Esta história pertence ao Projeto Songfics
Redes Sociais



251 leituras

Seja um
Autor VIP
www.espacocriativo.net/VIP

#018 Temporada

Ilusão
Sandy & Junior



Raízes

Escrita por Lika

« Anterior


  Após mais um dia terminando meu trabalho no escritório, finalmente pude desligar a tela do computador e dar uma longa inspirada, o que não me deu alívio algum já que respirei o ar gelado e enfadonho que o sistema de ventilação velho da empresa recicla a cada minuto. Olhando ao redor, percebi que todas as salas estavam vazias. Estava terminando de arrumar minhas coisas quando ao fundo escutei o som do elevador parando no andar. Assim que as portas de metal se abriram, houve o barulho de saltos finos arranhando no piso de mármore.
  - O que você está fazendo aqui? - Bárbara, minha chefe, falou em um tom levemente embriagado. - É sexta-feira à noite, pelo amor de Deus!
  - Eu estava terminando o caso da Dra. Rodrigues. - A mulher se apoiou em minha mesa, os olhos cansados.
  - Esse caso já está perdido. O mínimo que você pode fazer é sair para o happy hour como o resto de nós.
  - Como estagiária, o mínimo que eu posso fazer é procurar brechas. - Me levantei, tentando manter certa distância de seu bafo de cerveja. - Mas o que você veio fazer aqui, Bárbara?
  - Esqueci o carregador em meu escritório. - Ela deu de ombros. - , você tem vinte e cinco anos e está em São Paulo! Você não deveria estar aqui a essas horas por vontade própria. Por acaso você não tem amigos? É esse o motivo de não estar tomando drinks e cercada de homens?
  - Não sou fã de bebida alcóolica. - Respondi, logo me arrependendo de ter aberto a boca. Bárbara se ergueu automaticamente, como se a frase que eu havia dito não fizesse sentido algum para ela, e me abraçou.
  - Pobrezinha! A menina pode largar o interior, mas o interior nunca sairá dela!
  Dei dois tapinhas nas costas da mulher, tentando ser gentil com minha chefe. Em meus sete anos nessa cidade, notei que as pessoas de São Paulo geralmente se sentem superiores àquelas que vêm de fora, principalmente quando elas chegam de uma cidade pequena de Minas Gerais, como eu. Desde meu primeiro dia nesse escritório de advocacia, todos os paulistas me tratam como se eu fosse uma menina inocente do interior, sem hábitos urbanos nem experiências. Mas hoje, eu iria me impor.
  - Sabe de uma coisa? - Me afastei da mulher para que pudesse olhá-la no rosto. - Eu realmente deveria estar aproveitando meus vinte e cinco anos.
  - Com certeza! - Bárbara se animou, provavelmente imaginando que ela seria a responsável por tirar minha “virgindade” alcóolica.
  - Você tem toda razão, não tenho amigos aqui em São Paulo. E é exatamente por esses motivos que você deveria me dar férias adiantadas.
  - Sim! - A mulher respondeu automaticamente, mas quando seu cérebro processou as informações de forma correta ela se retraiu, percebendo seu erro. - Espere um pouco…
  - Não, Bárbara! Você tem tanta razão que me fez perceber que preciso de um tempo longe desse estágio. Como você mesma disse, o caso da Dra. Rodrigues já está perdido e como eu finalizei todos os outros processos, eu estou praticamente livre!
  A mulher passou a mão pelo rosto, provavelmente tentando ficar sóbria, mas não deixei que ela tivesse tempo suficiente para negar meu pedido. Peguei minha bolsa e caminhei em direção ao elevador, que ainda estava parado no andar.
  - Prometo que trarei lembrancinhas de viagem para você, Bárbara! Vou mandar um email para o RH, então nos vemos em vinte dias! - acenei para ela, já dentro do elevador, e vi que ela correspondeu ao aceno apesar do choque. Bárbara parecia levemente inconformada, mas ela provavelmente aceitaria esse meu descaso, já que eu era a melhor estagiária do escritório.
  Assim que coloquei meus pés na Avenida Paulista, fui até o metrô Brigadeiro e peguei o trem vazio de volta para casa. O relógio marcava dez horas, o que era relativamente tarde para meus pais, mas eu tinha certeza que eles não recusariam minha ligação.

  - Você nunca vai adivinhar quem está voltando para casa nesse fim de semana! - puxando os grãos de café do galho, Beto falou.
  - Sua prima? - Esperei que Beto completasse nossa última saca de café e a coloquei na caminhonete.
  - Ela mesma - Ele riu. - Você se lembra do nome dela? Faz tanto tempo desde que ela se mudou para São Paulo.
  - Claro que lembro o nome dela. . Como eu poderia esquecer da única menina da cidade que vivia enfurnada no quarto estudando? - liguei o carro e esperei que Beto entrasse.
  - Lembra do dia em que nós quebramos o vidro do quarto dela com a bola de futebol? - tirando seu boné surrado, Beto abriu o vidro, deixando que o ar entrasse com força enquanto eu dirigia pela estrada de terra.
  - Juro que essa foi a única vez que vi o rosto da sua prima! - Me lembrei do dia em que nós e mais alguns amigos estávamos batendo bola na garagem do sítio da família de Beto. Foi só eu dar uma embaixadinha mais forte que o normal que a desgraça aconteceu. - Eu pensei que ela iria me matar!
  - Depois daquele dia ela nunca mais voltou para cá - Beto respirou fundo depois de rir por um longo tempo. - Mas acho que ela se acostumou com a cidade grande. Sempre foi o sonho dela sair do sítio. Ser alguém na vida, como dizia para mim.
  Seguindo na estrada de terra, olhei a paisagem através do vidro sujo da caminhonete. Não sei como alguém desejaria tanto sair de um lugar lindo como esse, envolto de montanhas verdes, céu azul, ar puro e tranquilidade. Entrando pelas janelas abertas, o cheiro de capim e café sendo torrado nos sítios vizinhos são a perfeita definição de paz. Apesar de eu e Beto acordamos às quatro e meia da manhã todos os dias para cuidar da plantação da família dele, todo o esforço do dia pode ser facilmente recompensado com uma ida à cachoeira. Ou talvez uma ida à cidade mais próxima, onde há vários comércios locais, parques de águas naturais e mulheres lindas. Não existe nada de ruim em um lugar como Minas Gerais!
  Quando chegamos na estrada principal da zona rural, sai da estrada de terra para a de asfalto. Antes que eu pudesse acelerar até os oitenta quilômetros por hora, vi uma mulher sentada no ponto de ônibus inoperante desde os anos 2000. Ela estava vestida como alguém da cidade grande e tinha ao seu lado uma mala preta de rodinhas. Beto direcionou o olhar na mesma direção e logo tirou seu boné.
  - , pare o carro! - Ele gritou e eu parei de imediato. - Ei, ! Sou eu, primo Beto!
  A mulher olhou em nossa direção, claramente assustada. Quando ela reconheceu o rosto do meu amigo, logo abriu o sorriso mais lindo que eu já tinha presenciado. Beto saiu do carro e deu um forte abraço na prima. Encostei o carro no acostamento, alguns metros na frente dos dois, e sai. Caminhei em direção a eles com as mãos nos bolsos e esperei que Beto me apresentasse.
  - O que você está fazendo sozinha aqui? Pensei que só chegaria amanhã de manhã! - Beto se afastou da prima, deixando meu campo de visão livre para que eu pudesse apreciar sua beleza.
  - Acabei conseguindo comprar uma passagem de ônibus diferente, mas o motorista precisou me deixar aqui, porque o trajeto não iria parar em São Lourenço. - A voz da mulher era mais grave do que eu me lembrava, mas não menos atraente. Ela ainda não tinha colocado os olhos em mim, então continuei esperando. - Eu pensei que não teria problemas em aguardar na beira da estrada, já que eu estava prestes a ligar para meu pai, mas vi que meu celular está sem rede. Graças a Deus você surgiu Betinho!
  - Bem vinda de volta ao lugar onde a rede telefônica é fraca, prima. - Ele riu e se virou, finalmente me apresentando. - Não sei se você se lembra dele, , mas esse é meu melhor amigo, . Ele tem ajudado com as coisas do sítio.
  - Olá! - Acenei, me aproximando. Os olhos da menina foram direto para os meus e de súbito uma onda de nervosismo surgiu em minha barriga.
  - Não me lembro de você, desculpe. - Ela deu um pequeno sorriso e estendeu a mão. - Mas é um prazer!
  - Nossa, foi só você ir para São Paulo que perdeu os costumes daqui? - Beto caçoou. - De um abraço nele! Não seja mal-educada.
   mordeu o lábio, mas logo deu de ombros e me abraçou rapidamente. Meu coração acelerou quando senti seu corpo encostado no meu. Sem entender o que estava acontecendo comigo, limpei a garganta e tentei quebrar a tensão que se instalou em mim.
  - Você tirou a sorte grande, estávamos voltando agora mesmo para o sítio. - Fiz menção de pegar sua mala, mas ela rapidamente colocou a mão sobre a minha, me deixando anestesiado.
  - Pode deixar que eu coloco na caminhonete. - Ela pegou a mala e se dirigiu ao carro. Beto me olhou intrigado, provavelmente notando minhas reações.
  - Eu vou na traseira junto com o café. Pode se sentar no banco do passageiro, prima.
  Na traseira, onde estavam cinco sacas cheias de grãos, encaixou sua mala de rodinhas e sem delongas ocupou o lugar de Beto. Meu amigo pulou para se sentar entre as sacas e eu entrei no carro, logo voltando a dirigir pela estrada. Ao meu lado, observava em silêncio a vista pela janela. Ela tinha o perfume de rosas e usava uma calça jeans que parecia cara demais para andar por essas bandas. Tentei não olhar muito para ela, então foquei no caminho pelo qual passo todos os dias.
  - Como foi a viagem? - Perguntei apenas para quebrar o silêncio mortal. Olhei de relance pelo retrovisor e vi que Beto encarava o céu, provavelmente fingindo não prestar atenção na cabine da caminhonete.
  - Foi boa, mas não me lembrava que demorava tanto tempo assim para chegar até aqui.
  - Vai ficar por quanto tempo? - Lancei outra pergunta, tentando disfarçar meu interesse.
  - Duas semanas. - Ela se virou para mim. - Então quer dizer que você está morando no Sonho Azul?
  - Só por um tempo, até que eu consiga comprar minha terra. Seus tios foram muito gentis em me aceitarem no sítio da família de vocês. - Me lembrei do dia em que comecei a trabalhar no sítio Sonho Azul, apanhando café pela primeira vez na vida. No mesmo ano em que havia ido para São Paulo, Beto e eu tínhamos acabado de sair do ensino médio e como minha mãe precisava de ajuda financeira, não pensei duas vezes quando os pais dele me ofereceram o emprego. Não era muito, mas ganhava o suficiente. - Tenho juntado o dinheiro há um bom tempo. Acho que em menos de alguns meses posso pagar a primeira parcela de um terreno não muito longe do de vocês.
  - Nossa, meus parabéns, ! - colocou sua mão em meu ombro. - Você pensa em criar sua própria plantação de café, também?
  - Sim, talvez montar uma horta também. - Olhei para o lado e sorri para ela. tinha um rosto delicado e seus olhos eram a parte mais impressionante. Quando nossos olhares se cruzaram, ela rapidamente se virou.
  - Acho que chegamos. - Ela limpou a garganta. - Nossa, muita coisa mudou por aqui, hein.
  Na rampa que levava à casa principal, estacionei a caminhonete e logo vi Beto pulando para fora da traseira do carro. abriu sua porta e ficou do lado de fora, observando cada milímetro do sítio.
  - A porteira é nova, plantamos algumas árvores e mudamos a entrada da casa. - Apontei cada objeto novo para a mulher. - No jardim, construí uma fonte, a pedido de sua avó, e logo ao lado tem alguns bancos de madeira que Beto fez ano passado. O interior da casa também foi alterado…
  - Falando nisso - Beto se intrometeu, guiando sua prima em direção à casa para que ela não ficasse parada ali fora o dia todo. - Tenho uma notícia não muito boa.
  - O que? - Ela indagou.
  Fiquei para trás, sabendo o que Beto iria contar para ela. Descarreguei a primeira saca de café, tentando não pensar em como reagiria quando soubesse que seu antigo quarto fora transformado no meu quarto. E o pior, que ela dormiria no colchão da minha bicama. Antes que eu pudesse descarregar a próxima saca, escutei gritos vindo de dentro da casa.

  Não tive nem tempo de processar o que Beto havia me contado quando ouvi minha mãe gritar e correr em minha direção, vindo me abraçar. Senti seus braços ao redor de mim e não consegui pensar em mais nada além do alívio de estar ali com ela novamente. Todos os anos eram meus pais que vinham para São Paulo me visitar, mas agora seria diferente.
  - Graças a Deus seu primo te encontrou! - Minha mãe começou a tagarelar, me olhando nos olhos - Quando você mandou mensagem avisando que chegaria hoje, ficamos preocupados. Você sabe que as rotas da maioria dos ônibus não para por aqui.
  - Eu ia ligar para papai. - Respondi, me sentindo uma adolescente novamente. - Não precisam se preocupar tanto. Já estou calejada graças à São Paulo!
  - Nós sempre vamos nos preocupar com você, . - Ela arrumou meu cabelo de forma carinhosa. - E como anda o trabalho?
  - Está indo. Talvez eles renovem meu contrato para o próximo ano. - Respondi, pegando minha mala. - Mas, não vamos falar sobre trabalho. Estou de férias, mãe! O que eu quero é ver o que vocês fizeram com meu quarto.
  - Prima, você vai amar. - Beto surgiu da cozinha, segurando um copo de suco de laranja gelado.
  - Isso foi ideia de seu pai e sua tia, depois vocês conversam entre si. - Minha mãe riu, me dando outro abraço.
  - Onde estão os outros? - Perguntei, sentindo falta da casa cheia.
  - Seu pai, tia Margarida, tio Carlos e sua avó foram para a cidade comprar alguns doces para comemorar sua chegada. Logo mais eles estão de volta. - Ela respondeu carinhosamente. - É bom te ver em casa novamente, .
  - É bom estar de volta, mãe. - Sorri, sendo honesta. Eu realmente tinha sentido falta de ver as montanhas de Minas Gerais da janela do meu quarto. 
  Deixei Beto e minha mãe na sala e caminhei em direção ao que era meu quarto há sete anos. Chegando no quarto, senti uma pontada de tristeza. O espaço estava mais vazio do que quando pertencia a mim, apesar de ter a mesma mobília. Havia apenas uma bancada, com alguns livros de Machado de Assis, e a bicama de novidade ali. Deixei minha mala no canto e fui até a janela, onde eu costumava passar horas olhando as montanhas enquanto estudava para o vestibular.
  - Você consegue ver a rachadura no vidro? - Escutei a voz de vindo da porta. Levantei o olhar, exatamente para onde a bola de futebol havia acertado há muito tempo, e sorri. - Aquela foi a primeira vez que nos vimos.
  - Desculpe não ter lembrado mais cedo. - Me virei para ele, encarando seus olhos encantadores por alguns segundos. - Mas sim, aquele foi um péssimo dia para mim. - Recordei da notícia que tinha recebido de minha mãe, dizendo que não podíamos pagar os custos de uma faculdade particular caso eu não passasse no vestibular.
  - Se você tivesse vindo jogar futebol conosco, talvez teria melhorado seu dia. - Ele se sentou na bicama.
  - Claro! - eu ri, cruzando os braços - Como se brincar com moleques fosse me ajudar.
  - Eu sou uma ótima companhia! Tenho certeza que consigo fazer qualquer pessoa se desligar dos problemas por algum tempo.
  - Hm. - falei pensativa. Talvez eu precisasse me desligar do ritmo da cidade grande. Ignorar os afazeres do trabalho e os problemas da vida adulta. - Eu adoraria tentar isso, me distrair nessas duas semanas.
  - Então, você veio ao homem certo! - sorriu, radiante. - Vou fazer suas férias valerem a pena. Você até vai querer voltar a morar aqui!
  Arregalei meus olhos. Desde a estrada, quando Beto e me encontraram, percebi como ele se iluminava ao olhar para mim - talvez fosse por eu ser a novidade do pedaço. Mas, apesar de achá-lo atraente e extremamente simpático, não poderia acontecer nada entre nós dois. Isso era uma promessa que eu deveria manter, pelo bem de ambos. Para não deixar meus pensamentos transparecerem, sorri para e mudei de assunto. 
  - Antes de mais nada, quero rever o Relâmpago! - falei, ansiosa.
  - Você vai adorar o novo estábulo que seu tio montou. - Ele se levantou da cama, deixando que a camisa ressaltasse seus ombros fortes. - Mas antes, precisamos deixar uma coisa clara. - Meu estômago embrulhou ao escutá-lo.
  - O que?
  - Você prefere dormir na cama de cima ou de baixo? - Soltei o ar ao ouvir e ri, aliviada.
  - De cima.

  No estábulo, a primeira coisa que vi foi a cabeça branca de Relâmpago olhando em minha direção. Ele é o cavalo da família, mas nós dois tínhamos uma conexão maior, já que eu cuidei dele desde meus quinze anos. Mostrei para ele a cenoura que eu trazia na mão e notei que Relâmpago se animou.
  - Ei, amigo! Quanto tempo não te vejo! - Estendi a cenoura e a segurei para que ele pudesse mastigá-la. Enquanto Relâmpago comia, acariciei sua crina. Do outro lado do estábulo, uma cabeça marrom se esticou, soprando em minha nuca. - Epa, você eu não conheço.
  - Essa é a Florença. Sua tia ganhou de um sítio vizinho, mas sou eu quem tem cuidado dos cavalos, então ela é praticamente minha. - contou, enquanto deixava uma maçã sobre a porta do recinto de Florença. A égua rapidamente se esticou para comer seu lanche e eu sorri, inevitavelmente, ao perceber que o homem cuidava dos animais tão bem quanto eu.
  - É bom saber que Relâmpago continua fiel a mim. - Fiz rir e meu cavalo assentiu, como se tivesse entendido.
  - Eu tentei suborná-lo com frutas, mas ele é um público difícil. - Agora quem ria era eu. - O que foi?
  - Ele só gosta de cenoura - dei carinho no cavalo. - Realmente, é um público difícil.
  Percebi que me analisava, fascinado. Provavelmente ele não imaginava que eu seria tão parecida com ele. Nem eu tinha imaginado que teríamos algo em comum assim tão cedo. Limpei a garganta e quebrei nossos olhares, me virando para Relâmpago e abrindo a porta de seu recinto.
  - O que acha de dar uma volta? - Olhei para e notei que ele parecia atordoado. Confuso com o clima que estava se instalando entre nós, talvez. - Ainda temos muito tempo antes de escurecer.
  - Claro. - Ele sorriu, voltando ao normal e pegou as celas. - Podemos ir até a cachoeira, o que acha?
  - Perfeito! - Montei em Relâmpago sem dificuldade alguma e logo fez o mesmo em Florença. Comandei meu cavalo a trotar para a direita.
  - Ei, ! O caminho é por aqui! - Ele apontou para a esquerda e liderou o caminho.
  - Opa! - Ri, surpresa. Relâmpago e eu seguimos ao lado de Florença e pelo longo trajeto até a cachoeira.

  Inacreditável. Essa mulher é inacreditável. A partir da primeira impressão que tive de , aos dezessete anos e enfurecida, pensei que ela era a prima maluca de Beto. Agora que a conheço há sete dias, percebo que ela continua sendo a prima maluca, mas agora digo isso de uma forma carinhosa.
  - Não acredito que depois de vinte anos vindo aqui você nunca tenha se jogado no lago! - de pé no topo de algumas rochas, segurava uma corda encardida e grossa, bem amarrada no tronco da árvore ao lado.
  - É exatamente o que você disse. Eu nunca me joguei no lago, pulando dessa coisa ai. - apontei para a corda - Eu prezo pela minha vida.
  - Não tem coragem de sair da zona de conforto? - ela ergueu a sobrancelha e antes que eu pudesse replicar, ela correu, cruzou suas pernas ao redor da corda e logo em seguida se lançou contra o ar. - Coragem, !
  Essa foi a última coisa que disse antes de se soltar no meio do ar, deixando a gravidade levar seu corpo em direção à água gelada do lago. Essa mulher é realmente impressionante. Assim que seu rosto emergiu da água, senti meu coração palpitar. O sol brilhava sobre sua pele e seus olhos pareciam um tom mais claro que a cor natural - uma visão que eu nunca havia presenciado antes.
  - O que foi? - passando a mão sobre o cabelo, se aproximou lentamente da beirada onde eu estava.
  - Nada. - limpei a garganta. Notei que ela pareceu levemente transtornada com minha resposta. - Me ensina como fazer isso? - fiz um desenho no ar, representando o trajeto entre o topo da pedra e o lago.
  - Você precisa segurar a corda com força, dar alguns passos para trás e correr em direção à beirada. - parecia mais animada agora. - Quando for se lançar, encolha as pernas e quando estiver o mais distante das pedras solte a corda. Seu corpo vai aterrissar direto na água.
  - Isso parece loucura.
  - E é, mas você está no controle. Dessa forma, a loucura vira adrenalina. - sorriu, me incentivando.
  Assim que cheguei na pedra, segurei a corda, ignorando meu medo. Pelo sorriso dela, eu poderia me jogar de onde quer que fosse.
  - Tronco, pelo amor de Deus, não quebre. - olhei para cima, vendo o tronco grosso cortando o céu azul.

  O dia foi tão divertido que nem imaginei como seria a noite. Assim que voltamos do lago, minha mãe avisou que teríamos um jantar com toda família - e quando ela diz toda família, ela quer dizer no mínimo vinte parentes dividindo a mesa da cozinha e da varanda.
  - Pode tomar banho primeiro. - Olhei para , que estava encharcado e com a roupa suja de lama depois de se lançar no lago umas cinco vezes.
  - Prometo ser rápido. - ele sorriu, jogando os cabelos molhados para trás.
  Senti minha respiração parar por alguns segundos. Assisti ele caminhar pela casa, deixando pegadas pelo piso, até desaparecer de vista.
  - Você deveria dar uma chance. é um bom homem. - minha tia surgiu da cozinha, encostando no batente e me analisando. - Vinte e cinco anos e nunca colocou um pé para fora da linha. Sempre fez questão de trabalhar para melhorar o sítio e logo vai ter o seu próprio. Se ele não for um homem para casar, não sei quem é…
  - Tia Margarida! - sussurrei. - Já passamos dessa época.
  - Qual?
  - A época de você tentar me juntar com algum homem, vindo com essa história de casamento. - minhas roupas já estavam secas, por isso me sentei na cadeira da sala, ficando de frente para minha tia. - Eu posso estar perto da casa dos trinta, mas isso não significa que preciso estar casada agora!
  - Tem razão, é força do hábito, querida. - minha tia balançou a cabeça, se conformando. - Mas convenhamos, ele é um baita partido!
  - Não vou mentir, ele é perfeito. - sorri, sentindo borboletas na barriga. - Mas vivemos em lugares completamente diferentes! Isso é o suficiente para me impedir de seguir com qualquer coisa.
  - Quem sabe seja um sinal para você voltar para cá. Sabe que seus pais iriam adorar isso e, além do mais, você e já dividem o quarto.
  - A proposta é tentadora, tia. - suspirei, me levantando para ir ao quarto separar minha roupa para a noite. - Mas não posso.
  - Pelo menos eu tentei!

  Assim que o grande jantar terminou, todos os parentes vieram conversar comigo para saber como ia minha vida em São Paulo, me dar conselhos e receitas e colocar a fofoca em dia. Enfim, quando tudo se acalmou, um de meus primos de segundo grau e alguns tios se reuniram na varanda e começaram a tocar seus violões. Uma música suave soava ao fundo e enquanto meu pai e Beto limpavam as coisas, me ofereceu sua mão.
  - Me concede uma dança?
  Na sala, escutei minha mãe, tia e avó soarem em coro, tocadas pelo gesto de . Automaticamente senti meu rosto corar. Olhei para a varanda, onde meus parentes tocavam, e vi que o espaço ao redor da fonte estava mais vazio e o mais longe possível de todos os olhos. Aceitei a mão de e o guiei até o jardim, iluminado por fios de lâmpadas enrolados ao redor do tronco das árvores.
  - Que semana, hein. - ele falou, colocando uma mão na base de minhas costas enquanto a outra segurava a minha mão.
  - Eu amei cada segundo. - sorri, repousando minha mão livre em seu ombro. - Nem parece que estou de férias, parece que estou em casa.
  - Mas essa é sua casa. - riu, confuso.
  - Era, mas não mais.
  - Sua definição de casa é complicada.
  - Nem me fale! - ele rodou o meu corpo, como se quisesse me distrair do assunto. - Não é que eu não sinta falta daqui, muito pelo contrário. Eu amo tudo desse estilo de vida.
  - Então por que ficou tanto tempo sem voltar?
  - Porque se eu voltasse, era provável que eu não saísse mais. - olhei para , ele parecia interessado. - Meus pais me deram  tanto, tudo  para que eu pudesse ir para São Paulo, fazer uma faculdade de direito por lá e ter uma carreira de sucesso, mas o que eles não puderam controlar era a saudade que eu iria sentir durante esses anos, longe deles. Tudo é tão diferente por lá, que levei tempo para me adaptar e deixar guardada a saudade, de Minas Gerais e da minha vida aqui, para que ela não atrapalhasse as coisas em São Paulo.
  - E você achava que voltar para cá faria esses sentimentos saírem do seu controle. - senti o corpo de se aproximar do meu, enquanto dançávamos no ritmo das cordas do violão.
  - Exatamente.
  - E depois de toda sua experiência nessa primeira semana, eu consegui fazer essa ideia mudar?
  A música diminuiu ao fundo até parar, deixando o som dos grilos tomar conta da noite. Agora só nós dois estávamos do lado de fora da casa. Olhei para . Seus olhos não demonstravam nada além de preocupação e carinho. Olhei para a casa, cheia e agitada. Sim, minhas ideias tinham mudado depois dessa primeira semana, mas eu poderia dizer isso em voz alta e para ele?
  - Talvez. - sorri para ele. - Eu percebi que precisava disso, de Minas Gerais, da família e surpreendentemente de você também.
  Assim que eu disse isso, notei um brilho no olhar de , como o de uma criança recebendo um presente inesperado. Me soltei de seus braços e finalizei nossa pequena dança com um beijo em sua bochecha.

  No sítio, os dias sempre parecem ser mais longos do que realmente são. Aproveitamos o tempo desde o sol nascer até a lua desaparecer do céu. Mas com ao meu lado, as últimas duas semanas passaram em um piscar de olhos. Fizemos tanta coisa juntos em tão pouco tempo que parece que nos conhecemos desde os sete anos. Apesar de eu não querer lembrar, hoje é a última noite que tenho com . Como ela está de partida, seus pais decidiram acender a fogueira para aproveitar a noite.
  - O que vocês fizeram hoje? - Secando os pratos, Beto me ajudava a limpar os pratos que usamos no jantar.
  - Demos um pulo na cidade, queria lembrar de como era o centro. - Olhei para a janela à minha frente que tinha vista para a varanda da casa, onde observava seu pai acender a fogueira.
  - Vocês realmente se aproximaram nesses dias, hein. - Ele me cutucou com o cotovelo. Desviei o olhar de sua prima e limpei a garganta. - Não precisa disfarçar, . Eu apoio, se for isso que está te impedindo de dar o passo seguinte…
  - Hoje é a última noite dela aqui no sítio, não sei se eu deveria fazer algo. - Suspirei, lembrando dos dias em que e eu passamos andando a cavalo, aproveitando as tardes quentes na cachoeira, colhendo frutas no pomar e fazendo piquenique à beira do lago. - Eu acho que me apaixonei por ela, mas não sei se ela sente o mesmo.
  - Se você nunca perguntar, nunca vai saber.
  - Às vezes a ilusão é melhor do que a verdade. - Resmunguei para mim mesmo.
  - , não podemos esperar que em um dia a semente se torne fruto. Olhe o pé de café, por exemplo. Nós plantamos a árvore e esperamos cinco anos para a primeira safra. Cuidamos das mudas durante vários meses até que elas nos dêem retorno. O amor é assim também, precisamos de tempo para que ele floresça e com não é diferente. Vocês dois têm química, quem sabe o que pode acontecer com o passar do tempo…
  - Ela mora em São Paulo, Beto. Foi um milagre ela voltar para Minas Gerais nas férias. Não sei se eu poderia dizer o que sinto para ser rejeitado em seguida. - Olhei novamente para a janela, à espera de encontrar o sorriso dela. 
   estava usando um vestido longo vermelho, linda como sempre. Ela estava sentada ao lado de sua mãe, abraçada nela, e conversava tranquilamente com seus tios. Durante essas duas semanas, pude conhecer essa mulher incrível. é inteligente, carinhosa e ao mesmo tempo impressionante, suas raízes mineiras fortemente presentes, mesmo depois de tanto tempo longe daqui - longe de nós. Por mais que meu coração perca o compasso toda vez que a vejo de manhã, dormindo tranquilamente na cama acima da minha, eu não poderia dizer a ela o que estou sentindo. vai embora amanhã e eu não seria capaz de pedir para que ela ficasse, que voltasse para casa, sua verdadeira casa.
  - Vem, vamos até lá. - Beto sorriu, levemente desapontado com o que eu havia dito. Sequei minhas mãos e corri para a sala, pegando o violão que repousava no canto.
  - Que tal animar a noite? - Surgi na varanda, segurando o violão. se virou para mim e logo notei seus olhos brilhando de animação.
  - Você canta? - ela perguntou, se soltando da mãe e deixando um espaço ao seu lado para que eu me sentasse.
  - Talvez.... - Comecei a afinar as cordas.
  - Toque uma música antiga. - A mãe de sorriu para mim.
  - Acho que tenho uma em mente. - Sorri para e vi suas bochechas corarem. Talvez Beto tivesse razão, não se pode plantar uma semente e esperar que em duas semanas ela vire uma árvore com frutos. Talvez o que eu preciso é apenas que ela floresça.
  Comecei a tocar os acordes da música e logo todos da roda prenderam a respiração, surpresos ao reconhecerem o som. Apenas parecia não reconhecer a música, o que seria interessante, pois “Ilusão” seria dedicada a ela.

Ilusão imaginar você pra mim
Você jamais me olhou
Sequer pensou que meu olhar fosse de amor

  Assim que começou a cantar, meu estômago pareceu afundar até o chão. Minha garganta ficou seca e não pude deixar de desviar os olhos dele para o fogo crepitando à minha frente. Aquelas palavras soaram de forma leve devido ao som da música, mas atingiram meu coração com força. Ele estava dedicando a letra para mim, não havia dúvidas.

Meu coração dispara sempre que te vê
Eu mal posso entender
Como é bom te querer

Como é que eu posso ter
Coragem pra falar dessa paixão
Pois sei que vou morrer
Se você disser não

  Eu podia sentir o olhar de em mim, como se ele esperasse uma resposta de mim. Nessas duas semanas, nós nos aproximamos muito, talvez de uma forma mais íntima que apenas uma amizade. Era inegável que existe algo entre nós, mas eu poderia considerar ter um relacionamento a distância com ele?

Então fico a sonhar com teu olhar
E você dizendo sim
E o primeiro beijo de amor sem fim

Te amo tanto e não sei mais
Como é que eu vou viver em paz
Se tudo que eu preciso
É respirar teu ar

Te amo tanto e sem querer
Mas sei que posso te perder
Pra alguém sem tanto amor
Mas sem temer falar
Ilusão

  Assim que a música acabou eu pude respirar. Todos ao redor cantarolaram junto de , como se aquilo fosse amenizar a tensão que estava acontecendo entre nós dois. Para quebrar o clima que se instalou, me retirei da varanda, dando a desculpa que eu deveria dormir cedo para poder pegar o ônibus na manhã seguinte. Caminhando pela casa, consegui alinhar meu pensamento. Talvez voltar para Minas Gerais mais vezes fosse a melhor solução, assim eu poderia ver a família com mais frequência e também passar o tempo com , já que isso me faz tão bem. Mas parte de mim dizia que isso não seria ideal. Eu não posso abandonar São Paulo e meu trabalho por conta de uma paixão - se é que eu poderia chamar minha relação com assim - então seria melhor nem cultivar algo que não teria futuro.
  Entrei no quarto e logo me joguei na cama, sem vontade de pensar em mais nada. Ele realmente sente tudo isso por mim, como disse na letra da música? Meu coração começou a se acalmar e eu senti meus olhos pesarem, o sono chegando. Algum tempo depois, ouvi a porta do quarto abrir e fechar e escutei as rodinhas da cama abaixo da minha arrastarem levemente pelo chão. tinha chegado, o que poderia significar duas coisas: a situação seria constrangedora ou nós poderíamos lidar com aquilo como dois adultos.
  - Ei, você está acordada? - Sua voz rouca sussurrou, vindo de baixo. Abri meus olhos e vi que a luz do quarto estava acesa e estava deitado, encarando o teto. - Não prefere colocar seu pijama?
  - Boa ideia - respondi meio grogue, o coração voltando a acelerar. Nos dias anteriores, eu não me importei de dividir o quarto com , nem que ele me visse com o pijama do Mickey Mouse, pois eu imaginava que o que havia entre nós era um flerte inocente. Mas agora as coisas mudaram.
  - Seu primo está no banheiro, talvez leve algum tempo. - se sentou, apoiando as costas na parede.
  - Ah, bem - olhei o relógio e vi que eram onze horas, o horário favorito de Beto para tomar seu longo banho sem ser perturbado. Me levantei da cama e peguei minha camisola, um pijama menos infantil dessa vez. - Você se importa de fechar os olhos enquanto me troco?
  - Cl-claro. - limpou a garganta e fechou os olhos. Sorri automaticamente assim que vi seu rosto corar. Talvez eu estivesse torturando esse homem depois do que havia acontecido na fogueira, mas não havia muita escolha.
  Tirei o vestido e coloquei o pijama o mais rápido que pude. Acendi o abajur ao lado da cama e apaguei a luz do quarto, deixando que a pouca iluminação fosse suficiente para criar um ambiente mais confortável para que nós pudéssemos conversar. abriu os olhos e sorriu para mim, entendendo tudo.
  - Você estava linda hoje. - Ele me observou pela última vez, notando minha camisola, e voltou a se deitar, encarando o teto.
  - Obrigada - me deitei de lado, próxima da beirada do colchão para que pudesse olhar para . - Foi uma música e tanto. Acho que você concluiu minha viagem com chave de ouro.
  - Espero que tenha valido a pena. - Seus olhos encontraram os meus. - Mas não quero que você se sinta pressionada, nem nada do tipo. Eu realmente me encantei por você, , mas entendo que duas semanas são pouco tempo para chegar a alguma conclusão.

  Não pude deixar de sorrir ao ouvi-lo. O que mais me admira em é seu respeito por mim. Durante esses dias ele se dispôs a passar o tempo comigo, ainda mantendo seu trabalho, e me levou para lugares que eu nem me lembrava que existiam no sítio e nas cidades vizinhas. Ele fez minhas férias valerem a pena e sempre me deixou o mais confortável possível. Meu coração acelerou enquanto meu pensamento fluía e eu automaticamente estendi meu braço para poder tocar o rosto de . Contornei sua pele até pousar o polegar em seus lábios. Ele prendeu a respiração, provavelmente tão confuso quanto eu. Me lembrei da letra da música, “primeiro beijo de amor sem fim”, e parei o que estava fazendo. Meu corpo queria colar no dele, meus lábios ansiavam pelos seus, mas minha cabeça dizia que era melhor não. “Amor sem fim” é um termo de muito peso para mim. Eu não me apaixonei em duas semanas como havia acontecido com e ele sabia disso. Talvez beijá-lo não fosse a coisa mais inteligente e honesta a se fazer com ele.
  - Eu realmente queria corresponder esses sentimentos, . - Fiz menção de tirar minha mão de seu rosto, mas ele a pegou e repousou em seu peito. - Mas duas semanas não foram suficientes para eu poder dizer que estou apaixonada a ponto de largar toda minha carreira em São Paulo para voltar a morar aqui. Entende?
  - Não, não tem problema. Eu entendo. - Ele limpou a garganta. Sob sua camisa, pude sentir seu coração acelerado. - Talvez se você ficasse um pouco mais, quem sabe…
  - Você sabe que eu não posso. Segunda-feira preciso voltar ao trabalho. - mordi o lábio, tentando ignorar a onda de calor que invadia meu corpo. - Eu realmente agradeço pelo nosso tempo juntos. Você fez meus dias aqui valerem a pena.
  - Posso fazer a última noite valer ainda mais?
   se levantou, ficando na altura do meu rosto. Seus olhos brilhavam esperançosos. Eu engoli em seco. Talvez eu devesse ignorar o que era certo e errado e apenas tentar. Eu me sentia atraída por ele e nós realmente nos entendíamos. Ainda não podia dizer que era amor, mas quem sabe viesse a ser. Me sentei na beira da cama e passei minhas pernas ao redor de seu corpo. se aproximou de meu rosto e eu o beijei com ternura.

  Meu peito parecia explodir de felicidade, talvez as coisas não fossem tão complicadas quanto pareciam ser. Coloquei minhas mãos ao redor da cintura de , tentando ser o mais respeitoso possível e quando senti que ela me puxou para cima, me acomodei em sua cama. Meu coração não podia estar mais satisfeito agora, mesmo que só por algumas horas. Florescer com o tempo, era isso que eu repetia para mim mesmo.
  - Pelo menos agora eu tenho um motivo para voltar mais vezes. - Ela sorriu para mim, passando o dedo sobre minha bochecha.
  - Não é mais fácil você ficar? - Pousei a mão na curvatura de sua cintura e percebi que ela se encolheu ao meu toque.
  - Não posso. - respondeu decidida.
  - Então isso é um adeus?
  - É um até logo, .
   me olhou com aquele seu olhar sereno pela última vez e se aproximou, me abraçando e afundando seu rosto em meu peito. Meu coração disparou com seu toque, desesperado com a ideia de perdê-la, mas foi se acalmando conforme minha cabeça repetia que eu deveria deixar florescer. Não tinha como eu convencê-la a abandonar toda sua vida em São Paulo num piscar de olhos e fazê-la voltar para sua verdadeira casa em Minas Gerais. Provavelmente, era ainda mais impossível pedir para ela ficar comigo. Por hora, só o que eu posso fazer é aproveitar o resto do tempo que temos juntos e esperar que o amor floresça, já que suas raízes já estavam nos entrelaçando.

Fim

Nota: Essa songfic realmente me tirou da zona de conforto. Eu nunca havia escrito uma fic que se passa no Brasil, mas por incrível que pareça eu adorei a experiência! Nosso país tem lugares tão diferentes e lindos que, criar uma história ao redor desses dois estados que eu tenho grande carinho, foi uma experiência que abriu meus olhos. Espero que vocês tenham gostado desse casal e para a leitora que pediu a música “Ilusão”, espero que eu tenha atingido suas expectativas ou até mesmo quebrado elas e inovado com a história. Muito obrigada para todos que leram e se você gostou, deixe seu comentário! Eu adoro conversar com vocês e saber a opinião de todo mundo!