Re:member
Escrito por Li Santos | Revisado por Lelen
Capítulo 1 - O maior sonho realizado
Hoje pode ser considerado o dia mais feliz da minha vida! O motivo? Finalmente Flow, minha querida banda, da qual sou grande fã há anos, fará um show no meu país. Flow no Brasil! Infelizmente não será na minha cidade, mas nada que me impeça de ver os meus boys lindos. Eu e minha amiga Aimi viemos para a cidade na qual eles farão show, a última da turnê. Já estamos no hotel, perto do local do show, que será somente amanhã, mas daqui a pouco vamos para a fila. Realmente eu preciso ficar na grade, colada no palco. Isso tudo para ver o meu Koh, o cara por quem dedico meu amor eternamente.
— AIMI! Corre aqui! — gritei por minha amiga, que está no banheiro, ela veio correndo e se jogou na cama onde eu estou.
— Outra foto do Asakawa? — perguntou, referindo-se a Kohshi Asakawa, o meu Koh. — Ou será que é do meu amor? — ela disse referindo-se ao favorito dela: Keigo Hayashi.
— Foto nova do meu bebê, é claro! E em solo brasileiro! Olha que lindo, Aimi! — falei empolgada e em tom apaixonado, mostrando a foto de Koh onde dá para ver claramente que ele estava no aeroporto da cidade onde estamos, sem contar a localização que confirma minha suspeita.
— Prefiro o Kei… — falou ela rindo e, de repente, ela surtou. — Ahhh, olha o meu diabinho ali! — exclamou em tom carinhoso ao ver Keigo no fundo da foto, caminhando atrás de Koh.
— Diabinho? Você não cansa de arrumar apelidos para ele, não? — perguntei rindo.
— Não! — Aimi deu de ombros. — Meu diabinho é lindo e eu o amo, não me julgue, ! — Ih, verdade, eu não disse meu nome. Sou , a . Prazer!
— Não estou te julgando. Faço o mesmo com o meu tigrão. — Sim, o apelido que dei a Koh é esse. Ah, se ele soubesse… me processaria. — Mas coitado do meu irmão.
— , o Keigo não é seu irmão — Aimi disse com a sobrancelha arqueada.
Desde que conheci os caras que eu me identifico muito com o Keigo, tenho um amor de irmã por ele muito grande. Fico imaginando como deve ser abraça-lo…
— Não tem nem como, você é brasileira e ele japonês — minha amiga completou.
— Já ouviu falar em filhos fora do casamento?
— Ai, ai, essa ! — ela disse e riu da minha cara.
Eu não sei se creem nisso, mas eu sinto isso muito forte dentro de mim. Eu realmente sinto que, em algum momento de nossas vidas, Keigo e eu fomos irmãos. Daqueles que se protegem, mas que também brigam e, definitivamente, se amam incondicionalmente. Mesmo que nessa vida eu não seja irmã dele (ele nem me conhece, né), eu gosto de pensar assim e fico feliz que em algum momento, mesmo que eu não me lembre, eu tive o amor e a atenção dele.
Filosofias à parte…
Aimi e eu nos arrumamos e viemos para a fila do show. Vamos dormir aqui, apesar do show ser amanhã à noite, como eu disse, queremos grade! Não aceito menos que isso. Obviamente ficarei do lado do palco em que o Koh fica normalmente, o lado direito do público. Dali não saio, dali ninguém me tira! A fila já está enorme, mas o palco é grande (vimos as fotos antes), então, pela quantidade de gente que tem na nossa frente, conseguiremos nossos lugares na grade.
[⏰]
São exatamente 21:37 da noite e estamos bem animados cantando algumas músicas só para passar o tempo. Kohshi canta, então, quando Aimi e eu fazemos nossas apresentações como Flow em minha casa, eu faço a parte dele e ela a do Keigo. Aprendi japonês justamente para entender melhor as letras e poder entender o que eles falam. Bem importante. Eu não quero depender de um tradutor para decifrar as palavras deles, quero eu mesma me expressar para meus boys. Estou tão feliz por isso!
Mas claro que o destino pode ser bem traiçoeiro…
— Cuidado, gente!!!
Eu estou de costas para o ocorrido, me virei com os olhos arregalados e vi a tragédia acontecendo. Um homem invadiu a calçada com seu carro e tentou atropelar as pessoas. Minha primeira reação foi pegar o braço de Aimi e correr para o lado oposto, mas, por algum motivo, o carro estava nos seguindo.
— Vem, Aimi! — puxei minha amiga com força, mas o carro ainda estava em nossa direção. Eu não tinha outra opção a não ser fazer o que eu fiz.
— LI!! — Ouvi o grito dela e tudo depois me pareceu muito escuro, senti o impacto da batida do carro em minhas pernas, meu corpo ser arremessado para o ar e, finalmente, o impacto no chão. — Amiga!!! Meu Deus, !! — Aimi aproximou-se de mim e ouvi o barulho dos pneus do carro arrancando em fuga. Ao fundo, ouvi muitos gritos desesperados das pessoas na fila.
— Koh… Kohshi… — eu falei, engasgando com o sangue que tampava minha garganta. Aimi chorava enquanto segurava minha mão. — Fala… para o Koh… que eu… o amo… — Senti naquele momento que minha vida estava se acabando. — Te amo… amiga…
— ?! ?! !!! — Eu fechei meus olhos e relaxei. Logo eu estava morta.
Aimi gritou por ajuda, mas já era tarde demais. Logo aquele local estava cercado de policiais e ambulâncias. Constataram minha morte às 22h em ponto. Estou tão sentida de não ter conhecido o Kohshi... eu só queria ter a oportunidade de ter dito que o amava pessoalmente.
Acho que agora é meio tarde, não é?
Capítulo 2 - Bem-vinda, maninha!
— Aimi! — Acordei de um sonho extremamente maluco e sentei na cama, ofegante. Eu estou suando muito e estou bastante gelada. Credo, parece que estou morta igual no sonho, mas estou viva e respirando. — Quê? Trocaram a gente de quarto? — falei para mim mesma ao olhar ao redor e ver um quarto menor que o hotel que Aimi e eu estávamos.
É um quarto, aparentemente, de uma menina. Tudo decorado em tons de rosa e roxo, as paredes brancas realçam os enfeites da parede; tem uma escrivaninha com um notebook branco (da Apple, rica!) em cima; algumas roupas espalhadas pelo chão. Nossa, que bagunça, parece até meu quarto (risos).
Levantei devagar e notei que eu estou de pijama. Mas espera aí! Por que estou de pijama em um quarto que nunca vi antes? E pior: quem colocou o pijama em mim? Não me lembro de ter vestido isso. Até que é um pijama fofinho, tem unicórnios nele.
Espantei os pensamentos e calcei uma pantufa de unicórnio que estava ao lado da cama. Seja quem for, essa garota ama unicórnios. Mais do que o normal. Tem um mural onde tem umas fotos, passei o olho rapidamente e algo nelas me assustou. Andei para trás, com as mãos na boca, e gritei, tropecei em um urso que estava no chão e caí de costas, ainda encarando o mural, assustada. O que está havendo?
— ?! — Alguém gritou, ao longe, e a porta do quarto se abriu. Olhei de imediato para ela e vi o semblante da última pessoa que imaginei encontrar naquele momento.
— Keigo?! — falei um pouco esganiçado demais e levantei, puxando meu pijama, envergonhada.
— O que houve, maninha? Você está bem? Te ouvi gritar. — Maninha? O que está havendo? — … — Ele chegou perto, mas eu me afastei, ainda assustada.
— O que está havendo? Onde estou? E por que você está aqui, Keigo? E como está me entendendo?! — Soltei várias perguntas de uma vez. Ele me olhou muito confuso e se aproximou de novo. Me afastei novamente.
— Calma, minha irmã. Estamos em casa, você está segura. O que houve? — Keigo parecia tão confuso quanto eu. Keigo, se você não sabe o que está havendo, imagina eu. — Eu estou te entendendo porque falamos a mesma língua: japonês. Está ficando doida, maninha? — Espera, eu estou falando japonês? Fluente? Mesmo? Com o Keigo? E o que ele quer dizer com "estamos em casa"? De repente, me veio um estalo.
— Keigo, estamos no Japão!?
— Sim, chegamos ontem de viagem. Estávamos no Brasil, esqueceu? Teve um acidente horrível um dia antes do show, uma fã nossa faleceu, mas acabaram cancelando o show. Então voltamos para nossa casa — ele disse.
Sim, Keigo, eu sei sobre isso porque EU FUI A FÃ MORTA! Eu vou surtar em instantes.
— Ai, meu Deus… — eu disse me lamentando e sentei-me na cama. Keigo me fitava com um olhar tão meigo que eu mal conseguia parar de olhar para ele.
— Está tudo bem agora, maninha. — Ele se sentou ao meu lado e colocou a mão em meu ombro, devagar, talvez com medo de eu fugir dele. Mas eu não fugi, apenas deixei ele me consolar de alguma forma.
Eu não estou entendendo muita coisa, mas, pelo visto, eu morri e acordei em outra vida onde sou irmã de Kei. Que tipo de salto temporal maluco foi esse? O Keigo tem duas irmãs, mas nenhuma delas têm a minha idade. Pior: nenhuma delas sou eu! Acho que vou enlouquecer ou desmaiar. Ou os dois. Senti tontura e pus a mão na testa, Keigo ficou preocupado.
— Você precisa descansar, mana — ele disse, carinhoso.
— Acho que estou cansada, realmente.
— Pois descanse... mais tarde os caras vão vir aqui pra gente terminar a reunião de antes da viagem.
— Espera! O Kohshi vem? — eu disse, de repente, e segurei forte o braço dele.
— Sim, ele também faz parte da banda, não é? — Kei riu da própria colocação.
— A banda toda vai estar aqui???!! — Eu vou surtar, já disse isso?
— , minha irmã, estou preocupado com você — repetiu ele e eu tentei me acalmar. Preciso entender o que está havendo, e logo.
— Por que está me chamando de irmã?
— Porque você é minha irmã, ora essa! — Ele faz uma expressão, agora, de estar mais confuso que antes. Ele deve achar que estou louca. É, eu também estou começando a achar o mesmo.
— Então eu sou sua meia irmã??? — questionei.
— , mamãe e papai ficariam bravos se te ouvissem falar assim.
— Temos os mesmos pais? — perguntei boquiaberta.
— Claro que temos, sua boba. — Ele riu e completou: — O que houve? Entrou num buraco de minhoca e caiu em outra vida que não sabe nada sobre? — É, acho que foi isso aí mesmo, Keigo.
— Não. — Eu ri sem graça — Desculpe. Eu vou dormir mais um pouco. Não se preocupe, Keigo. Acho que foi o longo fuso — falei num tom mais tranquilo. Ele sorriu e me abraçou. Tão gostoso esse abraço...
— Está bem. Descansa. Eu vou ao mercado comprar tempero, pois acabou e eu não vi. Me desculpe. Vou fazer nosso almoço, descanse bem. — Me deu um beijo terno na testa e eu me senti muito amada com aquele gesto.
Keigo caminhou para fora do meu provável quarto e foi até a sala. Eu o segui, me despedi dele e fiquei na sala, observando as coisas. O notebook de Keigo estava na mesinha de centro, aparentemente moramos em um apartamento tipicamente japonês em tamanho e decoração. Na estante que tem próxima à saída, tem alguns porta-retratos, as fotos mostram Keigo e eu vestidos com roupas de neve em um ambiente que parece ser uma estação de esqui. Incrivelmente, eu estou com a minha aparência de sempre, não sou nem um pouco parecida com o Keigo, mas para ele deve ser normal este fato, não sei.
Enquanto olhava as fotos, lágrimas se formaram em meus olhos. Eu não me lembro de nada disso. Como pode? Como eu posso ter fotos tão íntimas com Keigo e os demais membros da banda, sendo que eu não me lembro de nada disso?
[⏰]
Após um banho muito quente, me aqueci vestindo uma calça e um moletom. Faz frio no Japão, deve ser inverno por aqui, já que no Brasil era verão antes. É estranho falar do Brasil como se fosse um país onde vou às vezes e não como minha terra natal.
Resolvi, agora que estou mais calma e relaxada, procurar por mim. Basicamente, vou pesquisar sobre minhas redes sociais e notícias sobre o acidente. Sentei-me na cadeira em frente à escrivaninha e abri a tela do notebook. Pediu uma senha. E eu lá sei?! Parei alguns segundos e digitei o nome do Kohshi. Para minha surpresa, ou não, o computador aceitou a senha e ligou. Está tudo em japonês aqui e ainda me surpreende eu estar entendendo tudo. Meu japonês não estava num nível tão avançado assim antes de… bom, antes de tudo mudar.
Consegui acessar uma VPN do Brasil e acessei minhas redes sociais. Para minha surpresa, ou não, elas não existem. Nem as da Aimi. Que estranho. Tudo é estranho demais. Ignorei isso e abri os principais sites que falavam sobre o acidente. Realmente ele aconteceu ontem e o show foi cancelado, as matérias mostram também que o nome da fã que morreu era Sarah Santos. Oi? Junto com as matérias tinha uma foto da menina e, definitivamente, não era eu. A cada minuto isso tudo está ficando mais confuso, mas vamos enumerar os fatos:
- Eu fui toda feliz para o show ver meus boys do Flow;
- Algum imbecil me atropelou e eu morri;
- Eu acordo num apartamento DO OUTRO LADO DO PLANETA como irmã do meu ídolo, Keigo (melhor pessoa, inclusive);
- A pessoa que morreu não fui eu e sim outra fã da banda.
Com todos esses fatos, eu só acho cada vez mais que a teoria do buraco de minhoca é real. E eu sinceramente não sei se quero que isso mude.
Capítulo 3 - A banda no apartamento
Ouvi a porta do apartamento se fechar e fui correndo ver se era o Keigo. E é ele. Ele mal andou do hall de entrada até a sala, e me joguei nos braços dele e enterrei meu rosto em seu pescoço. Somos do mesmo tamanho.
— Hey, vai derrubar tudo, sua boba — ele disse rindo e abaixou para colocar o saco das compras no chão. — Quando ficou tão carinhosa assim? — me questionou e eu comecei a chorar. Não sei o porquê, só deu vontade. — Hey, , não chore. O que houve? — Ele me abraçou, carinhoso. Me perguntei como que meu outro eu não era carinhoso com um irmão lindo e fofo como esse. Keigo é um príncipe.
— Eu te amo, Kei — falei e olhei para ele, que me olhou confuso de novo, mas sorriu e me deu um beijo na testa.
Acho que estou doida, pois, olhando de perto, estou começando a achar semelhanças entre Keigo e eu.
— Também te amo, minha irmã. — Ele voltou a me abraçar. — Quer me ajudar no almoço?
— Quero! — eu disse super empolgada.
Sugeri fazermos um lanche para quando os outros vierem mais tarde, mas Keigo disse que Kohshi e Take trariam. Take é o irmão mais novo de Kohshi. Gots e Iwasaki completam a banda. Acho que não vou me acostumar em tratá-los com intimidade, isso sempre me pareceu tão distante.
Um pensamento aleatório que me ocorreu: meu nome agora é Hayashi, mesmo sobrenome de Keigo. Ok, isso não tem importância agora, voltemos à história...
Nosso almoço ficou pronto, comemos e rimos relembrando histórias. Na verdade, Keigo me contava e eu concordava com tudo, rindo junto, pois não lembro de nada disso. É incrível como eu ainda lembro de toda minha vida no Brasil e agora estou, aparentemente, numa outra realidade onde tenho outra vida, mas não me lembro dela. Resolvi não reclamar, estou amando ser irmã mais nova do Keigo. Irmã de verdade. Estou amando ainda mais ter o carinho e amor de uma pessoa como ele. Keigo é melhor do que eu imaginei.
Não demorou muito e os rapazes da banda chegaram, eu já estava trancada no quarto com a desculpa de que estava com dor de cabeça. Keigo não desconfiou. Do meu quarto que, aliás, tem muitos unicórnios na decoração, pude ouvir as vozes deles. Caramba! Os membros da banda estão na sala do meu apartamento! Quer dizer, do apartamento do Keigo que eu divido com ele aqui no Japão.
Estou andando de uma ponta à outra do quarto pensando se devo ou não ir até a sala. E se eu for, o que vou dizer? Ah, , só dizer: "Oi, rapazes! Sou apaixonada por vocês, mas meu amor todinho é do Koh!" Acho que eles iriam rir de mim se eu dissesse isso.
— … Sim! Podemos fazer dessa forma ou, senão, seguir a ideia do Take…
Ouvi a voz de Keigo mais alta que as demais. Andei devagar pelo corredor do apartamento, respirando fundo e pensando no que ia falar ou fazer. Antes de eu chegar na porta do corredor, eles pararam de falar e ouvi a voz do meu irmão. Incrivelmente, para mim não é estranho chamar ele de irmão.
— ?
— Ah, oi, pessoal! — eu disse e apareci na sala. Imediatamente todos sorriram e eu não contive a emoção. Eles estão realmente felizes em me ver. Os meus ídolos sorrindo ao me ver. Vou desmaiar de emoção, Brasil!
— Olá, -chan*! — eles falaram meio desencontrados, mas consegui entender. Acenei para eles e dei mais dois passos em direção ao sofá.
— Como vai, ? Keigo nos disse que estava indisposta mais cedo. — Sentei-me ao lado de meu irmão, olhei para Koh e sorri muito sem jeito por ele estar preocupado comigo.
— Estou, estou bem sim, Kohshi-san** — falei muito envergonhada e dei um sorriso leve. Eu estou muito nervosa, meu Deus, Kohshi Asakawa está bem aqui na minha frente!!
— Quanta formalidade é essa, minha irmã? — perguntou Keigo. Todos me olhavam espantados.
— Você nunca chamou o Kohshi assim, sempre o chamou apenas pelo nome, desde criança — Take pronunciou-se e riu. Eu fiquei ainda mais envergonhada. Quero enfiar minha cara na pantufa de unicórnio.
— Ah, desculpe, Kohshi — me corrigi e Koh sorriu.
— Está tudo bem, — ele disse carinhoso e eu notei um olhar repreendedor dele direcionado ao irmão, que deu de ombros.
Nota: *O sufixo CHAN é usado no japonês, junto com o nome ou sobrenome da pessoa, para se referir a alguém mais novo que você ou, às vezes, quando se está entre amigos.
**O sufixo SAN é usado no japonês, junto com o nome ou sobrenome da pessoa, para indicar respeito. Normalmente, para pessoas mais velhas ou que tenham um grau hierárquico maior que o seu dentro de uma empresa, por exemplo.
Faz MUITO frio aqui e, mesmo com o aquecedor do apartamento ligado, eu estou com muito frio. Fiquei encolhida no sofá.
— Está com frio? — Kei perguntou chegando o rosto próximo a mim.
— Uhum — resmunguei, meu rosto está, literalmente, dentro do meu casaco. Apenas meus olhos estão à vista.
— sempre sentiu muito frio desde criança — Koh disse. Parece que eles realmente me conhecem bem desde pequena. Eu queria tanto me lembrar deles nessa época também.
— Quer que eu faça chocolate quente? — Kei perguntou para mim. Eu não sei se mereço um irmão tão fofo assim. Não queria atrapalhar a reunião deles.
— Não precisa, Kei — respondi e tirei um pouco meu rosto de dentro do casulo que eu estava.
— Kei? Desde quando vocês estão tão fofos um com o outro? — questionou Koh.
— Você está com inveja porque o Take não é assim com você — disse Kei e, dessa vez, até eu ri da cara de espanto que Kohshi fez.
— Você quer que eu seja fofo com você, mano? — Take falou com uma voz muito fofinha, como se estivesse brincando com um bebê.
— Credo! Dispenso! — exclamou Koh num tom indignado.
— Isso magoa, irmãozinho — murmurou Take rindo. Todos rimos da reação de Koh.
Os rapazes são muito engraçados, Take é o mais cômico de todos, assim como eu imaginei que eles fossem. A reunião de trabalho mudou de foco e virou uma reunião de amigos jogando conversa fora. É gratificante poder dizer que sou amiga deles. Eu realmente não quero acordar desse sonho.
Nota da : não é um sonho, pois eu me belisquei algumas vezes e doeu real.
[⏰]
Após a reunião, resolvemos ver alguns filmes na TV. Take fez pipoca para todos e ficamos lá assistindo. Me mantive encolhida ao lado de Keigo no sofá, bem num cantinho para que me esquecessem ali, porém, depois de algumas horas (e dois filmes do Universo Marvel), eu já estava dormindo toda dobrada num canto. Keigo foi ao banheiro e segundos depois eu senti um calor em meu corpo, abri os olhos de estreita e vi que Kohshi havia me coberto com a manta que ele usava nas pernas. Fechei os olhos novamente, envergonhada e me encolhi mais. Quando Keigo voltou, agradeceu a Kohshi pelo gesto.
Apesar de eu já tentar me acostumar, de alguma forma, com esse carinho e atenção que recebo dos meninos, ainda me deixa encabulada quando os recebo. Principalmente vindo do Koh. Meu lado fã apaixonada se ilude a cada palavra ou gesto dele.
Preciso me controlar.
Capítulo 4 - (Re)Descobertas
Alguns dias se passaram desde que "voltei" à essa realidade. Vamos pontuar como uma nova realidade, pois eu de fato não sei se é uma nova realidade ou não, preciso pesquisar a respeito. Desde aquele dia, eu descobri coisas sobre minha vida, uma delas é que eu sou assessora de imprensa do Flow. Vocês têm ideia disso?! Eu estou em surto real.
Fuçando meu notebook, achei uma agenda eletrônica onde tinha descrito todos os compromissos da banda nos próximos cinco meses. Shows, entrevistas, gravações de novos singles e até um CD novo. Algumas músicas eu já consegui ouvir indo ao estúdio junto com Keigo ou até mesmo em casa, já que ele ensaia sua parte nas músicas na sala de casa e sempre me chama para ajudá-lo. Amo esses momentos só eu e meu irmão lindo.
Hoje viemos ao estúdio para finalizar mais um single que está lindíssimo como sempre. Keigo e os outros estão dentro da área de gravação e eu estou na sala de controle de som, junto com o empresário deles. Estou tão concentrada na gravação que nem ouvi que alguém me chamava.
— ? Estão te chamando ali — um dos produtores me chamou e apontou para o vidro atrás de mim. Quando me virei, quase gritei de felicidade.
Levantei e saí para não surtar e atrapalhar a gravação.
— AIMI!! — Abracei minha amiga com tanta força que ela ficou sem ar e quase a derrubei.
— , o que houve? Parece até que não me vê há meses, foram apenas alguns dias de viagem, amiga — ela disse rindo, segurei as mãos dela e fitei seus olhos. Eu estou tão feliz em ver a minha amiga nessa realidade também. Mas espera, será que ela também morreu na outra realidade?
— É só saudade, amiga. Estou feliz que esteja aqui comigo! — Sorri e algumas lágrimas escorreram pelo meu rosto. Aimi sorriu também e apertou minhas mãos.
— Sua boba, como está? — perguntou ela.
— Estou bem, eu acho.
— Resolveu aquele problema? — questionou ela e eu a fitei confusa. — Ah, Hayashi! Você me prometeu, antes de eu viajar, que iria resolver aquele problema! — Meu Deus, que problema é esse?
— É, eu…
— Ok, deixa para lá. Depois falamos disso, ok? — ela disse e eu apenas concordei. — Keigo está na gravação?
— Sim, ele e os outros. — Ela falou na maior naturalidade sobre o Kei. Será que ela também tem intimidade com ele e os rapazes?
— Sabia que era você! — A voz de Kei invadiu o corredor onde estávamos, Aimi virou-se e sorriu ao vê-lo, caminhou até ele e então eles se beijaram. Oi? Eles estão SE BEIJANDO?! Ok, eu vou surtar de novo. — Saudades, amor. — Amor? Ai, meu deus, espera…
— Eu também estava, amor.
— Por que não ligou? Eu ia te buscar no aeroporto — disse Kei com um olhar muito apaixonado.
— Não quis atrapalhar a gravação e, além do mais, o meu voo atrasou. O importante é que já estou aqui — explicou Aimi e deu outro beijo em Kei.
— Tudo bem, maninha? — perguntou Keigo ao ver a minha cara de espanto vendo a cena. Estou realmente chocada.
— Sim! Está tudo bem, Kei.
— Kei? — Estranhou Aimi. — Está carinhosa com o meu namorado agora, ? — brincou ela. Namorado?! Ahhh, que felicidade!
— É, e eu estou adorando essa versão nova da minha irmã — falou Keigo e veio me dar um abraço.
Fiquei corada com a fala dele.
Keigo se despediu da gente e voltou para a gravação. Aimi e eu ficamos conversando por vários minutos. Estou tão feliz por ter minha amiga aqui comigo e ainda mais por saber que ela namora o meu irmão. Se a Aimi da minha realidade soubesse disso, com certeza estaria surtando comigo agora.
[⏰]
Take deu a ideia de irmos almoçar num restaurante aqui perto para comemorar a chegada de Aimi, que estava viajando com a família dela de férias. Parece que ela é jornalista de um grande e importante jornal aqui da cidade. Que orgulho da minha amiga!
Chegamos ao restaurante e fizemos o pedido. Normalmente, Keigo senta-se ao meu lado quando saímos todos juntos, mas dessa vez ele ficou ao lado de Aimi. Não me importo, estou tão feliz que nada vai estragar isso! Kohshi está aqui ao meu lado. Sim, o Asakawa lindo, amor da minha vida todinha está sentado ao meu lado. Toda vez que ele se mexe levemente, meu corpo se arrepia. Imagina se ele me abraçar? Enfim…
O almoço foi servido e nós nos fartamos. No meio da refeição, fomos interrompidos por um cara que chegou perto da mesa, do nada, e veio até mim.
— ! Finalmente te achei! — Quem é, Brasil? Nunca vi.
— Ah, oi, estou aqui — eu disse sem graça. Senti que Kohshi se mexeu, meio desconfortável, ao meu lado. O olhei de canto e voltei minha atenção ao rapaz que falava comigo.
— Desde que voltou do Brasil que não nos falamos. Saudades, amor. — Ele se aproximou para me beijar, mas eu recuei. Amor? Como assim, meu Deus? Não me diga que…
— Estou comendo — falei, me desculpando por não o beijar.
A verdade é que eu não te conheço, moço, por isso não quero te beijar. E porque o Kohshi está bem aqui do meu lado, ele pode sentir ciúmes. Ok, delirei agora!
— Não faz mal — respondeu ele e sorriu.
Ele é bonito, inegável, mas tem algo no olhar dele que me incomoda e muito. Ele voltou sua atenção para Kohshi que ainda se mexia incomodado, ainda que de leve, ao meu lado.
— Você me dá licença, Kohshi? — ele pronunciou o nome do Kohshi com nojo, desdém, isso foi extremamente notável. Kohshi pigarreou e levantou-se. Agora pude notar que todos na mesa estavam tensos com a cena.
— Tem lugar aqui, irmão — falou Take, com a voz levemente alterada de nervoso que estava. Kohshi assentiu, mas foi direto na direção do banheiro. Segundos depois, Take o acompanhou.
O restante do almoço foi bastante tenso. Descobri, depois de falarem por acaso, que o cara se chama Hiroki e ele é meu namorado. Essa última parte eu deduzi pelo jeito que ele está me tratando. Kohshi está nos encarando de canto de olhar, notei que Take também nos encarava. Será que eles não gostam do Hiroki? Podem apostar que eu também não, nem o conheço. Keigo ficou calado desde a chegada do meu “namorado”. Kohshi também se calou. Basicamente, Hiroki está falando sozinho enquanto eu sorrio sem graça e doida para que esse almoço termine.
Kohshi e Take foram embora mais cedo e Hiroki comentou que eles fizeram isso para não pagar a conta. Nossa, que desagradável. Por que que a eu dessa realidade iniciou esse namoro com um cara desses? Ah, ...
Já estamos em casa, Keigo está calado desde a chegada de Hiroki no restaurante. Mal falou comigo.
— Kei…
— Quando vai terminar esse namoro idiota, ? — ele disse, me interrompendo. Sua feição era bem irritada.
— Eu…
— Esquece. Você sabe o que faz, mas você sabe o que eu penso do Hiroki. Ele já se mostrou ser uma pessoa ruim, mas você insiste nele não sei por quê.
Não sabia o que dizer. Keigo largou suas palavras em mim e foi para seu quarto, me deixando sozinha na sala. Eu quis chorar. Segurei as lágrimas e fui para meu quarto. O que será que aconteceu para fazer com que o Keigo se irritasse tanto com Hiroki? Justo o Keigo que é a pessoa mais doce e gentil que eu conheço.
Espantei os pensamentos, momentaneamente, e sentei em frente à escrivaninha. Tenho que terminar uma matéria para postar no site da banda e nas redes sociais também.
Após acabar o meu trabalho, voltei ao meu tour pelas pastas do meu notebook que eu nunca tinha visto antes. De repente, meio que sem querer, eu abri a pasta do armazenamento em nuvem. Dentro dela havia pastas, muitas pastas, com o mesmo início "Diário da " e com vários volumes, como uma enciclopédia.
Ok, isso realmente me chocou.
Capítulo 5 - Diário da irmã mais nova
Abri cada uma das quase trinta pastas que havia na pasta de armazenamento em nuvem. É, pelo visto eu tenho muitas memórias aqui. E não me lembro de nenhuma. Meu Deus! Resolvi ler cada diário. Passei horas e horas lendo.
Estou agora no terceiro dia depois que descobri os diários, estou lendo o quinto agora.
Diário da - V
Dia 7 - Hoje foi um dia especial. Koh e eu fomos ao parque de diversões a sós. Foi a melhor coisa que fiz: convidar ele para sair. Koh estava lindo como sempre e me elogiou, disse que eu estava linda e fofa. Como pode esse amor ser tão forte que sobreviver a tantas vidas? E quantas vezes mais eu vou ter que voltar para que eu possa, finalmente, desfrutar do amor do Kohshi?
Eu saí com o Kohshi? Como tive coragem de chamá-lo para sair? Meu Deus, minha outra eu, me dá coragem para fazer o mesmo! Mas como posso, se eu, aparentemente, estou namorando? Que tristeza…
[⏰]
Dias se passaram e eu já estou no penúltimo diário. Em todos, sem exceção, têm uma nota a cada dia onde diz:
"Querida , por favor, termine o namoro com o Hiroki AGORA! Força, minha eu!"
Nossa, vou ter que terminar agora! Esses dias eu tenho evitado as ligações e visitas do Hiroki. Keigo se irrita muito cada vez que Hiroki vem aqui em casa para me ver, meu irmão inventa mil desculpas para dispensa-lo, porém ele vem me cobrar uma atitude concreta. Bom, acho que eu preciso fazer isso o quanto antes. Mas um questionamento está me consumindo desde que encontrei os diários: como é que todas essas informações ainda estão salvas? A melhor explicação que encontrei foi essa:
Em todas as minhas memórias, eu sou apaixonada pelo Kohshi e, em todas elas, tenho a mesma ideia de criar um diário virtual para contar minha experiência de renascer e me lembrar somente de minha vida passada, sem as lembranças atuais. Em todas elas, o servidor escolhido para armazenar as informações é sempre o mesmo, o endereço do e-mail sempre o mesmo e a senha sempre a mesma. Tudo relacionado a Kohshi: servidor favorito dele e seu nome como endereço e senha. Então, os diários das outras vidas ainda estão salvos na nuvem do endereço de e-mail e, com isso, eu tenho acesso a um mundo de informações, lembranças que eu tive, mas não me lembro e com esses diários sou capaz de reviver essas lembranças (eu nem sei se isso é realmente possível, mas, pelo visto, de alguma forma, é possível).
Me emociono a cada palavra lida, a maior parte das lembranças é sobre o convívio com os rapazes do Flow e sobre minha relação de intimidade com Keigo e com Kohshi. Além da amizade forte que obtive com Take, irmão de Kohshi, no qual tem vários relatos de conversas que eu tive com ele.
Eu achei também arquivos de áudio. Em algum momento, tive a ideia de gravar tudo ao meu redor (e eu me agradeço por isso) quando estava com os rapazes, para tentar entender o porquê desse bug ter acontecido somente comigo. O que eu pude notar é que sempre eu voltei com alguma relação com o Flow, sempre.
Isso tudo se eu realmente estiver reencarnando. Isso ainda me parece idiotice minha. No fundo, acho que eu só preciso me lembrar de algo, me lembrar de algo que eu realmente não poderia me esquecer… mas, o que será?
A cada novidade, me intriga mais e mais.
[⏰]
Hoje o Flow tem show aqui na cidade, numa das milhares de casas de shows daqui. Todos estamos muito animados, pois lançaremos a música nova hoje, será a primeira vez que será tocada ao vivo. Estou muito ansiosa. Todos estamos. Keigo mal dormiu ontem de tão empolgado que estava, me acordou super cedo.
Já estamos na casa de show e os rapazes estão passando o som, enquanto eu tiro algumas fotos com o celular para postar nas redes sociais. Chamar a atenção do público para o show de mais tarde é essencial. Após tirar as fotos, fui para o camarim e as postei. Ainda é inverno e a temperatura aqui na casa de shows está agradável: nem tão frio, nem tão quente. Porém, eu me sentia tonta, suava frio e um pouco trêmula. Definitivamente, eu não estou bem.
O show está rolando agora e a reação do público à música nova foi melhor do que esperávamos. Nossa, que empolgação! Antes de terminar o show, voltei para o camarim, pois aquela tontura estava presente em mim ainda, sentei no sofá que tem aqui e fechei os olhos. Mas que raio de tontura é essa?
— Que show, caras! — gritou Keigo, empolgado pela apresentação. O show havia acabado e eles voltaram ao camarim. — Estava precisando de um show assim.
— Nem me fale, amigo! Show perfeito! — comentou Kohshi, também bastante empolgado.
— Maninha, acorda! — Keigo me cutucou, eu estava somente com o tronco deitado no sofá. — ? Por que está gelada assim? — comentou ele e pôs uma das mãos em meu rosto, afastando meu cabelo.
— Ela está bem? — Kohshi se aproximou do sofá.
— ? — Keigo me sacudiu com mais força, mas eu não acordei.
— Acho que ela não está dormindo, pessoal — disse Take apreensivo.
E eu realmente não estava dormindo. Fazia algum tempo que estava desmaiada. Keigo ficou angustiado e chamou uma ambulância, no caminho para o hospital, eu acordei e ele me explicou o que havia acontecido. Chegando no hospital, fui logo atendida e logo o médico descobriu a causa do meu desconforto e desmaio.
Capítulo 6 - Um novo motivo para continuar
Eu estou grávida.
Sim, o médico acaba de me dar a notícia. Meu irmão está lá fora e provavelmente não sabe sobre isso. Vocês devem se perguntar agora, como eu engravidei de um imbecil feito o Hiroki, não é? Bom, segundo os relatos narrados nos diários, o pai do meu bebê, possivelmente, não é o Hiroki.
— ! Que bom que está melhor, como se sente, minha irmã? — Keigo havia entrado no quarto, assim que o médico saiu. — O que o médico disse?
— Kei… — Eu procurava palavras para explicar como eu estava grávida e o pai não era o Hiroki. — Eu- antes de eu contar, promete que não vai ficar bravo? — Keigo arqueou a sobrancelha esquerda e chegou mais perto da cama.
— Fala — disse ele.
— Promete?
— Prometo. — Ele suspirou e segurou minha mão.
Antes de eu falar algo, Hiroki invade o quarto, afobado.
— ! Meu Deus, o Kakashi me disse que você passou mal! — Hiroki praticamente empurrou Keigo da cama, meu irmão o fuzilou com o olhar. Acho que se Keigo tivesse o poder de soltar raios pelo olhar, Hiroki já teria morrido com uma única encarada dele.
— O nome dele é Kohshi — corrigiu Keigo, já estava me perguntando quem seria esse tal Kakashi.
— Que seja! Como está, amor? — Hiroki estava surpreendentemente carinhoso.
— Bem — respondi de maneira seca e completei: — Hiroki, você poderia me deixar a sós com meu irmão?
— , eu fiquei preocupado quando me falaram que havia passado mal e...
— Hiroki! Por favor... Me deixe a sós com meu irmão! — Enfatizei.
— É melhor sair, cara — Keigo manifestou-se. — Eu preciso conversar com minha irmã.
Mais uma vez, Keigo estava muito sério na presença de Hiroki. Frustrado, meu “namorado” saiu do quarto e Keigo bateu a porta com força.
— Kei!
— Desculpe… Ele me faz perder a paciência.
— Tudo bem, Kei, eu te entendo — disse solidária a ele, que voltou a ficar sentado ao meu lado.
— Pode falar, maninha. Vejo que está ansiosa por isso. — De fato, eu estava.
— Vou falar de uma vez: estou grávida e… — Antes de eu terminar, ele me abraçou forte, quase chorando.
— Ahh, que feliz, minha irmã!! — Ele parecia tão feliz e, de fato, estava. Não queria estragar a alegria dele, mas eu precisava contar tudo.
— Keigo, o meu filho não é do Hiroki! — O sorriso dele desapareceu de imediato.
— Quê?
— Meu filho pode ser do Kohshi… — Enquanto eu falava, vi a boca de Keigo se abrir em formato de um zero imperfeito.
— DO KOHSHI?! COMO ASSIM, HAYASHI!? — Acho que o grito que ele deu foi ouvido por quem estava do outro lado do hospital.
— Você prometeu que não ficaria bravo, Kei — falei, manhosa.
— Eu não estou bravo..... Estou furioso! — esbravejou. — Como assim o bebê que espera pode ser do Kohshi? Explica isso direito, ! — Eu estava morta de vergonha, mas expliquei que tive uma noite de amor com Kohshi e as datas batem com o período da gravidez. Eu só sei disso graças aos diários. — Para! Para! Eu não quero saber que vocês transaram! Pelo amor de Deus! — ele disse meio enojado e eu tive que rir.
— Você disse pra eu explicar direito. Eu expliquei.
— Menos detalhes, Hayashi! — ele falou e suspirou pesadamente.
É engraçado e reconfortante ouvir ele me dar bronca. É do jeito que eu sempre imaginei ser e sempre quis essa experiência. É, eu queria muito ser irmã do Keigo.
— Você saiu com o Kohshi mesmo namorando o Hiroki?!
— Eu havia terminado com ele, na verdade, nós brigamos feio e eu estava sozinha na rua, Kohshi me achou e conversamos. Acabamos indo pro apartamento dele… — Benditos diários que me contaram todos os detalhes. Eu realmente gostaria de me lembrar...
— Chega, já disse que não quero saber dessa parte. Menos detalhes, Hayashi!
— Desculpe — falei ainda rindo da reação de meu irmão.
— Não peça desculpas... Eu sei o que você sente pelo Kohshi.
— Sabe? — perguntei totalmente surpresa.
— Sei. Está óbvio, né? — Está? Preciso me controlar mais, então. Mas é tão difícil ficar perto do Kohshi sem esboçar um pouco do meu amor por ele. — Desde que você era adolescente, lá pelos seus 13 anos, que eu notei interesse seu por rapazes, mais especificamente pelo Kohshi.
— Nossa, Kei, eu...
— De qualquer forma, eu não estou bravo com você. Nem deveria. Nem com o Kohshi. Ele também gosta de você, fico feliz por isso. — Espera, oi?
— Espera… o Kohshi gosta de mim?
— Vocês já conversaram sobre isso. Porém, aconteceu algo que afastou vocês.
— O quê?
— Hiroki. — Esse cara é um carma de todas as minhas memórias. Meu Deus, como me livro dele? — Bom, enfim — Keigo voltou a falar o seu raciocínio anterior —, de qualquer forma, não vamos contar para papai e mamãe. Eles vão me matar por isso… — lamentou-se.
— Por quê?
— Não é óbvio? Eles são tradicionais, ! E eu sou responsável por você na ausência deles. Como eu "deixei" você engravidar sem estar casada?! Eles vão me matar! Como se eu fosse vigiar suas transas...
— Keigo!
— Não me olhe assim, você sabe que não penso dessa forma. Sim, me sinto responsável por você. Você é minha irmãzinha e sempre irei prezar pelo seu bem-estar, mas essa não é a forma que nossos pais pensam. Você sabe… — Eu queria muito saber disso, meu irmão, mas nem tudo está descrito nos diários.
Keigo e eu ficamos algumas horas conversando sobre minha gravidez e o que farei daqui para frente. Ele diz que eu devo contar para Kohshi, ele merece saber que será pai de um filho meu. Se eu pudesse, correria agora mesmo e contaria, mas algo em meu interior me diz que agora não é a melhor hora para isso, que eu devo terminar primeiro com Hiroki antes de assumir meu amor por Kohshi e lhe contar sobre nosso filho. Eu tenho medo da reação de Hiroki a tudo isso.
[⏰]
Alguns dias passaram e eu ainda não consegui falar com Hiroki. Parece que ele sabe que vou terminar com ele e está fugindo de mim, sempre arrumando desculpas para não me ver ou falar comigo nem pelo telefone. Não sei se esse afastamento é angustiante ou um tremendo alívio.
Os rapazes do Flow já sabem da minha gravidez e estão me tratando feito uma criança recém-nascida. Kohshi não sabe ainda que ele é o pai, mas pretendo contar, tendo terminado ou não com Hiroki.
— Hey, ! — Ouvi a voz de Take ressoar pela sala em que eu estava, estamos no estúdio para conclusão da gravação do CD novo. Ele sentou ao meu lado, tinha um sorriso travesso no rosto. — , preciso te perguntar algo que está realmente me incomodando — disse ele me encarando.
— Perguntar o que, Take? — Comecei a ficar com medo do que vinha dali para frente.
— Eu sei que você e meu irmão tiveram um envolvimento meses atrás e que isso se estendeu por mais tempo do que imaginavam. — Senti meu corpo gelar. Meu Deus, até que ponto Kohshi contou sobre nós para o irmão? — A julgar pela sua vermelhidão, creio que estou certo em minha suspeita — completou ele com um ar de vitória.
— Que suspeita?
— O filho que espera é do Kohshi, não é? — Dei um salto no meu próprio corpo e o encarei com os olhos arregalados.
— Ai, Take… eu… Kohshi sabe? — perguntei angustiada.
— Pela tranquilidade que ele anda ultimamente, receio que não — respondeu convicto. — Por que não contou a ele?
— Eu quero contar, mas queria terminar com o Hiroki antes. Porém, ele anda sumido, não o vejo desde que saí do hospital.
— Deve estar fugindo da responsabilidade de pai — zombou Take e riu.
— Não te julgo por pensar assim, penso o mesmo. — Ri junto com ele. — É um alívio meu filho não ser dele.
— Com certeza! — concluiu ele e segurou uma de minhas mãos. — Conta para o Kohshi, ele ficará muito feliz por saber. — Take sorriu e beijou minha mão.
Nas horas seguintes, eu me preparei para contar para Kohshi a verdade. Quero contar quando estivermos a sós, mas parece que o destino não colabora conosco.
Keigo saiu com Aimi para jantar, apesar de me convidarem, eu não fui. Não estava a fim de segurar vela para os dois. Entrei em casa e me joguei no sofá, esparramada e cansada. Encarei o teto e cogitei diversas possibilidades para contar a verdade a Kohshi. Peguei meu celular para ligar para ele, chamá-lo aqui agora, já que meu irmão não está em casa. Nem precisou.
— Quem será? — A campainha tocou e eu questionei a mim mesma, levantando para atender a porta. Quando abri, tive uma enorme surpresa. — Kohshi?!
Capítulo 7 - Surpresa, amor!
Minutos depois…
Eu obviamente não sabia, mas Hiroki entrou no apartamento e veio andando, sorrateiramente, pelo corredor até meu quarto e ouviu parte da minha conversa com Kohshi.
— ... ah, , isso dói, mas é gostoso! — gemeu Kohshi, com uma voz de dor e prazer. — Aperta devagar. — Kohshi consegue ser bem infantil e manhoso quando quer.
— Você é muito reclamão, Koh. — Me diverti com a manha dele e fiz um movimento rápido. — Está melhor agora?
— AAAAA! — gritou Kohshi. — Nossa! Você vai acabar comigo, .
Nesse momento, Hiroki invadiu meu quarto e flagrou Kohshi e eu numa cena, no mínimo, cômica.
— Mas que merda é essa, Li?! — berrou Hiroki ao ver a seguinte cena: Kohshi deitado na minha cama, de bruços, e eu sentada nas pernas dele, massageando suas costas.
— Hiroki?! Como entrou aqui? — questionei, jurava que tinha trancado a porta.
— Eu tenho as chaves — revelou ele, displicente.
— Quê? Ah, pois devolva. Kei iria odiar ver você invadindo o nosso apartamento dessa forma — falei, ainda sentada nas pernas de Kohshi que se manteve calado o tempo todo. Achei que ele tinha dormido de repente.
— Não vai levantar daí? — A cara que Hiroki fazia me deu vontade de rir, mas me controlei.
— Não, está confortável — brinquei. — Estou ajudando este pobre rapaz com dor nas costas, não é mesmo, Koh? — Kohshi apenas levantou a mão fazendo um sinal positivo.
— Ora essa, Hayashi, saia daí! — Hiroki veio até mim e me puxou com força, me tirando de cima de Kohshi que logo levantou.
Detalhe: Kohshi está sem camisa.
— Me solta, Hiroki! — reclamei e Kohshi se meteu entre nós.
— Não se meta, Kakashi!
— Meu nome é Kohshi! Seu babaca! — Kohshi deu um soco em Hiroki. Até pensei, brevemente, em impedir ele, mas eu estava me divertindo ao ver Hiroki apanhar. — Nunca mais encoste na , está me entendendo?
— Quem pensa que é pra exigir algo assim?
— Sou amigo dela e não vou permitir que um imbecil feito você a maltrate.
— Você quer pegar ela, não é? Isso se já não pegou. — Eu ia falar, me defender das palavras dele, mas não foi preciso. Kohshi ergueu Hiroki pela camisa e o encarou raivoso.
— Meça as palavras para falar dela. — Os olhos de Kohshi cintilavam raiva. Agora, notei que devia me meter.
— Kohshi! Por favor, não! — Segurei o braço dele. Aos poucos ele afrouxou o aperto em Hiroki e o largou. — Sai daqui, Hiroki! Está tudo acabado entre nós! — finalmente eu falei o que queria há meses. Libertador!
— Você está terminando comigo?
— Está surdo? — disse Kohshi, indo para minha frente e empurrando Hiroki. — Quer que eu desenhe para você entender, Hiroki? — Irritado, como eu nunca imaginei que ele fosse capaz de ficar, Kohshi pegou Hiroki pelos ombros e foi andando para fora do quarto, arrastando ele como se fosse um saco de batatas.
— Kohshi! Kohshi! — Eu tentei faze-lo parar, mas, apesar de magro, ele é bem forte. Hiroki foi o caminho inteiro reclamando e se debatendo.
Com um empurrão, Kohshi expulsou Hiroki do apartamento e tomou-lhe as chaves que ele tinha, assim, não poderá mais entrar aqui sem ser convidado. Após bater com força a porta, Kohshi voltou a pôr a mão nas costas.
Ele chegou aqui há alguns minutos, procurando meu irmão, eu disse que Keigo havia saído para jantar com Aimi, mas disse que se Kohshi quisesse, poderia esperar. Ele reclamou que sentia uma dor intensa nas costas, foi então que me ofereci para passar uma pomada muito boa que uso, serve para dores musculares em geral. Enquanto eu passava a pomada nas costas dele, foi o momento em que Hiroki chegou, atrapalhando tudo.
Confesso que estar ali sentada nas pernas de Kohshi enquanto ele estava sem camisa, me animou. Ok, eu fiquei levemente excitada com a situação, mas me controlei ao máximo para levar aquilo na mais pura normalidade. Quase perdi o controle quando ele começou a gemer de dor…
— Quer outra massagem, Koh? — perguntei para ele, que agora estava deitado no sofá.
— Não precisa, , obrigado. — Ele virou a cabeça para me olhar e completou: — Aquilo que disse é sério?
— O que exatamente?
— Que… — Ele parou por alguns segundos, como se analisasse se deveria mesmo falar. — Que você terminou com o Hiroki?
— Ah, isso. — Meu coração estava acelerado demais e minhas mãos suando. O nervosismo estava presente em mim. — Sim, eu não quero mais ficar com ele. — Concluí o pensamento e segurei minhas mãos, apertando-as numa tentativa de controlar meu nervosismo. Sempre que fico nervosa, eu tremo e sempre preciso me segurar para não surtar e sair correndo.
— Mas e o seu filho, ? — questionou Kohshi, após alguns minutos de silêncio.
— O que tem ele?
— Vai criar ele sem o pai?
— Não... Koh, eu preciso te falar uma coisa. — Minha voz saiu quase sussurrante. Kohshi ergueu o corpo e sentou-se para me encarar. Seus olhos, sempre gentis e amorosos, penetravam em meu ser. Era difícil me manter concentrada. — Koh, a gente se dá bem, não é? — Bem aleatória essa pergunta…
— Sim. Eu… eu gosto muito de sua companhia, . — Ele sorriu e se aproximou de mim, sentando ao meu lado. — Você quer me dizer outra coisa. Eu conheço você, apenas diga — ele disse e me deu um abraço, de repente. — Se é difícil me encarar, pode me contar dessa forma. Eu entendo. — Ele ficou abraçado a mim por mais ou menos um minuto. Tempo que eu reuni forças e coragem para contar.
— Vamos ter um filho juntos, Koh! — Falei! Finalmente eu falei. Kohshi não disse nada.
Afastando seu corpo do meu, Kohshi ainda manteve suas mãos em minha cintura. Devagar, ele se aproximou de mim, segurou meu rosto, sua mão estava tão quente, fechei os olhos ao seu toque. Quando abri novamente, Kohshi havia selado nossos lábios num beijo apaixonado. Me deixei entregar ao amor que sinto por ele e o beijei de volta. Uma enorme sensação de déjà vu me acometeu. Me senti mergulhada em lembranças.
Flashback on
Narração em terceira pessoa
Kohshi e caminhavam pelo parque de diversões, aproveitando o lindo e ensolarado dia que fazia naquele início de primavera. De mãos dadas, os dois aproveitavam o passeio. finalmente havia tomado coragem e chamado Kohshi para sair pela primeira vez e estava sendo um lindo e divertido passeio. Ao fim do dia, Kohshi comprou sorvete para os dois e, após saborearem a sobremesa, Kohshi toma coragem e beija a moça. Seus lábios gelados e doces com o sabor de chocolate foram o melhor sabor que o rapaz provou na vida. E ele quis provar para sempre desse sabor.
Fim da narração
Flashback off
Despertei de meu sonho acordada e Kohshi ainda me beijava. Suas mãos agora apertavam minha cintura, de maneira firme.
Eu me lembrei de algo que eu já vivi? De repente, fui tomada por lembranças diversas, lembranças não descritas nos diários que eu mesma fiz.
Capítulo 8 - Re:member
"Eu viajei, tentando encontrar
Algo que podia ser mudado
Dentro de minhas lembranças que mudam…"
Acometida por memórias, memórias verdadeiras de minha vida, eu ainda beijava Kohshi, enquanto me lembrava de coisas não descritas nos diários. Como o dia em que fui esquiar com Keigo e ele levou muitos tombos, demos muitas risadas naquele dia; lembrei-me do primeiro show do Flow que fui, numa casa de shows pequena aqui do Japão, basicamente haviam cinco pessoas na plateia contando comigo; e o dia em que Keigo me levou para meu primeiro dia no ensino fundamental, lembro do nervosismo que senti e das palavras de Keigo para mim.
— Se você chorar, eu estarei aqui para te apoiar, eu sempre estarei aqui, minha irmã.
O sorriso sincero e doce do Keigo é a lembrança mais presente que tenho agora. Só agora notei o que está acontecendo, realmente. Como eu pude me esquecer que vivi tudo isso com eles? Com Kohshi, Take, Keigo... Ah, como pude me esquecer que sou realmente irmã do Keigo?!
Esse carma chamado Hiroki que me fez entrar nesse bug temporal. Agora eu lembro. Parece que toda vez que Kohshi se declara para mim ou quando nos beijamos, Hiroki faz algo em seguida e o tempo "reinicia", me fazendo aparecer em outra realidade que não a minha de fato. Eu consegui me lembrar de tudo! Na lembrança, a primeira que tive após meu beijo com Kohshi, foi no dia que fomos ao parque de diversões e ele me beijou. Lembrei também que Hiroki apareceu na minha casa e flagrou Kohshi e eu juntos, enlouquecido, ele partiu para cima de Kohshi e bateu nele. Bateu tanto que Kohshi ficou internado por dias, e então o meu tempo reiniciou. Então, a realidade que eu achei ser a minha, de fã do Flow, era apenas uma realidade fake. Eu estou em surto novamente...
— ? — A voz de Kohshi me tirou do mergulho profundo que fiz em minhas lembranças. Sem perceber, eu chorava compulsivamente e apertava forte os ombros do Koh. — Está tudo bem? Por que está chorando?
— Está tudo bem, agora está tudo bem, Koh. — Minha voz saiu fraca. Eu estou tão feliz em realmente fazer parte da vida deles.
— ...
— Eu te amo, não consigo mais negar isso… — Realmente, eu não consigo mais esconder.
— E eu nunca neguei meu sentimento. — Ele me abraçou forte e me beijou na mesma intensidade com que apertou minha cintura. — Minha pequena Hayashi, eu te amo!
Kohshi uniu nossos lábios novamente, dessa vez seu beijo foi mais suave, tranquilo e muito apaixonado. Estou vivendo um sonho. Como eu me esqueci dessas lembranças com os rapazes? Mas o que me deixa mais feliz é o fato de eu não ter me esquecido do amor que tenho por Kohshi. Mesmo tendo voltado no tempo inúmeras vezes, eu sempre voltei amando ele, mesmo quando eu não estava no mesmo país que ele, mesmo sem ligação direta: eu sempre amei o Kohshi!
Esse amor indestrutível e atemporal.
[⏰]
O barulho da porta do apartamento se fechando e das chaves sendo colocadas na mesinha do hall de entrada despertou Kohshi e eu do nosso momento a sós. Ele descolou nossos lábios, mas continuou abraçado a mim, encostando sua cabeça na minha.
— Oh, estamos atrapalhando? — Kei disse, ainda de mãos dadas com Aimi. Ambos tinham um sorriso malicioso nos lábios.
— Nunca — Kohshi disse e se virou para mim, sem me soltar. — Agora que Keigo chegou, eu vou embora, ok?
— Ah, fica mais um pouco, Koh — falei, com a voz manhosa. Ele riu e meu irmão pigarreou.
— Parece que temos um novo casal, amor — comentou ele com Aimi.
— Sim! E um casal muito perfeito, apoio muito! — completou ela. Koh e eu rimos, sem jeito.
— Engraçados vocês dois, né? — comentei e dei língua para eles. — Fica, Koh. — Encarei ele com uma expressão irresistível que o fez rir e me dar um selinho.
— Eu fico — falou ele e eu comemorei abraçando seu pescoço.
— Nossa, quanto amor!
— Está com inveja, irmão?
— Não, sua rabugenta!
Nós quatro ficamos conversando na sala, contei para eles o que aconteceu antes deles chegarem. Koh e eu resolvemos assumir nosso amor. Revelei também que o filho que espero é dele, o que não foi surpresa para Aimi, pois Kei já havia contado para ela. Fofoqueiro! Depois de algumas horas, Kohshi foi embora, disse que precisava tratar das costas e marcar um médico. Concordei e levei ele até o estacionamento. Aimi dormiu aqui junto com Keigo. Fui para meu quarto com a cabeça fervilhando em lembranças, cada vez mais fortes e nítidas, como se eu nunca as tivesse esquecido.
Acordei no dia seguinte já pensando no que faria de agora em diante. Eu não quero que o tempo volte novamente e eu perca todas as lembranças que tenho com Kohshi e os outros, principalmente com meu irmão e meus pais, que são mesmo meus pais. Como farei para interromper esse bug temporal que volta o tempo e faz com que eu perca minha memória?
— Bom dia, maninha! Acorda!
Kei bateu na porta e sua voz saiu abafada. Levantei da cama e fiz minha higiene matinal. Durante a madrugada, troquei mensagens com o Koh. Ah, ele consegue ser fofo até quando está cheio de dores. Fez uma vídeo-chamada comigo para dizer que me ama e que já ia dormir, pois tinha tomado remédio para dor e já estava com sono. Obriguei ele a desligar e ir descansar.
— Levanta, !! — Kei gritou novamente.
— Calma, Keigo! — gritei de volta e abri a porta do quarto. — Que animação é essa, Hayashi-san? — Me lembrei que Kei odeia quando o chamo assim. Rapidamente ele se virou e me fuzilou com o olhar. — Não me olhe assim, Kei! — Eu ri.
— Ah, -chan, sua sorte é que eu te amo muito, minha irmã. — Corri para alcançar e abraça-lo.
— Te amo, maninho! — Dei um beijo no rosto dele e sorri.
Aimi já havia ido trabalhar, então eu estava a sós com meu irmão. Resolvi contar para ele do bug maldito que me enfiei, ainda estou pensando em quais palavras usar, mas vou contar.
— Kei… — Chamei a atenção dele, que está mexendo no celular e fazendo o mesmo bico que nosso pai faz quando está distraído, levantou o olhar e me encarou, ainda fazendo o bico.
— O que foi, ? — questionou, após meu silêncio.
— Kei, eu preciso te contar algo.
— Ai meu Deus, o que houve? O pai do meu sobrinho não é o Kohshi? O Kohshi te destratou e disse que não vai assumir? Porque se for isso, eu expulso ele da banda! — ele disparou a falar e eu revirei o olhar.
— Achei que ele tinha esse poder, já que a ideia da banda foi dele — mencionei, me lembrando do exato momento que Kohshi foi em nossa casa, onde nossos pais ainda moram, e convidou Kei para fazer parte da banda também.
— Yah, fala logo o que é, mini-Hayashi! — reclamou, colocando o celular em cima da mesinha. Estamos sentados no chão.
— Serei direta, ok? — Kei concordou, impaciente, com a cabeça e eu prossegui: — Eu acho, na verdade, tenho certeza de que eu estou num bug temporal.
— Quê? — Ele me olhou confuso, da mesma forma quando me encontrei com ele assim que "voltei" daquela vez.
— Lembra daquela fã da banda, que morreu no Brasil? — Ele concordou com a cabeça. — Então, Kei, eu já vivi na pele dela. Já vivi uma vida em que eu era aquela fã e, quando acordei do bug, eu acordei aqui no Japão, ainda com as lembranças dela e sem saber que eu realmente sou sua irmã.
— , eu não estou entendendo nada. Mas… — Ele parou por alguns instantes. — Por mais doido que possa parecer, essa conversa com você me dizendo coisas parecidas com isso, não me é estranha. — Agora quem estava confusa era eu.
— Déjà vu?
— Sim, como um louco déjà vu. — Ele ficou ofegante e passou as mãos nos cabelos, bagunçando-os um pouco. — Eu acredito em você, maninha. — As palavras dele foram o suficiente para que eu desabasse e chorasse, colocando as mãos no rosto. — Hey, tenha calma, eu estou aqui! — Mais uma vez fui acolhida pelo abraço quente de meu irmão.
Reconfortante saber que ele acredita em mim e que eu não precisarei ficar me explicando, sendo que nem eu mesma sei direito o que está acontecendo. Tenho apenas teorias e lembranças concretas do meu vínculo com meus pais, meu irmão e, claro, com o Kohshi. Expliquei, mesmo assim, tudo o que eu venho pensando sobre tudo isso. Após refletir um pouco, Kei chegou a uma conclusão. Uma solução para acabar com o bug, para que não aconteça nunca mais e eu pare de perder minhas memórias e reinicie o tempo.
Só a menção da solução me fez ficar aliviada, mas também muito tensa. Eu não queria ter que ir tão longe assim.
Capítulo 9 - O quase fim
Alguns dias se passaram e Kohshi me pediu em namoro. Resolvemos juntos contar para meus pais sobre minha gravidez. Foi difícil encarar o papai que quase bateu em Kohshi, se não fosse Keigo tê-lo impedido. Mamãe ficou feliz demais em saber que será avó e em saber que Kohshi é seu genro, ela gosta muito dele. Lembro-me de que, algumas vezes, mamãe dizia que ter Kohshi como genro era sonho dela. É, mamãe, e o meu sonho era tê-lo como namorado, parece que realizamos esses sonhos, não é?!
Estou com quase quatro meses de gravidez, minha barriga não é tão visível, mas já está ficando no formato. Em breve saberei o sexo do meu bebê, Kohshi está tão ansioso quanto eu e praticamente está morando comigo e com Keigo. Hoje eles têm show, já devem estar lá. Eu não fui, pois estou cansada, tive um mal-estar mais cedo, Keigo e Kohshi acharam melhor eu ficar em casa. Enquanto eu assistia a um filme na TV, a campainha tocou. Estranho, não estou esperando ninguém e, todos que conheço, estão no show.
— Já vai! — gritei, ao me levantar e caminhar lentamente até a porta. Parece que minhas pernas estão com o triplo do peso normal. Abri a porta e logo a empurrei de volta. — Sai daqui!
— Não seja insuportável, Hayashi! Abre a porta e me deixa entrar! — Hiroki empurrou a porta de volta com muita força, me derrubando contra a mesinha do hall de entrada.
— Não! Me deixa em paz, Hiroki! — gritei em desespero, enquanto ele fechava a porta e me puxava pelo braço, me arrastando em seguida.
— Eu disse que não desistiria fácil de você! E não irei desistir! — berrou ele e me jogou, literalmente, no sofá, subindo em cima de mim em seguida.
— Para! Me solta, Hiroki, me solta!!! — eu gritei o mais alto que pude, na esperança de alguém me ouvir e me ajudar, mas ninguém parecia ouvir.
Hiroki me agarrou pelos braços e cabelos e me arrastou, contra minha vontade, até meu quarto, me jogando na cama e subindo em mim novamente. Ele estava enlouquecido, mal se importava com os chutes que eu dava nele. Meus gritos se intensificaram quando ele começou a me beijar à força. Fechei meus olhos e não vi quando Hiroki foi puxado de cima de mim, abri os olhos e vi Kei trocar socos com ele.
— Cuidado, Kei! — Alertei, Hiroki deu um soco forte no maxilar de meu irmão que o fez cambalear. Comecei a olhar para os lados, procurando algo para acertar Hiroki.
— Desgraçado! — Keigo disse e empurrou Hiroki, que caiu perto da cama. Kei subiu no peito de Hiroki e começou a golpeá-lo com força.
— Kei, você vai matar ele! — gritei desesperada. Não quero que meu irmão tenha um assassinato na vida.
— A ideia é essa!
— Você é fraco!
Hiroki empurrou Keigo e começou a esmurrar o rosto do meu irmão. Puxei a primeira coisa que tinha próximo a mim: meu notebook. Levantei e bati com toda força na cabeça de Hiroki, que caiu desacordado.
— Chama a segurança, ! — pediu Keigo, mas eu estava paralisada, minhas mãos tremendo. Soltei o notebook na cama e comecei a chorar. De repente, uma dor intensa na barriga. — ! Está sentindo algo? Fala comigo! — Curvei meu corpo, eu não conseguia falar, apenas chorar. — Eu vou chamar a segurança, eu já volto.
Keigo saiu e ligou para os seguranças do prédio, que logo subiram e levaram Hiroki em custódia por invadir o apartamento, apesar de eu ter aberto a porta para ele, mas isso foi omitido por Keigo. Após a saída dos seguranças, Kei veio ver como eu estava.
— A dor está passando, maninho, não se preocupe. Acho que foi a adrenalina — eu disse, ofegante e segurando minha barriga.
— Tem certeza? — Confirmei com a cabeça. — Vou ligar para o Kohshi.
— Não! Não precisa, Kei, não quero preocupar ele à toa.
— Não importa, . Ele tem que saber o que está acontecendo.
Vencida pelo cansaço, eu assenti à fala de Keigo e deixei ele ligar para Kohshi. Mesmo cansado do show, minutos depois, ele estava aqui. Enquanto Keigo cuidava de seus machucados, Kohshi me fez companhia. Ele acabou dormindo sentado na cadeira ao lado da minha cama. No dia seguinte, ele acordou todo dolorido, eu já me sentia disposta, então fiz massagem nas costas dele, estão bem inflamadas pelos gemidos de dor que ele solta cada vez que aperto em algum ponto dolorido. Ele vai mais tarde se consultar com um médico para avaliar a situação da inflamação nas costas. Depois, a banda tem um evento em um grande shopping daqui, nesse evento eu vou, mesmo Keigo tendo dito que era melhor eu ficar em casa. Estou farta de ficar em casa, então irei de qualquer forma.
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Já estamos no evento no shopping, está lotado! Muitos fãs vieram para ver os rapazes, Kohshi acabou de chegar e me deu um beijo, disse que foi tudo bem na consulta e o médico passou alguns exames, porém, numa avaliação preliminar, notou uma inflamação nas costas dele, pediu para que tomasse cuidado para não piorar. É, Koh, vai ter que maneirar durante os shows.
Os rapazes sentaram-se em frente à mesa para começarem a sessão de autógrafos. Tudo corria bem, eu fiquei próxima à mesa, organizando a fila dos fãs. Do nada, ouvi alguns gritos de reclamação, quando olhei, vi que havia um tumulto na fila próximo a mim, chamei a atenção das pessoas para que não empurrassem, mas logo vi que elas não tinham culpa de nada. Vi Hiroki marchar, subindo as escadas do pequeno palco. Ao ver ele, gritei para o segurança que estava próximo. Foi tudo muito rápido, num flash de segundos tudo aconteceu. O estopim do tiro me fez cair e os gritos de Kohshi me fizeram chorar.
Capítulo 10 - Recomeço
— ! — Ouvi a voz de meu irmão me chamar, bem de longe. Minha visão escureceu e eu só me preocupava com o meu filho. Eu não podia morrer agora. De novo não…
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Após passar a sensação de que eu estava me afogando, sufocante, eu acordei, mas não abri olhos, por medo de acordar em um outro lugar, medo de não ter mais o meu filho com Kohshi ou a companhia dele.
— Acho que ela está acordando — uma voz conhecida falou e eu acho que é tudo um delírio meu. — ? — Senti um toque quente em minha mão e abri os olhos rapidamente. — ! Que alívio! — Meus olhos encheram-se d'água ao ver o semblante daquele que eu mais queria ver naquele momento.
— Keigo! — Apertei a mão dele e chorei de alegria ao ver o meu irmão.
— Que bom que está bem, minha irmã. Fiquei muito preocupado — ele disse e deu um beijo em minha mão. — Seu bebê está bem, não se preocupe. — Finalizou ele, o que me fez chorar mais.
— ! Finalmente acordou! — A voz de Kohshi me chamou a atenção para a porta do quarto de hospital no qual eu estava. Koh se aproximou da cama, Keigo se afastou para ele passar. — Como se sente, my baby? — perguntou, carinhoso.
— Estou bem, agora estou bem. — Puxei ele para que me abraçasse. O cheiro dele me acalmou, me fazendo parar de chorar. Ficamos alguns minutos abraçados. — Suas costas, me desculpe, amor — eu disse, me afastando.
— Não está doendo, não se preocupe. — Ele piscou para mim e sorriu. De repente, me veio um flash assustador do que havia acontecido.
— O Hiroki?! Onde- onde ele está? — questionei, assustada. Keigo, que estava do outro lado da cama, me acalmou.
— Calma, minha irmã, ele… bom, ele não será mais um problema — respondeu e segurou minha mão.
— Como assim? Ele foi preso? — O olhei confusa. Kei respirou fundo e disse:
— Ele foi morto, . — Senti um frio percorrer meu corpo e levei a mão livre à boca.
— Kei, você não…
— Não! Não fui eu e nem o Kohshi. Calma! Os seguranças do shopping atiraram nele, após ele atirar na sua perna. — Só agora me dei conta de que minha perna está enfaixada na altura da coxa. Olhei para ele ofegante, e pedi mais informações.
Keigo me disse que Hiroki invadiu o palco onde estávamos e atirou na direção de Kohshi, pelo menos a mira dele era essa, porém, algum fã o empurrou e a arma disparou, atingindo minha perna. Eu caí no chão e desmaiei. Hiroki ainda tentou atirar novamente em Kohshi, mas errou o tiro, foi então que os seguranças atiraram fatalmente no peito de Hiroki, que caiu morto próximo a mim.
Quando tive aquela conversa com meu irmão sobre o bug temporal, ele me deu uma solução radical para acabar com isso: matar Hiroki. Ele disse que sentia, provavelmente por conta das outras conversas passadas que tivemos sobre isso (os déjà vu), que essa era a única solução não tentada por nós.
Por um instante, pensei que Keigo havia ido longe assim para me ajudar. Por mais que eu quisesse acabar com esse carma em minha vida, eu jamais pensaria em matar Hiroki ou desejaria a morte dele, porém, não posso negar o alívio que sinto por não precisar mais perder a memória e ficar longe das pessoas que amo. Isso, é claro, se a morte de Hiroki realmente findar com esse bug...
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As risadas altas despertaram meu sono. Respirei fundo me espreguiçando na enorme cama de casal em que estou. Ao abrir os olhos, mais uma vez respirei aliviada em acordar no mesmo lugar em que dormi na noite anterior, com todas as lembranças de minha real vida. Todo dia eu acordo na expectativa de estar na minha real vida, com minhas lembranças. O medo de tudo ter sido um louco sonho é grande. O medo do maldito bug temporal voltar, mesmo com a morte de Hiroki, é maior ainda.
Levantei-me da cama e fiz minha higiene matinal, aproveitei para tomar banho. Já pronta, desci as escadas de minha casa e fui na direção das risadas que me acordaram.
— Bom dia, my tiger — eu disse, me aproximando de Koh que estava sentado na esteira próximo a piscina. — Oi, filho lindo! — Antes de beijar Koh, eu dei um beijo no topo da cabeça do nosso filho: nosso pequeno Hero que hoje tem 2 anos.
— Bom dia, my baby, dormiu bem? — perguntou Koh. Ele estava de calção de banho e óculos escuros, os cabelos molhados caindo nos olhos. Me arrepiei só de vê-lo assim tão lindo.
— Sim, meu amor. Já está aproveitando o dia lindo, não é? Nem me acordou… — Fiz um bico com os lábios, o mesmo que papai faz quando quer algo de mim, da mamãe ou do Keigo.
— Você estava tão serena dormindo, não quis te interromper — explicou ele. — Além do mais, Hero acordou cedo hoje — completou ele, enquanto segurava Hero para que ele não saltasse de seu colo.
— Tudo bem. Keigo e Aimi virão hoje?
— Já estão a caminho. — Me sentei na esteira ao lado e peguei Hero no colo, ele estava com os bracinhos esticados para mim. — Vou dar um mergulho, rapidinho. — Assenti com a cabeça e Koh foi para a piscina.
A cena dele mergulhando e saindo da água me trouxe uma sensação de amor muito intensa. Além do tesão que senti misturado ao amor.
Após mergulhar, Koh pediu para eu levar Hero até ele, fiz o que ele pediu e sentei-me na beira da piscina, apenas observando Kohshi ensinar nosso filho a nadar. Nosso pequeno Hero se divertia quando tirava a cabeça de dentro d'água após mergulhá-la de olhos abertos e fazer bolhinhas com a boca. Uma paz enorme me acometeu naquele momento, tudo pareceu em câmera lenta: o sorriso de Koh segurando nosso filho nos braços, o sorriso de Hero que é imensamente parecido com o pai (até o sorrisinho tímido ele tem igual ao de Koh). Não me contive e sorri. Também deixei cair algumas lágrimas de alegria. Comecei a cantarolar uma música que Koh fez para mim, assim que descobriu que eu estava grávida do Hero.
Koh ouviu e sorriu, começou a dançar com Hero no colo. Essa canção demonstra todo o amor que sinto por eles, mesmo que eu não tenha escrito, o sentimento é o mesmo e será para sempre.
Mesmo se eu reencarnar mil vezes, eu sempre irei amar você. Porque o meu amor é atemporal.
"Revele a canção dos seus sentimentos
Junto com o imenso amor que sente
As lágrimas do seu choro vão mudar seu destino
Deixe a batida do seu coração ecoar na escuridão
(eu tenho que me lembrar)
(eu consigo ouvir alguém chamando meu nome)"
Re:member, FLOW
Fim
Nota: Meu Deus, achei que nunca acabaria Re:member, mas acabei! E vou falar para vocês: está levemente diferente do que eu pensei inicialmente. Ficou melhor do que eu pensei? Com certeza! Ela representa bem o que eu sinto pelo Keigo-chan: um amor de irmã, queria muito ser irmã dele (aí vocês ignoram eu fazer par romântico com ele em Niji no Sora kkk). ❤
Sem contar, obviamente, o imenso amor que sinto pelo Kohshi, ahh esse homem vive em meus sonhos mais insanos. Te amo, Koh ❤
Espero que tenham gostado mesmo, porque eu amei escrever!
Beijinhos ✨❤