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#001 Temporada

Que sorte a nossa
Matheus & Kauan




Que Sorte a Nossa

Escrita por B Menezes | Revisada por Songfics

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  ; 13/12/2016
  O fim de tarde sempre foi minha hora favorita de fotografar, o céu sempre mostra os melhores tons que as nuvens podem desenhar. Pra uma quarta-feira a orla estava bem movimentada. A câmera pendendo do meu pescoço parecia tão animada quanto eu com a possibilidades que aquela movimentação inesperada poderia trazer. Caminhei até o fim da passarela que adentrava o rio e apontei a lente para o pôr-do-sol. A água já escurecia ao partir da luz, alguns caiaques formavam silhuetas com seus transportados perto do horizonte. Logo abaixo de mim, um casal de noivos era fotografado com água até os joelhos na entrada para o rio gelado. Apontei a lente pra eles a tempo de conseguir capturar um beijo sorridente. Se aquele fotógrafo souber o momento certo poderá pegar o exato instante em que o sol estiver entre os sorrisos apaixonados deles, perfeitamente encaixado.
  Caminhei de volta pela passarela, procurando, sem perceber, quem ouvia o cover de Cheerleader feito por Pentatonix. Foi quando vi. Ela estava sentada à orla com um casal, o celular no colo enquanto cantava alegremente o refrão da música e o casal conversava qualquer bobagem. O sorriso ao ser pega tentando imitar as habilidades em beatbox de Kevin pelo casal me atingiu como um soco no estomago.  Cai sobre os joelhos no meio da passarela e saquei a câmera. Consegui focalizar o sorriso mais encantador por entre as lacunas da grade de proteção duas ou três vezes antes que, pela lente, eu visse que ela olhava em minha direção.

  ; 13/12/2016
  A única dificuldade de sair com casal é que ou eles te esquecem completamente e se sustentam à base da saliva um do outro; ou eles se preocupam tanto em não te fazer de castiçal que você fica desconfortável com a idéia (e o fato) de estar atrapalhando. Agora, por exemplo, to vivendo o segundo caso. Eles me chamaram para sair, gastar tempo e tudo o mais, mas se prendem à idéia de que eu vou me incomodar se eles trocarem três ou quatro carinhos na minha frente. Então, a caminho para cá, montei uma estratégia. Sentamos na orla, próximo à passarela, e liguei a música no celular. Como digna cantora de chuveiro comecei minhas performances sentada ali, mostrando completa falta de interesse no casal ao meu lado. Eles demoraram a perceber, mas finalmente ouvi selinhos serem trocados e me senti ligeiramente satisfeita com o trabalho bem feito.
  - Aqui sua vela. – disse um deles, mostrando o dedo indicador.
  - Na verdade – eu disse -, é meu microfone.
  Tentei inutilmente imitar o inigualável Kevin Olusola no beatbox da ponte em Cheerleader (falhando miseravelmente) e caímos os três na gargalhada. Foi então que o vi, ajoelhado na passarela, com a câmera em nossa direção. O cabelo sendo jogado para todos os lados. Será que... Não. Por que ele estaria fotografando a mim ou aos meus amigos? Encarei a lente, questionadora. Talvez, se fosse realmente eu a mira, ele notaria. E então ele abaixou a câmera e respondeu ao meu olhar.

  Narrador; 13/12/2020
  A música começou a tocar, ecoando pela capelinha. A gravata parecia incomodar a que o observava movimentá-la impaciente no altar. A verdade era que o nervosismo de não vê-la logo o estava consumindo. Ouviu o salto contra o piso e logo a imagem daquela mulher da orla surgiu à porta. Ergueu o vestido branco pra mostrar que entrava com o pé direito, ele sorriu.
  - Oi. – disse ele ao recebê-la.
  - Oi. – respondeu, os lábios vermelhos estendidos num sorriso.
  - Desculpa, mas eu acabei tirando uma foto sua.
  - Eu percebi uma câmera por aí apontada pra mim.
  - É que um sorriso como o seu atrai câmeras como a minha.
    - Só câmeras?
  - Os olhos por trás também.
  Ela sorriu.
  - Exatamente o que eu queria.
  - Que sorte a minha!
  Encostaram testas, segurando firme nas mãos um do outro.
  - Que sorte a nossa! – murmurou ela antes de ser interrompida pelo padre que os uniria naquele ritual tão importante aos pais. Reviver o dia em que se conheceram era uma mania de momentos importantes, e quer momento mais importante do que se comprometer com quem se ama na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias de tua vida? Bem, talvez o nascimento do primeiro filho, mas isso é estória para outra canção.

FIM