San Diego
Escrito por Melissa Lima
- Deu U$24,60.
oferecia um sorriso simpático à mulher a sua frente, esperando que ela lhe desse o dinheiro para que ele cobrasse as suas compras e lhe desse o troco correto. A mulher lhe deu uma nota de vinte e outra de cinco, fazendo com que o rapaz lhe entregasse quarenta centavos de troco e, com um “boa tarde”, despediu-se.
Devia ser por volta de três e meia da tarde, não podia ter certeza, pois não tinha relógio na loja, mas deduziu pela posição do sol no céu. Já trabalhava naquela loja de conveniências de um posto de gasolina havia mais de um ano e não tinha um dia sequer em que não se perguntasse o que tinha feito com sua vida para, aos 27 anos, estar trabalhando em um lugar como aquele há tanto tempo, onde os adolescentes se candidatavam a trabalhar somente nos verões para tirar algum dinheiro ou então passar o tempo até encontrarem um novo passamento que os tirassem do tédio.
Sometimes I wonder where our lives go
Quando adolescente tinha o mundo a seus pés: capitão do time de basquete da escola, compositor nas horas vagas, namorava a garota mais popular (e, quebrando o clichê de filme adolescente, ela era, também, a mais inteligente de seu ano), contava com um vasto leque de amigos, não tinha responsabilidade e vivia a vida do seu modo: inconsequente. sabia, na verdade, que tudo tinha começado ali, com essa maneira descontrolada de viver, pois tinha total ciência que seu sorriso era capaz de abrir portas para todos os cantos do mundo e com qualquer pessoa. Foi dessa maneira que conheceu o álcool e também as drogas, sendo os principais culpados por levá-lo ao fundo de poço, no qual ainda se encontrava mesmo após 10 anos.
Tudo aconteceu muito rápido. Pode parecer clichê, mas a primeira droga abriu porta para as demais e quando viu já estava viciado em todas elas. Por causa do vício, perdeu as bolsas de estudo que tinha garantido jogando pelo seu colégio no primeiro ano do ensino médio, já que em seu último semestre não compareceu a um jogo, sendo expulso do time e todas as menções honrosas não tiveram mais o seu nome. Isso deixou bravo, como era de se esperar, mas, apesar de novo, sabia que a culpa era toda sua e para descontar toda a sua raiva e frustração, se afundou ainda mais nas drogas e no álcool, passando por uma overdose forte quando tinha apenas 18 anos. Sua até então namorada, , já estava no ápice da preocupação, quando terminou com ela por achar melhor que a garota se afastasse de si para que vivesse melhor, sem preocupações. A verdade é que tinha sido um péssimo namorado desde que adquiriu hábitos nocivos, deixando-a de lado e a maltratando sempre que possível e sempre fora tão paciente. A mulher não merecia alguém como ele, o rapaz pensava sempre, mas era incapaz de deixar a garota ir, pois, por mais babaca que ele fosse, era o seu equilíbrio. Mas até teve que admitir que seu estado estava crítico e não queria levar ninguém mais consigo, então, terminou com .
They question who we used to be
Sometimes I feel like I'm the oxygen between
The cigarette and gasoline
Depois disso, tudo foi por água a baixo. Apesar de não ter tido uma segunda overdose, foi internado por seus pais em uma clínica de reabilitação, o que o deixou louco, pois sentia cada vez mais a falta das drogas e do álcool, sendo obrigado a recorrer a outros meios para que se sentisse completo e extasiado novamente. Foi um ano extremamente longo na reabilitação, mas quando saiu, sentiu-se livre para tomar as próprias decisões novamente e voltou a usar drogas, mas um tipo diferente: remédios. Ele conhecia um amigo que conhecia alguém que conseguia remédios manipulados tanto para dormir como também para ficar acordado. Com isso, os hábitos de mudaram completamente, passava noites em claro fazendo nada além de encarar o teto, mas já chegou a dormir por dois dias direto após tomar três pílulas seguidas. O que o rapaz não sabia, entretanto, era que a mistura dos dois remédios podia ser fatal e, em um dia, despretensiosamente, misturou os dois. Depois disso, tudo o que ele se lembra é de estar na cama do hospital, com cabos saindo de várias partes de seu corpo. Sua cabeça latejava insistentemente e ele não tinha ideia do que havia acontecido. Quando abriu os olhos, viu sua mãe e o olhar em seu rosto o denunciou. Tinha tido uma segunda overdose, causada pela mistura dos remédios com o álcool, que ele nem se lembrava de ter bebido.
Depois desse acontecimento, , incrivelmente, tomou um pouco de consciência e se afastou dos vícios e das amizades que traziam as drogas. Procurou um emprego, voltou a olhar para as faculdades e procurar algumas que lhe interessasse e, no auge de seus 22 anos, já estava pronto para retomar a sua vida.
Até que sua mãe foi diagnosticada com um tumor cerebral grau quatro. Inoperável.
Eles precisavam esperar, era tudo o que os médicos diziam. Não podia operar, estava em uma parte do cérebro de difícil alcance, além de estar um pouco grande demais. Poucos meses, os médicos disseram. Sua mãe viera a falecer três semanas após a descoberta do câncer.
, que tinha entrevistas para diferentes universidades no Estado da Califórnia, não foi em nenhuma e passou meses inteiros de luto, sem sair de casa, sem se alimentar, sem falar com ninguém. Seu pai entrou em um estado catatônico e mal vivia, também. Até que decidiu sair do emprego e se mudar, deixando pouco dinheiro para o filho sobreviver e, sem olhar pra trás, saiu de San Diego esperando que as coisas melhorassem para si.
I can't sleep cause what if I dream
Of going back to San Diego
E depois de cinco anos, ali estava ele. Com um emprego meia boca que mal dava para pagar as contas, vivendo uma vida que ele nunca imaginou que viveria. Para o cara que tinha o mundo a seus pés com 17 anos...
Seu pensamento foi subitamente interrompido pelo toque do sino da porta da loja. Havia clientes, ele pensou, embora não conseguisse enxergar quem. Aguardou por alguns minutos até que a pessoa passasse por todos os corredores e fosse em direção ao caixa. Quando chegou, olhava para o celular. Era uma mulher, mais ou menos da idade de , parecia ocupada e começou a falar no celular no mesmo momento em que colocou a cesta na frente do rapaz.
- Eu preciso que isso esteja pronto para amanhã. Como, por Deus, eu vou conseguir agradar àquela mulher naquele maldito auditório sem que eu faça tudo o que ela pediu?
franziu a sobrancelha. A mulher estava de óculos escuros e não tinha olhado para cima uma única vez, mas mesmo assim tinha a impressão de que a conhecia de algum lugar.
- Tudo bem, Kat, eu me viro.
E desligou o celular. Quando finalmente olhou pra cima para desejar boa tarde, foi impedida pelo súbito reconhecimento.
- ? – A mulher disse sorrindo, como se mal pudesse acreditar em quem estava vendo.
We bought a one way ticket
So we could go see the Cure
And listen to our favorite songs in the parking lot
, agora, sabia quem ela era. Reconhecê-la-ia mesmo depois de muito tempo, afinal, ela estava igual, só tinha uma feição mais madura e os cabelos mais escuros.
- .
A mulher puxou os óculos para cima.
- Então você finalmente deixou o loiro de lado? – O rapaz perguntou brincalhão, lembrando-se que ela sempre quisera deixar o cabelo na cor natural, mas nunca tivera paciência para isso.
- Deixei. Demorou uns anos, mas eu consegui. E como você está? Está melhor?
- Eu melhorei bastante. Muitas coisas aconteceram, mas aqui estou eu agora.
- Fico feliz. – disse tocando sua mão e sorrindo e, por um momento, se viu com 17 anos de novo, tendo aquela garota como sua namorada.
passou todas as compras de , disse o valor e ela o pagou, mas antes que a mulher pudesse sair pela porta, o rapaz a chamou.
- Você não quer ir tomar um café alguma hora dessas?
sorriu.
- Amanhã?
- Amanhã.
A mulher deu meia volta e entregou um cartão para o rapaz.
- Me liga.
And think of every person I ever lost to San Diego
(To San Diego)
No começo da tarde seguinte, já estava pronto e esperava dar o horário para sair de casa. Tinha ligado para no começo da noite passada para marcar o café e ficou feliz em saber que a mulher podia encontrá-lo na metade da tarde. passou o restante da noite e da madrugada em uma mistura de nostalgia e nervosismo, mas não teve dificuldade em dormir, sonhando com durante a noite toda.
Ao acordar, um pouco mais tarde do que estava acostumado, já que estava de folga naquele dia, foi tomar um banho rápido antes de começar a trocar de canal descontroladamente, passando por diversos canais para assistir a algo, para se distrair até a hora de se arrumar. Não achando nada, decidiu ir se arrumar de uma vez e lá estava ele, pronto e antecipado.
Naquela casa alugada de três cômodos, ele se sentia menor do que nunca. Pelo cartão entregue por , a mulher tinha se tornado uma publicitária famosa pelo visto, e pelo postal do seu número de celular, não morava mais em San Diego. O rapaz franziu o cenho e se perguntou por que, por muitos anos, não fora atrás de . Ele estava melhor já havia algum tempo e pronto para um relacionamento, pelo menos era isso que ele achava, e mesmo assim nunca tinha parado para ir procurá-la. Não que não tivesse pensado em como ela estaria ou o que estaria fazendo (ou como se nunca tivesse jogado o nome da garota no Google), porque, apesar dos pesares e de tudo o que ele sofreu no último ano e nos dois seguintes, uma das coisas que ele mais se arrependia era de ter perdido .
E isso era tudo culpa dele.
Tentando afastar os pensamentos, decidiu ir logo ao local de encontro, não se importando se a chegaria bastante adiantado. Só precisava sair daquela casa e tirar aqueles pensamentos da cabeça que, naquele momento, só estavam prejudicando.
Andando por pouco mais de 10 minutos, sentou-se em uma das cadeiras da cafeteria que recém tinha aberto no bairro. Durante a ligação, explicou para como chegava ao local e ela já tinha reconhecido a rua e a localização, provando que seu excelente senso de direção ainda estava intacto mesmo quase uma década depois do relacionamento dos dois terem acabado. sorriu pensando nisso. Era impossível se perder com , parecia que ela conhecia cada rua e viela de San Diego e, não importa por onde o casal fosse, eles sempre voltavam, graças ao senso de direção da garota.
Por ter chego meia hora mais cedo do horário combinado, achou que morreria de tédio esperando chegar, mas se surpreendeu quando a mulher cruzou a porta apenas cinco minutos depois que ele, sentando-se em uma mesa afastada sem perceber o rapaz no local. estava no telefone, provavelmente resolvendo os mesmos problemas do dia anterior, porque estava testa franzida e uma expressão séria no rosto. Dois minutos depois, parecendo mais aliviada, a mulher pousou o aparelho na mesa e, olhando ao redor, percebeu que a observava.
- Oi! – Ela disse se sentando ao seu lado, levemente constrangida. – Sinto muito, não o tinha visto aqui. Tinha umas coisas pra resolver do trabalho, então cheguei mais cedo.
- Não tem problema. Eu percebi que você estava ocupada, então nem te chamei. Mas está tudo bem agora ou você ainda vai precisar agradar uma mulher naquele maldito auditório? – disse rindo e o acompanhou.
- Eu já agradei aquela mulher naquele maldito auditório. – completou rindo. – Eu trabalho como publicitária em uma emissora em Los Angeles e a apresentadora queria porque queria uma nova identidade visual para o programa dela, porque ela “estava cansada daquele visual monótono” – a mulher disse fazendo aspas com as mãos. – “Coloca um Pink, quem sabe um laranja, um amarelo ou vermelho, talvez? ” claro, se você quiser parecer um fast food e dar fome às pessoas às dez da manhã, então vamos fazer isso.
riu.
- Parece que essas cores são realmente fortes para um programa tão cedo. – O rapaz disse.
- E são. Não que esse seja o principal problema, mas é como dar uma dor de cabeça instantânea assim que as pessoas colocarem no canal para assistir ao programa dela, entende? É muito cedo e muita informação.
- E o que você fez?
- Eu usei algumas das cores que ela pediu, só que em tom pastel. Até que ficou bom.
- Quando vou poder ver essa nova identidade visual, então?
- Provavelmente semana que vem.
- Vou aguardar.
Os dois sorriram.
- E como você está? O que tem feito da vida? – perguntou.
- Basicamente o que você viu. Eu trabalho naquela loja de conveniência em horário comercial e a noite eu vou para casa, como e vou dormir. Minha rotina é essa. – sorriu e continuou. – Nada a ver com o que parecia que iria ser quando tínhamos 17 anos, não é?
deu um sorriso solidário e colocou sua mão em cima da dele.
- Não, você sabe. Mas você está melhor agora e nunca é tarde para correr atrás dos seus sonhos.
- Eu já tenho 27, sou velho demais para ser um jogador descoberto de basquete, ou ganhar bolsas por causa disso na faculdade.
- Você não fazia só isso. – A mulher revirou os olhos dando um meio sorriso. – Você era um ótimo compositor, uma pena que poucas pessoas conheciam esse seu talento.
- Só você conhecia esse “talento” – disse fazendo aspas.
- Você parou de compor?
- Por um tempo. Mas depois eu voltei. Muitas coisas aconteceram.
começou a contar para a mulher tudo o que tinha acontecido. A sua segunda overdose, a morte de sua mãe, o abandono de seu pai. Enquanto estava drogado, não conseguia fazer muitas coisas a não ser se drogar ainda mais, mas, antes de entrar nessa vida e depois da morte da sua mãe, o rapaz realmente voltou a escrever músicas, mas em meados dos seus vinte anos, parou, por questões óbvias. A morte de sua mãe e a súbita saída de seu pai de casa fizeram com que voltasse a escrever, o que foi uma grande ajuda em uma época muito difícil, em que se via sozinho e deslocado do restante do mundo.
Can't go back to San Diego
(Can't go back to San Diego)
Depois de tomarem o café e conversarem por horas, os dois já estavam com o rosto dolorido de tanto rir e de relembrar as partes boas do passado. se sentiu um idiota por não ter procurado por mais cedo.
- Eu procurei por você, sabe. – disse tímida passando o indicador pelas bordas do copo. – Há uns anos, três, talvez. Você estava namorando uma mulher e estava bem, então não entrei em contato. Mas fiquei feliz por você estar bem.
Era verdade. Há três anos estava namorando uma mulher com quem achou que fosse se casar. Já estava nesse relacionamento desde que seu pai fora embora e a moça, Julia, se mostrou bem compreensiva perante a história de vida do rapaz e sempre o incentivava a ser melhor. Mas a vida deu voltas e por diversos motivos os dois terminaram pouco antes de começar a trabalhar na loja de conveniência.
- Julia era o nome dela. – disse de repente. – Não estamos mais juntos, mas na época eu, de fato, estava bem. – pausou. – Sinto muito por não ter te procurado.
- Tudo bem. – deu um sorriso sincero. – Depois de tudo o que você me contou, sei o porquê de não ter me procurado. Sinto muito por você e Julia.
- Obrigado. Ela foi o mais próximo que consegui de amar alguém de verdade, depois de você, é claro.
corou levemente e soltou um sorriso inesperado, o que fez sorrir também.
- Mas você estava me dizendo sobre uma música que compôs recentemente. Será que posso ouvir? – A mulher pediu esperançosa e balançou a cabeça. – Qual é!
- Eu tinha esquecido o quanto você é teimosa. A música não está boa, não quero que você veja.
- , por favor. Acho que já passamos dessa fase, não é?
- Já, mas eu não sinto que ela está boa o suficiente.
- Mostre para mim que eu te ajudo a descobrir se está boa o suficiente.
revirou os olhos.
- Eu não sei cantar sem lê-la, ainda não decorei, e não tem graça sem o violão.
- Então vamos resolver isso. Onde você está morando? Vamos buscar as coisas.
riu com vontade. Tinha esquecido como podia ser persistente.
- Não muito longe daqui. – Ele disse se levantando.
Os dois foram a pé para a casa do rapaz, conversando sobre coisas leves e divertidas. Quando abriu a porta, pediu desculpa pela bagunça, fazendo com que revirasse os olhos, o local estava um brinco. Apesar de ser o típico adolescente, era extremamente organizado, destoando totalmente da mulher, que tinha a bagunça como sua aliada.
Pegando o violão no quarto, pensou por um milésimo de segundo sobre o que estava acontecendo. estava na sala, depois de anos, ela tinha voltado. Ele não sabia se era o destino, Deus ou o quê, mas sabia que devia uma ao universo.
Chegou na sala com um papel meio amassado nas mãos e o violão na outra. o encarava sorrindo e, por um momento, vislumbrou a loira de 17 anos na sua frente, com o mesmo olhar brilhante e o sorriso esperançoso de quem ainda não tinha descoberto as melhores coisas do mundo, mas que adoraria tentar. Seu coração bateu um pouco acelerado demais quando se deu conta de que observava a mulher por tempo demais e, com um pigarreio, sentou na poltrona velha, ao lado de .
- Olha, ela ainda não está pronta e preciso fazer alguns ajustes...
- Tudo bem. Só me mostra o que você tem. – A mulher disse sorrindo.
sorriu de volta e antes de tocar a primeira nota, respirou fundo.
Abandoned houses with the lights on
Late at night I call your name
Abandoned love songs smashed across the hardwood floors
I read the sadness on your face
escutava tudo atentamente, assim como fazia quando tinha 17 anos e dizia que tinha escrito uma música nova. Era evidente que a sua escrita tinha evoluído, assim como a sua dor, o que fez com que a mulher sentisse um aperto no coração. Por que não procurara por ele antes?
I can't sleep cause what if I dream
Of going back to San Diego
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So we could go see the Cure
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(To San Diego)
Can't go back to San Diego
(Can't go back to San Diego)
Sem saber o que estava pensando, mas sabendo que a mulher estava concentrada na música, um leve pânico tomou conta de si. Essa música tinha sido escrita há pouco tempo e era bastante pessoal e especial, por diferentes motivos.
I never needed to hear
All of the pain and the fear
Your secrets filled up my ears
Like the ocean blue
Por breves instantes, se sentiu um pouco tonta, porque alguns daqueles versos já não eram tão desconhecidos assim, recordava-se de tê-los ouvidos antes, mas não conseguia se lembrar de onde os conhecia. Foi quando cantou os próximos versos que se deu conta de onde conhecia.
I never wanted to know
How deep these cuts on you go
And like a river they flow
To the ocean blue
Há uma década, ele já tinha cantado alguns desses versos para a garota. Antes de começar a cantar, entretanto, ele tinha dito que aquela música era para ela. Parece, afinal, que tinha criado uma nova música, com alguns versos daquela canção antiga, colocando-os em uma melodia totalmente nova.
A música não era só sobre tudo o que ele tinha passado de ruim. A música era, também, sobre .
Going back to San Diego
We bought a one way ticket
So we could go see the Cure
And listen to our favorite songs in the parking lot
já terminava os versos sem ainda saber o que estava pensando e se já tinha entendido a música, embora desconfiasse que sim. Ela não fora a garota mais inteligente de seu ano à toa.
O rapaz deixou o violão de lado, o papel em seu joelho e um silêncio predominou na sala. ainda não esboçava nenhum tipo de reação, os olhos vidrados e sem piscar fixados em . Se já estava tenso antes, agora então...
Quando finalmente piscou, sorriu leve e olhou para baixo, olhando para o rapaz logo em seguida.
- Eu me lembro de parte desses versos.
sorriu.
- Imaginei que fosse lembrar.
estava em um transe. Olhava fixadamente para , mas agora sorria. Sem pensar no que fazia, a mulher se levantou e sentou no colo do rapaz.
- Eu me lembro desses versos.
E o beijou. não havia planejado isso, muito menos se dado conta de que queria beijá-lo durante a tarde toda, mas após ouvir a música, aquela música, não podia deixar de fazê-lo.
- Eu tenho uma proposta para você. – disse após um tempo. – Só me deixa fazer uma ligação primeiro.
saiu da sala e discou um número rapidamente, falando com a outra pessoa na outra linha de forma clara e objetiva. não conseguia ouvir direito o que eles falavam, mas a mulher ficou por volta de dez minutos na linha com a outra pessoa, então deve ter sido importante. Sorrindo e em seguida agradecendo, desligou o telefone e foi sorridente falar com .
- Eu conheço o empresário de uma banda nova que precisa muito de uma música original, tipo, para ontem, para ser lançada como single. O que você acha de usar a sua?
ficou parado, perplexo.
- Mas a minha música não é tão boa assim.
- Claro que é e se não fosse eu falaria, você sabe disso. Mas para usar a música, eu preciso que você a termine, hoje se possível. Quanto ao resto, eu já fiz. Acabei de falar com o empresário e disse que mandava esse trechinho que você já tem para ele ouvir, mas eu tenho certeza que ele vai adorar. – terminou de dizer animada, mas quando viu a expressão de o seu sorriso se desfez. – O que aconteceu?
- Nada, é que eu fiquei um pouco surpreso e não entendo o porquê de você estar fazendo isso para mim. Por que acredita que minha música é boa, ou que eu sou bom?
sorriu leve.
- Porque eu te conheço. Eu te conheci antes de você entrar no mundo que te tirou o chão. E eu acredito que todos nós merecemos uma segunda chance, outra chance de realizar nossos sonhos. Isso não é bem o que você esperava, mas pode ser tudo o que você precisa e eu me lembro muito bem que ser compositor era o seu plano B e você é muito bom nisso. Deixe-me te ajudar.
sorriu.
- Então vem, vamos terminar essa música.
1 ano depois
- Agora vamos tocar a música mais pedida da semana. Ficando no topo das paradas por quase cinco meses, vem aí, San Diego.
O locutor da rádio anunciava pela milionésima vez a música, que tocava sem parar nas rádios desde o seu lançamento, há quase seis meses. Por causa dessa música, a banda tinha se tornado famosa e alcançou o topo das paradas de uma forma impressionantemente rápida, tornando-se a mais pedida entre o público jovem e adulto.
Era por volta das seis da tarde quando estava passando com pelo centro de Los Angeles, indo em direção a uma festa da gravadora de Blink 182, a banda que tinha estourado por causa da música San Diego. Seu produtor, para comemorar o sucesso da canção e da banda em si, decidiu fazer uma festa para comemorar e não podia deixar de chamar os dois principais responsáveis pelo nascimento da música. , o próprio compositor, e , quem havia apresentado à canção a ele. Agora, um ano depois daquele encontro, a vida dos dois, assim como da banda e do próprio empresário tinham mudado completamente. tinha um contrato para ser compositor de parte das músicas da banda, enquanto cuidava de toda a publicidade da gravadora e, claro, da banda. Com a música no auge, as coisas não poderiam estar melhores.
Dentro do carro, olhava para a janela, observando San Diego com paz e tranquilidade. ao seu lado, no banco traseiro, colocou sua mão em cima da mão da mulher, o que fez com que ela olhasse para ele e sorrisse instantaneamente.
- Eu não sei se você lembra, mas hoje faz um ano desde que fomos tomar aquele café.
- É claro que eu me lembro. – revirou os olhos. e sua afiada memória emocional.
- Eu nunca te disse isso antes, mas muito obrigado por ter acreditado em mim. Ter acreditado que eu merecia uma segunda chance.
sorriu.
- Você não precisa agradecer. Você merece uma segunda chance e se não fosse por segundas chances nós nem estaríamos aqui nesse carro. Nós não estaríamos juntos de novo e eu também não estaria grávida. – respondeu calmamente e sorriu, enquanto colocou a mão na barriga da mulher e fez o mesmo.
And think of every person I ever lost to San Diego
(To San Diego)
- Parece, afinal, que eu tenho um final feliz. – disse levemente emocionado. – Em San Diego. E com você.
Can't go back to San Diego
(Can't go back to San Diego)