar depois disso — fechou os olhos e franziu o cenho enquanto falava, como Edward Cullen fez quando a Bella falou sobre os olhos dele que mudaram de cor e ele disse que eram as luzes florescentes, foi isso que a moça pensou quando viu fechar os olhos. — Mas, eu me odiaria se não fizesse isso.
  E ele a beijou.
  E minhas pernas dela fraquejaram, um frio cortou todo o seu corpo e foi assim que ela soube...
   era o homem da sua vida.

   se negava a acreditar que aquilo tinha sido mentira, se negava a acreditar que ele fingiu tudo isso.
  Ela nem percebeu, mas estava chorando, chorando enquanto assistia o filme da Marvel, chorando lembrando que amava alguém que mentiu para ela durante dois anos, chorando enquanto quem ela amava estava longe e não queria vê-la.
  A moça pegou o celular, digitou o número que ela sabia de cor e ficou observando aqueles números, queria ligar, mas o medo de ser ignorada a impediu.
  Ao invés disso, ela levantou.
  Chorando compulsivamente caminhou até o quarto do melhor amigo, ele tinha ido se encontrar com , finalmente o rapaz arranjou um tempo para conversar com , coisa que não fazia há semanas.
  Ela não suportava mais, não poderia aguentar viver com aquela dor. Ela só queria que aquilo acabasse, que a dor se dissipasse.
  Foi pensando nisso que ela vasculhou as gavetas do melhor amigo até achar uma caixa de remédios, que o amigo tomava para o controle da ansiedade, num ato de desespero ela tirou todos os comprimidos da cartela.
   não pensava no que estava fazendo, ela apenas pensava na dor que sentia em seu coração, ela apenas agiu no modo automático.
  Foi automático quando ela colocou os comprimidos na boca, automático quando ela foi até a cozinha e abriu uma lata de cerveja para ajudar a engolir os medicamentos, e foi automático quando ela se deitou no sofá para esperar que a dor fosse embora.
  Demorou poucos minutos para que a moça começasse a sentir o efeito dos medicamentos, ela ainda pôde ouvir vozes ao fundo, vozes que ela sabia ser de e , mas estava tudo tão distante que ela sequer pôde responder.
  Ela sentiu seu corpo ir relaxando, sentiu o ar ir se dissipando de seus pulmões e sentiu seu olhos irem se fechando, até que ela não viu mais a luz, somente a escuridão.
  A escuridão que ela queria que fosse eterna.
  E foi.

FIM