Red Eyes

Escrito por Mare-ana | Revisado por Mariana

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  O cheiro de grama invadia minhas narinas, provocando um leve desconforto. Meu corpo inteiro pairava sobre a macia relva, e acima de mim o céu parecia um enorme tapete negro, bordado com pequenos pontos de fio prata. A única luz era proveniente da enorme lua cheia, tão assustadoramente branca. Fechei a mão em punho, pegando uma grande quantidade de grama e arrancando-a do chão.
  Eu não fazia a menor ideia de onde estava, nem como havia parado naquele lugar.
  Sentei-me e olhei ao redor. Parecia que estava no topo de uma espécie de colina, totalmente deserta. O vento batia forte e bagunçava meu cabelo, jogando-o para um só lado.
  Um barulho estridente começou a soar perto do local em que eu me encontrava. Levei as mãos ao ouvido, tentando abafá-lo, sem realmente ser bem sucedido. Parecia que por perto algum aparelho sofria de uma constante e irritante microfonia.
  Apertei meus ouvidos com mais força, porém o som pareceu ficar ainda mais alto, como se agora a microfonia estivesse acontecendo dentro de mim. Abri a boca e gritei, mas nenhum som saiu de minha garganta. Tentei mais duas, três vezes, sempre sendo mal sucedido.
  Levantei-me, me sentindo bastante tonto com todo aquele barulho. Meus pés não trabalhavam mais em perfeita harmonia, e meus passos pareciam pertencer a um bebê, e mais de uma vez quase perdi o equilíbrio.
  Andei pelo local arrastando os pés, e em determinado momento senti algo grudar-se em meu tornozelo, fazendo-me perder o pouco equilíbrio que me restava. O barulho parou.
  Novamente meu corpo estava estirado sobre a relva.
  Uma vez mais me sentei e levei a mão ao tornozelo, tentando soltar o que quer que estivesse preso à ele. Com alguma dificuldade, arrebentei o grosso fio que provocara minha queda. Estendi-o diante da luz da lua e senti meu coração vacilar quando percebi do que se tratava.
  Cabelo humano.
  Soltei aquilo no mesmo segundo, me levantando em um pulo, e meu coração, que antes parecia estar vacilando, começou a acelerar. Olhei ao redor e vi mais cabelo jogado por toda a grama, formando algum desenho, grande demais para que eu pudesse identificar o formato. Minha única certeza era de que aquilo formava um círculo.
  Comecei a caminhar em direção ao centro, e percebi que, quanto mais próximo chegava, menos grama havia. Em seu lugar, um pó semelhante a areia tomava o chão. E ia ficando cada vez mais escuro, em um degradê completamente bizarro.
  No centro daquele círculo, rodeado por um pó tão negro quanto o céu, havia um pequeno buraco, suficiente apenas para um ser humano passar, com uma escada que não parecia ter fim. E eu sabia de alguma maneira que eu precisaria entrar naquele buraco se quisesse sair daquela colina.
  Olhei ao redor, esperando algo. Mais vento, pessoas, animais, qualquer coisa que me impedisse de entrar naquele local, porém nada aconteceu. Enchi os pulmões de ar e comecei a descer as escadas.
  Sua aparência infinita fazia jus à realidade. Comecei a descer os degraus calmamente, esperando por algo que eu não sabia. Meu coração batia cada vez mais rápido, o medo correndo pelo meu sangue, minhas pernas parecendo cada vez mais pesadas.
  Ao chegar ao ultimo degrau, o breu tomava conta do ambiente. Ainda que eu olhasse para cima não era mais possível ver a luz da lua, e um arrepio percorreu meu corpo. Tateei ao redor, procurando qualquer coisa que pudesse me ajudar, e percebi que me encontrava em um corredor.
  Comecei a caminhar lentamente, encostando-me à parede. O chão fazia barulho de ossos quebrando. Engoli em seco pensando na possibilidade de realmente estar pisando em ossos, e senti um frio na espinha ao calcular a probabilidade de serem ossos humanos.
  O corredor fez uma curva repentina, e ao fim pude ver um fraco feixe de luz. Acelerei o passo, esperançoso para o que provavelmente seria minha saída. Uma porta me separava da luz. Abri com cuidado, esperando que ela rangesse, mas fiquei confuso com a falta de barulho. Parecia estar lubrificada; mas com o quê?
  Adentrei mais um corredor, desta vez iluminado, com o chão perfeitamente liso e visível. As paredes eram tomadas de celas, como em uma cadeia, e o silêncio parecia habitar cada um delas. Comecei a caminhar e, logo na primeira, bem ao fundo, levemente escondido nas sombras, uma figura me encarava.
  Parecia um homem alto demais, esguio demais. Sua pele parecia levemente esverdeada, como se tivesse ficado tempo demais exposta à humidade e começasse a ser tomado por fungos. Suas mãos pareciam esfoladas e estavam cobertas de sangue. Seu rosto estava encoberto pelas sombras.
  Quando passei pela segunda cela, paralisei em choque. O mesmo homem estava nela, porém parecia ter dado um ou dois passos para frente. Meu coração começou a bater descompassado, e passei para a terceira cela. Novamente o homem estava lá, parado, porém mais perto.
  Comecei a correr desesperadamente, e em todas as celas o mesmo homem me olhava, ficando cada vez mais perto da grade. Minha única esperança era chegar ao fim do corredor para poder sair daquele lugar horrível.
  Parei bruscamente quando cheguei ao fim do corredor, próximo a ultima cela. Minha respiração falhou quando percebi que ela estava aberta, a grade completamente escancarada. Aproximei-me um pouco mais e notei que ela estava vazia. Virei-me. Nada. Ninguém no corredor, ninguém dentro da cela.
  A porta que seria minha esperança estava em minha frente, pronta para ser aberta. Respirei fundo e levei a mão à maçaneta. Ao meu lado, a grade da última cela bateu-se em um estrondo.
  Virei a cabeça para o lado.
  O rosto que me encarava era tão verde quanto sua pele. A proximidade me permitiu sentir o cheiro podre de enxofre que ele transmitia. Seus olhos eram vermelho sangue e arregalados demais para serem considerados humanos. Seu pescoço parecia quebrado, pendendo pesadamente para a esquerda. Seu couro cabeludo parecia em carne viva. Sua boca abriu ao mesmo tempo em que a minha, exibindo dezenas de dentes amarelos e pontiagudos. Nossos gritos preencheram o corredor ao mesmo tempo.

  Acordei em um pulo, completamente suado, com o coração acelerado. Sentei-me na cama e olhei as horas. Minha mãe estava quase chegando e iria precisar que eu abrisse a porta. Passei as costas da mão na testa, tentando desgrudar alguns fios que haviam se prendido ali por conta do suor.
  Peguei as chaves e caminhei em direção à porta, esperando pelo momento em que minha mãe chegaria e bateria. Comecei a rodar o molho dos dedos. Do outro lado, ouvi o irritante barulho de mensagens de celular que o mundo inteiro parecia possuir.
  Soou uma, duas, três vezes.
  Bufei e abri a porta, pronto para xingar quem quer que fosse. Porém a rua se encontrava completamente deserta. Estranhei o acontecimento. Fechei novamente a porta e voltei a apenas esperar.
  Novamente o barulho de mensagens, porém desta vez seguido por um som agudo de microfonia. Minhas pernas amoleceram e meus ossos pareceram congelar. Respirei fundo e olhei pelo olho mágico.
  Do outro lado, um par de olhos vermelhos e arregalados demais me encaravam com um sorriso de dezenas de dentes amarelados e pontiagudos.

FIM



Comentários da autora


  OI GENTE <3
  Primeiramente, não sei se isso aqui tá bom. Se algum dia você já leu QUALQUER fanfic minha sabe muito bem que terror NÃO É meu forte @_@ Eu meio que SEMPRE escrevo comédias.
  Essa aqui eu escrevi há um tempo, e é baseado em uma história real x: Isso aí aconteceu com um amigo meu, de verdade. A única parte que não é real é a do olho mágico, porque ele não teve coragem de olhar. Acho que ele fez bem, na verdade.
  Vocês teriam olhado? ‘-‘
  Se gostaram, comentem *-*
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  Até a próxima! <3
  Mare-ana

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